LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Página 5 de 9 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9  Seguinte

Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:30 am

Não pensava sobre os compromissos matrimoniais que Marcelo ostentava, uma vez que, como acontece sempre com as pessoas egocêntricas, a satisfação de seus sonhos e caprichos sempre vem antes e está acima das dores ou tristezas que tal satisfação possa produzir na vida de outras ou outros concorrentes.

A existência do relacionamento conjugal de Marcelo era, quase, mais um estímulo do que um obstáculo.
Para ela, se o rapaz não a conhecesse, jamais poderia lhe conceder alguma chance.

Além do mais, quem lhe garantia que Marcelo era feliz com a mulher?
Não percebeu, ela mesma, uma certa melancolia quando ele se referiu aos problemas que enfrentava na companhia da esposa?
Que ela se apresentava como uma pessoa individualista e que ele só tinha tranquilidade quando ela se ausentava de casa?

Aquelas palavras não lhe saíam da cabeça, motivadoras de todos os seus esforços para se tornar alguém interessante nos interesses de um homem insatisfeito com a mulher escolhida.

— Todo mundo tem o direito de errar e o direito de começar com outra pessoa — pensava Letícia consigo mesma.
E se a mulher é tão indiferente assim com o pobre do Marcelo, porque é que fica ocupando o lugar e não libera o cara para ser feliz com outra?

Esquecia-se, Letícia, de que, em decorrência do desvirtuamento do sentimento, a finalidade principal dos cônjuges, em muitos relacionamentos, não era mais a de fazer o outro feliz.

Ao contrário, era a de não deixar o outro ser feliz, se isso representasse vê-lo ao lado de outra pessoa.
Quantas uniões não estão orbitando no escuro espaço da incompreensão e do desafecto, graças à criminosa conduta de um ou de ambos que, não desejando ser instrumento de produção da felicidade do parceiro, se torna empecilho de qualquer tentativa para que tal felicidade seja construída por ele.

— Se você não for feliz comigo, não o será com mais ninguém...

Tenebrosa frase que é tão comum na mente e no sentimento de tantas criaturas, homens e mulheres, e que está por detrás de muitos crimes passionais, tragédias familiares, décadas de perseguições e séculos de obsessões tenebrosas no lado espiritual da vida.

Orgulho ferido, vaidade machucada, egoísmo insatisfeito, todos os piores defeitos estão por detrás de um sentimento deturpado dessa natureza, a denunciar os seus cultivadores como pessoas imaturas, crianças no afecto, desequilibrados da alma, a merecerem tratamento para desajustes mentais quando não façam jus, igualmente, aos correctivos da justiça dos homens, pelos delitos e perseguições, crimes e desassossego que causam na vida das pessoas que perseguem, com o declarado desejo de infelicitá-las e cerceá-las de toda e qualquer tentativa de recomeço com outrem.

Marcelo, logo depois de ter falado com Letícia, desligou o celular sem se preocupar em apagar o recado de sua caixa postal.
Chegou em casa tarde da noite, encontrando Marisa já adormecida, como passara a ser normal acontecer.
Ele mesmo, depois que iniciara o envolvimento emocional com as outras colegas, igualmente se deixara abastecer pelas lembranças agradáveis que arquivara, fosse do contacto com Camila, fosse com a recente experiência sexual esfuziante com Sílvia.

Marisa já não lhe atraía mais a atenção.
De verdade, começara a perceber um outro universo feminino que existia fora do casamento e que, realmente, era mais empolgante do que aquele que a esposa passara a lhe proporcionar, com seus caprichos e com sua indiferença.

Tomou um banho para descansar e deitou-se para dormir, preferindo o quarto de hóspedes para não acordar Marisa que, à sua chegada, mostrava-se sempre mal humorada quando despertada por seus ruídos.

E esse afastamento vinha bem a calhar no ambiente culpado de sua consciência, agora comprometida com a infidelidade física e mental com as duas mulheres.

— Foi Marisa quem quis que fosse assim.
A culpa não é minha, é dela — repetia Marcelo para si próprio, como alguém que deseja transferir a responsabilidade de seus actos clandestinos para a esposa indiferente, no mecanismo de defesa natural das pessoas que não assumem por si mesmas a própria conduta.

Dormiu pesado e acordou tarde, na manhã de sábado.
Sabia que Marisa costumava sair cedo e só voltava no período da tarde.
Às vezes, almoçavam juntos, nos velhos tempos.

Mas depois, quando as coisas começaram a mudar entre eles e como a companhia de Marcelo parecia irritar a esposa, que passara a ocupar seu tempo em cursos e em academias de ginástica para que adiasse o regresso ao lar, os encontros escassearam ainda mais.

Em realidade, Marisa também estava buscando caminhos para tornar mais reais seus planos pessoais, no sentido de atrair a atenção de Glauco.
Marcelo, então, tratou de alimentar-se frugalmente, tomou um banho e, um pouco antes da hora prevista, saiu de casa para o encontro com Letícia, desta feita, bem mais elegantemente vestido.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:31 am

Afinal, bem ou mal, bonita ou não, iria estar na companhia de uma mulher a quem seus encantos poderiam produzir uma aproximação amistosa, sem qualquer pretensão que fosse amorosa.
Na pressa ou na emoção dos preparativos, no entanto, Marcelo esqueceu em casa o telefone celular, ocultado por um porta-retratos para trás do qual deslizara, inadvertidamente, quando o rapaz depositara seus objectos pessoais sobre o móvel aparador da entrada, na noite anterior.

Dirigiu-se para o endereço que sabia localizar com facilidade, por já ter sido informado por Letícia, nas conversas amistosas do escritório.
Conforme combinado ao celular, o porteiro do prédio, depois de consultar a proprietária do apartamento, permitiu que Marcelo ingressasse na garagem, indicando-lhe o local para o estacionamento.

Não demorou muito e Marcelo subiu ao andar respectivo, onde o esperava uma outra Letícia.
Lá estava a mulher mais ansiosa do prédio naquela tarde.

O apartamento estava agradavelmente iluminado e decorado com sobriedade, com indiscutível bom gosto.
Som ambiente demonstrava o zelo de sua moradora, nas músicas leves e suaves que deslizavam pelos ouvidos.
No ar, uma fragrância subtil atraía a admiração do olfacto, na combinação adequada entre visual agradável, audição harmoniosa e olfacto atractivo.

E à sua frente, Marcelo tinha uma outra mulher.
Letícia estava transformada.
Buscando externar sua admiração e espanto, quis voltar ao hall dos elevadores, informando que deveria ter-se equivocado de apartamento.

— Ora, Marcelo, cala a boca e vê se entra logo, seu moleque brincalhão!
— Nooooooossssssssaaaaaaa, Letícia, é você mesmo? — perguntou, admirado, o jovem, surpreso com o novo estilo.
— Claro que sou eu, seu engraçadinho.
Quem você esperava? A madame Min? — referindo-se, Letícia, à bruxa das histórias em quadrinhos de Walt Disney.

Percebendo que seu espanto poderia ser mal interpretado, Marcelo emendou:
— Jamais comparei você àquela bruxa, Letícia.
Mas estou tão acostumado a vê-la de cabelo preso, repuxando o rosto, com as roupas formais de advogada, que nunca imaginei que, um dia, substituiria aquela imagem da minha retina.
— E então — perguntou a moça, provocando — pelo menos a surpresa valeu a pena?
Ou esperava que eu fosse recebê-lo vestida de advogada?

— Nossa, claro que valeu...
Se eu soubesse que ia ser assim, tinha vindo mais cedo, para poder desfrutar desse momento em que posso conhecê-la sem aquela máscara profissional que nós todos temos que usar todos os dias.

— Como os palhaços na hora do picadeiro, né? — afirmou Letícia, fechando a porta.
— É isso mesmo, Lê.
Às vezes, penso que parecemos os próprios, tendo que viver na corda bamba e fazer os clientes rirem de nossas estripulias, para conseguir arrancar-lhes alguns aplausos depois de terem deixado seu dinheiro na bilheteria.

Assim começara o encontro em que Letícia, já conquistando as primeiras vitórias na consideração de Marcelo, esmerar-se-ia para que ele se sentisse atraído e provocado por sua agradável companhia.

Não que Marcelo tivesse se apaixonado pela amiga de trabalho.
Na verdade, ela não conseguira atingir, toda arrumada, a beleza natural que Camila possuía, mesmo desproduzida.

Só que o inusitado de observar Letícia mais à vontade, com o cabelo solto e escorrido pelo rosto, dando-lhe um certo ar angelical, lhe retirava toda aquela imagem de distância e afastamento que a postura formal de advogada produzia nos diversos homens que conviviam com ela, inclusive nele.

Pela primeira vez, pôde reconhecer na jovem, efectivamente, uma beleza física que era digna de nota.
E a conversa durou muito tempo, rodando pelos assuntos filosóficos da postura dos advogados no mundo dos interesses escusos, passando depois, pelos detalhes da casa que Marcelo passara a observar e Letícia ia lhe explicando, chegando aos discos que ela possuía, deixando para mais tarde as questões jurídicas que haviam sido a desculpa para aquele encontro.

Era tudo o que Letícia desejava.
Marcelo admirava a vida pessoal daquela moça que, perdida no meio dos processos e casos no escritório, nem de longe parecia ser a mesma pessoa que ali se encontrava, desarmada, quase frágil, à sua disposição.

Esse ar de abandono, de demonstração de debilidade, era um componente poderoso na provocação do instinto viril de Marcelo que, interessado em aproximar-se de Letícia, percebia que ela era mais interessante do que podia aparentar.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:31 am

No entanto, já lhe bastavam as duas outras como problemas para administrar.
Assim, tratou de afastar seus pensamentos de qualquer desejo masculino, para se concentrar nos objectivos que o haviam levado até lá.

Da mesma maneira, Letícia não pretendia oferecer-se directamente a Marcelo.
Desejava provocar o seu interesse, mexer com seus pensamentos, não desejando vulgarizar-se ao nível das mulheres desesperadas por companhia, que se entregam ao primeiro homem que se lhes pareça mais conveniente.

Por isso, teve o cuidado de não dar a Marcelo a impressão de que fora para conquistá-lo que ela criara aquela armadilha.
O encontro seguia, atraente e estimulante, quando, já depois de terem comido algo para espantar a fome, depois de já aberto o vinho saboroso com o qual Letícia pensava tornar Marcelo mais solto e liberado nas emoções e conversas, o rapaz percebeu que não trazia o telefone celular que, normalmente, usaria para avisar a esposa que demoraria mais do que o previsto.

Sem dificultar as coisas, Letícia sugeriu que ele usasse o aparelho de seu apartamento para chamar o número de seu celular a fim de tentar localizá-lo.

Aceitando a sugestão, Marcelo procedeu à chamada para o próprio telefone celular que, depois de alguns toques, foi atendido por Marisa:
— Oi, Marisa, tudo bem?
Você já chegou?
— Claro, Marcelo, se não, como é que estava atendendo ao seu celular?

— É verdade, desculpe a idiotice da pergunta.
É que saí e, somente agora me dei conta de que esqueci o telefone.
E como não sabia onde isso poderia ter acontecido ou mesmo se o havia perdido, resolvi ligar para localizá-lo.

— É isso mesmo...
Ele está aqui em casa.
Estava atrás do porta-retratos da entrada.
Só ouvi quando ele tocou.

— Menos mal.
Estou ligando para avisar que estou em uma reunião de trabalho e vou chegar mais tarde.
Se quiser jantar comigo hoje, não vai dar.
— Ah! Tudo bem, Marcelo.
Eu já jantei por aqui mesmo e estou assistindo a um filme na TV.
A hora que der sono, vou dormir porque estou cansada.
Quando você chegar, não faça muito barulho, tá legal?

— OK. Tchau, Marisa.
— Tchau, Marcelo.

A despedida seca foi notada por Letícia que, mais do que depressa colocou mais vinho no copo do rapaz.
Sabia ela que a referida bebida era muito potente para, juntando-se ao clima formado pelos demais detalhes, conferir ao ambiente o teor de poesia que é próprio do começo de muitos romances.

Por sua vez, a indiferença de Marisa ao telefone parecia uma senha para Marcelo se deixar levar pelas frustrações emocionais, liberando-se de qualquer defesa do laço formal que o unia à esposa.

Assim, numa forma de revidar a indiferença da esposa com a possível e nova infidelidade, passou a sentir que estava no melhor ambiente para deixar acontecer qualquer tipo de situação.

Era como se estivesse se vingando da mulher indiferente, pressupondo que a mesma o estava traindo, igualmente, única explicação para sua mudança de comportamento em relação a ele próprio.

“Nenhuma pergunta sobre onde é que eu estava, sobre como é que estava, com quem estava...” pensava o rapaz, justificando a indiferença da mulher como demonstração de sua falta de afecto ou de seu desprezo para com ele.

Ao lado dele, aproveitando-se do seu estado de pré-ebriedade, os Espíritos do Chefe e de Juvenal, observados pelo Aleijado, estavam a postos, mobilizando suas forças espirituais nos quadros fixadores dos sentimentos contrariados, para que Marcelo se achasse, efectivamente, desprezado como homem, despertando-lhe ainda mais o sentimento de carência, ao mesmo tempo em que Letícia era provocada nos pensamentos aventurosos de se ver nos braços daquele atraente rapaz, como sempre sentira no mais profundo e secreto de seus anseios.

Enquanto o clima ia se tornando cada vez mais favorável aos sentimentos embutidos nos dois corações carentes, do outro lado da cidade, na casa de Marcelo, Marisa se surpreendia duplamente.

Depois que descobriu o telefone celular do marido, uma irresistível curiosidade lhe assaltou o pensamento.
Por que não averiguar as ligações que constavam de seus contactos pessoais?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:31 am

— Ora, ele nem vai saber que estive aqui pesquisando seus compromissos.
Afinal, é sempre bom a gente dar uma olhadinha escondida nos segredos alheios...

E com esse pensamento, Marisa acessou a caixa postal do celular de Marcelo, que ainda trazia os dois recados de Letícia.
A leitura dos recados fez enrubescer a esposa, na interpretação maliciosa daquele encontro.

Além do mais, havia um terceiro recado de que nem mesmo Marcelo tinha ciência e que, na voz de Sílvia, declamava um singelo trecho de poesia, como a dizer como haviam sido agradáveis os momentos vividos intensamente naqueles dias anteriores, mensagem essa que vinha acobertada pelo anonimato, da mesma forma que parecia ter sido originada de um telefone público.

Somente Marcelo poderia identificar-lhe a voz e, para que não se levantasse suspeitas sobre sua procedência, fora originado, como se disse, de número de telefone inacessível à identificação do responsável pela ligação.

Sim, era indiscutível que Marcelo estava tendo um caso com duas mulheres e os três recados em seu telefone eram a prova de que ela necessitava para tornar verdadeiros aqueles argumentos fictícios inventados para Gláucia tanto quanto para apresentar perante Glauco, no dia de sua entrevista.

