LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:47 pm

CAPÍTULO 22

A convivência entre Graziela e Carminha foi ficando cada vez mais difícil.
Renato ainda tentava ocultar os factos da mulher e reforçou a ideia de que elas não deveriam mais se encontrar.
Graziela lhe telefonava algumas vezes, mas ela sempre inventava uma desculpa para não atender.
Carminha nunca mais compareceu à casa de Amélia e passou a evitar o convívio social.
― Você não deve agir dessa forma - protestou Renato.
Está exagerando. As pessoas vão desconfiar.
― De quê?
De que Beatriz não é realmente nossa filha?
― Não diga isso!
As crianças ainda vão acabar ouvindo você, e aí, tudo estará perdido.
― Oh! Renato, faça alguma coisa.
Não deixe essa mulher estragar a nossa felicidade.
― Não me pressione, Carminha!
O que posso fazer?
― Não sei, não sei!
O jantar foi servido, e os dois foram para a sala, onde os filhos já os aguardavam ao redor da mesa.
― Boa-noite - cumprimentou o pai, tentando parecer natural.
― Oi - responderam os dois em uníssono.
Renato e Carminha sentaram-se para comer, e a mulher ficou olhando para os filhos com os olhos marejados.
Se a história de Beatriz viesse à tona, ela se veria forçada a contar a verdade aos dois, e como é que eles reagiriam ao saber que não eram seus filhos legítimos?
― Está se sentindo bem, mãe? - perguntou Beatriz, notando o brilho em seu olhar.
― Estou - respondeu ela, tentando se recompor.
― Você tem andado estranha ultimamente.
Está acontecendo alguma coisa que eu não saiba?
― Não está acontecendo nada - objectou Renato.
Sua mãe tem trabalhado demais e precisa descansar.
― Não sei. Mamãe anda esquisita.
Quase não sai, parece estar sempre em sobressalto.
― É - concordou Nícolas.
Nem Graziela tem vindo mais aqui.
Renato e Carminha se entreolharam assustados, enquanto Beatriz respondia baixinho:
― Graças a Deus.
― Por que você não liga para ela? - sugeriu Nícolas inocentemente.
Vocês podiam ir ao cinema.
― Graziela tem andado ocupada - explicou Carminha.
Por isso não tem vindo nos visitar.
― Ocupada tentando roubar o marido de alguém? - perguntou Beatriz ironicamente.
― Graziela não precisa disso - defendeu Nícolas.
― Como é que você sabe?
― Muito bem, agora chega de falar de Graziela - censurou Renato.
Terminem de jantar que é melhor.
― O que foi que ela lhe fez, mãe? - insistiu Beatriz.
Não gosto dela, mas você gostava.
Por que, de repente, pararam de se ver?
― Como disse seu pai, ela anda ocupada.
― Será que você finalmente abriu os olhos e percebeu que ela estava dando em cima do papai?
― Chega dessa conversa, Beatriz! - ralhou Renato.
Vamos jantar em paz e deixar Graziela de lado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:48 pm

Ninguém mais insistiu, mas Beatriz ficou profundamente desconfiada.
A repentina mudança de atitude da mãe era muito estranha.
Como, porém, não gostava de Graziela, preferiu não questionar mais e torceu para que ela e a mãe tivessem brigado e não voltassem mais a se falar.
Carminha não conseguia pensar em nada além dos filhos, em especial, Beatriz.
Lembrava-se do quanto desejara ser mãe e da frustração de seus sonhos quando descobriu que tinha problemas para engravidar.
Sentiu-se desesperar, chegou mesmo a adoecer.
Na época, Renato ficou transtornado, apavorado ante a possibilidade de perder a mulher.
A ideia da adopção partiu dela, mas ele não concordou a princípio.
Queria filhos gerados por eles, para que pudesse ter aquela sensação de que seriam partes deles próprios.
Mas não foi possível.
O desespero de Carminha chegou a tal ponto que ele acabou reconsiderando, lutando desesperadamente para evitar que a esposa sofresse ou que definhasse até morrer.
As filas de adopção, contudo, eram imensas, e ela não podia mais esperar.
A cada dia, foi ficando mais e mais acabrunhada e deprimida e Renato foi obrigado a levá-la ao psiquiatra.
O médico tudo fez para ajudar Carminha, mas a única ajuda realmente eficaz seria a adopção.
Carminha queria ter filhos e fizera desse desejo tudo em sua vida.
Foi quando o cunhado colocou Renato em contacto com o pessoal do tráfico de bebés.
Após várias reuniões, ficou tudo acertado.
A adopção não seria legal, mas Carminha se consolava dizendo a si mesma que estaria fazendo um bem a alguém, livrando uma jovem mulher de um fardo pesado e dando uma vida melhor a uma criança inicialmente sem futuro.
Tudo ficou acertado, e Renato foi buscar a criança recém-nascida.
Eles não sabiam se seria menino ou menina, mas não se importavam.
Só o que ela queria era ter um bebé em seus braços e dar-lhe todo o amor que vinha guardando para ele.
Renato foi sozinho, e ela ficou aguardando ansiosamente.
Quando, dias depois, ele surgiu com Beatriz em seus braços, ela se sentiu a mulher mais feliz e completa do mundo.
Anos depois, começaram a pensar em nova adopção.
Beatriz já estava ficando crescidinha, e a casa começava a parecer vazia sem a algazarra dos pequenos.
Dessa vez, a sugestão partiu de Renato.
Queria um filho para dar continuidade a seu nome, e ela sorriu animada.
Quanto mais crianças tivesse, melhor.
Nícolas foi adoptado pelas vias legais, excepto pelo facto de que Renato havia comprado meia dúzia de funcionários para conseguir passar a frente de outros casais na fila de adopção.
Embora ela não concordasse com isso, a chegada do bebé fez com que relevasse aquele pequeno deslize.
O amor dos filhos valia qualquer sacrifício.
Por tudo isso, não podia permitir que uma estranha viesse agora estragar a sua felicidade.
Queria se livrar de Graziela, mas não via como.
Não podia nem suborná-la, porque ela era muito rica.
Talvez, se lhe sugerisse uma adopção, ela sossegasse e aceitasse uma criança pequenina para criar desde cedo.
Graziela, contudo, deixara claro que não era a favor de adopção, e ela agora compreendia o porquê.
― Olhe lá o que o urso está fazendo! - a voz de Nícolas surgiu límpida em seus ouvidos, trazendo-a de volta ao presente e àquela realidade de mãe que não poderia mais abandonar.
Era sábado, e ela havia levado o filho e um amiguinho ao zoológico, já que Renato estava viajando a negócios.
Os meninos se divertiam vendo o urso de óculos nadando em sua jaula a céu aberto, e ela sorriu e deu um abraço apertado no filho, só o soltando quando ele reclamou.
― Vamos ver os felinos - sugeriu o amigo.
E a girafa.
Seguiram para a jaula dos felinos, após visitarem a girafa, as zebras e o elefante.
Já estavam no final do passeio, e Carminha não via a hora de terminarem para se sentar à sombra e beber um refresco.
As jaulas dos felinos eram as mais concorridas.
Várias pessoas se aglomeravam para ver a pantera negra, que caminhava de um lado a outro, nervosa, aparentemente esperando o almoço que devia estar demorando a chegar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:48 pm

― Ela deve estar pensando que nós somos o almoço - disse uma voz bem-humorada ao lado deles.
Carminha mantinha a atenção presa no animal e falava com Nícolas e o amigo:
― Ela está realmente nervosa, vocês não acham?
Olha para nós como se quisesse nos devorar.
Nícolas deixara de prestar atenção.
Olhava tão fixamente para a moça ao lado deles, que o rapaz que a acompanhava, provavelmente seu namorado, disse em tom de gracejo:
― Está paquerando a minha garota, rapazinho?
Nícolas ficou sem jeito.
É lógico que o rapaz estava brincando, mas ele ficou envergonhado por ter sido surpreendido olhando fixamente para a moça.
― Não é isso, não.
É que ela se parece tanto com a minha irmã...
Carminha só ouviu a última frase.
Virou-se bruscamente para o lado e deu de cara com o sorriso familiar de Beatriz.
Quase desmaiou. Não era Beatriz.
Era uma moça igualzinha a ela.
O mesmo rosto, a mesma boca, o mesmo nariz, a mesma estatura e os inconfundíveis olhos castanhos riscados de um verde escuro e brilhante...
Só os cabelos e a silhueta eram diferentes.
Aquela moça era mais magra e usava os cabelos negros e mais curtos, do mesmo tom dos de Beatriz antes que ela começasse a pintá-los e fazer mechas.
Foi preciso se segurar para não cair.
Carminha sentiu o estômago revirar e a vista fraquejar.
As pernas foram amolecendo, e seu corpo escorregou até quase tocar o chão.
Só não caiu porque os braços fortes do rapaz a ampararam.
― A senhora está bem? - perguntou Leandro, o semblante carregado de preocupação.
― Estou... ― balbuciou ela, lutando consigo mesma para se recompor.
― Deve ser o calor - ponderou Suzane.
O sol está muito forte.
― Eu disse a ela para colocar um boné - comentou Nícolas.
Mas ela não quis.
― Quer que eu vá comprar alguma coisa? - indagou Suzane.
Uma água, um refrigerante?
― Pode deixar que eu vou - falou Leandro.
Fique aqui com ela, que eu já volto.
― Não acha melhor irmos todos? - prosseguiu Suzane.
Aqui não tem lugar para sentar, e acho que ela devia descansar um pouco.
Carminha não conseguia dizer nada, mas ouviu a vozinha inocente do filho:
― Impressionante!
Até na voz você se parece com Beatriz.
Não parece, Pedro?
O amiguinho olhou para Suzane de cima a baixo e concordou:
― Parece, sim.
É uma gata feito ela.
― Hei! - zangou Nícolas.
Mais respeito com a minha irmã!
Leandro e Suzane se divertiam com a ingenuidade dos meninos, mas Carminha ficava cada vez mais estarrecida.
Aquela moça era, sem dúvida, a irmã gémea de Beatriz, e os garotos, embora não soubessem disso, reconheciam a semelhança, o que poderia ser extremamente comprometedor.
Era preciso fazer alguma coisa, tomar alguma providência.
Mas o que fazer para silenciar duas crianças?
― Não precisam se incomodar - Carminha conseguiu, finalmente, dizer.
Eu estou bem. Foi só um mal-estar passageiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:48 pm

