LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:11 am

A expressão de Marcelo dava a entender que as relações conjugais íntimas que mantinha com Marisa eram a causa da aceitação de sua conduta impertinente, demonstrando, assim, que suas ligações com a esposa se mantinham firmes por causa da condição de amante arrojada que, diante das palavras reticentes de Marcelo, Letícia agora imaginava que Marisa deveria ser.

E isso era a plena verdade.
Marido e mulher se entendiam muito bem nas aventuras sexuais a que se deixavam arrastar e nessa área estava o grande laço que os unia.

— Mas sabe, Marcelo, você nem imagina como é bom estar em casa, com uma musiquinha suave, com um bom livro, uma xícara de café cheiroso, um banho quente, um roupão macio.
Isso é uma coisa muito agradável porque nos faz relaxar e estimula o pensamento.
Por isso é que, quando tenho causas complicadas, levo tudo para casa e lá encontro sempre a melhor solução.

—Ah! Que bom, Letícia!
Do jeito que você está falando, parece ser muito gostoso mesmo.
Só que, em casa, isso é impossível para mim.

Gostando muito do rumo natural que a conversa estava tomando, Letícia continuou falando, já procurando uma forma de se manter ligada a Marcelo.

— Você tem algum telefone celular que eu possa chamá-lo pessoalmente, caso tenha alguma dúvida nos documentos e precise lhe pedir algum esclarecimento?
— Claro, Letícia, desculpe minha distracção.
Eu gostaria que, se tiver qualquer problema ou precisar de mais informações, você me telefonasse neste número e eu ficarei muito agradecido pela atenção que estará me dando neste caso.

— Mas não vou criar problemas com Marisa ao ligar para o seu celular?
— Não, nenhum. Marisa tem o celular dela e ela sabe que muitos clientes, homens e mulheres, ligam para mim.
Não há nenhuma dificuldade nisso.

— Tudo bem então, Marcelo.
— Mais uma vez, desculpe tomar seu tempo e arrumar trabalho para o seu momento de descanso, Letícia.
— Não se incomode com isso, Marcelo.
Para mim será um prazer muito grande poder ajudá-lo.

Percebendo que o assunto tinha acabado, o rapaz pediu licença para sair e deixou a sala de Letícia, carregando no íntimo a sensação de alegria por ter conseguido quebrar o gelo que havia entre eles, pela distância que ela sempre gostara de manter.

Marcelo, em sua sala, agora, já podia catalogar mais um sucesso em sua empreitada aproximatória, imaginando que, na próxima semana, restava acercar-se de Sílvia.
Letícia e Camila já estavam no seu bolso, de forma a não ter mais dificuldades em manter o relacionamento profissional com ambas pelos caminhos mais aquecidos da amizade e de uma intimidade saudável para os seus projectos.

Letícia, sozinha em seu ambiente de trabalho, com a porta de sua sala fechada para poder entregar-se melhor aos próprios devaneios, se sentia nas nuvens como há muito tempo não se via.
Sua emoção estava novamente activada.

Diante dela, o jovem atraente e desejado lhe oferecia a oportunidade de aproximação, reconhecendo a sua capacidade e lhe dando inúmeras informações sobre o relacionamento afectivo que mantinha com a esposa.

Percebia que Marcelo havia sido fisgado pela fêmea com que se casara e era por aí que ele tentava manter a elação, demonstrando, dessa forma, onde se encontrava o seu ponto fraco, aquilo que, na condição de homem era predominante em sua união com uma mulher.

O raciocínio rápido de Letícia souber aprofundar as palavras e expressões de Marcelo, reconhecendo que ele se irritava com a forma de ser de sua esposa, ficando aliviado quando ela estava fora de casa, única ocasião em que tinha algum sossego.

De qualquer forma, para conseguir conquistar seu interesse, ela precisaria investir na provocação do seu instinto masculino, sem se vulgarizar e sem se oferecer para que isso não acabasse se voltando contra ela mesma.

Dentro de seu coração agitado pela excitação produzida por aquele encontro, Letícia sabia que essa era a sua chance, esse era o momento de investir para que o homem desejado acabasse se interessando por ela e, descobrindo suas qualidades feminis, além das muitas qualidades intelectuais, acabasse por aceitar trocar de mulher, reconhecendo que, com ela, ele sairia ganhando muito, porque ganharia uma companheira igualmente ousada, mas, além disso, uma mulher inteligente, interessante e competente, dentro do mesmo ramo de actividade profissional que ele próprio desenvolvia.

Não é preciso dizer que, ao lado de ambos, o mundo espiritual inferior actuava, levando-lhe o pensamento sempre na direcção das fraquezas naturais que lhes dominavam o carácter.
Marcelo, cego em seu projecto de derrubar Leandro, agora se encontrava empolgado com as atenções de Camila, a bonitona do escritório que, todos os dias, tornava-se mais próxima dele.

Ao mesmo tempo, desenvolvendo sua estratégia, iniciava a conquista do interesse de Letícia, sem imaginar que esta se interessava por ele mais como mulher do que como colega de profissão.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:11 am

Iludido por seus pensamentos equivocados, Marcelo ia sendo estimulado pelo Chefe e por Juvenal, as duas entidades principais envolvidas no seu processo de perseguição directa, ajudadas por Gabriel, o aleijado.

Em realidade, esse Espírito poderia ser considerado mais como um estagiário do mal, um aprendiz, do que um activo praticante de perseguições.
Tanto assim, que era visto pelos seus acompanhantes como alguém ainda despreparado para exercitar as atitudes firmes dos perseguidores, assemelhando-se a um Espírito galhofeiro e brincalhão, muito mais do que um Espírito mau.

Na verdade, sua aceitação no grupo se dera efectivamente, pelo seu estado de deformidade, que produzia susto ou repulsa até mesmo em entidades experientes nos processos de perseguição.
Tanto o Chefe quanto Juvenal sabiam que Gabriel seria um excelente instrumento nas horas em que fosse necessário assustar alguns dos envolvidos nos processos de perseguição, nos momentos de sono físico.

— Você viu, Chefe, como as coisas estão indo bem?
Marcelo está entrando na nossa e as duas franguinhas serão o nosso braseiro para cozinhá-lo bem cozido... — falou, zombeteiro, Juvenal.

— Sim, Juva — respondeu o Chefe, demonstrando intimidade.
Marcelo está indo na direcção correta.
Na próxima semana, investiremos na última que está faltando.
Para facilitar as coisas, vamos providenciar uma visita à casa de Sílvia, produzindo-lhe as sensações que possam favorecer a acção de Marcelo, criando no Espírito da nossa velha amiga o ambiente favorável de que tanto ele quanto nós necessitamos.

— Oba, Chefe, vamos ter festa da boa, então... — atalhou Juvenal.
— Acho que sim, mas só nós dois vamos ter que participar.
— Claro! O único problema é o Aleijado... — falou Juvenal, baixinho.

- Isso não será problema porque já falei para que se mantenha junto a Letícia, acompanhando seus pensamentos e estimulando seus sentimentos na direcção de Marcelo.
Será como uma avaliação para sua continuidade junto anos.
Ele não poderá se ausentar da sua presença durante o final de semana inteirinho.
Então, na segunda-feira, voltaremos para ver como foram as coisas, o que nos garante dois longos dias na boa companhia daquele mulherão...

— Óptimo, Chefe.
Mas e o pessoal do Departamento?

Perguntando isso, Juvenal se referia às entidades trevosas que se mantinham trabalhando no escritório espiritual tenebroso e que, normalmente, se enredavam na vida pessoal dos seus integrantes encarnados, tanto dentro quanto fora de suas actividades profissionais.

Era muito comum que cada um dos advogados encarnados do escritório, as cabeças pensantes daquele ambiente, se vissem acompanhados constantemente, inspirados por Espíritos que se afinizavam com suas tendências ao mesmo tempo em que eram vigiados ou “protegidos” por esse tipo de má companhia que os via como sócios materializados de seus interesses escusos.

— Não se preocupe, Juvenal.
Já me comuniquei com o responsável pelo departamento — como eles denominavam o escritório espiritual — e, valendo-me da carta branca da Organização, solicitei a dispensa dos empregados destacados para a escolta do final de semana, porque estaremos assumindo o serviço em relação às duas mulheres, Letícia e Sílvia.
Solicitei que continuassem a “escolta” em relação a Marcelo e a Marisa, para que o estado de desajuste entre eles continue a acontecer, favorecendo nossos objectivos.

— Muito bem pensado, Chefe.
O fim de semana será de diversão completa.
— Sim, Juva, no entanto, teremos que nos valer da “fantasia” para que nossos planos sejam bem sucedidos.
— Tudo bem, Chefe.
Com fantasia ou sem fantasia, o prazer será o mesmo... não vejo a hora.

Como o leitor já pode imaginar, a fantasia a que ambos se referiam correspondia à forma física ou à aparência do próprio Marcelo que ambos iriam adoptar para envolverem Sílvia, velha companhia de orgias no mundo invisível, na sensação de prazer na companhia do colega de escritório.

Seriam tão fortes tais sensações, facilmente cultivadas pelo Espírito depravado de Sílvia que, ao retomar o corpo físico, depois de uma noite de sono, a figura de Marcelo dominaria suas lembranças de tal maneira que, no próximo encontro que tivesse com ele, todas aquelas emoções voltariam à superfície de sua consciência, provocando o seu interesse mais caloroso em relação àquele cuja imagem esteve cristalizada em sua mente em decorrência do sonho arrebatador.

Na verdade, porém, Marcelo não teria nenhuma participação directa naquele encontro, mas sua figura estaria ali representada por Juvenal e pelo Chefe que, travestidos de Marcelo, usariam a mesma técnica utilizada quando do início da desarmonização ocorrida entre ele e Marisa, sua esposa, quando o Chefe se valera da aparência de Glauco, o amigo comum.

O leitor pode estar se perguntando por que tais Espíritos podem usar a forma de outros para criar esse tipo de confusão. Onde estaria Deus, que não impediria isso?
Essas indagações, ainda que compreensíveis na pessoa leiga, perdem sentido quando o conhecimento das leis espirituais se torna maior.

A princípio, a todos os homens está garantido o acesso às elevadas regiões espirituais e à protecção luminosa de amigos invisíveis, conquistada graças às boas acções, aos sentimentos nobres e à oração sincera.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:12 am

No entanto, a lei de liberdade garante a qualquer pessoa a escolha do que mais lhe interesse e, nos casos até aqui descritos, não encontramos nenhuma de nossas personagens desejando a companhia de seres luminosos.

Além do mais, dentro das leis espirituais que regem a forma das entidades, temos a doutrina espírita explicando que, uma das características do corpo fluídico que todos possuímos e que se chama Perispírito, é a sua maleabilidade.

Por se tratar de um corpo de matéria rarefeita, mais subtil, suas moléculas são facilmente moldáveis segundo o desejo do Espírito que o dirige.
Comparativamente falando, o Perispírito seria como uma roupa que o leitor usasse e que, maleável por excelência, adoptasse a forma, a estrutura geral das linhas que a sua vontade desejasse lhe dar.

É natural que a maioria das entidades espirituais, ignorantes dessas características, imprima a essa roupagem que recobre a sua essência espiritual a forma que sua individualidade possuía durante a vida física, sendo a mente a fonte determinadora das formas exteriores.

Isso explica, muitas vezes, a apresentação enfermiça de certos Espíritos que, incorporando à sua personalidade a doença física que os vitimou no corpo carnal, depois que este morre, continuam se apresentando, espiritualmente, com as mesmas características enfermiças, porque plasmaram sua forma fluídica segundo as ideias que mantém arquivadas em sua mente imortal, ainda muito ligadas à noção da doença que os fustigou durante tal etapa evolutiva.

No entanto, existem Espíritos que, apesar de devotados ao mal, guardam o conhecimento dessas leis naturais do Perispírito e, entendendo o mecanismo da vontade e da fixação do pensamento, manipular tais estruturas plásticas que revestem a alma, sendo capazes de imprimir à sua aparência, a forma que desejarem, notadamente se for para impressionar, espantar ou amedrontar.

E assim, não é difícil para Espíritos treinados nesses processos por Organizações de entidade ignorantes e devotadas temporariamente ao mal, desenvolverem esta habilidade que pode ser comparada à habilidade da memória, da mente fotográfica, da concentração, facilidades estas que, pertencentes à natureza do ser humano, podem ser utilizadas tanto para o bem quanto para o mal, como acontece todos os dias, quando pessoas dotadas de poder mental dele se valem para produzir prejuízos e fraudes de todos os tipos nos caminhos de seus semelhantes.

Estes ensinamentos são facilmente entendíveis e encontráveis nos textos contidos em O Livro dos Espíritos,...

“O Livro dos Médiuns”... e em diversas obras da Doutrina Espírita, para o aprofundamento de tal conhecimento, e que explicam a natureza, as características e peculiaridades desse corpo fluídico que Paulo de Tarso denominava de CORPO ESPIRITUAL, que os egípcios denominavam de KÁ, que outras correntes estudiosas chamam de CORPO BIOPLÁSMICO, PSICOSSOMA e que a Doutrina Espírita chama de PERISPÍRITO.

As afirmativas de Jesus estão claras na acústica mental de todos nós:
“Orai e Vigiai” — ensinava o Divino amigo, no alerta indispensável para todos quantos pudessem ter ouvidos de ouvir e olhos de ver, mantendo-se protegidos por si mesmos e não se metendo em situações que poderiam, pessoalmente, evitar.

Nenhuma de nossas personagens se dedicava a essa coisa fora de moda — como dizem muitas pessoas — do orar e vigiar, do evitar situações difíceis, tentadoras, do agir correctamente, do não desejar o que pertence ao outro, do evitar causar prejuízo.

E como quase ninguém se protege, os homens e mulheres que perderam o corpo de carne, mas continuam vivos no Espírito, carregando consigo as mesmas deficiências de carácter que marcam os que ainda estão vivos no mundo, deles se acercam para desfrutarem as mesmas sensações de antes, as mesmas aventuras de outrora, os mesmos prazeres baixos e de teor animal que lhes caracterizou o patamar evolutivo incipiente durante suas vidas carnais.

Assim, encontram muitos sócios nos mesmos níveis de sensação e desejo, sendo muito fácil lhes influenciar ou favorecer para que desenvolvam as mesmas tendências e se transformem em elementos dos quais podem sugar as energias de teor inferior que os abastece mesmo depois da morte física.

E tais grupos de entidades, ignorantes das leis espirituais que governam a vida tanto antes quanto depois do túmulo, se constituem em verdadeiros bandos a se agitarem ao redor da fonte lodacenta à qual se jungem, dela bebendo a lama e, ao mesmo tempo, tudo fazendo para proteger tal manancial das acções transformadoras do bem.

É assim que se conduzem tais entidades junto dos encarnados que lhes fornecem o material fluídico denso com o qual se alimentam na insanidade do momento em que estão vivendo.

Cada encarnado se vê, pois, envolvido pelo tipo de protecção que escolhe para si próprio.
Em nenhum dos nossos amigos, pudemos constatar um instante de elevação, uma atitude de limpeza moral, um esforço em viver princípios nobres.

Todos estavam muito felizes em se manterem no jargão comum, na vala da maioria das pessoas, como se aí encontrassem a normalidade que os absolvesse de qualquer delito pela desculpa simplista de que “todo mundo fazia a mesma coisa.”

Lembremo-nos de que Jesus nos ensinou que “LARGA É A ESTRADA QUE LEVA À PERDIÇÃO”.