No seu pensamento, tudo estava se encaixando.
E era o idiota do marido quem lhe estava permitindo ter todas as desculpas para se apresentar como vítima da traição.

Ela saberia muito bem usar esse trunfo.
Tanto que, usando mecanismos adequados, conseguiu reproduzir a gravação dos recados em pequena fita magnética que passou a guardar consigo como a prova ou o indício claro de seus verdadeiros motivos para afastar-se do marido.

Depois disso, uma maquiagem mais carregada produziria a impressão da insónia, das olheiras pronunciadas a demonstrarem o "verdadeiro" sofrimento da esposa traída.
A estas alturas, no apartamento de Letícia, Marcelo e a jovem já se permitiam a intimidade que o vinho e a carência afectiva acabam favorecendo, sempre que a noção da consciência responsável é afastada naqueles momentos decisivos das vidas humanas.

Entre beijos e carícias, Letícia se entregava a um Marcelo fraco no afecto que, inspirado por tantas novidades naquele apartamento agradável, não pensara nas difíceis consequências daquele envolvimento que, a seu ver, era apenas o encontro de corpos, mas que, para o coração de Letícia, significava a perspectiva de uma nova etapa em sua vida afectiva.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 29, 2014 9:31 am

23 - OBSERVANDO DO ALTO E ENTENDENDO OS FACTOS

Como se pode observar, naquela semana, os Espíritos inferiores tinham atuado em várias frentes com a finalidade específica de tecer uma teia envolvente que viesse a enredar todos os nossos invigilantes personagens.

Luiz havia sido afastado da boa influência.
Marisa, naquele sábado, encontrara, na agenda de recados de seu marido Marcelo, as três mensagens, duas de Letícia e uma outra anónima, produzida por Sílvia, as quais, directa e indirectamente, apontavam para a prevaricação do esposo.

Ao mesmo tempo em que, como esposa, se sentira surpresa, isso lhe soara como uma boa oportunidade para dar seguimento aos seus desejos de sedução de Glauco, apresentando-se como vítima da traição do marido e não como aquela que lhe dera causa.

Por isso, ao final da noite, quando Marcelo regressara do apartamento de Letícia ainda com as emanações alcoólicas a interferirem em seu equilíbrio consciente, Marisa optara por nada falar nem lhe fazer nenhuma cobrança, deixando-o entregue aos próprios desajustes, dando-lhe corda à vontade para que, no exacto momento, pudesse enforcá-lo pela melhor maneira.

Antes de se retirar para dormir, a esposa deixara o celular visível ao lado de um bilhete, sobre a cama onde Marcelo passara a dormir, nas noites em que chegava muito tarde.

“Querido, aqui está o seu celular, que encontrei escondido atrás do nosso porta-retratos.
Não faça barulho porque estou muito cansada.”

Marcelo, acostumado com aquela rotina de indiferença, nada desconfiara sobre o fato de seus recados já terem caído no conhecimento de sua esposa, uma vez que não era hábito de ambos a investigação das ligações em seus aparelhos celulares pessoais.

Assim, depois que saiu do banho no qual procurava acordar melhor para avaliar o que havia feito com Letícia em seu apartamento acolhedor, Marcelo resolvera escutar as mensagens existentes na sua caixa postal, surpreendendo-se não com as duas que Letícia havia gravado, mas com as palavras melosas que ele sabia pertencerem a Sílvia, arrojada e provocante.

Ao ouvir-lhe a voz e o teor sedutor da mensagem, Marcelo deu-se pressa em apagar seu conteúdo comprometedor, tanto quanto as duas que Letícia havia produzido com a finalidade de confirmar o encontro do final de semana.

Já Marcelo, naquela noite, se perdia em tentar equacionar c envolvimento amoroso e íntimo que passara a estabelecer com as três moças que compunham seu grupo de trabalho no escritório.
Começara a se apaixonar pela bela Camila.

Depois, descobrira em Sílvia um verdadeiro furacão na intimidade e, por fim, encontrara Letícia, uma flor delicada, a revelar-se do interior da casca em que se escondia, frágil e com medo de se expor, revelando sua verdadeira personalidade.

Por mais que tentasse colocar seus sentimentos em ordem, não sabia para que lado caminhar.
Além do mais, ainda possuía o relacionamento com Marisa, o que significava tripla traição e enganação quádrupla.

Com excepção da esposa que, por seu comportamento estranho e hostil não lhe causava mais nenhuma atracção ou interesse, Marcelo se interessava pelas outras três mulheres, cada uma por um motivo diferente.

Com Sílvia, sentia-se potente e viril, compartilhando o prazer pelo prazer ao lado de uma mulher experiente no assunto.
Com Camila, sentia-se sedutor e galante, enaltecido em sua vaidade por apresentar-se como o conquistador de uma mulher de beleza invejável.
Com Letícia, sentia-se forte e audaz, como um herói que chega para salvar a doce e ingénua donzela, solitária e sonhadora nos sentimentos, desejosa de se entregar ao seu cavaleiro, no compromisso definitivo de um afecto romântico e longamente esperado.

Com as três, havia pactuado manter a discrição no local de trabalho e o respeito aos seus espaços pessoais, afastando qualquer tipo de suspeitas comprometedoras.

No entanto, não poderia adiar por muito tempo o plano de atingir Leandro com o golpe que o tiraria do posto de confiança de Alberto, visando conquistar-lhe o lugar.

Camila era sua aliada confessa, ao mesmo tempo em que, graças à intimidade com as outras duas, não lhe parecia difícil conseguir-lhes o apoio, principalmente depois de tudo o que aconteceu.

Sabia, no entanto, que tudo estaria perdido se, entre elas, a notícia de seu envolvimento físico com todas acabasse conhecida, o que representaria uma péssima novidade, arrasando com seus planos de ascensão.

Agora, a subida na empresa já não era mais para encantar Marisa.
Era uma forma de ser importante para, finalmente, reconhecer-se melhor do que os demais e afirmar-se profissionalmente perante as mulheres e homens que ali trabalhavam em regime de constante competição.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:42 am

Naquela noite, Marcelo, Sílvia, Marisa, Letícia, Camila e Luiz estariam assumindo suas posições no drama que iriam produzir, não por causa da acção das entidades negativas que os intuíam, mas por causa da maldade, da astúcia, da invigilância com que se conduziam na vida.

Nesse sentido, adoptando as atitudes mais nefastas para si próprios, se tornavam ferramentas destrutivas nas mãos de entidades inteligentes e igualmente nocivas, que, da mesma forma, os usariam.

No fundo, entretanto, todos estavam em processo de crescimento, tanto os encarnados e quanto os Espíritos ignorantes, ainda que tal evolução viesse a se realizar através das dores profundas e das recepções da alma, abrindo ferimentos que somente a noite dos séculos poderia cicatrizar.

No plano invisível, depois que o sábado se despedia e o domingo dava os primeiros sinais no horizonte, reuniam-se no astral inferior todos os encarregados do processo obsessivo daquele grupo.

Perante o Presidente da Organização, teriam que prestar contas de seus actos, incluindo-se aí, não apenas o Chefe e seus ajudantes, mas Jefferson e os representantes do Departamento que administrava as acções negativas do escritório onde nossas personagens trabalhavam.

Além do mais, de forma directa e agressiva seriam cobrados pela perda do chefe dos hipnotizadores, perda essa que já havia sido noticiada ao Presidente e que lhe havia causado profundos dissabores, que não foram atenuados mesmo com a revelação dos inúmeros sucessos obtidos com os encarnados que estavam se deixando manipular tão bem, em seus desejos e sensações pervertidas.

A reunião do grupo seria bastante tensa e ameaçadora, sobretudo porquê, com as notícias sobre o progresso do plano, o Presidente marcara para as próximas semanas a intensificação dos processos de perseguição, com a finalidade de atingir seus objectivos pessoais, objectivos estes ainda desconhecidos de todos os seus auxiliares, mesmo dos mais chegados.

A verdade é que todos os integrantes desse movimento, obedientes ao comandante trevoso, estavam sendo utilizados por ele para a conquista de suas metas de destruição e vingança que buscava com determinação.

Ao lado dessa reunião de entidades inferiores, nos círculos superiores do mundo invisível, nossos amigos Félix e Magnus continuavam acompanhando os passos de todos e, amparados pelo devotamento de Alfonso, podiam estabelecer roteiros para suas próximas acções, antevendo as estratégias negativas planejadas pelas trevas.

— Mas o pobre Glauco está sendo cercado por todos os lados — falou Magnus, compungido.
E nem está sonhando com tudo o que estão planeando a seu respeito.
— Sim, Magnus, é isso mesmo.
— Mas não seria bom que nós o protegêssemos para que não acabasse vítima de tantos ataques?

— E nós não o estamos ajudando? — perguntou Alfonso.
— Sim, de uma certa forma, mentor.
No entanto, parece que estamos fazendo essas coisas à distância, enquanto que nossos irmãozinhos inferiores se apresentam directamente, atacando-o de frente, sem rodeios.

— É, realmente você está avaliando bem a situação.
Quando estamos no mundo, pensamos que a função de Deus é criar um sistema de protecção e vigilância para defender todos os que O aceitem e creiam em Sua existência.
Pensamos que, pelo simples facto de irmos às igrejas ou envergarmos esta ou aquela camisa religiosa, passamos a ter direitos de exigir de Deus a protecção absoluta, não mais aceitando que nada de ruim nos aconteça.

No entanto, essa postura é ingénua e atesta o grau de infantilidade que ainda existe dentro de cada um de nós.
Que pai humano deseja criar o seu filho para que ele fique em sua dependência pelo resto da vida?
Que mãe não deseja ver seu filho abandonar as fraldas e caminhar com suas próprias pernas?

Ainda que estejam sempre por perto, dispostos a dar a ajuda que lhes seja possível, os pais humanos costumam, quando lúcidos e cônscios de suas obrigações no tutelar os filhos, entregá-los à vida, para que constituam suas próprias famílias e cresçam interiormente.

Assim também acontece com as preocupações Divinas, Magnus.
Nosso querido Glauco é credor de nosso carinho e atenção e, sempre que estiver em sintonia connosco, estaremos com ele igualmente.
No entanto, não desejamos transformá-lo em um boneco que nos obedeça ou que se entregue a nós como se nos pertencesse.

Em sua história de vida, meu amigo, ele já passou por situações delicadas no afecto desprevenido e invigilante.
Nada mais certo que, depois que lhe foi oferecida a primeira ajuda, na forma de conselhos e apoios à emoção desajustada, chegue a hora de passar pela prova decisiva para dar testemunho de que, efectivamente, aprendeu a lição.

Nessa hora, não podemos interferir, tornando-nos assistentes de seus pensamentos e decisões livres, como o aluno no dia da prova, para ser bem avaliado, precisa responder às perguntas longe das suas anotações pessoais, dos livros teóricos, da ajuda do professor e das fraudes representadas pelas cópias clandestinas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:43 am

Somente assim, Magnus, é que o aluno pode ser apreciado integralmente, ficando o professor e ele próprio com a exacta noção do grau de seu aprendizado.
Como está vendo, meu amigo, não se trata de descaso para com Glauco e, sim, de conferir-lhe liberdade para que seus avanços espirituais possam ser testados, tanto quanto a sua ligação connosco, nos momentos mais perigosos de seu caminho.

Esse é um dos motivos subjacentes que levam a própria Gláucia, sua noiva, a não insistir em unir-se a ele, definitivamente, como é do desejo do rapaz.
Intuitivamente, ela sabe que existem fragilidades em Glauco que só o baptismo de fogo poderá aferir se está ou não habilitado com maturidade a superar os desafios de uma união verdadeira e livre, longe das seduções dos corpos e das provocações femininas que cobicem a sua companhia masculina.

Se Glauco não souber se conduzir quando estiver livre para fazê-lo, demonstrará que ainda está em patamar menos elevado e, por isso, precisa de mais tempo para estudar as lições da vida até que possa ser vitorioso nos embates do destino.
Esse é o supremo motivo do processo de reencarnação.

Magnus se admirava da sabedoria de tais conceitos e, aproveitando-se de uma pequena pausa do instrutor, comentou, respeitoso:
— No entanto, nobre mentor, no dia da reunião em família, quando foi atacado pelo irmãozinho obsessor que lhe pretendia implantar os ovóides na estrutura magnética do perispírito, pudemos lhe estender as mãos protectoras, a defendê-lo, de forma mais directa, das acções nefastas do perseguidor.
Não estaria, igualmente, em teste?

— Sim — respondeu Alfonso — sua observação é procedente.
E tal facto assim se deu, porquanto Glauco estava em sintonia com a elevação interior.
Não se esqueça, Magnus, que naquele dia, ao invés de esconder suas faltas no véu do esquecimento ao comentar o Evangelho, ele se colocou como o exemplo do equívoco a ser evitado, numa demonstração verdadeira de humildade, não desejando parecer incólume, irrepreensível aos olhos dos demais.

Sua demonstração de coragem e sinceridade atraíram para si e de forma natural, a simpatia das forças do Bem que, conhecendo-lhe as fraquezas, puderam bem aquilatar o grau de seu comprometimento com a própria transformação, tornando-se credor da protecção imediata em relação aos ataques que sofreria.

Ao mesmo tempo, havia a necessidade de resgatar a entidade perturbadora, oportunidade longamente aguardada pelo plano superior, nos esforços maternos de amparar e reconquistar o coração transviado.

Por isso, não apenas para ajudar Glauco como também para manter a necessária vibração elevada, fornecendo elementos-força para que o hipnotizador pudesse se ver tocado pela presença querida, é que tivemos que activar o campo protector do nosso querido companheiro encarnado, graças ao que o obsessor gastou seu potencial magnético em vão, tornando-se menos resistente à acção transformadora do Bem.

Se tivesse conseguido o sucesso que desejava, não haveria em sua alma a disposição favorável que se consegue, às vezes, pelo desgaste, pelo cansaço, pela saturação no mal, pelo desencanto a respeito das velhas condutas inferiorizadas.

Por isso, a protecção por nós exercida a benefício de Glauco teve também a função de servir de escudo que obrigasse o hipnotizador a se enfraquecer magneticamente.
Sem contar com a possibilidade de resgatar as quatro entidades ovóides que puderam encontrar o amparo do coração materno que se materializou em nosso meio como um Sol na treva escura da noite.

Por todos estes motivos, Magnus, naquele dia tínhamos motivos variados para associarmos nossas forças às de Glauco.
No entanto, não resta dúvida de que aquele era um ambiente especial, inundado pelas luzes da oração, enquanto que cada um, em sua vida diária, vive no universo das ideias e acções que lhes pareça mais conveniente.

E é nesse universo exterior que compete a Glauco dar demonstração de vitória sobre si mesmo e desejo de superar as tendências que, no passado, já o haviam envolvido e produzido a tragédia moral que conhecemos.

