LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:41

Por isso, deixando que se entretenham com suas pequenas estratégias, Deus os está ajudando a que se cansem de brincar com a pólvora do mal, exactamente por se queimarem com suas explosões imprevisíveis.

Além do mais, a acção do Bem está sempre por cima de tudo, vigiando os efeitos desse processo sobre cada um dos envolvidos e, o logo algum deles demonstre ter modificado seu rumo de pensamentos e sentimentos, estaremos prontos a atendê-los directamente.

E você não pode se esquecer dos trabalhadores devotados que estão a campo para ajudar em todos os ambientes, suportando os toques vibratórios mais intensos para nos trazerem os feridos e cansados da luta que apresentem a rendição incondicional, arrependendo-se das antigas posturas de crueldade e vingança.

Há representantes do Bem em todas as partes e, se de imediato, parecer que o Mal está galopando enquanto o Bem rasteja, é porque as pessoas não imaginam que o cavalo em que o Mal galopa amarrado pelas rédeas que o Bem produziu.

Na hora certa elas serão puxadas e as coisas serão restabelecidas, com o maior número de salvados que for possível conseguir.
Essa estratégia também é usada no meio dos homens quando desejam desbaratar um grande núcleo do crime organizado.

Muitas vezes, se prendem o primeiro corrupto que encontram pela frente, alertam todos os demais, que fogem como ratos prestes a serem capturados, frutando a acção policial.

Por isso, muitas operações dos representantes da Justiça Humana já têm adoptado esse outro modo de proceder.
Vão dando corda aos integrantes da quadrilha que, pensando-se seguros em sua conduta vão demonstrando como é que funciona a sua organização criminosa, quem é que obedece, como é a escala de comando até que se possa entender quem é o seu chefe e quem o está sustentando.

Assim, passam-se meses, anos até, nessa luta paciente de escutar suas comunicações, seguir com discrição os seus passos, observar sua estrutura de funcionamento em pleno acto criminoso, filmar suas acções, documentar seus golpes e, na hora certa, organizar o cerco com uma grande quantidade de força intimidatória e desbaratar o bando inteiro, colocando-o nas prisões e encerrando o esquema do crime.

Ao invés de se ocupar com o pequeno ratinho que roía a corda do navio, a acção inteligente acaba apreendendo o próprio navio, onde estão todos os ratos, incluindo o próprio capitão do barco.

O Bem sabe agir e, esteja certo, Magnus, tudo está sob sua supervisão integral.

Entendendo as afirmativas do instrutor, sempre sereno e oportuno em suas palavras esclarecedoras, saíram ambos do ambiente onde o trabalho de recepção das orações continuava sem interrupção, dando sequência às suas actividades de amparo àquele contingente de almas que recorriam à fonte do Universo para que, de uma forma ou de outra, exercitassem suas ligações com a Bondade do Pai, ainda que, muitas vezes, através da oração, pedissem a vingança divina contra algum de Seus próprios filhos.

Enquanto isso, na superfície da Terra, nossas personagens se preparavam para uma nova semana de actividades do viver, inigualável fonte de experiências e aprendizagem que garantirá a todos eles noções mais exactas sobre as responsabilidades do afecto e os efeitos directos de suas escolhas.

Letícia se esmerava na vestimenta mais provocante, sem chegar ao exibicionismo.
Marcelo se direccionava, agora, para a aproximação de Sílvia.
Sílvia, alimentada pelas vibrações lascivas, estaria diante daquele cuja imagem lhe teria estimulado os prazeres íntimos nos sonhos e sensações do final de semana.

Marisa, atribulada com o planeamento de sua estratégia, a fim de se tornar melhor e mais atraente do que Gláucia, a mesma que lhe havia revelado a autorização que dava ao noivo para que a trocasse cor outra, se essa outra se apresentasse em condições de fazê-lo mais feliz.

No entanto, enquanto Gláucia deixara bem claro que seu interesse era pela felicidade do noivo, Marisa se preocupava em conquistá-lo com vistas à felicidade dela própria, resumindo esse esforço em uma apresentação física mais interessante, mais exuberante, mais chamativa, improvisada sobre a antiga maneira egoísta de se conduzir, como criança que quer tudo para si, sem medir as consequências de seus actos para conquistar.

Camila seguia com seu proceder rotineiro, gostando do joguinho de sedução que começara com Marcelo, no qual se colocava no centro das atenções do rapaz, jogando-lhe as migalhas tão apreciadas pela vaidade masculina, representada por alguns elogios e por uma certa forma frágil de ser, posicionando-se na dependência das atenções do rapaz.

Leandro, Alberto e Ramos se mantinham em suas rotinas normais, ao passo que o Departamento Trevoso, que se edificava na atmosfera fluídica daquele sumptuoso escritório, estava cada vez mais concorrido nos trabalhos de vingança que eram solicitados por Espíritos infelizes e insensatos, afastados da compreensão das verdadeiras leis da vida e que, depois de atendidos, se viam vinculados ao mal que haviam requerido.

Somente Glauco e Gláucia não estavam envolvidos nessa trama sórdida, protegidos pela inocência e pelas formas mais elevadas de entenderem as coisas do Espírito.

Como pode perceber o leitor querido, tudo isto estava acontecendo, envolvendo a ambos, sem que de nada suspeitassem.
Certamente poderão pensar que se trata de uma injustiça e que o Bem deveria protegê-los contra as acções clandestinas do Mal.

E, como vocês poderão perceber, o Bem sempre protege a todos, mas, mais do que isso, procura ensinar a cada um dos que o aceitam, que os Bons devem demonstrar que aprenderam a usar a Bondade como a maior protecção de si mesmos.

Nesse sentido, Glauco e Gláucia estavam indo no bom caminho.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:42

13 - SÍLVIA E OS PLANOS DE MARISA

A nova semana teve início normal para todos os envolvidos no drama da vida, cada um dos quais se deixando levar por seus interesses pessoais na conquista de seus objectivos.

Como já havia sido explicado antes, Marcelo teria que se dedicar, nestes próximos dias, aos ajustes referentes à aproximação de Sílvia, sem que isso pudesse ou viesse a atrapalhar suas promissoras relações com Camila, a bonitona e desejável advogada, nem com Letícia, a feia inteligente e acessível.

Marcelo, dentro de sua experiência masculina, sabia que nenhuma mulher aprecia ser colocada em plano secundário em relação à outra que, por mais próxima que lhe pareça, jamais vai deixar de ter o perfil de uma potencial concorrente, mesmo que na simpatia ou nas atenções amigas de um rapaz.

Por isso, ele procurava sempre se manter discreto em público, para que nenhuma delas pudesse imaginar que seu envolvimento com as outras estivesse acontecendo de forma tão directa como ele pretendia. Afinal, depois de alguns anos de relacionamento formal no andamento dos casos no escritório, isso poderia atrapalhar seus planos por denunciar, por si só, um comportamento suspeito e anormal.

Para evitar tais constrangimentos, Marcelo dedicara-se à chegada matinal no mesmo horário que Camila, ocasião em que as coisas estavam sempre mais calmas e o ambiente mais vazio.

Somente os funcionários mais imprescindíveis ali se encontravam, organizando as coisas para o funcionamento diário.
Nestas ocasiões, Marcelo e Camila se permitiam os diálogos mais íntimos, como se um processo de cortejamento suave e delicado estivesse se estabelecendo entre eles, para alegria do rapaz.

No entanto, assim que as rotinas internas se tornavam mais movimentadas, ambos sabiam que deveriam se recolher aos seus trabalhos pessoais para evitarem maiores comentários ou suspeitas prejudiciais,, já que aos donos do escritório não era conveniente que nenhum de seus funcionários se envolvesse afectivamente porque isso passaria a possibilitar a formação de grupos divergentes da orientação principal, com a formação de aliados e comparsas no local de trabalho, como era o entendimento dos seus líderes, Alberto e Ramos.

Estimulavam a disputa, a inveja recíproca, a competição para manter todos eles dentro de suas baias jurídicas, como animais isolados por suas próprias ambições, reclusos no estreito limite de seus objectivos de sucesso, tendo todos os outros como potenciais adversários, o que os transformava em inimigos cordiais, somente.

Então, as actividades continuavam iguais naquela nova semana de trabalho, com a excepção de que Marcelo precisava arrumar uma maneira de se acercar de Sílvia.
Assim, informando-se com uma das diversas secretárias sobre as actividades daquele dia, descobriu que somente Sílvia tinha uma audiência marcada no fórum central, ocasião em que, aproveitando a chance, oferecer-se-ia para levá-la até o local.

Improvisada estratégia que poderia, pela simplicidade e pela coincidência da actividade profissional, ser encarada como coisa normal, sem levantar qualquer suspeita, ao mesmo tempo em que facilitaria a aproximação entre os dois, nos diálogos que o trajecto possibilitaria.

Marcelo, então, atento à oportunidade favorável, observava de seu ambiente de trabalho a chegada da colega que, por força de seus compromissos familiares, era a que mais tarde dava entrada ao escritório.

Tão logo percebera os movimentos e ruídos em sua sala, deixou o tempo passar e, como quem não quer nada, dirigiu-se ao corredor de distribuição das salas e, desejando colocar-se à disposição das colegas, falou para que todas o ouvissem:
— Hoje irei ao fórum ali pelas catorze horas.
Se alguém precisar de “carona”, estarei disponível...

Dando um tom de brincadeira que tornava simpática a sua oferta aos ouvidos de suas amigas, nenhuma delas demonstrou qualquer interesse em atender-lhe ao oferecimento, o que motivou-lhe a insistência.

— Quer dizer que, justamente quando eu venho com meu carro e que me disponho a gastar gasolina com mulheres tão bonitas, fazendo a inveja de muitos homens por aí, sou descartado por elas?
Vou interpretar tal indiferença como a manifestação do bom gosto de vocês três que, obviamente, não desejam ser vistas ao lado de alguém tão desinteressante como eu, não é?

Atendendo ao comentário auto-depreciativo, Camila e Letícia protestaram dizendo que não tinham nenhum compromisso no fórum e que não poderiam se ausentar porque precisavam atender a clientes justamente naquele horário.

A única que nada respondeu foi Sílvia.

Vendo o seu silêncio, Marcelo dirigiu-se à porta de sua sala e, impecavelmente trajado, com o cabelo penteado à moderna, perfume inebriante, encostou-se no batente, estampando no rosto o semblante de um garoto desprezado pelas outras e disse:
— Todas as suas amigas, Dra. Sílvia, apresentaram uma justificativa para me recusarem a companhia.
Só falta a senhora... — disse com cara pidonha.

Sílvia, olhando para aquele rapaz atraente, com o perfil meio escondido atrás do batente, o perfume másculo começando a chegar até ela, em um relance momentâneo de seu subconsciente, aflorou em sua lembrança a sensação do sonho de final de semana.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:42

Efectivamente, até aquele instante, ela não se recordava de nada, não tendo a mínima noção do que lhe havia sucedido nas horas de orgia em que se vira envolvida não por um, mas por dois Marcelos.

No entanto, naquele exacto instante, a figura do rapaz, seu tom de voz, seus modos meio de menino desconsolado fizeram o suficiente para despertar de seu mais profundo sentir as recordações daqueles momentos excitantes.

Numa fracção de segundos, Sílvia lembrou-se de que havia sonhado com Marcelo durante o final de semana.
Mais do que isso, flashes do envolvimento vinham-lhe à mente com clareza perturbadora, fazendo com que, a partir daquele instante, ela passasse a se interessar por aquele representante do sexo masculino que sempre estivera na sala ao lado da sua e para o qual ela jamais dera nenhum valor.

Para certificar-se de tais sensações e poder alimentar aquele sentimento tão envolvente que a lembrança secreta do sonho erótico lhe produzia, sorriu, misteriosa e, olhando para Marcelo, respondeu:
— O que não faço para salvar um jovem assim, abandonado, das dores da recusa que minhas colegas produziram em seu coração...
— Aleluia — disse o rapaz, eufórico.
Ainda não preciso entrar em repressão como já estava me vendo obrigado, pela indiferença das outras.

— Não, Marcelo, eu o salvarei dessa tragédia emocional.
No entanto, para que eu vá com você, imponho a condição de que pare de me chamar de Doutora ou de senhora, porque se for assim, prefiro ir de metrô a ir em sua companhia.
— Tudo bem, Dra...., quer dizer, Sílvia... — brincou Marcelo.
Às treze horas saímos daqui, está bem?
Sabe como são os congestionamentos...
— Por mim, tudo bem, não irei para casa almoçar, mesmo.

Marcelo deixou passar o último comentário de Sílvia, contendo-se no desejo de oferecer-lhe um almoço ou um lanche, o que poderia complicar suas relações com as duas outras, levantando suspeitas ou ciúmes.

Depois de se despedir de Sílvia, passou pelas salas de suas amigas e, em tom de brincadeira, informou-lhes que já tinha companhia para sair e que, por isso, dispensava-as do convite que havia feito, uma forma brincalhona de mexer com a vaidade feminina, sem perder a oportunidade de parecer garboso.

Todas riram de suas maneiras menos formais e imaginaram que ele deveria ter tido um óptimo final de semana com sua mulher para se encontrar naquele estado de "graça".

Assim que o horário se mostrou favorável, Marcelo bateu à porta a sala de Sílvia que, desde o momento da conversa se esforçava para reviver os detalhes dos sonhos que tivera, nas lembranças erotizantes que mantinha arquivadas em sua mente.

Ao seu lado, o trio de entidades perseguidoras se mantinha a postos, sendo que o Chefe lhe impunha as mãos nos centros cerebrais para facilitar a visualização dos arquivos oníricos, Juvenal manipula certos centros genésicos para produzir um grau de excitação física favorável e o Aleijado observava a acção dos dois, como se estivesse aprendendo as técnicas de interferência na vontade dos encarnados.

Graças a esse tipo de cooperação, Sílvia conseguira reconstituir boa parte das imagens mentais que tinha gravado durante as duas noites, facilmente assimiladas por terem sido produzidas pela companhia das duas entidades negativas, suas velhas conhecidas de aventuras ilícitas nos períodos do sono físico.

Quando Marcelo chegou à porta, Sílvia já tinha sido trabalhada por eles para que, mais do que simples companhia durante um percurso, ela tivesse a disposição e o interesse despertados para o estabelecimento de uma estrada que favorecesse a intimidade entre eles, sobretudo porque, acostumada a aventuras desse tipo, dando preferência aos homens casados, para evitar os desagradáveis apegos emocionais, Marcelo se apresentava com o perfil dos potenciais bem apessoados candidatos.

Desceram para a garagem e, em breve, ganhavam a rua que, naquele dia, estava repleta de veículos, tornando o trânsito lento e maçante, se não fosse a oportunidade da conversação.
Assim que se puseram a caminho, Sílvia começou a conversa, fingindo calma e naturalidade.

— Marcelo, eu não vi nenhuma audiência marcada para você no fórum.
Por que precisa ir para lá, hoje?

Surpreendido pela pergunta inocente, desferida sem segunda intenção, Marcelo precisou improvisar uma desculpa que lhe parecesse convincente, a fim de que não levantasse suspeitas sobre seus planos.

