LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:35 am

Com isso, o homem poderia dedicar-se plenamente à prática do ato sexual sem a adopção das cautelas protectivas que, no dizer de muitos deles, seria responsável pela diminuição do próprio prazer.

Marcelo, portanto se apresentara ao contacto intime despreocupado com qualquer cuidado, confiante na capacidade de Sílvia em evitar a ocorrência indesejada da gravidez.

O jogo de invigilância estava montado e, assim, faltava, apenas, o momento da intimidade entre o casal, graças ao qual, o sémen masculino estaria liberado no íntimo da mulher, demandando o encontro dos óvulos que, naquele caso específico, foram liberados duplamente, para atender às necessidades dos dois obsessores, comparsas do mesmo delito e vitimados pelo mesmo tipo de vício.

Estimulado pela acção das entidades instrutoras, Gabriel colocou todo o seu potencial magnético a serviço do processo reencarnatório, tecendo laços poderosos entre os dois Espíritos, aparentando dois peixes enredados na própria rede, e os dois corpúsculos de vida que se alojariam no útero da futura mãe, como os pródromos de dois novos corpos a crescerem no ambiente que, outrora, exploravam.

Enquanto isso acontecia, Sílvia era contida pelas entidades amigas que a envolviam em fluidos balsamizantes, preparando-lhe a atmosfera espiritual para a possibilidade da maternidade, jamais idealizada em seus planos de mulher vulgarizada.

O único filho que possuía e que, entrando na adolescência, lhe produzia as poucas alegrias que podia experimentar, pelo amor sadio e sincero que dele recebia seria, até então, o ponto final de suas pretensões maternais.

Por isso, o Espírito de Sílvia se debatia, desesperado, ao perceber que duas almas deformadas, animalizadas e asquerosas, agora se mantinham imantadas à sua organização biológica, como duas plantas espinhosas a brotarem de suas entranhas, produzindo-lhe horrorosas sensações.

Ainda que entre os três houvesse longo período de convivência e aproveitamento das baixas sensações, a jovem os repelia, enojada, porquanto não desejava receber "aquilo" em seu íntimo, a se tornarem seus filhos. Passaram a lutar como animais ferozes numa mesma jaula, se agredindo, mordendo e ferindo.

Como Espíritos, no campo do sexo haviam sido gozadores dos mesmos prazeres.
No entanto, como almas a formarem corpos dentro de outro corpo, isso lhes produzia terrível repulsa, tão forte que os Espíritos responsáveis por tal processo actuaram em benefício dos três, produzindo-lhes o sono espiritual para que não viessem a entrar num estado alucinatório ou mentalmente desequilibrado.

A associação de longo curso no prazer e no vício ganhava, a partir daquele momento, a oportunidade de maior entrelaçamento para que todos os envolvidos aprendessem a se suportar e se entreajudar, trocando suas vibrações de insanidade e loucura pelas do afecto verdadeiro, construído desde as pulsações uterinas.

Naturalmente, entretanto, entre os três, ainda não havia os antecedentes do afecto.
Apenas as expressões do gozo e da sensualidade lhes marcavam a aproximação, sensações estas que, mutuamente exploradas e usadas, acabaram por definir os contornos da experiência reencarnatória que os esperava, incontinenti, para os reajustes necessários.

Usando o sexo como arma, agora os três se viam comprometidos ao mesmo destino, como um tiro que sai pela culatra.

Enquanto isso acontecia, o Espírito de Marcelo, desligado do corpo físico, assistia, assustado, àquela cena na qual os três, unidos pelo perispírito de Sílvia, se debatiam, se mordiam como feras amarradas umas às outras e, por fim, eram conduzidos a se prenderem ao corpo carnal da mulher, como se tivessem se tornado inimigos repentinamente, até que as acções magnéticas que ele não conseguia identificar, oriundas das entidades amigas, tivessem lhes produzido o sono reparador em todos eles.

Marcelo, no íntimo, não imaginava que da sua união sexual com Sílvia havia se originado o processo de renascimento daqueles dois Espíritos.

No entanto, uma sensação de repulsa contra a moça cresceu em sua alma.
Aquela mulher o havia usado — pensava ele — enquanto via, sem entender como era isso possível, a alma de Sílvia penetrar seu corpo despido sobre o leito, desaparecendo no vaso carnal que lhe marcava a identidade na presente encarnação, enquanto que o Chefe e Juvenal, agora atontados pelos fluidos anestésicos, sem entenderem o porquê da sensação de prisão a que se viam retidos, se mantinham orbitando a atmosfera de Sílvia, naquele quarto, como dois loucos amarrados que se vissem impedidos de sair.

Lentamente, começariam a perder a própria forma, passando pelo processo de restringimento e de ovoidização e, penetrando o útero da futura mãe, ali se asilariam, desaparecendo de todas as vistas que os buscassem.

Estava terminado o primeiro estágio da união compulsória dos obsessores sexuais da mulher que tanto usara da própria sexualidade desregrada como fonte de prazer e de poder.

Gabriel, a partir daquele momento, não precisava se fazer tão tolo quanto parecia, já que, agora, não mais se encontrava no meio dos dois imperfeitos Espíritos, podendo apresentar-se aos olhos de todos então, como entidade que já se ocupava com a prática do Bem, na condição de Espírito benevolente em que já estagiava, ainda que continuasse a aparentar os defeitos físicos que o caracterizavam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:36 am

— Não é adequado, ainda, Gabriel, que você deixe a forma que marcou a sua última existência, porquanto muitos asseclas de Presidente, serviçais da Organização o procurarão pedindo informações sobre o paradeiro dos nossos dois irmãozinhos.

— É, eu imaginava isso também — respondeu Gabriel ao instrutor Félix.
E como se estivesse solicitando as directrizes a serem observadas a partir daí, escutou do mesmo Espírito amigo as informações que procurava:
— Você se manterá como antes e responderá aos que o procurarem pedindo informações, que os dois se despediram dizendo que se afastariam no cumprimento de outras tarefas, deixando você junto de Letícia, a jovem que vai precisar muito de nossa ajuda no momento oportuno.
— Sim, paizinho. Farei como orienta.

Enquanto isso acontecia no plano espiritual, Sílvia acordava no corpo carnal guardando a estranha sensação do sonho tenebroso que acabara de ter, atribuindo as visões horripilantes ao pesadelo rotineiro que pode acontecer na vida de qualquer pessoa.

Ao seu lado Marcelo ressonava.
Por um momento, a mulher eufórica e depravada se viu cansada daquele tipo de emoção.
Ainda que não culpasse o homem que dormia ao seu lado, seu estado de fêmea desajustada conflituava com a noção de mãe de seu filho adolescente.

A sensação da maternidade despertava em seus sentimentos e, por um momento, Sílvia se sentiu suja e indecente.
Levantou-se e foi ao banheiro em busca de água limpa na qual pudesse lavar o corpo como quem se sente lavando a própria alma, desejosa de novo rumo para sua vida.

Marcelo, minutos depois, acordava com o ruído do chuveiro.
Ergueu-se e tratou de recolocar as próprias roupas.

Uma sensação de culpa visitava seu íntimo.
Seu Espírito não sabia dizer por que, mas, naquele momento, a presença de Sílvia lhe causava repugnância.
Não gostaria de voltar a envolver-se com essa mulher, mistura de serpente e fada, manipuladora das fraquezas masculinas e perigosa jogadora.

No entanto, refreou qualquer postura repulsiva até que conseguisse sair daquele ambiente e afastar-se dela.

Já se haviam passado mais de quatro horas desde o momento de sua chegada ao quarto.

Não imaginava ele que, dentro de algumas semanas, aqueles minutos de excitação e leviandade iriam se transformar numa complicada dor de cabeça, quando sua condição de masculinidade seria desafiada pelo efeito de seus actos, convocando-o a assumir, como homem, as consequências de seus actos sexuais irresponsáveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:36 am

32 - TERÇA-FEIRA III O MOTEL – PROTECÇÃO AOS BONS

Enquanto tudo isso acontecia na suíte de Marcelo e Sílvia, voltemos um pouco no tempo para observar os factos que envolveram nossas personagens Marisa e Glauco, quando, finalmente, a esposa de Marcelo conseguiu que o rapaz a levasse para dentro do quarto respectivo, aquela suíte que se encontrava defronte da ocupada por seu marido traidor e Sílvia.

Abandonando a crise nervosa e agressiva, adoptou a estratégia do abatimento emocional, vertendo copiosas lágrimas.

Sua mente estava em perfeita sintonia com os Espíritos que a intuíam nos planos de conquista, manipulada pelas forças inferiores que se uniam harmoniosamente aos seus interesses, tanto relacionadas às entidades da Organização quanto àquelas vinculadas às acções encomendadas através da malfadada médium Mércia.

Como já falamos anteriormente, possuindo o motel, inúmeros quartos e ambientes destinados à satisfação da sexualidade física, havia, no mundo espiritual que lhe correspondia, os correspondentes palcos para a participação de todo o tipo de Espíritos.

Por isso, o ambiente do quarto de Marisa e Glauco era absolutamente idêntico àquele da suíte onde Marcelo e Sílvia davam vazão aos seus impulsos instintivos.
Arquibancada repleta, como se cada quarto fosse um palco preparado para o desfrute e a participação das centenas de entidades inferiores que se ajuntavam na atmosfera daquele centro de desgastes emocionais.

E havia protagonistas variados para os mais diversos tipos de experiências carnais, dependendo do espectáculo que se observava no interior de cada suíte.
Em umas se concentravam entidades que se ligavam às práticas sadomasoquistas, relembrando os antigos tempos de barbáries, asselvajando-se nas mesmas atitudes.

Em outros, se congregavam Espíritos vinculados aos excessos de vícios químicos.
Outro grupo preferia assistir e participar de orgias colectivas enquanto mais alguns se dedicavam ao desfrute das emoções ligadas às relações homossexuais.

Cada quarto, assim, apresentava seu espectáculo e era povoado pelo tipo de Espíritos que a ele concorria, segundo seus desejos idênticos.
Naturalmente que não nos colocamos aqui como juiz de costumes, buscando apor o selo da condenação nas diversas relações físicas às quais o ser humano se permite.
Cada qual tem liberdade para adoptar os caminhos que deseje e, na esfera do Espírito não há ninguém com competência para intervir na consciência de cada um.

Apenas estamos relatando cenas presenciadas por nós, como Espíritos amigos dos encarnados para que, naqueles que estejam abertos ao entendimento sobre as questões vibratórias e de sintonia, tais informações possam ajudá-los na reflexão e na avaliação do que lhes seja conveniente ou adequado.

Encontramos nas reflexões do apóstolo Paulo a exortação que nos recorda, em linhas não textuais, que nem tudo o que nos seja lícito, na verdade, efectivamente, nos convém.
Por isso, queremos abordar esta delicada circunstância não sem ressaltar o direito de cada qual em adoptar para si as atitudes que mais lhe pareçam convenientes, aprendendo que todas as nossas acções correspondem a reacções equivalentes, no âmbito de nossa existência.

Inúmeras obsessões são costuradas nos penumbrosos locais destinados a tais encontros.
Dores futuras são semeadas quando nossos Espíritos se permitem a adopção de comportamentos desajustados ao equilíbrio da alma.

Da mesma forma que um médico pode ressaltar ao paciente os malefícios do fumo, da gordura, do sedentarismo ou de outros hábitos mostrando-lhe as consequências perigosas da continuidade de tais práticas sem, com isso, impor ao seu cliente a modificação de comportamentos, também procuramos fazer pensar o leitor acerca das leis espirituais que governam a vida, para que, com tais conhecimentos possa julgar quais as melhores atitudes a serem seguidas.

Reconhecemos que tais locais de encontros sexuais não albergam apenas pessoas que se queiram usar fisicamente, sem responsabilidades afectivas.
Sabemos que inúmeros seres que se amam se encontram em tais locais para as trocas afectivas e, nessas condições, são também auxiliados por entidades amigas que, a muito custo, procuram estabelecer uma protecção vibratória que vise diminuir a acção curiosa de entidades pervertidas, acostumadas a atacar as pessoas invigilantes.

É natural que a afectividade sincera santifique a união física, quando seja a base sobre a qual a sexualidade se exercite.
O que queremos lembrar, no entanto, é que a psicosfera de tal ambiente, destinado aos encontros e práticas inferiores da sexualidade, acaba viciada pela emissão mental de péssimo teor fluídico, com as energias correspondentes impregnando-se em toda a atmosfera física e espiritual, sendo de difícil isolamento por parte das entidades amigas que acompanhem os que escolhem a troca afectiva em ambientes assim poluídos.

É a mesma coisa que se escolher para palco de um casamento, não a igreja de sua crença, o cartório oficial, mas, ao contrário, o cume nevado de uma montanha, a areia escaldante do deserto.
Naturalmente que se poderá celebrar a cerimónia de união nessas condições anómalas.

No entanto, isso será muito mais complicado e não se conseguirá repetir aí a nobreza, o clima e a beleza que se encontram em uma cerimónia tradicional.

Por esse motivo é que as uniões sexuais que se baseiam nos laços sinceros do afecto e não sejam um exercício carnavalesco das virtudes viris ou feminis, nos certames da intimidade sem compromisso recíproco, podem contar com a ajuda e protecção de entidades generosas que se postam como soldados tentando manter, no ambiente, a atmosfera de equilíbrio que o afecto justifica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:36 am

Entretanto, tal linha de guarda sempre se vê mais vulnerável aos ataques inferiores quando o ambiente circundante não se veja neutro, mas, ao contrário, esteja poluído por Espíritos de péssima estirpe, gozadores e exploradores do prazer carnal, cujas emissões magnéticas deletérias empesteiam a atmosfera mental dos encarnados que ali se achem, despertando neles a impulsividade euforizada, sobretudo quando as partes acabem por se permitir desfrutar do cortejo das cenas e imagens berrantes e pornográficas, provocadoras das sensações erotizantes nos seus mais diversos contextos ou modalidades..

Imagens arquivadas no pensamento correspondem a arquivo que pode ser accionado a qualquer momento por qualquer tipo de Espírito, a transformar-se em ponto de apoio para algum tipo de acção subliminar, através das sugestões subtis lastreadas na rememoração das ideias e cenas guardadas no íntimo de cada um.

Por tal motivo é que os desequilíbrios da sexualidade acabam vulnerando um acentuado número de homens e mulheres no mundo, já que todos carregam no próprio "eu" um arsenal de vivências de outras vidas nessa área, a confundirem exercício natural da sexualidade responsável com a desesperada busca pelo esgotamento dos prazeres.

E tais tendências, ainda que, na presente encarnação, estejam transitoriamente eclipsadas pelo véu do esquecimento, acham-se latentes e pulsantes no íntimo de cada um, latência da qual podem ser despertadas pelas imagens provocantes ou pelas insinuações mentais que se baseiem nelas, fazendo cada um relembrar-se dos prazeres ilícitos e sensações excitantes que já fizeram parte de suas experiências passadas.

Para a maioria dos perseguidores invisíveis, o processo de prejudicar os encarnados com fraquezas na área da sexualidade se resume, muitas vezes, em fazer com que eles se recordem dos prazeres das primeiras transgressões.

