LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:40 pm

― Estou disposto a pagar pelos meus crimes.
― Em que ano foi isso, doutor?
― Em 1987. Foi quando as meninas nasceram.
― Então foi sequestro mesmo.
A pena, pelo menos, é um pouquinho menor.
O Estatuto da Criança e do Adolescente é de 1990 e prevê o crime de entrega de filho mediante paga, com pena maior.
― Creio que o senhor não entendeu.
A moça não quis entregar as filhas. Nós as roubamos.
― Não faz diferença para o senhor e o doutor Renato.
A pena é a mesma.
E ainda há a formação de quadrilha, mas essa também já prescreveu.
― Isso não me importa mais.
Vou me conformar com a punição que a Justiça estabelecer para mim.
― Só temos elementos para acusá-lo desse último.
Imagino que o senhor não saiba onde se encontram as mães que venderam os outros bebés.
― Não faço a mínima ideia.
Eram pessoas desconhecidas, e nós nunca mantivemos nenhum registo.
― Entendo. E as outras pessoas que integravam a quadrilha?
O senhor disse que havia mais duas, além da sua mulher.
― Minha mulher morreu, assim como Geraldo.
Leocádia, não sei onde anda.
Pode deve ter morrido também.
Geraldo já era meio idoso, e Leocádia também não era muito jovem.
Nunca mais ouvi falar neles.
― Bom, doutor Gilson, o senhor é uma pessoa importante.
Esse caso vai ser notícia. Um escândalo e tanto.
― Posso imaginar.
― Contudo, o senhor deve compreender que não há nada que eu possa fazer.
Gostaria muito de deixar tudo isso para lá, já faz tanto tempo...
Mas tenho o meu dever de ofício.
― Compreendo.
― É, não tem jeito.
Não vou prendê-lo, porque o senhor é réu primário e se apresentou espontaneamente.
Não é perigoso e sei que não vai tentar fugir do país.
Mas vou ter que instaurar inquérito, infelizmente.
― Faça como deve, doutor.
― O senhor vai responder por sequestro, e o doutor Renato, por sequestro também e por porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo.
― Assumirei as consequências de meus actos, assim como Renato deve assumir dos dele.
― Bem, então, pode ir.
Fique tranquilo e não faça nenhuma bobagem.
No momento certo, mandarei chamá-lo.
― Está bem. Obrigado.
Gilson saiu da delegacia arrasado, porém, com a sensação de que havia feito a coisa certa.
O que o deixava tão mal não era propriamente o resultado de sua confissão, mas a reacção do filho.
Vítor o acompanhava de cabeça baixa e olhos fundos, sem dizer uma palavra.
Gilson não sabia o que dizer e temia magoá-lo ainda mais.
Nada, absolutamente nada do que dissesse poderia apagar a dor, a vergonha e a desilusão do rapaz naquele momento.
Com os olhos vermelhos e afundados nas órbitas, Vítor acompanhou o pai até o lugar onde ele havia estacionado o automóvel.
Depois que Gilson entrou, ele seguiu até o seu próprio carro, parado um pouco mais adiante, e entrou.
Assim que fechou a porta, apoiou a testa no volante e chorou, como nunca antes havia chorado em toda a sua vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:40 pm

CAPÍTULO 42

Ao saírem da delegacia, Renato, Carminha e Beatriz permaneciam em silêncio, preocupados.
O advogado de Renato conseguira, através de um habeas corpus, tirá-lo da cadeia no mesmo dia.
A tarde já avançava, e os três seguiram para casa após um longo período de espera, onde a inquietação parecia responder a todas as perguntas.
Beatriz procurou, com os olhos, Graziela e Suzane, mas elas já haviam ido embora.
Vítor e Gilson também não estavam mais lá, e ela ficou aflita, querendo saber o que aconteceria ao namorado.
― Não se preocupe com ele - tranquilizou Carminha.
Vai passar por momentos difíceis, mas vai ficar bem.
Beatriz ficou em silêncio até chegarem a casa.
Ao entrarem, Nícolas correu ao seu encontro, querendo saber o que havia acontecido.
― Não houve nada - mentiu Renato.
Papai teve apenas um contratempo.
Beatriz fulminou-o com o olhar, mas não contestou.
Era contra esconderem a verdade do irmão.
Não era porque ele era criança que não podia participar das coisas.
Tinha o direito de saber o que estava acontecendo.
Contudo, deixaria aquilo para mais tarde, após falar com a mãe.
― Vá brincar, meu filho - incentivou Carminha.
― Posso ir à casa do Pedro?
― Pode, sim. Peça a Rosalinda para levar você.
O menino saiu em companhia da criada e Beatriz tornou em tom de censura:
― Não deviam mentir para ele.
― Nícolas ainda é muito criança para se envolver nesses assuntos - objectou Renato.
― Ele é criança, mas não é bobo.
Vocês pensam que ele não sabe que algo está acontecendo?
E se ele ler alguma coisa nos jornais?
Sem falar, o que é ainda pior, que algum amigo na escola pode fazer uma piadinha.
Já pensaram nisso? - eles não responderam.
Será que não é melhor preveni-lo para que não seja tomado de surpresa?
― Mas... contar a ele a verdade significa contar que ele também foi adoptado - retrucou Carminha.
O olhar de reprovação e terror de Renato foi abrasador, mas Beatriz se adiantou e esclareceu:
— Já sei de tudo, papai.
Não precisa mais me esconder nada.
― Já sabe de tudo o quê?
― Sei de tudo sobre a adopção e Gilson.
E conheci minha irmã gémea em casa de dona Amélia ontem.
Renato se jogou sobre o sofá e apoiou o rosto nas mãos, sentindo o mundo desmoronar sobre seus ombros.
― Não pude impedir, Renato - lamentou-se Carminha.
Não pude...
― Que mentira você ia inventar agora, pai?
― Beatriz! - esbracejou ele.
― Estou lhe poupando o trabalho de mentir novamente.
Descobri tudo sozinha.
Foi muita ingenuidade de vocês querer me esconder a verdade com minha mãe e minha irmã rondando por aí.
― Sua mãe sou eu! - protestou Carminha com fúria.
E aquela moça não é sua irmã.
― Não adianta nada nos prendermos ao sentimentalismo.
A verdade é que Graziela é minha verdadeira mãe, e Suzane, minha irmã gémea.
Esse fato é incontestável, e não podemos dele fugir.
― Mas você nem gosta de Graziela.
― Isso não vem ao caso.
No momento, o que me preocupa é a atitude de papai.
O que deu em você para tentar matar Graziela?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:41 pm

― Ela... - ele engoliu em seco ― estava ameaçando a felicidade da nossa família.
― E por causa disso você tentou matá-la?
E como foi que Gilson o impediu?
― Ele... apareceu por lá...
Não sei por que nem como.
Acho que a estava vigiando.
Acho que ele também pretendia matá-la.
― Chega de mentiras.
Graziela disse que Gilson o impediu de atirar nela.
― Gilson é um assassino! - revidou Carminha entre os dentes.
Foi ele quem matou o seu pai verdadeiro.
― Isso é o que você diz.
― Você o ouviu na delegacia, Beatriz!
Ele nem ao menos se defendeu.
― Ouvi-o dizer que queria conversar com o delegado e Vítor.
O teor dessa conversa, todos desconhecemos.
― Vamos deixar isso para depois - pediu Renato.
No momento, só o que desejo é dormir.
As horas que passei naquela cela não foram nada agradáveis.
Beatriz não protestou.
Deixou que o pai se fosse e dirigiu-se para seu quarto.
Queria muito falar com Vítor, mas achava que não deveria ligar.
Seria melhor esperar até que ele aparecesse.
Cansada da noite mal dormida, recostou-se na cama e, em poucos minutos, adormeceu.
Em seu quarto, Renato remoía o ocorrido.
Carminha estava assustada, mas não queria desapontá-lo nem pretendia virar-lhe as costas num momento como aquele.
Não compactuava com a sua atitude inconsequente, mas não podia retirar-lhe o apoio.
― Você está arrependido? - indagou, deitada na cama a seu lado.
― Estou - mentiu ele.
― Por que fez aquilo, Renato?
― Para salvar nossa família, já disse.
― Não pensou que poderia ser preso?
― Foi um acto impensado. Não o faria de novo.
― Não aprovo a sua atitude.
― Eu sei. Mas agi por desespero.
― Você disse que Gilson queria matar Suzane.
― Foi o que pensei.
― No entanto, foi ele quem a salvou.
― Foi, embora não saiba com que propósito.
― E agora? O que vai acontecer?
― Nada, eu acho.
Meu advogado falou em porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo.
Não são crimes graves.
― Mas você pode ser preso.
― Posso.
― E se for? O que vai ser de mim e das crianças?
― Não se preocupe. Nada vai me acontecer.
Temos dinheiro, e meu advogado vai arranjar um jeito de me livrar.
Carminha inspirou profundamente e se agarrou a ele, molhando seu peito com suas lágrimas.
Renato a estreitou com ternura e afagou seus cabelos, até que ela dormiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:41 pm