— Sabe o que é, Sílvia, uma pessoa conhecida minha está com problemas jurídicos e não está contente com o advogado que lhe acompanha a causa.
Por isso, ontem, ao telefone, pediu-me que avaliasse o andamento do processo que, por não se tratar de um feito que tramite em segredo de justiça, possibilitará que eu o analise e lhe apresente um parecer isento sobre o modo como está sendo conduzido.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:42

— Ah! Esses clientes traidores que sempre estão tentando dar o golpe em seus colegas pelas costas... — falou Sílvia, avaliando a conduta de Marcelo que, de forma clandestina, estaria julgando o comportamento de outro colega.
E o que é pior, Marcelo, que para isso se valem sempre de um outro colega que, por desejar ganhar o dinheiro, sempre deprecia o trabalho para substituí-lo no posto, ainda que precise continuar fazendo a mesma coisa que o outro fazia.

Observando a argúcia da advogada experiente, Marcelo procurou levar a coisa para o lado do dever familiar que o obrigava a atender, longe de pretender roubar a causa para seu patrocínio.

— É, Sílvia, este mundo está desse jeito mesmo, com as pessoas devorando-se mutuamente, para que sobrevivam.
No entanto, não tinha como me escusar desse pedido porque se trata de um meio-parente, recomendado por meus pais, que recorreu a mim porque era o único advogado mais próximo do caso, em quem acreditaria com isenção.

No entanto, eu já lhe disse que não assumiria o caso em hipótese alguma, o que me permitiria maior liberdade na opinião sobre o mesmo.

Entendendo os escrúpulos de Marcelo e, para fustigá-lo um pouco mais, Sílvia respondeu:
— Claro, Marcelo, seus cuidados são muito éticos e louváveis, mas não nos esqueçamos de que os advogados sempre possuem bons amigos advogados, igualmente muito competentes, e que, com muita alegria, poderão ser indicados para o caso desde que, de bom grado, azeitem dividir os honorários com aquele que lhes conseguiu a causa;
não é assim que fazemos?

— Ora, Sílvia, quanta desconfiança pelo fato inocente de ir ao fórum sem ter audiência.
Você está desejando transformar este percurso em uma audiência de instrução e julgamento?

Sorrindo do humor de Marcelo, Sílvia reconheceu que havia chegado o momento de amenizar as coisas e torná-las mais favoráveis.

— Nada disso, Marcelo, estou treinando a sua capacidade de pensar com rapidez, já que sempre o admirei pelo talento jurídico nas defesas das causas do nosso escritório, mas nunca pude ter o prazer de conversar com você mais intimamente como agora.

— Ora, não seja por isso, vamos conversar então, porque o tempo nos é favorável, enquanto o trânsito, não.
— Eu sempre deixei que as preocupações profissionais me tomassem o tempo de cada dia e, por isso, reconheço que nunca pude prestar maior atenção em você, como pessoa (queria dizer como homem, mas usou uma estratégia menos directa).
Espero que possamos nos aproximar mais vezes, porque a actividade que desempenhamos é muito maçante e desgasta nossas forças, mantendo-nos sem alimento recíproco na convivência diária.

— Isso é verdade, Sílvia, ainda que você consiga isso através do relacionamento familiar que, de uma forma ou de outra, compensa a aridez da vida, não é?

Entendendo que Marcelo fizera tal referência sem segunda intenção, apenas como algum argumento, Sílvia continuou, aproveitando a deixa:
— Ah! Marcelo, isso quando as companhias que temos nos preencham o coração e os ideais, o que não é meu caso.
Meu filho já está entrando na adolescência e meu marido está bem longe de ser o melhor companheiro para minhas necessidades.

Percebendo que o assunto caminhava naturalmente para um processo de revelações espontâneas, Marcelo procurou colocar-se à disposição para qualquer desabafo, sem parecer intrometido.

Então, comentou, genérico:
— É verdade, Sílvia, as pessoas passam, muitas vezes, por verdadeiros desertos no sentimento, ainda que acompanhadas por outros que estejam ao lado delas constantemente.
— É isso mesmo, meu amigo... solidão a dois é pior do que qualquer outro tipo de solidão.

Nessa hora, o rapaz percebera que encontrara a forma mais fácil de se fazer interessante à mulher debilitada que tinha ao seu lado.

Sabia que nenhuma delas recusa o ombro amigo que saiba escutar suas queixas.
Não supunha que, por detrás de algumas verdades que Sílvia lhe dizia, estava a astúcia da fêmea acostumada aos jogos da sedução que, entendendo a psicologia masculina, sabia manipulá-la para dela retirar os frutos que desejasse.

Realmente, o envolvimento de Sílvia com seu esposo, desde os idos tempos das aventuras juvenis, era mais de formalidade oficial do que de afecto verdadeiro.
Cada um usava o outro nos momentos favoráveis, mas, nas horas do dia, dependendo das ofertas disponíveis, ambos se entendiam com os estranhos e estranhas da forma que lhes aprouvesse, sem dramas de consciência nem complexos de culpa, apenas garantindo a integridade moral do ambiente onde viviam, recusando-se a levar eventuais "casos" para o interior da própria casa.

Isso tornava a relação entre ela e seu marido mais uma "aventura suportável" do que uma verdadeira união sincera, mantida entre a mentira e a promiscuidade, em decorrência da existência do filho comum, agora com doze anos de idade, carente tanto da companhia da mãe quanto da do pai.

Não percebiam os dois que o filho precisava muito mais da afectividade verdadeira de ambos, mesmo que separados, do que da formalidade familiar, constituída de maneira mentirosa, a fingir uma estabilidade que era torpedeada por eles, todos os dias, na conduta irreflectida e desrespeitosa mantida fora das paredes domésticas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:42

Jamais lhes passara pela mente que o filho, mais cedo ou mais tarde, se defrontaria com o estilo de ser de ambos os genitores, que amava como os dois seres mais correctos e dignos que conhecera.

E quando essa imagem se desfizesse graças às descobertas cruéis dos relacionamentos espúrios de ambos, o equilíbrio emocional da criança a caminho da idade adulta poderia sofrer sérios abalos, comprometendo seus dias do futuro e gerando adulterações de comportamento baseadas nas frustrações sofridas diante do desabamento de seu mundo moral, com a redução de seus ídolos afectivos à condição de imagens quebradas.

Por isso, as opiniões de Sílvia a respeito de seu relacionamento conjugal, de certa forma, expressavam a verdade de seus sentimentos, restando uma amargurada solidão que ela tentava combater com conquistas e relacionamentos infiéis que, por um pouco, a mantinham satisfeita, ainda que frustrada.

No entanto, a experiente mulher não estava tocando nesse assunto para obter um conselho que lhe resolvesse o problema.
Essa questão, ela já trazia equacionada em sua mente, aceitando, na vida-dupla, como mãe de dia e prostituta nocturna, a forma normal de ser.

Sílvia usava essa estratégia porque sabia que é muito difícil encontrar o homem que não se sentisse atraído por uma mulher que se demonstrasse frágil na afectividade, carente em seus desejos, incompreendida em suas relações.

Esse sinal, sobretudo em uma mulher como ela, aparentemente segura de si, dona de uma vasta experiência profissional, mais velha do que Marcelo, sem, no entanto, ter perdido o frescor da juventude feminil, beirando a faixa dos trinta e quatro anos, era um sinal de alarme a soar no íntimo dos representantes do sexo oposto, indicando-lhes que ali estava alguém favorável, disponível às suas atenções e pronta a responder positivamente às suas carícias, se o homem soubesse agir de maneira paulatina e correta.

Sem perceber esse jogo e, porque ele próprio estava amargando esse tipo de relacionamento já há alguns meses, desde quando Marisa passara a agir de forma diferente em relação a ele mesmo, Marcelo se permitiu levar pela armadilha emocional e, vendo a brecha da intimidade abrir-se ainda mais, exclamou surpreso:
— Puxa, Sílvia, eu jamais imaginei que você, assim tão segura, tão convicta de sua capacidade, aparentando tanta auto-suficiência, no mais profundo de seu ser, também tivesse esse tipo de sentimentos...

Aquele "também" foi a próxima pista que Sílvia constatou nas entrelinhas e a fez agir com agilidade, respondendo, fingindo desinteresse:
— Sim, Marcelo, estou segura de que muita gente passa pela mesma dor moral que eu.
Porém, como eu também, se esconde por detrás destas roupas da moda, dos uniformes sociais, das etiquetas em voga, sempre tentando mostrar uma realidade que não corresponde à verdade de seus sentimentos.

E fico feliz em poder falar isso com você porque os homens, em geral, parecem compreender melhor a nós, mulheres.
Entre nós, somos muito críticas e desconfiadas umas das outras, a ponto de temermos nossas próprias amigas, algumas das quais que, sem qualquer escrúpulo, jogarão seu charme sobre nossos companheiros e aceitarão dormir com nossos maridos assim que viremos às costas, somente para demonstrarem como são mais competentes do que nós nas artes da conquista.

É bom poder falar com alguém que, ainda que não esteja passando por problemas como os meus, ao menos pode escutá-los sem pré-julgamento ou sem desejar roubar meu marido... espero eu, não é, Marcelo?

Entendendo o comentário provocador, o rapaz deu uma risada bem humorada e, para desanuviar o tom da conversa, falou:
— Não se preocupe, Sílvia, de seu marido e de qualquer homem não desejo nenhuma aproximação, a não ser a da hora do pagamento dos meus honorários.
Rindo com as referências do motorista, Sílvia semeou o comentário:
— Também, você deve ter uma linda mulher a esperá-lo todos os dias, se é aquela que eu conheci na nossa festa, anos atrás...?
— Sim, Marisa é uma excelente companheira, cheia de vida e de beleza, ainda que, de vez em quando, tenhamos nossas diferenças como acontece com todo o casal.

Marcelo, nestas alturas, não desejava trilhar o caminho dos homens igualmente carentes, para que não parecesse presa fácil de ser conquistada.
Ao contrário, sabia que, quanto mais ele se demonstrasse satisfeito no relacionamento com Marisa, mais despertaria o desejo de Sílvia em competir com a esposa, mantendo seu interesse na luta e na aproximação com ele próprio.

Lembrando das boas fases, quando o relacionamento íntimo de ambos era bastante criativo, Marcelo acrescentou:
— Poucas vezes encontrei mulher mais interessante e excitante que Marisa.
— Que maravilha... o primeiro marido que conheço que fala bem da esposa longe de sua presença...
Pensei que essa raça estava extinta da Terra — riu, maliciosa, com uma ponta de inveja.

O trânsito mais fácil, agora, possibilitava o avanço rápido até o fórum que, uma vez atingido, impediu a continuidade da conversa.
Marcaram um ponto de encontro para o regresso.

Antes de se despedirem, no entanto, como que para semear Marcelo com uma semente fértil, no sentido de favorecer seu interesse, Sílvia revelou, misteriosa:
— Sabe, Marcelo, isso nunca tinha me acontecido antes, mas enquanto estamos aqui, conversando, me ocorreu que, neste final de semana, sonhei com você...
— Ah é? Não me diga...
Isso deve ser uma maldição para você...
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:43

— Ora, Marcelo, não brinque com isso porque estou falando sério... — reafirmou Sílvia, com certa intimidade.
— Então conte o que foi que você sonhou — intimou o rapaz, cheio de curiosidade.
— Agora, não, seu apressado.
Depois da audiência continuamos a conversa, porque estou atrasada.
— Tudo bem, Sílvia, vou cobrar de você essa revelação, que tem a ver comigo também.

Despediram-se, sorrindo, indo um para cada lado.
Ambos, no entanto, seguiam com os pensamentos cheios de ideias interessantes a respeito do colóquio que haviam tido.

Marcelo, identificando Sílvia como uma mulher em busca de carinho, e ela, repetidas vezes tendo que sacudir a cabeça para retirar de seus pensamentos as imagens tentadoras de um Marcelo que a tomava nos braços e correspondia nos anseios femininos mais íntimos, fruto da lembrança do final de semana.

Além do mais, se Marcelo se referia à esposa como uma mulher apta a lhe produzir excitantes sensações, isso fazia dele um amante experiente também, além de estimular em Sílvia a ideia de superar a mulher nas atenções e euforias masculinas.

Por fim, o sonho não revelado garantiria, para o regresso, um bom pedaço de conversa, não podendo ser descartado como outra forma de aprofundar aquele contacto, tornando-o mais sedutor e interessante para que acabasse despertando em Marcelo os mesmos desejos que ele lhe havia despertado durante as noites anteriores.

Enquanto isso, Marisa procurava, agora, esmerar-se em atitudes que lhe gerassem uma forma de se fazer interessante para Glauco.

Inicialmente, começara uma busca pelos gostos do rapaz.
Como consultor de empresas, ele tinha seu foco de interesses em números, bolsas de valores, estratégias de marketing, balanços, procedimentos administrativos, orientações gerais para empresários e pessoas que desejavam ingressar no ramo.

Lembrando-se disso, ocorreu-lhe a ideia de estabelecer um contacto pessoal com o rapaz, com a desculpa de valer-se de suas informações para ingressar no ramo empresarial ou, pelo menos, ver se isso valeria a pena.

Em realidade, qualquer que fosse a orientação, positiva ou negativa, valeria a pena por permitir que ela e Glauco se encontrassem como uma cliente que procura um amigo para pedir conselhos.

Em sua companhia, depois de lhe expor suas dúvidas, saberia levar as coisas para o lado mais afável e menos comercial, mantendo os canais de comunicação entreabertos por esse rumo.

Mais rápido ainda, conseguiu na agenda do marido o telefone da empresa de Glauco e, telefonando para o escritório, solicitou da secretária uma entrevista de consultoria com o rapaz, apresentando-se com seu nome de solteira para não levantar suspeitas sobre sua identidade.

Além do mais, as relações de Glauco com Marcelo não eram de uma intimidade maior, resumindo-se aos encontros de final de semana e alguns amigos comuns que serviam de ponte entre eles.
Isso os mantinha próximos sem fazer com que se tornassem grandes amigos.

Marcada a entrevista para a consulta empresarial, competia a Marisa, agora, apresentar-se para a mesma com seriedade e respeito, porquanto à sua chegada, Glauco naturalmente a identificaria como a esposa de Marcelo e, por óbvios motivos, a trataria com exageros de respeito e distância.

Por isso, não se aventuraria com trajes exóticos ou com conduta não condigna com essa condição, para não demonstrar interesses diferentes daqueles que expressava.

E se as coisas se apresentassem favoráveis, depois dos primeiros entendimentos, levaria a Glauco as mesmas notícias que apresentara Gláucia, como forma de colocá-lo a par da situação e de solicitar algum tipo de aconselhamento.

A data da entrevista, entretanto, era mais distante do que ela própria desejava.
Só havia espaço em sua agenda para daí a dez dias.

Nesse tempo, Marisa se dedicaria a planejar a estratégia de seus passos e aprofundar-se um pouco na compreensão dos mecanismos de mercado, como alguém que pretende abrir uma pequena loja para venda de bijuterias em um Shopping da cidade.

Alguns termos contábeis, noções de custos, organizações gerais ele precisaria dominar para não parecer justamente aquilo que, de verdade ela era: uma tola com uma boa desculpa para se aproximar do homem alheio.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:43

14 - SÍLVIA, MARCELO E OS ESPÍRITOS

O regresso do fórum marcava a retomada das conversas entre Marcelo e Sílvia, sendo que, experiente como era, a moça não tocou no assunto do sonho, já que desejava deixar no ar a informação par despertar a curiosidade do rapaz.

Marcelo, acostumado às artimanhas femininas, fingiu te esquecido a revelação, como alguém que não lhe dera muita importância, para também avaliar em Sílvia o grau de sua ansiedade em revelar o conteúdo do sonho mencionado.

