LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 01:13

CAPÍTULO 37

Carminha quase não conseguiu dormir naquela noite, assolada pela ansiedade, o medo e a dúvida.
Renato, a seu lado, também não conciliava o sono, mas os dois evitavam falar, guardando as energias para o encontro do dia seguinte.
Logo pela manhã, telefonou a Graziela, que não pôde deixar de esconder a surpresa ao ouvir a voz de Carminha.
― Sei que não temos nos falado muito - justificou Carminha —, mas preciso mesmo me encontrar com você.
É um assunto de extrema importância para nós duas.
Não foi nem preciso perguntar do que se tratava.
Graziela já sabia.
― Terei o maior prazer em recebê-la em minha casa - afirmou Graziela.
Quando é que vem?
― Pode ser hoje?
― Pode.
― A que horas é melhor para você?
― Depois do almoço, está bom?
― Está óptimo.
Quando Carminha tocou a campainha da casa de Graziela, foi Suzane quem veio atender.
Aquela recepção foi propositado, e Carminha sentiu imensa vertigem pelo facto de que Graziela já conhecia Suzane.
Oferecer ajuda agora seria desnecessário, porque Graziela, sozinha, conseguira se aproximar da filha.
Restava-lhe apenas lutar por Beatriz.
― Queira entrar, Carminha - convidou Suzane, chegando para o lado e lhe dando passagem.
Graziela já vem.
Não foi surpresa para Carminha que Suzane a conhecesse.
O encontro no zoológico ainda a aterrava dia após dia, e ela dispensou a farsa do assombro.
À falta do que dizer, permaneceu calada, sentindo as faces arderem com o olhar insistente de Suzane.
Foi um alívio quando Graziela entrou.
― Como vai, Carminha? - cumprimentou Graziela.
Há quanto tempo, não é mesmo?
― Bastante.
― Acho que já conhece Suzane.
― De vista.
Suzane sorriu para as duas e pediu licença para se retirar.
― Quer beber alguma coisa? - indagou Graziela.
― Não, obrigada.
Graziela se sentou na poltrona em frente a ela e esticou as pernas.
Accionou um pequeno controle remoto, e uma música suave se espalhou no ambiente.
― Para relaxar - anunciou, e Carminha sorriu.
Muito bem, aqui estamos.
O que você queria falar comigo?
― Acho que você já sabe por que vim.
Por isso, podemos dispensar os preâmbulos.
― Excelente. Gosto de ir directo ao assunto.
― Noto um tom hostil na sua voz, Graziela, mas quero que saiba que não estou aqui como sua inimiga.
― Em momento algum pensei uma coisa dessas.
Caso contrário, não a teria recebido.
― Muito bem.
Você está mesmo um tanto hostil, mas não lhe tiro a razão.
― Eu teria motivos para ser hostil?
Carminha abaixou a cabeça e não respondeu, mas falou com um sofrimento visível e genuíno:
― Você sabe o que é perder um filho...
Pode imaginar como me senti com a perspectiva de perder os meus.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 01:13

― Eu não perdi um filho.
Tive duas filhas roubadas e um marido assassinado.
Não é uma situação muito semelhante à sua, é?
― Não, não é. Mas posso imaginar como você se sentiu.
― Não pode. Ah! Não pode!
Só eu sei o que passei quando perdi minhas filhas e meu marido.
Perdi o mundo naquele dia.
Se não fosse por Aécio, hoje eu estaria na sarjeta ou no túmulo.
― Lamento muito.
― Sei que lamenta.
― Eu não sabia, Graziela, eu juro.
Renato me disse que comprara a menina de uma moça pobre que queria vendê-la.
― Eu disse a você que havia mudado de ideia no momento em que vi as crianças.
― Eu sei. Mas naquela época, eu não sabia.
Nem Renato.
― E por que você me afastou da sua vida?
Tinha medo de que eu irrompesse na sua casa para exigir a minha filha roubada?
― Você tinha o direito...
― Tinha e ainda tenho - Carminha olhou-a com um assombro mudo, mas ela ergueu a mão e considerou:
― Só que não vou fazer isso.
Não por sua causa ou de Renato.
Mas não tenho o direito de destruir a vida de uma menina que nada sabe das sujeiras do passado.
E você tem outro filho, que ainda é uma criança e não merece sofrer.
― Agradeço a sua sensibilidade, e gostaria de apelar para o seu bom senso e o seu sentimento de mãe.
Queria lhe pedir para desistir da ideia de se aproximar de Beatriz.
― E por que eu faria isso?
― Porque vai fazê-la sofrer.
Ela passou a vida inteira acreditando que era nossa filha de verdade, e agora, de repente, aparece você, com quem ela nem simpatiza, e lhe diz que é sua verdadeira mãe.
Acha que ela a aceitaria?
― Não sei.
Talvez não porque, como você mesma disse, Beatriz não simpatiza comigo.
Mas ela é minha filha, quer goste ou não, e tem uma irmã gémea.
São coisas que ninguém deve ignorar.
― Você reencontrou Suzane...
Isso é muito bom.
― É maravilhoso. Você nem pode imaginar como me senti ao ter a minha menina nos braços.
Foi um prazer que nunca pude sentir.
― Imagino. Sou mãe e sei o que é poder estreitar um filho nos braços.
Mas você já conseguiu de volta uma de suas filhas.
Não está satisfeita?
― Você ficaria satisfeita em ficar com Nicolas e abrir mão de Beatriz?
― É diferente - revidou Carminha, horrorizada ante a ideia.
Eu criei os dois.
― Pois eu não criei nenhuma das minhas filhas porque não me foi permitido.
― Beatriz está grávida - Graziela não conseguiu ocultar a surpresa, e Carminha prosseguiu:
― Acha que isso faria bem a ela e ao bebé?
― Gravidez não é doença, e Beatriz é uma moça saudável e segura de si.
Não vejo no que essa notícia poderia prejudicá-la.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 01:14

― Pense bem, Graziela, que benefício isso traria a você?
Na certa, Beatriz vai odiá-la.
― Que seja. Ela tem o direito de escolher, e eu estou disposta a correr esse risco.
― Você abandonou suas filhas!
Foi você quem quis vendê-las.
― Eu era jovem e desesperada.
Contudo, me arrependi a tempo.
Só que alguém não me deu a chance do arrependimento e me tirou as meninas com frieza e violência.
Perdi meu marido na época.
Casei-me com Aécio depois, mas eu amava Roberval!
― Sinto muito que tudo tenha acontecido assim.
Eu não tive culpa.
Nem eu, nem Renato contribuímos para essa desgraça.
― Como não contribuíram?
Não foram vocês que compraram a menina?
― Nós achamos que você queria vender.
Pensamos que estávamos lhe fazendo um bem...
― Grande bem.
― É verdade. Achávamos que estaríamos livrando uma miserável de um fardo.
― Lamento que você tenha essa visão deturpada da vida.
Vender minhas filhas foi um acto imaturo e de desespero, e só quem sabe o que é miséria é que pode avaliá-lo.
Mas o meu amor falou mais alto, ainda a tempo de me arrepender e voltar atrás.
Ou será que você acha que ninguém tem o direito de se arrepender e desistir?
― Você se arrependeu tarde demais...
― Isso é um absurdo, e se você veio aqui para me acusar, creio que a nossa conversa terminou.
― Não, por favor, perdoe-me.
Não tenho nada com a sua vida e não tenho o direito de acusá-la.
Vim aqui apelar para a sua sensibilidade.
Por favor, desista de Beatriz.
― Não posso.
― Pense no que já conseguiu.
Pelo que pude perceber, Suzane a aceitou e até veio morar com você.
Você já tem uma filha, que pode lhe dar netos e fazê-la feliz.
Mas se contar a verdade a Beatriz, poderei perdê-la e a Nícolas também.
― Você não vai perdê-la.
Ela jamais vai deixar de amar você e Renato, assim como Suzane não deixou de amar os pais adoptivos por minha causa.
― Não sei nada da vida de Suzane e nem pretendo fazer comparações.
Interesso-me apenas por Beatriz.
Ela não gosta de você e já deixou isso bem claro.
Não vai aceitá-la, e você vai sofrer uma grande decepção.
Por que passar por isso se pode pegar Suzane e ir embora com ela para um lugar onde podem realmente ser felizes?
― Como assim, ir embora com ela?
― Você pode voltar para a Europa.
Tenho certeza de que Suzane seria feliz lá.
― Suzane tem uma vida aqui no Brasil.
Tem um namorado, emprego, sonhos...
― Sonhos que poderão se realizar em qualquer outro lugar.
E namorados, há muitos por aí.
Ela é jovem, bonita, não vai ter dificuldades em encontrar outro rapaz bom e de família.
― O que você me pede é impossível, Carminha.
Ainda que eu volte para a Europa levando Suzane comigo, só faria isso depois de contar a verdade a Beatriz.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 01:14