O mesmo será esperado de Gláucia, na compreensão sincera, no crédito que possa dar ao companheiro e na capacidade de entendimento que, afastada da protecção materna, do ambiente da oração em família, também precisará da dor, do sofrimento, da decepção, para as avaliações evolutivas a seu respeito, visando o acesso às futuras promoções no conceito espiritual.

Magnus se dava por satisfeito, ao mesmo tempo em que Félix, calado até aquele momento, solicitara a conversação reservada com Alfonso para tratarem dos próximos passos daquele drama que, contendo os encarnados e os Espíritos inferiores como actores principais até aquele instante, eram acompanhados pela visão atenta das entidades generosas que lhes conheciam as intenções e desejavam ampará-los da forma mais ampla possível.

Assim, retiraram-se os dois instrutores para consultar os detalhes e desdobramentos daquele caso, tanto quanto para recolherem as instruções que lhes chegavam das Entidades Superiores que dirigiam os passos de seus tutelados encarnados, buscando envolvê-los nas companhias luminosas de Espíritos instrutores e mentores com Félix e Alfonso que, representando o Amor de Deus e o Carinho de Jesus na superfície do planeta, caminhavam ao lado de seus protegidos para tentar ajudá-los a fim de que não se comprometessem ainda mais nos equívocos e no mal.

Pode parecer, querido leitor, que o Mal actua sem controle do Bem.
No entanto, gostaria que você se lembrasse de que a verdade é absolutamente diversa.
O Mal actua dentro do espaço de manobra que os encarnados e desencarnados, igualmente invigilantes, lhe concedem.

No entanto, sobre todos eles, o Bem governa os caminhos e intervém no instante adequado para que, indistintamente, TODOS SE ENCONTREM CONSIGO MESMOS E RECTIFIQUEM SEUS ACTOS.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:43 am

24 - MÚLTIPLAS ASTÚCIAS E PROTECÇÕES ESPECÍFICAS

De posse da gravação das três mensagens ouvidas no celular do marido, Marisa aguardava o momento da primeira entrevista com Glauco, na sede da empresa em que trabalhava como consultor, com a desculpa de pedir-lhe orientações para a abertura de um negócio próprio.

E se, inicialmente, havia ficado contrariada pelo facto de o primeiro encontro ter sido marcado com um lapso temporal de dez dias, agora, com as provas da traição do marido, bendizia a sorte que lhe concedera tal prazo graças ao qual reunira os indícios que dariam mais consistência às suas palavras.

A semana começara e, preparando-se para as próximas jogadas, Marisa atirou-se com afinco na obtenção de informações adequadas para quem deseja dar início a um trabalho autónomo, no ramo do comércio de bijuterias em algum Shopping Center.

Marcelo, por sua vez, regressara à rotina do escritório, revestindo-se de cuidados especiais para que não se levantasse suspeitas acerca de seu envolvimento com as três amigas ao mesmo tempo e, de igual sorte, para que não mudasse sua conduta com nenhuma delas.

Logo pela manhã, encontrou-se com Camila em sua sala, quando foi recebido com uma dose a mais de intimidade do que aquela que existia antes da troca dos beijos calorosos.
— Marcelo, pensei muito em você no final de semana... — disse Camila, ao abraçar o amigo assim que entrou, como de costume, depositando-lhe um rápido beijinho em seus lábios.

Sentindo-se desejado pela mulher que também cobiçava, Marcelo buscou certificar-se de que a porta estava fechada e respondeu cavalheiresco, ainda que sua consciência lhe dissesse que não havia sido bem assim, como suas palavras iriam dizer:
— Eu também, Camila, pensei muito em você.
Acho que nossa aproximação tem sido algo muito bom, mas, ao mesmo tempo, tem me deixado confuso.

— Como confuso, Mar...?
— Sim, Camila, confuso porque meus sentimentos ficaram embaralhados.
Seu beijo, seu calor, sua maneira de me fazer sentir importante, conflituam com as minhas responsabilidades.
— Mas nós somos adultos, Marcelo, e se você se sente desse jeito quando nos colocamos mais próximos é porque existe um vazio em seu coração, acomodado talvez a uma relação que já não lhe satisfaz.

— É isso que também me tem incomodado, Ca...
Antes de estarmos mais próximos, tudo corria normalmente.
No entanto, com o decorrer do tempo, passei a perceber as rotinas do casamento se fazendo mais pesadas e as dúvidas cresceram.

Pessoalmente, quero que saiba que não desejo envolvê-la para tirar proveito ou iludi-la.
Você me faz muito bem e, de minha parte, não gostaria de lhe causar qualquer sofrimento.

As palavras de Marcelo eram sinceras, próprias de um coração que está se entregando ao sentimento apaixonado, iludindo-se com a beleza da jovem que bem sabia utilizar seus atributos para confundir os corações masculinos que a requestavam.

Além disso, eram ditas em tom de tristeza, tornando-as ainda mais pungentes aos ouvidos de Camila que, assim, tinha certeza da dificuldade afectiva que ardia no íntimo de Marcelo.

Atraída por tal fragilidade, Camila, inteligente, respondeu tomando entre as suas, as mãos do rapaz:
— Mar, não se preocupe tanto.
Eu também tenho sentido o mesmo por você, com a vantagem de não estar envolvida com ninguém.
Todavia não vou tornar a sua vida um inferno.

Cada um de nós poderá desfrutar desse sentimento como dois adultos que se entendem bem, até que, de sua parte, você esclareça estas questões consigo mesmo e, se o futuro permitir, possamos nos fazer mais próximos... que tal?

Vendo a forma compreensiva de Camila em não pressioná-lo na adopção de condutas visando assumir um novo relacionamento, com a ruptura da união conjugal, Marcelo sorriu, agradecido, e respondeu:
— É por isso que as coisas têm ficado cada vez mais difíceis para mim, Ca.
Você é muito especial, muito importante a cada dia que passa, em minha vida.
— Então, Marcelo, vamos continuar vivendo um dia de cada vez.

Acariciou o rosto do rapaz e, para mudar o rumo da conversa, falou sussurrando, como se as paredes tivessem ouvidos:
— Marcelo, eu flagrei outra invasão de Leandro nos meus casos.
— Não é possível, Ca.
Esse cara não aprende?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:43 am

— É — respondeu a moça — ele está cada vez mais ousado.
— É uma falta de respeito com sua privacidade.
Está dizendo, com isso, que desconfia de sua honestidade na condução dos casos e insinuando que você pode estar desviando recursos do escritório.

— É, já pensei em tudo isso.
Mas você não sabe do pior.
— Fale... fale...
— Eu desconfio que quem está desviando valores é ele próprio.
— Como assim? — perguntou Marcelo, curioso.
— Eu tenho um cliente que possui parentes ligados a Leandro, também na condição de constituintes, valendo-se de seus serviços advocatícios.

— Sim...
— E meu cliente me tem informado de que seus parentes têm tido encontros sigilosos com Leandro, fora do escritório, onde lhe fazem entregas de dinheiro, com a desculpa de que se trata de propina para comprar decisões favoráveis e que, obviamente, não pode ser declarada.

Quando meu cliente soube dessa prática, procurou-me para perguntar se, no caso dele também, eu não poderia adoptar essa rotina.
Tomo eu estava desinformada do assunto, pedi que me explicasse qual era o procedimento que Leandro estava usando, ocasião em que fui colocada ao corrente dos factos.

Coçando a cabeça como fazia diante de um enigma desafiador, Marcelo respondeu, intrigado:
— Mas isso é muito grave, Camila.
Esse negócio de pedir dinheiro por fora é muito sério.
A gente sabe que existem autoridades e autoridades, algumas das quais, de forma velada, solicitam favores, indicam caminhos com base na troca de interesses.
No entanto, como é que se pode comprovar que esse dinheiro não era, na verdade, para o próprio Leandro?

— É isso que eu também penso, Mar.
Depois que me informei desse assunto, passei a observar melhor o procedimento dele.
E, para minha surpresa, constatei que essa rotina não era somente com o meu cliente.

Várias vezes pude perceber que ele mantinha encontros com outros em pontos estratégicos da cidade.
Uma vez, inclusive, arrumei uma desculpa para sair no mesmo horário e, com muito cuidado, segui o seu carro até o ponto marcado.

Com uma máquina fotográfica, tirei vários instantâneos de sua chegada ao local, da chegada dos seus "clientes", carregando uma pasta com os "documentos" e, por fim, de sua saída com a entrega sob sua guarda.

Intrigada com a prática, contratei um detective por alguns dias e, sabendo que a coisa era mais grave do que parecia, consegui uma série de informações, fotografias novas e informações confiáveis que atestavam o depósito em diversas contas, todas em seu nome.
Isso coincidia, às vezes, com a compra de algum novo carro, desses caríssimos que todos sonhamos ter.

Pensando nas repercussões dessa descoberta, dentro dos planos que tinha em tomar-lhe o lugar, Marcelo aguçou seu interesse pelas notícias.
— Mas e o Dr. Alberto, Camila, será que ele não sabe disso tudo?

— Não faço a menor ideia, Mar.
O velho já está meio afastado desses processos e se ocupa em administrar o seu império, recolhendo a parte gorda que lhe cabe.
Deve imaginar que Leandro dê os seus pulinhos, mas, diante das vantagens, deve fazer vistas grossas.
Vai saber também quanto é que o velho não extorquiu ao longo de sua vida, obtendo recursos com esse tipo de conversa.

— Não se esqueça, Marcelo, ele é advogado mais antigo do que nós...
Observando as referências maliciosas de Camila, Marcelo disse, indignado:
—Tudo bem, Camila, os advogados são treinados para "resolver" os problemas pelos meios possíveis ou impossíveis.
No entanto, nunca tive cara de pau de levar dinheiro para autoridades nem para, com tal desculpa, embolsar recursos valendo-me de mentiras e de estratégias de corrupção.

— É por isso, Marcelo, que nós estamos tão abaixo na escala de importância do escritório.
Se já nos tivéssemos comprometido com os esquemas podres, já teríamos subido e, certamente, estaríamos andando com carrões como os que eles têm.
Só que eu penso que um dia isso tem que acabar....

Escutando as palavras de Camila, dentro do mesmo diapasão te suas intenções, Marcelo aproveitou a deixa e respondeu:
— Eu penso a mesma coisa, Ca.
Um dia tudo isso tem que acabar e, ao invés de usarem a gente para conseguir clientela e abastecerem com nosso suor os esquemas corruptos em que se metem, perderão a reputação que parece possuírem, com a queda da máscara de honestos e guardiães ilibados da ética e da honradez.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:43 am

— De minha parte, Marcelo, eu sonho com esse momento.
Não em tirá-los do posto, mas em verem suas caras quebradas pelo aparecimento da verdade.
E eu desconfio que Leandro me vigia os passos por saber que tenho alguma ligação com os clientes que ele vem usando para obter dinheiro com mentiras.

Como sabe de minhas relações profissionais, parece que se coloca no meu encalço de forma ameaçadora para me intimidar ou me lembrar de que está me vigiando.
Nem imagina, o idiota, que tenho até fotografias de suas aventuras.

Calado com o peso das notícias, Marcelo demonstrava indignação e concordância com as suspeitas da jovem.

Vendo que o rapaz se mantinha favorável aos seus propósitos, Camila continuou, cautelosa:
— Mas, na verdade, eu não tenho como, sozinha, lutar contra esses tubarões.
Facilmente me devorarão e eu parecerei uma tola ambiciosa com interesse em subir profissionalmente, derrubando os superiores.
Acho que tais documentos vão acabar esquecidos em meus arquivos particulares porque não sei como fazer para acabar com essa perseguição.


— Eu acho que você tem todos os trunfos na mão, Camila.
São indícios fortes da participação de Leandro em negócios escusos e que podem estar lesando os interesses do próprio Alberto.
Para que possamos conseguir esse intento, ao menos o de desmascarar o maldito ladrão, precisamos comprometê-lo diante do dono, apresentando as provas que colocarão Leandro em uma situação, no mínimo, delicada e desconfortável.

Além disso, existem as investidas clandestinas dele em relação à sua privacidade.
Somadas a isso, as contas bancárias recheadas, as tratativas externas, as fotografias parecerão coisa pequena diante do oceano de podridão.
Você pode contar, ainda, com o depoimento do seu próprio cliente que, de maneira natural, veio lhe pedir que usasse os mesmos meios que Leandro estava usando para conseguir os favores da lei na solução de suas pendências.

Vendo como Marcelo se envolvia na questão, Camila afirmou:
— Sabe, Mar, eu gostaria de ser assim como você.
O que mais me admira num homem é a sua coragem, a sua inteligência, a sua capacidade de lutar pelas causas certas onde os princípios morais mais elevados prevaleçam.
Pena que eu seja mulher, sempre em uma posição muito mais delicada.
Se eu fosse homem, partiria para a confrontação porque é exactamente isso que mais me atrai na força masculina, a capacidade de ir às últimas consequências para que os valores e princípios sejam defendidos.

— Ora, Camila, mesmo como mulher você pode fazer isso.
— Mas minhas chances de sucesso ou crédito são insignificantes.
Estou sozinha e isso já é o suficiente.
— Claro que não, Camila!
Você não está sozinha.
E eu, o que estou fazendo aqui?

— Ora, Marcelo, esse negócio não é com você, meu amigo.
Isso faz parte de meus problemas e poderia custar até mesmo a vida de qualquer pessoa.
Sim, Marcelo, as coisas são tão graves que podem chegar até o risco de ser assassinado.
Como são assim, é melhor permanecer sozinha e viva, do que almejar defender a verdade e acabar no cemitério.
Você não acha que sou muito nova para morar debaixo da terra?

Enquanto perguntava isso, carinhosa, Camila se aproximou de Marcelo, que estava de pé, olhando pela janela o movimento da rua lá embaixo e envolveu-o com seus longos braços perfumados, como a lhe pedir o conforto de seu peito masculino e acolhedor.

— Você não nasceu para morar debaixo da terra, Ca... você tem, em meu peito, um local mais quente e agradável para viver....

Segurou a cabeça da jovem que se estava entregando, carente, aos seus carinhos e, entrelaçando seus dedos nos longos cabelos aloirados da nuca, direccionou os lábios passivos e ansiosos de Camila para o encontro com os seus, na renovação do ósculo cada vez mais apaixonado, com o qual Marcelo demonstrava o seu sentimento e sua ligação com a moça.

A cena apaixonada manteve ambos enlevados por alguns instantes, até que as necessárias actividades e a chegada de mais pessoas ao escritório aconselhavam que se separassem, prometendo-se sigilo sobre todos os assuntos que passavam a fazer parte da intimidade dos dois, fosse em relação a Leandro, fosse em relação aos seus sentimentos.

No entanto, dentro da cabeça do rapaz, as condições para o golpe em Leandro estavam se delineando cada vez mais.
Havia provas, então....
Leandro era vulnerável... tinha o "rabo preso"... fazia coisas indecorosas e que poderiam demonstrar a Alberto a sua desonestidade....
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:44 am

Todas estas ideias surgiam em sua mente excitada pela possibilidade de seus planos estarem sendo conduzidos na direcção revista, graças à confiança de Camila.