O assunto girou em torno da audiência de Sílvia, enquanto que Marcelo coube apresentar o resumo fictício do inventado processo, bem como a sua avaliação sobre o desempenho do profissional que o havia proposto ao juízo.

Ambos, no entanto, avaliavam com ansiedade o terreno que estavam pisando, a respeito um do outro.

Já a meio do caminho, Marcelo não se conteve e, tocando de leve o joelho de Sílvia, num gesto de delicada intimidade, perguntou:
— E então, Sílvia, você não vai me contar o sonho?
— Ah! O sonho... — disse ela, aparentando esquecimento.
Se você não me pergunta, eu mesma já não me lembrava disso.

— Sim, as mulheres costumam se esquecer facilmente das coisas pouco importantes.
Além do mais, um sonho comigo há-de ser facilmente esquecido porquanto não deve ter sido lá muito interessante.

Entendendo as referências auto-depreciativas de Marcelo como uma forma de conquistar a sua simpatia para mais facilmente revelar o conteúdo de sua experiência durante o repouso físico, Sílvia manteve o mistério, dizendo:
— Marcelo, eu não posso lhe revelar o sonho de forma clara, porquanto entre nós não existe liberdade nem intimidade para que possamos descrever certas coisas que uma mulher e um homem realizam nas horas mais quentes de seus encontros.

No entanto, posso lhe afirmar que, para surpresa minha também, já que não esperava algo tão interessante e agradável com alguém com quem nunca tive maior aproximação, ter sonhado com você como sonhei foi das melhores coisas que me aconteceram nestes tempos, de forma que, quem sabe um dia, se acabarmos ficando mais próximos, eu lhe revele o conteúdo plenamente.

Entendendo que tais expressões se referiam a um sonho de conteúdo provocante, Marcelo se sentiu envaidecido nas fibras masculinas, respondendo a Sílvia:
— Mas isso não é justo.
Eu entendo seus pudores e concordo com eles, mas nós somos adultos, Sílvia.
Não quer dizer que isso vai nos comprometer um com o outro.
É só um sonho. Vamos lá.
Conte-me para que possa desfrutar desse momento interessante também.

— Você também acha interessante? — perguntou ela, com segundas intenções.
Marcelo entendera a referência e, procurando ser respeitoso sem ser grosseiro a estabelecer um juízo masculino sobre a mulher que tinha ao seu lado, respondeu:
— Claro, Sílvia.
Como não poderia achar interessante um momento de intimidade com alguém tão atraente, mesmo que seja em sonho que esse encontro tenha acontecido?

Sentindo que Marcelo estava mordendo a isca, a mulher se fez envergonhada pelo elogio directo, e disse:
— Sabe, Marcelo, existem coisas que, depois de uma certa idade, a gente não costuma mais escutar dos homens, nem mesmo de nossos próprios maridos.
O que acaba de me dizer tem um valor muito maior do que você pode pensar.

E imaginando que Sílvia estivesse apenas falando de maneira genérica, Marcelo procurou aumentar-lhe a auto-estima, acrescentando:
— Ora, Sílvia, com todo o respeito, se os homens não lhe homenageiam os atributos pessoais, o problema não é com você...
É com eles, que devem estar cegos.

Com tais referências, Marcelo pretendia fazer-se simpático, além de, naturalmente, favorecer-se nas intenções de Sílvia que, escutando-lhe a palavra gentil, certamente consideraria melhor suas disposições em lhe revelar suas experiências oníricas.

— Obrigada, Marcelo, você é muito gentil e, como forma de guardar este momento especial para os sentimentos de mulher que suas palavras produzem em mim, vou fazer de conta que elas correspondem à verdade.
— Mas isso não é um faz de conta, Sílvia.
Você é uma mulher muito atraente mesmo, exuberante, com uma postura que poucas mulheres possuem e que, de uma forma indiscutível, causa um impacto sempre que se apresente em qualquer local.

— Você acha mesmo isso, Marcelo?
Não me engane só para que eu lhe revele meu sonho.
Afinal, você tem uma mulher linda e sua avaliação parte desse ponto de vista, ou seja, do seu gosto apurado em relação a pessoas do sexo oposto.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:43

— Claro, Sílvia, não estou aqui para comprar a sua boa vontade só para me revelar suas experiências nocturnas.
Como homem, acostumado a avaliar a beleza feminina, posso lhe dizer que somente os que não sabem apreciá-la podem deixar de reconhecer a sua atracção e elegância.

— Sabe, Marcelo, no mesmo andar do nosso escritório existe uma outra mulher que também atrai os olhares masculinos e é muito elegante.
Ela é simpática, sorridente, alegre, e se veste com um primor.
Você não a conhece?

— Ora, Sílvia, falando assim, não me lembro de ninguém com esse perfil.
— Ah! É a doutora Úrsula, uma médica aposentada que está beirando os 80 anos e, como você falou, é igualmente atraente e elegante.
— Mas, mulher... você está difícil hoje, não? — falou Marcelo, demonstrando contrariedade bem humorada
— Afinal, Marcelo, com meus trinta e quatro anos, não sou mais nenhuma jovenzinha bem modelada e com o corpinho zero quilómetro.

Chegando ao ponto em que Sílvia desejava, por fim, afirmou Marcelo, decisivo:
— Tudo o que falei a seu respeito, Sílvia, me referi a você como mulher desejável, como aquela que é capaz de atrair olhares masculinos e inspirar pensamentos impublicáveis, coisa que, estou certo, a doutora Úrsula não é mais capaz de fazer.

Agora foi a vez de Sílvia tocar o joelho do motorista com um pequeno aperto de sua mão quente e suada, diante daquele diálogo mais temperado entre ambos.

— Sabe, Marcelo, além de gentil, você sabe conquistar o interesse de uma mulher.
Vamos fazer assim: você tem algum compromisso na tarde da próxima quarta-feira?

Sem entender aonde Sílvia queria chegar, respondeu:
— Não, Sílvia, estou mais livre esta semana.
— Então, como tenho outra audiência neste horário, algo que é mais rápido do que a de hoje, gostaria de convidá-lo para vir comigo ao fórum e, assim, longe do escritório, a gente conversa melhor e poderei lhe contar tudo.
Você aceita meu convite?

Não podendo perder a oportunidade de se aproximar daquela que lhe parecera a mais difícil das três colegas de escritório, Marcelo não titubeou:
— Tudo bem, Sílvia, aceito o convite para a próxima quarta.
— Mas, dessa vez, eu vou com o meu carro e você será meu passageiro.
— Combinado. Uma vez de cada um.

— Ah! Gostaria, se não fosse incómodo, que me desse o número de seu telefone celular para que me comunicasse directamente, caso aconteça algum imprevisto e eu precise desmarcar nosso encontro.
— Sem problemas, Sílvia.
Tenho aqui comigo meu cartão, que possui o telefone no qual você me encontra pessoalmente.

— E sua mulherzinha, não vai achar ruim de eu estar ligando no seu celular? — perguntou Sílvia, meio irónica meio brincando.
— Fique tranquila, Sílvia, Marisa não se incomoda, porque sabe que tenho compromissos profissionais e preciso atender quem me procure.

E aproveitando para retribuir na mesma moeda, Marcelo indagou, ousado:
— E o seu marido, não vai estranhar em ver, por acaso, a sua mulher transportando em seu carro um outro homem?
— Ora, Marcelo, meu marido e nada é a mesma coisa.
Como já lhe falei, não somos quase nada um para o outro.
Ele tem a sua vida e eu tenho a minha.
Dessa forma, nos entendemos bem.
Fique tranquilo quanto a isso.
— Está bem, já não está mais aqui quem perguntou.

O carro acabara de dar entrada no estacionamento subterrâneo onde Marcelo tinha uma vaga.

Antes de saírem do carro, Sílvia lhe disse, alegre:
— Marcelo, não imagina como foi bom ter estado com você nestas horas.
Jamais pensei que sua companhia me fosse tão agradável. Obrigada.

E assim dizendo, aproximou-se do rapaz, na penumbra do subterrâneo e lhe depositou um beijo no rosto, na primeira vez em que ela se permitira tal tipo de cumprimento.

O rapaz, meio sem jeito, meio feliz, abraçou-a, respeitoso, e respondeu:
— Posso dizer a mesma coisa a seu respeito, Sílvia.
Foi muito bom e haverá de ser igualmente muito agradável nosso próximo encontro.
Não se esqueça, no entanto, do sonho que você deve me contar como prometeu.
— Claro, Marcelo, não me esqueço de minhas promessas.
Contar-lhe-ei todos os detalhes.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:43

Saíram do carro e retornaram ao escritório mantendo a mesma postura de antes, para que a intimidade ali nascida não ficasse conhecida de mais ninguém.

Isso já era uma postura quase que instintiva de todos os que trabalhavam naquele lugar.
Fingir amizade na superfície, mas não se permitir qualquer tipo de demonstração de um afecto ou de uma ligação maior entre si.

Nenhum dos dois sabia, mas, dentro do carro, as três entidades perturbadoras, destacadas directamente pelo Presidente da Organização, ali se achavam:
o chefe no comando, Juvenal a lhe assessorar directamente e o repugnante Aleijado a lhes acompanhar no aprendizado negativo.

Em cada lance da conversação, em cada acento de malícia ou de fingida ingenuidade, o Chefe ensinava os dois aprendizes como é que se conseguia manipular o pensamento de cada pessoa, valendo-se de suas tendências pessoais a fim de conseguir enredar cada uma ia armadilha urdida para os fins obscuros.

Enquanto cada personagem falava, fios tenuíssimos de energia pardacenta saíam da mente do Chefe e se conectavam aos centros cerebrais de Sílvia e de Marcelo, através dos quais, suas intuições podiam atingir em cheio os centros do pensamento, ao mesmo tempo em que, com antecipação, lhe permitiam saber qual o teor das ideias de ambos.

Com esse conhecimento prévio das coisas, o Chefe podia melhor manipular os interesses e o rumo das conversações, na direcção que lhe parecesse mais adequada, visando os fins colimados e estabelecidos pela direcção da Organização.

Juvenal já se encontrava mais adestrado do que Gabriel, o Aleijado, buscando cooperar com o Chefe, assim como o subalterno subserviente e bajulador deseja cair nas graças de seu superior.
O Aleijado observava demonstrando interesse em aprender.

Para ele, no entanto, faltavam certos requisitos que só o tempo de observação poderia favorecer.
O Chefe, no entanto, reconhecia que o seu grau de feiura e deformidade seria uma arma muito importante para os momentos de produzir um choque nos encarnados, através do encontro deles, durante o sono, com uma entidade tão aviltada na forma exterior.

Esse medo era capaz de apavorar e desorientar qualquer um mais despreparado e, por isso, Gabriel correspondia a uma eficaz arma a ser disparada no momento correto, com fins específicos, o que fazia com que o Chefe tolerasse a sua quase inutilidade, sabendo que, na hora certa, ele lhe poderia compensar pelos benefícios que propiciaria no desequilíbrio daqueles que lhes cabia atacar.

E quando o carro finalmente estacionou na garagem, todos desceram, incluindo os Espíritos, cada um tomando o rumo que lhes competia.

As entidades, entretanto, assim que se apresentaram nas dependências escuras do complexo Departamento Trevoso que se construía sobre o escritório terreno, foram informadas de que o Chefe deveria comparecer com urgência perante o Presidente da Organização, para prestar contas de como andava o processo de perseguição iniciado já há algum tempo.

Olhando para os dois que lhe seguiam os passos, o Chefe exclamou, um pouco preocupado:
— Bem, pessoal, o maioral quer falar com a gente.
Temos que fazer nossa viagem até o gabinete.
Informem que já recebemos a convocação e que, brevemente, estaremos atendendo, só dependendo de uns detalhes que providenciaremos imediatamente, para que partamos.

O Departamento que lhes servia de base de acções junto a Marcelo, Marisa e outros recebeu-lhe a comunicação e tratou de enviar mensageiro rápido para o Presidente ser informado de que, em breve, sua convocação seria atendida pelo grupo de perseguidores.

Enquanto se ausentasse do ambiente, o Chefe procurou dar algumas ordens para serviçais do próprio Departamento que lhe estavam à disposição, para que não fosse diminuída a carga de pressão sobre os integrantes de sua trama persecutória.

Afinal, o responsável não pretendia que algo saísse errado enquanto estivesse fora.
Além do mais, dois dias depois deveria estar a postos para o novo encontro de Marcelo com Sílvia.

Estabeleceram o reforço da vigilância no lar da referida moça, buscando afastar dali tudo o que lhe embaraçasse o caminho e, ao contrário, estimulando-lhe a excitação feminina com as lembranças detalhadas do sonho de dias atrás.

Junto a Camila, a acção negativa continuava a fazê-la imaginar as vantagens da companhia de Marcelo todas as manhãs, além de lhe dar certeza de que o rapaz se interessava muito por suas concessões na confiança, na conversa sobre os processos de espionagem levados a efeito pelo Dr. Leandro, tanto quanto sua perspicácia feminina sabia aquilatar o quanto Marcelo se encantava com sua beleza física, o que a fizera tornar-se ainda mais cuidadosa com suas roupas e com a maneira através da qual se exibia para o rapaz, fingindo ocultar aquilo que, efectivamente, permitia ser visto pelo olhar embevecido de Marcelo.

Já com Letícia, a jovem ansiosa, os sentimentos que nutria por ele eram o combustível a lhe mobilizar as atitudes, sendo facilmente manipulável pelas intuições espirituais inferiores que se valiam de suas carências e sonhos de mulher para idealizar o relacionamento com o colega de trabalho.

Todos estavam cercados, ao mesmo tempo em que Alberto e Ramos, sempre acompanhados por Leandro e Clotilde, lideravam aquele lugar, que poderia ser o altar do direito, no culto da verdade real, no desenvolvimento dos valores sociais adequados, na recusa ao patrocínio das causas indecentes, dos clientes indignos, mas que se tornara, apenas, uma máquina caça-níqueis, valendo-se das desgraças do mundo para enriquecimento próprio, como as aves de rapina que se projectam sobre suas vítimas para lhes arrancar a carne, antes mesmo que estejam definitivamente mortas
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 26/5/2014, 12:44

15 - OS DETALHES DA ORGANIZAÇÃO

Lá estavam os dois Espíritos, inferiorizados pela ignorância, na mesma antessala, aguardando o diálogo que o Presidente mantinha com o Chefe.

O prédio onde se localizava a sede directiva daquele agrupamento, localizado nas zonas vibratórias mais inferiores e densas que renteiam o ambiente dos homens encarnados, era um conjunto mal organizado de salas e corredores, todos ocupados por entidades de igual inferioridade, algumas responsáveis por organizar ataques aos encarnados, outras como subordinados directos da presidência, para assessorar e planear a acção da Organização.

Desse centro trevoso, como de vários outros que existem, similares, partiam ligações com muitas instituições governamentais e políticas, bem como com seus representantes terrenos, aqueles homens que, deixando o idealismo do Bem de lado, se permitiram entregar às aventuras mesquinhas das negociatas e ganhos pessoais, os quais passavam a ser assessorados por equipes de entidades inferiores, provenientes de variadas organizações, entre as quais esta a que nos referimos.

Além do mais, ela mantinha departamentos espalhados por alguns pontos, lugares de contacto directo com Espíritos infelizes que lhes procuravam o serviço e, graças aos quais, conseguiam arrebanhar mais e mais trabalhadores para a mesma e sempre interminável função de influenciar os homens para o mal, através dos processos obsessivos, de intuição negativa, de acompanhamento, vigilância e de protecção para aqueles que representavam seus interesses materiais na Terra.

