LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:45 pm

― Seu pai é uma pessoa sensata e coerente.
Meu pai deve ter enlouquecido.
― Não pense assim.
Talvez ele esteja passando por algum problema.
― Isso não é desculpa.
Todo mundo tem problemas, e não é certo nos descontar outros.
― Deixe isso para lá - finalizou ele, puxando-a para lhe dar um beijo.
Vamos entrar.
Já está quase na hora de as aulas começarem.
Entraram, e o dia transcorreu normalmente.
Pelo menos para eles.
Para Renato, contudo, parecia que uma assombração pairava sobre o seu lar, devastando as energias de felicidade que ele levara anos para colocar ali.
Quase não conseguiu trabalhar direito e, no fim do dia, sentia-se exausto e desanimado.
Pensou em ligar para Beatriz por diversas vezes, mas mudou de ideia em todas.
Não sabia o que lhe dizer além de: tire esse filho.
Quando ele chegou à noite, Beatriz estava trancada e só saiu na hora do jantar.
Sentou-se à mesa como se nada tivesse acontecido e começou a comer naturalmente.
Carminha não sabia como agir, com medo de dizer alguma coisa imprópria, até que Renato falou cuidadosamente:
― Pensou no que eu lhe falei?
― No que? - tornou Beatriz.
― Você sabe.
― Não sei, não.
Você só me falou absurdos, e não considero absurdos.
― Que absurdos? - quis saber Nícolas.
Renato endereçou a ela um olhar severo, como quem diz: não conte, mas ela o ignorou.
― Eu estou grávida, Nícolas.
Vou ter um filho.
O menino a fitou em dúvida, mas logo compreendeu e revidou com curiosidade:
― O pai é o Vítor?
― É claro.
― Quer dizer que eu vou ser tio?
― Vai.
― Legal!
Um estrondo se ouviu, e todos se voltaram na direcção de Renato.
Ele se havia levantado com tanta fúria que sua cadeira foi ao chão.
― Isso é um disparate! - esbracejou ele.
Não quero mais esse tipo de conversa à mesa.
Ainda mais com seu irmão, Beatriz. Uma criança!
― O que é que tem, pai? - revidou o menino.
Sei muito bem como as mulheres engravidam.
― E depois - acrescentou Beatriz ―, Nícolas é meu irmão e tem o direito de saber o que está acontecendo na família.
Renato ia dizer alguma coisa estúpida, mas Carminha se levantou e interveio:
― Chega, Renato! Deixe a menina em paz.
― Você a está defendendo? - vociferou ele.
Sabe o que pode acontecer e, ainda assim, a defende?
― O que pode acontecer? - questionou Beatriz.
Além de eu ter um filho e me casar?
― Nada pode acontecer - tornou Carminha às pressas.
Seu pai só está preocupado com o seu futuro e o seu bem-estar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:45 pm

― Você pode se perder na vida! - gritou Renato.
É isso o que quer? Sem nós, o que será de você?
Beatriz não respondeu.
Sentiu as lágrimas subirem-lhe aos olhos e se levantou da mesa, correndo para o quarto.
Não entendia que Renato se referia à perda da família que ela sempre conhecera, e achou que ele a julgava uma perdida e ameaçava retirar-lhe o seu apoio de pai.
― Não devia ter dito isso - censurou Carminha.
Ela vai achar que você a está julgando pela gravidez.
Carminha se levantou atrás dela, e Nícolas ficou parado olhando, de boca aberta, sem entender nada.
A porta do quarto estava trancada, e Beatriz se recusava a abri-la.
― Por favor, minha filha, deixe-me entrar.
― Vá embora, mãe.
Não quero falar com ninguém.
― Só um minuto, por favor.
Sou sua mãe, quero o seu bem.
― Isso não é querer o meu bem.
― Não me confunda com seu pai.
Ele está em desequilíbrio, eu não.
Vamos, abra. Só um instante.
A chave rodou na fechadura pelo outro lado, e Beatriz abriu a porta.
Tinha os olhos vermelhos, e soluços contidos agitavam o seu peito.
Carminha entrou e fechou a porta com cuidado.
Sentou-se na cama ao lado da filha, que se atirou em seus braços e disse entre lágrimas:
― O que foi que houve com papai?
Ele nunca foi assim.
― Seu pai anda passando por uma pressão muito forte.
Não ligue para o que ele diz.
― Ele me chamou de perdida!
Que coisa mais ultrapassada. Mas doeu, mesmo assim.
Logo eu, que sempre fui responsável e estudiosa.
Nunca tive um monte de namorados nem uso drogas.
Não fumo nem cigarro!
Ele não tinha o direito de falar comigo daquele jeito.
Só porque estou grávida? E daí?
Hoje em dia, isso é normal, e vocês são de uma geração que já estava vivendo a liberação sexual. Qual é o problema?
― Seu pai anda nervoso.
Não é nada com você.
― É, mas está descontando em mim.
― Procure relevar o que ele diz.
Vou falar com ele, e tudo vai se ajeitar.
― Acho bom. Se não, vou-me embora dessa casa.
― Embora? Para onde?
― Para a casa do Vítor.
O pai dele pelo menos é compreensivo, e tenho certeza de que vai me receber.
Carminha levou a mão à boca e protestou espantada:
― Não faça isso!
― Faço, sim.
Já conversei até com Vítor, e ele me disse que, se papai não parar de me pressionar, eu posso ir morar na casa dele até o nosso casamento sair.
― Vocês vão mesmo se casar?
― Vamos. Na próxima semana, vamos dar entrada nos papéis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:46 pm

― Não se precipite, Beatriz.
Espere até eu conversar com seu pai.
― Não estou me precipitando.
Fiquei muito decepcionada com a reacção dele.
Esperava mais compreensão.
― Sei disso e não lhe tiro a razão.
Mas espere um pouco mais.
Vou falar com ele e tenho certeza de que tudo vai se resolver.
O pior estava para acontecer, e Carminha precisava impedir.
Não podia permitir que Beatriz fosse morar na mesma casa em que Gilson, não com tudo o que estava acontecendo.
― Você tem que parar agora mesmo com essa perseguição a nossa filha! - exasperou-se Carminha, assim que encontrou Renato, andando de um lado a outro no quarto.
― É ela que tem que criar juízo e tirar esse filho... e largar desse rapaz.
Ele não serve para ela.
― Beatriz e Vítor já resolveram ter o filho e se casar.
Pior: ela disse que vai sair de casa e morar com ele.
Na casa do Gilson!
― O que?! De jeito nenhum!
Não vou permitir uma loucura dessas.
Imagine se vou deixar a minha filha entrar espontaneamente no covil do lobo!
― Abra os olhos, Renato!
Você reclamava de mim, dizia que eu poderia pôr tudo a perder, mas é você quem está sendo imprudente.
Age feito louco, toma atitudes incoerentes e irracionais.
― Mas aquele homem é uma ameaça!
― Por isso mesmo.
A hora é de agir com cautela.
Você quer afastar Beatriz de Gilson, mas o que está fazendo é aproximá-los cada vez mais.
Ela acha que Gilson é compreensivo e está lhe dando apoio.
Ele não disse nada.
― Mas somos nós que temos que apoiá-la.
Precisamos ficar ao lado dela e afastar a outra do nosso caminho.
― Que outra?
Ela olhou para os lados, aproximou-se dele e sussurrou:
― A gémea. Ela é que é o perigo.
Não Gilson. Nem tanto Graziela.
Sem a gémea, nenhuma suspeita recairá sobre nós.
― Gilson tem planos para ela.
― Que planos? - ele não respondeu.
Que planos? - ela tapou a boca, engolindo um grito de horror.
Ele pretende matá-la?
― Foi o que deu a entender.
― Não acredito! Isso, não podemos permitir.
― O que quer que eu faça, Carminha?
Que me interponha entre ele e a moça e morra também?
― Mas, Renato, não podemos deixar que esse homem tire a vida de uma inocente.
― Pensei que quisesse se livrar dela.
― Mas não assim.
Quero oferecer-lhe dinheiro, jóias, propriedades, o que ela quiser.
Não quero a culpa de um crime na consciência.
― Você não vai fazer nada. Quem vai é ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:46 pm

