LUZ ESPÍRITA
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A ACTRIZ - Leonel / Mónica de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:22 pm

A ACTRIZ
Mónica de Castro

Espírito Leonel

SINOPSE

O que leva uma actriz sensual e famosa a abandonar uma vida de luxo e brilho para morrer em completa solidão?
Por que um jovem rico e bem sucedido se distancia da família e se entrega, impassível, à obsessão do passado?
Que elo poderoso pode unir essas duas pessoas que, aparentemente nada têm em comum?
Glamour e decadência caminham lado a lado nesta história que se desenvolve em dois tempos, distantes na passagem dos anos, mas próximos nas experiências e sentimentos ainda não resolvidos.
Ódios nascem e são desfeitos; o amor se recolhe diante da indiferença, até que a dor traz a compreensão da vida e o perdão ressurge como chave para libertar a alma dos grilhões do ressentimento.
A actriz vivencia a violência, a raiva e a decepção, transformando a morte numa passagem para o esquecimento e fuga.
Mas morrer não é a solução dos problemas, e ela descobrirá que só com coragem e amor é que poderá encontrar o caminho para a reconciliação consigo mesma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:22 pm

PRÓLOGO

Por entre as flores recém-desabrochadas, Tália caminhava a passos vagarosos, aspirando lentamente o delicado perfume que se espalhava no ar.
De quando em vez, detinha a caminhada e deixava o olhar vagar a esmo, como se buscasse algo que não podia definir no horizonte.
Seria possível?
Após tantos anos, já perdera as esperanças de que um dia a encontrassem.
Estava perdida para o mundo dos homens e não devia mais se preocupar com ele.
Ainda assim, seu coração se apertava a cada passo.
Sentiu uma comichão pelo corpo e se encolheu toda, com um frio a lhe percorrer a espinha.
Aos poucos, o frio foi aumentando, como se alguém a estivesse desnudando ao vento.
O que seria aquilo?
Levara muito tempo para se acostumar a não ter mais aquelas sensações, e agora isso?
Olhou ao redor, mas nada lhe pareceu anormal.
O ar estava tépido como sempre, e uma brisa suave refrescava sem enregelar.
Se era assim, de onde vinha aquela sensação gelada que parecia penetrar-lhe até os ossos?
Resolveu voltar para casa.
Fazia já algum tempo que conquistara o direito de ter uma casinha só para ela, o que era muito bom.
Seu lar era simples, porém bastante asseado e claro.
Lá, tudo parecia mais límpido e branco, e o ambiente era sempre agradável e sossegado.
Talvez fosse melhor se deitar um pouco.
Quem sabe não estava ficando doente? Doente?
Não era mais possível ficar doente ali.
No dia em que chegou, estava cheia de dores no peito, ardendo em febre e delirando.
Logo adormeceu, e, quando despertou, o peito parecia menos dolorido e a respiração, quase regular.
Levou algum tempo para que se recuperasse de todo, mas finalmente conseguiu.
As lesões em seu corpo fluídico lentamente se foram, e ela começou a se interessar pela nova vida.
Aos pouquinhos, foi deixando para trás as lembranças daquela outra vida, cheia de brilho e de sofrimento.
Essas lembranças a entristeceram.
Ninguém, em lugar nenhum do mundo físico, sabia o que fora feito dela.
Nem ela sabia ao certo quantos anos haviam se passado desde que deixara a terra; nunca pensara naquilo.
O bem-estar da vida espiritual era tanto, que as coisas da matéria deixaram de lhe interessar.
Contudo, uma pontinha de tristeza começava a incomodá-la, despertando a dor de saber-se abandonada por aqueles com quem convivera tantos anos.
Mas ela jamais retornara a terra para saber o que fora feito dos seus.
Como podia agora esperar que se lembrassem dela, se ela mesma os havia esquecido?
Balançou a cabeça vigorosamente, tentando afugentar as lembranças, e alcançou o portãozinho do jardim, surpreendendo-se com a presença de sua mentora e amiga parada à sua porta.
- Sílvia! - exclamou.
Que surpresa boa.
Vamos entrando.
Sílvia sorriu carinhosamente e beijou Tália no rosto, seguindo-a para dentro de casa.
Sentou-se num sofazinho cor-de-rosa que havia perto da janela e esperou até que Tália se acomodasse a seu lado.
- Muito bem - falou Tália, apertando os braços gelados e sentindo uma repentina tontura.
Essa visita inesperada tem algum motivo especial?
- Receio que sim - respondeu a amiga, fitando Tália com uma expressão indefinível.
- Do que se trata?
- Trata-se de você.
Seu corpo está sendo encontrado na terra, neste exacto momento.
Com ar de assombro, Tália se encolheu toda e desatou a chorar, sentindo na pele uma humidade glacial.
- Como isso é possível?
- Não está se sentindo estranha?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:23 pm

- Tenho calafrios...
E as lembranças de minha vida na terra surgiram repentinas...
Mas não pensei estar ainda ligada ao corpo físico.
- Você não está ligada.
O pensamento de certa pessoa foi que formou uma ponte energética com você, trazendo-lhe as impressões do que tem se passado na terra.
- Uma pessoa? Quem?
De repente, Tália viu-se transportada, ao lado de Sílvia, para o casebre onde seus ossos jaziam esquecidos.
Algumas árvores penetravam pelas janelas destruídas, e o teto desabara quase por completo.
O mato praticamente se fechara sobre o pequenino chalé e formara uma parede quase impenetrável ao redor.
Alguns homens, com machados e marretas, estavam derrubando a porta, emperrada pelas dobradiças enferrujadas.
A golpes de machado, os homens derrubaram a porta e entraram.
A sala estava toda em ruínas, com os móveis comidos e apodrecidos pelo vento e a chuva.
Os homens penetraram devagar e foram percorrendo os ambientes do primeiro andar, passando pela sala, depois a cozinha e o lavabo minúsculo.
Um deles se adiantou e experimentou o primeiro degrau da escada de madeira, que rangeu sob seus pés.
- Vai subir? - perguntou Márcio, um dos rapazes.
- É perigoso - respondeu outro.
- Vou subir. Se há alguma possibilidade de que o corpo de minha avó esteja lá em cima, quero descobrir.
Tália sentiu um choque.
Como assim, avó?
Buscou os olhos de Sílvia, que apertou a sua mão e esclareceu com voz carinhosa:
- Sim, Tália, é o seu neto que está aí.
Seu neto Eduardo, que hoje está com vinte e três anos de idade.
Com olhos húmidos, Tália se aproximou do neto, que sentiu um leve arrepio e foi envolvido por estranha emoção.
- O que houve Edu? - indagou Márcio.
Não está se sentindo bem?
- Não é nada.
Deixando de lado a emoção, Eduardo firmou o pé no degrau e começou a subir.
A escada ia rangendo e alguns degraus afundaram, fazendo com que todos se sobressaltassem, inclusive Tália.
- Não se preocupe - sossegou Sílvia.
Ele não vai cair.
Tália agradeceu com o olhar e subiu com Sílvia atrás do neto.
Eduardo chegou ao andar de cima e olhou para baixo, onde os outros o fitavam ansiosos.
- E aí? - perguntou alguém.
Tem alguma coisa?
- Vou olhar agora - respondeu Eduardo, virando-se para um segundo andar destruído e escorregadio.
A escada terminava numa espécie de saleta, com três portas ao redor. Intuitivamente, Eduardo se dirigiu à do meio e empurrou.
A porta imediatamente cedeu indo ao chão com estrondo e fazendo com que todos lá embaixo começassem a gritar.
- Não foi nada - avisou ele, para acalmar os amigos.
Apenas uma porta que caiu.
Com certa ansiedade, Eduardo passou por cima da porta e entrou no quarto frio e húmido, tomando cuidado com as tábuas soltas no soalho.
Olhou de um lado a outro e viu algo envolto em trapos, sobre o que parecia ser uma cama de ferro.
Tentando controlar os passos, caminhou para lá, e lágrimas lhe vieram aos olhos ao contemplar aquela estranha visão.
Misturados aos trapos sujos, vários ossos se encontravam dispostos, formando um corpo humano perfeito.
- Edu!
- Eduardo!
- Diga alguma coisa, cara, estamos preocupados!
Os amigos não paravam de chamar, mas Eduardo não conseguia responder, fascinado que estava com aquela fantástica descoberta.
No plano astral a seu lado, Tália chorava muito, fitando, pela primeira vez, os restos do que um dia fora o seu corpo.
O neto, sem saber, captou-lhe as impressões e chorou também.
Ajoelhado ao lado do colchão desmanchado, passou os dedos de leve sobre os ossos e soltou um suspiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:23 pm

- Ah! Minha avó, então foi aqui que você se meteu, hein?
Em poucos instantes, Márcio alcançou o quarto e acercou-se de Eduardo.
- Puxa Edu! Porque não respondeu?
Estávamos preocupados... - calou-se espantado, vendo o monte de ossos aos pés do amigo.
É... É a sua avó?
- É o que parece.
Mas só um teste de DNA poderá nos dizer.
- Meu Deus! O que vamos fazer?
- Recolher os ossos, dar uma olhada em tudo e ir embora.
O resto é com o laboratório.
Márcio foi correndo, na medida do possível, para buscar uma caixa.
Voltou poucos instantes depois e ajudou Eduardo a colocar os ossos lá dentro.
Com cuidado, foram fazendo o caminho de volta, escolhendo as tábuas em que deveriam pisar para não cair.
Os amigos embaixo ajudaram a descer o caixote, e Edu e Márcio desceram em seguida.
- Pronto - disse Eduardo, batendo as mãos para limpá-las.
Missão cumprida.
- Será que é mesmo a sua avó que está nessa caixa? - indagou um dos rapazes.
- Edu vai mandar fazer um teste de DNA - disse Márcio.
Não vai, Edu?
- Vou sim. Ainda que minha mãe não queira nem saber, tiro o meu sangue e mando analisar tudo.
Tenho que descobrir.
Ao ouvir aquelas palavras, Tália fitou Sílvia com ar de interrogação.
- Faz muito tempo que você desapareceu - esclareceu Sílvia.
Ninguém nunca soube do seu paradeiro.
Pensaram que você havia largado tudo e sumido no mundo.
Depois de algum tempo, começaram a desconfiar que você havia morrido.
Procuraram daqui, indagaram dali, até detective contrataram, mas ninguém conseguiu descobrir nada.
- Nunca encontraram esse lugar?
- Como poderiam?
É longe de tudo, da cidade e das fazendas.
Quando você comprou este sítio, usou seu verdadeiro nome, lembra-se?
Maria Amélia Silveira Matos.
Naqueles tempos sem televisão, quem é que ouviu falar em Maria Amélia?
- Mas ninguém nunca nem desconfiou de que eu poderia ter-me escondido aqui?
- Como, Tália?
Por que viriam a esse fim de mundo para procurá-la?
Você nunca contou que havia comprado esse sítio.
- É verdade... - lamentou-se com pesar.
E como foi que me descobriram agora?
- Um homem comprou as terras vizinhas e se interessou por estas.
Foi ao cartório da cidade, mandou fazer uma pesquisa e descobriu que o sítio havia sido comprado por uma tal de Maria Amélia Silveira Matos.
Tampouco ele sabia quem você era, mas não foi difícil descobrir.
O detective por ele contratado investigou e descobriu que Maria Amélia era o nome verdadeiro de uma antiga e famosa vedeta, Tália Uchoa, desaparecida na década de 1950.
Com essa informação, o resto foi fácil.
Ele achou a sua filha no Rio de Janeiro, e ambos chegaram à conclusão de que a assinatura no livro do cartório era mesmo a sua.
Sua filha vendeu as terras sem nem titubear, mas seu neto, fascinado com as suas histórias, pediu para vir averiguar.
O resto, você mesma viu.
Tália chorava de emoção ao ouvir falar de pessoas e coisas que há muito enterrara em seu passado.
Sentiu que havia perdido uma grande parte de sua vida e olhou para o neto, que ia longe com os amigos e a caixa contendo seus ossos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:24 pm