Interessante perceber que as diversas dependências de tal edifício, se é que o podemos chamar assim, eram preenchidas por uma decoração estranha, sem os cuidados estéticos normais, não possuindo nenhum atractivo para representar o gosto pelo belo, limitando-se a espalhar móveis e objectos pelos espaços que se mantinham iluminados por fontes de luz parecidas com as tochas abastecidas com betume, usadas pelos habitantes de cavernas.

Nas paredes de alguns aposentos de trabalho, desenhos ou telas ostentando imagens grotescas de tétrico gosto, geralmente envolvendo actos sexuais ou apresentando a nudez como fonte de exploração no que ela pudesse representar de mais pornográfico.

Ao mesmo tempo, perambulando pelos corredores e salas, um cortejo de homens e mulheres disformes e desajustados, aparentando a condição de mendicância, vestindo andrajos, à primeira vista sem noção clara da própria condição de desajuste ou repugnância.

Ao lado dos que trabalhavam ali com funções mais ou menos definidas, tais entidades desocupadas eram ali admitidas como aqueles que servem de corte bajulatória dos poderosos, representando algo carecido com as antigas populações dos palácios terrenos de todos os tempos, quando se procuravam as proximidades do poder para dele poderem usufruir em alguma medida e influenciar as decisões.

Assim, muitas mulheres ali se mantinham transitando de um lado para o outro, usando do corpo que julgavam ainda possuir para atrair a atenção das "autoridades" ou para favorecerem os interessados em algum negócio escuso, como forma de lhes facilitar o acesso às salas mais importantes.

Ofereciam-se porque se orgulhavam de conhecer o caminho para a obtenção dos favores dos maiorais.

Por isso, tais entidades se apresentavam vestidas com diversos estilos de roupagens.
Algumas trajavam-se à moda francesa do tempo dos Luíses, outras, de acordo com as cortes italianas, inglesas, alemãs de tempos idos, ao lado de muitas com roupas modernas, denotando terem sido mulheres que viveram na esfera dos interesses políticos em épocas mais recentes.

Invariavelmente, todas tinham o mesmo padrão de conduta indiscreta, arrojada e promíscua, o que as caracterizava por um tónus de energia típico de seus pensamentos e sentimentos esfogueados. Todas, igualmente, buscavam valer-se da seminudez para conquistar a atenção dos mais importantes, ao mesmo tempo em que se permitiam comportamento íntimo com qualquer estranho que lhes parecesse interessante.

Para a visão dos bons Espíritos, aquele era um circo dos horrores, uma vez que todas eram quase cadáveres que caminhavam para lá e para cá, desejando ser sedutoras e atraentes.

As roupas se tinham transformado em andrajos sujos e repulsivos, e as partes expostas de seus corpos traziam as marcas da decomposição ou já deixavam aparecer a estrutura de ossos, como se aqueles Espíritos ainda possuíssem corpos densos como os dos seres encarnados na Terra.

Para eles, no entanto, cuja visão se cristalizava no clima mental em que ainda viviam, o ambiente de interesses políticos, de influências e poder, todos se viam em perfeito estado e se permitiam as relações físicas como se nada lhes houvesse acontecido, a não ser a transferência de um lado para o outro da vida.

Sabiam que já não mais faziam parte do mundo dos homens, mas tinham tal influência sobre eles que julgavam ainda compor a mesma realidade, como se estivessem do outro lado da mesma moeda material.

Por isso, a conduta desse agrupamento de Espíritos não se limitava aos processos de perseguição ou influenciação dos encarnados.
Estendia-se ao desfrute das mesmas sensações físicas que houveram desenvolvido ao longo de suas vidas vazias e fúteis, quando orbitavam o poder para sugar-lhe as benesses e deixar-se sugar pelos poderosos, sempre interessados em belos corpos e aventuras arrojadas.

As relações íntimas que ali se propiciavam envolviam tanto as hétero quanto as homossexuais, uma vez que para tais entidades as balizas morais não representavam óbices para a conquista de seus objectivos.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:23

Além disso, com base nas mesmas tendências humanas, grupos de Espíritos, que se valiam das fragilidades emocionais dos encarnados, deles se aproximavam para fustigar-lhes as inclinações da sexualidade, buscando enredá-los nas atitudes depravadas, quando a excitação ou a volúpia pelo prazer assumiam o comando das consciências para, logo mais, cederem lugar à culpa pelo comportamento degenerado, o que acabava por produzir as brechas mentais e emocionais de que tais Espíritos necessitavam para assediar, psicologicamente, aqueles que assim se permitissem degenerar, vampirizando-lhes as forças físicas como já o faziam com Sílvia.

Por tais motivos, aquele centro de Espíritos impuros era um núcleo de funções variadas, sempre voltado para explorar as fraquezas dos encarnados sobre os quais se fixavam, seja para conseguirem continuar a manipular as coisas do mundo, para extraírem vantagens através desse consórcio negativo, para perseguirem com sede de vingança, seja para protegerem os seus representantes físicos encarnados, aqueles que lhes serviam directamente para o controle das instituições humanas, por estarem em sintonia com o mal.

As inúmeras dependências, portanto, eram uma tal mistura de pessoas, objectos, sujeira e mau cheiro, que alguns dos próprios Espíritos atrasados que serviam aos interesses da Organização não suportavam permanecer em seu interior por muito tempo.

Era amedrontador, para muitos deles, demorar-se mais do que o necessário no seu interior.
Sabiam, muitos deles, que ali havia armadilhas espalhadas por todos os lados, expondo os mais incautos ou menos maliciosos a riscos desnecessários.

Entidades abrutalhadas e violentas se postavam, como guardas ríspidos e agressivos, com a nítida função de intimidar os mais exaltados e aqueles que desejassem forçar a situação.
A única parte do prédio que se apresentava com uma certa limpeza ou ordem relativa era aquela que se avizinhava do gabinete central, de onde o Presidente comandava a Organização.

A estrutura administrativa era pouco desenvolvida.
O Presidente, que tinha poderes ilimitados sobre tudo e sobre todos, se servia de alguns, que escolhia pessoalmente pelas afinidades no mal e pela simpatia dos gostos e inclinações, para fazê-los Chefes e enviá-los a missões de sua estrita confiança, tanto dentro da estrutura daquele edifício quanto fora da instituição.

Era ele quem escolhia também os dirigentes dos "departamentos", extensão da Organização junto aos encarnados, geralmente localizada nas próprias estruturas vibratórias das construções físicas que mantinham na Terra, como era o caso do escritório de Alberto e Ramos.

Em todos, o Presidente fixava seus escolhidos, mas, como forma de manter o terror e o medo controlando tudo, os Chefes tinham autonomia para agir em todas as situações com carta branca, tornando-se, igualmente, espiões e fiscais da presidência por onde passassem.

Gozando de tais poderes, reconhecidos como íntimos do comandante daquela estrutura, eram cortejados e temidos por todos os que faziam parte daquela Organização, situação esta que muito os agradava e da qual tiravam sempre o melhor proveito, fosse no aproveitamento abusivo das concessões na área do relacionamento íntimo com as diversas entidades, homens ou mulheres, que se lhes atiravam nos braços, oferecidos, fosse na perseguição de outras que se apresentassem no caminho de seus interesses pessoais, usando de sua influência negativa para afastá-las ou puni-las.

Eram os que administravam, em nome do Presidente, a maioria dos diferentes sectores de actuação da organização no mundo dos homens, prestando contas de todas as suas atitudes e dos processos sobre os quais tinham responsabilidade.

Qualquer erro ou falta era punido severamente com a destituição imediata e com punições de natureza física, o que representava uma humilhação para quaisquer dos Chefes que, a partir daí se veriam ridicularizados por todos aqueles que haviam humilhado antes, não deixando de ser, por isso, uma punição redobrada.

Assim, tudo faziam os Chefes para não se permitirem falhas, inclusive exigindo a mesma conduta de seus subordinados imediatos.
Essa máquina funcionava muito bem, graças aos impulsos inferiores dos próprios encarnados que a ela se ajustavam com facilidade e perfeição.

Além deles, os próprios Espíritos, pouco elevados e descuidados da oração e da melhoria dos sentimentos, acabavam atrelados a tal organismo para a obtenção dos favores de que necessitavam com a condição de se entregarem a si próprios como pagamento pelas concessões negativas nos serviços que solicitavam.

Por isso, depois que tinham seus casos aceitos e atendidos, tais Espíritos, que solicitavam os préstimos da Organização, tinham que aceitar trabalhar para ela nos seus mais diversos sectores.

Para preparar tantos novos servos ou quase escravos, dispunha de grupos de entidades inteligentes e conhecedoras dos processos hipnóticos que, submetendo os novos candidatos às suas terapias, ganhavam um controle sobre o pensamento e a vontade de tais Espíritos invigilantes que, daí para a frente, sofriam um tipo de lavagem cerebral com base na culpa, na dívida que contraíram e passavam a aceitar a escravização às determinações da Organização.

Eram informados de que os que não obedecessem sofreriam as punições atribuídas aos maus pagadores, uma vez que ali estavam depois de terem recebido os favores que haviam solicitado, pelo preço que tinham concordado em pagar, livremente.

Eram esclarecidos de que ninguém conseguia fugir da instituição e que, aqueles que o haviam tentado, haviam sido recapturados e submetidos a torturas arrepiantes.
Tudo isto, na verdade, era uma intimidação psicológica através da qual as entidades hipnotizadoras que serviam à Organização mantinham submetidas à sua as vontades tíbias dos que se atrelavam ao mal.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:23

Em realidade, inúmeros Espíritos já haviam conseguido evadir-se da zona de influências negativas em que tal instituição actuava, jamais tendo regressado para seu seio.
No entanto, tais notícias não eram divulgadas entre os seus membros que, para que continuassem na mesma condição de dependência e temor, recebiam a informação de que os fugitivos haviam sido recapturados e estavam isolados, recebendo os castigos que mereciam pela conduta leviana e irresponsável.

Assim, com base na mentira, faziam os serviçais acreditarem que não havia como fugir dali e, ao mesmo tempo, mantinham o império do terrorismo, a intimidar qualquer atitude semelhante.

Ao lado dos hipnotizadores, havia os Espíritos planeadores, cuja inteligência esmerada era a fonte das estratégias de actuação nas diversas áreas de influência daquela Organização.

Depois, havia o grupo das entidades responsáveis pela segurança, composto de criaturas violentas e frias, submissas cegamente às ordens superiores.

A seguir, o grupo das entidades executoras junto às vítimas invigilantes, estabelecendo os processos de perseguição obsessiva, mesmo sobre aqueles contra os quais pessoalmente nada tinham a cobrar.

No entanto, aquilo era como um trabalho a ser feito que se achava sob sua responsabilidade e que, se não fosse cumprido, poderia ocasionar-lhe sanções pessoais desagradáveis.

Como ferramentas importantes nos processos obsessivos, havia um grupo das entidades ovóides que eram ajustadas pelos executores nas áreas físicas ou mentais dos encarnados para lhes produzir alucinações auditivas ou visuais, para drenagem de suas forças vitais, para o sugestionamento de dores ou doenças fictícias que se tornavam reais, ainda que não detectadas nos exames médicos.

Como se pode ver, era uma estrutura complexa que aqui não estará sendo mais detalhada para que o leitor não venha a impressionar-se negativamente, imaginando que se trata de um poder que supere o Poder Divino e que se deva temê-lo como alguma força maléfica indestrutível e irresistível.

Noticiamos para que os encarnados possam estar alertas para esse tipo de agremiação que, em verdade, não diverge muito das que já, há muito tempo, existem no ambiente material humano, nas grandes quadrilhas de criminosos de todos os tipos, organizados para melhor coordenarem as acções ilícitas, obtendo os maiores ganhos possíveis.

Não há muita diferença entre os dois tipos, até mesmo porque os Espíritos que compõem Organizações maléficas são do mesmo padrão daqueles encarnados que se atiram com volúpia sobre as riquezas alheias.

Por serem de idêntico padrão, tais encarnados, quando perdem o corpo físico, muitas vezes se agregam a instituições similares que estão no mundo invisível inferior, dando continuidade ao mesmo tipo de conduta que tinham quando no corpo físico.

Por tudo isso é que Juvenal e Gabriel, o Aleijado, apesar de fazerem parte daquele ambiente, se sentiam tão desconfortáveis quando esperavam na antessala, aguardando o Chefe, sob a vigilância de dois homenzarrões mal-encarados.

Poder-se-ia dizer que traziam os pêlos arrepiados, se pêlos tivessem sobre a pele, só por estarem ali, apesar de pertencerem à mesma Organização.

No interior da sala da presidência, ocorria o seguinte diálogo:
— Como estão as coisas no caso que tenho interesse? — perguntou o Presidente, sério e determinado.
— Ora, meu senhor, estão indo muito bem.
Já conseguimos alterar as disposições de Marisa que, por isso, influenciou Marcelo que, em decorrência, aceitou as nossas sugestões de desbancar Leandro e, para tanto, definiu como melhor estratégia, aproximar-se das três colegas a fim de, com isso, conseguir o que almeja para reconquistar o interesse da esposa.

— Muito bem.
Segundo minhas previsões, então, mais alguns meses e tudo estará solucionado como desejo.
— Sim, Presidente, acredito que em dois meses tudo já esteja no ponto que o senhor espera para o golpe final.
— Óptimo. No entanto, as coisas com Glauco não andam com a mesma velocidade, não é?

Pigarreando pela surpresa inesperada, o Chefe retrucou, procurando parecer seguro de si:
— É que nós nos dedicamos, primeiramente, aos que estavam mais inclinados a nos aceitar as sugestões, meu senhor.
Já estabelecemos um primeiro contacto com Gláucia e Glauco e, em breve, Marisa estará se avistando com ele, ocasião em que pretendemos nos fazer mais directamente presentes em seus pensamentos.

— Ele é muito importante para que nossos planos funcionem perfeitamente, Chefe, e espero que você não me decepcione já que tenho plena confiança em sua competência.
— Obrigado, Presidente.
Esteja certo de que isso não vai acontecer, porque estou cuidando do caso pessoalmente.

— Assim espero também.
— Estarei utilizando alguns recursos de provocação mais poderosos a partir da próxima semana, quando todos os envolvidos já terão se permitido, segundo observo, cair sob o nosso controle mais intenso.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:23

— Os recursos que possuímos estarão sempre à disposição de nossos objectivos e, para usá-los, basta solicitar, como você sabe fazer, e eles não lhe serão negados — disse o Presidente.
— Você sabe do meu pessoal interesse neste caso, e não deixarei de utilizar todas as forças para chegar aonde desejo.

Entendendo a poderosa vontade de seu interlocutor, o Chefe calou-se, abanando afirmativamente a cabeça e, com isso, a entrevista foi dada como encerrada.
Deixando o ambiente, convocou seus dois auxiliares e partiu de regresso aos gabinetes sumptuosos do escritório, não sem antes avistar-se com os responsáveis pelos processos obsessivos mais intensos, aos quais informou que necessitaria receber a cooperação deles no aprofundamento de suas acções de convencimento — como costumavam chamar o processo obsessivo — visando o sucesso naquele caso de interesse pessoal do Presidente.

Acertado os modos mais adequados para que a tarefa continuasse dentro dos planos previstos, eis que, algum tempo depois, os três se encontram junto das nossas personagens novamente, observando-as e procurando certificar-se de que tudo está andando dentro do previsto.