― Mesmo assim.
Eu sei de tudo e, se me calar, estarei compactuando com ele.
― Não se meta com Gilson, Carminha. Ele é perigoso.
E esse é um motivo bem sério para não permitirmos que Beatriz more na mesma casa que ele.
― Pois então, se você realmente quer o bem dela, pare de pressioná-la.
Não a persiga nem tente forçá-la ao aborto.
Ele a olhou em dúvida.
― É o único jeito. Pelo bem de Beatriz, não diga mais nada contra a sua gravidez e o seu casamento.
Vamos esperar que as coisas se ajeitem naturalmente.
― E se isso não acontecer?
― Aí então teremos que encontrar um meio de proteger os dois.
A ela e ao bebé. Mas sem crimes.
... Os dois estavam sentados em um banco do pátio, conversando enquanto as aulas não se iniciavam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:46 pm

CAPÍTULO 33

Apenas Leandro e Amélia sabiam que Suzane havia ido morar com Graziela e, a seu pedido, não comentaram nada com ninguém.
Por mais que Graziela quisesse se aproximar de Beatriz, não podia simplesmente aparecer na sua frente e lhe dizer:
— Oi. Sou sua verdadeira mãe.
― Por que você não convida Carminha para um chá? - sugeriu Leandro a Amélia.
Aí poderíamos conversar com ela e procurar esclarecer tudo.
― Ela já sabe de tudo - objectou Graziela.
Do contrário, por que estaria me evitando?
― Não quero parecer insensível - interveio Amélia ―, mas será que vale realmente a pena você se aproximar de Beatriz?
Já não tem a Suzane?
― Beatriz também é minha filha...
Precisa conhecer a verdade.
― Mas está vivendo com outra família.
E talvez a verdade lhe faça mais mal do que bem.
― Pode até ser, mas ela também é minha filha.
É seu direito conhecer a verdade, e o meu, tentar me reaproximar.
O que você acha, Suzane?
― Eu? Não sei. Prefiro não opinar.
Os pensamentos de Suzane estavam voltados para René.
Fazia muito tempo que não o via e sentia saudades, imaginando por onde ele andaria.
Na verdade, René não se conformava de haver perdido Suzane.
Procurava-a nos lugares que ela frequentava, em vão.
Todos os dias, ia até a praia e ficava andando na calçada, olhando os carros que passavam, procurando seu rosto por detrás do insufilme dos vidros.
Até então, não conseguira vê-la.
Ele caminhava pela beira da praia, no final da tarde, quando teve certeza de que a via.
Ela estava diferente, com aqueles cabelos compridos e alourados, o corpo mais cheio e arredondado, mas era ela, com certeza, exibindo diferenças que o tempo era capaz de imprimir.
Estava sentada em uma cadeira, olhando o mar e de mãos dadas com um rapaz, provavelmente o seu namorado.
De onde estava, ficou observando-os.
Suzane parecia muito mudada.
Não era só o cabelo e o corpo mais cheio de curvas.
Algo diferente iluminava o seu semblante.
Resolveu aproximar-se.
Passou na frente dela e lhe lançou um olhar directo, surpreendendo-se com o que via.
A barriga dela estava exposta ao sol do fim da tarde, e uma pequena elevação delatava a gravidez.
Estacou abismado, e mil pensamentos se entornaram em sua mente.
E se aquela criança fosse dele?
Ela e o namorado pareciam felizes, rindo e beijando-se de vez em quando, e ele apalpava o seu ventre com carinho, falando coisas amorosas em seu ouvido, coisas que ela ouvia com prazer e para as quais tinha sempre uma gargalhada de pura satisfação.
A cena encheu René de ciúmes.
Suzane deixara o cabelo crescer e fizera mechas alouradas, tal qual ele a vira da outra vez, havia muito tempo.
Naquela oportunidade, ela devia estar usando uma peruca muito igual ao cabelo de hoje, talvez para impressionar o namorado com algum maneirismo carioca.
E o corpo mais cheio, é claro, se devia à gestação de poucos meses.
De toda sorte, ela estava linda, mais linda do que nunca.
Seu coração acelerou, e uma vontade louca de tomá-la nos braços se apoderou dele.
É claro que não era Suzane que ele via.
René estava diante de Beatriz, que ostentava uma barriguinha ainda tímida, mas com todo jeito de gravidez.
Ficou parado diante dela, remoendo o ciúme e o despeito, ainda mais porque duvidava que ela não o tivesse visto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:47 pm

Ela o vira, tinha certeza, e fingia que não via, para não ter que falar com ele diante de seu namorado riquinho.
Vítor também o notou.
Ele a encarava de forma insistente, e Beatriz, que até então não tinha se dado conta da presença dele, olhou-o por um instante, para logo em seguida desviar o olhar, achando que fosse um flerte descarado na frente do namorado.
― Algum problema, amigo? - indagou Vítor, incomodado com a insistência do olhar de René sobre Beatriz.
― Nenhum - respondeu ele, ainda olhando para ela.
Não fala mais com os amigos, Suzane?
― Perdão, mas você está me confundindo com outra pessoa - asseverou-a.
Não me chamo Suzane.
― Quer dizer que você agora, além de mudar de jeito, mudou também de nome?
― Como disse? Não estou entendendo.
― Não precisa fingir para mim, Suzane...
― Ouça, amigo - cortou Vítor -, é claro que houve um engano.
Ela não se chama Suzane e não o conhece.
Você a está confundindo com outra pessoa.
― Só se for com o seu clone, não é, Suzane?
Ou você pensou que mudar o cabelo e exibir a gravidez seriam suficientes para me enganar?
― Está sendo inconveniente, meu camarada! - exasperou-se Vítor.
Já disse que ela não é essa tal de Suzane.
― Eu não ligaria tanto para o facto de ter-me deixado se você não estivesse grávida.
De quem é esse filho? É dele?
― Pare com isso - advertiu Vítor, preocupado com Beatriz, que parecia estar-se sentindo mal.
― Por que não me contou que estava grávida?
Eu a estou procurando há tempos.
Só queria vê-la passar.
Mas quando vi a sua barriga, não pude me conter.
De quem é esse filho, Suzane?
― Você está se tornando impertinente, rapaz! - repreendeu Vítor.
Vá embora. Ela não é Suzane e não o conhece.
Vá procurar a sua namorada em outro lugar.
― Minha namorada? Ela nunca foi minha namorada.
Sempre foi sua, porque é você que tem o dinheiro.
De mim, ela sempre foi amante.
Só me quis para a cama...
René não conseguiu terminar de falar, porque Vítor lhe acertou um soco na boca, e ele tombou na areia, surpreso com a inesperada agressão.
― Eu lhe avisei! - bradou Vítor.
Não vou permitir que você ou qualquer outra pessoa insulte Beatriz.
― Beatriz? - repetiu ele, a mão na boca para parar o filete de sangue que escorria.
Então é esse o seu nome agora?
Foi assim que você o enganou todo esse tempo?
Beatriz para os ricos e Suzane para os pobres?
Vítor ia esmurrá-lo de novo, mas Beatriz se levantou e dobrou a cadeira, segurando a mão do namorado.
― Vamos embora. Ele deve estar bêbado.
― Não estou bêbado! E não sou idiota!
Se você quer ficar com esse mauricinho, o problema é seu.
Mas eu tenho o direito de saber se o filho que você carrega na barriga é meu!
Foi preciso muito esforço para Beatriz afastar Vítor dali.
Ele estava tão indignado com as palavras de René que tinha vontade de socá-lo até deixá-lo inconsciente.
Beatriz, contudo, saiu arrastando-o pela areia, e eles atravessaram a rua, entrando no condomínio em que ela morava.
― Devia ter-me deixado dar uma surra naquele malandro! - falou Vítor.
Onde já se viu tamanho desrespeito?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:47 pm

