LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:03 pm

Ele entrou correndo e ficou chocado com aquela sangueira, mas conseguiu se controlar e chamar a polícia, que me levou para o hospital ainda com vida.
Passei seis dias entre a vida e a morte, e só quando recuperei a consciência foi que pude contar à polícia que as meninas tinham sido roubadas, mas então, já era tarde demais.
Elas haviam sumido.
Como não fiquei com o dinheiro, e Roberval morreu tentando salvá-las, omiti o facto de que as havia vendido.
A polícia local alertou as autoridades da capital e das redondezas, mas ninguém conseguiu localizar as crianças.
Seis dias era tempo mais do que suficiente para se sumir com dois bebés, e fui informada de que havia quadrilhas muito bem organizadas que sequestravam crianças para depois vendê-las.
Quando, finalmente, a polícia arquivou o caso, resolvi que não podia mais viver ali.
Arrumei uma pequena trouxa e fui embora.
Vaguei muito pelo mundo afora, fazendo biscates aqui e ali.
Até me deitei com alguns homens por dinheiro - falou em tom mais baixo e envergonhado.
Eu precisava sobreviver.
― Não precisa se envergonhar, Graziela - comentou Carminha, esforçando-se ao máximo para parecer natural e não revelar o que realmente sentia.
Qualquer uma teria feito isso.
― Não sei. Mas eu fiz.
Não queria morrer.
Ainda tinha esperanças de encontrar minhas meninas.
Cheguei ao Recife, onde Aécio morava, e consegui me empregar em sua casa.
Ele era uma pessoa muito boa, e quando ficou doente, fui eu quem cuidou dele.
Depois nos casamos, ele me arranjou um novo nome e fez de tudo para encontrar minhas filhas, mas foi inútil.
Não havia pistas, ninguém sabia de nada nem vira nada.
Quando, finalmente, me convenci de que não mais as acharia, parti para a Europa com ele e lá fiquei, até a sua morte.
― Essa é uma história tocante, Graziela.
Estou deveras chocada e comovida.
― Eu não pensava muito em reencontrar minhas meninas, até que Aécio morreu, e a inquietação foi tomando conta de mim, como se uma voz ficasse me dizendo que eu tinha que voltar.
Eu ia para São Paulo, mas deu tudo errado, e vim parar aqui no Rio.
― E você pretende encontrar suas filhas aqui? - horrorizou-se.
― Algo me diz que este é o lugar.
― Mas talvez elas nem estejam mais no Brasil.
― Estão.
― Como é que você sabe?
― Eu sinto. Algo me diz que elas estão por perto e que eu ainda tenho chance de encontrá-las.
― Isso é loucura!
E depois, ainda que fosse possível, você acha que seria mesmo conveniente reencontrá-las agora?
Que idade elas teriam hoje?
― Vinte anos.
― Vinte anos! Pense bem.
Já estão com a vida formada, provavelmente felizes com seus pais adoptivos, sem nem imaginar que são adoptadas.
Que bem você lhes fará se lhes contar a verdade?
― Sou a mãe delas.
― Mas você as vendeu.
Será que elas não vão acusá-la por isso?
Não vão se revoltar e se voltar contra você?
Diante das palavras duras, porém, verdadeiras de Carminha, Graziela começou a chorar.
Não havia pensado naquela possibilidade.
Sempre se imaginava abraçando suas filhas e levando-as para viver com ela, envoltas numa aura de felicidade.
Nunca lhe passara pela cabeça que elas podiam estar felizes com outras famílias e até preferissem não saber que tinham uma verdadeira mãe.
― Tenho que tentar - desabafou entre soluços.
Eu me arrependi. Nunca as tive em meus braços, mas sempre as amei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:03 pm

― Acha que elas vão acreditar nisso?
― Têm que acreditar, porque é a verdade.
― Elas vão lhe dizer que você não tem esse direito.
Que direito tem uma mãe que vende suas filhas de dizer que as ama?
O choro convulsivo de Graziela trouxe Carminha de volta à razão.
Ela estava sendo implacável, porque aquela história combinava muito bem com a sua própria.
A presença da outra a ameaçou, e ela sentiu vontade de fugir correndo dali ou de ter o poder de fazer Graziela desaparecer no ar.
Será que ela era quem pensava que fosse?
Tinha que disfarçar.
Era imperioso que Graziela não percebesse o mar de dúvidas que sufocava o seu coração.
― Desculpe-me, Graziela.
Não quis acusar você nem magoá-la.
Você tem todo o direito de procurar suas filhas.
― Estou tão cansada, Carminha!
Nem sei por onde começar.
Aécio passou anos tentando localizá-las e não conseguiu.
Mas agora... Não sei.
Algo me diz que estou perto de encontrá-las.
Carminha gelou, mas conseguiu se conter e replicou:
― Como pode ter essa certeza?
Tudo aconteceu há tanto tempo!
― Algo dentro de mim me diz que vou conseguir. Eu sinto isso.
É uma sensação tão forte que penso que vou ver minhas filhas a qualquer momento.
As duas. Juntas.
― Mas você nem as conhece!
Nem sabe como elas são.
― Eu preciso tentar.
Ah! Carminha, me ajude!
― Eu!? O que posso fazer?
― Não sei... Perdoe-me.
Estou tão desesperada que procuro esperança em todos.
Carminha não disse nada.
Se tivesse certeza de que Beatriz não era uma daquelas meninas, não hesitaria em auxiliar.
Todavia, seu coração a alertava de uma ameaça, e havia uma grande chance de Beatriz estar envolvida, o que inviabilizaria qualquer tipo de auxílio.
Com aqueles pensamentos, Carminha olhou para Graziela e sorriu.
Um sorriso frio e assombrado que a outra, imersa em sua própria dor, não percebeu.
Graziela apertou a mão de Carminha e devolveu o sorriso com outro, banhado em lágrimas onde se via luzir um raiozinho tímido de esperança.
Não sabia que o coração de Carminha se tornara turvo e refractário ao sol da sua esperança.
...Não entendo de onde vêm essas ideias.
Tudo ficou tão distante no tempo e no espaço...
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:04 pm

CAPÍTULO 18

Carminha entrou em casa em total descontrole.
A história de Graziela trouxera de volta à sua mente um passado que não gostava de recordar.
Uma dúvida atroz a consumia, e ela ficava dizendo a si mesma que era impossível.
A história de Graziela podia ser parecida com aquela à qual estava ligada, mas não era a sua.
Não podia ser.
Encontrou Renato recostado na cama, uma papelada do escritório espalhada sobre o lençol.
Ele levantou os óculos de leitura quando ela entrou e abriu um sorriso, desmanchando-o em seguida, ao notar o ar de preocupação e dúvida que emoldurava as feições da mulher.
― Aconteceu alguma coisa? - o indagou preocupado.
Ela ficou olhando para ele com ar de mistério, até que se aproximou e perguntou sem rodeios:
― Quando você foi buscar Beatriz lá naquela roça...
Ao ouvir aquelas primeiras palavras, Renato deu um salto da cama, fazendo sinal para que ela se calasse, e correu para a porta do quarto, trancando-a, não sem antes se certificar de que ninguém estava por perto.
― Ficou louca, Carminha? - o censurou num sussurro.
Quer que as crianças escutem?
― Preciso esclarecer certas coisas - rebateu ela, no mesmo tom de murmúrio.
Tive uma conversa hoje com Graziela que me deixou estarrecida.
― Que conversa?
― Você sabia que ela teve duas filhas gémeas, que foram tiradas dela no dia em que nasceram?
Renato gelou.
Nunca antes havia conversado com Carminha sobre os detalhes da adopção de Beatriz.
Dissera-lhe apenas que recebera um telefonema e partira para buscar a criança no interior de Mato Grosso.
― O que temos com isso, Carminha?
― Espero que nada.
Mas eu preciso me certificar.
Quando você foi buscar Beatriz, chegou a ver os pais dela?
O passado deslizou pela mente de Renato com a rapidez de um tufão, e ele apertou os lábios com força, como se quisesse espantar para longe aquelas lembranças indesejáveis.
― Você sabe que não fui eu quem a buscou.
― Mas você foi lá...
― Fui até Cuiabá e fiquei esperando no hotel.
Levaram-me a menina lá.
― Quem levou?
― As pessoas que contactamos...
As que - ele abaixou a voz e ciciou de forma quase inaudível: ― nos venderam a criança.
― Havia uma menina só?
― É claro que havia só uma. Que ideia!
― Qual era o nome da cidade onde foram buscar a criança?
― E eu é que sei?
Por que ia me preocupar com essas coisas?
Nós pagamos por um bebé, e eu fui buscá-lo.
― Você passou quase uma semana fora.
Lembro-me que quase morri de tanta aflição.
― Isso foi porque eu tive que esperar o bebé nascer.
Acho que você se esqueceu de como foi o nosso trato com aquela gente.
O combinado era que eles nos ligariam quando o parto estivesse próximo, para que eu aguardasse o nascimento e levasse a criança logo no seu primeiro dia de vida.
Foi o que fiz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:04 pm