- Minha filha...
Pelo que pude perceber Diana não quer nem ouvir falar de mim.
- Ela ficou muito ressentida com o seu abandono e nunca conseguiu superar.
Tália balançou a cabeça, apertando os lábios para não soluçar, e indagou hesitante:
- Quem foi que a criou?
- O pai.
- Honório?
- Ela tem outro?
- Mas... Mas Honório não sabia que ele era o pai.
Eu nunca contei...
- Você não contou, mas...
- Ione? - Sílvia assentiu.
Não pode ser!
Ela me prometeu...!
- Você deixou uma filha órfã.
O que esperava que ela fizesse?
- Não foi minha intenção abandoná-la.
- Mas a menina acabou ficando só, de todo jeito.
Honório se revelou excelente pai, e Diana cresceu em um ambiente harmonioso e equilibrado, apesar de tudo.
- Ele criou Diana sozinho?
Não acredito.
- Sozinho, não.
Criou-a com a ajuda da esposa.
- Honório se casou?
Quem diria... Com quem?
- Maria Cristina.
- O quê? Honório casou-se a minha irmã?
Como ele pôde fazer isso comigo?
Ele sabia que Maria Cristina e eu não nos dávamos bem.
- Pois ela se deu muito bem com ele, e melhor ainda com Diana.
- Não é à toa que minha filha me odeia.
- Ela não a odeia.
Foi criada pela tia porque a mãe sumiu no mundo e a abandonou.
Como esperava que ela se sentisse?
- Eu não a abandonei!
- Mas é nisso que ela acredita até hoje.
- A verdade se perdeu depois que eu parti...
- Cada coisa está no seu lugar, seguindo o curso que a natureza traçou.
E depois, não vejo por que se preocupar com isso agora.
Não foi você mesma quem quis assim?
- Não quis me matar - respondeu Tália acabrunhada.
- Mas você morreu e a vida teve que continuar sem você.
- Honório... - divagou Tália.
Foi há tanto tempo...
Como será que ele está?
- Se essa pergunta é para mim, saiba que ele está muito bem, apesar da idade avançada.
- Ele ainda está vivo?
- Hã, hã.
- E Maria Cristina?
E Ione? E... Os outros?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:24 pm

- Ele é o único que vive entre os encarnados.
Os outros já partiram.
- Por que nunca os vi?
- Respeitaram a sua vontade de não ser incomodada e nunca a procuraram.
- E Honório?
- Está com mais de noventa anos e ainda goza de saúde regular para um homem de sua idade.
Mas agora chega. Todos já se foram.
Vamos embora também.
Tália olhou para a trilha aberta na mata por seu neto e os demais e percebeu que eles haviam desaparecido.
Olhou mais uma vez ao redor e deteve o olhar por uns segundos a mais sobre o local em que seus ossos haviam jazido e sentiu o peito se confranger.
Perdera uma parte importante de sua vida, enfurnada no astral como se ele fosse um campo de refugiados.
Aquilo não era uma guerra.
Os tempos de guerra eram parte do passado, assim como ela.
Maria Amélia e Maria Cristina sempre foram diferentes em tudo:
na beleza, na inteligência, no temperamento, nos afectos.
Enquanto Cristina, a mais nova, era extrovertida e alegre, linda, esbelta e adorada por todos, Amelinha era tímida e retraída, cheiinha de corpo e nada simpática.
Cristina era a preferida da mãe, Tereza, enquanto Amelinha era praticamente ignorada e tratada como se fosse uma aberração na família.
Cristina era meiga e dócil, ao passo que Amelinha era agressiva e mal-humorada.
Não gostava da mãe, nem do padrasto, que considerava um estranho, nem da irmã, a quem via como inimiga.
Essa era a sua família, com quem vivia na pequena cidade de Limeira, no interior de São Paulo.
Naquela época, Amelinha acabara de completar treze anos, e Cristina estava para fazer onze.
Amelinha não possuía amigas, e havia apenas uma menina com quem nunca havia brigado e com quem costumava conversar de vez em quando.
Chamava-se Cássia e tinha um irmão, Elias, de quinze anos, que era o sonho de todas as mocinhas da cidade, inclusive de Amelinha, que o admirava em segredo.
Os garotos gostavam de se divertir e viam em Amelinha o alvo principal de suas piadas.
Naquele dia, em especial, não foi diferente.
Ao sair da escola e se despedir de Cássia, Amelinha notou que alguém a seguia e virou-se para trás, dando de cara com Elias, que a acompanhava à distância.
Imediatamente, sentiu o rosto arder e estugou o passo, com medo de que ele pudesse ouvir o compasso acelerado de seu coração.
Era um menino lindo, mas ela não tinha o direito de admirá-lo.
Garoto feito Elias era para sua irmã Cristina, a quem ele logo estaria cortejando.
- Amelinha! - ele chamou por cima de seu ombro, caminhando quase a seu lado.
Espere Amelinha, quero falar com você.
Amelinha parou onde estava, sem se voltar, tentando ocultar-lhe o rubor que subia pelas suas faces.
- O que você quer? - tornou envergonhada e ao mesmo tempo, cheia de felicidade por estar falando com ele.
- Por que a pressa, Amelinha?
Gostaria de conversar.
- Sobre o quê?
Ele se postou em sua frente e questionou com olhar significativo:
- Você não sabe?
- Não.
- Por que não vamos a algum lugar onde possamos conversar melhor?
Ela olhou ao redor e respondeu hesitante:
- Não sei... Minha mãe pode não gostar.
- Mas é só um instantinho.
- Por quê?
- Venha. É importante.
- O que você pode ter de tão importante para me dizer?
- Não quero falar aqui.
Alguém pode nos ver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:24 pm

- E daí? O que tem isso?
- Venha Amelinha, por favor.
Saiu puxando-a pela mão, e Amelinha deixou-se conduzir, completamente inebriada pelas palavras dele.
Seria possível que ele estivesse interessado nela?
Mas como? Elias nunca deixara transparecer nada.
Ao contrário, sempre ria quando os outros meninos debochavam dela e algumas vezes chegaram mesmo a lhe atirar piadinhas.
Sem nem se dar conta do lugar para onde ia, Amelinha ia seguindo-o em silêncio, presa na ilusão do conto de fadas que parecia estar prestes a viver.
Na beira de um regato, Elias parou embaixo da árvore mais frondosa que havia por ali e encostou-a no seu tronco áspero e grosso.
Mal acreditando no que acontecia, Amelinha não opôs nenhuma resistência.
Estava tão inebriada pela paixão daquele momento que nem percebeu que não estavam sozinhos: em cima da árvore, dois moleques, amigos de Elias, espremiam-se entre os galhos e as folhas para não despertar a atenção.
- Muito bem... - balbuciou ela.
O que você quer?
- Sabe, Amelinha, eu estive pensando.
Não é certo o que os garotos fazem com você.
- Não?
- É claro que não.
Ficam rindo de você só porque é gordinha.
Em cima da árvore, os meninos abafaram uma risada, enquanto Amelinha não sabia se se zangava com o que Elias dissera ou se felicitava por estar ali ao lado dele, ouvindo suas palavras sinceras.
- Eu não penso como eles - sussurrou Elias, encostando os lábios em seus ouvidos.
- Não?
- É claro que não.
Não creio que você seja gordinha. - encostou a boca na sua orelha e soprou, fazendo com que Amelinha sentisse arrepios por todo o corpo.
Nem acho você feiosa, nem sem graça.
Também não a acho estúpida.
Amelinha achava que Elias não precisava ficar repetindo aquelas coisas, mas não ousou protestar.
Se ele se zangasse e fosse embora, ela jamais se perdoaria.
De cima da árvore, os outros garotos quase dobravam de tanto rir, esforçando-se ao máximo para não ser ouvidos.
- Na verdade, Amelinha - prosseguiu Elias, com voz melíflua, - não sei bem o que sinto por você.
Quando a vejo, meu coração dispara.
- Você está falando sério? - ela mal podia acreditar.
Você gosta de mim?
- Hã, hã...
- Oh! Elias, você nem imagina a felicidade que estou sentindo.
Pois eu sempre gostei de você!
- Não acredito.
- É verdade.
Pensei que você não ligasse para mim, que fosse igual a todo mundo, mas agora vejo que não é.
- Não sou igual a todo mundo, Amelinha.
Todo mundo a acha gorda e feia.
- Você não...
- Eu não acho.
- Você é maravilhoso, Elias!
Acho que o amo... Estou apaixonada...
Você é o garoto mais lindo da escola.
Não! Da escola, não.
Da cidade.
Ah! Meu Deus será isso verdade?
- Sim. E eu é que fico o tempo todo pensando em como seria estar com você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:25 pm