― Mas por quê?
― Porque ela é minha filha.
― Ela não é sua filha. É minha.
Fui eu quem a criou, quem lhe deu amor.
― Essa discussão não vai levar a nada.
Sei que você a criou com amor e agradeço o que fez pela minha menina.
Mas não posso abrir mão dela.
Não sem ouvir da sua boca que não pode me perdoar.
― É isso então, Graziela?
Você busca o seu perdão?
― Também.
― Pois eu posso lhe adiantar que Beatriz não vai perdoá-la.
― Você não tem como saber.
― Conheço minha filha e sei o que ela sente em relação a você.
Dizer a verdade só vai fazer com que ela a odeie ainda mais.
― Como disse, estou disposta a assumir esse risco, e é o que farei.
― É sua última palavra?
― É minha última palavra.
― Então não tenho mais o que fazer aqui.
Segurando a vontade de chorar, Carminha saiu sem se despedir, um sentimento de fracasso dominando o seu peito.
Achava que conseguiria tocar a sensibilidade de Graziela, mas estava enganada.
Ao alcançar a rua, uma onda de torpor invadiu o seu coração, e ela pensou que fosse desmaiar.
Sustentando-se em um poste, conseguiu se recompor, sentindo um calor húmido descer pelo rosto.
Estava chorando e já não aguentava mais chorar.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 01:14

CAPÍTULO 38

Aquele domingo amanheceu envolto em uma aura especial.
Beatriz acordou cedo e se vestiu para ir à missa, algo que não fazia há muito tempo.
Colocou um vestido branco esvoaçante, que se amoldava perfeitamente à sua barriga de gestante, e sorriu para si mesma.
Em poucos minutos, a campainha soou, e Vítor entrou ainda sonolento.
A seu lado, o espírito de Lorena também se havia preparado para aquele momento.
Era a primeira prece feita para ela a que compareceria com espontaneidade, feliz mesmo.
Quando desencarnara, Gilson mandara rezar missa de sétimo dia e de mês, mas ela pouco aproveitara das orações.
Agora era diferente.
Estava ansiosa para receber, novamente, aquela enxurrada de luz que descera sobre ela no dia em que Beatriz fizera sua pequena prece.
Além deles, apenas Gilson compareceu à igreja.
Beatriz convidou os pais, mas eles se recusaram a ir, para seu desapontamento.
Lorena entrou na igreja ao lado do filho, entre lágrimas de arrependimento e satisfação.
Observou as flores brancas no altar e comoveu-se com a Ave Maria de Bach tão bem executada ao órgão, imponente no mezanino de onde derramava seus acordes vibrantes.
Quando o padre proferiu seu discurso, Lorena se deliciou com a nova torrente de luzes e cores que inundou o ambiente.
Tocada por aquele arco-íris de bênçãos, chorou, sentindo em seu coração uma paz e uma quietude que há muito não experimentava.
Olhou de soslaio para o filho e Beatriz, que pareciam contritos, envolvidos na oração.
Gilson, do outro lado, permanecia de cabeça baixa, e ela notou que seus pensamentos se voltavam para ela com um misto de saudade e culpa.
Quase no final da missa, ela se aproximou do marido, que tinha lágrimas nos olhos.
Gentilmente, colocou a mão sobre a testa dele e soprou ao seu ouvido:
― Não se lamente.
Não foi culpa sua.
Hoje compreendo.
Gilson não ouviu as suas palavras, mas foi tocado por uma emoção sem igual, e as lágrimas em seus olhos se transformaram em cascatas, fazendo escorrer pelo seu rosto o peso da dor de todos aqueles anos.
Pela primeira vez em muito tempo, Lorena o abraçou com carinho.
Victor se aproximou, surpreso com a reacção de Gilson.
Não sabia o quanto ele sofria a perda da mulher.
― Pai - sussurrou ele, envolvendo Gilson num abraço.
Não fique assim. Já passou.
Mas Gilson, por mais que desejasse parar de chorar, sentia a presença de Lorena a seu lado e captava-lhe as sensações, misturando, às suas, as emoções sentidas da mulher.
Lorena o abraçou novamente, causando-lhe ainda mais tristeza, até que ela, percebendo que lhe fazia mais mal do que bem, afastou-se decepcionada.
― Não se preocupe com isso - ela ouviu uma voz lhe dizer.
Gilson está angustiado, e a sua presença traz à sua memória inconsciente coisas que ele jamais gostaria de ter vivido para não ter que lembrar.
Assustada, Lorena se voltou bruscamente, dando de cara com um espírito esvanecente, envolto numa espécie de halo luminoso.
― Quem é você? - indagou temerosa.
Sinto que já o conheço, embora não me lembre bem de onde.
― Isso não tem importância.
Importante mesmo é que você resolveu aceitar ajuda.
― Não pedi a sua ajuda.
Havia um tom de agressividade em sua voz que ela não conseguiu conter, mas isso não intimidou o espírito, que retrucou com um sorriso bondoso:
― Essa entonação de voz não combina com o ambiente, não acha?
Nem combina mais com você.
― Por que diz isso?
― Deixe de lado a rebeldia, Lorena.
Se você não tivesse se sentido tocada pela luz divina, não estaria aqui.
― Você... - balbuciou ela, apontando para ele um dedo de acusação.
Você veio me cobrar, não veio?
Agora me lembro.
Você é aquele homem... aquele que Renato matou.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:49

― Ninguém me matou.
Ela olhou assustada para Beatriz e tornou horrorizada:
― Você é o pai das meninas! - ele assentiu com brandura.
O que quer aqui?
Não tenho nada a ver com a sua morte.
Ela tentou se afastar correndo, mas uma estranha e invisível força a prendia ao chão qual um campo magnético que atrai partículas afins.
― Não vim aqui para falar de morte - objectou Roberval.
Muito menos para acusar quem quer que seja.
Estou aqui apenas para ajudar.
― A quem? A mim? - ele assentiu novamente.
Não acredito!
Um homem que perdeu a vida na minha frente... deve estar aqui para me acusar.
― Quem se acusa é você mesma.
Eu, até agora, não lhe dirigi nenhuma palavra de acusação ou censura.
Era verdade, e ela se acalmou um pouco.
Olhou ao redor, à procura do marido, mas ele já havia partido, bem como o filho e Beatriz.
O padre também não estava mais lá.
Apenas ela e o espírito permaneciam na igreja vazia, repleta ainda de uma luz suave, porém, invisível aos olhos dos encarnados.
Ela se entregou àquela luz, e uma calma reconfortante invadiu seu coração.
― Se não veio me acusar, então, por que foi que veio?
― Para ajudá-la, já disse.
― Ajudar-me... Mas por que você?
― Quantos amigos você fez em vida, Lorena? - a pergunta lhe causou um choque, e ela arregalou os olhos, sem responder.
Não há ninguém.
― Minha mãe...
― Sua mãe partiu quando você nasceu e já reencarnou.
E seu pai não está em condições de ajudá-la.
Ela fechou os olhos e chorou com amargura:
― Não tenho ninguém.
Não cultivei amizades em vida.
― A única pessoa que se lembrou de rezar por você foi quem você mais tentou prejudicar.
Ele estava se referindo a Beatriz, e Lorena abaixou a cabeça, envergonhada:
― Eu... mudei de ideia...
Percebi que Beatriz é uma boa moça...
― Foi por ela que me aproximei.
Vim aqui atendendo ao chamado dela.
― Ela é sua filha - cortou Lorena num sussurro.
Você devia me odiar.
― Ninguém deve odiar ninguém, ainda que pense possuir um bom motivo.
― Estou confusa...
Jamais poderia imaginar que você quisesse me ajudar.
Achei que nunca iria me perdoar pelo que fiz.
― Todos recebemos da vida aquilo que um dia lhe tiramos.
Comigo não foi diferente.
― Não foi à vida quem atirou em você!
Foi Renato. E eu fui sua cúmplice!
― Não é bem assim.
Foram as minhas culpas que encontraram alguém que pudesse me dar o que eu achava que merecia receber.
Eu dei o tiro em mim mesmo.
Por intermédio da mão de Renato e sem consciência alguma, mas fui eu que atraí aquele tiro.
Vocês foram apenas instrumentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:49