Ele, contudo, por mais cansado que estivesse, não conseguia conciliar o sono.
Mais cedo, naquela noite, Gilson lhe telefonara dizendo que tudo em breve estaria terminado.
Já estava cansado de lutar contra o destino e pretendia pôr um fim àquela tragédia.
Tinha um plano para aproximar Beatriz da irmã e da verdadeira mãe, o que precipitaria o fim da história.
A ideia deixou Renato horrorizado.
Gilson não revelara que, naquele mesmo momento, Beatriz estava em casa de Amélia, a pretexto de uma falsa entrevista, esperando que ela tivesse um encontro casual com Suzane.
― Acabou, Renato - dissera ele.
Não podemos mais impedir o destino de seguir o seu curso.
Até amanhã, tudo terá sido desvendado.
― Você enlouqueceu! - vociferou o outro.
Quer ir para a cadeia?
― Vou assumir esse risco.
O que não posso mais é conviver com esse tormento e essa culpa.
Um homem foi morto, e nós somos responsáveis por isso.
― É bom mesmo que se sinta assim, porque você tem tanto a perder quanto eu.
Posso ter atirado no sujeito, mas você era o chefe da quadrilha.
Você é que era o bandido.
― Não fui eu quem o matou, embora me sinta responsável pela sua morte.
― Olhe, Gilson, eu não queria matar o sujeito.
Fiquei desesperado. Ele ia chamar a polícia, e eu já havia prometido um filho a Carminha.
― Você não tinha nada que ir até lá portando uma arma.
― O negócio era arriscado.
Você queria que eu simplesmente me expusesse ao perigo sem nenhum tipo de protecção?
E sua mulher ainda estava comigo!
― Foi tudo um erro, Renato.
Deus sabe o quanto me arrependo.
― Não adianta nada pensar em Deus agora.
Ele não vai livrá-lo da cadeia.
― Não quero ser preso, mas assumo o risco.
E você também devia começar a pensar nisso.
― De jeito nenhum! Tenho mulher e dois filhos.
Um neto que está a caminho. O seu neto!
― É por meu neto e por meu filho que pretendo acabar com isso.
Não quero que eles sintam vergonha de mim.
― Não diga asneiras!
Você tem que fazer alguma coisa.
― Não há mais nada que eu possa fazer.
Ofereci dinheiro à menina, mas ela recusou.
E agora que encontrou a verdadeira mãe, não posso mais impedir que a verdade prevaleça.
― Pode sim! Se Graziela não quer se contentar em ter apenas uma das filhas, precisamos eliminá-las de nossos caminhos.
― Você ficou louco. Não vou matar ninguém.
― Se você não fizer, eu mesmo o farei.
― Não seja tolo, Renato.
Você vai acabar preso.
― Fique fora disso, Gilson! - estava descontrolado, e Gilson sentiu medo.
Você é mesmo um covarde, como sua mulher falou.
― Minha mulher? - tornou ele desconfiado.
Quando foi que vocês conversaram sobre mim?
― Não venha desviar o assunto - retrucou Renato, temendo que Gilson acabasse descobrindo o caso que eles haviam tido.
Quero saber o que você pretende fazer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:42 pm

― O que já devia ter feito há muito tempo.
Vou providenciar para que Suzane e a mãe descubram toda a verdade.
― Vou impedi-lo, Gilson.
Suzane e Graziela jamais viverão para saber a verdade.
Renato bateu o telefone na cara de Gilson, que já sabia o que o outro iria fazer.
Pelo seu descontrole e desespero, era visível que Renato tencionava matar Graziela e Suzane.
Para quem já matara uma vez, matar outras duas não seria nenhum problema.
Com uma fúria explosiva, Renato tomou uma decisão.
Guiou o automóvel até uma loja de departamentos e comprou uma roupa toda preta, inclusive ténis e luvas.
Voltou ao escritório e apanhou o revólver que mantinha guardado num cofre.
O mesmo que utilizara, vinte anos atrás, para matar o pai das meninas.
Estava velho, mas ainda servia.
Renato colocou as balas, fechou o cofre e saiu apressado, não sem antes anotar o telefone de Graziela na agenda de seu celular.
Dali, foi postar-se defronte ao seu edifício e ligou para sua casa.
Ninguém atendeu, e ele deduziu que ela havia saído.
Pôs-se a esperar impacientemente, sem nem reparar que Gilson estacionara o carro mais adiante e também vigiava o prédio, escondido em outro lugar.
Mas o plano não saiu conforme o esperado, porque Gilson fora mais rápido e chegara a tempo de impedi-lo.
Tudo fora em vão.
Seus esforços, inúteis, porque, no momento em que ele espreitava Graziela, Beatriz descobria a verdade pelos lábios de Carminha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:42 pm

CAPÍTULO 43

Oculto na penumbra da sala mal iluminada, Gilson bebia seu uísque, enquanto Vítor permanecia com o olhar perdido, sem saber o que dizer.
― Sou uma decepção, não sou? - falou Gilson finalmente.
Pode dizer. Eu sei que sou.
― Por que, pai? Por que traficar bebés?
Gilson deu mais outro gole na bebida e lançou uma resposta dolorida e fraca:
― Pelo dinheiro.
― Foi assim que você conquistou sua fortuna? - ele assentiu.
E mamãe? Foi por isso que ela se matou?
― Quem foi que disse que ela se matou?
Sua mãe sofreu um acidente de carro.
― Pensei que o acidente fosse uma desculpa inventada para me ocultar a verdade.
― Enganou-se, Vítor.
Sua mãe morreu num acidente de carro, após uma discussão que tivemos.
Eu queria parar, ela, não.
― Sou adoptado também?
― Não.
― Carminha me disse que você matou o pai verdadeiro de Beatriz.
Ele deu um sorriso irónico e revidou:
― Mas você sabe que não foi bem assim, não sabe?
― E se você estiver mentindo?
E se tiver dito isso só para acusar Renato e se livrar?
― Com que propósito?
Não ouviu o delegado dizer que o crime de homicídio está prescrito?
O sequestro é que não. - Gilson deu uma volta na poltrona e parou defronte ao filho, encarando-o com um misto de tristeza e amor.
Sei que não há desculpa para o que fiz, mas eu sempre tentei ser um bom pai.
E se lhe ocultei a verdade durante todos esses anos, foi por medo e vergonha.
Como poderia contar ao meu filho que o pai dele era um bandido?
Não é uma profissão da qual ninguém deva se orgulhar.
― Não sei o que pensar...
― Não quero forçá-lo a me perdoar.
Mas tente ver o seu pai como um homem amargurado e infeliz.
Tampouco pretendo arranjar justificativas para os meus crimes, mas Deus sabe o quanto me arrependi e tentei parar.
― E por que não parou?
― Não é justo falar dos mortos, mas sua mãe não quis.
E eu, que sempre fui um fraco, deixei-me dominar por ela e acedi a sua vontade.
― E deu no que deu.
― Sim. É o preço que tenho que pagar.
Posso suportar qualquer coisa, Vítor, qualquer coisa mesmo.
Ser preso, perder os meus bens, o jornal, o prestígio.
A única coisa que jamais poderei suportar é perder você.
― Você... não vai me perder.
― Sei que é pedir demais que você me perdoe, mas será que você pode, ao menos, tentar não me odiar?
― Eu não o odeio.
Estou decepcionado e triste, mas jamais poderia negar o amor que você me deu.
― Pode me perdoar, então?
― Estou tentando primeiro entender.
Depois, acho que conseguirei perdoá-lo.
― Não posso esperar mais.
Gilson queria muito abraçar o filho, mas não tinha coragem.
Vítor permanecia impassível, enrijecido em suas atitudes, com medo de acercar-se do pai.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:42 pm

Naquele momento, contudo, Lorena adentrou o ambiente, acompanhada por Aécio, que se aproximou dos encarnados e ministrou-lhes um passe revigorante.
A energia benéfica assimilada pelos corpos físicos e astrais de ambos foi-lhes amenizando as dores, e em breve eles já se sentiam mais calmos.
Lorena, com uma nova visão da verdade, aproximou-se do filho e sussurrou com sentimento:
― Você tem muito que perdoar, meu filho.
A seu pai e a mim.
Perdoe-o. Perdoe-nos.
A sua presença não foi percebida por nenhum dos dois, mas ambos, ao mesmo tempo e sem compartilharem isso, pensaram em Lorena, cada qual à sua maneira.
Vítor então olhou para o pai e concluiu que seria muito fácil perdoar aqueles por quem se nutria amor.
No dia seguinte, a situação entre pai e filho havia melhorado, embora Vítor ainda se mantivesse um pouco distante de Gilson.
Precisava falar com Beatriz, saber como tinham ficado as coisas depois que deixaram a delegacia.
Telefonou para ela, e os dois marcaram de se encontrar.
Foi um momento difícil, e Vítor lhe contou tudo o que ouvira do pai diante do delegado.
― Sei que é difícil, Bia, mas é a verdade.
Meu pai traficava bebés, mas foi o seu que matou aquele homem.
― Não fale assim.
Não sabemos se isso é verdade.
― Você não acredita?
― Não sei em que acreditar.
Meu pai nunca foi assassino.
― Como pode duvidar?
Ele não tentou matar Graziela e Suzane?
Beatriz não respondeu.
As evidências eram incontestáveis, mas aceitar que o pai era um assassino era muito doloroso.
― As coisas vão ficar difíceis entre nós... - divagou ela.
― Como assim, difíceis?
Está tentando-me dizer que vai romper comigo?
É isso, Bia?
― Não... Eu o amo, vamos ter um filho.
Mas como vamos conciliar nossas famílias?
Elas jamais irão se aceitar ou se unir.
― Danem-se as famílias.
Nós não temos nada com o que nossos pais fizeram no passado.
Não é justo que sejamos responsabilizados ou punidos por suas atitudes.
― Ah! Vítor, não quero perder você.
― Só vai me perder se quiser.
― Lá em casa também não está fácil.
E vai ficar ainda pior quando eu conversar com meu pai e lhe disser que sei que foi ele quem matou o meu pai verdadeiro.
― Será que vale a pena?
― Não posso fingir que não sei.
E preciso ouvir dele a verdade.
― Acha que ele vai lhe contar?
― Não sei. Mas, se estiver mentindo, eu saberei.
O amor dos dois era forte demais para permitir que se separassem.
Passado o primeiro momento de choque e constrangimento mútuos, Vítor e Beatriz acabaram se unindo ainda mais, dispostos a não permitir que nada nem ninguém os afastasse.
Feitas as promessas e juras de amor, foram para casa.
Quando Beatriz chegou, o pai estava sentado à mesa da sala em companhia da mãe.
Nícolas não se encontrava presente.
Fora mandado à casa do amigo, e os empregados haviam sido dispensados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:43 pm