Enquanto falava, Elias ia roçando os lábios pelo seu pescoço e alisando o seu corpo, até que lhe tocou os seios.
- Não faça isso... - ela tentou protestar.
- Por quê? Não está gostando?
Amelinha não respondeu.
Deixou que ele a acariciasse e a deitasse no chão, beijando-a por toda parte.
Parecia que estava sonhando.
Jamais, em toda a sua vida, sentira algo semelhante.
Por um instante, ficou imaginando o que a mãe diria se a surpreendesse ali, mas não se importou.
Aquele momento único valia todos os castigos e surras que pudesse levar.
Mesmo que nenhum outro rapaz a quisesse depois daquilo, ainda assim, valeria à pena.
Talvez até não precisasse mais de ninguém, porque Elias a amava e, certamente, iria se casar com ela quando os dois tivessem idade bastante.
Estava tão embevecida com Elias que se deixou acariciar e beijar, aproveitando ao máximo aquele momento de felicidade.
Olhos fechados, sentia-se flutuando nas nuvens.
Ao longe, ouvia os murmúrios do rapaz, que agora começava a levantar sua saia.
Com um sorriso de prazer nos lábios, ela revirou o pescoço e entreabriu os olhos.
Queria olhar o céu e se sentir, realmente, nas nuvens.
Mas não foi o céu que ela avistou.
Por entre os galhos e folhas das árvores, não havia nenhuma nuvem a lhe deleitar a visão.
Ao invés disso, dois garotos estavam deitados sobre os galhos, imóveis, um sorriso irónico nos lábios.
Ao vê-los, Amelinha deu um salto, empurrando Elias para o lado.
- O que é isso? - espantou-se, recompondo-se e ajeitando o vestido.
O que vocês estão fazendo aí, seus moleques?
Na mesma hora, os garotos pularam para o chão, às gargalhadas, e Amelinha virou-se para Elias, certo de que ele a iria defender.
Elias, porém, ria com os outros.
- Elias... - balbuciou ela.
O que está acontecendo?
Do que é que você está rindo?
O garoto não respondeu, mas um dos meninos se adiantou e exclamou:
- De você, sua tonta!
- Apaixonada, hein? - debochou o outro.
O garoto mais admirado da escola, apaixonado pela mais gorducha.
Será que dá para acreditar?
Amelinha sentiu o rosto arder.
Olhou para Elias com ar de súplica, esperando que ele lhe dissesse que aquilo era mentira, mas ele nada disse.
- Diga que não é verdade, Elias - implorou.
Diga que você não está rindo de mim.
- E de quem mais poderia ser? - zombou Elias, com sarcasmo.
Da árvore? Não, deixe ver...
Dos galhos das árvores, que criaram vida e pularam no chão às gargalhadas.
Enquanto falava, ia dobrando o corpo, apertando a barriga que já doía de tanto rir.
- Mas... Você disse que não era como os outros garotos...
Que não pensava aquelas coisas de mim.
- Realmente. Não creio que você seja só feia, gorda e burra.
Acho você horrorosa, balofa e, pelo que acabei de ver, uma tremenda idiota.
Ela não ouviu mais nada.
Tapou os ouvidos e desatou a correr, chorando, o rosto enrubescido de vergonha e dor.
Sentia-se traída e extremamente infeliz.
Como fora estúpida!
Então não via que garotos como Elias nunca se interessariam por meninas feito ela?
Elias era o bonitão da escola, e todas as meninas se diziam apaixonadas por ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:25 pm

Podia escolher quem quisesse.
O que a fazia pensar que ele iria se interessar logo por ela?
Como não percebera que tudo não passava de um embuste, uma armadilha para se divertirem às suas custas?
Pior seria no dia seguinte.
Na certa, todos na escola ficariam sabendo, e a risada seria geral.
Por que Elias fizera aquilo com ela?
Por que tivera que ser tão cruel e sarcástico?
Será que não tinha sentimentos?
Chegou a casa e entrou feito um furacão.
A mãe estava na cozinha e a ouviu passar, chamando-a com voz estridente:
- Maria Amélia, venha já aqui!
Amelinha não respondeu.
Atirou-se na cama e se deixou ficar, soluçando em desespero.
Na cama ao lado, Cristina, debruçada sobre um livro, olhou-a com espanto e indagou aflita:
- Pelo amor de Deus, Amelinha!
O que foi que aconteceu?
- Não seja cínica, Cristina!
Aposto como você sabia de tudo!
Na mesma hora, Tereza entrou no quarto, ainda com a colher de pau na mão, e, vendo o estado da filha, indagou perplexa:
- O que foi que houve Amelinha?
Aposto como fez alguma besteira, não foi?
O que foi desta vez?
Meteu-se em alguma briga?
É isso que dá ficar por aí feito uma moleca.
Se tivesse vindo para casa, nada disso teria acontecido.
Tomada pela revolta e o ressentimento, Amelinha não conseguiu responder.
Ao contrário, chorava cada vez mais, até que Cristina resolveu intervir:
- Mãe, a senhora não vê que ela está nervosa?
- Não preciso que me defenda sua fingida! - esbracejou Amelinha, correndo para o banheiro e trancando a porta.
- O que deu nessa menina? - continuou Tereza, em tom de censura.
Cristina deu de ombros e retomou a leitura.
Embora preocupada com a irmã, preferiu não dizer mais nada.
Não entendia porque Amelinha não gostava dela e sentiu-se magoada com a sua atitude.
- Vai ficar sem almoço, ouviu? - berrou Tereza, da porta do banheiro.
Assim talvez aprenda a se comportar e não se atrasar na hora das refeições.
Só muito mais tarde foi que Amelinha apareceu, o estômago doendo de tanta fome, sem nada para comer.
A despensa estava trancada.
No forno, apenas algumas panelas vazias, e nada sobre o fogão.
A mãe não estava por perto.
Na certa, havia saído para fofocar com as vizinhas, como era seu costume.
Foi para o quarto e fechou a porta, atirando-se na cama, desolada.
Cristina também havia saído.
Terminara a lição de casa e fora brincar, de forma que ela podia ter alguma paz, acabando por adormecer.
Quando acordou, já era noite, e do outro lado do quarto, a irmã mudava de roupa, olhando para ela sem dizer nada.
- Que horas são? - perguntou Amelinha.
- Quase sete horas.
Melhor descer para o jantar, se não quiser que mamãe se aborreça.
E não se esqueça de trocar de roupa.
Está de uniforme até agora.
O tom arrogante de Cristina quase fez com que Amelinha gritasse, mas conseguiu se conter a tempo, com medo de que a mãe ouvisse e ralhasse com ela.
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A  ACTRIZ - Leonel / Mónica de Castro Empty Re: A ACTRIZ - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:25 pm

Além disso, o padrasto, Raul, já estava em casa àquela hora, e ela não queria lhe dar nenhum motivo para puxar assunto.
Não gostava dele, e, sempre que podia, evitava a sua companhia e a sua conversa.
Trocou-se rapidamente e desceu para o jantar.
Todos já estavam sentados à mesa, e Tereza enchia de sopa o prato de Raul.
Ela chegou em silêncio e sentou em seu lugar de costume.
- Já se lavou? - indagou Raul, reparando no seu rosto amassado.
Amelinha lançou um olhar breve para Cristina e respondeu sem muita convicção:
- Já...
- Óptimo - comentou a mãe.
Sabe que seu pai gosta de muita limpeza.
- Ele não é meu pai - murmurou Amelinha sem querer, levando um tapa na boca.
- Menina respondona! - vociferou a mãe.
Não foi essa a educação que lhe dei.
- Deixe Tereza - objectou Raul.
Amelinha não falou por mal, não foi, Amelinha?
Ela apenas assentiu, sem encarar o padrasto.
Ele parecia muito correcto em tudo o que fazia.
Era trabalhador e honesto, e não deixava que lhes faltasse nada.
Acordava cedo e ia para a vidraceira onde era gerente e, de vez em quando, trazia-lhes alguns bombons, que a mãe não a deixava comer.
Esperava que ela fosse para o quarto e dividia os bombons entre ela e Cristina, alegando que era para Amelinha não engordar ainda mais.
Nas primeiras vezes, Cristina tentou lhe dar alguns, mas ela recusou com veemência.
Na certa, a irmã fazia aquilo para, mais tarde, poder contar à mãe que ela comera sem autorização.
Enquanto jantavam, Amelinha sentia os olhares do padrasto sobre ela, o que lhe causava imenso mal-estar.
Por mais que Raul se esforçasse, ela não conseguia gostar dele.
A irmã e ele pareciam se dar muito bem, mas Cristina sempre fazia de tudo para agradar a mãe.
Dar-se bem com o padrasto era algo que satisfazia muito Tereza, certa de que encontrara o pai ideal para suas filhas.
No dia seguinte, Amelinha ainda tentou se fingir de doente, mas não adiantou.
A mãe não se deixou convencer e obrigou-a a ir à escola.
Se ela não tinha nenhum motivo bastante sério para faltar, então que se aprontasse e fosse.
Muito a contragosto, Amelinha teve que obedecer.
Era costume Amelinha se retardar alguns minutos, só para não seguir em companhia de Cristina, mas, naquele dia, a irmã resolveu esperá-la.
Amelinha não queria seguir com ela, mas não teve jeito.
A mãe lhe daria outra bronca e gritaria que ela era uma irmã má e egoísta.
Saíram juntas.
Depois que dobraram a primeira esquina, Amelinha considerou mal-humorada:
- Por que não vai procurar suas amiguinhas, Cristina?
- Gostaria de saber o que aconteceu.
- Nada. Não aconteceu nada.
- Não é o que parece.
Você está estranha desde ontem.
- Isso não é da sua conta!
Garota intrometida, por que não se mete com a sua vida?
Cristina segurou as lágrimas nos olhos e adiantou o passo, indo ao encontro de outras meninas que caminhavam mais à frente.
Amelinha tinha certeza de que a irmã a espionava e contava tudinho à mãe.
Mas não iria mais lhe dar a chance de rir dela pelas costas nem de se fazer passar por boazinha diante da mãe e do padrasto.
Ela não a enganava com aquela carinha de menina meiga.
Era uma sonsa, cínica, fingida, a queridinha de todo mundo.
Só porque era mais bonita, achava que podia tripudiar sobre ela.
Cristina podia ser a mais bonita, mas não era a mais inteligente.
Ninguém via isso porque não lhe davam chance de mostrar o que sabia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:26 pm