O Chefe e Juvenal se mantinham a postos, com as técnicas de indução negativa, estímulo favorável e ideação fotográfica, através das quais, faziam chover sobre Marcelo um mar de informações, ideias e inspirações que o estimulavam no caminho maldoso a que se permitia, desde que passara a buscar melhorar sua posição profissional não por seus méritos, mas, sim, por sua conduta baixa.

O cérebro de Marcelo fervia.
Inúmeras ideias circulavam em torvelinho, temperadas pela maneira doce com que Camila se referia às qualidades masculinas que lhe causavam admiração.

Ele poderia ser, finalmente, o homem dos sonhos daquela beldade carente e em situação delicada diante do perseguidor Leandro.
Suas ambições profissionais se uniram aos seus anseios viris, envolvendo-se mais profundamente com Camila, ainda que não tivessem mantido, ainda, nenhum relacionamento íntimo como acontecera com as duas outras.

Camila correspondia ao prémio apropriado aos seus ideais conquistadores de galante varão, enquanto que Marisa não passava de uma dondoca superficial que apenas usufruía do padrão de vida que ele oferecia e, um dia, fora sua parceira sexual.

Não. Marisa não chegava aos pés de Camila.
E enquanto ia pensando desse modo, os Espíritos que o "ajudavam" continuavam a aprovar o conteúdo de suas ideias, mais e mais estimulando em sua alma a noção de insatisfação afectiva, nas comparações sempre desfavoráveis à manutenção da união com Marisa.

Já a possibilidade de se ver reconhecido por Camila como o eleito de seu afecto lhe produzia uma euforia na alma, transformando seus pensamentos e aconselhando a adopção de todas as condutas mais adequadas para que, de uma só tacada, pudesse conseguir realizar todos os seus objectivos.

Derrubaria Leandro e se tornaria o companheiro de Camila, rompendo a união com Marisa e conseguindo a felicidade que, até então, não havia desfrutado com mulher alguma.

Enquanto seus planos prosseguiam, ao lado dos planos de Marisa, Sílvia e Letícia também planejavam, tendo-o como centro de suas estratégias.
Sílvia, encantada com as sensações sexuais que vivenciara em sua companhia, já havia demonstrado o interesse em renovar aquele encontro de intimidade e devassidão.

Acostumada ao exercício insaciável da sexualidade, Sílvia também viciara os centros do prazer e, dessa forma, necessitava de cada vez mais e mais experiências, como se tão logo terminasse de se alimentar, já ansiasse por reabastecer-se na mencionada área do prazer físico.

Como considerava a sexualidade de forma leviana e superficial, o que lhe interessava era curtir aqueles momentos, sem pretender maior profundidade emocional.

Não desejava ter que administrar paixões, demonstrar sentimentos.
Só queria uma boa relação íntima e nada mais. Marcelo surgira, para sua surpresa, como o amante ideal, fogoso, criativo, intenso, coisa que não se encontrava todos os dias por aí, como costumava constatar sempre que se aventurava com outras companhias masculinas.

Por isso, Sílvia iria jogar suas cartas na repetição daqueles encontros, pressionando o rapaz para que se renovassem, mesmo que, para isso, tivesse que chantageá-lo, coisa que, aliás, era bem de seu feitio quando desejava realizar seus interesses.

E o seu desejo físico, alimentado pelas provocações invisíveis que lhe eram promovidas pelos mencionados Espíritos que exploravam sua sexualidade, sugando-lhe as forças e absorvendo-lhe a sensação de prazer efusivo, lhe dizia que tal novo encontro não poderia tardar, para que as emoções não acabassem esquecidas ou esfriadas.

Ao mesmo tempo, Letícia, mais e mais alimentada pela intimidade conseguida naquela noite, regada ao vinho e ao clima sedutor, se permitia cada vez mais apaixonar-se diante da possibilidade de acercar-se do homem desejado.

Não lhe ocorria que aquilo que acontecera entre ambos fora fruto de uma combinação de vários factores que, reunidos, podiam fazer com que um homem e uma mulher se encontrassem intimamente, sem querer significar que entre eles ou, da parte de um deles, houvesse sentimento verdadeiro para a instauração de um relacionamento conjugal.

No entanto, o simples facto de Marcelo, fraco e viciado na sexualidade irresponsável, ter-se deixado conduzir pelo clima e pelos vapores alcoólicos, já era um poderoso indicador para Letícia de que o rapaz apreciava a sua companhia e, mais do que isso, corresponderia calorosamente aos seus anseios de mulher.

A jovem, assim, se permitia enveredar pelo caminho da paixão longamente represada e que, uma vez liberada por pequeno dreno, passara a fazer pressão insuportável sobre a barragem, ansiando a liberação de todo o volume emocional longamente contido, representado pelo afecto nunca adequadamente correspondido por outrem.

Sua intenção era a de trazê-lo para a companhia definitiva e, ao seu lado, dando início a uma família, ansiedade essa que pesava sobre sua condição de mulher, principalmente diante das cobranças sociais e do fato de todas as suas outras amigas já se encontrarem cuidando dos seus próprios filhos.

Não estava em seus planos ser vista como a solteirona frustrada ainda que fosse a mais inteligente.
No fundo, ela sabia que Marcelo poderia encarar aqueles momentos como fugaz e agradável aventura.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:44 am

No entanto, como mulher, saberia retirar daquela intimidade todos os frutos e consequências que estivessem à altura de sua condição feminina.
Saberia mover os pauzinhos com astúcia e, mais do que torpedear a sua união com Marisa, iria conseguir atrair o interesse do rapaz a fim de que, ao seu lado, acabasse vivenciando a tão sonhada felicidade.

Marisa que se virasse sozinha!
Enquanto a malícia, a maldade e o interesse material escusos serviam de combustível para tais aventuras no prenúncio de dores na vida de todos os envolvidos, observemos o que se passava com Olívia e Gláucia.

Buscando manter abastecido o lar com os recursos materiais obtidos com honestidade, Olívia ajudava o esposo nas actividades produtivas, gastando os olhos na máquina de costura, dando conta diária da produção que lhe era destinada por confecção próxima.

Ao mesmo tempo, por três vezes na semana, Olívia devotava-se às actividades diárias do núcleo espírita com o qual se afinizava e encontrava retempero para suas energias. Inspiração para seus desejos de evolução, conhecimento para melhorar os conceitos de vida que ia colocando em prática.

Dotada de uma percepção mediúnica razoavelmente desenvolvida na área da intuição consciente, era elemento útil na instituição benemerente pelos serviços que prestava, tanto na área da confecção de roupas para os carentes que ali encontravam atendimento, quanto na possibilidade de servir como fonte de consolação aos que chegavam, precisando de uma palavra de carinho e entendimento, fossem os encarnados, fossem os Espíritos necessitados, que se manifestavam em reuniões privadas, de intercâmbio mediúnico.

Suas experiências longamente enriquecidas em função das inúmeras vidas anteriores, reencarnações de sofrimento e depuração, haviam talhado sua alma para a resistência nos embates do caminho, como o rude cabo da enxada beneficia a delicada pele das mãos através da formação das calosidades que a fazem mais resistente aos espinhos e farpas que as ataquem.

Seguindo seus bons exemplos, Gláucia a acompanhava sempre e, na medida do possível, Glauco se fazia companheiro nessas ocasiões, ainda que não pudesse se engajar de forma plena nas tarefas de amor ao próximo.

Era um sincero frequentador, acompanhando com devotamento as lições espirituais que recebia pela leitura ou por palestras, ao mesmo tempo em que procurava transformá-las em atitudes, vigiando seus anseios e medindo sua conduta pelo critério das mensagens elevadas aprendidas.

Queria ser um bom homem, ainda que tivesse que se ver perseguido pelas culpas e pelos erros da juventude a lhe fustigarem a consciência.
Olívia, assim, era a única que tinha acesso aos trabalhos mais complexos da casa espírita, já que os demais membros da família que a acompanhavam vinculavam-se a outros interesses, que dificultavam a sua participação mais definida nas obras que ali se realizavam.

Esse era o ambiente no qual os mentores, instrutores e Espíritos amigos se congregavam para a realização dos esforços do bem no caminho dos que buscassem amparo para suas dores.

Longe de ser um tribunal identificador de culpas e lavrador de sentenças condenatórias, longe de ser uma bolsa de valores a buscar recursos da moeda do mundo como condição de ofertar amparo, a casa espírita era o porto seguro no qual as forças elevadas eram activadas pelo teor dos pensamentos melhorados, dos sentimentos fervorosos, das orações sinceras, permitindo, assim, que todos os que dali se acercassem, mesmo que continuassem com seus problemas antigos, saíssem fortalecidos, renovados na alma, carregando sempre um alimento sadio para suas necessidades íntimas, fosse na forma de informações, fosse na de passe magnético, fosse na da alegria do entendimento e de se sentirem queridos por outras pessoas.

E, por isso, pequena sucursal celeste na superfície do mundo, aquele agrupamento operoso no Bem era a sede dos esforços da Bondade na ajuda incondicional aos encarnados, dos mais ingénuos aos mais viciosos ou degenerados.

Dali partiam os trabalhadores invisíveis que assumiam os compromissos com o evangelho no lar realizado na casa de Olívia, todos baseados na instituição espírita para onde traziam as entidades recolhidas na mencionada reunião e de onde retiravam os recursos fluídicos para o atendimento das necessidades da família.

Nessa instituição benemerente, Alfonso ocupava destacada função, ao mesmo tempo em que Félix e Magnus ali se achavam admitidos como valorosos trabalhadores no desenvolvimento de delicada tarefa de amparo aos encarnados sobre os quais as atenções espirituais se voltavam, especialmente no caso das nossas personagens.

Assim, nas reuniões públicas ou nas privativas dos grupos mediúnicos, as entidades amigas se desdobravam para combater os pensamentos depressivos, as tristezas mais ocultas, as angústias morais, os desesperos materiais, as rebeldias da ignorância, usando instrumentos que só o amor dispõe com sabedoria e banindo para sempre as ferramentas do mal com as quais a maldade se acostuma a tentar resolver suas pendências.

As caravanas espirituais de socorro que, nos dias marcados, tinham compromissos com os diversos frequentadores do centro espírita que realizavam a oração em suas respectivas casas, saíam dali, o que transformava cada lar em um foco luminoso a resgatar entidades sofredoras que compunham a população invisível daquela moradia, tanto quanto a que se perdia nas vizinhanças, nos lares ainda não atentos para o valor da oração íntima.

E como membro integrante dos trabalhadores devotados à causa de Jesus sobre a Terra, na implantação do Reino de Deus no coração das pessoas, Olívia era sempre amparada pelas sugestões do Bem, a lhe fortalecerem as fibras da alma para os desafios na orientação naqueles que orbitavam sua vida, nas diversas condições sociais, como filhos, como genro, como esposo, como amigos, como parentes distantes.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:44 am

Para isso, ocasionalmente, Olívia recebia avisos que a reparavam espiritualmente para enfrentar com sabedoria e atenção as fases mais agudas dos testemunhos.

Foi assim que, em um dos trabalhos daqueles dias, servindo-se de outro médium responsável que ali militava com denodo, Alfonso dirigiu-se a Olívia, informando-a, sereno e amigo:
— Minha filha, graças aos seus exemplos de amor e equilíbrio, você granjeou o respeito e a gratidão de todos nós, o que nos autoriza a fortalecê-la e estender tal protecção aos que são objecto de seu afecto.

— Obrigado, irmão querido, apesar de minha desvalia, sou-lhe muito grata.
— É o mesmo que sentimos em relação à solicitude de Jesus para connosco, Olívia.
Nossa desvalia moral não impede que o Mestre nos ame e nos ajude, sempre.
No entanto, aproveito estes momentos para lhe dizer que precisaremos de todo o seu equilíbrio diante de uma delicada fase que vai envolver o seu lar, nos testemunhos necessários ao crescimento daqueles que compõem este grupo de almas afins.

— Estarei a postos com o melhor de mim, querido irmão.
— Estamos certos disso, minha filha. No entanto, como tal período não envolverá apenas você, mas, ao contrário, todos os componentes de seu lar, a alertamos para que se refugie na prece, além de preparar nossa querida Gláucia para servir-lhe de apoio vibratório.

Não podemos antecipar detalhes da dificuldade.
Apenas podemos informar que vocês estão capacitados para superá-la se souberem guardar equilíbrio e paz interior.
Não se permita a posição de mãe indignada, de mulher não considerada, de sogra implicante.
Você será testada na posição de irmã de todos, deixando de lado os eventuais desejos de ser acatada como outra coisa que não, apenas irmã.

João, seu esposo, é um pouco imaturo para certas coisas e não poderemos esperar que tenha uma atitude diferente daquela que sua evolução espiritual comporta.
Luiz está em difícil condição moral e, fugindo de si mesmo, precisará sofrer muitas dores para acordar para a realidade.
Gláucia e Glauco passarão por momentos dolorosos nos quais se capacitarão para a libertação do peso da culpa do ontem delituoso.

Não se esqueça que você não deve estar entre eles como quem julga ou lavra sentenças.
Deve estar como quem apaga os incêndios que o mundo e a insensatez dos homens ateia com o intuito de destruir a felicidade dos que parecem felizes.

Converse com sua filha e prepare seu Espírito para definir seu afecto por Glauco, independentemente de qualquer situação ou ocorrência, porquanto essa é a prova de fogo que precisarão enfrentar para a construção de uma união venturosa e feliz, se souberem suportar os embates e desenvolverem a confiança e o perdão incondicionais.

Se possível, cuidando para não criar um clima de terror em seus pensamentos — o que poderia ser muito negativo para a vitória, já que o medo que se alastra consome forças de resistência que são preciosas para o equilíbrio e para a reacção — convide os dois para virem mais à casa espírita receber tratamentos da fluidoterapia, através dos passes magnéticos semanais e das palestras preparatórias.

Sem que imaginem, estarão sendo abastecidos de energias positivas e balsamizantes, já que delas precisarão para as horas delicadas que os aguardam.
E quanto a você, nunca se esqueça de que a melhor forma de combater o mal é deixá-lo passar e não reviver suas emoções, o que seria dar-lhe muito mais importância do que, efectivamente, possui.

O mal só é importante para o maldoso, pelos sofrimentos que vai produzir em seu caminho, graças aos quais, ele haverá de mudar de ideia, um dia.
Sejamos, então, aqueles que confiam no Bem acima de tudo e que, com tolerância, amor sincero, compreensão sem condições, capacidade de perdoar as faltas alheias, nos tornemos alicerce do Amor para a edificação das almas doentes que, cedo ou tarde, acharão o remédio que estão buscando.

Sobre esse tipo de conduta, diga a Gláucia que estamos contando com ela, para que se conduza da mesma maneira, porquanto somente com esse padrão de comportamento é que poderemos lhe garantir a felicidade merecida ao lado do homem amado.

