LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:47 am

Despedindo-se da Terra
André Luiz Ruiz

Espírito Lucius

ÍNDICE

1- Jogo de interesses
2- Os cenários, os planos e os desejos
3- Os objectivos do mundo espiritual inferior
4- A acção dos Espíritos negativos
5- O perfil dos envolvidos
6- Começando bem
7- Acercando-se de Letícia

8- As estratégias
9- O encontro da astúcia com a inocência
10- As vivências de Gláucia e Glauco
11- Letícia e a solidão
12- O centro de mensagens
13- Sílvia e os planos de Marisa
14- Sílvia, Marcelo e os Espíritos

15- Os detalhes da organização
16- A preparação para o Evangelho em família
17- O momento da oração colectiva
18- Luiz, sua sexualidade e seu obsessor
19- Retomando o controle sobre o encarnado
20- Camila, Sílvia e Marcelo
21- As consequências do sexo irresponsável

22- A vez de Letícia
23- Observando do alto e entendendo os factos
24- Múltiplas astúcias e protecções específicas
25- Marisa começa o ataque
26- Marcelo e Camila tecem sua teia
27- Marcelo em busca de apoio
28- Vidente de plantão e a sintonia com o mal

29- Explicando, observando e reflectindo
30- Terça-feira I - O escritório de Glauco
31- Terça-feira II - O motel - Protecção aos maus
32- Terça-feira III - O motel - Protecção aos bons
33- O alvoroço das trevas e as ordens do Presidente
34- A pedagogia do bem
35- Observando a todos

36- Marcelo e suas mulheres
37- O casamento e a gravidez
38- Os envolvimentos do passado e a trágica escolha
39- Finalmente, a reunião
40- Marcelo, as denúncias e as surpresas
41- Novas surpresas
42- Despedindo-se da Terra
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:47 am

1 - JOGO DE INTERESSES

O metrô acabara de partir da estação onde Marcelo havia ingressado no vagão que o levaria ao trabalho, para o cumprimento das responsabilidades diárias.

Como era seu costume, deixava seu carro em um estacionamento próximo e, valendo-se do trem subterrâneo, chegava mais rapidamente ao destino, sem os inconvenientes do trânsito pesado.

Da mesma forma, garantia o sossego do retorno ao lar, ao final do expediente no escritório de advocacia onde militava.
Sua rotina só se alterava quando, em ocasiões específicas, tinha necessidade de valer-se do veículo para transitar durante o dia ou a chuva impunha tal exigência.

A sua mente vinha, no entanto, mais carregada do que o próprio veículo que o transportava.
Não somente os problemas do escritório o perturbavam. Os compromissos com clientes, as responsabilidades com prazos, as lutas com teses jurídicas e as pressões dos seus chefes, sempre mais vinculados com as vitórias no fórum do que com o respeito aos ditames da lei e da justiça.

Era mais um no meio de tantos outros advogados que, desejosos de se verem promovidos na confiança dos mais antigos, estabeleciam uma convivência difícil e cheia de disputas.
Todas as semanas, suas orelhas e olhos deviam estar atentos às menores ocorrências, às frases mais inocentes, aos papéis que iam e vinham, porque sempre havia o risco de estar sendo tramada alguma cilada contra ele ou que ele estivesse sendo excluído de algum caso importante cujo realce promoveria um outro em seu lugar.

Apesar de conviver com todos já há alguns meses, sentia que não tinha amigos confiáveis e se adaptara às essa rotina mentirosa de falar banalidades, dar risada das piadas, tomar os drinques ao final do dia e jamais deixar-se penetrar pelos que rodeavam seus passos e pensamentos.

Os donos do grande escritório, homens experientes nas negociatas do mundo, há muito tempo haviam perdido o senso do ideal e o desejo de buscar a ordem legal, acostumados à troca de favores com outras autoridades que, da mesma forma, cansadas e desencantadas com as rotinas humanas e o volume das tarefas, limitavam-se a empurrar as coisas para a frente, sem o calor do idealismo.
E interessados em ganhar sempre, os proprietários daquele estabelecimento tão respeitado nos meios profissionais naquela cidade estimulavam este clima de mútua desconfiança, através do qual pretendiam desenvolver a astúcias, ambição, a capacidade de jogar, a esperteza naqueles que ali prestavam serviço e traziam os ganhos financeiros que vinham engordar o já grande património pessoa que detinham sob suas mãos.

Só os maiores casos jurídicos, tanto nas dimensões económicas quanto na alçada política, ficavam sob responsabilidade directa de um dos donos daquele negócio, ocasião em que as suas influências sociais junto a autoridades era um outro factor que interferia directamente na estrutura da Justiça ou na legalidade dos procedimentos.

Marcelo se adaptara naturalmente a esse ambiente, ainda que não se sentisse bem ao contacto com as mentiras do mundo, com a mesquinhez das pessoas, com os clientes irresponsáveis que queriam fugir das consequências de seus actos.

Para Marcelo, o que importava era o pagamento, o dinheiro que iria receber ao final do mês, pelo regime de produção, o que o fazia “engolir todos os sapos” e, há muito tempo, abdicar dos sonhos do Direito como instrumento da justiça.

Estes não eram, porém, os únicos problemas de Marcelo naquele dia.
Como acontece com todos os que se acham em testes no mundo físico, ele convivia com outras pessoas no ambiente do lar.
Marisa, a companheira, igualmente se acercara dele por laços antigos, estabelecidos em outras existências e que, agora, tinham que ser colocados à prova, para vencerem os defeitos comuns.

Associada às ambições do marido, Marisa tinha gosto apurado pelas coisas materiais e, dotada de exuberante beleza, usava-a como arma para conquistar tudo o que queria.
Marcelo e Marisa traziam o Espírito vibrando na mesma sintonia de interesses, o que possibilitava que o desejo de um correspondesse ao desejo do outro.

Quando Marcelo cruzou seu caminho, Marisa se encantou com seus recursos materiais, sua roupa bem talhada, sua fala fluente, seu estilo de vida, antevendo uma vida de facilidades ao lado daquele jovem, tratou de colocar suas armas a serviço de seus planos

Passou a assediá-lo com roupas provocantes, usadas de forma inteligente e astuta para que não parecesse uma mulher vulgar que se oferecia, quando era exactamente isso que fazia.
Ao lado do panorama físico desafiador, Marisa sabia que Marcelo logo se veria atraído se ela usasse da técnica que mesclava sensibilidade com desinteresse.
Deixaria que o rapaz percebesse sua inteligência durante as conversas sobre as tolices do mundo, falando de filmes, de temas filosóficos, cultivando gosto pela música, coisas sobre as quais, sabia ela, o jovem não tinha muito domínio.

Assim, quando juntos, mostraria que tinha conhecimentos variados e, para um homem que se tinha em conta de muito inteligente, nada melhor do que estar ao lado de uma mulher que, sem competir frontalmente com ele, também possua dotes admiráveis.

Por outro lado, em seu plano de conquista, Marisa se faria de difícil, recusaria alguns convites, alegaria compromissos já assumidos antes, para que Marcelo ficasse impaciente e confuso, com receio de perder a tão cobiçada presa.

E, no meio disso tudo, estavam as roupas insinuantes, a sua beleza natural, enriquecida pelas produções artificiosas, o cabelo bem ajeitado, as maneiras finas mescladas com as formas simples, tudo bem estudado para o fim desejado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:47 am

Não há nada mais interessante do que aceitar a condição de caça, sabendo-se, no entanto, que se está na condição de caçador.
Fazer-se frágil para conseguir atrair o interesse daquele que parece mais forte a fim de motivá-lo a uma luta onde, certamente, acabará derrotado.

Este tem sido o velho procedimento do afecto ao longo dos séculos.
O jogo da mentira a produzir as frustrações e as dores no coração que busca por um sentimento verdadeiro.
Marisa, como o leitor pode observar, também era uma profissional astuta tanto quanto Marcelo, colocando seu talento em uma outra área de actuação, a da conquista de seus objectivos, valendo-se tanto de suas armas pessoais quanto das fraquezas alheias, que sabia manipular com maestria.

E o rapaz que lhe representava o objectivo principal carregava o coração desguarnecido, desejando encontrar companhia, ao mesmo tempo em que, dentro das naturais leviandades masculinas, ansiava ter ao seu lado uma exuberante representante do sexo oposto, como a demonstrar a sua capacidade de conquista.

Vaidade e carência de um lado; astúcia, ambição de outro – isso bem representava a dupla Marcelo e Marisa.
Como falávamos antes, naquele dia o pensamento de Marcelo vinha assoberbado por outras preocupações além daquelas naturais de sua rotina de trabalho.
Logo pela manhã, havia tido uma discussão com Marisa que, desde algum tempo, vinha pressionando-o no sentido de conseguir melhor colocação dentro do próprio escritório.

Sem participar das actividades profissionais do marido, Marisa não tinha ideia da verdadeira guerra de interesses e ambições que acontecia em sua profissão.
No entanto, ambiciosa e desejando ostentar uma condição social ainda melhor, sabia que precisava pressionar o marido para que ele começasse a conquistar mais espaço em sua actividade remunerada.

Para isso, desde algum tempo, passou a usar certas estratégias de pressionamento velado, comentando com ele, como quem não quer nada, as conquistas materiais de certos amigos com quem conviviam, enaltecendo-lhes a capacidade, elogiando-lhes a inteligência com a finalidade de diminuir a auto-estima do próprio Marcelo.
Imaturo para certas coisas, o marido se via apequenado na admiração da esposa, ante as referências elogiosas dirigidas a outros homens que não ele...

Não se tratava de uma questão de ciúmes, já que Marisa tinha o cuidado de não deixar as coisa seguirem por esse caminho.
A mulher sabia ser carinhosa ao extremo nos momentos de intimidade do casal;
momento em que sabia dominar as atenções do companheiro e manipular à vontade.

Na esfera do prazer físico, Marisa sabia usar os mais importantes e convincentes instrumentos de convencimento para aplicar sobre a vontade tíbia de Marcelo.
Assim, o marido não se sentia ameaçado no relacionamento pessoal com a esposa, mas o simples facto de ela elogiar as conquistas de outros, em sua mente emocionalmente infantil, sugeria o fato de serem melhores do que ele próprio.

Acostumado às constantes competições da vida diária, no trânsito, no escritório, no fórum, Marcelo interpretava tais referências elogiosas aos outros como um demérito próprio, pressionando-se pessoalmente ainda mais para que o seu sucesso atraísse as mesmas referências da mulher desejada.

Naturalmente era o mesmo jogo de sempre.
Todavia, por mais que se esforçasse em suas actividades e em seus métodos, Marcelo não podia vencer de imediato certas barreiras que somente as oportunidades muito bem exploradas conseguiriam superar.

O tempo passava, desse modo, e as coisas não mudavam no escritório.
No entanto, no lar, nada lhes faltava, nem dinheiro, nem conforto, nem os favores da sorte.
Pelo menos era o que ele próprio pensava.

Na cabeça da esposa, entretanto, acostumada às vacuidades da vida, às frivolidades do mundo, à superficialidade das aparências, estava pesando a monotonia, a falta de algo novo, o desejo de aventurar-se em actividades náuticas, a troca de apartamento por um outro maior e mais confortável, o desejo de se destacar mais nos encontros com outras mulheres, tão ou mais doidivanas do que ela própria.

Essa diferença na forma de ver as coisas propiciava a nota discordante entre eles.
Marisa não falava estas coisas abertamente, porque tinha ciência do exagero de seus desejos, ainda que os cultivasse mesmo assim, como forma de se mostrar importante para os que pretendia impressionar.

Sabia que, ao exigir isso de maneira explícita, poderia ser interpretado como uma grotesca leviandade, demonstradora de seu carácter exageradamente materialista e isso a exporia a críticas justas por parte do esposo.

Dessa maneira, precisava usar de outros meios.
Começou, então, a depositar nos ouvidos do marido elogios às conquistas materiais de seus amigos, demonstrando o quanto uma mulher admira um homem pelas coisas que ele possui ou consegue.
Marcelo, no entanto, não respondia segundo a velocidade que ela desejava.

Assim, havia decidido usar outra técnica.
Depois de muito falar sem efeito, Marisa resolvera modificar a rotina da convivência íntima, de sorte que, quando o marido a procurou no leito, ansioso por se fazer sentir másculo e conquistador, a esposa alegou indisposição tola e recusou suas carícias, não correspondendo com a efusividade vulcânica de antes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:48 am

Era a primeira vez que Marcelo se via atingido em seus valores viris junto daquela que, desde o início do relacionamento físico há alguns anos, se tornara sua sócia nos prazeres mais exagerados, compartilhando-lhe os desejos e as sensações intensas.

Em um primeiro momento, estranhou a atitude de Marisa e imaginou que se tratava de alguma enfermidade.
Constatou, logo em seguida, que não era problema de saúde, mas sim de cansaço.
Marisa estava cansada...

— Como é que isso é possível? — perguntava-se Marcelo.
Esta folgada não faz nada o dia inteiro.
Quando muito vai ao Shopping fazer compras e gastar o meu dinheiro, enquanto estou lutando como um alucinado para satisfazer suas loucuras!!!
E agora, quando a procurei, vem com essa de cansaço... — exasperou-se ele.

No entanto, o facto era esse.
Ele se fazendo todo adocicado, tentando despertar na esposa o desejo e ela se fazendo de indiferente, propositalmente.
Marcelo pretendeu forçar a situação, mas Marisa o advertiu de que não iria conseguir nada com ela e que seria melhor que dormisse para que, no dia seguinte, tudo se resolvesse depois de uma noite de descanso.

O marido virou-se para o lado e começou a pensar naquele novo cenário.

Com seus neurónios acostumados a ver armadilhas, mentiras e meias verdades em todos os seus casos do escritório, em todos os relacionamentos pessoais com os colegas e em cada jogo de interesses que era obrigado a montar para defender as pretensões de seus clientes, Marcelo logo passou a pesquisar as possíveis causas daquela estranha reacção e não lhe foi difícil ajuntar ao facto, as palavras de admiração que Marisa vinha lhe lançando aos ouvidos quando falavam sobre este ou aquele de seus amigos de profissão.

Afogueado em seus pensamentos indisciplinados, quase não dormiu a noite inteira, ficando ainda mais irritado ao escutar a respiração profunda da esposa ao seu lado, indicando que dormia tranquilamente.