A mãe só estava interessada nas proezas de Cristina, e tudo que ela, Amelinha, fazia não servia para nada.
À medida que ia se aproximando da escola, seu coração começou a disparar.
Parado no portão de entrada, Elias conversava com alguns garotos, dentre os quais, os dois da tarde anterior.
Novamente, Amelinha sentiu o rosto arder, mas procurou se encher de coragem e avançou.
Os meninos apontaram para ela e começaram a rir, e suas orelhas pareciam pegar fogo.
Enquanto ia caminhando, mais e mais risadas se ouviam, agora de outras pessoas, inclusive de algumas meninas que ela nem conhecia.
Entrou apressada e foi para a sala de aula sem falar com ninguém, fugindo dos deboches e dos risinhos.
Na hora do recreio, foi obrigada a sair para lanchar e reparou que todo mundo ria dela.
Algumas pessoas nem sabiam da história, mas o só facto de estarem rindo fazia com que Amelinha pensasse que era dela que riam.
Um grupinho de meninas da turma de sua irmã riu quando ela passou, o que a deixou furiosa.
Cristina queria se fazer passar por boazinha, mas estava lá entre as zombeteiras.
Na saída, ao voltar para casa, encontrou Cristina à sua espera.
A irmã acercou-se dela e tentou contemporizar:
- Por que não conversa comigo, Amelinha?
- Para quê?
Para debochar de mim ainda mais, como tudo mundo está fazendo?
- Não tenho nada a ver com isso.
- Será que não?
Não está se divertindo?
- Não.
Ela estacou e fitou a irmã com frieza.
- Mentirosa.
Virou-lhe as costas e seguiu para casa.
Cristina não se aproximou mais.
Foi caminhando atrás dela, sem chegar muito perto.
Também já não aguentava mais levar tanto passa-fora.
Amelinha entrou e, cinco minutos depois, Cristina também entrou.
As duas foram lavar as mãos e trocaram de roupa, sentando-se para o almoço.
Tereza estava alegre e puxava conversa com Cristina, praticamente ignorando a presença de Amelinha.
Quando lhe dirigia a palavra, era para fazer alguma recriminação ou comentário maldoso, o que fazia com que ela odiasse Cristina cada vez mais.
Por que só a irmã era perfeita, e ela era a que sempre fazia tudo errado?
Mais tarde, como sempre, Tereza terminou o serviço de casa e saiu para suas habituais conversas com as vizinhas.
Voltou em seguida, furiosa, e adentrou o quarto das meninas com os olhos chispando fogo.
- Sua ordinária! - esbracejou, estalando um tapa na face de Amelinha.
Então eu me esforço para lhe dar uma educação decente, e é assim que você me paga?
Fica por aí se esfregando com os garotos feito uma vagabunda?
- Não foi culpa minha - defendeu-se Amelinha, sem que a mãe lhe desse ouvido.
- E eu ainda tenho que escutar os comentários maldosos das vizinhas. Imagine a minha cara quando me contaram!
Quase morri de vergonha.
O que foi que você fez Amelinha?
- Não fiz nada...
- E ainda dá mau exemplo para a sua irmã, que é mais nova do que você.
- Mas eu não fiz nada!
- Por que não é como Cristina?
Por que tinha que ser uma aberração?
Não basta ser gorda e feia?
Também tem que ser oferecida e vulgar?
Ah! Mas isso não vai ficar assim.
Espere só até seu pai chegar.
- Ele não é meu pai!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:26 pm

- Cale essa boca, menina ingrata!
Será que não pode mostrar um pouco de reconhecimento pelo que Raul tem feito por nós?
Por você, inclusive?
- Mamãe, tenha calma - intercedeu Cristina, vendo que a mãe ameaçava bater em Amelinha novamente.
- Não quero você metida nisso, filha.
Você ainda é muito novinha para se envolver com essa sujeira.
- Mas Amelinha não fez nada...
- Não preciso que você me defenda sua cretina! - berrou Amelinha.
A mãe virou-lhe nova bofetada no rosto, gritando histérica:
- Cretina é você!
Então não vê que sua irmã ainda está tentando ajudá-la?
- Não preciso da ajuda dela!
Não preciso da ajuda de ninguém!
Desenvencilhando-se da mãe, Amelinha correu porta afora, esbarrando em Raul, que vinha chegando do trabalho.
- O que foi que houve? - perguntou ele.
Por que a pressa?
- Solte-me! Largue-me! Deixe-me ir!
Tereza veio correndo, seguida por Cristina, e esclareceu com raiva:
- Essa safada...
Você não sabe o que essa safada fez Raul!
- O quê?
- Andou se esfregando por aí com um garoto.
- Como? Não acredito.
Amelinha não faria uma coisa dessas.
- Pois é verdade. E sabe como eu descobri?
A Gertrudes me contou.
Logo ela, aquela fofoqueira.
A filha dela estuda na mesma escola que Amelinha e disse que o comentário do dia foi esse:
que Amelinha ficou se insinuando para o rapaz, que é homem, e você sabe como os homens são susceptíveis a essas coisas.
A sorte foi ter aparecido alguém, ou ela teria se perdido!
- Amelinha - chamou Raul, em tom extremamente sério.
Isso é verdade?
- Não...
- É mentira! Sei que aconteceu!
- Não, não! Não fui eu.
Foi ele que começou a me beijar e...
- E você bem que gostou, não foi, sua sem-vergonha?
- Eu não sabia...
Pensei que não fizesse mal...
- Quer saber o que eu acho Tereza? - interrompeu Raul, com ar mais amistoso.
Que isso é coisa de criança. Logo passa.
- Criança? Amelinha já é uma moça!
- É verdade que Amelinha já está ficando uma mocinha, mas ainda é uma criança.
E você não devia se importar com essas fofocas, Tereza.
- O quê?
E o que acha que eu devo fazer? Nada?
- É isso mesmo. Não faça nada.
Não dê importância e você vai ver como o assunto acaba.
Tereza fez cara de assombro, mas Raul não se deixou impressionar.
- E agora, por que não vamos todos jantar?
Estou morrendo de fome.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:26 pm

Apesar do espanto, Tereza não contestou.
Raul era o homem da casa agora, e não ficava bem discutir com ele na presença das filhas.
Mais tarde, quando já estavam recolhidos, ela retomou o assunto, mas ele parecia disposto a manter sua decisão.
- Você está sendo muito dura com ela.
- Mas Raul, ela quase se entrega ao rapaz!
- Aconteceu alguma coisa?
- Ao que parece, não.
Mas estão todos falando.
- Pois então, deixe isso para lá.
Se você não alimentar a fofoca, ela míngua e morre.
- Isso não está direito, Raul.
Nossa filha, de sem-vergonhice com aquele moço.
- Ela é só uma criança.
- Ela não é mais criança!
Já ficou até mocinha.
- Se é assim, por que não conversa com ela e não a esclarece sobre certas coisas?
- Eu?! Você sabe como é Amelinha.
Ela não vai me ouvir.
- Francamente, Tereza, acho que você é que não tem paciência com ela.
Só a vejo recriminando-a.
- É que ela não faz nada direito.
Só pensa em comer e engordar.
- Você não repara mesmo em sua filha, não é?
Ela está crescendo e botando corpo de mulher.
Tereza abriu a boca, indignada, e mudou o tom de voz:
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que sua filha está virando mulher e você nem percebe.
- Ainda há pouco você disse que ela era só uma criança.
- É uma criança porque só tem treze anos, mas suas formas já estão mudando.
A gordura da infância está dando lugar a curvas de mulher.
- Você reparou nisso?
- Só um cego para não reparar.
Havia algo no tom de voz de Raul que deixou Tereza preocupada.
Ele falava de Amelinha com uma admiração que a impressionou.
Seria possível que Raul estivesse de olho na menina?
Não, não era possível.
Amelinha era apenas uma criança, e Raul, um homem de mais de quarenta anos.
Além disso, era decente e honesto, não um daqueles tarados que se aproveitavam das enteadas para lhes fazer mal.
Raul não era desse tipo. Ou será que era?
Se fosse, era preciso dar um jeito naquela situação.
Ela já estava ficando velha, e era só o que lhe faltava perder o homem para a filha.
Não, de jeito nenhum perderia seu marido.
Se alguém tinha que ir embora dali, que fosse Amelinha.
Tinha certeza de que Amelinha era culpada de tudo aquilo.
Como estava crescendo, aproveitava-se de sua juventude para provocar os homens, inclusive o padrasto.
E ela, que sempre julgara a filha uma feiosa, agora estava em dúvida.
Seria ela assim tão feia a ponto de não despertar o interesse de nenhum homem?
Para uma menina feia, até que já se envolvera com homens demais em tão pouco tempo.
Primeiro, com o colega de escola. Agora, com Raul.
Ainda que o menino estivesse apenas caçoando dela, será que a teria escolhido se ela já não apresentasse formas de mulher?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:27 pm