Enquanto isso, Félix e Magnus conversavam, buscando o entendimento das questões que tinham sob a análise.
Na verdade, as duas luminosas entidades dispunham de recursos pessoais para se fazerem presentes no interior de tais Organizações e assistir suas reuniões sem que pudessem ser observados pelos seus integrantes, já que as diferenças vibratórias de ambos em relação aos que nela viviam lhes impunha uma invisibilidade natural, decorrência da falta de capacidade dos outros Espíritos em se sintonizarem com energias mais purificadas de que ambos eram portadores.

— Você está vendo, meu filho, como as almas não se modificam pelo simples facto de terem deixado o envoltório carnal entregue aos vermes da Terra?
— Sim, instrutor.
É triste esta constatação, mas não resta dúvida que isso é a Verdade sob os nossos olhos.

— E por mais que Deus ofereça para todos os seus filhos os tesouros celestes da beleza, da compaixão, da fraternidade, ainda a maioria lhe dispensa as concessões para se aferrarem aos instintos de vingança, de ódio, de cobiça e do crime com os quais complicam a própria vida.

Quanto lhes abreviaria o sofrimento um simples gesto de perdão sincero, esquecendo a ofensa.
Como lhes seria positivo o facto de se deixarem levar pelo convite do Bem, partindo para a transformação pessoal com a mudança dos sentimentos.

Uma simples lágrima que derramassem, nos cansaços do Mal, nos desgastes do crime repetido, na frustração de décadas ou séculos de malograda existência na viciação poderia modificar-lhes o rumo do destino, uma vez que a menor demonstração de arrependimento lhes facultaria a ajuda que Deus lhes estende constantemente, mas que não entendem, não enxergam ou não querem receber.

Magnus escutava, com atenção e interesse e, aproveitando as referências de Félix, acrescentou:
— E o mais interessante é que os encarnados também aceitam esse tipo de influência negativa, quase que sem nenhuma diferença dos que não têm mais o corpo físico.
— Muito bem lembrado, Magnus.
As mesmas afirmativas valem para os encarnados que, sem qualquer cuidado com o pensamento, com as palavras, com os sentimentos e as atitudes, se associam aos Espíritos que lhes observam as inclinações para lhes servirem de instrumentos activos no mesmo plano baixo dos desejos inferiores ou no plano superior dos ideais nobilitantes.

Tudo é uma questão de direcção ou de escolha pessoal, meu filho.
Se Marisa não tivesse aceitado as sugestões inferiores das entidades que se imiscuíram em seu mundo íntimo porque encontraram espaço em sua leviandade e futilidade pessoal, não teria modificado seu comportamento com o marido e nada disso estaria acontecendo agora.

A mesma coisa ocorre em cada lar, quando as pessoas não cuidam dos assuntos, dos comentários negativos.
Cada palavrão desferido por uma boca frouxa, acostumada aos xingamentos como forma de desafogo, é comparável a um caminhão de lixo que verte sua caçamba no interior do ambiente, repercutindo, não apenas nas vibrações escuras que ficam reverberando pela atmosfera do lar, como atingem a cada um dos seus integrantes, na medida de suas sensibilidades, produzindo mal-estar, revolta, depressão, sofrimento, lágrima, raiva, ou desencadeando nova onda de palavras chulas que os outros possam atirar-lhe em forma de revide verbal ou mental.

Não bastando isso, a degeneração fluídica que uma única expressão é capaz de iniciar, pode abrir as portas da estrutura familiar.
Dará o ingresso de um sem número de Espíritos inferiores que, posicionados nos arredores, acompanhando outras pessoas na calçada, ou mesmo perambulando sem rumo na rua, se vêem atraídos por aquele choque magnético que eles identificam como uma assinatura fluídica inferior a atraí-los para o ambiente no qual encontrarão os hábitos e assuntos a que se afeiçoaram.

Desse jeito, a casa vai sendo ocupada por todo tipo de entidades sofridas ou maldosas que, por sua vez, saem em busca de seus amigos e os trazem para a nova moradia, piorando o estado geral da vibração colectiva, produzindo um aprofundamento dos problemas psíquicos de seus membros, empestando os fluidos ali existentes, e assessorando aqueles com os quais mantenham uma afinidade maior, por causa dos hábitos mentais descontrolados ou invigilantes de um único de seus moradores.

Ouvindo tais advertências, Magnus considerou, interessado:
— Mas se só um dos membros pode causar tamanho estrago no ambiente da família, como ficam aqueles que não merecem tal tipo de companhia, mas que vivem ao lado desse indivíduo complicado pelo desequilíbrio emocional e pelo destempero verbal?
— Bem, meu filho, a lei é Justa e Sábia.
Todos aqueles que se mantenham em elevação de pensamentos e sentimentos e que não se permitam ingressar na onda de vibrações inferiores são as salvaguardas do lar, mantendo as balizas luminosas que o defenderão e que, acesas pelo devotamento e pelo equilíbrio dos que zelam por sua estrutura límpida, receberão esses componentes desajustados como um doente a ser medicado pelo hospital da família equilibrada.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:24

No entanto, o que costuma acontecer, em grande parte dos casos, é que a regra da laranja funciona invariavelmente.

Sem entender direito a referência bem humorada, Magnus sorriu e perguntou:
— Regra da Laranja?
Nunca escutei falar dela!
— Ora, meu amigo, claro que já escutou.
É aquela que fala que uma laranja estragada no meio da caixa costuma acelerar o apodrecimento das demais.

Lembrando-se de que já conhecia, Magnus balançou a cabeça e deixou que o instrutor continuasse:
— Assim, graças à regra da laranja, a maioria dos membros da família que se vê na condição de possuir, entre seus integrantes, uma pessoa difícil, intransigente, faladeira, mentirosa, intrigueira, maledicente, xingadora, ao invés de manter a qualidade dos valores e virtudes elevadas, prefere resvalar para o mesmo padrão de insanidade e, assemelhando-se à laranja podre, começa a apodrecer igualmente, tornando mais escancarado o ambiente da casa aos invasores que poluem os pensamentos e sentimentos, instaurando o desajuste geral como lei de convivência.

Por isso é que o mundo espiritual não se cansa de aconselhar a oração em família, semanalmente, como fonte de reequilíbrio e de higienização das vibrações do ambiente, actividade esta que deve ser feita de maneira natural com aqueles que aceitem dela participar.

— Mas o simples fato de orar em família, pode servir tanto ao equilíbrio da casa?
— Você nem faz ideia de como isso é benéfico.
Já que estamos em aprendizado, Magnus, visitaremos um núcleo familiar que, estando alerta para as advertências de Jesus do Orai e Vigia, nos servirá de laboratório para a observação sobre tais benefícios.

Observando o ambiente degenerado daquele prédio onde a Organização se reunia, o instrutor rematou:
— Naturalmente que aqui, qualquer entidade que se apresentasse com a ideia de oração seria imediatamente seviciada, arrastada para algum calabouço escuro ou submetida à nova seção de hipnose por parte das inteligências maldosas que aqui actuam.
Para este tipo de ambiente, a oração não representaria senão uma ameaça a ser banida com o banimento do seu defensor.
Além do mais, estamos diante de um grupo de desequilibrados, que assim se apresentam exactamente porque se afastaram da ligação com Deus há muito tempo.

— Mas no ambiente familiar onde não há um predomínio acentuado do mal, qualquer tipo de vibração elevada é capaz de encontra repercussão positiva nas inteligências invisíveis que lhe guarnecem as inteiras, não podendo nos esquecer de que cada encarnado é seguido de bem perto por um Espírito protector que lhe é necessariamente superior em evolução.

Assim, ainda que a maioria dos familiares não encontre tempo ou não tenha disposição em participar da oração em família, todas estas entidades assim cooperarão para que os seus benefícios possam ser sentidos pelos seus integrantes, indistintamente, da mesma forma que qualquer morador de uma casa se beneficia com o odor agradável de um frasco de perfume que um único de seus membros tenha destampado para odorificar o ambiente colectivo.

Vamos até esse lar porque hoje é dia de oração e eu desejo que você possa observar o lugar antes que tenha chegado o horário que marca o início da reunião para a prece semanal em família.

Deixaram, assim, as dependências trevosas da Organização e partiram em direcção ao referido agrupamento familiar onde iam observar os benefícios da elevação de sentimentos através da prece.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:24

16 - A PREPARAÇÃO PARA O EVANGELHO EM FAMÍLIA

Não tardou muito para que ambos os Espíritos amigos pudessem se ver no lar de Olívia, a mãe de Gláucia, onde mais à noite se realizaria o encontro familiar com a finalidade de realizarem a oração colectiva.

O período da tarde mal acabara de iniciar-se e, no mundo invisível, as actividades espirituais se mostravam intensas.
Aquele pequeno reduto doméstico, simples sem ser paupérrimo e confortável sem ser luxuoso, causaria espanto a algum mais desavisado que, de um momento para o outro viesse a vislumbrar as inumeráveis tarefas que ali eram levadas a cabo.

Trabalhadores de todos os matizes se incumbiam de monitorar a qualidade do ar atmosférico, ionizando todos os cómodos da residência para garantir o grau de pureza necessário a fim de que os processos espirituais tivessem a eficiência mais avultada possível.

Ao mesmo tempo, inúmeros trabalhadores preparavam o ambiente invisível que correspondia ao lar terreno, isolando com faixas luminosas certas áreas destinadas às entidades que seriam trazidas pelos seus mentores ou tutores para que ouvissem a leitura e os comentários do Evangelho da noite.

Outro grupo de Espíritos amigos se valia de seu poder luminoso para isolar, em uma outra faixa da residência, as entidades sofridas que acorriam àquele pouso de equilíbrio com a finalidade de encontrarem um consolo para suas dores, cientificando-se de que não possuíam mais o corpo carnal.

Mais além, aparelhagem espiritual de delicada constituição se mantinha isolada para que os Espíritos, na medida de suas necessidades, pudessem manipular os fluidos necessários para a formação de quadros fluídicos, muitas vezes acompanhando com imagens os textos evangélicos ou os comentários mais inspirados dos participantes, ocasião em que se observava a participação directa das entidades benfeitoras que os assessoravam.

Ao redor da residência, um conjunto de guardas espirituais se mantinha atento, valendo-se de grandes cães que, por seu porte avantajado, impunham um temor a qualquer visitante não convidado que desejasse ingressar no ambiente sem a permissão necessária.

Reservava-se espaço, igualmente, para os Espíritos que acompanhavam os encarnados que participariam do culto do Evangelho, os quais eram recolhidos com muita fraternidade para que ficassem ouvindo, não se permitindo que exercessem a influência costumeira sobre os membros mais desavisados ou invigilantes da família.

Nessas ocasiões, muitos desses Espíritos perturbadores, sabendo que poderiam ser isolados de seus acompanhantes, tudo faziam para impedir que eles comparecessem à reunião, criando embaraços múltiplos, fazendo com que ocorrências físicas atrapalhassem aquela pessoa na chegada oportuna ao lar, induzindo-a a escolher a via de trânsito mais congestionada, ou que pessoas os procurassem de última hora para conversarem sobre inutilidades ou, até mesmo, provocando mal-estar súbito, sono, cansaço, para que o encarnado não se sentisse animado a participar da reunião.

Então, quando nada disso dava resultado por causa da determinação e da responsabilidade do participante que buscavam atrapalhar, ao se aproximarem do ambiente, acompanhando aquela pessoa, alguns desses Espíritos desistiam de entrar porque a diferença vibratória era imensa e, atemorizados pelas forças do Bem, preferiam manter-se afastados, na rua, a se aventurarem nas perseguições lar adentro.

Isso favorecia sobremaneira os encarnados que, depois de suas lutas diárias aumentadas pela pressão psíquica que sofriam, finalmente conseguiam um pouco de paz interior e equilíbrio mental para o reequilíbrio indispensável.

Entretanto, o lar de Olívia não era um ambiente especial, diferente de qualquer lar terreno, ou isento dos problemas normais de qualquer família.
Era uma casa que, em nada, se diferenciava das milhares de moradias que existem, a não ser pelo interesse que demonstravam alguns de seus membros pela elevação de pensamentos e sentimentos através da boa conduta, da palavra compassiva e da oração sincera.

No entanto, no rol dos problemas comuns, encontrávamos os mesmos cenários de outros tantos grupos familiares.
João, seu marido, era um homem pouco sensível para certas coisas, ainda que se apresentasse como um bom pai de família.
Não entendia das coisas espirituais e se mantinha ligado a Deus à sua maneira, sem acreditar piamente nem descrer de forma sistemática.

Quando sua saúde periclitava ou seus problemas materiais se tornavam maiores, recorria às orações como forma de encontrar um amparo naqueles desafios que o fustigavam.
No entanto, quando tudo ia bem, muitas vezes deixava de participar para se dedicar à partida de futebol que se costumava transmitir naqueles dias e horários ou ao noticiário sobre as tragédias e os problemas do dia.

Para isso, dirigia-se ao seu quarto, onde se mantinha fechado, deixando o ambiente da copa disponível para a realização da oração colectiva.
Gláucia, filha mais velha do casal, de longe era a mais íntima colaboradora de sua mãe, com suas orações e ideais, já que desde jovem aprendera os mais belos conceitos espirituais nas palavras pacientes de sua genitora, inclusive nas piores crises que enfrentara, quando encontrara serenidade graças às orientações sábias de seus conselhos maternais.

Luiz era o irmão mais novo, segundo e último filho do casal Olívia e João.
Era um rapaz agitado, na efervescência da vida e cheio de aventuras na cabeça.
Lutava para conseguir o melhor trabalho e estava sempre envolvido em mudanças bruscas no rumo que seguia, tentando novos campos, dedicando-se a muitas coisas simultaneamente.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:25

Sua instabilidade emocional era patente, já que sua pouca maturidade espiritual colaborava para que se mantivesse ansioso e instável, dependendo muito do equilíbrio materno e das conversas que tinha com a irmã, nas horas em que isso se apresentasse possível.

Gláucia procurava aconselhá-lo sobre as questões afectivas, valendo-se de sua posição de mulher mais velha e com maior compreensão espiritual, informando seu irmão a respeito das leis espirituais e suas repercussões na vida a fim de alertá-lo para as armadilhas que a observância cega dos costumes da "maioria mundana das pessoas" costumava produzir no caminho dos que os adoptam como hábitos próprios.

Luiz gostava de escutar a irmã, mas não fazia muita conta em seguir seus conselhos.
Sempre se envolvia com muitas garotas e, cada final de semana se dispunha a testar a sua masculinidade em companhias diferentes, conseguidas nas festas de embalo, nas baladas diversas onde a escuridão, a música ensurdecedora, a bebida alcoólica fácil e, não raro, as drogas diversas, faziam o coquetel do desajuste pessoal e emocional, terminando sempre em uma noite de aventuras nos locais destinados aos encontros íntimos modernos, vulgarmente conhecidos pelo nome de motéis.

Assim, com excepção de Gláucia e Olívia, os dois outros integrantes do ambiente familiar eram homens pouco ligados às gestões do Espírito e às transformações indispensáveis para a manutenção do equilíbrio doméstico.

João e Luiz ficavam fora de casa durante o dia, em trabalho profissional.
Gláucia se mantinha fora no período da tarde, quando exercia a actividade de professora de crianças em uma escola particular, enquanto Olívia se dividia entre os trabalhos domésticos e suas obrigações como costureira, recebendo em casa as tarefas a serem cumpridas, que lhe eram enviadas por uma confecção de grande porte existente nas redondezas.