― O que está acontecendo aqui? - perguntou Beatriz.
Cadê todo mundo?
― Estamos sozinhos - esclareceu Carminha.
Precisamos conversar a sós.
― É bom mesmo que queiram conversar, porque eu tenho algo a perguntar a você, pai - ele a olhou com curiosidade, e ela disparou de forma implacável:
― Você matou meu verdadeiro pai?
A pergunta atravessou o coração de Renato como uma faca afiada, e ele fechou os olhos, sentindo toda a dor da tragédia inevitável.
― O que está dizendo, Beatriz? - horrorizou-se Carminha.
Que mentiras andaram lhe contando?
Você sabe muito bem que quem matou aquele homem foi o Gilson.
― É mesmo?
Pois não foi isso que Vítor me disse.
― Vítor é filho dele.
Na certa está mentindo para protegê-lo.
― Gostaria de ouvir isso de meu pai.
Então, pai, não me diz nada?
― O que você quer que eu diga? - retrucou Renato.
― A verdade, para variar.
― Que diferença isso faz?
Ninguém mais poderá ser punido por isso.
― Ah! Quer dizer então que o criminoso só será culpado se for punido?
E a consciência, onde fica?
E a moral, a noção de certo e errado, a decência?
Nada disso conta?
Renato não respondeu, mas Carminha interveio com indignação:
― Muito me admira você dar crédito àquele criminoso.
― Aquele criminoso teve coragem suficiente para chegar diante do delegado e assumir todos os seus crimes.
E você, pai, o que foi que fez?
Será que você tem hombridade suficiente para reconhecer os seus erros?
― Não fale assim com seu pai, Beatriz, não é direito.
― E o que é direito, mãe?
Roubar crianças ou matar?
― Fiz o que fiz por amor a vocês - rebateu ele, sem encará-la.
― Então você admite que matou meu verdadeiro pai.
― Eu sempre a amei, Beatriz.
Será que isso não basta?
É difícil para você aceitar as coisas como são?
― As coisas são do jeito que você as fez.
Sei que você me amou durante toda a minha vida.
Posso entender o seu desespero em ter um filho, as frustrações que você e mamãe passaram por causa dos três abortos.
Entendo perfeitamente que isso os tenha levado ao caminho da adopção clandestina.
A única coisa que não compreendo, e que me é difícil aceitar, é você, pai, ter sido capaz de matar um homem para conseguir o que queria.
Carminha desatou a chorar, e Renato afundou o rosto entre as mãos, tentando conter a enxurrada de lágrimas que forçava passagem por seus olhos.
― Você não sabe o quanto eu sofri... - desabafou ele, a voz estrangulada.
― Sofreu tanto que quis matar outra vez.
― Você não entende, Beatriz!
Aquela mulher tentou destruir nossas vidas.
Você mesma jamais gostou dela.
Por que está tentando defendê-la?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:43 pm

― Não gostar de uma pessoa é uma coisa.
Querer que ela seja assassinada é outra bem diferente.
E agora, já não sei mais o que sinto com relação a ela e a tudo isso.
Se antes eu a detestava, agora tenho por ela certa compaixão.
― Compaixão?
Pela mulher que a abandonou em troca de dinheiro?
― Não posso julgá-la antes de conhecer os seus motivos.
E se ela é tão ruim, por que Suzane está com ela?
Vocês devem tê-las visto na delegacia.
Não tive a oportunidade de falar-lhes, mas elas pareciam se dar muito bem.
― Essa Suzane é uma pobre coitada sem eira nem beira.
E uma mãe milionária caída do céu não é nada mau, você não acha?
― Não é nada disso.
Você está falando sobre o que não conhece.
Suzane sempre teve boa situação financeira, mas foi vítima de um golpe e perdeu tudo.
Não é uma aproveitadora, como você pensa.
― Isso é o que ela diz.
Essa moça é uma bandida...
― Não importa.
Seja como for, o facto é que Graziela é minha mãe verdadeira, e você matou o marido dela e tentou matá-la e a minha irmã.
Quem você acha que é o bandido nessa história?
Renato não conseguiu mais segurar o pranto e desatou num choro contido, balbuciando entre um soluço e outro:
― Não sou um bandido...
Posso ter errado, mas foi porque estava desesperado.
― Nenhum desespero justifica tirar a vida de outra pessoa.
E não foi só isso.
Você mentiu e tentou acusar Gilson do crime que cometeu.
E ainda hostilizou Vítor sem motivo aparente, só para afastá-lo de mim e, com isso, evitar que eu viesse a descobrir a verdade.
Isso é mais do que desespero: não me parece coisa de gente decente.
― Não fale assim comigo, Beatriz.
O que fiz foi tentar manter a nossa família unida e feliz.
― Esse não é o preço da felicidade de ninguém.
É o preço da desgraça e da vergonha.
― Você está sendo dura demais.
Não sou o monstro que você faz parecer.
― Você não é um monstro?
É um homem frio e egoísta, capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer.
Como se chama isso?
― Carminha, por favor, ponha juízo na cabeça da nossa filha - apelou ele.
Ela se deixou envolver por aquela gente...
Carminha, contudo, estava chorando.
Saber que o marido, realmente, matara outro homem deixara-a transtornada e aflita com a decepção.
Como poderia desculpá-lo se ele era um assassino?
― Nunca poderia imaginar que você fosse capaz de fazer o que fez - desabafou ela, a voz mais sofrida que jamais se ouvira.
Você mentiu para mim, acusou outro homem pelo crime que você cometeu.
E me enganou durante todos esses anos.
A vida inteira, eu me deitei ao lado de um assassino sem saber quem ele era.
Ele a olhou com desgosto e retrucou com voz abafada:
― Por favor, Carminha, não fique contra mim. Você, não.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Set 02, 2015 8:43 pm

― Já não posso mais apoiá-lo.
Não posso compactuar com essa conduta criminosa.
Agora vejo o que você realmente ia fazer.
Ia tirar a vida de duas inocentes para encobrir o seu crime, para que ninguém jamais soubesse o que você fez.
― Não. Eu queria proteger a nossa família.
― É mentira, Renato, e agora percebo isso.
Você queria proteger a si mesmo.
Foi por egoísmo e medo de ser preso que você tentou matar novamente.
Não foi por nós.
― Muito bem! - esbracejou ele de repente.
Fiquem todas contra mim!
O que fiz foi ter coragem para remover os obstáculos do meu caminho?
Sim, e daí?
Não me parece que alguém tenha sido infeliz nesta casa durante todos esses anos nem que você, Carminha, tenha ao menos uma vez questionado as minhas atitudes.
― Nunca imaginei que você tivesse matado alguém.
Para mim, você tinha pagado pela criança e a tinha trazido.
Não sabia nem que você a tinha roubado.
― Agora é muito cómodo dizer que não sabia.
― Mas eu não sabia!
― Contudo, jamais se queixou de ter um bebé em seus braços, não foi?
Até esse momento, você nunca quis saber o que eu tive que fazer para satisfazer a sua vontade.
― Eu confiei em você.
Sabia que as adopções não haviam sido legais, mas jamais teria compactuado com um assassinato ou mesmo com o sequestro do bebé.
― Será que não teria mesmo?
Será que não foi mais cómodo para você permanecer na ignorância para poder aliviar a consciência com a desculpa de que de nada sabia?
― Parem com isso - objectou Beatriz.
Não suporto mais ver vocês discutindo.
Ela se levantou apressada e correu para o quarto.
― Aonde é que você vai? - indagou Carminha.
― Não posso mais viver nesta casa.
Não com vocês dois.
― Não faça isso! - implorou Carminha.
Para onde é que você vai?
― Vai viver com sua mãe? - tornou Renato, com certo tom de ironia.
Beatriz rodou nos calcanhares e foi correndo para o quarto.
Trancou a porta e começou a arrumar as malas.
Queria sair dali o mais rápido possível.
Era-lhe penoso encarar o pai e ver no rosto de quem tanto amara as marcas indeléveis do crime.
Não. Não era capaz de suportar aquela mancha.
Não no seu pai.
Em poucos minutos, alguém batia à porta, e ela resolveu não abrir.
Mas a voz do lado de fora era insistente, e ela percebeu que a mãe estava sozinha.
Abriu o suficiente para que Carminha entrasse e fechou a porta rapidamente.
― Você não precisa fazer isso - falou Carminha.
― Não preciso é que você me diga o que fazer.
― Você não tem para onde ir.
― Vítor vai dar um jeito.
― Você vai para a casa dele?
― Não. O pai dele também está comprometido com toda essa sujeira, e eu quero distância de tudo isso.
― Cometi muitos erros na vida, Beatriz, e o pior deles talvez tenha sido a minha omissão em procurar saber dos detalhes da sua adopção e da de Nícolas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Set 03, 2015 10:47 pm