Levantou-se rapidamente, antes que o despertador soasse naquela manhã e, depois de tentar apagar os piores presságios do pensamento, tomou um rápido café, dirigiu-se à garagem de seu apartamento e tomou o rumo do estacionamento próximo à estação do metrô, onde seu dia iria começar.

Dessa forma, Marcelo não percebia o balanço do vagão, embalado pelos pensamentos mais conturbados e se sentindo desprezado no afecto físico daquela que, até então, havia sido a amante perfeita, compartilhando das mesmas aventuras e prazeres.

A pressão em seus pensamentos havia aumentado e, assim, Marcelo teria um dia um pouco mais difícil do que os anteriores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:48 am

2 - OS CENÁRIOS, OS PLANOS E OS DESEJOS

Desde essa data, o essa data, o relacionamento do casal se viu estremecido pela conduta mais fria e indiferente da esposa que, dessa maneira, desejava induzir o companheiro a adoptar uma forma mais agressiva de ser diante das tarefas profissionais.

Nas discussões que se seguiram, sempre com o mesmo cenário, Marcelo tentando a aproximação íntima e Marisa demonstrando o seu desinteresse, a mulher sabia fustigar a vaidade masculina, sobretudo, ao insinuar que, talvez, o esposo não fosse tão competente profissionalmente, como alardeava.

Logo ficou bastante claro ao marido que havia uma frontal oposição de opiniões e que, se desejasse obter os carinhos da mulher desejada, deveria demonstrar sua astúcia na capacidade de galgar postos na estrutura administrativa.

Ao mesmo tempo, encontrava-se numa posição difícil porque não havia muitos caminhos lícitos pelos quais se poderia conseguir tal melhora de condições.
A disputa interna pelas melhores contas e melhores clientes impunha a todos o dever de não escorregar, de não perder qualquer oportunidade, de jamais deslizar no atendimento dos prazos legais, observando-se o rigor dos procedimentos.

Todos os dias, Marcelo buscava o escritório na rotina do trabalho, fustigado pela insatisfação afectiva, pela depreciação velada da esposa, pelo orgulho ferido e pela necessidade de reverter todo este quadro para que pudesse retomar, nas atenções da mulher, o mesmo respeito e consideração de antes.

Em momento algum lhe passou pela ideia a noção de que, para conseguir essa admiração, ele se veria obrigado a fraudar de alguma maneira.
A questão ética era pouco considerada por todos os que lá trabalhavam, acostumados a falar muito dela nos seus escritos, a avaliarem sua existência nas condutas formais junto às autoridades, mas de não viverem seus ditames nas horas comuns do dia.

Assim, entre os homens e as mulheres que conviviam no ambiente do escritório, as guerras ocultas ou declaradas eram um capítulo à parte, na experiência da convivência entre profissionais do Direito que ali se empenhavam em defender uma versão da verdade e não a Verdade plena.

Com o passar dos dias, então, o advogado ambicioso se dispunha a estabelecer uma estratégia deforma a tirar vantagens dos eventos fortuitos e das relações de trabalho que se estabeleciam no ambiente laboral.

O escritório era de propriedade de dois velhos causídicos, Dr. Alberto e Dr. Ramos, cada qual liderando um grupo de profissionais que, segundo seus próprios critérios de escolha, foram definidos para servirem de equipe jurídica a serviço de seu líder.

Dessa maneira, dois grupos se antepunham, nas disputas pela produção de resultados estampado no número de vitórias conquistadas, casos resolvidos e honorários embolsados.
E apesar de todos estarem envolvidos nas tarefas gerais e, eventualmente, ajudarem-se na troca de favores, havia sempre uma disputa subtil entre os dois grupos, disputa esta que era igualmente estimulada pelos dois principais líderes, que a encaravam como salutar competição a favorecer os objectivos almejados.

Não é preciso dizer que quase todos os profissionais que ali se apinhavam, ao redor das duas águias, se candidatavam a se tornarem águias também, conquistando as atenções e favores do seu líder, a admiração de alguns e a inveja de todos os outros.

Dr. Leandro era o que mais se mantinha próximo de Dr. Alberto, enquanto que, pelos lados do Dr. Ramos, Dra. Clotilde era aquela que correspondia à pessoa de sua confiança.
Depois de ambos, vinham os demais, que se mediam e se consideravam pelo número de anos de trabalho naquele escritório, sendo os mais velhos os que tinham certa ascendência sobre os mais novos.

Essa regra só era quebrada quando algum mais novato conseguia uma conquista m retumbante, seja nas disputas legais, seja no valor dos honorários, o que catapultava sua qualificação aos olhos dos líderes principais, enquanto que criava nos que estavam imediatamente abaixo o justo temor de perderem a posição para algum sortudo ou oportunista.

Marcelo não era o mais velho nem o mais novo de seu grupo. Permanecera na equipe de Alberto, a quem se ligara desde a chegada, trazido pela indicação de antigo proprietário, Dr. Josué, que se retirava da sociedade advocacia por motivo de saúde.

Desde então, foi acolhido por Alberto e passou a fazer parte de sua equipe, que além dele e de Leandro, era composta por mais três advogados.

A equipe de Ramos era menor que a de Alberto.
Além de Clotilde, havia mais um advogado inexperiente, recém-formado, que, dessa forma, compunham um quadro de dois auxiliares.
Além dos advogados havia as secretárias que organizavam as agendas dos dois grupos e tinham actividades diversificadas na estrutura administrativa.

Outras jovens atendiam aos telefones, enquanto que alguns funcionários menos qualificados se encarregavam da limpeza, da cozinha, da higiene em geral para que aquele local impressionasse pela ordem e perfeito sincronismo.

— Gente rica gosta de ser tratada como rei, mesmo que acabe entregando todo o seu tesouro na hora de pagar a conta — costumava falar Alberto, nas reuniões de trabalho do escritório que aconteciam, periodicamente, com todos os integrantes, onde eram apresentados problemas e discutidas questões delicadas a portas fechadas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:48 am

— É verdade, gente — completava Ramos.
Quanto mais impressionados ficam com a estrutura física, mais seguros se sentem quanto à defesa de seus direitos e, por isso, mais inclinados a nos entregarem seus casos, mesmo que isso lhes custe mais despesas.

Todos somos assim.
Se vemos uma coisa barata e, ao seu lado, uma mercadoria similar que seja mais cara, se temos condições escolhemos a mais cara porque temos a ideia de que a mais barata é de pior qualidade, ainda que sejam iguais.

Os outros escutavam e abanavam a cabeça, concordando com as opiniões de seus chefes, não desejando contrariá-los nos conceitos estabelecidos por décadas de atendimento jurídico.

Marcelo se mantinha sempre neutro em qualquer discussão que não fosse sobre os casos que dirigia em sua área de actuação porque sabia que cada palavra que dissesse, demonstrando sua maneira de pensar sobre os demais assuntos, revelaria coisas de si mesmo que não seria adequado dar publicidade, uma vez que ele sabia que revelar-se, intimamente, naquele ambiente, era se tornar mais vulnerável aos ataques dos adversários.

E, em sua cabeça, desde que essa guinada em sua vida pessoal, deveria haver alguma forma de se conseguir a modificação de seu nível de avaliação, que correspondia a uma alteração de respeitabilidade, uma ascensão na hierarquia interna e uma modificação na remuneração final.

Seus sentimentos se inclinavam na louca intenção de voltar para sua casa como o vitorioso e entregar à mulher desejada o troféu material de suas conquistas.
Estava disposto a tudo fazer para retomar a antiga condição de companheiro sedutor e dominante do afecto feminino.

E nesse processo não havia outra escolha senão a de abrir frente com os recursos que tinha, tendo ficado definido, claramente, que Leandro era o inimigo a se combater, já que as outras colegas do grupo de Alberto não lhe faziam frente.

Leandro já estava há muito tempo na condição de cúmplice de Alberto, conhecendo a intimidade dos seus negócios e conquistando a confiança com a participação nas maiores tramóias do escritório, na compra de autoridades, na manipulação de interesses, na ocultação de delitos, na montagem de políticas de pressão para resolver o problema pelos caminhos não jurídicos.

Entre estas tarefas estava a de manipular a vida privada de certas autoridades que, possuindo compromissos morais com os antigos causídicos do Direito, viam-se na contingência de torcer a lei a fim de lhes garantir decisão favorável.

Um favor aqui, colocando o filho recém-formado de um juiz para trabalhar como advogado em seu importante escritório, um facto mais ali, com o patrocínio gratuito da separação judicial de outro magistrado, além de indicações de secretárias competentes para que trabalhassem junto a desembargadores, tudo isso havia produzido, ao longo dos anos, uma teia de influências poderosas que Alberto, tanto quanto Leandro, manipulavam conjuntamente para usar como força nas disputas da vaidade, no cenário jurídico da sociedade onde viviam.

— Advogado bom é aquele que ganha a causa — repetiam sempre as duas raposas proprietárias, nos corredores do escritório.
O cliente não quer um profissional que saiba as leis e conheça todos os detalhes dos códigos, mas que perca seu processo, ainda que por falta de razão ou por falta do próprio direito.
O cliente prefere um profissional medíocre, mas que, usando de meios lícitos ou não, consiga ganhar a causa ou obter a vantagem que ele deseja.
Esse é o bom advogado.

Essa era a cultura que se plasmava na alma dos profissionais ali envolvidos na sagrada tarefa de buscar a verdade, mas que a haviam transformado na espúria actividade de corromper os factos e as pessoas para atingir os objectivos almejados.

Marcelo havia definido sua estratégia geral.
Derrubar Leandro e tomar-lhe o lugar.

Para isso precisaria conseguir apoio, já que Leandro se havia cercado de uma linha de defesa que envolvia a protecção da secretária principal e de outros estagiários que estavam sempre ao seu lado, aprendendo a trabalhar nos processos, sem vínculo de emprego com o próprio escritório.

E dentro de sua nova aventura, estimulado pelo desafio proposto pelo comportamento da esposa, que despertava em sua alma vaidosa e imatura o desejo de demonstrar seu poder e sua capacidade, Marcelo sentiu a necessidade de informações, de conhecimentos, de detalhes sobre tudo, porque naquele universo pequeno, informação era um bem muito precioso.

Com tal ideia na cabeça, delineou aproximar-se das outras advogadas com quem convivia diariamente, de maneira a conquistar-lhes a simpatia e, de uma forma imperceptível, criar um subgrupo dentro do grupo que Alberto liderava com o apoio de Leandro.

Se Marcelo se tornasse um líder das outras três que compunham com ele a força de trabalho com que Alberto contava, seria mais fácil conseguir o apoio para fraudar as coisas e abater Leandro que, por sua condição de superioridade, não fazia questão de ser muito simpático com os demais, preferindo a proximidade com Alberto.

Letícia, Camila e Sílvia seriam seu primeiro alvo, a fim de que, uma vez conquistado o apoio delas, unidas ao seu redor, tivesse apoio e peso para ampliar a luta e retirar Leandro do seu posto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:48 am

Naturalmente que não seria fácil nem rápido obter tudo isso.
Entre eles jamais houvera uma aproximação que se pudesse qualificar de confiança.

Mais não era do que um superficial relacionamento profissional onde uns ajudavam os outros quando era conveniente, mas jamais se deixavam comprometer ou aprofundavam os envolvimentos.
Por isso, Marcelo precisaria adoptar estratégias adequadas para iniciar um processo de aproximação, sem levantar suspeitas.

Enquanto isso iria levando as coisas com Marisa, a esposa, de forma a tentar convencê-la de que estava ganhando terreno e conquistando espaço no escritório.
Em suas ideias mirabolantes, arquitectava o plano de dormir fora de casa algumas vezes, alegando ter sido convocado para viajar para atender clientes distantes, desejando demonstrar com isso que estava ganhando a confiança dos patrões.

Sua cabeça funcionava a todo vapor, como se uma força desconhecida alimentasse a caldeira fumegante com mais e mais lenha, fazendo tudo encaixar-se de forma lógica, serena e perfeita, no sentido da conquista de seus objectivos.

As ideias iam sendo sucedidas pro novas inspirações e, entusiasmado por tal perspectiva, Marcelo chegava em casa cada noite e se mantinha no escritório de seu apartamento, dedicando-se a montagem e ao aperfeiçoamento de suas armadilhas.

Marisa iria notar a modificação de sua rotina e, certamente, tornaria as coisas mais fáceis para ele.
Entretanto, ainda que no princípio a vaidade e o orgulho feridos tivessem sido os primeiros estimuladores de sua vontade, desde o momento em que se debruçou sobre o fatídico plano, passou a alimentar-se com o próprio prazer de crescimento e conquista pessoal.

Já não era tanto por Marisa, cuja postura interesseira houvera disparado o processo.
Agora já era por ele mesmo, convencido realmente de que sua capacidade estava a merecer uma melhor consideração dos proprietários do escritório e que Leandro já havia se acomodado ao posto, sem apresentar méritos para nele permanecer indefinidamente.

Sem qualquer cuidado mental, Marcelo se deixava arrastar pelos sonhos de realce, defeitos de carácter que ele possuía e que Marisa, bem o conhecendo, usava quando lhe parecia adequado para obter o que desejava, controlando as atitudes do marido.

Agora, o jovem causídico estava acreditando que,, realmente, ele merecia mais do que tinha, e sua inteligência, como se estivesse preparando uma estratégia de defesa de um cliente, se deliciava com o próprio brilhantismo, traçando os passos delicados e as rotas mais seguras;
não apenas para derrubar Leandro, mas para que isso parecesse uma queda natural, sem qualquer provocação externa, sem que ele aparecesse como o responsável.

Daí, com o apoio da liderança que conquistara junto às três jovens advogadas, seria fácil ser escolhido para substituir aquele que se desgraçara junto ao advogado principal.
Até tarde da noite, Marcelo se mantinha isolado, meditando, avaliando as vantagens, os prós e os contras, a estratégia de abordagem, as tácticas mais subtis para que tudo acontecesse de forma natural.

De tudo isso Marisa não fazia ideia.
Apenas percebia as mudanças de comportamento do esposo, atribuindo isso à sua táctica, o que a levava a dar razão a si mesma, no conceito de que o marido precisava ser empurrado para que saísse do marasmo e continuasse lutando pela conquista de novas posições.

— A vida é essa disputa constante.
Quem não quer lutar será devorado pelos outros.
E se as coisas são assim, melhor ser quem devora do que servir de comida para os tubarões...