Agora é tempo de semear.
Depois, chegará a hora de colher.
Semeemos boas sementes para, no devido tempo, podermos colher frutos doces e saborosos.
Não se esqueça, filha, que estaremos sempre com vocês, aconteça o que acontecer.

Terminado o colóquio fraterno, Olívia, emocionada, agradeceu a distinção daqueles momentos de atenção e prometeu, em prece elevada, tudo fazer para não decepcionar o carinho dos benfeitores generosos e as dádivas de Amor que o Mestre Jesus dispensava a todos os doentes do mundo, para levá-los à melhoria duradoura.

Repleta de confiança, ainda que avisada das turbulências que iriam chegar em seu caminho, Olívia voltou para casa naquela noite, no aguardo do remédio do tempo o qual, como já se disse, no seu transcurso lento e inflexível, tanto traz as tempestades quanto as leva embora.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:44 am

25 - MARISA COMEÇA O ATAQUE

No dia marcado para a primeira entrevista com Glauco, Marisa se esmerou na aparência a fim de, simultaneamente, parecer natural e exuberante aos olhos masculinos.

Dessa forma, buscou apresentar-se com o visual muito parecido com aquele que Gláucia costumava usar, seja no estilo do penteado, na estrutura das roupas, e, em especial, no perfume marcante, para que a memória olfactiva de Glauco pudesse facilitar a associação.

No encontro que tivera com a sua noiva, Marisa identificara a fragrância que costumava usar e, adquirindo uma igual, fizera dela o toque final na composição de sua aparência.

Seu estado íntimo era o de uma adolescente ao encontro de primeiro namorado.
Nem ela mesma sabia dizer porque motivo estava tão interessada em Glauco, mas, como todas as pessoas buscam encontrar a felicidade sendo que a maioria imagina que ela se acha fixada sobre pessoas coisas ou objectos, Marisa idealizara que seria no noivo de Gláucia que encontraria a solução para os seus anseios femininos.

Não sabia da influenciação espiritual negativa, a conduzir seus sentimentos aos interesses clandestinos, com a utilização de imagens sugestivas ou envolvimentos oníricos, despertando o interesse dos desprevenidos, como era o caso de Marisa.

Ainda assim, a novidade da aventura conquistadora valia por uma boa dose de adrenalina em sua vida monótona e rotineira, nas superficialidades de uma existência praticamente inútil e sem sentido de realização.

Glauco, ao contrário, surgia como o ideal masculino, não apenas por sua aparência cativante, pelo sucesso profissional que demonstrava, ainda que sem ostentação, mas, sobretudo, pela forma pacífica e amorosa com que se relacionava com Gláucia.

Depois da conversa que tivera com a jovem, Marisa se sentiu ainda mais estimulada em fustigar o rapaz, procurando-lhe o ponto fraco para que, imaginando-o um excelente partido, pudesse arrastá-lo para o seu lado, principalmente depois que escutara de sua própria noiva a declaração solene de que deixava Glauco livre para que a trocasse por qualquer outra que lhe parecesse melhor.

Isso era um verdadeiro desafio no universo feminino: ser melhor do que Gláucia, ainda que precisasse de mentiras, artifícios e estratégias de conquista.

Tais pensamentos, por si sós, já a tornavam moralmente bem pior do que a noiva de Glauco.
No entanto, Marisa estava muito longe de qualquer cogitação moral, ética ou filosófica.
O que, em realidade, desejava era uma maneira de se dar a conhecer ao rapaz.

No dia marcado, portanto, com o roteiro de sua apresentação minuciosamente estudado e guardado na memória, Marisa dirigiu-se ao escritório, onde Glauco aguardava uma cliente sem saber que ela era a esposa de Marcelo.

Quando a secretária deu passagem a Marisa, Glauco fez uma expressão de surpresa e, levantando-se da mesa onde pretendia dar início à entrevista, veio em direcção de Marisa para abraçá-la e trocar os costumeiros beijinhos de boas-vindas tão comuns na rotina daqueles que já se conhecem.

— Ora, então a tal Marisa de minha agenda era você?
— Sim, Glauco, dentre tantas mulheres que você deve atender, essa Marisa sou eu mesma...
Só espero que não esteja decepcionado... — falou Marisa, provocante.

Olhando-a com simpatia e sem saber dos intentos da esposa de seu conhecido, Glauco respondeu:
— Nossa, Marisa, mais do que surpreso, estou lisonjeado com a sua presença em meu escritório.
No que posso lhe ser útil que o próprio Marcelo não lhe poderia atender?

A menção do nome do marido não lhe caiu bem, já que não era interessante levar a conversa para o lado do seu relacionamento afectivo antes que tivesse condições de colocar as coisas da forma como desejava.

— Bem, Glauco, estou precisando muito da ajuda de alguém que tenha experiência empresarial para que me oriente em certas decisões importantes que preciso tomar, com alguma urgência.
— Pois não, Marisa, sente-se aí e vamos conversar.

— Estou precisando dar início a uma pequena empresa da qual possa tirar algum dinheiro e manter minha vida pessoal, sem muitos riscos ou grandes investimentos.
Tenho certos recursos guardados, mas não possuo muita noção das repercussões fiscais, tributárias, contábeis.
Daí necessitar de alguém que possa me dar esse assessoramento.

Enquanto Marisa ia falando, sempre buscando aparentar uma certa melancolia nas palavras, Glauco observava seus modos.
Estava mais vistosa, mais bonita, mais agradável ao olhar masculino, para não dizer mais provocante.
Glauco, que já havia provado da amarga taça da leviandade no passado, conhecia muito bem os trejeitos que as mulheres costumam usar quando estão em missão de seduzir.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:45 am

Isso o fez manter-se controlado e frio, diante das primeiras palavras de Marisa.

No entanto, precisando responder às afirmativas da esposa de Marcelo, indagou-lhe:
— Mas esse negócio que você pretende abrir conta com mais alguém que participe na condição de sócio.
Marcelo, por exemplo, estará com você nesse empreendimento?

Demonstrando irritação à menção do nome do marido, Marisa abanou a cabeça negativamente e, expressando sua condição de discordância, falou:
— Marcelo é a causa dessa minha necessidade...
— Como assim, Marisa?
Pelo que sempre soube, você e ele sempre estiveram bem de vida, não necessitando de outras rotinas comerciais para suprir as necessidades pessoais.
Por acaso Marcelo se meteu em algum problema financeiro?

Vendo que Glauco estava levando a coisa para outro lado, tratou de explicar-lhe:
— Não, Glauco, Marcelo está bem de vida e sempre procurou me dar tudo o que desejo.
No entanto, de uns meses para cá, ele tem apresentado uma mudança de comportamento, uma alteração de rotina que começaram a me causar estranheza.
Com o passar dos dias, chegava em casa cada vez mais tarde e pouca atenção dedicava a mim e às nossas coisas comuns.

Percebendo que Marisa estava se entregando à emoção, Glauco estendeu-lhe um lenço de papel para que ela secasse as fingidas lágrimas que pareciam querer brotar dos olhos tristes.
Na verdade, estava representando verdadeiro teatro, procurando sensibilizar o coração do rapaz.

Vendo que a atitude de Marcelo poderia ser fruto de algum insucesso profissional, Glauco afirmou:
— Mas Marisa, você sabe que alguém que é advogado em uma cidade como esta está sempre sujeito a instabilidades no trabalho, com compromissos que se arrastam noite adentro, com clientes que precisam ser atendidos na hora.
Isso já basta para que nós, que somos nossos patrões, tenhamos que cuidar daqueles que nos pagam o salário, de acordo com as conveniências deles e não com as nossas.

— Sabe, Glauco, por um bom tempo eu também pensei desse jeito e, de forma compreensiva, procurava não criar problemas para Marcelo.
Mas os meses se passaram e as coisas só pioravam.
Assim, há algumas semanas, pedi um conselho para Gláucia, a respeito de seu comportamento estranho, suspeitando que se tratasse de algum envolvimento feminino em sua vida.

Você sabe como são as coisas, Glauco.
Homens vivendo uma vida de solteiro, afastados da esposa, no meio de muita gente igualmente interessante, mulheres arrojadas, sedutoras, carentes, tudo isso é gasolina no meio do fogo.

Entendendo o que estava acontecendo, Glauco ainda assim procurou argumentar contra a ideia de que Marcelo pudesse estar agindo de forma leviana, com desrespeito ao compromisso assumido.

— Essas foram as mesmas palavras que Gláucia me falou, quando lhe pedi um conselho sobre como agir.
Tentei fazer o que ela me pediu, compreendendo Marcelo em seus problemas.
No entanto, agora que tudo está mais claro, agora que há provas de tudo o que está acontecendo, para mim as coisas se tornam bem mais definidas.

— Como assim, Marisa?
— Escute, Glauco.
Trouxe aqui uma gravação que fiz do telefone celular de Marcelo.
Eu nunca havia me ocupado de suas ligações pessoais porque sempre deixei que ele resolvesse seus problemas profissionais sem me meter.
Ainda mais que há sempre mulheres no meio dos diversos processos, como advogadas, como clientes, como estagiárias, como secretárias. Se fosse me ocupar de todas elas acabaria louca.
No entanto, há alguns dias, tendo esquecido o telefone em casa, pude escutar algumas mensagens em sua caixa postal e, para minha surpresa, eram explícitas demais para minha inocência de esposa confiante no marido. Escute-as...

Dizendo isso, tirou de sua bolsa pequeno gravador onde, de forma clara e indisfarçável, se podia escutar a voz de Letícia, referindo-se ao encontro marcado antes, dando inclusive o endereço e, logo a seguir, a mensagem anónima na voz de Sílvia, fazendo referências ao encontro íntimo que haviam tido naqueles dias, para não deixar qualquer dúvida a ninguém que escutasse.

Glauco empalideceu ao escutar aquelas duas mensagens telefónicas.

Tentando dar uma explicação, Glauco aventurou-se:
— Mas isso pode ser uma brincadeira, Marisa.
Muita gente faz estas coisas hoje em dia, como forma de gerar algum problema na vida de um adversário.
Você já pensou que isso pode estar sendo plantado por alguma pessoa com raiva de Marcelo?
Isso pode ser coisa de mulher com ciúmes, que tentou algum tipo de coisa com ele e não conseguiu.

— É verdade, Glauco.
Por esse motivo é que estou aqui.
Inicialmente, quero que nosso encontro corresponda a uma consulta profissional, sujeita ao sigilo legal que me garante a confiança em você.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:45 am

— Claro, Marisa.
Desde que você me procurou como profissional, estou vinculado ao sigilo indispensável à sua e à minha segurança.
— Não desejo seu conselho no sentido de salvar meu casamento.
Se fosse isso, teria ido procurar um psicólogo.
Preciso de você como alguém que me oriente no rumo a seguir, já que, pelo que pressinto, Marcelo está se envolvendo com outras mulheres e isso pode me custar a segurança financeira.

A gente vai envelhecendo enquanto que novas mocinhas eufóricas e mais exuberantes sabem usar das velhas armas para provocarem homens levianos e dispostos a vivenciar sua masculinidade junto a fêmeas mais atraentes.
Não quero ser surpreendida pela situação dura de me ver trocada por pirralhas golpistas que se insinuem junto a um Marcelo vaidoso e que me exponha a dormir num palácio e, no dia seguinte, acordar na sarjeta.
Preciso cuidar de meu futuro, Glauco.

A esse ponto da conversa, as lágrimas longamente represadas, finalmente despejaram-se pela face triste daquela verdadeira actriz que, de tão convicta em seus objectivos, passara a sentir o sofrimento de ser, efectivamente, abandonada, como se sua estória fosse a expressão da realidade.

— Tenho o desejo de saber o custo e as documentações necessárias para dar início à abertura de uma empresa, mesmo que, de início, não tenha o local definitivo onde possa instalá-la.
— Mas Marcelo vai precisar saber dessa empresa porque vocês são casados e, nessa condição, ele também precisará fornecer documentos específicos.

— Tudo bem.
Não vou fazer nada escondido dele.
Apenas não irei mencionar os verdadeiros motivos de minha iniciativa.
Não quero que fique sabendo de nada, até que eu tenha provas robustas de sua prevaricação e possa decidir pela separação legal.

— Certo, Marisa.
No entanto, tenha calma, porque a vida coloca as pessoas em situações difíceis nas quais somente a dor as pode fazer acordar.
— Espero que Marcelo sinta muita dor e possa acordar logo, Glauco.
— Eu vou procurar estudar seu caso e, enquanto isso, vou lhe passar uma relação de documentos para que vá providenciando, de forma que possamos nos encontrar novamente daqui a ... duas semanas... está bem?

— Duas semanas, Glauco?
Tanto tempo assim?
— Pode ser em uma semana... para mim não tem problema.
— Está óptimo. Uma semana então...

Vendo que a entrevista se encaminhava para o encerramento, Marisa reforçou o pedido:
— Glauco, eu o procurei porque confio em você.
Não quero que Marcelo fique sabendo de nada a não ser daquilo que eu mesma pretenda revelar-lhe na hora certa.
Não gostaria nem que Gláucia ficasse sabendo, já que, agora, estou falando de factos novos, com base nas provas concretas destas gravações e, assim, quanto menos pessoas souberem, mais segurança eu terei de poder actuar com liberdade.

— Como já lhe disse, Marisa, agora você não é mais a minha conhecida ou a esposa de Marcelo.
Você é a minha cliente até ao momento em que se dê por satisfeita com meu trabalho ou até que eu não mais a deseje atender nessa condição.
Ainda assim, mesmo depois disso, continuarei a respeitar o sigilo profissional de todas as informações que pude obter em decorrência desse relacionamento.

— Tudo bem, Glauco, eu sabia que poderia estar tranquila ao procurá-lo.
— Desculpe o meu estado de desequilíbrio emocional.
Por mais que a gente pretenda se manter forte, é sempre difícil ter que aguentar tudo sozinha, sem ter ninguém para conversar ou desabafar.

Já cheguei a temer pela minha sanidade ou pela minha vida.
Afinal, tudo que sempre tive foi ao lado de Marcelo e não sei o que será de mim se se apresentar realmente essa traição vergonhosa.
Acho que preferirei a morte.
Daí estar procurando alguma coisa que me prenda à vida para que não me aconteça o pior para a circunstância que parece estar se delineando em meu destino.

Marisa dava a tais palavras a entonação de verdadeira despedida.
Aos ouvidos de Glauco, aquela moça parecia, agora, uma ave perdida no meio da tempestade da existência, longamente iludida pelas luzes e gozos sociais e que, repentinamente, se via enganada nas bases de seu edifício afectivo.

As palavras finais de Marisa penetraram-lhe a alma e, desse modo, a ideia de oferecer-lhe ajuda espiritual pareceu-lhe a mais adequada.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:45 am

Lembrando-se das forças invisíveis que já estiveram, um dia, a reajustá-lo nas sensações e pensamentos, salvando-o do abismo escuro das quedas morais, Glauco procurou falar a Marisa com carinho e amizade:
— Sabe, Marisa, todos nós passamos por problemas morais difíceis na área da afectividade.
Por isso, independentemente de nossa relação profissional, acho que posso lhe falar sobre as questões espirituais que envolvem as pessoas em ideias e sentimentos conturbados, principalmente quando nós não nos damos conta do seu poder de penetração.

