LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:39 am

Vendo as medidas protectoras que a guarda adoptara antes que tais Espíritos invadissem, bloqueando a passagem não apenas dos que compunham aquele grupo, mas, sim, de todos os que desejavam seguir aproximando-se do foco central, o responsável por aquele sector da vigilância apresentou-se para responder ao mentor.

— Eu sou o responsável por esta parte das defesas, mentor Alfonso.
E no momento em que tais Espíritos se apresentaram, agressivos e arrojados, para não ter que disparar os dardos magnéticos imobilizadores, em vista da carga de entorpecimento e do susto que produzem tanto nos que são alvos quanto nos que estão ao redor, deliberei bloquear toda a passagem, fechando o círculo de forças e impedindo o ingresso de qualquer irmão, já que o volume dificulta o trabalho de selecção e, depois que passam por aqui, é sempre mais difícil reconduzi-los de volta.

— Você está absolutamente certo, Servílio.
Suas medidas indicam o perfeito preparo que você possui para a liderança de nossas linhas primárias de defesa.
Agir na defesa não significa abusar da força como exibição de poder.
Certamente eles lhe dariam menos trabalho se você os tivesse atingido com a carga imobilizadora.

No entanto, como dar exemplos de amor se as nossas primeiras opções forem as armas?
De que vale ter conquistado alguma compreensão das coisas se, ao primeiro desafio, voltamos ao machado, à espada e à metralhadora?
Teríamos deixado de ser os mesmos bandidos do passado?
Claro que não, meu filho.

Você agiu correctamente e suas medidas protectoras correspondem ao sentido do Amor Divino que tudo faz, primeiro, para que não soframos e, somente quando não deixamos outras opções, acabamos entregues a nossa própria incúria.
Vamos conversar com eles para saber o que desejam.

E dizendo isso, Alfonso entrou em oração fervorosa para que sua vontade, perfeitamente adestrada, lhe conferisse a condição de visibilidade necessária para que todos ali pudessem perceber a sua presença.

Assim que seu perispírito começou a adensar-se, uma exclamação de espanto tomou conta dos Espíritos ali contidos.
Ao mesmo tempo em que Alfonso se fazia mais denso aos olhares acostumados apenas ao ambiente fluídico elevado, aos olhos das entidades abrutalhadas ele surgia como que numa túnica translúcida e diamantina, espalhando raios azulados na direcção da multidão.

Elevando a mão em sinal de cumprimento geral, dirigiu-se a todos:
— Meus irmãos em Deus, sabemos que os propósitos dessa visita não são os melhores e, por isso, a escuridão de seus projectos barrou a sua passagem rumo ao destino.
Ouvindo-lhe as revelações fulminantes, o Chefe vociferou:
— Eta corja de fuxiqueiro que existe por aí!
Até os anjos já estão se valendo deles para nos espiar.

Sem dar importância alguma para os comentários irónicos e provocadores, Alfonso continuou:
— Este ambiente abençoado por Deus e protegido pelo Amor de Jesus sempre se sentirá honrado em recebê-los, desde que haja, no íntimo daquele que pede passagem, uma sincera intenção de aprendizado e de transformação.
Do contrário, seus propósitos malignos são, para vocês mesmos, o maior obstáculo que os impede de seguirem para a frente.

Vendo que não poderiam vencer aquelas barreiras sem as indispensáveis modificações, o Chefe respondeu, entre amedrontado e irritado:
— Viemos visitar um velho amigo e é assim que nos recebem?
— Estão procurando por Glauco, que é também nosso irmão querido.
O que desejam com ele?

— Ora, queremos abraçá-lo também, como vocês.
Ele já nos pertenceu há algum tempo, já foi dos nossos e temos saudades;
porventura isso é algum crime no Céu?

— Nossa disposição é a de amá-lo e fazer-lhe o Bem.
E a de vocês é a mesma?
Amá-lo e fazer-lhe o Bem? — falou Alfonso, firme e calmo.

O silêncio foi a resposta.

— Vejo que a amizade e a saudade que dizem devotar a Glauco não estão abastecidas nem com o Amor nem com o Bem, porquanto o silêncio de vocês bem o atesta.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:40 am

Vendo que isso não facultaria a passagem, um dos hipnotizadores, acostumado às tarefas de convencimento por meio de sua capacidade intelectual, pediu a palavra e, respeitosamente, falou sereno:
— Nobre mensageiro de defesa, reconhecemos as diferenças que existem na forma de nossa amizade para com o mencionado indivíduo.
No entanto, consultamos sua sabedoria solicitando, se não o ingresso de todos os que aqui estamos, ao menos de uma pequena comissão que pudesse se acercar dele para que, atendendo aos próprios desejos de Glauco, que já esteve muito ligado a todos nós, lhe entregássemos o que viemos trazer.

Afinal, não compete a cada um aceitar ou não aquilo com que se sintonize?

A argumentação lógica e irretorquível da entidade trevosa surpreendia a todos nós, menos a Félix e a Alfonso, acostumados com estas estratégias.
Enquanto Alfonso escutava a manifestação do Espírito inteligente, Félix, invisível como Magnus a todos eles, aproximou-se do mentor e, tendo tarefas espirituais a desempenhar junto do grupo a que se ligava Glauco, através do pensamento hipotecou a Alfonso toda a cooperação e vigilância indispensáveis para o caso, se ele, o dirigente dos trabalhos julgasse oportuno o atendimento da solicitação de referidas entidades.

Recebendo-lhe o apoio no imo da alma, sem alterar sua aparência, Alfonso respondeu, sereno e firme:
— Esta é a oportunidade luminosa em suas vidas.
Sua inteligência e sagacidade demonstram que já não há mais ingenuidade a justificar suas quedas.
Neste ambiente não há espaço para o que vieram fazer nem para alvoroços e desajustes.

Se querem entrar, mesmo um pequeno grupo, terão que se disciplinar segundo nossas próprias regras.
Caso contrário, submeter-se-ão às consequências decorrentes de actos indignos.
Quanto a Glauco, ele não está encarcerado em uma redoma por nós construída.

Está livre para agir como bem lhe pareça.
No entanto advertimos aos que entrarem para que se conduzam com dignidade porquanto não haverá espaço para brincadeiras ou manobras.
Só entrarão aqueles que vieram com tarefas específicas junto a Glauco.

Então o Chefe apontou para seus dois comparsas e para os outros quatro Espíritos responsáveis pela instalação dos ovóides junto ao corpo físico do rapaz.

Convocando Servílio, solicitou que deslocasse uma escolta para acompanhamento pessoal do grupo de sete entidades trevosas que havia solicitado o ingresso no ambiente, reforçando a adopção de medidas de contenção e de choque magnético caso se fizesse necessário.

Para os sete integrantes do grupo inferior, aquele parecia ser o primeiro sucesso nas suas estratégias de penetração.
Conseguiram burlar a primeira linha de defesa e, agora, estavam sendo levados para o núcleo onde Glauco se escondia deles.
Quando chegassem lá, talvez tudo estivesse mais fácil.

— Que mentor mais idiota, esse Alfonso — falou baixinho o Chefe a Juvenal, que o seguia de perto, amedrontado, querendo parecer forte.
Vai nos levar escoltado até àquele que vamos atacar.

À medida que a aproximação ia acontecendo, as forças elevadas que se irradiavam de dentro do lar eram tais que os sete integrantes cassaram a sentir os choques eléctricos, o que fez com que Alfonso determinasse a criação de um campo de protecção magnética ao redor das sete entidades, a fim de graduar para menos o teor de energia que os atingisse, uma vez que poderiam perder os sentidos e não era esse o desejo tanto dos invasores, agora convidados, quanto dos anfitriões.

Além do mais, essa protecção os isolava dos outros Espíritos sofredores que, contados em mais de duas centenas a compartilhar a reunião dos quatro encarnados, era maciçamente composta por Espíritos infelizes em processo de recuperação, recuperação essa que poderia ser prejudicada pelo encontro com entidades maléficas e amedrontadoras, fazendo-os supor que tais Espíritos malignos ali estivessem para buscá-los, novamente.

Aos olhos dos sete Espíritos que compunham o pequeno grupo escuro e denso, além de Glauco e dos outros três participantes encarnados, apenas um reduzido número de entidades trabalhadoras espirituais podia ser divisado no ambiente, além, é claro, do próprio Alfonso.

A reunião se encaminhava para o seu término, quando, então, se costumava fazer a oração final com as vibrações destinadas aos aflitos de todo tipo de aflições, sempre realizada por um dos seus integrantes.

Nesse momento, aquele Espírito trevoso que parecia ser o mais capacitado dentre os sete, na condição de hipnotizador experiente, solicitou de Alfonso a autorização para acercar-se de Glauco e lhe fazer a entrega do presente que haviam trazido.

Tratava-se de uma espécie de sacola que continha três corpos ovóides que deveriam ser instalados no jovem.

Demonstrando o controle da situação, Alfonso lhe respondeu:
— Meu irmão, nosso Glauco, como já lhe disse, não é nosso prisioneiro.
Você poderá acercar-se dele, desde que se comprometa a não forçá-lo ou violentar-lhe a vontade.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:40 am

— Acato suas determinações.
No entanto, precisarei buscar meios de entregar-lhe o presente, ainda que o faça sem violar a disciplina da reunião.
Somente assim é que saberemos se Glauco vai aceitar ou não a encomenda.

— Estaremos observando sua tentativa e, dentro de nossos critérios, você pode agir como bem entenda.

Dizendo isso, Alfonso estendeu a mão ao hipnotizador para que ele pudesse sair do casulo vibratório, que mais se assemelhava a uma bolha de acrílico escuro, a proteger os seus componentes dos raios luminosos de fora e, ao mesmo tempo, proteger os de fora da visão desagradável que eles representavam.

Suportando o choque fluídico com a adestração de sua vontade, o hipnotizador se acercou de Glauco que, naquele exacto momento, iria dar início às vibrações amorosas que encerrariam a reunião naquele dia.

Tinham decorrido vinte e cinco minutos desde a prece inicial.
Olívia, intuída por Félix, houvera solicitado ao rapaz que realizasse a oração para que todos os aflitos do mundo se sentissem amparados pelas forças daquela súplica, levando em consideração o esforço do futuro genro em se confessar moralmente um devedor aos olhos de todos, como o fizera naquele dia.

Ao mesmo tempo em que sugerira tal escolha, o instrutor Félix passara a vibrar, sustentando o campo de forças de Glauco para que pudesse irradiar as energias mais puras e equilibradas de seu coração, porquanto a partir daquele momento ele próprio estaria sendo bombardeado pelas cargas nocivas da entidade visitante.

Foi, então, interessante observar o que ocorria.

O Espírito hipnotizador se postara atrás de sua cadeira e, impondo as mãos sobre seu cérebro, passara a irradiar, como estava acostumado a fazer em inúmeros processos perturbadores, uma massa viscosa e penetrante que se destinava ao interior do cérebro físico do rapaz.

Alfonso e Félix observavam, cada um em um patamar vibratório, o desempenho da entidade maligna, mantendo posição de respeito e isenção, além da natural oração com que acompanhavam as rogativas de Glauco, solicitando a Jesus que ajudasse o jovem naquele momento de testemunho pessoal.

O rapaz, envolvido pelo ideal elevado da oração, se punha de pensamento e sentimento na direcção do Alto, e sua mente apaziguada rela confissão de suas quedas e pelo desejo de melhorar-se, não possuía nenhuma tomada mental vulnerável ou disponível, naquele momento, para a absorção dos fluidos pestilentos.

A luz que se arrojava a partir de seus centros cerebral e emocional repelia intensamente a carga negativa, enquanto que os ovóides, colocados sobre a mesa com os fios magnéticos que partiam de sua estrutura a se assemelharem aos cabelos da Medusa do mito grego, igualmente iam sendo banhados pelas emissões de todos os presentes, acusando estranhas transformações.

Quanto mais via baldos seus esforços, mais o hipnotizador se desdobrava para que o malfadado presente acabasse conectado aos centros inteligentes do encarnado.
No entanto, sem o apoio dos outros amigos que se achavam contidos no recipiente de energia, não tardou para que o hipnotizador escolhido, que era o mais capacitado dentre os outros que o seguiam na condição de torturadores magnéticos, apresentasse sinais de esgotamento.

A prece de Glauco não diferia em nada das orações espontâneas que pedem pelos aflitos da Terra, pelos doentes, pelas viúvas e órfãos, pelos entes hospitalizados, pelos desamparados da sorte, pelos bandidos e prostitutas, pelas pessoas que pensam em se matar, enfim, por todos os irmãos de humanidade.

No entanto, era feita com uma tal sinceridade que, do seu coração, os raios safirinos de luz atestavam a profunda verdade com que tais palavras eram proferidas.
As lágrimas naturais molhavam suas pálpebras, sem que, nem de longe, imaginasse o que estava acontecendo naquele ambiente, naqueles poucos minutos.

Nunca poderia pensar que as forças amorosas de Félix e Alfonso o abasteciam de inspiração e sentimento para que, com eficácia e bondade pudesse exprimir-se naquela hora tão especial para os destinos de todos.

Durante o tempo em que a prece durou, Glauco fora alimentado no coração pelos ideais que nutria e pelas forças do Bem dos mentores amigos.
Ao mesmo tempo, a entidade negativa ia lhe bombardeando o pensamento com as cargas deletérias que trazia, alternando-as com a acção hipnotizadora que tentava fazer Glauco se lembrar das antigas cenas de leviandade, fazendo circundar sua atmosfera com formas pensamento de mulheres despidas a lhe provocarem a memória.