Tais pensamentos eram comuns aos dois e igualmente distantes dos princípios éticos que deveriam servir de base para uma vida saudável.
Como se vê, Marisa e Marcelo se dedicavam a uma vida material, uma vida sem sentido mais profundo, na qual os conceitos e valores morais só serviam para julgar os outros, mas nunca para estabelecer padrões de comportamento para si mesmos.

A vida, segundo pensavam, valia pelas facilidades e confortos que pudessem desfrutar, pelas viagens que fizessem, pela qualidade do automóvel que tivessem na garagem, pelo estilo de vida que ostentassem.

Daí tiravam toda sensação de felicidade, mesclada pelo saciar de suas ambições e do orgulho de si mesmos, nas disputas com os demais onde, tanto quanto no fórum, tinham para si o conceito claro deu que o vencedor era aquele que exibisse as riquezas que possuía enquanto o perdedor era aquele que se via impossibilitado de responder às exigências sociais, naquilo que era visto como sinal de riqueza e importância.

Se para os clientes, bom advogado era quem ganhava o processo, não importando por que caminhos, para as pessoas em geral, bom advogado era aquele que tinha um carro novo, uma casa vistosa, boas roupas e boa figura por onde andava.

E tanto para Marisa quanto para Marcelo, boa vida era aquela que propiciasse a superioridade em relação aos outros amigos, desfrute e abuso das sensações físicas, status social, aparência requintada;
pouco importando se isso viria a produzir a inveja nos demais, coisa que eles consideravam reacção indicadora de pobreza e incompetência.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:49 am

Ainda que ambos fossem movidos pela inveja, nas competições com os outros que viviam de maneira inconsciente, consideravam a inveja de que poderiam ser vítimas como a expressão da mediocridade dos invejosos que, ao invés de trabalharem e terem competência para conquistar as mesmas coisas, outra coisa não faziam do que olhar com olhos gordos as vitórias por eles obtidas na arena do mundo.

Deus era apenas uma questão de crença e conveniência;
uma parte das rotinas da vida e, sem sombra de dúvida, mais uma oportunidade para a exibição de suas condições materiais, já que a expressão de sua fé vinha revestida de roupas extravagantes, sumptuosas, chamativas, nos templos a que se viam convocados por força das conveniências sociais.

No entanto, a realidade espiritual não possuía qualquer importância no universo de suas preocupações, relegada tal questão a episódicos momentos para os quais eram convocados pela inclemência da morte, nas ocasiões em que precisavam acompanhar o sepultamento de algum conhecido, coisa que faziam com profundo constrangimento e quase contrariedade, furtando-se de tais compromisso com a inexorabilidade sempre que fosse possível.

Em seus Espíritos imaturos, a noção da transitoriedade era incómoda porque conspirava contra todos os seus objectivos imediatos, torpedeando seus desejos.
Como é que alguém, que deseja comprar um iate porque já não tem mais o que usar para divertir-se, pode encarar um fenómeno que lhe traz à mente a inutilidade de tudo, a finitude de todos os caprichos e sonhos?

Se o desejo é mais intenso, tudo o que venha a combatê-lo com os argumentos da Verdade é mal visto por aqueles que se permitem a ilusão das leviandades e os sonhos tresloucados.

Como falar a uma mulher abastada que é uma insanidade adquirir mais uma bolsa cujo valor poderia sustentar uma família de cinco pessoas por dois meses?

Como falar a um jovem que possui recursos abundantes que o que ele gasta com um carro seria suficiente para se adquirir uma casinha para a moradia de um grupo de pessoas que não têm onde viver?

Como dizer a um homem que o valor que gasta em festas, bebidas e excessos poderia salvar a vida de muitas pessoas que precisam de remédios simples, mas que não tem recursos para comprá-los, enquanto ele próprio está gastando para se matar na ilusão do prazer?

Tudo isso é notícia que vem na contramão dos interesses e, assim, não são passíveis de serem escutadas.

Por esse motivo, com sabedoria, Jesus afirmava ao seu tempo:
É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. (MT,cap.19 v.24)
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:49 am

3 - OS OBJECTIVOS DO MUNDO ESPIRITUAL INFERIOR

— E aí, Juvenal, o chefão já tem as instruções? — perguntava, curiosa, uma entidade de horrível aspecto que atendia pelo apelido de “aleijado”, apesar de se dar a conhecer pelo nome Gabriel.

— Cala a boca, Aleijado, você não está vendo que o chefão está ocupado, recebendo as últimas determinações do Presidente?
— Mas é que esse negócio de ficar esperando não é comigo não.
Estou a fim de aprender.

— É, eu bem sei que você, com a sua curiosidade, vai acabar enjaulado pelo chefe para não prejudicar o andamento do plano.
Com a sua falta de juízo, quase colocou tudo a perder quando fez o idiota do Marcelo resolver andar a 180 por hora naquela avenida movimentada...
— Eu não fiz nada... o cara era maluco mesmo... era mais de uma da madruga, cara... e o movimento já tinha acabado... correu porque queria... pensava que não tinha ninguém na rua...

— É, mas tem sempre algum outro idiota que pensa a mesma coisa e, se não fosse o acerto de última hora, as coisas teriam acabado por ali, justamente agora que nossos projectos estão dando certo.

E enquanto Juvenal lhe falava, ameaçador, Gabriel se calava, submisso, resmungando algumas justificativas.
O ambiente ao redor dos dois era medonho e insuportável pelas emanações vibratórias degradantes.

Estavam as duas entidades aguardando as novas ordens que seriam passadas por um superior hierárquico que comandava a acção obsessiva dirigida contra os encarnados esperando em uma pequena sala escura, revestida de objectos e móveis de péssimo gosto, como se fossem grotescos adornos do ambiente.

Na parede, uma tela representando o inferno de Dante produzia nos que a fitavam a sensação repulsiva e amedrontadora, como se ela ali estivesse, plasmada em material pastoso à semelhança do betume denso ou do piche, com os contornos das figuras pintados nos tons avermelhado-sanguíneo e terra-queimado.

Do quadro pendurado na parede, as almas mais sensíveis poderiam recolher as emanações inferiores de uma mensagem ameaçadora, como se estivesse a falar, na linguagem das imagens, que não havia melhor destino ao ser espiritual do que aquele que ali se estampava em cores repulsivas.

Por alguns instantes, enquanto esperavam, as duas entidades, silenciadas pela expectativa das novas ordens, se deixaram contemplar aquela sinistra representação, como se estivessem na antecâmara que os levaria até as furnas fumegantes.

Não lhes faltavam no pensamento, as ideias de tais lugares inferiores nem as figuras horripilantes dois demónios e diabos que a tradição religiosa havia engendrado e que, desde muitos séculos, povoavam a mente dos incautos, ameaçadores e exigentes.

Assim, mobilizadas tais lembranças pela acção nociva da imagem que divisavam à frente.
Parecia que essas figuras demoníacas lhes surgiam ante os próprios olhos, como no alerta ameaçador de que seriam consumidos pelas chamas caso se conduzissem de maneira incorrecta no cumprimento de ordens superioras.

Ao lado deles se postava um guardião da porta de acesso ao gabinete do Presidente, um Espírito de tamanho avantajado e de feições violentas e frias, cuja função era a de manter os que esperavam intimidados para que não se aventurassem invadindo a sala principal.

Em verdade, a pressa de Gabriel, o aleijado, era porque nem ele mesmo, aparentando aquela péssima forma, conseguiria permanecer ali por muito mais tempo sem passar mal diante desse panorama intimidador e insuportável.

Aquilo era apenas uma antecâmara da sala principal onde as audiências eram concedidas pelo chamado presidente que, deu uma forma directa, coordenava todos os trabalhos daquele agrupamento.

Fora dali, o prédio se estendia para várias outras salas e corredores, nos quais os diversos Espíritos da mesma condição de Gabriel e Juvenal ou ainda piores iam e vinham, sempre em alguma tarefa de desajuste ou de perturbação, para a qual buscavam o apoio dos principais líderes.

Não tardou muito para que o chefe que estavam esperando saísse dali.

— Vamos, que temos coisas a explicar e tarefas a realizar.
Tão logo fechou a porta atrás de si, Juvenal e Gabriel trataram de se levantar e, sem delongas, saíram acompanhando a entidade que lhes dominava a vontade, como se fossem dois cães adestrados, à espera do comando de seu dono para a acção imediata.

Saíram os três e tomaram o rumo já conhecido que os levaria aos gabinetes de trabalho — se assim pudessem ser chamados os lugares onde se reuniam — uma mistura de escritório com cozinha imunda, sem qualquer asseio e iluminação, naquele mesmo ambiente espiritual degradante.

— E aí, então, meu Chefe, vamos ter um trabalho pra fazer? — perguntou Juvenal, pretendendo se fazer mais íntimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:49 am

Olhando-o com desprezo, a entidade a quem ele se dirigira fuzilou-o com dardos visuais, como se chispas alaranjadas lhe saltassem dos olhos e atingissem o olhar da entidade subserviente, fazendo-a recolher-se, intimidada, sem que precisasse proferir nenhuma palavra.

Vendo a reacção do Chefe em relação ao companheiro, Gabriel permaneceu mumificado, sem proferir qualquer som ou movimento para não despertar a mesma ira contra sua pessoa.

Decorridos longos minutos, o chefe tomou a palavra e trovejou:
— Vocês dois, seus idiotas.
Estão cansando a paciência do nosso Presidente.
Foi com muito custo que consegui salvá-los das punições merecidas, coisa que não vai voltar a acontecer porque não pretendo me humilhar novamente para tentar proteger gente minha que nada faz para proteger a si mesma.

Do mesmo modo, estão cansando a minha disposição de aturá-los por causa da incompetência que têm demonstrado na condução de uma perturbaçãozinha tão simples como esta.
Para garantir a posição de vocês dois na organização, tive que prometer ao nosso dirigente maior, soluções a curto prazo, para que as tarefas não sejam atrasadas, já que tem interesse nos casos em que estamos representando o seu desejo pessoal.

Enquanto falava assim, os dois Espíritos que se vinculavam a ele se encolhiam a um canto, apavorados com as possíveis sanções que lhe seriam atribuídas naquele antro de perversidade e de perturbação.

Vendo o resultado de seu discurso, medido especialmente para aquele momento, a fim de que causasse nos dois os efeitos desejados, o chefe continuou dizendo:
— Desde há alguns anos, nosso dirigente está planejando os passos, junto com seus assessores, para que, finalmente, os culpados paguem por seus crimes.
A vingança não morreu e, longe do que os “caveira vestida”1 pensam, a mão vingadora é a lei que comanda os destinos e se fará sentir sobre aqueles que carregam as culpas guardadas na própria consciência.

Cada palavra do chefe tinha a dimensão fluídica de sua imperatividade e o tónus energético de uma intimidação, para que os dois que lhe serviam resguardassem tais informações e redobrassem as atitudes de vigilância e dedicação à causa infeliz, a fim de que tudo saísse como havia sido planejado.

Entendendo que ambas as entidades se mostravam atentas e interessadas, apesar do aspecto amedrontado, o chefe continuou:
— Graças à acção diligente da nossa direcção, tudo está bem orquestrado para que as coisas terminem de acordo com os desejos pessoais do Presidente.
Segundo as nossas antigas ordens, devemos continuar acompanhando as mesmas pessoas que ficaram sob nossa responsabilidade.

No entanto, a partir de agora, você, Juvenal, vai passar a actuar sobre a mulher para que ela modifique seu comportamento e, valendo-se das fraquezas tão típicas de qualquer mulher no mundo de hoje, vai sugerir-lhe que não basta o conforto que já possui.

Durante a noite, iremos apresentar-lhes certas imagens para que sua cobiça seja estimulada e, como contamos com ampla facilidade de sintonia com ela, produziremos a situação necessária pra que as coisas comecem a andar na direcção que nosso presidente deseja.

Dirigindo-se, agora, a Gabriel, menos experiente que Juvenal nas coisas da perseguição espiritual, o chefe disse:
— E quanto a você, Aleijado, vai ficar por perto daquele moleque vinte e quatro horas por dia.
Não vai deixar que nenhum acidente aconteça e vai escutar seus pensamentos para que, depois, você nos conte como estamos indo no desenvolvimento dos planos.
Nada de adrenalina novamente... porque, senão, você vai ver o que é adrenalina na presença de nosso dirigente maior. Entendido?

E fazendo uma cara desanimada, Gabriel respondeu:
— O senhor está dizendo, então, que eu vou ficar somente observando o carinha e vendo como é que ele reagir?
Depois venho e conto tudo para vocês? É isso?
— Muito bem — falou a entidade que os dominava.
Você até que não é tão burro como sempre me pareceu...

Dizendo isso, deu uma palmadinha animada, no que foi seguido pela risada escrachada de Juvenal e pelo sorriso meio nervoso e sem jeito do próprio Gabriel que, naquelas alturas, não poderia dar o menor sinal de irritação diante da ofensa directa, demonstrando o seu orgulho ferido.

— Já nessa noite começaremos o processo.
Vamos juntos à casa nossa velha conhecida, para prepararmos tudo e, assim que os dois se deitarem para dormir, actuaremos primeiramente junto à mulher para que, depois, possamos colher os frutos junto do marido.

Depois de acertadas as condições, marcaram o horário do reencontro na residência onde iriam dar início às actividades mais intensas, conforme os planos recebidos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:49 am

Foi assim que, naquele dia, os três entraram na residência de Marisa e Marcelo.
Todo local onde as pessoas estabelecem sua moradia, querido leitor, é o ambiente que passa a vibrar conforme as vibrações dos que ali se acham reunidos.

Por isso, seja para a companhia individual que escolhamos, seja para o teor das emanações íntimas da própria casa, a lei de sintonia atrairá para essas fontes emissoras as entidades que com elas se sintonizem, o que pode produzir a sensação de harmonia e serenidade ou de angústia e desespero.

Quando a moradia é guarnecida de bons pensamentos, sentimentos e actos de nobreza de seus ocupantes, a energia positiva estabelece os limites do assédio das sombras que, de uma forma frontal se sentem impedidas de ali ingressar ou permanecer porque o teor de forças do ambiente as obriga a dali se retirarem, já que muitos Espíritos inferiores não suportam as energias de alto padrão de voltagem de bem.

Nessas ocasiões, almas amigas, Espíritos familiares em equilíbrio permanecem no lar, actuando em favor dos seus moradores tanto quanto recebendo os desencarnados que chegam em tarefa de amparo ou de pesquisa que, certamente, poderão encontrar, naquele ambiente, as condições para desenvolver suas buscas ou energias para se reabastecerem nas lutas que estejam enfrentando.