Tereza não disse mais nada.
Tinha medo de falar e chamara atenção de Raul.
Talvez ele apenas estivesse tentando defender a menina, nada mais.
De qualquer forma, era bom não facilitar.
Daquele dia em diante, não deixaria mais Amelinha sozinha com ele.
Não lhe daria a oportunidade de estragar o seu casamento.
Conforme prometera a si mesma, Tereza não deixou mais Amelinha e Raul a sós.
Daquele dia em diante, passou a reparar mais na filha.
Realmente, suas gordurinhas iam aos poucos desaparecendo e, em seu lugar, curvas femininas e graciosas iam surgindo.
Amelinha nem se dava conta dessas transformações.
Tudo o que sabia era que nem a mãe, nem a irmã, gostavam dela, e os colegas da escola então, praticamente a detestavam.
Mas não foi apenas por Raul que as mudanças no corpo de Amelinha foram percebidas.
Muitos dos rapazes também já começavam a reparar nela, principalmente os mais velhos.
Amelinha nunca foi magra, mas deixava de ser gorda.
A cada dia, tornava-se uma moça mais bonita, de formas voluptuosas que passaram a despertar o interesse de vários homens da região.
O próprio Raul vivia alertando Tereza dos perigos de deixar Amelinha solta pelas ruas, pois o seu jeito ingénuo ainda acabaria lhe trazendo problemas.
Tereza considerava excessiva aquela preocupação, mas não dizia nada.
Tinha horror de que Raul soubesse de suas desconfianças e, mais ainda, de despertar nele qualquer desejo ainda não reconhecido.
Suas atenções voltavam-se todas para o marido, sem se importar com o que poderia acontecer a Amelinha.
Estava tão cega de ciúme que não dava importância ao que ele dizia.
Para ela, suas palavras demonstravam um interesse latente pela filha, e era só isso o que lhe importava.
Foi num dia, na volta da escola, que Amelinha percebeu, pela primeira vez, o desejo que despertava nos homens.
Os garotos mais jovens, ainda acostumados a zombar de sua gordura, mal tinham notado as transformações de seu corpo.
Mas os homens mais maduros não podiam deixar passar despercebida tanta mudança.
Como de costume, Amelinha despediu-se de Cássia na esquina e seguiu sozinha para casa.
Muitos passos atrás, Cristina vinha conversando com uma amiguinha e, de vez em quando, olhava para a irmã, que caminhava apressada, a fim de que ela não a alcançasse.
Por onde passava, Amelinha causava certo impacto nos homens, e vários foram os que se viraram para admirá-la.
Mas Amelinha só notou mesmo quando o Chico, um mecânico bêbado que consertava caminhões, mexeu com ela quando passou.
- Fiu! Fiu! - assobiou excitado.
A primeira reacção de Amelinha foi de indignação.
Como aquele homem, um bêbado sem-vergonha, se atrevia a assobiar para ela?
Amelinha parou e se virou para ele, pronta a lhe dizer um desaforo, quando ele, passando a língua nos lábios, prosseguiu em tom lúbrico:
- Mas que gostosinha!
Eta garotinha boa!
Ela achou aquilo um desrespeito, mas, naquele momento, algo despertou dentro de si.
Chico podia ser um bêbado, um vagabundo que nem sabia consertar direito os caminhões que lhe levavam, mas, assim mesmo, era um homem.
Um homem que, apesar da linguagem chula e da grosseria, achara-a, pelo menos, interessante.
- Está falando comigo, seu Chico? - retrucou ela, entre indignada e envaidecida.
- Estou. Por quê?
Você gostou? - disse ele, aproximando-se mais de Amelinha.
Assustada, ela desatou a correr.
Não sabia bem o que ele queria, mas, certamente, não podia ser boa coisa.
Aproximara-se dela com um estranho brilho no olhar, e ela se sentiu despida diante dele.
O que será que pretendia?
Entrou em casa correndo e ofegante, e a mãe ralhou com ela, como sempre:
- Será possível que você só vive correndo?
Veja se sossega ou vai acabar derrubando alguma coisa.
Nem uma palavra sobre o que estaria se passando.
A mãe não se importava mesmo com nada que lhe acontecesse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Set 07, 2015 1:27 pm

Amelinha achava que podia até ser atropelada, que a mãe nem ligaria.
Logo após, Cristina também entrou, muito séria e calada.
- O que você tem minha filha? - perguntou Tereza, aproximando-se de Cristina e tomando-a nos braços.
Está sentindo alguma coisa?
- Não, mãe, estou bem - respondeu Cristina, olhando Amelinha de um jeito estranho.
- Por que está tão séria?
- Estou com fome.
- Ufa! Pensei que estivesse passando mal.
Amelinha não pôde deixar de sentir uma pontada de ciúme.
Ou melhor, de inveja.
Não havia acontecido nada com a irmã, mas a mãe se preocupava só porque ela não entrara com seu habitual riso de hiena.
Enquanto ela, assustada com a atitude do Chico, não merecera sequer uma palavrinha de interesse ou preocupação.
- Vão lavar as mãos - ordenou Tereza, alisando os cabelos de Cristina.
O almoço está quase pronto.
Em silêncio, as duas se dirigiram para o banheiro.
Amelinha empurrou Cristina para o lado e ocupou a pia em primeiro lugar, ensaboando as mãos vigorosamente, esfriando a raiva que sentia pela irmã ser tão querida.
- Vi você hoje falando com seu Chico - comentou Cristina, olhando-a pelo espelho.
O que vocês estavam conversando? - Amelinha não respondeu.
Mamãe não vai gostar de saber.
Ela diz que seu Chico é um bêbado vagabundo...
- Por que não se mete com a sua vida? - retrucou Amelinha, encarando-a com ar feroz.
- Estou apenas tentando avisá-la.
Se mamãe souber que você andou falando com ele...
- E quem vai contar?
Você? Vamos, pode ir.
Vá correndo fazer o seu papel de queridinha da mamãe.
Cristina olhou-a magoada e saiu do banheiro sem lavar as mãos.
Amelinha sentiu vontade de contar à mãe que Cristina não se lavara, mas achou melhor não dizer nada.
A mãe não acreditaria ou inventaria uma desculpa para não punir Cristina.
Almoçaram em silêncio.
A cada palavra de Tereza para Cristina, Amelinha se sobressaltava, com medo de que a irmã dissesse algo sobre seu encontro com Chico.
Mas Cristina nada disse e permaneceu quieta, apenas respondendo às perguntas triviais que a mãe lhe fazia.
No dia seguinte e nos outros também, Chico continuou a mexer com Amelinha, assobiando e atirando-lhe piadinhas de mau gosto quando ela passava.
Embora não lhe respondesse nem parasse mais para falar com ele, Amelinha, no fundo, apreciava aquelas investidas.
Chico podia não ser bonito nem perfumado, mas era um homem e estava interessado nela.
Não que Amelinha tivesse algum interesse nele.
Apenas gostava de sentir-se admirada por alguém, ainda que por um bêbedo asqueroso e nojento.
Aos pouquinhos, Chico foi-se deixando dominar pela imagem de Amelinha, e um desejo surdo foi tomando conta de seu corpo.
Acostumara-se a ficar na porta da oficina só para vê-la passar.
Assim que a avistava, soltava as ferramentas e colocava-se de prontidão.
Amelinha, por sua vez, estufava o peito quando o via e empinava o bumbum, requebrando os quadris mais do que o habitual.
Fazia isso sem maldade alguma, apenas por instinto, esbanjando uma feminilidade quase animal.
Amelinha ia se transformando numa moça bonita, bem-feita de corpo e muito, mas muito sensual para os seus poucos treze anos.
Só que não se dava conta disso.
Sequer sabia que podia ser assim.
Todas às vezes, Cristina vinha atrás e presenciava aqueles momentos.
Amelinha passava toda rebolativa, e seu Chico assobiava e mexia com ela.
Embora não aprovasse aquele comportamento da irmã, Cristina não dizia nada, com medo de sua reacção pouco amistosa.
Pensou em contar à mãe, mas também desistiu, pois Amelinha acabaria apanhando e ficaria com mais raiva dela ainda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:55 pm

Cristina também não imaginava o que poderia acontecer, mas, pelo que todos diziam seu Chico não era flor que se cheirasse, e elas não deveriam se aproximar.
O silêncio de Cristina só foi rompido no dia em que Chico tentou agarrar Amelinha.
A menina, como sempre, vinha com seu requebro quando o homem se aproximou e meteu a mão na sua cintura, buscando beijá-la na boca.
Apavorada, Amelinha tentou se soltar, mas ele começou a puxá-la para dentro da oficina e teria conseguido se Cristina, vendo a cena, não desatasse a correr e a gritar.
Com medo de ser surpreendido, Chico soltou Amelinha, que ofegava assustada, e entrou apressado na oficina.
- Viu só no que deu dar conversa para esse homem? - ralhou Cristina, mais apavorada do que zangada.
- Meta-se com a sua vida! - foi a resposta irada de Amelinha.
Fosse como fosse, o susto serviu para pôr um freio em Amelinha.
No dia seguinte, ao avistar Chico na porta da oficina, atravessou a rua e passou sem o encarar, e Chico também fingiu que não a vira.
Foi assim nos outros dias também, até que Amelinha deixou de pensar em seu Chico e voltou a cruzar a frente da oficina, mas agora sem o provocar.
Chico, no entanto, não se esquecia da pele macia de Amelinha.
Desde que a apertara por alguns segundos, vivia assombrado com a lembrança do seu corpo suave e fresco de menina-moça.
Apesar de não mexer mais com ela e do seu fingido desinteresse, não havia dia em que, pelo canto do olho, não a observasse ao passar.
Estava sempre pensando nela, numa maneira de atraí-la para sua oficina, mas não sabia como.
Além do facto de ela ter passado a evitá-lo, ainda tinha a irmã.
Aquela garotinha metida colocaria tudo a perder. Só se...
Balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos malditos, mas não conseguiu se desligar deles.
Ficou observando Amelinha passar com o seu corpo ardente e se encheu de desejo.
Mais atrás, veio a irmãzinha.
Era ainda muito novinha, e ele percebeu dois pequeninos botões sobressaindo por debaixo da blusa.
A menina, apesar de criança, já começava a botar peito, o que o encheu ainda mais de desejo.
Por que não podia ter as duas?
Cristina, que ainda não despertara para as coisas do sexo, sequer virava o rosto para ele quando passava.
Chico ficou observando-a também, imaginando como seria bom se pudesse deitar-se com ela.
Embora seu desejo maior fosse por Amelinha, que já tinha corpo de mulher, não faria mal nenhum ter entre os lábios aqueles botõezinhos mal desabrochados.
Esses pensamentos o enchiam mais e mais de desejo.
Todos os dias, lá vinham às duas.
Amelinha, com a volúpia de um corpo ardente, e Cristina, com seus seios em miniatura soltos por debaixo da blusa.
Resolveu atraí-las.
Se conseguisse pegar Amelinha, a outra, com certeza, viria logo atrás.
Esperou até ver Amelinha despontando na rua e escondeu-se atrás do balcão da oficina, tomando cuidado para que ela não o visse.
Ao se aproximar, Amelinha estranhou não o ver parado ali, como era de seu costume, e já ia passando em frente à oficina quando ouviu um gemido alto vindo lá de dentro:
- Ai! Socorro!
Alguém me acuda!
Amelinha olhou, mas não viu nada.
Começou a seguir avante, mas a voz a deteve novamente:
- Socorro!
Por piedade, acudam-me!
Ela estacou, apurando os ouvidos.
Era mesmo muito estranho que seu Chico não estivesse ali e Amelinha espiou mais de perto.
A oficina parecia escura e deserta, e ela deu um passo para dentro.
Da porta, ainda teve tempo de olhar para Cristina, que se aproximava rapidamente, e entrou hesitante:
- Olá! Tem alguém aí?
O senhor está aí, seu Chico?
- Acuda-me, menina! - implorava a voz, de trás do balcão.
Estou ferido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:55 pm