― Aquela gente pode ter roubado uma criança - arrematou ela com rispidez.
― Olhe, Carminha, o que nós fizemos pode não ter sido lá muito honesto, mas foi o único jeito na época.
Você estava desesperada, já tinha feito três abortos.
Entrar na fila de adopção ia demorar muito, e eu estava preocupado com a sua depressão.
Conversamos, e você aceitou.
Não fizemos mal a ninguém.
― Nós compramos um bebé.
Aliás, dois.
― Nícolas não foi comprado.
Depois que Beatriz cresceu, ambos concordamos que podíamos entrar na fila e esperar.
A adopção dele foi perfeitamente legal.
― Não foi tão legal assim, Renato.
Sei que você mexeu os pauzinhos para passar na frente das outras pessoas.
As mandíbulas de Renato se contraíram, revelando o desagrado que aquela conversa lhe causava.
Na primeira vez que tentaram a adopção, havia gente graúda na fila de espera, e ele não conseguiu passar na frente de ninguém.
Mas, por sorte, quando chegou à vez de Nícolas, os pretendentes à adopção eram pessoas comuns, e não foi difícil subornar um ou outro funcionário para que sua ficha fosse privilegiada em relação às demais.
Aquilo tudo, porém, era passado, e ele não queria mais reviver o que estava sepultado.
― Ouça, Carminha, vamos esquecer tudo isso.
É passado.
Nossos filhos são adoptados, tivemos que pagar por eles, mas e daí?
A quem foi que prejudicamos?
― Não sei.
E se a mãe de Beatriz não quis realmente vendê-la?
― Isso não é problema nosso.
Fizemos a nossa parte.
Se a mãe se arrependeu, não temos nada com isso.
Ela quis vender a menina, nós pagamos e ficamos com ela.
Pode não ter sido legal, mas fomos honestos.
Não sequestramos nenhuma criança.
Pagamos a uma mãe e um pai, provavelmente desesperados ou irresponsáveis, para ficar com o seu bebé.
Eles ficaram felizes com o dinheiro, e nós, satisfeitos com a criança.
Chega. É só isso.
Não temos que ficar especulando.
― Mas Graziela...
― Graziela é outra história.
Nós nem a conhecemos direito.
― E se Beatriz for filha dela?
― Isso é impossível.
Não acha que seria coincidência demais?
Essas coisas só acontecem em filmes.
― Acontecem na vida real.
O mundo é muito estranho, Renato.
Deus faz coisas que nos fogem à razão.
― Acho que Deus não está envolvido nessa história.
Por coincidência, Graziela vendeu as filhas.
E daí? Não foi para nós.
Só temos uma menina.
― Porque só pedimos uma.
Eles podem ter vendido a irmã para outro casal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:04 pm

― Você está se deixando impressionar pela história mirabolante de Graziela.
Afinal, o que foi que ela lhe contou?
Carminha tentou se lembrar de cada palavra que Graziela lhe disse, contando tudo a Renato em minúcias.
Ele ouviu atentamente, franzindo o cenho a algumas passagens, como se aquelas palavras estivessem revelando imagens que ele mesmo vivera.
― A história é impressionante - o comentou ao final ―, mas não tem nada a ver connosco.
Há alguns pontos em comum, mas isso não é o suficiente para concluirmos que Beatriz é filha de Graziela.
Seria muita coincidência, e essa probabilidade é praticamente impossível.
― Praticamente não é certamente.
Há uma possibilidade.
Pode ser remota, mas há.
― Que eu saiba, ninguém morreu na adopção de Beatriz.
― Que eu saiba, você não estava lá.
Você mesmo disse que esperou no hotel.
― Carminha, você está imaginando coisas.
Volto a dizer que isso é impossível...
― Você tem que descobrir o nome da cidade em Mato Grosso.
Não era Barra do Bugres?
Ele gelou novamente, mas conseguiu disfarçar.
― Já disse que não me contaram nada.
Não participei da retirada da criança.
Ninguém me informou de que cidade ela vinha.
― Era Barra do Bugres.
Graziela falou que veio de lá.
― Graziela veio dessa cidadezinha, o que não significa que Beatriz tenha nascido lá.
― Mas é Mato Grosso! É muita coincidência!
― Você está chegando onde estou tentando chegar a muito tempo, mas não quer compreender.
Tudo não passa de coincidência.
― Você não acha que há coincidências demais nessa história?
― Eu não quero achar nada.
Quero encerrar essa conversa e prosseguir com a nossa vida, com nossos filhos.
Eles são nossos.
― Por onde será que andam as pessoas que nos facilitaram a adopção de Beatriz?
Eles devem saber.
― Pare com isso, Carminha!
Está começando a ficar paranóica.
Se começar a investigar essas coisas, nossos filhos vão descobrir.
― Talvez devêssemos ter-lhes contado tudo desde o início.
― Mas não contamos.
E agora é tarde demais.
Eles não vão compreender.
― Eles vão. Conheço o temperamento deles.
― A reacção deles pode ser dramática.
E será que você está preparada para conviver com sua rejeição?
― Eles não vão me rejeitar.
― Você não pode saber uma coisa dessas.
E se nos rejeitarem?
Como vamos viver sem os nossos filhos?
― Você não entende, Renato.
Eu preciso descobrir.
Preciso ter certeza de que minha felicidade de mãe não está ameaçada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:05 pm

― Você é quem está atraindo a ameaça para nossas vidas.
― Mas Graziela...
― Não temos que nos preocupar com isso.
Graziela é adulta e pode muito bem resolver os seus problemas sozinha.
Aliás, acho que você não deveria mais se envolver com ela.
Não lhe fará bem, como já não está fazendo.
Apesar dos protestos de Carminha, Renato foi inflexível.
Não queria mais Graziela em sua casa, e se a mulher insistisse, os dois acabariam brigando seriamente.
A revelação de Graziela deixara-a muito perturbada, e ela precisava relaxar e se desligar de tudo aquilo.
Por isso, Renato foi apanhar um comprimido e fez com que Carminha o engolisse.
O remédio custou a fazer efeito, mas finalmente, depois de quase duas horas de discussão, o sono a dominou, e ela adormeceu com os pensamentos em tumulto.
Já passava das duas horas, e Renato foi para a sala beber um copo de uísque.
Estava precisando de um trago bem forte.
Sorveu a bebida a goles largos e apanhou o telefone.
Ficou olhando para ele, pensando se deveria ou não ligar, até que recolocou o fone na base, desistindo daquela ideia.
Não podia falar dali.
Na manhã seguinte, ligaria do trabalho e marcaria um encontro com Gilson.
Desde que segurara Beatriz em seus braços, Renato tinha certeza de que ela seria para sempre a sua filhinha.
A existência da outra criança não o fez mudar de ideia, e embora ele aventasse a possibilidade de ficar com as duas, Gilson lembrou-o de que o trato envolvia apenas uma criança, e que a outra já estava prometida a outro casal.
― Não quero duas crianças iguais circulando por aí - reclamara Renato, na época.
Imagine como vai ficar a minha filha ao se deparar com uma cópia sua no meio da rua.
― Isso não vai acontecer - garantira Gilson.
Vendi a outra para um casal na Alemanha que não tem a menor intenção de viajar para o Brasil.
Foi assim que ele ficou só com Beatriz.
Houvera complicações com os pais da menina, mas Renato procurava não pensar no assunto e dizia a si mesmo que fizera um bem ao casal que só tinha de si a pobreza e a miséria, livrando-o de um fardo muito além do que sua capacidade poderia suportar.
Depois viera Nícolas, e ele julgou completa a sua felicidade, com uma mulher a quem amava e dois filhos maravilhosos para preencher a sua vida.
Será que toda essa felicidade estaria em risco agora?
Muito cedo na manhã seguinte, Renato saiu.
Queria evitar encontrar-se com Carminha e não esperou que ela acordasse.
No escritório ainda vazio, apanhou o telefone de sua linha particular e ligou:
― Alô? Gilson? É o Renato.
Precisamos conversar.
O assunto exigia urgência, e Gilson não questionou.
Marcaram para se encontrar no restaurante de um hotel mais afastado, que ficava aberto ao público para o café da manhã.
Chegaram quase ao mesmo tempo e apertaram-se as mãos formalmente, sentando-se de frente um para o outro.
― Muito bem - começou Gilson pausadamente.
O que foi que houve dessa vez?
― Quero saber que providências você está tomando com relação àquele assunto.
― Já disse que não vou fazer nada.
E você não devia se preocupar.
― Não me preocuparia se a mãe de Beatriz não estivesse rondando por aí.
― Que mãe de Beatriz?
― Ora, que mãe!
Só pode ser a mãe verdadeira.
― Isso é impossível!
― Também pensei que fosse.
Mas as evidências indicam o contrário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:05 pm