E, ao mesmo tempo em que se referia a essa largueza, querendo ensinar que se tratava de um caminho amplo e fácil de ser percorrido, nos ocorre também a ideia de que, sem alterar o sentido principal da mensagem de Cristo, a estrada que leva à perdição é larga também para que nela possa caber a imensidão das pessoas que usam o critério da maioria insana, para justificar suas atitudes igualmente despropositadas.

Assim, ousamos interpretar as palavras de Jesus, dizendo que a estrada da perdição é larga para que nela, também, possa caber A MAIORIA DAS PESSOAS, INCONSEQÜENTES E ADORMECIDAS.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:12 am

8 - AS ESTRATÉGIAS

Enquanto o final de semana prometia algumas aventuras extravagantes para as entidades equivocadas no mal, na exploração dos prazeres inferiores, observemos o panorama que envolvia Marisa, a esposa de Marcelo.

Desde aquela noite fatídica em que, pelo sonho, ela se vira envolvida pela imagem de Glauco, sua mente imatura vivia às voltas com a idealização daqueles momentos excitantes.

Sem entender o potencial criativo e modelador do pensamento que, impulsionado pela vontade, passa a produzir as figuras vivas que orbitam a atmosfera magnética do encarnado quer as gerou, Marisa era a expressão da ilusão feminina, apaixonada por uma imagem que lhe fora semeada no Espírito invigilante, durante o sonho.

Glauco, na verdade, era um rapaz que, vez ou outra, fazia parte dos encontros divertidos nos finais de semana, em geral, acompanhado de sua noiva, sempre que tais reuniões se davam em algum restaurante ou barzinho da cidade.

Era um jovem bem posicionado, seguro em suas opiniões, sincero em seu relacionamento com Gláucia, sua companheira afectuosa.
Suas tarefas profissionais ligadas à área da consultoria de empresas lhe favoreciam a ascensão social, reflectida na qualidade das roupas e de seus carros.

E ainda que ele não tivesse o defeito de se exibir para seus amigos, aqueles que lhe faziam parte da convivência, naturalmente acostumados a se medirem pelas suas aparências, sempre viam nele a pessoa melhor posicionada, fato este que despertava ciúmes mudos em boa parte dos seus “pretensos amigos”, quando não suscitava inveja clara no coração de alguns outros.

Marisa olhava Glauco como quem cobiça algo valioso e, ainda que se mantivesse unida a Marcelo, naquele tipo de união cujo fundamento principal é o interesse físico e a conveniência das aparências, seus olhares sabiam esquadrinhar um bom partido e a possibilidade de realce que tal conquista representava na vida de qualquer mulher.

A própria noiva de Glauco era vista pelas falsas amigas como uma pretensiosa a desfilar pelos lugares ao lado do futuro marido com ares de superioridade, causando mal-estar no íntimo das outras mulheres do grupo, que a viam como uma arrogante e esnobe.

Na verdade, mulheres avaliando mulheres sempre se permitem enveredar pelo caminho espinhoso da desconfiança porque, infelizmente, nos desenvolvimentos sociais e culturais que norteara a evolução feminina até os dias de hoje, elas foram sempre treinadas para não confiarem em nenhuma outra.

Com raras excepções, todas elas padeciam de uma ausência de amigas sinceras, compensando tal solidão essencial com a convivência superficial entre si, quando todas se faziam de muito amigas, mas, no fundo, estavam sempre armadas e fiscalizando-se reciprocamente.

Pouco importava que se tratasse de alguma mulher casada. Para elas, que se conheciam muito bem a si mesmas, bastava que fossem mulheres e o perigo já estaria anunciado.

Dessa mesma forma, Marisa se conduzia, sem que isso viesse a ser notado pelos demais.
A admiração que tinha pela figura de Glauco já ai para mais além do que uma simples condição normal em que alguém observa virtudes de outrem para tentar vivê-las em si mesmo.

No fundo, Marisa se permitia arrastar para esses momentos sociais na expectativa de encontrar o rapaz que ela sentia ser, no fundo, aquele que lhe garantiria a melhor posição no meio das demais.

E isso lhe doía na alma, uma vez que Marcelo, apesar de não ser menos bonito do que Glauco, era dotado de uma menor classe, não possuía o mesmo estilo e o gosto apurado do noivo de Gláucia.

Assim, Marisa sofria, tanto quando o casal não se apresentava nas reuniões festivas do grupo porque, a partir daí, elas deixavam de ser interessantes aos seus desejos, como quando o casal nelas se fazia presente porque, então, tinha que administrar as próprias emoções, tinha que se vigiar constantemente para que seus sentimentos e interesses por Glauco não se tornassem patentes aos olhares inteligentes das outras mulheres do grupo.

Além do mais, enquanto ela se deleitava com a visão do homem cobiçado, tinha que aturar a postura balofa de Gláucia, a noiva, que sempre se esforçava em participar das conversas, falando das rotinas de felicidade que vivia ao lado do companheiro, em viagens, em passeios, em eventos.

Na verdade, Gláucia não era uma mulher fútil como as outras a classificavam.
Apenas, atendendo à curiosidade das pretensas amigas, relatava um pouco de seu quotidiano com o noivo, para que não fosse considerada uma antipática que nada revelada sobre o seu dia-a-dia.

No entanto, quando falava alguma coisa interessante, era sempre interpretada pelas outras infelizes e frustradas, como uma metida, pretensiosa, arrogante e convencida.
Não importava qual fosse a condição, Marisa sempre estava em sofrimento, fosse pela ausência daquele representante viril da estirpe masculina, fosse pela sua presença e pela impossibilidade de lhe desfrutar a companhia íntima, além do fato amargo de ter que suportar a companhia de Gláucia.

Por esse motivo, há algum tempo, a esposa de Marcelo não tirava Glauco do pensamento, sempre procurando induzir o marido a parecer-se com ele, a imitar-lhe o estilo, trazendo seu nome para as conversas íntimas, como quem não deseja nada, mas que, no fundo, está aproveitando-se de uma oportunidade para fustigar o companheiro.

Marcelo não tinha tanta perspicácia para atinar sobre a profundidade desses assuntos ou comentários, levando-os sempre para o lado da provocação de sua vaidade masculina, sem avaliar o que, em realidade, poderia estar acontecendo com a esposa.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:12 am

E como Marisa, no padrão, de formas-pensamentos que criava à sua volta no plano espiritual, demonstrava a sua vulnerabilidade afectiva e o seu desejo de envolver-se mais intimamente com Glauco, esse foi o caminho aproveitado pela acção da espiritualidade inferior para, usando essa inclinação, estimular em sua alma um desejo ainda maior pelo conhecido de fim de semana, como Glauco se apresentava, realmente.

A partir daí, aquilo que era um interesse contido no pensamento de Marisa passou a se tornar uma ideia obsessiva, a descontrolar suas emoções de tal maneira que ela passara a fugir da companhia masculina do próprio marido.

Inúmeras vezes suportara a intimidade com Marcelo somente para fantasiar estar se relacionando com Glauco, o que se tornava um martírio para seu sentimento, ocasião em que deliberou não mais manter um relacionamento íntimo com o esposo até que tal fase passasse.

Além disso, como já explicado no início, usaria essa arma como uma forma de influenciar o marido para que buscasse ser como aquele que atraía seus interesses de mulher.

Se Marcelo se esforçasse em parecer aquele que ela admirava, quem sabe conseguiria transferir o foco de sua admiração para o próprio marido e, assim, as coisas voltariam ao normal, entre eles.

No entanto, ela nada fazia para que tal se desse.
Não policiava seus pensamentos, não melhorava a qualidade de seus sentimentos e, desde o fatídico sonho excitante, outra coisa não fazia do que cultivar a emoção que nele vivenciara, esperando torná-la realidade a qualquer preço.

Não buscara combater em si própria as ideias nocivas, nem afastara de seus pensamentos tal tipo de sugestão subliminar, tentando realçar as qualidades do próprio esposo, procurando valorizar-lhe a figura pessoal, desenvolvendo olhos generosos para seus esforços, para suas virtudes de companheiro de todas as horas.

Afinal, já estavam juntos há alguns anos e, até então, suas vidas sempre tiveram o selo do prazer comum, das aventuras arrojadas em busca das emoções exóticas, das viagens de exploração, das férias interessantes em lugares novos e diferentes.

E era graças a Marcelo que ela, sem precisar trabalhar, podia levar uma vida de tranquilidade e facilidade, vida essa que não estava sabendo aproveitar em coisas úteis e em oportunidades de aprendizagem.

Marcelo passara a ser, na verdade, um estorvo em sua existência, quando comparado ao novo príncipe de suas ilusões femininas.
Sua voz era irritante, seus modos à mesa eram desleixados, suas expressões não tinham o brilho das que Glauco usava, sua conversa era sempre banal e seus comentários pouco profundos a respeito de todas as coisas.

Por causa de Glauco, Marisa passara a adoptar outras rotinas que ela sabia serem apreciadas por ele.
Passara a cuidar mais do cabelo, já que Glauco parecia gostar de mulheres com cabelo liso e comprido.

Começara a preocupar-se com a cor de sua pele, naturalmente branca, observando que Gláucia trazia sua tez sempre amorenada pelo sol, o que impunha que ela seguisse esse mesmo padrão para conseguir atrair a atenção do rapaz.

— Ele ainda é só noivo.
Se com homens casados as coisas podem voltar para trás, que dizer com aquele que ainda não se enforcou definitivamente...!? — falava Marisa consigo mesma, justificando seus esforços de conquistar os olhares de Glauco para o seu lado, sem se lembrar de que ela mesma era comprometida com Marcelo.

Assim, Marisa passara a alterar seus hábitos, dedicando-se a sessões de bronzeamento artificial, desculpando-se perante o esposo, alegando ter-se cansado daquela cor de doente e que a moda, agora, era apresentar-se mais morena.

Ao mesmo tempo, passara a frequentar o clube, buscando as horas de sol natural para reforçar a cor bronzeada, realçando as marcas das peças usadas na piscina, melhorando o seu visual.
Não desprezou algumas sessões de ginástica com as quais procurava dar um tónus muscular melhor às suas já insinuantes formas.

Mais algumas sessões no cabeleireiro e, segundo os seus interesses ocultos, ela estaria em condições de lutar por aquele rapaz interessante e que, até aqueles dias, jamais a havia tratado com qualquer deferência ou privilégio.

Glauco sempre se mantivera à distância tanto dela quanto de qualquer outra, procurando sempre realçar a sua ligação com Gláucia e o seu estado de aparente felicidade.

Isso era uma punhalada não somente no coração de Marisa, mas no de algumas outras mulheres do grupo que, observando o seu carácter de fidelidade e alegria ao lado da noiva, ainda mais se indispunham, comparando-os com os relacionamentos vazios e mentirosos que mantinham com os próprios maridos ou namorados.

A felicidade de outros é sempre um espinho amargo na goela daqueles que são incompetentes para construírem a própria felicidade.

— Duvido que eles sejam tão felizes como parecem ser nos barzinhos da vida — falava Marisa para si mesma, querendo acreditar que, naquela fortaleza de entendimentos, devia haver alguma brecha de insatisfação que poderia ser explorada por ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:50 am

E quando a conversa íntima entre as mulheres enveredava pelo assunto Gláucia/Glauco, havia sempre um grupinho que comungava das mesmas ideias, imaginando que o casal interpretava muito bem o papel de pombinhos apaixonados.

Não faltava aquela que dizia ter notado um certo ar de enfado no olhar de Glauco ou que presenciara uma expressão de reprovação em seu rosto diante de algum comentário de Gláucia.

Esse tipo de conversa alimentava em Marisa a empolgação na conquista.
Depois de algumas semanas, ela já trabalhava com a possibilidade concreta de traçar uma estratégia para envolver o rapaz nas teias da sedução.

Isso pedia a transformação de sua aparência, adoptando algumas que Gláucia apresentava e que pareciam contar com a aprovação de Glauco, além de passar a exibir partes do corpo que, segundo as tácticas femininas, seriam atractivos para os olhares masculinos, mas fazendo-os de forma especial que mesclasse a discrição com a ousadia.

E se Glauco se inclinasse a seu favor, Marisa já não se importava com a relação que mantinha com Marcelo e, ainda que o mesmo conseguisse todas as melhorias profissionais que o equiparassem ao noivo de Gláucia, isso não impediria que ela o deixasse para estabelecer seu idílico romance com o novo pretendido.

Ao estabelecer esse plano, parece que uma nova vida tomou conta da monótona rotina de Marisa.

Uma emoção diferente acordava com ela todas as manhãs porque poderia ter mais um dia no esforço de aproximar-se do objecto de seu desejo.
Enquanto Marcelo estava em casa, ela se sentia incomodada, mas assim que ele saía para o trabalho, podia dar vazão a toda a paixão que ia crescendo em seu interior.
Colocava músicas românticas no ambiente e dançava sozinha, imaginando-se abraçada a Glauco.

Depois de algum tempo em que seus pensamentos se viam estimulados ainda mais pela presença das entidades inferiores, que aproveitavam essa aceleração sem freios das emoções da jovem;
ela passara a desejar intensamente que Marcelo se envolvesse com outra mulher porque, assim, tudo estaria facilitado para livrar-se dele.

— Quem sabe, sem dar vazão aos seus impulsos masculinos, ele não acaba procurando alguma outra mulher por aí e permita, assim, que eu fique livre para seguir por onde mais quero.
Vou procurar me manter fria para que ele, alucinado, como sempre foi, se sinta empurrado para satisfazer-se com alguma outra e, tão logo eu descubra, rompo o relacionamento alegando todas as razões do mundo, por ter sido traída.

Afinal, mulher naquele escritório é o que não falta.

Marisa sabia que suas atitudes podiam desequilibrar o interesse do marido, colocando-o, vulnerável, em contacto com as outras mulheres que ela conhecia lá no escritório e que, como fêmeas num mundo cão, facilmente poderiam aproveitar-se do homem carente e dar início ao envolvimento ilícito.

Como esposa, então, passaria a fiscalizar as atitudes de Marcelo, como quem não quer nada e sem que ele percebesse, de forma que, em qualquer situação, suspeita, pudesse encontrar motivos para alegar traição e livrar-se de sua companhia, sem perder a aparente razão.

Enquanto isso, seguiria com suas estratégias de conquista em relação a Glauco que exigiam, além das modificações naturais de sua aparência, uma pesquisa detalhada sobre os interesses, hábitos, gostos e usos a respeito de Gláucia, a noiva.

Precisaria saber quem era ela, onde morava, quem eram seus pais, quais eram seus hábitos, como ela pensava.
Essa necessidade impunha uma certa aproximação para que, conhecendo melhor o terreno onde iria combater, soubesse que armas escolher para a luta de conquista contra a sua principal inimiga.

Depois de estabelecer este projecto, deliberou então que precisaria aproximar-se de Gláucia, procurando trocar ideias, pedir conselhos e estabelecer uma forma mais íntima de convivência, o que poderia,, inclusive, facilitar a aproximação com o próprio Glauco, bem como conhecer seus hábitos e gostos para inserir tudo isso em sua estratégia.

Por isso, no final de semana que teria pela frente, havia combinado com Gláucia um encontro em um Shopping da cidade para conversarem, alegando a necessidade de desabafar e pedir conselhos para a relação pessoal difícil que estava tendo com Marcelo.

Precisava pretextar alguma motivação mais grave a fim de que a jovem interlocutora não se esquivasse do convite.
Por isso, ao telefone, afirmava Marisa e Gláucia.