Vendo que Glauco se interessava por ela, agora, Marisa se permitiu ficar para poder tirar mais alguma vantagem daquele primeiro encontro.

Sabe, eu não sou um conhecedor profundo dessas coisas, mas, pela experiência que já tive pessoalmente, posso lhe garantir que muitas coisas ficam melhores quando procuramos ajuda espiritual em algum lugar sério ou com alguma pessoa que nos possa encaminhar para a compreensão de certos problemas que, num primeiro momento, nos carecem um mistério insolúvel, mas que se tornam mais claras com a compreensão das causas verdadeiras.

— Como assim, Glauco? — respondeu Marisa, indagando como se não estivesse entendendo.
— Existem forças espirituais que atuam sobre os vivos e podem ajudar tanto quanto atrapalhar nossas vidas.
Tanto a sua quanto a de Marcelo podem estar sendo influenciadas por Espíritos ignorantes, procurando afastá-los e produzindo ilusões afectivas em seus caminhos.

Pensando sobre esse assunto para poder responder ao rapaz, Marisa contestou:
— Mas sempre aprendi que a gente também tem Espíritos que nos protegem.
O que é que eles estão fazendo que não põem juízo na cabeça do meu marido ou não evitam que eu sofra o que estou sofrendo?

— Sabe, Marisa, como já disse, não entendo muito profundamente esses mecanismos, mas posso lhe confirmar que existem Espíritos amigos que nos ajudam.
Só que, pelo que nos explicam, nós é que, em primeiro lugar, precisamos nos sintonizar com as suas vibrações.
Sempre que não nos elevamos, acabamos vinculados aos Espíritos escuros, maldosos, que se aproveitam de nossas fraquezas e retiram vantagens das coisas ruins que fazemos.

— Você quer dizer que tem algum Espírito demoníaco fazendo Marcelo se envolver com alguma lambisgóia de plantão?
— Não digo demoníaco, porque se Deus existe e é Bom, o diabo não pode existir como nos pintam.
Mas posso afirmar que existem Espíritos maliciosos, os próprios seres humanos que perderam o corpo carnal que, do lado de lá da vida, se acercam das pessoas que têm as mesmas inclinações e se consorciam para um mesmo objectivo.

Você própria está procurando ajuda para abrir uma empresa e vai precisar de um sócio que tenha os mesmos objectivos que você.
Assim, as entidades negativas vivem à procura de sócios que lhes compartilhem os interesses inferiores e, com isso, possam corresponder, juntos, aos actos que os concretizem.

— Mas que vantagem eles levariam nisso?
— Bem, depende... alguns ficam felizes com a bebida que os vivos tomam porque podem sentir a mesma sensação de quando se embriagavam na Terra.
Outros tiram prazer das explosões do prazer, quando se associam aos depravados de plantão.
Outros preferem acompanhar os fumantes e viciados para que lhes forneçam as antigas sensações da droga.

Outros estimulam os gulosos a que não parem de provar as novidades.
Muitos deles fazem isso para estimular seus antigos adversários nas quedas morais, com as quais pretendem vingar velhos sofrimentos.
Outros mais, querem ver as lágrimas dos humanos como forma de compensar a própria infelicidade.

Ao invés de lutarem para resolver seus problemas, mais e mais se esmeram para prejudicar os que perseguem por pura inveja, instilando-lhes o amargor da desdita que carregam dentro de si, como se ninguém pudesse ser feliz.

Como tais entidades ignorantes não conseguem construir a própria felicidade, não querem deixar que outros o sejam.
Alguns ainda se prestam a perseguir, atendendo ordens de entidades mais duras do que eles próprios, aferrando-se ao cumprimento de tarefas no mal, como forma de trocarem isso pelo apoio de seus líderes na conquista de certos favores mundanos.

Tudo isso acontece e essas circunstâncias produzem um sem número de tragédias morais na vida dos homens.
Pode ocorrer, nesse caso específico, a existência de entidades que querem feri-la e, não tendo como fazê-lo de forma directa, se acercam de Marcelo a fim de levá-lo a praticar actos que possam vir a machucá-la.

Há Espíritos que se acercam de encarnados arrojados e os estimulam a aumentar a velocidade de carros ou motos porque sabem que, amantes da velocidade à procura da adrenalina, fatalmente se estatelarão mais adiante, nos acidentes que dão causa ou, então, poderão produzir a morte de algum outro encarnado que os Espíritos malignos estejam perseguindo.

Assustada com tantas explicações, Marisa colocou a mão na boca e resmungou:
— Credo, Glauco, que desfile de terror é esse?
— Ora, Marisa, foi você quem perguntou.
Afinal, você é que está falando de morrer, de não resistir às dificuldades ou possíveis traições...
Já pensou que isso pode estar sendo induzido por algum Espírito mau que deseja fazê-la sofrer ainda mais?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:46 am

— Ora, mas se eu morrer, tudo acaba e, melhor que isso, Marcelo vai se sentir culpado.
— Mas você precisa saber, Marisa, que o suicídio é uma das mais dolorosas formas de se descobrir que ninguém morre.
Outro dia, conversando com minha sogra sobre o assunto ela me estava contando uma conversa que teve com um Espírito que se comunicou no centro espírita onde trabalha, revelando o seu sofrimento por causa do suicídio que cometera.

— Sério... você acha que isso é possível?
— Acho não, estou certo que é...
A entidade dizia, chorando de dor, que estava sendo comida viva, que sentia milhões de dentes a lhe perfurarem a carne, que aquilo era o pior tormento que podia existir....

No começo, minha sogra não sabia que se tratava de um suicida.
No entanto, ao lado, uma médium vidente, ajudando no atendimento, pôde constatar a cena triste em que um rapaz jovem, ferido pela traição da noiva, resolvera matar o corpo acreditando que, com isso, fugiria da situação dolorosa de se ver trocado por outro, ao mesmo tempo em que colocaria a jovem noiva na situação da culpada pelo seu delito moral.

E enquanto a vidente ia descrevendo o quadro, o Espírito que se manifestava por outro médium e que estava sendo atendido pela minha sogra, começou a responder, confirmando a sua condição.

Gritava, urrava, chorava, arrependia-se, clamava em desespero que Deus o deixasse regressar ao corpo, que ele aceitaria ser traído milhares de vezes, mas que não suportava mais a cena dantesca de ver seu corpo sendo devorado por vermes e, ao mesmo tempo, escutando sem parar o ruído do tiro a explodir-lhe os miolos.

Parecia que não havia fim naquilo tudo.
E quando tinha condições de deixar a sepultura, assim que saía do subsolo, grupos de entidades vampirescas o perseguiam, desejando sugar-lhe as forças como animais que roem os ossos de suas presas, o que o obrigava a mergulhar novamente nos despojos horríveis para fugir de tais almas perseguidoras, a maioria das quais não se aventurava a ir buscá-lo junto ao cadáver.

Marisa escutava aquelas notícias, misturando a admiração crescente por Glauco e o medo daquelas cenas que ele lhe descrevia.

— Ah! Glauco, que coisa mais horripilante... pára, porque senão não durmo...
— Eu falei a mesma coisa para minha sogra, Marisa.
Mas o ensinamento ficou na minha memória para sempre.
Além do mais, ela me informou que na obra espírita "O CÉU E O INFERNO", de autoria de Allan Kardec, existe uma parte que traz os relatos dos Espíritos em diversas condições de evolução, falando de sua condição espiritual depois da morte física e do que lhe aconteceu depois que o corpo desapareceu.

Entre eles, está o dos que se mataram.
Eu tive a curiosidade de ler e, posso lhe confirmar tudo quanto minha sogra me contou.
Parece ser uma consequência natural para esse tipo de desajuste emocional que ataca a integridade biológica do corpo carnal.
O que posso lhe dizer, então, é que é preferível, mil vezes, suportar a dor da traição, do que tomar a decisão infausta e errada de tirar a própria vida física, coisa que vai manter essa pessoa em um estado de dor e sofrimento por vários e vários anos, até décadas.

— Mas e os chamados protectores, estão aí fazendo o quê? — perguntou, leviana, a moça impressionada.
— Ora, Marisa, eles tentam de tudo para evitar que nós nos desencaminhemos, incluindo até mesmo o aparecimento de enfermidades menos graves, ou a ocorrência de pequenos acidentes que atrapalhem nossos planos.
Mas se nós, decididos a pularmos no abismo, resolvemos superar todos os conselhos em sentido contrário, vencer todas as adversidades que surgem e, procurando o precipício com nossas próprias pernas, nos atiramos nele, as entidades invisíveis não têm como vencer a lei da gravidade.

E olha que, às vezes, há Espíritos que conseguem ajudar o alucinado saltador fazendo-o enganchar-se em algum galho perdido no meio do caminho...
Mas na maioria dos casos, a própria morte que não mata será a lição que o invigilante fugitivo da vida vai precisar enfrentar para vacinar-se contra futuras tentativas iguais, em outras existências.

Vendo que suas palavras faziam algum sentido no olhar impressionado de Marisa, Glauco rematou:
— Por isso, Marisa, nem por brincadeira pense em tirar a própria vida porque, pelo que nos dizem aqueles que tentaram fazê-lo infrutiferamente, a vida espiritual que sucede a vida física, nesses casos, é extremamente mais amarga e desesperadora do que o mais cruel dos problemas que levaram o vivo a tentar fugir da vida, matando o corpo.

Melhor é enfrentar qualquer tragédia material do que pensar em deixar para trás o problema, criando outro muitíssimo maior.
Enquanto estamos na carne, as traições são esquecidas, os casais se reajustam ao sabor de suas próprias aventuras, acabamos aprendendo com nossos erros e deixamos de cometê-los, podemos pedir desculpas ou perdoar os que nos feriram, podemos, enfim, dar continuidade aos nossos dias, semeando novas relações e desfrutando novas alegrias.

Mas depois que fugimos da existência, não podemos deixar de passar pelos estágios de purgação e amargura que esperar aquele que se mata, como fruto azedo a lhe marcar a experiência espiritual com vistas a que nunca mais delibere cometer o mesmo delito contra as leis do Universo.

Vendo que Marisa não contestava as suas afirmativas, Glauco terminou, dizendo:
— Se um dia você desejar ajuda nesse sentido, fale comigo ou com Gláucia e nós teremos muito prazer em encaminhá-la ao centro espírita onde vamos para que, através das palestras, dos livros, das mensagens e do passe magnético, essa situação que você está vivendo possa ser atendida e, quem sabe, até mesmo Marcelo possa acabar se beneficiando com a sua busca espiritual.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:46 am

Entendendo que chegara ao fim a sua entrevista, Marisa respondeu, aparentando agradecimento:
— Puxa, Glauco, eu sabia que seria bom vir procurar você.
Desculpe tomar o seu tempo e esteja certo de que vou pensar nisso tudo.
Daqui a uma semana, voltaremos a conversar sobre tudo, está bem?

Levantaram-se ambos e, talvez porque Marisa estivesse emocionada ou porque ele desejasse consolá-la fraternalmente, Glauco abraçou a cliente, que lhe correspondeu ao abraço efusivamente apertando-se contra o seu tronco como uma orquídea que deseja apegar-se à segurança da árvore onde se abriga.

Nesse momento, Glauco sentiu o perfume de Gláucia a penetrar-lhe as narinas e, sem pensar que se tratava de uma arma, seu inconsciente fez uma imediata conexão entre a noiva e aquele corpo que se achegava ao seu.

Passado o rápido instante de despedida, Marisa retirou-se de escritório e Glauco ali permaneceu pensativo, imaginando as dores que existiam por detrás dos inúmeros casais que pareciam excelentes parceiros nas noites de encontros nos barzinhos da vida.

Envolvendo-o na teia provocativa, o Chefe, Juvenal e o Aleijado que ali estavam acompanhando toda a cena, passaram a actuar sobre a lembrança de Glauco, trazendo-lhe à memória as formas de Marisa as roupas justas, ainda que discretas, o volume de seus seios, o perfume conhecido, a fragilidade de sua aparência, a necessitar de algum herói que pudesse salvá-la ou ajudá-la na resolução de tais problemas.

Realmente, a visão lhe fora extremamente agradável, ainda que não quisesse admitir tal facto.

Ela estava muito mais bonita do que nos rápidos encontros sociais que haviam tido.
Jamais havia reparado nela de forma tão próxima.
Ela deveria ser mais interessante do que parecia aqueles momentos fugazes vividos em colectividade barulhenta dos restaurantes da cidade.

O Chefe provocava Glauco com as cenas tentadoras daquela mulher frágil diante de seus braços.
Juvenal apoiava-o, tentando estabelecer uma conexão magnética nos centro cerebrais e genésicos do baixo ventre do rapaz, fustigando as células reprodutoras e activando as reacções mecânicas biológicas nas descargas hormonais que preparavam o representante masculino para as possibilidades de reprodução e perpetuação da espécie, mecanismos esses longamente vivenciados pelos seres nas diversas faixas inferiores da criação, quando da passagem dos homens pelos domínios do instinto.

E o sexo, como instinto, era uma das grandes estradas através das quais as entidades inferiores conseguiam dominar os seres humanos, estimulando-lhes as áreas da animalidade biológica ao mesmo tempo em que, actuando na mente, criavam em sua estrutura a falaciosa ideia de que a sexualidade deveria ser, apenas, o incontido exercício natural e livre das exigências do corpo.

Subtis pensamentos de libertinagem eram e são suscitados nas mentes humanas para que se permitam o desfrute dos prazeres como impositivo do corpo, necessidade do instinto, exigência da carne, afastando a pessoa das disciplinas emocionais e dos comportamentos morais que elevam a dignidade dos seres acima da dignidade dos bichos.

Era isso que Juvenal e o Chefe estavam empenhados em fazer, naquele momento.

Valendo-se da boa impressão e do arcabouço de imagens agradáveis produzidas pela exuberância feminina de Marisa, ambos estavam devotados a aprofundar as brechas morais que, em geral, sempre costumam estar abertas no Espírito masculino, acostumado à pornografia socialmente permitida, às conversas excitantes das rodas de amigos, aos comentários picantes sobre os corpos de mulheres, ao relato de experiências sexuais arrojadas que tanto os homens quanto as mulheres habituam-se a fazer, até mesmo para ressaltar suas potencialidades e performances fictícias sobre os demais.

Glauco se permitira, num primeiro momento, atraído pelas formas agradáveis de Marisa, pensarem sua beleza, sobretudo na coincidência dos odores entre ela e Gláucia, a noiva querida, que nem de longe desconfiava, tanto quanto ele próprio, dos intentos secretos que a esposa de Marcelo nutria e que, em verdade, haviam motivado a sua presença no local de trabalho do futuro esposo.