A partir daí, como um pavio de pólvora que se acende, geralmente o próprio encarnado invigilante trata de dar continuidade aos seus desatinos, envolvendo-se na trajectória descendente, até que se veja enterrado até o pescoço no lodaçal da permissividade.

Desse ponto em diante, mais fácil será para que as entidades inferiores o controlem ou o manipulem.
Não queremos dizer, no entanto, que o encarnado esteja incapacitado de levantar-se do erro, porquanto, a qualquer momento em que sua vontade de correcção apresentar os sinais verdadeiros, mãos luminosas estarão estendidas para fazê-lo superar o movimento de queda e, ensinando-o com os próprios equívocos, apoiarão seus esforços de reerguimento.

Em face dessas peculiaridades é que nos permitimos este pequeno hiato na narrativa para ressaltar ao leitor o facto de que este relato não se prende a um interesse moralista e maniqueísta de taxar os que se servem desses locais para a prática informal da sexualidade como condenados aos suplícios do inferno.

O que desejamos é trazer ao pensamento a lembrança de que a afectividade verdadeira santifica qualquer atitude.
No entanto, sempre que pudermos exercitá-la nos ambientes menos poluídos, melhores sensações poderemos haurir de seu exercício, garantindo-nos a paz e o equilíbrio das forças.

De onde será mais agradável observar e desfrutar o exuberante nascer do sol:
do alto de uma montanha arejada pela brisa ou do interior de um chiqueiro de porcos?

Assim, no quarto de Marisa, as entidades inferiores se aglomeravam da mesma forma que nos outros.
No entanto, para surpresa de muitos, a atmosfera espiritual da mulher era absolutamente diversa da que Glauco emitia.

Parece que, alertado pela protecção espiritual que o acompanhava, sem que, com isso, interferisse no seu poder de decisão, Glauco se mantinha a postos contra qualquer tipo de sensação inferior.

Ao seu redor, um halo de vibrações luminosas era produzido pele exercício da própria vontade, do seu próprio estado de vigilância menta a controlar os influxos de seus pensamentos e comandar a reacção de seus desejos.

Ele já se vira errando em outras épocas de sua vida e ainda guardava no imo da alma as cicatrizes dolorosas de seus equívocos muitos dos quais tiveram por cenário quartos como aquele, cheios de espelhos, de provocações e confortos a amolentar as defesas do Espírito em função das exigências do corpo.

Já Marisa era uma perfeita marionete nas mãos das entidades.
Inúmeros Espíritos convocados pelo compromisso estabelecido entre Marisa e Mércia ali estavam, buscando a todo custo se fazerem sentir e envolver Glauco.

Ao redor de seu halo de força positiva, mantido por uma consciência clara e lúcida, inúmeros Espíritos escuros tentavam uma brecha na defesa para instalarem-se nos terminais mentais do rapaz.

Era uma luta que não se constatava pelos olhos da carne, mas que, aos olhares dos Espíritos era perfeitamente visível, como se uma fortaleza estivesse sendo atacada por todos os lados.

Vendo que esses esforços eram vãos, os que dirigiam o pensamento de Marisa gritaram-lhe aos ouvidos:
— OUSADIA, OUSADIA, PRECISAMOS QUE VOCÊ O PROVOQUE...

Sem ouvir tais ordens com os ouvidos da matéria, tal determinação caiu-lhe na mente espiritual como se a forçasse a agir com rapidez, caso desejasse aproveitar a oportunidade rara.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:36 am

Sentindo-se determinada a aproveitar todas as chances, Marisa passou ao ataque, enquanto que Glauco buscava contornar a situação de maneira cavalheiresca e fraterna.

— Calma, Marisa, tudo tem uma explicação... não se desespere... você não pode se entregar assim à revolta....
— Glauco, eu não sei mais o que fazer de minha vida...
Sempre amei esse homem que está dormindo com outra bem na minha cara... não há nada pior para a estima de uma mulher do que se ver trocada nestas condições...

Vendo que Glauco escutava seu desabafo e, inspirada pela própria astúcia conjugada com a das entidades que a exploravam, Marisa continuou:
— Eu me sinto um traste, uma criatura desprezível..., Glauco.
Sempre procurei fazer tudo o que esse "cara" queria de mim, correspondendo a todos os seus caprichos nos momentos de intimidade.

Jamais lhe neguei nenhum tipo de prazer, nem deixei de atender aos seus desejos de modelar meu corpo de acordo com a moda ou com suas vontades.
Submeti-me a cirurgias, dediquei-me a sessões de musculação, usei remédios para manter a forma, persegui o número do manequim que mais lhe agradasse..

E misturando um estado de lucidez com algumas atitudes próprias de uma alucinada, Marisa passou a erguer o tom de voz, falando e tratando de arrancar com violência a blusa, como alguém que desejasse se exibir a fim de mostrar a outro homem a sua condição de beleza física ultrajada pelo esposo que a desprezara.

— Veja, Glauco, eu sou uma bruxa, por acaso?
Se eu sou repulsiva me diga... fale com sinceridade... pelo amor de Deus, me confirme aquilo que estou sentindo sobre mim mesma...

E a cena grotesca se apresentou aos olhos atónitos de Glauco.
Um corpo esbelto e lindo surgia, provocante.
Favorecido pela roupa íntima estrategicamente escolhida visando aquele exacto momento, Marisa se apresentava ostentando o porte feminino extremamente atraente, além de realçar sua beleza com o toque do perfume de Gláucia, sua noiva.

Nesse exacto instante, as forças vibratórias agressoras se fizeram mais activas, acercando-se ao máximo das defesas de Glauco.
A atmosfera de luz que existia à sua volta foi reduzida na expressão, em face de sua sintonia com a beleza física daquela mulher, a despertar em seu instinto masculino a curiosidade e, quem sabe, o desejo.

Não havia, entretanto, capitulado como era de se esperar.
Glauco se mantinha no mesmo lugar onde estava, enquanto Marisa seguia despindo-se para se exibir e provocar o desejo do homem que tinha sob suas garras.

Tal comportamento da moça era temperado com uma atmosfera de semi-desequilíbrio, como se estivesse se conduzindo assim por causa de seu estado emocional abalado, em decorrência do flagrante de infidelidade do marido.

Vendo que Glauco não cedia como era de se esperar, a plateia de entidades que assistia, excitada, aquela cena, sabendo que tudo não passava de uma estratégia da moça para envolver o rapaz, começou a manifestar-se:
— Vamos lá, mariquinhas... mostre que você é homem... — gritavam uns.
— Sua bonequinha medrosa... onde é que você deixou sua saia? — explodiam outros.
— Aproveite, seu frouxo.
Veja a mercadoria que está nas suas mãos... vai querer que outro a desfrute?

Eram petardos vibratórios que caíam sobre as defesas diminuídas de Glauco, fustigando-o em seu equilíbrio.
Ao mesmo tempo, os dirigentes da estranha exibição passaram a induzir Marisa a tomar as atitudes finais, com as quais pretendiam comprometer o equilíbrio de Glauco.

— Ataque, Ataque, mulher, é agora... ao ataque....

Marisa sentiu a ordem emanar dentro de seu ser e, então, mais do que depressa, acercou-se do rapaz e envolveu-o com seus braços, apertando-o de encontro aos seios despidos.

— Diga-me, Glauco, eu causo asco nos homens? — falou Marisa em uma voz a pedir dele uma demonstração carinhosa que a salvasse da ideia de mulher repulsiva.

Esfregando-se no rapaz, Marisa procurava despertar em seu íntimo o desejo de homem ao contacto com uma fêmea que se oferecia...
Afagando-lhe os cabelos, Marisa beijava-lhe o pescoço enquanto a cena continuava a produzir nos assistentes invisíveis os aplausos e as exclamações de euforia.

— Isso... até que enfim... a coisa estava muito demorada... vamos logo... queremos espectáculo...

Glauco se encontrava em uma delicada situação.
Não desejava tornar mais delicado o estado psicológico daquela mulher que se queixava da traição.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:37 am

No entanto, tinha sua consciência desperta para os deveres morais com Gláucia;
deveres que um dia já havia negligenciado e amargado a difícil colheita da vergonha.

Apesar do avanço arrojado de Marisa que, até aquele momento, não contara com qualquer recusa por parte do rapaz, a atmosfera espiritual luminosa de Glauco, ainda que parcialmente reduzida no primeiro instante, voltou a reassumir a forma anterior, agora vitalizada por um brilho ainda mais forte.

E para os seus amigos espirituais, que até aquele momento estavam acompanhando a cena sem interporem qualquer defesa para não lhe prejudicar a vontade pessoal necessária ao testemunho que precisava enfrentar com suas próprias forças, foi uma alegria imensa quando repercutiu no ambiente espiritual daquele quarto de luxúrias e decomposição moral, proveniente do pensamento de Glauco, as palavras maravilhosas e salvadoras:
— Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...

Enquanto Marisa o abraçava e tentava provocar seus instintos viris, o pensamento de Glauco, identificando o desejo de vencer aquele teste difícil para suas inclinações equivocadas e seus vícios de outros tempos, se voltou para Deus, a fonte das forças, a usina de energias protectoras e reequilibrantes da alma.

Uma saraivada de xingamentos e humilhações ainda mais pesadas e inadequadas para se transcreverem aqui partiu da plateia, revoltada com aquela que era considerada, por tais Espíritos infelizes, uma conduta covarde e indigna de um homem.

No entanto, a oração mental rápida e sincera, proferida na exiguidade daqueles instantes difíceis de tentação absoluta para a sua têmpera masculina, fora suficiente para angariar a resposta imediata das forças do Bem que acompanhavam, igualmente, o desenrolar dos factos naquele ambiente.

Os mentores espirituais presentes, que até então eram invisíveis a todos os demais Espíritos levianos que tentavam se locupletar com as baixas emoções em jogo, uniram-se em preces, como a despertarem uma chuva imediata de forças superiores, iluminando aquele quarto e imobilizando todas as entidades trevosas que, dali, não conseguiram escapar, como se tivessem sido presas por um poderoso ímã aos próprios lugares.

Alfonso e Félix, que se revezavam entre os dois quartos onde as nossas personagens escolhiam seus destinos, entreolharam-se, contentes e disseram, quase que em uníssono:
— Nosso irmão pede a ajuda de Deus... vamos... ele está vigilante e o Pai nunca se esquece de seus filhos.

Ah! Queridos leitores, se soubéssemos usar a oração com a unção da verdade e a força da fé, quanto pouparíamos em dores ou desajustes nas horas cruéis de nossos destinos.

Algumas singelas frases que canalizavam um grito de socorro na hora da fraqueza moral, se fizeram suficientes para que os céus se abrissem e as forças superiores viessem ao encontro daquele que se confessava frágil, mas que tinha desejo de resistir ao mal.

Era Glauco quem tinha que escolher, sozinho.
No entanto, ao pedir ajuda, demonstrou sua disposição de resistir ao erro que já o havia ferido outrora e, assim, permitiu que os Espíritos que vigiavam se mobilizassem em seu socorro.
O choque fluídico foi imediato.

Todas as entidades negativas do ambiente se viram bloqueadas pela excelsa força luminosa que chegava de mais além.
Como que por encanto, Glauco se vira fortificado e, inspirado pela lembrança de Gláucia, lembrança essa reforçada pela exalação perfumosa que partia de Marisa e que correspondia à memória da companheira, afastou de si a jovem alucinada, jogando-a sobre a cama, com certa dose de energia decidida.

Assustada com a reacção, aquela mulher que jamais se vira recusada nos oferecimentos levianos que tivera na vida até aquele dia, avaliava, por primeira vez, a vontade masculina contrária às facilidades sexuais promovidas por ela.

Com os olhos arregalados, como que não acreditando no que estava vendo, Marisa gritou, com voz de infeliz:
— Pois então você também me repudia, Glauco?

Sereno, mas firme, envolvido pela acção determinada dos Espíritos amigos que o sustentavam na decisão que escolhera, Glauco respondeu:
— Você é mulher atraente e digna demais para se oferecer dessa maneira.
Qualquer homem de bom gosto se veria muito honrado em ser companhia a uma mulher como você.

No entanto, Marisa, cada um de nós tem sua vida e tem seus compromissos.
E se você se permite descer a ladeira da insensatez porque seu companheiro, supostamente, a está traindo, eu não pretendo fazer o mesmo com aquela que amo e a quem respeito com todas as forças de minha alma.

Por mais vantajosa que me seja a sua oferta, Marisa, Gláucia é tão credora de meus carinhos que o mais alucinante prazer que desfrutasse com seu corpo escultural, Marisa, não justificaria uma só lágrima da mulher que amo.
Vista-se que vamos embora daqui.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:37 am

E como ela se fizesse de desentendida, Glauco completou:
— Se não desejar se vestir, deixo suas coisas na garagem e você trate de ir de táxi.

Sem a acção directa das entidades obsessoras, agora bloqueadas sem acção, Marisa percebera com facilidade que as coisas não tinham transcorrido como seus planos desejavam.
Assim, ainda que mantivesse o coração azedado pela conduta firme de Glauco e, a partir daquele momento, o mesmo rapaz se tornasse seu adversário, seu inimigo pessoal, sabia que não poderia permanecer ali, ao deus dará.

Tratou, então, de arrumar-se como podia, observando que boa parte dos botões de sua blusa haviam sido arrancados quando de seu esforço de despir-se repentinamente.
Mesmo assim, procurou fechá-la como lhe fosse possível, inserindo-a na saia, na altura da cintura, ao mesmo tempo em que tentava recompor o penteado desconjuntado.

A maquiagem borrada seria impossível modificar até que chegasse em sua casa.
A mágoa contra Glauco crescia a cada minuto, como se a culpa de tudo aquilo fosse dele.
Não lhe ocorria o facto de o mesmo estar ali com a sincera disposição de auxiliá-la, tentando evitar um desenrolar trágico para o flagrante de traição.

Quisera usar a infidelidade do marido como pretexto para facilitar a intimidade com Glauco, ao mesmo tempo em que obteria provas fotográficas contra o esposo, que saberia usar no momento adequado para tirar vantagem ou prejudicar Marcelo.

Precisava, assim, sair dali na companhia daquele rapaz agora detestável.
Entrou no veículo de Glauco, fechando a cara enquanto o rapaz manobrava a cobertura que vedava a garagem para sair.
Tinham se passado quase duas horas desde a chegada de ambos ao motel.

Marisa agarrou sua bolsa, a máquina fotográfica e, confundida pela postura recta do noivo de Gláucia, sentia-se rebaixada moralmente diante dele, ainda que procurasse manter a pose de indignação.

Pensava em devolver-lhe a ofensa, um dia, humilhando-o igualmente.
Lançar algum boato sobre a sua masculinidade, no ambiente dos amigos comuns, dando a ideia de que se tratava, na verdade, de um rapaz afeminado, poderia ser uma das formas de se vingar daquele desaforo.

De um jeito ou de outro, Marisa iria dar o troco àquela que considerava uma afronta, quando se reduzira à condição de vulgar prostituta (imagem que, efectivamente, a representava com perfeição) no exacto momento em que pretendia se entregar como mulher apaixonada.