― A senhora está pálida - observou Suzane.
Tem certeza de que não quer nada?
Uma água de coco? É bom para evitar desidratação.
― Engraçado... - disse Leandro.
A senhora também não me é estranha...
Ah! Já sei. A senhora é amiga de minha mãe.
― Sua mãe? - repetiu ela atónita.
― Sim. Amélia Souto Bastos.
A senhora não é a dona Carmem?
― Sou...
― Quanta coincidência, hein? - tornou Nícolas, sem desconfiar de nada.
Sua namorada é a cara da minha irmã, e você conhece a minha mãe, que é amiga da sua.
Parece até coisa de novela.
Aquilo não parecia cena de novela, mas de algum filme de terror de muito mau gosto.
Carminha estava apavorada, louca para sair correndo dali carregando seu filho.
Não queria envolver-se com aquela moça e tinha até medo de olhar para ela.
Era como se o reflexo de Beatriz de repente houvesse ganhado alento e saído do espelho com vida própria.
― Sabem que um amigo meu também falou que me viu outro dia? - lembrou Suzane despreocupadamente.
Não era eu, é claro.
Ele deve ter-me confundido com a sua filha.
― Com a minha filha, nunca!
Ela não se parece com ninguém.
― Nossa, mãe, o que deu em você?
Por que ficou tão brava de repente?
Só porque ela é parecida com a Bia?
― Ela não é parecida com a Beatriz, meu filho - objectou Carminha, agora conseguindo se reequilibrar.
― Como não, tia Carminha? - contrapôs Pedro.
É a cara dela!
― Vamos deixar isso para lá, crianças.
Vamos continuar nosso passeio e ir embora.
Já está ficando tarde.
A pantera se havia acalmado, entretida em devorar um imenso pedaço de carne que alguém havia atirado na jaula.
― Que pena - lamentou Nícolas.
Não vimos quando colocaram a comida na jaula.
― Vamos deixá-la comer sossegada.
― Depois do almoço elas se aquietam - comentou Leandro.
― Ficam moles e vão dormir.
― Então, vamos terminar de olhar tudo e vamos embora - decidiu Carminha.
Estou ficando cansada, e vocês já pegaram muito sol também.
― A senhora melhorou? - indagou Suzane.
Carminha evitava olhar para ela, mas respondeu polidamente, fitando um tigre do outro lado:
― Estou melhor, obrigada.
Agradeço a preocupação e a atenção de vocês, mas agora precisamos ir.
Já está ficando tarde.
Despediram-se e foram terminar de ver os felinos, enquanto Leandro e Suzane seguiam em outra direcção.
Graças a Deus que eles haviam começado por caminhos opostos, se não ela se veria obrigada a seguir em companhia daquela moça.
― Que coisa estranha, não é, Leandro? - disse Suzane assim que se afastaram.
Aquele garotinho me achar parecida com a irmã dele.
― Isso acontece.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 26, 2015 7:48 pm

― Mas um amigo meu falou que me viu outro dia.
Até brincou comigo, perguntando por que eu estava de peruca.
Deve ter sido a filha dela.
― É possível. E o mais engraçado é que você não tem um rosto comum.
Só esses olhos são diferentes de tudo o que já vi.
Enfim... - ele deu de ombros e apanhou a mão dela, continuando a caminhar.
Mais tarde, Leandro deixou Suzane em casa e voltou para a sua.
O episódio do zoológico tinha ficado em sua cabeça, e ele se pegou curioso para conhecer a sósia da namorada.
Sim, porque só podia ser um surpreendente caso de sósias, desses que só se vê nos filmes de Hitchcock.
Estava entrando com o carro na garagem quando a mãe chegou também.
Estacionaram lado a lado, e Leandro ajudou Amélia a carregar as bolsas de compras para dentro.
Levou tudo para o quarto da mãe e colocou em cima da poltrona que ficava embaixo da janela.
― Ufa! - exclamou ela. ― Estou exausta!
― Mãe, queria lhe fazer uma pergunta ― falou Leandro, enquanto ela se encaminhava para o banheiro e ligava o chuveiro.
― Sim? O que é?
― No outro dia, você me disse que achou a filha de dona Carminha parecidíssima com Suzane. Não foi?
― Foi. Uma coincidência e tanto.
As duas são igualzinhas.
Tirando a silhueta e o cabelo, o resto é idêntico.
― Suzane e eu fomos ao zoológico hoje.
E sabe quem encontramos? - ela meneou a cabeça.
Dona Carminha. Estava com o filho e outro garotinho.
― Suzane estava com você?
― É claro. E o filho de dona Carminha ficou espantadíssimo, dizendo que Suzane era a cara da irmã dele.
― Carminha também viu Suzane?
― Viu, mas não reconheceu a semelhança. Como pode?
― Considero isso impossível.
A semelhança entre as duas é surpreendente e inegável.
― Queria conhecer essa moça, filha de dona Carminha.
― Beatriz esteve aqui outro dia mesmo.
Pena que você não a viu.
― Mãe, se lhe contar uma coisa, você jura guardar segredo?
― Juro ― falou Amélia, aproximando-se do filho coberta de curiosidade.
― Você sabia que Suzane foi adoptada?
― Foi?
― Foi. Ela me contou.
E você nem imagina em que circunstâncias ela descobriu.
― Como assim?
Brevemente, Leandro contou à Amélia sobre o tio de Suzane, e ela ficou abismada.
― Mas esse Cosme é um canalha!
― Sim, é. Mas o pior, para mim, é a adopção.
― Bom, ser adoptado não é nenhum fim de mundo.
― Não. Mas eu me pergunto:
e se Suzane tinha uma irmã gémea?
E se elas foram separadas ao nascer?
E se essa irmã for Beatriz?
― Isso é loucura.
E, que eu saiba, os filhos de Carminha não são adoptados.
― Ela pode nunca ter-lhe contado.
Ou então, dona Carminha pode ter tido gémeas e ficado apenas com uma das meninas, dando a outra para adopção.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:35 am

― Carminha jamais faria uma coisa dessas. Imagine!
Se ela tivesse tido gémeas, teria criado as duas, você não acha?
― Ou Suzane pode ter sido roubada na maternidade.
Ou foi a própria Carminha que roubou Beatriz...
― Ou ela pode ser um clone da outra - ironizou Amélia.
Ouça, Leandro, você está indo longe demais.
Isso já é imaginação.
― Pode ser. Mas que tem alguma coisa estranha nessa história, tem.
Você precisava ver a reacção de dona Carminha ao dar de cara com Suzane.
Ela quase desmaiou e negou terminantemente a semelhança entre as duas, quando o próprio filho ficou espantado.
Não é estranho?
― As pessoas são estranhas mesmo.
O que não quer dizer que a sua história seja verdadeira.
― Pode ser.
― O que Suzane disse?
― Nada. Ficou surpresa, ainda mais porque um amigo dela também já a confundiu com outra garota.
Não poderia ser a filha de dona Carminha?
― Provavelmente...
― Embora adoptada, Suzane não pensou na possibilidade de a outra ser sua irmã.
Acho que ela nem imagina que possa ter tido uma irmã gémea.
― Você fala como se fosse certo que ela tem.
― Não sei...
Mas estou com a pulga atrás da orelha.
Fiquei desconfiado.
Essas coisas acontecem, você sabe.
― O que você pretende fazer?
― Descobrir. Deve haver algum jeito de ver a outra menina.
Você podia me dar o endereço de dona Carminha, para que eu veja Beatriz pessoalmente e tire logo essa história a limpo.
― Ah! É? E fazer o que?
Dizer-lhe que ela tem uma irmã gémea de quem nunca ouviu falar?
Olhe, meu filho, acho que você está exagerando.
Se Suzane é mesmo irmã de Beatriz, seria uma coincidência extraordinária que elas estivessem vivendo justo aqui, no Rio de Janeiro, e tão próximas uma da outra. Isso é impossível.
― Não é. Já que o mundo é finito, as possibilidades de encontro entre as pessoas também o são.
Pode até ser improvável que elas se encontrem, mas não é impossível.
― Eu sei. Mas acho difícil...
― Difícil não é impossível.
Pense bem, mãe. Elas são igualzinhas.
Como se explica tamanha semelhança, até na voz?
― É, concordo que é esquisito.
E se isso for verdade, vai ser uma bomba para as duas.
Aliás, para as três.
Carminha não vai aceitar.
― Eu vou descobrir.
― Você comentou alguma coisa com Suzane?
― Não. Sei que ela gostaria de encontrar os pais verdadeiros, mas não quero que ela se iluda com uma fantasia.
É preciso, primeiro, ter certeza.
― Muito sábio, meu filho.
Deixe para falar com Suzane depois que você descobrir.
Se elas são gémeas, conte tudo.
Se não, não precisa falar nada, e ela nunca ficará sabendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:35 am