― Você está sendo generoso demais - rebateu ela, entre envergonhada e confusa.
Fala como se não soubéssemos o que fazíamos.
― Lembra-se do que Jesus disse na cruz? - ela o olhou em dúvida.
Perdoa-os, Pai, porque eles não sabem o que fazem.
Nenhum de nós sabe o que está fazendo, porque se conhecêssemos as reais consequências de nossos actos, com certeza, agiríamos diferente.
― Somos inocentes?
― Somos ignorantes.
E é por isso que não há crime sem perdão.
― Engano seu.
Sabíamos muito bem o que estávamos fazendo.
― Vocês estavam conscientes das leis do mundo, não das de Deus, e, por isso, eram ignorantes.
Só conhece a verdade quem já foi tocado pela luz interior.
Quem ainda se compraz nas trevas da ignorância espiritual deixa-se entrelaçar pelos prazeres transitórios da matéria e se perde nas ilusões do mundo.
Lorena estava surpresa.
Nunca havia ouvido palavras tão reveladoras.
― Como sabe tantas coisas? - falou ela admirada.
― São coisas que a qualquer um é dado saber.
Por que não vem comigo e experimenta?
― Eu?! Não posso...
Falta-me coragem, depois de todo o mal que já fiz.
― A coragem é uma só.
Todo aquele que tem coragem para praticar o mal tem também para desfazê-lo.
É só saber para que lado da linha você pretende conduzi-la.
Ela deu um sorriso duvidoso e acrescentou céptica:
― Engana-se ao pensar que posso ser diferente do que sou.
Ninguém muda.
― Todo mundo muda - ele sorriu bondosamente e procurou elucidar:
― Quando a alma dá seu mergulho na matéria, esquece-se de sua natureza divina e do estado de bem-aventurança que gozava quando em comunhão com o Pai.
Seduzida pelos sentidos, busca a alegria nos prazeres ilusórios da carne, acreditando que a verdadeira felicidade encontra-se na satisfação de seus desejos.
― E não se encontra? - tornou ela surpresa, e ele meneou a cabeça.
Mas como, se o corpo físico é que sente?
― O corpo físico é a primeira grande ilusão da alma.
Como a sedução dos sentidos é muito grande, o ser humano associa o prazer à satisfação de seus desejos.
Mas o homem não é o seu corpo físico.
O corpo é apenas o invólucro de sua verdadeira essência.
É preciso respeitá-lo e cuidar dele, mas não se identificar com ele nem se deixar por ele escravizar.
― Como alguém pode ser escravo de seu corpo físico?
― Satisfazendo, indiscriminadamente, todos os seus desejos.
Daí vem à servidão aos sentimentos inferiores.
― Você fala como se fosse errada a satisfação dos desejos.
― Eu não disse que é errada.
O desejo é mesmo necessário para a continuação da vida.
Quem não tem desejos não progride.
― Mas então, não estou entendendo.
― O que o homem precisa é de discernimento.
Desejos não devem se transformar em vícios.
Devem ser satisfeitos, na medida do possível, desde que não sejam alimentados de tal forma que se transformem em vício e dominem o homem.
É preciso renunciar ao apego, o que só se consegue com a consciência de que não somos donos, realmente, de nada.
Quando o homem morre, devolve tudo a quem realmente pertence, que é a vida, e ela vai se encarregar de passar para outro.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:49

― Você se refere aos bens materiais, não é?
A tudo aquilo por que lutei em vida e que agora me causa tanto sofrimento!
― Tudo que é passageiro é ilusão.
Apenas o que é eterno é real.
Da vida, não levamos nada material.
Todos os bens, amantes, o poder, a projecção social e outras coisas a que o ser humano dá tanta importância, não nos acompanham após a morte do corpo físico.
Bem se vê, portanto, que o estado de felicidade que geram é ilusório.
Se o homem põe nessas coisas a sua felicidade, ao desencarnar, a felicidade há de permanecer junto a elas, e só o que ele vai atrair é o sofrimento.
Verá, então, que tudo não passou de ilusão.
Somente os sentimentos que enaltecem a alma, todos derivados do amor, é que nos acompanham aonde quer que vamos.
Isso é que é verdadeiro, e essa felicidade não é fruto da ilusão.
Daí vem à compreensão das palavras de Jesus:
A felicidade não é deste mundo.
― Suas palavras são nobres e encerram uma grande verdade.
Mas você não acha que é muito difícil, para não dizer impossível, que, de uma hora para outra, ganhemos esse discernimento?
― É por isso que nascemos muitas vezes.
Somos todos viajantes no mesmo barco, que é esse mundo, porque nossa permanência na terra é passageira.
É no vaivém das reencarnações que aprendemos o que são os verdadeiros valores do espírito e vamos, aos poucos, nos despojando de tudo o que é ilusão, adquirindo o conhecimento que nos libertará dos desejos que nos prendem à matéria e à roda das encarnações.
Novamente, Lorena chorou.
Aproximou-se de Roberval timidamente e ajoelhou-se a seus pés, tocando as suas vestes com medo e tremor, como se o seu contacto pudesse manchar aquele espírito imaculado.
Roberval, porém, acercou-se mais dela e pôs as mãos em seus ombros, erguendo-a gentilmente.
― Não se ajoelhe diante de mim - protestou com simplicidade e bonomia.
Não sou digno de sua reverência. Nem de ninguém.
Como você, sou um espírito que, vezes sem conta, se perdeu nesse mundo de ilusões e que só agora, depois de muito sofrer, conseguiu levantar o véu que encobria seus olhos e o impedia de vislumbrar a beleza do universo de Deus.
Tocada pelas suas palavras, Lorena se atirou em seus braços e chorou longamente, sem se preocupar com mais nada.
Envolvida pelo abraço caloroso de Roberval, parecia que estava protegida do resto do mundo e de si mesma.
― O que posso lhe dizer? - murmurou ela após um longo tempo.
Nunca pensei que pudesse haver tanta bondade no mundo.
― Não se deixe impressionar pelos seus desvarios.
Tome as suas atitudes como insanidades passageiras.
Você agora abriu os olhos e vai se curar.
― Como?
― Venha comigo.
Há lugares, não muito longe daqui, destinados ao tratamento de espíritos adoecidos como você.
― Será que posso mesmo ir?
― Será que não ouviu nada do que eu disse?
Lorena deu um sorriso amargo e retrucou mais para si mesma:
― Engraçado... Tudo o que fiz até agora foi para não ter que sair do lado de Gilson.
E agora, vejo-me na iminência de deixá-lo sem me lamentar por isso.
― Você também foi tocada pela luz interior, e ela se espargiu para iluminar todo o seu ser.
Agora, não há mais jeito de voltar à escuridão.
― E Beatriz?
Será que vai ficar bem, depois de toda a energia pesada que joguei sobre ela?
― Beatriz é ciumenta, e foi isso que deu acesso às suas investidas, mas tem bom coração.
E está grávida, o que diminuiu o seu ciúme, pois suas atenções estão mais voltadas para o bebé.
Além disso, o comportamento de Vítor lhe dá mais segurança, porque é impossível não perceber o quanto ele a ama.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:50

Não se preocupe com ela.
Beatriz é inteligente e usa a inteligência para dominar o seu ciúme.
Lorena ficou satisfeita.
De repente, todas as suas atitudes pareciam inúteis e sem sentido.
Questionava-se por ter perdido tanto tempo vivendo ao lado de Gilson, numa vida que não lhe pertencia, temendo que ele fosse preso e que ela perdesse os prazeres que só ele podia lhe proporcionar.
Ficou pensando nisso e foi de repente que pareceu entender as palavras de Roberval.
Só agora compreendia o que era viver a ilusão.
Pela primeira vez, sentia o que era a verdadeira felicidade.
De mãos dadas com Roberval, lançou-se ao espaço infinito, deixando para trás o mundo em que se aprisionara havia tanto tempo, e partiu para sua nova e verdadeira vida.
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CAPÍTULO 39

Foi com uma quase agonia que Beatriz conseguiu aguardar até segunda-feira, dia da entrevista com Amélia.
Ela nada sabia da visita que a mãe fizera a Graziela no dia anterior, pois Carminha, de tão abalada, nada lhe dissera, apesar de ter chorado muito nos braços de Renato.
As sete em ponto, Beatriz e Vítor tocaram a campainha da casa de Amélia, e uma criada veio atender.
O olhar da moça para Beatriz causou-lhe certo mal-estar, uma sensação de que se tornara objecto de observação de curiosos.
Mas a criada não disse nada, e ela tampouco fez qualquer comentário.
Os dois se sentaram no sofá e puseram-se à espera de que Amélia surgisse.
― Você viu o jeito como ela olhou para mim? - indagou Beatriz, assim que a empregada saiu.
― O que é que tem? - tornou Vítor.
― Foi como se já me conhecesse.
― Vá com calma, Bia.
Não comece a criar fantasias.
Antes que ela respondesse, Amélia entrou na sala, e a primeira coisa que reparou foi na barriga de Beatriz.
Graziela já havia lhe contado aquele detalhe, mas ela teve que fingir surpresa.
― Você está grávida!
Para quando é o bebé?
― Para Novembro - respondeu Beatriz.
― Já sabe se é menino ou menina?
― Vou fazer a ultra-sonografia daqui a duas semanas.
― O que vocês preferem?
― Tanto faz - foi Vítor quem respondeu.
Vinda de Beatriz, qualquer criança é maravilhosa.
― Que palavras lindas! - admirou-se Amélia.
Minha filha, não largue esse rapaz por nada.
Paixão assim, só em novelas ou romances água com açúcar.
Todos riram, e Amélia ficou admirando o jovem casal, examinando mais de perto a incrível semelhança entre Beatriz e Suzane, agora certa de que elas só podiam mesmo ser gémeas.
Até que Vítor pigarreou e começou a dizer meio sem jeito:
― Bom, Dona Amélia, como sabe, escolhi a senhora para uma entrevista porque a julgo uma grande personalidade da nossa sociedade carioca...
Enquanto a falsa entrevista se desenrolava na sala de estar, no andar de cima, Graziela andava de um lado a outro no quarto de Leandro, apertando as mãos e apurando os ouvidos para ver se ouvia alguma parte da conversa.
― Pare com isso, Graziela - censurou Suzane.
Está me deixando nervosa.
― E não vai escutar nada daqui de cima - acrescentou Leandro.
― O que será que está acontecendo lá embaixo? - perguntou Graziela ansiosa.
― Eles estão conversando - era Leandro.
― E quando é que eu vou poder aparecer?
― Tenha calma - pediu Suzane.
Nem sabemos se você deve aparecer nesse momento.
― Mas eu quero vê-la! - protestou ela.
― Não foi isso que combinamos - falou Leandro.
Se você quer se precipitar, vai estragar tudo.
― Tem razão... Vou esperar...
De repente, ouviram a sineta de a sala tocar, chamando a criada.
Era o sinal para que Suzane e Leandro aparecessem.
― Já lhe disse que você é a cara da namorada do meu filho? - perguntou Amélia a Beatriz, logo após pedir suco à criada.
Aquele era o momento que tanto desejavam, e Beatriz não perdeu a oportunidade de ingressar no assunto.
― Pois é, dona Amélia, muitas pessoas já me falaram isso.
Tenho até curiosidade de conhecer essa moça e...
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:50