O carro rolou na direcção da saída.
Por excesso de cortesia, Glauco pediu à atendente que verificasse a conta e procurou quitar o tempo ali decorrido, esperando a abertura do portão que dava acesso à rua.

Assim que tudo se fez conferido e pago, foi franqueada a sua partida, descendo a rampa, sem imaginar que, logo mais adiante, seu cunhado Luiz, conversando com Glaucia, sua noiva, estavam dentro do carro do primeiro, esperando por ele.

Tão logo Luiz vislumbrou o carro descendo a rampa, abriu a porta de seu veículo e se postou no meio da rua para interromper a passagem de Glauco.
Vendo o cunhado de plantão no meio da passagem, pôde imaginar que aquela situação iria produzir desdobramentos desagradáveis em sua vida.

Não sabia, entretanto, que logo depois de parar, atendendo a um sinal de Luiz, Glaucia sairia pela outra porta do veículo e viria na direcção do carro do noivo, com o olhar assustado de alguém que não acreditava no que estava vendo.

Nesse momento, Marisa percebeu que poderia exercitar magistralmente a sua contrariedade.
Vendo a noiva vindo em sua direcção, ainda que mantivesse a consciência tranquila, Glauco se fez lívido por imaginar tudo o que poderia estar passando-lhe pelo pensamento e pelo sentimento.
Abriu a porta do carro e se colocou pronto para conversar com a companheira.

Visivelmente nervosa, ainda que se esforçasse por se manter equilibrada, Gláucia exclamou:
— Glauco, o que está acontecendo aqui?
— Gláucia, se você souber escutar, posso lhe explicar tudo...
— Explicar o inexplicável? — gritou Luiz, alucinado e envolvido por Jefferson, o Espírito perseguidor.
Você foi pego com a cueca suja de batom e está querendo explicar o quê?

Notando que o irmão de Gláucia não permitiria qualquer entendimento, Glauco limitou-se a exclamar, sucinto:
— Estive aqui para tentar evitar uma tragédia, na qual Marisa ameaçava matar Marcelo, que está aí dentro com uma amante...
— Ah! Ah! Ah! Que piada de mau gosto... — respondeu, arrogante, Luiz.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:37 am

Gláucia, então, olhou para dentro do veículo para constatar se, em seu interior, era realmente Marisa quem se encontrava.
E, então, maldosa e cheia de desejo de infelicitar a vida afectiva de Glauco, a jovem, ousada e desequilibrada, agora já sem a companhia intensa das entidades negativas que a acompanhavam, tratou de afastar as duas frentes da blusa sem botões, deixando todo o seu colo à mostra, como a envenenar o olhar da noiva do rapaz, insinuando que, na verdade, ambos haviam se dedicado a intimidades inconfessáveis, como poderia se provar pela condição de suas vestes.

Gláucia engoliu a seco aquela afronta, ao mesmo tempo em que repetia ao noivo, trémula:
— Mas, Glauco, Marisa está seminua...

Voltando seus olhos na direcção do interior do veículo, o rapaz percebera que a mulher, astuta, se fizera oferecida para produzir o cenário perfeito às conclusões negativas a respeito de sua conduta.

Observando o tipo de comportamento de Marisa, agora assumindo a sua maldade deliberada, Glauco não titubeou em adoptar a medida que lhe parecia mais adequada.
Dirigiu-se à porta que Marisa ocupava no veículo e, abrindo-a arrastou a ousada e perigosa mulher para fora do mesmo, dizendo que ela não merecia qualquer outro tipo de tratamento, pela maneira vil e mesquinha como estava se comportando.

Gláucia jamais havia visto Glauco tomar uma atitude dessas com ninguém e, observando a indignação em seus actos, constatou que ele também estava surpreso com a conduta de Marisa.

Nesse exacto momento, Félix se aproximou da mente da noiva do rapaz e, conectando seu pensamento ao da jovem, irradiou-lhe uma força calmante, despertando sua lembrança sobre o aviso que houvera recebido dias antes, falando dos momentos difíceis que iria enfrentar ao lado do rapaz amado, tanto quanto do testemunho que ele próprio teria que passar.

Gláucia não registara conscientemente tal emissão.
No entanto, sua alma recordou-se dos avisos recebidos na casa espírita para que soubesse se manter em equilíbrio nas horas difíceis que esperavam pelo casal que se amava.

Percebendo a irritação e indignação de Glauco em relação a Marisa, que foi atirada por ele no meio fio sem qualquer consideração, ofendido por sua postura indecente e venenosa, Gláucia ponderou, mais equilibrada:
— Deixe ela aí... Luiz se incumbe de levá-la embora.
Vamos, Glauco, precisaremos conversar.

Vendo, então, que a noiva não agira como seria de se esperar, desequilibrando-se por aceitar morder a isca da malícia, Marisa passou a gritar, enquanto o casal entrava no carro e tomava outro rumo:
— Você me paga, seu aproveitador de mulheres...
Me seduz e depois me joga na rua... seu safado...

Marisa estava alucinando, vitimada pela própria maldade e pelo insucesso de seus planos.
Restava Luiz, ali na rua, incumbido pela irmã para resolver o problema de Marisa.
Despida diante de seus olhos, em evidente estado de desequilíbrio, o rapaz não conseguira deixar de observá-la como um homem, atraído pela sua seminudez.

Estendeu a mão para reerguê-la e conduziu-a ao carro, para levá-la ao destino que indicasse.
Estimulado pela suas formas físicas à mostra, Luiz, excessivamente marcado pelo desequilíbrio da sexualidade, logo viu a possibilidade de aproveitar-se daquele corpo, comandado por uma Marisa em desajuste.

Jefferson provocava-lhe as sensações e instintos, sugerindo-lhe que, se o cunhado já tinha se servido, coisa na qual, efectivamente, Luiz também acreditava, ele bem que também poderia aproveitar-se permitindo-se a retomada da virilidade das suas funções masculinas comprometidas pela vergonha de suas condutas homossexuais anteriormente vivenciadas.

Marisa, por sua vez, era uma pilha de nervos, à beira do desajuste completo.
Aquelas emoções que confundiam erotismo com ansiedade para, logo mais, terminarem em decepção e vergonha para a vaidade e orgulho de mulher repudiada, faziam dela um amontoado de carne ser rumo.

Com ódio ardendo em seu coração, tanto contra o marido que a desrespeitava quanto pelo outro ser cobiçado que não caíra em suas garras, Marisa se deixara arrastar para o âmbito do sentimento ferido isolador da consciência vigilante.

Em horas assim, as pessoas costumam se permitir coisas próprias da insensatez, entregando-se a qualquer aventura pela simples satisfação de se vingarem daqueles que se mostraram indignos de seu afecto, revidando traição com traição, tanto quanto reconquistarem sua auto-estima através da admiração masculina, voltando a se sentirem desejadas.

Acostumadas ao comércio visual, no qual as pessoas se avaliar pelo tanto de desejo que são capazes de gerar nos olhares alheios despertando interesses e causando suspiros nos outros, a conduta mais fácil nessas condições é a de se deixar arrastar para os contactos promíscuos e fáceis, como se eles pudessem vingar a dignidade ultrajada.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:37 am

E era exactamente isso que Marisa iria se permitir com Luiz.
O rapaz, longe de ser desinteressante, possuía larga experiência em conquistas e sabia identificar uma mulher carente, extraindo as vantajosas concessões que esse estado faculta, quando bem explorada.

Assim, ao invés de levar Marisa para o destino solicitado, em face do horário e imaginando que ela não deveria ter-se alimentado, resolveu, por conta própria, levá-la para jantar em algum local discreto, oferecendo-lhe uma jaqueta que trazia consigo como um sobretudo para tornar mais discreto o estado de suas roupas.

Deixando-se conduzir pelo galante rapaz, que, então, ficara sabendo ser irmão de Gláucia, Marisa, confusa, aceitou o alvitre da refeição, como alguém que, já tendo perdido tudo o que desejava, aproveitaria a circunstância de quem já não tem mais nada a empenhar.

Sabendo dedilhar-lhe as fibras da emoção, e não tocando no assunto delicado da cena ocorrida à saída do motel, ambos foram se envolvendo em uma atmosfera de cumplicidade, regada a bebida suave, até que a embriaguez relaxou todas as suas barreiras e, com a desculpa de resgatar a auto-estima perdida, se não foi capaz de arrastar para a cama o noivo de Gláucia, ao menos o faria com o seu irmão.

Foi assim que, em que pesassem os esforços dos Espíritos amigos no sentido de evitar a continuidade das tragédias morais envolvendo Luiz, Marisa e os outros integrantes desta história, com excepção de Glauco e Gláucia, continuavam os demais andando pelos caminhos tortuosos de uma vida aventureira e perigosa.

Longe dali, Glauco e Gláucia se entregavam ao diálogo sincero.

Sabendo dos avisos que lhes haviam chegado através de Olívia, Gláucia exigiu que a conversa se fizesse na presença da mãe, em sua residência, onde, por cautela, saberia que encontraria o respaldo para qualquer ideia mais drástica, ficando mais protegida contra a actuação de entidades inferiores, que sempre se valem dos momentos de desequilíbrio para actuarem no sentido de empurrar as pessoas para os caminhos dolorosos e traumáticos.

Assim, pediu que o noivo a levasse para casa, onde conversariam caso a oração familiar já tivesse terminado.
Efectivamente, no íntimo da família naquela noite, apenas Olívia e o esposo João se encontravam, tendo sido encerrada a oração costumeira, durante a qual a progenitora de Gláucia sentira activamente a presença dos mentores espirituais, magnetizando o ambiente para os eventos que logo a seguir se dariam.

Ainda que Glauco ponderasse sobre a inconveniência de levar tais amargos momentos para o interior do lar de Gláucia, a jovem se mostrou irredutível na decisão, explicando que não pretendia ficar exposta à influência de entidades negativas que, facilmente, poderiam induzi-la a agir contra seus sentimentos.

O rapaz, percebendo o esforço de se controlar que a noiva demonstrava, acabou por levá-la de volta ao lar.

Assim que chegaram, era visível em ambos o estado de dor íntima.
E se Gláucia possuía motivos para pensar como qualquer um seria induzido a imaginar, Glauco se via ferido pela ironia dos factos tornando-se vítima pela tentativa de fazer o Bem que sempre houvera aprendido nas lições do Evangelho.

Não tirava de Gláucia, no entanto, a razão por se encontrar entre a dúvida e a descrença.
Vendo a aflição de ambos, Olívia entendera o porquê do amparo espiritual intenso e inusual de que havia sido objecto o seu lar naquela noite.
Sabia que chegara o momento de ouvi-los, não mais como mãe ou futura sogra, mas, sim, como simples irmã que ama e é capaz de superar tudo para que a verdade não acabe corroída pela força do ma mesmo quando pareça que as circunstâncias conspirem para a condenação.

Relembrava-se, palavra por palavra, das exortações recebidas na casa espírita semanas antes, a convocá-la para uma nova atitude com a qual a construção do futuro daquelas duas almas poderia consolidar-se.

Glauco, convicto de sua inocência, sentou-se, decidido, para que aquela mulher generosa pudesse ser a testemunha de sua consciência limpa e sua confissão filial.

João havia se retirado para o quarto, em busca de seu tradicional futebol, como se não houvesse coisa mais importante na vida do que ver a bola correr de um lado para o outro.

No entanto, considerando o nível pouco desenvolvido de sua sensibilidade, podiam os Espíritos bendizer, naquela noite, a função daquele futebol, a prender diante da televisão os despreparados para a compreensão dos dramas existenciais, divertindo-se com as tolices de mundo para que não se ocupassem em aumentar as dores alheias com palpites despropositados, embasados nos preconceitos da ignorância.

Assim, a bondade divina se servia até mesmo da tolice dos hábitos humanos para usá-los em favor de seus objectivos generosos.
Com base nas noções espirituais de tolerância e boa vontade, Olívia escutou o desabafo de Glauco, iniciado com a ressalva de que, depois que contasse todas as circunstâncias que lhe aconteceram naquele dia, se Gláucia desejasse romper o noivado e afastar-se dele, ele seria o primeiro a deixá-la viver a vida em paz.

Não iria adulterar a verdade, nem omitir qualquer informação só para que parecesse ter razão.
Iria ser aquele que confessa, ainda que não acreditassem nele.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:37 am

Depois, Espírito já endividado pelas condutas erradas do passado, saberia aceitar o destino, ainda que o lastimasse, em face do amor que sentia por Gláucia.

Então, depois de tais ressalvas, Glauco passou a relatar todos os factos, sem nada ocultar nem colorir, até que, sem conseguir mais se controlar, desabou em lágrimas dolorosas de angústia, quando chegou ao relato do encontro com a noiva às portas do motel.

Não mais pôde continuar.
Apesar de tudo, Glauco fez questão de evitar comentar o segredo que sabia acerca de Luiz e sua conduta promíscua.

Ao seu lado, entidades luminosas se postavam, em respeito ao seu esforço de redenção moral, mesmo que isso lhe custasse o noivado e a convivência com aquela família que, em realidade, era a única família verdadeira com que podia contar, uma vez que sua mãe era falecida e seu pai, homem sem escrúpulos, não conseguira manter a ligação com Glauco desde o falecimento precoce da esposa.

Glauco não se ligara afectivamente ao pai, porque este, ainda que com uma vida confortável, se mantinha distante, mergulhado em seus negócios e aventuras conjugais com as mocinhas caçadoras de fortuna que sempre andavam a solta.

Soluçando sem mais poder conter-se, o rapaz se entregou ao mutismo, sem mais ter o que falar.
Ao mesmo tempo, Gláucia derrubava lágrimas de emoção diante daquela cena tão marcante para sua alma.
Tudo o que Glauco lhes contara se encaixava naquele perfil perigoso ao qual os Espíritos haviam se referido.

Seu testemunho valoroso, diante da sexualidade mal orientada do passado, conseguira superar a prova difícil e, por mais que as aparências indicassem o contrário, a dor do coração da noiva se viu aliviada pela confissão coerente e pela palavra franca do rapaz que se dispunha, inclusive, a deixá-la em paz, saindo de sua vida.

A palavra de Olívia seguiu-se, após, consoladora e cheia de esperanças, espalhando o lenitivo da confiança que depositava na confissão de Glauco, dando-lhe o consolo das palavras de alento tão importantes para aquele que luta por uma verdade que vale mais do que a própria felicidade afectiva.

Olívia era o arauto dos amigos invisíveis, a entregarem ao rapaz através de seus lábios, a exortação do Bem, reequilibrando suas forças e revitalizando suas esperanças.

Glauco não podia entender o bem-estar que o carinho de Olívia, que tinha todos os motivos para duvidar dele, lhe causava ao externar sua confiança em sua boa intenção.

Isso transmitiu-se para o coração de Gláucia que, naquele ambiente favorável, se deixou contagiar pela devoção do noivo, pelo carinho de sua mãe e pela acção do mundo espiritual que sabia de suas dores do passado e lutava para que suas cicatrizes não voltassem a sangrar, fosse por acreditar na traição ou pela simples dúvida que Marisa, maldosamente, tentara semear em seu íntimo.