― Que evidências?
Do que está falando?
Esqueceu-se de que a mulher morreu?
Com um gesto brusco, Renato o interrompeu:
― Por acaso você viu o cadáver dela?
Viu? Nem eu.
Pois ela pode ter sobrevivido.
― Você deve saber disso melhor do que eu.
E não entendo por que essa preocupação agora.
Enterramos tudo isso no passado.
― Parece que o passado não ficou tão bem enterrado assim.
Os mortos levantaram da tumba para me ameaçar.
Gilson queria afugentar aquele momento como se desperta de um sonho ruim.
Mas Renato era um pesadelo vivo e concreto, e suas palavras representavam um perigo bastante real.
― Você deve estar ficando louco.
A mãe verdadeira de Beatriz não poderia aparecer.
― Não tenho certeza de que é ela, mas a mulher contou uma história a Carminha que bate com a nossa.
― Quem é ela?
― Uma mulher chamada Graziela Martins.
Já ouviu falar?
― Não.
― Era mulher de um cônsul.
O velho morreu, e ela voltou ao Brasil.
Mantendo o nervosismo sob controle, Renato contou a Gilson a história fantástica que Graziela havia narrado a Carminha.
― Não pode ser... - balbuciou Gilson, estupefacto.
Seria uma coincidência por demais extraordinária para existir no mundo real.
― Mas a história confere.
Até o nome da mulher: Leocádia.
Não era assim que se chamava à intermediária? - Gilson assentiu.
E o casal? Quais eram os nomes do casal?
― Não sei... - sussurrou Gilson.
Não me lembro.
― Não eram Roberval e Severina?
― Pode ser que sim...
― E a cidade?
Era Barra do Bugres, disso tenho certeza.
A mesma de onde Graziela diz ter vindo.
Gilson cerrou os olhos por uns instantes, tentando evitar que o passado ressurgisse em sua mente.
Não tinha como contestar.
Tudo na história conferia.
O lugar, a época, as pessoas.
O mesmo episódio funesto que levara embora sua mulher e que ele lutava para esquecer.
E os nomes da cidade e das pessoas?
Só aqueles nomes já eram suficientes para comprovar, de forma inequívoca, toda a história de Graziela.
― Como isso é possível? - lamentou-se Gilson.
Depois de tantos anos, quando julgávamos todos mortos!
― Não sei como é possível, mas aconteceu.
E agora, precisamos fazer alguma coisa.
Gilson pensou por alguns instantes, até que perguntou:
― Você sabe onde essa mulher mora?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:05 pm

― Eu não, mas Carminha sabe.
Posso tentar descobrir.
― Faça isso. Vou tentar me aproximar dela para ver se descubro algo.
― Era só o que me faltava! - irritou-se Renato, dando um soco na mesa e atraindo a atenção de algumas pessoas.
Ter que viver com uma espada sobre a cabeça.
Não demora muito, e ela cai.
Ainda bem que, pelo menos, a outra guria está longe.
Nesse momento, Gilson sentiu a cabeça rodar, e a vista falhou por um momento.
Não podia ser! Não era possível.
Uma coincidência fantástica como aquela já era demais.
Duas, era inimaginável.
Mas o que estava pensando?
Se uma coincidência, aparentemente impossível, acabara de acontecer, por que não duas?
Lembrou-se da moça que vira no shopping, no outro dia, igualzinha a Beatriz.
Podia ser parecida com qualquer outra moça, mas tinha que ser justo com Beatriz?
Será que a gémea, por uma ironia cruel e punitiva do destino, também fora bater à sua porta juntamente com a mãe?
Parecia impossível, mas Gilson já não sabia ao certo o que seria possível ou não.
Era prematuro falar sobre a outra moça com Renato.
Podia até ser mera coincidência, uma moça de feições semelhantes, que nada tinha a ver com Beatriz.
Uma simples sósia. Não era tão incomum.
― Em que está pensando? - a voz de Renato penetrou seus pensamentos.
― Em tudo isso. Estou abismado com essa coincidência, mas ela existe.
― Precisamos de uma estratégia.
Não podemos ficar desprotegidos nessa situação.
― Tem algo em mente?
― Você é quem tem que fazer alguma coisa.
A responsabilidade é sua.
― E sua também.
Você comprou as meninas, e não fui eu que dei aqueles tiros...
― Proíbo-o de falar sobre isso! - esbracejou Renato, completamente fora de si.
O nosso acordo foi o do silêncio.
Gilson não disse mais nada.
Não havia mais o que dizer.
Despediu-se de Renato e voltou para o jornal, pensando naquela fantástica sucessão de factos.
Lembrou-se de quando conhecera Renato e de como tudo havia começado, muito antes disso.
Lorena e ele já estavam casados, e Vítor ainda não havia nascido.
A vida era penosa, e o jornal que seu pai levara tantos anos para construir atravessava um período difícil naqueles tempos de inflação dos idos de 1970.
Na época, tinham uma empregada que viera do norte e se envolvera com um marginal.
A moça engravidara, e o rapaz sumira.
Ela pensara em aborto, e eles concordaram em ajudar.
Até que Lorena, numa conversa com um conhecido, ouvira-o dizer que a mulher havia perdido o bebé e não poderia mais ter outros filhos.
O desespero dela era tão pungente que ele daria qualquer coisa para colocar outra criança em seus braços.
Foi aí que a ideia surgiu:
― Qualquer coisa? - a indagara.
― Qualquer coisa - respondera o sujeito.
Lorena foi para casa pensando no assunto.
Contou a Gilson sobre seus planos, mas ele foi radicalmente contra.
Não queria se envolver em negócios escusos, muito menos, criminosos.
Mas Lorena tanto fez e tanto insistiu, que ele, embora a contragosto, acabou cedendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:05 pm

Chamaram a empregada e lhe participaram seus planos:
― E se, ao invés de fazer o aborto, você tivesse a criança e a vendesse?
A moça, a princípio, relutou, mas acabou gostando da ideia.
Gilson custeou todo o pré-natal e, quando o menino nasceu, recebeu vinte mil dólares do rapaz e deu à empregada uma boa quantia para que sumisse no mundo e tentasse refazer a vida.
Daí em diante, tudo ficou mais fácil.
O rapaz e a esposa ficaram satisfeitos com a criança e comentaram o assunto com outro casal amigo, que também queria adoptar um bebé.
Gilson não tinha mais empregadas grávidas de que pudesse dispor, mas concordou em ajudar.
Precisava do dinheiro para tentar levantar seu jornal.
Coube a Lorena a tarefa de encontrar os bebés, que precisavam ser recém-nascidos.
Começou a procurá-los nos bairros mais humildes, onde as necessidades de sobrevivência eram mais fortes e um punhado de dinheiro seduzia muita gente.
Não foi difícil.
Logo surgiu uma jovem de seus dezasseis anos encrencada com a gravidez.
Os pais queriam o aborto, mas Lorena os convenceu a aceitar o dinheiro.
Depois surgiram outras jovens, e até algumas que se ofereciam para engravidar em troca de uns trocados.
O negócio começou a crescer e a ficar perigoso.
Embora nenhuma das meninas se houvesse arrependido, Lorena passou a temer a polícia.
Ninguém sabia onde ela morava, mas não seria difícil descobrir.
Sempre buscava as crianças nos bairros pobres e nas favelas, e já estava começando a ficar conhecida.
Numa conversa com Gilson, resolveram que seria melhor pegar os bebés em outros estados, em cidadezinhas do interior onde não houvesse fiscalização nem policiamento.
Arranjaram uma mulher para trabalhar para eles, uma senhora de nome Leocádia, que se dizia parteira, mas que, na verdade, manipulava ervas abortivas e as fornecia a mocinhas desesperadas.
Quando jovem, auxiliava em alguns partos, tarefa que se tornou escassa com o desenvolvimento da sociedade e a preferência pelos hospitais.
Como Leocádia precisava de dinheiro, assumiu a tarefa de encontrar as moças em cidades e vilas paupérrimas, convencer as famílias e cuidar das despesas e da saúde da gestante e do bebé.
Por acaso, Leocádia conhecia um perito em falsificações, chamado Geraldo, um velho aposentado da Casa da Moeda que lhes fornecia documentos falsos, inclusive carteiras de identidade, habilitações, certidões de nascimento e até passaportes.
Com a quadrilha formada por quatro pessoas, as buscas se estenderam por outros estados.
Lorena tinha medo de envolver muita gente e achava que quatro eram mais do que suficientes.
Ela e Gilson poderiam organizar tudo do Rio, Leocádia partiria para a acção e Geraldo lhes garantiria os documentos necessários.
O dinheiro começou a brotar para Gilson e Lorena.
Os gastos eram poucos, e o lucro, enorme.
Vítor nasceu, e os negócios continuaram.
O combinado era que os bebés seriam entregues logo no seu primeiro dia de vida, a fim de evitarem o risco de ser surpreendidos com uma criança e presos.
Com isso, evitavam também que a mãe se afeiçoasse à criança e desistisse de vendê-la, fazendo-os perder o dinheiro empregado com a saúde dos dois.
Assim, os futuros pais adoptivos eram contactados tão logo se aproximasse o fim da gestação, para aguardar o parto, quando então recebiam a criança das mãos de Lorena e Gilson e podiam partir sem levantar suspeitas.
Para evitar problemas, as entregas eram realizadas em cidades de médio e grande porte, próximas ao local do nascimento, onde os compradores poderiam se misturar à multidão de habitantes e, no meio de tanta gente, passar despercebidos das autoridades locais.
E os pais verdadeiros, ainda que arrependidos, não tinham condições de localizar os envolvidos para exigir de volta os filhos vendidos.
Tudo parecia correr bem, e Gilson injectava muito dinheiro no jornal, fazendo-o crescer e progredir.
Mais alguns anos e poderiam parar com o tráfico de bebés.
Um dia, Gilson recebeu um telefonema de um amigo, solicitando seus serviços para o cunhado.
Ele e a mulher queriam, desesperadamente, uma criança que fosse ao menos parecida com eles.
Iniciou-se a busca, e Leocádia logo informou que encontrara o que o casal procurava.
Ela andava lá pelos lados de Mato Grosso, visitando cidades pequenas, quando conhecera a jovem Severina e seu marido Roberval.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:06 pm