Parou de falar abruptamente, sentindo a surpresa e a dúvida dominarem seus pensamentos.
Descendo a escada, vinham Leandro e Suzane e Beatriz logo percebeu que o que via era um reflexo um pouco modificado de si mesma.
― Meu Deus... - balbuciou, assombrada.
A exclamação ficou pairando no ar, porque Beatriz, tomada pela surpresa e sensibilizada pela gravidez, afundou no sofá, desmaiando com o rosto lívido e toda gelada.
Sua alma reconhecia a irmã de outra vida, mas o seu eu consciente não podia suportar a ideia do reencontro, e ela preferiu fugir momentaneamente, através do desmaio, a fim de se reestruturar para enfrentar a realidade.
Embora Sebastiana e Dalva jamais tivessem se falado em vida, seus espíritos conheciam todo o drama, fosse porque planearam as duas encarnações como irmãs gémeas, fosse porque, no mundo espiritual, o véu dos segredos se desvela, e a verdade se torna conhecida de todos.
― Beatriz! Beatriz! - chamava Vítor, aflito a seu lado, esfregando-lhe os punhos para lhe dar ânimo.
Assim encorajado, o espírito de Beatriz conseguiu dominar o choque e a emoção e ela acabou voltando a si.
Ao abrir os olhos, viu rostos assustados voltados para ela e procurou o de Suzane, que a fitava com espanto e medo.
Apesar de preparada por Graziela e pela própria Amélia, Suzane também não conseguiu conter a surpresa.
Uma coisa era ouvir de outras pessoas que tinha uma irmã gémea.
Outra, bem diferente, era dar de cara com ela e se sentir como se estivesse se olhando num espelho.
A diferença de cabelo e maquilhagem, além da gravidez, não eram suficientes para deixar ninguém em dúvida de que elas eram gémeas idênticas.
― Como... como é que pode...? - murmurou Beatriz, tomando o copo de água que Amélia lhe estendia.
Vítor a ajudou a sentar-se e, instintivamente, colocou a mão sobre o seu ventre, num gesto de protecção.
― Você está bem?
Quer que eu a leve a um médico?
― Não... Vim aqui para saber a verdade, e ela agora está diante de mim.
Os outros a olhavam sem dizer nada, cada qual imaginando o que dizer para não lhe causar um choque ainda maior.
― Que verdade? - Suzane acabou por perguntar.
― Você é minha irmã gémea? - disparou Beatriz, fitando-a nos olhos.
Tomada pela surpresa da pergunta directa, e temendo pela gestação de Beatriz, Suzane não soube o que responder.
Olhou de Amélia para Leandro, que a fitavam com preocupação.
Aquela, contudo, não era hora para mentiras e fora Suzane mesma quem perguntara que verdades Beatriz buscava.
Ela abaixou os olhos para a irmã e sacudiu a cabeça lentamente, em sinal de assentimento.
― Esta é Suzane, namorada de Leandro e sua irmã gémea - sentenciou Amélia.
― O quê!? - indignou-se Vítor.
Como pode afirmar isso com tanta convicção?
― Só um cego não vê a semelhança.
― A semelhança é inquestionável.
Mas gémeas...?
― Você tem alguma outra explicação? - rebateu Leandro.
― Como foi que você veio parar aqui? - cortou Beatriz, dirigindo-se directamente a Suzane.
― Foi tudo uma sucessão de coincidências - esclareceu Amélia.
― Que coincidências?
Amélia e o filho se entreolharam, mas foi Suzane quem respondeu:
― Em vista do que aconteceu, acho que não seria prudente falarmos sobre isso agora.
Você está grávida, e pode não fazer bem ao bebé.
― Isso é um absurdo! - objectou Beatriz com veemência.
Vim aqui para descobrir a verdade e é o que pretendo fazer.
― Perdão, Beatriz, mas você veio acompanhando o seu namorado para uma entrevista - disse Amélia.
Ou será que tudo não passou de um pretexto para vir a minha casa e ver, com seus próprios olhos, o clone seu que anda por aí?
― Lamento pela desculpa da entrevista, mas eu tinha que encontrar um meio de verificar.
― Não precisa se lamentar.
― Pelo visto, vocês também sabiam que Beatriz viria e planearam essa entrada dramática de Suzane - constatou Vítor.
― Foi um jogo? - retrucou Amélia.
Pode ter sido.
Mas ambos os lados estavam dispostos a apostar.
Ninguém saiu perdendo.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:50

― Nada disso explica a existência de Suzane - cortou Beatriz, ainda fixando o rosto da irmã.
Ou a minha, já que ela deve ter ficado tão surpresa quanto eu.
― Você nem imagina o quanto - concordou Suzane.
Mas eu soube de você antes de você saber de mim.
― Como? Quem lhe contou?
― Fui confundida com você algumas vezes, Beatriz.
Inclusive pelo seu próprio irmão.
― Meu próprio irmão?
Nícolas? Como assim?
― Sua mãe não lhe contou? - ela meneou a cabeça.
Encontramo-nos no zoológico outro dia.
Sua mãe estava com seu irmão e outro menino.
Quando me viu, sentiu-se mal e desmaiou.
Beatriz arregalou os olhos, cada vez mais certa de que Suzane era mesmo sua irmã gémea.
E isso significava que a mãe mentira para ela.
― Minha mãe não me disse nada - lamentou-a.
Nem Nícolas.
― Seu irmão ainda é criança e deve ter-se esquecido - justificou Amélia.
Mas sua mãe devia ter-lhe contado.
― Por quê? Por que ela não me contou?
― Beatriz - interrompeu Vítor, acercando-se dela.
Acho melhor irmos embora.
Vamos deixar isso para outra hora, depois que você se recompuser.
― Eu estou bem.
― Você está muito exaltada.
Sua pressão deve ter subido.
― Já disse que estou bem!
Vítor se afastou magoado, mas ela o puxou e apertou a sua mão, dizendo, em seu olhar, o quanto sentia ter sido grosseira com ele.
O rapaz lhe deu um sorriso compreensivo e sentou-se ao seu lado.
― Não quero me meter na vida de ninguém - acrescentou Amélia ―, mas acho que Vítor tem razão.
Você está ficando excitada demais, e isso, com certeza, não faz bem nem a você, nem ao bebé.
― Talvez seja melhor deixarmos essa conversa para outra hora - concordou Leandro.
Suzane e eu podemos encontrá-la outro dia.
― De jeito nenhum! - protestou Beatriz.
Agradeço muito a preocupação de vocês, mas eu estou bem.
― Você já sabe que tem uma irmã gémea - afirmou Amélia.
― O que mais deseja saber?
― Tudo. Para começar, como foi que vocês chegaram a essa conclusão?
Sim, porque, pelo visto, quando cheguei aqui, todos já sabiam que Suzane era minha irmã. Como?
― Suzane não lhe disse que foi confundida com você? - perguntou Leandro, e Beatriz assentiu.
― Então?
― Isso não explica como chegaram até mim.
― Não foi difícil.
Eu mesmo fui vê-la na faculdade outro dia.
― Você...
Só então Beatriz se lembrou da fisionomia de Leandro, mas foi Vítor quem falou:
― Naquele dia, o esbarrão.
Foi você, não foi?
― Foi. Minha mãe e eu já estávamos desconfiados, e eu tive que me certificar.
― E depois contou tudo a Suzane - atalhou Beatriz.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:51

