LUZ ESPÍRITA
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GÉMEAS - Não se Separa o que a Vida Juntou - Leonel / Mónica de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 05, 2015 10:40 am

Deu partida no motor e ganharam a rua.
A seu lado, Suzane chorava envergonhada.
― Não sei o que dizer, Leandro.
Só que lamento...
― Não fique assim.
Hoje é o dia do nosso casamento, e não vamos deixar que um idiota estrague a nossa noite e o primeiro dia de nossas vidas juntos.
― Jamais imaginei que ele pudesse fazer uma coisa dessas.
― As pessoas são imprevisíveis.
Ainda mais quando estão apaixonadas.
― Você é maravilhoso.
Depois do que lhe fiz, ainda me aceitou de volta.
Se fosse outro, nunca mais olharia para mim.
― Outro não a amaria tanto quanto eu.
E você foi sincera. Contou-me tudo sem eu nem perguntar.
E olhe que eu nunca desconfiei.
― Como me arrependo de tê-lo enganado.
Mas eu estava confusa.
― Isso passou.
O importante agora é que nós nos amamos, estamos casados e nada vai atrapalhar a nossa felicidade.
Enquanto se dirigiam para o hotel, René foi embora desconsolado.
Nunca poderia supor que Suzane seria tão franca a ponto de arriscar tudo contando a verdade ao namorado.
Ela devia mesmo gostar dele.
Do contrário, estaria enganando-o até hoje.
Colou-se na parede do outro lado da rua e ficou olhando para o portão do clube por onde Suzane passara.
Viu, um a um, os convidados irem embora.
Quando Beatriz passou com Vítor, ele a olhou com olhos húmidos, mas ela estava conversando com o marido e não se apercebeu da sua presença.
Não havia mais o que fazer, a não ser provar a si mesmo que era capaz de muitas coisas.
Perdera a mulher que amava, disso tinha certeza, mas, como dissera Leandro, não perderia sua dignidade.
Sairia dali de cabeça erguida e continuaria com seus planos.
Terminaria o cursinho e faria vestibular para Direito.
Depois de formado, se dedicaria aos estudos e passaria num concurso para a magistratura.
Era isso o que queria.
Era isso que conseguiria.
Não fosse para provar a Suzane do que era capaz, provaria a si mesmo que a vida não estava terminada porque perdera a mulher dos seus sonhos.
Havia ainda outros sonhos para conquistar, e ele estava certo que os conquistaria, e ele estava certo que os conquistaria.
Ave sem Ninho
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 05, 2015 10:41 am

EPÍLOGO

Quando Renato saiu da prisão, era outro homem.
Deixara, na cela que fora a sua moradia nos últimos meses, toda a arrogância e o orgulho de uma vida inteira.
Saía modificado e com nova perspectiva da vida e do mundo, pensando apenas em dedicar-se ao trabalho e à família.
Queria passar mais tempo com a mulher e o filho.
Carminha foi buscá-lo na saída do presídio e levou-o para sua nova casa, onde ninguém os conhecia nem os olhava com olhar de pena ou de acusação.
Renato gostava de montanha, e foram para Friburgo.
Era perto do Rio e um bom lugar para recomeçar.
Quando chegaram, Renato se sentiu renovado.
A casa era maravilhosa, num condomínio cheio de árvores e flores, e ele inspirou o ar puro como quem respira pela primeira vez.
Ao ouvir o barulho do carro, o filho veio correndo e se atirou em seus braços.
Estava um rapazinho, e ele o beijou com amor.
― Você está um homem, rapaz!
Não havia percebido que crescera tanto.
A pedido do próprio Renato, Nícolas nunca fora visitá-lo na cadeia.
Queria poupar ao filho a lembrança de um pai criminoso, preso num lugar fétido e cercado de maus elementos.
Beatriz e Vítor também estavam presentes e Renato se surpreendeu ao ver o neto correndo pelo gramado ao seu encontro, gritando vovô, vovô, com sua vozinha fina e alegre.
Ergueu o menino no colo e o estreitou, surpreendendo-se com o facto de a criança o conhecer.
― Nós dissemos a ele quem você é - esclareceu Beatriz meio sem jeito, beijando o rosto do pai.
Renato se sentiu reconfortado com os filhos e o neto, e buscou Carminha com o olhar.
Ela se aproximou e se aninhou em seu braço, dividindo com o menino o abraço do marido.
Ele estava feliz.
A companhia da família era tudo o que podia desejar.
Durante o tempo em que passara na cadeia, o que mais lhe doía era a ausência de seus entes queridos.
Agora, no entanto, iria começar tudo outra vez.
Um trovão soou ao longe, e gotas de uma chuva grossa e fria começaram a se derramar sobre eles.
― Vamos entrar! - chamou Carminha, correndo para dentro, com os outros logo atrás.
Apenas Renato permaneceu parado no jardim, recebendo na face aquela chuva que, há anos, não sentia.
― Você não vem, pai? - era Beatriz.
― Vamos, vovô - falou o neto, puxando-o pela mão.
Renato se deixou conduzir, caminhando devagar para poder sentir o frescor dos pingos da chuva, naquele momento reconhecendo o verdadeiro valor que tinham a liberdade e a vida.
Não apenas a sua, mas como todas as outras que destruíra.
Estava chorando, mas os pingos de chuva espalhados no seu rosto não permitiam que ninguém percebesse.
Entrou em casa pela mão do neto e abraçou a esposa novamente, fitando Beatriz e Vítor com uma emoção nunca antes sentida.
Afinal, para ele, não era isso o que importava?
Como de costume aos domingos, Suzane ia com Leandro e Graziela almoçar em casa de Amélia.
Após um delicioso churrasco à beira da piscina, Suzane esticou-se na espreguiçadeira para ler o jornal.
Apanhou-o e começou a folheá-lo distraidamente.
Foi correndo os olhos pelo periódico, até que uma foto lhe chamou a atenção.
Nela, um homem muito parecido com seu tio Cosme, ao lado de outro, igualzinho ao doutor Armando, entravam, algemados, numa delegacia de polícia.
Acima, a manchete, em letras garrafais:
Presos em Brasília o famoso advogado Cosme Brito Damon e seu sócio, Armando Ribeiro, acusados de estelionato, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
― Graziela! - gritou Suzane, correndo ao encontro da mãe.
― O que foi?
― Veja isto.
E estendeu o jornal para Graziela.
Amélia e Leandro se juntaram atrás dela para ler a notícia.
― É o seu tio? - indagou Leandro.
― O próprio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 05, 2015 10:41 am