― Ele me confundiu com alguém.
Alguém chamada Suzane.
― Suzane... Já ouvi esse nome em algum lugar.
Ele ficou pensativo alguns minutos, até que se lembrou:
― Já sei! Não foi esse o nome que dona Amélia disse que era da namorada do filho?
― É mesmo!
― E dona Amélia falou que ela é igualzinha a você.
― Falou.
― É a mesma garota que eu vi na praia, no outro dia.
Só pode ser! Namorada do filho de dona Amélia, que é rico...
― E amante do pobretão. Será?
― Eu lhe falei, não falei?
E você ainda ficou com ciúmes.
Mas agora está vendo que eu tinha razão.
― Essa Suzane deve ser da pá virada.
Não me agrada ser confundida com alguém assim.
― Como pode haver duas tão iguais?
― E eu é que sei?
Deve ser mesmo minha sósia, já que não acredito em clones.
― Ou irmã gémea.
― Que besteira, Vítor - hesitou ela.
― A essa altura, não acho nada besteira. Tudo é possível.
― Mas como... - Beatriz balançou a cabeça, em dúvida.
Não pode ser.
― Sei que essa ideia é estranha, mas agora me ocorreu.
Como é possível haver duas pessoas tão idênticas, a ponto de serem constantemente confundidas, se não são gémeas?
― Não sei... mas agora sou eu que quero descobrir.
Preciso tirar essa história a limpo.
― Como?
― Indo à casa de dona Amélia.
Você vai comigo?
― Finalmente mudou de ideia e aceitou o facto, não?
― É. Essa abordagem de hoje foi demais.
O rapaz estava certo de que eu era Suzane.
Preciso conhecê-la. Saber se tenho uma sósia.
― Está certo. Um dia desses, quando sua mãe for visitar dona Amélia, iremos com ela.
― Você se esqueceu de que minha mãe não frequenta mais a casa de dona Amélia?
― Então iremos lá sem ela.
É só arranjar uma desculpa para lhe fazermos uma visita.
Quando Vítor abraçou Suzane, nem percebeu que, a seu lado, Lorena observava os seus movimentos.
Desde que o ouvira dizer que ela não fora boa mãe, ficara arrasada.
Por mais que tivesse consciência de suas limitações maternas, em sua cabeça, aquele era o amor de mãe que ela pudera dar e que julgara suficiente para o filho.
Não era dada a carícias nem tinha paciência para aquelas brincadeirinhas tolas, mas amava o menino.
Não se recusara a abrir mão dele quando Gilson pedira o divórcio?
No momento em que as lágrimas lhe subiram aos olhos, aproximou-se do filho e, pela primeira vez, o abraçou.
Ele detectou sua presença, porque seus pêlos se eriçaram, e sentiu uma leve tonteira.
Subitamente, a imagem da mãe lhe veio aos pensamentos.
Não uma imagem nítida, mas aquela que se acostumara a ver na cómoda do quarto do pai.
Não guardava mais lembrança alguma de sua fisionomia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:47 pm

― O que foi? - indagou Beatriz, notando que algo havia acontecido.
― Não sei. Um arrepio.
Lembrei-me de minha mãe...
― Credo, Vítor, será que o espírito dela está por aqui? - tornou Beatriz, em tom meio zombeteiro, meio assustado.
O comentário de Beatriz causou certa raiva em Lorena, que pensou em agredi-la, mas as mãos de Vítor, pousadas em sua barriga, a detiveram.
Por que será que ele vivia segurando o ventre de Beatriz, como se quisesse proteger o ser que se encontrava lá dentro?
― Estranho mesmo, Bia.
De repente, a imagem da minha mãe não me sai da cabeça.
― Você e seu pai têm mandado rezar missa para ela?
― Na verdade, não somos religiosos.
― Eu também não.
Mas me ocorreu que o espírito dela talvez esteja necessitando de preces.
― Você acredita mesmo nisso?
― Não sei. Mas deve haver alguma coisa além dessa vida.
Sua mãe morreu e há de ter ido para algum lugar.
Ganhei um livro chamado Nunca Estamos Sós, você conhece? - ele meneou a cabeça, e ela acrescentou:
― É de um escritor espiritualista chamado Marcelo César.
― Tá, e o que tem ele?
― Fala sobre coisas da espiritualidade e me fez reflectir.
Hoje em dia, esses assuntos estão muito na moda.
E eu penso: onde há fumaça, há fogo.
Deve haver um fundo de verdade por trás disso tudo, senão não haveria tanta gente falando a mesma coisa.
― E aí...
― Precisamos fazer alguma coisa pela alma da sua mãe.
Não conheço nenhum centro espírita, mas acho que seria boa ideia mandar rezar uma missa para ela.
O efeito deve ser o mesmo.
Vítor ficou em dúvida por alguns momentos, até que considerou:
― Acho melhor não, Bia.
Minha mãe e eu não éramos muito ligados.
― Ela morreu quando você ainda era criança!
Como pode dizer uma coisa dessas?
― Não guardo lembranças de bons momentos vividos com ela.
Só com meu pai.
Lorena ouvia a tudo sem dizer nada, paralisada com a nova descoberta que fazia.
Nunca, em todos aqueles anos em que, depois de desencarnada, vivia ao lado de Gilson, se preocupara em auscultar os pensamentos ou o coração de Vítor.
A voz de Beatriz, no entanto, se fez ouvir novamente:
― Você tem mágoa da sua mãe, e isso não é bom.
― Não sei, nunca pensei nisso.
Minha mãe sempre foi uma estranha para mim.
Se for quando viva, que dirá agora que morreu.
― Seja o que for que sua mãe tenha feito, você deve perdoá-la.
Ela o amou à sua maneira.
― Como é que você sabe?
― Que mãe não ama seu filho?
― Não sei. Minha mãe nunca ligou para mim.
― Você não sabe, realmente.
De qualquer forma, é por causa dela que você está aqui, não é?
― Como assim?
― Bom, se não fosse ela, você não tinha nascido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:48 pm

― Que papo mais furado, hein, Bia?
― Não é papo furado. É a realidade.
Sua mãe está morta e não pode mais se explicar.
Se pudesse, garanto que teria uma boa justificativa para as coisas que fez.
― Que ela não fez, você quer dizer.
Quem cuidava de mim era o meu pai.
― Quanta mágoa, Vítor!
Acho que você deveria limpar o seu coração, para não transmitir mágoas familiares ao nosso filho.
― Como você espera que eu faça isso?
Minha mãe morreu.
― Perdoe-a. O espírito dela, esteja onde estiver, vai compreender e agradecer-lhe por isso.
Ele não disse nada, e ela prosseguiu:
― Então? Vamos mandar rezar uma missa para ela?
Não custa nada.
― Você gostaria?
Ela assentiu e retrucou:
― Ela era sua mãe e merece o nosso respeito.
Se estivesse viva, estaria feliz com o netinho dela.
Lorena sentiu-se envergonhada ante a atitude de Beatriz.
A menina a surpreendia.
Era ciumenta e geniosa, mas de coração afectuoso e amigo.
Sem nem conhecê-la, preocupava-se com ela.
Uma emoção diferente tocou os sentimentos de Lorena, que começava a sentir os efeitos do arrependimento.
O que lucrava tentando viver num mundo que já não era mais o seu?
― Está bem - aquiesceu Vítor.
Se é para fazê-la feliz, eu concordo.
― Não é para fazer-me feliz
É pela memória de sua mãe, para que ela, onde estiver, receba o nosso afecto e o nosso carinho; para que Deus ilumine o seu coração e faça cintilar, em seus caminhos, a estrela brilhante do verdadeiro amor.
Sem saber, Beatriz elevara uma oração de profundo e sincero sentimento.
À medida que suas palavras iam ganhando corpo no astral, uma espécie de janelinha se abriu acima deles, por onde chuviscos de uma luz branda e serena se derramavam do alto bem acima de suas cabeças, envolvendo seus corpos e o ambiente ao seu redor.
Em poucos minutos, o resultado dessa chuva luminosa se tornou perceptível, e os três sentiram indescritível bem-estar.
Para Lorena, foi como se gotas refrescantes houvessem sido espargidas sobre ela, que experimentou uma nova sensação de conforto e paz.
Nunca antes havia sentido nada parecido, e chorou de emoção, voltando os olhos húmidos e sentidos para Beatriz.
A moça estava abraçada a Vítor, e os dois tinham lágrimas nos olhos.
Beatriz estava prestes a se tornar mãe, e Vítor via nela tudo o que não conseguira ver em Lorena.
― Não vou perturbá-los mais - disse ela, aturdida com aqueles sentimentos novos.
― Vamos entrar - convidou Beatriz, assim que os dois pararam na porta de sua casa.
Quando os dois entraram, Lorena não os acompanhou.
Havia muito a reconsiderar em sua vida, na sua concepção de felicidade e prazer.
De tão abalada, saiu caminhando pelas ruas do condomínio, ao invés de simplesmente usar o pensamento e sumir.
Saiu pelo portão principal e atravessou a rua, passando pelo meio dos carros, até chegar praia do outro lado.
O mar estava de um azul profundo raiado de dourado, e ondas espumantes se espalhavam na areia.
Lorena contemplou o pôr-do-sol e foi andando, até passar por um rapaz que, sentado à mesa de um quiosque, bebericava uma cerveja e remoía seu ciúme.
Lorena o conhecia, assim como a seus pensamentos e sentimentos.
Movida pela curiosidade, parou ao lado dele e perscrutou sua mente.
O rapaz era René, que se roía de despeito e indignação.
Tinha certeza de que aquela moça era Suzane e não admitia ter sido passado para trás, principalmente porque ela carregava um filho que bem podia ser seu.
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Quando Suzane terminara com ele, aceitara pacificamente, porque não era insistente e sabia respeitar a vontade dela.
Agora, contudo, era diferente.
Ela estava grávida, e ele não poderia deixar que ela desse a outro o filho que era seu.
Por isso, precisava descobrir de quem era, realmente, aquela criança.
Lamentava ter que estragar o namoro dela e do ricaço, mas não via outro jeito.
No fundo, ainda faria um favor ao rapaz.
Ele amava Suzane, mas não podia negar que ela era interesseira e infiel.
Revelar isso ao outro talvez fosse um bem.
― Está perdendo o seu tempo, meu jovem - sussurrou Lorena ao ouvido dele.
Ela não é Suzane. Mas eu sei quem ela é e onde está.
Sua Suzane tem protecção.
E sabe de uma coisa? Eu não me importo mais.
Você também não devia se importar.
Aquele filho não é seu, porque ela não é Suzane. Ouviu?
René não ouviu, mas uma dúvida atroz atormentou seus pensamentos.
De repente, uma quase certeza insistia em dizer que a criança que estava na barriga daquela moça não era seu filho.
Só isso conseguiu perceber das palavras de Lorena.
O resto, não alcançou, porque seu coração queria, desesperadamente, reencontrar Suzane, e a fisionomia de Beatriz, idêntica à dela, preenchia aquele desejo de uma ilusão passageira e momentaneamente satisfatória.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:48 pm