― É isso.
― E quando soubemos que você viria aqui - continuou Amélia ― achamos que já era hora de lhe contarmos a verdade, porque tínhamos certeza de que você também estava desconfiada.
― O que lhes dava essa certeza?
Eu nunca falei com nenhum de vocês a respeito.
Amélia olhou para Leandro, depois para Suzane e, finalmente, para Beatriz.
― O que acha que aconteceu? - perguntou, fitando-a com seriedade.
― Não sei o que pensar.
Acho que... fui adoptada.
― É a explicação mais plausível, não acha?
Ou você pensa que seus pais teriam ficado com você e dado sua irmã gémea para adopção?
― Nunca! Eles jamais fariam isso.
― Então...
Beatriz ocultou o rosto entre as mãos e desatou a chorar, abraçando Vítor em seguida.
Ele a estreitou com ternura e murmurou baixinho:
― Vamos embora, Bia.
Você já teve emoção demais por uma noite.
― Por que eles não me contaram? - gemeu ela.
Não confiaram em mim.
E minha mãe... ela mentiu.
Perguntei-lhe se eu havia sido adoptada, e ela mentiu.
Disse que não...
― Procure entender sua mãe, Beatriz - disse Amélia.
Não deve ser fácil para ela tampouco.
― Ela não podia ter mentido para mim.
Não quando eu perguntei.
Como posso confiar nela depois disso?
― Você está sendo muito severa com ela.
Carminha a ama como a filha que você é.
Não é justo julgá-la e condená-la.
Sua mãe tem medo de perder você.
Beatriz enxugou os olhos e se virou para Suzane:
― Você também foi adoptada?
― Fui.
― Onde estão seus pais?
― Morreram num acidente de carro, em Brasília.
Só então descobri a verdade.
Apesar do choque e do constrangimento, Beatriz não se deteve:
― Sabe onde estão nossos verdadeiros pais?
Novamente aqueles olhares trocados, e Suzane respondeu:
― Não gostaria de falar sobre isso agora.
― Você os conhece!
Onde é que eles estão?
― Nosso pai está... morto.
Novo choque, e Beatriz sentiu a garganta seca e o estômago embrulhar.
Colocou as mãos sobre a boca, tentando segurar a ânsia de vómito.
Seu rosto se tornou lívido, e uma zoeira invadiu o seu ouvido.
A vista começou a falhar novamente, e ela abaixou a cabeça, lutando para conter a tonteira que ameaçava roubar-lhe os sentidos e a razão.
― E nossa mãe? - a indagou aflita, fazendo um esforço desesperado para não desmaiar.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:51

― Chega! - exaltou-se Suzane.
Recuso-me a falar qualquer outra coisa neste momento.
Você não está bem, e é melhor que o seu namorado a leve a um médico.
Não queremos ser responsáveis por nada de mau que lhe aconteça.
― Suzane tem razão - concordou Vítor.
Vou levá-la para casa, quer você queira, quer não.
Sob protestos, Beatriz foi embora.
Não queria ir, relutou e se aborreceu, mas não teve jeito.
Vítor foi incisivo e quase a arrastou dali.
Só depois que o carro dele sumiu foi que Graziela apareceu.
Passara a noite inteira ao pé da escada, morrendo de vontade de aparecer, mas temendo que o impacto fosse duro demais para Beatriz.
Descobrir que era adoptada já fora um choque muito grande.
Saber que era filha de Graziela, a quem ela parecia odiar, seria ainda mais doloroso.
Assim, por mais difícil que fosse, só lhes restava esperar.
De toda sorte, a semente estava lançada e, uma vez ao solo, não havia como impedi-la de germinar.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:51

CAPÍTULO 40

Os gritos de Beatriz chegaram aos ouvidos de Carminha, que acordou assustada.
A seu lado, o lugar vazio indicava que Renato não havia voltado, e ela sentiu uma leve apreensão, a sensação indescritível da tragédia.
Rapidamente, levantou-se da cama, vestiu o robe de seda e partiu em direcção à voz.
Encontrou Beatriz na sala, lutando com Vítor, que se esforçava para acalmá-la e fazer com que ela se sentasse.
― Tenha calma, Beatriz - dizia ele.
Vai acordar todo mundo.
― Solte-me, Vítor! - protestava Beatriz.
Preciso falar com ela agora.
― Posso saber o que é que está acontecendo? - interrompeu Carminha, espantada com o que lhe parecia uma briga entre os dois.
Na mesma hora, Vítor soltou Beatriz, que se virou para a mãe com os olhos em chamas.
― Beatriz não está bem - falou ele.
Tem que descansar, mas não quer me dar ouvidos.
― Precisamos conversar - disse Beatriz secamente, ignorando as palavras e a preocupação do namorado.
― Há essa hora? - a retrucou, olhando para Vítor de esguelha, como a lhe perguntar o que estava acontecendo.
― Por que não me disse que eu era adoptada quando lhe perguntei?
A pergunta saiu tão directa que Carminha se engasgou e teve um acesso de tosse, mas Beatriz permaneceu impassível, sem qualquer sinal de preocupação.
― O que está dizendo? - balbuciou Carminha, entre uma tosse e outra.
Essa história de novo?
― Por favor, Bia, agora não - implorou Vítor, mas ela não lhe deu atenção.
― Não adianta mais mentir, mãe. Já sei de tudo.
― Tudo o que?
Pelo amor de Deus, Beatriz, não me vá dizer que andou dando ouvidos a gente maluca, que inventa histórias mirabolantes.
― Minha irmã gémea não é maluca nem saiu de uma história mirabolante.
É bem real e, assim como eu, só agora descobriu que era adoptada.
― Mas que irmã gémea? - Carminha começou a andar pela sala, tentando, desesperadamente, conter o curso da revelação iminente.
Você não acredita mesmo nisso, acredita?
Sei que há uma moça parecida com você por aí, mas isso não significa que ela seja sua irmã.
― Você sabia. Você a viu!
Por que não me disse que a encontrou no zoológico e falou com ela?
― Não achei que fosse importante.
É só uma desconhecida.
― Onde já se viu uma desconhecida que é a minha cara?
Carminha ia protestar, mas Beatriz não lhe deu chance.
― Eu a vi, mãe. Falei com ela!
― Isso é impossível! Você não vê?
Tem alguém tentando destruir a nossa felicidade.
― Pare com isso! - gritou Beatriz de repente.
Será que não percebe que não adianta mais mentir?
Por que insiste em algo que eu sei que é mentira?
Não é mais fácil falar a verdade?
― Por Deus, Carminha - suplicou Vítor —, se isso for verdade, por favor, diga logo ou Beatriz vai acabar tendo um ataque.
Ela já passou mal, e sua pressão deve estar nas alturas.
Carminha se deu por vencida.
O estado da filha inspirava cuidados, e ela não queria que nada de mau lhe acontecesse ou ao bebé.
― Fiz tudo por você, Beatriz - começou ela entre lágrimas.
Amei-a e a amo como se você fosse minha filha verdadeira.
E você é minha filha verdadeira.
Você e Nícolas...
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:51

― Nícolas também é adoptado? - cortou ela com rispidez, e Carminha assentiu.
Por que não nos disse antes?
― Tive medo... Coloque-se no meu lugar.
Eu estava insegura, temendo perder vocês.
Já havia perdido três bebés, e foi quando seu pai surgiu com a ideia da adopção.
No princípio foi difícil.
Eu queria muito engravidar, mas não foi possível.
Por mais tratamentos que fizesse, abortava naturalmente antes de concluído o terceiro mês de gestação.
Você não pode imaginar como eu sofri.
― Posso sim.
Mas vocês não tinham o direito de mentir para mim.
― Seu pai e eu fizemos o que achamos melhor.
― Sei.
― Espero que não nos odeie por isso - murmurou Carminha.
― Eu jamais os odiaria.
Durante toda a minha vida, vocês foram os pais que me amaram e a quem amei.
Mas eu achava que era sua filha, porque jamais me passou pela cabeça que vocês pudessem mentir para mim.
Pois não foram vocês mesmos que me ensinaram a sempre dizer a verdade?
― Nós não queríamos mentir.
― Será que pensaram em me dizer a verdade alguma vez? - Carminha hesitou.
Por favor, mãe, seja sincera.
― Não... - foi o sussurro rouco.
― Por quê?
Não era mais hora de mentir.
As coisas se haviam precipitado de tal maneira, que nenhuma mentira satisfaria Beatriz.
Ela lhe pedira sinceridade.
Pois então, seria mais sincera do que nunca em sua vida, do que jamais fora, inclusive, consigo mesma.
― Dizer que eu tinha medo de perdê-la é muito pouco.
Eu não tinha apenas medo de perder você.
Tinha medo de não poder continuar mentindo para mim mesma, dizendo que você nascera do meu ventre.
Sei que isso não faz diferença, mas eu quis me iludir.
Fazia-me bem conversar com as amigas e relembrar momentos que eu nunca havia vivido, mas que podia criar conforme o que eu gostaria que tivesse sido.
Eu me utilizava das poucas semanas em que engravidara, antes de perder os bebés, para dizer como me sentia quando estava esperando você e seu irmão.
Era uma ilusão, eu sei, mas me satisfazia.
Contudo, se lhes dissesse a verdade, essa ilusão não poderia mais existir, porque vocês saberiam que eu estava inventando, que tudo não passava de fantasia da minha cabeça.
― Você queria convencer a si mesma de que eu não era adoptada?
― Se me esquecesse disso, podia ao menos fingir que não era.
― Mas para que? Que sentido faz isso?
O importante não é o amor?
Ou você não conseguiu me amar porque eu não era sua filha?
― Nunca mais diga uma coisa dessas! - objectou Carminha horrorizada.
Antes mesmo de conhecer você, eu já a amava.
Durante o período de gestação da sua verdadeira mãe, que nem cheguei a conhecer, decorei o seu quarto, comprei roupinhas e brinquedos.
Você era tão esperada e desejada como se eu estivesse grávida.
E quando chegou perto do momento de você nascer, fiquei tão ansiosa que parecia até que era eu que ia dar à luz.
― Você conhecia minha mãe verdadeira?
― Não.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:52