― Vejam só - falou Graziela. ― Preso.
― E o outro era o sócio de minha mãe.
O que me enganou com a procuração.
― Eu não lhe disse que não valia à pena se vingar?
A vida mesma se encarrega de dar a devida punição aos criminosos.
― Você vai tentar reaver sua herança? - quis saber Amélia.
― Não - respondeu Suzane com sinceridade.
Não vale a pena.
― Também acho - concordou Graziela.
Suzane não precisa do dinheiro daquele ladrão.
Vai até fazer mal.
― É verdade. Contento-me com o que tenho e sei que meus pais, onde estiverem, também estão satisfeitos.
Não preciso de nada que venha de tio Cosme.
― Isso mesmo.
Deixe que a Justiça e Deus se encarreguem dele.
Estavam felizes.
Para Suzane, a vingança perdera a razão.
Não apenas porque encontrara a verdadeira mãe, mas porque seu coração já não guardava mais sintonia com aquele sentimento.
Naquela noite, Graziela voltou a sonhar com Aécio.
Ele a retirou do corpo físico e voou com ela para o passado, para o momento em que Ismália e o capataz da fazenda do barão Valverde discutiam a meia-voz.
― Fez como lhe mandei? - a indagou com ódio.
― Fiz, sim, senhora.
A menina já está morta.
― Como é que você pode ter tanta certeza?
Você viu a onça comê-la?
― Não, sinhá.
Acontece que eu mesmo a matei.
Um brilho de satisfação coloriu o olhar de Ismália que, todavia, nada deixou transparecer ao capataz.
― Eu não mandei matá-la! - censurou falsamente.
A responsabilidade por isso é toda sua, entendeu? - ele assentiu.
Não tive nada a ver com isso.
― Entendi, sinhá.
Não se preocupe, que ninguém vai acusá-la de nada.
Quando o capataz se virou para ir embora, Graziela soltou um grito de susto, reconhecendo, no rosto dele, o semblante sofrido de Roberval.
Imediatamente, a cena se desvaneceu, e apenas ela, Roberval e Aécio permaneceram no local, que agora se transformara numa próspera fazenda de gado leiteiro, sem nenhum resquício do antigo engenho de escravos.
― Roberval! - gritou ela dolorosamente.
É você!
― Sim, Severina, sou eu.
Ao ouvir o seu nome de baptismo, que ela não escutava há tantos anos, Graziela sentiu um estremecimento e retrucou com voz humilde:
― Por favor, não me chame mais por esse nome.
Faz-me lembrar todos os erros que cometi.
― Como pode ver, você não foi a única a errar no mundo.
― Errei com você.
Foi por causa da minha ambição que você perdeu a vida.
― Não diga isso.
Você não era ambiciosa, nunca foi.
Estava desesperada na época, era inexperiente e infantil.
Jovem demais para assumir tantas responsabilidades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 05, 2015 10:42 am