— Sabe, Gláucia, eu admiro muito a relação equilibrada que você e seu noivo mantêm e isso me faz pensar quer sua opinião é a mais harmoniosa que eu poderia obter, quando está em questão o rumo de meu casamento.

— Nossa, Marisa, você e Marcelo sempre me pareceram estar tão bem...! — exclamou Gláucia.
— Isso para você ver como as coisas são tão superficiais.
Estou entrando em desespero e não sei como proceder.
Por isso, gostaria de conversar com alguém que pudesse me ajudar, escutando, opinando, orientando com conselhos para que, se o erro estiver em mim, eu o possa corrigir e manter meu casamento, já que não desejo me separar.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:51 am

— Mas as coisas já estão nesse pé?
— Olha, Gláucia, estão indo nessa direcção.
Eu já nem mantenho mais intimidade com ele porque desconfio de certas coisas que esteja fazendo.
Não tenho provas concretas, mas... você sabe como somos nós, as mulheres...

Uma conversa torta aqui, um telefonema ali, um atraso mais além, um nome de mulher no meio do assunto... aí você vai juntando as coisas e o quadro fica mais ou menos perigoso.
Por isso, preciso contar as coisas para alguém que saiba me escutar e que, por experiência própria, possa me dizer se estou certa em desconfiar ou se tudo não passa de uma loucura de minha parte.

Às vezes fico perturbada... não sei o que pensar.
E antes que enlouqueça ou faça alguma bobagem, preciso falar com alguém.

Vendo o drama aparentemente real que a esposa de Marcelo lhe apresentava ao telefone, Gláucia se viu convocada a prestar solidariedade fraterna àquela que lhe parecia mais uma esposa feliz, na manifestação das aparências de um mundo ilusório, mas que, em verdade, se lhe revelava desesperadamente perdida, em busca de uma resolução para seus problemas afectivos.

Como isso não iria lhe custar nada, Gláucia aceitou o convite e, então, marcaram um encontro naquele final de semana para que Marisa desabafasse.
Seria a primeira vez que as duas se veriam sozinhas, em uma conversa mais demorada, através da qual, Marisa estudaria o terreno e conheceria melhor a forma de pensar de Gláucia.

E nada melhor para isso do que se fazer de necessitada de conselhos, inventando mentiras e invertendo a história verdadeira, uma vez que a jovem noiva de Glauco jamais iria saber da realidade por não possuir nenhuma intimidade com Marcelo e porque Marisa solicitaria sigilo absoluto daquela conversa para que o próprio Glauco não acabasse prejudicando a solução daqueles problemas pessoais.

Sua saída de casa não despertaria suspeitas em Marcelo que, efectivamente, já estava acostumado a deixar a mulher passear pelos Shoppings da cidade, naquela distracção tão comum à maioria das pessoas.

Em realidade, a ausência de Marisa do lar representava para Marcelo um verdadeiro alívio, agora que, com a sua aproximação de Camila e seus contactos diários com a jovem beldade do escritório, ele mesmo já não se sentia atraído pela companhia da esposa, encontrando, na colega de profissão, o reconhecimento e a valorização que a própria mulher passara a lhe negar.

O final de semana, então, seria de devaneios afectivos para o marido e de exploração estratégica para a esposa, ambos trabalhando em sentido diverso da própria união que adoptaram, um dia, como o caminho comum para a felicidade.

Por trás de ambos estavam entidades vinculadas ao Departamento, estimulando, em Marcelo e em Marisa, os sonhos e as construções espúrias de um sentimento infiel, afastados da conversa franca e honesta de um para com outro que, uma vez acontecendo, poderia evitar para os dois as dores e dissabores que fatalmente lhes estariam reservados para o futuro.

Enquanto isso, o chefe e Juvenal se deleitavam com as emoções animalizantes que dividiam ao lado de Sílvia, retirada do corpo e levada, em Espírito, às reuniões lascivas e licenciosas nas quais, envolvidas por ambos que, se fazendo parecer com Marcelo, despertavam na mulher as emoções mais aviltantes e os desejos mal controlados, em uma noitada de desajustes que não nos convém detalhar para que as imagens inferiores não se multipliquem na mente dos leitores.

O que nos convém realçar, entretanto, é o fato de que, durante o repouso físico, nossos Espíritos procuram ou são levados aos ambientes com os quais se mantenham afinizados, junto de entidades que comungam das mesmas inclinações e desejos.

Se somos dotados de sentimentos nobres, buscaremos ou seremos levados a lugares tais.
Se somos envolvidos por sentimentos inferiores, encontraremos os lugares igualmente inferiorizados que nos recebem como convidados e nos quais teremos sempre a companhia adequada ao que buscamos.

E não faltam, nas regiões astrais, nas dimensões espirituais que renteiam a superfície da Terra, os ambientes degenerados nos quais os Espíritos de igual teor se permitem as mesmas emoções baixas dos mais baixos níveis da animalidade irracional.

Tanto quanto a Terra está povoada de lugares conhecidos como boates ou “inferninhos”, nome sugestivo que se refere ao tipo de vibrações ali desenvolvidas, o ambiente que lhe é imediatamente sucessivo na dimensão fluídica do mundo invisível também guarda extrema similaridade aos mais inferiores ideais do ser humano, não faltando, também, as correspondentes boates e “inferninhos”, sempre visitados por criaturas ainda mais degeneradas do que aquelas que frequentam tais lugares na Terra.

Nos ambientes da dimensão vibratória inferior, as almas que para lá são atraídas ou que os buscam como exercício do prazer viciado, se apresentam conforme o estado de desequilíbrio mental e emocional, o que as transforma, muitas vezes, em seres grotescos e deformados, exalando atmosfera pestilenta que produziria sensações de repulsa no mais vicioso dos frequentadores encarnados desse tipo de diversão nas noites da Terra.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:51 am

Boa parte das entidades, no entanto, vivendo na atmosfera mental que lhes é própria, cristalizada nas formas-pensamento com as quais se vê a si mesma, não se incomoda com os que lhe são circunstantes, uma vez que se trata de seres hipnotizados pelos vícios, sendo-lhes suficiente a imagem mental que fazem, muitos deles incapazes de se verem na expressão real de suas formas degeneradas.

Ficam no mesmo ambiente e, às vezes, sequer se percebem ou se enxergam, buscando fixarem-se apenas na companhia daquele ente que levaram consigo até ali para os momentos de envolvimento íntimo e licenciosidade, os homens e mulheres encarnados que se acham projectados no mundo espiritual por causa do sono físico.

E nesses ambientes permissivos, desenvolvem-se os processos de hipnose viciosa, de interferência na vontade, de desenvolvimento de tendências sexuais conflituantes, de desajustamentos íntimos, de quedas morais, de traições afectivas, sempre tendo como motivação, a prática da sexualidade promíscua, a infelicidade afectiva, a carência, a cobiça, a sensualidade dos pensamentos, a vaidade, com a finalidade da simples aventura ou visando a produção das reacções estranhas quando o encarnado regresse ao corpo carnal, ao amanhecer de um novo dia.

Esse era o objectivo da dupla de entidades inferiores que se envolviam com a antiga companheira de orgias espirituais, apresentando-se a ela na aparência de Marcelo para que, ao regressar ao corpo carnal, em seu inconsciente, a imagem do rapaz, companheiro de escritório, ressaltasse às suas emoções de mulher como uma potencial fonte de interesse e desejos.

Se cada um dos leitores tivesse ideia do que pode lhes acontecer durante uma noite de sono mal preparada, a maioria certamente se recusaria a dormir, preferindo levar uma vida de zumbis, a arriscar-se nas aventuras assustadoras quando o padrão de pensamento e sentimentos de nosso Espírito se sintoniza com as baixas camadas vibratórias do mundo.

Estas notícias têm a finalidade de informar que, se cada um desejar outro tipo de ambiente, bastará acessar os mecanismos internos de uma vida elevada, vivenciada nas vinte e quatro horas de cada dia e, certamente, outra será a receptividade que cada um de nós terá ao despertarmos espiritualmente do lado de lá, durante o sono físico.

Saber disciplinar-se é o grande segredo para melhor viver todas as experiências da vida.

Conhecer as leis do Espírito representa a sábia escolha para aqueles que não queiram se assustar com a surpresa estarrecedora que terão ao abrirem os olhos do Espírito e terem que gritar, assustados:
— COMO É QUE EU VIM PARAR AQUI?
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:51 am

9 - O ENCONTRO DA ASTÚCIA COM A INOCÊNCIA

No local e hora marcados, encontraram-se Gláucia e Marisa, como haviam combinado, de maneira que, durante algum tempo poderiam, se entender sem serem molestadas por companhias indesejáveis.

Cumprimentaram-se de maneira costumeira e, tendo escolhido um recanto mais isolado, puderam se posicionar para o início da conversa, conforme a esposa de Marcelo havia solicitado.

— Ah! Gláucia, nem sei por onde começar — expressou-se Marisa, desejando imprimir um tom trágico de sofrimento ao seu discurso.
— Vamos, Marisa, comece por onde quiser que eu saberei escutar... — respondeu a amiga que nem de longe imaginava que aquilo se tratava, na verdade, de uma situação simulada pra que sua vida pessoal e as rotinas de sua relação com Glauco acabassem no conhecimento de Marisa.

— Bem, Gláucia, primeiramente gostaria de agradecer pela sua compreensão em me escutar porque, nos dias de hoje, é muito difícil a gente poder contar com alguém que tenha tempo para perder compartilhando connosco nossas dificuldades.
Mas se não fosse você, que nos conhece já há um bom tempo, não saberia a quem recorrer, já que não vejo em mais ninguém as qualidades de equilíbrio e maturidade que percebo em você e Glauco.

— Não é bem assim, Marisa. Nós somos pessoas comuns, sem nada de especial.
— Pode parecer assim para muita gente, mas sempre observei como é que vocês se dão tão bem, como estão sempre felizes e se tratam com carinho, coisa que é tão rara mesmo naqueles casais nossos amigos que se relacionam há mais tempo.

— Isso é verdade, Marisa — respondeu Gláucia, sorridente e feliz.
Nós nos damos muito bem e acho que poucos que conhecemos se entendem tanto quanto nós.
— Então, foi por isso que pedi a sua ajuda para me aconselhar.
— Pois então, fale sobre o que a esteja incomodando, Marisa.

E, a partir daí, a esposa de Marcelo passou a relatar que seu marido estava diferente em relação a ela, adoptando uma postura de distanciamento, dizendo que já não mais a procurava intimamente, o que a fazia desconfiar da existência de uma outra mulher.

Com a mentalidade criativa que a má intenção sabe estimular na mente dos que se conduzem pelas trilhas tortuosas da intriga, alimentada pela companhia das entidades ignorantes que a assessoravam a mando do Departamento, Marisa alinhavou uma série de factos que, aos olhares de qualquer pessoa mais desavisada, poderiam produzir a nítida impressão de que o marido se conduzia por caminhos suspeitos.

Falou de telefones de mulheres, do assédio de algumas amigas do escritório que ela sempre considerou perigosas para a estabilidade de seu casamento, entre outros detalhes.
Em momento algum referiu-se à sua posição de afastamento deliberado, nem ao seu relacionamento aberto e sem policiamentos.

Invertendo todas as notícias, atribuiu apenas ao marido a responsabilidade da modificação da rotina familiar.
Gláucia escutava e, ao mesmo tempo em que se sentia surpresa, no íntimo, com aquela conduta de Marcelo, procurava manter uma postura exterior de serenidade para que nenhuma reacção física de sua parte viesse a ser interpretada como um pré-julgamento ou uma aceitação da suspeita de Marisa.

— Você não acha — dizia Gláucia — que o tipo de actividade profissional que Marcelo possui permite ou impõe que tenha um contacto com mulheres tanto quanto com homens?
Afinal, existem clientes do sexo feminino, sem falarmos das colegas de escritório, com as quais Marcelo precisa se relacionar profissionalmente.
Isso é normal nas actividades das pessoas que trabalham na área jurídica, na área empresarial, na área médica, entre outras.

— Sim, Gláucia — respondeu Marisa, desejando parecer maleável nas observações.
Eu também procuro pensar por esse lado.
No entanto isso seria aceitável se ele ainda se interessasse por mim, se me procurasse como antes.
Mas, desde que está se afastando sem uma explicação, eu fico perdida e passo a pensar em todas as hipóteses possíveis.

Você não faria a mesma coisa se fosse com você?

A pergunta soou como um convite a que Gláucia pudesse revelar sua forma de proceder em relação ao noivo, entrando no verdadeiro assunto que era de interesse de Marisa.

No entanto, a amiga, parecendo não entender o seu desejo, respondeu, perguntando:
— Você já conversou com Marcelo a respeito?
Já esteve em seu escritório para conhecer suas amigas e se apresentar como sua esposa?

— Bem, Gláucia — falou Marisa, disfarçando a irritação por não ter conseguido meter-se no assunto almejado — eu não tenho muito tempo para conversar com ele e, na verdade, nem há muito assunto a ser de interesse comum.
Ele sempre chega cansado, quando não chega tarde demais e me encontra dormindo.
Muitas vezes, quando chega, eu não estou em casa. Isso torna difícil nosso entendimento.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:51 am

Além disso, as poucas vezes em que tentei tocar no assunto, ele foi hostil e evasivo, negando qualquer situação estranha e dizendo que eu estava ficando louca por não ter nada pra fazer o dia inteiro.
Que ficava pensando bobagens por ter a mente vazia.

— E o escritório, você já foi até lá?
Se deu a conhecer às outras pessoas que trabalham com ele?
— Para dizer a verdade, eu estive por lá uma única vez há muito tempo.

Algumas das pessoas que estão hoje nem estavam ainda.
Foi logo no começo, quando o Dr. Josué, muito doente, apresentou Marcelo aos outros dois sócios para que pudesse ficar no escritório para cuidar dos casos que ele já não podia acompanhar por causa da enfermidade que, por fim, acabou por levá-lo à morte.
Aliás, Gláucia, senti uma coisa tão ruim lá dentro que jurei a mim mesma nunca mais colocar meus pés naquele lugar.

E pretendendo dar mais espaço às confissões da esposa de Marcelo, Gláucia perguntou:
— Como assim?
Fizeram alguma coisa para você?

— Não, directamente nada.
No entanto, desde esse tempo pude perceber que aquele lugar devia ter uma atmosfera negativa.... sei lá.
Os três sócios principais pareciam três águia prontas para se entredevorarem, apesar de se tratarem com cordialidade e respeito.
Nenhuma palavra era dita sem uma intenção liberada e, cada exclamação admirativa trazia por detrás uma segunda intenção.

— Coisa de advogado, minha filha... — comentou Gláucia.
— É, mais parecia coisa do demónio...
— Tão grave assim?

— Parece. Afinal, o lugar é muito sumptuoso, há muito dinheiro correndo por ali, muita gente influente que passa, políticos, empresários, gente perigosa e poderosa e, você sabe, onde existe muito dinheiro, sempre há muita sujeira.
São todos mais senhores do que rapazes, mas, pelo pouco tempo que ali estive, pude sentir seus olhares me despindo como se eu fosse um pedaço de carne exposto à apreciação.
Fiquei muito mal.

No entanto, evitei comentar com Marcelo para que ele não se deixasse impressionar por isso, mas, ao contrário, aceitasse o trabalho que representava um salto em sua carreira de advogado.

Somente o Dr. Josué me pareceu menos perigoso, certamente por causa da doença avançada que o consumia.
No entanto, pude sentir que entre os três havia muita divergência e pouca confiança.