A moça estava grávida de gémeos, e o mais comum nessas raras situações era oferecer aos pretensos pais ambas as crianças, o que, em geral, era aceito.
Mas Gilson fora procurado por outro conhecido, um deputado, que queria prestar um favor a um amigo em Brasília.
O moço, também desesperado, oferecia o dobro do preço para conseguir uma criança o mais rápido possível.
Quarenta mil dólares era muito dinheiro para se recusar e Gilson, secretamente, vendeu a outra menina para o casal de Brasília.
Essa foi à última negociação que fizeram.
Com a morte de Roberval, as coisas começaram a se complicar e Gilson achou que já era hora de parar.
Estavam ricos o suficiente e não precisavam se arriscar tanto.
Lorena, contudo, não concordou, motivada pela ganância e a excitação que lhe proporcionava aquela vida obscura.
Mas aí, o pior acabou acontecendo.
Geraldo já estava velho e acabou morrendo, deixando a quadrilha em dificuldades.
Onde poderiam arranjar outro falsificador?
Esse era mais um motivo para que Gilson insistisse em pararem.
Até que Lorena acabou morrendo naquele acidente nefasto e Gilson se desfez de Leocádia, que sumiu no mundo, encerrando, assim, sua longa trajectória de crimes.
... Aquilo tudo, porém, era passado, e ele não queria mais reviver o que estava sepultado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:06 pm

CAPÍTULO 19

O ónibus seguia pela avenida ensolarada naquele final de tarde e Suzane via sua vida passar correndo diante da janela.
Tudo acontecia tão rápido que ela mal tinha tempo de reflectir se aquilo era mesmo o que o seu coração queria.
Colocara na cabeça que precisava recuperar o dinheiro roubado para se vingar de Cosme, mas será que valeria a pena?
Se arranjasse sua vida no Rio de Janeiro, por que voltar a Brasília e reviver toda aquela humilhação?
E depois, o que poderia fazer contra Cosme?
Quando o ónibus parou no ponto em que deveria descer, o coração de Suzane deu um salto.
René estava parado lá, provavelmente à sua espera, e ela experimentou uma alegria conflituante, feliz e contrariada ao mesmo tempo.
Saltou calmamente e fingiu que não o viu, pondo-se a caminhar em direcção a sua casa, sabendo que ele a seguiria.
― Seu namorado não costuma trazer você em casa, não? - perguntou ele atrás dela, carregando na ironia.
Prefere deixá-la vir de ónibus a gastar a gasolina da sua Ferrari?
Ela se voltou indignada, sentindo toda a alegria por vê-lo esvair-se naquele sarcasmo.
― Para início de conversa, ele não tem uma Ferrari.
E depois, ele não me traz em casa porque eu não quero.
― Por que não?
Gosta de sentir a fornalha de dentro do ónibus?
― Pare com isso, René.
Está sendo inconveniente e chato.
― Não fique brava comigo - retrucou-o, em tom mais conciliador.
Essa é a forma de demonstrar o meu ciúme e a minha inveja.
Queria ter o que ele tem para que você fosse minha.
― Eu não sou dele, não serei sua nem de ninguém.
― Mas é com ele que você transa.
― Isso não me torna propriedade dele.
― Eu não me importaria em ser propriedade sua.
Queria mesmo que você fosse a minha dona para fazer de mim o que bem entendesse.
― Que coisa horrível, René!
― Não é horrível.
Esse é o ponto a que minha paixão por você chegou.
Ele a apanhou pelo pulso, tal qual fizera da outra vez, e beijou-a com ardor e volúpia.
Ao contrário do que esperava, ela não o repeliu, mas devolveu o beijo com a mesma intensidade.
O beijo logo deu lugar ao desejo, e ele a empurrou contra a parede, colando seu corpo ao dela e acariciando-a por inteiro, buscando o seu sexo por debaixo do vestido.
― Aqui não - sussurrou ela, com medo de que alguém os visse.
Vamos para a minha casa.
Chegaram ao seu apartamento em poucos minutos, ainda mais consumidos pelo desejo.
René levou-a para o quarto, e os dois se amaram com paixão.
Depois que terminaram, ele ficou olhando-a com ar apaixonado, puxando as pontas de seus cabelos e levando-as às narinas para absorver o seu perfume suave.
Suzane sentia vontade de se entregar àquele deleite, mas a lembrança de Leandro transformava o encanto daquele momento em um tormento sofrido de culpa, embora sem arrependimento.
― Em que está pensando? - perguntou René.
― Em nada.
― Mentirosa. Aposto como está pensando naquele carinha rico, não é?
― Aquele carinha rico é meu namorado - a retrucou, esforçando-se para parecer zangada.
― Você não o ama.
― Amo...
― Mas então, por que me trouxe para cá? - ela não respondeu.
Porque você gosta de mim, mas está tentando se convencer de que ama o ricaço.
― Pare com isso, René.
Você não sabe nada dos meus sentimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:06 pm

― Sei muito a seu respeito.
Sei que você está tentando arranjar um marido rico, mas não está apaixonada por ele.
― Será que não podemos esquecer Leandro um pouco e nos concentrar em nós?
― Isso quer dizer que você gostou de transar comigo.
― Mas não quer dizer que vou ficar com você.
― Vai ficar enganando o cara?
― O cara se chama Leandro, e gostaria que você se referisse a ele pelo nome.
Ele não é qualquer.
― Está bem, mas não fuja do assunto.
Vai ou não ficar enganando-o?
― Não se trata disso... - tornou ela, em dúvida.
Quer dizer, não quero enganá-lo...
E isso não vai se repetir... Foi só hoje...
― Quer dizer que não vamos nos encontrar mais?
― É...
René ficou alguns instantes olhando o tecto, pensativo, imaginando o que fazer para não a perder.
Do jeito que a amava, poderia se sujeitar a muitas coisas, inclusive dividi-la com o riquinho.
― Não quero que essa seja a última vez - suspirou ele.
― Olhe, René, gostei muito de fazer sexo com você, mas não dá para ficar fazendo isso sempre.
Não é justo com Leandro.
― Você está mesmo preocupada com ele?
― É claro que estou.
Ele é uma pessoa muito legal, e não me sinto bem o enganando.
Por isso é que lhe digo que o que aconteceu hoje não pode se repetir.
― Mas eu a amo!
― Não! - cortou ela rispidamente.
Você não deve me amar, e eu não posso me apaixonar por você.
Lamento muito, mas não é isso que eu quero para a minha vida.
Por favor, vá embora agora.
― Dê-me uma chance.
Eu vou estudar, vou ser juiz, você vai ver.
― Você não passa de um capacho de bicheiro, e isso não é vida para mim.
Quero um marido que tenha uma profissão digna.
― Ser juiz não é digno, não?
― Duvido que você chegue a ser juiz.
Você nasceu para a malandragem.
Pode ser juiz de futebol ou de briga de galo.
― Está me julgando muito mal, Suzane.
Ainda vou provar a você que serei alguém na vida.
― Tem razão - revidou ela, arrependida do que dissera.
Desculpe-me.
Não queria julgá-lo nem quero que pense que estou torcendo contra você.
Mas a verdade é que você me deixa confusa.
― Você tem medo de se apaixonar por mim.
― Tenho. Porque não posso.
E agora, por favor, vá embora.
Já é tarde, e amanhã tenho que acordar cedo para trabalhar.
― Amanhã é sábado.
― Então vou me encontrar com Leandro.
René foi embora a contragosto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:06 pm

Gostaria muito de subir na vida para impressionar Suzane e conquistá-la, afastando-a daquele ricaço metido de quem ela fingia gostar.
Mas, por enquanto, era um pobretão, um joão-ninguém, um malandro, como Suzane mesma dissera, mero apontador de apostas do jogo do bicho, sem eira nem beira.
Como podia competir com um mauricinho feito aquele Leandro?
Os sentimentos de Suzane, por sua vez, estavam cada vez mais confusos.
Gostava de Leandro, mas o que sentia por René era diferente, estimulante e embaraçoso.
O que sentira ao fazer amor com ele, não experimentara com mais ninguém.
Precisava, contudo, esquecê-lo.
René não tinha condições de ajudar na sua vingança e Leandro era o homem dos sonhos de qualquer mulher.
Seria também o dela?
― Gosto de Leandro - disse para si mesma em voz alta, sentindo repentina ternura pelo namorado.
Com o pensamento em René e Leandro, Suzane adormeceu.
Seu corpo fluídico permaneceu um bom tempo flutuando sobre o físico, até que um espírito se aproximou e despertou a moça para o mundo astral.
― Como está, Suzane? - o indagou, puxando-a pela mão e sentando-se com ela no chão.
Lembra-se de mim?
Suzane olhou para o corpo físico adormecido na cama e respondeu de forma vaga:
― Lembro. É o Roberval, não é?
Faz tempo que não o vejo.
Desde Brasília. - Ele assentiu.
Por onde tem andado?
― Trabalhando. Há muitas coisas a fazer no lado de cá.
― Imagino.
― No lado físico, também há metas a se cumprir.
Está cumprindo as suas?
― Eu? Sei lá quais são.
― O que você busca na vida?
― Vingança.
― Acha que se vingar é uma meta justa e evolutiva?
― Evolutiva pode não ser. Mas agora, justa...
― Você está alimentando dentro de si um sentimento que não lhe pertence.
Se analisar bem, vai ver que não é uma pessoa vingativa.
― Até parece que você me conhece.
― Conheço-a muito bem e sei que você é uma boa pessoa.
― Boas pessoas se modificam quando dão de cara com a maldade.
― Ser bom é uma qualidade eterna.
Só o mal se modifica.
Suzane não disse nada, e ele prosseguiu:
― Vim aqui prepará-la para o reencontro.
― Que reencontro?
― Com sua mãe.
― Ela está aí com você? - questionou Suzane ansiosa, olhando por cima do ombro dele para ver se avistava a mãe adoptiva.
― Refiro-me a sua mãe verdadeira, aquela que a colocou no mundo.
Vai encontrar-se com ela na matéria.
― Vou? - espantou-se ela.
― Vai. Em breve.
― Mas... O que devo fazer?
Como devo reagir ou me comportar?
― Deixe seu coração falar por você, e tudo vai sair direito.
Suzane ficou pensativa, e Roberval acrescentou:
― Só tem mais uma coisa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:07 pm