E então, a noite terminou com o relato de Olívia para os dois companheiros sobre as exortações do mundo invisível acerca do momento delicado que passariam relembrando que, em momento algum, se veriam desassistidos da protecção indispensável à vitória diante do testemunho moral.

Daquele casal que chegara ao ambiente às portas de um desajuste que significava a ruptura, surgiu uma união ainda mais consolidada, solidificada pela compreensão e pela capacidade de entendimento, irrigada pela sinceridade e pela verdade que, respeitada em todos os seus horizontes, é o selo da paz da consciência e da harmonia dos corações.

Não era esse o sentimento dos demais integrantes da nossa história.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:38 am

33 - O ALVOROÇO DAS TREVAS E AS ORDENS DO PRESIDENTE

Depois de todos estes eventos, uma grande reviravolta se observou junto ao núcleo trevoso que organizava as perseguições espirituais.

De uma só vez, vários de seus importantes membros foram impedidos de retomar o processo obsessivo, o que correspondia a um sério golpe em suas estruturas.

A perda do Chefe, um dos Espíritos mais ligados ao Presidente da Organização, acompanhada pelo desaparecimento de Juvenal, repercutiu terrivelmente na estrutura que se mantinha, aparentemente invulnerável, graças ao clima de terrorismo e perseguições implantado pelos seus dirigentes.

Da mesma forma, os Espíritos que acabaram magnetizados pela força superior que os envolveu durante o processo de amparo a Glauco, também deixavam vazios os postos na referida estrutura trevosa.

O mesmo se deu também junto à dona Mércia, com a diminuição abrupta de trabalhadores, o que tornou periclitante a estrutura de atendimento espiritual inferior que ali estava organizada, debilitando aquele muito activo comércio com o mundo invisível que costumava envolver, inclusive, gente importante da sociedade.

Os sinais de alerta soaram na confusa estrutura da Organização.
Convocados às pressas, todos os que se ligavam directamente ao Presidente acorreram, amedrontados, diante do inusitado da convocação.

Era preciso garantir o equilíbrio da "empresa" para que não surgissem focos de amotinados, porquanto o dirigente maior daquele grupo sabia que era sob o signo do medo e da ignorância que se fazia mais fácil dirigir toda a Organização.

Diante da reunião programada na qual tiveram parte todos os mais directos responsáveis pelos núcleos terrenos de interferência e obsessão dos encarnados, a palavra do Presidente se fizera imperativa:
— Os malditos representantes do Cordeiro estão nos atacando.
Nós, que nada fizemos contra eles, que estamos quietos em nosso canto, acabamos sofrendo um grave atentado em nossa estrutura, que não pode ficar sem resposta de todos os nossos soldados.

Adulterando a verdade para incutir nos ouvintes a ideia de que eram vítimas inocentes, atingidas pela traiçoeira investida luminosa, o Presidente sabia que precisava fomentar em seus pensamentos a noção de perigo e de indignação diante de uma acção covarde e injusta.

— Se nos calarmos agora, poderemos considerar encerrada a nossa actividade e nos tornaremos escravos dos que dizem defender o crucificado.

Vejam como são mentirosos.
Nossos núcleos de trabalho se instalam por todas as partes.
Inúmeros representantes desse Cordeiro se acham submetidos à nossa influência directa.

Olhemos para a história das igrejas no mundo e vejamos como que, sob o símbolo da Cruz, se fizeram assassinos, devoradores de corpos, traficantes de interesses churrasqueiras de crianças, degoladores de inocentes, enganadores do povo, usurários de riquezas, sempre invocando a autorização celestial para se conduzirem por tais estradas.

Na verdade, são algozes e cães mais temíveis do que o próprio Demónio que, criado para o mal, não se esconde por detrás de roupas clericais ou de textos bíblicos.

Em geral, assume o que é e declara seu desejo de fazer o mal.
Mas estes fingidos e hipócritas, sedentos de viúvas desprotegidas, de tesouros amoedados, de dízimos que usam para corromper e fazer campanhas políticas, tanto quanto negociatas espúrias junto aos governos da Terra... como é que podem vir nos querer dar lições de moral, ceifando em nossa própria horta, alguns de nossos melhores trabalhadores?

Estudando a reacção favorável existente nos rostos assustados de seus interlocutores, o Presidente continuou:
— Precisamos agir e o momento é agora.
Se deixarmos para depois, parecerá que nos amedrontamos com essa primeira investida dos fantoches do crucificado, como se eles, realmente, fossem melhores do que nós.
Por isso convoquei esta reunião.

Desejo vigilância cerrada sobre todos os nossos objectivos, para que nenhum deles se perca de vista e, no mais curto prazo possível sejam atingidos os nossos intuitos, sem nenhuma derrota.

Além do mais, proíbo a todos de comentarem as ocorrências últimas, para que isso não venha a produzir o estímulo nos fracos ou ingénuos que estejam sendo treinados em nossas técnicas de ataque.

Que saibam que os que se ausentaram foram apreendidos por nossos inimigos e que, de nossa parte, estamos organizando um ataque para conseguirmos recuperar os que são integrantes de nossa família.

E que todos se integrem nos movimentos, estimulados pela necessidade de dar uma resposta à altura do ataque recebido.
Que os seguidores do Cordeiro permaneçam em suas igrejas e em seus rituais, não se metendo nos caminhos que não lhes pertencem.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:38 am

Nossa atitude não deverá tardar.
Eu mesmo, pessoalmente, irei coordenar o trabalho final de perseguição que estava sob a responsabilidade do Chefe, enquanto procuramos estabelecer o seu resgate, além do de outros membros de nossa Organização.
Aumentem as pressões sobre nossos "tutelados", intensifiquem a influência e a hipnose dos que estão sob nossos cuidados e daqueles que são seus parentes.

Precisamos de mais trabalhadores.
Continuemos a proteger os líderes das empresas religiosas, os nossos associados nas tácticas de sedução pelos oferecimentos de vantagens materiais.
Os idiotas dos humanos não resistem a uma promessa de ganhar dinheiro e logo se entregam às tentações.

Protejamos os pastores e religiosos de todos os tipos que administram nosso negócio no mundo, mantendo as criaturas na ignorância, amedrontadas pela figura do demónio.

Eles são importantes aliados.
Não desperdicem as portas de entrada na mente dos tutelados.
Onde encontrarem fraquezas como a gula, o sexo, a vaidade e a ambição atuem imediatamente, porque os adeptos do crucificado são, na maioria, uns hipócritas, túmulos caiados por fora, mas podres por dentro.

Raríssimos desses falsos bonzinhos resistem a tentações desse tipo.
Desejamos dar o troco nesses safados e fingidos do Cordeiro.
Fomos forjados por antigos e valorosos lutadores que nos legaram as vantagens materiais que usamos quando estivemos no mundo e que precisamos continuar a defender, para que possamos nelas empossar os nossos escolhidos, perpetuando o nosso império milenar.

Entre os dois lados da vida, deveremos manter aquilo que nos pertence.
O dinheiro e o poder, a influência, a corrupção, a sonegação e o desvio de verbas serão sempre as ferramentas próprias de nosso esforço em garantir para as nossas futuras gerações e para as nossas eventuais voltas ao mundo das caveiras, as mesmas condições vantajosas, as redes de interferência nos destinos e o potencial de enriquecimento que nos mantenha à frente dos negócios do mundo.

Com isso, seguiremos controlando patrimónios financeiros organizados em bancos e empresas de crédito, controlaremos os meios de comunicação de massa para induzir os Espíritos a se sentirem familiarizados com os conceitos morais que nos facilitem a acção, ridicularizando a honestidade, a correcção, o cumprimento dos deveres, abrindo espaço nas mentes para a complacência com a roubalheira, com o interesse de parecer importante, com o desejo de enriquecimento para alimentar a fogueira da vaidade.

Influenciaremos nos meios de produção para que as forças materiais possam ser dirigidas, nos mercados, nos órgãos que deliberar sobre as políticas gerais, criando confusões com princípios filosóficos conflituantes, divergências de entendimentos para que, nas infindáveis discussões e debates, o tempo se perca e as coisas não se modifiquem.

Isso tudo faz parte de nosso trabalho para combater o ataque dos que se dizem leais ao Cordeiro.
Da mesma forma, denegriremos suas religiões através de religiosos corruptos, venais, negocistas, pervertidos, sexólatras, debochados, demonstrando como são mentirosos os valores de sua fé.

Estabeleceremos o culto do lixo e da depravação, com as imagens provocantes de corpos expostos, promovendo o sucesso das manifestações da nossa esfera, inspirando a divulgação de músicas de teor malicioso e provocativo, difundidas pelos meios de comunicação de massa para obterem a aceitação da maioria dos incautos, promoveremos os seus cantores e intérpretes da noite para o dia à categoria de astros e estrelas de realce, a fim de que sejam citados por uns e invejados por outros, facilitando que nossos tutelados se alimentem desses conceitos e se esqueçam das referências ao Cordeiro fajuto e covarde que, depois de ter-se deixado matar, abandonou a todos os seus seguidores sem voltar para salvá-los do mal.

Esta é a ordem de vocês...
Em cada escritório onde se encontrem instalados, cada consultório, cada repartição onde estejam os nossos representantes em contacto directo com nossas influências e objectivos, em cada representação partidária ou governo, autoridade de qualquer área e local de concentração de pessoas, aí deverá estar o nosso esforço para agirmos em resposta e no repúdio a esse tipo de ataque covarde de que fomos vítimas e que está se multiplicando por todos os lados, partindo desse bando de hipócritas que prega dos púlpitos uma pobreza que não vivem, que fazem discursos de honestidade e amor aos semelhantes, mas que promovem a corrupção dos políticos e as orgias de Dionísio.

Estejam atentos aos dois tipos de religiosos que encontraremos.
Os primeiros rezam pela nossa cartilha usando as mesmas estratégias, para eles, a religião é apenas um degrau para conquistar o poder do mundo e os favores do conforto.

Os segundos querem parecer ilibados, puros, verdadeiros.
Protejam e apoiem os primeiros, aqueles que, em seu íntimo, se demonstrem venais ou interessados em se venderem.
Recusem a companhia de religiosos íntegros, de autoridades Cumpridoras de seus deveres, de homens e mulheres correctos e moralmente honestos.

Esses são mais trabalhosos e, no meio da confusão que se estabelecerá pelo ataque aos demais, eles acabarão sendo abatidos por força da pressão social.
Alerto-os, principalmente, para que se afastem das instituições onde os malditos representantes do Cordeiro se empenham em orações e no contacto com os que chamam de Espíritos, representantes da malfadada agremiação do francês ridículo, porquanto possuem sortilégios que a maioria de nós não sabe como neutralizar principalmente quando não se deixam iludir pelos interesses mundanos.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:39 am

Não me refiro aos que mantêm contacto connosco em seus núcleos de crenças, a pedir dinheiro, acender velas e outras oferendas, nem aos que os procuram para a realização de suas ambições com o nosso auxílio.

Esses são espíritas dos nossos.
Vocês sabem como nos enfronhamos com esses servidores sensitivos e como eles nos têm sido úteis nas tarefas de dominar as consciências.
Eles devem, também, ser protegidos por nossos exércitos e defendido das acções nefastas da turma luminosa a qualquer custo.

Vocês precisam saber que neste ataque desleal que nos atingiu, uma das mais importantes cooperadoras de nossa Organização foi igualmente ferida e teve sua obra despojada de boa parte de seus trabalhadores, não se sabendo para onde foram levados.

E depois disso, a nossa médium, o nosso "cavalo" está meio abobalhado, sem entender o que está se passando com sua casa.
Os adeptos do francês idiota desenvolveram técnicas que confundem os menos preparados e que podem produzir malefícios terríveis para aqueles que caem em suas peneiras.

Vivem dizendo que não têm interesses, que não cobram dinheiro nem desejam nada das pessoas.
Pregam uma transformação interior, como se isso fosse possível, que as pessoas se melhorem, que se transformem e que sejam felizes.
Fazem tudo de graça e não buscam, na maioria dos casos, sequer a notoriedade da imprensa.
Com isso, as casas onde se reúnem acabam sendo locais de bastante perigo para os nossos trabalhadores.

Cuidado com eles.
Se precisarem de ajuda, procurem aqueles médiuns que gostam do pagamento, dos que se interessam por rituais e objectos, informações e vantagens de todo tipo, porque estes são numerosos e, em seus lugares de reunião, encontraremos o ambiente adequado para a instalação de novas sucursais de nossa instituição.

Quanto aos templos do espiritismo de Allan Kardec, proíbo que entrem neles, preferindo a táctica de seguirem seus adeptos até as suas asas, depois das reuniões espíritas.
Sigam com eles para aproveitaremos de seus deslizes e, quando isso acontecer, ataquem-nos, envolvamos e escravizem-nos com pensamentos de revolta, de insatisfação, de irritação.

Assim, seguramente ligados a eles, poderemos retornar ao centro espírita usando-os para criarmos problemas e desajustes, transformando-os em nossas ferramentas.
Induziremos as fofocas, as posturas desafiadoras, os comentários maliciosos, as expressões inadequadas, criando a perturbação no seio daqueles que querem se tornar puros, mas que estão cheios de impurezas na alma.

Percebendo que todos os seus ouvintes se achavam como que hipnotizados por suas graves palavras, atestando o completo domínio sobre a assembleia, o Presidente fez breve pausa e continuou, demonstrando que a reunião se aproximava do final:
— Daqui a cinco semanas, estarei actuando pessoalmente no encerramento da perseguição a que incumbi o Chefe e Juvenal, que a vinham implementando correctamente.
Fizeram um bom trabalho até agora, mas, já que estão desaparecidos, daqui em diante eu mesmo vou cuidar disso.
Preparem-se todos para estarem lá no dia marcado, como convidados para testemunharem nosso poderio contra os asseclas do Cordeiro.

Convido-os para que, nessa data, possam compor a equipe que vai presenciar e cooperar na conclusão dos trâmites com os quais estaremos actuando no mundo como os que governam as pessoas e os seus destinos, mostrando que os crimes são sempre descobertos e que não há ninguém que possa se furtar ao acerto de contas.

É da lei que um olho indemnize o outro, que um dente seja verificado para corresponder ao que se perdeu.
Assim, a todos os que se viram felizes com a desgraça alheia, chega o dia em que a sua estrutura ruirá no vazio de suas torpezas.
Intimo-os para que sejam testemunhas do que acontece com aqueles que pensam poder enganar a nossa Justiça.

O ódio, longamente acumulado, despejando-se sobre os envolvidos, saciará nossa sede de vingança.
Até lá, estejam a postos em suas actividades e não se descuidem de nada porque não pretendo perder mais agentes de confiança, como considero cada um de vocês.
Cada fuga será exemplarmente punida por processos de tortura e repressão que vocês devem implementar de forma implacável e sem desculpa.