Quando o contrário ocorre, ou seja, quando nós não nos prevenimos, com a adopção de pensamentos luminosos, sentimentos generosos e vibrações elevadas, nosso ambiente não se reveste de tal condição e fica vulnerável a todo tipo de invasão espiritual, não se podendo evitar que entidades de pouca evolução penetrem, já que se tornam convidadas de nossas condutas inferiores e invigilantes.

Era exactamente isso que estava acontecendo com Marisa e Marcelo, como iremos poder acompanhar daqui para a frente.

1 - Nota do Autor Espiritual - expressão vulgar por meio da qual as entidades inferiores se referem aos seres encarnados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:50 am

4 - A ACÇÃO DOS ESPÍRITOS NEGATIVOS

Naquela mesma noite, quando o casal se posicionou para o repouso físico sem os cuidados da prece, como costuma acontecer com muita gente, assim que os dois se deixaram levar pelas asas do sono, a entidade negativa que se posicionava como a chefe do grupo se apresentou perante a jovem, modificando suas aparências para que assumisse a fisionomia de um dos amigos de Marcelo, justamente aquele que Marisa observava co mais atenção nos encontros sociais nos quais ostentava a melhoria de sua condição de vida.

Ao sai do corpo carnal, o perispírito da esposa se apresentava absurdamente diferente das formas do corpo carnal, perdendo a exuberância e ganhando a desarmonia das linhas gerais, o que fez com que ela não estranhasse a entidade que lhe oferecia os braços, fantasiada com a aparência de Glauco, o conhecido dos jantares sociais.

Ao se ver requestada por aquele que julgava ser o amigo que tanto admirava pela beleza física e pelo sucesso profissional, Marisa se deixou envolver pelo sorriso sedutor e amigo, agarrando-se ao braço da entidade que a convidava, sem nenhum constrangimento, para uma excursão pela redondeza.

Não havia nenhuma violência, nenhum gesto de imposição.
Apenas o sorriso, a postura envolvente, a inclinação de Marisa e a possibilidade de estar ao lado de um rapaz que lhe dominava a admiração de mulher.
Atendendo às ordens da entidade principal, Juvenal permaneceu à cabeceira de Marcelo, impondo seus fluidos densos sobre o centro cerebral, de forma a produzir-lhe uma dificuldade de exteriorização, como se tivesse que lutar contra o peso das próprias ideias.

Pela acção de Juvenal, problemas do escritório lhe surgiam, aumentados, causas desafiadoras se faziam o centro de suas preocupações e, retirando do arquivo de seus pensamentos diários, as imagens que guarneciam o íntimo de sua consciência eram estimuladas para que compusessem um tipo de sono cujo material não era a da vivência da alma fora do corpo, mas, sim, a das próprias ideias, as próprias cenas acumuladas em seu pensamento que se tornavam vivas, fazendo com que Marcelo tivesse que lutar contra esse conjunto de ideias, sem conseguir ausentar-se da matéria orgânica.

Enquanto isso, acompanhando o chefe e a jovem, iludida pela sua invigilância, Gabriel caminhava a certa distância, atrás do casal, para que sua bizarra forma não produzisse nenhum abalo na estrutura delicada daquela alma que, apesar de igualmente feia na sua estrutura vibratória, fatalmente se assustaria com visões atordoantes como aquela que o “Aleijado” representaria aos seus olhos.

A excursão dirigiu-se a um centro no plano espiritual inferior, no qual um grande aglomerado de entidades viciadas nas diversões duvidosas do mundo se unia para, ao som de uma música primitiva, deleitar-se no extravasamento dos piores impulsos.

Algo parecido com algumas manifestações degeneradas da busca de entretenimento tão comuns nos dias de hoje onde, aos ambientes escuros, ruidosos, se unem os excessos do álcool, as intensas aventuras da intimidade descompromissada, as loucas maneiras de se envolver por alguns instantes com desconhecidos para alguns momentos de emoção carnal.

De igual sorte, as libações alcoólicas encontravam correspondentes naquele ambiente, com a ingestão de certas substâncias viscosas que eram servidas aos participantes do grotesco encontro.

Por não ser muito diferente do ambiente a que se acostumaram Marisa e Marcelo em suas noitadas no mundo, nas diversas “baladas” que frequentavam, a jovem se deixou levar pelos braços do rapaz, cobiçado secretamente pela sua admiração.

A música barulhenta, o ambiente escuro e o envolvimento desequilibrante das vibrações de baixíssimo teor, fizeram Marisa entregar-se às emoções primitivas que faziam parte de sua natureza pouco enobrecida, sem qualquer cogitação na ordem da responsabilidade para com o companheiro escolhido como esposo, a jovem se permitiu o envolvimento com a figura cuja aparência fazia lembrar Glauco, o jovem amigo do casal.

Dos passos desconexos da dança aos estreitamentos da intimidade na escuridão do ambiente, não tardou muito.
A emoção euforizava a alma da jovem adormecida no corpo, enquanto que o experiente Espírito trevoso sabia manipular os centros de força genésicos da mulher a fim de que a mesma experimentasse ainda mais excitação e euforia em seus braços.

A um sinal imperceptível do chefe, Gabriel voltou ao ambiente da residência dos dois e, informando Juvenal de que havia chegado o momento adequado, observou as operações magnéticas através das quais Marcelo foi retirado do corpo, ainda envolvido pelos problemas do escritório e, como se alguém o convidasse a aliviar as tensões de um dia de trabalho estafante, deixou-se arrastar para aquele mesmo ambiente de diversão que lhe parecia muito familiar.

Vendo-se transferido rapidamente para o local onde a “balada espiritual” se desenrolava, logo pensou consigo mesmo em ir buscar a companheira, uma vez que era junto com ela que era junto com ela que ele se divertia em oportunidades como aquela.

Sem entender direito o mecanismo da indução espiritual de que ia sendo objecto, Marcelo escutou Juvenal sussurrar-lhe aos ouvidos que Marisa já tinha chegado e que, em breve, ele a iria encontrar, bastando, para isso, que observasse os que estavam dançando à sua frente.

Sabendo das condições prévias do plano astuto, assim que chegaram ao local, Gabriel dirigiu-se ao casal e informou ao seu líder, com gestos que Marisa não pôde ver, acerca da presença de Marcelo em determinada área do ambiente, preparando, desse modo, o encontro do casal.

Manipulando, então, a jovem que já se entregara por completo aos seus carinhos, a ardilosa entidade encaminhou-se lentamente, valendo-se do sacolejar da dança, para o local onde Marcelo se encontrava, apalermado, esperando a chegada da esposa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:50 am

À medida que isso foi acontecendo, a entidade travestida de Glauco envolveu ainda mais a jovem, sussurrando-lhe coisas ao ouvido, atraindo-lhe ainda mais o corpo, tornando ainda mais ardentes os beijos e as intimidades, exactamente para que tudo acabasse flagrado pelo Espírito de Marcelo.

Marisa já não se mantinha nenhum pudor diante daquele assédio que, longe de afastar pela força de vontade, ela ansiava pelos desejos de mulher caprichosa que sonha em estar nos braços do homem que admira.

Marcelo, para ela, quase não existia, nem lhe representava o esposo com o qual realizava as próprias fantasias íntimas, no aconchego de sua casa.

Somente Glauco lhe interessava...
No entanto, assim que as coisas se tornaram favoráveis, o chefe se aproximou do local onde Marcelo se postava, ansioso e confuso, ao mesmo tempo em que Juvenal lhe indicava a chegada da esposa, despertando a atenção do marido na direcção do casal voluptuoso que rodopiava à sua frente.

Imediatamente, Marcelo identificou a esposa nos braços de outro homem e mais assustado se mostrou ao perceber que se tratava do amigo Glauco.

A situação estava consumada.
Marisa aos beijos e carícias íntimas com outro homem, bem ali na sua frente.
Descontrolado, Marcelo pulou do lugar onde estava e partiu para o meio dos dois aos gritos.

Os diversos dançarinos que ali se encontravam pouco caso fizeram de sua reacção, continuando a desfrutar, cada qual, de sua própria atmosfera viciada.
No entanto, assim que atingiu o local onde a esposa se achava, desejou partir para a agressão contra o seu companheiro de dança, no que foi impedido por Juvenal, que se fazia como que um dos responsáveis pelo lugar.

— Não, meu amigo, aqui dentro nós não permitimos briga.
Se você não se controlar, vamos colocá-lo para fora aos safanões.
— Mas é minha mulher — gritava ele — ela está me traindo com meu amigo bem na minha cara.
— Isso é um problema que você tem que resolver na sua casa e não causando tumulto aqui dentro.

Descontrolado diante da visão surpreendente, não conseguiu entender o que acontecera com Glauco, que desaparecera sem deixar vestígios.
A própria Marisa, estupefacta com a cena constrangedora do encontro com seu marido, num átimo recobrou a consciência clara do que estava acontecendo.
Procurando uma explicação para o inusitado envolvimento, desejou valer-se do apoio de Glauco para ajudá-la a desculpar-se.

No entanto, para sua surpresa, viu que o rapaz havia desaparecido como que por milagre.

Essa era a primeira parte do plano.
Assim que Marcelo constatasse a conduta irregular da esposa junto daquele que parecia ser o seu amigo, o chefe abandonaria a forma perispiritual na qual se ocultava como Glauco e, voltando à sua aparência habitual, tornar-se-ia um estranho no meio dos demais, fomentando o ciúme e a raiva ente o casal e deixando Marisa e Marcelo entregues uma ao outro.

Ela, misturando a excitação e o erotismo daquele encontro estimulante, com o constrangimento de ter sido flagrada pelo esposo em uma atitude inexplicável.

Ele, por estar ali, na condição do marido duplamente traído, tanto pela esposa quanto pelo amigo.
Nesse estágio de envolvimento, os dois desferiam, reciprocamente, palavras de agressão, ofensas violentas, vibrações inferiores que se casavam com o desequilíbrio do ambiente e pareciam torná-los ainda mais fortes na indignação e no desejo de se ferirem.

Por fim, engalfinharam-se em uma luta física, com Marcelo esbofeteando a face da mulher e esta enterrando suas unhas na aparente carne do marido.

E foi nesse tumulto que, profundamente desajustado pela cena, Marcelo foi arrastado para o corpo carnal, o qual, identificando suas disfunções emocionais, havia disparado os mecanismos de defesa a fim de evitar um colapso dos centros vitais principais, canalizando o sentimento de ódio e as descargas de agressão para as glândulas sudoríparas que, a todo vapor, produziam um suor álgido e frio, através do qual buscavam drenar suas forças inferiores e emoções desatinadas, com a aceleração do batimento cardíaco em decorrência da eliminação de grande dose de adrenalina na corrente sanguínea.

A desestruturação do equilíbrio somático produzida pelas emoções verdadeiras daquele sonho inferior propiciou o disparo dos sinais de alerta que produzem a imediata retracção do Espírito para reassumir o controle das forças biológicas com o despertamento no leito.

Assim, Marcelo surgia despertado do longo pesadelo, constatando as difíceis condições e retendo, de alguma forma, a ideia de um sonho mau que envolvera os sentimentos com relação à própria esposa.

Por ter ficado mais intensamente marcado com o conflito verbal e físico com Marisa, a imagem de Glauco como que ficar esmaecida de sua lembrança consciente, decaindo para a zona mais inferior de suas lembranças, ainda que permanecesse clara a ideia de que Glauco estivera a produzir-lhe algum tipo de ameaça à sua condição de marido e ao equilíbrio de sua união.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:50 am

Lembrava-se com clareza da discussão com Marisa que, pelo que sentia, sabia ter sido produzida por uma conduta leviana da parte dela.
No entanto, mais do que uma lembrança clara, a constatação de seu estado de suor abundante, empapando-lhe a roupa, molhando a colcha sobre a qual dormia, impunha a necessidade de cuidados imediatos.

— Ufa... era só um sonho... mas que desgraça... já não bastam as tragédias do escritório... até mesmo de noite a gente não tem sossego... — eram as palavras mentais que Marcelo dirigia a si próprio.

Tentando observar as condições de Marisa, acendeu o abajur de cabeceira e percebeu nela a extrema palidez, como se alguma situação amedrontadora estivesse lhe acontecendo.
Procurou não fazer muito ruído e, levantando-se de mansinho, partiu para o banheiro, onde não teve outra opção senão a de banhar-se para o alívio do suor abundante que o envolveu.

Ao regressar, Marisa estava desperta, tentando recuperar-se de um sonho confuso que tivera.
Nas lembranças da esposa, a emoção do envolvimento físico com aquele que julgava ser Glauco lhe havia estimulado as glândulas genésicas na emissão dos hormônios femininos tipicamente activados quando das relações sexuais.

Dessa forma, em seus sentimentos despertados havia uma mistura de êxtase e temor, prazer e raiva, não podendo deixar de identificar que houvera tido um sonho apaixonante com Glauco, mas que, sem uma explicação, Marcelo interpusera-se entre ambos, estragando aquele momento de enlevo.

Certamente não lhe caberia contar todos os detalhes de sua lembrança ao esposo que, como já constatava com seus próprios olhos, também tivera um sonho difícil.
Com o domínio da situação, Marisa fingiu ter sido despertada pelos ruídos de Marcelo e recusou-se a revelar-lhe a extensão das experiências que tivera, naturalmente para evitar qualquer suspeita ou atitude de ciúme por parte do esposo.

— Não, querido, eu estava dormindo bem... — falou a mulher, quando indagada pelo esposo sobre o que lhe estava acontecendo durante o repouso.
— Pois eu, Deus me livre, estava tendo um pesadelo daqueles.
Estava brigando com você, num lugar que parecia a boate onde nós costumamos ir nos fins-de-semana e, longe de me acatar, você zombava de mim, me ironizava, se desfazia da minha pessoa e, sem conseguirmos nos conter, passamos a nos bater como dois desesperados,...

Parece que Glauco estava lá com você... não sei dizer direito o que estavam fazendo... a sorte foi que acabei acordando, agoniado, diante dessa situação que parecia não ter fim...

Vendo que o marido se referia a alguma coisa parecida com as experiências de que ela mesma se recordava, Marisa tratou de chamá-lo para voltar à cama a fim de que o fizesse sentir a inverdade daquele pesadelo, envolvendo-o em carinhos físicos com os quais pretendia realmente, dar vazão às próprias pressões psíquicas da sexualidade acumulada durante a aventura infiel vivenciada.