CAPÍTULO 23

Renato encontrou Carminha andando de um lado a outro no quarto, as lágrimas escorrendo, abundantes, de seus olhos.
Fora obrigado a cancelar a viagem de negócios por causa do telefonema que ela lhe dera, dizendo que era urgente e que tudo estava perdido.
Precisou instruir seu assessor às pressas sobre os detalhes e apresentar uma desculpa convincente para voltar.
― Mas o que foi que houve? - indagou aflito, vendo o estado deplorável em que a mulher se encontrava.
― Eu a vi, Renato, eu a vi! - desabafou ela, encarando-o com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
― Você viu quem?
― A gémea de Beatriz.
― Carminha... Isso é impossível.
― Não é! Eu a vi.
Ela é um pouco mais magra e tem os cabelos cortados à Chanel e negros, da cor original dos de Beatriz.
― Você deve ter-se enganado.
O medo e a preocupação pregam peças na imaginação.
― Não foi imaginação!
Nícolas também a viu, e Pedro, o amigo dele.
― Nícolas a viu?
― E falou com ela!
Não venha tentar me convencer de que eu não vi a moça, porque conheço bem o rosto da minha filha.
E aquele era o rosto de Beatriz!
Não adiantava mais tentar convencer Carminha de que Beatriz não tinha uma irmã gémea.
Negar o óbvio era bobagem.
Embora ele achasse que havia coincidências demais naquela história, os factos apontavam para o improvável e, por uma ironia mordaz do destino, a menina gémea, sem saber, entrelaçara sua vida à deles, levando-lhes uma ameaça visível e extremamente perigosa.
― Conte-me o que aconteceu - pediu ele, sem poder esconder a consternação.
Carminha contou em minúcias o que se havia passado no jardim zoológico e Renato afundou o rosto entre as mãos, sua cabeça tentando ordenar os pensamentos de forma a lhes dar coerência.
― Você ainda vai negar que Beatriz tem uma irmã gémea?
Ele ergueu a cabeça, com os olhos cheios de dor, e retrucou vencido:
― Não posso mais.
O inevitável aconteceu.
― Você sabia, não é mesmo?
O tempo todo soube que havia duas meninas.
Por que não me disse nada?
― Não achei que fosse necessário.
Queria evitar-lhe preocupações.
― Como foi que isso aconteceu, Renato?
Como você pôde permitir separar as gémeas?
Então não sabia que isso ainda podia acabar acontecendo?
― O que você queria que eu fizesse?
Eu bem que tentei ficar com as duas, mas o pessoal da adopção não permitiu.
― Como você ficou sabendo das duas?
Chegou a ver a outra?
― Não... Mas ouvi um comentário da mulher que me entregou Beatriz.
Carminha quase quebrou os dedos de tanto apertá-los, até que tornou com angústia:
― E agora, Renato, o que vamos fazer?
― Não sei. Estamos em uma situação difícil.
Não vai levar muito tempo para Graziela descobrir a verdade.
Assim que ela souber que há duas meninas idênticas circulando pela cidade, vai desconfiar e apurar os factos.
― Porque você foi deixar isso acontecer? - explodiu ela, partindo para cima de Renato e socando-lhe o peito.
Porquê? Por quê, meu Deus, porquê?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:35 am

Carminha desabou num pranto desesperado, e Renato aparava os seus golpes, até que a abraçou e tentou sustentar o seu corpo sacudido pelos soluços.
― Não se desespere, Carminha.
Daremos um jeito.
― Vou perder os meus filhos...
― Não vai.
Prometo que não vou deixar isso acontecer.
― O que você vai fazer?
― O que for preciso para proteger a nossa família.
Renato coçou o queixo e considerou:
― Ainda tem aquela mulher...
― O que faremos a respeito dela também?
― Estive pensando.
Não podemos comprar Graziela, porque ela é rica e está doida atrás das filhas.
Mas a outra moça pode estar precisando de dinheiro.
Podemos oferecer-lhe uma boa quantia para ela sumir e nunca mais aparecer.
― E se ela não aceitar?
Renato a fitou com aflição e respondeu lacónico:
― Vai ter que aceitar.
Pouco depois, Renato encontrou-se com Gilson no restaurante de sempre.
Estava transtornado e foi directo ao assunto, assim que o garçom se afastou com os pedidos:
― O que você fez com a outra menina?
― Como assim?
― Você disse que vendeu a gémea para um casal alemão.
Isso é verdade?
Gilson não aguentava mais a pressão, e não adiantava mais fingir que a outra não existia.
Por isso, encarou Renato de forma incisiva e respondeu friamente:
― Não.
A sinceridade directa pegou Renato de surpresa, e um choque percorreu todo o seu corpo.
― Não é verdade? - constatou estarrecido.
E onde ela está?
― Pelo visto, aqui no Rio.
Renato o fitou boquiaberto e retrucou:
― Você sabia?
Sabia que ela está aqui?
― Tenho minhas desconfianças.
Eu a vi no Barra shopping uma vez, e Vítor encontrou-a na praia.
― Por que não me disse nada? - enfureceu-se Renato.
― Porque não achei necessário.
Não até ter certeza.
― E você tem?
― Já disse que desconfio, mas ainda não pude comprovar.
― Pois eu não desconfio.
Estou certo! Carminha a viu, e Nícolas também.
― Onde?
― No zoológico. Estava com o namorado.
― Você o conhece?
― Carminha disse que é filho de Amélia Souto Bastos. Conhece-a?
― De nome.
― Agora, mais do que nunca, precisamos separar nossos filhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:35 am

Gilson não disse nada, e Renato estendeu-lhe um papelzinho dobrado, que o outro pegou e leu.
― O que é isso?
― O endereço de Amélia.
Vai poder encontrar a gémea ali.
― Para que você acha que eu quero encontrar essa moça?
― Você vai oferecer-lhe dinheiro.
― Para que?
― O que você acha?
Para ela sumir das nossas vidas e nunca mais aparecer.
― E se ela não aceitar?
― Cuide para que aceite.
― Por que não faz isso você mesmo?
― Porque não fui eu que deixou uma gémea de Beatriz solta por aí.
― Não tenho culpa de a mulher ter engravidado de dois.
― Se você sabia que a mulher estava grávida de gémeos, não podia ter oferecido a criança à outra pessoa.
Então não viu que isso ainda ia acabar mal?
Que o mundo é pequeno e dá muitas voltas?
― Não tive escolha...
― Ninguém o obrigou.
Aposto que foi a sua ganância que o fez vender a menina a outro casal.
― Isso agora não vem ao caso.
O que precisamos é resolver essa questão.
― Você é que tem que resolver.
O que nós fizemos no passado foi crime.
Eu posso me safar, mas você...
É você o traficante de bebés, não eu.
E além disso, um homem morreu....
E ninguém pode me acusar de nada.
― O crime já prescreveu, Renato.
Aconteceu há mais de vinte anos.
Ninguém mais pode ser acusado pelo homicídio.
Renato tamborilou na mesa do restaurante a que estavam sentados e retrucou:
― E o roubo das crianças?
Também prescreveu?
― Foi sequestro.
Pelo que entendi, o crime continua sendo praticado e só prescreve quando for desfeito.
― Que óptimo - ironizou de mau humor.
Eu só quis adoptar uma criança.
E agora me vejo envolvido num crime que se renova a cada dia.
― Quem escolhe o caminho da adopção segue os trâmites legais.
Você preferiu o caminho do tráfico.
― Está tentando colocar a culpa em mim?
O que fiz foi movido pelo desespero.
Minha mulher estava sofrendo, nós precisávamos desesperadamente de uma criança.
Criamos essa menina com todo amor, demos-lhe tudo.
E você? O que levou com isso? - ele não respondeu.
Dinheiro. Você foi movido pela ganância. Nós, pelo amor.
― Essa discussão não vai levar a lugar nenhum.
E eu não quero mais tomar parte em nenhuma acção ilícita.
― Quanta honestidade!
Desde quando você virou adepto da licitude?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:36 am