No entanto, parece que Glauco não as percebia, tal era o seu estado mental elevado.
Sem conseguir mais se manter, antes de perder por completo o controle sobre si mesmo, a entidade trevosa afastou-se para não cair, vitimada por uma vertigem, como que buscando apoio em alguma coisa que contivesse a sua queda.

Encontrou os braços de Alfonso que, sem qualquer tom de vitória, perguntou:
— O meu amigo (chamava de "amigo" porque tais entidades, geralmente, se revoltam quando são tratadas de "irmão ou irmã") aceita um pouco de água?

Vendo-se nas mãos da luminosa entidade, o hipnotizador tentou refazer-se a fim de manter a postura e não parecer derrotado.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:41 am

— Estou bem, é apenas uma tontura passageira.
— Sim, nós sabemos. Desejamos o seu bem.
Aceite um pouco da água que o ajudará a refazer-se da tontura.

Sem poder negar o seu estado, o Espírito perturbador, transformado em perturbado, ingeriu o conteúdo do copo e se sentiu invadido de uma sensação absolutamente nova para ele.

Parecia estar voltando a ser criança.
Sentia uma vontade de buscar o colo materno que sempre se fizera acolhedor e amigo e do qual estava afastado já há muitas décadas, perdido nos tormentos daquele tipo de trabalho no mal.

E enquanto estava agindo assim, sem entender de onde lhe vinham as ideias de um passado tão velho, mas uma sensação tão inesquecível e nova, para a surpresa de todos os que ali estavam, inclusive dos próprios dirigentes, uma pequena estrela desceu do tecto, como se tivesse furado o telhado e sua luz, pequena a princípio, começou a crescer e a se transformar num corpo de mulher, mas uma madona antiga, vestida de luzes prateadas como se, antes de chegar à Terra, houvesse passado nas redondezas da lua e tomado por empréstimo a sua claridade.

Materializou-se aos nossos olhares espirituais, bem no meio da mesa física onde estava a garrafa de água que todos iriam usar logo a seguir, sem que nenhum dos encarnados pudesse perceber, visualmente, a sua presença.

— Guilherme, meu filho, quanta saudade tenho de seus braços pequeninos.

E sem entender como aquilo era possível, a perversa entidade, agora vencida e desgastada pelo mal que buscara praticar, encantada pela a visão magnífica daquela que lhe dominava o sentimento desde os tempos da reencarnação na antiga Germânia, pôde apenas exprimir-se e, aos gritos de desespero, antes da crise de choro convulsivo:
— Mãe... mãezinha, você não me esqueceu?

Abraçando-o como quem abraça o maior tesouro que existe, a sublime entidade tomou-o em seu colo e respondeu:
— Como poderia ter esquecido daquele que é o meu próprio coração e que tenho buscado em todos estes séculos?
Você ainda não conhece o tamanho do Amor, Guilherme, se pensa que poderia tê-lo esquecido.
— Mas... eu sou um monstro, mãe!
Veja no que me transformei longe de você!

Entendendo aquele momento difícil, mas necessário, para que o filho despertasse para si mesmo, a generosa entidade não tentou desfazer-lhe as impressões, mas, ao contrário, reafirmou-lhe:
— Essa é a prova maior do meu amor, filho, aquele que faz o coração da mãe não ver as deformidades daquele que ama e dedicar-se a ele como se ele fosse a criatura mais perfeita do mundo.
Sabe, Guilherme, por que você é tão precioso para mim?

Vendo a pergunta directa, a entidade, vencida, abanou a cabeça sem forças para responder.

— Porque você me foi dado por Deus, meu filho.
Você é um presente do Pai para meu coração. Para sempre.

Raios de uma tempestade que se unissem naquele momento não conseguiriam iluminar aquele pequeno círculo com um poder e uma rutilância maiores.
A emissária superior olhou, agradecida, para todos os quatro integrantes daquela família, que se reuniram para uma breve prece de menos que trinta minutos.

Vendo a garrafa d'água colocada sobre a mesa, exactamente no local em que ela se encontrava, endereçou seu foco de emissão fluídica directamente para o recipiente, e como se ela se achasse na altura de seu outrora existente útero materno, transportando a força de seu coração para aquele centro que lhe marcava, simbolicamente, o novo nascimento do filho perdido, abençoou aquele líquido com a gratidão e a felicidade que só o coração materno sabe dar, depois que recupera a jóia perdida, a ovelha que se desgarrara.

Parecia que o Sol se havia acendido no interior do recipiente de vidro pobre, contagiando todas as moléculas de água com um padrão de forças absolutamente renovado e energizado, fazendo vibrar cada molécula com especial tonicidade, transformando-as, todas, em reais mensageiras de esperança e harmonia para as células de todo o organismo que as ingerisse, ainda que em pequena quantidade.

Poderíamos afirmar que tal processo se pareceria, grosseiramente, ao enriquecimento de urânio que se realiza em laboratórios e mecanismos complicados visando as explosões atómicas, mas ali produzido pelo sentimento elevado de um Espírito Superior, com finalidades benéficas e pacíficas.

Depois, voltando-se para o filho, perguntou se aceitava ir com ela.
Então, num gesto quase infantil, a entidade, que se havia transformado ao lembrar-se infância distante, agarrou-se aos seus braços de mãe desvelada como a não desejar mais sair dali.

Voltavam a unir-se e o desejo dele era de não mais perder a fonte de seus afectos mais profundos.

Entendendo que havia chegado o momento da despedida, a entidade nobre, proveniente dos planos superiores, dirigiu-se a Alfonso, num olhar emocionado, no qual a lágrima suave externava os mais belos discursos de agradecimento e, humilde, solicitou:
— Meu filho, recolhe-os e prepara-os em meu nome, porquanto eu os virei buscar para que, juntos, reprogramemos nossos destinos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:41 am

Entendendo que a safirina entidade se referia aos Espíritos ovóides que ali estavam, Alfonso acenou com a fronte iluminada e respondeu:
— Serão nossos filhos até que possam voltar a ser vossos.

Despediu-se a nobre entidade, levando consigo o hipnotizador astuto e frio, aquele mesmo filho perdido que, depois de longos séculos houvera reencontrado.

Ao mesmo tempo em que isso acontecia, os outros seis Espíritos, isolados na redoma fluídica, não sabiam o que fazer, aterrorizados que estavam com a partida do seu líder.

Desesperados por imaginarem que ficariam presos naquele ambiente, temiam, por outro lado, a perda de um dos mais importantes membros e as negativas repercussões na Organização, que os seguiria até o fim do mundo.

Voltando-se para eles, Alfonso perguntou, amável:
— Vocês também estão convidados a seguir o mesmo caminho de nosso irmão que acabou de reencontrar a felicidade.
Por que não aceitam o convite?
Desejam continuar a entrega presentes?

Na gritaria dos desesperados, todos, inclusive os outros hipnotizadores, se puseram a pedir que fossem levados para fora, que pudessem ser libertados e deixados em paz.

— Está bem, meus irmãos.
A paciência de Deus é inesgotável, entanto, nunca se esqueçam de que o Amor não os abandonará nunca e que a vergonha do mal que fizemos será muito mais escura do qualquer vingança de qualquer organização trevosa.

Então, Alfonso autorizou que os guardas levassem todos de volta ao exterior e, assim, pôde dar por encerrado o trabalho daquela noite, ao mesmo tempo em que os encarnados dividiam a água bendita.

Foi quando Félix escutou Magnus dizer-lhe:
— Ah! Que vontade de beber dessa água.
— Eu também — respondeu o instrutor, sorrindo.

Depois de levadas de volta ao exterior, as entidades perseguidoras saíram em disparada afastando-se aos xingamentos, como se tivessem sido ludibriadas, como se não houvessem sido, eles próprios, os que ali se apresentaram para fazer o mal.

Como todas as criaturas medíocres, também procuravam acusar os outros, colocar a culpa nas "torpezas" do Bem, nas artes maliciosas dos "Anjos", maneira pela qual ocultavam suas fraquezas, suas debilidades de carácter.

Assustados com o destino do mais experiente dentre todos os hipnotizadores, os três outros que o acompanhavam regressaram à sede da Organização e, agindo discretamente, nada revelaram aos seus superiores acerca da verdade, preferindo afirmar que haviam sido dispensados pelo outro que os liderava, o qual optara por se manter junto à vítima encarnada, dando os últimos retoques no processo de ligação das entidades ovóides.

Assim combinados, os três procuraram evitar as consequências pessoais negativas, deixando que o acaso fizesse a sua parte nas revelações da deserção do companheiro mais experiente.

De forma semelhante agiu o outro trio, aquele que se apresentava mais ligado às personagens que, obedecendo aos conselhos, do Chefe acertaram que tais insucessos não seriam revelados por eles mesmos já que não desejavam ser responsabilizados pelos comandantes por aquele rotundo fracasso.

Além disso, no dia seguinte deveriam estar a postos para não perderem as oportunidades junto a Marcelo e Sílvia, ocasião em que poderiam obter o sucesso prometido ao Presidente, deixando as notícias más para que outros se fizessem portadores.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:41 am

18 - LUIZ, SUA SEXUALIDADE E SEU OBSESSOR

Observemos o que se passara no lado espiritual da vida em relação a Luiz, naquelas horas dedicadas à oração familiar, tanto quanto nas que se seguiram ao seu encerramento.

Depois de distribuída a água balsamizada pela nobre entidade que viera recolher o precioso tesouro de seu afecto, na figura da perturbadora entidade hipnotizadora que ali acabara por redescobrir a si mesma, os integrantes do grupo familiar passaram às conversações normais, encaminhando-se, a seguir, cada um para suas actividades pessoais, sem qualquer diferença, a não ser, o bem estar que guardavam em suas almas.

João voltou para sua televisão, Olívia foi tratar de ultimar algumas costuras para o dia seguinte enquanto que Glauco e Gláucia se sentaram na sala para poderem conversar melhor sobre certas coisas da vida a dois.

Enquanto isso, prosseguiam no plano espiritual daquele lar as actividades do mundo invisível, no encaminhamento das diversas entidades aflitas que haviam sido trazidas para a participação daquele momento de oração em família, ao mesmo tempo em que os obsessores de cada um dos integrantes da casa eram retidos em ambiente separado, e fossem atendidos individualmente por amorosas entidades que conversariam com eles.

Em realidade, os mais atacados pela perseguição dos Espíritos perturbadores eram João e o seu filho Luiz.
Sobretudo este último, carregava consigo graves processos obsessivos, ainda que, à primeira vista, pudesse ser encarado como uma pessoa tida como normal pelas atitudes, que não diferiam da maioria dos da sua idade.

Era um rapaz bem apessoado, na flor da idade e que cultivava os hábitos sociais considerados tão comuns entre os adultos jovens, seja os do consumo alcoólico, sejam os das aventuras sexuais descompromissadas.

Dono de uma personalidade forte, não gostava de prestar contas a ninguém daquilo que fazia e, ainda que respeitasse a postura de seus pais, era zeloso da ideia de que, em sua vida, era ele quem mandava.

A única pessoa que parecia exercer certo poder de influência benéfica sobre ele era a irmã mais velha, Gláucia que, usando seu carinho e a maneira compreensiva que desenvolvera ao longo de seu amadurecimento como mulher, conquistara as suas atenções e se fazia escutar, ainda que não tivesse nenhum poder sobre a personalidade impetuosa do irmão.

O rapaz trabalhava e tinha seus recursos pessoais que lhe garantiam viver segundo sua vontade e seus desejos.
Dentro de casa, procurava ser sempre o mesmo, com a conduta mais ou menos padronizada, segundo os ensinamentos da educação recebidos de seus genitores.

No entanto, longe deles e na companhia de amigos, parecia transformar-se, permitindo que as inclinações negativas que existiam em seu Espírito pudessem libertar-se sem quaisquer amarras, dando vazão aos seus instintos mais primitivos.

Essa vida dúbia lhe causava vários problemas psicológicos já que, ao mesmo tempo em que gostava do modo de ser que mantinha fora do lar, não queria que seu conceito ou seu perfil de integridade acabasse manchado na mente de seus familiares.

Por isso, recusava-se sistematicamente a acompanhar Gláucia e Glauco em algum tipo de passeio por lugares públicos, receando que o encontro com outras pessoas viesse a denunciar-lhe a conduta moral oscilante.

Ao estabelecer esse padrão de comportamento, Luiz permitira ser influenciado por entidades aproveitadoras, vampirizadoras das forças vitais dos encarnados invigilantes, sócias nos seus prazeres e aventuras, estimulando suas tendências inferiores para delas extrair maior gama de sensações que não conseguiriam obter de outra forma, depois que a morte física lhes tirara o corpo carnal.

Eram os antigos viciados, pervertidos e irresponsáveis de todos os tempos que, sem desejarem empenhar-se no esforço do crescimento e da transformação pessoal, passavam a acompanhar aqueles encarnados que fossem sensíveis às suas influências, coisa que, para acontecer, precisava contar, naturalmente, com a afinidade de gostos e desejos íntimos entre as duas partes.

Luiz era uma dessas fontes a propiciar a tais entidades o pagamento em gozos e sensações animalizadas pela eventual protecção que passavam a lhe dar.
Entre elas estava a mais viciada de todas, aquela entidade que havia sido trazida à reunião daquela noite e que ficara isolada das vistas dos demais.

Era um Espírito de horrível feição e de vibrações extremamente aviltadas pelas práticas sexuais desregradas.
Actuando na estrutura afectiva afrouxada pelos costumes e induzida pelas imagens veiculadas nos diversos meios de comunicação, que impulsionam as pessoas constantemente para os apelos do erotismo e pensamentos aventurescos na área das sensações, esse Espírito inferiorizado mantinha ligações muito profundas com Luiz, ligações estas que a cada dia mais se estreitavam, estando numa fase de quase simbiose, onde já não mais se distinguia quem é que mandava, quem é que queria, quem é que pensava.