Sem pensar em nada, Amelinha largou a pasta escolar e correu para lá.
Chico estava sentado, encostado no balcão, com as mãos nas costas, como se estivesse sentindo dor.
- O senhor está bem?
- Eu caí e me machuquei.
Pode me ajudar a levantar?
Certa de que ele estava mesmo ferido, Amelinha aproximou-se, estendendo as mãos para ajudá-lo a se levantar.
Na mesma hora, ele segurou suas mãos e puxou-a para si, derrubando-a de joelhos no chão.
Rapidamente, subiu em cima dela, prendendo-lhe o corpo sob o seu, e tapou a sua boca com um pedaço de pano sujo.
Com uma agilidade fora do comum, Chico apanhou uma corda, estrategicamente colocada perto de onde eles estavam, e amarrou as mãos de Amelinha atrás do corpo.
Bem a tempo.
Como era de se esperar, Cristina surgiu logo atrás.
Vira Amelinha parar defronte à oficina e olhar para dentro, entrando logo em seguida.
Cristina não gostou nada daquilo e estugou o passo.
Parou no mesmo lugar em que Amelinha antes parará e espiou para o interior da oficina, mas não viu nada.
Da porta, chamou baixinho:
- Amelinha, onde está você?
Deixe de brincadeiras e vamos embora.
Mamãe vai ficar zangada...
Das sombras, o vulto de Chico saltou sobre ela, puxando-a para dentro e trancando a porta com rapidez.
A rua não era muito movimentada, mas, mesmo assim, alguém poderia vê-los.
Na oficina mal iluminada, Cristina começou a tremer, olhando para a porta, agora trancada.
- Onde está minha irmã? - perguntou ela trémula.
O que o senhor fez com ela?
- Acha que sua irmã está aqui? - respondeu ele, passando a língua nos lábios como sempre fazia quando ardia de desejo.
- Eu a vi entrar. Onde ela está?
Amelinha! Amelinha! Responda!
- Pode procurá-la, se quiser.
Ele começou a se aproximar, e Cristina foi chegando para trás, olhando ao redor, buscando para onde fugir.
Foi quando ouviu um gemido abafado vindo de trás do balcão, seguido de um baque surdo na madeira.
Instintivamente, correu para lá e encontrou Amelinha amarrada e amordaçada no chão, chutando o balcão com vigor.
Sem dizer palavra, Cristina se abaixou ao lado dela e tentou tirar-lhe a mordaça, mas não teve tempo.
Chico segurou-a por trás e deitou-a no chão, quase ao lado de Amelinha.
Atirou-se sobre ela e começou a rasgar seu uniforme, procurando-lhe os seios miúdos com a boca.
Cristina começou a chorar e a implorar que ele a soltasse, mas ele nem se importava com as suas lamúrias.
De onde estava Amelinha chorava também e tentou acertá-lo com um chute, mas ele parecia nem sentir.
Divertia-se imensamente com aquela situação e falou com cinismo:
- Não precisa ficar com ciúmes, minha querida.
Logo lhe darei o que você quer.
Não demorou muito, ele levantou a saia de Cristina e, violentamente, a estuprou.
Cristina chorava desesperada e soltou um grito agudo de dor quando ele a penetrou com violência, enquanto Amelinha se debatia, tentando em vão acertá-lo com os pés.
Quanto mais elas lutavam e gritavam, mais ele se divertia, investindo furiosamente contra o corpinho franzino de Cristina, apertando e mordendo os seus seios.
Ela era tão pequenina que quase sumia debaixo dele, até que não aguentou mais e acabou desmaiando de dor, ao mesmo tempo em que ele dava por encerrado o seu trabalho com ela.
- Agora é a sua vez - disse para Amelinha, aproximando-se dela e retirando-lhe a mordaça.
Deixei o melhor para o final.
Em breve, repetiu aquela cena grotesca.
Deitado sobre o corpo de Amelinha, que, amarrada, quase não podia oferecer resistência, estuprou-a com ainda mais ferocidade do que havia usado com Cristina.
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A  ACTRIZ - Leonel / Mónica de Castro Empty Re: A ACTRIZ - Leonel / Mónica de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:55 pm

A menina chorava e se debatia, mas não conseguia se desenvencilhar.
Chico fez de tudo com ela:
bateu, mordeu, seviciou-a...
Ouvindo os seus gritos e o seu pranto, Cristina voltou a si, mas não conseguiu se mexer.
Não havia apanhado, mas o corpo todo lhe doía, como se lhe tivessem arrancado as entranhas.
De onde estava, ficou vendo Chico estuprar a irmã, chorando desconsolada.
Quando ele acabou, levantou-se triunfante e pôs-se a vestir-se em silêncio, olhando de uma para outra e sorrindo ironicamente.
Enquanto terminava de afivelar o cinto, ouviu a voz hesitante e trémula de Amelinha:
- Você vai pagar por isso...
Vai para a cadeia...
Ele não respondeu.
Terminou de se aprontar e virou as costas para elas, indo apanhar uma pequenina mala que estava escondida a um canto da oficina. Olhou para as duas e respondeu com desprezo:
- Ninguém vai colocar as mãos em mim.
Vou-me embora desse lugar maldito, onde ninguém me trata feito gente, mas não sem antes me aproveitar da única coisa que presta por aqui.
Cuspiu no chão com desdém e abriu a porta da oficina, saindo para a rua e trancando a porta ao passar.
Cristina não parava de chorar, e Amelinha precisou gritar para que ela a ouvisse:
- Pare de chorar e venha me desamarrar!
Ainda aos prantos e sentindo enorme dor, Cristina conseguiu se arrastar até onde Amelinha estava e a desamarrou.
Segurando no balcão, Amelinha se levantou e puxou a irmã pelo braço.
- Ai! - gemeu Cristina, arriando o corpo no chão novamente.
Dói demais!
Embora a violência usada em Cristina tivesse sido um pouco menor, ela era muito pequenina e estava toda machucada e dolorida, de forma que não conseguiu se manter em pé.
Amelinha, por sua vez, sustentada pelo ódio que sentia naquele momento, começou a caminhar em direcção à porta.
Experimentou a maçaneta, mas a porta não se abriu.
- Estamos trancadas aqui dentro.
E o maldito levou a chave.
Cristina redobrou o choro, com medo de que nunca mais as achassem ali.
Sem lhe dar atenção, Amelinha começou a esmurrar a porta, sentindo uma dor lancinante espalhando-se por todo o seu corpo.
Mas não podia parar.
Se quisessem sair dali, tinham que reunir forças e tentar.
Demorou muito até que alguém a ouvisse.
A mãe, vendo que elas não chegavam, tinha chamado Raul e alguns vizinhos, e todos saíram à sua procura, percorrendo o caminho que elas faziam na volta da escola.
Um dos vizinhos, ao passar por ali pela décima vez, ouviu o barulho na porta e se aproximou, constatando que as meninas estavam presas na oficina do Chico.
Logo chamou os demais e arrombaram a porta.
Coberta de vergonha e dor, Amelinha sentiu as pernas tremerem e desabou no chão assim que a porta se abriu.
E a última coisa de que pôde se lembrar mais tarde foi do vulto da mãe, passando por ela horrorizada, os braços estendidos em direcção à irmã.
Caminhando de um lado para outro, Tereza conversava com Raul em voz alta, esfregando as mãos nervosamente:
- Devia imaginar que algo assim ainda iria acabar acontecendo.
Fui cega de não ver o que Amelinha estava fazendo.
- Você não vê que isso é um absurdo?
Amelinha não teve culpa de nada.
- Aposto como ela o provocou de alguma forma... - divagou, sem nem prestar atenção ao que Raul dizia.
Foi assim com aquele menino também.
E o pior não foi nem ele ter feito com ela.
Pior foi fazer com Cristina!
- Tereza! Será que você só está preocupada com Cristina?
E Amelinha? É sua filha também.
Não liga para ela?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:56 pm

- Ligo... - afirmou, sem muita convicção.
- Não é o que parece.
Devia se envergonhar por tratar tão mal assim a sua filha.
Tereza oscilava entre o desgosto e a raiva.
Não queria admitir, mas a verdade era que não gostava de Amelinha.
Em alguns momentos, chegava mesmo a odiá-la e desejar que nunca tivesse nascido.
Desde que engravidara, sentia que jamais poderia amar aquela criança.
No começo, até que se esforçara.
Mas depois que Cristina nasceu, parou de tentar, vendo que seriam mesmo inúteis os seus esforços.
- Não a trato mal - objectou secamente.
- Trata sim.
E vive a acusá-la por qualquer coisa.
- Não a estou acusando de nada.
E você? - revidou em tom acusador.
Por que será que a defende tanto?
- Eu? - tornou ele confuso.
Ora, a menina não tem pai.
Sinto-me responsável.
- Será que é só isso mesmo?
- O que está insinuando, Tereza?
Tereza silenciou.
Sua vontade era de gritar que ele estava de olho na filha, mas tinha medo de que ele se zangasse e fosse embora.
- Não estou insinuando nada. Perdoe-me.
Raul também não insistiu.
Começava a perceber os pensamentos maldosos da mulher, mas achou melhor calar.
De que ele gostava de Amelinha, não tinha dúvida.
Achava-a muito atraente e esperta, e até poderia se interessar por ela como mulher.
O problema era que ela era filha de sua esposa e só tinha treze anos.
Que tipo de homem seria ele se se envolvesse com uma criança, quase sua filha?
Amelinha e Cristina saíram do hospital três dias depois.
Tiveram que ir à delegacia prestar depoimento, mas nada pôde ser feito.
Chico metera o pé na estrada e sumira, e seria muito difícil encontrá-lo por aquele mundo afora.
O inquérito foi arquivado, e ninguém mais fez perguntas, em respeito à dor das meninas.
Algumas pessoas passaram a olhá-las com certa recriminação no olhar, outras, com piedade, e outras ainda preferiam guardar distância.
Amelinha também se aproximou um pouco mais da irmã.
A violência de que ambas tinham sido vítimas as uniu na dor e, se bem que não houvesse ainda uma forte amizade entre elas, ao menos Amelinha já não brigava tanto com Cristina.
A dor que haviam partilhado e ainda partilhavam as tornava cúmplices, e uma compreensão silenciosa se estabeleceu entre elas.
De forma inocente, conduzida pelo interrogatório tendencioso de Tereza, Cristina acabou contando que vira Chico flertando com Amelinha, e que ele tentara agarrá-la certa vez.
Pronto. Era o que bastava para que Tereza tirasse suas conclusões e julgasse a filha precipitadamente, acusando-a de libertina e ordinária.
Só não a confrontou directamente porque Raul a Impediu.
Ele não acreditava que Amelinha houvesse agido com maldade ou malícia e proibiu Tereza de incomodá-la.
Mais uma vez temendo desagradá-lo, ela se calou, deixando que o ódio silencioso pela filha envenenasse cada vez mais o seu coração.
Se antes as duas já eram distantes, depois disso, Tereza foi-se afastando mais e mais de Amelinha, tratando-a com frieza e até com certa hostilidade, enquanto Cristina era alvo de todas as suas atenções e carinhos.
Comprara-lhe até uma boneca nova e nada para Amelinha, com a justificativa de que ela já estava ficando uma moça e não se interessava mais por brinquedos.
Vendo isso, Raul lhe trouxe um bonito laço de fita de seda azul, e ela agradeceu com os olhos húmidos, começando a perceber quanto carinho ele sentia por ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:56 pm