Mas eu estava desesperada, e você apareceu para salvar a minha vida.
Fiquei tão feliz quando a vi que resolvi desconsiderar qualquer coisa que pudesse nublar a felicidade que você me trouxe.
Eu só queria ser mãe.
Será que isso é um pecado assim tão horrível?
Beatriz não respondeu, e ela prosseguiu:
― Sei que escolhi o caminho mais fácil que o dinheiro pôde comprar.
Mas eu jamais pensei que estivesse prejudicando alguém.
Para mim, eu tinha os filhos que outra mãe não quis e resolveu abandonar e vender.
― Não se torture mais com isso, mãe. Não vale a pena.
― O que me tortura é saber que perdi o seu amor.
― Você não perdeu.
Eu estou apenas confusa.
― Será que um dia você poderá me perdoar?
Em nome do amor que eu sempre lhe tive, serei digna do seu perdão?
Beatriz se aproximou e segurou as mãos de Carminha entre as suas.
Quando falou, havia doçura e sinceridade em sua voz:
― Eu já a perdoei.
― Ah! Minha filha...!
As duas se abraçaram.
Subitamente, ouviram um barulho de motor, e Beatriz foi até a janela espiar.
― Papai saiu - anunciou ela.
― Melhor assim.
― Venha comigo, mãe.
Podemos ir viver em algum lugar longe daqui.
― E deixar o seu pai?
― Não posso crer que, depois de tudo isso, você ainda queira viver com ele.
― E o Nícolas?
― Arrume as coisas dele.
Iremos buscá-lo.
― O que lhe diremos?
― A verdade. Nada melhor do que a verdade.
― Ele não vai compreender.
Ainda é muito criança.
― Ele não é idiota. É inteligente e amoroso.
Talvez possa compreender muito melhor do que nós.
Foi assim que fizeram.
Depois de arrumar suas malas, Beatriz foi ajudar a mãe com as suas coisas e as de Nícolas.
Colocaram tudo em dois carros e partiram.
Dali foi apanhar Nícolas e se hospedaram em um hotel.
O menino fez algumas perguntas, mas não insistiu.
Pela movimentação dos últimos dias, percebia que algo muito grave estava acontecendo em sua casa.
Só não sabia o que era.
No dia seguinte, quando Carminha e Beatriz lhe contaram toda a verdade, ele chorou por alguns momentos, mas depois, sentindo-se amado e querido pela mãe e a irmã, conseguiu reunir forças para enfrentar a situação.
É um erro supor que as crianças nada entendem nem são capazes de discernir.
A sua sensibilidade as torna muito mais susceptíveis à compreensão do que os adultos, porque elas estão isentas do obstáculo do orgulho, movidas apenas pelas vibrações do sentimento puro.
Mentir causa desconfiança e medo, fazendo com que as crianças se sintam inseguras e desrespeitadas.
Todavia, como Carminha e Beatriz falaram com amor e sinceridade, o coração do menino rapidamente percebeu-lhes a intenção de respeito e amorosidade, e ele conseguiu superar o impacto daquele primeiro momento.
Chorou, sim, ficou triste e decepcionado.
Mas aos poucos compreendeu e, auxiliado principalmente pelo amor da mãe, foi conseguindo superar a decepção e encarar com tranquilidade a situação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:27 am

CAPÍTULO 44

Foi com imensa surpresa que Graziela recebeu em sua casa a visita de Carminha e Beatriz.
Eram as duas pessoas mais improváveis de encontrar ali, e o seu espanto só não foi maior do que a sua alegria.
A decisão de procurar Graziela partiu de Beatriz e Carminha a acolheu com certa relutância.
Por mais que compreendesse e desse razão a Graziela, tinha medo de perder o amor da moça que amara como filha durante a vida inteira.
― Isso não vai acontecer - garantiu Beatriz.
Já não sou mais criança e sei muito bem o que quero e o que pensar.
No começo, fiquei decepcionada, triste e revoltada... muito mais com a mentira do que com o facto de ter sido adoptada.
E ser filha de Graziela, para mim, também não foi fácil.
Afinal, eu nunca simpatizei com ela.
Mas não adianta querer torcer a vida para que ela seja do jeito que desejamos.
Tenho que aceitar as coisas como são e venho procurando compreender Graziela.
Carminha abraçou-a com efusão e acariciou o seu ventre volumoso:
― Meu neto vai sentir orgulho da mãe.
No dia em que tiveram aquela conversa, Beatriz estava muito segura do que pretendia fazer, e a segurança se transformou em certeza quando viu Graziela sentada no sofá, diante dela, com toda a emoção estampada no olhar, e o rosto de Suzane virado para ela como uma réplica de si mesma.
Perto delas, invisíveis, os espíritos de Roberval e Aécio compartilhavam daquele momento de reconciliação.
― Sei que vocês não esperavam a nossa visita - disse Beatriz —, mas tínhamos que vir mesmo assim.
― Não esperávamos, mas ficamos muito felizes - rebateu Graziela.
Vocês não sabem o quanto desejamos a sua vinda.
― Acho que tenho que me desculpar com você, Graziela - afirmou Carminha.
Fui egoísta e mesquinha, mas nunca lhe quis mal.
― Você não precisa se desculpar.
Sou mãe e entendo perfeitamente o seu desespero.
Também eu tudo faria para proteger os meus filhos.
Carminha olhava de Graziela para Suzane, sentindo pela gémea de sua filha uma simpatia que até então não percebera.
― A semelhança entre vocês duas é incrível - observou ela.
― Somos gémeas univitelinas, mamãe - falou Beatriz.
Não podíamos ser diferentes.
― Mas tão iguais assim...
― Se você observar bem, verá que há umas pequenas diferenças entre mim e Beatriz - avaliou Suzane.
E acho que ela é uns dois centímetros mais alta.
― Será?
Enquanto ficavam comparando as semelhanças e diferenças, Graziela as fitava com intensa emoção, imaginando que aquela era a realização de seu sonho:
ver suas duas filhas juntas em harmonia.
Depois de algum tempo, Beatriz tornou a falar:
― Sei que o passado é doloroso, Graziela, mas eu gostaria de saber o que realmente aconteceu.
Ante o olhar de ansiedade de Beatriz, Graziela lhe contou tudo, sem ocultar nem falsear a verdade.
A narrativa era muito mais dolorosa para Beatriz do que fora para Suzane, porque não fora o pai adoptivo de Suzane quem matara seu verdadeiro pai.
Contudo, Beatriz ouviu com coragem, tentando não emitir qualquer julgamento a respeito da conduta de Renato.
Ao final, todas estavam chorando, inclusive Carminha.
― Eu jamais desisti de procurá-las.
Aécio, meu segundo marido, me ajudou de todas as formas, mas não foi possível localizá-las.
Vocês haviam desaparecido sem deixar rasto, porque a operação de Gilson era muito bem montada, e não havia documentos nem testemunhas.
― E agora, por uma ironia do destino, você nos encontrou, a ambas, pertinho, no Rio de Janeiro - ponderou Beatriz.
― Foi muita coincidência - concordou Suzane.
Com tantos lugares no mundo para ir, eu tinha que escolher justo o Rio de Janeiro.
E olhem que ainda considerei outras possibilidades, mas o Rio me pareceu o lugar ideal.
― E eu então? - retrucou Graziela.
Ia para São Paulo.
Mas vocês sabem que, na hora de comprar a passagem, tudo deu errado e minha amiga, sem querer, comprou para o Rio?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:27 am

― Não me diga! - espantou-se Beatriz.
― Isso me fez pensar em muitas coisas, nas coincidências da vida que mais parecem um arranjo do destino.
― Deve ser mesmo - concordou Suzane.
Tenho sonhado com um homem que não conheço e que me diz coisas estranhas.
― Que tipo de coisas? - interessou-se Graziela, que, até então, não sabia dos sonhos de Suzane com Roberval.
― Não sei bem.
Muita coisa fica perdida quando acordo.
Mas tenho a sensação de que ele é um anjo bom que vem me ajudar.
Aécio se acercou de Graziela e tocou levemente a sua fronte, transmitindo-lhe pensamentos que ela tomava como seus.
― Estranho - reflectiu Graziela.
Também ando tendo sonhos reveladores, só que com Aécio.
E ele me diz coisas que me fazem pensar.
Por isso foi que comecei a perceber que nada acontece por acaso e que as coincidências obedecem a uma programação preestabelecida, à qual não temos acesso.
― Acredita mesmo nisso? - indagou Carminha.
― Acredito sim.
Só pela intervenção divina se podem explicar esses reencontros.
― Acho que Graziela tem razão - concordou Suzane.
Foram coincidências demais, coisas que jamais poderíamos supor que acontecessem um dia.
E aconteceram.
O que parecia impossível tornou-se real pelas mãos do destino... ou de Deus.
― Depois de tudo por que passamos - ponderou Carminha ―, acho mesmo que não duvido de mais nada.
Ficaram em silêncio por alguns instantes, cada qual reflectindo em seus próprios sentimentos, até que Graziela retomou a palavra:
― Sei que você não nutre muita simpatia por mim, Beatriz.
Mas considero a sua vinda aqui um indício de boa vontade e espero que você possa diluir a péssima impressão que tinha a meu respeito.
― Não vou mentir - falou Beatriz.
Realmente, não conseguia gostar de você.
Achava-a fingida e jurava que você estava de olho no meu pai.
― Seu pai é um homem muito atraente e me causava uma espécie de fascínio, mas não atracção física ou sexual.
Hoje compreendo que essa sensação era proveniente da lembrança adormecida do homem que atirou em meu marido.
Mesmo inconscientemente, minha alma o reconheceu.
Havia também o facto de que Renato fora filho de Graziela em outra vida.
Facto que ela desconhecia, mas que permanecia impresso em sua mente.
― Mas você nunca esteve interessada nele.
― Não. Eu amava meu segundo marido, Aécio, assim como amei o primeiro.
E embora, como Suzane, não consiga reter muito desses sonhos, alguma coisa sempre fica.
E umas das coisas de que me lembro bem é que ele me diz que devemos sempre perdoar.
― Perdoar o meu pai, você diz? - espantou-se Beatriz.
E Gilson? Não sei. Acho difícil.
― Difícil, porém, não impossível - objectou Graziela.
Não vou dizer que é fácil, mas estou tentando.
E, se vocês querem mesmo saber, quando descobri que Renato e Gilson foram os responsáveis pela perda das minhas meninas, não senti nenhum ódio ou desejo de vingança.
Só o que passava pela minha cabeça era que eu havia, finalmente, reencontrado minhas filhas.
― Não sente ódio deles? - indignou-se Carminha.
Dos homens que destruíram, literalmente, a sua vida?
― Não. Na verdade, senti muita pena de Renato, porque ele é um homem perdido em suas próprias ilusões.
Quanto a Gilson, achei-o atormentado e, de facto, admirei mesmo a sua coragem de revelar a verdade e se entregar.
― Ambos estão respondendo a processo na Justiça - anunciou Beatriz.
― Sim, mas não fui eu quem os denunciou.
Foram eles mesmos, com as suas próprias atitudes impensadas.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:28 am