E nesse panorama, o invigilante Luiz, que se permitira agir dentro daquilo que julgava ser sua inalienável liberdade de escolha, não admitindo a influência de nenhum dos seus parentes queridos que tanto o amavam, alegando sua condição adulta e ser dono de seu próprio nariz, era, na verdade, um joguete dos Espíritos trevosos, praticamente associado ao obsessor invisível, que lhe sugeria acções perniciosas, mas extremamente excitantes, e era obedecido com prazer.

Isso fizera com que Luiz passasse a buscar a satisfação física não apenas nos envolvimentos sexuais com outras jovens, falenas iludidas pelas sensações físicas, a facilitarem a troca das energias de maneira leviana e sem compromissos mais profundos.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:42 am

Além delas, Luiz acabara aceitando participar de reuniões libertinas, onde o sexo colectivo representava a essência do encontro, nas expressões primitivistas dos contactos íntimos sem limites, a envolverem tanto a hétero quanto a homossexualidade.

Nestas ocasiões, conhecera homens com os quais passara a se relacionar regularmente, entregando-se, inicialmente por curiosidade, às vivências homossexuais, experiências estas que, no seu caso específico, passaram a se tornar mais constantes e repetidas em face da novidade que representavam para suas práticas sexuais, já então tornadas rotineiras e sem graça, nos encontros fortuitos com inúmeras mulheres.

Além disso, envolvido pelas vibrações da entidade obsessora, Luiz pensava obter, na homossexualidade ocasional, as mesmas respostas estimulantes que a vivência heterossexual permitia aos encarnados.

O prazer, em todas as áreas da vida, estimula, satisfaz e, nas áreas mais frágeis da personalidade, abre espaços a excessos que causam dependências e tolerâncias, como uma droga qualquer.

Quando o ser humano entende a sua condição de Espírito que deve comandar a matéria, ele consegue dominar os impulsos que se apresentem e que poderiam, pelo abuso, tornarem-se nocivos.

Mais ainda, a consciência lúcida da pessoa é capaz de escolher, graças ao grau específico de maturidade espiritual, o melhor caminho para viver sua vida de acordo com seus projectos.

No entanto, no mundo acelerado em que todos estão se permitindo viver, as contingências emocionais têm sido objecto de exploração intensa, graças ao interesse económico de manter as almas atreladas aos vícios que, uma vez implantados no modo de ser, favorecem aqueles que os exploram e estimulam em busca dos lucros financeiros que tanto ambicionam.

Por isso é que será sempre um bom negócio facilitar e tirar partido da viciação no consumismo, no uso de drogas tidas como socialmente aceitáveis, das outras drogas, do jogo, da prostituição, da gula.

Em face desse comportamento afrouxado, as pessoas sem vontade própria continuarão sempre a se manter dependentes daqueles que as exploram, fornecendo-lhes, em troca, o dinheiro e o respectivo poder que tanto apreciam.

Dessa forma, no aspecto da sexualidade, os mesmos mecanismos da viciação e da tolerância são encontráveis, a fazerem com que a criatura de vontade mais frágil nessa área se permita procurar a satisfação constante e desmedida dessa inclinação, ao mesmo tempo em que a repetição do acto vai roubando ao seu agente, cada vez que o pratica, parte da carga emocional, parecendo que a satisfação antiga já não é a mesma com a mesma acção.

Isso leva, então, pessoas que começam a se tornar dependentes psicológicas da satisfação sexual a buscarem inovações em suas práticas, apimentando as relações para retornarem ao antigo potencial de satisfação.

Por um tempo, se sentem complementados pelas novas aventuras, mas, novamente, o mecanismo da tolerância se apresenta, tornando rotineira e sem graça aquela novidade, a pedir uma nova carga de transformações, na tentativa de manter o mesmo nível do prazer.

E nessa jornada espiral descendente, as criaturas permitem-se experimentar outras e outras formas de relação, até que cheguem àquelas consideradas como tabus na sociedade preconceituosa em que vivemos.

Passando a linha dessa "social normalidade", a pessoa acrescenta aos processos da satisfação sexual a ideia de ruptura com os paradigmas aceitáveis do grupo, empurrando-se para a área da ilegalidade moral, com os complexos de culpa daí decorrentes, explorados pelos Espíritos obsessores que os acompanham nessa queda e que, daí, podem melhor dominar os seus pupilos com as intuições do tipo:
Agora que você chegou até aqui, não dá mais para voltar a ser a pessoa certinha que você era.

Você chegou na lama.
Agora não pense em sair porque ninguém mais vai acreditar em você...
Você nunca prestou mesmo... agora é tarde para sair do lodo.
Aproveite e relaxe...

Essas intuições negativas, manipuladas no íntimo da consciência do indivíduo pelas entidades inferiores e inteligentes, colocam a pessoa numa fase de sofrimentos morais profundos, confrontando os afectos e os conceitos morais recebidos da família, com as condutas devassas e extremamente contrárias a tais conceitos que se permitiu viver.

Daí, alguns resolvem romper os laços familiares com o afastamento dos entes queridos, alegando necessidade de maior liberdade para viver uma vida sem a observação mais directa ou, então, optam por uma vida dupla, buscando manter duas ou mais máscaras para os diversos momentos de suas experiências pessoais.

Naturalmente que, aqui, não estamos generalizando as diversas questões que envolvem a homossexualidade, pretendendo reduzi-las apenas a este perfil.

Estamos dando a explicação espiritual para o caso de Luiz, o rapaz que, viciando-se na experimentação do prazer sexual, come alguém que resolve permitir-se o uso de drogas, estimulado por suas tendências pessoais e pela indução mental de entidades, passa a não mais se satisfazer com as respostas obtidas pela mesma quantidade de substâncias ingeridas, obrigando-se a consumir maiores quantidades até que se veja compelido a trocar de produto por um outro mais potente.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:42 am

Trocando de experiências sucessivamente, Luiz acabara ingressando na área da homossexualidade, ainda que não se sentisse, efectivamente, homossexual.
Isso lhe produzia conflitos extremamente dolorosos, dignos de verdadeira compaixão, porque já não era mais a área da ilicitude socialmente aceitável, ainda que censurável.

Agora, Luiz se envolvia com condutas que, se fossem descobertas, o estigmatizariam, colocando-o na faixa do isolamento social, da ridicularização perante os amigos e da vergonha perante a própria família.

Assim, sua consciência, a partir de então, estava mais vulnerável aos ataques dos Espíritos perseguidores e cultivadores dos prazeres, aí incluídos Espíritos femininos que, desejando recapitular os excessos delituosos a que se permitiam no passado, aproximavam-se dele para aumentar sua vontade de se relacionar com outros homens.

Tais influenciações se davam através dos condutos magnéticos que estavam implantados no centro cerebral de Luiz, ligado ao prazer físico, tanto quanto eram efectuadas através das imagens mentais que lhe eram avivadas do subconsciente, poluindo seus pensamentos com as cenas provocantes, com as sugestões prazerosas, envolvendo outros homens.

Tais Espíritos femininos, acercando-se dele, desejavam satisfazer-se sexualmente usando as sensações de Luiz e extraindo de tais relações as forças vitais que lhes trouxessem as antigas satisfações da perversão sexual.

Pode você, leitor querido, perguntar-se porque tais Espíritos não se acercavam de mulheres em relações vulgares ou promíscuas com os homens.
No entanto, é exactamente isso que também acontece.
São Espíritos que buscam a satisfação onde ela se ofereça, não importa a condição dos encarnados.

Acontece que, na posição de Luiz, irmão de Gláucia e futuro cunhado de Glauco, as entidades organizadoras da perseguição a que nos estamos referindo, nele encontraram as tendências similares às de Sílvia, para a indução negativa.

No entanto, diferente desta, que já possuía bem definida a sua opção heterossexual, Luiz se apresentava vulnerável, a buscar sempre mais prazer, como se isso fizesse parte natural da estrutura humana a não merecer nenhum tipo de contenção, nem social nem pessoal.

Então, sem se saber objecto da atenção da Organização trevosa, passara a ser acompanhado por representantes dela que, observando a fraqueza de carácter, planearam e executaram os passos necessários para levá-lo ao caminho que, agora, trilhava.

Agindo deliberadamente, os enviados do Presidente implantaram em Luiz as ligações magnéticas que lhe influenciavam as ideias e, como o rapaz era de personalidade altiva, tida como independente, dono de seu nariz, as entidades amigas que o aconselhavam a seguir no caminho do equilíbrio nada podiam fazer contra as inclinações negativas de seu modo de ser, repelindo sistematicamente, as boas intuições.

Por mais que o intuíssem a não agir de forma tão invigilante, tão desequilibrada na heterossexualidade, tão viciosa na busca incessante dos prazeres, eram sempre rechaçados por ele que, em seus pensamentos, invariavelmente, preferia dar ouvidos às sugestões das entidades maliciosas que lhe enalteciam a masculinidade, a necessidade de aproveitar as mulheres fáceis disponíveis, a cultivar o prazer como regra da vida e prática normal das pessoas saudáveis, até que ele se visse dependente do sexo, necessitando de experiências cada vez mais audaciosas.

Deixando, então, que Luiz colhesse os espinhos de suas escolhas, tais Espíritos amigos permitiram que vivenciasse as lições amargas que ele preferira viver e que, fatalmente, o reconduziriam à consciência de si mesmo através do caminho doloroso.

Assim, naquela noite do Evangelho no Lar, o referido Espírito obsessor, aquele que coordenava a acção dos demais que atacavam o rapaz, inclusive das inúmeras almas femininas depravadas que o hipnotizavam nos momentos do prazer, havia sido trazido ao encontro familiar envolvido naquela já mencionada rede magnética, permitindo a Alfonso que, terminada a reunião, pudesse conversar com ele, de forma directa.

O diálogo não seria muito longo porquanto o Espírito, depois de ouvir as advertências do instrutor, seria novamente liberado da influência benéfica que o mantinha recolhido em si mesmo, para que continuasse a seguir sua trajectória, segundo seus próprios desejos.

— Meu filho — falou Alfonso, sereno.
— Não tenho pai... — respondeu, insolente.
— Mas, por isso mesmo, quero que saiba que, nas carências de seu coração, a partir de hoje, eu o adopto como filho de minh'alma.
— Conversa mole... prefiro ser órfão a ser seu filho.
— Não importa, vai chegar o momento em que entenderá a importância de ter um pai, um amigo sincero e desinteressado.

— Qual é a sua, me chama de filho e me deixa preso aqui?
Que pai você pensa que é?
— Você não é nosso prisioneiro, Jefferson..
— Como sabe o meu nome?
Você é feiticeiro? Nunca o vi!
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:42 am

— Como estava lhe falando, filho, você não é nosso prisioneiro e, sim, nosso convidado.
Depois que conversarmos, você será levado de volta para o mundo lá fora, onde sua consciência vai lhe aconselhar nas rotas a seguir.
— Já tenho meus planos.
Não preciso de consciência.
Perseguirei meus objectivos até o fim.

— No entanto, Jefferson, suas atitudes estão a produzir o mal no caminho de seus semelhantes.
Você sabe disso...
— E daí, não é assim a vida?
Quem pode mais, chora menos.
Além do mais, eu estou endividado e, dessa forma, estou pagando meus compromissos.

— Contraindo maiores dívidas com Deus?
— Sei lá. O que sei é que meus cobradores são muito mais perversos do que eu.
— Ah! Quer dizer que você sabe que está sendo perverso também.
— Não é que eu seja, mas que eu tenho que ser.
Além do mais, não estou fazendo nada além do que aquele bobalhão também gosta e quer fazer.
Você deve saber do que estou falando.

— Sim, meu filho, Luiz está crescendo e, nesse esforço, está errando para aprender.
— Que nada, meu.
Ele está bem grandinho, capaz de fazer cada coisa, que você nem acredita....

— Mas tudo isso, Jefferson, corresponde às condutas de um Espírito infantil, nas experiências da vida que lhe aclararão novos horizontes de aprendizagem.
Além do mais, não é só a curiosidade dele que o tem movido.
A sua influência também tem correspondido a uma grande cota de culpa nos erros dele, meu filho.

— Que nada, a gente só aplaude....
— Você sabe que não é só isso.
E as mulheres que o envolvem, que fantasiam seus sonhos nocturnos, que despertam certas vontades com a volúpia de suas influências...
vocês o estão induzindo ao erro e, dessa forma, perante Deus, tornam-se igualmente culpáveis pelo erro.

— Ora, então manda esse Deus vir defender o carinha... porque eu estou me defendendo...
— É exactamente isso que está acontecendo aqui, Jefferson. Deus está se ocupando de Luiz sem se esquecer de você.
Porque então, não combinamos que, por alguns dias, vocês possam dar uma trégua a ele, para que vejamos se, por si próprio, Luiz procura tais envolvimentos?

— Que trégua que nada...
Ele já nos chama e nos pede participação nas suas noitadas....
— Bem, meu filho, como você disse e eu estou lhe explicando, Deus começa a defender seus filhos sempre pelos caminhos do perdão, do amor, do amparo colectivo.

— Tudo bem, escolha dele....
— Depois que nós não aceitamos, as consequências de nossos actos se voltarão contra nós.
— Está me ameaçando... papai... — falou a entidade, irónica e dura.

— Não, meu filho, estou lhe contando como são as coisas fora de seu mundo de prazeres esgotantes.
— Tudo bem, devidamente anotado... posso ir embora, agora?
— Pode. No entanto, não se esqueça de tudo aquilo que falamos.
Para a consideração de Deus e de sua Justiça, você está, a partir de agora, devidamente avisado sobre sua conduta e as consequências.
Quando precisar de mim, me chame.
Eu sou Alfonso, para servi-lo.