― O que é?
― Você não precisa se dividir entre dois homens.
Os dois, à sua maneira, são pessoas boas e gostam muito de você.
Agindo assim, um dos dois vai ter que sofrer.
Ela não disse nada e ele sumiu aos pouquinhos.
No dia seguinte, ao acordar, a primeira imagem que lhe veio à cabeça foi a de Roberval, e a sensação de que algo importante estava para acontecer agitou seus pensamentos.
Seria com relação a Leandro?
O namorado a chamara para um banho de piscina em sua casa, para estreitar seu contacto com Amélia, a quem vira poucas vezes.
A mãe havia convidado algumas amigas, mas ela não se importava.
Gostava de conhecer pessoas, principalmente aquelas envolvidas na alta sociedade de que um dia fizera parte.
Ainda era cedo, e Carminha andava de um lado a outro na sala, tentando arranjar uma desculpa para não ir ao almoço em casa de Amélia.
― Não estou com ânimo para tolerar fofocas - argumentou ela.
E depois, Graziela vai estar lá.
― Se é assim, então é melhor mesmo você não ir - concordou Renato.
Vai lhe evitar muita dor de cabeça.
― O chato é que prometi levar-lhe uma jóia que ela me encomendou.
― Não pode ser outro dia?
― Ela pagou adiantado e quer usá-la esta noite.
O marido chega de viagem, e ela programou um jantar especial para ele, algo assim.
― Eu poderia levar, mas marquei um jogo de ténis às dez horas, e já são quase nove.
Não dá tempo de ir ao Joá e voltar.
― Se você quiser, mamãe, posso ir para você.
Os dois estacaram abismados, só então se dando conta de que Beatriz se encontrava na sala, vestida para ir à praia.
A seu lado, invisível, o espírito de Lorena buscava uma chance de causar um desentendimento entre a moça e Vítor.
― Você, não! - exclamaram, juntos, Renato e Carminha.
― Credo! Mas o que é isso?
Ficaram malucos, é?
Nenhum dos dois respondeu.
Carminha olhava para Renato com ar de desconfiança, e a dúvida que ia em seu olhar desafiou uma pergunta que revelava o terror da resposta:
― Por que você não quer que Beatriz vá à casa de Amélia?
Era como quem dizia:
mas não foi você mesmo quem disse que era impossível que Beatriz fosse filha de Graziela?
Será que você está com medo do que possa acontecer se elas voltarem a se encontrar?
― Não é que eu não queira - balbuciou ele.
Mas a menina já está pronta para ir à praia.
Não é justo estragarmos seu passeio.
― Que bobagem - protestou Beatriz, que não percebera a hesitação dos pais.
O trânsito agora está na direcção oposta.
Num instantinho, vou e volto.
Carminha não parava de olhar para Renato, que foi ficando embaraçado, com medo de se trair.
― Bom - acrescentou ele, sem tirar os olhos da mulher ―, se é assim, não vejo problema algum.
A campainha da frente soou, e Beatriz abriu a porta para Vítor, que a beijou nos lábios e entrou, cumprimentando os dois.
― Vá logo buscar a tal jóia, mãe - pediu ela.
― Que jóia? ― quis saber Vítor.
― Mamãe precisa que levemos uma encomenda de jóia no Joá. Tudo bem?
― É claro.
― Vá buscar a jóia, Carminha - repetiu Renato.
Os meninos ainda querem ir à praia.
Estarrecida, Carminha foi apanhar a jóia e a entregou a Beatriz, juntamente com o endereço, e a moça se despediu da mãe com um beijo, atirando outro para o pai.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 25, 2015 10:07 pm

― Esperem um instante - pediu Renato.
Vou sair com vocês.
É claro que ele estava evitando ter que explicar a Carminha por que não queria que Beatriz fosse à casa de Amélia, onde, muito provavelmente, poderia se encontrar com Graziela.
Beatriz tocou a campainha da casa de Amélia e foi recebida por uma criada, que os convidou a entrar e os conduziu até a piscina, onde Amélia recebia suas convidadas.
Lorena, sem ser vista, seguia com eles.
― Bom dia, jovens - cumprimentou Amélia, com seu ar jovial de sempre.
Sua mãe não veio?
― Não, dona Amélia, ela não está se sentindo bem, mas pediu que eu lhe entregasse a sua encomenda.
― Obrigada, minha filha - Amélia desembrulhou o pacote e retirou um belíssimo colar de ametistas, exibindo-o às amigas.
Está perfeito! Sua mãe é uma artista.
― Que bom que gostou.
É mesmo uma peça muito bonita.
― O que tem sua mãe? - indagou Graziela, sinceramente preocupada.
― Acho que é gripe - mentiu Beatriz, no fundo feliz porque a mãe não estava ali ao lado daquela mulher que ela detestava.
― Espero que não seja nada sério - acrescentou Amélia.
― Não, não. São essas mudanças de tempo malucas.
― Diga a ela que a visitarei mais tarde - pediu Graziela.
― Direi, mas ela está descansando.
Por que não telefona primeiro?
Beatriz se esforçava ao máximo para parecer educada diante de todas aquelas mulheres e não dar um fora em Graziela.
― Já sei! - exclamou Amélia subitamente.
Já sei com quem você se parece.
Com a namorada do meu filho.
No mesmo instante, Lorena aguçou os sentidos, tentando identificar a imagem da moça nos pensamentos de Amélia.
― É mesmo? - tornou Beatriz polidamente, mas sem o menor interesse.
― Só que ela é mais magra e tem o cabelo curto, por aqui - ela passou as mãos pelo pescoço, mostrando a altura do corte de cabelo.
E não tem mechas.
― Engraçado - observou Vítor.
Outro dia mesmo vi uma moça assim na praia.
Do jeitinho que a senhora está descrevendo.
Pensei até que fosse Beatriz mas, quando olhei, vi que não era.
Até a voz era parecida.
― Devia ser a Suzane.
Nossa, elas são idênticas!
― Pelo visto, tenho um clone por aí - comentou Beatriz, encabulada.
― Ou uma irmã gémea - disparou Graziela, apenas para poder verbalizar o seu desejo distante e, aparentemente, tão impossível.
Guardando certa distância, Lorena olhava de Beatriz para Graziela, assombrada por estar diante de mãe e filha, surpresa por perceber que a gémea também estava ameaçadoramente por perto.
Queria se aproximar de Graziela, mas a lembrança da protecção luminosa que a afugentara da outra vez conseguiu mantê-la longe.
― Só tenho um irmão, Graziela - rebateu Beatriz ―, e você o conhece.
Não havia nada que justificasse a inexplicável euforia que acometeu Graziela.
Embora, em seu íntimo, a razão lhe dissesse que aquela seria uma coincidência por demais absurda para ser verdadeira, em seu coração de mãe Luzia, tímida, uma pequenina chama de esperança.
Nada que ela pudesse chamar de coerente ou lógico, mas uma sensação indizível que só o poder imensurável do sentimento materno sabia reconhecer, mesmo no mais profundo oceano da razão, que tenta, a todo custo, desmentir a expressão sem palavras do amor.
― Daqui a pouco ela vem aí - anunciou Amélia.
Leandro foi buscá-la e já deve estar chegando.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:45 pm

Beatriz deu um sorriso educado e interrompeu:
― Bom, vamos, não é, Vítor?
O pessoal está esperando lá na praia.
― Mas já? ― decepcionou-se Graziela, que naquele momento esperava poder ver as duas moças frente a frente.
― Como disse - tornou Beatriz - nossos amigos nos esperam.
― Que pena - lamentou Amélia.
Queria muito que vocês conhecessem a Suzane.
Verão se tenho ou não razão.
As duas são igualzinhas.
― Fica para outra vez, dona Amélia.
― Eu já a vi e concordo com o que a senhora diz - confirmou Vítor.
Elas são mesmo idênticas.
Beatriz lançou a Vítor um olhar de reprovação e não respondeu.
Despediu-se das senhoras e pediu licença para ir embora.
Lorena ficou vendo-a afastar-se, oscilando entre a dúvida de segui-la ou permanecer na casa de Amélia, para esperar a chegada de Suzane.
Resolveu esperar.
Quando chegaram ao carro, Beatriz comentou:
― Será que agora todo mundo deu para ver um clone meu por aí?
― Sério, Bia, você não viu a garota. É igualzinha...
― Mas que besteira!
Você nem sabe se trata da mesma garota que você viu.
― Pela descrição de dona Amélia, só pode ser.
Duas iguais a você seria coincidência demais.
― Não existe ninguém igual a mim.
― Mas ela é muito parecida com você.
E estava em companhia de outro rapaz, que deve ser o filho de dona Amélia.
E meu pai também viu.
― Todo mundo agora deu para delirar.
― Não é delírio. Você vai ver, Bia.
Ainda vou lhe provar que tenho razão.
Beatriz encerrou o assunto com um muxoxo, ignorando a euforia oculta de Vítor.
Para ele, tratava-se mesmo de um interessante caso de sósias, mas que valia a pena ser visto e mencionado.
Ainda mais porque não fora só ele que vira a outra moça e, o que era mais incrível, ela estava pertinho deles.
... Os sentimentos de Suzane, por sua vez estavam cada vez mais confusos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:45 pm