― Quer dizer então que você não está interessada em se vingar?
― Não.
― Não se trata de vingança - opôs Carminha.
É uma questão de justiça.
― A justiça, muitas vezes, vem camuflando o desejo de vingança.
É como uma vingança permitida.
E é contra essa que devemos lutar.
― Graziela não está buscando se vingar de ninguém - afirmou Suzane.
Tampouco está feliz com esses processos.
Mas não podia ser diferente.
Gilson confessou, Renato foi preso em flagrante.
Não está mais em nossas mãos, mas da Justiça.
O delegado foi quem quis instaurar o inquérito, ainda que Graziela fosse contra.
― Você foi contra? - surpreendeu-se Beatriz.
― Não é que tenha sido contra - esclareceu Graziela.
Eu apenas disse ao delegado que uma punição agora de nada servia.
Já se passaram muitos anos, e creio que Gilson e Renato já respondem pelos seus crimes nos recônditos de suas consciências.
Só que o delegado não me deu atenção.
Explicou-me que, ao tomar conhecimento de um crime, era seu dever fazer as devidas acusações.
Seu papel era investigar e enviar o resultado para o promotor.
O resto era com a Justiça e não dependia da minha vontade nem da de ninguém.
Não pude fazer nada, embora não me regozije com isso nem me felicite com a punição dos dois.
Só o que quero é viver em paz com as minhas filhas.
Ela olhou directamente para Beatriz, que sustentou o seu olhar e falou com suavidade:
― Estou tentando entender o que você fez, Graziela, e não quero julgá-la.
Mas deixar minha mãe - e apertou a mão de Carminha ― para viver com qualquer outra é algo que considero impossível.
― Quando digo que quero viver em paz com minhas filhas, não significa que tenha que ter as duas ao meu lado.
Durante muito tempo, foi isso o que quis.
Mas agora, contento-me em saber que vocês não me odeiam.
― Não a odeio - falou Beatriz com convicção.
Acho que todos somos capazes de cometer erros, mas temos a mesma capacidade para nos arrependermos e tentar consertá-los.
Num primeiro momento, pensei em abortar...
Mas rapidamente reconsiderei e estou disposta a enfrentar todas as dificuldades pelo meu filho.
Fez-se silêncio na sala, até que Carminha o rompeu com voz solene:
― Será que você é realmente capaz de perdoar Gilson e Renato?
Não está tentando se convencer do que acha que é moralmente correcto ou espiritualmente mais elevado?
Afinal, eles são seus inimigos, principalmente Renato.
― Amar os inimigos é uma conquista da alma sobre si mesma - falou Graziela sem pensar, influenciada por Aécio.
E depois, não considero Renato um inimigo, embora ele até possa me considerar assim.
― Você está exagerando - rebateu Beatriz.
Não acredito que possa chegar ao ponto de amar meu pai ou Gilson.
― Amar os inimigos não significa ter-lhes afeição - prosseguiu Graziela, ainda com Aécio junto a ela.
Significa não odiar, não alimentar desejos de vingança, não tripudiar, não ser oportunista nem aproveitar as situações para humilhar ou zombar.
Notamos que estamos começando a amar os nossos inimigos quando o mal que os atinge não nos dá prazer.
Todas escutavam em silêncio, profundamente admiradas com a súbita transformação no jeito de Graziela.
― Ouvindo você falar - disse Carminha ―, começo a reavaliar minha atitude para com Renato.
Saí de casa quando descobri que foi ele quem matou o pai das meninas.
― Talvez você deva voltar para ele - aconselhou Graziela, repetindo, praticamente, as palavras de Aécio.
É nesse momento que ele mais vai precisar do seu amor.
― Não sei. Descobrir que Renato é um assassino foi muito doloroso.
Por mais que eu quisesse um filho, jamais teria permitido que alguém fosse morto por causa disso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:29 am

― Pense como deve estar sendo para ele.
Sozinho, arrependido de seus crimes, longe de tudo o que ele sempre considerou mais importante, que foi a família.
Renato pode não ser perfeito, mas fez o que achou certo.
― Você acha certo matar para conseguir o que quer? - indignou-se Beatriz.
― Eu, não. Mas seu pai, sim.
O que é certo para um pode não ser para outro, porque muitos têm ainda uma visão distorcida do que sejam as verdades do espírito.
Você não pode avaliar o desenvolvimento de cada ser pelos seus próprios padrões.
Acredito que todos fazemos o que é certo na vida, embora o certo e o errado variem de acordo com a maturidade e o conhecimento de cada um.
Quem aprende mais, sabe mais.
Consequentemente, está em condições de tomar atitudes mais amadurecidas e equilibradas.
Quem pouco ou nada aprendeu não pode ir além dos limites do que sabe.
Todas reflectiam nas palavras de Graziela, inclusive ela mesma, que não imaginava de onde havia tirado aquelas ideias.
A seu lado, Aécio a inspirava, enquanto Roberval se encarregava de espalhar no ambiente partículas de uma energia luminosa e benfazeja, que iam agindo nas moças de forma a causar-lhes indescritível bem estar e confiança mútua.
― Se fosse você, teria voltado para o seu marido? - questionou Suzane.
― Se o amasse, sim.
― Você tem medo dele, mamãe? - perguntou Beatriz.
― Não. Sei que seu pai jamais nos feriria, a mim, a você ou a seu irmão.
O que sinto em relação a ele é uma enorme decepção.
― Talvez, se permanecer ao lado dele - prosseguiu Graziela ―, seja mais fácil para ele compreender a impropriedade de suas atitudes e tentar se modificar.
Não há nada que o amor não transforme.
Carminha olhou para Beatriz com um toque de compreensão em seu olhar que a filha antes não havia percebido.
Ou seria amor?
― Acho que você tem razão - falou ela calmamente.
Se você, Graziela, que sofreu muito mais do que eu nessa história, foi capaz de perdoar, como é que eu, que tenho certeza de amar meu marido, não posso também perdoá-lo?
― Você vai dar apoio a ele? - espantou-se Beatriz.
― Vou dar apoio à sua transformação, aos momentos difíceis que ele terá que atravessar.
Não vou apoiar os seus crimes.
Intimamente, Beatriz concordou com a mãe.
Também ela amava o pai, apesar de tudo o que ele fizera.
Depois daquela conversa, passara a vê-lo de um jeito diferente, com um entendimento mais profundo sobre as fraquezas da alma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:29 am

CAPÍTULO 45

Em pouco tempo, uma forte amizade surgiu entre Beatriz e Suzane.
Havia realmente muitas semelhanças entre elas, e as diferenças de temperamento não eram tantas que não permitissem que pudessem ser amigas.
Ambas tinham em comum o principal: um bom coração.
Beatriz adquiriu o costume de ir à casa de Graziela, principalmente para conversar com Suzane, na tentativa de se conhecerem melhor.
― Sabe quem eu conheci outro dia? - indagou Beatriz, logo que conseguiu entrar no assunto.
― Quem? - tornou Suzane, com certa curiosidade.
― O René. Lembra-se dele?
Suzane teve um sobressalto e olhou para Beatriz admirada.
― Onde você o conheceu?
― Ele me confundiu com você. Acredita?
― Acredito. Acho até que ele já havia visto você em algum lugar, porque me falou algo a respeito.
Aquelas confusões que todo mundo fazia, achando que eu era você e vice-versa.
― Ele é muito apaixonado por você, sabia?
Pediu-me para dizer-lhe isso.
― Pediu? Como?
Sobre o que vocês conversaram?
― Bom, foi difícil para ele acreditar que eu não era você.
Quando enfim se convenceu, já havia percebido que, possivelmente, nós éramos gémeas.
Tornou-se meu amigo e me pediu para lhe dizer que a amava, caso você fosse mesmo minha irmã.
Suzane ficou pensativa por uns instantes, recordando os momentos felizes que passara ao lado de René.
― Não posso mais tornar a vê-lo.
Estou comprometida com Leandro, e não seria justo com ele.
― Não seria justo com quem?
Com Leandro ou René?
― Vou lhe contar algo em segredo, Beatriz.
Quando vim para o Rio de Janeiro, vim disposta a encontrar um marido rico para poder me vingar de meu tio Cosme, lá em Brasília.
Conheci René e acabei me apaixonando, mas ele não podia me dar o que eu pretendia.
― Vingança.
― Exactamente. René é pobre, e só um homem rico poderia me auxiliar nesse intento.
Foi quando conheci Leandro e gostei dele.
― Quer dizer então que você começou a namorar Leandro só porque ele é rico?
― No princípio, era só isso.
Mas não sou esse tipo de mulher interesseira.
Entrei em conflito comigo mesma.
Queria seguir o meu coração, mas estava presa ao ódio que sentia pelo que meu tio Cosme me fizera, e achava que só Leandro, com o seu dinheiro e influência, poderia me ajudar.
― Mas você hoje não precisa de dinheiro.
Graziela é rica e vai deixar você muito bem.
― Sei disso.
― Então, por que não termina com ele e fica com René?
― Não é tão fácil assim.
René não é apenas pobre... é meio malandro, sabe?
― Como assim?
― Ele trabalha fazendo apostas do jogo do bicho.
― E isso é um problema.
― Não é?
― Acho que sim. Namorar um contraventor é complicado.
Mas se você o ama, não pode estimulá-lo a largar essa vida?
― Talvez. Ele está estudando e vai fazer faculdade de Direito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:29 am