― No entanto, sabia que ela estava grávida e que o bebé dela seria seu.
Como pode ser isso?
― A moça estava desesperada por dinheiro!
― Eu fui comprada? - indignou-se Beatriz, levando a mão aos lábios num assombro mudo.
Vocês me compraram de uma mulher desesperada que, de antemão, já sabia que iria me vender?
Minha verdadeira mãe me vendeu a vocês?
― Eu sou a sua verdadeira mãe!
Tudo o que se pode entender por mãe, fui eu que fiz.
― Você não respondeu a minha pergunta.
Fui ou não comprada?
― Que diferença isso faz?
― Eu quero saber!
Tenho o direito de conhecer a verdade, porque a minha irmã gémea teve outro destino, e os seus pais adoptivos morreram.
― Isso é lamentável, Beatriz, mas não tem nada a ver connosco.
Minha filha é você.
― Por que não compraram as duas?
― Já chega, Bia - contemporizou Vítor.
Sua mãe já disse que você foi adoptada.
O que mais você quer?
― Quero saber quem são meus verdadeiros pais.
― Isso... é impossível - objectou Carminha.
Não os conheci.
― Meu pai morreu.
Mas minha mãe, não.
― E o que importa isso?
Ela abandonou você. Isso não conta?
― Quero saber quem é ela e por que fez isso.
― Porque não a amava.
Por que outro motivo teria abandonado você e sua irmã?
Havia algo no tom de voz de Carminha que inquietou Beatriz.
Algo que não soava bem, que parecia falso e artificial.
De repente, foi como se a compreensão despencasse sobre a sua cabeça, e ela afirmou com surpresa e convicção:
― Você a conhece!
Conhece minha mãe.
― Não! Sua mãe sou eu.
― Está mentindo novamente.
Você a conhece, e eu exijo saber quem ela é.
― Pelo amor de Deus, minha filha, não faça isso!
Essa mulher não tem nada a lhe oferecer.
A sua mãe sou eu.
― Então você a conhece mesmo, não é?
Pois se você me ama e me considera sua filha de verdade, vai me dizer quem é.
― Eu a amo... - Carminha desabou num pranto tão sentido e desesperado que até Beatriz se comoveu.
― Não estou questionando o seu amor - tornou ela com mais brandura, sentindo, em seu íntimo, que a mãe que ela realmente amava era aquela.
Mas precisava descobrir a verdade.
― Acho até que compreendo a sua atitude.
Contudo, eu preciso saber.
― Por quê?
― Quero fazer o meu próprio julgamento das coisas.
É direito meu.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:54

― Você não vai gostar do que vai descobrir.
― Por que não pára de mentir e se esquivar?
Se souber quem é minha mãe, deve me contar agora.
Caso contrário, vou encontrar os meus próprios meios de descobrir.
― Já disse que você não vai gostar de saber.
― Essa avaliação, quem tem que fazer, sou eu.
― Pois muito bem, Beatriz, você tem mesmo o direito de saber - tornou Carminha, tomada por súbita coragem.
Só espero que a decepção não a faça se arrepender.
― Não vai fazer.
― Está certo, se é o que quer.
Não tenho mais o direito de lhe ocultar isso.
Lamento lhe dizer, mas sua mãe verdadeira é a Graziela.
A resposta franca e directa foi propositado, com o único intuito de chocar Beatriz e avivar, em seu coração, toda a repulsa e antipatia que a menina sentia por Graziela.
Beatriz quedou mortificada e revidou incrédula:
― Que Graziela?
― A única que conhecemos.
― Graziela Martins? - ela assentiu.
A mulher do cônsul? - novo assentamento.
― Não pode ser...
― Eu também gostaria que não fosse, mas é.
― Mas isso é coincidência demais.
Não é possível.
O susto foi tão grande que Beatriz se acalmou, esquecendo-se até mesmo da conversa sobre adopção.
Carminha sentou-se a seu lado e lhe contou toda a história, inclusive o motivo que a levara a se afastar de Graziela.
― Suzane falou que nosso pai biológico morreu - balbuciou ela.
Será que era o cônsul?
Mas isso não faz sentido.
Eles são ricos...
― Acho melhor encerrarmos essa conversa por aqui.
― Sua mãe tem razão, Bia - falou Vítor.
Você já se emocionou demais por hoje.
― Onde está o meu pai? - questionou ela, e Carminha a olhou em dúvida, sem saber a que pai ela se referia.
Meu pai, seu marido.
Gostaria de falar com ele também.
― Não sei onde ele está.
Quando acordei, ele não estava mais ao meu lado.
Mas você não precisa falar com ele.
Eu mesma lhe direi tudo o que sei.
Em breves linhas, Carminha relatou a viagem de Renato a Mato Grosso, onde receberia a criança das mãos do traficante.
Contou tudo o que o marido lhe havia dito, inclusive sobre o assassinato de Roberval.
― Como vocês podem ter adoptado uma criança à custa do assassinato do pai?
― Nós estávamos desesperados.
― Meu pai assistiu a esse homicídio?
― Não, mas ficou sabendo de tudo.
― Como?
― Ouviu comentários.
Você sabe como são essas coisas.
― Não, não sei.
Carminha evitava encarar Vítor, que permanecia ao lado de Beatriz.
Ela queria muito que ele fosse embora, não se sentia à vontade diante dele para prosseguir naquelas revelações.
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Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:54

Por fim, disse:
― Acho que você deveria ir, Vítor.
Beatriz está bem agora.
― De jeito nenhum! - protestou ele.
Não saio daqui até ter certeza de que ela não vai ter nada.
― Não vou ter nada - afirmou Beatriz, alisando o rosto dele.
― Estou bem agora.
― Não saio até você se deitar.
― Faça isso, minha filha - insistiu Carminha.
Pelo seu bem e o do bebé, vá dormir agora.
Tudo o que sabia, já lhe contei.
O resto, só os traficantes poderiam lhe dizer.
― Quem eram eles, mãe?
Quem foram essas pessoas?
― Não sei... - mentiu ela, olhando de soslaio para Vítor, que nada percebeu.
― Vá se deitar, Bia, pelo amor de Deus - implorou Vítor.
Podemos prosseguir amanhã.
Beatriz suspirou fundo e, ainda de mãos dadas com Vítor, acabou concordando:
― Você tem razão.
Essa história toda me deixou exausta.
Só não sei se vou conseguir dormir.
― Eu a ajudo. Vamos, levante-se.
Vítor lhe deu a mão e levou-a para o quarto.
Ajudou-a a se trocar e esperou até que ela terminasse a toalete da noite, para então ajeitá-la na cama.
Ela se deitou agarrada à mão do namorado, que permaneceu a seu lado, acariciando os seus cabelos e beijando sua barriga.
No começo, ela não conseguiu conciliar o sono, porque muitas coisas se atropelavam em sua cabeça ao mesmo tempo.
Mas as carícias de Vítor a foram acalmando, até que, quase uma hora depois, finalmente adormeceu.
Depois de se certificar de que ela dormia profundamente, Vítor se levantou e apagou a luz do abajur.
Pé ante pé, encaminhou-se para a porta e saiu do quarto, tomando a direcção da sala.
Precisava ir embora.
Quando passou pela sala, percebeu um vulto no sofá e se aproximou.
Carminha estava sentada, bebendo um copo de uísque, coisa que raramente fazia.
― Nícolas está dormindo - comentou-a.
Por sorte, não ouviu nada.
― Beatriz também pegou no sono, e acho que você devia fazer o mesmo.
― Eu? Não posso.
Não antes que você ouça o que tenho para lhe contar.
― A mim?
― Sim, a você.
Diz respeito a seu pai.
― A meu pai?
Curioso, Vítor sentou-se na poltrona defronte a ela, e Carminha foi até o bar.
Serviu uísque em mais um copo e ofereceu-o a Vítor, que quis recusar.
― Beba - insistiu ela.
Depois de ouvir o que tenho a dizer, sei que vai precisar.
Quando Vítor saiu da casa de Beatriz, não sabia mais o que pensar.
As coisas que Carminha lhe dissera sobre o pai deixaram-no aturdido e apavorado.
Como, de repente, ele, que nada tinha a ver com adopção, arranjara um papel de destaque naquela história sórdida que envolvia seu pai e o tráfico de bebés?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 8 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho 1/9/2015, 14:55

Só podia ser mentira ou um engano.
Carminha, contudo, lhe dissera que aquele era o motivo pelo qual Renato não aprovava o seu namoro com Beatriz.
Era uma história insana e cruel, impossível de se acreditar.
Será que o destino, de forma maldosa e premeditada, teria reunido tantas pessoas comprometidas num passado comum no mesmo lugar e na mesma época?
Não seriam coincidências demais?
Diante de tudo o que ouvira naquela noite, Vítor não sabia mais o que seria possível ou não de acontecer.
Mas o pai não lhe parecia o tipo de pessoa que se envolvesse no crime.
Ou será que seria?
... Lamento lhe dizer, mas sua mãe verdadeira...
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Mensagem  Ave sem Ninho 3/9/2015, 00:38