Marcelo acabou aceitando-lhe as carícias e, restabelecido em seu estado emocional, tratou de substituir o sonho ruim pelas experiências agradáveis ao lado da mulher que pensava amar.
No entanto, em ambos a semente da divergência estava lançada.

Alguns dias depois, Marisa passou a referir-se elogiosamente ao desenvolvimento profissional de Glauco, como se a admiração secreta que antes lhe bastava interiormente, necessitasse ser declarada para que Marcelo se motivasse a buscar mais conquistas que se equiparassem às do jovem mencionado.

O esposo, ouvindo a fala da esposa, sem entender o porquê, sentiu um aperto agoniante em seu sentimento, como se a sua estabilidade emocional estivesse em risco, certamente inspirado pela visão inusitada daquela noite em que presenciara a esposa nos braços do mencionado rapaz, arquivada em sua memória mais profunda.

Esse, de início, relegou tal referência a uma maneira normal de mencionarem os amigos comuns, logo mais, quando as expressões se repetiram no mesmo sentido, Marcelo passou a preocupar-se intensamente com os interesses da esposa, impondo-se a necessidade de competir com o sucesso de Glauco, para recobrar a admiração da própria mulher.

Nas noites que se seguiram, entretanto, as visitas do trio de entidades negativas se mostravam constantes.
De um lado, o chefe se valia da fragilidade emocional de Marisa para estimular seus sonhos de mulher, envolvê-la com galanteios, transformando-a em um poço de mimos e fazendo-a sentir-se pouco valorizada nas atenções de Marcelo, sempre tendo a aparência de Glauco como o notável conquistador.

Ao acordar no leito pela manhã, Marisa se deixava levar pelas lembranças suaves de tais palavras e pela carência de afecto que, abastecida ao lado daquele Glauco nocturno, se via sem a correspondente atenção daquele Marcelo diurno.

Na verdade, a modificação da conduta de Marisa estava fundada em outros motivos que não, apenas, o desejo de empurrar o marido para uma posição social melhor.
Adoptou a estratégia de forçar o marido a mudar o rumo de sua vida, como forma de puni-lo em função de não lhe corresponder com o mesmo carinho e afecto, atenção e cortejamento que Glauco lhe apresentava durante os encontros nocturnos.

No entanto, em momento algum Marisa comentou com Marcelo as ocorrências de tais aventuras oníricas.

Quando elas passaram a ser a expressão do prazer sexual explícito;
Marisa tomou a decisão de recusar a procura do esposo, alegando cansaço físico, desajuste orgânico, longe de perceber que estava sendo envolvida pela acção inteligente de entidades que, com isso, procuravam levar o desequilíbrio ao ambiente familiar, vulnerável a lucidez do Marcelo.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 23, 2014 8:50 am

Marcelo identificou a postura estranha da esposa, alguns dias depois, quando, como já explicamos nos capítulos anteriores, a mesma passou a tratá-lo com indiferença, atribuindo esse comportamento à sua frustração da esposa pela sua demora em conquistar os mesmos valores de sucesso e brilho social que Glauco demonstrava na sua própria carreira.

Acostumados a uma vida social intensa, na qual todos tinham que dar sinais aos outros de seu progresso, as noitadas nas baladas do mundo, nos restaurantes ou nos encontros diversos tinham mais a função de permitir a todos se exporem uns aos outros, em suas conquistas, em seus progressos pessoais, do que, propriamente falando, conviverem de forma sadia e trocarem afectividade natural e espontânea entre si.

Era mais um encontro de solitários que pretendiam continuar solitários do que encontro de amigos que se pretendiam alimentar os bons sentimentos de consideração e estima.
Por isso é que, para Marisa, a posição de Glauco era tão interessante e a de Marcelo tão pouco inspiradora para suas cogitações de mulher.

E, se no mundo espiritual inferior, ela se permitia todo tipo de aventuras com a entidade espiritual que se travestia de Glauco porque já havia entendido a sua admiração por ele, na vida material ela ainda não se havia permitido uma manifestação de infidelidade assim confessa, preferindo, inicialmente, pressionar o marido para que se igualasse em sucesso e importância ao jovem que convocava a sua simpatia de mulher.

Ao lado da pressão que recebia da esposa, Marcelo era induzido durante o repouso nocturno a voltar ao escritório de trabalho, a ver-se valorizado no ambiente profissional, a receber as intuições maliciosas de lutar por uma posição melhor.

Subtil e feroz, a acção das entidades negativas lhe fustigava os vícios de carácter, fosse na área da carência, fosse na área da vaidade, ocasião em que lhe falavam ao pensamento invigilante que Marisa se sentiria orgulhosa dele se ele conseguisse se tornar o braço direito de Alberto, ocupando o lugar de Leandro no escritório.

Ao voltar ao corpo, no dia seguinte, sem entender o motivo de sua ansiedade, Marcelo aceitava o alvitre que lhe havia sido plantado no Espírito pela sugestão subtil das entidades trevosas, na noite anterior e, entendendo que sua esposa espera mais de sua actuação profissional, passou a entrever a necessidade de adoptar uma estratégia para conseguir chegar ao posto que era ocupado pelo Dr. Leonardo, ocasião em que, como já vimos antes, passou a arquitectar o plano de conquistar as outras três advogadas que lá trabalhavam, de forma a poder contar com elas ao seu lado, quando o momento se apresentasse favorável para a substituição daquele que era o braço direito do sócio principal.

Foi por esse motivo que, nas noites que se seguiram, o plano de Marcelo se desenrolara com tal lógica, com tal equilíbrio e exactidão, uma vez que, ao lado de seu interesse vaidoso de homem e de profissional, se apresentavam as inteligências invisíveis que desejavam plantar nele esse clima de astúcia e planeamento maldoso.

Já não era mais, apenas, o seu pensamento que funcionava.
Era o pensamento dele, assessorado pelas intuições mesquinhas dos seus acompanhantes invisíveis que, já tendo organizado o rumo do ataque, outra coisa não faziam do que tocar as cordas necessárias em seu íntimo para que os passos seguintes se desenvolvessem na direcção desejada.

E tudo isso, queridos leitores, graças à ausência de elevação ou de uma singela oração que poderia amparar seus caminhos e os da esposa, no sentido de se preservarem contra a acção das entidades negativas que, longe de violentarem as vontades daqueles que assediam, se valem de suas fraquezas que estimulam, de seus caprichos que alimentam, de suas carências que aumentam, de seus melindres que exploram, de seu orgulho que enaltecem, com a finalidade de transformar cada pessoa em uma “pessoa bomba”, ou seja, estimulando o combustível que já existe e colocando nela o pavio para que seja aceso na hora que se apresentar mais favorável.

Quando aprendermos a ser senhores de nós mesmos, cada um saberá colocar freio aos seus impulsos e adequarem suas vidas aos padrões mais elevados do Espírito, não se esquecendo de que todas as estruturas da Terra, materiais por excelência, estarão fadadas a se transformarem com o tempo, inclusive aquelas que pareçam ser inatingíveis no poder ou na riqueza que ostentem.

Marisa aceitara o subtil convite do prazer na acústica de seu Espírito astuto e ambicioso e, alimentado por ele, passara a fustigar o marido com uma conduta inconveniente para sua condição de esposa.

Marcelo, vaidoso e carente, desejando superar e competir sempre, aceitara a provocação e se permitira actuar no sentido da ilicitude e da malícia, para prejudicar alguém que, a rigor, não lhe representava nenhuma ameaça à posição já solidificada de causídico em um respeitável escritório.

Entendendo a acção nociva do mundo espiritual invisível na vida de Marisa e Marcelo, podemos nos colocar como os inúmeros Marcelos e Marisas que vivem uma vida de superfície, sem aprofundamento espiritual, dominados pelas buscas materiais e pelos aplausos dos que só enaltecem o que é aparência, porque somente com as aparências se preocupam.

Dessa forma, percebendo que esse tipo de interferência na rotina das pessoas, Allan Kardec elaborou a pergunta 459 contida em O Livro dos Espíritos:
OS ESPÍRITOS INFLUEM EM NOSSOS PENSAMENTOS E EM NOSSAS ACÇÕES?

Resposta:
A ESSE RESPEITO, SUA INFLUÊNCIA É MAIOR DO QUE CREDES PORQUE, FREQUENTEMENTE, SÃO ELES QUE VOS DIRIGEM.

E como pudemos notar até aqui, não houve nenhuma violência por parte dos Espíritos, a obrigarem uma pessoa a fazer algo quer não desejava realizar.
Aproveitaram-se das fraquezas e desejos de todos e os estimularam para que dessem vazão aos seus caprichos e prazeres.

Sabendo que gostamos de incêndio, eles apenas nos apresentam a caixa de fósforos e nos estimulam a que risquemos o primeiro palito, pela aventura de vermos o fogo brotar do palito inocente. E quando este se acende, percebemos que estamos no meio do depósito de gasolina, pronto para explodir e para nos levar junto com ele.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:09 am

5 - O PERFIL DOS ENVOLVIDOS

Marcelo, então, envolvido pelas subtis sugestões do mundo invisível e pelas tendências internas de sua personalidade, passou a colocar seu plano em acção, buscando acercar-se das três colegas de trabalho, tomando o cuidado necessário para que tal postura não levantasse suspeitas.

Iniciou sua acção pelo oferecimento de pequenos favores que pudessem ressaltar a gentileza masculina, na atenção com que homenageia o sexo oposto.
Um oferecimento de café, um favor com documentos que se achavam em lugar indevido, a possibilidade de solicitar a opinião de algumas delas para suas dúvidas como profissional em certo caso mais espinhoso, tudo isso passou a ser uma conduta bem medida do advogado para que, de uma forma ou de outra, as suas três colegas pudessem ir sendo conquistadas.

Marcelo não tinha interesse em envolver-se afectivamente com elas.
Seu desejo era estreitar os laços de amizade para que, contando com a inclinação das três para seu lado, no momento adequado desse o golpe fatal sobre a posição de Leandro.

As três companheiras de tarefas jurídicas eram independentes nas suas actividades, cada uma delas contando com sua sala separada, seus processos e clientes, de maneira que não tinham uma comunicação muito íntima que pudesse, logo de início, identificar em Marcelo uma mudança radical de comportamento, indício de estratégia.

Letícia era, dentre as três, a mais antiga no escritório.
Tinha uma personalidade carente por dentro, com aparência exterior de absoluta segurança.
Profissionalmente era competente e sabia que precisava demonstrar seus atributos de inteligência a fim de que pudesse se manter naquela estrutura tão competitiva.

Esse sua vida de trabalho era marcada pela corrida atrás do sucesso e das vitórias no fórum, sua vida afectiva estava ferida pela infelicidade e pela solidão, já que sua postura exterior de sólida segurança e opinião inflexível acabavam por afastar qualquer possível pretendente que, diante de seu carácter forte e quase másculo em certas coisas, preferia acercar-se de mulheres menos firmes e aparentemente auto-suficientes.

Isso deixava Letícia extremamente aflita porquanto as suas ânsias e buscas conflituavam na área do coração, tornando difícil conciliar o seu carácter determinado e seguro com a necessidade de se demonstrar dócil e insegura para não assustar os possíveis interessados.

Se ela conseguia fazer esse joguinho por algum tempo, sempre chegava o dia em que a encenação acabava, ocasião em que, nas discussões e nas divergências de opinião, sempre se revelava diante do interlocutor, espantado com suas maneiras que não admitiam a derrota nos argumentos.

Quando se dava conta de que se deixar trair por essa personalidade e vulcânica, estimulada pela necessidade de sobrevivência em um meio extremamente marcado pela liderança masculina como era o escritório onde trabalhava, tinha que amargar o arrependimento pelo descontrole, encontrando novamente a solidão em decorrência do afastamento do interessado.

Camila, a segunda colega de trabalho, era bem diferente de Letícia.
Das três, era a mais bonita e, dessa forma, havia aprendido a usar sua aparência como um instrumento para conseguir mais facilmente tudo quanto desejava.
Graças a tal “argumento”, identificara a fragilidade masculina, sempre atraída pela estética e pelas formas, a cercá-la de gentilezas e galanteios, que ela aceitava ou desprezava segundo suas necessidades imediatas ou conveniências.

Por esse motivo, Camila costumava alternar seu procedimento, temperando a necessidade de se fazer frágil com a de se manter astuta e esperta nas horas em que tais qualificações se fizessem emergentes para sua sobrevivência.

Camila se fazia passar, muitas vezes, por ingénua, burrinha ou tola para que isso fosse mais um trunfo em suas estratégias do que um defeito natural de sua personalidade.
Como se pode perceber, essa segunda advogada não tinha problemas afectivos que envolvessem solidão ou frustrações de tal natureza, por falta de pretendentes.

No entanto, suas dores íntimas eram tão grandes ou maiores do que as de Letícia já que, por causa de sua aparência, nunca podia saber se os homens a procuravam por gostarem dela ou por desejarem seu corpo.

Acostumada ao meio social onde as aparências eram usadas como armas de sedução, muito mais do que como primeiro passo para o aprofundamento do conhecimento recíproco e o estabelecimento de um processo de envolvimento sadio, Camila via-se às voltas com constantes assédios de homens de todos os tipos, os quais, sabia ela, em sua maioria, desejavam apenas uma noitada prazerosa e nada mais.

Em face de tais peculiaridades, ela adestrou-se no jogo de se fazer de desentendida, fingindo aceitar as atenções masculinas, mas não se deixando conduzir por elas.
Com isso, mantinha os homens interessados e, dominando o mercado afectivo que se notabilizava pelo excesso de procura, seleccionava os mais bonitos e atraentes para se permitir as aventuras de algumas horas, sem os compromissos que poderiam durar para sempre.

No fundo, Camila tinha medo de se apaixonar por alguém que não representasse um companheiro sincero e confiável, uma vez que, na ordem dos relacionamentos, a maioria só desejava encontro fácil, fortuito e rápido e, ainda que todos tivessem o mesmo discurso de um homem sozinho e em busca da companheira certa, isso só durava enquanto estavam empenhados em conduzir a moça pretendida para a intimidade do leito.

Logo depois que isso acontecia, perdiam a sensibilidade aparente que demonstravam antes e se tornavam grosseiros e frios, até mesmo rudes, colocando aos limites daquele encontro afectivo de momentos antes, como a dizer que não desejavam nada mais sério, não queriam se “amarrar” em ninguém, que havia sido “curtição” e prazer físico, apenas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:09 am

Assim, Camila, sendo bonita e requisitada por muitos, sofria mais que a pobre Letícia, sempre buscando algum interessado em preencher-lhe o vazio interior.
Por fim, restava Sílvia, a terceira das colegas de escritório de Marcelo.