As imagens que os Espíritos projectavam ao seu redor mesclavam as emoções agradáveis que sentia com Gláucia às possíveis situações envolvendo Marisa, seu corpo escultural ali oferecido aos seus olhos em roupas que o escondiam e revelavam ao mesmo tempo.

Passados breves minutos de sucessão de imagens, no entanto Glauco sacudiu a cabeça e lembrou-se de não permitir o assédio de pensamentos lascivos que já lhe haviam, um dia, feito a tragédia emocional da qual não se cansava de recordar.

Vacinado pela dor do ontem, naquele exacto momento, as forças negativas de Juvenal e do Chefe foram rechaçadas e as conexões que estavam começando a magnetizar puderam ser, temporariamente bloqueadas.

— Droga, Chefe, o cara está resistente...
— Não tem problema, Juva, a gente continua mais tarde.
Na hora em que o casalzinho luminoso for ter suas intimidades nós agiremos facilmente.
Tenhamos um pouco de paciência. — respondeu o mais experiente, a dominar os processos de obsessão.

— Vamos ver se longe da reza, na hora da bagunça, esse pessoal muito devoto é capaz de não se deixar levar pela safadeza... — comentou e gargalhou, estentórico.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 30, 2014 8:46 am

26 - MARCELO E CAMILA TECEM SUA TEIA

Enquanto estas coisas envolviam Marisa, Marcelo passara a examinar muito bem as novas perspectivas.

Enlevado pelo sentimento crescente por Camila, desejava conseguir, agora, atingir não mais um só objectivo.
Não almejava, apenas, retirar Leandro de seu posto confortável e vantajoso, mas, igualmente, elevar-se na consideração da bela colega de profissão, através das posturas corajosas que mostrassem sua liderança.

Sabia que tal oportunidade não se renovaria com muita facilidade e que, dentro da sorte que parecia lhe sorrir, deveria empenhar-se para tirar o melhor proveito.
Ainda mais agora, que se havia aproximado das outras mulheres do escritório, ponderava na possibilidade de colocá-las ao seu lado, de forma a contar com o apoio decisivo de todas para a modificação das estruturas administrativas do escritório.

Quanto a Marisa, já não mais se preocupava com ela.
No momento adequado, iria romper a união que já não tinha mais sentido de existir.
Graças ao empurrão inicial que a esposa lhe dera, descobrira outras companhias e, longe até de odiar a mulher que se fizera indiferente, Marcelo pensava em lhe agradecer a postura que o permitira descobrir uma nova visão do mundo afectivo.

Agora voltara a ter o coração aquecido pela emoção nova da conquista de uma outra pessoa tão ou mais bela do que a própria esposa.
Além do mais, as suas práticas sexuais haviam sido retomadas na companhia das outras duas colegas, abastecendo-se das emoções físicas ao mesmo tempo em que se sentia orgulhoso de ser, igualmente desejado tanto por Sílvia quanto por Letícia.

Marisa já não lhe fazia mais nenhuma falta.
Mantinha sempre a mesma postura e se deixara levar pelas futilidades de uma vida sem sentido, coisa que não acontecia com Camila.

Com esta, podia sentir a emoção de um amor que se completava na harmonia da compreensão e da divisão dos mesmos interesses, já que os dois trabalhavam na mesma actividade e podiam, assim compartilhar as mútuas alegrias e dificuldades, aproximando-se pela comunhão da mesma linguagem e pela vivência no mesmo universo jurídico.

Ao mesmo tempo, precisava voltar a avistar-se com Letícia, para quem sua presença era a do audaz cavaleiro, do homem longamente esperado, do varão corajoso que acolhe a dama aflita e frágil.

Sim. Letícia, apesar de adulta para as questões profissionais guardava em seu íntimo, como já vimos, a fragilidade do afecto, o vazio do sentimento, sempre na ansiedade de ser preenchido pela presença do príncipe encantado.

E Marcelo, com a sua forma de ser, seu modo seguro e sua beleza apreciável, correspondia ao seu sonho.
O rapaz, sabendo do interesse de Letícia graças à fatídica noite no apartamento da jovem, nas íntimas confissões que escutara de seus lábios, o quanto ela sonhara com aquele momento desde os primeiros dias quando se encontraram no escritório, tinha a noção exacta do quanto sua personalidade masculina era importante nos sentimentos da moça.

Apesar dos cuidados que ambos se prometeram para que, no ambiente profissional, ninguém pudesse suspeitar de seus encontros alegando Marcelo que sua condição de casado não permitia tal exposição perante os demais colegas, durante os dias que se seguiram ao encontro íntimo com Letícia, de forma cuidadosa e disfarçada, o rapaz arrumava sempre uma maneira delicada de lhe fazer alguns mimos, fosse na forma de mensagens de texto no celular, fosse na de subtis gentilezas, invisíveis aos olhares das outras pessoas.

Isso era um verdadeiro alimento ao coração de Letícia que longamente ressecado na solidão do desafecto, agora recebia cada gotinha da atenção de Marcelo como a chuva bendita em sua seara de isolamento afectivo.

Na verdade, a real preocupação do rapaz era a de não se comprometer com as duas outras mulheres, com quem estava se relacionando também.
Ele, preocupado apenas consigo mesmo, não desejava perder a pose de cavalheiro junto à Letícia.
Na verdade, ela soubera ocultar ao máximo a real debilidade na área afectiva.

Em momento algum, mesmo durante as confissões daquela noite, a moça deixou transparecer uma situação de dependência emocional, de rendição absoluta ao seu afecto.
Letícia, como boa fêmea, procurou manter a postura de mulher controlada, senhora de si mesma, ainda que desse a conhecer ao rapaz o segredo de sua admiração por ele, desde o início de sua actividade naquele ambiente.

Por tudo isso, Marcelo atirava algumas pequeninas pérolas, sem imaginar que, com elas, Letícia estava tecendo um vestido de núpcias.
Dentro dessa ingenuidade na avaliação masculina, o rapaz sentira que seria indispensável aproximar-se novamente de Letícia para consolidar seus domínios e, dessa forma, conseguir seu apoio, contando-lhe os factos de forma mais pormenorizada, a respeito de Leandro e de seu comportamento perigoso.

Antes de qualquer coisa, contudo, necessitava da autorização de Camila, sua amada, para que, dentro dos planos, assumisse a corajosa postura daquele que dá início ao processo de denúncias.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:23 am

Por isso, logo no dia imediato àquele em que Camila lhe revelara as falcatruas de Leandro, Marcelo pediu para lhe falar em particular.
Não poderiam conversar no ambiente do escritório porquanto não saberiam dizer o quanto sigilosa a conversa estaria sendo, diante das suspeitas de espionagem que pairavam sobre Leandro em relação a Camila.

Assim, combinaram de se encontrarem em um restaurante no centro da cidade, algo afastado do local onde todos entreteciam as suas experiências profissionais.
No horário marcado, sentaram-se despreocupados e, como dois colegas de trabalho, pediram algo para comer, naquele almoço fora de hora.

— Camila, estive pensando naquele assunto que envolve Leandro e, dentro das dificuldades que você levantou para o desmascaramento de sua conduta, reconheço que, realmente, é um risco muito grande para você, risco que pode levar tal denúncia ao descrédito.
— É um alívio que você me entenda, Mar, porque fico me acusando de covarde, de fraca, de todas as coisas mais baixas...

— Sabe, Camila, você até que tem sido muito corajosa diante de tais factos.
Veja só, há quanto tempo isso vem acontecendo e sua conduta tem sido discreta, na capacidade de assimilar e não explodir?
Outra pessoa, talvez, não aguentasse essa pressão.

— Não sei...
Falo por mim mesma e, sabendo de tais coisas com as provas que tenho, temo por minha própria vida, tanto que as guardo comigo em cofre pessoal.
— Pois então, Camila.
É sobre isso que gostaria de conversar.
Também não suporto essa coisa de estarmos acobertando um canalha em nosso meio, fraudando nossos esforços para a conquista de uma posição social melhor e da realização de nossos sonhos materiais.

De nosso trabalho, nossos ganhos são divididos com a administração do escritório que, invariavelmente, abocanha metade de nossos honorários, alegando que os clientes que nos procuram o fazem por causa da estrutura advocatícia e pelo nome respeitável que já estavam consolidados quando chegamos.

É certo que aceitamos este jogo e, longe de nos ser prejudicial, o que ganhamos tem sido suficiente para nossas vidas, ainda que não possamos nos dar o direito de certos luxos que são observados em Alberto, em Leandro, em Ramos e em Clotilde.

Os quatro trabalham quase nada e nadam em recursos que nós nos esforçamos para conseguir.
Se nos deixassem em paz, pelo menos, ainda que isso poderia continuar assim.

No entanto, essa pressão que fazem por mais e mais dinheiro, aliada à condição de chantagista barato de clientes corruptos como você me contou, nas práticas de Leandro, nos coloca em uma delicada situação na consideração dos nossos contratantes, de nossos clientes, fazendo-os acreditar que nós também somos tão corruptos quanto os que dirigem o escritório.

Para mim, reconheço inúmeros defeitos morais em meu íntimo.
No entanto, não aceito ser considerado fazendo parte da panela dos ladrões sem que, realmente, tenha desejado dela participar.
Toda a lama que possa respingar em mim, proveniente desses salafrários que colocam banca de éticos julgadores do mundo, será uma nódoa que não aceitarei e que, acredito, possa fazer mal a você também.

Camila escutava, admirando-se do raciocínio do colega, demonstrando velada concordância com suas alegações.

Aproveitando a sua postura favorável, Marcelo continuou:
— Por isso, Ca, pensei em uma coisa que me pareceu a mais acertada a fazer, no sentido de acabar com essa palhaçada completamente.
— Fazer o quê, Mar...?
Isso é um lixo que quanto mais a gente mexer, mais mau cheiro vai produzir.

— Sim, mas é preciso acabar com o lixão, tirando o seu conteúdo do local e removendo-o para longe.
— Mas o que você está pensando?
— Bem, depois de tudo o que me falou, acho que encontrei uma forma de fazer essa coisa acontecer.
Se você concordar e me der apoio, irei apresentar estas provas no dia da nossa reunião colectiva, quando todos os integrantes dos dois grupos do escritório nos reunimos para uma avaliação geral dos problemas e das rotinas.

Demonstrando uma surpresa acima do esperado, Camila estampou no rosto uma expressão de contrariedade e respondeu:
— Não posso, Mar, não posso deixar que isso seja assim, esse não é um problema seu.
É comigo que as coisas estão acontecendo e não é prudente que outras pessoas inocentes sejam envolvidas nisso.

— Mas se ninguém fizer nada, isso nunca vai parar e eu mesmo posso acabar sendo atingido pela conduta suja dessa gente.
— Eu sei que isso é verdade, mas não desejo que você pague esse preço.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:23 am

E pegando em suas mãos, como a dar vazão a um sentimento de cuidado e importância, Camila afirmou:
— Não agora, que você está sendo tão importante para mim, Mar.
Não quero que corra um risco tão grande envolvendo-se nesse assunto.

Emocionado com uma tal confissão indirecta de amor, o Espírito do rapaz se revestiu de uma tal determinação, que só acontece com os corações apaixonados que, na cegueira do afecto, se atiram nos abismos mais desafiadores para demonstrar a sua capacidade de amar e disse:
— Pois do mesmo modo que sou importante para você, você é importante para mim.
Já há muito tempo que meu sentimento vinha envolvido na penumbra da rotina, na companhia de alguém que não representava, senão, o contacto sexual nas horas nocturnas de cada dia.

Com você, Camila, as coisas são muito diferentes.
Uma nova vida tomou conta do meu ser e, sentindo o sabor de seu beijo, minha alma parece ter redescoberto a alegria de viver, o que me fortalece para a adopção de qualquer medida que possa representar a protecção a alguém que é muito mais importante para mim do que qualquer outra coisa.

As mãos de ambos estavam delicadamente unidas sobre a mesa do restaurante quase vazio, de onde se podia ver a avenida logo à frente, igualmente sem o movimento de costume.
Seus dedos se entrelaçavam como se todos eles desejassem se apertar mutuamente, num abraço particular e caloroso.

Sentindo a emoção de Camila, Marcelo continuou:
— Pois se você não me ajudar, irei denunciar os factos sozinho, somente com as poucas alegações que tenho, ouvidas de você própria.

— Mas isso, Marcelo, não vai adiantar nada.
Leandro é um rato na fuga e um leão no ataque.
Se nós não agirmos com precisão, seu rugido se fará sentir sobre nós e seus dentes nos dilacerarão sem chance.
Nossa única oportunidade está em intimidá-lo com demonstrações de força de forma que não lhe reste outra saída a não ser fugir como um roedor flagrado no acto.

— Eu também acho.
Mas você está dificultando as coisas.
— É que eu não quero expor você, Mar.
Quero que tudo se resolva, mas não quero que você sofra.

— Mas se você me apoiar, nós dois poderemos ter uma voz maior do que a minha, somente.
Além do mais, podemos conversar com as meninas, preparando seus Espíritos com as notícias que já possuímos e, assim, elas também poderão nos ajudar nessa empreitada.

Balançando a cabeça, Letícia considerou:
— Até que seria muito bem-vindo o apoio das duas.
No entanto, elas são mulheres, são partes fracas nessa relação e eu não posso garantir que aceitem correr tais riscos.

— Mas se me autorizar, assumirei a tarefa de falar com elas, apresentando as provas como se eu mesmo as tivesse conseguido e lhes dizendo que tal procedimento leviano está nos comprometendo a todos.

Tenho certeza de que elas também vão se indignar com a conduta de Leandro e, certamente, nos apoiarão.
Uma vez conseguido tal alicerce, no dia, depois que apresentar as provas aos olhares de todos, pode contar de viva voz as experiências pessoais que têm acontecido com você e que envolvem a conduta clandestina de Leandro, invadindo sua sala e fiscalizando os documentos de suas pastas sem a sua autorização.

E, se ele tem feito isso consigo, quem é que nos pode garantir que também não o está fazendo com as outras duas?
Acho que, sabendo contar-lhes todos os factos, encontraremos nelas o apoio de que estamos carecendo para que uma verdadeira faxina possa ser feita, apresentando tais factos a Alberto e Ramos, os primeiros prejudicados com os desvios de dinheiro.

A eles caberá a sentença, uma vez que são os donos do negócio.
A nós restará, por fim, a liberdade de acção, com a defesa de nossas consciências profissionais, livrando-nos da acção de um indivíduo pernicioso.

Dando a impressão de que a sugestão de Marcelo lhe parecia extremamente favorável, Camila afirmou:
— Esta é uma verdadeira possibilidade, Mar.
Mas a ideia de expor você ainda me causa arrepios no corpo e no coração.
Isso é um vespeiro ardente e, por mais tranquila que pareça a coisa, ao se abrir a caixa, os marimbondos voarão sobre você para acabar com sua vida.