Além disso, ajudava na casa espírita como voluntária, atendendo os que chegavam, através da entrega de mensagens à entrada do salão de palestras, ao mesmo tempo em que ajudava como doadora de fluidos magnéticos e dialogadora nas reuniões de conversação espiritual com entidades aflitas.

Mantinha-se em constante elevação de pensamentos e suas vibrações suaves eram um poderoso atractivo para Espíritos amigos que desejassem encontrar um ambiente de paz e consolação, sempre presentes ao seu redor.

Dessa forma, no ambiente físico daquela casa de família, naquela hora do dia só Olívia se encontrava.
Depois de terminadas as tarefas com a louça do almoço, sentara-se junto à máquina de costura para dar conta de sua cota diária de serviço.

Félix e Magnus observavam a indescritível actividade espiritual naquele pequeno núcleo familiar na superfície do mundo, contrastando com a calmaria física que dominava seu interior, no plano carnal.

— Eu nunca imaginei que uma casa como esta pudesse comportar uma tal obra de assistência por parte dos Espíritos amigos.
Afinal, isto aqui não é um centro espírita!
— Sim, Magnus, e nem deve ser um centro espírita.
A Casa Espírita deve se localizar em ambiente desabitado, sempre que isso for possível, a fim de que não ocorram interferências de um plano da vida no desempenho das actividades do outro e vice-versa.

Sempre que acontece tal identidade, ou seja, sempre que os encarnados fundam um centro espírita na própria residência, isso pode parecer bom num primeiro momento.
Todavia, por mais que os amigos invisíveis possam envolver a todos em uma atmosfera de elevação, nem sempre as próprias pessoas desejam se manter elevadas.

Além disso, quando as pessoas vão a uma casa espírita, depois da reunião elas se afastam, mas os Espíritos necessitados que lá foram internados por algum motivo sério permanecem para a continuidade de seu tratamento.

No entanto, quando a casa espírita se confunde com o lar físico das pessoas, tais Espíritos não encontram o ambiente de neutralidade indispensável para a sua recuperação, mantendo-se imantados aos médiuns, sensitivos e participantes da reunião, de tal maneira que esse contacto pode acabar se tornando nocivo, inclusive, para a saúde e para o equilíbrio físico-mental dos que ali vivem.

Demonstrando acendrado interesse nas lições, Félix continuou:
Agora, meu amigo, diferente é o caso da reunião familiar destinada à oração singela e sincera.
Há tantas necessidades no mundo e tão carentes estão os Espíritos superiores de mais instituições devotadas ao trabalho de amor pelos aflitos, dos dois lados da vida que, uma vez surgindo alguém interessado no cultivo das boas lições e das santificantes vibrações de consolação, estabelecendo esse trabalho com a responsabilidade que se espera de gente séria, os seus amigos invisíveis não medem esforços para que, durante os rápidos minutos da reunião singela, muitas criaturas encontrem a ajuda que buscam, além, é claro, de promoverem a ajuda imediata aos próprios integrantes da família que se reúne.

Daí estarmos vendo toda esta intensa actividade.
Realmente, esta pequena habitação se parece, sim, com uma instituição espírita, ainda que tenham tido o cuidado de não se permitirem as rotinas de uma Casa Espírita regular, como preceituam os postulados da Doutrina Kardeciana.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:25

Assim, como você vê, tal reunião não se destinará apenas aos quatro membros desta família e ao quinto integrante, na condição de noivo de Gláucia.
Nosso Glauco, atendendo aos convites da amada noiva, sempre que pode comparece ao grupo, na oração semanal que realizam.
Não se trata, igualmente, da transformação do culto do lar em uma reunião pública para a qual toda a vizinhança ou a parentela venha a ser convidada.

Glauco, na verdade, já é quase um integrante da família e, além disso, está intimamente ligado aos destinos e objectivos espirituais que se desenvolvem nesta pequena comunidade.
Assim, nada mais justo do que participar de seus encontros íntimos para que se integre plenamente aos trabalhos do Espírito e ao crescimento nos conceitos importantes da alma.

Além do mais, Glauco é dotado de algumas faculdades mediúnicas que estão sendo desenvolvidas pelos seus amigos invisíveis que, nestas ocasiões, se aproveitam do ambiente, das energias amorosas dos integrantes da família e aplicam-se a melhorar suas percepções, preparando-o para os desafios que o futuro lhe reserva, nas tarefas do Bem com as quais se comprometeu antes do renascimento, a serem desenvolvidas plenamente na Casa Espírita, no momento adequado.

E tão grande se fazem as necessidades dos desencarnados de um modo geral que, de forma eficaz e muito objectiva, os responsáveis espirituais pelo trabalho se esforçam em buscar o maior número de participantes invisíveis para que escutem as orientações das palavras generosas e sábias que o Amor de Jesus propicia a todos nós, levando-as consigo após o término da reunião.

Ouvindo tais revelações, Magnus aventurou a pergunta natural:
— Mas o aumento das entidades necessitadas ao redor da moradia não pode criar maiores perturbações nos que ali vivem?
E se os encarnados ficam sabendo disso, essa descoberta não poderá fazê-los imaginar que a oração vai atrair mais seres sofredores, prejudicando;
energias do interior do seu lar, o que os levaria a recusarem-se a realizá-la?

— O ambiente é perfeitamente preservado pelas medidas salutares que os dirigentes espirituais adoptam para a devida protecção.
Além do mais, Magnus, estamos falando de um lar com pessoas de boa vontade e que estão empenhadas na melhoria moral, como é o caso de Olívia, Gláucia e Glauco.
Agora, quanto ao facto de os seus moradores temerem a invasão de sua casa e, assim, deixarem de realizar o Evangelho semanal, isso só se pode considerar plausível no caso de pessoas pouco preparadas onde a ignorância das leis espirituais e a falta do bom senso produza algum tipo de comportamento anacrónico como esse.

Na verdade, filho, os encarnados são os maiores produtores de perturbação para si próprios. Seja na rua, no trabalho, nas relações sociais e mesmo nas horas de lazer, seus sentimentos desregrados são incontáveis portas de entrada para entidades de todos os padrões de inferioridade e sofrimento.

Bastando-se a si mesmos para produzirem tal tipo de cortejo trevoso à sua volta, a oração em família é a única forma mais acessível de conseguirem amparar a tais necessidades de sossego, ajudando as entidades que trouxeram de suas aventuras irreflectidas.

Como relação a estes outros que são trazidos pelos seus tutores e mentores espirituais, esta presença se acha isolada no ambiente, não sendo causadora nem da piora nem da ocorrência de mais problemas. Os geradores de problemas, invariavelmente, são os encarnados invigilantes.

Estes Espíritos, tão logo seja encerrada a reunião, serão encaminhados para os respectivos ambientes, não restando aqui o menor resquício vibratório que lhes possa atestar a passagem.

Ao contrário, das emoções que se despertaram no íntimo de tais Espíritos infelizes, das preces que aprenderam ou se lembraram de fazer, dos encontros com entes amados que os buscavam há muito tempo, restará no ambiente familiar a sensação de gratidão por todos os que compõem este pequeno grupo, gratidão que se elevará aos planos superiores como atestados de amor incógnito daqueles que se melhoraram nos encontros realizados nesta família.

Isso cairá sobre todos os seus componentes como bênçãos de equilíbrio e de paz.
Nenhum temor, pois, deve revestir o sentimento dos que vivem em uma casa guarnecida pelas boas obras, que se traduzirão sempre em bons fluidos para todos os que dela participam.

Além disso, há a alegria dos mentores superiores, dos trabalhadores do Bem, dos servidores da Verdade que podem, aqui, encontrar serena pousada de refazimento, aprendizado e ajuda, tal qual se pode sentir feliz a alma que, observando a fome de um ente querido, se surpreende ao encontrar um local onde esse mesmo ser amado encontra a comida de que necessite.

A gratidão do faminto haverá de se unir à superlativa gratidão daquele que o amava tanto e que conseguiu vê-lo amparado, graças à ajuda espontânea de um desconhecido que se tenha feito fraternal para com ele.

Pensando melhor no que estava aprendendo com a conversação, Magnus colocou o dedo indicador no queixo, num gesto todo seu, a atestar a surpresa diante do raciocínio revelador e ponderou:
— Estou me lembrando da conversa do Presidente com o Chefe, que acabamos de presenciar.
Recordo-me de que eles disseram que o processo estava atrasado em relação a Glauco e que o Chefe poderia se valer de outros recursos para acelerar as influências.
Observando isso, agora, será que poderíamos estabelecer alguma correspondência directa entre a dificuldade de acesso a Glauco e a sua participação neste trabalho de oração colectiva?

— Muito bem observado, meu filho.
Colocar as informações em funcionamento em nossa mente é aproveitar o estudo para desenvolver a maturidade.
Certamente que não me esqueci do comentário daqueles dois irmãos nossos, infelizes nos engodos que o mal lhes está proporcionando.

E com relação aos efeitos deste acto de devoção que é o Evangelho no Lar, sobre os seus integrantes, deixarei que a sua observação pessoal, logo mais à noite, possa responder a esta questão, sem que eu precise me adiantar nesse sentido.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:25

Dessa forma, as duas entidades ali permaneceram no aguardo do início do estudo do “O Evangelho Segundo o Espiritismo” no lar de Olívia, entrando em contacto com os Espíritos responsáveis pela organização e colocando-se à disposição para cooperarem da maneira como pudessem ser úteis às necessidades daquela hora.

— O presidente nos cobrou maior empenho no caso de Glauco — falou o Chefe, dirigindo-se aos dois comandados.
Prometi que estaríamos agindo com rapidez e, por isso, solicitei a concessão de maiores reforços para o processo de interferência directa sobre ele.
— É, mas você não falou que há "anjos" metidos nesse meio, falou?

— Claro que não, Juvenal.
Acha que sou idiota? — respondeu o Chefe, com um gesto de indignação.
Se falo isso, ele pode pensar que estamos intimidados.
Disse apenas que estávamos actuando, primeiramente, nos que eram mais facilmente influenciáveis, o que não deixa de ser verdade.
E agora, que as coisas estão indo bem com os verdadeiros idiotas, iremos nos dedicar mais ao "casalzinho luminoso".

— E como é que vamos proceder, eu o e aleijadão aqui? — perguntou o grosseiro Juvenal ao Chefe, na frente de Gabriel, o aprendiz bisonho.
— Bem, como estamos treinando o rapaz, não poderemos contar muito com ele, a não ser no espantar os Espíritos dos vivos e dos mortos.
No entanto, as coisas já estão arranjadas e, hoje mesmo, seremos procurados por emissários da Organização que se incumbirão de fazer as ligações indispensáveis para que Glauco e Gláucia não se vejam esquecidos de nossa influência.
Você deve ir se informar de onde ele estará hoje, para que possamos atacar o mais rápido possível.

Dizendo isso, ordenou que Juvenal e Gabriel se dirigissem até o local de trabalho de Glauco para obterem informações sobre a sua rotina nocturna, período em que parecia sempre ser mais fácil a acção das entidades trevosas sobre os encarnados que, desvinculados da preocupação do trabalho diário, se permitiam os excessos dos "happy hours", das aventuras divertidas nas quais os abusos surgiam como válvula de escape para as emoções reprimidas, entre outras.

— A noite é uma fabriquinha de horrores — exprimiu-se Juvenal, irónico, no que foi acompanhado pela risada divertida de Gabriel, demonstrando ansiedade para perguntar como é que funcionava aquele processo de interferência no mundo dos "caveiras vestidas", como costumavam referir-se aos seres encarnados.

— Ora, Aleijado, vai tranquilo que hoje você vai receber uma aula do Chefe, para aprender como é que as coisas acontecem no mundo dos mortos vivos, aqueles que pensam que estão vivos, mas estão mais mortos do que nós, os verdadeiramente vivos.
— Credo, que confusão, Juva, morto com vivo, não entendi nada.

— Ora, como não?
Quem está vivo é quem manda e quem está morto é quem obedece.
Nós colocamos as coisas na mente dos imbecis e eles obedecem, achando que são donos da verdade e das próprias vontades.

Quer coisa mais de morto do que isso?
São uns bonecões sacolejando seus esqueletos por aí, bancando os importantes, os bacanas, escondendo-se atrás de copos e maços de cigarro, drogas e prazeres, dos quais somos nós os que mais gozamos, sugando tudo aquilo que eles nos oferecem.

Se você perceber bem, eles são como vaquinhas que nos dão o leite de cada dia sem que precisemos pagar nada por ele.
Basta achar o cara certo e dizer-lhe o que deseja escutar que, a partir daí, fica fácil que nos sirva até o esgotamento.
Quem é que está morto e quem é que está vivo?

Olhando o amigo que se divertia com os conceitos que manipulava para seu entendimento, Gabriel sorriu meio encantado e falou, desconjuntado:
— É mesmo, Juva, pensando desse jeito, até que a gente é mais esperto do que eles, né?
— Claro, seu bobão... é por isso que nós temos que atacá-los e afastá-los de tudo o que possa abrir seus olhos para a sua condição real, porque cada um que nos abandona, deixa de nos servir como fonte de alimentos.
Assim, temos que prejudicar todas as pessoas que se dedicam a esse negócio de falar com os defuntos, perturbando suas vidas, atrapalhando seus negócios, fazendo tudo para que se desequilibrem e desistam de seguir com essa coisa de esclarecimento, de aprendizado, de reforma íntima.

— É isso mesmo — concordava Gabriel, para agradar o amigo que estava se exaltando.
— Se esse negócio de passeata e manifestação funcionasse por aqui, sairia com uma faixa escrita "MATEMOS OS MÉDIUNS", "FOGO NOS CENTROS ESPÍRITAS", "MORTE AOS FALSOS CORDEIROS", para fazermos um movimento que nos defenda o direito de nos alimentarmos dos vivos que nos querem servir por gosto próprio.

Imagine, Aleijado, o que seria de nós se todas as pessoas parassem de beber, de fumar, de usar drogas, de roubar, de abusar do sexo, onde é que nós ficaríamos, como nos sentiríamos se as nossas vaquinhas abandonassem os nossos currais e fossem embora?

E o nosso leite, nosso queijo, nosso filé mignon, nossos prazeres, onde ficariam?
Esse movimento de esclarecimento das consciências é um verdadeiro atentado aos nossos mais sagrados interesses pessoais e não podemos permitir que isso avance sem fazer algo para parar com essas loucuras.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:25

Se acreditam no Bem e nesse negócio de Jesus, que escolham um outro mundo, desses que estão pendurados por aí, e que se mudem para lá, deixando para nós este, que já nos pertence há muito tempo.
Vão fingir bondade em outro lugar!

Enquanto conversavam, chegaram ao local onde Glauco se encontrava e, para sua surpresa, foram recebidos por um Espírito amigo que o protegia.

— Boa tarde, meus irmãos, o que desejam com Glauco?
— Boa tarde coisa nenhuma, fantasminha camarada — falou, insolente, Juvenal, que assumira a liderança diante da inexperiência de Gabriel.
Estamos aqui para saber de Glauco e o que ele vai fazer da vida hoje à noite, porque temos um encontro marcado.

Sem demonstrar irritação nem intimidar-se com a postura arrogante, a entidade amiga não se fez de rogada e informou:
— Glauco estará, como sempre, na casa da noiva, onde desfrutará da companhia da família.
— A família dos bordoada?
Que bom! O Chefe vai gostar de saber.
Muito obrigado pela informação, alminha penada... — falou Juvenal, arrastando Gabriel junto de si, em retirada do local.