Sem sombra de dúvidas, era a mais experiente dentre todas elas.
Em suas relações profissionais. Mantinha a marca da integridade e da competência, tanto quanto das suas amigas.
Aliás, essa fachada era um dos sinais contraditórios, nela e na maioria das pessoas não autênticas.

São limpas durante a luz do dia e enlameadas assim que escurece.
São éticas durante o horário de trabalho e pervertidas durante os demais períodos.
São moralistas em públicos, mas são devassas e degeneradas na intimidade da vida privada.

Essa marca se encontrava, perigosamente, em Sílvia.

Sem contar com os atributos de beleza naturais em Camila que, por motivos óbvios, invejava e odiava, Sílvia sabia defender-se com os recursos da beleza artificial, desenvolvendo trejeitos e usando produtos que realçavam suas menos exuberantes possibilidades.

— Os homens são uns idiotas.
Nas mulheres, eles se encantam com o que não estão vendo, com o que imaginam e quando, por fim, chegam no momento tão esperado da intimidade, estão tão loucos e ansiosos, além do facto de o ambiente ser, em geral, tão pouco iluminado, que a perfeição ou a beleza exuberante é o que menos lhes importa.
Depois que acaba, cada um vai para o seu lado mesmo e a vida continua... — era a teoria da vivida Sílvia.

No entanto, essa maneira astuta e quase vil era bem escondida por uma postura séria e que demonstrava até uma certa timidez.
Sílvia era a única casada das três, o que não passava de um mero detalhe no universo de seu carácter pouco elevado.

Seu marido, outro advogado, trilhava a vida pela mesma estrada de irresponsabilidade afectiva, mantendo a união como uma fachada para parecerem felizes e dividirem despesas, aproveitando-se um do outro nas horas em que suas agendas para encontros clandestinos estavam vazias de diferentes emoções.

Entre eles havia essa combinação tácita de que podiam fazer tudo o que desejassem, desde que mantivessem a discrição e o outro não se inteirasse das loucuras cometidas na infidelidade consentida, mas não conhecida.

E, assim, Sílvia vivia de aventura em aventura, fosse com colegas de profissão que se apresentassem convenientes e interessantes, fosse com ex-clientes, aflitos e carentes, em posição de destaque ou como forma de comemoração pela vitória da causa do ambiente do foro.

Sílvia, no entanto, não era muito exigente em questão de envolvimentos físicos.
Bastava que seus olhos se vissem agradados para que suas a estratégias para a sedução fossem colocadas em acção.
No entanto, sabia ser interessante durante o envolvimento e tornar-se fria logo a seguir, a fim de não criar enroscos e problemas desagradáveis com parceiros que a desejassem amarrar ao coração.

Sílvia estava vacinada contra a sensibilidade, adestramento esse que se dera ao longo de sua juventude nas inúmeras decepções amorosas, traições recebidas, envolvimentos superficiais e sem seriedade que, constantemente vividos, acabaram abrindo em sua alma, a brecha do desencanto e da descrença no romantismo.

Para ela, o amor romântico era uma coisa de filme para fazer chorar as solitárias e frustradas.
Ela não desejava o sentimento limpo, que aceitava trocar pela sensação confusa dos hormônios em ebulição.
Nem seu casamento representava a expressão do sentimento sincero, tratando-se, mais, de um acordo de interesses entre os cônjuges envolvidos.

No fundo, Sílvia era a mais astuta e a mais infeliz das três porque precisava lutar para iludir os homens a respeito de um corpo interessante que não possuía, precisava saber ser interessante para conquistar e, depois, não podia facilitar as coisas para não se ver amarrada a um relacionamento íntimo que lhe pesaria na liberdade de agir.

Por isso, a maioria de suas conquistas e aventuras se dava com homens igualmente casados, recurso que ela escolhera para livrar-se da condição difícil do compromisso e da paixão que surgem com mais facilidade no coração dos descomprometidos.

Ela sentia medo de se envolver novamente com um amor sincero que a tornaria fraca diante dos olhares masculinos, pelo menos do homem a quem se dedicasse, conflituando com a necessidade de se manter forte no meio profissional onde se movia.

Esse seu carácter volúvel e volátil fazia com que Sílvia se desentendesse facilmente consigo própria, estando em luta constante entre o desejo físico que a dominava e a fome afectiva que a consumia.

Por óbvios motivos, Sílvia era a mais perturbada espiritualmente, dominada pelos instintos sexuais inferiores a se permitir as cirandas da intimidade sem a protecção da afectividade sincera, o que a tornava extremamente vulnerável às perturbações espirituais que se fixam, sempre, nas áreas de maior fragilidade do carácter.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:09 am

Como você pode perceber, então, querido leitor, a situação das três era intimamente muito complexa, ainda que, exteriormente, se apresentassem com belas roupas, excelentes posturas profissionais, seriedade a toda prova, competência e delicadeza de trato.

Sem o preparo psicológico para enfrentar um desafio tão grande, lá encontramos Marcelo, ingénuo e convencido de que poderia colocar no seu bolso as três colegas de trabalho, na visão estrábica do indivíduo imaturo que se considera o mais inteligente, o mais bonito e o mais astuto, como um Narciso a admirar apenas a si mesmo, perigosamente vaidoso e carente, esperando se fazer admirado, sem notar que a fonte cristalina o espera para afogá-lo, consumindo-o por inteiro.

Ao lado de todos eles, você pode imaginar como era o ambiente espiritual desse escritório de advocacia onde vivenciavam estas experiências.
Se o inferno existisse, o local onde tudo isso estava acontecendo era comparável a seu posto avançado, na superfície da Terra.

As entidades que ali se mantinham dominantes traziam consigo as marcas iguais ou pioradas dos defeitos íntimos dos próprios encarnados.
Arrogância, astúcia, petulância, maldade, cinismo, depravação, viciosidade, correspondiam às características dos inúmeros Espíritos perturbadores que ali se acumulavam, transformando o ambiente magnético daquele local de trabalho em um pardieiro da pior espécie.

E o mais interessante era o facto de que, tanto quanto no plano físico onde as coisas eram muito limpas e organizadas pelo padrão da aparência para atrair os incautos, no plano espiritual o escritório se estendia, prestando serviços aos clientes que ali se apresentassem procurando solução para suas pendências.

Assim, na atmosfera invisível, o escritório também era marcado por uma estrutura degenerada que comportava atendentes, funcionários internos e “advogados” preparados para defender a causa daquele que buscasse seus serviços.

Naturalmente que a natureza de tais tarefas não correspondia àquela que era objecto das causas humanas.

Lá, inúmeras entidades revoltadas se alistavam para contratar a atenção dos Espíritos perversos, que eram consultados na condição de planejadores das trevas, a fim de se estabelecerem processos de perseguição pessoal, o que levava tais Espíritos, inferiorizados no carácter, mas poderosamente inteligentes, a examinarem a questão do interessado, avaliar os pontos fracos de suas vítimas e, então, elaborar um plano de ataque que viesse a lhes atingir directa e indirectamente.

Tal elaboração era minuciosa e não tinha em mente tão-somente aqueles que se visava prejudicar de pronto.
Muitas vezes, acostumados com a astúcia e a malícia desenvolvidas na actividade profissional que lhes havia marcado a passagem pela Terra, ali, advogados corruptos, magistrados venais, políticos indecentes se congregavam em uma “sociedade” cuja finalidade era a continuidade de seus planos e estratégias no lado invisível da vida.

A estrutura espiritual desse grupo de entidades se vinculava à Organização mais ampla, onde encontramos nossos personagens Juvenal e Gabriel conversando com o Chefe à espera das ordens de seu Presidente.

Por isso, os Espíritos planejadores que trabalhavam naquele ambiente astral, que correspondia ao escritório físico, podiam contar com os recursos de perseguição que seriam accionados assim quer houvesse o acordo de interesses entre os que chegavam pedindo “ajuda profissional” e a estrutura trevosa que os atendia.

Uma vez acertados os detalhes, os empregados da Organização saíam no comprimento do planejado, indo solicitar da Organização fornecimento de trabalhadores para o início do processo de perturbação de algum encarnado sobre o qual se voltava a atenção das entidades que o desejavam atingir.

Na Organização encontravam, em maior número, os Espíritos aptos para ajudarem, hipnotizados por inteligências mais poderosas, a fim de que obedecessem cegamente aos processos de obsessão a que seriam atrelados.

Em geral, como pode entender o leitor, esse era o preço cobrado pelo “escritório” daqueles que procuravam seus serviços escusos. O interessado seria atendido, mas se comprometia a servir à Organização nas outras actividades que seriam desenvolvidas em outros processos obsessivos.

Da mesma maneira que atendia às entidades maldosas e ignorantes que, revoltadas, desejavam espalhar o mal sobre a vida de encarnados que não lhes fossem simpáticos, esta estrutura, que se alicerçara sobre o escritório físico de Alberto e Ramos, também era incumbida de auxiliar estes seus dois representantes encarnados na solução dos problemas mais graves, fazendo com que suas ideias fossem semeadas com sugestões subtis e eficazes, ainda quer ilícitas, para que se contornassem os problemas, se comprassem autoridades, se exercessem pressões, chantagens subtis ou declaradas, negociando soluções que visassem atender às emergentes questões de seus clientes comprometidos no mundo físico.

Alberto e Ramos, dessa forma, possuíam, além dos ajudantes encarnados representados pelos profissionais de sua equipe, um grupo de Espíritos perversos que se ligava a eles pelos laços subtis do pensamento, fazendo com que acabassem conectados constantemente às fontes escuras de onde as tramóias poderiam ser urdidas e, à luz das normas, à luz do Direito, encontrarem formas de fugir da estrada da Verdade através dos atalhos das conveniências.

Era por isso que, entre as entidades que prestavam serviço no malfadado escritório espiritual, inúmeros representantes das diversas áreas de actuação se consorciavam, trazendo sempre a mesma marca da inclinação e da viciação na fraude, na violência dão Direito e na construção de soluções que se fundamentavam em outras bases que não a dos princípios e dos valores elevados.

Essa referida sucursal umbralina possuía, em seus quadros, entidades que, como já se falou, haviam envergado na vida física, a toga dos magistrados corrompidos pelos interesses materiais, hábeis na construção de soluções imediatistas e na distorção dos cânones para atender aos interesses que lhes parecessem mais convenientes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:09 am

Outras entidades escuras, haviam sido, quando encarnadas, fiscais venais, delegados corruptos, autoridades públicas que se haviam esmerado na prática de actos espúrios bem ocultados pela fumaça da integridade.

Dessa forma, se o escritório materializado no mundo dos vivos era muito procurado em face de ser muito afamado, competente e organizado, você pode imaginar o tamanho da clientela que havia no mundo dos chamados mortos, desejando valer-se dos serviços daquela malta de bandidos espirituais para a concretização de seus intentos persecutórios, vingativos.

Inúmeros Espíritos revoltados batiam às portas desse ambiente pestilento, buscando interceder por seus parentes na Terra, feridos por perseguições no ambiente de trabalho, por chefes arrogantes que os humilharem, tratados sem consideração nos diversos serviços públicos do mundo.

Compareciam, então, a pedir a abertura de processos de perseguição específicos contra os patrões arrogantes que faziam sofrer seus filhos, contra os superiores mesquinhos que maltratavam os seus afectos desprotegidos da sua presença, contra os profissionais indiferentes que não se ocupavam dos casos que tinham sob seus cuidados.

É verdade que estes desencarnados, por amor aos que haviam deixado no mundo, tentavam ajudá-los de alguma forma.
No entanto, não possuíam entendimento nem elevação para compreender quer não se pode ajudar alguém prejudicando outrem.

Traziam o Espírito viciado nos velhos processos de vingança e, por esse motivo, alistavam-se entre aqueles que promoviam tais pedidos a Organizações ou suas filiais, como era aquele departamento de maldades, com a finalidade de responderem com a mesma violência à agressão que viam seus entes queridos suportarem.

Acabariam vítimas do mal que estavam contratando porquanto a eles ficariam imantados e, mais cedo ou mais tarde, submetidos a tratamentos hipnóticos, se transformariam igualmente em zumbis, que seriam empregados nas perturbações de outros tantos invigilantes do mundo.

Por isso, queridos leitores, jamais se permitam enveredar por um caminho inferior ou negativo, seja em comportamento, em pensamento ou em sentimento, porque, ao tocar o mal, todos nos manchamos com ele.

Nódoa essa que precisará ser tirada por nós mesmos, mas que, em face dos efeitos que produza nos ouros, pode nos custar, nos procedimentos de limpeza, muito mais do que nos custou quando resolvemos nos sujar com ela.

E entre a criação de estratégias para atender a fila dos clientes espirituais e a intuição negativa destinada aos mais importantes integrantes daquele escritório material, as rotinas dos encarnados e dos desencarnados prosseguiam pelos caminhos tortuosos através dos quais os Espíritos ignorantes, tanto quanto os homens e as mulheres, vão criando espinhos para si mesmos, a fim de que descubram como são dolorosos e inconvenientes, nos aprendizados que a vida propicia a todo mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:10 am

6 - COMEÇANDO BEM...

Para dar continuidade aos seus ingénuos planos de derrubar seus companheiros de escritório através da conquista de apoio das suas outras colegas de lides forenses, Marcelo deliberou que, a partir daquela semana, passaria a ir com seu próprio carro até o centro da cidade, deixando-o estrategicamente posicionado em estacionamento próximo para que, em qualquer necessidade de trabalho, a célebre “carona” pudesse fazer parte de suas tácticas de aproximação, levando uma das suas futuras amigas até o fórum ou a qualquer outro lugar que se fizesse necessário.

Para os serviços mais simples, o escritório contava com inúmeros jovens, que serviam de apoiadores do trabalho que lá se desenvolvia.
No entanto, fossem como serviçais ou até mesmo como estagiários, havia tarefas que não poderiam deixar de ser feitas pelo próprio advogado.

Assim — pensava Marcelo — estaria ele melhor armado se o veículo pudesse lhe corresponder aos intentos, aproveitando qualquer ocasião para facultar a aproximação desejada, dentro de seus planos.

— Marisa não vai saber mesmo e, por isso, não terei problemas com seus ciúmes, ou com perguntas inconvenientes.
Afinal, como sempre deixava o carro no Metrô, ela nunca poderia ter conhecimento da alteração de minha rotina — era a conversa que mantinha consigo mesmo.