Fazendo uma cara de desinteresse, Jefferson abanou a cabeça sem responder.
Foi, então, conduzido pelos trabalhadores espirituais para o ambiente externo, onde pôde dar seguimento aos seus interesses e atitudes, agora não mais pelo caminho da ignorância do mal praticado, mas, sim, do da responsabilidade pelos actos realizados.

Longe dali, Luiz estava deitado, sozinho, em um quarto barato, de onde, minutos antes, havia saído um rapaz com o qual havia se envolvido nas emoções transitórias e frustrantes de um relacionamento passageiro e indiferente.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:42 am

Afastada a influência perniciosa de Jefferson, Luiz passara a meditar em sua vida, nas coisas que estava fazendo, a que ponto tinha se permitido chegar, pensando no lar ao longe e nas reacções da irmã se soubesse sobre o seu comportamento.

Aliás, tais pensamentos dolorosos tinham-se tornado mais constantes, desde o momento em que, em uma dessas empreitadas em busca de aventuras e companheiros, fora flagrado em atitude suspeita por Glauco, que buscava informações sobre certa rua da cidade e resolvera obtê-la de um casal dentro de um carro estacionado em local público, casal esse que, apesar dos beijos que trocavam, era composto por um desconhecido e pelo próprio Luiz.

Glauco, ao presenciar a cena reveladora, desconversara e, apesar de nitidamente transtornado pela surpresa, pediu desculpas, como se não desejasse atrapalhar o encontro de ambos, afastando-se para não agir de forma brusca ou impensada.

Desde então, Luiz passara a evitar os encontros familiares onde Glauco se faria presente.
Já se havia passado mais de um mês dessa situação e Glauco, sem pretender fazer o sofrimento de seus sogros e da própria irmã, resolvera nada revelar a respeito do cunhado, guardando para si a constatação, para ele decepcionante.

No entanto, Luiz não sabia qual seria a sua conduta e, por isso, preferira passar a evitá-lo, o que só aumentava sua angústia pelo medo de que, a qualquer dia, suas aventuras homossexuais viessem a cair no conhecimento dos familiares.

O afastamento de Jefferson, naquele dia da oração colectiva, permitira que os Espíritos luminosos envolvidos nos tratamentos espirituais daquele grupo familiar se aproximassem de Luiz para ajudá-lo no redireccionamento de suas atitudes.

Eram momentos rápidos, que tais amigos invisíveis precisavam explorar ao máximo, a fim de que conseguissem, ao menos, criar uma atmosfera psíquica dissintonizada das influências directas de Jefferson.

Não seria fácil, no entanto, já que ambos se entrelaçavam fluidicamente, o tratamento demandaria tempo das entidades amigas e deveria estabelecer-se sobre os dois que se envolviam nessa trama, Jefferson e Luiz.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:42 am

19 - RETOMANDO O CONTROLE SOBRE O ENCARNADO

Realmente, não tardou muito tempo, depois de ter sido reconduzido à via pública, para que Jefferson se apresentasse ao lado de sua vítima, como que a buscar retomar o processo de influenciação.

As primeiras tentativas se fizeram infrutíferas.
Luiz, favoravelmente impressionado pelas emissões magnéticas de elevado teor desfechadas a seu benefício pelos Espíritos generosos que o estavam amparando, não aceitou o abraço fluídico que Jefferson lhe estendera.

A entidade, percebendo que algo havia acontecido, passou a vociferar como se falasse sozinha, desafiando seres que ela não via, gritando:
— Pois vocês não pensem que vão conseguir ganhar esta, "facinho" desse jeito.
Ah! Isso é que não vão.
Este imbecil me pertence e será meu instrumento para tudo o que eu deseje praticar.
Se está com peso na consciência, isso não vai durar mais do que algumas horas.
Ainda hoje voltarei a cuidar do meu património.

Daquele local de vibrações pesadas e desagradáveis, Jefferson saiu, deixando Luiz com seus pensamentos sintonizados em outra faixa, uma faixa de energias positivas.
Mobilizando os seus contactos com outras entidades grosseiras e maléficas, conseguiu induzir uma jovem prostituta que fazia ponto naquela região e se valia das mesmas habitações, para que viesse até a porta do quarto, como a verificar se estava sem ocupantes.

Seus trajes minúsculos e provocantes e a exuberância de suas formas seriam a isca que Jefferson usaria para retomar a sintonia com Luiz.
Não se haviam passado mais do que trinta minutos, então, quando o rapaz escutou suaves batidas na porta.
Procurou compor-se adequadamente e foi atender.

Assim que abriu, deparou-se com o rosto curioso da jovem que, desejando saber se o quarto estava disponível, investigava sobre seus ocupantes.
Ao mesmo tempo, Jefferson se postava ao lado de Luiz para retomar a influência no domínio de seus pensamentos e desejos.

— O que você quer? — perguntou o rapaz, pensando se tratar de alguém que estivesse desejando tirar-lhe o quarto.
Já paguei por este apartamento...
— Ah! Tudo bem, moço, não queria incomodar.
Só estava vendo se havia alguém aqui dentro.

— Sim, agora você já viu... — falou secamente... com raiva da situação.
E enquanto estava se irritando com a presença da jovem e esbelta mulher em trajes sumários, Jefferson se associou à sua mente e exclamou, imperativo:
— Se você não é "gay", por que não aproveita e mostra isso com a mocinha?
Veja como ela é bonita e está aí, oferecida...

Luiz não escutou as expressões vulgares da entidade, mas, no fundo de seus pensamentos, uma ideia lhe brotou, aliviando o peso de suas culpas.

“Puxa, nada melhor do que manter uma relação heterossexual para limpar-me do contacto promíscuo que acabei de ter.
Assim, pelo menos, posso me sentir normal...”

— Isso mesmo, mostre que você é macho, que é homem, que não está no rol dos que viraram a casaca... — respondia, mentalmente, a entidade, influenciando seus interesses sexuais.
Veja como ela é sedutora e provocante....

E enquanto falava isso, em uma fracção de segundos, a entidade passou a acariciar a região genésica do rapaz, como a estimular suas forças sexuais para despertar seu interesse no envolvimento com a moça.

Sentindo-se provocado em sua masculinidade e desejando provar para si mesmo que não se enquadrava no rol dos homossexuais, Luiz passou a olhar a moça com outros olhos e, adocicando a voz, alongou a conversa que, momentos antes, se preparava para terminar, com o fechamento da porta no rosto da jovem.

— Puxa, será que eu não a conheço?
Você é tão bonita... está sempre por aqui?

Sabendo usar sua beleza como isca para ganhar a vida, a jovem percebera o interesse do rapaz e, de imediato, aceitou o pequeno joguinho que, segundo suas experiências pessoais, ela bem sabia onde iria terminar.

— Passo por aqui, de vez em quando, mas não me lembro de tê-lo encontrado.
— Prazer... meu nome é Luiz — disse o rapaz, estendendo a mão para a moça.
— Prazer, Luiz, meu nome é Carla...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:43 am

— Entre um pouco....
— Ah! Não quero incomodar... — respondeu a moça, fazendo um pouco de charme.
— Você não incomoda, Carla.
Ao contrário, só pode me dar prazer....

E dizendo isso, Luiz puxou a moça, delicadamente, para o interior do quarto, onde, por mais algum tempo ambos permaneceriam para os contactos íntimos e superficiais, durante os quais todo o cuidado dos amigos invisíveis se perderia e Jefferson restauraria as ligações magnéticas com o seu associado de prazeres.

Quando os dois se despediram, já se podia perceber claramente que ambos, o encarnado Luiz e o desencarnado Jefferson, em verdadeira simbiose, estavam novamente integrados reciprocamente, sem se poder dizer quem é que falava ou agia.

Sentindo-se feliz consigo mesmo, Luiz aceitara a companhia do Espírito obsessor que o manipulava facilmente, valendo-se de sua fragilidade sexual a fim de usá-lo como arma na realização de seus planos.

— Viu como você é homem? — afirmava, mentalmente, a entidade inteligente.
— Sim, eu não sou "gay"... apenas me divirto, de vez em quando....
— Isso mesmo... diversão é só diversão... — repetia a entidade, concordando com seus pensamentos.

E não pretendendo perder a chance de tal entrosamento, Jefferson apresentava a Luiz a ideia de abordar Glauco para esclarecer aquele flagrante no qual se vira envolvido.

— E você, sendo homem, como é que Glauco vai ficar com a imagem de um cunhado maricas?
Ele pode usar isso para denegrir você, falar de você para todo mundo, jogar seus parentes contra você...

Imediatamente, nos pensamentos de Luiz, a figura de Glauco brotou do fundo de suas lembranças, identificando-lhe o rosto assustado e surpreso, além dos gestos de repulsa que, involuntariamente, externara nos rápidos minutos em que puderam se ver, naquela noite de jogos sexuais no interior do carro, estacionado em rua sem movimento.

“Sim, o maldito Glauco está pensando que me tem em suas mãos...” — pensava o moço, perturbado em seu equilíbrio.
Claro, Luiz, ele vai acabar com sua vida, revelando sua conduta para os seus amigos...
Você vai deixar que isso aconteça? — manipulava suas ideias, o Espírito perturbador.

Identificando como suas as ideias que lhe chegavam ao pensamento, como se estivesse falando consigo próprio, Luiz continuava.

— Maldita hora em que minha irmã se arrumou com esse cara.
Agora, sentindo-se dono de um segredo, pode pensar tirar o proveito que quiser, imaginando que pode me usar.
Isso é que não....

Em sua personalidade arrogante, orgulhosa e altiva, Luiz começava a assimilar a ideia de ir até seu cunhado para colocar as coisas em pratos limpos.
Naturalmente que teria que admitir a sua presença naquele local suspeito, mas, de qualquer forma, poderia inventar um motivo plausível para aquele encontro e, sem atinar para o inexplicável da situação, arrumaria uma desculpa para aquele descuido, para aquela experiência passageira, sem maiores repercussões em sua vida.

Não poderia ficar fugindo do cunhado a vida inteira, como se tivesse cometido algum grave delito.
Iria procurar Glauco e, de homem para homem, conversariam. Obviamente, odiava aquela situação e essa necessidade de entrevistar-se com o cunhado que sabia de suas práticas clandestinas.

— Isso mesmo, Luiz, você acabou de provar a si próprio que é tão macho quanto qualquer outro homem. Não tem que temer nada nem ninguém.
Além do mais, Glauco também é uma pessoa cheia de defeitos e fraquezas, não sendo justo que se sinta mais do que você! — falava-lhe Jefferson ao pensamento.

“Glauco não é mais do que ninguém...”, pensava Luiz, respondendo aos termos mentais sugeridos pelo Espírito trevoso.
“Eu me lembro do trabalhão que deu para Gláucia, quando ele se envolveu com uma mulherzinha qualquer que, segundo correu notícia na época, tinha até engravidado dele. Como é que um cara desses vai querer botar banca pra cima de mim?”

Todas estas justificativas corriam por conta da imaturidade de Luiz e das influências de Jefferson que, aproveitando-se da leviandade do rapaz, fazia seus sentimentos migrarem da sua condição de agente leviano para o terreno de vítima.

Deliberou, então, procurar Glauco em algum lugar distante de sua casa para, passados mais de um mês daquele flagrante inusitado, conversar com o futuro cunhado, de homem para homem.
Luiz voltava para casa, naquela noite da oração familiar, chegando depois que Glauco já tinha se despedido e seguido para seu apartamento.

— Esperamos por você, meu filho, achando que fosse dar tempo para sua participação em nossa prece — falou Olívia, carinhosa.
— Ah! Mãe, os compromissos me impediram... mas quem sabe, da próxima, eu consigo chegar.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:43 am

— Tudo bem, Luiz, esperaremos pela próxima.
No entanto, não se permita viver sem um apoio espiritual, sem algum alicerce mais nobre porque a vida é traiçoeira e as relações sempre cheias de armadilhas e espinhos.
— Certo, mãe.
Na próxima semana vou tentar.

Sabendo que não era do perfil de seu filho aceitar reprimendas, Olívia se deu por satisfeita e deixou que Luiz se dirigisse para o quarto, visando o repouso da noite.

Nos próximos dias, Jefferson, que estava a serviço da Organização, prepararia no íntimo das emoções e pensamentos de Luiz o ambiente necessário para que fosse instrumento adequado no envolvimento de Glauco nas teias da perseguição espiritual, ainda que o noivo de Gláucia, a pouco tivesse se saído muito bem durante a tentativa da implantação dos corpos ovóides em sua atmosfera vibratória.

A partir de então, na mente de Luiz, o cunhado seria o objecto de seus pensamentos inferiores, no desejo de não mais permanecer sob o domínio do temor de se sentir revelado, principalmente quando pensava que sua condição de heterossexual deveria prevalecer numa luta constante e sofrida entre suas condutas homossexuais e o medo da repressão ou repulsa social.

Com base nesse temor, que Jefferson fazia crescer com a acção intuitiva a envolver os pensamentos de sua vítima, Glauco surgia como a pior ameaça à sua tranquilidade, porque seria capaz de acabar com a sua farsa.

Por isso, a mente do rapaz seguia bombardeada pelas intuições escravizantes do Espírito com quem sintonizava, jogando com suas tendências sexuais, empurrando-o ora para a homo ora para a heterossexualidade.

Jefferson, então, organizava a acção das entidades sedutoras, Espíritos de homens e mulheres que, qual chusma de viciados, estavam sempre dispostos a se valerem das energias de Luiz para o abastecimento de seus próprios anseios de gozo.