Daqui devem sair com a certeza de que toda compaixão é vírus do Cordeiro, que estará comprometendo nossa saúde para nos conduzir à enfermidade e à queda.
E se encontrarmos alguém contaminado, tratemos de usar energia e punição para que o maldito se arrependa e sirva de exemplo para os demais.

Se pediram e receberam a ajuda da Organização, aceitaram as nossas condições.
Juraram que pagariam o preço correspondente e, dessa forma, não há o que possam fazer para fugir ao dever de serviço à nossa causa, até o fim.

Com um gesto imperativo, deu por encerrada a reunião e dispensou a todos os seus participantes.
Depois, fechou-se nos seus aposentos para delinear a acção para o acerto final do caso que o Chefe e Juvenal vinham administrando, em seu pessoal interesse, ligado ao destino das nossas personagens.

Determinara a ampliação dos obsessores junto a Marisa, Letícia Camila, Sílvia, Marcelo, Adalberto, Ramos, Leandro, Glauco, Gláucia e Luiz.
Estudara os passos mais adequados para que, nas diversas áreas, o círculo de influências espirituais que comandava pudesse ir sendo fechado a fim de pegar todos os envolvidos no mesmo momento

Assim, como dissera na reunião, acertara que tudo deveria decidir-se na reunião do grupo profissional a ser realizada daí a cinco semanas.

Deliberou que alguns seus mais íntimos servidores se ocupassem de procurar informações sobre o paradeiro de seus dois homens de confiança, buscando uma justificativa para o desaparecimento de tantos trabalhadores da Organização.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:39 am

34 - A PEDAGOGIA DO BEM

Com relação aos Espíritos que foram capturados pelo campo magnético existente tanto no quarto de Glauco quanto no que era ocupado por Marcelo, sabemos que Juvenal e o Chefe foram se apequenando e se acomodando no interior do útero da futura mãe, adormecidos para que pudessem ser preparados para a reencarnação compulsória que se iniciara naquele mesmo dia.

Os demais obsessores de Sílvia e Marcelo haviam sido afastados e encaminhados para os campos de atendimento localizados nas dimensões espirituais, igualmente submetidos a um processo íonoterápico para o reajustamento de seus centros cerebrais, tanto quanto para a dissolução das ligações magnéticas produzidas pela hipnose a que haviam sido submetidos quando de seu "adestramento" pelos que comandavam a respectiva área na Organização.

No tocante aos que acompanhavam o desempenho de Glauco, sob os ataques descontrolados de Marisa e os que compunham a plateia desavisada, a paralisação magnética permitira que pudessem presenciar a acção das entidades superiores no socorro do jovem, identificando a superioridade e o poder do Amor, como a lhes indicar um novo rumo a seguir, abandonando uma vida de devassidão e de crimes.

Com a impossibilidade de locomoção, foram atingidos no seu mais íntimo sentimento, ficando deveras impressionados com a capacidade de acção de tais forças desconhecidas.

Ao mesmo tempo, depois que esse fato se deu, inumeráveis entidades se fizeram visíveis no ambiente, muitas das quais eram parentes, amigos, tutores dos próprios Espíritos que, desde longa data, os buscavam para o encaminhamento decisivo no momento adequado.

Aquela havia se tornado a hora apropriada.
Ali, na arena dos prazeres, cercado pelos contingentes humanos desajustados, um cristão dera testemunho de sua fé, tanto quanto os antigos mártires cantavam nos momentos que antecediam a morte nas arenas romanas do passado.

A oração de Glauco correspondeu a esse cântico de socorro e de fé, entregando-se às forças maiores do Bem e possibilitou a ocorrência do fenómeno magnético que viera a balsamizar não só o seu coração, mas, sim, o de todos os Espíritos levianos que ali se encontravam.

Tocados pelo maravilhoso e pelo sobrenatural, sem poderem arredar pé daquele ambiente, tiveram que se submeter à observação das forças amorosas, actuando sobre os aflitos e frágeis, sem estabelecerem qualquer violência contra os que eram constrangidos, apenas, a observar os valores da Bondade de Deus.

E os mesmos que ridicularizavam os esforços de elevação de Glauco, apupando-o, vaiando-o, desqualificando-o como homem, agora se submetiam ao sublime poder, tanto quanto ao encontro com os entes que não haviam sido esquecidos em seus corações.

Não teriam como fugir de si mesmos.
Por isso, a maioria acabou se entregando ao processo de iluminação, sendo levados para as instituições espirituais nas quais receberiam o tratamento vibratório adequado para a depuração dos fluidos malsãos que haviam inoculado em si mesmos, depois de largo tempo de desequilíbrios e de excessos nas diversas áreas da influenciação negativa junto aos homens e mulheres.

Por isso, tanto a Organização quanto a tarefa espiritual realizada nas dependências asquerosas e repulsivas de dona Mércia estavam vulneradas pela debandada de entidades.

Principalmente, no caso de dona Mércia, os efeitos eram muito graves para a sua própria responsabilidade.
Como muitos consulentes e interessados em suas ofertas se dispunham a obter atendimento preferencial, mediante largas somas em dinheiro, o pagamento feito por Marisa quando da solicitação de certos serviços garantira que um grande contingente de entidades, algumas com bastante experiência obsessiva, fosse destacado para o local do ataque para que lograssem influenciar Glauco na rendição diante da tentação física a que Marisa o submeteria.

Todas estas entidades acabaram impedidas de voltar.
A maioria, como falamos, porque entendera a existência de uma força soberana e mais generosa do que qualquer outra.

A minoria rebelde, entretanto, também se viu obstada em regressar imediatamente, uma vez que, envolvida pelo magnetismo daquele momento, foram inoculadas pelo poder avassalador da Compaixão Celeste, respirando os fluidos balsâmicos e as emanações anestésicas, adormecendo pesadamente no sono terapêutico que os limparia das influências perniciosas da hipnose.

Além do mais, ainda que voltassem à liberdade mais tarde, depois do despertamento, já teriam se passado longas semanas ou meses, durante os quais as suas vítimas já estariam mais recuperadas de sua interferência e, por si mesmas, poderiam dificultar a retomada dos mesmos níveis de actuação obsessiva de antes.

Dona Mércia, entretanto, não suportara uma perda tão drástica.
Acostumada às trocas magnéticas que a afinidade constante no mal lhe propiciava há anos, suas forças se debilitaram de forma assustadora.
Sem o cortejo de entidades interesseiras a lhe abastecer as vibrações, Mércia se vira entregue a um entorpecimento inexplicável.

Nem mesmo o Espírito controlador de suas faculdades conseguira modificar o estado de ânimo da mulher, já por si só desgastada pelas inúmeras aplicações danosas de seus fluidos vitalizadores, oferecidos para as práticas mais inferiores que se possam imaginar.

A queda de seu fluxo energético fez com que a clientela invisível que a sugava deixasse de ser atendida, ainda que sob o protesto dos muitos que se valiam de suas energias para conseguirem os seus objectivos.

Com isso, não tardou para que dona Mércia deixasse de ter condições para atender o público normal dos consulentes encarnados.
No entanto, por mais que fossem avisados das dificuldades de Mércia, a maioria não entendia suas limitações, desferindo-lhe expressões de ingratidão, ameaças e outras tantas palavras de intimidação, sem a menor consideração para seu estado orgânico e mental.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 02, 2014 9:39 am

Suas faculdades mediúnicas, malversadas durante décadas, haviam sido avariadas pelo choque magnético da perda daqueles que a sustentavam, ao mesmo tempo em que, enfraquecida fisicamente há muito que as suas energias não eram repostas no tempo e na quantidade necessárias, fosse pela alimentação material, sempre deficiente, fosse pela falta do descanso indispensável à recuperação orgânica.

Tendo que atender ao cortejo dos importantes consulentes, sempre a pagarem polpudas propinas por seus favores de sensitiva, esqueceu-se Mércia de que a fonte de todas as bênçãos não é o veio dourado dos recursos humanos, mas, sim, o filão invisível do ouro da Bondade, nascido do coração do Criador.

Sem se abastecer do alimento certo, fatalmente não tardaria para que suas energias se tornassem insuficientes para a manutenção do equilíbrio orgânico e, com isso, o desajuste dos centros cerebrais se apresentou, imperativo.

Dona Mércia delirava, dia e noite.
Bastou uma semana após o evento no motel, envolvendo Marisa e Glauco para que as consequências funestas se patenteassem.
Fraqueza profunda se apossara de seu corpo e não importava o que se fizesse, pareciam inúteis todos os esforços em recuperá-la.

Ligada directamente a ela, a entidade que a controlava recebia todos os impactos das medicações que eram administradas à médium, receitadas por médico de confiança.
Ao mesmo tempo, assim que se instalara a fragilidade referida, o perispírito de Mércia passara a ter mais consciência e lucidez, deixando o corpo carnal com maior consciência e encontrando, logo ao seu lado, as entidades inferiores que a ajudavam na execução criminosa dos desejos daqueles que contratavam seus préstimos.

Enquanto seu corpo se entregava à fraqueza, transferido ao hospital em condição de emergência, a constatação de sua participação em imensa rede de desajustes e delitos tornou ainda mais difícil a modificação de seu estado físico.

Compreendendo o tamanho de suas culpas, ao identificar-se mais livre das algemas do corpo carnal, Mércia observou-se rodeada por entidades horrendas, anões deformados, seres monstruosos que babavam líquido viscoso dos orifícios que apresentavam no rosto título de bocas ou de narizes.

Esses encontros faziam-na desesperar-se, buscando retornar ao corpo frágil, em aflitiva manifestação de um desdobramento perturbado.
Agora, afrouxados os laços da matéria orgânica, a consciência da médium invigilante se fizera mais clara e, em decorrência, aumentara o pavor diante do que iria encontrar do lado de lá, transformando em pesadelos os mais rápidos momentos de sono.

Os pesadelos agitados, perturbando-lhe o estado orgânico repercutiam também no tipo de tratamento que recebia.
Vendo suas agonias durante o repouso, os médicos adoptaram uso de medicação neuroléptica com a finalidade de tentar diminuir as conversas com seres invisíveis ou os relatos de ambientes grotescos.

Tal recurso químico repercutia sobre a entidade negativa que a manipulava, produzindo-lhe reacções de igual monta, forçando-a a afastar-se da comparsa, rompendo os laços magnéticos que os mantinham unidos.

Esse processo redundou na cessação das trocas de energia que ainda existiam entre ambos, periclitando ainda mais o já frágil estado de saúde da mulher.

Seu sistema endócrino estava perturbado.
A produção do sangue se encontrava comprometida por anos de descuido magnético, nas alterações hemodinâmicas produzidas pelos excessos de tarefa de exteriorização descontrolada de fluido vital e, sem a compensadora acção de entidades elevadas que sempre estão sustentando os médiuns responsáveis e diligentes, cumpridores de seus deveres e doadores de seus fluidos para as acções do Amor Desinteressado junto aos que sofrem, Mércia achava-se entregue a si mesma.

Os médiuns que não servem ao dever de fraternidade e se deixam arrastar para o nível inferior dos interesses mundanos, no dizer do próprio Jesus, já encontraram aí a sua recompensa.

Que não pleiteiem as recompensas celestes que estarão destinadas, apenas, àqueles que não se deixaram arrastar pelas ambições terrenas, servindo à causa do Cristo por amor, tão somente.

Estávamos assistindo aos últimos dias de dona Mércia no corpo físico, agora que o desajuste atingira o clímax e que não lhe seriam mais favoráveis quaisquer esforços da medicina para controlar os focos de infecção que espocavam, originados das bactérias que lhe povoavam o corpo e que, agora, se multiplicavam de forma anormal e sem controle biológico do seu organismo debilitado.

Ao lado dela, Félix e Alfonso, sempre acompanhados por Magnus observavam os tristes efeitos da malversação dos dons divinos, a impedir que alguma atitude mais directa de protecção lhe pudesse ser ofertada, além das próprias orações.

Não tendo semeado em seu caminho as doces sementes da rectidão e da benéfica tarefa em favor dos aflitos, os protectores de Mércia não podiam impedir a entrada em seu aposento das inumeráveis entidades perversas que se valeram de suas energias para as práticas inferiores.

— Quero meu pagamento... não pense que vai ficar desse jeito... sair de fininho da vida e me deixar no prejuízo... isso é que não...!!! — protestavam muitos dos que se acercavam daquele local.

Sem contar os inúmeros Espíritos infelizes que foram vítimas de sua acção directa como médium, ou prejudicados nos inúmeros procedimentos persecutórios em que actuou, mesmo indirectamente.

Tais Espíritos, atribuindo-lhe todas as culpas, valiam-se de sua fragilidade mórbida para trazerem-lhe todo o cortejo de ameaças e ironias, preparando-lhe a colheita amarga a que Jesus se referiu quando nos disse que "a cada um, segundo suas obras".
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:07 am

Assim, tendo aceitado ser a pedra de escândalo, Mércia abriu caminho fácil às cobranças das inumeráveis entidades infelizes que esperavam, quais lobos vorazes, a sua chegada ao lado da Verdade, para estabelecerem os processos de revide.

E os tormentos de Mércia se intensificavam porque, pretendendo esconder-se dos cobradores no corpo, do corpo era repelida pelos remédios químicos que lhe eram aplicados para que dormisse e contivesse as crises de alucinação.

Quando se via empurrada para fora do organismo pelo efeito das medicações, se defrontava com a cena dantesca dos seus falsos amigos, dos seus antigos empregados e dos inúmeros vingadores prontos para atacá-la.

Entendendo o seu estado e impossibilitados de actuar de forma directa para a diminuição desse panorama de agonias, as entidades amigas, no intuito de melhorar, ao menos, o estado geral do equilíbrio da agonizante, aplicaram-lhe passes magnéticos para amortecerem a lucidez visual no campo do Espírito, visão essa que fora longamente exercitada durante a vida física e que, agora, devassava-lhe com maior clareza o triste cenário que a esperava.

Com isso, Mércia deixaria de se assustar tanto com as presenças nocivas, ao mesmo tempo em que poderia acordar mais serenamente, sem os gritos e expressões alucinadas, diminuindo-se, então, as doses de medicação e garantindo-lhe uma mais suave despedida do corpo físico.

Ao mesmo tempo, tornando-se visível por alguns momentos, Alfonso dirigiu-se aos frequentadores invisíveis daquele quarto hospitalar, e exclamou, compassivo e enérgico:
— O Senhor é generoso para com todos os seus filhos.
Este é o momento do acerto de contas a que todos temos que acorrer, tenhamos ou não um esqueleto revestido de carne.
Todos nós somos filhos de Deus e seremos responsabilizados por nossos actos por força da lei.

Vocês não precisam fazer o mal para que essa irmã sofra as consequências de seus desatinos.
Por isso, convoco-os a que esqueçam o mal recebido e aceitem o convite do Amor.
Se o aceitarem, garante o Divino Mestre acolhida para todos, independentemente dos crimes que tenham cometido um dia.

Lembrem-se:
Se não aceitarem os convites da Bondade, deverão se preparar para prestar contas de seus actos ao Juiz inflexível da própria consciência, como nossa desditosa irmã é obrigada a fazer, nestes instantes dolorosos para seu Espírito.