Tanto que, logo depois que Josué morreu, seus clientes passaram para a responsabilidade dos outros dois principais proprietários do escritório e Marcelo acabou convidado por Alberto a permanecer em sua equipe, na qual acabaram, depois, se incorporando as outras advogadas a que eu me referi.

Dentre elas, só conheci a mais velha, Sílvia, que já era casada e me pareceu uma mulher normal, sem nada de diferente de qualquer outra.
Tratou-me muito bem nos poucos instantes em que pude estar com ela, em uma festa de um conhecido de meu marido, à qual compareci acompanhando-o.
As outras duas eu não conheço nem elas me conhecem e Marcelo sempre procurou evitar tocar em seus nomes para não me provocar ciúmes.

— Mas você, Marisa, é uma mulher bonita, atraente, com qualidade que não são facilmente encontradas em mulheres por aí. Confie em você mesma e não se deixe levar por fantasmas ou suspeitas que podem não ser verdadeiras.

Além do mais, há períodos na vida das pessoas durante os quais os interesses físicos se tornam menos activos, sem que isso corresponda a uma diminuição do afecto.
Seja você aquela que se mantém como amiga de Marcelo, conversando sobre as coisas normais da vida, não o intimidando com interrogatórios ou suspeitas, fazendo-o se sentir querido nestes momentos difíceis para que, se ele estiver realmente envolvido com alguém ou com o desejo de se envolver, o seu modo de proceder mais ameno, agradável, suave, possa actuar a seu próprio benefício, fazendo-o se sentir seguro ao seu lado e sem nada que o empurre para o passo errado nem, o estimule a uma conduta da qual ele sabe que pode se arrepender.

— Entendo...
— Sempre que as mulheres se colocam a disputar o mesmo homem, aquelas que são mais novas na relação levam, inicialmente, uma grande vantagem porque produzem estímulos diferentes na psique masculina.
No entanto, os homens que se acham comprometidos com um relacionamento anterior se sentem inseguros em modificarem sua situação, colocando em risco a segurança do que já conhecem, quando a antiga companheira se mostre segura de seu carinho, amiga e compreensiva com as fraquezas do outro, sem fazer pressão ou criar situações de desgaste.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:51 am

Aí está a grande vantagem do relacionamento antigo diante daquele que parece novidade.
Se vocês tinham um bom entendimento físico antes, se você continua sendo uma pessoa atraente, se nada mudou na estrutura material da vida a dois, a se considerar que Marcelo possa estar realmente tendo um envolvimento externo, esteja certa de que, a euforia da novidade acaba perdendo para a segurança da união já estabelecida, principalmente se a antiga companheira sabe entender esse momento difícil pelo qual ele possa estar passando e, ao invés de vê-lo como seu homem, entenda-o como seu filho, em um processo de crise afectiva.

— Mas essa é a teoria da “Amélia”, Gláucia.
Aguenta tudo calada e se faz de morta para não perder o marido...
— Algumas pessoas interpretam as coisas por esse lado, Marisa, mas eu acho que, de uma forma ou de outra, todos nós precisamos aprender a ter certa dose de tolerância com os nossos próprios equívocos.

E, como não somos infalíveis, também admiramos a paciência que outras pessoas possam ter a respeito de nossos erros, dando-nos oportunidades de nos corrigirmos e retomarmos o caminho correto.

A expressão “Amélia”, não pode ser a vulgarização da inércia amedrontada perante a solidão.
Pode significar a mulher sem vontade própria, capacho do companheiro, afectivamente dependente dele para tudo.
Não é isso, no entanto, o que estou dizendo a você.

— Como é que é, então? — perguntou Marisa confundida, na sua superficialidade de sempre.
— É uma postura activa, corajosa, de iniciativa no bem, sobretudo como forma de auxiliar o companheiro a vencer a dificuldade que esteja enfrentando.
É não hostilizá-lo no momento da dificuldade ou da dúvida e, ao contrário, procurar deixar caminhos abertos para o entendimento sincero, mesmo que isso possa significar a atitude madura de deixá-lo livre para viver a aventura que esteja desejando viver.

Poucos homens resistem a uma postura sábia da antiga companheira que, longe de temer perdê-lo para uma mais jovenzinha, coloca as coisas neste ponto, dando-lhe liberdade para assumir o novo relacionamento a fim de que, se isso o faz feliz, ele se permita buscar a tão sonhada felicidade.

A mulher que se posiciona com tal decência, que não se esconde atrás do silêncio das portas para chorar suas mágoas e, depois, fingir que tudo está bem como sempre esteve, demonstra ao seu companheiro uma tal capacidade de administrar-se e uma tal força, que isso causa um impacto positivo na estrutura do homem, sempre esperando uma mulher chorosa, tempestuosa, ameaçadora, escandalosa ou quase suicida.

Todas as vezes que as mulheres se permitem esse comportamento desesperado, demonstram que não valem os esforços dos seus companheiros para manterem o relacionamento que tinham com elas.

Afiguram-se a crianças mimadas, chorosas, chantagistas, que desejam valer-se de truques e sortilégios para manter seus homens.
Isso as diminui diante dos olhares masculinos, que passam a ter certeza de que elas são mais um estorvo ou uma pedra no sapato, do que uma mulher forte e segura que eles admiram.

Essa força e segurança, geralmente, é característica da amante ou da pretendente que, com seu discurso compreensivo, deixa o homem à vontade para decidir o momento certo em que vai romper o relacionamento antigo para ficar com a novidade.

E, assim, a esposa acaba empurrando o marido inseguro e criança para os braços da outra que, no fundo, não é em nada diferente dela própria.
Só está sabendo jogar com as armas que possui, usando sensualidade e astúcia para semear no objecto de sua conquista os valores que a esposa já devia ter semeado desde já muito tempo.

Todas as vezes que a esposa recusa essa figura da “Amélia” tradicional, e passa a actuar como alguém que tem segurança em si mesma, que não se deixa iludir por fingimentos, que conversa com franqueza e deixa o companheiro perceber que ela está interessada na sua verdadeira felicidade, ainda que seja com outra pessoa, isso causa, como já disse, um forte impacto no Espírito masculino que, em momento algum está esperando tal reacção por parte dela.

E, mais do que isso, o homem razoavelmente esclarecido saberá que poucas mulheres terão tal autoconfiança que lhes permita agir dessa forma, o que se transforma em um ponto favorável na avaliação do cenário por parte dele, a fim de que as dúvidas e incertezas produzidas pela expectativa da aventura nova se dissipem ao Sol forte e firme da conduta da antiga companheira, capacitada para obter dele a avaliação justa a respeito de suas virtudes e valores.

Se o marido resolve, mesmo assim, viver a aventura, poderá fazê-lo às claras, não mais na clandestinidade que, por si só, traz consigo um ingrediente estimulante e atraente.
Quando o que era proibido e sigiloso passa a ser permitido e público, tudo perde um pouco a emoção e o relacionamento espúrio passa a ser um outro relacionamento normal, sujeito aos mesmos problemas de um casamento tradicional.

Já não há inimigos a vencer, coisas a esconder, cumplicidade a ser mantida no clima da batalha secreta que une ambos contra o inimigo comum: a esposa enganada.
Como a esposa já se posicionou liberando o marido para que siga seu caminho, tanto ele quanto a nova companhia estarão presos, agora, um ao outro, tendo que administrar os mesmos problemas que o casal que se desfaz, provavelmente, já tinha equacionado há muito tempo no relacionamento antigo.

Agora, se o homem estava apenas envolvido pela emoção nova produzida pela ardente experiência, a postura adulta de sua esposa produzirá nele um choque de tal natureza que será capaz de reconduzi-lo à consciência de si próprio, lembrando-lhe que será muito difícil que a amante possua a nobreza que a própria esposa está demonstrando ao lhe permitir, sem escândalos, viver a aventura da maneira como lhe pareça boa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:52 am

Enquanto Gláucia falava, Marisa ia ficando de boca aberta, admirando a maneira firme e sincera com que a jovem exteriorizava esses conceitos que, em seu mundo íntimo, se apresentavam totalmente novos e algo absurdos.

No entanto, de uma absurdidade lógica insofismável.
Ela mesma, astuta com sempre se considerara, jamais havia imaginado uma avaliação tão exacta quanto às reacções humanas ao contacto com uma dificuldade afectiva daquela natureza.

Ao mesmo tempo em que se perdia em cogitações filosóficas que eram muito profundas para a sua cabecinha oca, passava a observar Gláucia como uma adversária perigosa, no trato com as coisas do afecto, porquanto sabia que, se tudo aquilo que ela estava dizendo fosse algo que ela própria vivenciasse, suas chances com Glauco estavam muito reduzidas, já que concordava plenamente com os conceitos que a jovem à sua frente lhe havia apresentado naqueles poucos minutos de conversa.

Nenhum homem é capaz de trocar uma mulher segura e amiga incondicional por uma aventura arrojada que pode se revelar um grande problema logo mais adiante.

Mesmo quando a sexualidade interfira na opção inicial, fazendo com que alguns homens imaturos busquem aventuras com “corpos femininos” para saciarem suas dependências psicológicas, ao se depararem com as “almas femininas”, exigentes, caprichosas, ciumentas, mesquinhas, escondidas dentro dos corpos torneados;
esses mesmos homens começam a observar que, em geral, essas “novidades” acabam muito piores do que as antigas companheiras, que os deixaram livres para que quebrassem a cara nas aventuras físicas.

Marisa, como mulher, tinha tais ideias intuitivamente gravadas em seu íntimo, mas jamais imaginou que encontrasse alguém que as defendesse de forma tão clara e convicta, como acontecia à Gláucia.

Aproveitando um instante na eloquência desta, Marisa arriscou perguntar:
— Essa é uma teoria muito bonita, Gláucia,, mas eu duvido que alguma mulher a siga.
No fundo, todas fazemos as mesmas coisas sempre, buscando demolir o traidor com a volúpia de um tractor, para vê-lo despedaçado. Você não acha?

— Acho que é essa a escolha que a maioria tem adoptado porque não tem segurança no próprio afecto que diz nutrir pelo companheiro.
Quando a pessoa ama de verdade, sua preocupação com a felicidade do outro vem em primeiro lugar e isso inclui, inclusive, essa capacidade de renunciar para que o outro ou a outra possa procurar a sua felicidade pessoal.

Preferimos, Marisa, nos transformar em gaiolas douradas, cheias de riquezas ou tesouros, mas que se mantenham fechadas ao redor daqueles a quem nos devotamos.

Cada uma das barras desta jaula nós a construímos com um dos serviços que lhes prestamos.
Assim, transformamos nossas concessões sexuais em algumas partes da jaula.
Convertemos a roupa que lavamos, a comida que cozinhamos, os filhos que criamos em outras tantas barras dessa gaiola.

Usamos o dinheiro que ganhamos, as dívidas que fazemos, os ciúmes que demonstramos, os trejeitos físicos como outras fontes de aprisionamento, mas, em momento algum, aceitamos que os nossos companheiros ou companheiras devem ser livres para voar para onde quiserem.

Enquanto não formos assim, jamais teremos certeza de que estão connosco por aquilo que representamos em suas vidas e não porque estão suficientemente amarrados a nós, sem poderem escolher ou sem terem coragem de arriscar coisa diferente.

Quando alguém não é livre para partir, a sua permanência não indica alegria por estar do nosso lado.
Somente quando as portas da gaiola estão abertas é que podemos admirar a fidelidade daquele que está ao nosso lado, que mesmo podendo partir, continua ali por nos amar e por nos querer verdadeiramente.

É por falta desse sentimento real que a maioria das mulheres se permite essa estratégia de agir para amarrar com suas teias pegajosas, nas disputas umas com as outras, aqueles que consideram o seu património e sobre o qual devem exercer uma vigilância canina e cruel.

De qualquer forma, poucas delas conseguem desfrutar de uma felicidade real ao lado da pessoa que dizem amar.
Prender alguém, por mais dourados que sejam os laços ou as correntes, não deixa de ser uma prova de desamor.

E ainda que conseguíssemos passar por cima do companheiro e sua nova companhia, destruindo a felicidade de ambos, arrasando-os para sempre, isso não nos faria felizes por recuperar o ser amado de nosso coração.

Seria apenas, como tem sido sempre, a expressão de nossa animalidade que não suporta perder uma disputa.
Isso tudo é fruto do nosso orgulho e não do amor que dizíamos ter por aquele ou aquela que nos trocou por outra companhia.

Eu digo sempre ao Glauco que tenho tanto amor por ele que, se acontecer de encontrar alguém que o faça mais feliz do que eu esteja fazendo, está autorizado a me deixar e seguir com essa pessoa para construir sua felicidade ao lado dela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:52 am

Espantada com a frase que parecia ser sincera, Marisa comento entre os dentes:
— Não acredito que você fale isso para ele....
— Falo sempre e não em tom de ameaça.
Falo, antes de tudo, como uma amiga que quer a sua felicidade verdadeira e que será mais feliz em vê-lo bem com outra do que vê-lo triste na minha companhia.
Não suportaria uma vida ao lado de alguém que tivesse que me abraçar, me acariciar, de maneira forçada ou artificial.

Diante das palavras de Gláucia, Marisa não sabia o que dizer.
Seus pensamentos não tinham um rumo certo para seguirem adiante ou retroceder.
Ela mesma já não sabia o que falar para que a conversa voltasse ao tom original.

Pensara em levar Gláucia a revelar parte de sua intimidade e, em realidade, passara a perceber não apenas as virtudes reais da oponente, mas sim, como haveria de ser difícil a luta para conquistar-lhe o noivo.

A noiva de Glauco parecia tocada por uma força espiritual que lhe produzia uma torrente de ensinamentos elevados aos ouvidos de Marisa, pouco acostumados a esse tipo de conceitos por ter se conduzido, durante toda a vida, pelos caminhos vulgares da maioria das pessoas, pouco aprofundadas em sentimentos verdadeiros, repetindo sempre as antigas reacções do orgulho ferido em busca de vingança.

E como Gláucia era uma jovem esclarecida no sentido das questões espirituais, aproveitou a oportunidade em que Marisa se queixava das modificações de comportamento de Marcelo para informar-lhe sobre tais realidades também.

Aproveitando o silêncio da outra, Gláucia continuou, dizendo:
— E isso, Marisa, sem falar nas influências externas e invisíveis que nos fazem mudar de comportamento sem explicações.

Marisa ainda estava tão absorta nas palavras revolucionárias que haviam caído no íntimo minutos antes, que não entendera a amplitude das novas revelações.

— Co... como é... como é que é, Gláucia?
Que negócio é esse de influências externas invisíveis?
Micróbios voadores podem estar fazendo Marcelo mudar de comportamento?

— Não, Marisa — disse Gláucia, sorrindo diante do despreparo da outra.
Estou falando de influências exteriores e invisíveis, mas não quero dizer micróbios.
Estou falando de Espíritos que nos influenciam, às vezes, de tal maneira, que nós mudamos de comportamento sem nos darmos conta de que nos estamos permitindo tais mudanças.

Endireitando-se na cadeira, Marisa arrepiou-se, exclamando:
— Credo, Gláucia, macumba não é dos meus assuntos predilectos.

Marisa usara essa expressão porque, no passado, já se valera de certos rituais africanos para tentar obter certa classe de vantagens, conhecendo, por isso, as possíveis interferências do mundo invisível sobre o mundo físico.

— Nem dos meus, Marisa.
Não estou falando de macumba, nem de magia, nem de demónios, mais sim, da acção de Espíritos ignorantes que se valem de nossas fraquezas para nos induzirem a condutas que eles também desejam tanto quanto nós.