A noite do rapaz, assim que o corpo adormecesse, se via povoada Dor encontros eróticos, clandestinos e excitantes, com comportamentos arrojados e alienantes, manipulados pelos Espíritos que Jefferson conduzia, nas diversas práticas obsessivas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:43 am

20 - CAMILA, SÍLVIA E MARCELO

Logo que amanheceu, os Espíritos perseguidores estavam a postos para a implementação de todos os detalhes do plano.

Em sua casa, Sílvia se esmerava em sua arrumação para mais um dia de trabalho, não se esquecendo, entretanto, de caprichar um pouco mais já que aquele não seria um encontro comum em sua rotina.

Por sua vez, Marcelo se entretinha com as notícias de Camila, aquela com quem, todas as manhãs, se permitia estabelecer o clima de paquera e envolvimento, sendo que a moça sabia valer-se de sua beleza evidente, fazendo-se mais dengosa e aproveitando a inclinação do colega na direcção de seu jogo.

— Mas você está cada vez mais irresistível, Camila!
Cada nova manhã fica mais difícil não reconhecer suas virtudes de beleza e seus atributos femininos.
Não sei como é que você consegue driblar os homens que a procuram.

— Ora, Marcelo, não é assim, seu exagerado.
Aliás, não adianta ser homem e procurar a mulher.
É necessário que a mulher se interesse por ele também, o que não é o caso.
Sua companhia tem sido, para mim, o único alimento masculino que tenho encontrado, agradável, suave, interessante e, muitas vezes, me pego pensando em nossas conversas, em nossos encontros aqui, todas as últimas manhãs e me pergunto por que é que, antes, não éramos mais próximos.

— É verdade, Camila, também me penitencio de ter deixado tanto tempo passar para descobrir suas virtudes escondidas, tão perto de minha sala, e que me fariam sentir tão bem em desfrutar da sua agradável convivência.
Acho que são as coisas do escritório, o peso dos processos, a escravidão aos prazos, os interesses materiais aos quais nos entregamos, além, é claro, dos esquemas que os nossos chefes sempre montaram para que, apesar de estarmos por perto, nos mantivéssemos distanciados, quase como adversários.

- Você também já percebeu isso, Marcelo?
— Claro, faz tempo.
E quando você me contou do Leandro metendo-se em suas pastas e fiscalizando seus casos, isso só veio confirmar minhas suspeitas.
Acho que essa conduta antiética deveria ser desmascarada em uma de nossas reuniões.

— Eu também penso a mesma coisa, Mar — como Camila passara a chamar Marcelo, na intimidade.
Só temos que tomar cuidado porque, ele e os chefes são como unha e carne.
Qualquer deslize nosso e estamos fritos.

— É, eu também acho.
Só digo que admiro muito a coragem que você tem em se permitir reconhecer essa estrutura viciada que, de longe, havia identificado, mas que, covarde e meio desligada para essas coisas, não me atrevia a comentar com ninguém.
— Ora, Camila, não estamos mortos e sabemos observar as coisas à nossa volta não como quem está dormindo acordado.
Já concluí que somos vítimas de uma manipulação diária, da qual nossos superiores extraem muitos benefícios materiais e certo prazer de nos controlar directa e indirectamente.
— É, vendo as coisas desse modo, também concordo.

Deixando o assunto correr em outra direcção, Camila comentou:
— Nossa, Mar, você está mais perfumado do que de costume.
Parece que vai ter uma audiência com a Rainha da Inglaterra, de tão bonito que está hoje!
Desse jeito, quem não resiste são as mulheres.
Aposto que tem audiência no fórum, hoje.

Ficando um pouco enrubescido, Marcelo confirmou:
— Sim, sua danadinha.
Tenho uma audiência logo no começo da tarde.
Agora, o perfume é novo, comprado ontem e estou usando para ver se tenho sorte na audiência.
Vai que pego alguma juíza solteira, dessas substitutas novinhas e interessantes...
Acaba gostando do perfume e, quem sabe, fica mais simpática para o meu lado.

— Ora, Marcelo, você sabe que as autoridades costumam ser muito sérias e não se deixam levar por esse tipo de influência.
— Claro, Camilinha, eu estou brincando.
— Além do mais, se continuar fazendo as coisas com essas segundas intenções,
vou começar a ficar com ciúme e contratar um detective para seguir você.
Afinal, além de ser casado, você é MEU colega de escritório e preciso defendê-lo de muitas lambisgóias perigosas que andam por esse fórum.
Imagine se sua mulher o vê desse jeito.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 28, 2014 8:43 am

Aproveitando a deixa, já que o clima entre eles ganhava intimidade constante, Marcelo exclamou, aparentando sofrimento:
— Ah! Minha mulher!
Bons tempos aqueles em que ela me notava.
Não sei, Camila, mas parece que estamos na pior fase de nossa união.
Ela não me procura mais e não aceita que eu me acerque para lhe fazer o menor carinho.

— Nossa, Mar, sua esposa deve estar doente.
Como é que pode?
Desperdiçar um pedaço de... que dizer, como é que pode não aproveitar de um marido tão bonitão e atraente como você?
— Não sei, mas é isso que já há mais de um mês está acontecendo.

— Não quero ser pessimista, mas já pensou se ela não arrumou algum paquera por aí?
— Já pensei em tudo.
No começo, fiquei indignado com sua postura, mas achei que fosse uma fase dessas que as mulheres costumam passar, dando uma série de desculpas evasivas.
Depois, fui tendo que me acostumar e, por mais que procurasse alguma justificativa, ela sempre negava estar tendo qualquer outro interesse.
Acho que está me pressionando para conseguir vantagens materiais que até hoje não pude lhe dar.
A única coisa que me ajudou a vencer esta etapa difícil por que estou passando foi a sua companhia, Camila, suas atenções para comigo, como alimento afectivo, que me têm abastecido já há mais de um mês.

— Nossa, Mar, não sabia que as coisas estavam assim, tão periclitantes.
Por que não me falou antes?
— Ora, Ca, eu não queria lhe aborrecer nem desejava que você pensasse que estava me aproximando por estar carente, em busca de carinho.

Então, a jovem e bela advogada, levantando-se de onde estava sentada, veio na direcção de Marcelo que, de pé, se punha a observar o panorama externo.

Chegando mais perto dele, Camila o abraçou como alguém que deseja consolar um outro companheiro aflito e em dificuldades afectivas.
Sabia, também, que o momento era oportuno para que seus gestos de carinho se fizessem mais efectivos, aconchegando o coração do rapaz que parecia, igualmente, cobiçado por ela.

A aproximação fez com que o perfume de Marcelo se tornasse mais penetrante e, enquanto seus braços envolviam os ombros do rapaz e seu rosto colado ao dele, pôde sussurrar aos seus ouvidos, com carinho na voz adocicada:
— Mar, não se deixe entristecer.
Estou aqui do seu lado, querido.

Com aquele gesto espontâneo, Marcelo não sabia o que fazer, se desfrutá-lo ou manter a postura responsável de homem casado.
O certo é que a emoção desse período de solidão afectiva aflorou-lhe no olhar dolorido e nas lágrimas que ficavam represadas em seus olhos.
Sabendo das carências masculinas, Camila afastou o rosto para olhá-lo de frente, mantendo os braços a envolver-lhe o dorso.

Enquanto isso, Marcelo a envolvera pela cintura, correspondendo ao amplexo.
Vendo seus olhos húmidos, Camila se sentiu tocada no carinho feminino que mistura a sensação de mulher com a de mãe e, sem dizer nenhuma palavra, encostou seus lábios nos de Marcelo que, sem mais dúvidas, entregando-se à beleza daquela mulher exuberante e carinhosa, dedicou-lhe caloroso beijo, mantido em sigilo pela porta fechada do escritório dela.

Correspondida com a mesma ardência, a moça se deixava levar pelo calor do afago que Marcelo lhe oferecia, esquecendo, ambos, naquele momento, as condições peculiares de marido e de colegas de escritório.

Ali estavam, na verdade, dois corações carentes de afecto, perdidos num mar de concreto e papéis, interesses e jogos, tentando sobreviver no meio das ondas de indiferença e desamor que encontravam por onde passavam.

Aqueles momentos pareceram eternizar-se nos afagos e trocas de carinho.

No entanto, retomando o controle da situação e sem ser ríspido, Marcelo afastou-se, dizendo:
— Nossa, Camila, desculpe-me.
Não desejava invadir sua intimidade desse jeito.
Você tem sido uma excelente companheira, a única com quem tenho condições de desabafar e revelar minhas dores.
Não quero perder isso que é muito precioso para mim.
Não pense que estou me aproveitando de você.

Surpresa com aquele comportamento pouco comum nos homens que conhecia, sempre arrojados e agressivos, tentando arrastá-la para os encontros íntimos sem qualquer respeito por sua vontade, Camila respondeu, encantada:
— Ora, Mar, não pense nisso.
Somos adultos e eu estava muito interessada em saber como é que você beija.
A culpa é desse seu maldito ou bendito perfume...
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:28 am

As palavras de Camila, longe de desestimulá-lo, mais ainda lhe caíram como gasolina na fogueira de seus sentimentos provocados.

— E o que você achou do meu beijo?
Estou aprovado no vestibular?
— Nossa, Mar, há muito tempo não conheço alguém que seja tão agradável e provocante.
Você não está só aprovado no vestibular como também já está diplomado na faculdade.
— Exagerada ou mentirosa... — respondeu ele.

Para provar que não estava nem exagerando nem mentindo, Camila aproximou-se novamente e, provocativa, repetiu o mesmo gesto de carinho, que foi igualmente correspondido.

— Você viu como não é mentira nem exagero?
Obrigada por me dar essa sensação tão maravilhosa de plenitude, Marcelo.
Já faz muito tempo que não sinto isso com ninguém.

Envaidecido, o rapaz tentou se desculpar:
— Sabe, Camila, você é um mulherão lindo, e eu estou numa péssima fase em meu casamento.
Essa combinação é muito explosiva.
Não quero que me veja como uma pessoa leviana e sem escrúpulos, me aproveitando das mulheres que estão ao meu lado.

— Nem pense nisso, Mar.
Eu é que o ataquei e você não pôde se defender.
Está bem assim? Para mim, nada mudou entre nós.
Ao contrário, as coisas só estão melhores porque não precisamos fingir coisas um para o outro.

— Concordo com você, Ca.
Agora, deixe-me sair daqui antes que faça coisas muito piores com você... — falou Marcelo, continuando o joguinho de sedução.
— Ou melhores — respondeu Camila, astuta e provocadora.
— É... ou melhores — respondeu ele, fechando a porta e enviando um beijinho no ar para a moça.

Entrando em sua sala, Marcelo estava suando e buscando forças para manter o controle.
Deveria estar preparado para Sílvia que, naquela tarde, prometera lhe revelar o teor do sonho durante o caminho que fariam até o fórum.

Na verdade, a audiência não era de Marcelo e sim, dela, Sílvia.
Não desejou, entretanto, dizer a Camila que o novo perfume era por causa desse novo encontro com a outra colega.

Quando, mais tarde, Sílvia chegou ao escritório, mais esfuziante do que de costume, passou pela sala de Marcelo para mostrar-se e observar a reacção do colega, relembrando o encontro:
— Oi, Dr. Marcelo, bom dia!
— Bom dia, Dra. Sílvia, como passou de ontem?
— Muito bem, preparando-me para a audiência de hoje.

— Que bom... mas só para a audiência? — perguntou ele, desejando relembrá-la do assunto que permitiria que se aproximassem, conforme a promessa que havia feito.
— Claro, Marcelo, para que mais me deveria preparar? — falou ela, mantendo o jogo de desconversar a fim de produzir maior interesse nele.
— Bem, que seja assim, então.
Mas, dessa forma, acho que você não vai mais desejar a minha companhia, não é?

— Como não, Marcelo... estou me lembrando, agora, neste instante, que me preparei para mais uma coisa que tem a ver, exactamente, com você...
— Ah! Como é bom a gente ter boa memória, Dra. Sílvia.
Na advocacia, esse é um factor essencial para o sucesso.
— É verdade, Marcelo.
Às treze horas, iremos para o fórum, no meu carro.

— Tudo bem, Sílvia.
Irei almoçar e já a esperarei no estacionamento.
— Combinado.

Do lado de lá da vida, as três entidades obsessoras estavam felizes com os encontros que suas influências conseguiam promover, estimulando o sentimento de Camila, a carência de Marcelo e o arrojo de Sílvia.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:28 am

Sobre as duas advogadas e o colega, tanto quanto sobre Letícia, as acções intuitivas que os Espíritos inferiores promoviam eram eficazes e facilmente assimiladas por suas inclinações íntimas, como uma esponja absorve a água que se lhe é projectada.

O horário fixado chegara e, então, Sílvia e Marcelo se viram na direcção do fórum para a audiência que ela dizia ter, naquela tarde.
No entanto, durante o trajecto, Sílvia advertiu-o de que precisaria passar em um outro local, antes de irem para o compromisso jurídico, pelo que Marcelo não deveria estranhar o caminho diferente que fariam.

Assim, sem mais nem menos, a conversa retornou ao sonho, enquanto o carro deslizava pelas ruas da agitada cidade.
O trânsito novamente congestionado não importava a Sílvia.
Marcelo, então, aproveitando a demora, começou o assunto.

— E então, Dra. Sílvia, você está me devendo alguma coisa, não é? — falou brincando com intimidade.
— Claro, Marcelo, e eu costumo pagar muito bem as minhas dívidas.