CAPÍTULO 34

Não seria muito natural Beatriz simplesmente tocar a campainha da casa de Amélia e pedir para falar com a namorada de seu filho.
Era preciso uma desculpa para ir até lá e outra para fazer perguntas, e Vítor conseguiu-a com o pai.
― Foi ideia de meu pai dizer que eu precisava de uma entrevista com alguém importante para um trabalho na faculdade - contou Vítor.
Disse que se lembrou dela, e ela logo concordou.
― Você contou a ele o porquê de querermos ir lá? - indagou Beatriz.
― Tive que contar.
E sabe o que é mais estranho? - ela meneou a cabeça.
Ele também já viu essa moça.
― Não me diga!
― Chegou mesmo a confundi-la com você.
Ficou impressionado e curioso.
― Maravilha! Quando poderemos ir até lá?
― Ela só pode nos receber na semana que vem.
― Só na semana que vem? - desapontou-se ela.
― Não fique assim, Bia.
Hoje é quarta-feira.
Ela combinou de nos receber na segunda.
― Bom, que jeito, não é?
― E depois, para que a pressa?
― Curiosidade, sei lá...
― Pois segure a curiosidade um pouco.
No seu estado, não deve lhe fazer bem.
― Parece até minha mãe falando.
― Mãe sabe das coisas.
E você também vai saber quando tivermos o nosso filho.
Ele a beijou e continuou:
― O que acha de irmos ao cinema?
― Boa ideia. Dê-me um tempo para me arrumar.
― Está bem. Vou esperá-la na sala.
Na sala, Carminha ensinava geografia a Nícolas, e Vítor se sentou do outro lado, ligando a televisão bem baixinha.
― Incomoda? - perguntou ele, e Nícolas fez sinal de que não.
Logo uma chave rodou na fechadura e Renato entrou, franzindo o cenho ao ver Vítor sentado diante da TV.
― O que faz aqui há essa hora? - indagou de mau humor, parando diante do rapaz.
― Estou esperando Beatriz.
Nós vamos ao cinema.
― Não acha que está muito tarde para saírem?
― Vamos pegar a sessão das dez.
― Amanhã ela tem aula.
― E daí? Beatriz não é mais criança.
De onde estava, Renato percebia o olhar de Carminha e procurou não intimidar o rapaz.
― Como estão os planos para o casamento? - redarguiu, com certa contrariedade.
― Muito bem. Estamos pensando em marcar a data para o começo de Janeiro.
― Tão cedo?
― Beatriz vai estar de férias, e eu já terei colado grau.
― Sei. E onde é que pretendem morar?
― Meu pai vai nos dar um apartamento.
― Seu pai é muito generoso.
Disse isso com tanta ironia, que Carminha achou melhor intervir:
― Quer que eu mande servir o seu jantar, querido?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:48 pm

― Não, obrigado - respondeu ele, sem desviar os olhos de Vítor.
Tive um jantar de negócios.
Beatriz veio chegando e logo percebeu o mal-estar entre o pai e Vítor.
Deu um beijo no rosto de Renato e estendeu a mão para o namorado, que a apanhou e se levantou agradecido.
― Tchau, Renato - falou Vítor, passando com Beatriz.
― Você não devia ficar por aí andando na garupa de uma moto - censurou Renato, buscando um pretexto para impedi-la de sair.
Ainda mais no seu estado.
― Não estou de moto - contestou Vítor.
Desde que Bia engravidou, troquei a moto pelo carro.
― Mesmo assim. Já é tarde, e ficar acordada até altas horas pode ser prejudicial ao bebé.
― O bebé dorme na minha barriga - respondeu Beatriz, com certa agressividade.
― Eu ainda sou o seu pai.
― Mas não é meu dono.
E depois, já sou maior de idade e não preciso da sua autorização para sair.
― Você é maior, mas ainda depende de mim e tem que me obedecer.
― Não estou fazendo nada de mais! - protestou ela com veemência.
E pare de implicar connosco.
Está se tornando repetitivo e sem graça.
― Eu sou o seu pai, mocinha, está entendendo?
O único que você tem.
― Para me tratar desse jeito, era melhor que não fosse.
Renato ficou tão indignado com a resposta que quase lhe deu uma bofetada.
Vítor, contudo, havia se interposto entre eles e o fitava com olhar hostil.
― Recuso-me a acreditar que você queira bater na sua filha! - exasperou-se ele.
Renato encolheu a mão e virou as costas para o rapaz, que puxou Beatriz pela mão e saiu com ela.
A moça se deixou levar com lágrimas nos olhos, e foi só quando entrou no carro que desabafou:
― Não aguento mais isso.
Meu pai enlouqueceu.
Vítor a abraçou e ligou o motor do carro, fitando o seu semblante entristecido.
― Deixe isso para lá - falou, tentando animá-la.
Em breve seremos uma família. Eu, você e o bebé.
Ela sorriu e apoiou a cabeça no seu ombro.
Sentia-se segura com Vítor e tinha certeza de que ele a faria feliz.
O carro saiu pelo portão do condomínio, e eles nem perceberam que René os espreitava no escuro, imaginando o que fazer para se aproximar.
No mesmo instante, a campainha estridente do telefone despertou Graziela de seu sonho, e ela ainda relutou para abrir os olhos.
Revirou-se na cama, tentando afastar a dor de cabeça, mas a campainha era insistente e não lhe daria trégua.
― Alô! - atendeu ela de mau humor, sentindo as têmporas latejar em reacção ao seu grito.
― Alô, Graziela? - era Amélia.
Você nem imagina o que aconteceu.
― O quê?
― Gilson Betuel acabou de me telefonar.
― Quem é Gilson Betuel?
― O pai de Vítor, namorado de Beatriz.
― Como?!
― É isso mesmo.
Gilson é dono do jornal Mundo Económico e me pediu para receber o filho e lhe dar uma entrevista para a faculdade.
Não é muita coincidência?
― Acha que Beatriz estará com ele?
A vontade de Graziela era saltitar de alegria, mas precisava se conter.
Uma visita de Vítor a Amélia podia não representar nada, e talvez ela nem tivesse a chance de falar com Beatriz.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:49 pm