CAPÍTULO 41

Com certa impaciência, Gilson aguardava que Graziela e Suzane chegassem.
O encontro em casa de Amélia seria demorado, mas ele não podia esperar até o dia seguinte.
Podia ser tarde demais.
A todo instante, consultava o relógio.
Como demoravam!
Queria acabar logo com aquilo.
Sabia dos riscos que corria, mas era a única saída.
A conversa com Renato ainda martelava em sua mente, e ele não podia permitir que o pior acontecesse.
Não queria tomar aquela atitude drástica e tudo fizera para impedi-la, mas Renato não compreendia e praticamente o forçava.
Um homem, todo vestido de preto, estava à espreita em frente ao edifício de Graziela.
A noite estava escura, e ele se ocultou do outro lado da rua, atrás de um quiosque pouco frequentado e fechado, àquela hora tardia de segunda-feira.
Gilson se esforçara ao máximo para pôr um fim naquela história.
Até se submetera ao ridículo papel de chantagista barato, indo procurar Suzane em sua casa para lhe oferecer dinheiro.
Mas ela era corajosa e não se intimidara, o que deixou Renato ainda mais furioso.
Ele não tinha outra saída.
Precisava correr o risco e acabar com aquilo antes que o pior acontecesse.
E nem conhecia aquela Graziela!
O endereço que Renato lhe dera só servira para que ele a encontrasse naquele momento.
Devia tê-la procurado antes, mas o resultado com a menina o deixara sem ânimo.
Era um covarde.
Finalmente, um carro embicou no portão da garagem, e o homem sentiu o coração disparar.
Como era costume em todos os prédios do Recreio, não havia porteiro à noite, de forma que Graziela teria que accionar, ela mesma, o controle remoto do portão electrónico e esperar até que se abrisse o suficiente para passar com o carro.
Isso lhe daria o tempo necessário para se aproximar e agir.
De onde estava, o homem assistia a tudo com uma expectativa crescente, olhando para os lados a todo instante, à espera de que algo acontecesse.
Ouviu o sinal sonoro do portão, constatando que ele começava a abrir.
Mais um pouco, e Graziela estaria do lado de dentro, mas o portão ainda teria que fechar, e o tempo que ele gastava para fazer o percurso de volta sobre o trilho era mais do que suficiente para qualquer acção ofensiva.
Era agora ou nunca!
O homem saiu das sombras.
Com a rua deserta, atravessou correndo a avenida, sem ser notado, alcançando o automóvel de Graziela antes que ela tivesse espaço para passar com o carro para o lado de dentro.
Ela levou um susto ao sentir a aproximação daquele vulto e pensou em acelerar e bater no portão, mas o revólver apontado para ela a encheu de pavor, e ela tirou o pé do acelerador e olhou para ele.
Mesmo com o vidro fechado, reconheceu o homem, e duas lágrimas de revolta e indignação escorreram de seus olhos, desmentindo o que ela pensava ser um assalto a princípio.
Ela sabia por que ele estava ali.
De repente, os olhos grudados no cano do revólver, sua memória retrocedeu vinte anos, e a figura daquele homem impassível, com uma de suas filhas nos braços, ressurgiu em sua mente.
A constatação a encheu de terror.
Graziela estava diante do homem que friamente atirara em Roberval, na noite em que lhe tomaram os bebés.
E ele estava ali para matá-la, a ela e a Suzane, porque tinha muitas coisas a perder.
Naquele momento, Graziela só podia pensar em Suzane e na juventude de que ela seria tão brutalmente privada.
O olhar de Suzane era também de pavor, e Graziela apertou a sua mão, como a lhe dizer que não deveria ter medo.
Lembrou-se de Aécio e dos sonhos que tinha com o marido morto, e, já acostumada à fatalidade, achou que era obra do destino que sua vida terminasse assim.
Contudo, se conseguisse, com seu corpo, proteger o corpo de Suzane...
Tudo sucedeu muito rápido.
De olhos fechados, Graziela orava em silêncio, segurando a mão fria e molhada de Suzane, que já ameaçava entrar em pânico.
Não viu o dedo de o homem pressionar o gatilho, mas sentiu a presença da bala a poucos centímetros da sua cabeça. Chorou.
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Mensagem  Ave sem Ninho 3/9/2015, 00:39

De repente, o inesperado aconteceu.
Um estampido seco ecoou na noite escura, seguido de um ruído de corpos se chocando, mas nenhum vidro se estilhaçou.
A seu lado, Suzane soltou um grito agudo e desprendeu a mão, abrindo a porta do carro e saltando rapidamente.
Foi quando Graziela abriu os olhos e olhou para fora, onde dois homens lutavam pela posse da arma.
Desceu aturdida, sem reconhecer o seu salvador.
Algumas pessoas surgiram nas janelas, e alguém deve ter ligado para a polícia, porque uma sirene se fez ouvir à distância e foi-se aproximando, até que parou ao lado deles.
Dois policiais saltaram e, armas em punho, fizeram cessar a luta.
Gilson estava de pé, trémulo e ofegante, fitando Graziela e Suzane com olhos húmidos.
A seus pés, sentado na calçada, o rosto oculto pelas mãos cobertas de luvas e de vergonha, Renato chorava e balançava a cabeça, em desalento.
A polícia havia lhe tirado a arma das mãos, e ele agora era erguido por um dos guardas.
Disposto a contar tudo a Graziela, Gilson foi à sua casa.
Como sabia que ela e Suzane haviam ido à casa de Amélia encontrar-se com Beatriz, esperou dentro do carro.
Não viu a chegada de Renato nem poderia imaginar que ele estivesse oculto do outro lado da rua, atrás de um quiosque fechado, também à espera de Graziela.
Foi só quando o viu aproximar-se do carro com o revólver em punho que percebeu suas intenções.
Renato, por sua vez, também ignorava a presença de Gilson.
Fora até ali pronto para acabar com aquela ameaça de uma vez por todas.
Ficara à espreita atrás do quiosque e, quando o carro de Graziela despontou, partiu em sua direcção disposto a atirar.
Só não lhe passou pela cabeça que Gilson estaria ali e que o impediria de levar adiante seu plano.
Como ninguém sabia ao certo o que havia acontecido, Gilson e Renato foram presos.
Na delegacia, Graziela contou o ocorrido:
parara o carro no portão da garagem quando Renato surgiu com uma arma, até que Gilson apareceu de repente e o impediu de atirar, tendo o tiro sido disparado para o alto, sem ferir ninguém.
Mal o dia havia amanhecido quando o telefone tocou na casa de Carminha.
Ela mesma atendeu, quase desmaiando com a notícia.
― Quem era? - indagou Beatriz, notando a lividez que se espalhava pelo rosto da mãe.
― A polícia. Seu pai está preso.
― Papai está preso? Por quê?
― Parece que tentou matar alguém.
― Meu Deus! - exclamou Beatriz mortificada, levando a mão à boca em sinal de horror.
― Precisamos ir à delegacia.
Naquele momento, Nícolas surgiu vindo do quarto, os olhos lacrimejantes de sono.
― O que foi que houve? - o indagou, entre bocejos.
Vocês fizeram uma barulheira danada a noite toda.
― Nada, querido - tranquilizou Carminha.
Perdoe-nos pelo barulho.
Pode voltar a dormir.
Mamãe e Beatriz vão precisar sair agora, mas Rosalinda vai ficar aqui cuidando de você.
Apesar da ansiedade, Carminha conduziu-o de volta ao quarto e foi chamar a empregada, avisando-a de que precisaria sair e dando-lhe ordens para que não descuidasse do menino.
Quando chegaram à delegacia, Vítor já estava lá.
Gilson telefonara para ele, e o rapaz foi ao seu encontro prontamente.
Olheiras profundas circundavam seus olhos, numa clara demonstração de que não havia dormido.
― O que foi que houve? - indagou Beatriz, preocupada com o aspecto visivelmente esgotado do namorado.
― Também não sei.
Vítor olhou discretamente para Carminha, que desviou os olhos, procurando o marido.
Em seguida, Gilson apareceu e foi ao encontro dos três, que o fitavam com ansiedade.
― Está tudo bem, pai? - perguntou Vítor.
Gilson balançou a cabeça e fitou as moças com ar consternado.
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Mensagem  Ave sem Ninho 3/9/2015, 00:39