Então começou a relatar o sonho, falando do clima, das situações do ambiente, do modo como ela havia encontrado o rapaz, descrevendo-o com suas roupas diferentes e seu perfume provocante.
Relembrou que ele estava tão envolvente que, durante vários momentos, ela teve a impressão de que eram dois Marcelos e não apenas um.

Essa conversa começou a produzir os efeitos que Sílvia desejava.
No entanto, ela reservava os detalhes mais picantes para o momento exacto.
O rapaz, acostumado a ser homenageado por suas virtudes sedutoras, dava asas à própria imaginação, criando imagens mentais com as palavras que ia arquivando, reproduzindo as cenas que Sílvia ia descrevendo.

No entanto, o carro corria, mas as coisas mais excitantes ela não tinha revelado, procurando manter o controle do jogo e guardando o melhor para o final.

— Desculpe se estou falando de certas coisas com você, Marcelo, mas elas fizeram parte desse sonho que tive e, como insistiu muito, não vi outra alternativa senão revelar uma parte do que aconteceu.
Não desejo parecer vulgar.
Afinal, sei que é casado e deve gostar muito de sua esposa.
Não quero constrangê-lo.

— Ora, Sílvia, não há constrangimento entre duas pessoas adultas que se respeitam e se admiram.
Além do mais, este tipo de sonho é comum na vida de todas as pessoas e, pelo que ouvi até aqui, não vejo nada de mais no que aconteceu.
— Sim, Marcelo, mas é que o mais interessante eu ainda não contei nem sei se devo revelar a você...
Estou um pouco insegura quanto à sua reacção.

— Puxa vida, Sílvia, parece que se esqueceu da nossa conversa de antes de ontem?
Nada que possa me revelar vai alterar em mim a admiração que tenho pela sua condição feminina e, em momento algum, me deixarei levar por qualquer pensamento que não corresponda à sua efectiva condição de mulher invejável.
— Apesar de estar velha, Marcelo, você me acha desejável?
— Velha, você, Sílvia?
Ora, não há espelho em sua casa?

— Já passei dos trinta e, como você sabe, não desperto mais o desejo em meu marido...
— E como já falei, é porque ele deve estar com catarata ou com algum problema de visão, Sílvia.
— Você acha que ainda sou interessante?
— Se eu dissesse o que penso sobre isso, eu é quem correria o risco de parecer indecoroso ou desrespeitoso com você.
Não vai me contar o resto do sonho?

E enquanto esperava uma resposta, estimulada por seus últimos comentários viris, Sílvia deu entrada em um Motel que já conhecia e, para surpresa de Marcelo, respondeu.

— Claro, Marcelo, vou contar o que está faltando.
Mas quero que seja num local mais confortável, no qual meus relatos possam ser mais do que palavras, a fim de que você conheça pessoalmente, aquilo que teve a oportunidade de conhecer somente em meus sonhos.

Sem saber o que fazer, naquele instante de definições quanto aos seus verdadeiros interesses, Marcelo quis ser gentil sem ser grosseiro, porquanto poderia estragar todos os seus planos de conquista.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:28 am

— Mas aqui, Sílvia?
Além do mais, há o seu marido e a minha esposa...
— E é por isso, Marcelo, que este é o lugar ideal.
Somos adultos e se você está tão interessado no sonho assim, é porque também tem desejos de conhecê-lo em minha companhia.

Além do mais, não pense que farei disto um motivo de chantagem pessoal.
Afinal, como ambos somos casados, tudo aquilo que a compromete, compromete a mim igualmente.
E se é verdade que sou interessante como acabou de dizer, sem desejar ser indecoroso ou desrespeitoso, agora poderemos nos entender sem dificuldades maiores.

A masculinidade de Marcelo estava sendo colocada à prova naquele instante.
Como dizer que não tinha desejado a intimidade, depois de todas aquelas conversas picantes e insinuações elogiosas?

Como falar que ela havia mal interpretado suas palavras?
Como negligenciar as atenções de uma mulher tão importante para seus planos fugindo, agora, como uma criança amedrontada diante do momento em que, fatalmente, teria que comungar a intimidade daquela mulher experiente, acostumada a ver a vida pelo lado do prazer fácil dos encontros clandestinos?

— Você não está mais desejando conhecer o sonho? — falou Sílvia, sem ironia, aparentando certa decepção nas palavras.
— Claro que quero, Sílvia.
É que me surpreendi com a nossa chegada aqui, pensando que deveríamos estar indo ao fórum para a audiência.

— Não, querido, a audiência foi desmarcada ontem e, para não estragar nosso encontro, deixei de comentar com você.
Podemos entrar, então?
Temos a tarde inteira para conversarmos sobre o sonho.

Vendo que não tinha outra escolha, depois que se permitiu levar até aquela situação na qual sua virilidade seria desafiada, Marcelo engoliu em seco e respondeu, querendo parecer empolgado:
— Bem, se é assim, então, vamos ao sonho...
E pensando com seus botões, lembrando-se da indiferença da sua esposa a quem culpava, agora, por aquela conduta que se permitiria junto ao corpo de outra mulher, exclamou para si próprio:
—... e seja o que Deus quiser.

Ah! Queridos leitores, se estivéssemos mesmo interessados naquilo que Deus deseja, raramente nos meteríamos em situações tão perigosas e infelizes quanto as que os dois protagonistas do encontro clandestino se permitiram.

Para os dois amantes, ambos sem amor, sem carinho e sem intenção de fazer a felicidade do outro, aquele encontro era apenas o exercício de uma excitação física e um negócio corporal, cujas energias desperdiçadas na formação de um compromisso negativo entre ambos corresponderia, fatalmente, a dores maiores, produzidas pelos seus desatinos e que acabariam recaindo sobre eles mesmos.

Deus deseja que nos respeitemos e que nos amemos com bases elevadas de sentimentos.

Se Marcelo soubesse mesmo o que Deus queria, não teria se permitido agir como vinha agindo, envolvendo-se com Camila, atraído por sua beleza física e seus modos delicados, não morderia a isca da sedução que Sílvia lhe apresentava nas revelações de um sonho erótico, manter-se-ia no trabalho honrado, sem planejar dar o golpe em Leandro, conquistando-lhe o lugar, derrubando-o do posto para subir nos conceitos da esposa.

Assim, para eles todos valia a mesma lição do Evangelho que Glauco havia lido naquela reunião do dia anterior.
Quantas aflições são causadas por nós mesmos, nas escolhas erradas que fazemos todos os dias, nas condutas inconvenientes que adoptamos em nossas jornadas pessoais, envolvendo outras criaturas em nossos interesses menores, usando-as como degraus para nossa subida.

Marcelo, agora, estava afundando um pouco mais a cada dia.
E nesse processo de descida moral, sua consciência ia sendo vendida aos seus interesses materiais de conquistas transitórias.

Por isso, que Jesus nos ensinou, de forma poética, simples e directa:
"De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se, para isso, ele perder a própria alma?"
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:28 am

21 - AS CONSEQUÊNCIAS DO SEXO IRRESPONSÁVEL

O encontro de ambos naquela tarde fora o estabelecimento de um precedente bastante significativo para os dias futuros.

Isso porque, na sua volúpia de extravasar as emoções vividas durante o sonho, Sílvia se fizera extremamente calorosa enquanto que Marcelo, por alguns instantes bastante envolventes, se sentira na antiga condição de virilidade admirada pela companhia que lhe partilhava o mesmo leito.

Na ausência de Marisa, as emoções físicas, elevadas à categoria de verdadeira avalanche nos sentidos mais íntimos daquele rapaz, ainda governado pelas forças da sexualidade em plena exuberância, faziam de Sílvia um verdadeiro ímã a polarizar-lhe, agora, os desejos masculinos de gozo e prazer, interferindo, a partir daí, na sua avaliação pessoal acerca dos rumos a serem dados à sua união conjugal.

Realmente, cometera o deslize de romper os laços da confiança que, até então, vinha mantendo com aquela que se lhe fizera a esposa e parceira nas aventuras da sexualidade.

No entanto, desculpava-se a si próprio, alegando que não fora ele quem criara aquela situação;
que, na verdade, estava sendo rejeitado pela indiferença da esposa e que, de qualquer sorte, não poderia ficar naquela condição de abstinência pelo resto da vida.

Afinal, já fazia mais de um mês que não mantinha nenhum relacionamento íntimo com ela, percebendo-a cada vez mais afastada, sem alegar qualquer motivo para aquela conduta.
A partir de então, Marcelo passara a agir na condição defensiva, valendo-se de sua capacidade argumentativa para desculpar-se diante do deslize, inclusive criando suposições sobre uma possível infidelidade da mulher como base para se permitir a sua própria conduta infiel.

Tendo a consciência clara a respeito da traição física decorrente de seu envolvimento íntimo com outra mulher, suas defesas vibratórias se viram torpedeadas pelo complexo de culpa despertado, depois de passada a fase da euforia da diversão a dois, pela lembrança de que deveria retornar para casa, rever a mulher, dormir ao seu lado naquela noite.

Para Sílvia que, como já se explicou, estava acostumada a esse tipo de comportamento leviano, sem se importar mais com os efeitos da traição no interior de seus sentimentos, a conduta leviana não fazia mais qualquer diferença, uma vez que se permitira chafurdar no lodaçal dos sentidos mais inferiores, até mesmo para esconder suas frustrações afectivas, decorrentes de antigos sentimentos não correspondidos, de posturas indecorosas do passado.

Restava-lhe como resquício moral, apenas, o sentimento materno em relação ao filho, agora um adolescente, que nem de longe pensava nas aventuras da mãe, ainda que soubesse avaliar que seus pais não eram o exemplo de casal feliz e harmonioso.

O pequeno Alexandre não fazia ideia de que a mãe se permitisse a conduta de prostituta de alto padrão, encontrando-se, fortuitamente, com qualquer tipo de homem para satisfazer suas tensões e ansiedades na área do prazer físico.

No entanto, da mesma maneira que Marcelo se sentiu correspondido por aquela mulher experiente, mais vivida que a própria esposa, Sílvia admirou-se de seu encantamento com o colega do escritório, igualmente bastante inovador e arrojado, entendendo-se de forma surpreendente e bastante intensa, sobretudo por se considerar que se tratava do primeiro encontro íntimo entre ambos.

Na verdade, pareciam velhos conhecidos nas aventuras arrojadas da ginástica sexual.
Nem Sílvia, nem Marcelo, desejavam ter mais do que uma tarde de prazeres secretos.

No entanto, em ambos os casos, teriam eles que i ministrar uma força que nascia na intimidade de seus Espíritos e que, mesmo que fingissem nada ter acontecido, como haviam combinado ao final daquele encontro, a troca de energias realizadas naqueles momentos lhes havia abastecido de sensações e emoções de que ambos se sentiam famintos, além, é claro, dos processos de envolvimento espiritual que eram produzidos e instalados, a partir daquele momento, nos centros cerebrais de Marcelo, unidos aos de Sílvia e controlados pelos Espíritos que os manipulavam como se fossem dois bonecos sem vontade própria.

Através dos fios tenuíssimos de energia escura e penetrante, a acção do Chefe se poderia fazer mais imperativa, principalmente agora que, contando com a queda moral de Marcelo, fácil lhe seria mantê-lo no padrão dos culpados, bloqueando, a partir de então, quaisquer esforços para que se tornasse melhor ou que rompesse a cadeia de encontros ilícitos, corrigindo o rumo de seus passos.

Poucas horas de prazer físico lhes garantia alguns anos de perturbação instalada, na sintonia mental que abriram em suas emoções para que as forças desequilibrantes do mal pudessem instalar seus emissores e receptores magnéticos na acústica da mente através dos quais, com muita facilidade, poderiam manipular as sensações e desejos dos dois, atraindo-os ainda mais um para o outro.

Além disso tudo, ambos agora contavam com um arquivo de novas imagens intensas e sensações excitantes em seus Espíritos, cenas e impressões que seriam usadas como um acervo erótico a ser manipulado pelos Espíritos perseguidores no interior de suas mentes, despertando a vontade de novos encontros, a excitação das aventuras vivas e a noção de que os dois amantes se completavam física e emocionalmente.

Esse mecanismo de influenciação do mundo espiritual negativo, no entanto, não era do conhecimento dos dois aventureiros que, cada um à sua maneira, procurava retornar à sua rotina, fazendo de conta que tudo não tinha passado de uma ida ao fórum, realmente.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:29 am

Em sua sala do escritório, Marcelo não conseguia realizar nenhum trabalho intelectual naquela tarde.
Sua mente estava poluída pelas emoções descontroladas, pela volúpia experimentada e, ao mesmo tempo, pela ideia de como se conduzir quando do regresso ao lar.

Certamente, não iria abordar tal assunto com a esposa indiferente.
Melhor deixar as coisas caírem no esquecimento para que, dessa forma, nenhum problema novo viesse a surgir, perturbando ainda mais o relacionamento já conturbado de ambos.

Marcelo, ao mesmo tempo em que se encantara com o desempenho de Sílvia, buscava, na memória, recordar-se das emoções vidas na companhia da mulher legítima, nas mesmas aventuras íntimas há algum tempo negligenciadas.

Era uma tentativa de resguardar o lugar que a esposa possuía em seus sentimentos, sacudindo a cabeça para livrar-se da intromissão das imagens da recente aventura que, manipuladas pelo Chefe e por Juvenal, insistiam em penetrar-lhe a intimidade sem qualquer pedido de licença, como se a casa mental de Marcelo lhes pertencesse.

Na sua sala de trabalho, Sílvia, por sua vez, se deleitava com as emoções experimentadas e com a satisfação feminina ao sentir as forças sexuais activadas e extravasadas com a mesma pessoa que lhe tornara real o sonho erótico dos dias anteriores.