Gilson não respondeu, e Renato esbracejou:
― Você precisa encontrar essa moça!
Eu é que não posso mais me envolver nessa história.
― Acho que não vale à pena remexermos nessa sujeira.
Talvez seja melhor deixarmos o destino agir.
― Deixe o destino agir na sua vida, mas não arraste a minha com você - rosnou Renato entre os dentes.
Tenho mulher e filhos, uma vida estável e tranquila, uma reputação a zelar.
Não quero perder o que conquistei ao longo desses anos.
― Estamos lutando contra o inevitável.
As coisas se encaminham para o desvendamento da realidade.
― Você é um tolo, Gilson!
Arrisca-se a perder tudo, inclusive o respeito de seu filho, por causa de um sentimentalismo barato.
Arrependimento agora não leva a nada.
Culpa também não.
― Não fale dos meus sentimentos.
Você não sabe nada sobre eles.
― Sua mulher morreu, e você ficou sozinho com um filho para criar.
Desistiu do negócio porque era um fraco e um covarde.
Pensa que não sei que quem resolvia tudo era sua mulher?
― O que você sabe sobre minha mulher? - exasperou-se ele.
Lorena morreu por sua culpa, por causa do que você fez!
― Não venha agora me acusar pela bebedeira da sua mulher.
Ela morreu porque estava bêbada, cansada de aturar um homem covarde e inútil.
Você não tinha coragem nem para assumir o seu papel de homem da família.
A vontade de Gilson era desferir um murro no queixo de Renato, mas conseguiu se conter, embora um sentimento de raiva desenfreada fosse se instalando dentro dele.
É que, nesse exacto momento, atraída pelos pensamentos dos dois, Lorena se aproximou.
Ao ver Renato, hesitou, mas acabou se aproximando, fuzilando de ódio.
― De que adianta você perturbar Gilson com essas palavras? - gritou ela, os olhos chispando de ódio.
Canalha!
Gilson e Renato mal se despediram, e cada um tomou o seu rumo.
Lorena nem teve dúvidas.
Encheu-se de coragem, engoliu a repulsa e saiu atrás de Renato.
Enquanto ele dirigia, ia pensando em seu passado, sem se aperceber da presença de Lorena sentada no banco ao lado com as pernas pousadas sobre os seus joelhos.
― Você vai ver, idiota - rosnou ela.
Vou acabar com a sua vida.
Lorena cruzou os braços, recostada na porta, e ficou acompanhando os pensamentos de Renato, que retomaram os factos pretéritos como se houvessem acontecido no dia anterior.
A operação não saíra exactamente como esperado, mas, mesmo assim, fora um sucesso.
Leocádia dera o outro bebé para o casal de Brasília, enquanto Lorena entregava a gémea para Renato.
Depois que tiraram as meninas de Barra do Bugres, seguiram directo para seu destino, sem paradas ou desvios.
Em Cuiabá, Leocádia foi para o aeroporto, onde deveria efectuar a entrega da criança e receber o dinheiro.
Sentou-se num banco mais afastado, e logo um homem bem vestido sentou ao seu lado.
Trocaram beijinhos e puseram-se a conversar feito velhos amigos.
Leocádia deixou a bolsa cair aberta no chão, e o homem se abaixou para apanhá-la, enfiando um pacotinho lá dentro sem que ninguém percebesse.
Leocádia pegou a bolsa e remexeu em seu interior, fingindo ajeitar suas coisas, mas, na verdade, contando as cédulas embrulhadas no pacote.
Cinco minutos depois, colocou o bebé no colo dele e entrou no banheiro.
Quando saiu, ele não estava mais lá.
Havia tomado o avião para Brasília.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:36 am

Leocádia, por sua vez, partiu para o Rio de Janeiro, onde aguardaria Lorena para obter novas instruções.
Nesse ínterim, Lorena e Renato seguiam outro rumo.
Ela ficara com o carro, comprado por Leocádia sob uma de suas muitas falsas identidades.
Seguiriam para Campo Grande, e de lá para São Paulo, onde pegariam o avião para o Rio de Janeiro.
― Por que não pegamos o avião aqui mesmo? - questionou Renato.
― Porque Leocádia está no aeroporto com a outra menina.
Não quero me arriscar.
― E se formos parados em alguma blitz?
― Somos casados, e a menina é nossa filha.
Tenho documentos falsos para você e para mim.
Renato não disse nada.
Com certeza, era uma quadrilha muito bem organizada, pronta para qualquer eventualidade.
― Será que já avisaram a polícia? - indagou Renato.
― Não sei.
Mas quem irá contar à polícia o que aconteceu?
Estão todos mortos.
Não era para estarem mortos, mas estão.
― Foi um acidente.
― Ninguém atira num homem pelas costas por acidente.
― Ele ia me impedir de levar as meninas.
― Olhe, não estou com pena do sujeito nem da mulher.
Tampouco estou acusando você por ter livrado o mundo de mais dois caipiras inúteis.
O negócio é que isso pode colocar a polícia atrás de nós, e até hoje, nunca me vi ameaçada pela polícia.
― Você mesma disse que não havia ninguém para contar o que houve.
― Esquece-se de que há dois cadáveres naquela cabana?
É que a polícia não vai demorar para descobrir que a infeliz teve um filho e que ele sumiu?
― Você acha, realmente, que alguém vai dar muita importância ao filho roubado de dois matutos mortos?
― Pode ser que não.
No entanto, é bom não arriscar.
Renato silenciou novamente e prosseguiu dirigindo pela estrada poeirenta.
Alguns carros da patrulha rodoviária cruzaram por eles, mas ninguém os parou.
Em Campo Grande, resolveram se hospedar num hotel.
Lorena trocou a fralda da menina e alimentou-a com a mamadeira que Renato havia trazido.
― Não é perigoso para um bebé recém-nascido viajar tantas horas?
― Não é o ideal, mas não temos escolha. Ou temos?
― Não sei. Você é a profissional - ele fez um gesto de aspas com os dedos ― não eu.
― Se é assim, não devia ter feito nada sem me consultar.
Não o mandei matar ninguém.
― Na hora, você não me pareceu muito aborrecida.
Para surpresa de Renato, Lorena começou a se despir na sua frente, deixando-o embaraçado e sem saber o que dizer.
Calmamente, e sob seu olhar atónito, ela tirou toda a roupa e ligou o chuveiro.
― Preciso de um banho.
Parece que tenho dois quilos a mais só de poeira.
A atitude despreocupada de Lorena deixou Renato confuso e perturbado.
Ela tomava banho de porta aberta, e ele, de onde estava, podia ver o contorno de seu corpo perfeito delineado na cortina do box.
O desejo foi crescendo dentro dele, e Renato tentou desviar os olhos e pensar em Carminha, na aflição que devia estar sentindo com a sua demora.
Olhou a menina adormecida entre os travesseiros e ficou tentando imaginar a alegria da mulher quando recebesse a criança nos braços.
Sua ida a Barra do Bugres não fora propriamente planeada, mas fora obrigado a ir devido a circunstâncias inesperadas.
Gilson, o responsável pela operação, estava preso a uma cama de hospital, vítima de um enfarte, e ele se oferecera para buscar a criança com a mulher dele.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:36 am