CAPÍTULO 20

De repente, Suzane perdeu toda a vontade de ir ao almoço em casa de Leandro.
Pela janela do apartamento, via René parado do outro lado da rua, as mãos resignadas postas nos bolsos da bermuda.
Reviveu toda a emoção da noite anterior em seus pensamentos, e se René não estivesse ali, ao alcance de sua vista e na rota do seu coração, talvez conseguisse se recompor e lidar com Leandro como se nada tivesse acontecido.
Só que René não estava com vontade de lhe dar a chance de esquecer o que se havia passado entre eles.
Ficava parado do outro lado, as mãos nos bolsos, olhando para ela com ar sério.
Suzane tentava sair da janela, mas o magnetismo que vinha dele não lhe permitia afastar-se totalmente.
Ela ia e vinha, ora espiando pela janela, ora correndo atarantada para atender a uma tarefa inexistente dentro do apartamento.
Até que Leandro apareceu em seu carro novo e estacionou bem em frente ao edifício.
Instintivamente, Suzane se ocultou atrás da parede.
Não queria que ele percebesse que estava ali não à sua espera, mas atraída por um homem que a fitava do outro lado da rua.
Logo em seguida, ouviu uma buzina, respirou três vezes e surgiu na janela, pendurando um sorriso forçado no rosto cansado de fingir.
Acenou para ele com certo desgosto, pedindo-lhe que subisse.
― Oi, amor - cumprimentou ele, beijando-a nos lábios assim que ela abriu a porta.
― Oi... - foi à resposta evasiva.
― Ainda não está pronta?
― Sabe o que é, Leandro, eu estive pensando...
Será que não dá para deixar esse almoço para outro dia?
Não estou me sentindo bem.
― O que você tem?
― Nada de mais.
Um pouco de cólicas, dor de cabeça...
Acho que vou ficar menstruada.
― Quer que eu vá à farmácia comprar um remédio para você?
― Não precisa.
O que quero mesmo é ficar quietinha aqui.
― Tem certeza? - ela assentiu.
Então está bem.
Vá-se deitar, que fico aqui cuidando de você.
― Nada disso! Sua mãe está esperando por você.
Não é justo deixá-la sozinha.
― Ela não está sozinha.
Há uma porção de gente lá em casa.
― Mas você é filho dela, e ela espera que você esteja presente a esse almoço.
― Bobagem. Minha mãe não liga para essas coisas.
Posso telefonar e avisar que não vou.
Tirou o celular do bolso, mas ela o impediu de ligar, apertando a sua mão com os olhos rasos de água.
― Não faça isso, por favor.
Não quero que sua mãe fique chateada.
Ela é uma boa pessoa, e sei que aprecia a sua companhia.
Não custa nada você fazer a vontade dela.
― Já disse que isso é bobagem.
Tem um montão de amigas dela lá em casa e, além do mais, meu padrasto chega hoje à noite.
― Você não entende.
Quem vai ficar chateada se você não for serei eu.
Não gosto de estragar os planos de ninguém.
― Não acha que está dando muita importância a esse almoço?
Na verdade, nem é um almoço...
É só um churrasco à beira da piscina, uma desculpa para reunir as amigas e fofocar.
Nós dois não vamos fazer nenhuma falta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:45 pm

― Ah! Leandro...
― Para com isso, sua bobinha - o sussurrou, aproximando-se dela e tomando-a nos braços, enchendo seu pescoço de beijos.
Pensando bem, é melhor ficarmos os dois aqui, sozinhos.
Ele a beijava no rosto e na boca, e começou a acariciá-la por todo o corpo.
O contacto de seus lábios e suas mãos lhe causou uma mistura de prazer e repulsa gerada pelo remorso, e ela se afastou dele com um repelão.
― O que você tem? - a indagou surpreso.
Está aborrecida comigo?
― Não tenho nada - afirmou ela, arrependida e voltando-se para abraçá-lo.
Deve ser a TPM.
― Eu nunca soube que você tinha TPM.
― Ah! Deixa para lá.
Colou o corpo ao dele e calou-o com um beijo longo.
Ele a apanhou no colo e a levou para o quarto, e, dessa vez, ela se deixou conduzir passivamente, tentando não pensar em René do outro lado da rua.
Passaram à tarde no apartamento dela.
Leandro pediu comida num restaurante próximo, e os dois ficaram em casa vendo televisão, com ele a todo instante perguntando se ela havia melhorado de suas dores.
― Já passou - dizia ela com um meio-sorriso, e Leandro sequer desconfiou de que alguma coisa podia estar errada.
Graziela consultava o relógio a todo instante, na expectativa de que Leandro surgisse em companhia da namorada.
Desde que Amélia dissera que Beatriz se parecia muito com ela, facto confirmado pelo próprio namorado, não pensava em outra coisa senão na possibilidade de vê-las no mesmo dia para poder compará-las.
Por mais que dissesse a si mesma que elas não podiam ser suas filhas, a fantasia que alimentava dava-lhe forças e ânimo para continuar procurando.
Se elas fossem realmente gémeas, mesmo não sendo suas, significava que poderia haver outra mãe em situação semelhante à dela, sofrendo, em silêncio, pela separação de suas meninas.
De qualquer forma, a dor daquela mãe desconhecida poderia ser também a sua.
Ao longe, sem poder se aproximar muito de Graziela, Lorena observava o desenrolar dos acontecimentos, distraindo-se, por vezes, com as fofocas que surgiam e os pensamentos maldosos das mulheres presentes.
Uma criada se aproximou quase imperceptível e entregou um fone a Amélia, que atendeu a ligação.
― Leandro não vem almoçar - informou Amélia, devolvendo o telefone à criada.
A namorada não está passando bem.
― O que ela tem? - perguntou Graziela.
― Parece que está com muitas cólicas.
― Será que um remedinho não resolve?
Amélia deu de ombros e comentou:
― A bruxa está solta hoje.
Carminha não veio porque está passando mal, e agora é a Suzane.
― Que pena - disse uma das senhoras.
― É realmente uma pena.
Gostaria que vocês a conhecessem.
― Eu também queria muito conhecê-la.
Graziela disse isso com tanta ênfase que Amélia se surpreendeu e retrucou desconfiada:
― Queria?
― É... Bom...
Sempre é bom conversar com gente jovem.
E depois, você falou da incrível semelhança entre ela e a filha de Carminha.
― É verdade. É impressionante.
Parecem até gémeas.
Ninguém deu muita importância ao comentário, excepto Graziela, que se tornou presa de uma inquietação crescente, e Lorena, que se contorcia de ódio no plano astral.
Graziela queria acreditar, mas tinha medo.
Uma coincidência daquela jamais poderia acontecer.
Era impossível.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:45 pm

― O que essa menina faz mesmo? - redarguiu Graziela, tentando não parecer muito interessada.
― Agora está trabalhando com Leandro, na empresa dele.
Ele tem uma firma de publicidade, sabia?
― Que maravilha...
Mas ela é daqui mesmo, do Rio?
― Não. É de Brasília.
Uma história muito triste, a da pobrezinha.
Os pais morreram num acidente de carro.
Alguém perguntou uma coisa diferente, e um novo assunto foi introduzido na conversa.
Não se voltou a falar em Suzane, e Graziela não pôde descobrir mais nada sobre ela.
Foi preciso um enorme esforço para conseguir suportar aquele dia até o fim.
Não conseguiu. Ou quase.
Despediu-se mais cedo de Amélia.
Queria ir para casa pensar.
― Você não está se sentindo mal também, está? - indagou Amélia, preocupada.
― Não. Estou apenas cansada.
― Quer que eu mande levá-la?
― Não, obrigada. Estou de carro.
Foi-se, com Lorena logo atrás.
Ao invés de segui-la, Lorena partiu para a casa de Suzane, conduzida pelos pensamentos de Amélia ligados aos do filho.
Encontrou-os agarradinhos no sofá, vendo televisão e comendo pipoca, e deu um grito estridente.
Não havia a menor possibilidade de um engano.
Aquela era, inequivocamente, a gémea de Beatriz.
Com uma fúria incontida, Lorena se aproximou do casal e investiu contra a moça, que sentiu uma leve tonteira e súbito mal estar.
― O que foi? - perguntou Leandro, notando a sua repentina palidez.
― Não sei. Fiquei tonta de repente.
― Será que é a TPM?
― Pode ser.
O mal-estar não durou muito.
Em poucos minutos, Roberval apareceu, envolto num halo de luz branca que ofuscou Lorena.
― Mas que droga! - esbracejou ela, afastando-se do espírito recém-chegado.
Será que todo mundo por aqui é protegido dos bonzinhos?
― Por que está fazendo isso? - retrucou Roberval.
Que interesse você pode ter em afastar a mãe de suas filhas?
― Não lhe devo satisfações.
― Não, não deve. Mas não pode ficar aqui.
Suzane está sob a minha protecção, e você não tem autorização para assediá-la.
No entanto, se quiser, posso levar você comigo para outro lugar.
― Muito obrigada, mas não quero.
Sou feliz onde estou.
― Muito bem. Você é quem sabe.
― Acho melhor voltar para o lado de quem me quer.
― Seu lugar não é ao lado dos vivos.
Devia procurar ajuda e se desapegar da matéria densa.
Você não faz mais parte dela.
― Gosto de ficar por aqui.
Tenho o meu marido e o meu lar.
― Seu marido precisa viver a vida dele, e você também está prejudicando a irmã de Suzane.
Devia deixá-la em paz.
― Ela é uma tonta ciumenta e stressada.
Atrai-me porque quer.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 4 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:46 pm