― Não sei - respondeu Amélia eufórica —, mas é um começo.
O que você acha?
― Tenho até medo de achar alguma coisa.
― Precisamos nos preparar.
Você tem que estar presente a essa entrevista.
― Para quando está marcada?
― Para segunda-feira.
Sei que você tem assuntos importantes a tratar e queria ter tempo para lhe contar.
― Obrigada, Amélia.
Você é a única que tem sido minha amiga de verdade.
É claro que Graziela estaria presente nessa entrevista.
Ela e Suzane.
Se havia um momento para contar a Beatriz, toda a verdade, talvez aquele fosse o mais apropriado.
Tinha ainda a questão da antipatia que a moça sentia por ela, e Graziela não queria simplesmente surgir e surpreendê-la com uma revelação fantástica, mas estar presente naquele momento seria avançar um passo em seus planos.
A seu lado, Aécio a encorajava, e Graziela percebia a sua presença, embora sem saber que era ele.
Estava fantasiando seu encontro com Beatriz, imaginando que ela, ao saber quem era sua verdadeira mãe, deixaria de lado a antipatia natural e se aproximaria dela.
Aécio, todavia, não estimulava aquela ilusão, pois sabia que conquistar Beatriz constituiria outra etapa no processo da verdade.
Amélia, porém, tocara em um nome até então desconhecido para Graziela.
Gilson Betuel era personagem nova em sua recém-inaugurada trajectória no Rio.
Graziela não o conhecia, mas uma sensação de medo a invadiu terrivelmente.
― Não se preocupe, minha querida - tranquilizou Aécio.
Gilson não é mais perigoso.
É um homem atormentado pelo remorso e a culpa.
Não vai lhe fazer mal.
Realmente, Gilson não pensava em fazer mal a Graziela, Suzane ou quem quer que fosse.
Só o que desejava era acabar com o que ele considerava uma tortura.
Se a verdade toda viesse à tona, tanto melhor.
Não tinha mais forças para lutar contra o destino.
Lorena estava morta, e ele, pronto para receber sua punição.
E claro que não desejava ir para a cadeia, mas estava disposto a assumir o risco em prol da felicidade do filho.
De tudo aquilo, só o que lhe importava era Vítor.
Ele era um bom rapaz e não merecia passar por tamanha vergonha e decepção.
Por isso, ao dar ideia para a entrevista, fizera-o imaginando que Beatriz teria uma grande possibilidade de encontrar-se com Suzane em casa de Amélia.
Se aquilo acontecesse, talvez as meninas se entendessem e acabassem conhecendo a verdadeira mãe, que era amiga de Amélia.
E, com um pouco de sorte, ninguém descobriria sobre ele nem acusaria Renato, e tudo acabaria bem.
Caso contrário, ambos pagariam por seus crimes.
Lorena acompanhava seus pensamentos sem saber o que fazer.
Se, por um lado, não queria perder o marido e a vida que levava, por outro, não via mais graça naquela luta desesperada para manter a ilusão da vida material.
Não tinha mais um corpo de carne, prescindia de necessidades físicas e já não se satisfazia com o prazer que sugava dele.
― Sabe de uma coisa, Gilson? - disse a seu lado, mas ele não a ouviu.
A culpa de tudo é de Renato.
Se ele não tivesse matado o pai das meninas, nada disso estaria acontecendo.
Na mesma hora, Lorena arrependeu-se do que dissera.
Chegara a um ponto de discernimento que sua mente não aceitava mais desculpas como aquela.
Acusar outro por suas próprias decisões e atitudes não servia para justificar o que lhe acontecera.
Sobretudo porque não estava sendo sincera em seus sentimentos para com Renato.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:49 pm

O que nutria por ele era um despeito imensurável pela rejeição que sofrera muitos anos antes.
Resolveu ir até a casa dele e encontrou-o adormecido, o corpo astral flutuando alguns centímetros acima do físico, ao lado da mulher.
Por pouco ela não o sacudiu, fazendo-o despertar em sobressalto.
Conseguiu se conter e cutucou-o levemente, até que ele abriu os olhos.
Quando Renato deu de cara com ela, saltou para o chão e já ia gritar, mas ela colocou o dedo indicador sobre os lábios e apontou para Carminha.
Preocupado em não acordar a mulher, Renato saiu com Lorena para o jardim.
― O que você está fazendo aqui? - perguntou, agressivo.
Pensei que tivesse morrido.
― E morri.
― Por que veio até aqui então?
Seu lugar não é mais esse.
― Você sabe o que está acontecendo, não sabe? - ele não respondeu.
Sabe e está apavorado.
― E em que isso lhe diz respeito?
Você está morta e não pode ajudar.
― Não estou morta, na verdade, como vê.
E posso ajudar, sim.
Tenho acompanhado sua filha e o meu filho...
― Você é uma presença maligna! - esbracejou ele.
Afaste-se de Beatriz!
― Procure manter à calma - revidou ela entre os dentes.
Estou aqui para ajudar.
― Quer ajudar? Então desapareça.
― Por que tem tanta raiva de mim?
Eu é que deveria odiá-lo.
― Não tenho raiva de você.
Sempre a achei uma mulher inteligente e esperta.
Só não quero que Carminha a veja.
― Se ela me vir, não vai saber quem eu sou.
E mesmo que saiba, o que isso vai adiantar agora?
Não faço mais parte do mundo de vocês.
― Eu nunca traí a minha mulher, nunca! Só com você.
― Não estou aqui para cobrar-lhe nada.
Vim apenas pelos nossos filhos.
― Carminha não pode vê-la - sussurrou ele, olhando em todas as direcções para ver se a mulher não vinha.
― Se ela me vir, ao acordar, terá esquecido.
Tudo não passará de um sonho confuso e estranho.
― O que quer? - rosnou ele.
― Quero avisá-lo para parar de perseguir Vítor e Beatriz.
Eles vão se casar.
― Desde quando você virou defensora dos dois?
― Desde que percebi a ilusão em que estava imersa esses anos todos.
A vida espiritual há de ser bem mais interessante e útil do que a que tenho vivido.
― Ouça aqui, Lorena, eu nada sei sobre a forma como você tem vivido.
Para mim, você estava embaixo da terra.
E não me importo.
Só não lhe dou o direito de vir aqui tentar interferir na minha vida e na de minha família.
― Não estou interferindo, mas vou fazer de tudo para proteger o meu filho e o meu neto.
Você vai ver.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 30, 2015 8:49 pm

― Não quero mal ao seu filho, se é o que quer saber.
E os dois podem até ficar juntos, embora isso me contrarie, em atenção à criança que eles vão ter.
Estou pensando em outros meios de me proteger.
Graziela e a outra menina são a ameaça maior.
É contra elas que pretendo lutar.
― Não vai fazer nada contra Vítor e o bebé?
― Não. Por amor a Beatriz, pretendo deixá-los em paz, por enquanto.
Mas não vou tolerar a presença daquelas duas nas nossas vidas.
― Muito bem. Dou-me por satisfeita.
Lorena rodou nos calcanhares e atravessou o muro, deixando Renato abismado, parado no meio do jardim.
Ele remoeu as palavras dela por alguns segundos e voltou para o leito, onde ficou admirando Carminha.
Se ela soubesse que ele, um dia, a traíra com outra mulher...
Não queria nem pensar naquilo.
O caso com Lorena fora uma loucura uma insensatez.
Os dois estavam envolvidos nas malhas do crime, o que lhes valeu uma empatia e uma atracção mútua.
E ele a admirava. Ela era forte, destemida, arrogante, selvagem.
Muito diferente de sua doce e meiga Carminha, a quem realmente amava.
Era melhor não pensar mais naquelas coisas.
Esperava nunca mais rever Lorena.
Ela estava morta, e ele não daria a um morto o poder de interferir na sua vida ou na de sua família.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:10 pm

CAPÍTULO 35

Mais do que a indiferença de Suzane, doía em René a mentira que ela inventara, fingindo-se passar por outra pessoa só para dizer que não o conhecia.
Além de mudar o cabelo e até engrossar um pouco a voz, trocara de nome e insistia que se chamava Beatriz.
E, o pior de tudo, estava grávida e não lhe dava o direito de saber se o filho que carregava era dele.
Apesar de uma voz interior lhe afirmar que não era, precisava se certificar.
René terminou mais cedo as apostas do jogo do bicho e foi postar-se diante do condomínio de Beatriz.
Uma hora ela teria que aparecer, e ele não perderia a oportunidade de falar-lhe.
Esperou até o final da tarde, quando ela surgiu sozinha em seu carro.
No momento em que embicou o veículo na entrada da garagem, ele se aproximou pelo lado do motorista, antes que a cancela de acesso se levantasse completamente.
Beatriz levou um tremendo susto e instintivamente olhou para o segurança que ficava na guarita de vigia, e o homem, percebendo o seu temor, começou a se aproximar rapidamente.
― Por favor, Suzane, não faça isso - pediu René com tranquilidade, deixando transparecer que viera em paz.
Eu só quero falar com você.
― Já disse que não sou essa Suzane - protestou Beatriz, de repente sentindo uma onda de simpatia por ele, como se soubesse que ele não seria capaz de lhe fazer nenhum mal.
O segurança se aproximou e indagou com voz autoritária:
― Tudo bem aí, Dona Beatriz?
Ela olhou do homem para René e respondeu com certa hesitação:
― Tudo bem, Reginaldo, obrigada.
O segurança se afastou, mas permaneceu olhando para René, desconfiado, mantendo uma posição de alerta.
― Não quero discutir nem brigar com você - continuou René.
Eu só peço que fale comigo um pouco.
― Onde?
― Pode ser ali, do outro lado da rua, naquele quiosque.
Está cheio de gente.
Por favor, vamos.
Ela se perdeu num minuto de hesitação, até que acabou por concordar.
Voltou de ré com o carro e estacionou em frente ao condomínio.
Iria acabar logo com aquele mal-entendido.
Sentaram-se a uma mesa mais para perto da rua, de onde ela podia enxergar o condomínio e o segurança na guarita.
Pediram um refrigerante, e ela foi logo dizendo:
― Não sou quem você está pensando.
― Então quem é? - revidou René com ironia.
Um clone da Suzane?
― Se isso fosse possível, muita gente acreditaria.
Ou que eu tenho uma irmã gémea.
Mas a verdade é que a sua namorada é alguém que se parece muito comigo, mas não sou eu. - René a fitou incrédulo.
Eu sinto muito.
Beatriz abriu a bolsa e retirou sua carteira de identidade, estendendo-a para René.
Ele a apanhou e fitou a fotografia, onde Suzane lhe aparecia séria e linda.
Leu o nome, e a frustração o dominou.
Aquela moça, efectivamente, não se chamava Suzane, mas Beatriz.
No entanto, algo em particular lhe chamou a atenção.
A data de nascimento.
― Vocês nasceram no mesmo dia... - o estranhou.
― Como? - tornou Beatriz perplexa.
― Você e Suzane nasceram no mesmo dia.
Como me explica isso?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:11 pm