A princípio, Gilson fora contra, mas Lorena, que era uma mulher prática e decidida, aceitou prontamente a sua oferta e partiu para a pequenina cidade em companhia de seu mais novo comparsa.
Matar os pais das meninas não era o planeado, e ele se arrependia.
Contudo, não podia permitir que um joão-ninguém roubasse de sua mulher a chance da felicidade.
Lamentava ter que matá-lo, mas não houve jeito.
E quem sentiria falta de dois roceiros ignorantes e desdentados, que só serviam para aumentar ainda mais o número de miseráveis jogados no mundo?
Seus pensamentos foram interrompidos pela saída de Lorena do banheiro.
Ela vinha enrolada numa toalha, os cabelos molhados caídos sobre os ombros morenos.
Sem cerimónia ou constrangimento, parou defronte a um espelho preso na parede e soltou a toalha, pondo-se a enxugar os cabelos.
― Por que não se veste? - o indagou confuso e consumido pelo desejo.
Não fica bem você posar nua na frente de um homem casado.
― Sou casada também.
Mas hoje, nós dois somos marido e mulher.
Ele não resistiu.
Puxou-a para si e beijou-a ardentemente, deitando-a sobre o tapete felpudo que encobria todo o chão.
Com uma quase selvajaria, amaram-se por toda a noite.
Renato estava impressionado com a volúpia daquela mulher, tão diferente de sua doce e meiga Carminha.
Lorena, por sua vez, gostava de experimentar coisas novas, e aquela não era a primeira vez que traía o marido.
Quando terminaram, ambos estavam exaustos e saciados.
Renato nunca havia experimentado sexo daquela maneira com a esposa e Lorena não se satisfazia com o jeito afável e pouco agressivo de Gilson.
Renato, a princípio, se mostrara tímido e recatado, mas, à medida que ela o provocava, ele ia respondendo com uma intensidade ousada e animal.
Na manhã seguinte, seguiram viagem para São Paulo e, no outro dia, estavam no Rio de Janeiro.
Ambos embarcaram e desembarcaram do avião como dois estranhos.
Desde o momento em que deixaram o hotel, em São Paulo, não se falaram mais.
Lorena foi se livrar do carro e Renato pegou o avião sozinho com o bebé.
A seu lado, sentou-se uma senhora de cara gorda que ficou fazendo gracinhas para o bebé, que sequer tomava conhecimento de sua existência.
Apesar de irritado, Renato não disse nada, e foi à mulher quem perguntou:
― Tão novinho! Onde está a mãe?
― A mãe morreu - retrucou-o de mau humor, fazendo silenciar a mulher.
Carminha o esperava no aeroporto, e a primeira coisa que fez foi tomar a criança dos braços do marido.
Por telefone, ele havia lhe dito que tudo correra bem e que em breve estaria em casa com a sua filha.
Ela mal conseguia se conter.
Já estava tudo pronto para a chegada do bebé na nova casa.
Renato e Carminha haviam comprado uma casa num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, bem defronte ao mar, e iriam se mudar para lá assim que a criança chegasse.
Venderam o apartamento em que moravam, na Praia do Flamengo, e partiram para o novo bairro, onde ninguém os conhecia.
Ela podia tirar a barriga postiça que passara a usar para fingir-se de grávida e justificar, sem levantar suspeitas, a chegada do bebé.
Lorena também desceu do avião e passou por eles sem lhes prestar atenção e Renato fingiu que não a vira.
Ela tomou um táxi e foi directo para casa, ainda se lembrando dos momentos de prazer que vivera ao lado de Renato.
Ao chegar, foi ver como estava o pequeno Vítor, tomou um banho e foi ao hospital visitar Gilson, vítima de um enfarto que quase lhe roubara a vida.
Não se passou muito tempo até que Renato voltasse a procurar Lorena.
Marcaram de se encontrar e deram início a um tórrido e apaixonado romance, carregado das mais variadas loucuras sexuais.
Seus encontros eram sempre em motéis afastados, onde se entregavam ao sexo irresponsável, atraindo inúmeras criaturas que se compraziam com a energia liberada no momento do ato sexual.
Tanta volúpia acabou cansando Renato.
Sossegado o fogo da paixão, ele se viu farto de Lorena e desejoso de viver em harmonia com a mulher e a filha recém-nascida.
Voltou-se para a família e o amor que sentia por Carminha, deixando Lorena louca da vida.
Começou a escassear os encontros, até que não a viu mais.
― Preciso falar com você - disse ela ao telefone.
E antes que você diga não, quero avisá-lo de que estou disposta a fazer um escândalo na sua casa e provocar o fim do seu casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:36 am

Renato desligou.
Dali a poucos minutos, encontrava-se com ela em um bar no centro da cidade.
O garçom se aproximou, mas ele o mandou embora com um aceno de mão.
― Muito bem - começou ele.
Primeiramente, quero avisá-la de que não gosto de ameaças nem tenho medo delas.
Segundo, não se esqueça de que, se eu tenho a perder, você tem muito mais do que eu.
Não me importo de ir à polícia e contar o que você faz para viver.
― Você não se atreveria!
― Não? Experimente tentar destruir a minha vida.
― Você matou um homem.
Posso mandá-lo para a cadeia.
― Não tenho medo de ameaças, já disse.
Se eu me ferrar, levo você e seu maridinho banana comigo.
E, com bons advogados, posso muito bem me safar.
Mas você, com todas essas crianças vendidas na clandestinidade, não tem escapatória.
Vai mofar na cadeia.
Por isso, quem lhe dá um aviso sou eu: pense bem no que vai fazer e não se meta comigo ou com a minha família!
Nem esperou resposta.
Levantou-se furioso e saiu feito uma bala, deixando Lorena a remoer um ódio descomunal.
Não fosse o perigo de ser presa, teria ido dali directo ao encontro de Carminha para lhe contar tudo.
Mas ele parecia ter falado sério quando dissera que não tinha medo, e ela não se atreveu.
A única coisa que não poderia suportar era a cadeia.
Dali em diante, o ódio de Lorena por Renato se transformou em repulsa.
Tinha o seu orgulho e não permitiria ser rejeitada novamente.
Em breve, arranjou outro amante e deixou Renato de lado.
Queria, ela também, prosseguir com a sua vida.
Só que o rumo que a vida queria tomar não era aquele por ela pretendido.
Gilson insistia para que parassem com o tráfico de bebés e vivia atormentando-a por causa disso.
As brigas foram aumentando e chegaram a um ponto quase insustentável.
Até o dia em que ele pediu o divórcio e ela, tomada de repentina e incontrolável fúria, causou o acidente fatal que lhe extinguiu a vida física.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:37 am

CAPÍTULO 24

Pelas informações que Amélia dera, Leandro ficou sabendo que Beatriz estudava comunicação social na PUC e foi para lá esperá-la na saída.
A mãe não soubera precisar o horário, de forma que ele não compareceu ao emprego naquele dia e foi postar-se diante da faculdade por volta das onze da manhã, a fim de esperar a saída do primeiro turno.
Aguardou por mais de uma hora.
Por fim, os alunos começaram a sair em grupos, e ele ficou prestando atenção.
Muitas moças olhavam para ele e davam risinhos abafados, fazendo comentários engraçados com as amigas, mas ele não se importava.
Não estava ali para paquerar ninguém, e as garotas não lhe interessavam.
Olhava atentamente para o rosto de cada uma, mas nenhuma se parecia com Suzane.
Alguns instantes depois, avistou quem procurava.
A moça vinha abraçada a um rapaz, provavelmente o namorado, e ele precisou se cuidar para não arranjar confusão.
Contudo, queria falar com ela, certificar-se de que era, realmente, idêntica a Suzane.
Esperou até que eles se aproximassem e correu ao seu encontro, dando um esbarrão propositado nos dois e se deixando cair ao chão.
― Meu Deus! - gritou Beatriz.
O que é isso?
Leandro fez uma careta de dor e apertou o tornozelo.
― Você está bem, cara? - perguntou Vítor, ajudando-o a levantar-se.
― Estou bem - respondeu Leandro, erguendo-se e olhando discretamente para Beatriz.
Desculpem-me o mau jeito.
Estava atrasado para o trabalho, mas esqueci o material na sala e voltei correndo para buscar...
Não vi vocês. Perdoem-me.
― Está tudo bem - consolou Beatriz.
― Você se machucou? - indagou Leandro, fitando-a directamente e estudando seu rosto com atenção.
Ela sentiu o seu olhar perscrutador e respondeu confusa:
― Eu estou bem.
Parece que foi você quem levou a pior.
Ele continuava olhando-a, até que Vítor intercedeu:
― Bom, já que estamos todos bem, acho que vamos andando.
Você não estava atrasado para o trabalho?
― Claro... - balbuciou ele.
Desculpem-me novamente. Até mais.
― Até - respondeu Beatriz.
Para disfarçar, Leandro entrou na faculdade e foi se esconder atrás de uma pilastra, olhando os dois à distância.
― Cada um que aparece... - comentou Beatriz.
― Ele estava paquerando você.
― Ah! Pare com isso, Vítor.
O coitado se esborrachou no chão...
― Estava, sim, mas não me importo.
Isso é que dá namorar a garota mais linda da faculdade.
Beijaram-se e continuaram caminhando até o estacionamento.
Assim que sumiram de vista, Leandro saiu de seu esconderijo e, certificando-se de que eles não estavam mais por perto, entrou em seu carro tomando a direcção de casa.
Precisava dividir aquela descoberta com a mãe.
Quando chegou, Amélia estava ao telefone, e ele pediu que ela desligasse.
Pelo seu nervosismo, a mãe percebeu que devia ser muito importante.
― O que foi que houve? - foi logo perguntando.
― Você nem vai acreditar! - exclamou ele, completamente eufórico.
A tal de Beatriz é mesmo idêntica a Suzane.
― Você a viu?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:37 am

― Fui à faculdade em que ela estuda.
Vi-a saindo com o namorado.
Até falei com ela. A semelhança é incrível.
― Você teve coragem de falar com ela? - ele assentiu.
E o que lhe disse?
― Nada de mais.
Dei um esbarrão neles e inventei uma história.
Mas deu para fixar bem o seu rosto.
É igualzinho ao de Suzane.
Até a voz é parecida.
― Eu não falei?
― É incrível, mãe.
Suzane tem uma irmã gémea e nem sabe disso.
― Espere aí.
Você nem sabe se elas são mesmo irmãs.
― Só podem ser. São gémeas idênticas.
Têm o mesmo rosto, o mesmo nariz, a mesma boca.
E os olhos, então?
Aqueles olhos castanhos riscados de verde musgo não são comuns.
E os olhos de Beatriz são assim mesmo.
Como os de Suzane.
― Mas como é que pode uma coisa dessas?
Será que a filha de Carminha também é adoptada?
Leandro deu de ombros e prosseguiu:
― E será que Carminha sabe que a filha tem uma irmã gémea andando por aí?
― Não creio... ― ela parou de falar e tornou pensativa.
Ou será que sabe?
Carminha tem agido de forma muito estranha ultimamente.
Sem falar que não quis vir ao nosso último encontro e não aceita mais meus convites.
E também mudou com Graziela.
Nem atende mais às suas ligações.
E antes parecia tão interessada na amizade com ela!
― Aí tem coisa, mãe.
Para mim, dona Carminha está escondendo algo.
― É claro que deve estar, se adoptou a filha.
Mas será que desconfia de que há outra?
Se é que há mesmo outra.
― Há. Tenho certeza.
Conheço bem Suzane, e a moça que eu vi hoje bem poderia se passar por ela.
É igualzinha a ela, sem tirar nem pôr.
― O que você pretende fazer?
― Contar tudo a Suzane.
Ela precisa saber.
― Você acha que é prudente?
Quero dizer, Suzane pode fazer alguma besteira.
― Que besteira?
Irromper pela casa de Carminha e exigir o seu lugar na família?
― Não sei. Na verdade, nós nem sabemos se ela seria mesmo daquela família.
Mas pode ser...
Carminha pode ter tido gémeas e perdido uma.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:37 am