— Mas isso existe mesmo?
Você sempre me pareceu muito inteligente para acreditar nessas coisas.
— Tudo o que nós não conhecemos nós tememos, minha amiga.
O conhecimento das relações espirituais e da nossa condição de Espíritos imortais nos beneficia muito para que possam agir dentro de certos padrões, que nos defendem a vida pessoal dos ataques das entidades menos esclarecidas, porque nos coloca em sintonia com forças elevadas que vibram em outras dimensões que são inacessíveis aos ataques das sombras.

— Mas como é que isso pode estar actuando sobre nossas vidas pessoais?
Eu sempre fui uma boa pessoa.
Marcelo nunca fez nada de errado, pelo menos que eu saiba.
A gente até vai à missa de vez em quando!

— Sim, Marisa, existem leis que explicam como é que essa influência acontece e isso não depende das nossas aparentes boas intenções, muito menos de quantas vezes fomos nas cerimónias religiosas.
Não existem amuletos que nos defendam de tais influências a não ser nossas próprias vibrações, que mais não são do que a expressão de nossos pensamentos e sentimentos.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:52 am

— Como assim?
— Tudo o que pensamos, o que sentimos, o que falamos e o que fazemos indica a natureza evolutiva de nossa alma.
E se ela está sintonizada com coisas elevadas, emitiremos forças elevadas que atrairão Espíritos amigos para nossa companhia.

Mas se fazemos o contrário, ao longo do nosso dia, nos irritando, pensando coisas más, sentindo coisas inferiores, desejando ou fazendo coisas mesquinhas para os outros, nossas vibrações se mesclam com sombras e com imagens horríveis que sinalizarão nossos desejos e nos facultarão a companhia de entidades igualmente perversas, a nos explorarem as tendências inferiores e produzirem em nós uma estimulação para que aqueles defeitos sigam sendo exteriorizados em nosso comportamento.

Assim acontece com a pessoa que, tendo certa inclinação para a bebida alcoólica, não deseja colocar um controle em seu impulso, dominando sua vontade.

Aos poucos, vai permitindo que alguns sócios invisíveis se acerquem para fazê-lo beber sempre um pouquinho mais.
E como ela imagina que está atendendo apenas ao próprio gosto pela bebida, vai permitindo que as doses aumentem, que uma garrafa suceda à outra, até que a embriaguez a domine por completo e, dessa forma, se torne instrumento fácil de ser conduzido por entidades inferiores.

Alguns se tornam violentos dentro de casa, outros são usados no trânsito para a produção de acidentes que matam outras pessoas;
outros são explorados no vício por adversários invisíveis até que se vejam reduzidos à sarjeta, à mendicância ou à enfermidade.

Tudo isso porque os próprios interessados se permitiram agir pelo rumo da permissividade e da vivência dos próprios desejos que não quiseram ou souberam refrear ou dominar adequadamente.

Dessa forma também se dá com todos os demais vícios, inclusive com as questões da sexualidade, da gula, dos excessos em todas as áreas, na mentira, na fofoca, na violência, desde que isso seja fraqueza de carácter da pessoa invigilante.

Nenhum Espírito terá o poder de obrigar qualquer de nós a nos tornamos aquilo que não queremos, de um dia para a noite, a não ser nos surtos da mediunidade desequilibrada a que se permitem certas pessoas que, sem saber como se controlarem nas influências espirituais que a mediunidade explica, assumem comportamentos estranhos, ainda que transitórios, como se uma outra personalidade tivesse assumido o comando daquele corpo.

Exceptuadas estas questões, em que o transe mediúnico abre espaço na mente da pessoa despreparada a fim de que a influência de uma outra entidade se faça mais activa nos actos e palavras que aquele corpo passa a externar;
a não ser nesse caso, as demais influências sobre os encarnados se manifestam de maneira subtil, primeiramente.

Se os encarnados não as identificam e se permitem viver tais convites, essas influências vão se tornando mais fortes, como uma erva daninha que não foi arrancada assim que brotou no solo fértil.

O encarnado então, via deixando que ela cresça, retornando aos mesmos comportamentos que vão drenando sua vontade de resistir, agora estimulado não apenas por seus gostos, mas, igualmente, pelos gostos de seus sócios invisíveis que o intuem para que repita sempre aquele acto ou consuma aquele produto que, eles próprios — Espíritos sem braços físicos — já não podem mais fazê-lo sem a ajuda dos encarnados.

A erva daninha vai se robustecendo, ficando maior e mais enraizada nas próprias tendências do encarnado, que não suspeita de que já não mais está agindo sozinho.
E na medida em que o tempo passa e as atitudes vão se tornando mais repetitivas, passa a ocorrer algo que se chama de simbiose, uma mistura das vontades entre o encarnado e o Espírito, numa perfeita associação, neste caso para as coisas ruins.

Aí, nesse ponto, o encarnado pode mudar muito de comportamento e não perceberá a que ponto já chegou, sempre achando que são os outros que estão diferentes.
Por isso é que essa questão também não pode ser deixada de lado na abordagem do problema de Marcelo que, de uma forma ou de outra, pode ter permitido que as influências perniciosas tenham estabelecido uma linha de acção em seu psiquismo e o estejam explorando, fazendo-o mudar o rumo de sua vida.

Atarantada com todas estas informações, Marisa não sabia como reagir e, então, perguntou, algo assustada:
— Mas como é que a gente se protege de tudo isso, se não conseguimos enxergar essas coisas ao nosso lado?
— Essa pergunta é muito comum nos leigos, Marisa.
Eles pensam que existe um amuleto mágico que os torne invulneráveis a tais influências, mas isso não existe.
No passado, íamos às igrejas e, se o padre nos absolvia os pecados, voltávamos para casa levinhos e prontos para continuar pecando mais um pouco, porque o pecado nos produzia prazer.

Pensávamos em nos livrar da carga da culpa sem desejarmos alijar de nossas costas a carga da vontade de continuar errando.
Mas quando entendemos as leis espirituais, passamos a ver que a única maneira de não nos permitirmos ceder a esse assédio é modificarmos nosso carácter, alterarmos nossas inclinações, melhorarmos nossas ideias, mudarmos nossos sentimentos para outros mais elevados e, então, nossa sintonia afastar-se-á dos níveis inferiores para galgar lugares mais elevados e estabelecer contacto com Espíritos mais puros, que nos amam e nos ajudam a superar nossos problemas através de caminhos retos e conduta digna.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:52 am

Aquilo tudo era um verdadeiro tapa na cara de Marisa que, sem deixar Gláucia perceber, interpretava tais ensinamentos partindo do próprio ponto de vista, interessada em usar a noiva para surripiar-lhe o noivo, o que motivou um mal-estar em seu íntimo, obrigando-a a dar por encerrada aquela conversa que começara com um objectivo e se transformara em um verdadeiro alerta para seus desejos mais escusos.

— Ah! Gláucia, esse assunto me assusta.
Quem sabe se, com seus conselhos, consigo conversar um pouco com Marcelo e as coisas se modifiquem para melhor.
Desculpe o tempo que tomei e obrigada por ter-me atendido, explicando-me essas coisas.

— Ora, Marisa, é um prazer poder escutar você e dividir algumas coisas em que acredito.
Se por acaso as coisas não melhorarem com Marcelo, procure-me, novamente, porque nessa questão de companhias espirituais, talvez a sua ida a um centro espírita ajude muito na melhora de suas vibrações e no amparo tanto ao seu esposo quanto às possíveis entidades que o estejam influenciando.

Eu conheço um, que é muito bom e que não tem nada disso que as pessoas temem, por desconhecerem o que é o espiritismo de Allan Kardec.
Se precisar, me ligue e eu vou com você, está bem?

— Tudo bem, Gláucia.
Vou pensar em tudo e, qualquer coisa, lhe telefono novamente.
A única coisa que lhe peço é que não comente esse assunto com ninguém, nem com Glauco, porque não quero que o Marcelo acabe sabendo do tema de nossa conversa até que eu defina o que desejo fazer.

E você sabe como os homens são solidários, uns com os outros, não?

— Claro, Marisa. Seu segredo irá comigo para o túmulo, como você me está pedindo.
Mas não se esqueça do auxílio espiritual para resolver essa questão, antes de qualquer rompimento da sua união com seu marido, está bem?
— Combinado.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:52 am

10 - AS VIVÊNCIAS DE GLÁUCIA E GLAUCO

Diante de tudo o que havia aconselhado, pode o leitor imaginar que Gláucia estivesse apenas teorizando em relação à maneira de se conduzir nas horas difíceis do afecto.

No entanto, as suas palavras vinham revestidas de suas próprias experiências nesse campo.
Em realidade, ela e Glauco já vinham se relacionando desde os tempos do final da adolescência e demonstravam possuir um sentimento sincero e recíproco.

No entanto, essas impressões durante o ingresso de ambos na fase adulta sofreram um abalo muito sério.
Assim que Glauco ingressou na Universidade, as novas companhias masculinas, o novo ambiente e as inúmeras presenças femininas ali encontradas fizeram com que os pensamentos do rapaz se modificassem acerca do antigo namoro.

Amigos novos convidavam-no para aventuras diferentes e, na sua condição de universitário, não poderia deixar de corresponder.
Iludido pela nova etapa em sua vida que lhe conferia certa importância social, Glauco se deixara levar pelo véu da vaidade, relegando a segundo plano o relacionamento com Gláucia que, apesar dos protestos, ia sendo colocada de lado pelo então namorado.

Tal fase em suas vidas havia ocorrido já há mais de dez anos e exigiu da jovem um amadurecimento acelerado para que, gostando de Glauco como gostava, pudesse superá-la, ajudando o imaturo companheiro.

Envolvido pelos amigos que sempre lhe exigiam a companhia sem a presença da namorada de tanto tempo, Glauco passara a comparecer a festas nocturnas, conhecendo novas mulheres e se deixando enredar em comportamentos complicados dos quais teria grandes problemas em sair.

Gláucia sofria as consequências dessa reviravolta, procurando conversar seriamente com o namorado, que sempre negava qualquer alteração de comportamento, dizendo que aquilo era implicância dela.

Já chegavam aos seus ouvidos notícias alarmantes que lhes eram transmitidas por amigas, por pessoas conhecidas, dando conta de terem encontrado o namorado nos braços de outras moças, fora o noticiário que corria na boca de vários outros amigos comuns que, sabendo da nova conduta irresponsável de Glauco, evitavam alardeá-la para não ferir a jovem namorada.

Gláucia, nessas ocasiões, se revoltava contra aquilo que considerava uma falta de respeito para consigo mesma, não adiantando as conversas com o namorado, suas negativas e nem suas promessas de que as coisas voltariam ao que eram antes.

Os compromissos da faculdade, as provas, os estudos, tudo isso tomava tempo de sua atenção, sem falar — justificava-se ele — das intrigas de meninas que se ofereciam descaradamente e que se viam recusadas por seu interesse masculino.

Essa era a fonte das inúmeras fofocas a respeito de seu procedimento.
Nada mais do que isso.

Gláucia, naturalmente ferida, sabia que tudo não podia ser invenção de meninas frustradas e que Glauco estava, sim, escondendo a realidade.
Sofrendo em silêncio, deliberou pedir ajuda à sua mãe que, à distância, acompanhava a modificação da rotina da filha que, apesar de estudante universitária em outra instituição, se recusava a adoptar o mesmo estilo de vida do namorado.

Gláucia fora nascida e criada em uma família de pessoas que se ligavam ao Espiritismo cristão e, dessa forma, desde a meninice, hauria os princípios límpidos e simples de uma fé sincera e baseada no raciocínio, o que lhe produzia muita consolação e explicações para vários de seus problemas pessoais e de relacionamento.

Assim, revestiu-se de coragem para conversar com sua mãe a respeito.
Ouvindo-a com atenção, no sigilo do confessionário do coração maternal, Dona Olívia, sua genitora, deixou que a filha desabafasse tanto pelas palavras quanto através das lágrimas de um coração que sofria e que, de forma consciente, estava concluindo que o rompimento seria indispensável para que aquela situação mentirosa tivesse um fim.

Depois de ter escutado as dores da filha sem interromper seu relato nem se deixar levar pelo pieguismo de vê-la como a mais infeliz das jovens, como acontece com certos pais em relação aos que causam sofrimentos aos seus filhos, contaminando-lhes o bom senso, Olívia tomou a palavra, começando a responder as dúvidas de Gláucia.

— Filha, vou lhe fazer algumas perguntas simples.
Você me responda como se estivesse respondendo para você mesmo, está bem?
— Sim, mãe, está bem.
— Você ama Glauco?

Surpreendida logo na primeira indagação, Gláucia titubeou em responder, obrigando Olívia a esclarecê-la melhor.

— Filha, não me refiro a esse Glauco que está aí, nessa vida aventurosa.
Estou me referindo ao rapaz que tem virtudes e valores que você conhece há muito tempo.
Afinal, vocês namoram há anos e esse relacionamento permite que seus sentimentos o tenham conhecido tanto quanto ele a você, não é?
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:53 am

Entendendo o que a mãe queria dizer, Gláucia respondeu:
— Mãe, ele é uma pessoa linda, cheia de bons sentimentos, alguém que sabe ajudar as pessoas e fazer por elas sempre o melhor.
Com relação a mim, sempre me ajudou em tudo; nunca usou de violência ou agressividade, foi sempre companheiro em minhas crises e amigo nas horas difíceis.

Nunca conheci alguém melhor.
Por isso é que estas coisas que está fazendo me doem tanto, porque parece que não é ele... sim, mãe, apesar de tudo, eu o amo.

Feliz com a resposta honesta, Olívia partiu para a segunda:
— Por tudo o que ele já lhe disse, por aquilo que já aconteceu entre vocês, você acha que ele a ama?
— Ah! Mãe, eu achava... mas agora... são tantas as novidades que não estou mais sabendo de nada.

Entendendo a dúvida da filha, Olívia continuou:
— O que quero saber, Gláucia, é se o que ele construiu com você será fácil de ele construir com qualquer outra, por aí.
— Bem, mãe, intimidades a senhora sabe que qualquer mulher sabe dar para conquistar o ser desejado.
No entanto, estou certa de que o carinho, a afectividade, a maneira amiga e compreensiva de tratá-lo, as conversas abertas e francas que sempre tivemos, as aventuras que vivemos juntos, isso tudo estou segura de que vai muito além dos contactos físicos passageiros.

— E se ele encontrasse alguém que lhe desse tudo isso que você lhe ofereceu e, por isso, fosse melhor do que você na vida dele, como interpretaria esse facto?
— Ah! Mãe, vai ser difícil ele encontrar outra assim... — disse sorrindo, meio encabulada, meio convencida.

Sua mãe sorriu diante da autoconfiança positiva que a filha demonstrava, o que era um bom sinal para aquele momento.

— Mas vamos fazer de conta que ele encontre uma super Gláucia por aí, mais bonita, mais amiga, mais calorosa, mais companheira, mais tudo que você.
— Ora, se existisse uma pessoa assim, mais tudo do que eu, ele seria um idiota se não ficasse com ela...
— Do mesmo jeito que você, minha filha, se encontrasse um super Glauco dando sopa, seria uma outra tola se o deixasse escapar, não é?

— É, mãe, seria sim.
— Pois bem, Gláucia.
Até aqui não estamos concluindo nada.
Só estamos estudando o terreno onde seu afecto está posto para que possamos saber como agir melhor.

— Tudo bem, mãe.
— Já vimos que você o ama apesar das tolices que está fazendo e que, provavelmente, será difícil que ele encontre alguém que o ame como você, ainda que possa estar com algumas aventurazinhas com certas aventureirazinhas de plantão, coisa, aliás, que existe desde que o mundo é mundo. Porque se todos estão à procura de alguém interessante e que lhes faça a felicidade, elas também.

Assim, Gláucia, se você termina o relacionamento por estar magoada, isso pode produzir algo de bom para você, num primeiro momento, mas também pode favorecer que o seu namorado se veja livre para continuar na ilusão de uma vida diferente e estimulante que vai durar um bom tempo, já que a nova situação universitária vai lhe fornecer um grande arsenal de emoções novas e, até que se canse de tais aventuras para se lembrar das boas coisas que tinha com você, talvez já tenha que estar casado com alguma aventureirazinha grávida por aí.

O velho golpe ainda funciona muito bem, Gláucia, e ainda há muitos jovens se vendo presos no visgo dos prazeres desenfreados, mesmo que tenham se permitido vivê-los apenas para dar vazão à curiosidade ou à excitação de um momento.

Por isso, tantas famílias desajustadas, começadas pelas facilidades do sexo sem responsabilidade no afecto, mas sim, fundamentadas numa atitude equivocada de certas mulheres, com a ideia de prender o parceiro pelo útero e não pelo coração.

Se observarmos bem, Glauco está enfermo da afectividade.
Essa doença ataca muitos rapazes como ele que, imaturos para certas transformações, se permitem certas condutas para se sentirem integrantes de certos grupos.

Lembra, Gláucia, quando a gente ia levar você para a escola todos os dias e, depois de uma certa idade, você pedia para a gente te deixar a uma quadra de distância, porque não queria que suas amiguinhas a ridicularizassem pelo facto de sua mãe ou seu pai levá-la até a porta da escola?

Recordando suas birras no carro na hora de ir à aula, Gláucia sorriu meio envergonhada e abanou a cabeça, concordando com a mãe.
— Então, da mesma forma, Glauco está se sentindo importante e, no meio do baile de novidades que a vida está lhe oferecendo, você é a companhia antiga, meio fora de moda, como um vestido quer se repete em cada ocasião festiva, por falta de outros diferentes.

Nem precisa dizer que isso é doloroso de se ouvir porque eu sei que é assim.
Mas esta é a nossa avaliação do que está acontecendo com Glauco.
Ele não deixou de ser aquele jovem que você conheceu e ajudou a construir com o seu carinho.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:53 am

Está, entretanto, envolvido por uma febre que o faz ver as coisas de maneira equivocada, inclusive em relação a ele próprio.
Então, se você o abandona, estará abandonando um doente no meio da crise, o que poderá produzir-lhe uma acentuada piora.

É como se o pai deixasse o filho febril ao desamparo porque a criança passou a ser muito birrenta ou nervosa.
Ora, minha filha, a criança com febre fica birrenta, nervosa, irrequieta, agressiva até.
Se os pais não a tolerarem nessa fase, como é que poderão reconduzir esse filho à saúde, quando o terão novamente dócil, amigo, feliz e brincalhão?

Por isso, acho que não é o momento de você destruir o que os anos foram sedimentando com paciência e carinho.
Ao contrário, essa é a hora para colocar em teste todo esse alicerce que você e ele lançaram no solo da experiência a dois.
Tanto ele vai descobrir coisas a respeito quanto você poderá avaliar o grau de profundidade.

Ouvindo a mãe, serena e experiente, Gláucia ponderou:
— Mas, mãe, desse jeito as coisas vão continuar no mesmo caminho...
Se é uma doença, como é que vai ser para ajudar?

— Sim, minha filha, está é uma sábia pergunta.
Inicialmente, você vai engolir seu orgulho ferido como os pais engolem as irritações de filho doente para poderem cuidar dele melhor.
Depois, a sua capacidade de demonstrar afecto por Glauco terá que ser testada ainda mais, porque, sem ser melosa, sem ser pegajosa, sem forçar as coisas, você vai parar de reclamar e, sempre que for possível, vai aproveitar as horas desfrutadas ao lado dele para se fazer suave e amiga, não permitindo que o azedume, que a irritação ou a indignação consumam os minutos que deverão ser vividos na oferta do seu mais sincero carinho.

Não veja Glauco como aquele que a está traindo.
Veja-o como o companheiro que está temporariamente iludido.
Para trazê-lo à realidade, é preciso recordar-lhe as boas coisas do relacionamento de vocês, para que não aconteça de você passar a fazer o papel da bruxa rabugenta, enquanto que as outras fiquem com o papel fácil da fada boazinha.

— Mas só isso?
Não tem um tratamento de “choque” que possa ter efeito mais rápido?
Um atropelamento, uma tijolada na cabeça, contratar alguém para lhe dar uma surra... — disse Gláucia, com um meio-sorriso no rosto.

Acompanhando a sua veia humorística, a mãe respondeu;
— Esse tipo de choque não é bom, Gláucia, porque pode acontecer de acabar sobrando, para a bruxa rabugenta, um Glauco estropiado, paralítico, aleijado, já que esse tipo de homem as “fadinhas esvoaçantes” não vão querer saber de cuidar.
E nós estamos querendo salvar o Glauco por inteiro e não aos pedaços.

— Tudo bem, mãe, já entendi...
— Mas você tem razão quando pergunta sobre um tratamento paralelo...
— E tem? — perguntou a filha, mais animada.

— Sim, minha filha.
A gente sabe a interferência negativa que certas entidades produzem na vida das pessoas que se deixam arrastar por tendências e fraquezas, ajudando-as a se perderem nos caminhos tortuosos a que se permitiram.

Assim, antes que se tenha que adoptar alguma outra postura mais grave e que possa chegar ao rompimento por sua parte, filha, vamos usar essa forma de medicar Glauco por ambos os lados.
O seu carinho sem cobranças e as nossas orações constantes lá no centro serão a nossa forma de tratamento de choque.

Você dá uma “tijolada” usando sua doçura e o seu carinho, lembrando-se de Glauco como aquele rapaz que você conhece e que existe por baixo desse doidivanas e nós vamos ao centro, levar o pedido para que os Espíritos lhe possam “dar uma surra” de bons fluidos, afastando as más companhias invisíveis e, assim, restaurando-lhe o equilíbrio através do amparo magnético, mesmo à distância.

— E a senhora acha que funciona? — perguntou a filha, ansiosa.
— Se funciona com tantos outros, minha filha, por que não vai ser eficaz com Glauco, que sempre foi um bom rapaz, demonstrando seus bons sentimentos e a generosidade de seu coração?
Além do mais, lá existem reuniões onde as entidades que perturbam as pessoas são atendidas para que sejam esclarecidas sobre sua real situação, alertadas de sua conduta equivocada e convidadas a seguirem por outros caminhos que lhes produzirão melhores resultados.

Isso gera uma grande transformação tanto na vida dos Espíritos ignorantes quanto na dos encarnados que estavam influenciando directamente.
Vamos começar a trabalhar nas duas frentes, Gláucia, e por isso gostaria que fosse comigo algumas vezes ao centro para que sua presença também servisse de centro emissor a benefício de Glauco, uma vez que vocês dois estão directamente unidos por laços fluídicos que facilitam o processo de ligação mental e energética.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:53 am

E isso vai possibilitar, ao mesmo tempo, que você seja reabastecida de energias positivas para a continuidade das lutas do afecto sincero, que não pode descer ao lodaçal das reacções mesquinhas e destruidoras.

Você também precisará de forças para não se deixar abater pelas atitudes descontroladas do companheiro doente e, por um tempo precisará interpretá-lo mais como seu filho do que seu parceiro.
Estamos combinadas?

E entendendo o que a mãe queria lhe dizer, Gláucia enxugou as últimas lágrimas que insistiam em cair pela face jovem e bonita e concordou com a progenitora sobre a ida à casa espírita.

Enquanto isso, do lado de Glauco, as aventuras e o estavam consumindo no cipoal de novas experiências e novos desgastes.
A euforia das baladas, a novidade de novos corpos, as sensações lascivas das companhias quentes e superficiais faziam dele um pequeno boneco nas mãos experientes de mulheres vividas, apesar de jovens.

Parecia que Glauco desejava encontrar em cada moça um pedaço de Gláucia, uma forma de falar, um estilo de ser, um contorno físico parecido, sem que isso lhe ficasse claro no pensamento.
Ele sabia que estava se conduzindo de maneira equivocada e, para tentar contornar esta situação moralmente ilícita, sempre revelada a todas as novas companhias de noitada a sua condição de rapaz comprometido.

Era uma forma de preservar um pouco da própria sanidade, relembrando a todos os que o envolviam a sua condição de indisponibilidade.

Se quisessem uns momentos de euforia em sua companhia, tudo bem.
No entanto, que soubessem todas elas que ele estava seriamente envolvido com uma outra mulher.
Dessa forma, tentava ele manter uma certa atmosfera de responsabilidade afectiva, usando Gláucia como um escudo protector de seu carácter que, temporariamente infantilizado pelas novidades que estava vivendo, desejava desfrutar-lhes os benefícios sem desejar envolver-se intensamente com elas.

As mulheres que o circundavam, no entanto, jogavam um outro jogo.
Elas sabiam que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

E se uma pessoa interessante como Glauco procurava manter tais envolvimentos clandestinos, apesar do relacionamento sério que sempre dizia ter, isso indicava que ele não estava plenamente feliz com a namorada, o que abria espaço para os oferecimentos de carinho das novas candidatas, a tolerarem a secundariedade, até que se fizessem tão importantes na vida dele que assumissem o “status” de estrela principal.

Nesse joguinho, no entanto, havia uma das mulheres que, mais afoita, menos paciente e mais determinada na conquista do rapaz, houvera se valido de outros meios para tentar conseguir seu interesse.

Usando de artifícios que a intimidade temporária possibilitava entre eles, conseguiu pequeno lenço, que o próprio Glauco lhe oferecera para secar o choro que encenara para provar o seu afecto pelo rapaz.

E de posse do lenço, procurou acercar-se de uma casa suspeita, na qual pessoas sem noção dos compromissos espirituais que estavam acumulando sobre si mesmas, realizavam trabalhos de magia com a finalidade de “amarrar” o bom partido, conquistando-lhe, finalmente, as atenções.

Glauco não sabia de nada, mas a jovem interessada, depois de ter se encantado com as intimidades vividas em poucos encontros, imaginara ter encontrado o rapaz com que deveria passar o resto de seus dias, precisando, assim, vencer suas resistências afectivas.

Assim, a moça buscou recursos naquele ambiente onde se prometia trabalhos para todo tipo de interesses, sobretudo aqueles que desejavam perverter a ordem das coisas, interferir no destino das pessoas e produzir alterações no rumo dos factos.

Para isso, valia-se de um consórcio espúrio e ilícito com o plano espiritual inferior, para que, fornecendo a tais entidades certos recursos energéticos que ainda lhes abasteciam aos vícios, delas obter o apoio aos projectos pessoais, a interferência directa para que seus objectos alcançados.

O lugar onde se realizavam estas reuniões estava cheio de pessoas e o padrão das vibrações era o pior que se podia pensar.
No entanto, o velho desejo de impor sua vontade sobre a vontade dos outros, fazia com que todos os presentes aguentassem os momentos grotescos a que se viam submetidos uma vez que, desejando servir-se dos favores de tais Espíritos, tinham que suportar-lhes a companhia, pessoalmente, através dos médiuns ou “cavalos” como se chamavam nos rituais que faziam.

Homens que desejavam afastar do seu caminho certos adversários ou conquistar postos importantes.
Mulheres que queriam destruir a vida das inimigas no afecto tanto quanto aquelas que desejavam se fazer querer pelo sentimento de homens até então indiferentes;
pessoas que queriam solucionar problemas materiais da forma imediata e fácil, todos ali se valiam do comércio com o mundo invisível, com a ilusão de que poderiam burlar a lei do Universo e atalhar caminho até o objecto de seus desejos, adulterando vontades, corrompendo a lei da Justiça e enganando a Sabedoria Divina.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 25, 2014 9:53 am

Nesse meio de forças inferiores e animalizadas, o lenço de Glauco acabou indo parar, exactamente através daquela que dizia desejar-lhe a companhia para sempre.
Essa jovem, de Espírito determinado e frio, tinha o perfil das víboras manipuladoras que medem os prós e os contra e se arriscam nas lutas de conquista quando vê possibilidades de sucesso, tudo empenhando para que não se vejam amargando no fracasso de seus planos.

Seu pedido, na verdade, era o de ter Glauco para si ou então, de ele não ser feliz com mais ninguém.
As entidades inferiores ali presentes, estabelecendo o preço do serviço, disseram que se comprometeriam com ela no atendimento de seu pedido, desde que ela se mantivesse fiel a eles.

Essa fidelidade não representava, apenas, trazer-lhes as coisas e pagar os valores pedidos.
Ia mais longe, na adopção de condutas ritualísticas dentro de sua intimidade, tanto quanto na participação em algumas das cerimónias que, periodicamente, se realizavam naquele local.

Se não participasse, todo o esforço poderia ser frustrado e o dinheiro e o tempo poderiam ser perdidos.
Assim, a obstinada jovem aceitou tais exigências, desde que eles garantissem o sucesso de seu pleito.
Tal compromisso foi fácil de obter e, a partir daí, a jovem se viu a eles ligada de uma forma directa e pessoal.

A partir de então, a acção negativa sobre Glauco se fez mais intensa. Não que o lenço tivesse poderes destruidores.
No entanto, as pessoas s e sentem mais vinculadas a objectos que trazem a tais cerimónias, confiando que, por causa deles, será mais fácil a ligação com seus proprietários.

Pensam com mais ardor, com mais determinação e acham que a “magia” realizada sobre o objecto surripiado da vítima poderá tornar mais eficazes os efeitos pretendidos.
Por isso, as entidades assalariadas pelos baixos teores de energia que labutavam naquele ambiente indigno de qualquer denominação, se fizeram acercar de Glauco, acompanhando seus passos e acelerando seus desejos invigilantes na utilização de suas fraquezas para empurrarem-no na direcção da jovem que os contratara para tais actividades.

Durante muitos meses, Glauco se vira confundido por tais influências.
Desacostumado à elevação de pensamentos, afastado das boas influências de sua namorada, acabara se permitindo afundar nos prazeres sexuais ao lado da jovem produtora de euforias, manipuladora de seus sentidos, excitadora de seus desejos, sempre em conluio com as referidas entidades inferiores.

Muitas delas passaram a fazer parte das orgias que os dois vivenciavam, nos encontros clandestinos que patrocinavam, nesse período de maior decadência, Glauco procurou afastar-se de Gláucia ainda mais, alegando maiores compromissos na faculdade.

Essa foi justamente a época em que Gláucia estava iniciando as medidas de tratamento, directas e indirectas, que havia traçado desde a conversa com sua mãe, e foi exactamente nesse período mais crítico da vida doente do rapaz que as duas passaram a envolvê-lo com redobrado carinho, nas ocasiões em que conviviam por algumas horas e nas preces sucessivas, tanto no centro espírita quanto nas realizadas na intimidade de seus corações.

As inúmeras entidades que se dedicavam ao trabalho de envolvimento de Glauco passaram a ser identificadas nas reuniões mediúnicas da casa espírita e, graças à acção dos benfeitores amigos, foram sendo canalizadas para médiuns que lhes serviam de pontes de ligação com o mundo real, tendo despertados os sentimentos mais profundos e, assim, passando a entender a inutilidade daquele comportamento, do ponto de vista da produção de coisas boas para eles próprios.

Com o passar do tempo, tudo foi sendo contornado e as pressões espirituais negativas sobre Glauco acabaram sendo neutralizadas.

O jovem não cedia.
A demora de sua rendição aos seus encantos produziu ainda mais ansiedade e violência na moça que o desejava com ardor, levando-a a se valer de cartas anónimas endereçadas a Gláucia, nas quais denunciava seus encontros com o namorado, dando endereços e horários para que ela pudesse constatar com seus próprios olhos, missivas essas que vinham carregadas de uma energia pervertida, como se fosse uma bomba magnética pronta a explodir tão logo fosse aberta pelo destinatário.

Ainda assim as coisas não produziam o efeito que ela queria.
Então, num gesto de desespero para fazer valer seus planos nefastos, a jovem se apresentou grávida. Com exames positivos e tudo mais, para forçar Glauco a assumir uma posição.

Não sabia ele que tal gravidez havia sido decorrência de um relacionamento com outro rapaz, homem com quem a moça procurava aventurar-se para se vingar da indiferença de Glauco, mantendo uma vida promíscua como forma de satisfazer seu Espírito ávido pro prazeres.

Sabendo que essa seria uma forma quase infalível, apresentou-se com a aparência fragilizada, como se estivesse com medo do futuro, e lhe comunicou o seu estado de surpreendente gravidez.

Isso foi o bastante para desesperar o moço que, desde que passara a se sentir mais aliviado das pressões espirituais negativas, buscava, agora, uma forma de afastar-se dessa perigosa mulher, que se lhe tornara verdadeira sombra, perseguindo-o com seu desequilíbrio afectivo em todos os momentos de seu dia.

Gláucia, amparada na prece, nas palavras de estímulos constantes de sua mãe e no trabalho de sustentação que a casa espírita lhe fornecia através de palestras e passes de recuperação, mantinha-se firme e imperturbável, sentindo que a luta estava por terminar.

Quando os efeitos no comportamento de Glauco já se faziam visíveis, porquanto o rapaz começara a regressar mais ao convívio antigo, como alguém que começa a despertar da farra, no dia seguinte ao da bebedeira, com as dores próprias do excesso, dona Olívia chegou em casa com uma notícia boa e um alerta.

— Filha, nossos amigos espirituais nos mandam avisar através de uma das médiuns mais experientes lá do centro, que devemos estar atentas porque a perturbação está no fim, mas é justamente agora que as provas serão as mais difíceis para nós.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 26, 2014 8:40 am

— Ah! Mãe, Glauco já está me procurando, voltando a ser como aquele que eu conheci.
Será que tudo vai piorar novamente?
— Não creio, minha filha.
Só acho que, como ele se envolveu com o erro, os que defendem o mal sempre tentam uma última e decisiva reacção, o que pede de nós maior equilíbrio e confiança no bem que escolhemos para ajudar Glauco a sair desse mundo de sofrimento e decepção.

— Sim, mãe, eu entendo o recado.
— E se as trovoadas finais são muito barulhentas, alegremo-nos por nos avisarem que são as derradeiras.
Depois disso, o sol voltará a brilhar.
— Tomara, mãezinha.
Tomara que seja assim, para poder ter sossego no afecto novamente.

E foi assim que, depois de ter passado quase dois anos nessa maratona de leviandades, Glauco, arrependido e menos infantil, certa noite pediu a atenção de Gláucia e, entre o choro dos desesperados e a vergonha dos falidos, abriu o coração com aquela que, até aquele dia, havia sido a sua única verdadeira amiga.

Relatou-lhe todas as aventuras, todas as mentiras, todos os momentos de engano que vivera, falou de sua posição leviana diante das novidades, desejoso que estava de conhecer melhor as aventuras da vida, depois de uma adolescência vivida ao lado dela.

Relatou os equívocos, os maus amigos, as emoções turbulentas e, por fim, revelou as ameaças da jovem que lhe apresentara os exames de paternidade, alegando que ele era o responsável por aquilo.

Em seu relato, deixou claro que nada mais o prendia à jovem arrojada, mas, agora, arrependido, não queria que Gláucia ficasse sem saber de tudo o que lhe estava acontecendo.
A jovem namorada chorava de emoção e tristeza, ao ver como o rapaz, com todas as virtudes que ele possuía, se vira envolvido em tantas equivocações, influenciado por tantas forças negativas que nem ele mesmo sabia que agiam sobre sua vontade débil.

Ao mesmo tempo, a confissão representava o regresso do companheiro fiel, arrependido pelos desatinos, a caminho de se transformar em um homem mais sábio, menos vulnerável, menos tolo.
Glauco não pedia que o aceitasse de volta.

Apenas confessara seus erros diante de alguém que o conhecia profundamente e que, não sabendo entender a si mesmo nem como chegara tão baixo, pedia a sua ajuda para se reerguer, ainda que fosse como simples amiga, se ela não visse mais condições de ser sua companheira como no passado.

Naquele instante, Gláucia sentira como sua mãe estava certa.
Como Glauco estivera doente de afecto, além de perturbado na própria capacidade de escolha, diante das influências nocivas das vibrações inferiores que o mal e a ignorância sabem produzir.

Sim, aquele era o golpe final das forças trevosas, golpe esse que, no entanto, o devolvia aos seus braços mais maternais, do que nunca.
Não, aquela era a hora do reencontro, não a da vingança.

Então Gláucia o abraçou e disse:
— Glauco, você não imagina como meu sofrimento, neste momento, se transforma em ventura e, somente agora, eu posso entender o que significou o regresso do filho pródigo à fazenda de seus pais, como nos fala o Evangelho.

Você é o meu amigo, meu companheiro, meu verdadeiro amor e esteja certo de que, se eu pude passar por isso tudo sozinha, agora que estamos juntos novamente, não vai haver nenhum problema que não possa ser enfrentado e vencido.

Entendo o seu medo em me revelar a verdade, mentindo para não me ferir.
No entanto, não se esqueça de que, sempre que a verdade nos foge, ficamos vulneráveis à mentira do mundo que produz muito mais malefício do que qualquer outra arma que o homem tenha inventado.

Daqui para a frente, você já sabe que pode me falar qualquer coisa, por pior que seja, porque eu saberei ouvir sem desejar feri-lo.

Com relação a essa moça, não sabemos se o que diz é verdade.
Por isso, nem pense em obrigá-la a tirar o filho do ventre, filho esse que, se for seu, você vai assumir mesmo que não se una à mãe.
Agora o tempo vai dizer se a gravidez é verdadeira e, depois de nascer, os exames poderão informar com exactidão se o filho lhe pertence mesmo.

Tenha serenidade.
Marque um encontro com ela e, se você aceitar, nós dois estaremos lá, juntos, para que tudo fique esclarecido.

Surpreso com tal postura, Glauco disse não ser mais necessário nenhum encontro.
Que iria falar com a moça por telefone mesmo e dizer que tudo estava acabado entre eles e que, se realmente ele fosse o pai, depois do nascimento e dos exames, ele assumiria a paternidade, informando ainda que Gláucia sabia de tudo e o apoiaria em qualquer decisão que tomasse.

Foi assim que Glauco retomou a consciência e o equilíbrio, passando a ser o mesmo rapaz de antes, só que melhorado na maturidade, enquanto que Gláucia ganhara um verdadeiro amigo e confidente que não lhe ocultava as menores coisas do seu dia, por prazer em compartilhar com ela todas as suas experiências pessoais.

Como o leitor pôde entender, Gláucia não falara a Marisa apenas sobre uma teoria de compreensão. Falara de tudo aquilo que aprendera, vivendo-a na própria carne.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 26, 2014 8:40 am

11 - LETÍCIA E A SOLIDÃO

Enquanto tudo isso acontecia com Marisa e Gláucia, naquele final de semana, os Espíritos inferiores trabalhavam com Sílvia e Marcelo, para que os planos trevosos pudessem ter continuidade.

Além do mais, Letícia seguia com seus sentimentos estimulados pelo interesse do colega de escritório, dedicando-se ao estudo do caso específico que ele lhe havia submetido à apreciação.

Seu desejo de solucioná-lo, modo pelo qual poderia demonstrar sua capacidade profissional e a superar, em parte, a ausência de outros atributos exteriores, dominava seus pensamentos.

Ao mesmo tempo, devaneios e mais devaneios faziam parte de suas horas naquele final de semana, quando a solidão, acompanhada pela música suave e pela carência afectiva se uniam em uma explosiva combinação para o coração que sonha em se ver correspondido.

Antes, a afectividade de Letícia por Marcelo era algo existente no mundo platónico, sem qualquer possibilidade de ser concretizada no mundo real.
No entanto, depois que o rapaz passou a procurar seus conselhos, envolvido pela onda de perfume inebriante, pelo modo gentil e pelas palavras elogiosas, esta possibilidade de migrar do sonho para a realidade passou a dominar os pensamentos da jovem.

Ela sabia que ele era casado, mas, até aí, o que a impedia de se fazer notar?
Ele mesmo havia dito que ela não devia se preocupar, porque sua esposa não se importava com o assédio feminino.
Ouvindo esse tipo de informação, a astúcia da mulher criou o cenário de uma esposa indiferente, relegando o marido a plano secundário, o que facilitava em muito as suas chances.

De outra parte, não foi ela quem foi procurá-lo e, sim, o contrário.
Ela bem que estava no seu canto, cuidando de sua vida, sem se permitir qualquer tipo de aproximação do rapaz, até porque imaginava que nunca poderia ter alguma chance com ele.

Letícia, assim, reunindo todos os indícios, se via alimentada pela esperança de prosseguir na sua cartada de envolver Marcelo e de lhe conquistar o afecto, ainda que isso não fosse além de alguns contactos mais íntimos, coisa que, se acontecesse, já possibilitaria que ela se fizesse sentir pelo homem desejado e, quem sabe, favoreceria que o mesmo se sentisse abalado ou colocasse em dúvida em suas escolhas íntimas.

Assim, no sonho de mulher solitária em tarefa de conquista, Letícia passou em revista as roupas que possuía em seu armário, tirando de circulação aquelas que julgava ultrapassadas para o trabalho de sedução, dando preferência às mais vistosas, que melhor realçassem seus atributos femininos e que provocassem o interesse do homem desejado, naqueles processos que as mulheres bem sabem manipular, num mundo dominado pelos homens ainda deveras animalizados em seus instintos.

Com isso, Letícia se municiava de novas aquisições para compor o cenário adequado que trazia em mente, de forma a possibilitar a adesão de Marcelo ao processo de sedução que ela iria iniciar.

E ainda que seus dois perseguidores invisíveis tivessem determinado ao terceiro, Gabriel, o Aleijado, que ali permanecesse com a finalidade de observar e estimular seus desejos e inclinações.

O que se podia observar é que Letícia se mantinha nesse padrão de pensamentos e ideias por si mesma, sem nenhuma interferência da referida entidade que, com tal cooperação, sequer se manteve ali por muito tempo, tendo se ausentado para dedicar-se a outras coisas.

Como se pode observar, Letícia se entregava ao poder criativo das próprias ideias, sem a inspiração negativa ou maliciosa de nenhum Espírito, valendo que o leitor querido possa compreender que a acção negativa ou positiva do mundo invisível não se impõe às pessoas, adulterando-lhes a vontade.

Ao contrário, como já se referiu antes, é um processo de sugestão subtil ao qual o encarnado adere segundo seus desejos mais íntimos e suas intenções mais ocultas, sempre ligadas à busca do prazer, à satisfação de seus interesses ou à vivência de suas fraquezas.

A partir dessa adesão, as entidades passam a colaborar com o processo de indução, subtil a princípio.

Com o passar do tempo, à medida que tais Espíritos vão se assenhoreando da vontade do encarnado, e que vão se instalando na casa mental do ser que influenciam, naturalmente passam a agir com maior liberdade, adoptando um processo de simbiose, que mescla a sua vontade com a daquele que os hospedam, o seu pensamento com o dele, de forma a que não se consegue mais, com facilidade, identificar qual é o pensamento de um e qual é o do outro.

Letícia estava ali, encantada com os próprios sonhos, sem a participação directa ou constrangedora de nenhum Espírito, enquanto que, numa outra parte da cidade, Sílvia estava na aventurosa relação com seus dois comparsas, dando vazão aos seus instintos mais inferiores, que ambos exploravam como quem se diverte às custas de uma criança euforizada, produzindo o envolvimento e extraindo as energias de baixo teor que tal tipo de intercâmbio é capaz de gerar.

Queremos lembrar a nossos queridos leitores e leitoras, que a sexualidade é uma das mais belas e potentes fontes de energia realizadora de que o ser humano se vê dotado.

No entanto, não a sexualidade que é representada pelos órgãos físicos, localizada nos instrumentos biológicos, desenvolvidos pela evolução para a multiplicação da espécie.

A força e o poder criador se radicam na estrutura do psiquismo de cada ser, no qual as relações energéticas traçam as linhas da afectividade e que, por comandos directos, estimulam os demais centros biológicos na produção das células responsáveis pelo processo de procriação.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 26, 2014 8:41 am

As acções de tais órgãos e centros são extremamente mais mecânicas do que se supõe e, por isso, não é na região genésica que se radicam as fontes sublimes do potencial criador.

Tal estrutura está vinculada à mente e ao sentimento das pessoas de tal maneira que, quando a vida, nos seus processos de reparação ou resgate impõe ao indivíduo a solidão como forma de experiência refazedora, a sexualidade e as forças que a representam podem ser transferidas da acção procriadora de corpos para a acção plasmadora de ideais, fecundada nas inspirações superiores da alma, a serviço da transformação do mundo e do reequilíbrio de si mesmo.

Assim, quando alguém se veja na condição compulsória de isolamento afectivo, atendendo aos imperativos da jornada evolutiva, isso não impede que se transforme em uma geradora ou um gerador de filhos, que não se representarão por seres corporais, mas sim, por construções idealistas na área da arte, do saber da ciência, do devotamento ao próximo, deixando fecundados não com o sémen biológico, mas sim com a semente espiritual os caminhos por onde passou, pelo exemplo de dedicação e renúncia.

Dessa maneira, cada pessoa no mundo é um potencial transformador das estruturas emocionais, usando para tanto todas as forças que lhe estão disponíveis e, além daquelas que o próprio organismo físico concentra em suas células, as que lhe chegam através da ligação com a força cósmica do Universo, na absorção dos princípios regeneradores e abastecedores de que o Princípio Cósmico Universal é rico por excelência.

As pessoas que se vêem compelidas a uma vida de solidão e isolamento no afecto poderão usar tais forças disponíveis para canalizá-las na realização de obras do bem nos diversos sectores da vida, respeitando em seus semelhantes os compromissos afectivos já firmados, ao invés de criarem armadilhas para que eles se vejam enredados por sensações, interesses ou condutas que poderão complicar a vida de ambos, que é o que costuma acontecer.

Sem se conformarem com a condição solitária que a vida lhes assinalou com a sua concordância — concordância esta que corresponde, na verdade, à solicitação pessoal, antes do renascimento físico — muitas pessoas passam a se martirizar nos processos de busca desesperada por uma companhia, insatisfeitas com a lição solicitada que propiciaria um amadurecimento maior da questão da responsabilidade das relações têm promovido uma promiscuidade cada vez maior entre os seres humanos em busca de aventuras, sem nos referirmos, ainda, às pressões sociais que pesam sobre os que se mantêm solteiros, como que a fazê-los se sentir como seres extraterrestres ou problemáticos, aquilo que deveria ser aproveitado como uma experiência produtiva, acaba transformada pela pessoa em um martírio vergonhoso e insuportável, abrindo espaço em seus pensamentos mais secretos para as estratégias de conquista, a adopção de posturas sedutoras e perigosas, a repetição dos equívocos de outras vidas quando a sexualidade foi usada como armamento a atrair e destruir os sentimentos alheios.