― Não posso explicar.
E não acredito que você esteja falando sério.
― Estou, sim.
Quando vi o seu nome, quase acreditei em você.
Mas a data de nascimento é a mesma.
É muita coincidência, não acha?
O que você fez?
Falsificou uma carteira de identidade?
― Já disse que não sou Suzane! - contestou ela com raiva.
Só não percebe quem não quer.
Ou quem está tão apaixonado que vê a mulher que ama no rosto de qualquer outra.
― Está bem, acalme-se - pediu ele.
Mas se você não é a Suzane, como explica o facto de ser igualzinha a ela e ter nascido no mesmo dia?
― Não explico.
Ela estava nitidamente zangada e cruzou os braços sobre o ventre recém-desenvolvido, fazendo com que a atenção de René se voltasse para ele.
― Para quando é o bebé?
― Para Novembro - ela percebeu a insinuação no olhar dele e arrematou furiosa:
― E ele não é seu!
É de Vítor, que é o meu namorado, e o facto de você insinuar que ele possa ser seu, mesmo que eu saiba que isso é um absurdo, é uma ofensa à minha honra e dignidade.
Falava com tanta convicção que René começou a acreditar que ela não era mesmo Suzane, mas outra incrivelmente parecida com ela.
― Perdoe-me... - balbuciou, agora notando diferenças quase imperceptíveis entre Suzane e a moça que tinha diante de si.
Suzane não tem essa pequena cicatriz debaixo do queixo.
Beatriz colocou o dedo na cicatriz quase invisível e respondeu de mau humor:
― Ganhei isso ao cair da cadeira de balanço quando era bem pequena.
― E ela também não tem esse sinal perto da orelha.
Nem os dedos tão longos...
― Pelo visto você conhece Suzane muito bem.
― Mas uma coisa vocês têm que é indubitavelmente idêntica.
― O que?
― Os olhos.
Nunca vi olhos assim, a não ser em Suzane.
― Ouça... como é mesmo o seu nome?
― René.
― Ouça, René, posso ser muito parecida com Suzane, mas não sou ela e acho que já deu para você perceber isso.
Não entendo por que há uma moça igual a mim andando por aí, mas juro que vou descobrir.
No entanto, quero que você pare de me perseguir.
Concordei em vir aqui falar com você para esclarecermos, de uma vez por todas, esse mal-entendido.
E agora que você já sabe que eu não sou ela, gostaria que me deixasse em paz.
René não sabia que Suzane havia sido adoptada.
Este era um detalhe importante de sua vida que ela nunca lhe contara.
Aliás, ele conhecia muito pouco de sua vida em Brasília.
Só sabia quando ela nascera porque certa vez a surpreendera lendo uma revista de astrologia na banca de jornal.
Ela lhe dissera a data de seu nascimento, e ele registara.
― Acho que você e Suzane podem ser irmãs gémeas - afirmou convicto.
― Isso é impossível.
― Por quê?
― Porque meus pais são outros.
Eu nasci aqui... só tenho um irmão.
― Como é que você pode ter certeza?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:11 pm

― Eu tenho.
― Pois, para mim, vocês são irmãs gémeas que foram separadas ao nascer.
É a única explicação.
― Essa sua explicação é absurda.
Por que meus pais se desfariam de uma filha e só ficariam com a outra?
― Ou os pais dela.
Ou vocês duas foram adoptadas.
― Isso é um disparate! - protestou ela, levantando-se zangada.
Eu nasci da barriga da minha mãe e nunca tive uma irmã gémea!
― Acalme-se - pediu ele, fazendo com que ela tornasse a se sentar.
Eu não falei por mal.
Só estou tentando compreender as coisas.
― Não há o que compreender. É coincidência, só isso.
Existe por aí uma garota chamada Suzane que é muito parecida comigo.
É minha sósia. Como as pessoas que imitam celebridades.
― Essas pessoas se esmeram para mudar a aparência, copiam gestos e roupas, cortam os cabelos, fazem miséria para ficar parecidos com os outros.
Mas vocês duas, não.
São iguais sem artifício algum, mesmo com os cabelos e o corpo diferentes.
― Não pode ser...
― Pode não ser agradável para você, mas que é verdade, é.
― Meus pais me teriam contado.
― Será?
― E eu tenho outro irmão.
― Isso não quer dizer nada.
Beatriz olhou para ele com os olhos cheios de água, e René se comoveu, arrependendo-se de haver procurado aquela moça tão linda e tão doce para levar-lhe uma dúvida tão cruel.
― Não fique assim - tornou ele brandamente.
Não é o fim do mundo.
― Como quer que eu me sinta?
Sempre acreditei ser filha dos meus pais.
― Não estou dizendo que não é.
― Você afirmou que eu posso ter sido adoptada.
― Foi apenas uma suposição.
É que você e Suzane são tão parecidas!
― E nascemos no mesmo dia!
― Bom, isso é um facto.
― Como é que duas pessoas que não se conhecem, que nunca se viram, podem ser idênticas e ter nascido no mesmo dia?
Hein? Como é que você responde isso? - ele já havia dado a resposta, mas não queria repetir.
A hipótese de gémeas é a mais provável, não acha?
― Desculpe-me se coloquei essa dúvida na sua cabeça - falou René, agora totalmente arrependido de ter abordado Beatriz.
Eu não devia tê-la procurado.
Ainda mais no seu estado.
― Mas procurou, e agora não dá para fingir que nada aconteceu.
Você já implantou a dúvida na minha cabeça, e eu só vou sossegar quando descobrir.
― Como? Como pretende descobrir?
― Por incrível que pareça, sei mais dessa Suzane do que você imagina.
― Você sabe de Suzane? - repetiu ele incrédulo.
― Sei. Quer dizer, não exactamente.
Você não foi à única pessoa que me falou de outra moça tão parecida comigo.
― Não?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:11 pm