― Perdido como?
Ninguém perde uma filha.
Ou ela a deu para adopção, ou a menina foi roubada.
Ou Beatriz, assim como Suzane, também foi adoptada.
― É... Essa é a hipótese mais provável.
E imagine como Carminha vai ficar quando descobrir a gémea da filha.
― Será que Beatriz sabe que foi adoptada?
― Não faço ideia.
― De qualquer forma, Suzane tem o direito de saber.
E vou contar a ela agora.
― Acho que você não devia se precipitar.
Podemos estar enganados.
― Mas mãe, não há engano algum!
Beatriz é gémea de Suzane. Só pode ser.
― Ouça, Leandro, há casos assombrosos na vida.
Você nunca viu na televisão pessoas que se fazem passar por artistas, que são igualzinhas, verdadeiras sósias, mas que não têm parentesco algum com eles?
Pois bem. É muito provável que Suzane seja irmã de Beatriz, mas nós não temos provas suficientes.
A semelhança é surpreendente, mas a vida está cheia de coisas que surpreendem.
Pode ser que elas sejam apenas sósias.
― Não são!
― E se forem?
O que é que você vai dizer a Suzane depois?
Vai enchê-la de esperança, deixando-a acreditar que tem uma família, para depois, se estiver enganado, tirar-lhe tudo de novo?
Pense bem. Como acha que ela vai se sentir? - ele não respondeu.
Vai ficar arrasada.
Sem falar na confusão que você poderá causar na vida de Beatriz.
Se ela não for adoptada, vai gerar um desconforto familiar sem igual.
― Você mesma disse que dona Carminha vem agindo de forma estranha ultimamente.
E depois, a reacção dela no zoológico foi bastante reveladora.
Ninguém fica do jeito que ela ficou se não tem um motivo forte.
― O que não significa que seja por causa disso.
― Você não viu a cara dela, mãe!
Ela ficou desesperada, negando que Suzane fosse parecida com a filha.
― Mesmo assim, isso não prova nada.
Ouça o que estou dizendo, Leandro.
Espere mais um pouco para contar tudo a Suzane.
Espere até ter certeza.
― Mas como vou ter essa certeza?
As únicas pessoas que sabem a verdade são Dona Carminha e o marido.
E eles não vão contar.
― A verdade sempre aparece.
Se Suzane e Beatriz são realmente gémeas, a vida vai se encarregar de mostrar.
― Mas a vida pode não estar com pressa.
― A vida não tem pressa nem anda devagar.
Faz as coisas no momento certo.
E o momento certo pode não ser esse.
Leandro olhou para a mãe com ar cansado.
Não via motivo algum para não contar tudo a Suzane imediatamente, mas achou que o melhor seria fazer a vontade dela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:37 am

― Está bem - concordou ele, por fim.
Não vou dizer nada. Por enquanto.
― Muito sensato. Você vai ver como as coisas vão-se encaixando aos pouquinhos.
Se Suzane for mesmo gémea de Beatriz, a verdade logo vai aparecer.
― Espero que você tenha razão.
Mas, se demorar muito, vou lá e lhe conto tudo.
― Que seja.
Foi muito difícil para Leandro guardar segredo sobre aquela descoberta.
Ao encontrar-se com Suzane, quase fraquejou, mas conseguiu se controlar e adiar a revelação por mais algum tempo.
Até que tudo se esclarecesse por completo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:38 am

CAPÍTULO 25

Enquanto Leandro se ocupava com Beatriz, Gilson se preocupava com as ameaças veladas de Renato e tentava descobrir mais a respeito de Suzane.
Renato dissera que o namorado dela se chamava Leandro e era filho de Amélia Souto Bastos.
Pesquisando na internet, descobriu que o rapaz era sócio em uma agência de propaganda na Barra da Tijuca, de onde poderia começar a segui-lo, até chegar à casa da namorada.
Fazia aquilo contrariado, por insistência de Renato, de quem pretendia se ver logo livre.
Se fosse para afastá-lo de vez da sua vida, até que valeria a pena.
E depois, teria que cuidar de Vítor.
Melhor seria se o filho rompesse o namoro com Beatriz, mas ele não podia pressioná-lo.
Só lhe restava esperar que a paixão se dissolvesse e ele voltasse os olhos para outras moças.
Parado na porta da agência, Gilson viu quando Leandro e Suzane saíram ao final do dia e pôs-se a segui-los à distância.
O carro tomou a direcção do subúrbio, e ele foi atrás.
Algum tempo depois, estacionou defronte a um edifício decadente, e Gilson parou à distância.
Óptimo, pensou ele.
A moça, pelo visto, era pobre, o que facilitaria sua investida.
― Não entendo por que você não se muda daqui - disse Leandro a Suzane.
Já me ofereci para ajudá-la a pagar o aluguer de um apartamento na Barra ou no Recreio.
― Não, Leandro - protestou ela veementemente.
Você já me arranjou um emprego.
Não quero que faça tudo por mim.
Nós não somos casados.
― Ainda não.
Mas você é minha namorada, quase noiva.
Não fica bem morar num lugar como esse.
― O que ganho ainda não é o suficiente para me manter sozinha.
Quando for, sairei daqui.
― Posso lhe dar um aumento.
― Obrigada, mas não quero.
― Você é a primeira pessoa que vejo recusar um aumento.
― Não estou recusando.
Só quero conquistá-lo por meu mérito próprio.
― Tudo bem.
Mas por que não moramos juntos?
Meu pai tem um apartamento vazio na Barra.
Tenho certeza de que nos cederia.
― Não sei. E se você enjoar de mim e me colocar na rua?
― Isso nunca vai acontecer.
Sabe o quanto a amo.
Ele a beijou com emoção e ela correspondeu ao beijo com uma pontinha de remorso.
Na verdade, relutava em sair dali por causa de René, resistindo à ideia de deixá-lo.
― Vou pensar nessa proposta - considerou, dando-lhe novo beijo nos lábios.
Mais tarde lhe direi minha decisão.
― Amanhã.
― Não sei. Mais tarde.
Desceu do carro e lhe jogou um beijo.
Leandro ligou o motor e seguiu vagarosamente pela rua.
― Finalmente! - Gilson disse para si mesmo, assim que o carro de Leandro dobrou a esquina.
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:38 am

Já ia abrindo a porta de seu carro quando outro rapaz se aproximou de Suzane, e Gilson ficou onde estava, apenas observando.
O moço disse alguma coisa ao seu ouvido, e ela lhe deu um leve empurrão e tentou entrar no prédio.
Mas o rapaz foi mais rápido e a puxou pelo braço, fazendo com que ela se voltasse para ele.
Em seguida, encostou o corpo dela contra a parede e beijou-a sofregamente, alisando os seus seios.
De onde estava, Gilson não ouvia o que diziam, mas de uma coisa tinha certeza:
Suzane não estava recusando as carícias do rapaz nem parecia ofendida com a sua atitude.
Em poucos minutos, ela alisou o rosto dele e segurou a sua mão, e os dois entraram apressados no edifício.
Gilson sorriu satisfeito.
Seria mais fácil do que imaginara.
Além de pobre, ela era infiel, e estava obvio que só namorava Leandro porque ele era rico, mas gostava mesmo era do malandro do subúrbio.
Gilson olhou para cima e viu uma luz se acender no segundo andar e, em seguida, outra.
Não viu a silhueta dos dois nas janelas, mas não tinha dúvida.
Suzane e o rapaz haviam entrado no apartamento, passado pela sala e agora estavam no quarto, entregues ao desejo e à paixão.
Não seria nada difícil subornar e chantagear uma pessoa desse tipo.
Somente por volta das onze horas foi que René deixou o apartamento de Suzane.
Gilson não perdia um movimento sequer dos dois e esperou pacientemente até que o rapaz desaparecesse de vista para sair do carro.
Olhou para cima e notou que apenas uma luz estava acesa, provavelmente, a do quarto.
O prédio não tinha porteiro, e ele ficou olhando os números dos apartamentos no interfone.
Havia seis por andar, e ele deduziu que o dela seria o 202, pela posição das janelas.
― Quem é? - ele ouviu a voz dela por cima do chiado do aparelho antigo.
― Gostaria de lhe falar um instante.
― Quem é você? - tornou ela, agora desconfiada.
― Um amigo.
― Que amigo?
― Um amigo de Leandro - silêncio.
Preciso lhe falar.
― Os amigos de Leandro não sabem onde moro.
― Venha até aqui um minuto, por favor.
Não vou lhe fazer mal.
― De jeito nenhum!
Olhe, moço, não o conheço, nem Leandro me falou de nenhuma visita de amigos.
Que história é essa?
O que está pretendendo?
― Tenho assuntos do seu interesse a tratar.
― A essa hora da noite?
― Não tenho culpa.
Cheguei cedo, mas foi só a essa hora que o seu amiguinho saiu.
Um pouco tarde também, não acha?
Principalmente para quem tem namorado.
Ela estremeceu, mas não se deixou convencer:
― Não sei o que está pretendendo, mas comigo, não vai arranjar nada.
O que faço com os meus amigos e a que horas não é problema seu.
Ela era esperta, e Gilson quase desistiu.
Admirava mulheres que tinham malícia e não se deixavam dominar ou enganar facilmente.
― Se está com medo de vir até aqui agora, podemos nos encontrar amanhã.
― Por quê? Por que eu iria encontrar um estranho cujas intenções desconheço?
― Porque eu descobri o seu segredo.
E um segredo partilhado deixa de ser segredo.
― Você não descobriu nada.
Não sabe nada a meu respeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Ago 27, 2015 9:38 am