Relembrava a conduta indiferente da esposa e o sonho estranho que tivera, dias antes, no qual estivera sendo desbancado pelo assédio arrojado de Glauco, naquele ambiente que mais se parecia com a pista de dança na boate onde costumavam fazer presença várias vezes ao mês, para as diversões do final de semana, sem se dar conta que, em realidade, tudo se produzira graças à acção espiritual inferior, que os conduzira a um ambiente trevoso no qual, tanto quanto acontece no mundo físico, as entidades davam vazão aos seus impulsos animalizados e viciosos, com a desculpa da diversão.

Assim que chegou ao escritório naquela manhã, trazia a mente cheia de ideias e o coração agitado porque sabia da necessidade de corresponder aos anseios da mulher que se tornara sua parceira nos prazeres da carne e, por isso, se permitira a dependência emocional do homem que tudo faz para agradar à companheira com quem compartilha as sensações mais intensas da intimidade arrojada.

Observando o perfil das amigas de trabalho, imaginou que a mais acessível ao primeiro ataque seria Camila, aquela que era a mais bonita e a aparentemente mais acessível porque menos altiva nas suas manifestações.

O relacionamento entre todos eles não era hostil na superfície, ainda que, no íntimo, todos tivessem seus trunfos e armas contra todos.
Por isso, não deixavam de ter suas conversas e suas discussões teóricas sobre os diversos casos, mas buscando independência e segurança, não permitiam que as coisas passassem disso para uma amizade mais íntima, na qual acabariam por revelar as próprias fraquezas.

— Bom dia, Camila, como vão as coisas?
Muitas audiências hoje? — perguntou Marcelo, chegando sorrateiro à porta da sala da advogada, não sem antes ter se esmerado tanto no traje que vestia quanto no perfume que escolhera com especial cuidado em loja especializada em essências importadas e caras.

— Oi, Marcelo, estou aqui tão perdida no meio dos papéis que preciso organizar, que ainda não parei para olhar minha agenda.
Acho que não tenho nenhuma prevista para hoje, a não ser aqueles casos de emergência que chegam em cima da hora.
— Ah! Que bom.
Um dia sem audiências é um privilégio, quase um feriado em nossa rotina maluca.
Espero que você possa desfrutá-lo com bastante prazer.

— Antes fosse, Marcelo.
Tenho tanta coisa para dar andamento aqui que, às vezes, sair do escritório, mesmo que seja para fazer audiências, é uma forma de dar um passeio e me afastar de tantos problemas e exigências.
Às vezes, Marcelo, este ambiente do escritório me pesa terrivelmente e somente o ar puro lá de fora me reanima.

— Ora Camila, você é tão exigente consigo mesma que acaba se deixando arrastar pelos compromissos e problemas dos clientes.
Procure não se envolver tanto, não levar trabalho para casa, não ficar se desgastando com estas papeladas porque, quando a gente morre, as coisas continuarão andando sem nós...

— É, Marcelo, eu sei que você está certo, mas fazer o quê!?
Dr. Alberto está sempre me cobrando e me passando coisas para fazer que não posso decepcioná-lo.
Afinal, no fundo, ele é o patrão e está sempre sendo informado por Leandro acerca de nosso desempenho.

E falando baixinho como quem deseja revelar um segredo, gesticulou a Marcelo para que se aproximasse.

Deixara, então, o batente da porta onde se encontrava e dera dois passos na direcção da mesa da colega, para garantir o sigilo, ainda que o escritório estivesse quase vazio naquele horário da manhã, e se pusera atento para escutar-lhe a revelação:
— Você sabia que eu desconfio que Leandro vem até minha mesa e examina as pastas que eu deixo aqui por cima sempre que me ausento do escritório?
— Não creio — respondeu Marcel, realmente surpreso.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:10 am

— Por que você acha que estou chegando aqui tão cedo, todos os dias?
— Ora, sei lá.
Talvez para que o trabalho não atrase, para colocar o serviço em dia, para atender às petições...
— Tudo isso está bem, mas, principalmente, para arrumar tudo antes que Leandro chegue, porque já notei que ele se ocupa demais em vigiar-me.

— Será? Você não estará impressionada?
Ele sempre me pareceu um colega tão respeitador de nossos espaços.
— Sim, eu também pensava assim.
No entanto, cheguei a fazer alguns testes e pude constatar que certas hipóteses que eu mesma havia inventado em anotações que deixara dentro das pastas sobre minha mesa, logo mais já eram conhecidas de Leandro.

E, como disse, tratavam-se de situações fictícias que eu deixara anotadas no meio dos papéis, apenas para pensar nelas depois, como se elas pudessem dar outro destino para os casos.
Certa vez, ele chegou à porta da minha sala e me perguntou se havia conseguido a procuração para o inventário de um cliente, sugerindo quer eu estaria atendendo a pessoas por fora, para não precisar compartilhar os honorários.

Além do mais, há outras coisas que não posso falar e que, de uma forma ainda mais intensa me fazem supor a participação do patrão, manipulando todas estas coisa.
Mas isso é assunto explosivo que não desejo colocar em suas mãos.

Vendo que aquele colóquio já tinha rendido mais do que ele próprio esperava, Marcelo não insistiu no assunto, terminando por dizer:
— Agradeço muito o seu alerta porque, daqui para a frente, vou procurar prestar mais atenção nas coisas em minha sala, evitando que olhos bisbilhoteiros fiquem a averiguar as coisas que não lhe correspondem, ainda que não tenha nada a esconder.

— Só falei, Marcelo, para preveni-lo, porque acho isso muito desagradável para qualquer um de nós.
Apenas lhe peço que guarde esta informação com um segredo nosso, porque não tenho provas e não desejo acusar levianamente a ninguém.
— Pode deixar, Camila, isso vai comigo para o cemitério — respondeu ele, orgulhoso, já se sentindo muito mais próximo dela, sobretudo por causa da expressão “...segredo nosso...”

Saindo dali para deixar a jovem formosa às voltas com suas rotinas, Marcelo passou na cozinha e preparou dois cafés, uma para ele mesmo e o outro para levar até a sala de Camila, como uma gentileza especial e uma forma de demonstrar agradecimento pela revelação.

— Trouxe-lhe um café quente a fim de testemunhar meu agradecimento e desejar um bom dia a você, Camila.

Agradavelmente surpresa com a inusitada e incomum atitude de Marcelo, a jovem estendeu a mão para receber a xícara, com um sorriso franco no rosto, o que a tornava ainda mais bela, ao mesmo tempo em que, agradecendo a oferta, lhe devolvia o galanteio, dizendo:
— Nossa, Marcelo, você está muito cheiroso hoje.
Que perfume delicioso é este, meu amigo?
E para estar assim logo pela manhã, eu posso imaginar como é que deve ter sido agradável a sua noite, não?

Recebendo aquelas palavras de Camila, Marcelo se deixou corar, mas, para não perder a forma nem o estilo, deu um sorriso misterioso e agradeceu o elogio, dizendo que era um perfume comum, sem nada de especial, enquanto pensava com seus botões, que ela nem imaginava a péssima noite que havia tido, sem nenhuma emoção e sem qualquer romantismo.

— Emoção, mesmo, Camila, estou tendo esta manhã, com tantas revelações inesperadas... — respondeu Marcelo, agora sentindo, no seu instinto masculino, que chegara o momento de se retirar para deixar a jovem com a lembrança de seu perfume, enquanto tomava o rumo de sua sala.

Para ele, o dia já estava ganho.
Aquela aproximação de Camila já havia possibilitado descobrir muitas coisas, principalmente que ela estava contrariada com a atitude de Leandro e, talvez, até mesmo com Dr. Alberto, coisa que facilitava suas acções, imaginando que, com ela, metade do trabalho já estava feita.

Ao mesmo tempo, sua mente se deixou invadir pelas novas emoções, entre as quais, aquele sorriso sedutor de Camila, sua maneira subtil de dizer as coisas, a sua percepção sobre seu perfume, numa referência ao estado de prazer que pudera desfrutar durante a noite, levando o assunto para um âmbito de intimidade até então nunca experimentado entre eles.

Não podia deixar de sentir uma espécie de orgulho masculino pelo facto de ter sido admirado por uma mulher tão bonita e, aparentemente, tão vulnerável no meio de tantos olhos indiscretos de outros homens melhor posicionados do que ele próprio.

Aquilo representava uma porta aberta para suas tácticas, imaginando que, com as revelações de Camila, percebera que ela chegava sempre mais cedo no escritório, o que favoreceria suas conversas mais íntimas, a semeadura de novas sementes e a conquista de mais confiança por parte dela, para que, mais rapidamente, a solução de seu problema se concretizasse com o afastamento de Leandro, definitivamente, de seu caminho.

Enquanto isso, no mundo invisível, o chefe, Juvenal e Gabriel, o Aleijado, se mantinham a postos, influenciando directamente a emoção de Marcelo, tanto quanto inspirando as palavras de Camila, para que tudo corresse na direcção desejada.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:10 am

É preciso que o leitor saiba que, na mesma atmosfera do escritório físico, no mundo espiritual havia um outro escritório, dedicado a patrocinar perseguições mediante pagamento correspondente à adesão do interessado, departamento esse que tinha direcção e um grande número de funcionários dedicados a produzir diversas acções na vida dos encarnados.

Esta instituição, ligada à Organização, dava apoio às acções dos três Espíritos a que nos referimos acima, ligadas à perseguição de nossas personagens, mas que prestavam contas directamente ao Presidente da Organização a quem estavam directamente vinculadas.

Por isso, os três tinham livre-trânsito e carta-branca dentro do escritório trevoso que lhes servia de ponto de apoio na área vibratória sob a qual se alicerçava sobre o escritório físico de Alberto e Ramos.

Desse modo, o chefe, Juvenal e Gabriel tinham liberdade plena para acompanhar Marcelo e estabelecer todo tipo de atitudes que julgassem necessárias, sem se preocuparem com autorização dos dirigentes trevosos daquele departamento.

Estes se voltavam para as orientações aos consulentes ignorantes que ali chegavam, não apenas para a obtenção de favores destruidores de desafectos, como também para solicitar coisas em benefício de entes queridos que passavam por dificuldades materiais.

Isso porque, querido leitor, as criaturas que estão em processo de evolução espiritual, por ocasião da morte física, muitas vezes não se preparam para adoptar uma postura mental elevada através da oração sincera.

Desencarnam milhares de pessoas absolutamente despreparadas para as coisas do Espírito, esquecidas de que, na vida da Verdade, os procedimentos não poderiam ser os mesmos que são na vida da Mentira, aquela que os encarnados costumam viver, baseados nas aparências, na fantasia, nas coisas transitórias.

Na Terra, muitas pessoas procuram religiões que lhes satisfaçam as necessidades materiais, frequentando templos como investidores que transitam por bancos ou casas de investimentos.

E quando não conseguem a remuneração material ou emocional que tanto querem, não se constrangem em mudar de aplicação ou de banco, desde que saibam que algum outro amigo esteja conseguindo melhor rendimento em outra parte.

Da mesma maneira, a maioria das pessoas se permite arrastar pelos sucessos alheios nas acções da fé para investir suas fichas naquele mesmo negócio, com finalidade de conseguir o mesmo rendimento.

Mudam de religião como alguém transfere recursos de uma conta ou aplicação para outra, desde que as garantias de remuneração sejam maiores.

E daí, quando vêem o corpo morrer, mas a vida continuar, despreparados para uma vida espiritual mais elevada, se atiram na busca de maneiras de obterem os lucros de seus investimentos, dividendos de sua fidelidade, contrapartidas de suas oferendas, como era muito comum acontecer, naquele escritório trevoso, cuja fama conta de boca em boca, no meio inferior dos que se aglomeravam na dimensão espiritual daquela cidade imensa.

Longe de se espiritualizarem, boa parte das almas que perdiam o corpo se mantinham materializadas em suas intenções e, apesar de serem Espíritos, se sentiam como pessoas necessitando de apoio para continuarem a manipular as coisas segundo os antigos critérios religiosos vividos no mundo estranho dos homens de carne.

Outros mais sabiam que haviam perdido o corpo de carne.

Todavia, como ainda desejavam continuar agindo na esfera dos encarnados, procuravam o apoio daquela “instituição” tão conceituada para que, dispondo de seus meios de interferência directa no mundo e sobre as pessoas vivas, estabelecerem processos de vingança, possibilitarem meios de apoio para os parentes que ficaram, tudo entregando para que seus anseios se vissem atendidos.

Em geral, batiam à porta do famigerado escritório entidades desejosas de estabelecer processos obsessivos, desequilibrando encarnados, afastando de seu caminho certas pessoas.

Eram esposas e maridos desencarnados que desejavam aumentar a perseguição sobre o cônjuge que ficar na carne, agora que ele estava procurando substituí-los por outro ou outra, tanto quanto afastar qualquer interessado na posição que havia lhes pertencido quando em vida.

Eram pessoas ricas e apegadas à posse, que se viam privadas da acção directa sobre o seu património e que não desejavam deixar de governá-lo, solicitando do escritório, medidas sobre seus herdeiros directos para controlar-lhes a vontade e impedir que fizessem besteira com o dinheiro que não lhes pertencia. Eram Espíritos que se viram vítimas da acção agressiva de alguém a bater às portas da infeliz instituição para solicitar processos de vingança, na exteriorização do ódio que nutriam na alma contra seus algozes.

E ainda que todas estas entidades pudessem realizar a perseguição com as próprias forças, actuando negativamente sobre as suas vítimas, seus recursos eram menores do que aqueles que teriam caso conseguissem o apoio daquele grupo de entidades inferiores que, mediante o preço estipulado, poderiam ampliar o leque de recursos negativos a serem empregados sobre os objectos de sua perseguição pessoal.

Esta era a fama do escritório, no plano astral.
Com os recursos da hipnose, dos processos de sucção fluídica, de actuação na intuição e na vontade, na manipulação do pensamento invigilante, do sentimento carente das pessoas, as actividades vingadoras se faziam ainda mais actuantes e eficazes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:10 am

Da mesma forma, usando de certos recursos próprios do magnetismo e da acção do pensamento, as entidades dirigentes do referido escritório, antigas autoridades venais, corruptas, políticos degenerados, possibilitavam, inclusive, certa classe de ajuda quando o cliente que os buscava, ao invés de desejar desgraçar a vida de alguém, se punha a solicitar amparo para parentes que haviam ficado na Terra sem apoio.