― Não. Se quiser saber, a própria mãe do namorado dela me falou isso.
René abriu a boca, estupefacto, e não conseguiu dizer nada.
― E eu tenho um encontro marcado com essa senhora na próxima segunda-feira, quando tenciono descobrir tudo.
― Você tem que me contar o que descobrir.
Pelo amor de Deus, eu lhe imploro!
Não sabe como é importante para mim.
― Era isso mesmo que eu ia lhe perguntar.
Qual o seu interesse em tudo isso?
Quero dizer, Suzane não é sua namorada, porque namora o filho de dona Amélia.
― Você me parece uma boa pessoa, e acho que não tem problema me abrir com você.
A verdade é que Suzane só namora esse tal de Leandro porque ele é rico, e eu não sou.
É só isso. Mas sei que ela me ama.
― Foi o que pensei...
― Suzane é ambiciosa, e eu não posso dar o que ela quer.
― Mas você transou com ela.
Se não, quando nos confundiu, não estaria pensando que meu filho poderia ser seu.
― É claro que eu transei com ela. Muitas vezes.
Até que um dia ela se mudou com uma mulher e nunca mais a vi.
― Com uma mulher? - ele assentiu.
Estranho.
― Pensei que fosse a mãe do namorado, porque sei que os pais dela morreram num acidente de carro em Brasília.
― Espero poder descobrir esse mistério.
― Vai me contar depois?
― Não sei. Quer dizer, não quero me meter na vida de vocês.
Se Suzane não quer que você saiba onde ela está, acho que não tenho o direito de lhe contar.
― Você é uma boa menina - afirmou ele emocionado, passando a mão sobre a dela.
Cheia de dignidade.
Ela era tão parecida com Suzane, que ele, por um momento, deixou-se levar pela ilusão de que poderia amá-la no lugar da outra, mas Beatriz, percebendo a sua emoção, retirou a mão gentilmente e falou com brandura e, ao mesmo tempo, convicção:
― Não se deixe enganar por uma ilusão.
Sou parecida com Suzane, mas não sou ela.
Meu nome é Beatriz e amo o meu namorado, com quem vou me casar e ter um filho.
― Sei disso... - o admitiu, enxugando os olhos com as costas das mãos.
E não se preocupe, não vou misturar as coisas.
Eu apenas me deixei envolver pela emoção, mas isso não vai tornar a acontecer.
― Que bom.
― Não gostaria de perder contacto com você.
― Acha que seria aconselhável?
Tenho medo que você acabe confundindo as coisas.
Não seria bom para nenhum de nós, principalmente, para você.
― Não vou, prometo.
É que gostaria de lhe pedir um favor.
― O que é?
― Se você se encontrar com Suzane, diga-lhe que ainda a amo, apesar de tudo.
Beatriz sentiu-se tocada com a sinceridade das palavras e do sentimento de René, e respondeu cheia de compreensão:
― Se ela for mesmo Suzane, prometo que lhe direi.
Não se esqueça, contudo, de que ela tem um namorado, e você não sabe o quanto ela o ama.
― Não o ama. Eu sei.
Ela não estava em condições de discutir ou avaliar os sentimentos de outra pessoa que nem ao menos conhecia.
― Bem - disse ela, fazendo menção de que ia se levantar —, acho que é só isso.
Já está ficando tarde, e minha mãe me espera para o jantar.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:11 pm

― Eu sei - ele anotou o número do telefone dele num guardanapo e estendeu-o para ela.
Ligue-me quando puder.
― Pode deixar, René - concordou ela, apanhando o papel e guardando-o na bolsa.
Telefonarei para lhe contar o resultado da minha visita a Dona Amélia.
E nada mais.
― Não esperarei nada além disso. Obrigado.
Ao deixá-lo, Beatriz levava uma impressão diferente daquela que fizera na primeira vez em que o vira.
René era um rapaz educado e gentil, confuso com toda aquela semelhança e terrivelmente apaixonado por uma mulher que, ao que parecia, o trocara por um punhado de dinheiro.
Não era uma história nova nem seria a última.
Mas ela não pretendia se envolver nos problemas pessoais de René ou de Suzane.
Estava mais preocupada com a afirmação que ele fizera de que Suzane poderia ser sua irmã gémea.
Por mais que procurasse não pensar naquilo, a desconfiança não saía de seu pensamento, e uma sensação de fatalidade foi tomando conta do eu coração.
As coincidências eram demais.
Será que fora mesmo adoptada?
E se fora, por que seus pais nunca lhe falaram nada?
Não. Na verdade, René estava enganado.
A vida possuía estranhos mistérios que ninguém conseguia revelar.
E o porquê de existir uma garota igualzinha a ela, nascida no mesmo dia, talvez fosse um desses mistérios.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:12 pm

CAPÍTULO 36

A preocupação era uma constante agora na vida de Gilson.
Sentia que o inevitável estava para acontecer e não podia fazer nada para impedir a torrente que ameaçava se derramar sobre a sua vida e inundar a sua felicidade.
No que estava pensando ao marcar aquela entrevista do filho com Amélia?
Estava arriscando muito, apostando bastante além do que poderia bancar.
Mas não tinha jeito.
O plano estava articulado, e tudo se resolveria rapidamente.
O encontro com Suzane fora decisivo.
Achava-se velho para se submeter a uma atitude vergonhosa feito aquela e jurou a si mesmo que jamais tornaria a desempenhar um papel tão desagradável e indigno.
Não queria ser preso, mas tinha que assumir os riscos pelo que fizera.
Se algo acontecesse, a responsabilidade era sua.
Tinha em mãos o endereço da mãe verdadeira de Beatriz, mas não se atrevia a procurá-la.
A experiência com Suzane já fora suficiente.
De onde estava, Gilson ouvia o filho falar ao telefone com Beatriz, fingindo não prestar atenção ao que ele dizia.
Só lamentava por ele.
Não queria vê-lo envolvido em tamanha sordidez, mas não tinha mais jeito.
Vítor comentava algo sobre o rapaz que confundira Beatriz com Suzane no outro dia, na praia, e Gilson cerrou os olhos, derramando lágrimas silenciosas enquanto escutava tudo.
Não. Decididamente, não havia outro jeito.
Pelo bem de todos, tinha que fazer aquilo.
― Vai sair? - o indagou, assim que Vítor passou pela sala.
― Vou me encontrar com Beatriz.
― Está tudo bem?
― Está.
Ele saiu, e Gilson se entregou novamente a seus pensamentos.
Lembrava-se de Lorena e de tudo que fizera por ela.
Fora um fraco que se deixara arruinar por amor, mas agora estava decidido.
Lorena partira de vez e não poderia impedi-lo nem ser prejudicada pelos seus actos.
Ao contrário do que pensava, Lorena estava a seu lado, pronta para aceitar as consequências do que ele fizesse.
Se perdesse seu lugar na casa, não fazia mal.
Aquele não era mais o seu mundo, e ela começava a tomar consciência disso.
Não que estivesse feliz com a perspectiva de perder sua pousada, mas pensava em como fazer para iniciar novos rumos.
Será que, se pedisse, alguém viria buscá-la?
Resolveu sair ao encalço do filho, para afugentar o desânimo.
Beatriz desligou o telefone e ficou alguns minutos fitando o vazio, procurando não pensar no encontro que tivera com René.
Foi para o quarto que a mãe transformara em ateliê e onde se entretinha a desenhar um novo modelo de jóia.
Carminha levantou os olhos quando ela entrou e sorriu.
― Algum problema, minha filha?
― Nenhum... - Beatriz deu a volta na mesa e deu uma espiada no desenho, indo sentar-se num pequeno sofá embaixo da janela.
Você se lembra de quando estava grávida de mim? - indagou de repente.
Carminha gelou.
Como podia se lembrar de algo que não vivenciara?
― Por que a pergunta?
― Gostaria de saber se a sua gravidez foi parecida com a minha.
Você ficou enjoada?
― Um pouco.
― Eu não sinto enjoo algum.
― Que bom, Beatriz.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:12 pm

― E eu nasci de parto natural ou cesariana?
― Normal.
― Vocês ficaram felizes?
― O que você acha, minha filha?
Não está feliz com o seu filho?
― Estou. Mas por que você e papai esperaram tanto para ter filhos?
Do jeito que você adora crianças, não faz sentido terem esperado quase dez anos para ter o primeiro.
― Eu... - ela começou a gaguejar e acrescentou com cautela ― na verdade, perdi três bebés antes de você nascer.
― Perdeu? Por que nunca me falou sobre isso?
― É doloroso demais, você não acha? - ela tentou fugir, para não se ver envolvida na mentira.
― E o que aconteceu para você conseguir engravidar de repente?
Ela deu de ombros e procurou responder com naturalidade:
― Fiz um tratamento.
― Deu certo, pelo visto.
― Deu.
― E depois você fez outro.
― Como assim?
― Para o Nícolas.
Ou você já tinha se curado do seu problema na primeira vez?
― Por que tantas perguntas?
― Você me diria se eu tivesse sido adoptada, não diria?
Carminha quase caiu da cadeira e, embora conseguisse manter a calma aparente, retrucou com certa impaciência:
― Não vejo o porquê desse interrogatório sem sentido.
Eu tive problemas de fertilidade, fiz um tratamento e tive dois filhos.
Qual o mistério?
― Você não me respondeu, mãe.
Contaria ou não se eu tivesse sido adoptada?
― Que besteira, Beatriz.
― Por que não responde a minha pergunta?
― Você não foi adoptada, logo, não teria nada que contar.
― Não fui, mas se tivesse sido?
Você me contaria?
Carminha a olhou com profunda mágoa, sentindo uma vontade louca de chorar.
― Você está me magoando.
Isso não são coisas que se pergunte a uma mãe.
― Por quê?
Só porque acho que tenho o direito de saber se fui adoptada?
― Você não foi adoptada! - gritou descontrolada.
E se tivesse sido, não faria a menor diferença.
Eu... a amo mesmo assim...
― Mentir não é tão fácil, mãe.
― Não estou mentindo.
― Não digo que esteja.
Mas existe algo muito estranho acontecendo na minha vida, e pretendo descobrir o que é.
― O que? O que está acontecendo na sua vida além do fato de você estar grávida?
― Você sabia que tem uma moça por aí que dizem que é igualzinha a mim?
― Tem muitas pessoas parecidas no mundo - falou Carminha, entre surpresa e apavorada.
― Mas essa pessoa é praticamente um clone, segundo dizem.
Ou uma irmã gémea.
― Besteira! Você só tem um irmão e sabe disso.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:13 pm