Estava satisfeita, por um tempo.
No entanto, intimamente ligada ao grupo de Espíritos que a dirigiam, em breve voltaria a sentir necessidades de alimentar-se na mesma fonte de prazeres, não conseguindo tirar Marcelo de seus pensamentos como era comum fazer, antes, com os homens com quem se aventurava.

Naquele instante, entretanto, cumpria aproveitar a sensação de euforia, fechar os olhos e deleitar-se com as lembranças excitantes.
Nenhum dos dois, leitor amigo, tinha noções de que o sexo não se localiza nos órgãos genitais.
Para as manifestações mecanizadas da vida biológica, o corpo carnal esculpiu os respectivos instrumentos que permitem o exercício mecânico da sexualidade.

No entanto, na estrutura íntima de cada ser, o sexo acontece na dimensão da mente, estabelecendo-se, então, os seus contornos de força magnética permutada, alimento compartilhado os actos da afectividade que, de qualquer forma, independem das constituições morfológicas para que possam ser exteriorizados.

Renascendo na condição masculina e feminina, ao longo de suas jornadas evolutivas, cada Espírito deve amadurecer nas duas esferas entre as quais orbita, polarizando-se a sexualidade biológica em cada renascimento, naquele padrão de masculino ou feminino dentro do qual deverá exercer as vivências que lhe cabem nas aquisições de experiência e maturidade.

Assim, a afectividade é o laço que une os Espíritos e que, na sua vertente sexual morfológica, pode ser expressada através dos encontros íntimos, nos quais os órgãos físicos dão a oportunidade do compartilhar gametas, sensações, estímulos, sonhos, prazeres, realizando a parte que lhes cabe na manifestação da sexualidade biológica, ajudando na perpetuação da espécie, além de facultar a aproximação de criaturas, nos processos do conhecimento íntimo e da criação de vínculos.

Por isso, não é em decorrência da liberação dos hormônios ou secreções compartilhados que os seres humanos se vêem atrelados aos parceiros com os quais comungam tais momentos de intimidade.

Durante tais actos, se entre ambos existe afinidade de emoções, ocorre intensa troca de energias fecundantes e estimulantes, no nível vibratório de seus Espíritos, saciando-os naqueles desejos de reconhecimento, de segurança afectiva, de calma interior, de serenidade na auto-estima.

Exactamente por ser algo muito maior do que simplesmente um processo de procriação de novos corpos, nas junções mecânicas de gametas, os encontros íntimos devem ser aqueles que sirvam para estas trocas de boas energias, para as quais, mais do que os compromissos legais ou humanos, deve estar observado o sentimento sincero como condição indispensável para que aquele acto não seja, apenas, um encontro de músculos e carnes e, sim, um contacto de prazer que envolva a alma como um todo, nas criações lúdicas, nas alegrias divididas entre dois Espíritos que se querem, muito mais do que apenas dois corpos que se procuram.

Poderão muitos, afeiçoados ao chamado "amor livre" como meio de satisfação de necessidades que dizem ser biológicas, defender a realização do sexo pelo sexo, como forma de extravasamento de suas necessidades reprimidas.

Reconhecemos que, numa sociedade que está sedenta por novidades, com uma juventude agitada e ansiosa, infelizmente, tal procedimento é uma realidade nos dias de hoje, com pessoas que se permitem todo tipo de convivência sexual promíscua e sem vínculos concreto, vivendo verdadeiras orgias nas quais os envolvidos, muitas vezes, se mascaram para que não sejam reconhecidos, ou se mantêm em ambientes penumbrosos para que não estejam em situação constrangedora com outros que identifiquem.

No entanto, quando ainda existe algum princípio moral dentro daqueles que se permitem tais comportamentos, depois que passa a exaltação dos sentidos de um tipo de aventura carnal insana como essa, costuma eclodir em suas consciências uma sensação amarga, uma vergonha do que fizeram, uma repulsa por si mesmos.

Muitos se obrigam a longos banhos por meio dos quais desejam limpar-se por fora da lama íntima, abrindo espaço em seus pensamentos para os complexos de culpa e sofrendo com a possibilidade de que essa vida dúbia lhes seja descoberta pelos amigos ou familiares, aumentando-lhes a inquietação.

Outros amortecem as fibras da própria consciência, considerando essas orgias como normais em uma sociedade sem regras morais claras, aceitando as práticas sexuais da maioria como maneira de render aos mecanismos do automatismo carnal, sempre recorrendo ao velho chavão do "A CARNE É FRACA", frase que utilizam como esconderijo para as próprias torpezas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:29 am

No entanto, em nenhum desses casos, os Espíritos encarnados que se permitem práticas promíscuas, que se dediquem à da troca de rasais, a multiplicidade de parceiros, às aventuras extraconjugais, à homossexualidade, à bissexualidade, conseguem isolar-se dos processos angustiosos de uma afectividade não correspondida.

Em todos os casos, o motivador dessas buscas costuma ser, no fundo, o estado de carência ou insatisfação das criaturas, ansiosas por construírem relacionamentos estáveis ao lado daquelas pessoas com quem compartilhem o prazer físico, ponto comum que poderá, quem sabe, transformar-se em início de afinização ou em um relacionamento que valha a pena ser vivido.

Os problemas afectivos do presente correspondem, invariavelmente, a compromissos enraizados nas práticas de outras vidas, repercutindo, hoje, em mecanismos de frustração, de transtornos mentais ou emocionais, em dificuldades de relacionamento.

Algumas pessoas se vêem obrigadas ou escolhem se manter solitárias, não se deixando enveredar pelos caminhos difíceis dos envolvimentos físicos confusos.
Para essas criaturas, tais circunstâncias correspondem ao regime que reequilibra a emoção desajustada, como aqueles que são impostos às pessoas que precisam reconquistar a saúde através das terapias de contenção, transformando-se em períodos de necessária reflexão diante dos compromissos do passado.

A afectividade mal experimentada em nossas antigas jornadas corresponde a um processo de adulteração de nossos centros de energia correspondentes, impondo-se, então, para muitos que o viveram de maneira desregrada, cerceamentos temporários para que se reequilibrem, preparando-os para as futuras aquisições no terreno do Amor Verdadeiro o qual tem, nas trocas sexuais, um dos instrumentos de sua exteriorização.

Tratam-se, então, de processos de educação ou reprogramação das inclinações do Espírito faltoso de outras épocas que, como num processo de isolamento temporário, precisa fortalecer-se nas bases de uma afectividade sadia, para que, mais tarde, possa construir o sólido edifício de suas novas aquisições na área da emoção.

Assim, a solidão, nestes casos, funciona como um período de observação a manter a pessoa em uma espécie de quarentena, que tanto serve para protegê-la de si mesma, quanto para proteger os outros de sua presença provocante ou ameaçadora.

Os períodos de estiagem afectiva a que algumas pessoas se vêem compelidas pela vida ou a que se permitem como escolha pessoal têm essa função, a purificar seu entendimento e prepará-las para coisas mais belas que o futuro lhes reserva.

Entretanto, toda conduta de alguém que, com a desculpa de não tolerar o isolamento, de não ser capaz de vencer a solidão, de precisar dar vazão às necessidades da carne, o leve a usar seu semelhante como mercadoria, como oportunidade de desafogo, como objecto de prazer para, logo a seguir, descartá-lo à margem da estrada, corresponderá a uma responsabilidade assumida perante aquele que foi usado, física ou emocionalmente, que foi tratado como um simples instrumento de prazer físico.

Na condição de nosso irmão ou irmã com sentimentos e sonhos, torna-se credor daquele que o usou a fim de que possa encontrar reparação futura pelas mesmas mãos que os exploraram.

Por isso, ao invés de nos permitirmos agir ao sabor das tentações produzidas por músculos bem torneados ou corpos bem esculpidos:
que nos atraiam a atenção ou o desejo, lembremo-nos de estabelecer com os seus proprietários uma relação saudável e sincera, que nos permita o envolvimento responsável, ainda que não definitivo, sem lesões afectivas produzidas pela leviandade sem limites.

Quando são verdadeiras e emocionalmente sadias, lastreadas na afectividade autêntica, as manifestações da sexualidade mental poderão ser transportadas também para o campo das exteriorizações físicas, construindo relações amorosas envolventes e sólidas, que não serão perturbadas por nenhum tipo de ameaça, de tentação, de novidade que, ao contrário, são sempre perigosas para aqueles que não se fixaram em uma relação afectiva segura e honesta com o parceiro ou com a parceira de seus momentos de intimidade.

Tanto para Marcelo quanto para Sílvia, as trocas energéticas realizadas ao nível da mente de ambos seriam as forças que causariam as necessidades futuras de reencontro e novo reabastecimento, como acontece com muitas pessoas infelizes no afecto, mas presas a uniões legais, a buscarem forças e compensações emocionais no contacto com outros, fora dos limites da união formal.

Quando Marisa deixou de corresponder às necessidades de afecto, demonstradas na rotina de sua convivência pela esfuziante relação física, Marcelo passou a sofrer, sem entender como, desse desabastecimento vibratório nas forças mentais ligadas às trocas afectivas e, para resgatar tal carência energética, passou a procurar uma forma de voltar a ser admirado pela mulher que amava, ainda que fosse um amor à sua maneira sexual.

Não ligada a Marcelo pelos laços de um Amor Verdadeiro, Marisa facilmente se viu atraída pelo sonho de estar ao lado de outro homem que lhe pudesse gerar um maior sentido de ganho, de complementação, que a fez abrir-se interiormente para a ideia de conquistar Glauco, o rapaz que lhe dominara a atenção, principalmente depois que os Espíritos perturbadores usaram a sua fraqueza de carácter que tão bem conheciam para estabelecerem a confusão dos seus sentimentos, usando a mesma técnica usada com Sílvia.

Se entre marido e mulher houvesse uma ligação afectiva saudável verdadeira, não haveria fome interior que compensasse a aventura que, agora, estavam vivendo exactamente para tentar supri-la.

Eminente amigo espiritual, escrevendo à Terra sobre tal questão deixa muito clara, ao referir-se às forças sexuais, a sua natureza de sustentáculo da alma.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:29 am

Textualmente, encontramos os ensinamentos:2
"... até que o Espírito consiga purificar as próprias impressões, além da ganga sensorial, em que habitualmente se desregra no narcisismo obcecante, valendo-se de outros seres para satisfazer a volúpia de hipertrofiar-se psiquicamente no prazer de si mesmo, numerosas reencarnações instrutivas e reparadoras se lhe debitam no livro da vida, porque não cogita exclusivamente do próprio prazer sem lesar os outros, e toda vez que lesa alguém abre nova conta resgatável em tempo certo.

Isso ocorre porque o instinto sexual não é apenas agente de reprodução entre as formas superiores, mas, acima de tudo, é o reconstituinte das forças espirituais, pelo qual as criaturas encarnadas ou desencarnadas se alimentam mutuamente, na permuta de raios psíquico-magnéticos que lhes são necessários ao progresso.

... entre os Espíritos santificados e as almas primitivas, milhões de criaturas conscientes, viajando da rude animalidade para a Humanidade enobrecida, em muitas ocasiões se arrojam a experiências menos dignas, privando a companheira ou o companheiro do alimento psíquico a que nos reportamos, interrompendo a comunhão sexual que lhes alentava a euforia e, se as forças sexuais não se encontram suficientemente controladas por valores morais nas vítimas, surgem, frequentemente, longos processos de desespero ou de delinquência.

E logo mais, falando da Enfermidade do Instinto Sexual, a mesma entidade amiga nos ensina:3
As cargas magnéticas do instinto, acumuladas e desbordantes na personalidade, à falta de socorro íntimo para que se canalizem na direcção do bem, obliteram as faculdades, ainda vacilantes, do discernimento e, à maneira do esfaimado, alheio ao bom senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se à rebelião e à loucura em síndromes espirituais de ciúme ou despeito.

À face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retardarem o progresso no tempo.
...Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual e, consequentemente, no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.

Nas palavras esclarecedoras, deixamos você, leitor querido, para que a meditação sadia e serena o inspire nas abordagens pessoais a respeito de tão importante e profundo tema, que não pode ser reduzido apenas ao exercício indiscriminado de uma liberdade que termine por prender o liberto às algemas pesadas dos desajustes, construídos pela excessiva utilização dessa mesma liberdade, ferindo e atormentando a outros e a si mesmos.

De um simples e clandestino encontro em um quarto afastado, os liames fluídicos ali entrelaçados produzirão, dependendo da sinceridade dos sentimentos envolvidos, frutos doces ou dolorosos espinhos que educarão os aventureiros para que se melhorem, seja pela vivência amorosa verdadeira ou pela dor da consciência culpada.

Por isso, no caso de nossas personagens, não era apenas Marcelo que podia surgir diante da lei como um agente desajustado pela infidelidade a que se permitira.
Marisa surgia, também, igualmente responsável pelos caminhos que escolhera para pressionar o marido na modificação de seu comportamento social.

Ambos precisariam resgatar tais fraquezas de carácter.
Com Sílvia, com seu marido, com Camila e com todas as pessoas que se permitam usar a afectividade como arma, como instrumento de sedução, como negócio comercial, como ferramenta de conquistas sociais, como moeda de troca, como poder dominador, como chantagem pessoal, essas consequências, NECESSARIAMENTE, também se darão.

Daí a urgência da renovação de nossa conduta afectiva e o repensar de nossa forma de viver, retomando o sentido lúcido do Amor Responsável e, ao mesmo tempo, verdadeiramente feliz.