— Que negócio é esse de família bordoada, Juva?
— Ah! É a família que está sempre levando bordoada e quase nunca se equilibra no arame.
A "veinha e a moçoila" são as únicas que aguentam o tranco.
Mas os dois marmanjos são os maiores idiotas que já conheci.
De vez em quando nos encontramos com eles nas nossas festas de embalo e curtimos algumas emoções enquanto estão dormindo.
Vai ser bom encontrar esse povinho para a operação de hoje.

Não entendendo muita coisa, Gabriel perguntou:
— Quem era aquele que você chamou de fantasminha e que negócio de operação é esse que vai acontecer hoje?
— Ora, aleijão, aquele era o espantalho de plantão.
Os anjos têm dessas coisas.
Ficam protegendo seus escolhidos e como uns espantalhos ficam plantados ao lado deles para que, onde estiverem, não possam ser atacados directamente por nós.

— Mas o carinha parecia inofensivo!
Nem ficou assustado com a minha feiura...
— É que eles são muito bem treinados para essa tarefa, como acontece lá na Organização.
Agora, quanto à operação, é aquela que nós vamos fazer hoje à noite, junto ao bobão apaixonado, o mesmo cara que quase conseguimos afundar alguns anos atrás e que só se salvou por causa da lambisgóia de sua noiva e da presença desses espantalhos por perto.
Dessa vez, no entanto, não vai haver espantalho que resista a nosso ataque.
Vamos informar o Chefe de como as coisas estão favoráveis para nós.

Informado a respeito, o Chefe exultou e, mais do que depressa, tomou as providências para que, no local onde moravam Gláucia e sua família, as entidades hipnotizadoras se apresentassem para o trabalho mais directo sobre ele e, se possível, sobre a noiva.

Dentro dos planos espirituais inferiores, pretendiam implantar os corpos ovóides na estrutura mental de Glauco, valendo-se de algum momento de invigilância de seus pensamentos.
Como já estavam acostumados a fazer, esperavam que o encarnado se permitisse alguma irritação, diminuindo o padrão de suas ideias, ou então, exploravam as naturais tendências maléficas que as ressoas se permitiam activar, quando seus desejos lhes aconselhavam atitudes pouco elevadas.

Entre as técnicas que esses Espíritos perturbadores usavam e usam, normalmente, está a de intuir alguém da família a sintonizar algum programa de televisão que apresente um tema polémico ou ultrajante que sirva mais facilmente para diminuir o equilíbrio emocional ou que se torne o estopim para uma discussão colectiva e, tão logo ela se instale, magnetizem essas entidades ovóides perturbadoras do equilíbrio junto aos encarnados que se deixaram desequilibrar, imantando-as aos centros energéticos e aos condutos nervosos da medula, com a finalidade de interferirem lenta, mas eficazmente, no equilíbrio das suas vítimas.

A televisão, assim, comparecia nesse momento como um grande aliado para a instauração do clima de terrorismo, de medo ou de desajuste por ser a porta de entrada dos pensamentos distorcidos, favorecendo a invigilância dos encarnados passivos diante das mensagens que veicula, abrindo espaço mental para que tais Espíritos trevosos possam realizar suas proezas obsessivas.

Ressaltamos, aqui, que os programas televisivos têm a mesma função em relação à melhoria dos que os assistem. Servem também de canal para os bons Espíritos ajudarem os encarnados, através da boa mensagem, da beleza do ensinamento, do conselho favorável, quando tais matérias estejam disponíveis nos programas de vídeo que, por ela, sejam veiculados.

Com as ideias positivas que tal programação também possibilita, pode surgir como antídoto dos processos de abatimento, de desesperação, porque apresenta aos telespectadores um alimento que pode lhes estimular as virtudes íntimas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:26

Todavia, quando se permite enveredar pela semeadura de lixo moral, emocional e cultural, o mesmo veículo se transforma em gerador de distúrbios mentais na maioria das pessoas invigilantes que, ou se revoltam ou se desesperam com aquilo que assistem ou que apreendem, abrindo espaço para que os Espíritos negativos, plantonistas do mal, se valham dos caminhos tortuosos do desequilíbrio e instalem nos encarnados os processos de obsessão e perseguição que podem levá-los aos mais tristes desajustes da emoção, da mente e, a médio ou longo prazo, da saúde física.

Assim acontece com todos os meios de divulgação, funcionando como meios de semeadura de ideias e imagens no íntimo das pessoas.

Tão poderosa é a notícia, na forma de som ou imagem, que os meios de comunicação já se dão ao cuidado de evitar a divulgação de notícias sobre suicídios, uma vez que constataram que, todas as vezes que se divulgaram tais notícias, um surto de suicídios acometera a colectividade que consumira a informação, permitindo-se receber influências sugestivas das entidades perturbadoras de seu equilíbrio, a induzir o aumento das tentativas de autodestruição e o acúmulo de vítimas dessa tragédia moral.

Esse é o mecanismo natural que tais entidades se utilizam para iniciar um processo obsessivo ou ampliá-lo, precisando sempre da aceitação tácita da vítima, que não deverá reagir contra a indução ao mau pensamento, ao mau sentimento ou à condição de autopiedade.

Estabelecida a discussão, a irritação, a indignação, a rebeldia, o rancor, tudo isto facilita que tais entidades, agora alimentadas pelas emissões energéticas inferiores, estabeleçam as conexões dos fios magnéticos com a mente e com os canais nervosos de suas vítimas, deixando que os desequilíbrios se instalem e que as consequências se acumulem sobre suas energias atacadas e drenadas por esses sugadouros magnéticos.

Mas se o encarnado se mantém em vigilância constante e não aceita tais provocações porque já lhes conhece o risco e sabe que são armadilhas perigosas para seus pensamentos, estes Espíritos inteligentes não se dão por vencidos.

Muitas vezes, então, passam a atacar seus familiares, alguns dos quais, afastados muitas vezes de qualquer princípio moral mais elevado ou do conhecimento das leis espirituais, passam a ser usados como instrumentos de irritação, de desajuste do grupo, de perda do equilíbrio, até que aquele encarnado que é o alvo principal dos ataques, cansado de tais distúrbios e dos tormentos no meio dos quais se vê colocado, acaba se entregando à perturbação, perdendo a paciência, se irritando e, ao diminuir a própria vigilância acaba abrindo espaço para a acção dos invisíveis e horríveis perseguidores.

Esse era o método que o Chefe iria demonstrar junto a Glauco, valendo-se da ajuda dos hipnotizadores e dos corpos ovóides que ele pretendia imantar em sua estrutura vibratória.
Aquela noite do Evangelho no Lar seria muito interessante e instrutiva para todos.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:26

17 - O MOMENTO DA ORAÇÃO COLECTIVA

Uma hora antes do início da reunião familiar, podia-se observar a operosa agitação dos trabalhadores do mundo invisível, organizando a chegada das entidades diversas que iriam participar como ouvintes, em seus respectivos lugares, isolados magneticamente do ambiente, para que suas emanações inferiores não comprometessem o teor energético da reunião.

Outros trabalhadores cuidavam dos Espíritos que seriam submetidos aos tratamentos variados, recolhidos das proximidades, inclusive das casas dos vizinhos, enquanto que não faltavam aqueles que se dedicavam a trazer à reunião as entidades que perturbavam os próprios moradores do lar onde a oração se realizava.

Naquela noite, os encarnados que se uniriam para as preces costumeiras de todas as terças eram, além de Olívia, seu marido João, que aceitara participar porque, de algum tempo para cá estava apresentando fortes dores no joelho e, segundo acreditava, a oração podia ajudar a melhorar seu sofrimento.

Gláucia e Glauco seriam os outros dois integrantes da reunião.
Luiz, o filho mais novo, não viria, ainda que fosse esperado por todos, uma vez que, pouco sintonizado com as coisas espirituais, as entidades que o perturbavam haviam criado certos embaraços pessoais que se fariam impeditivos de sua presença no momento da oração.

Os membros da família, no entanto, ainda não sabiam de tal ausência, permanecendo na expectativa de sua chegada iminente, até momentos antes do horário marcado.
No mundo invisível, os Espíritos responsáveis pela defesa do lar e que faziam ronda externa já se postavam em todos os ângulos, acompanhados dos enormes cães que já citamos e que comandavam com precisão.

Além do mais, possuíam instrumentos de descarga magnética para qualquer eventualidade mais grave, inclusive para enfrentar a tentativa de invasão de entidades desequilibradas, caso se apresentassem em grupo volumoso.

Transformada em centro luminoso, a residência de Olívia passou a ostentar o brilho que atraía muitos aflitos da região espiritual circundante.
Assim, como medida de reforço protectivo, foram levantadas carreiras magnéticas externas, que se pareciam com campos eléctricos concêntricos, fixados a diversas distâncias, tendo o lar como o centro.

Tais defesas tinham uma função igualmente selectora, permitindo a passagem de Espíritos com vibrações menos agressivas, mas mantendo afastadas as entidades mais violentas, que se viam impedidas de continuar se aproximando na medida em que atingissem o campo eléctrico com o qual as suas próprias vibrações reagissem, produzindo o efeito repulsivo.

No entanto, aquelas entidades que traziam as vibrações menos agressivas, podiam ir andando na direcção daquele foco luminoso, até que atingissem a fronteira energética que lhes obstasse seguir adiante, sendo importante realçar que, em todas estas faixas, Espíritos guardiões se postavam para manter a direcção e para avaliar eventuais atendimentos de emergência, inclusive para garantir que os Espíritos mais abrutalhados não impedissem os menos grosseiros de seguirem adiante, enquanto que eles não conseguiam passar.

Essa peregrinação de sofredores se dava porque, como já se falou, com a aproximação dos trabalhos da noite, a casa deixara de ser apenas moradia de pessoas, mas, graças à acção magnética intensa, tanto das entidades desencarnadas trabalhadoras do Bem quanto dos corações harmonizados de Olívia, Gláucia e Glauco, aquele núcleo transformara-se em pequeno Sol rutilante, a brilhar na escuridão nocturna e atrair a curiosidade de inúmeros Espíritos perdidos, aflitos, perambulantes sem rumo, que imaginavam ali estar a saída para suas dificuldades ou o caminho para a melhoria de suas situações.

Como os Espíritos mais primitivos não podiam se aproximar do centro em função de sua condição repulsiva e das barreiras energéticas que não lhes permitia a passagem, ficavam tentando impedir que os outros seguissem adiante, o que obrigava que vários trabalhadores da segurança permanecessem nesses diversos pontos de passagem dos limites de selecção fluídica, garantindo o acesso dos que desejassem, apesar da contrariedade dos rebeldes que se viam impedidos de seguir.

No ambiente físico, cada encarnado, além do Espírito protector que lhe acompanhava a jornada terrena durante toda a encarnação, possuía uma equipe de mentores, responsável pela estrutura de sua sensibilidade para aquela reunião.

Quinze minutos antes de darem início, Olívia colocou sobre a mesa os copos e a garrafa com água que serviria de veículo para os fluidos medicamentosos específicos que as entidades amigas usariam para a continuidade dos tratamentos.

Ao mesmo tempo, convidou os demais integrantes da reunião para se sentarem à mesa, providenciando o desligamento temporário dos telefones e suas extensões, além de solicitar a João, o marido, que desligasse a televisão que ele assistia, interessado nas novidades sempre velhas, referentes aos resultados desportivos de seu time de futebol predilecto.

— Espera um minutinho, Olívia, já estou indo... — respondeu o marido, preso ao interesse fútil e vão que o desviava do caminho do esclarecimento pessoal por mantê-lo iludido com as quinquilharias da vida, como alguém que pode chegar à mina de ouro, mas que, ao longo do caminho, vai se distraindo como as pedrinhas da estrada, parando nas barraquinhas que lhe fornecem prendas de vidro e distracções, se esquecendo que a jazida de ouro está mais adiante.

— Não demore, querido, já estamos todos aqui, só falta você.
— E o Luiz, ele ainda não chegou — falou João, querendo ganhar mais um tempinho.
— Ele não vai chegar.
Se fosse vir, já teria chegado.
Só você é que está faltando — falou Olívia, carinhosa, em tom de convocação, enquanto olhava para Gláucia e Glauco à sua frente, com o ar de quem se refere à condição desinteressada do marido.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:26

Entendendo que João precisava de uma ajudazinha, Alfonso, o mentor espiritual dirigente e responsável pela reunião, entidade de elevada condição, com um pequeno gesto determinou que um dos ajudantes do trabalho, que se prendia àquela família já há algumas décadas, tomasse as medidas para acelerar a chegada do marido, a fim de que a reunião não sofresse atrasos desnecessários.

Discretamente, o Espírito amigo se dirigiu ao quarto onde João se deixava levar pelas cenas de jogadas futebolísticas, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo e, sem nenhum teor de violência, mas, até, com uma carga de humor, falou em voz alta:
— É, meu amigo, você já está alguns séculos atrasado.
Precisa se lembrar disso e não desperdiçar mais seu tempo com tolices.

Dizendo isso, a entidade colocou suas mãos na área do joelho dolorido de João e, com um movimento rápido, como se o estivesse apertando, produziu uma descarga magnética que atingiu a sua sensibilidade física como se uma agulha tivesse lhe penetrado as fibras da carne.

— Ai, que dor no joelho! — exclamou João, levando a mão imediatamente ao local, recordando-se de que estava doente naquela área de seu corpo.
E nesse exacto instante, desinteressou-se pelo esporte e lembrou-se que mais valia orar para pedir a melhora do que ficar ali, sem nada produzir de bom para si mesmo.

Desligou a televisão e dirigiu-se, meio manquitolando, para a copa onde os outros o esperavam.
Depois de acomodar-se, Olívia diminuiu a luz circundante, deixando apenas pequeno foco vindo da cozinha, colocou uma música e, então, solicitou que Gláucia fizesse a oração que, com a entonação amorosa de sua alma, foi simples, breve e espontânea.

A seguir, sem ter a necessidade de aumentar a luminosidade porque sua posição à mesa permitia a clareza suficiente para a leitura, Glauco iria ler o livro escolhido para as meditações.

Para tanto, Olívia pediu que seu marido abrisse “O Evangelho Segundo o Espiritismo” ao acaso e o transferiu ao futuro genro, que procederia à leitura de alguns parágrafos, de forma clara e pausada, para que todos entendessem.

No meio desse "todos", encontravam-se as entidades invisíveis que haviam sido trazidas para o aprendizado.

Antes do início da leitura, os Espíritos que os orientavam e dirigiam, explicaram que deveriam abrir bem seus ouvidos espirituais para não perderem nenhuma lição porque ela versaria sobre o capítulo mais longo do Evangelho, o capítulo quinto, aquele que fala das aflições.

Glauco, então, depois que João abriu ao acaso, leu o trecho que lhe correspondia:

CAUSAS ACTUAIS DAS AFLIÇÕES
As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim se quer, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir:
umas têm sua causa na vida presente, outras fora dela.

Remontando à fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são a consequência natural do carácter e da conduta daqueles que os suportam.

Quantos homens tombam por suas próprias faltas!
Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos!
Quantas uniões infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o coração nada tem!
Quantas dissensões e querelas funestas se teria podido evitar com mais moderação e menos susceptibilidade!

Quantos males e enfermidades são a consequência da intemperança e dos excessos de todos os géneros!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio!
Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração;
depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de respeito e ingratidão.

Que todos aqueles que são atingidos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida, interroguem friamente sua consciência;
que remontem progressivamente à fonte dos males que os afligem, e verão se, o mais frequentemente, não podem dizer:
Se eu tivesse, ou não tivesse, feito tal coisa eu não estaria em tal situação.
A quem, pois, culpar de todas as suas aflições senão a si mesmos?