A palavra rápida e vibrante de Alfonso pegou a muitos de surpresa.

Assustados, a maioria correu do local.
Uma pequena parte permaneceu entre o medo e a revolta, a gritar que não era justo que Deus mandasse protectores para pessoas que se haviam transformado em Demónios na vida deles.

E, por fim, apenas três dentre as mais de cinquenta entidades, entendendo o aceno de Alfonso se dirigiram até ele e, imaginando-o um emissário da Divindade, prostraram-se aos seus pés e disseram-se arrependidas do mal que já haviam feito.

Imediatamente, do campo magnético luminoso que surgia a partir de Alfonso, três Espíritos trabalhadores se apresentaram no recinto, reerguendo as almas abatidas que haviam aceitado o chamamento do Bem e, então, recolhidas com carinho, foram levadas aos processos de refazimento.

Ao menos, por um tempo, o ambiente do quarto de Mércia se fizera esvaziado de entidades maldosas.

— Pelo menos por algumas horas a pobre criatura terá um pouco de sossego para pensar em seus actos e preparar-se para o retomo.
— Sim, Félix... esperamos que os médiuns do mundo possam se preparar melhor para enfrentarem este crucial momento em sua jornada de volta.

Deixando o ambiente, garantiram à moribunda uma porção de forças para que os instantes finais no corpo de carne correspondessem a um curso de amadurecimento para o Espírito que continuaria vivo e defrontado por seus acertos e erros, sem nenhuma desculpa.

Ambos tinham que dar curso aos ajustes finais do processo de resposta do Bem, diante das atitudes levianas e desajustadas dos homens, a aceitarem passivamente o papel de agentes do mal com base em seus desejos de grandeza, de sucesso, de vaidade e orgulho, de ascensão profissional, de cobiça do que não lhe pertence, de escolha de um caminho incompatível com suas necessidades.

Por isso, queridos leitores, se pode parecer difícil seguir as pegadas de Jesus que nos pede muita coragem, determinação, renúncia, desapego e maturidade, ao menos não nos esqueçamos dos ensinamentos de Moisés.

Mais antigos, mais limitados, mais intimidadores do que os do cristianismo, os ensinamentos contidos no decálogo, igualmente esquecidos pela maioria, teriam evitado todos os problemas que encontramos nestas linhas se tivessem sido minimamente observados.

Você se lembra, pelo menos, dos DEZ MANDAMENTOS?

Se não se lembrar dos dez, esforcemo-nos para guardar, pelo menos, alguns deles e isso já nos será muito útil para a nossa melhoria pessoal:
— Não furtareis
— Não prestareis falso testemunho contra o vosso próximo.
— Não desejareis a mulher do vosso próximo.
— Não desejareis a casa do vosso próximo, nem seu servidor, nem sua serva, nem seu boi, nem seu asno, nem nenhuma de todas as coisas que lhe pertencem.

Vocês hão-de convir que, se os integrantes desta história tivessem seguido estes mandamentos, não teríamos chegado até aqui, não é mesmo?
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:07 am

35 - OBSERVANDO A TODOS

Depois dos encontros sexuais mantidos com Letícia e Sílvia, Marcelo retomou a sua rotina, buscando agir de forma que não levantasse suspeitas.

A presença estimulante de Camila, agora, dominava seus pensamentos.
Com essa ideia fixa, foi muito fácil que o Presidente, agora na direcção directa dos trabalhos de interferência, se valesse de sua inclinação para implantar outras entidades obsessoras em seus terminais nervosos, com a finalidade de manterem-no estimulado no desejo de maior envolvimento com a mais bonita das três.

Marcelo e Marisa já não se ocupavam mais da vida a dois.
A cada dia que passava, ele se sentia magnetizado pela colega de trabalho que, de forma delicada, o alimentava com uma dose de carinho que, ainda que não chegasse à plenitude da intimidade, era suficientemente intensa para manter aceso o fogo do desejo e da paixão.

Camila sabia utilizar-se de seus atributos jogando com o imaginário masculino.
Mais e mais Marcelo foi se apaixonando, agora ajudado pela acção hipnotizadora que as entidades perseguidoras exerciam, com um cortejo de imagens mentais projectadas em seu íntimo, sugestionando-o e auxiliando-o a mais devaneios produzir, envolvendo a possibilidade de se unira Camila.

Suas noites eram povoadas de sonhos estimulantes, nos quais a figura de Camila tinha papel preponderante.
As rotinas do escritório se mantinham inalteradas para que não acontecesse que as outras duas mulheres viessem a descobrir seu jogo.
Agora, o desejo não era mais o de arrasar Leandro, retirando-o do lugar privilegiado para assumir a sua posição na estrutura hierárquica.

Já era para se fazer o salvador de Camila, apoiando sua fragilidade na defesa contra o atacante obstinado e perseguidor aguerrido.
Agindo por conta própria, Marcelo demonstraria seu arrojo a fim de que a mulher amada o admirasse e o aceitasse como o seu companheiro corajoso.

Se, para tanto, ele precisasse correr todos os riscos necessários, denunciando Leandro com base nas provas ali documentadas, ele os correria.
Sabia que a reunião dos advogados se aproximava e, assim, mais e mais se preparava para que sua estratégia se tornasse um pleno êxito.

Seu envolvimento com Sílvia fora suficiente para conseguir a sua cooperação.

A paixão de Letícia garantira o seu apoio ao objectivo.
A decisiva participação de Camila lhe daria o respalde indispensável para acabar de uma vez com a figura detestável daquele homem asqueroso que a perseguia no interior do escritório.

Por sua vez, depois que se viu preterida por Glauco, Marisa acabara por se envolver com Luiz, o irmão de Gláucia, nele descobrindo um homem igualmente ousado e aventureiro, já que nutriam as mesmas ideias e desejos semelhantes em nível e intensidade.

Ambos sabiam ser promíscuos a dois, esgotando-se nas práticas sexuais e encantando-se com as novidades que podiam produzir em termos de excitação e desfrute.

Quanto mais se encontravam, mais queriam se encontrar.
A ansiedade era o subproduto dos excessos já cometidos, a solicitar a repetição e a revivescência das mesmas sensações.

Sem qualquer preocupação com a sua condição de esposa de Marcelo, Marisa encontrara em Luiz aquele homem que a recobria de elogios e que a alimentava na vaidade feminina, endeusando-lhe a beleza, a sensualidade, fazendo com que sua carência se visse abastecida.

Além do mais, a experiência sexual do rapaz o transformava em um excelente amante, na combinação perfeita do fogo com a gasolina.
As insatisfações de Marisa em relação a Marcelo acabaram colocadas em um segundo plano, já que suas aventuras ilícitas passavam a dominar a sua vida, ao mesmo tempo em que o marido se via envolvido nos processos de prazer e conquista na sua área de actuação profissional.

Glauco e Gláucia, acompanhados por Olívia, passaram a frequentar o centro espírita com assiduidade, não mais como singelos observadores, mas, sim, com o desejo de mais aprenderem, de participarem das actividades assistenciais lá desenvolvidas, saindo em visitas aos doentes, aos favelados, carregando sacos de alimentos em seus carros, ajudando na doação de roupas, ou seja, dando às suas vidas um direccionamento que correspondia à cooperação espontânea da obra do Bem.

Glauco, agradecido pelo apoio que recebera nos momentos cruciais de seu testemunho moral, entendera que todos somos integrantes de uma rede de fraterna assistência e, da mesma sorte que esteve no limite da queda, muitas pessoas estão no limite do crime por lhes faltar um pedaço de pão, um pouco de arroz e feijão para os filhos, uma roupa quente e uma demonstração de afecto.

Da mesma maneira que fora amparado por seres invisíveis, poderia tornar-se a mão visível de Deus e de Jesus, juntamente com a noiva que o acompanhava sempre, para que as pessoas infelizes não se deixassem levar pelo desespero.

As semanas que se sucederam à tempestade vivida naquele dia fatídico, se tornaram momentos de recuperação e alegria, ao mesmo tempo em que suas forças foram se reequilibrando, afastando os pensamentos negativos ligados à conduta de Marisa que, desde aquele dia, se havia revelado desequilibrada víbora, assumindo suas reais tendências e intenções.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:07 am

Agora, depois que o tempo transcorrera entre reflexões e conversas, palestras e leituras, entendia a acção das entidades obsessoras ao mesmo tempo em que sabia que a moça havia sido o instrumento para testar as suas determinações no Bem.

O entendimento das leis do Universo lhe fizera ver que Marisa, na verdade, não passava de uma doente moral, perdendo a classificação de bandida ou desavergonhada.

Deveria ser evitada, porquanto a enfermidade moral produzia o desajuste que poderia causar outros dissabores.
No entanto ao invés de fustigá-la com pensamentos de ódio, Glauco entendera a necessidade de orar por ela, para que pudessem rearmonizar-se um dia, sem alimentar o ódio ou o desejo de vingança que lhe palpitavam no Espírito feminino ferido.

Não sabiam, nem ele nem Gláucia, que entre Luiz e Marisa havia se estabelecido um intercâmbio afectivo, ainda que nos moldes levianos, onde os dois se exploram mutuamente, sem os compromissos de sentimento verdadeiro.

Justaposição de necessidades era o que acontecia com ambos Luiz se sentia um super-homem ao lado de uma exuberante mulher.
Marisa se sentia uma supermulher, ao lado daquele que a abastecia de estímulos e sensações desejadas pela vaidade do sei, tipo de mulher.

Em face do sucedido na porta do motel, Luiz evitava o encontro com Glauco que, da mesma maneira, não se animava a estar no mesmo ambiente com o futuro cunhado.
Em face de seu relacionamento com Marisa, Luiz se afastara ainda mais do grupo familiar, desculpando-se com o excesso de compromissos e se deixando ficar na sintonia da mulher desejada.

Nada mais de oração em família, de elevação de pensamento.
Seu negócio, agora, era curtir a excelente maré que a vida lhe oferecia.
A presença de Jefferson ao seu lado era constante, agora cooperando também na influenciação sobre Marisa, cada vez mais acessível a todo tipo de obsessão, ambos monitorados pelo Presidente.

Ele alugara um apartamento e estabelecera o ninho para onde o casal se dirigia sempre que o tempo permitisse.
Por não ter nenhuma ligação com o marido, Marisa se deixou transferir, durante as horas do dia, para o ambiente onde vivenciava as experiências da nova relação.

Luiz, não tendo um horário rígido de trabalho, usualmente podia lhe fazer companhia, tendo-se transformado, com o correr das semanas em uma espécie de namorado aventureiro, desgastando-se nas aventuras e divertimentos pelos arredores da nova moradia.

Sílvia, por sua vez, depois da relação sexual na qual se promoveu a ligação de seus dois obsessores, que se materializariam na Terra como seus filhos, sofrera uma modificação brusca em seu estado íntimo.

Depois de deixar o motel, procurou o repouso em sua casa, ao mesmo tempo em que desejou encontrar, no afecto do filho adolescente, o alimento carinhoso para suas necessidades e carências.

Não tinha um marido por perto, nem podia esperar isso dos homens levianos e quase desconhecidos que usava como instrumentos de prazer.
Não tinha amigas ou amigos com quem compartilhar tais sensações, porquanto as amigas eram, sempre, potenciais adversárias a serem vencidas e os amigos, estes acabavam sempre na cama com ela, mais cedo ou mais tarde, o que estragava a amizade.

Somente o filho lhe parecia o mundo seguro a lhe estender carinho sincero e afeição pura, sem o sexo por detrás naquele oceano de mentiras e falsidades que ela construíra ao redor de sua vida.

No entanto, o filho também não estava presente.
Vivendo já nas descobertas de adolescente, encontrava-se na companhia de amigos e jovens perambulando por algum lugar interessante da cidade, iniciando-se nas aventuras da afectividade com estranhos e estranhas, uma vez que não podia contar com a compreensão e o esclarecimento dos próprios pais, dentro de casa.

Sílvia se vira sozinha, com aquele sentimento de vazio que, mais cedo ou mais tarde, acaba chegando para todos os levianos do mundo, quando nada faz sentido, nada é suficientemente verdadeiro e durável, nada foi cultivado com profundidade ou segurança para dar apoio na hora da tormenta.

Pela primeira vez, envolvida pelos novos sentimentos, Sílvia se trancou em seu quarto e chorou amargamente.
Essa sensibilidade passou a ser a marca registrada dos dias que se seguiram.

Ao contacto com a possibilidade da maternidade, seu Espírito recebia do alto as emanações superiores que o conectavam com elevados sentimentos, muito diferentes daqueles comportamentos a que se permitia, desde a entrada na idade adulta.

Sílvia não sabia ainda, mas em seu íntimo a voz da consciência lhe dizia que estava acontecendo algo bem diferente.
E porque não suspeitasse nem considerasse possível a gravidez, chegou a pensar que algo de ruim estava para acontecer.

— Meu Deus, será que eu vou morrer?
Nunca senti essas coisas em minha vida.
Acho que isso deve ser um aviso.
Mas eu sou tão nova... meu Deus, o que será de meu filho?
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:07 am

Tais pensamentos angustiavam-lhe o ser ainda mais.
O corpo estava ainda bem vitalizado — corpo que ela consumia em orgias repetidas.
O filho ainda precisava ser criado — filho que ela nunca atendia como deveria.
Queria encontrar o Amor — mas nunca se interessou em amar o marido.

Tudo isso, agora, parecia ser motivo que a fizesse meditar na brevidade da vida terrena, na exiguidade das chances, na transitoriedade da existência material.

A ideia de morrer lhe causava pavor.
Sua alma, naqueles dias, se deixara envolver pela situação descontrolada do medo, sem suspeitar que a sensibilidade materna estava produzindo os reflexos decorrentes da ligação uterina com os dois Espíritos, seus comparsas na leviandade.

Ambos se achavam interiorizados em seu ventre, semi-hipnotizados, sob a protecção de entidades responsáveis por aquele processo de renascimento compulsório já que, em realidade, jamais teriam sido desejados pela futura mãe e, se não fossem mantidos nessa condição, acabariam facilmente sendo repelidos e destruídos pelo repúdio mental de Sílvia.

No entanto, mais algumas semanas e ela já perceberia a existência de algo biologicamente errado em suas rotinas físicas.
As transformações corporais a induziriam a pensar, efectivam que estava com alguma doença grave, em processo de avance.

E se, até então, mantivera tais ideias apenas no terreno da conjectura mental, facilmente rechaçadas, com a modificação biológica evidente acontecendo ao longo das semanas, a conjectura da morte ou da doença se transformava em suspeita embasada em factos reais.

Amedrontada por todas estas circunstâncias, sua fragilidade aflorou de forma constrangedora.
Em cada momento do dia, Sílvia precisava controlar-se para não chorar na frente dos outros.

Se alguém se acercasse, comentando sobre os problemas da vida, seus olhos se viam marejados, ante a lembrança de que a vida poderia estar se esvaindo pelos vãos dos dedos, sem que pudesse fazer alguma coisa.

O medo de ir ao médico e constatar a enfermidade era tão grande quanto a suspeita de estar doente.