― Sério? Então, ele não é tão malandro assim.
Tem algo de bom nele.
― Acho que o que faltou a René foram oportunidades na vida.
No entanto, depois que me conheceu, se dispôs a mudar e diz que vai ser juiz.
E aposto como vai mesmo.
Ele tem muita garra.
― Então, não vejo onde está a dificuldade.
― Leandro não merece essa decepção.
Ele tem sido tão bom para mim!
― Você não pode ficar com Leandro por pena ou gratidão.
Não seria justo nem com você, nem com ele, nem com René.
― Não sei o que fazer.
― Bom, não vejo por que você não termina com Leandro e assume seu namoro com René, se é dele que gosta.
― Aí é que está:
não sei realmente o que sinto por René.
Ele é o tipo de homem que eu aprecio: rude, meio malandro, mas ao mesmo tempo gentil e carinhoso.
Leandro, por outro lado, também é gentil e carinhoso, só que é educado e muito distinto, qualidades que também admiro.
Fica difícil escolher entre os dois.
Ouviram a campainha tocar, e Leandro entrou no quarto em seguida.
Deu um beijo nos lábios de Suzane e cumprimentou Beatriz:
― Como vai a minha futura cunhadinha?
― Bem.
― E o nosso sobrinho?
― Melhor a cada dia.
A chegada de Leandro interrompeu a conversa e Suzane ficou pensativa, tentando definir o que sentia por Leandro e por René.
A presença do namorado encheu-a de alegria, e aquilo era sinal de que gostava dele.
No entanto, a lembrança de René também mexia com ela, o que a deixava confusa.
Seu coração precisava se decidir.
Poucos instantes depois, Vítor também apareceu.
Combinara de pegar Beatriz em casa de Graziela para irem juntos terminar de fazer as compras dos móveis para o novo apartamento.
Depois da conversa que tiveram em casa de Graziela, Carminha resolveu voltar para casa e Beatriz achou que já era hora de ir morar com Vítor.
Embora não odiasse o pai ou Gilson, queria ficar longe de tudo.
― Tenho medo de deixar meu pai - desabafou Vítor.
Ele está tão abatido que pode fazer uma besteira.
― Você pode ir vê-lo sempre.
Mas, por favor, Vítor, ao menos nesse momento, não me deixe sozinha.
Tente compreender.
― Eu compreendo.
Deve ser difícil para você aceitar o meu pai depois do que ele lhes fez.
― Estou tentando. Mas não tenho o desprendimento de Graziela.
― Tudo bem, Bia, não se preocupe.
Adoro o meu pai, mas tenho que pensar na minha família, que agora são você e o bebé.
Papai vai entender.
O telefone celular de Vítor tocou nesse momento, e ele atendeu, olhando para Beatriz com cara de horror.
Falou em monossílabos e desligou.
― Aconteceu alguma coisa? - perguntou ela alarmada, notando a lividez que se espalhava pelo rosto do namorado.
― Meu pai... - balbuciou ele.
Acabaram de ligar do hospital.
Ele teve outro enfarte.
Saíram correndo para a casa de saúde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:29 am

Vítor ainda tentou impedir que Beatriz fosse com ele, mas ela insistiu, e não havia tempo para discutir.
Quando chegaram, ele estava na UTI, e o médico não quis deixar ninguém entrar, dada a gravidade do seu estado.
― Pelo amor de Deus - pediu Vítor chorando.
Sou o filho dele. Preciso vê-lo.
O médico acabou concordando.
Quando Vítor entrou, precisou lutar contra as lágrimas ao ver o pai ligado a vários aparelhos, respirando com muita dificuldade.
Aproximou-se vagarosamente e ficou contemplando o corpo magro de Gilson, seu peito subindo e descendo lentamente.
Ele não se movia, e Vítor apertou a sua mão, os lábios trémulos pelo pranto.
Mesmo em seu estado de quase inconsciência, Gilson percebeu a proximidade do filho e abriu os olhos dolorosamente.
― Meu filho... - balbuciou.
Temi partir sem antes vê-lo.
― Por favor, pai, não vá embora - soluçou Vítor.
Eu preciso de você.
― Não precisa, não.
Você agora tem a sua mulher e, em breve, terá o seu filho.
Cuide bem deles dois.
― Não, pai...
― Não adianta tentar enganar a morte, porque ela jamais comete enganos.
Sinto que chegou a minha hora. - Vítor apertou sua mão, e as lágrimas dobraram de intensidade, dificultando-lhe a fala.
Não chore por mim, Vítor, eu não mereço.
― Não diga isso.
Você sempre foi um bom pai.
― Fui um criminoso...
― Não fale nisso agora.
― Fui um criminoso e me envergonho disso.
Principalmente por você.
Não queria enxovalhar o seu nome.
― Não estou preocupado com isso.
Só não quero que você vá.
― Eu... preciso ir.
Sua mãe me chama...
― Minha mãe?
― Ela está ali. Você não a vê?
Vítor seguiu a direcção do olhar de Gilson, mas nada viu e ficou imaginando se a mãe estaria mesmo ali para buscar seu pai.
Ele já ouvira muitas pessoas falarem sobre parentes ou amigos que apareciam na hora da morte para levar seus entes queridos.
Efectivamente, Lorena estava parada ao pé da cama, em companhia de Roberval, ambos esperando por Gilson.
― Não tem ninguém ali - objectou Vítor, não por dúvida, mas por medo de que fosse verdade.
― Você não a vê... Não faz mal.
Gilson tossiu levemente, e a enfermeira entrou.
― Você tem que sair agora - ordenou ela.
Ele precisa descansar.
― Ainda não - protestou Gilson, agarrando a mão do filho.
Só depois que você me perdoar.
― Não fale mais nada - pediu Vítor, pressionado pela enfermeira, que o olhava de mau humor.
― Diga que me perdoa - suplicou a Vítor.
Por favor, diga que me perdoa para que eu possa partir em paz.
― Eu... perdoo você.
Perdoo você, pai, que sempre foi o meu único e melhor amigo...
― Peça a Beatriz que me perdoe também.
Eu não queria fazer-lhe mal...
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:30 am

― Ela vai perdoá-lo, pai, sei que vai.
Era o que faltava Gilson ouvir para poder partir em paz.
De repente, Vítor sentiu o aperto em sua mão se afrouxar, e os olhos de Gilson se fecharam lentamente.
O rapaz se debruçou sobre seu corpo e soluçou tristemente.
A enfermeira havia largado Vítor, e rapidamente uma equipe médica chegou, afastando o rapaz e se preparando para tentar reanimar Gilson.
Usaram choque, aplicaram-lhe massagem cardíaca, mas nada.
Não havia mais o que fazer.
Ao lado dele, Lorena e Roberval, ajudados por dois auxiliares, retiravam Gilson do corpo e o levavam, inconsciente, para um lugar de tratamento.
― Venha comigo, meu filho - disse a enfermeira para Vítor, agora com mais simpatia.
Ele estava parado a um canto, acompanhando os procedimentos com pavor e esperança.
Nada deu resultado e Vítor foi tomado por um desânimo sem igual.
Saiu para o corredor, onde Beatriz o aguardava alarmada, ante a correria que ocorrera havia pouco.
― O que foi que houve? - perguntou ela, já esperando pelo pior.
― Meu pai... ele se foi...
Vítor se abraçou a ela e chorou.
Ao enterro, compareceram muitas pessoas.
Gilson era um homem importante na sociedade, e a notícia de que estava respondendo a um inquérito por tráfico de bebés levou muitos curiosos e jornalistas ao local.
Vítor os descartou a todos, sem fazer nenhum comentário.
Em casa, Beatriz o esperava.
Queria ter estado presente ao sepultamento, mas o médico foi radicalmente contra.
Sabia que haveria muitas pessoas fazendo perguntas e insinuações, o que acabaria por stressar a mãe e o bebé.
― Como é que foi? - a indagou, assim que Vítor entrou no novo apartamento que compraram.
― Uma loucura.
Não faltaram os mexeriqueiros doidos por um furo de reportagem.
Mas não me deixei abalar com nada disso.
Só eu conheci meu pai e sou o único que pode avaliar tudo por que ele passou.
― A melhor coisa é ignorar as fofocas dos jornais.
Em breve arrumam outra notícia e se esquecem do seu pai.
― Mas eu não me esqueço, Bia.
Sobretudo do pedido que ele me fez.
Eu já o perdoei. E você?
― Sabe, Vítor, eu também.
De que adianta ficar guardando rancor ou ressentimento?
A verdade é que eu mal conheci o seu pai e nem imagino como teria sido minha vida com Graziela.
Ele fez errado? Fez.
Mas agora está morto.
Acho que é melhor o deixarmos a cargo de Deus.
― Que bom que você o perdoou.
Não sabe o quanto era importante para ele.
Pena que ele não tenha podido ouvi-la.
― Onde ele estiver, tenho certeza de que estará me ouvindo.
Ainda adormecido, Gilson, no plano astral, não ouviu as palavras de Beatriz.
Contudo, sobre seu corpo fluídico, gotas de uma luz muito branca se derramaram, e ele, mesmo inconsciente, sentiu a vibração salutar do perdão verdadeiro, dando descanso a sua alma e a seu coração.
... Ambas tinham em comum o principal: um bom coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:30 am