― Onde está Renato? - questionou Carminha.
O que foi feito do meu marido?
― Ele está preso - alertou o delegado, que vinha chegando logo atrás de Gilson.
Em flagrante.
― Em flagrante? Por quê?
― Ele tentou matar aquela moça - o delegado apontou para Graziela, e Carminha sentiu uma pontada no coração.
A senhora a conhece?
Sem responder, Carminha partiu em direcção a Graziela, que se mantinha afastada em companhia de Suzane, ambas conversando com quem parecia ser um detective.
― Por que está fazendo isso? - perguntou ela aflita.
Já não lhe basta ter destruído as nossas vidas?
Graziela e Suzane se voltaram ao mesmo tempo, e foi a primeira quem respondeu:
― Eu não fiz nada.
― Mentirosa!
Por que armou essa arapuca para o meu marido?
O que você quer? Vingança?
― Não é nada disso...
― Pois está se vingando da pessoa errada.
Não foi ele quem roubou suas meninas.
Não foi ele quem matou o seu marido...
― Do que está falando, Carminha? Eu...
― Era isso que você queria, não era?
Tirar-nos de seu caminho para poder ficar com a minha filha.
Pois não adianta. Está perdendo o seu tempo.
Beatriz jamais vai se aproximar de você.
― Dona Carminha - interrompeu Suzane —, a senhora não está entendendo.
Graziela não fez nada.
Foi o seu marido quem tentou nos matar.
― Matar? Isso é um absurdo!
Renato nunca mataria ninguém.
― Pois ele tentou.
E, não fosse aquele moço ali...
Só então Suzane reconheceu em Gilson o homem que, meses antes, havia lhe oferecido dinheiro para desaparecer, e compreendeu tudo.
Nunca houvera uma ex-namorada de Leandro, mas sim pessoas dispostas a tudo para ocultar a verdade.
Carminha seguiu a direcção do dedo de Suzane, dando de cara com Gilson, que as fitava paralisado de fascínio.
― Aquele moço ali? - a interrompeu aos berros.
Pois foi aquele moço ali, mocinha, quem matou o seu pai e roubou você dos braços de sua mãe!
Não foi o Renato.
O seu salvador é Gilson Betuel, traficante de bebés e assassino!
Estabeleceu-se uma confusão na delegacia.
Todo mundo gritava ao mesmo tempo.
Carminha, dedo em riste, fazia acusações graves contra Gilson, chamando-o de sequestrador e assassino.
Vítor tentava interceder, mas os gritos furiosos de Carminha impediam que ele se fizesse ouvir, e Beatriz implorava que a mãe se calasse.
Graziela estava quase descontrolada, exigindo explicações a Carminha e Gilson, enquanto Suzane pedia que lhe esclarecessem o que estava acontecendo.
Apenas Gilson não dizia nada, recebendo, passivamente, as acusações que Carminha lhe atirava na face.
A balbúrdia foi tanta que o delegado teve que intervir.
Mandou que todo mundo se calasse e pediu água para Carminha e Graziela, que estavam passando mal, além de recomendar que Beatriz se sentasse um pouco afastada do tumulto.
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Mensagem  Ave sem Ninho 3/9/2015, 00:39

Depois de aquietar todo mundo, o delegado iniciou suas indagações:
― Muito bem.
Que confusão foi essa aqui? - ninguém disse nada.
Agora todos se calam, é? - silêncio.
Ouvi alguém falar em tráfico de bebés e assassinato.
Que história é essa?
Olhava directamente para Carminha, autora das acusações, esperando que ela se manifestasse.
Ela estava apavorada, já arrependida de ter acusado Gilson ali, na delegacia, com medo de que Renato também fosse acusado pelo crime de sequestro.
― Eu... - balbuciou ela ― não foi nada.
Estava confusa, assustada.
Meu marido nunca foi preso.
― Ouvi muito bem a senhora acusar aquele senhor de traficante de bebés e assassino.
Posso saber o que isso significa?
― Nada... - tornou ela, os olhos abaixados, recusando-se a fitar Gilson.
― A senhora me informou que dois crimes foram cometidos, e eu, como delegado, tenho obrigação de investigar.
Ou a senhora me conta direitinho essa história, ou serei obrigado a intimá-la formalmente, sob as penas da lei.
― Intimar-me? Como assim?
― Se a senhora sabe que um crime foi cometido, é seu dever colaborar com a polícia.
Ocultar a verdade, nesse caso, é crime, sabia? - ela não respondeu.
A senhora pode ser presa.
― Perdão, doutor delegado - interrompeu Beatriz aborrecida.
O senhor está intimidando minha mãe.
― Tem razão - concordou ele, recostando-se na cadeira.
É melhor fazer uma intimação formal, inclusive com a advertência do crime.
― Espere um momento - falou Gilson.
Não será necessário pressionar nem acusar ninguém.
Dona Carmem está certa, e sou eu quem deve colaborar, uma vez que sou o autor dos crimes.
― O quê?! - espantou-se Vítor, levantando-se de um salto.
― Tenha calma, meu filho.
Eu deveria saber que isso ainda iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
― Acontecer o que, pai?
Do que é que você está falando?
O delegado os fitava com curiosidade e expectativa, e os demais, com surpresa e medo.
Gilson alisou a ponta da camisa e, quando tornou a falar, havia um brilho de lágrimas em seus olhos:
― Muito bem, doutor delegado, estou disposto a contar tudo.
Mas recuso-me a fazê-lo diante de todas essas pessoas.
Quero conversar com o senhor a sós e requeiro apenas a presença do meu filho.
― Muito bem - concordou o delegado.
Vamos conversar na minha sala.
Os outros estão dispensados.
Se precisar, mandarei intimá-los.
― Quero ficar - anunciou Beatriz, postando-se ao lado de Vítor.
― Nem pensar! - objectou o rapaz.
Você já abusou, Bia.
Vá para casa com a sua mãe.
― Vítor tem razão - aprovou Carminha.
Esse ambiente não pode lhe fazer bem.
E depois, o que esse senhor tem para conversar não lhe diz respeito.
No entanto, quero antes ver meu marido.
Não saio daqui sem falar com ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho 3/9/2015, 00:40

― Muito bem - o delegado fez sinal para um funcionário, que se aproximou prontamente.
Traga o doutor Renato para conversar com as senhoras.
E, virando-se para elas, acrescentou:
― Podem acompanhá-lo, por favor.
A muito custo, Carminha conseguiu levar Beatriz dali.
Foi com ela para outra sala, onde Renato seria levado para vê-las, enquanto Graziela e Suzane iam para casa.
Vítor e Gilson acompanharam o delegado até sua sala, onde se iniciou a narrativa.
― O que eu fiz, ninguém nunca soube - começou Gilson a dizer.
E não me orgulho nem um pouco de ter feito.
O olhar temeroso de Vítor era o que mais lhe doía, mas não tinha mais jeito.
Tudo se havia revelado, e Carminha pusera-o numa situação difícil.
O delegado, sabendo que dois crimes haviam sido cometidos, não o deixaria sair impune sem antes averiguar tudo o que havia ocorrido.
Para Vítor, a ansiedade era um suplício.
Ouvira a história sem saber em que acreditar.
Achava difícil que o pai estivesse envolvido em algo tão sórdido, mas a reacção dele o deixava em dúvida.
E agora, ele estava disposto a falar, e isso dava a Vítor a certeza de que a mãe da namorada não estava mentindo.
― O que foi que o senhor fez, doutor Gilson? - incentivou o delegado.
Gilson olhou para Vítor com olhos cada vez mais húmidos.
Encheu-se de coragem e iniciou:
― Há muito tempo... Vítor ainda não era nascido.
Minha mulher e eu estávamos passando por dificuldades financeiras...
Contou tudo, sem omitir nenhum detalhe.
Nem sabia informar quantas crianças haviam vendido, todas com aquiescência da mãe, que as trocavam por um punhado de dinheiro, geralmente uma quantia irrisória para eles, mas incalculável para as miseráveis.
Algo em torno de R$1.000,00, em valores actuais, para cada uma.
Vítor ouvia tudo em silêncio, e apenas as lágrimas davam o testemunho de sua dor.
Uma onda de decepção e revolta foi invadindo o coração do rapaz, que precisou se conter para não irromper num pranto atormentado nem agredir o pai com murros de indignação.
Ao chegar à parte da transacção envolvendo Graziela e as filhas, Gilson fez uma pausa.
Não queria fazer parecer que estava tentando tirar o corpo fora, mas também não iria assumir um crime que não cometera.
Até ali, nunca havia matado ninguém.
Sequer estivera presente quando as meninas foram roubadas.
― Posso provar que não estava lá - concluiu ele.
Eu estava internado, havia tido um enfarte.
Basta procurar a ficha no hospital, que ainda existe.
O delegado ficou extremamente confuso.
Jamais ouvira uma história tão fascinante, contada tão espontaneamente por um de seus principais autores.
E, acima de tudo, nunca vira uma coincidência tão fantástica, que reunia ali, de forma aparentemente casual, todos os personagens envolvidos naquele drama.
Levantou-se, coçando o queixo, e encarou Gilson.
― Isso foi há tanto tempo - disse ele.
Por que resolveu contar-me tudo agora, quando ninguém mais sabia do ocorrido?
― O senhor ouviu dona Carmem gritar acusações contra mim - justificou-o.
E o senhor mesmo ficou desconfiado.
― É, fiquei. Só não imaginava uma coisa dessas, e tão antiga.
Se for como o senhor me contou, terei que instaurar um inquérito policial.
O assassinato do cidadão, Roberval, não é? - Gilson aquiesceu.
Esse já era. Prescreveu.
Seu companheiro vai sair impune desse crime.
Mas agora, a venda dos bebés... na época, era sequestro.
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