Presenteá-la tornou-se um hábito, e as atenções que Tereza dispensava a Cristina já não incomodavam tanto Amelinha.
Ela agora tinha o padrasto, a quem passou a admirar, afeiçoando-se a ele mesmo sem saber.
Tanto interesse não passou despercebida a Tereza, que redobrou a atenção sobre ambos.
Nunca os deixava sozinhos e acordava sempre que Raul se levantava no meio da noite para ir ao banheiro ou beber água.
Em silêncio, ela se levantava depois que ele saía e ia espiar pela porta entreaberta, mas ele nunca parou ou fez menção de entrar no quarto das meninas.
O trauma que haviam vivido deixou marcas profundas tanto em Amelinha quanto em Cristina.
Era comum acordarem gritando no meio da noite, dizendo que Chico estava ali para pegá-las.
Tinham pesadelos parecidos, o que aumentava a empatia que se estabelecera entre elas.
Sempre que uma gritava, a outra procurava acalmá-la, dizendo que Chico se fora e não voltaria mais.
A mãe também aparecia e, quando o pesadelo era de Cristina, tomava-a nos braços e a acariciava, ao passo que, no caso de Amelinha, limitava-se a sacudi-la e indagava se poderia voltar a dormir.
Ainda nem se havia passado um mês quando Amelinha contraiu uma forte gripe, que lhe provocou uma tosse seca e persistente, além de fortes dores no peito.
Raul correu a chamar o médico, que constatou sua primeira pneumonia.
Amelinha foi internada às pressas e por pouco não morreu.
Quando saiu do hospital, ainda estava fraca, e o médico lhe recomendou repouso absoluto.
Os pulmões estavam muito frágeis, e todo cuidado era pouco.
Presa na cama, não poderia ir à festa de aniversário de um primo que morava do outro lado da cidade, o que deixou Cristina decepcionada, e a mãe, furiosa.
- Não podemos mesmo ir, mamãe? - choramingava Cristina.
- Não. Sua irmã resolveu ficar doente justo agora.
- Ah! O tio Raul não poderia ficar com ela?
Não poderia?
Cristina olhou para Raul ansiosa, e ele respondeu serenamente:
- Por mim, está tudo bem.
Vocês podem ir que eu cuido de Amelinha.
- Nem pensar! - contestou Tereza.
Se você não vai, ficamos todos.
- Isso é uma bobagem, Tereza.
Não vê que a menina está doida para ir?
- Mas a irmã está doente.
O que podemos fazer?
- Já não disse que eu cuido de Amelinha?
- Não!
- Por que não, mãe?
Qual é o problema?
- É, qual o problema? - repetiu Raul.
Por acaso não confia em mim?
Aquele não confia em mim era bem mais do que medo de que ele não cuidasse de Amelinha adequadamente.
O que Tereza realmente temia era que ele, aproveitando-se de sua ausência, tentasse alguma coisa com a filha e, pior, que fosse correspondido por ela.
- Não se trata disso, Raul - rebateu em tom de desculpa.
Sei que você é cuidadoso e responsável.
Mas é que Amelinha é uma menina e pode precisar de certos cuidados que só a mãe pode dar.
- Não vejo o que você faz por ela que eu não possa fazer.
- Por favor, mamãe, vamos! - insistia Cristina, alheia aos temores da mãe.
Tio Raul vai cuidar bem de Amelinha.
Por mais que ela não quisesse deixar os dois sozinhos, não podia negar um pedido à filha, e acabou concordando.
Antes de sair, passou no quarto de Amelinha e constatou que ela dormia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:57 pm

- Deixe-a dormir - aconselhou a Raul.
E não permita que saia do quarto.
Ela está muito fraca.
- Pode ir sossegada, que eu tomo conta de tudo.
Depois que elas saíram, Raul, certificando-se de que tudo estava bem, foi para a cozinha consertar algumas cadeiras que estavam com os pés soltos, indo a cada meia hora verificar o estado de Amelinha.
Tudo continuava tranquilo e, quando Raul terminou sua tarefa, deitou-se no sofá para esperar que Tereza voltasse.
Estava quase pegando no sono quando um grito de pavor o despertou.
Deu um salto do sofá e correu para o quarto de Amelinha, escancarando a porta e entrando esbaforido.
A menina se contorcia e gemia na cama, dizendo palavras sem nexo, a camisola empapada de suor.
Raul experimentou-lhe a testa e constatou que ela ardia em febre novamente.
Chamou-a pelo nome várias vezes, até que ela despertou e o fitou com os olhos arregalados.
- O Chico...?
- Sossegue Amelinha, ele não está aqui.
Foi só um pesadelo.
Depois de ajeitá-la novamente na cama, Raul foi buscar o remédio que o médico havia receitado em caso de febre.
Amelinha tomou sem reclamar e ficou deitada, de olhos fechados.
Durante alguns minutos, Raul permaneceu olhando-a, enternecido com o seu semblante pálido.
Aos pouquinhos, a febre foi cedendo, e Amelinha abriu os olhos.
- Sente-se melhor? - indagou ele.
Ela fez que sim com a cabeça e pediu numa vozinha miúda:
- Será que você pode me dar um copo de água?
A moringa ao lado da cama estava vazia, e Raul desceu para buscar um pouco na cozinha.
Assim que ele saiu, Amelinha, sentindo o desconforto que a camisola suada causava em seu corpo, levantou-se vagarosamente e foi ao armário buscar uma limpa.
Sentiu a cabeça rodar, mas, apoiando-se na parede, chegou até o armário e o abriu.
Apanhou a camisola e começou a se despir, com gestos lentos e descuidados.
Ao tirar a roupa húmida, sentiu um arrepio de frio, e seu corpo todo estremeceu.
O quarto começou a rodopiar, e Amelinha foi acometida por violento acesso de tosse.
Cada vez mais zonza, percebendo que ia cair, ainda tentou se deitar na cama, mas a tonteira não lhe permitiu alcançar o leito, e ela desabou ali mesmo, no meio do quarto, o corpo nu sacudido pela tosse e pelos calafrios.
Nesse momento, Raul entrou, trazendo nas mãos a moringa cheia e uma caneca limpa.
Ao ver a enteada caída no chão, sem roupa alguma, largou tudo e correu para ela, chamando assustado:
- Amelinha! Amelinha! - ajoelhou-se ao lado dela, e a menina tornou a abrir os olhos.
O que foi que houve Amelinha?
- Eu... Caí... - balbuciou ela.
Senti uma tontura...
Não consegui chegar à cama...
- Você não devia ter saído da cama. - ralhou ele, mas com carinho, ajudando-a a se levantar.
O que pensa que ia fazer andando assim, nua, pelo quarto?
- Eu... Ia me trocar...
A camisola estava húmida...
Grudada no meu corpo.
Apoiada em seu pescoço, Amelinha se levantou, mas não conseguiu se sustentar.
O corpo ainda muito fraco não resistiu, e ela já ia tombando novamente quando Raul a ergueu no colo, totalmente despida, e começou a levá-la para a cama.
Queria o mais depressa, cobri-la com o cobertor, para que seu estado não se agravasse.
Aproximou-se da cama e abaixou-se, depositando-a gentilmente sobre o colchão.
Foi nesse momento, quando ele, debruçado sobre ela, começava a puxar o braço de debaixo de seu pescoço, que a porta se escancarou, e uma Tereza furiosa e indignada irrompeu pelo quarto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:57 pm

- Mas o que é que está acontecendo aqui? - esbracejou fora de si.
Eu sabia!
Sabia que não devia tê-los deixado sozinhos!
Sua desavergonhada!
- Tereza, calma - começou Raul a falar.
Não é nada do que você está pensando.
- Não estou pensando nada!
Tenho certeza do que vejo.
- Mamãe, o que está acontecendo? - perguntou Cristina assustada.
- Saia daqui, Cristina! - berrou ela para a filha.
Vá para a sala e só venha quando eu mandar.
Assustada, Cristina desatou a correr e foi para a sala, chorando e com medo da fúria da mãe.
Enquanto isso, Amelinha conseguiu se cobrir com o cobertor e juntou forças para se recostar na cama, tentando contemporizar:
- Não fique zangada, mamãe.
A culpa foi minha...
- Eu sei que a culpa é sua!
Então não estou vendo?
Amelinha queria dizer que fora culpada por haver tentado se levantar sozinha para se trocar, o que havia causado seu quase desmaio no meio do quarto.
Mas Tereza entendeu de outra forma, envenenada por suas próprias desconfianças.
- Por favor, Tereza, tente se acalmar – intercedeu Raul.
- Como posso me acalmar vendo o que vejo?
Minha própria filha!
Minha própria filha seduzindo o meu marido!
- O quê?! - indignou-se a menina.
Não, mãe, não!
A senhora não entende...
- Entendo muito bem!
Entendo que você é uma vagabundinha.
Aposto que adorou o que o Chico fez com você, não foi?
- Tereza! Cale-se, Tereza, você não sabe o que diz!
- E você? Seu safado!
Onde já se viu deixar-se seduzir por uma criança?
- Se você se acalmasse, eu poderia lhe explicar o que está acontecendo.
- Não preciso de explicação nenhuma!
Magoada, Amelinha ocultou o rosto entre as mãos e desatou a chorar.
Como a mãe podia pensar que ela se divertira com o Chico?
Então não via o quanto havia sofrido?
- Por que está fazendo isso, mamãe?
Eu não fiz nada.
- Ah! Mas fez sim!
Provocou o Chico até ele não aguentar mais e estuprar você.
E agora quer fazer o mesmo com seu padrasto.
Mas Raul é o meu homem, entendeu?
Meu homem, não seu!
- Eu não provoquei ninguém!
- Provocou sim.
Sua irmã me contou a forma como você se requebrava toda para o Chico.
- É mentira! Eu não fiz isso!
- Fez sim.
Mesmo depois que ele a agarrou, você continuou se oferecendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:57 pm