CAPÍTULO 46

O casamento de Vítor e Beatriz realizou-se sem nenhuma pompa.
Diante das circunstâncias, os dois preferiram se casar apenas no cartório e não convidaram ninguém.
Vítor ainda estava triste com a morte do pai e Beatriz não queria se ver na difícil situação de ter que escolher a quem convidar, pois o pai não se sentiria à vontade na presença de Graziela e Suzane, e ela não pretendia desgostar Carminha.
Após a conversa com Graziela, Carminha esperou até que Vítor e Beatriz comprassem um apartamento para voltar para casa com Nícolas.
Renato estava sozinho, respondendo a processo criminal, e tornara-se um homem amargo e recluso, arrependido por ter-se permitido envolver em tantos crimes que lhe roubaram a família.
Quando a viu entrar com o carro em companhia de Nícolas, pensou que estivesse sonhando.
Abraçou a mulher e o filho, pedindo repetidamente que o perdoassem.
Para o menino não foi difícil.
Preparado pela mãe, conseguiu lidar bem com o facto de ter sido adoptado e com os erros do pai.
Para Carminha, contudo, a reaproximação foi lenta e pontilhada de ressentimentos.
Aos pouquinhos, porém, ela foi ficando mais senhora de si.
Renato, ao contrário, tornara-se inseguro, temendo pela liberdade e pela família.
Podia perder tudo, mas o que não poderia suportar era a ausência da mulher e dos filhos.
― E Beatriz? - ele chegou a perguntar.
― Dê-lhe tempo - respondeu Carminha com compreensão.
Para ela é mais difícil, mas tenho certeza de que também vai perdoá-lo.
O bebé de Beatriz nasceu poucos meses depois.
Era um menino lindo e muito parecido com Vítor.
A princípio, ela recusou-se a receber a visita do pai.
Contudo, por insistência de Nícolas, acabou cedendo.
Renato foi ver o neto, mas permaneceu quieto, falando pouco e evitando ficar a sós com a filha e o genro.
Graziela também foi visitá-la e Suzane aparecia várias vezes com Leandro para ver o sobrinho e afilhado.
As duas estabeleceram uma forte amizade, estimando-se como verdadeiras irmãs.
― Como estão as coisas entre vocês? - indagou Beatriz a Suzane, enquanto trocava a fralda do neném.
― Muito bem.
― Já se decidiu?
― Estou pensando.
Sabe, Beatriz, desde a última vez que conversamos, venho sentindo necessidade de conversar com René.
― O que vai lhe dizer?
― Está tudo aqui - ela bateu com o dedo no coração e prosseguiu:
― Já me defini.
― Sério? E quem vai ser o felizardo?
Os rapazes entraram no quarto, e Suzane não conseguiu responder.
― Vamos, meu bem? - chamou Leandro.
Fiquei de passar em casa de meu pai hoje.
As duas se despediram, e Suzane saiu acompanhando Leandro.
Aquele seria um dia decisivo em sua vida.
― Não quer ir comigo? - sugeriu Leandro, que não queria se afastar de Suzane.
― Hoje, não.
Estou cansada e quero ir para a cama cedo.
― Meu pai tem reclamado que você não foi mais vê-lo.
Acha que está zangada com ele.
― Besteira, Leandro.
Diga a ele que irei na próxima semana.
― Está bem. Vou deixá-la em casa, então.
Depois que ele se foi, Suzane foi ter com Graziela, que já a esperava, sabendo o dilema que a acometia.
Além de Beatriz, Graziela era a única que conhecia aquela parte de sua vida.
― E então, minha filha?
Já decidiu o que vai fazer?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 9 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:30 am

― Vou dar um basta nessa situação.
Nem René, nem Leandro merecem ser enganados.
― Você sabe que alguém vai sair ferido, não sabe?
― É o preço do envolvimento.
Todos temos que saber perder.
― Muito bem.
Faça o que for melhor para você.
Suzane apanhou a chave do carro novo que Graziela lhe dera e desceu para a garagem, pensando se estaria fazendo a coisa certa.
Havia telefonado e combinado um encontro com René, que mal conseguia conter a ansiedade.
Quando chegou ao lugar marcado, René já a esperava com impaciência, consultando o relógio a todo instante.
Vê-la saltar daquele carro elegante lhe causou certa insegurança, mas ele se aproximou e a puxou para si, beijando-a com ardor.
― Senti a sua falta - sussurrou ele, beijando os seus cabelos.
Você nem sabe a felicidade que me causou quando recebi a sua ligação.
― Entre no carro - pediu ela, e ele assentiu, sentando-se no banco do carona.
― Carro bacana - comentou-o, alisando o estofado e passando a mão pela perna de Suzane.
― Minha mãe me deu.
René olhou para ela espantado.
― Sua mãe não morreu?
― Minha mãe adoptiva morreu.
Este carro, quem me deu, foi minha mãe verdadeira.
― Eu sabia! - exclamou ele.
Quando encontrei aquela menina, sabia que só podia ser isso.
― Refere-se à Beatriz? - ele assentiu.
― Garota legal. Por onde é que anda?
― Está em casa, com o bebé.
― Ele nasceu? - ela aquiesceu com a cabeça.
É menino ou menina?
― Menino.
Enquanto guiava, Suzane foi contando a René sobre a sua adopção, omitindo apenas que conhecera os envolvidos no sequestro e no crime.
― Essa é uma história fantástica - comentou-o.
Digna até de um filme.
Ela chegou ao seu destino e parou o carro, puxando o freio de mão e olhando para ele.
Estavam em frente à praia, e ela convidou:
― Quer descer um pouco?
Saltaram e puseram-se a caminhar.
René tentou segurar a sua mão, mas ela se esquivou.
― Você está distante - observou ele com cautela.
Pensei que tivesse me procurado porque gostasse de mim.
― Eu gosto... Mas não posso deixar Leandro.
― Por quê? Pelo que me contou, você agora é rica.
Não precisa mais do dinheiro dele.
― Não se trata de dinheiro.
― Trata-se de que?
― Leandro me ajudou quando eu mais precisei.
É um amigo e tanto...
― Amizade não sustenta casamento de ninguém.
Vai se casar com um homem só porque ele é seu amigo? - ela não respondeu.
Pois então, case-se comigo.
Sou seu amigo também.
― Você não está entendendo.
Leandro é muito mais do que um amigo.
Devo a ele tudo o que consegui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:30 am

― É gratidão, então?
Está presa a ele por gratidão?
Se você pensa que vai ser feliz se casando com um homem só porque lhe é grata, então está perdida.
É pior do que casar por amizade.
A amizade pode evoluir para algo mais.
Mas a gratidão vai prender você pelo senso de dever.
E o amor, onde é que fica?
― Leandro é uma pessoa muito especial.
Meu sentimentos por ele são sinceros, e ele me ama de verdade.
― E eu? Por acaso também não amo você?
― É diferente.
― Não sei onde está a diferença.
Você não sabe o que eu estou sofrendo, a falta que você me faz.
― Lamento, René, não queria que você sofresse por mim.
― Eu a amo. Por que não me dá uma chance?
― Não posso...
― Não pode porque cismou com o riquinho.
Ele tem mais trato do que eu, é mais fino, mais elegante, mais educado, mais instruído, mais tudo.
Mas eu amo você!
E você não pode negar que me ama também.
o contrário, não estaria aqui.
― Vim esclarecer as coisas.
― Esclarecer o que?
― Não posso me casar com você, René.
Minha vida é ao lado de Leandro.
Ele é o homem certo para mim.
― Porque ele é rico e tem berço, já sei.
E você se sente envergonhada de ser vista com um cara grosseirão feito eu.
Ela permaneceu calada.
― Tudo bem, Suzane, eu não me importo.
Amo tanto você que não me importo de ficar em segundo plano.
Pode se casar com o riquinho, que eu não ligo de ser seu amante.
― René! - indignou-se ela, levando a mão ao coração.
Você não sabe o que está dizendo.
― Estou desesperado! - soluçou ele, parando em frente a ela e segurando-a pelos ombros.
Não há dia em que não pense em você.
Sei que não é certo aceitar essa situação, mas se é a única maneira de ter você, tudo bem, eu concordo.
Eu só não posso viver sem você.
Ela se desenvencilhou dele com rispidez e revidou com os olhos rasos de água:
― Não sei por quem você me toma, mas não é nada disso que está pensando.
Nós já tivemos um caso enquanto eu namorava Leandro.
Só que agora vou me casar com ele e não pretendo ser-lhe infiel.
― Mas por quê? Não é o casamento que você quer?
Um nome de respeito, uma vida em sociedade?
Vai se casar com ele por interesse.
Por que não posso ser seu amante?
― Você não está entendendo.
Não queria lhe dizer para não magoá-lo, mas você me força a isso.
― Eu a forço a que?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:31 am