Não sabia a quem recorrer.
Nada que pensasse lhe trazia paz interior.
Se estava em casa, a presença do filho era dolorosa lembrança de que o abandonaria, depois de ter vivido ao seu lado sem ter-lhe dado a mesma atenção e carinho que ofereceu aos processos do escritório e aos homens com quem se deitou, nas trocas do prazer pelo prazer.

Nenhum deles seria, entretanto, o porto seguro para suas angústias.
Não podia falar ao filho sobre seus problemas para que ele não ficasse mais preocupado do que ela mesma.
Ao lado disso, pensava na necessidade de ir se afastando do jovem para que, quando da efectivação da morte, não sofresse tanto.

Mas como se afastar daquele que, em verdade, era a única fonte de satisfação afectiva que possuía?
Se alguém a procurava para pedir algum conselho, se escusava, delicada, para não ficar vulnerável a qualquer sentimento angustiante na frente daquele que lhe pedia ajuda.

Tratou de desmarcar entrevistas com clientes e os processos passaram a se tornar como que espinhos na carne.
Por que todos aqueles conflitos, aquelas contendas, aquelas disputas alucinadas, se a vida era algo tão frágil e fugaz?
Como se permitir iludir por uma vida afogada em papéis e disputas miseráveis quando nada seria perene o suficiente para valer tanto esforço?

A sua conduta não passou desapercebida dos olhares de Marcelo que, sem suspeitar de nada, passadas já algumas semanas do último encontro, procurava observar as suas atitudes para aquilatar sobre a continuidade de seu apoio, no caso dos documentos já mencionados

— Oi, Dra. Sílvia, como vai? — brincou o rapaz, na porta de sua sala.
— Ora, Marcelo, estou muito bem, não dá pra notar?
— Sim, dá pra perceber que você está muito calada nestes dias;
que não está atendendo tanta gente como sempre atendeu, que não está conversável como nos outros dias, que chega mais tarde e sai mais cedo, que parece mais cansada do que o normal...
dá pra notar como você está "muito bem"...

Entendendo as referências do rapaz, Sílvia pediu para que e ele entrasse e fechasse a porta.

Atendendo ao pedido com um sorriso maroto no rosto, Sílvia advertiu-o, adivinhando os seus pensamentos:
— Não precisa ter medo, Marcelo, porque eu não faço aqui o que faço em outros lugares...
— Que pena... Sílvia... — respondeu o rapaz, brincando.
— Escute aqui, seu safado... — disse ela, meio sorrindo... — deixe de pensar em besteira por um minuto e sente-se aí.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:07 am

— Tudo bem, estou escutando...
— Sabe, Marcelo, estou muito preocupada com minha saúde.
— Como assim, Sílvia? — perguntou, demonstrando interesse sincero.
— É que de uns dias para cá, não estou me sentindo bem.
Tenho dificuldade de pensar, passo boa parte das horas deitada, estou inchada e meu estado de ânimo se mantém constantemente abalado.

— Mas você já foi ao médico?
— Claro que não, Marcelo.
E se eu descubro que estou mesmo, com pouco tempo de vida?
— Ora, Sílvia, mas as coisas se complicam desse jeito.

— Essa é minha angústia, Marcelo.
Como é que posso encarar minha vida dessa maneira, meu filho, meu futuro, se um tumor pode estar consumindo minhas forças.
Você não se lembra daquele meu cliente que, há dois meses me procurou para desistir dos seus processos porque havia descoberto um câncer?

— Sim eu me recordo de seu esforço em convencê-lo de que deveria continuar lutando por seus direitos.
— É, eu me recordo disso também.
No entanto, ele foi enterrado semana passada, Marcelo.

— Credo! — disse o rapaz, espantado — tá doida, Sílvia, tão rápido assim?
— É, meu amigo, desse jeito.
E agora eu entendo por que ele pretendia deixar essas brigas idiotas ou mesquinhas que nós temos que transformar em processo, de lado.
Nada faz sentido, Marcelo, se nós olharmos as coisas pela óptica de quem descobre que está com tão pouco tempo para viver.

— Mas ele sabia que tinha uma doença, Sílvia.
— Sim, é verdade.
Mas nós todos estamos com nossos dias contados.
Quem garante que, ao sair daqui, eu não seja atropelada ou um caminhão não passe por cima do meu carro?

Nossa vida é uma tolice, Marcelo.
Agora tenho pensado assim porque, pela primeira vez, estou com medo de morrer.
Meu corpo me está assustando com a transformação que estou sentindo.
E o medo de partir para o desconhecido está me impedindo de ir ao médico.

Entendendo a angústia da amante de ocasião, Marcelo arriscou sugerir:
— Mas por que você não fala com seu marido?
Ele pode ajudá-la.

— Ora, Marcelo, meu marido e eu somos dois estranhos.
Não dormimos juntos há muitos anos.
Apenas mantemos uma aparência de vida, para que nosso filho se sinta vivendo em uma família dita normal.
Ele tem outros interesses, outras mulheres, outros relacionamentos.

E dizendo isso para o homem com quem acabara de ter, algumas semanas antes, a última relação sexual, relembrou de sua conduta e falou, com franqueza:
— E eu... faço... a mesma coisa...
Como poder contar com alguém que nunca fez parte da minha vida?
Só tenho o meu filho e, ainda assim, não posso lhe dizer nada porque, primeiro, não tenho nenhuma certeza e, depois, não quero lhe trazer sofrimentos maiores.

Vendo que ela se via presa na própria armadilha, Marcelo procurou estender-lhe a mão, afinal, Sílvia havia sido a mulher que o abastecera de prazer nos últimos tempos, o mesmo prazer que a própria esposa lhe negava.
De uma forma ou de outra, sentia-se em dívida e pretendia que ela se vinculasse a ele por uma gratidão, através da qual seu apoio na luta contra Leandro se fizesse decidido e indubitável.

— Bem, Sílvia, o que não pode é você ficar desse jeito e não ir em busca de solução médica.
— Mas eu tenho medo, Marcelo... — exclamou aquela mesma mulher tão segura de si nas relações carnais, mas infantilizada e chorosa nos momentos de desafios maiores.

Havia chegado a hora do companheiro de prazer transformar-se no apoio que ela pedia, em silêncio.

— Se você quiser, eu a ajudo.
Eu posso levá-la ao médico e ficarei do seu lado para o que der e vier.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:08 am

Entendendo o oferecimento espontâneo que poderia estar sendo motivado por um sentimento de obrigação em decorrência da intimidade que experimentaram, Sílvia respondeu:
— Marcelo, não se sinta obrigado por causa do que acontece, entre nós.
Não desejo sua comiseração nem a compaixão de um homem com a consciência pesada.
O que fizemos foi curtição para os dois sem maiores responsabilidades.

Falava isso de maneira altiva, até mesmo para ferir os brios do homem e liberá-lo de qualquer obrigação.
Isso porque, naquele momento, suas necessidades afectivas não poderiam ser alimentadas pela piedade, nem pelo sentimento de pena, de compaixão.

Ela necessitava de um carinho sincero, da força de alguém que estivesse consigo não para livrar a própria consciência, mas para demonstrar um sentimento fraterno verdadeiro.

— Ora, Sílvia, em nenhum momento estou pensando nisso.
Estou me oferecendo porque, de uma forma ou de outra, estamos juntos aqui neste escritório há tantos anos e, ainda que nada tivesse acontecido entre a gente, me sentiria muito feliz em poder estender minha mão numa hora de necessidade.

— É sincero o que está falando, Marcelo?
— É o mais sincero que já consegui ao longo de minha vida, Sílvia.

Entendendo que o rapaz estava sendo franco, a moça se ergueu da cadeira e caminhou na sua direcção, a fim de lhe dar um abraço.
Marcelo se ergueu e, então, pôde sentir toda a angústia da mulher que se acercava de seu peito, não mais com o interesse carnal e, sim, na condição de alguém em sofrimento.

Sílvia chorou em desespero, como só o fazia no recluso de seu quarto, todas as noites, sozinha.

— Calma, Sílvia, desse jeito eu também vou acabar chorando aqui...
— Ora, Marcelo, você é o primeiro ser vivo com quem me encontro para poder chorar e desabafar um pouco.
Aguente firme, porque você nem imagina o que isso significa para mim....

— Tudo bem, chore, então, tudo o que você precisa.

Aquele desabafo fizera muito bem à colega de escritório de Marcelo.
Ao final da conversa, estava mais calma e mais segura.
Havia encontrado alguém com quem compartilhar suas angústias e seus medos.

Longe do escritório, as mesmas duas vozes se falavam ao telefone, mais uma vez:
— E então, as coisas continuam como nossos planos previam?
— Sim... cada dia ele está mais em nossas mãos...

— Cuide bem para que ele não perceba nada, porque disso depende nosso sucesso pleno e completo.
— Deixe comigo... ele jamais vai notar de onde veio o caminhão que o atropelou, na hora em que as coisas acontecerem...

Os desajustes humanos, na área da afectividade, queridos leitores têm sido a causa de uma imensa gama de sofrimentos morais e materiais da vida.

Estendendo a amargura de seus efeitos ao longo das diversas existências da alma, permitem que antigos adversários no afecto se reencontrem nas experiências traumáticas de grupos familiares obrigados a viver sob o mesmo tecto para que se reajustem, decorrendo daí inúmeras divergências no seio da parentela próxima.

Traindo e sendo traídas, as pessoas se garantem para o futuro novos reencontros para a renovação dos compromissos desrespeitados, carregando para a estrutura da comunidade familiar, na condição de pais, filhos, filhas e irmãos, os antagonismos e conflitos iniciados nas experiências ancestrais da alma, em corpos diferentes.

Desgastando os centros energéticos nas condutas desregradas e levianas em uma determinada vida física, quando voltam à Terra, para futuras reencarnações, as novas organizações biológicas são modeladas.

Tais almas implementam no arcabouço carnal que estão modelando os mesmos desajustes que lhes imporão desequilíbrios mentais, hormonais, metabólicos, como herança negativa de suas experiências abusivas nas diversas áreas do afecto.

Doenças uterinas ou testiculares, dificuldades de fecundação desajustes emocionais que beiram os desequilíbrios mentais ou comportamentais denotam a marca indelével dos compromissos com práticas afectivas inapropriadas no ontem recente ou longínquo.

Daí ser tão importante a compreensão de tais mecanismos porque, com o conhecimento sobre tal processo, poderemos melhorar nossa conduta e entender o porquê da impropriedade da conduta leviana ou afectivamente irresponsável em nossos compromissos físicos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:08 am

Considerando que encontraremos em nossos caminhos todos aqueles que ajudamos ou exploramos, é bom que, já no presente, nossas atitudes, ainda que não possam espelhar, repentinamente, a elevação da santidade, sejam canalizadas para a estrada recta da seriedade afectiva, a sustentar o edifício das uniões.

Não um discurso moralista e de boas maneiras, a ameaçar com o inferno os devassos renitentes, mas a demonstração de que cada um encontrará em seu caminho o fruto de suas opções, estampado como a marca registrada de suas decisões, no bem tanto quanto no mal.

Não se trata, obviamente, de uma informação que agrade àqueles que estão acostumados a fazer da afectividade um pasto para o exercício de todas as mais baixas atitudes.
Em plena época do prazer desenfreado, as vozes que se levantem para mostrar os efeitos desastrosos dessa falta de freios podem ser consideradas indesejáveis ou inoportunas.

Longe de nós a intenção de conduzir os homens e mulheres de hoje ao silêncio opressor dos claustros antigos, vestidos de roupas rústicas a se ferirem com espinhos e chicotes com o intuito de afastarem de si mesmos a tentação e a falta de pudor.

Apenas desejamos ressaltar que o equilíbrio e a moderação, a responsabilidade do sentimento sincero correspondem a uma estrada mais segura do que a leviandade à qual o ser humano está se entregando, porquanto, como a morte é o veículo que recolherá todas as almas, na hora em que tivermos que nos defrontar com o resultado de nossas atitudes na dor e na vergonha diante do túmulo, não poderemos culpar o mundo com seus mecanismos de devassidão e de facilitação ao vício como o responsável pelos nossos erros.

Não terá sido o mundo, o responsável pela nossa viciação moral por nos garantir a rota da promiscuidade como o exercício do direito à expressão da Verdade absoluta, sem ninguém para alertar que esse caminho não era o melhor.

Não! Isso não poderá ser dito.
Nós estamos aqui, buscando alertar que tal estrada é perigosa, tal alimento é podre, que o prazer desmedido do corpo é fonte de sofrimento desmedido para a alma.

Estamos aqui para dizer, repetindo antigo conceito, que AQUILO QUE PARECE, NÃO É. E AQUILO QUE NAO PARECE, É!
Aquilo que parece um bem desejável pelas sensações que desencadeia, não é um bem desejável, realmente.

Tanto quanto aquilo que corresponda a algo menos estimulante, menos agradável, menos excitante, não é a expressão do sofrimento, mas, sim, o bom investimento que remunera as renúncias de hoje com os vantajosos juros do equilíbrio e da ventura para aqueles que souberam se conter e se direccionar.

Aos nossos interesses imediatos, muitas vezes a estrada mais recta não é a melhor.
No entanto, não nos esqueçamos de que a mais recta é, sempre, a mais curta.

Observe-se, interiormente, nestes instantes de meditação solitária.
Avalie o quanto tem sido sincera a sua demonstração de afecto para com aqueles que o rodeiam.
O quanto seus objectivos imediatos não estão contaminados pelos modismos, pelas imposições sociais, pelos conceitos da sensualidade opressora.

Veja qual o grau de comprometimento de seus pensamentos com assuntos sexuais, e o quanto tal tema escraviza suas palavras e comentários.

Pergunte-se se você é somente isso.
Se seu afecto é exprimido somente pelas secreções de seu corpo, no clímax dos relacionamentos íntimos.
Quantas vezes você tem demonstrado carinho que não seja para atingir o acto sexual com alguém que lhe interesse.

Já sabemos que a Bondade Divina é incompatível com a existência física de um Céu ou de um Inferno, representando, sim, apenas estados de consciência de paz ou de culpa.

No entanto, façamos a experiência hipotética de observar se, com o teor de nossos pensamentos, sentimentos e atitudes, nos qualificaríamos para ingressar no Paraíso.

Se, porventura, por seus defeitos e más inclinações, você reconheceu a impossibilidade de ingressar no Paraíso, será que percebeu que é você mesmo quem está construindo o próprio inferno íntimo?

Lutemos com clareza de propósitos para combatermos aquilo que cria trevas interiores nos erros e angústias que nos arrastam para sentimentos de vergonha e pessimismo, abrindo brechas para os processos de obsessão e influenciação promovidos por Espíritos viciosos.

Passemos a procurar aquilo que nos seja a garantia do equilíbrio e da paz interior, facultando-nos o exercício da sexualidade como um dos instrumentos do carinho verdadeiro, de um para com o outro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:08 am

36 - MARCELO E SUAS MULHERES

Marcelo combinou com Sílvia que iria acompanhá-la à primeira consulta, assim que fosse marcada, o que aconteceria dentro de alguns dias.