― Você é muito bom, Roberval, tentando justificar a minha atitude.
― Não se trata de justificar a atitude, mas de compreendê-la.
― Eu não devia ter feito o que fiz.
Jamais deveria ter vendido as minhas meninas.
― Todos nós temos algo de que nos arrepender.
Mas o arrependimento não deve vir com o peso da culpa, e sim com a leveza da compreensão e da reforma interior.
― Você sabe que me arrependi, não sabe?
Se pudesse, teria trazido você de volta à vida, mas não foi possível.
No entanto, tudo fiz para encontrar nossas filhas.
― E conseguiu.
― Durante todos esses anos, fiquei imaginando se você teria partido dessa vida com o coração carregado de ódio pelo que lhe fiz.
― Se tivesse que sentir ódio de alguém, sentiria de mim mesmo, porque vivi muitas vidas em que me perdi na ilusão do crime.
― Oh! Roberval!
Será que você pode me perdoar?
― Você pode perdoar a si mesma? - ela não respondeu.
Porque você nada me deve para me pedir perdão.
O que me aconteceu foi consequência do desequilíbrio que eu mesmo causei na minha vida.
― Mesmo assim, perdoe-me.
Eu não queria que as coisas tivessem acontecido daquele jeito.
― Roberval tem acompanhado você desde que desencarnou e adquiriu condições de compreender tudo por que passou - esclareceu Aécio, que, até então, permanecera calado.
― Ele tem me acompanhado? - surpreendeu-se Graziela.
― Muitas vezes, foi vê-la em minha companhia.
Graziela lembrou-se da sombra que, de vez em quando, via nos sonhos que tinha com Aécio, e só agora percebia que se tratava de Roberval.
― Eu não queria impor-lhe a minha presença - disse ele.
Não queria que você pensasse que eu estava ali para lhe fazer acusações.
― Roberval jamais a acusou, Graziela.
Sempre quis que você seguisse a sua vida e fosse feliz.
― Quando você conheceu Aécio - continuou Roberval —, fiquei bastante gratificado por ter tido o merecimento de encontrar uma pessoa boa e capaz de ajudá-la.
Ele foi um anjo na sua vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Set 05, 2015 10:42 am

― Não, meu caro amigo - contrapôs Aécio.
Graziela é que foi um anjo para mim.
Sempre boa e dedicada, gastou a juventude cuidando de um velho.
― Eu o amava, Aécio.
Assim como amei Roberval...
― Pois aproveite esse amor em benefício de si mesma.
A vida ainda lhe reserva coisas boas.
Vá e se dê a oportunidade de encontrá-las.
― Estaremos sempre olhando por você, Graziela - afirmou Roberval.
Ao acordar, parecia que Graziela sentia a mão de Aécio sobre o seu peito, tornando-o leve e límpido.
Levantou-se de bom humor, tomou café e foi à praia.
Estava uma linda manhã de sol, e o mar parecia convidativo. Havia crianças brincando na areia, e muitas pessoas caminhavam na calçada.
Na areia, armou a cadeira e a barraca e sentou-se de frente para o mar.
Passou protector solar e colocou o chapéu de sol.
Uma brisa suave começou a soprar, e foi ficando mais forte, até se tornar um vento rápido e perturbador.
Uma rajada mais forte arrancou seu chapéu, que foi rolando pela areia, com Graziela logo atrás.
O chapéu bateu no ombro de um homem que estava deitado numa toalha, e Graziela, na pressa, tropeçou e caiu próximo a ele, enchendo as costas do homem de areia.
― Minha Nossa Senhora, me perdoe! - disse ela, morrendo de vergonha.
O homem ergueu as sobrancelhas e levantou-se, e Graziela pensou que ele fosse reclamar de alguma coisa.
Ao invés disso, ele apanhou o chapéu meio enterrado a seus pés, sacudiu-o gentilmente e estendeu-o para ela.
Com um gesto amistoso, ela o recolheu e olhou para ele, sem saber o que dizer.
Ele estava sorrindo, e pareceu-lhe, subitamente, ver a imagem de Aécio esvanecendo por detrás do homem.
Foi ali, naquele momento, que ela compreendeu quais eram as oportunidades que a vida queria lhe dar.
― Isso é seu? - perguntou ele, e Graziela assentiu.
Você vem sempre aqui?
Ela olhou para ele e fez que sim com a cabeça, deixando-se envolver pela aura de simpatia daquele desconhecido e entregando-se à nova oportunidade de experiência que estava por surgir.
Naquele momento, era como se um ciclo em sua vida houvesse sido concluído, e ela estava pronta e madura para iniciar algo inovador.
Confiou em si mesma e sorriu, entabulando com o estranho uma conversa alegre e descontraída, sem preocupações, arrependimentos, culpas ou medo.
Só a vontade de viver.

§.§.§- Ave sem Ninho
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