― Mas sei muito sobre o seu namorado.
Ele é bem rico, não é? - ela não respondeu.
E é por isso que você gosta dele.
― O que você está querendo, afinal?
Se for dinheiro, pode esquecer.
Não tenho um tostão.
― Não, minha cara.
É você quem precisa de dinheiro, não eu.
― E daí? O que quer dizer?
Olhe, moço, vou desligar.
Já está ficando tarde e tenho que trabalhar amanhã cedo.
― Não vai me deixar subir?
― Não.
― Tudo bem.
Mas me encontre amanhã, ao meio-dia no Campo de Santana.
Sabe onde fica?
― Não.
― No centro da cidade.
Pergunte e lhe informarão.
Amanhã, ao meio-dia.
― Por que acha que eu iria a um encontro com você se nem o conheço nem sei do que se trata?
― Porque você é uma moça muito ambiciosa e não vai querer perder tudo o que tem, não é mesmo?
Desligou antes que ela respondesse, odiando-se a si mesmo pelo que fazia.
Aquele não era o seu estilo, mas sim o de um criminoso, e o crime era algo que parecia distante em sua vida.
Mas não tão distante que não pudesse retornar.
Só que agora já era tarde demais.
Poderia não aparecer no lugar marcado, mas temia as consequências.
Temia Renato muito mais do que tudo, porque sabia que ele era capaz de matar.
No dia seguinte, ao meio-dia, Gilson estava sentado num banco do campo de Santana quando a avistou pelo lado de fora das grades, pedindo informação a um transeunte.
Aquele rosto era inconfundível, e ele ficou tomando conta de seus movimentos.
Suzane entrou no campo de Santana com cuidado e medo, olhando para todos os lados e fixando o rosto de cada um que passava por ela.
Foi caminhando sem saber aonde ia e por uns momentos, se distraiu vendo as cotias que corriam pelo gramado.
Foi quando sentiu que um homem se aproximava e se virou bruscamente.
― É você? - perguntou ela, espantada com a aparência distinta de Gilson.
― Venha comigo - falou ele, conduzindo-a a um banco próximo.
Os dois se sentaram, Suzane mantendo certa distância do desconhecido.
― O que quer de mim? - prosseguiu ela.
― Você é uma garota muito corajosa e directa. Gosto disso.
― Quem é você?
Por que foi a minha casa no meio da noite?
― Não a chamei aqui para responder a suas perguntas, embora compreenda que elas sejam muitas.
Mas você é uma moça muito directa, e como sou directo também, vou logo ao que interessa.
Quanto você quer para sumir deste país?
― O quê? - indignou-se ela, que não esperava aquela oferta.
― Você me ouviu muito bem.
Quanto quer para desaparecer?
― Você é maluco ou o que?
Como é que um homem que eu nem conheço aparece na minha frente me oferecendo dinheiro para sumir?
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro - Página 5 Empty Re: GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 28, 2015 12:37 pm

― Sem perguntas, garota.
Apenas considere a minha oferta.
Um milhão de reais não é pouco para ninguém, você não acha?
― Um milhão de reais? - repetiu ela atónita.
Por quê? Qual o seu interesse em mim?
― Já disse que não vou responder a suas perguntas.
É pegar ou largar.
― Como é que você espera que eu aceite uma oferta dessas sem saber por que ou quem a está oferecendo?
― Você precisa de dinheiro.
Ontem à noite vi bem onde você mora.
E sei que você não ama o seu namorado.
Se amasse, não teria deitado com outro.
― Isso é um absurdo! - zangou-se ela, levantando-se de súbito.
Você não sabe nada de mim. Nada!
― Sei muito mais do que você imagina.
E muito mais do que Leandro supõe.
― Isso só pode ser alguma brincadeira.
Por que alguém teria interesse em afastar-me daqui?
― Você se meteu onde não devia.
― Quem está fazendo isso?
É a mãe de Leandro?
― Não é ninguém que você conheça.
― Mas por quê?
Qual o interesse dessa pessoa misteriosa?
― Digamos apenas que é uma pessoa que gosta muito de Leandro e que não quer vê-lo desperdiçar a vida com uma aventureira feito você.
― Que pessoa? Uma antiga namorada? - ele deu de ombros, dando a entender que era.
Quem é? Qual o nome dela?
― Não interessa. Então?
Aceita ou não a minha oferta?
― Não - respondeu ela segura.
Não sou a mulher venal que você pensa.
― Não é? E se o seu namoradinho souber da noite de amor que você teve com o playboyzinho do subúrbio?
― Você está blefando.
Recebi um amigo em casa ontem, e só.
Não transamos, como você está afirmando.
― É assim que você recebe os amigos?
Esfregando-se neles na parede do edifício?
Acho que Leandro gostaria de saber disso.
― Você é um idiota.
Quem foi que disse que Leandro vai acreditar em você?
Um desconhecido. E você não tem prova alguma.
Ou será que grampeou o meu apartamento? - ele não respondeu, e ela se levantou.
Pois eu acho que você não sabe de nada.
Está jogando verde, mas não vou cair nessa.
Gosto de Leandro e vou me casar com ele, e você pode dizer a essa idiotinha que o contratou que está perdendo o seu tempo.
Diga-lhe que pegue o seu dinheiro e enfie... você sabe onde.
Gilson sentiu o rosto arder e não revidou.
Estava envergonhado com o papel que desempenhava e tinha vontade de sair correndo dali.
Ele era um homem conhecido, não devia ter deixado Renato convencê-lo a fazer aquela oferta.
A moça era diferente do que ele imaginara e agora podia reconhecê-lo a qualquer momento nos jornais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 28, 2015 12:38 pm

E como ficaria a sua reputação?
Sem contar que ela não se deixara comprar com facilidade.
Além de tudo, o perigo de serem descobertos persistia, precisavam tomar alguma outra providência.
O que fazer?
Gilson foi sentindo um desespero se insinuar pelo seu corpo, mas conseguiu se controlar.
Suzane já não estava mais ali, e ele ficou observando o molejo excitante do seu corpo esguio passando pelos visitantes do Campo.
Os homens se voltavam para olhá-la, mas ela não lhes prestava a menor atenção.
Estava chorando de ódio e frustração, de medo e arrependimento.
Queria retroceder no tempo e recusar as carícias de René, mas não podia.
Só conseguia pensar em Leandro, que não merecia uma decepção como aquela.
Uma dor aguda perpassou-lhe o peito, e ela abafou os soluços, tentando imaginar como seria se ele rompesse com ela.
Ficaria sem o dinheiro e perderia a chance de se vingar de Cosme.
Mas o pior de tudo era perder a confiança e o amor dele e foi só naquele momento que percebeu como Leandro era importante na sua vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 28, 2015 12:38 pm