Naturalmente, nesse primeiro encontro, o médico procedeu a uma observação clínica, solicitando exames gerais, para, logo mais, em um segundo encontro, apresentar um diagnóstico seguro.

A presença do solícito rapaz ao seu lado produziu em Sílvia a calma e a segurança que lhe estavam faltando já há algum tempo, ainda que as sensações de mal-estar e indisposição continuassem.

Enquanto isso acontecia entre ambos, Letícia continuava a sonhar com a aproximação de Marcelo, com os momentos que puderam desfrutar e as oportunidades de carinho compartilhado.

Em realidade, o rapaz não guardava muita lembrança de tais intimidades, ainda que soubesse que Letícia lhe dedicava especial atenção.
Para ele, a outra advogada era apenas um instrumento adequado, uma oportunidade para conseguir dar o golpe que estava preparando.

Letícia, no entanto, frágil em seu sentimento e sonhadora em sua alma, pretendia manter o liame com o rapaz, imaginando que, se conseguisse se fazer íntima mais vezes, acabaria por conquistar o seu interesse por ela.

Sabia que não poderia forçar a situação e que homens casados como ele, em geral, não gostam de riscos ou de escândalos que possam comprometer a sua estabilidade.

Entre a relação estável, consolidada e uma aventura transitória, por mais emocionante e empolgante que pudesse ter sido, a união antiga teria um peso muito mais decisivo no instante da decisão, a não ser que a nova relação pudesse enraizar-se com base em sentimentos verdadeiros e interessantes, dando ao homem aquilo que a rotina da convivência conjugal já lhe houvesse tirado.

Por isso, sem perder a naturalidade, Letícia procurava acercar-se de Marcelo com o cuidado de quem sabe não poder forçar nada.
Agia para que seu sentimento despertasse em Marcelo uma atenção especial em relação a ela.
Nunca lhe passara pela cabeça que o rapaz já se havia enamorado de Camila, ao mesmo tempo em que era íntimo de Sílvia.

Segundo seus conceitos, o único compromisso que ele mantinha era com a esposa, laço este que, segundo as próprias palavras do rapaz, já estava claudicante.
Assim, sempre que podia permanecer no escritório até mais tarde, Letícia o fazia, na esperança de conseguir que o rapaz tivesse mais tempo para ela, já que, com a falta dos demais colegas de trabalho, sobrava mais espaço para ambos.

Marcelo, por sua vez, ainda muito interessado no apoio que precisava da moça para seus planos, não podia se fazer de rogado e correspondia à sua atenção, até mesmo para que ela não desconfiasse de nada.

Ele, no entanto, sabia que o escritório era o ambiente perigoso para a demonstração de afecto, uma vez que havia muitos olhos e ouvidos espalhados por todos os lados.

Por isso, compreendendo o interesse de Letícia e a possibilidade de contar com a sua adesão, o rapaz se deixara levar pelas sugestivas e subtis insinuações, carinhosamente plantadas em seu caminho através de convites para um lanche, para assistirem a um filme interessante, para conversarem sobre os casos jurídicos ou sobre outros assuntos, tomando um drinque, depois do trabalho.

Como Marcelo não se via no dever de regressar ao lar, já que Marisa também se ausentava e só voltava tarde da noite, passou a ver em Letícia uma forma de completar a sua carência com uma companhia agradável.

Ele percebia, experiente que era nas artes da sedução, que Letícia se esmerava para criar o ambiente agradável.
Sem ser grudenta ou cansativa, sabia sopesar a informalidade com a carinhosa companhia, de forma que a sua condição masculina se via enaltecida e cultivada pelas atenções da jovem.

— Ora, estou sem mulher, Camila está sempre num "chove não molha", Sílvia está doente...
Que mal há em me deixar levar pelos carinhos de Letícia, agradável e interessante, na companhia de quem tenho passado meus melhores momentos nos últimos tempos? — perguntava-se, egoísta e indiferente, o rapaz.

Cada dia que marcava presença no apartamento de Letícia era uma nova esperança brotando no coração da moça.

Do mesmo modo que Marcelo não lhe prometia nada, no campo do compromisso emocional, ao reconhecer-lhe as virtudes de profissional e de mulher estimulava Letícia, que se via com mais vontade de investir tudo o que tinha naquela relação, para produzir a boa sensação no rapaz, como forma de ir solapando-lhe as resistências, aceitando a sua distância afectiva, mas guardando a convicção de que, ao receber seu carinho, mais cedo ou mais tarde o moço haveria de se encantar com seus modos e, quem sabe, passaria a desejar estar mais tempo em sua companhia.

— Água mole em pedra dura... — pensava Letícia.
Nos seus pensamentos, cada vez que Marcelo, ao findar o dia, aceitava dirigir-se ao seu apartamento a fim de ali passar algumas horas em conversas e carícias, Letícia se alimentava com a esperança de que o rapaz estivesse se deixando vencer por suas artes de conquista.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:08 am

Em realidade, como já falamos anteriormente, Marcelo se sentia na companhia de Letícia, como um cavaleiro medieval ao lado da donzela frágil e abandonada, à espera do seu libertador audaz.

O orgulho masculino se saciava ao contacto com a moça que, diferentemente de todas as outras mulheres com quem convivia simultaneamente, era aquela que mais o abastecia de boas referências, de elogiosas palavras e de carinho espontâneo.

Camila, apesar da beleza, era um conta-gotas nas concessões da intimidade, resguardando-se exageradamente, liberando apenas algumas demonstrações de afecto, entre beijos e toques escondidos.

Sílvia era um vulcão em erupção que, em realidade, ultimamente mais repulsa do que atracção lhe estava causando como mulher, não lhe ocorrendo, em nenhuma hipótese, manter-se em relacionamento constante com ela, cuja experiência e ousadia espantavam aqueles que desejavam ser o dominador da companheira nos caminhos do prazer.
Sílvia sempre dominava.

Marisa, por sua vez, esposa leviana e fútil, depois de empurrá-lo para o desvio, não era mais a companheira adequada para um relacionamento harmonioso, mesmo que as razões da harmonia fossem, apenas, aquelas da intimidade sexual.

Restava-lhe, então, como única abastecedora de sua fragilidade, apenas Letícia, a jovem em cuja companhia Marcelo se deixara ficar por mais tempo, desfrutando de suas maneiras e compartilhando agradáveis momentos junto àquela que lhe outorgava a atenção e o carinho que todo homem sonha receber da esposa ou companheira.

Por isso, desde o último encontro com Sílvia no motel, naquela terça-feira, Marcelo se permitira regressar inúmeras vezes ao apartamento de Letícia para dividir com ela as horas de convívio, único momento de verdadeira satisfação ao seu afecto esquecido.

Naturalmente que, já tendo vencido a timidez, desses encontros, a intimidade entre os dois se tornou ainda mais normal, mesmo que a união sexual plena não se consumasse todas as vezes.

Marcelo desejava manter uma aproximação sem compromissos a esse era o ponto principal de suas conversas com Letícia, que escutava com os ouvidos, mas, no íntimo, sonhava com outra coisa.

E quanto mais o rapaz se relacionava com ela, mais ela se apaixonava platonicamente por ele, ainda que repetisse o seu desinteresse pelo estabelecimento de uma relação mais estável e profunda.

Aceitaria a sua companhia sempre que ele quisesse, mas que se sentisse liberado e sem compromissos tanto quanto ela se sentia.
Discurso mentiroso, mas útil para a continuidade daquela situação agradável e conveniente para seus interesses.

Na medida em que as intimidades e carícias se repetiam entre os dois, as sensações femininas e os sonhos longamente arquivados de constituição de família, de estabelecimento de um lar, de divisão de um mesmo ambiente com um companheiro se solidificavam em seu inconsciente.

As ressalvas de Marcelo, perfeitamente entendidas por Letícia tinham tal significado somente para ele.

— Marcelo me deseja e isso demonstra seu interesse por mim... — pensava ela.
Via, então, aquilo tudo como um acto de amor, enquanto que Marcelo, imaginando-se suficientemente claro, via como uma experiência sexual agradável, mas sem maiores desdobramentos.

Ele não contava com as debilidades da jovem companheira de noites, frágil nas estruturas psíquicas e extremamente débil na capacidade de entendimento das circunstâncias que envolviam as questões emocionais ou afectivas.

Letícia se fazia de mulher segura e de personalidade sólida dominando as próprias emoções, procurando demonstrar ao companheiro de aventuras a sua concordância com seus pontos de vista e que, em seu apartamento, ambos estavam apenas brincando de sexo e desfrutando da companhia recíproca.

Foi por esse motivo que o instrutor Félix recomendou a Gabriel que se postasse junto à jovem que, sem possuir entidades obstinadamente perseguidoras, era detentora de uma tal fragilidade emocional que ela própria se incumbiria de ser a própria obsessora com as fraquezas e fugas que caracterizam pessoas com esse perfil ou personalidade.

A debilidade da jovem era o que preocupava e os amigos invisíveis tudo fariam para sustentar-lhe os resgates, as dores íntimas, as decepções que a esperavam, a fim de que não as transformasse em impulso vingador nem em desejo de auto-aniquilamento.

Tais pessoas, nos momentos de frustração, são alvos fáceis pare todo tipo de indução inferior, abrindo campo mental para as intuições negativas, destrutivas, que podem levá-las a atitudes criminosas ou desesperadas.

Assim, a função de Gabriel seria a de impedir que tais Espíritos se acercassem, em função de perceberem a sua presença e imaginarem, com isso, que a moça já estava dominada por uma entidade vingadora.

Ao mesmo tempo, isso garantiria que Letícia não fosse sugada em suas energias, o que a tornaria ainda mais debilitada na resistência, no momento crítico em que precisasse dela.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 7 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jun 03, 2014 9:09 am

Gabriel não poderia intervir em suas escolhas, mas, seguindo as orientações dos mentores que coordenavam sua acção e contando com a autorização de Félix, poderia agir no sentido de impedir a acção nefasta de entidades inferiores, deixando que a moça pudesse exercer seu livre-arbítrio, coisa indispensável ao seu crescimento bem como à demonstração clara do nível de sua maturidade.

Diferentemente do que se passava com Sílvia, constantemente assessorada por entidades malévolas que se justapunham ao seu campo de energias desajustadas no sexo, Letícia não se conduzia sob a influência perniciosa e erotizante de nenhum Espírito.

Era senhora de seus desejos e os manipulava sem a acção directa de nenhum comparsa vampirizador.

A sua atitude reservada e a conformação com a ausência de atributos físicos exuberantes lhe garantiam uma vida mais pacata, sem agitações e provocações emocionais próprias da ebulição dos sentidos, coisa que é muito fácil de ocorrer quando a beleza física, a capacidade de sedução e as ambições de domínio empurram as pessoas para as situações críticas na construção de seu futuro.

Tais cuidados espirituais eram suficientes para garantir que as intimidades existentes entre ela e Marcelo fossem fruto de seus próprios desejos.

Letícia, agora em um corpo sem os requisitos da beleza, resgatava seus erros na colheita dos frutos amargos decorrentes das sementeiras equivocadas efectuadas em recente encarnação passada quando, dotada de um corpo chamativo e de linhas agradáveis aos olhares masculinos, dele se aproveitara para inocular no interesse dos homens o desejo por si própria para manipulá-los, concedendo-lhes esperanças que, logo mais, frustrava com recusas e jogos.

Letícia se permitira, naquela vivência passada, usar da atracção exercida sobre inúmeros rapazes para extrair as agradáveis sensações de domínio e poder, a fim de que, com a decisão sempre em suas mãos, se visse senhora dos desejos masculinos, manipulando os homens que caíam em suas armadilhas sedutoras sem a consideração e o respeito pelo sentimento alheio.

Irresponsável no afecto, contraiu inúmeras dívidas morais nessa área da personalidade, assumindo a responsabilidade por variados distúrbios emocionais e conflitos entre aqueles que a cobiçavam e que aceitavam, como último recurso, baterem-se em duelos para verem quem seria o ganhador da preciosa prenda.

Se por um lado, o duelo horrorizava seu coração feminino, por outro, o facto de estar no meio de uma disputa de homens interessantes enaltecia sua vaidade, mostrando às outras mulheres o quanto era poderosa a atracção que exercia.

Passara a ser odiada pela maioria das moças de sua convivência, inclusive pelo facto de não ter nenhum escrúpulo em provocar os que já estavam comprometidos, tirando de várias jovens os respectivos namorados, os quais, tolos e encantados por seus traços, pensavam trocar as insípidas companheiras pela exuberante jovem.

Com isso, na vida anterior, semeara a dor em muitos corações femininos e masculinos, apenas pelo prazer de mostrar-se capacitada para escolher quem quisesse, na hora que lhe aprouvesse.

As circunstâncias da vida, no entanto, se fizeram cruéis para os seus interesses.
Depois de muito se desfazer dos sentimentos alheios, a jovem acabou vítima de uma conspiração silenciosa que envolveu algumas outras mulheres, iradas com a sua conduta, tanto quanto comparsas masculinos que haviam sido seduzidos e preteridos por ela, que se uniram para vingarem o sentimento ferido, mostrando-lhe que não se deveria brincar com o afecto dos outros como ela fazia..

Assim, sem que deixassem traço do delito, a jovem que renasceu na presente existência sob a personalidade de Letícia, fora afastada da sociedade, sequestrada na calada da noite e colocada em lugar ermo, no qual, amarrada, amordaçada e com os olhos encobertos, era violentada durante a noite por aqueles mesmos que enganara, homens e mulheres, que se divertiam vendo-a reduzida à impotência, humilhando-a de todas as formas.

Amarrada firmemente, tinha que suportar o contacto nocivo e violento dos que dela abusavam e que se mantinham calados para que não fossem identificados pela voz.

Ao mesmo tempo, durante o dia era alimentada por uma pessoa desconhecida que, encapuzada, comparecia ao local do cativeiro encarregada de mantê-la viva e realizar sua higiene corporal para que estivesse preparada para a próxima noite de novas agressões.

Ao longo de uma semana, a jovem estava relegada à condição de um trapo humano.
A intenção não era a de matá-la.
Todos desejavam dar-lhe uma lição para que não mais se valesse de seus atributos para infelicitar a vida dos que tentavam viver uma existência de paz e harmonia, dentro dos afectos que cultivavam.

Assim, depois de ter sido humilhada sem saber quem eram os responsáveis por tal atitude violenta, a jovem foi libertada, seminua, na praça central da comunidade em que habitava, durante uma noite escura, deixando-se ficar no solo, sobre a grama alta, até que algum transeunte se interessasse por seu destino e providenciasse a ajuda para ser conduzida ao leito mais próximo para o atendimento de emergência.

Logo correu a notícia de que a tão exuberante jovem havia sido encontrada despida na praça da cidade, o que lhe valeu por uma lição tão amarga que deixou aquele lugar para sempre, sobretudo por saber que entre os que encontraria nos bailes tão normais daqueles tempos, provavelmente poderiam encontrar-se alguns de seus violentadores, a olhá-la de soslaio, irónicos e satisfeitos em lhe devolver as injúrias da emoção com as injúrias da violência.
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