O que queria?
Que ele fingisse que não a via?
Que não reparasse no seu remelexo e nos seus peitos empinados?
Ele é homem, Amelinha, cabia a você se dar ao respeito e não o provocar.
Mas não! A prostitutazinha não podia aguentar e se ofereceu para o primeiro malandro que viu.
Se quiser ser vagabunda, o problema é seu.
Mas você não tinha o direito de carregar sua irmã com você...
- Pare Tereza, cale-se! - berrou Raul, sacudindo-a pelos ombros.
- Mas não adianta nada, viu?
Não vou deixar que me tome o homem outra vez!
- Você está louca, Tereza?
O que está dizendo?
Amelinha não conseguia mais falar, tomada pelos soluços que lhe embargavam a voz.
Ficou escutando a mãe dizer aquelas coisas a seu respeito, um monte de mentiras que ela havia inventado só para machucá-la.
Tereza estava cega de ódio e surda à voz da razão, e continuava esbracejando e ofendendo Amelinha:
- Largue-me, Raul!
Ainda não terminei.
Não acabei de dizer tudo o que está entalado em minha garganta esses anos todos.
- Se você não se calar, Tereza, juro que vou embora daqui e nunca mais apareço.
- É isso mesmo o que você quer, não é?
Sair de casa para viver com sua meretriz de treze anos!
- Pare com isso, Tereza, estou avisando!
- Pois não vou permitir, ouviu?
Essa cadelinha no cio não vai tirar você de mim!
Sou muito mais mulher do que essa ordinária!
- Pare Tereza!
- Vagabunda, prostituta, meretriz!
Sem saber mais o que fazer, Raul perdeu a cabeça e estalou uma bofetada no rosto de Tereza, que reagiu com espanto:
- Você me bateu...
Por causa da prostituta, você me bateu!
- Tereza, perdoe-me - implorou Raul.
Eu não queria...
Mas você estava fora de si.
Você enlouqueceu Tereza!
O que deu em você?
- Eu... Eu...
Envergonhada, Tereza rodou nos calcanhares e sumiu pela porta do quarto.
Raul ficou aturdido, sem saber se ia atrás dela ou se acalmava Amelinha, que chorava sem parar.
Decidiu seguir a mulher.
Amelinha estava em casa, medicada e sob as cobertas, ao passo que Tereza saíra desabalada, sabia-se lá para onde.
Deu um sorriso encorajador para Amelinha e saiu no encalço de Tereza, ainda escutando a vozinha miúda da enteada:
- O que foi que fiz à minha mãe?
Demorou muito para que Amelinha se recuperasse por completo daquela pneumonia.
Depois da briga que tivera com a mãe, o médico precisou ser novamente chamado, e por pouco Amelinha não voltou para o hospital.
Tereza fingiu-se interessada nos conselhos médicos, mas depois que ele se foi, virou as costas à filha e encarregou Cristina de cuidar dela.
A muito custo Raul conseguiu convencê-la de que nada havia acontecido naquele dia.
Contou como Amelinha passara mal e tentara se levantar para trocar a camisola molhada, desmaiando no meio do quarto antes de conseguir fazê-lo.
Tereza não sabia se acreditava ou não naquela história.
A cena que presenciara deixara-a extremamente chocada e com raiva.
Vira Amelinha, nua, nos braços de Raul, e era difícil convencer-se de que aquilo não era o que parecia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:58 pm

Só não conseguia mais ficar perto de Amelinha.
Se antes o relacionamento das duas já era difícil, agora então, tornara-se praticamente inviável.
Evitava ao máximo o contacto com a filha, e até Raul procurava não ficar muito perto dela, com medo de provocar nova briga com a mulher.
Isso fazia com que a menina sofresse imensamente, porque Raul passara a ser o seu único amigo.
Não tinha mais ninguém.
Mesmo Cristina, com que começara a ter um relacionamento mais amistoso, voltara a ser a estranha de sempre, visto que Amelinha não a perdoava por haver contado à mãe sobre seu pequeno e inocente flerte com seu Chico.
A escola em que estudavam agora era outra, para evitar constrangimentos às meninas, e Tereza passou a levá-las e buscá-las todos os dias.
Naquele dia, as duas entraram juntas em casa e seguiram directo para o banheiro, para lavar as mãos e almoçar.
Amelinha, como sempre, empurrou a irmã e lavou-se primeiro, deixando Cristina de lado, esperando a sua vez.
Terminou de enxugar as mãos, pendurou a toalha no cabideiro e, sem dizer nada, correu para o vaso sanitário e vomitou.
Cristina arregalou os olhos de susto e abaixou-se ao lado dela.
- O que você tem Amelinha?
Foi alguma coisa que comeu?
Com rispidez, Amelinha empurrou Cristina para o lado e se levantou, respondendo entre os dentes:
- Não tenho nada.
Meta-se com a sua vida.
- Está precisando de alguma coisa?
Quer que vá chamar a mamãe?
- Isso! Vá correndo fazer a sua fofoquinha, como sempre faz.
Magoada, Cristina deu as costas à irmã e foi para a cozinha, onde a mãe as esperava com o almoço.
Amelinha nem conseguiu olhar para a comida.
Só de sentir o cheiro do ensopado, levantou-se da mesa e correu novamente para o banheiro, quase não tendo tempo de chegar ao vaso.
Tereza acompanhou-a com um olhar silencioso e, após ouvir o barulho da porta do banheiro batendo, perguntou a Cristina:
- O que é que ela tem?
Cristina deu de ombros e respondeu inocente:
- Sei lá.
Ela chegou vomitando, mas disse que não era nada.
Vai ver foi muito doce que comeu.
Você sabe como Amelinha sempre foi gulosa.
Tereza não respondeu, mas olhou desconfiada para a porta da cozinha, onde Amelinha acabava de despontar.
- Não vou mais comer - anunciou ela, torcendo o nariz e evitando olhar para a mesa.
- Por quê?
- Não estou com fome.
Sem esperar pela resposta da mãe, virou as costas e seguiu para o quarto, indo atirar-se na cama.
Estava passando mal, com náuseas e certa tonteira.
Fazia dois dias que se sentia assim, mas só hoje vomitara.
Não podia ser nada que tivesse comido, porque aquele enjoo lhe tirara por completo o apetite, e ela mal se alimentava às refeições.
Para completar, seu período estava atrasado, o que deveria estar causando aquele inchaço nos seios.
Nos dias que se seguiram, seu estado foi piorando, e ela quase não conseguia comer.
Não podia nem sentir o cheiro da comida que já passava mal.
Chegava da escola sempre enjoada e ia directo para a cama.
Cristina, preocupada, levava-lhe frutas, que ela dispensava com má-criação.
- Tente comer alguma coisa - insistia a irmã, deixando a fruta na mesinha de cabeceira.
Mesmo contra a vontade, Amelinha forçava-se a ingerir um pedacinho de fruta, mas vomitava em seguida.
Foi emagrecendo e despertando, cada vez mais, as suspeitas de Tereza.
À hora do jantar, ela sempre tentava participar da refeição, só para ficar perto de Raul, mas não conseguia comer.
Dava duas, três colheradas no máximo e empurrava o prato para o lado, dominada pela náusea.
Não raras eram às vezes; em que saía correndo para o banheiro e vomitava, até que acabou chamando a atenção de Raul.
- O que essa menina tem?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Set 08, 2015 1:58 pm

- Não sei - respondeu Tereza com azedume.
- Amelinha não anda passando muito bem - respondeu Cristina, prontamente.
Vive enjoada e vomitando.
O olhar de Raul para Tereza foi bastante significativo, mas a mulher fingiu não entender e não disse nada.
Assim que Amelinha voltou do banheiro, Raul fez com que ela se sentasse ao seu lado e indagou interessado:
- O que você tem Amelinha?
Sua irmã nos disse que você não anda passando bem.
Amelinha fulminou Cristina com o olhar e respondeu vagamente:
- Nada. Não tenho nada.
- Desde quando está enjoada? - ela deu de ombros.
- Você foi vomitar agora?
- Fui.
- O que mais tem sentido?
- Nada.
- Pode falar Amelinha.
Sou seu amigo e só quero o seu bem.
Pelo canto do olho, Amelinha fitou a mãe, que permanecia com a cabeça baixa, fingindo-se concentrada no prato de comida.
- Já disse que não tenho nada.
- Se não tem nada, então por que vive enjoada e está emagrecendo?
- Não sei.
- Será que ela tem vermes? - arriscou Cristina.
- Não seja estúpida! - contestou Amelinha.
- Não fale assim com a sua irmã! - censurou Tereza.
Ela não tem culpa do seu mau humor.
- Eu não estou de mau humor!
- A menina está doente, Tereza.
Será que você não percebe?
- Ela não está doente - protestou Tereza, olhando para ela com ódio.
Sei muito bem o que ela tem, e você também sabe.
- O que é? - quis saber Cristina.
- Nada que lhe interesse, querida - cortou Tereza.
Isso não é assunto para você.
- Por quê?
- Porque não é assunto de criança.
Mesmo sem saber do que se tratava, Amelinha podia imaginar que era algo relacionado ao que acontecera entre ela e Chico.
Só não sabia o quê, já que Tereza nunca havia conversado com ela sobre sexo ou como eram feitos os bebés.
- Acho melhor você levá-la ao médico.
Seja o que for, precisa ser tratado.
- Farei isso - concordou Tereza, com um estranho brilho no olhar.
No dia seguinte, quando voltaram da escola, Tereza deixou Cristina com a vizinha e partiu com Amelinha para o médico.
Esperou a vez de serem atendidas sem trocar uma palavra com a filha, que também não disse nada.
Na vez de Amelinha, uma enfermeira mandou que ela entrasse, tirasse a roupa e se deitasse na maca, enquanto sua mãe conversava com o médico.
Alguns minutos depois, ele entrou e sorriu complacente, dizendo-lhe que se acalmasse e fizesse tudo que ele mandasse.
Amelinha, que nunca antes havia se submetido a um exame ginecológico, sentiu-se extremamente envergonhada quando aquele homem afastou as suas pernas e começou a mexer em suas partes mais íntimas.
Chorou de mansinho, mas não emitiu nenhum ruído.
Não queria que ele ou a mãe atestassem o seu constrangimento.
- Muito bem, Amelinha, pode se vestir - disse ele, depois de encerrado o exame.
A enfermeira ajudou-a com a roupa e levou-a para a outra sala, enquanto a mãe terminava de conversar com o médico.
Pouco depois, Tereza apareceu e saiu puxando Amelinha pelo braço.
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