CAPÍTULO 26

Suzane ficara abismada com aquele encontro.
De onde aquele homem havia surgido, não sabia, mas ele fora audacioso o bastante para lhe causar medo.
Ela não era mulher de se deixar intimidar, contudo, sentia no ar o perigo daquela abordagem intempestiva.
E se o homem, realmente, falasse alguma coisa com Leandro?
Ele podia não acreditar, mas veria despertar a sombra atroz da desconfiança.
E quem seria a garota misteriosa que tinha tanto interesse em Leandro a ponto de pagar alguém para intimidá-la e fazê-la sair do país?
Que mulher seria aquela que surgira do nada e de repente?
Suzane chegou ao trabalho mais tarde, tentando não demonstrar o medo e a preocupação, e Leandro foi logo ao seu encontro:
― Por onde foi que você andou?
Fiquei preocupado.
Liguei para você a manhã inteira, mas o seu celular estava desligado.
― Deixei recado para você.
Avisei que ia chegar mais tarde.
― Tudo bem, mas por quê?
― Precisei resolver uns assuntos.
― Que assuntos?
― Coisas minhas.
Não interessam a você.
― Está me escondendo algo?
― Está me vigiando?
― Eu apenas me preocupo com você - defendeu-se ele, em tom magoado.
Não tenho a menor intenção de tomar conta da sua vida.
Se for isso o que pareceu, perdoe-me.
Imediatamente, ela se arrependeu e puxou-o pela mão.
― Não. Sou eu que lhe peço desculpas.
Estou sendo rude e mal-agradecida.
É que ando muito triste.
Sinto falta dos meus pais...
Não era mentira, e ela se sentiu à vontade para dar aquela desculpa.
― Quer conversar? - retrucou ele, interessado e compadecido.
Podemos ir almoçar.
Foram ao shopping, mas Suzane não falou nada a respeito, e ele não lhe fez perguntas.
― Minha mãe vai dar outro daqueles almoços no sábado - anunciou ele, tentando fazer com que ela se animasse.
E dessa vez não teremos desculpas para faltar.
― Por que não?
― Porque é o aniversário dela.
Laerte está viajando e não vai poder ir, e ela faz questão da sua presença.
― Está bem. Nós iremos.
O convite lhe causou certo medo, mas não teve como recusar.
E se a ex-namorada fosse filha de uma das amigas de Amélia e estivesse presente ao almoço?
Ela, sem dúvida, estaria em desvantagem, pois não a conhecia, ao passo que a outra parecia saber muita coisa sobre ela.
No dia do almoço, Graziela foi uma das primeiras a chegar.
Na véspera, havia telefonado para Carminha, que dera uma desculpa para não ir.
O almoço, como de costume, seria servido à beira da piscina, após os drinques e coquetéis.
Havia muitas pessoas presentes, e Graziela conversava com um e com outro, sem saber o que estava prestes a acontecer.
Quando Leandro e Suzane chegaram, o almoço estava para ser servido.
Havia garçons por toda parte, carregando bandejas e servindo as pessoas, e ele entrou trazendo a namorada pela mão.
Graziela estava sentada a uma das mesas, com o prato de comida à frente, quando Suzane surgiu diante dela.
Sim, efectivamente, tratava-se de gémeas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 28, 2015 12:38 pm

Suzane e Beatriz, sem sombra de dúvida, eram irmãs, o que não significava, em absoluto, que eram suas filhas.
Mas então, por que aquela voz incoerente soprava em seu coração que as meninas eram justamente quem ela queria que fossem?
Não. Era impossível.
Leandro vinha apresentando a moça aos convidados, até que parou diante de Graziela.
― Graziela, esta é minha namorada...
Não conseguiu terminar.
Graziela sentiu o corpo fraquejar e as pernas bambearem, e era como se não tivesse mais o domínio sobre si mesma.
Seus olhos subitamente reviraram nas órbitas, o ar lhe faltou e a cor fugiu de sua face. Desmaiou.
― Meu Deus! - gritou Amélia.
O que será que aconteceu?
Ajude-me, Leandro, vamos carregá-la para dentro.
Totalmente aturdido, Leandro ergueu o corpo inerte de Graziela e levou-a para o quarto de hóspedes, deitando-a gentilmente na cama.
Amélia e ele trocaram um olhar rápido, e Suzane indagou aflita:
― Será que não é melhor chamar um médico?
― Ela não precisa de médico - protestou Amélia, dando-lhe tapinhas na mão.
Mas se você quiser ir apanhar um copo de água lá embaixo, eu agradeço.
Suzane assentiu e foi buscar a água e Amélia olhou novamente para o filho.
― O que será que aconteceu? - indagou Leandro.
― Nem imagino.
Antes que Suzane chegasse com a água, Graziela voltou a si.
Abriu os olhos lentamente, como se sobre eles pesassem todas as dores do mundo, e fez um esgar de espanto ao reconhecer o lugar onde estava.
― O que foi que houve? - perguntou, erguendo-se nos braços e se recostando na cama.
― Você desmaiou, querida - explicou Amélia.
― Desmaiei?
Nisso, Suzane entrou com a água, e Graziela fixou nela os olhos húmidos, recebendo o copo de suas mãos e sorvendo o líquido a goles lentos, sem tirar os olhos dela.
― Aconteceu alguma coisa? - indagou Suzane espantada.
Ninguém respondeu, mas todos fitavam Graziela, à espera de que dissesse algo.
Ela, porém, terminou de beber a água e pousou o copo na mesinha ao lado, buscando se recompor.
Sentou-se na cama e alisou o vestido, fazendo menção de que ia se levantar.
Mas o esforço foi inútil.
Graziela arriou na cama novamente, ocultou o rosto entre as mãos e liberou o pranto, chorando sem cessar.
― Acho melhor fazermos alguma coisa - sugeriu Suzane, achando que ela estava realmente muito mal.
Não tem nenhum pronto-socorro por aqui?
― Não! - protestou Graziela, de forma veemente.
Eu estou bem. É só que...
Novamente aquele olhar estranho para Suzane, e um sorriso amargo aflorou nos lábios de Graziela.
A menina se esquecera por completo do medo de reencontrar a ex-namorada ameaçadora, envolvida que estava com o estado de Graziela, com quem simpatizara de imediato.
― Não quer alguma coisa? - perguntou Amélia.
Um chá, uma bebida?
― Não quero nada, obrigada.
Gostaria apenas de conversar um pouco a sós com você, se fosse possível.
― É claro. Leandro, por favor, leve Suzane lá para fora.
Quando a porta se fechou, Graziela permaneceu um tempo olhando para o lugar onde Suzane estivera, até que se virou para Amélia e a fitou com emoção.
― Amélia, eu... não sei como começar.
Nem sei se tenho o direito de pensar o que estou pensando, e talvez tudo isso não passe de uma ilusão absurda criada pelo meu desejo desesperado de mãe.
― Não entendi - surpreendeu-se Amélia com sinceridade.
Eu nunca soube que você era mãe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Ago 28, 2015 12:38 pm

― Fui mãe um dia... há muito tempo.
E esse talvez seja o meu maior e mais vergonhoso segredo, a quem sempre temi contar, mas que agora não posso mais esconder.
Até então, só o havia revelado a Carminha e me arrependo de tê-lo feito de forma tão impensada.
Creio que ela me julgou mal e se afastou de mim por me considerar uma mulher mesquinha e má.
Agora, contudo, não sei mais o que pensar.
Essa menina é idêntica à filha de Carminha...
― O que isso tem a ver com você?
― Talvez nada.
Talvez seja mera coincidência ou um sonho absurdo e impossível.
― Minha cara, em minha vida aprendi que nada é impossível nesse mundo, e o que parece absurdo, muitas vezes, nada mais é do que o destino que insiste em se fazer cumprir.
Graziela respirou fundo, pôs a mão no peito e perguntou indecisa:
― Posso confiar em você?
― Sempre.
Sou muito alegre e adoro uma história engraçada, mas sei guardar segredos.
― Você já se perguntou por que Suzane é tão parecida com a filha de Carminha?
― Muitas vezes.
― E a que conclusão chegou?
Amélia deu de ombros e respondeu em tom de dúvida:
― Bom, como a clonagem humana ainda não foi alcançada, ela só pode ser uma sósia ou irmã gémea.
― Para uma sósia ela é parecida demais, você não acha? - Amélia assentiu.
Então, só nos resta à hipótese de as duas serem gémeas.
― Onde, exactamente, você está querendo chegar, Graziela?
― Esse é o ponto do meu sofrimento e da minha angústia.
Foi por isso que voltei ao Brasil.
― Por quê?
― Para reencontrar minhas filhas.
Amélia arregalou os olhos e escutou atentamente:
― As gémeas que vendi quando era uma moça pobre e burra do interior de Mato Grosso.
Dessa vez foi Amélia quem levou a mão ao peito e exclamou com espanto:
― Minha Nossa Senhora!
― Procure não me julgar, Amélia.
Eu mesma já me acusei e condenei durante esses anos todos.
― Não a estou julgando.
Foi apenas o susto.
Mas como isso é possível? O que foi que houve?
Mais uma vez, Graziela contou toda a sua história e Amélia a ouviu com atenção e surpresa.
― Nunca ouvi história tão fantástica!
― Acha impossível, não é?
Um delírio, uma fantasia alimentada pela culpa e o meu louco desejo de reencontrá-las. Não é assim?
― Eu não disse isso.
Como falei há pouco, acho tudo possível.
Mas tenho que admitir que seria uma coincidência espantosa.
― Seria. Mas uma coisa agora me ocorreu:
por que Carminha mudou tanto comigo depois que eu lhe contei a minha história?
Não será porque adoptou a filha e tem medo de que eu seja a sua mãe verdadeira e tenha surgido para reclamá-la?
― É verdade.
A reacção de Carminha tem sido mesmo muito estranha.
Você sabia que ela viu Suzane e negou sua semelhança com Beatriz?
Segundo Leandro, ela ficou desnorteada e teve uma reacção semelhante à sua.
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