― Ela tem bom coração e logo vai transformar a sintonia com você.
― Não sei como.
― Pelo amor. Você vai ver.
Lorena deu um muxoxo e fez um gesto obsceno para Roberval, saindo furiosa pela parede.
O espírito se aproximou de Suzane e ministrou-lhe um passe revigorante, afugentando as energias odientas que Lorena havia espalhado pelo ar.
Quando ela se sentiu melhor, Roberval deu-lhe um beijo paternal na face e saiu também.
Chegando a casa, Graziela ficou andando de um lado a outro na sala, esfregando as mãos nervosamente, pensando no que fazer para ver a menina.
E se fosse a casa dela?
Não, não podia ir.
Além de não saber onde ela morava, seria muito estranho se aparecesse de repente em sua casa, pedindo para ver o seu rosto.
De tão agoniada, resolveu tomar um remédio para acalmar os nervos e foi deitar-se, tentando raciocinar com mais clareza.
Milhares de pensamentos se atropelavam em sua cabeça, que começou a latejar e a misturar as coisas.
As pálpebras de repente começaram a pesar, pressionadas pelo efeito do calmante, e ela foi-se entregando os poucos a um sono de alívio.
Parado a seu lado, Aécio observava suas reacções e estendeu-lhe a mão assim que seu corpo fluídico se afastou do físico.
― Aécio! - exclamou ela, genuinamente feliz por ver o marido.
Quanta saudade!
― Precisamos conversar - disse ele gentilmente, envolvendo-a num abraço paterno e cheio de carinho.
Em poucos instantes, viram-se sentados em uma pedra no meio da floresta da Tijuca.
― Por que me trouxe aqui? - a indagou, que não conhecia o lugar.
― Para que a energia da natureza possa limpar um pouco a sua mente e o seu coração, e você consiga raciocinar livre da influência das energias embaralhadas de todos os que vivem na cidade.
Aqui há menos interferência energética e mais pureza de vibração.
― O que está havendo, Aécio? - desabafou ela, sem rodeios.
Será possível que esteja mesmo bem próximo de minhas filhas?
― Na verdade, está.
Ela soltou um gritinho de alegria e surpresa, e perguntou confusa:
― Mas como? É impossível.
― Por quê?
― Porque seria maravilhoso demais.
Eu as perdi ainda bebés.
Durante vinte anos, nada soube sobre elas.
Você, com toda a sua influência e o seu dinheiro, não conseguiu encontrá-las, mesmo com os melhores detectives do mundo a seu serviço.
Se todos os nossos esforços foram infrutíferos, como é possível que elas agora me apareçam assim, do nada?
― Você desejou.
― E isso basta?
― Basta quando é o momento certo de receber.
― Mas Aécio, como isso foi acontecer?
Como explicar essa feliz coincidência?
― Uma coincidência não é obra do acaso.
É uma programação do destino.
― Como assim?
― Não vivemos sozinhos, Graziela.
Há seres superiores a nós que orientam a nossa vida, de acordo com os planos traçados antes de reencarnar.
― Você agora é um desses seres?
Ele sorriu e respondeu com jovialidade:
― Não. Sou apenas um espírito que a ama e está em condições de ajudar.
― É você que está me ajudando a encontrar minhas meninas?
― Estou ajudando porque essa era a programação da vida de vocês.
É por isso que não há coincidências.
Tudo o que acontece no mundo obedece a uma ordem predeterminada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:46 pm

Quando encarnamos, nossas vidas podem seguir por rumos aparentemente diferentes e distantes, mas se há o entrelaçamento do destino, mais cedo ou mais tarde os caminhos se cruzam, e o que parecia impossível se torna uma inexplicável coincidência.
― Quer dizer que fazia parte do nosso destino nos separarmos para agora nos reencontrarmos? É isso?
― Mais ou menos.
A separação era possível e esperada, mas você poderia ter feito diferente, se não tivesse vendido as meninas.
O destino estava em suas mãos.
― Eu mudei o meu destino?
― Não é bem assim.
Você é um ser humano dotado da capacidade de raciocínio, logo, está apta a fazer escolhas.
Mas, se levarmos em conta que nada acontece sem que seja da vontade de Deus, chegaremos à conclusão de que sempre fazemos exactamente aquilo que Ele espera de nós.
― Do jeito como você fala, parece até que somos teleguiados.
Se fizermos sempre o que nos é determinado, então, na verdade, não fazemos escolha alguma.
― Deus sempre sabe o que vamos fazer ou escolher, ou pensar, ou sentir, e não interfere, para que possamos aprender com as nossas próprias atitudes.
Ele nos dá a oportunidade de experienciar para que impulsionemos o nosso progresso.
Nossas escolhas, portanto, nada mais são do que o resultado da vontade divina, que nos permite essa ilusão em favor do nosso aprendizado e crescimento.
Graziela ocultou o rosto entre as mãos e começou a chorar:
― Foi tudo culpa minha!
Por minha causa, perdi meus bebés e meu marido foi assassinado.
― Não foi culpa de ninguém.
As dificuldades de vocês foram muitas no passado, e nem sempre é fácil superar desavenças e ódios arraigados.
É preciso muitas vidas e muito amadurecimento para vencer certos traumas.
― Que traumas? Do que é que você está falando, Aécio?
O que foi que houve entre nós que justificasse o que fiz?
― Tudo há seu tempo, Graziela.
Ainda não é o momento de falarmos sobre isso.
― Se eu não tivesse vendido as meninas, teríamos sido felizes?
― A vida se adapta a toda situação que surge, de forma a desvendar os caminhos do crescimento, onde se inclui a felicidade.
Mas quem é que pode saber a não ser aqueles que vivem?
É preciso experienciar para se ter certeza.
Ninguém tem o direito de lhe dizer qual é o caminho para ser feliz.
A felicidade é um estado da alma que pertence a cada um que a vivência.
O que é ser feliz para uns pode não ser para outros.
Uns encontram a felicidade na família, outros, no trabalho, outros ainda no desporto, no amor ou na arte.
Só você é que pode saber o que é felicidade para você.
Graziela tomou as mãos de Aécio e as beijou com amor.
― Você foi o meu amparo durante todos os anos em que vivemos juntos e continua sendo mesmo após a sua morte. Por quê?
― Porque eu a amo.
Fui seu marido nessa vida e pai em outra.
Aprendi a amá-la e compreendê-la.
― E Roberval?
Também foi meu marido, mas nunca mais o vi.
O que é feito dele?
― No momento certo, você irá encontrá-lo.
― Você sabe onde ele está?
― Sim.
― E minhas filhas?
Por que não me conta onde estão minhas meninas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:46 pm

― Não se esqueça de que estamos em planos diferentes.
Nem tudo o que agora sei, tenho permissão para lhe dizer.
E nem tudo, a sua memória está em condições de captar ou reter.
― Conseguirei encontrar minhas filhas?
Elas me aceitarão? Gostarão de mim?
― A vida vai lhe dar a resposta a todas essas perguntas.
Não posso lhe dizer mais.
Pense apenas nas muitas "coincidências" que estão acontecendo e refuta se vocês não estão no caminho do reencontro.
Aécio acompanhou Graziela de volta ao corpo físico e se despediu.
Quando abriu os olhos, a tarde já chegava ao fim, e ela não se lembrou de quase nada.
Levantou-se ainda zonza de sono e foi para a cozinha apanhar um copo de água.
Pensou em Aécio, e era como se ele estivesse ali presente.
Seu peito se encheu de esperança, e ela quase chegou a ver as filhas diante de si.
De repente, teve a certeza de que iria conseguir.
Não sabia como nem onde, mas estava certa que reencontraria suas filhas.
Estava sentada bebendo água quando Roberval entrou, e Aécio lhe deu amistoso sorriso.
Os dois trocaram abraços fraternos, e foi o primeiro quem falou:
― Lorena esteve em casa de Suzane hoje.
Ela já sabe de tudo e não vai demorar muito para influenciar os outros.
― Precisamos agir rápido - observou Aécio.
Suzane deve se encontrar com Graziela o quanto antes.
― Sim. É necessário que tomemos providências para a realização desse encontro.
E precisamos cuidar de Beatriz também.
Lorena está com pleno acesso a ela.
― Beatriz é muito ciumenta e irritadiça.
Precisa controlar as emoções para não se afinizar com Lorena.
― Ela é uma boa menina, e creio que isso irá ajudá-la.
Com o tempo, ela mesma vai se modificar.
― Tenho certeza de que sim.
Roberval fixou os olhos em Graziela que, imediatamente, lembrou-se dele, e duas lágrimas lhe subiram aos olhos.
― Posso? - perguntou ele a Aécio, que lhe permitiu a passagem com um gesto das mãos.
Roberval se aproximou de Graziela e, tal qual fizera com Suzane minutos antes, pousou-lhe suave beijo na face, causando uma sensação, ao mesmo tempo, reconfortante e pungente na moça.
De repente, as duas lágrimas se transformaram em muitas, e Graziela afundou o rosto entre as mãos e chorou.
... A felicidade é um estado da alma que pertence a cada um que a vivência.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:47 pm