2 - Trecho extraído do livro Evolução em Dois Mundos, de autoria espiritual de André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 18, primeira parte.
3 - Trecho extraído do livro Evolução em Dois Mundos, de autoria espiritual de André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier – capítulo 18, primeira parte.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:30 am

22 - A VEZ DE LETÍCIA

Nos dias que se seguiram, as relações afectivas entre os membros do escritório permaneciam latentes, ocultadas pela conduta dissimulada de todos, principalmente de Marcelo que, envolvido emocionalmente com Camila, aquela que o atraía pela beleza exterior, tanto quanto enroscado fisicamente com Sílvia, aquela que se demonstrara excelente amante, precisava cuidar-se para não se trair nas demonstrações de intimidade que os encontros fortuitos nos corredores do local de trabalho naturalmente propiciavam.

No entanto, as duas mulheres nem imaginavam que Marcelo estava mantendo um relacionamento próximo com ambas, até porque, tanto Sílvia quanto Camila igualmente estavam se utilizando do rapaz para seus próprios objectivos pessoais.

Ao lado das duas, a terceira advogada, Letícia, continuava no desejo de se aproximar do rapaz, agora com a desculpa de ser-lhe a solucionadora dos problemas jurídicos.
Ao longo daquela semana, nos momentos que se fizeram favoráveis, a jovem procurara Marcelo para lhe informar sobre o andamento de suas pesquisas e que, em breve, estaria a dar-lhe uma posição sobre o que aquilatara a respeito da situação.

Marcelo, pensando tanto em Camila quanto em Sílvia, quase se surpreendeu com a manifestação de Letícia, custando algum tempo em recordar-se de que ela também estava inserida no horizonte de seus planos para a conquista do posto que pertencia a Leandro.

De acordo com suas avaliações, o envolvimento físico que estava começando a ter com as duas outras mulheres não era adequado, porquanto poderia acabar prejudicando seus objectivos.

No entanto, o encantamento que Camila lhe causava era difícil de ser controlado, ao mesmo tempo em que o calor tórrido dos momentos passados com lhe produziam inesquecíveis lembranças.

Ao menos Letícia não se envolvera directamente com ele, o que sentava uma boa situação a ser explorada mais pacientemente, as emoções não tão à flor da pele.

— Marcelo, preciso falar com você sobre o caso que está comigo para estudo e que, acredito, já tenho a solução.
— Tudo bem, Letícia, agora me recordo melhor.
Afinal, já faz algum tempo e, com tantos outros problemas na cabeça, acabei me esquecendo desse.
— É, eu sei como são estas coisas — respondeu Letícia, desejando ser compreensiva com o esquecimento do moço desejado.
— E então, excelentíssima doutora, o que é que você apurou sobre o caso?

Entendendo que Marcelo imaginava conversar sobre o assunto naquele local de trabalho, o que conspirava contra as intenções de aproximação da moça, Letícia, hábil, respondeu:
— Ora, Marcelo, os documentos estão comigo, em minha casa.
Não tenho como expor o que apurei aqui, sem eles.
Estava querendo que você fosse até lá, aproveitando o final de semana, se não se importar.
Então, com calma, lhe explico tudo o que consegui levantar e qual seria a melhor solução para a questão.

Marcelo não pretendia usar seu final de semana em contactos profissionais, uma vez que procurava sempre afastar-se dos problemas do escritório nos momentos de lazer que a vida lhe propiciava.

No entanto, lembrando-se de seus planos iniciais, julgou ser descortês deixar Letícia sem uma resposta depois que ele próprio lhe havia solicitado a cooperação, além de, igualmente, ser aquela uma boa oportunidade para acercar-se do pensamento e da forma de ser da última de suas três amigas.

Além disso, ele conhecia o temperamento da jovem e sabia que era muito exigente com as coisas do trabalho, sendo natural que ela mantivesse uma postura profissional quando o assunto se tratava da solução de um caso jurídico que fora submetido à sua avaliação.

Qualquer recusa poderia soar como coisa irresponsável, além de ser uma falta de respeito para com todo o esforço intelectual que Letícia havia empenhado.
Desse modo, não lhe restou outra opção senão concordar com o convite, dizendo-lhe, entretanto, que, como ainda estavam na quinta-feira, combinariam, no dia seguinte, os detalhes do encontro que ficara definido para a tarde do sábado próximo, na casa da jovem.

Acertados para a tão esperada reunião, Letícia preparou-se tanto para demonstrar seus dotes intelectuais como também para insinuar-se através da discreta exibição de seus dotes físicos, com o esmero de seus trajes e a informalidade de sua postura, já que o encontro se daria em seu próprio apartamento.

Diferente daquela mulher que se apresentava no escritório em trajes formais e rosto circunspecto, em seu próprio território Letícia preparava uma surpresa para o rapaz, ocasião em que se colocaria mais à vontade, ainda que não vulgarizada por uma conduta leviana ou roupas devassadas.

Deixaria o cabelo molhado e solto dar-lhe a impressão de frescor e intimidade, além de cuidar-se para que o ambiente conferisse ao encontro um quê de informalidade agradável, com a música suave, a meia-luz, perfume difundido pela atmosfera, etc., como se essa fosse a rotina em que Letícia vivesse todos os dias.

Cuidou, igualmente, da bebida agradável ao paladar de Marcelo, como, também, de conseguir algum prato saboroso que pudesse ser oferecido, de momento, como chamariz para a sua permanência no ambiente por mais tempo, através de um jantar aparentemente improvisado para os dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:30 am

Na mente da jovem, a única dentre as três que, realmente, nutria por Marcelo um sentimento de afecto sincero e confiado, aquela seria a grande chance de ter o homem de seus sonhos secretos e platónicos assim tão próximo de sua influência.

Sem sequer imaginar o que estava ocorrendo no íntimo de Letícia, Marcelo não fixava muito sua atenção na mais jovem das três advogadas, preferindo oscilar entre as lembranças daqueles dois beijos calorosos trocados com Camila e das ardorosas sensações das intimidades mantidas com Sílvia.

Por isso, o rapaz não se lembrou de que, no dia seguinte, sexta-feira, não estaria no escritório, ausentando-se em viagem profissional para cidade próxima, a fim de atender a um conflito de família, em uma reunião de trabalho que, por certo, duraria todo o dia.

Ficara, então, pendente de confirmação dos detalhes finais, o encontro agendado com Letícia para a tarde do sábado, para o qual a jovem já tinha se organizado magistralmente e que, se não concretizasse, geraria imensa frustração em seu sentimento apaixonado.

Por isso, no dia seguinte, ao tomar conhecimento de que Marcelo não apareceria no escritório, Letícia tratou logo de buscar uma forma de entrar em contacto com ele, para deixar certo o encontro de "trabalho" havia agendado para o dia imediato.

Valendo-se, então, do celular cujo número lhe havia sido dado pelo próprio Marcelo, ligou para a confirmação necessária.

No entanto, fosse pela situação geográfica do local onde se dava a reunião, fosse sua natural condição de desligado para não atrapalhar as discussões familiares sempre tensas e cheias de problemas, o certo é Letícia não conseguira localizar Marcelo pessoalmente, não lhe ocorrendo outra coisa a não ser deixar um recado na secretária electrónica do celular:
— Marcelo, sou eu, Letícia.
Conforme combinamos anteriormente, esperando-o para nosso encontro no meu apartamento, na rua Florianópolis, n° 135, no sábado, a partir das dezasseis horas.
Já avisei o porteiro do prédio que você chegará em seu carro a fim de que ele possa ser estacionado na garagem.
Espero por você para conversarmos sobre o nosso caso.
Qualquer problema, me ligue, tá?

Letícia, que estava ansiosa, tendo-se preparado tanto para aquele momento, agora permanecia apreensiva, correndo o risco de não conseguir realizá-lo, caso Marcelo dele tivesse se esquecido.

Sentia-se um pouco ridícula, como toda pessoa apaixonada que espera pelo encontro sonhado, correndo o risco de parecer uma tola pelo descaso da pessoa a quem se devotava com sinceridade.

Passou toda a sexta-feira indisposta, entre a possibilidade de encontrar o rapaz no dia seguinte e a de se ver esquecida por ele, perdendo toda a preparação realizada.

Duas horas depois do primeiro recado, Letícia não conseguiu se controlar e, novamente, ligou para ver se conseguia falar pessoalmente com Marcelo, sem imaginar qual o problema que estaria impedindo-o de atender à ligação:
— Marcelo, é Letícia novamente, meu querido.
Desculpe insistir, mas como estou sem celular e como você não me respondeu à primeira ligação, estou saindo mais cedo e, por isso, qualquer coisa que precisar falar comigo, ligue em casa que estarei por lá.
Se não me telefonar, considero nosso encontro marcado e espero por você.
Um beijo, Letícia.

Depois de usar sua saída do escritório como desculpa para tentar lhe falar novamente, Letícia resolveu ir embora, dar vazão à sua ansiedade à distância dos olhos curiosos que, certamente, poderiam notar em seu comportamento os traços de insatisfação, nervosismo e quase descontrole que estavam tomando conta de sua alma.

Em casa, buscou relaxar um pouco, tomando um banho longo, com o cuidado de ficar bem atenta ao telefone.

A noite chegou e ainda não havia notícias do rapaz.
Pensou em jogar tudo fora.
Em cancelar o encontro, em devolver a pasta do processo sem qualquer resultado, em falar uns desaforos para o moço, como se tudo o que estivesse acontecendo fosse um comportamento deliberado que ele produzira para fazê-la sofrer.

Certamente que tal suposição era equivocada, mas, carente e despreparada para os encontros onde poderia demonstrar sua fragilidade afectiva, a situação inesperada de ver perdidos todos os seus esmerados esforços lhe causava uma quase revolta no Espírito caprichoso e pouco acostumado a derrotas.

— Calma, Letícia, calma.
Às vezes não aconteceu nada de mais.
Quem sabe está tudo certo e ele não teve como se comunicar com você até agora? — dizia a jovem em voz alta para que ela própria escutasse.

Deixou-se ficar diante da televisão, assistindo aos programas que se sucediam, sem prestar atenção em nada.
Cada dia que passara, desde o primeiro dia que encontrara Marcelo, se transformara em uma longa gestação de um sentimento guardado há muito tempo e da possibilidade de se aproximar daquele que ela, mais do que admirar, cobiçava como alguém muito interessante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:30 am

Lá pelas vinte e duas horas, o telefone tocou.
Ela pulou assustada do sofá, onde o sono já se apresentava, no hipnotismo televisivo.

— Alô... quem fala?
— Letícia,... sou eu... a ligação está muito ruim.
Estou saindo de uma reunião e, somente agora é que pude ver seus recados...
— Ah! Marcelo, tudo bem, logo imaginei que você devia estar muito ocupado.
Estava quase dormindo, desculpe — falou Letícia, desejando demonstrar despreocupação.

— Desculpe ligar nessa hora...
— Tudo bem, estava preocupada com o nosso encontro, Marcelo.
Ficamos de deixar acertado para amanhã e não sei se vamos poder nos encontrar.
O que você acha?

— Por mim, Letícia, tudo bem.
Gostaria de resolver logo o assunto pendente e de tirar de você o peso desse problema.
Pode ser às dezasseis e trinta?
— Pra mim é ainda melhor, Marcelo.
Apenas gostaria que viesse sem muita pressa porque o negócio é um pouco complicado e, para explicar, pode demorar.
Inclusive, já providenciei alguma coisa para a gente comer, enquanto trabalhamos no assunto.
Tudo bem, para você?

— Óptimo, Lê... para mim melhor ainda.
— OK! Então, não esqueça de avisar em casa que você vai demorar.
— Bem lembrado... preciso levar alguma coisa?
Algum vinho, algum refrigerante, algum petisco?
— Nada, Marcelo.
Só traga a boca e a inteligência de sempre... — falou Letícia brincando.

— Só vou precisar da boca porque a sua inteligência dá duas da minha... — respondeu brincando.
— Que nada, Marcelo, amanhã veremos como tudo tem solução.
— Marcado, então.
— Boa noite, Marcelo, e cuidado com a volta.
Já está tarde e eu não quero adiar essa conversa jurídica com você.

— Deixe comigo, Letícia...
Se eu não chegar aí, amanhã, no horário, pode me procurar no necrotério...
Esse é o único motivo que vai me impedir de ir.

— Pare de brincadeiras macabras, Mar.
Se cuida mesmo, hein? Espero você!
— Beijos, Lê.
— Até amanhã, Marcelo.

As últimas frases de Letícia ganharam a vida e o brilho de alguém que está acabando de se despedir de um ser muito querido, com quem se preocupa profundamente e sobre o qual se está colocando todos os sonhos e os dias do futuro, nos planos de um novo destino.

Essa era a emoção com que Letícia estava encarando aquele momento de aproximação.
Para seu coração solitário, o rapaz era o alimento doce e suave que lhe satisfaria todos os sonhos de mulher.

Não que o desejasse seduzir como mulher, como fizera Sílvia, nem que tivesse interesse em envolvê-lo nas teias do jogo afectivo para que o manipulasse, como Camila estava acostumada a fazer com os homens.

Letícia tinha carinho por ele, o que a levava a manter seus pensamentos sonhadores alimentados com as cenas naturais propiciadas pelos diversos casais de namorado que conhecia, indo ao cinema de mãos dadas, trocando carinhos sinceros, passando o final de semana juntos, viajando e desfrutando das belezas naturais, tirando fotografias e tendo o que contar para as amigas, nas expansões normais de seus sentimentos femininos.

Mais do que a intimidade física, igualmente agradável quando vivenciada com quem se ama, o desejo de Letícia se prendia ao prazer de ter uma companhia com quem pudesse se entender e de quem poderia cuidar como um património pessoal e intransferível.
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