― Eu não amo você, René.
É a Leandro que amo...
René estacou mortificado.
Não podia acreditar no que ouvia.
― Você o quê? - falou atónito.
― Amo Leandro.
E amo com o coração, o sexo e tudo mais que você possa imaginar.
No princípio, fiquei com ele pelo dinheiro.
Mas eu não sou uma mulher venal e fui-me afeiçoando a ele de verdade.
Hoje, quando estou com ele, não penso em estar com mais ninguém.
É com ele que quero viver, é com ele que sonho quando durmo, é nele que penso quando acordo.
Quero ser a mulher dele, ter filhos com ele, estar sempre ao seu lado.
Porque é a ele que amo, René.
Amo Leandro com toda força de meu coração.
― Mas... - balbuciou ele confuso ― mas... e o que houve entre nós?
Vai negar o que houve entre nós dois?
― O que houve entre nós foi uma loucura, uma inconsequência.
Apaixonei-me por você, pelo seu jeito malandro e arrogante, pelo seu charme de homem viril e cativante.
Mas não foi amor, não de verdade.
― Não pode ser... - ele começou a chorar.
Pensei que você me amasse.
Pensei que estivesse com aquele cara só pelo dinheiro, mas que fosse a mim que amasse.
E você me ama!
Não precisa fingir, Suzane, eu sei que me ama.
Mas você está certa.
O que é que eu tenho para lhe oferecer agora?
Nada. Quer se casar com o riquinho?
Ser uma dama respeitável e imaculada, sem amantes?
Tudo bem, eu aceito.
Case-se e viva com ele até eu me formar e passar num concurso para juiz.
Aí, você vai ver.
Estarei em condições de tirá-la de casa e lhe dar uma vida de princesa.
― Não se iluda, René.
Não preciso de Leandro para ter uma vida de princesa.
Minha mãe é uma mulher muito rica.
― Está explicado então.
Você voltou ao seu mundinho de gente rica e não quer se misturar com a miséria.
Tudo bem, Suzane, eu já entendi.
― Você está tentando se fazer de coitadinho só para que eu me sinta culpada.
― Não é nada disso!
― Então pare de inventar pretextos.
Tudo o que você diz são desculpas que dá a si mesmo para não ter que aceitar o facto de que eu não o amo, mas sim a Leandro.
Sei que é difícil a perda, mas é assim que vai ser.
― Por que você veio me procurar?
Por que não me deixou com a minha ilusão?
― Para quê?
Para você viver a sua vida pensando numa mulher que não o quer?
Para que não seja feliz e me impeça de ser feliz também?
― Não vejo como poderia impedir a sua felicidade.
― Não quero você importunando Beatriz ou Vítor.
Eles não têm nada a ver com a minha vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:31 am

― Eu não a importunei.
Queria apenas ter notícias suas.
― Sei disso e não me agrada saber que você vive por aí cercando a minha irmã para ter notícias minhas.
Além disso, gosto de você e não quero que sofra por minha causa.
Você é um rapaz inteligente e muito decidido.
Pode ir longe com os seus projectos de vida.
Pode conhecer uma moça de quem goste e que goste de você também.
Não se prenda por mim.
― Mas eu a amo...
― Sei que o estou fazendo sofrer, mas depois você vai me agradecer.
Tirar-lhe a ilusão é meio caminho para a liberdade.
O resto só depende de você.
Ele ficou parado, olhando para ela com um misto de mágoa e respeito.
Estava sofrendo porque ela não correspondera a sua expectativa, mas admirava-a pela honestidade e a sabedoria.
― Você é uma grande mulher.
E feliz é o homem que conquistou o seu coração.
Mas se um dia, quem sabe, o seu casamento com o riquinho não der certo, não hesite em me procurar.
Eu ainda estarei esperando por você.
― Não diga isso...
― Estou falando sério.
Posso estar com alguém, mas jamais amarei outra mulher como amei você.
― Não quero que espere por mim.
Vou me casar com Leandro por amor e não tenho a intenção de me separar.
― O mundo dá muitas voltas, não é mesmo?
Se numa dessas, você se desencontrar do playboy e esbarrar comigo, quero que se lembre do que estou lhe dizendo hoje.
Jamais vou esquecer você - Ele se aproximou de Suzane e a beijou nos lábios, mas ela não se moveu.
Adeus, minha querida.
Você ainda vai ouvir falar de mim.
Suzane precisou fazer muito esforço para não chorar e perguntou com voz trémula:
― Não quer que eu o leve de volta?
― Não. Prefiro ficar sozinho para me acostumar à sua ausência.
Rodou nos calcanhares e foi caminhando pela praia, sem se voltar para trás, os olhos turvos de tantas lágrimas que se insinuavam ao mesmo tempo.
Depois daquela noite, não lhe restava outra alternativa senão esquecer.
Dali a três meses, Suzane e Leandro se casaram numa cerimónia de fazer inveja a príncipes e princesas.
Toda a sociedade carioca estava presente, inclusive Carminha, Beatriz e Vítor.
Apenas Renato não compareceu, o que era de se esperar.
O escândalo também alcançara seu nome, e ele aguardava, em liberdade, o resultado do processo criminal que fora instaurado contra ele.
― Está feliz? - indagou Amélia ao filho, na recepção em um clube famoso da elite.
― Muito... - pois é tudo acabou bem.
― Também estou. Graças a Deus que tudo deu certo.
― Graças a vocês também - completou Graziela, aproximando-se dos dois.
Não podia deixar de lhes dizer o quanto sou grata pelo que fizeram por mim e pela minha filha.
― Suzane é uma pessoa muito querida - disse Amélia.
E vai fazer meu filho muito feliz.
― Ela não é linda? - perguntou ele, fitando Suzane embevecido.
Após cortarem o bolo e brindarem com champanhe, Leandro e Suzane seguiriam para a lua-de-mel.
Passariam a noite em um hotel, de onde partiriam, no dia seguinte, para Roma e depois, Veneza.
Ao saírem de carro do clube, porém, uma surpresa os aguardava.
Do lado de fora, René os esperava, trôpego de tanta bebida.
Postou-se diante do automóvel assim que saíram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Set 04, 2015 10:31 am

― O que você está fazendo aqui? - questionou Suzane, abrindo a porta e colocando metade do corpo para fora.
― Não posso permitir que você se case com esse mauricinho.
Você não o ama, não acredito...
― Saia daqui! - rosnou ela.
― Vá andando, amigo - falou Leandro, descendo do automóvel e empurrando-o para longe.
― Pensa que a conhece? - tornou ele, os olhos vidrados de embriaguez e ciúmes.
Acha que ela é um anjo só porque está vestida de branco?
Leandro olhou para Suzane, que abaixou os olhos, envergonhada.
― Conheço-a melhor do que ninguém - disse ele, mantendo René à distância de Suzane.
― Ah! Isso é o que você pensa.
Mas ela não é essa candura em que fez você acreditar.
Ela não presta. Enganou você.
Torrou o seu dinheiro, mas era na minha cama que ela gozava...
René nem percebeu de onde viera o murro que o atingiu.
Apenas uma dor aguda irrompeu de seus lábios, que jorraram sangue na mesma hora.
Tonto pela bebida, cambaleou e se enroscou nas próprias pernas, desmoronando no chão com um baque seco.
― O que você fez? - gritou Suzane, aproximando-se dele e fitando-o do alto.
René pensava que ela chamava a atenção de Leandro por ter batido nele, e qual não foi o seu espanto ao perceber que ela estava em pé ao seu lado, olhando-o com um olhar, ao mesmo tempo, contrariado e acusador.
― Vamos embora, Suzane - chamou Leandro, dando as costas a René.
Não vale à pena estragarmos o nosso casamento com esse sujeito.
― Ela enganou você, cara! - René gritou, tentando se levantar.
Pode não acreditar, mas você já era corno antes mesmo de se casar!
― Escute aqui, cara! - vociferou ele, agarrando René pelo colarinho e erguendo-o do chão.
Se pensa que está me contando alguma novidade para envenenar o meu casamento, está muito enganado.
Suzane e eu não temos segredos.
Você é que é o idiota.
Ela pode ter dormido com você antes de nos casarmos, mas eu é que sou o marido dela, e é a mim que ela ama.
Você foi o passatempo.
Eu sou seu verdadeiro amor.
Indignado, René virou-se para Suzane que, chorando, rebateu de forma impiedosa:
― Não devia ter feito isso, René.
Como disse, é a Leandro que amo, e a sinceridade faz parte do amor.
Contei-lhe tudo sobre você, sobre nós dois.
René irrompeu num pranto mais sentido do que nunca, e Leandro revidou com mais calma, compadecido com o estado de degradação a que chegara o outro:
― Ouça aqui, meu camarada.
Não tenho nada contra você nem me importo com o que Suzane fez antes de nos casarmos.
O que me importa é que ela foi leal comigo e me contou tudo sobre vocês.
E eu a perdoei.
Não se humilhe dessa forma nem se esqueça de que é um homem.
Levante-se daí e saiba perder com dignidade. - René olhou-o com cara de espanto, e ele prosseguiu:
― Você perdeu, cara. A mulher não o quer.
É a mim que ela ama.
Conforme-se com isso e continue com a vida.
― Eu lhe disse - confirmou Suzane ―, mas você preferiu não acreditar.
Lamento que tenha escolhido a forma mais difícil de se convencer.
― Venha, Suzane - chamou Leandro novamente.
Vamos deixar o seu ex-namorado sozinho com a sua derrota e os seus pensamentos.
Os dois tornaram a entrar no carro, e Leandro acenou para os seguranças do clube, em sinal de que estava tudo bem.
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