― Por que está tão alterada, mãe?
Não estou lhe perguntando nada de mais.
― Está, sim. E está me ofendendo.
― Desde quando adoptar um filho é ofensa?
― Não distorça as minhas palavras.
Não foi isso o que eu disse.
O que quis dizer é que você me ofende achando que não é minha filha de verdade e que eu menti para você.
― E não mentiu?
― Não, não menti - ela se encheu de coragem para validar a sua mentira, afirmando com voz firme e segura:
― Você não foi adoptada e, se tivesse sido, eu lhe contaria.
Está satisfeita?
Beatriz a fitou com ar céptico, mas não tinha o direito de duvidar e respondeu de forma simples:
― Estou.
― Então, por favor, me deixe trabalhar.
Preciso terminar o desenho dessa jóia até amanhã de manhã.
Fingindo despreocupação, Carminha voltou à atenção para o caderno de desenhos que tinha aberto na mesa e Beatriz saiu do ateliê.
Ouvira a voz de Vítor vinda da sala e foi ao seu encontro.
No instante seguinte, Carminha rasgou a folha com o desenho da jóia e atirou-a longe, fazendo o mesmo com todas as folhas em seguida, uma a uma, e chorando descontrolada.
Deixou o corpo arriar sobre a mesa, sacudido pelos soluços aflitos, e permaneceu ali, quieta, com medo de se mexer e deixar transparecer, em cada mínimo gesto, a mentira que, pela primeira vez, fora obrigada a contar à filha.
Parada defronte a ela, Lorena acompanhava a cena e não pôde deixar de sentir certa piedade pelo seu estado.
Desde que ouvira aquela prece de Beatriz, fora tomada por um sentimento de empatia que a fazia compadecer-se do sofrimento alheio.
Renato chegou mais tarde e saiu à procura da mulher pela casa.
Não demorou muito e a encontrou adormecida no ateliê, com Lorena, invisível, sentada no chão a seus pés.
Acendeu um pequeno abajur e, ao se aproximar, percebeu as folhas rasgadas e atiradas por todo lado.
Colocou a mão em seu ombro e a chamou pelo nome:
― Carminha. Acorde, Carminha, já é tarde.
O que foi que houve?
Logo que abriu os olhos e percebeu que era o marido quem a chamava, Carminha se atirou em seu pescoço e desatou a chorar novamente.
― Oh! Meu Deus, está tudo perdido!
Ela já sabe, Renato.
Nossa filha já sabe!
― Sabe o que?
― Que foi adoptada.
― Isso é impossível.
― Não é, não. Ela me perguntou hoje se havia sido adoptada.
E sabe o que eu fiz? - ele meneou a cabeça.
Menti para ela. Pela primeira vez na vida, menti para um de meus filhos.
― Minha querida, isso não é nenhuma desgraça.
Você contou uma pequena mentira para assegurar a felicidade da nossa família.
Ninguém vai acusá-la por isso.
― Mas eu me acuso.
Acuso-me porque já devia ter-lhe contado a verdade há muito tempo.
Nunca devíamos ter mentido para ela e para Nícolas.
― Tudo bem, não devíamos ter feito isso, mas fizemos.
Não acha que agora é um pouco tarde para tentarmos nos redimir?
Eles podem não aceitar.
― Mas as coisas estão saindo do nosso controle.
Beatriz vai acabar descobrindo tudo sobre ela e o irmão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:13 pm

― Procure se acalmar, Carminha, daremos um jeito.
― Não, Renato, não posso mais mentir.
Se continuarmos sustentando essa mentira, corremos o risco de perder o amor e o respeito de nossos filhos.
Se lhes contarmos a verdade, talvez eles não entendam a princípio, mas o amor há de falar mais alto.
Precisamos ser sinceros.
― Você se esquece de que há bem mais do que a simples verdade em jogo.
E muito mais do que apenas a nossa família.
Se lhes contarmos a verdade, Gilson não vai me perdoar.
― Ele não precisa saber.
Podemos fazer com que tudo fique entre nós.
― Você não entende, Carminha.
Se a verdade for revelada, nós não poderemos mais segurá-la entre nós.
Há Graziela e a outra menina.
― Beatriz não gosta de Graziela!
Podemos fazer com que elas nunca se encontrem.
― E a outra menina?
E se elas se cruzarem por acaso?
― Isso não vai acontecer, não vai - falava Carminha aos borbotões, andando de um lado a outro no quarto, esbarrando em móveis e deixando caírem às coisas no chão.
― Você não pode afirmar isso.
O mundo é pequeno; o Rio de Janeiro, menor ainda.
E, o que é mais estranho, parece que as duas frequentam a mesma praia.
Você já pensou?
― Não quero pensar. Isso não está acontecendo.
― Está. E se as meninas se encontrarem, e encontrarem Graziela, ela poderá ir à polícia.
Eu serei preso, Carminha.
― Você não fez nada.
Nós só adoptamos Beatriz.
― Não legalmente, você sabe.
E depois, tem aquele homicídio.
― Você não tem nada com isso.
Foi Gilson quem matou aquele homem.
― Para a polícia, todos somos cúmplices.
― O que vamos fazer? - descontrolou-se ela.
― Eu não sei.
― Acho que devemos contar a verdade, ao menos a Beatriz.
Nícolas ainda é muita criança e não vai entender.
Mas Beatriz já é uma mulher e está grávida...
― Grávida do filho do homem que pode até tentar matá-la.
Ela recuou horrorizada e tornou cheia de pavor:
― Você acha?
― Não tenho dúvidas.
Um homem feito Gilson é capaz de qualquer coisa para fugir da cadeia.
E ele já matou antes.
Pode muito bem matar outra vez.
― Mas Beatriz é a mãe do neto dele...
― E daí? Gilson é um homem frio, não vai se comover com isso.
― Você acha que ele vai se arriscar a comprometer o filho dele?
Vítor ama Beatriz.
Não vai compactuar com os crimes do pai.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 7 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 31, 2015 9:13 pm

― Mesmo assim, é muito arriscado.
E quem garante que Vítor não é adoptado também?
Sabe-se lá se ele foi mais uma criança roubada?
― Oh! Meu Deus, Renato!
Precisamos proteger nossos filhos e o bebé que está por nascer.
― Sim, mas como?
― Talvez, se eu falasse com Graziela...
― E lhe dizer o que?
Que sente muito por ter comprado a filha dela?
― Poderia tentar chamá-la à razão.
Por que ela não tenta se aproximar da outra filha?
Sabemos quem é a moça, e eu poderia ajudá-la nessa reaproximação.
― Não sei, Carminha, é arriscado.
― Mas eu tenho que tentar!
― Pensando bem, talvez seja uma saída.
Se você conseguir convencer Graziela a ir para a Europa com a menina...
― É a nossa única chance.
Vou falar com ela, apelar para a sua sensibilidade.
Beatriz está mais feliz comigo do que jamais seria com ela.
E ainda temos o Nícolas.
Ele é uma criança e poderia ser um trauma para ele.
Graziela vai compreender.
Tenho certeza de que vai.
― Talvez sim.
Graziela gostava muito de você e ficou surpresa com o seu afastamento.
Talvez, se você se reaproximar e for sincera, ela consiga compreender e nos deixar em paz.
Vale à pena tentar.
― Serão dois corações de mãe, falando um ao outro.
Tenho esperanças de que ela há de compreender.
Os sentimentos de Carminha eram nobres, mas Lorena captou alguma coisa torpe na energia de Renato.
Podia deixar aquilo para lá e não se envolver, mas agora se preocupava com a felicidade do filho e do neto, além de estar agradecida pelo interesse e a preocupação de Beatriz.
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