Desde que a entidade solicitante aceitasse o perco estipulado, que era sempre o da entrega de si mesma aos trabalhos da instituição, eles promoveriam, inclusive, processos de ajuda material, favorecendo a melhoria dos que estavam esquecidos do mundo, vítimas do azar e das contingências duras da existência.

Nessa ocasião, valendo-se de pessoas encarnadas de instintos inferiores que eles dominavam nas diversas instituições materiais que eram controladas pela acção intensa de entidades desse padrão, usando dos mesmos recursos que manipulavam quando em vida, quando desviavam verbas para favorecer pessoas, quando manipulavam números para fraudar resultados, quando concediam favores a uns apaniguados que lhe convinha proteger;
estas entidades influenciavam através das intuições para que, de forma directa, o parente desempregado conseguisse a colocação de que necessitava, actuando directamente sobre a mente dos dirigentes encarnados que lhes sintonizasse a onda da corrupção e da baixeza para escolher alguém em especial.

Essa era a rotina que tal departamento espiritual inferior costumava usar, valendo-se dos inúmeros sócios e trabalhadores encarnados que eles mantinham sob sua influência na esfera do mundo material, através dos quais iam produzindo as mesmas teias de influências e corrupções que têm dominado a vida das pessoas no tocante aos processos administrativos em vigor nos dias de hoje nas diversas regiões do mundo.

E era natural que, de uma esfera à outra, do mundo invisível ao mundo visível, a própria treva preparasse reencarnações de seus membros para continuarem inseridos nos mesmos processos de malversação, de desvios e controles de poder, tanto quanto recebiam seus antigos representantes terrenos, quando desencarnavam nas condições de inferioridade moral, colocando-os nas mesmas redes administrativas invisíveis.

Nada pior para tais organismos, do que um administrador honesto e cumpridor de seus deveres, seguro de suas tarefas e responsável perante a própria consciência.
Sempre que surgia alguém assim, estes grupos inferiores tratavam de arrumar um modo de, estudando suas fraquezas pessoais, mentais ou morais, actuar sobre elas para que referido indivíduo se visse tentado até não mais resistir, caindo na mesma bandalheira moral e se deixando, então, arrastar para o fundo lodacento onde todos já estavam.

Nada pior para um meio corrompido do que uma pessoa virtuosa, cuja conduta se parece com agressões ao “modus operandi” já estabelecido porquanto o erro odeia a virtude que o apequena ainda mais diante dos próprios olhos.

E quando a pessoa íntegra não se verga, tais entidades criam situações de ataques a familiares, de perseguições judiciais, de pressões políticas até que a pessoa se veja obrigada a licenciar-se do posto, a deixar o trabalho, não se descartando, inclusive, a acção sorrateira de delinquentes que se valham da escuridão para alvejar o indivíduo que está se colocando como uma pedra no sapato, tanto dos vivos que querem continuar a explorar as vantagens do poder e da riqueza, quanto dos desencarnados que a eles se associam no desfrute de iguais prazeres terrenais.

A acção, portanto, de tais instituições, nas quais militam este tipo de Espírito delinquente e pervertido, procurava, em alguns casos, usar das máquinas administrativas corrompidas que manipulava para favorecer algum parente encarnado da entidade solicitante, de forma que a mesma se visse vinculada a eles por algum benefício conseguido e, daí, não pudesse mais deixar de cumprir a sua parte nos tratos escusos que haviam sido realizados.

Não é preciso dizer que, em todas estas questões, não havia nenhuma elevação espiritual por parte dos Espíritos que procuravam a ajuda em tais locais de engano e de ilusão, porquanto se estes Espíritos, às vezes mais incautos do que maus, se permitissem apegar à fé verdadeira através da oração sincera, não se emprenhariam em escolhas e compromissos dos quais levariam muito tempo para se livrarem, pagando um preço muito doloroso pela incúria que demonstraram no trato das coisas de Deus.

No entanto, com explicar essas coisas a pessoas que, quando encarnadas, deixavam uma religião por outra na qual os ganhos materiais eram mais vantajosos?
Como fazer enxergar a pessoas que se deixam levar pelos sucessos materiais de seus amigos, que prosperaram materialmente depois que trocaram uma igreja por outra?
Que aceitaram usar esse critério material como fundamento de sua escolha em matéria de fé?

Se sucessos materiais fazem algumas pessoas desistirem dos princípios que adoptaram nas rotinas espirituais que escolheram, esses são pessoas que não têm nenhum escrúpulo, que se vergam a qualquer imperativo de vantagens e favores, que se deixam corromper e corrompem desde que isso seja necessário, que não procuram as noções superiores da vida do Espírito para se transformarem moralmente para melhor, mas, ao contrário, procuram a Deus como forma de preservarem seus privilégios materiais e cultuarem seus interesses no “Bezerro de Ouro” que amam mais do que o próprio Criador de suas almas.

Como impedir que caiam, efectivamente, no buraco aqueles que querem ser conduzidos por cegos e que se deixam levar por eles?

Cair na vala, talvez, represente a única forma de acordarem para a própria insensatez, despertando da insanidade para a lucidez de uma vida cuja essência se alicerça nas fontes sagradas do Espírito, da Bondade e do Amor.

Por isso, é que Jesus ensinava que “A CADA UM, SEGUNDO SUAS OBRAS.”
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:11 am

7 - ACERCANDO-SE DE LETÍCIA

Dentro das estratégias planificadas por Marcelo, as coisas iam muito bem, uma vez que as relações com Camila já tinham se estabelecido e, entre eles, a cada dia que passava, a amizade se tornava mais intensa.

Isso fazia muito bem ao ego do rapaz que, colocado de lado pela esposa, passara a encontrar nos elogios da amiga uma fonte de satisfação para o orgulho masculino, compensando, assim, de alguma sorte, a ausência do interesse da antiga companheira.

Agora, dentro de suas expectativas, faltava aproximar-se das outras duas, coisa que iria acontecer naturalmente, sem ferir as novas relações com Camila, uma vez que, segundo ele supunha, entre elas também havia uma competição surda, cada uma defendendo seu espaço e disputando as próprias relações com certa exclusividade.

No entanto, Marcelo sabia agir com cautela, sem demonstrar exclusividade nem se deixar levar pelo devotamento isolado a apenas uma das mulheres do escritório.

Assim, passava a buscar aproximar-se de Letícia, usando recursos que, segundo sua avaliação psicológica, poderiam facilitar esse acercamento.
Diante de seu carácter e seu modo directo de posicionar-se, Marcelo não podia usar a mesma técnica que lhe tinha favorecido a aproximação de Camila.

Sabendo que Letícia gostava de ser admirada pelos seus dotes intelectuais, já que sua beleza não era diferente ou maior do que a da média das mulheres, Marcelo sabia que precisava levar as coisas para o lado que mais agradava à jovem.

Por isso, fazendo-se de desentendido sobre determinado assunto jurídico, acercou-se, certo dia, quando Camila já tinha se ausentado para atender a compromissos no fórum, batendo à porta da sala de Letícia.

— Dra. Letícia, estou precisando muito de um socorro seu.
— Ora, Marcelo, primeiramente tire a “doutora” porque aqui nós somos todos iguais.
Quanto ao socorro, meu amigo, parece que você jamais esteve em dificuldades ou precisou de qualquer coisa, mas naquilo que eu puder ajudar, estou à sua disposição.

— Você não está ocupada agora?
— Estou um pouco atarefada com algumas ideias, mas nada que não possa deixar de lado para escutá-lo.
Entre e sente-se aqui.

Agradecido pela receptividade, Marcelo atendeu ao convite de Letícia e se posicionou no ambiente de sua sala, organizada e bem iluminada pela janela que dava para a avenida principal.

O que Marcelo não sabia era que, dentre as três colegas, Letícia era a que mais se inclinava para uma aproximação afectiva em relação a ele.
Desde que chegara ao escritório, ocasião em que fora recebida por Marcelo, que se incumbira de lhe mostrar as dependências e explicar o funcionamento, Letícia se observara na companhia do rapaz, admirando-lhe o porte físico, os gestos másculos, a maneira autoconfiante e ao mesmo tempo gentil de colocar-se à disposição para qualquer problema que ela encontrasse.

Naturalmente, dentro de sua característica psicologia, Letícia não demonstrou interesse pessoal e, menos ainda, qualquer debilidade em seus conhecimentos, o que demonstraria um despreparo para as lutas do escritório, constatável no primeiro pedido de ajuda que fizesse.

Manteve-se firme, recorrendo até mesmo às informações junto às arrumadeiras e aos estagiários que lá já se encontravam, mas não dava o braço a torcer para que sua posição de segurança e independência marcasse logo a sua condição de profissional competente e determinada.

No entanto, ela mesma não tinha como negar o interesse feminino que a convivência com Marcelo, todos os dias, ia tornando maior, ainda que ela soubesse respeitar a sua condição de homem casado.

— Olhar não arranca pedaço — pensava ela — repetindo a velha frase com a qual mulheres e homens se observam com segundas intenções, ainda que não declaradas ou vividas.
Além do mais, nunca ouvi de Marcelo qualquer referência à sua mulher e nas poucas vezes que tentei saber algo ele apenas disse que ela não tinha qualquer actividade, ficando em casa cuidando das coisas ou passeando para divertir-se nas compras.

Credo, que mulherzinha sem graça...
Não estuda não se dedica ao desenvolvimento de si mesma.
Para um cara ficar com uma mulher assim, ela deve ser uma beldade.

Os pensamentos de Letícia, desde há muito tempo, já tinham esquadrinhado o perfil de Marisa, uma vez que, sendo muito competitiva por natureza, a jovem advogada buscava avaliar o que levava Marcelo a se manter ao lado de uma mulher sem atractivos culturais, competência profissional ou hábitos intelectuais que causassem admiração.

Esse era o seu caso pessoal.
Sabendo que, sem ser feia, não era a mais maravilhosa das mulheres, precisava compensar suas limitações na beleza com atractivos em outras áreas de seu carácter, o que a fazia sempre dedicar-se ao enriquecimento intelectual, frequentando cursos, visitando museus, assistindo a filmes, lendo diversos livros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 24, 2014 9:11 am

No fundo, entretanto, ela admirava Marcelo que, sem saber de tal sentimento oculto, mantinha-se diariamente ao seu lado, dentro de uma distância natural que mais provocava a curiosidade de Letícia do que protegia Marcelo de qualquer intimidade, intimidade essa que, agora, ele pretendia aumentar, deliberadamente.

Ali estavam os dois.
Ele, desejando uma aproximação maior de Letícia para usá-la, sem imaginar quais seriam os sentimentos dela e ela, desejando ainda mais uma aproximação com Marcelo, procurando conquistar o seu interesse para, quem sabe, uma futura relação amorosa.

No entanto, nem um nem outro poderia revelar-se de imediato, uma vez que em ambos as intenções ocultas eram muito maiores do que as suas palavras revelavam.

— Pode falar, Marcelo, qual é o seu problema?
— Bem, Letícia, estou enrolado em um problema para o qual não encontro uma solução melhor do que a outra.

E procurando apresentar os factos, apontando os envolvidos na questão jurídica delicada, ia lançando sobre a jovem a sua argumentação jurídica para explicar-lhe suas dificuldades, de maneira a deixar claro que não se tratava de uma falta de competência de sua parte, mas que, dentro das inúmeras saídas que poderia encontrar, nenhuma delas era suficientemente boa ou adequada pra atender aos interesses der seu cliente.

Por isso, recorria à sua ajuda para que ela, estudiosa, inteligente, competente, pudesse avaliar a situação como alguém que está de fora e, com todas estas virtudes, aconselhar um caminho mais adequado para ser trilhado.

Este discurso de Marcelo caía como uma pluma no coração e no ego de Letícia, que outra coisa não desejava no mundo do que ser admirada por um homem inteligente, ser respeitada pelo seu conhecimento, ter a oportunidade de demonstrar sua competência e, assim, sentir-se importante.

— Ora, Marcelo, agradeço muito a sua consideração, mas estou certa de que sua capacidade pessoal o qualifica muito bem para decidir o melhor caminho.

— Mas, sabe, Letícia, por mais que tenhamos uma ideia clara das coisas, nem sempre a nossa cabeça está no caminho mais acertado.
Por isso, e considerando todo o seu talento e dedicação, além da sua inteligência primorosa, não vejo melhor ocasião para recorrer a você como uma consultora, a fim de que, não estando envolvida, sem os compromissos pessoais com as partes, possa me alertar, corrigir e orientar no sentido de não errar na hora da escolha da solução jurídica.

— Tudo bem, Marcelo, apenas creio que vou precisar estudar isso com mais cuidado a fim de que não me equivoque na opinião que você está me pedindo.
— Certo, Letícia, já esperava por essa solicitação.
Precisarei dar uma resposta aos meus clientes dentro de trinta dias.
Assim, você tem tempo bastante para poder ficar com os documentos e estudá-los como quiser.

— Que bom, Marcelo.
Vou tirar cópias e levar os documentos comigo para casa, onde, geralmente, penso melhor porque lá há mais sossego do que aqui.
— Puxa, eu a invejo, Letícia.
Em casa é que eu não consigo trabalhar mesmo.

— Porquê, Marcelo?
A mim me parece que o ambiente de casa é mais agradável para nos desligarmos das coisas e nos concentrarmos em determinado assunto.
— É que você mora sozinha, não é?
— Sim, eu moro sozinha.

— Mas em casa — continuou Marcelo — a dureza é ter que conviver com alguém que adora ouvir música barulhenta 24 horas por dia.
Muitas vezes, nem mesmo para dormir eu tenho sossego.
Minha esposa só me dá trégua quando sai com alguma amiga, quando vai ao Shopping ou está dormindo.

Escutando essas revelações, Letícia se sentiu mais importante perante si própria já que, de maneira pouco velada, Marcelo se referia à mulher revelando certo enfado, certo cansaço de suas maneiras, demonstrando uma discordância que o afastava da esposa de alguma forma.

— Mas você não reclama, Marcelo?
Nem sempre todas as coisas podem agradar apenas a um lado.
Um casal precisa se respeitar e se harmonizar em tudo para que possa dar certo a relação.

— No começo, Letícia, eu falava, discutia, brigava.
No entanto, depois, percebi que Marisa era distraída para certas coisas e que eu ia acabar estragando o que era bom em nossa relação por causa de detalhes que poderia administrar com mais paciência.

Afinal, o casamento não é feito somente de música barulhenta, não é?
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