Como o leitor pode perceber, muitas vezes, a causa da solidão em uma vida se radica na irresponsabilidade afectiva vivenciada em outras existências.

De tanto viciar o centro do afecto com aventuras superficiais do sentido ou da sexualidade depravada através de comportamentos que a aviltavam, homens e mulheres solicitam, em uma nova vida física, uma jornada desértica na afectividade, durante a qual, sentindo a falta de uma companhia, redireccionam o impulso primitivo para a esfera mais elevada dos sentimentos, reprogramando seu psiquismo para que a leviandade outrora experimentada não faça mais parte de suas opções naturais.

Mas, ao invés de se conduzirem por tal trajecto, com a opção de modificarem o mundo íntimo e o mundo ao seu redor com gestos de devotamento oferecidos a causas nobres, boa parte dos assim considerados exilados do afecto se perdem novamente, relembrando os antigos processos de sedução, saindo à cata de experiências envolventes e estimulantes, com as quais vão revivendo os antigos vícios, procurando companhias, exactamente em lugares em que não encontrarão, senão, aproveitadores de suas carências, prontos a abusarem de seus sentimentos famintos e, logo depois, descartá-los no vazio de um prazer físico que acaba rapidamente e frustra aqueles que esperavam alguma coisa a mais do que isso.

Dessa forma, forçando a situação, muitas pessoas que poderiam estar se recuperando e se fazendo queridas de seus irmãos menos felizes, passam a se ajustar em processos dolorosos a homens levianos, a mulheres exigentes e caprichosas, a pessoas que jogarão com seus sentimentos, explorando suas forças para, logo a seguir, dificultar-lhes a vida com exigências sem fim, representando dessa maneira a triste, mas justa expiação que aquele indivíduo acabou impondo-se, quando poderia ter escolhido outro tipo de actividade criadora que, nas belezas do ideal realizado, o manteria livre para seguir pelos caminhos que melhor escolhesse.

A teoria que costuma imperar nos dias de hoje é aquela que, simplificada no ditado popular, inverte seus termos dizendo:
“Antes mal acompanhada(o) do que só”.

E se, de alguma sorte, é compreensível tal opção, isso não quer dizer que ela não venha a produzir seus malefícios próprios, dos quais aquela pessoa poderia estar livre se tivesse entendido o caminho que poderia desenvolver ao conduzir-se pela fórmula antiga do ANTES SÓ DO QUE MAL ACOMPANHADA(O).

Esse era o caso de Letícia, de Sílvia e de Camila, além de ser o problema da própria Marisa que, unida a Marcelo por sentimentos superficiais e de interesse, no fundo, dele já estava separada há mito tempo.

Por isso, seja na forma que for, todo aquele que, para se ver feliz, se aventura a produzir o rompimento de outras relações, se permite destruir as próprias relações com comportamentos levianos, desrespeita os compromissos do afecto assumidos livremente, se vale das carências dos outros para usá-las na conquista e bens materiais ou situações que ambicione, se aproveita da solidão alheia para desfrute do prazer sem compromisso, se relaciona de forma vil para compensar o vazio do coração, sem respeitar os sentimentos dos demais que utiliza como alimento sem lhe poder corresponder com sinceridade, não importa, seja qual for a forma pela qual alguém pretenda ser feliz às custas da dor de outro, isso produzirá os efeitos de sofrimento e de responsabilidade que o obrigarão a uma futura reparação, arcando cada um com a quota de deveres correspondentes aos sofrimentos que infringiu.

Daí, então, queridos leitores, serem muitos graves, porque das mais tristes, as dores que podemos produzir com nossas condutas irresponsáveis, tanto na área do afecto quanto na área da sexualidade, uma vez que isso não se resumirá a uma relação física, com a contracção muscular, com a expressão transitória de um prazer biológico, com a produção de hormônios.

Isso representará uma ligação de Espírito a Espírito, com reflexos na estrutura da mente, na construção de sonhos, na criação de expectativas, na desestruturação de outras vidas e outras relações que poderão, dependendo do grau a que chegarem, ser responsáveis pelo desajuste do equilíbrio da psique de alguém, a produzir processos obsessivos, ideias fixas, autodestruição moral e, até, suicídios, infelizes estradas não apenas para aqueles que escolheram ou se deixaram transitar por elas, mas, sobretudo, para aqueles que ajudaram a construí-las na vida de seus semelhantes.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 26, 2014 8:41 am

12 - O CENTRO DE MENSAGENS

Duas entidades luminosas, em um centro de informações localizado em plano superior aos níveis vibratórios mais próximos da crosta terrena, recebiam as últimas notícias das regiões umbralinas onde todos estes eventos ocorriam.

Era um local destinado à captação de todas as emissões energéticas com origem nos pensamentos e emanações articuladas em forma de oração pelos encarnados sobre o mundo e, igualmente, daqueles Espíritos sem o corpo físico que estagiavam na escura e densa região astral, imediatamente ligada aos interesses materiais mais grosseiros.

Sintonizavam, pois, tanto com os que se achavam em aflições quanto com aqueles que para lá se dirigiam em tarefas salvadoras, no encalço de amigos, parentes ou tutelados que ali demonstrassem algum tipo de transformação, sempre expressada na modificação de seu potencial magnético e pelo tipo de energia emitida.

O centro de mensagens daquele núcleo de trabalhos congregava uma infinidade de servidores espirituais, dando um destino apropriado a cada uma das inúmeras ligações magnéticas identificadas, desde a sua procedência, o seu emissor, as suas condições, os seus compromissos pessoais, o estado actual de compreensão, os níveis magnéticos positivo ou negativo, o teor de sua manifestação — se em forma de pedido, de clamor, de rogativa, de imposição, de louvor, de agradecimento, de reclamação, de lamúria, etc.

— seu estágio expiatório de provação, de tarefa — se se tratava de alguém ligado pessoalmente com aquela colónia espiritual, tudo isso era observado pelos trabalhadores espirituais que tinham a seu cargo a recepção, organização e encaminhamento aos canais competentes de todos os tipos de ligação mental partidas dos seres humanos em estágio no planeta terreno, naquela região sob sua competência e responsabilidade.

Assim, com pequena ficha em suas mãos, cujas reduzidas dimensões não faziam supor o tão grande volume de informes e inscrições que continham, o instrutor espiritual tecia comentários com o companheiro de tarefas, ambos directamente ligados aos problemas de nossas personagens.

— Como pode ver, meu caro Magnus, o Presidente está se esmerando em buscar vingança contra seus antigos comparsas.

— Sim, nobre instrutor, a velha e repetida fórmula que vêm mantendo os seres humanos enredados em si mesmos pela incompreensão do poder libertador do perdão.
— Muito bem observado, Magnus.
Quando os homens entenderem o quanto o perdão vivenciado com sinceridade é fonte de consolação e de bênçãos para aquele que o fornece, abreviarão uma enormidade de sofrimentos que se enraízam em cada um que, mais do que não esquecer, cultiva a dor pessoal como um fungo venenoso no próprio coração.

— Mas você acha, instrutor Félix, que chegará a ocasião em que as pessoas conseguirão captar a importância dessa conduta íntima?
São tantos séculos, para não dizermos milénios, em que cada um se permite cristalizar a resposta agressiva, herdada dos seres primitivos de onde evoluímos... — comentou Magnus.

— Você acaba de tocar o assunto mais importante de nossa trajectória.
Nós evoluímos, meu filho.
Um dia também estivemos dividindo o mesmo espólio fumegante conquistado em guerras que mataram, escravizaram e feriram a muitos, mas que, irremediavelmente, abriram abismos dentro de nossa alma, de culpa, de remorso, de angústias.

E tanto quanto as peças de ouro e prata que carregávamos para nossos tesouros, tivemos que guardar, no escrínio de nossa consciência, os gritos desesperados de nossas vítimas, as lágrimas de crianças trucidadas pelos nossos cavalos ou carros de combate, as maldições de tantos que morriam por causa de nossa volúpia de poder.

Chega sempre, Magnus, o momento em que tudo isso pesa demais dentro de nós.
Dessa forma, primeiramente a criatura precisa cansar de carregar esse fardo para que pense em se livrar dele e adoptar outro tipo de carga menos difícil.
E para isso, o tempo é aliado indispensável.
Connosco também foi assim e, como você pode ver, vencemos, ao menos em parte, nossos equívocos.

E na questão da vingança encontramos uma das mais baixas manifestações do primitivismo em nosso ser essencial. Quando feridos, somos defrontados com nossos actos de ontem, a ferirmos nossas vítimas, a destruirmos e causarmos dores sem conta a tantos quantos estivessem em nossa frente, interpondo-se entre nossas ambições e nossos objectivos.

Por isso, os ataques que temos que suportar são decorrência da Lei de Causa e Efeito, que se originou da liberdade de agir, produzindo os resultados que se voltam contra o agente, tanto no bem quanto no mal.

No entanto, quando nos prendemos à vingança, ao remorso, à mágoa, depois de termos recolhido a nossa cota de dor, como herança de nossos actos perante o Tribunal da Justiça Celeste, estamos agindo, novamente, com a mesma liberdade de outrora e, ao invés de conseguirmos melhorar um pouco as coisas, nos endereçamos por segunda vez à condição de algozes de nós mesmos por desejarmos ver o sofrimento daquele que nos fez sofrer.

Repetimos a conduta infeliz, demonstrando pouco ou nada termos aprendido com os efeitos funestos de nossas atitudes destrambelhadas.
Se pedimos ou arquitectamos vingança, demonstramos ser igualmente belicosos e não estarmos preparados para a compreensão de princípios mais elevados de viver.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 26, 2014 8:41 am

Para evoluirmos em processo vertical em direcção da superioridade precisamos abdicar, desistir, renunciar ao animal interior que pede o revide pela agressão recebida, porquanto nos níveis superiores da vida, a condição espiritual se dirige no rumo da angelitude e, por mais que busquemos maneiras de vislumbrar os anjos de nossas tradições religiosas, jamais os encontraremos a pedir vingança para seus inúmeros sofrimentos, muitos dos quais, ao contrário, deixaram suas imagens heróicas de renúncia e devotamento, retratados que são até hoje com as cicatrizes gloriosas, conquistadas no martírio inocente, rogando perdão para os seus algozes.

Sem desejar interromper os ensinamentos de Félix, Magnus pensava em tudo o que ouvia, alinhavando ideias na direcção da questão afectiva que lhes cabia avaliar.

E sem que precisasse das palavras articuladas do amigo aprendiz, o benevolente instrutor se manifestou, acertadamente, sobre a questão, dizendo:
— E em relação ao sentimento, meu filho, as questões da violência e da vingança são ainda mais candentes do que em relação às guerras torpes de conquista.
No sentimento, os homens guerreiam.

Armam estratégias de batalha, se municiam com um arsenal inumerável, adoptam fantasias ou disfarces para melhor enganar as suas vítimas, disputam cada palmo do território conquistado, exercitam-se para estar em forma, fazem propaganda de sua causa para atrair o apoio moral dos seus companheiros, atiram suas armas sem medo nem dó, desprezam as vítimas de seus ataques e se apossam, quando pensam ter vencido, do prémio decorrente de seus esforços, como algo que lhes pertencesse cor direito, como acontecia ao vencedor de outrora.

Mas aquele que perde, em geral, inconformado com a derrota, geralmente se entrincheira no ódio, na desastrosa mágoa corrosiva e, por sua vez, articula o contragolpe, se possível mortal, a ser desferido contra seus oponentes.

Nessa atmosfera se acham todos os que são considerados homens e mulheres nas lutas da conquista afectiva, guerreiros que, em nome de um amor que dizem nutrir, espalham ódios, divisões, enganos, mentiras, agressão, más palavras, calúnias, jogando com a afectividade alheia para obterem alguma vantagem pessoal.

E quando atingem seus objectivos, depois de destruírem relações estáveis, depois de atearem fogo ao sossego de outros relacionamentos, cassam a ter que suportar as exigências da nova conquista, agora sob sua tutela, ao mesmo tempo em que precisam administrar o ódio dos perdedores e as suas estratégias de ataque para destruírem a nova situação afectiva implantada.

Por isso, muita gente, depois de abandonada pelo companheiro ou companheira, adoptando a postura da vingança, ao invés de reconstruir sua vida em outras bases mais luminosas e limpas, entregando os que partiram ao destino que os irá educar, se compromete a fazer a infelicidade dos que fugiram ao compromisso.

Muitos dizem: se não for para ser feliz ao meu lado, não será feliz ao lado de ninguém.
Se não é para estar comigo, vou mover céus e terras para acabar com eles.
Não pensem que vão me deixar aqui, na solidão, enquanto vão ficar sorrindo de felicidade por aí, como dois pombinhos apaixonados, isso é que não.

Se o abandono os feriu como efeito de um pretérito comprometido na área do afecto, quando suas outras vidas passadas testemunharam suas condutas irresponsáveis, produzindo, agora, o sofrimento da solidão para aprenderem o amargor de tal comportamento, ao adoptarem o caminho da vingança, voltam a cair na mesma condição de agressores, de espalhadores do mal, de semeadores de tragédias.

E isso é assim em todos os sectores da vida.
O Presidente, como você pode ver, está estendendo seus tentáculos de vingança porque se viu traído.
Para isso, está usando seu potencial de inteligência e organização, imaginando que o mundo se esgote em seu quintal e que o Universo não seja dirigido por forças Soberanas e Justas.

Por mais que pareça estar no caminho "de conseguir seus intentos, chegará o momento em que precisará enfrentar as forças de Deus, representadas não mais por um exército de anjos empunhando espadas flamejantes, mas, sim, pelas leis que governam a vida e que não reconhecem a vingança como uma das manifestações do Criador.

E, na paciência com que administra as sandices dos humanos imaturos, o Criador, pelas mãos do Venerável Mestre Jesus, busca nos educar através dos espinhos que plantamos.

Você pode imaginar outro método mais justo e sábio de nos fazer despertar senão o de nos surpreendermos com os efeitos de nossas próprias escolhas?
Por isso, que a expressão Pedagogia é muito bem aplicada quando se refere ao modo como o Pai encaminha seus filhos para a evolução, porquanto em sua raiz grega original, pedagogo é o CONDUTOR DE CRIANÇAS.

Crianças como nós, birrentas, caprichosas, teimosas, mas capacitadas para nos tornarmos anjos um dia.
Buscando ampliar os aprendizados daquela hora, Magnus indagou do instrutor sobre até que ponto o Presidente continuaria a agir sem que as forças do bem se interpusessem em seu caminho.

— Bem, meu filho, as estratégias de Deus são um pouco diversas daquelas que os homens tolos costumam usar, porquanto o Criador não se importa em perder algumas batalhas, desde que ganhe a guerra. E até hoje não me consta nenhuma Guerra em que o Bem tenha sido derrotado.

O Presidente está contando com as forças que encontrou em seus próprios aliados, sem se aperceber de que seus esforços estão gastando suas próprias estruturas.

Somente quem se liga à fonte do Universo se mantém sempre abastecido e harmonizado para lutar sem ser levado à exaustão.
Todos os outros tipos de lutas são, apenas, a manifestação do mal a consumir-se a si próprio e a espalhar ferimentos na carne ou na energia dos próprios maldosos.
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