O homem é, assim, num grande número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios;
mas, ao invés de o reconhecer, ele acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a chance desfavorável, sua má estrela, enquanto que sua má estrela está na sua incúria.

Os males dessa natureza formam, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida;
o homem os evitará quando trabalhar para seu aprimoramento moral, tanto quanto para o seu aprimoramento intelectual.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:26

A lei humana alcança certas falta e as pune;
o condenado pode, pois, dizer-se que suporta a consequência do que fez;
mas a lei não alcança e não pode alcançar todas as faltas;
ela atinge, mais especialmente, aquelas que prejudicam a sociedade, e não aquelas que não prejudicam senão aqueles que as cometem.

Mas Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; por isso, ele não deixa impune nenhum desvio do caminho recto;
não há uma só falta, por pequena que seja, uma só infracção à sua lei, que não tenha consequências forçadas e inevitáveis mais ou menos tristes.

De onde se segue que, nas pequenas, como nas grandes coisas, o homem é sempre punido pelo que pecou.
Os sofrimentos que lhe são a consequência, são para ele uma advertência de que errou.
Eles lhe dão a experiência fazendo-o sentir a diferença entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para evitar, no futuro, o que lhe foi uma fonte de desgostos.

Sem isso, não teria nenhum motivo para se emendar e, confiando na impunidade, retardaria seu adiantamento e, por conseguinte, sua felicidade futura.

Mas a experiência, algumas vezes, vem um pouco tarde.
Quando a vida foi dissipada e perturbada, as forças desgastadas e quando o mal não tem mais remédio, então, o homem se põe a dizer:
Se no início da vida eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado;
se pudesse recomeçar, eu faria tudo de outro modo; mas não há mais tempo!

Como o obreiro preguiçoso, diz;
Eu perdi minha jornada, ele também diz:
Eu perdi minha vida.

Mas da mesma forma que para o obreiro o Sol se ergue no dia seguinte e uma nova jornada começa, permitindo-lhe reparar o tempo perdido, para ele também, depois da noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, na qual poderá aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.

Terminada a leitura, Olívia pediu que comentasse sobre seu entendimento a respeito.
Procurando fazer-se o mais autêntico possível, Glauco buscou a lição para si mesmo, ao invés de colocá-la no terreno abstracto dos ementários teóricos.

— Pelo que entendi, D. Olívia, nós somos os que agravamos nossos males, desnecessariamente.
Se é verdade que existem coisas que temos que passar para nosso aperfeiçoamento moral, muitas vezes criamos dificuldades que não estão no nosso programa, como alguém que procura sarna para se coçar.

E, cada vez que leio este trecho, lembrou-se de mim mesmo, tempos atrás, do sofrimento que passei e que fiz passar a todos vocês por minha leviandade, nos períodos da faculdade, encantado com as bobagens de uma vida sem profundidade.

Naturalmente que as companhias me ajudaram a errar, mas, em realidade, o erro foi escolha minha, da minha imaturidade.
Com certeza, não precisava passar por tudo aquilo, arriscando meu futuro e minha felicidade.

Para mim, esta lição é sempre muito bem vinda, sobretudo no dia de hoje quando me correspondeu a leitura do Evangelho.
Não desejo fugir das próprias responsabilidades que a lição clara me recorda e, por isso, sou eu o exemplo vivo de tais exortações.

Reconhecendo a dor íntima que aquela confissão lhe deveria estar causando, mas, avaliando o teor da honestidade de Glauco, Olívia esperou que ele terminasse e acrescentou:
— Graças aos seus erros, meu filho, é que hoje temos este homem virtuoso que despertou de seu íntimo por causa das próprias quedas e arrependimentos.
Se nosso passado não fosse o conjunto de equívocos que costuma ser, Glauco, nós estaríamos muito mais vulneráveis no presente às armadilhas da vida que, pegando-nos de surpresa, fatalmente nos arrasariam nos desejos nascentes do Bem.

Quando erramos e queremos sair do equívoco, as forças do Amor nos estendem suas mãos doces e orientam nossos passos na subida.
Mas enquanto isso não acontece, enquanto nos comprazemos no mal, enquanto não nos cansamos de gozar a vida, as coisas não estão maduras para que aconteça a nossa eclosão.
Geralmente, meu filho, sem o sofrimento, continuamos perdendo tempo.

— Eu é que o diga... — falou João, ao ouvir as palavras da esposa e recordar-se do que acontecera momentos antes, sorrindo meio sem graça.
— Como assim, pai, por que "você é que o diga"? — indagou Gláucia, surpresa com a observação meio engraçada do pai.
— Ah! Minha filha, você sabe como são as coisas e como seu pai gosta de um futebolzinho.

— Sim, pai, nós sabemos...
— Então.
Vocês estavam me esperando e eu não queria perder alguns lances muito legais que a TV estava mostrando.
Estava quase que contrariado em ter que sair dali, justamente no melhor da coisa.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:26

— A gente sabe como você é, meu marido — falou Olívia, sorrindo para ele.
— É, mas do nada, repentinamente, senti uma pontada tão forte no meu joelho que, imediatamente, esqueci o envolvimento dos lances e me lembrei da dor e do meu problema.
Nessa hora, o futebol já não tinha mais nenhuma graça e, então, desliguei a televisão sem reclamar e vim para cá.
Como vocês vêem, estou aqui sem reclamação por causa da dor do joelho... porque se dependesse só de mim, talvez estivesse sentadão na cama, vendo uma bola ser chutada de um lado para outro.

Entendendo a confissão espontânea do dono da casa, os demais integrantes da mesa sorriram e Gláucia completou, dizendo:
— Eu estive perto de aumentar as aflições de nossas vidas e da minha própria, Glauco, quando pensava em passar com um tractor sobre você, naquela época.
Meu sofrimento, por causa da minha imaturidade, também iria servir para me complicar a vida, se eu não tivesse tido o conselho de mamãe, a me alertar para AGIR, ao invés de REAGIR.

Foi graças a essa escolha adequada que pude entender o que se passava com você, pude aprender sobre as nossas inclinações pessoais, sobre a acção das entidades espirituais que nos induzem para o Bem tanto quanto para o caminho do erro.

Se eu não tivesse sofrido dessa forma, buscando uma solução para tudo aquilo, estaria ainda na condição de uma mulher manipuladora, vingativa, ao invés de ter melhorado e amadurecido na compreensão do afecto verdadeiro.

Quanto entendi o significado do Amor Real, aprendi que ele não depende de ninguém, nem mesmo do ser amado.
É um valor que existe em cada um de nós e que se oferece como um tesouro, disponibilizando-o ao ser amado, mesmo que este não o deseje nem o aproveite.
Foi naquela época, Glauco, quando tudo estava tão confuso, que descobri o quanto o amava de verdade e, por isso, resolvi mudar em mim as inclinações ruins para que eu não colaborasse em perdê-lo.

Se eu não tivesse passado por aquilo e tido a orientação desse cristianismo espírita, fatalmente seria hoje uma mulher infeliz, frustrada, arrependida, cheia de saudades de você, fazendo a infelicidade de algum outro homem com quem me relacionasse para não ficar sozinha na vida.

Então, além de você, acho que seríamos outros quatro infelizes, porquanto meus pais, da mesma forma, não iriam ficar bem ao me verem abatida.

Os comentários positivos de todos, ainda que se voltassem para seus próprios defeitos, eram um bálsamo para seus corações, além de representarem uma postura autêntica que assumiam para si mesmos autorizando, por parte do mundo espiritual que testemunhava a conduta verdadeira, a mobilização de potenciais energéticos para que fossem aplicados a benefício de todos.

Por isso, Glauco foi fortalecido moralmente, com a implantação de uma energia revigorante nos centros cerebral e emocional, ficando envolvido por uma luminosidade azulada que lhe transmitia calma à consciência e um calor agradável ao coração.

Gláucia, igualmente, teve seus sentimentos enriquecidos por uma descarga vibratória partida da entidade amiga que cuidava dela, numa energia vibrante que lhe transmitia uma força e uma sensação de invencibilidade moral ainda muito mais estimulante no Bem.

João, ao se confessar distanciado do interesse na própria elevação, preferindo a televisão à prece colectiva, revelação esta que poderia ter ocultado de todos os presentes, foi envolvido pelas forças mais luminosas que ali se postavam, ajudado por médicos espirituais, amparado por amigos de outras eras, ao mesmo tempo em que Alfonso, o dirigente da reunião, voltando-se para aquele cooperador benevolente que se ocupara em trazer João à própria realidade, momentos antes do início da reunião, recomendou-lhe:
— Vai, agora, querido Sebastiãozinho, atende nosso amigo que está crescendo para a realidade.
Você, que soube como trazê-lo através da dor que desperta os adormecidos, saberá também como ajudá-lo através da sensação do Amor Verdadeiro.

Emocionado, Sebastiãozinho se aproximou e, afagando-lhe os cabelos, passou a aplicar passes na região do joelho para que suas dores pudessem ser aliviadas por algum tempo.

Regressando, depois, afirmou ao mentor espiritual:
— Fiz o trabalho, mas não retirei todos os focos para que João continue a nos ser dócil às sugestões.
— Fez muito bem, meu amigo.
Para certas pessoas, livrá-las de todos os sofrimentos seria conduzi-las a um sofrimento maior e mais grave.
Com alguns estrepes no pé, impedimos que um indivíduo imaturo caia no precipício — respondeu, aprovando a acção de Sebastiãozinho.

Olívia, a pessoa encarnada de maior hierarquia espiritual daquele pequeno núcleo, via com satisfação os comentários e, como a mais preparada pela vida para amar acima de todas as coisas, emitia raios de uma luz pura e emocionante, que se desprendiam de seu peito de tal forma que, aos olhos dos Espíritos que ali se congregavam, em nada se parecia à humilde costureira, à trabalhadora anónima do lar, aquela que suportava as leviandades do filho e as infantilidades do marido.

Parecia um ser diáfano, desfrutando da felicidade de ver seus seres amados aprendendo a ser melhores e a vencer seus obstáculos.
Com os comentários ali emitidos, uma infinidade de Espíritos sofredores, reflectindo sobre suas próprias condutas, deu vazão às lágrimas de arrependimento, sinceras e espontâneas.

Não mais um acusador, um diabo terrificante, um ser poderoso e amedrontador que os julgasse.
Não. Era a voz da consciência que despertava de dentro deles, apontando as faltas que haviam esquecido ou de que não queriam se lembrar.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 3 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho 27/5/2014, 12:27

Enquanto recebiam a atenção dos enfermeiros espirituais que os acompanhavam, um outro trabalhador do mundo invisível, responsável pela supervisão da segurança procurou Alfonso, o mentor do grupo para lhe trazer uma notícia importante.

— Fale, Carlos! — respondeu, afavelmente, o Espírito responsável.
— Estamos com o principal obsessor de Luiz nas linhas mais próximas da casa.
Podemos permitir a sua entrada?
Faço esta consulta por conhecer o seu interesse pessoal a respeito do rapaz e daqueles que o acompanham.

Demonstrando imensa satisfação com a notícia, apesar de saber que se tratava de uma entidade extremamente inferiorizada, organizou, na área destinada aos obsessores da família, um campo de energias mais intenso a fim de que esse irmão ficasse contido e não pudesse ser visto com clareza pelos outros Espíritos sofredores que, fatalmente, se perturbariam com a sua aparência.

Depois de tudo organizado, avisou para que Carlos providenciasse o seu ingresso no local.
Ao ser trazido, parecia que a entidade perturbadora vinha envolvida em uma rede fluídica que retinha seus movimentos e o fazia algo entorpecido, evitando que se revoltasse durante o transporte.

Quando foi colocado na câmara protectora, a rede se desfez naturalmente, como se se incorporasse ao campo de energias positivas que o envolviam.
Ali a entidade permaneceria recolhida, recebendo as vibrações mais elevadas do campo magnético que o circundava, até que tivesse melhores condições de compreensão e disposição para o diálogo.

Nada ali se fazia com violência ou brutalidade.
Todos os Espíritos esmeravam-se para atender a dor alheia com a sacralidade de quem se aproximava de um altar, como se cada entidade assim o representasse.

Vendo tal conduta por parte de todos, Magnus comentou, baixinho, junto ao instrutor Félix:
— Como são todos tão bem tratados, até mesmo os mais terríveis, não?
— Quando nos lembramos de que estamos cuidando de criaturas divinas, Magnus, recordamos que, ao tratarmos com cada um deles, estamos tocando em uma parte do próprio Deus, meu filho.
Muitos procuram Deus nos lugares, nas coisas, nas igrejas, nas cerimónias, e se esquecem de encontrá-Lo na pessoa daqueles que Ele pôs no mundo.

Poderemos guardar respeito para com roupas, objectos, pertences de alguém que tenha sido importante personagem na sociedade e que já tenha partido para o lado da vida verdadeira.
No entanto, nada se equipara à convivência com os parentes consanguíneos dessa personalidade importante, nada se compara ao contacto com aqueles que conviveram e descenderam deles, não é?

Assim acontece também connosco em relação a Deus, meu filho.
Podemos enaltecer as obras da natureza, a perfeição das estrelas, a grandeza dos oceanos, a sabedoria das fórmulas matemáticas, a exactidão das leis cósmicas.
No entanto, quando estamos com cada pessoa, estamos com os descendentes directos do Criador, aqueles que são dotados de Suas próprias virtudes, a fim de que se desenvolvam e possam se tornar tão grandes quanto o Pai os permita ser.

Não importa que sejam rebeldes, maldosos, ignorantes.
Para nós, são pedaços de Deus tanto quanto um filho recém-nascido de um rei poderoso será sempre um príncipe, mesmo que precise de papinhas e de fraldas.

A reunião seguia, simples e rápida, com mais alguns breves comentários entre os presentes encarnados.
Depois que o obsessor de Luiz, o filho ausente, foi acomodado, assim que se preparavam actividades para a magnetização da água que estava posicionada no centro da mesa, escutou-se, fora do ambiente, exaltada gritaria.

Sem perder a serenidade, Alfonso, deixando a tarefa interna a cargo de seus inúmeros auxiliares, solicitou a companhia de Félix e Magnus e, juntos, dirigiram-se até as linhas de defesa externas.

— Fui comunicado por nossos serviços superiores de informação, que estaríamos submetidos a um ataque mais intenso no dia de hoje.
Por isso, solicitei que me acompanhassem, porquanto tal iniciativa de nossos irmãozinhos inferiorizados no mal está vinculada ao mesmo processo que ambos acompanham.
Esse também foi o motivo pelo qual, hoje, mais do que costuma ser nos dias normais, reforcei a guarda usando os animais que puderam ver nas cercanias, um factor bastante positivo no sentido da intimidação pacífica.

— Sim, Alfonso, entendemos a sabedoria e a necessidade de suas medidas preventivas — afirmou Félix, acostumado a esse tipo de problemas.
— Vamos ver do que se trata, efectivamente.

Quando chegamos à primeira linha de defesa, aquela que ficava mais distante do centro de orações familiares, pudemos ver um amontoado de Espíritos, todos eles desejando passar, mas impedidos de fazê-lo.

Entre eles estavam nossos três conhecidos, o Chefe, Juvenal e Gabriel, acompanhados por outros quatro magnetizadores que haviam vindo directamente da Organização para darem início ao processo de influenciação mais profundo sobre Glauco.
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