CAPÍTULO 21

Assim que Gilson entrou em casa naquele princípio de noite, vozes altercadas vindas do quarto do filho chamaram-lhe a atenção, e ele foi para lá.
A porta estava entreaberta, e ele viu o rosto furioso de Beatriz.
Ficou contemplando-a por uns instantes, tentando refazer a imagem de Suzane em sua mente.
Lorena logo notou sua presença.
Estava praticamente grudada em Beatriz, sugestionando-lhe as palavras agressivas com que ela extravasava a sua raiva na discussão.
Em dado momento, Beatriz se virou de frente para a porta e levou um susto com a presença silenciosa de Gilson, cuja chegada ninguém, a não ser Lorena, percebera.
Notando o olhar espantado de Beatriz, Vítor olhou na mesma direcção e exclamou:
― Papai! Não ouvimos você chegar.
― Por que estão brigando? - indagou Gilson, sem desgrudar os olhos de Beatriz.
― Não estamos brigando - esclareceu Vítor.
É só uma bobagem de Beatriz.
Só porque tem um clone dela andando por aí...
Gilson fechou o cenho, acabrunhado, e repetiu:
― Um clone?
― É brincadeira, pai.
É que outro dia, vi uma garota igualzinha a Beatriz.
Isso tem alguma coisa de mais?
― Não... - respondeu ele maquinalmente, evitando encarar Beatriz.
Os dois continuaram a discutir, e Gilson se afastou abatido.
Devia ter mandado aquela outra menina para fora, para o exterior, mas a ganância, na época, superou a prudência.
E agora, ao que tudo indicava, as duas estavam ali, na mesma cidade, bem próximas uma da outra e, o que era pior, da verdadeira mãe.
Que destino implacável era aquele que juntava três mulheres que não se conheciam e que, ao mesmo tempo, estavam tão estreitamente ligadas?
Gilson ficou acordado até tarde naquela noite, esperando o filho chegar.
Ele havia conseguido acalmar Beatriz e a levara ao cinema.
Vítor voltou para casa por volta da meia-noite e estranhou ver o pai acordado na sala, sozinho, bebendo uísque à meia-luz.
― Está tudo bem, pai? - indagou o rapaz.
― Está. Na verdade, meu filho, queria lhe fazer umas perguntas.
― Que perguntas?
― Sobre a sua namorada.
― O que tem ela?
― As coisas andam bem entre vocês?
― Muito bem. A discussão de hoje foi só uma besteira de Beatriz.
― Não acho que seria bom você se apaixonar excessivamente.
― Já estou apaixonado, pai.
Ela é a mulher da minha vida.
― Apaixonar-se é uma coisa.
Ficar fixado numa mulher é outra.
― Quem foi que disse que estou fixado nela?
Sou vidrado nela, isso sou.
Mas fixação é algo que não tenho.
― Quando um homem chega ao ponto de ver a namorada no rosto de outras mulheres, isso é fixação.
― O que? De onde tirou essa ideia?
― Você mesmo disse que anda vendo Beatriz por aí.
― Ah! Pai, que bobagem.
É apenas uma garota parecida com ela.
― Tem certeza?
― Claro.
― E onde foi que você a viu?
― Na praia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:47 pm

― Aqui, na Barra?
― Foi.
― Em que lugar da praia?
― Na altura do posto 8.
― A que horas?
― Sei lá. Umas dez horas.
― Como ela era?
― Cabelos curtos, pretos, bem magrinha. Por quê?
― Ela estava sozinha ou acompanhada?
― Estava com um rapaz, que devia ser seu namorado, e um senhor de seus cinquenta e poucos anos.
― E você está certo de que ela era idêntica a Beatriz?
― Espere um pouco, pai.
Por que está me fazendo tantas perguntas sobre essa garota?
Gilson se acalmou e procurou disfarçar:
― Não quero que você crie fantasmas dessa moça.
― Posso saber por que eu criaria fantasmas da Beatriz se ela está viva e é minha namorada?
― Já falei... Você está com uma fixação exagerada...
― Nada disso.
Você é que, de repente, deu uma de louco e pareceu fixado não na Beatriz, mas na outra garota.
Por quê? Qual o seu interesse em tudo isso?
O que está acontecendo?
― Não está acontecendo nada.
Você tem razão. É tudo bobagem do seu pai.
Preocupação excessiva.
Acho melhor eu ir dormir.
Vá dormir você também.
Gilson foi para o quarto profundamente abalado.
Deixara transparecer alguma coisa, e Vítor, que era esperto, não tardaria a desconfiar.
O filho devia ter visto a mesma moça que ele vira no shopping, e ele precisava averiguar para ter certeza de que aquela era a gémea de Beatriz.
O dia seguinte era domingo, e a praia logo estaria lotada.
Gilson desceu para a areia e resolveu ir caminhando até depois do posto 8, a fim de ver se encontrava a menina.
Iria e voltaria quantas vezes fossem necessárias.
Na primeira caminhada, não encontrou ninguém.
A praia ainda estava vazia, e ele não viu nada, embora olhasse atentamente.
Na volta, ninguém parecido com Beatriz chamou a sua atenção.
Ele caminhou mais duas, três, quatro vezes, até que a praia encheu por completo e ficou muito difícil divisar as pessoas no meio da multidão de banhistas, cadeiras e barracas.
Além do mais, esquecera de passar protector solar, tamanha a sua ansiedade, e a pele, queimada demais pelo sol, repuxava no rosto e nos ombros.
Gilson saiu da areia e foi tomar um refrigerante no quiosque mais próximo, sentando-se à sombra de um guarda-sol.
Ficou observando o movimento, tentando identificar alguém semelhante à Beatriz na calçada, entre os transeuntes.
Nada. Ninguém parecido com ela passava.
Por volta do meio-dia, desistiu.
Seria impossível encontrar a moça àquela hora e no meio de tanta gente.
Já ia se levantando para ir embora quando o filho se aproximou, em companhia de Beatriz.
― Você está mesmo esquisito, pai - observou o rapaz, sentando-se junto a ele.
Que eu me lembre, você não gosta de praia.
E olhe só o seu rosto.
Está parecendo um camarão.
― O senhor se queimou demais, seu Gilson - concordou Beatriz.
Não passou protector?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:47 pm

― Eu me esqueci.
― O que veio fazer na praia? - questionou Vítor, desconfiado.
― Ora, o que vim fazer na praia...
O que todo mundo faz. Divertir-me.
Nessa hora, algumas amigas de Beatriz se aproximaram, e ela se entreteve conversando com elas, dando a Vítor a oportunidade de falar mais reservadamente com o pai:
― Você não parece estar se divertindo.
Sozinho, a pele toda torrada, bebendo refrigerante e observando o movimento?
Isso não faz o seu feitio.
― E daí? Não posso mudar de ideia e vir à praia um dia?
― Pode. Mas acho muito esquisito você resolver fazer isso justo quando tivemos aquela conversa estranha.
O que está pretendendo?
Encontrar aquela moça?
― Esqueça a conversa que tivemos.
Foi maluquice de um pai solitário e com medo de perder o filho.
E eu resolvi vir à praia hoje justamente porque tivemos aquela conversa ontem.
Foi então que percebi que estou ficando velho e paranóico.
Preciso tomar sol e aproveitar o resto da vida.
― Olhe, pai, você nunca foi um homem solitário.
Cadê as suas namoradas?
― Desisti delas.
São todas fúteis e vazias, e só estão atrás do meu dinheiro.
― Sei. E por isso, você decidiu que já era hora de gostar de praia.
De repente, sem dar resposta ao filho, Gilson se levantou de um salto e saiu correndo para a areia, deixando o rapaz atónito, sem entender o que estava se passando.
Gilson havia visto uma moça que correspondia à descrição da sósia de Beatriz, mas Vítor não percebera.
Só vira o pai sair correndo, sem saber por que motivo.
Gilson desceu à areia escaldante com a rapidez de um cometa.
A moça estava de costas, de mãos dadas com um rapaz, e ele se aproximou cautelosamente.
Não podia correr o risco de levar um soco no queixo, porque o rapaz podia interpretá-lo mal e achar que ele estava flertando com a namorada.
Andando bem devagarzinho, ele foi rodeando o casal, até que passou pelo lado da garota e olhou-a de perfil, ao mesmo tempo em que ela se virava de frente para o rapaz e voltava às costas para ele, dirigindo o rosto para o lado oposto ao sol.
Ele não desistiu.
Continuou circundando-os lentamente, até que, postado atrás do rapaz e defronte à moça, olhou para ela, sentindo a vista cegar com os raios causticantes do sol do meio-dia.
Instintivamente, estreitou os olhos, mal conseguindo identificar o rosto diante de si.
Fechou os olhos rapidamente e, ao reabri-los, sentiu a vista falhar, ainda ofuscada pela luminosidade excessiva que incidira directamente sobre ela.
Piscou algumas vezes e, quando tornou a olhar, ela e o rapaz estavam se beijando, o que o deixou louco da vida.
Pacientemente, esperou até que o beijo terminasse, quando então ela se voltou para o mar.
Mais aquela! Tinha que mudar de posição novamente.
Estava parado ao lado do casal e se virou para o mar também, olhando-a de soslaio, maldizendo o rapaz, que estava posicionado entre eles.
Durante alguns segundos, fingiu que apreciava as ondas, até que resolveu dar um mergulho rápido, rezando para que não fossem embora.
Não foram.
Gilson saiu da água caminhando lentamente em direcção a ela e conseguiu, finalmente, encará-la de frente.
Como quase foi para cima dela, a moça o olhou nos olhos, e o namorado deu um passo na direcção dele, mas Gilson se recompôs rapidamente e balbuciou a meia voz:
― Desculpe.
Não era ela.
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