Dando de ombros, Marcelo respondeu, confiante:
— Estou preparado para qualquer coisa, Ca.
Principalmente com o seu apoio, estou certo de que tudo caminhará para melhor.
E se a situação se tornar perigosa, a ordem dos advogados, a polícia e a justiça poderão ser as instâncias a recorrermos para que a Verdade prevaleça.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:23 am

— Além do mais, temos os clientes que foram chamados a colaborar com o dinheiro para a compra das autoridades.
— Isso mesmo, Ca.
Eles são outra fonte de provas.
Você os conhece?
— Sim, eu sei quem são e, se isso se fizer necessário, poderemos chamá-los ou obter seus depoimentos.

Já envolvida pela ideia, depois de ter relutado muito em aceitá-la, Camila passara a concordar, tacitamente, com Marcelo, demonstrando estar satisfeita com sua postura de coragem e obstinação.

— Mas você vai me prometer que vai se cuidar, Mar.
Esse povo é muito perigoso, inclusive na questão de se livrar dos problemas contratando profissionais para tirar a vida de quem não seja conveniente aos seus interesses.
— Deixe comigo, Camila.
Eu também sei atirar e tenho meus recursos para me defender.
Mas acho que as coisas não vão chegar a tanto...

É importante saber o leitor querido que, uma vez inteirando-se de que sua doença era irreversível, Dr. Josué, quando trouxe Marcelo para o escritório, meses antes de morrer, instruiu-o sobre muitas coisas e deixou vários documentos sobre as sujeiras que haviam sido escondidas debaixo do tapete.

Coisa da grossa a envolver pessoalmente Alberto e Ramos e que nenhum dos dois proprietários tinha a menor ideia de que Josué também soubesse, muito menos que tivesse documentos provando tais crimes.

Assim, antes de morrer, Josué havia instruído Marcelo sobre os factos graves, sem revelar pormenores ao rapaz que o sucederia na actividade do escritório.
Orientou-o no sentido de que havia deixado os envelopes lacrados, com todas as provas, em um cofre de segurança e as chaves, uma em poder de Marcelo e outra em poder de uma influente autoridade judiciária, um desembargador, seu íntimo amigo desde os tempos da faculdade.

O conteúdo só poderia ser acessado com as duas chaves favorecendo a abertura do cofre, sendo certo que, se isso se tomasse necessário, os envelopes deveriam ser entregues ao desembargador para que fossem encaminhados às instâncias legais, penais, civis, tributárias, fiscais, para a apuração e as medidas punitivas indispensáveis.

Essa condição permitia a Marcelo uma certa tranquilidade.
Seria ele que, em avaliando as circunstâncias, definiria a conveniência de solicitar ao outro detentor da chave o início dos procedimentos.
E se alguma coisa o colocasse em risco de vida, Marcelo deveria encaminhar a sua cópia da chave ao detentor da outra para que a sua morte não impedisse as apurações.

Marcelo, com isso, deixara a chave aos cuidados de sua mãe, em um envelope lacrado com o destinatário já pré-escrito, informando-a de que, se alguma coisa acontecesse com ele, ela deveria, pessoalmente, fazer a carta chegar às mãos da referida pessoa.

Como isso seria fatal para os antigos donos, tal atitude drástica deveria ser adoptada somente em último caso, pois todos os demais integrantes do escritório igualmente seriam atingidos pela força das denúncias provadas documentalmente.

Era a forma pela qual, mesmo do lado de lá da vida, Josué poderia conduzir aos tribunais aqueles que se valiam de condutas desonestas e corruptas para se manterem ricos e influentes, respeitáveis e admirados ao longo das décadas de associação profissional que mantivera com Alberto e Ramos.

Mesmo depois de morto, continuaria associado aos dois antigos sócios, como elemento importante na decisão final da sobrevivência do empreendimento.
No entanto, ninguém, além de Marcelo, sabia da existência dos documentos, coisa que o rapaz tivera o bom senso de não revelar nem a Camila, apesar da sua paixão estar se avolumando.

E com base nesse trunfo escondido, ele também reunia coragem suficiente para apresentar-se como o responsável pelas acusações directas que iria apresentar na reunião colectiva.
Assim, ficou acertado com Camila que, sem saber desses detalhes, admirou-se ainda mais da coragem do rapaz, combinando entregar-lhe as fotografias e as provas contra Leandro.

A hora ia tarde e, envolvidos pelo acerto sobre a questão decidiram aventurar-se por uma sessão de cinema, onde um filme garantiria a escuridão necessária para que pudessem, à moda dos antigos namorados, trocar carinhos sem os olhos curiosos de pessoas conhecidas.

Marcelo, então autorizado por Camila, sabia que o próximo passo seria procurar Letícia e, valendo-se dos sentimentos da jovem encontrar a facilitação dos caminhos para a obtenção de seu apoio nas denúncias.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:24 am

27 - MARCELO EM BUSCA DE APOIO

Marcelo chegara ao apartamento da moça, que o esperava entre ansiosa e feliz.

Novamente tudo estava preparado para mais um encontro de sensações inesquecíveis ao seu coração.
Duas semanas já se haviam passado desde a primeira intimidade havida entre ambos e isso já lhe parecia mais de duas décadas.

Letícia, apesar de exultante e excitada, cuidadosa que era, não pretendia dar a Marcelo a ideia do quanto se achava na total dependência emocional de seus carinhos.
O envolvimento físico já havido entre ambos dispensava os rituais preliminares, o que permitiu que, tão logo colocasse seus pés no ambiente, Letícia já o tomasse pelas mãos com intimidade, conduzindo-o para o sofá confortável, localizado no ambiente agradavelmente escurecido da sala de seu apartamento, guarnecido com os petiscos e o inesquecível vinho.

Para receber o rapaz, ela se fizera, agora, mais envolvente, usando roupa leve e provocante, sem ser vulgar.
Sabia que Marcelo, como todo homem, depois da segunda ou terceira taça de vinho, se soltava e mais facilmente acedia à troca de carícias.
Com elas, Letícia contava construir no interesse de Marcelo uma dependência que lhe garantiria alguma vantagem na disputa com Marisa, acerca das preferências do homem desejado.

Enquanto os dois se permitiam as brincadeiras dos adolescentes que se acham em isolamento, podendo dar vazão aos seus modos de ser mais autênticos, Marcelo pensava na melhor maneira de dar início ao assunto, enquanto que Letícia mais e mais desejava alongar aqueles momentos que, no íntimo, ela sabia que não seriam longos o quanto desejava que fossem.

Marcelo achou mais prudente conversar com ela antes que os vapores do álcool tirassem de ambos a lucidez para o entendimento claro e seguro.
Dessa maneira, o rapaz preferiu tocar no assunto, alegando que estava ali tanto para retomar a satisfação de sua companhia interrompida pelo amanhecer daquele domingo, como também para dividir com ela uma preocupação que o corroía.

E sem contar com nenhuma oposição da jovem, conforme ele mesmo já imaginava, relatou os factos à sua maneira, dando realce nas questões financeiras e éticas que colocavam em risco a integridade de suas próprias carreiras.

Evitou revelar detalhes de conversa com Camila para que Letícia não suspeitasse de um maior envolvimento dele com a outra amiga de escritório.

Falou das provas fotográficas, dos eventuais clientes que poderiam ser solicitados a esclarecer os factos.
Sabendo que isso era uma coisa muito grave e que poderia atingir a todos, ela, que era extremamente zelosa de sua conduta profissional, abraçou as preocupações de Marcelo com maior ardor do que ele mesmo, tomando para si as possíveis consequências funestas que tal procedimento poderia causar em sua reputação.

Dando a Marcelo a certeza de que poderia contar com ela, já que fora sempre muito rígida a respeito dos valores da profissão, na seriedade e dedicação que sempre demonstrara com os inúmeros casos que lhe chegavam às mãos, Letícia confirmou que apoiaria a restauração da Verdade, custasse o que custasse.

Além do mais, para surpresa de próprio Marcelo, revelou sua desconfiança de que seus papéis pessoais costumavam ser revirados por alguém, no intuito de descobrirem-se certos segredos ou informações que fossem interpretadas como sigilosas.

Nunca deu a conhecer tais práticas porquanto elas não chegavam a comprometer suas actividades e poderiam ser confundidas, inclusive com a acção dos funcionários da própria arrumação e limpeza.

No entanto, sempre estivera atenta para qualquer modificação na ordem dos documentos em cada uma de suas pastas e, uma vez que, dentre todas as três advogadas, era a que todos sabiam ser a mais organizada e metódica com os papéis dos diversos casos que conduzia, as ocorrências de tal tipo não se multiplicaram.

No entanto, as palavras de Letícia caíam-lhe como uma luva no Espírito já preparado pelo depoimento de Camila, reafirmando a conduta desleal e perigosa do advogado de confiança e braço direito de Alberto.

Assim, não lhe foi difícil esclarecer à jovem os seus intentos de colocar todas estas coisas em pratos limpos, contando com o seu apoio, inclusive com a sua palavra na hora necessária, relatando tais factos como suspeitas importantes que se juntariam aos outros eventos para compor o cenário das provas.

Admirando-se com a coragem de Marcelo, Letícia garantiu-lhe o respaldo para as horas decisivas e, como que a desejar aproveitar ao máximo aqueles momentos a sós, encheu novamente a taça com o vinho saboroso e, em homenagem ao momento que os unira um pouco mais, levantara o brinde que seria a antessala de novos encontros íntimos no alimentar do fogaréu que ardia, em altas labaredas, no interior de seu sentimento feminino.

Marcelo se sentia envaidecido com o tratamento carinhoso de que se via objecto e, percebendo que Letícia dirigia sua afectividade para o caminho do compromisso, antepunha sempre a sua condição de casado para justificar a impossibilidade de qualquer ajuste mais definitivo com ela.

Lembrada do fato, Letícia tratava imediatamente de afrouxar os argumentos que construía ao redor do pescoço e dos ouvidos de Marcelo, assumindo a postura da jovem compreensiva e que, com paciência, sabia esperar pela decisão dele em relação ao compromisso que assumira anteriormente.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:24 am

Estariam ali sempre para desfrutarem juntos os bons momentos da afectividade sincera e sem compromissos.
Isso fazia as coisas voltarem à confortável situação na qual Marcelo mantinha a sua euforia masculina abastecida pelos carinhos de Letícia, ao mesmo tempo em que não se via obrigado a assumir nada de mais profundo em relação a Letícia, usando seu casamento com Marisa como desculpa para a não construção de um relacionamento mais profundo com a jovem, casamento esse que ele nunca escondera dela, antes do início dos encontros íntimos.

A jovem, no íntimo, sabia que Marcelo jamais se apresentara como um galanteador barato e que não fora enganada por ele, com promessas sedutoras para conquistar os favores sexuais, não.

Marcelo, desde o início de seu relacionamento profissional sempre se apresentara como casado e muito bem casado.
Em seu íntimo, Letícia estava consciente de que fora ela própria que, na carência de sua solidão, pretendera criar ao redor do moço uma atmosfera que o favoreceria à prevaricação, valendo-se de um estado de insatisfação que habitava o sentimento do rapaz em relação à esposa indiferente.

No entanto, quando Letícia se viu com tais cartas favoráveis, passou a investir tudo o que possuía nelas, com a ideia de, mais tarde conseguir para si o marido que pertencia à outra.
Era verdade que Marcelo jamais lhe havia dado alguma esperança de assumir qualquer relacionamento.

Mas, nas horas mais calorosas e impetuosas de seu sentimento, como toda mulher, Letícia procurava transformar as estruturas que fundamentavam o relacionamento informal a que iniciaram, levando-o para o terreno dos compromissos.

Essa era uma conduta que acontecia sempre que a moça descuidava da atenção para com a verdade dos fatos, no anseio natural que as pessoas possuem em se unirem com sinceridade a outra e dela receberem o mesmo tipo de consideração.

Por isso, Letícia se manejava entre a cautelosa estratégia de dar prazer a Marcelo, fazendo-o encontrar ali o ambiente acolhedor a lhe permitir a troca de carícias sem cobranças imediatas, e a esperança de que, um dia, ele acabasse fisgado pelos seus encantos.

Nesse pensamento, os dois se permitiram as alegrias daquele encontro sexual fortuito, no qual Marcelo era encarado por Letícia como o Príncipe Encantado enquanto que, de sua parte, encarava a jovem como uma mulher fácil, agradável e carinhosa que poderia, se bem administrada, ser-lhe muito útil aos interesses, antes de ser descartada.

Porém, dentre todas as mulheres que se relacionavam com o rapaz, a forma como Letícia o tratava era, de longe, a melhor e mais sincera, no sentido do afecto verdadeiro.
Para ela, ele se apresentava como o herói, admirado e acolhido, consideração essa que enaltecia na personalidade masculina tudo aquilo que um homem deseja obter de uma mulher com quem se relacione, o que o atraía sobremaneira para a sua companhia.

Apenas a paixão que sentia e os sonhos que construía com Camila o impediam de se entregar mais profundamente ao relacionamento com Letícia, além, é claro, do facto de não ser, a jovem amante, dotada de uma beleza física especial.

O relacionamento sexual que os envolvia, entretanto, vinha marcado com o selo do carinho, da afectividade espontânea por parte da moça, que tudo fazia para corresponder aos desejos do rapaz.

Com o final do encontro, as despedidas de ambos foram seladas pelos novos ajustes, com vistas à futura reunião que congregaria todos os membros do escritório, renovação do sigilo sobre o relacionamento e beijos calorosos.

— Agora, só me falta o acerto com Sílvia, e meus planos podem ser considerados bem ajustados em todos os sentidos.

Encontrar-se com Sílvia não seria difícil.
No celular do jovem advogado, já havia outra mensagem anónima falando da falta que estava fazendo e do desejo que havia despertado na mente da experiente mulher.
Assim, bastou um rápido telefonema para que ambos acertassem um encontro em ambiente favorável para que Marcelo pudesse conversar com Sílvia e apresentar-lhe o problema.

Para evitar maiores riscos, o rapaz procurou fixar a reunião para o mesmo local onde ambos já haviam se permitido os primeiros voos libertinos, mas, antes que Sílvia pudesse imaginar que seria o sexo o motivo principal do evento, Marcelo deixara claro que estava escolhendo aquele ambiente para revelar um assunto grave, da forma mais privada possível.

Sabendo que não seria construtivo contrariar um homem casado, que tem a coragem de marcar um encontro em um motel alegando que o faz para tratar de outros assuntos, Sílvia concordou com a argumentação e, de forma prática, pensou consigo mesma:
— Ora, o que importa é chegarmos ao motel.
Depois, o que acontecer lá dentro, isso é o de menos.
Podemos conversar sobre política, sobre as guerras do mundo, sobre a filosofia do direito, mas, acima de tudo, estaremos prontos para resolver todos os problemas políticos, conflitivos e jurídicos, pela força dos argumentos do corpo e da sedução.

Não há assunto, em um motel, que nos impeça de chegar ao que é importante.
Por que ficar discutindo as preliminares se o importante é o definitivo?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122485
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 5 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 5 de 9 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos