LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:24 am

E, respondendo a Marcelo, afirmou:
— Tudo bem, Dr. Marcelo, estarei lá, preparada para tudo... — falou, provocando.
— Óptimo, Sílvia, eu também... — respondeu, matreiro, o rapaz, entendendo o duplo sentido e correspondendo a ele, como o macho atraído pelos odores sedutores da fêmea.
O encontro de ambos foi semelhante ao primeiro que haviam tido naquele mesmo lugar.

Calor e excitação logo de início, porque Marcelo sabia que seria difícil falar de coisas mais sérias com uma Sílvia ansiosa pela relação sexual e que, no caso dela, seria melhor satisfazê-la primeiro para, depois, conseguir a própria satisfação na obtenção de seu apoio.

A relação física de ambos, diferentemente da que mantivera no dia anterior com Letícia, era marcadas pelos excessos e pela condição tórrida, a estimular nele a virilidade e as emoções mais primitivas.

O esgotamento de suas forças, por isso, era muito maior e o desgaste emocional produzia um entorpecimento mais difícil de ser contornado.
Ainda assim, Marcelo sabia que os melhores momentos para c entendimento adviriam depois da satisfação física, o que o obrigou a longas horas de vigília para, somente depois disso, chegar ao entendimento desejado.

No entanto, ele estava certo.
Depois de satisfeita em suas ânsias carnais, Sílvia se tornava um gatinho dócil e agradecido e correspondendo aos desejos de Marcelo, fez-se toda ouvidos e demonstrou a mesma indignação de Letícia, no sentido de também precisar defender a sua reputação profissional sobre a qual exercia zelo cuidadoso e atento.

Aceitara perder a dignidade de mulher, de mãe, de esposa, mas não aceitaria empenhar a dignidade profissional, passando a ser considerada integrante de uma quadrilha de achacadores e profissionais desonestos.

Ela bem o sabia que, em verdade, certas autoridades só funcionavam adequadamente quando corriam propinas e favores materiais diversos.
No entanto, jamais adoptara um procedimento desses como prática regular com seus clientes, cobrando-lhes valores para embolsá-los.
Com os relatos de Marcelo, Sílvia demonstrara a concordância na participação da reunião e na apresentação dos factos.

Quando perguntou ao rapaz como havia conseguido tais provas, dele escutou:
— Estive avaliando Leandro já há algum tempo e, entre as suspeitas de que invadia nossa privacidade mexendo em nossos documentos e a de que passara a ostentar uma riqueza incompatível com os seus ganhos, pude me valer de um detective particular que, confirmando minhas suspeitas, reuniu as provas incontestes de sua leviandade e desonestidade no trato com as coisas do escritório.

— Isso é algo inconcebível.
Você tem certeza de que essa fonte é confiável? — perguntou Sílvia, cuidadosa.
— Sim, estou absolutamente tranquilo quanto ao facto.
— Se as coisas são tão graves, pode contar comigo para que tudo venha à tona.
Apenas que, antes, gostaria de ver os documentos, se você não se importar.

— Claro que não.
Assim que você quiser, eu os apresento.
— Tudo bem, eu telefono para marcarmos, está bem?
— Ah! Aqueles telefonemas safados que você tem feito para mim, em meu celular?
São muito pouco claros... — ironizou Marcelo.

— Pois então, deixe comigo que eu irei ser mais directa.
Marcarei o lugar e deixarei tudo bem claro em seu telefone, está bem?
— Combinado, leoa... — respondeu Marcelo, cansado.

Enquanto isso acontecia, envolvendo os membros do escritório, encontraremos Félix e Magnus, almas generosas a acompanharem nossas personagens na condição de Instrutor e aprendiz, presenciando um outro diálogo em outra parte da cidade:
— Como é que estão as coisas?
— Tudo corre conforme nossos planos.
— Eles já morderam a isca?
— Totalmente... caíram como otários.

— Magnus, veja como são as próprias pessoas que criam condições para que todas as tragédias possam acontecer.
Estes dois irmãos, sem entenderem o que está por trás de suas atitudes, estão sendo pedra de escândalo na vida de toda uma comunidade.

— Sim, Instrutor, conhecendo as coisas como estou podendo conhecer, compreendo como é que a leviandade, o egoísmo, as ambições desmedidas e o descontrole emocional de nossos irmãos encarnados acabam sendo ferramentas manipuladas facilmente pelas inteligências humanas destituídas do corpo.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:24 am

— E tais inteligências desmaterializadas usam os mesmos princípios ditos racionais e as estratégias que trouxeram de seus estágios no mundo, quando nele estagiavam sob o manto do corpo carnal.

— Em realidade, mudaram apenas de dimensão, carregando consigo todo o mal que acumulavam, não é certo?
— Sim, meu filho.
É assim que as coisas acabam se dando, principalmente quando não existe qualquer ascendente moral, uma base sólida de valores espirituais a lhes embasar uma conduta que devem modificar pela necessidade de se melhorarem.

As diversas religiões formais, que outra coisa não fazem das pessoas do que torná-las praticantes de rituais ou de concessões financeiras sem transformá-las para melhor, são inúteis desperdícios de tempo e agravamento de compromissos morais, seja para os que as praticam cegamente, seja, ainda mais, para os que as dirigem.

O conteúdo precioso de qualquer crença está radicado, essencialmente, na transformação do ser humano, tornando-o menos inferior nos instintos, menos preso às coisas mundanas, menos devotado às práticas viciosas, resumindo, menos imperfeito.

Se uma crença não transforma o crente para melhor no campo moral, ela não é uma boa crença, ainda que faça certas concessões a Jesus e a alguns de seus ensinos.
As forças da vida, invariavelmente, preferem os ateus sinceros no bem do que os crentes indiferentes à bondade.

Como estamos vendo, com excepção de Olívia, Gláucia e Glauco, todos os demais são pessoas imaturas e despreparadas para as consequências de seus actos, mas que se permitem brincar com fogo, imaginando-se capacitados para fazê-lo.

Aos nossos olhos, são como pessoas que se acham maduras para acender o estopim de explosivos que imagina simples rojões sem se darem conta de que estão apertando o botão de armas nucleares.
Acabam sendo corajosos para disparar, mas não se sentem competentes para assumir os efeitos das suas explosões destruidoras.

Enquanto tais Espíritos conversavam no plano espiritual a respeito da insensatez de seus tutelados, em outro local se congregavam o Chefe, Juvenal e o Aleijado para as avaliações sobre os últimos factos.

— Estamos chegando ao nosso objectivo principal.
— Isso mesmo, Chefe, estou bastante ansioso para ver a coisa cegando fogo.
— Eu também — falou meio desajeitado o Aleijado, que mais carecia uma criança crescida.

— Em breve — respondeu o Chefe — iremos comunicar ao Presidente o sucesso de nossa empreitada, marcando a data final para a solução definitiva do caso que nos foi encomendado.
Não vejo a hora de dar uma afastada deste ambiente, procurando diversão em outros lugares.
Já estou ficando entediado com as mesmas músicas, as mesmas drogas, as mesmas loucuras.
Quero novidades....

— Eu também — exclamou Juvenal, sempre desejando corresponder aos palpites e opiniões do Chefe.
— Só nos falta terminar as coisas com o idiota do Luiz e com o Jefferson.
— Ah! O mariquinhas... tinha me esquecido dele... ou melhor... dela... — gargalhou Juvenal.

— Sim, está faltando acertarmos as coisas com eles para, depois, irmos prestar contas com o Presidente, dando-lhe todas as coordenadas de como é que tudo está organizado.
E pretendendo saber quando é que isso iria acontecer, Juvenal escutou a resposta do Chefe:
— Amanhã estaremos tratando do assunto, junto com Marisa, Glauco e Luiz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:25 am

28 - VIDENTE DE PLANTÃO E A SINTONIA COM O MAL

Depois de ter tido a primeira entrevista de trabalho com Glauco, Marisa se recordou de um recurso que estava deixando de lado, nos seus planos para fisgar o rapaz.

— Não foi à toa que Glauco me falou sobre esse negócio de Espíritos.
Eu estava me esquecendo de usar também essa possibilidade para facilitar o meu caminho... — pensou Marisa, disposta a buscar ajuda nas forças invisíveis.

Ao seu lado, as mesmas entidades obsessoras que a envolviam se mantinham a postos para estimular-lhe o desejo de ir buscar a ajuda invisível, mas não dentro dos padrões que o rapaz lhe havia aconselhado.

Depois que chegou em casa, procurou em seus antigos guardados e, dentro de uma caixa de sapatos, encontrou um papel amarelado com o endereço de uma pessoa a quem se atribuíam maravilhosos poderes de magia, visão do futuro, capacidade de solucionar problemas amorosos, de desembaraçar a vida material e afectiva, etc., etc., etc.

Marisa já tinha usado tais recursos em outra ocasião, antes de se casar com Marcelo e, segundo se recordava agora, ficara surpresa com esse mecanismo desconhecido que lhe parecera eficaz na solução de suas dificuldades.
Não importava que tivesse que pagar para conseguir o que queria.

— Ora, o que é a vida senão pagar para conquistar o que sonhamos?
Não pagamos pelo batom, pela tintura no cabelo, pela roupa mais bonita?
Tudo por aqui não é pago, desde a água que bebemos na torneira até o médico que pode salvar ou não salvar uma vida, dependendo do dinheiro que a pessoa tenha?

Que importa que precise pagar?...
um serviço é sempre um serviço e, se para a dor de dentes vamos ao dentista, para o problema legal vamos ao advogado, para os problemas que os homens não sabem resolver, vamos procurar os profissionais adequados nas coisas misteriosas.
Nada mais justo do que pagar para conseguir o que queremos.

Quando encontrou o papel, imediatamente ligou para o número telefónico a fim de se certificar de que as coisas continuavam como antes.

Uma voz metálica atendeu à chamada:
— Alô, com quem quer falar?
— A... lô — respondeu, hesitante e nervosa, Marisa — quero falar com a dona Mércia.
— É para marcar consulta?
— É... ela ainda está trabalhando?
— Qual é o seu problema, minha filha? — perguntou a pessoa, meio irónica do outro lado.

— Bem... preciso de ajuda afectiva...
— Ah! Dona Mércia está sempre disponível desde que o interessado esteja disponível também para pagar o preço da consulta.
— Sim, eu sei que ninguém trabalha de graça...
— É, ainda mais agora que ela está atendendo muito político importante, neste período de eleições...
Sua agenda está lotada.

— Mas não dá para conseguir um "encaixe"?
Eu tenho um pouco de pressa, porque o caso é urgente...
— Nada que algumas notas a mais não resolva. Como é o seu nome?

Com receio de dizer o nome verdadeiro, Márcia inventou:
— Meu nome é Carina...
— Tudo bem, Carina... você pode vir na semana que vem.
— Não, na semana que vem é muito tarde.
Pago qualquer coisa, mas tem que ser esta semana.
— Bem, nesse caso, pode vir amanhã, às dezoito horas.

— Eu já consultei dona Mércia há alguns anos e o lugar ficava perto do aterro e de um supermercado, na rua Lisboa....
— Isso mesmo, ela continua no mesmo lugar.
— Está bem, amanhã estarei aí.
E quanto é a consulta?
— Bem, se for só consulta, vai custar quinhentos.
Mas se tiver que fazer outras coisas, aí o preço muda.
Pagamento sempre em dinheiro. Nada de cheque.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:25 am

— Tudo bem. Não tem problema.
No entanto, espero que ela garanta o resultado.
— Ela se orgulha de nunca decepcionar a clientela.
Até amanhã — falou ríspida, a pessoa, desligando a seguir.

Marisa tremia inteira pelo nervoso, mas a euforia de estar lutando para a edificação de seu destino compensava a sua angústia.

No dia seguinte, no horário marcado, lá estava ela, simplesmente vestida, para a fatídica entrevista.
O local era de aspecto desagradável tanto pelo prédio quanto pelo ambiente.
No plano espiritual, uma grande quantidade de entidades de horrível aspecto se mantinha indo e vindo como que a cumprir ordens e trazer notícias.

No interior daquela casa de bairro, uma mulher desgastada pelo tempo parecia ser o centro energético de um aglomerado de Espíritos que lhe sugavam certa quantidade de forças, como se ela fosse uma usina que abastecia seres que se sucediam nos receptores magnéticos, de tempos em tempos.

Todos se ligavam à mulher como servos que lhe atendiam às chamadas e se dispunham a receber pagamento pela fidelidade canina.
Tomando conta de tal grupo, um Espírito de feições desagradáveis se antepunha a qualquer deles, considerado como o "guardião" da médium Mércia.

Tudo era manipulado por esse Espírito inferior, cuja linguagem chula e modos agressivos mantinha a ordem entre os outros Espíritos, esfomeados, a solicitarem constantemente autorização para sugar um pouco das energias de dona Mércia.

Sem o saber, ela era um boneco na mão das entidades que usavam da sua casa e de seu ser como ponto de negócios escusos entre os mundos visível e invisível.
Acostumada ao comércio barato, imaginava que a mediunidade fosse, apenas, a possibilidade de ganhar a vida da forma que mais lhe parecesse conveniente.

Sem desejar se aprofundar em estudos e desajustada nos centros energéticos pelo padrão de sintonia a que se permitira chegar, não era mais capaz de se sintonizar com entidades amigas e benevolentes que sempre haviam tentado ajudá-la na modificação de sua trajectória, que se fazia irresponsável e criminosa.

Afastada das necessidades materiais imediatas da vida pela cobrança de valores em dinheiro ou em vantagens outras, usando as percepções mediúnicas, dona Mércia se permitiu apartar do caminho recto e seguro de uma sensibilidade vivida a serviço de Jesus e, por isso, passara a associar-se com os Espíritos de péssima estirpe, nos quais depositava confiança cega ao mesmo tempo em que, deles recebia cooperação fiel e eficiente em muitos casos da vida.

No início, naturalmente, sua discrição e o pouco conhecimento do público a seu respeito lhe garantiam um certo sossego.
No entanto, à medida que as suas "rezas" passaram a ser eficazes além do que ela própria podia esperar, uma verdadeira procissão de criaturas passou a buscar suas palavras, visões e vaticínios, o que a obrigou a se profissionalizar, inclusive com a organização de uma central de atendimento telefónico para a marcação de consultas.

Pelo carácter naturalmente sigiloso das consultas, sua casa passou a ser visitada por muitas pessoas importantes que, geralmente nos horários nocturnos, entravam por uma portinha lateral, ocultados pelo véu da escuridão e por ali também saíam, depois de terem submetido à sua apreciação os problemas mais graves e solicitado as coisas mais absurdas.

Matar adversários, destruir carreiras, arruinar casamentos, transformar destinos, realizar ajustes na sorte, mesmo que isso tivesse que prejudicar a vida alheia, era o tipo solicitação de seus consulentes e a modalidade de trabalho ao qual dona Mér, como era conhecida, se ajustava com naturalidade e subtileza.

Experiente, graças aos longos anos de convivência com a personalidade humana, sabia entender nas entrelinhas as intenções do consulente que a contratava e, longe de colocá-lo em situação constrangedora obrigando-o a expor completamente suas intenções, facilmente abreviava o assunto, entendendo que, mesmo aqueles que desejavam matar seus desafectos tinham lá os seus escrúpulos em assumir tais intentos de forma clara.

Dar um jeitinho em tirar do caminho, afastar o problema, solucionar sem barulho, desamarrar os nós, dar um jeito na pessoa, eram eufemismos que ali tinham uso corriqueiro, querendo, sempre, significar tirar a vida, arruinar, fazer calar a pessoa inconveniente, entre outras significações.

Nessas tarefas, as forças mediúnicas de Mércia eram usadas por Espíritos inferiores, sempre interessados na conquista de bens materiais ou de sensações mundanas.
Com isso, mantinham Mércia sob seus cuidados ao mesmo tempo em que obtinham os fluidos vitais produzidos com maior intensidade pelo seu organismo, com o qual se sentiam vitalizados.

Assim que chegou ao ambiente, Marisa foi recebida por um ajudante de dona Mércia, provavelmente aquele que houvera atendido ao telefone no dia anterior.

O tom da voz o acusava, principalmente a maneira directa com que tocou no assunto do pagamento:
— São quinhentos, adiantado...
— Ah! Pois não — falou Marisa, nervosa.
— Pode esperar sentada aí que, logo, dona Mér vai atender.

Falou isso e, depois de pegar o dinheiro, desapareceu por uma porta.
Alguns minutos depois, uma pequena campainha tocou e uma voz rouca pronunciou o nome Carina.
Por um instante, Marisa permaneceu sentada como se estivesse esperando a entrada de alguma outra pessoa que a antecedesse na consulta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:25 am

— Carina... — repetiu a voz... — pode entrar.
Somente aí é que Marisa se lembrou de que havia modificado o próprio nome.

Levantou-se, rápido, e foi entrando devagarzinho, suspendendo a cortina roxa que vedava o quarto de onde a voz provinha.

— Sente-se aí, minha filha.
— Obrigada — respondeu a moça... mais nervosa ainda.
— Pode falar o que a incomoda... — disse dona Mér, uma senhora com seus quase cinquenta anos.
— Sabe, dona Mér, eu já precisei de sua ajuda há alguns anos e tudo deu tão certo que me lembrei de seu poder.
Por isso estou aqui, novamente.

— Pois então, minha filha, não tenha medo.
Pode falar o que a traz de novo até aqui...
— É um problema do coração....

E usando de seu poder mediúnico, enquanto Marisa/Carina falava, Mér passou a ouvir a voz do Espírito que a dirigia o qual, por sua vez, conversava com a entidade que perturbava Marisa, o nosso velho conhecido Chefe.
O entendimento se dava, como podem ver, de Espírito perturbador para Espírito perturbador.
— Hummmm... sim... ahuuu!

A vidente ia pronunciando monossílabos enquanto dava a impressão de estar conversando com alguém do mundo invisível, o que apavorava ainda mais a jovem.

— Bem, pelo que posso captar de seu caso, você está infeliz no casamento e apaixonou-se por um outro rapaz.
Surpresa com a exactidão das informações, Marisa/Carina afirmou, alarmada pela frase certeira de dona Mér:
— Puxa vida, já havia me esquecido do quanto a senhora era boa nisso...
É exactamente o que está acontecendo.

E para mais impressionar a consulente, atendida pelas informações de seu "guardião", a médium continuou demonstrando sua capacidade de visualização do caso.

— Mas o rapaz não está livre, não é mesmo?
Tanto quanto você já está presa ao casamento, ele está prestes a se comprometer com alguém que ama.
— Sim, dona Mércia... — respondeu Marisa, algo descontrolada, beirando às lágrimas...
Estou apaixonada e não quero perdê-lo para a outra.

— Bem, minha filha, as questões do coração são as mais complicadas para se resolverem.
— Mas sempre soube de seus poderes para solucionar tudo o que lhe fosse apresentado.
— Bem... minha fama é fruto de muitos anos de trabalho.
No entanto, quando falamos de sentimentos, nossos recursos estarão sempre limitados pelo poder de resistência daqueles que tentamos transformar.

— Como assim?
— Cada um tem uma vibração.
Para que possamos atingir a pessoa, precisamos encontrar uma passagem em sua estrutura, um momento de fraqueza, uma tentação não resistida, uma forma de superar os pudores, tudo isso torna mais fácil a nossa acção.

Quando a pessoa, homem ou mulher, opõe uma resistência tenaz, as coisas se complicam.
Por esse motivo é que o preço de consultas dessa natureza é mais alto.
Temos que usar mais "operários invisíveis" para dar conta do recado.

Quando é questão de estorvo no caminho, basta arrumar uma dorzinha na pessoa que está causando problema e isso já tira a criatura do rumo.
Quando o problema é de dinheiro, alguns ajustes nas coisas da Terra podem facilitar o sucesso material do indivíduo.
Quando se trata de fazer o ódio aparecer, a desavença eclodir, isso é um dos trabalhos mais baratos, porque é como levar o fogo á gasolina.

As pessoas estão prontinhas para se incendiarem.
No entanto, quando é para fazer alguém gostar de outra pessoa, isso é mais complicado.
O afecto parece criar uma barreira poderosa que, somente com muito empenho dos nossos trabalhadores, em geral contando com o deslize do indivíduo atacado, é que conseguimos vencer, quando conseguimos.

Por isso, não vou iludi-la com fantasias.
Para mexer com as coisas do sentimento, tudo é mais complicado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:25 am

— Mas eu pago quanto for necessário.
— Tudo bem, o dinheiro ajuda muito e pode abrir muitos caminhos.
No entanto, vai depender de você também, porque se não houver nenhum momento de fraqueza do rapaz, será um insucesso total e neste caso, não devolveremos o dinheiro, já que você foi avisada e aceitou correr o risco.

— Mas o que eu tenho que fazer?
Trazer alguma roupa, algum objecto pessoal, alguma coisa que ligue o rapaz a você?
— Não. Você deve descobrir algum segredo que ele oculte de todos ou, o que é melhor, deve colocá-lo em situação de tentação, porque, assim, nós o envolveremos com nossos trabalhadores para que, na hora da fraqueza, tudo se consuma.

— Quer dizer que se eu der o primeiro passo, depois disso vocês fazem o resto?
— Sim. Se você conseguir alguma coisa que possa romper a ligação afectiva entre ele e a noiva, isso vai facilitar todo o trabalho.
E pelo que estou vendo, a noiva é uma pessoa muito bem protegida, tanto quanto o rapaz.

— Eu não sei de nada.
Só sei que quero conquistar o cara.
Confiarei em sua capacidade e pagarei o que for preciso.
No entanto não gosto de ser enganada.

— Esteja certa de que nós duas não gostamos de ser enganadas.
Devo chamá-la de Carina, o nome que você deu ao telefone, ou de Marisa, o seu verdadeiro nome?

Colhida de surpresa com a demonstração de tal poder de penetração, sem imaginar que tudo aquilo estava sendo conseguido com a acção das entidades negativas que a acompanhavam e se entendiam do lado invisível da vida, Marisa estampou o rosto avermelhado e, desconversando, respondeu:
— Quando tudo tiver dado certo, direi à senhora como é que me deverá chamar.

— Combinado.
Não desejo perturbar o sossego de ninguém que me procura.
Acho que todos têm o direito de se esconder como queiram.
No entanto, não se esqueça de que está avisada.
E pelo que pude observar, não está longe a oportunidade de você se avistar com o cobiçado rapaz.

— Sim... dentro de alguns dias estarei em seu escritório novamente.
— Pois então, não perca tempo, porque desde agora iremos trabalhar para facilitar as coisas, mas vai ficar dependendo de você a aceleração de tudo.
— Está bem... farei o que estiver ao meu alcance.
— Pois bem. Volte aqui em duas semanas.
— Combinado.

E dizendo isso, dona Mér deu por encerrada a entrevista, enquanto Marisa/Carina dava ao atendente, fora da sala do encontro, o nome e o endereço do rapaz para que os primeiros trâmites pudessem ter início.

O recado no celular de Marcelo era explícito.
Sílvia estava mais ousada do que nunca.
E como pretendia mudar os locais de seus encontros clandestinos, deixou-lhe o novo endereço, marcando dia e horário, além de especificar o número da suíte onde o esperaria para o colóquio especial.

Cada um seguiria com seu carro e lá se encontrariam.
Dentro de suas rotinas e compromissos, Sílvia marcara o encontro para a próxima semana e, por isso, a data escolhida pela colega de escritório coincidia com a data da volta de Marisa ao escritório de Glauco.

Somente o horário era diferente.
A consulta de Marisa era às dezasseis horas enquanto que o encontro de seu marido e Sílvia, os aventureiros da emoção irresponsável, estava fixado para as dezoito horas, no endereço estipulado pela melosa voz da ousada mulher.

Contavam eles que Marisa não se ocuparia de escutar seus recados, como nunca se deram a esse trabalho nenhum dos dois cônjuges.
No entanto, Marcelo não sabia que a esposa, desde aquele dia em que flagrara as três gravações, passara a fiscalizar o conteúdo de sua caixa postal, sempre depois que ele chegava em casa após o trabalho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:25 am

No meio da noite, a mulher astuta se dirigia ao gabinete de entrada do apartamento, onde Marcelo deixava seus pertences pessoais, tomava o aparelho celular, levava-o para o quarto onde continuava dormindo sozinha há algum tempo e, quando escutava algo suspeito, tratava de gravar a mensagem, devolvendo o aparelho no mesmo local, certificando-se de que o marido não estaria percebendo sua conduta.

Na mesma noite de sua consulta com dona Mér, na averiguação que realizava nos recados do celular do marido, Marisa constatou a mensagem sedutora e indubitável de Sílvia, sem saber, no entanto, de quem se tratava.

Sem qualquer abalo em seu sentimento, a constatação de tal prevaricação flagrante, com data, hora e lugar marcados, seria o trunfo que precisava para envolver Glauco.
Inspirada pelas entidades que a perturbavam no equilíbrio da emoção, planeava como se estivesse, apenas, revendo os passos do grande momento largamente esperado.

Sim... tudo se ajustava e essa descoberta a fazia crer ainda mais na intervenção dos Espíritos contratados, conforme lhe havia prometido dona Mér.

Enquanto isso ia acontecendo, Félix, Alfonso e Magnus se punham a campo, para que, apesar dos esforços do Mal, as atitudes da maldade encontrassem na própria maldade o remédio que as tratasse.

— Você está observando, Magnus — disse Alfonso — que o mal é um desajuste de quem o vive, mais do que um poder personalizado.
A ignorância de seus efeitos dá ao que o pratica, a ilusão de poder e de invencibilidade.
No entanto, todos acabam reduzidos ao sofrimento por suas próprias atitudes tresloucadas.

Complementando a observação, Félix aproveitou para dizer:
— Pelo que podemos vislumbrar do ponto de vista que observamos as coisas, não restará quase ninguém livre dos espinhos que estão semeando nos caminhos de seus semelhantes.
— É verdade, instrutor — respondeu Magnus.
Quanto mais entendemos as coisas espirituais e suas leis infalíveis, mais nos afastamos da ideia de um Bem inerte diante de um Mal diabólico e astuto.

A resposta de Magnus despertou o comentário de Alfonso:
— Essa primeira impressão também é fruto do imediatismo que a ignorância humana propicia a todo aquele que deseja resolver seu problema rapidamente e a qualquer preço, sem se atentar para o facto de que ele pode ter sido gerado por séculos de desregramentos.

Como conseguir arrancar uma árvore secular usando apenas o poder de uma tesoura?
Mas é assim que as criaturas pensam em conseguir aquilo que lhes parece mais vantajoso.
Somente enquanto existirem tolos é que vai existir espaço para levianos jogadores com as forças espirituais.

Somente enquanto as leis do Universo forem ignoradas é que esses charlatães, que se autoproclamam médiuns, poderão exercer a sua fantasia terrorista.
Quando o esclarecimento permear a humanidade, ninguém vai mais imaginar que a Lei de Justiça e a Misericórdia de Deus valem menos do que uma garrafa de bebida ou um animal morto rodeado de velas em alguma encruzilhada do caminho.

A sintonia com o mal é algo que possui duas vias.
Tanto serve para solicitar favores quanto acaba trazendo ao solicitante as consequências desse conúbio espúrio e perigoso, cujo preço é sempre muito mais caro do que os favores que possa parecer conseguir.

Isso sem nos referirmos à questão da sintonia da vítima a quem se destina esse tipo de ritual.
Se o destinatário do mal não estiver vibrando no mal, tais forças não conseguirão atingi-lo.

É por isso que a pessoa a quem se dirigiu o encantamento, sabendo que foi objecto de algum "trabalho" ou de alguma coisa misteriosa, acaba por ficar amedrontada com um fantasma que não compreende e, pelo medo que começa a sentir, passará a se impressionar com qualquer coisa negativa que lhe aconteça, mesmo com um simples tropeção no tapete de sua casa.

Antes de saber, esse evento seria interpretado como descuido ou distracção.
Depois que a vítima do misterioso "despacho" fica sabendo que está sendo objecto de uma acção oculta, o tropeção passa a ser “empurrão”, "trança-pé", coisa do tipo.

Isso propicia a fragilidade emocional necessária para a penetração das entidades perseguidoras no seu campo vibratório e, a partir de então, a sua sintonia no medo é que vai permitir que se sinta mal, se sinta abatida, se veja perdida...

É assim que as entidades inferiores agem, impressionando a vítima de sua perseguição, sem o que não conseguirão nada além de esforços perdidos.
E quando tais energias negativas não atingem o destino, retornam por natural efeito à origem de onde emanaram, atingindo aquele que a emitiu, que se encontra no mesmo padrão inferior por ter sido o foco de tal emanação.

O mal invariavelmente volta para quem o pratica.
Não importe que demore a acontecer.
Isso sempre acontecerá para que cada um aprenda a conhecer o sabor do fruto que semeou.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:26 am

Vendo que as oportunidades do aprendizado se aproximava daqueles que se deixavam envolver pelo antro de maldades, Félix acrescentou:
— Apesar de todo o mal que estaremos observando nas atitudes e nos efeitos dolorosos que derivam dos actos negativos, o Bem procurara atender ao maior número de Espíritos para colocá-los na posição de acordarem diante de si próprios.
Em breves dias, segundo nos informaram nossos Superiores estaremos agindo no sentido do cumprimento de nossa tarefa junto a estes irmãos.

Entendendo que havia um planeamento superior, Magnus comentou:
— Quer dizer, então, que não estamos aqui sem uma linha de acção?
— Ora, Magnus, por que a admiração?
Se nossos irmãos ignorantes, para praticarem o mal, se ocupam em planejar suas acções como já vimos na Organização e seus Departamentos, por que nós. lidadores com as forças do Amor, deveríamos desprezar semelhante medida?

Não acredita você que, com muito mais sabedoria, as forças do Bem são capazes de ver à distância e actuar no momento exacto?
Aliás, meu filho, quanto mais a evolução da alma seja patente, maior será o seu cuidado na organização dos eventos a que seja vinculada a sua actuação, com a finalidade de que, naquilo que se faça possível e respeitada a liberdade de acção das criaturas, os caminhos do Bem se desfraldem para todos, rompendo as algemas do mal.

Tudo aqui começou, à nossa vista, como um descaso de uma esposa infeliz, iludida pela visão onírica de um melhor partido para seu coração.
Daí tudo desdobrou-se.
No entanto, quanto mais elevados se tornam os Espíritos, mais do alto podem ver e entender os verdadeiros motivos ocultos por detrás de uma esposa infeliz e de um marido imaturo e ambicioso.

Quando compreendermos estas realidades, cada um de nós será capaz de ver mais profundamente e, com isso, planear com mais cuidado todo o processo de resgate dos aflitos do mundo.
Sexualidade desregrada, afectividade frustrada, infelicidade material ou moral, tudo isso pode parecer a causa de muitos desastres.
No entanto, quando aprofundamos a análise de sua origem, constataremos que há factos mais graves que precisam ser medicados, situações mais dolorosas que ainda não eram do nosso conhecimento.

Se nos ocuparmos em atender apenas à dor do coração ferido, a remediar um prazer sexual mal exteriorizado, a satisfazer uma necessidade material imediata, deixaremos escapar a possibilidade de ajudar a todo o conjunto dos sofredores envolvidos naquelas questões.

O que vale mais, Magnus, tratar a febre que fustiga o corpo ou tratar a infecção que provoca a febre?
E para tratarmos a infecção, muitas vezes não podemos usar medicações que inibam a febre a fim de que não mascaremos os sintomas e dificultemos o tratamento eficiente da verdadeira causa.

É melhor deixar a febre presente por um tempo, ainda que controlada, do que permitir ao organismo o estado de normalidade na temperatura, enquanto a infecção se alastra, colocando em risco a vida do corpo.

Assim é que o Bem actua.
Por isso é que, enquanto os ignorantes e maldosos se reúnem em Organizações canhestras e Departamentos desajustados, a acção do Bem, a benefício dos próprios maus, se alonga no tempo, a fim de que, no momento adequado, tudo se transforme em um maior número de almas amparadas pelas bênçãos do despertamento.

Se não fosse assim, Deus não seria igualmente Misericordioso para com todos os seus filhos, principalmente para com aqueles que se afastaram do bom caminho.
Entende?

E como a hora não permitiria maiores revelações, todos se calaram, voltando sua atenção para as personagens do drama humano, geralmente mais inocentes do que más, ainda que se pudesse presumir o contrário de suas atitudes.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:26 am

29 - EXPLICANDO, OBSERVANDO E REFLECTINDO

Estudando as inolvidáveis lições contidas em “O Livro dos Espíritos”, encontraremos observações preciosas a respeito do processo de interferência com que os nossos irmãos desencarnados se imiscuem em nossas existências terrenas.

Nas perguntas 470 e 472 poderemos encontrar rico manancial de informações, tão rico que, dentro do teor dos factos que têm marcado a trajectória de nossas personagens até aqui, vale trazê-los ao seu conhecimento, prezado leitor.

470 - Os Espíritos que procuram nos induzir ao mal e que, assim, colocam em prova nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer?
E se é uma missão que cumprem, onde está a responsabilidade?


Resposta - Nunca o Espírito recebe a missão de fazer o mal.
Quando ele o faz é por sua própria vontade e, por conseguinte, lhe suporta as consequências.
Deus pode deixá-lo fazer para vos experimentar, mas não lhe ordena, e está em vós repeli-lo.

472 - Os Espíritos que querem nos excitar ao mal o fazem aproveitando das circunstâncias em que nos encontramos ou podem criar essas circunstâncias?

Resposta - Eles aproveitam a circunstância, mas, frequentemente, a provocam, compelindo-vos, inconscientemente, ao objecto da vossa cobiça.
Assim, por exemplo, um homem encontra sobre seu caminho uma soma de dinheiro.

Não creiais que foram os Espíritos que levaram o dinheiro para esse lugar, mas eles podem dar ao homem o pensamento de dirigir-se a esse ponto e, então, lhe sugerem o pensamento de se apoderar dele, enquanto outros lhe sugerem o de entregar esse dinheiro àquele a quem pertence.
Ocorre o mesmo em todas as outras tentações.

Dessas duas perguntas e suas respectivas respostas, podemos entender o quanto nossa conduta, como Espíritos encarnados, é livre.
Como se pôde ver até aqui, todas as atitudes de nossas personagens foram o exercício de seu livre-arbítrio, na manifestação de suas vontades e caprichos, desejos e prazeres.

Talvez lhe ocorra, querido(a) leitor(a) tratar-se, a presente história, de uma temática imprópria para um livro que busque elevar as vibrações espirituais dos que a ele tenham acesso.
Observar a sexualidade adulterada nos jogos de sedução e conquistas, nas formas mentirosas de expressão da afectividade, envolvidas pelo cipoal dos interesses escusos, no desejo de tomar, de obter vantagens, de gozar desmesuradamente, de se permitir todo tipo de excessos, pode fazer enrubescer algum leitor mais pudico e que pretendia ver, na obra literária, tão somente o refúgio da fantasia ou da realização do mundo.

Longe de nós o desejo de constranger ou de ferir as sensibilidades.
No entanto, importa afirmar que é preciso pensar sobre certos assuntos para melhor entender seus mecanismos e auxiliar no combate das dolorosas consequências que surgem quando se faz vista grossa sobre eles.

Em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que a presente história, se comparada às centenas de outras verídicas que encontramos nos nossos anais espirituais, grotescas, violentas, horripilantes e animalescas, mais se parece a um programa infantil para crianças pré-escolares.

As dores e os dramas experimentados pelos encarnados e testemunhados por todos os Espíritos que os amam na vida verdadeira são uma página dolorosamente repetida quando se referem à sexualidade e à afectividade em geral.

Em segundo lugar, querido(a) leitor(a), olhe à sua volta e verifique se não há algo de doentio em uma sociedade que se vale do recurso da sexualidade para fazer propaganda até de uma caixa de fósforos?

Não estará falhando a vigilância humana quando as forças do Espírito procuram elevar os seres para a superioridade moral, ao mesmo tempo em que são eles bombardeados por todos os lados com imagens, cenas, apelos e chantagens envolvendo a sedução, a provocação e a sexualidade em todas as suas formas?

O que pensar do discurso pacifista que se fundamentasse na produção de canhões e metralhadoras?
E da propaganda da honestidade feita por criaturas notadamente desonestas?

As consequências desse anacronismo, dessa contradição correspondem directamente a uma sociedade confusa e sem direcção moral, que não sabe o que defender e que não tem opinião própria suficientemente forte para decidir o que deseja para seus dias futuros.

É certo que todo tipo de construção arbitrária, baseada no moralismo ou puritanismo danificam ou adulteram a noção racional de liberdade de escolha.
No entanto, quando as pessoas se permitem relativizar todos os conceitos e valores, estaremos caminhando para uma sociedade amorfa onde tudo é válido desde que corresponda à vantagem matéria almejada.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 31, 2014 9:26 am

Se esse é o seu pensamento, assuma-se diante das condutas que acha corretas e adopte-as à luz do dia, arcando com os efeitos materiais e espirituais daí decorrentes.
Se seu pensamento é contrário ao que estamos observando no cenário do mundo, assuma-se e exemplifique em você mesmo a sua opção, sem desrespeitar os que escolheram outros caminhos, mas, da mesma maneira, sem se permitir ajustar-se à maioria dissoluta, apenas por ser algo mais confortável de se fazer.

O presente relato, longe de ressaltar o aspecto da lama moral em que boa parte das pessoas se permite, fingindo estar entre veludos e sedas, tem a função de demonstrar como é que o esforço do Bem é incansável para ajudar o encarnado a evitar o abismo, a fugir da queda e a diminuir os riscos que uma vida irresponsável representa a quem a vive, diante das repercussões inflexíveis da lei de causa e efeito.

É uma forma de acordar seu coração para comunicar-lhe um fato inegável:
— Todos nós sabemos o que você está fazendo.
Até quando somente você é que será o único enganado?

Entretanto, mais do que sabermos de todas as fraquezas humanas, porta aberta para a acção das entidades semelhantes, gostaríamos que não se esquecessem de que não nos apresentamos como juízes a estabelecerem sentenças condenatórias e punições arbitrárias.

Para nós já serão suficientes as dores da consciência pesada no íntimo de cada um.
Estaremos ao lado de vocês como irmãos que os visitam nos prostíbulos do mundo para salvá-los da prostituição, seja ela de baixo nível, seja ela das altas rodas sociais.

Estaremos ao lado de cada um como suas testemunhas vivas e como enviados de Deus para ingressarmos nos antros em que os homens se metem com a desculpa de ir buscar o prazer, mas onde se deixam arrastar pelas insanidades das orgias, tentando salvar cada irmão do resvaladouro doloroso do erro, ainda que, para isso, tenhamos que suportar os mais deturpados ambientes.

Estaremos como companheiros fiéis a chorar pela queda moral dos seres que amamos, orando ao Pai, como o fizera o próprio Cristo, solicitando a sua piedade para cada tutelado, alegando a ignorância ou a demência do Espírito, como se repetíssemos a triste e conhecida frase:
"perdoa-os, Pai, pois eles não sabem o que fazem".

Nós os amamos, acima de todas as coisas.
Que isso possa servir de alimento para que vocês também se amem a si mesmos, respeitando-se nas atitudes que escolhem para seus dias, não mais com a ideia de que sejam os Espíritos malignos, “os diabos”, as entidades trevosas, os culpados pelas suas desditas.

Se um desejo de explorar o próximo, de envolvê-lo em teias sedutoras para fraudar seus sentimentos tomar conta de seu íntimo, não se desculpe mais com as antigas desculpas:
— Todo mundo faz isso....
— A vida é assim mesmo....
— Melhor aproveitar enquanto é tempo...
— Se você não fizer, outro vai fazer....
— Que cada um aprenda com o próprio sofrimento...

— Ninguém vai ficar sabendo...
Saiba que se você persistir nesse caminho, encontrará:
— o destino que todo mundo encontra: a dor;
— verá que a vida é o que você terá feito dela:
angústias e lágrimas, — o tempo não deixará de lhe apresentar a conta a ser paga, — o mesmo destino que o outro encontrou:
a vergonha de ter feito o que fez, — o sofrimento como seu próprio professor.
— uma nuvem de testemunhas espirituais que lhe acompanha os passos, atenta, além de não conseguir fraudar ou enganar a própria consciência que bem sabe o que você resolveu fazer.

Todas as teias da presente narrativa poderiam ser alteradas pelos próprios encarnados se tivessem escolhido melhor seus caminhos, como nos ensina a doutrina dos Espíritos.
Buscando semear em nossos corações uma noção elevada de vida, responsável e límpida, a revestir a afectividade com a ternura da verdade, a euforia da alegria, a doçura do calor e o selo da felicidade, o cristianismo espírita tem tentado acordar nos corações de boa fé.

Os homens são livres para trilhar todos os caminhos que quiserem.
No entanto, nem todos produzirão a tão esperada satisfaça: afectiva duradoura.

Sabendo, então, do futuro encontro de Marcelo com Sílvia em um ambiente destinado a tais posturas licenciosas e clandestinas, Marisa arquitectou seus passos no sentido de envolver Glauco naquele momento especial, com a finalidade, como já dissemos, de colocá-lo na situação perigosa, conforme lhe tinha sido orientado por dona Mér.

Ao mesmo tempo, os mesmos Espíritos empenhados na construção da trama vingadora se acercavam de Luiz, o irmão de Gláucia e futuro cunhado de Glauco que, vivendo uma vida dupla entre conflitos e emoções desajustadas, insatisfeito com ambas as maneiras de ser, aceitara canalizar para o noivo de sua irmã a responsabilidade por sua infelicidade, uma vez que, desde o fatídico e casual encontro que tiveram e que revelara a sua condição sexual ambígua, a vida de Luiz se convertera em uma montanha de suplícios e angústias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:25 am

Passara a fugir dos encontros familiares onde deveria enfrentar o olhar do cunhado, agindo na defensiva e amedrontado pelo fantasma da descoberta de sua dúplice condição sexual.
Lembramo-nos da influência do Espírito Jefferson, que comandava junto a Luiz a acção das entidades obsessoras, a estimular suas sensações e a mantê-lo na corda bamba da dúvida e da insegurança quanto à sua própria definição sexual.

Isso martirizava a sua consciência e, nesse ambiente conturbado, Jefferson conseguira semear o medo, colocando Glauco como o responsável por todas as angústias de Luiz.

Incapaz de examinar as coisas pelo prisma da verdade e assumir para si mesmo a responsabilidade pelas suas escolhas, transportara a culpa por suas dores morais para o noivo de sua irmã que, a partir de então, assumira em seus pensamentos a condição de destruidor de felicidade.

Aproveitando-se de tal estado de alma, o trio composto pelo Chefe, por Juvenal e por Gabriel, o Aleijado, passou também a exercer sua influência sobre Luiz, sugerindo-lhe a necessidade de colocar um ponto final nessa angústia.

Sugeriam-lhe intuitivamente que fosse procurar o futuro cunhado rara um ajuste definitivo, fosse para ouvir sua opinião sobre o flagra acontecido algum tempo antes, fosse para saber o que Glauco pretendia fazer sobre tal conhecimento.

Assim, durante os dias que se seguiram, as entidades exerceram todo o tipo de pressão psíquica sobre um Luiz invigilante e fragilizado, aconselhando-o sobre a necessidade de um encontro pessoal.

No início, Luiz lutava contra essa ideia, vergastado pela vergonha de encontrar o rapaz e ter que ficar exposto a indagações constrangedoras.
No entanto, entendendo a sua personalidade frágil, necessitada de consolo e um pouco de sossego, o Chefe, astuto e inteligente, incutira em seus mais profundos pensamentos a possibilidade de Glauco não ter se incomodado com o que vira, de não estar guardando aquele fato como um trunfo ou uma arma de ataque.

— Vá até Glauco, seu bobão, ele vai até aliviar o seu lado da culpa, principalmente porque você é o irmãozinho querido da noiva que ele ama... — induzia-lhe mentalmente o Chefe.
— Isso mesmo — repetia Juvenal — vá lá e veja que ele não vá tratá-lo como um criminoso... afinal, foi só um beijinho inocente....

Essas palavras caíam no íntimo de Luiz como a possibilidade de entendimento que ele tanto almejava, como uma forma de ajuda para sair daquela confusão afectiva em que se encontrava.
No entanto, Luiz tinha uma personalidade altiva e orgulhosa, o que o fazia imaginar Glauco como uma ameaça perigosa.

Isso espelhava a forma de ser do próprio Luiz.
Ele estava sempre pronto para valer-se das notícias negativas que lhe caíam nos ouvidos para usá-las como instrumento de barganha ou de exposição ao ridículo de qualquer pessoa que lhe atravessasse o caminho.

Extremamente crítico para com a conduta alheia, agora, no entanto, se via vulnerável em suas próprias atitudes, imaginando que Glauco poderia fazer com ele as mesmas coisas que ele sempre fizera com outras pessoas.

Por isso, a dor de se ver nas mãos do futuro cunhado.
Pressionado pelas sugestões espirituais insistentes e, longe de se valer de qualquer recurso positivo da oração, Luiz acabou acalentando a ideia de ir encontrar-se com o noivo de sua irmã, ao menos para colocar a limpo aquela situação.

Dentro dos planos das entidades inferiores, deveria estar no escritório de Glauco no mesmo dia em que Marisa lá comparecesse, para a segunda entrevista.

Assim, na semana seguinte tudo iria acontecer.
Marcelo e Sílvia estariam se encontrando em um dos inúmeros motéis da cidade, acreditando-se ignorados.
Sua esposa Marisa estaria usando seus trejeitos sedutores para atacar segundo suas estratégias.

E Luiz, sabendo que Glauco costumava permanecer no escritório até o final da tarde, iria procurar o futuro cunhado no final do expediente, fim de que pudessem conversar sem serem interrompidos pela chegada de clientes inoportunos.

Já com o plano bem urdido em seus pensamentos, Marisa tomou o telefone e realizou uma chamada pessoal para dona Mércia, a fim de garantir o investimento que havia feito e que, segundo suas conversações, estaria igualmente na dependência de sua conduta, com vistas a facilitar a consecução vitoriosa de seus objectivos.

— Alô, quero falar com dona Mércia.
— Ela está ocupada — respondeu a mesma voz metálica do outro lado.
— Diga que é a sua cliente Carina e que serei rápida.

Dentro de rápidos instantes, dona Mércia veio ao telefone:
— Alô, quem fala? — perguntou a senhora, com voz cansada.
— Sou eu, dona Mércia, Carina, a moça que a procurou esta semana com os problemas afectivos...
— Mas eu sou procurada por muitas moças com esse tipo de problema...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:25 am

— Aquela que está interessada em um rapaz que é noivo, que já a consultou outra vez, há alguns anos, e que a senhora falou que precisava de algum tipo de ajuda de minha parte para que o encantamento acabasse pegando...

— Ah! Sim, aquela de cabelo loiro e pele queimada de sol?
— Isso mesmo...
Olha, estou ligando para falar à senhora que tudo está planeado para a próxima terça-feira.
Vou fazer a minha parte e espero que, nesse dia, a senhora e seus amigos possam fazer a parte de vocês.

— Sim, se você fizer o que lhe compete, tudo ficará menos complicado e as chances de sucesso serão bem maiores.
Não se esqueça do perfume....

Sem entender o conselho, Carina respondeu:
— Perfume? Que perfume?
— Sim, Carina, o perfume que você comprou, igual ao perfume que a noiva do rapaz usa...
— Mas como é que a senhora sabe disso se eu não fale para ninguém que tinha comprado?
— Você se esquece que sou uma profissional?

Assustada com a exactidão da informação, Marisa/Carina suspirou bem fundo, arrepiada e falou:
— Tudo bem, já separei o perfume e espero que seus operários invisíveis estejam a postos.
A senhora precisa do endereço do nosso encontro para que eles não errem o lugar?

— Não, minha filha, eles já sabem onde será o trabalho.
Depois que tudo acontecer, volte aqui para a gente terminar de acertar as coisas.
Entendendo que "coisas" ainda ficariam pendentes de algum acerto, Marisa/Carina respondeu:
— Tudo bem, depois eu passo por aí...
— Tchau...

Suando frio diante das perspectivas perfeitas que se desdobravam perante seus olhos imaturos e seus sentimentos infantis, Marisa esfregou as mãos com ares de contentamento e afirmou:
Essa mulher tem é parte com o demo... saber de todas estas coisas sem eu falar nada... acho que peguei a pessoa certa para conseguir o que quero.
E se tudo sair como desejo, até que ela merece um pagamento a mais para compensar o seu serviço.

É bom não ficar devendo favor para uma feiticeira como ela...
Com gente assim, é melhor ser amiga do que inimiga.
E com Glauco na mão, não preciso de mais nada.
Por isso, tudo estava ajustado nas mentes dos encarnados, sem imaginarem os desdobramentos dolorosos que se produziriam no caminho de todos.

Em casa, desde o aviso recebido no centro espírita, Olívia se tornara mais cuidadosa com as palavras, com as atitudes de irritação e manifestava suas opiniões sempre com cuidado para que elas não fossem estopim para desavenças.

Acercando-se de Gláucia, com quem mantinha conversa afinizada sobre os temas espirituais, Olívia deu-lhe a conhecer o alerta que recebera, buscando auxiliar a filha nos momentos difíceis que se aproximavam, sem, contudo, especificar sobre o que eles se referiam.

Certamente estariam ligados ao seu afecto em relação ao noivo, nas, acima de tudo, a palavra espiritual lhe solicitava a postura equilibrada e favorável para que não se deixasse envenenar ou abater por quaisquer circunstâncias.

Somente assim é que seu afecto demonstraria potencial de elevação e pureza reais, a suplantarem as forças pantanosas da inferioridade e alçar voo nas dimensões luminosas do Espírito.
Olívia relatava com as palavras amistosas da mãe que, interessada em amparar a filha igualmente envolvida nas tramas de um destino ainda desconhecido, o fazia sem procurar amargurá-la ou assustá-la.

— Confiemos em Deus, Gláucia.
Nas horas escuras da vida, o sol continua a brilhar em algum local do firmamento e, mais cedo ou mais tarde, a alvorada voltará a surgir em nosso horizonte.
Não nos deixemos apavorar.
Saibamos esperar, porquanto ante a luz da Verdade, todas as brumas de nossas dúvidas e ressentimentos são afastadas, sem violência ou terror, vingança ou crime.

Escutando a palavra serena de Olívia, Gláucia concordava:
— Sim, mãe, tenho sempre em meu coração essa advertência a vigiar meus pensamentos.
No entanto, é um aviso que nos causa uma aflição, porquanto por mais atentos que estejamos, não poderemos evitar o que venha a ocorrer.
Parece-me que esse é o teor do alerta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:26 am

— Sim, filha.
Eu também entendi as coisas por esse lado.
É uma advertência cuja finalidade é a de nos preparar para uma tempestade que está chegando e que não pôde ser afastada pelas autoridades que nos velam os destinos.
Teremos que passar por ela e, assim, convém que nos abasteçamos com os víveres importantes para a alma, na consagração dos princípios de tolerância e compaixão, entendimento e perdão que constam dos itens do armazém de Jesus e que devem ser usados sem restrições ou medidas.

E tudo, pelo que parece, segundo os avisos que recebi, envolverá também o nosso Glauco, seu irmão Luiz e, por via de consequência, a todos nós que os amamos.

Entendendo que o alerta fora claro, ainda que não houvesse sido preciso quanto ao momento e ao tipo de testemunho que se abateria sobre o grupo, Gláucia complementou:
— Bem, agradeçamos aos amigos espirituais que nos ajudam e com paciência e prudência, saibamos esperar por qualquer coisa com a alma lúcida e sem ansiedades, porque se estamos alertas, não poderemos nos queixar da surpresa.

— Isso é o mesmo que tenho pensado, filha.
Vamos mais ao centro abastecer-nos com as vibrações de carinho desses amigos que nos amparam e não tenhamos medo de nada, sem nos conduzirmos com arrogância ou insolência diante das provações.
Quando tudo tiver passado, estaremos mais fortes e decididas na estrada a seguir.

Concordando com a progenitora, Gláucia relembrou:
— Continuemos a fazer nosso evangelho em família porque a senhora sabe que só jogo de futebol é que tira papai de casa.
Trazer a oração para o nosso lar, também será uma forma de fortalecer a sua própria defesa nas horas difíceis que, como nos disseram, irá abater-se sobre ele também.
— Isso mesmo... terça-feira estaremos aqui, novamente.

Na outra semana, a terça-feira estava reservando inúmeras emoções para as personagens que acompanhamos.
Marcelo e Sílvia desfrutariam os prazeres carnais livremente, escolhendo, inclusive, o lugar.
Marisa estabeleceria o plano de ataque segundo seu desejo de seduzir o rapaz cobiçado, valendo-se da entrevista com ele reservada.

Aproveitando-se das circunstâncias, induzido pelas entidades negativas Luiz compareceria no escritório de Glauco para acertar-se com o futuro cunhado.

Todos eles, no entanto, poderiam alterar seus caminhos, escolhendo outros comportamentos.
Nenhum deles fora obrigado pelas entidades perturbadoras a agir daquela forma.
Todos aceitaram passivamente seus conselhos.

Por sua vez, Olívia, Gláucia e Glauco estariam na oração em família.
A terça-feira, dessa forma, poderia não ser o que acabou se tornando para todos, encarnados e desencarnados.

Cada um paga um preço para que possa crescer segundo seus interesses pessoais.
Uns suam, outros choram, mas todos evoluem, de um jeito ou de outro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:26 am

30 - TERÇA-FEIRA I O ESCRITÓRIO DE GLAUCO

Enfim, chegara a tão esperada oportunidade para que Marisa pudesse, por fim, dar início à aproximação directa, conforme seus planos.

Naquele momento, tudo estava em jogo, sobretudo por saber que o marido a estava traindo, inclusive com hora e lugar marcados.
Para conseguir o clima de que necessitava, Marisa aproveitou-se de sua condição física, já modelada pelos exercícios e pelo estilo "Gláucia" que havia adoptado, buscando tornar ainda mais exuberantes suas formas.

No entanto, sobre as peças íntimas provocantes e sensuais, preferiu vestir uma roupa menos provocante, mas que, de forma muito fácil, pudesse ceder aos seus movimentos, na exacta hora em que fosse necessário livrar-se delas.

Em sua maneira de planejar, tudo já estava bem delineado.
Assim, tanto a sua veste exterior deveria ser informal e discreta, quanto deveria ser extremamente provocante aquela que, fatalmente, deveria despertar o interesse de Glauco, por ser irresistível e atraente.

Tomando cuidado com todos os detalhes, Marisa tratou de escrever o endereço detalhado do motel no qual seu marido estava com a outra mulher em um encontro íntimo, incluindo o número da suíte, ao mesmo tempo em que providenciou um pequeno revólver, que daria o contorno trágico no cenário.

Com tudo preparado, a esposa de Marcelo dirigiu-se para o encontro com o consultor de empresas, cuidando de usar, também, pesada maquiagem, que ressaltava os traços abatidos de um rosto que precisaria transparecer preocupação, uma dor moral incontida, compatível com o estado de desespero que ela encenaria diante do rapaz.

Olheiras, cabelo um pouco descuidado, atmosfera triste, nervosa, mãos trémulas, tudo estava composto para que Glauco pudesse perceber a sua condição de desequilíbrio iminente.

Chegou ao escritório um pouco antes do horário previsto.
Enquanto esperava, demonstrava insatisfação para a secretária que se encontrava na antessala.
Sabendo que Glauco estava sozinho, a jovem, através do interfone, fez chegar ao seu chefe a informação da presença da cliente na recepção, ocasião em que, através do próprio aparelho, o rapaz solicitou que a conduzisse até o interior do escritório.

A sala de espera se localizava a certa distância dali, de forma que as pessoas que estavam aguardando não podiam ser vistas pelos que se achavam no interior de seu posto de trabalho, ao mesmo tempo em que a sua posição estratégica permitia a saída sem que fosse necessário passar pelo local onde clientes estavam esperando o atendimento.

Assim que foi conduzida ao interior do escritório de Glauco, Marisa incorporou o papel da mulher desesperada e que está à beira de um colapso moral.
Seu tremor e sua aparência denunciavam uma pessoa constrangida por sérios problemas, o que não passou desapercebido pelo rapaz.

— Sente-se, Marisa — disse ele, levantando-se para recebê-la, cortês.
— Obrigada. Estou mesmo precisando sentar um pouco.
— Nossa, você está parecendo muito nervosa.

— É, Glauco, as coisas não andam bem.
— É por isso que nós marcamos esse encontro, para que eu lhe explicasse os trâmites a serem adoptados para a obtenção das autorizações e demais exigências para a abertura da empresa, conforme você me solicitou.
— Isso mesmo — respondeu, monossilabicamente.

Vendo o tremor de Marisa, antes de dar início à explicação do caso, solicitou que a secretária providenciasse um pouco de água com açúcar para a jovem.

Enquanto isso estava sendo atendido, as entidades que acompanhavam a cena, principalmente aquelas que a Organização destacara para o processo de influenciação de Glauco, as mesmas que haviam sido admitidas no culto do evangelho na casa de Olívia semanas antes, se postavam atentas para que as atitudes das personagens pudessem favorecer aos seus interesses.

Sabendo que Marisa iria contar com o apoio dos Espíritos infelizes que assessoravam dona Mércia, todos a postos para agir segundo os objectivos almejados pela jovem, o Chefe e Juvenal, observados por Gabriel, organizavam o restante do plano trevoso, auxiliando Jefferson, a entidade obsessora de Luiz.

Reforçaram no rapaz a necessidade de procurar o futuro cunhado para um encontro mais íntimo, onde as explicações de parte a parte poderiam colocar um ponto final naquele estado difícil em que se via envolvido.

Assim, cronometrando os encontros, as entidades trevosas haviam cuidado para que Luiz chegasse ao escritório mais ao final da tarde, a fim de que seus intentos pudessem ser favorecidos com os acontecimentos em curso, envolvendo Marisa e Glauco.

No interior do escritório, Glauco deixara de lado a pretensão de explicar as questões técnicas para as quais havia sido contratado, a fim de conseguir acalmar a agitada cliente, solicitando, inclusive, a ajuda da própria secretária.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:26 am

30 - TERÇA-FEIRA I O ESCRITÓRIO DE GLAUCO

Enfim, chegara a tão esperada oportunidade para que Marisa pudesse, por fim, dar início à aproximação directa, conforme seus planos.

Naquele momento, tudo estava em jogo, sobretudo por saber que o marido a estava traindo, inclusive com hora e lugar marcados.
Para conseguir o clima de que necessitava, Marisa aproveitou-se de sua condição física, já modelada pelos exercícios e pelo estilo "Gláucia" que havia adoptado, buscando tornar ainda mais exuberantes suas formas.

No entanto, sobre as peças íntimas provocantes e sensuais, preferiu vestir uma roupa menos provocante, mas que, de forma muito fácil, pudesse ceder aos seus movimentos, na exacta hora em que fosse necessário livrar-se delas.

Em sua maneira de planejar, tudo já estava bem delineado.
Assim, tanto a sua veste exterior deveria ser informal e discreta, quanto deveria ser extremamente provocante aquela que, fatalmente, deveria despertar o interesse de Glauco, por ser irresistível e atraente.

Tomando cuidado com todos os detalhes, Marisa tratou de escrever o endereço detalhado do motel no qual seu marido estava com a outra mulher em um encontro íntimo, incluindo o número da suíte, ao mesmo tempo em que providenciou um pequeno revólver, que daria o contorno trágico no cenário.

Com tudo preparado, a esposa de Marcelo dirigiu-se para o encontro com o consultor de empresas, cuidando de usar, também, pesada maquiagem, que ressaltava os traços abatidos de um rosto que precisaria transparecer preocupação, uma dor moral incontida, compatível com o estado de desespero que ela encenaria diante do rapaz.

Olheiras, cabelo um pouco descuidado, atmosfera triste, nervosa, mãos trémulas, tudo estava composto para que Glauco pudesse perceber a sua condição de desequilíbrio iminente.

Chegou ao escritório um pouco antes do horário previsto.
Enquanto esperava, demonstrava insatisfação para a secretária que se encontrava na antessala.
Sabendo que Glauco estava sozinho, a jovem, através do interfone, fez chegar ao seu chefe a informação da presença da cliente na recepção, ocasião em que, através do próprio aparelho, o rapaz solicitou que a conduzisse até o interior do escritório.

A sala de espera se localizava a certa distância dali, de forma que as pessoas que estavam aguardando não podiam ser vistas pelos que se achavam no interior de seu posto de trabalho, ao mesmo tempo em que a sua posição estratégica permitia a saída sem que fosse necessário passar pelo local onde clientes estavam esperando o atendimento.

Assim que foi conduzida ao interior do escritório de Glauco, Marisa incorporou o papel da mulher desesperada e que está à beira de um colapso moral.
Seu tremor e sua aparência denunciavam uma pessoa constrangida por sérios problemas, o que não passou desapercebido pelo rapaz.

— Sente-se, Marisa — disse ele, levantando-se para recebê-la, cortês.
— Obrigada. Estou mesmo precisando sentar um pouco.
— Nossa, você está parecendo muito nervosa.

— É, Glauco, as coisas não andam bem.
— É por isso que nós marcamos esse encontro, para que eu lhe explicasse os trâmites a serem adoptados para a obtenção das autorizações e demais exigências para a abertura da empresa, conforme você me solicitou.
— Isso mesmo — respondeu, monossilabicamente.

Vendo o tremor de Marisa, antes de dar início à explicação do caso, solicitou que a secretária providenciasse um pouco de água com açúcar para a jovem.

Enquanto isso estava sendo atendido, as entidades que acompanhavam a cena, principalmente aquelas que a Organização destacara para o processo de influenciação de Glauco, as mesmas que haviam sido admitidas no culto do evangelho na casa de Olívia semanas antes, se postavam atentas para que as atitudes das personagens pudessem favorecer aos seus interesses.

Sabendo que Marisa iria contar com o apoio dos Espíritos infelizes que assessoravam dona Mércia, todos a postos para agir segundo os objectivos almejados pela jovem, o Chefe e Juvenal, observados por Gabriel, organizavam o restante do plano trevoso, auxiliando Jefferson, a entidade obsessora de Luiz.

Reforçaram no rapaz a necessidade de procurar o futuro cunhado para um encontro mais íntimo, onde as explicações de parte a parte poderiam colocar um ponto final naquele estado difícil em que se via envolvido.

Assim, cronometrando os encontros, as entidades trevosas haviam cuidado para que Luiz chegasse ao escritório mais ao final da tarde, a fim de que seus intentos pudessem ser favorecidos com os acontecimentos em curso, envolvendo Marisa e Glauco.

No interior do escritório, Glauco deixara de lado a pretensão de explicar as questões técnicas para as quais havia sido contratado, a fim de conseguir acalmar a agitada cliente, solicitando, inclusive, a ajuda da própria secretária.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:26 am

Isso fez com que todos os seus pertences, máquina fotográfica, chaves, objectos estéticos, documentos, incluindo o pequeno revólver acabassem dispostos sob os olhares de Glauco.
Por fim, encontrou o papel e entregou-o ao rapaz.

Enquanto o desdobrava, ia observando a alteração emocional de Marisa, atentando, agora, para a arma de fogo que ali poderia estar indicando a possibilidade da mulher traída adoptar alguma medida extrema de vingança.

Apesar de abrir o pedaço de papel no qual se podia ler um endereço, com horário e demais detalhes bem definidos, escrito por uma letra trémula e indecisa, Glauco mantinha-se atento aos movimentos de Marisa que, mais do que depressa, como se desejasse ocultar alguns de seus pertences, passou a recolher tudo o que havia deixado à mostra, iniciando pela própria arma de fogo.

— É verdade, Marisa, aqui está um endereço e a marcação de um encontro... mas você está certa de que se trata de um motel?
Não pode ser a casa de algum cliente ou o escritório de algum advogado?

— Só se for cliente um promíscuo ou advogado de bordel, porque eu passei inúmeras vezes, pessoalmente, nesse endereço e constatei com meus próprios olhos que se trata de um local para encontros clandestinos.
Além do mais, desde quando alguém marca um encontro desses para tratar de negócios dentro de uma suíte?
Ainda que meu marido fosse advogado do proprietário do motel, esse encontro não seria em um de seus quartos, seria no escritório da "empresa".

Não tendo como negar razão aos seus argumentos, Glauco, agora mais nervoso e preocupado do que antes, passou a tentar contemporizar.

— Isso ainda não quer dizer que Marcelo a esteja traindo, Marisa.
— É, Glauco, os homens são sempre assim.
Se protegem até onde der para enganar as tolas de suas mulheres...
Mas para não deixar de lhe dar razão, hoje mesmo eu irei constatar essa verdade.

Por isso, passei aqui para lhe pedir que não faça mais nada em meu caso porque pressinto que será perda de tempo.
Hoje as coisas se definirão... de um jeito ou de outro...

Imaginando que essa vaga referência poderia dizer respeito ao uso da arma de fogo, Glauco afirmou:
— Você não deve pensar em fazer nada que piore a situação, Marisa.
Percebi que você está armada e, nessas horas, tais instrumentos não nos ajudam em nada...

Tentando justificar a presença do revólver em suas coisas, Marisa respondeu, indiferente:
— Ora, Glauco, esse revólver sempre esteve comigo em minha bolsa.
— Pode ser, minha amiga, mas talvez você nunca tenha estado em uma crise tão dura como esta.

— Você está me chamando de desequilibrada?
— Não, Marisa. Estou, apenas, tentando fazer você pensar que isso pode ser perigoso para todos.
— Mas eu não vejo perigo nenhum. Como você viu nesse papel, às dezoito horas de hoje, tudo estará revelado.
Eu vou estar lá no mesmo motel, de preferência na suíte mais próxima, para poder sair e dar o flagra nos dois safados....

Falando isso, Marisa gesticulava nervosa, movendo as mãos, embaraçando os dedos, vitrificando o olhar no vazio, como se estivesse se deleitando com as imagens mentais que criava, apontando para o pior cenário que qualquer pessoa lúcida poderia entrever ou imaginar.

Vendo que Marisa não estava emocionalmente equilibrada e que, daquele estado poderia decorrer uma tragédia para todos, inclusive para ela própria, Glauco consultou o relógio e se deu conta de que já passava das dezassete horas.

Restava apenas uma hora para que conseguisse impedir uma tragédia anunciada.
Não tinha, entretanto, como violentar a vontade da cliente que, decidida, já dava mostras de ansiedade, diante do avançado da hora.

Enquanto isso tudo estava acontecendo no interior do escritório, Luiz chegou para o já mencionado entendimento com o futuro cunhado, sem, contudo, identificar-se como tal, preferindo passar, apenas, por um amigo que precisava de alguns conselhos profissionais, que viera sem marcar horário.

Tendo sido encaminhado pela secretária para a sala de espera, foi informado de que Glauco estava muito ocupado com uma cliente em dificuldades e que, por isso, não poderia interrompê-lo.

Reconhecendo que não houvera marcado horário para o atendimento previamente, preferiu sentar-se e esperar, folheando, nervosamente, alguma revista que lhe estava à mão.
Enquanto isso, lá no interior da sala, escutava, eventualmente, o timbre da voz do rapaz acompanhado natureza sonora, identificou ser, realmente, a de uma mulher em desespero.

Não atinava sobre o conteúdo do assunto, mas dava para perceber, perfeitamente, que a mulher estava descontrolada, no mínimo, afoita demais.
Interessado por todos os lances e mantendo a atenção em tudo o que ocorria por força da intuição que os Espíritos obsessores lhe transmitiam, não demorou para escutar o interfone soar com um pedido de Glauco à secretária.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:27 am

Lá no interior, o rapaz deliberara acompanhar a desequilibrada moça até o local onde pretendia dar o flagra em seu esposo, com a finalidade de evitar uma tragédia maior, fosse a do duplo homicídio, ou a do suicídio da jovem.

Determinado a ajudar na situação que lhe parecia crítica, solicitou à funcionária que procurasse telefonar para a casa de sua noiva a fim de que pudesse falar com ela, antes de tomar qualquer atitude, no sentido de explicar a gravidade do caso e de não esconder nada de Gláucia.

— Um minutinho, Senhora Olívia, por favor, vou informar Dr. Glauco.
Espere na linha um instante, sim...
— Dr. Glauco, dona Olívia está informando que Gláucia ainda não chegou em casa... — disse a secretária, sem saber que Luiz a estava escutando na sala de espera.

Sem entender o que estava acontecendo, mas achando estranho que aqueles nomes fossem pronunciados ali, justamente no momento em que estava esperando por Glauco, redobrou sua atenção para tentar decifrar o conteúdo da conversa.

— Sim, pode deixar... — respondeu a funcionária.
Ela está na linha, esperando uma posição do senhor... pode deixar que eu direi...

Retomando a ligação que havia feito por ordem de Glauco, a secretária dirigiu-se à Olívia, do outro lado da linha, dando-lhe o recado do seu chefe:
— Dona Olívia, o doutor Glauco pediu que lhe informasse que, por gentileza, avisasse Gláucia quando de sua chegada, que ele teve um problema de última hora que o vai prender por mais tempo no escritório e que, por isso, também não poderá estar na reunião de logo mais à noite.
Disse também que, tão logo tenha resolvido tudo, telefonará para conversar com Gláucia, explicando melhor o imprevisto.

Luiz percebeu que o recado fora entendido com clareza e tudo estava acertado.
Com isso, ele próprio teria mais tempo para conversar com Glauco, depois que a mulher fosse embora.
Logo depois de ter desligado, a secretária voltou a comunicar ao seu chefe de que o recado havia sido dado como ele houvera pedido.

No entanto, para surpresa de Luiz que, nessas alturas já estava bastante interessado nos ruídos que escutava no interior da sala de Glauco, identificou que seus dois ocupantes se preparavam para sair.

Ruídos de cadeiras, persianas sendo fechadas, tudo isso demonstrava que Glauco se aprestava para deixar o ambiente.

Não tardou para que Luiz escutasse a voz de Glauco, dizendo à secretária, secamente:
— Claudete, preciso sair agora com minha cliente, mas se alguém me telefonar, diga que não posso atender.
Anote o telefone e diga que assim que me desocupar, retornarei a chamada....

— Mesmo que seja a senhorita Gláucia? — perguntou a funcionária.
— Ela não vai telefonar.
Mas mesmo que seja ela, pode dizer que estou ocupado e que, mais tarde lhe telefono.
— Sim, senhor... farei como manda.

Luiz, ouvindo aquelas informações, instigado pela própria malícia e pela da entidade que o controlava, passou a considerar muito suspeita aquela conduta de Glauco.

Primeiro telefonou para dizer que tinha um problema no escritório e que não poderia ir à reunião da oração naquela noite.
Logo depois, contrariando suas afirmativas, saiu do escritório acompanhado de outra mulher e ordenou à secretária que não dissesse a ninguém que havia saído... inclusive à própria noiva.

Os Espíritos perseguidores se alvoroçaram, envolvendo Luiz com a preocupação de seguir Glauco para descobrir seus segredos e, inclusive, proteger sua irmã contra qualquer deslize do noivo.

Assim, esperou um tempinho até que a chegada e a partida do elevador pudessem ser escutadas e, já que a secretária não o conhecia mesmo, anunciou que voltaria outro dia.

Foi somente aí que a funcionária se lembrou de sua presença.
Desculpando-se, envergonhada, informou que o próprio patrão tinha acabado de sair.

— Não tem importância, eu volto outro dia.
Além do mais, as coisas estavam meio "quentes" lá dentro — respondeu Luiz querendo ser simpático.
— É, realmente, o momento não era dos melhores... — respondeu Claudete.

Saindo do escritório, encontrou a escada.
Sabendo que naquele horário o trânsito dos que iam embora para casa congestionava o elevador, desceu o mais rápido que podia e posicionou-se dentro de seu carro para acompanhar a saída do veículo do cunhado.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:27 am

Enquanto procedia a essa proeza, seus pensamentos acelerados iam sendo estimulados com a ideia de que estaria flagrando o futuro cunhado em alguma infracção moral grave, o que lhe serviria de importante trunfo que saberia usar para desmascarar o rapaz, agora também suspeito de traição, na mente de Luiz.

E quanto mais esperava, mais Jefferson influenciava os pontos cerebrais que fustigavam as suas suspeitas, com a finalidade de que seguisse o carro de Glauco para tirar a limpo aquela situação.

O final da tarde, o carro do cunhado transportando uma bela loira com óculos escuros, a conversa despistadora de momentos antes, tudo estava se combinando para um excepcional flagrante, que reduziria o cunhado à miséria moral.

Luiz era um Espírito mesquinho e recalcado que, pressionado pelas próprias culpas, desejava ver em todos os que o cercavam, pessoas igualmente viciosas como ele, a fim de que sua baixa conduta moral acabasse justificada como algo que todo mundo fazia, também.

E o fato de Glauco ter descoberto seu comportamento homossexual gerava em seu íntimo uma natural aversão ao rapaz, porque dele se sentia refém, coisa que, agora, poderia ser revertida, caso se confirmasse a condição de infidelidade que se desenhava.

Luiz, eufórico, tratou de seguir ao encalço do veículo de Glauco por todas as ruas e avenidas que trafegava.
O horário não ajudava a velocidade do trânsito.
Por isso, não fora difícil manter a vigilância daquele casal, tanto quanto perceber que o carro se dirigia para um local distante dos tradicionais lugares frequentados por sua irmã.

Jefferson, informado pelo Chefe da trama sórdida que iria se estabelecer naquele dia, mais e mais empurrava Luiz para o resvaladouro da dúvida ou da suspeita, através do qual manteria no seu Espírito a prévia ideia de crime moral, consumado às escondidas de sua amada irmã, Gláucia.

Voltando um pouco nos eventos daquele dia, encontraremos Glauco confundido diante da possibilidade evidente de uma tragédia, a envolver Marisa e Marcelo em uma situação digna de conto policial dos mais trágicos.

Como estava mais equilibrado, vira-se na obrigação de tentar demover Marisa da prática de tal conduta, buscando ajudá-la para que não cometesse nenhuma loucura consigo mesma e nenhum crime com os dois que ela iria flagrar.

Não sabia porém, que esse era exactamente o plano da moça.
Criar em seu íntimo o desejo de impedir uma tragédia, graças à deliberada intenção de dar o flagrante no marido infiel, indo até o motel onde o encontro aconteceria.

Assim, como Marisa não arredava pé da decisão, tentou ele comunicar-se com Gláucia, para dar a conhecer à noiva o estado de desespero de Marisa e, quem sabe, solicitar a sua companhia para, juntos, irem até o local do encontro clandestino.

Como não a encontrou, preferiu não deixar com uma outra pessoa a notícia estranha de que estaria indo com uma outra mulher para um motel....

Muita explicação para tão pouco tempo, em um momento tão complicado e emergente quanto aquele.
Preferiu optar pela notícia rápida, inclusive para não dar a conhecer à própria secretária, o seu destino ou a finalidade de sua saída do escritório.

Por isso, limitou-se a informar que não iria ao culto do evangelho naquele dia porque imaginava o tamanho do problema que deveria administrar, caso o encontro de Marisa e Marcelo, junto com a amante, efectivamente se concretizasse, coisa que ele estava decidido a impedir que acontecesse.

Vendo que Glauco mordera a isca, Marisa ainda tentou demovê-lo da ideia de acompanhar sua ida ao motel.

— Não precisa não, Glauco, eu sei ir até lá sozinha...
— Mas eu irei junto para que nada de grave aconteça com vocês.
Quem sabe possam precisar de algum amigo nessa hora... — falava o rapaz, pensando em uma forma de tirar-lhe o revólver durante o trajecto.

— Além de tudo eu também trouxe uma máquina fotográfica para não deixar qualquer dúvida a respeito da conduta do sem-vergonha.
Ele bem que pode dizer que não estava lá e que foi tudo loucura minha... afinal, o desgraçado é advogado e sabe muito bem como fazer as coisas...

— Foto é melhor do que tiro, Marisa...
— Depende, Glauco... depende da ordem.

A tentativa de desanimá-lo fazia parte do cenário.
O certo é que Marisa euforizou-se ao perceber que o rapaz tinha mordido a isca.
Precisava manter-se em equilíbrio porquanto não poderia deixar as coisas darem errado justamente agora.

Colocou os óculos escuros e aceitou descer até a garagem do prédio para seguirem até o endereço no carro de Glauco.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:27 am

Não imaginavam que Luiz ia ao encalço dos dois.
Todos na direcção do motel onde havia sido marcado o encontro de Marcelo e Sílvia.

Por falar nos dois, iremos encontrá-los nos preparativos para o respectivo momento de intimidade.

Marcelo, portando os documentos que iria apresentar à colega de trabalho, no sentido de demonstrar a desonestidade de Leandro, enquanto que Sílvia, pronta para mais uma tarde/noite de aventuras e orgias sexuais estimulantes, para as quais se arrumara com esmero, ajudada pela companhia de seus dois mais íntimos comparsas, o Chefe e Juvenal, ambos associados na sua exploração sexual desde longa data, encontrando, em suas fantasias e excessos, a fonte de prazeres intensos que a falta do corpo físico já não mais lhes permitia por outro meio.

Todos os truques, acessórios e recursos da sedução que a actual sociedade tanto tem se esmerado em propiciar aos seus integrantes estavam ao alcance daquela pobre mulher, aviltada nas excessivas aventuras, tornando-a ansiosa e animalizada no exercício das faculdades sexuais quando, em verdade, o sexo deveria estar servindo para a troca de afectividades, de carinhos, de energias fecundas entre partes que se amam.

Aquele local já era frequentado com regularidade por Sílvia que, com liberdade, marcava por telefone as reservas que desejava, como havia feito para aquela tarde.
Sabendo do interesse de Marcelo por seu corpo e pela intimidade que ambos conheciam do encontro anterior, Sílvia chegara antes do horário com a finalidade de preparar-se, tanto quanto ao ambiente, para a chegada do esperado companheiro de aventuras.

Logo que deu entrada no motel, estacionando o seu carro em uma das duas vagas da garagem, deixou-a aberta para que Marcelo pudesse parar o seu, quando, então, promoveria ao fechamento e isolamento dos veículos.

Enquanto isso estava acontecendo, Glauco e Marisa chegavam ao local, solicitando uma suíte nas proximidades daquele número que a esposa de Marcelo conhecia.
Segundo informações do funcionário, escolheram uma que lhes parecia favorável por estar localizada bem em frente daquela ocupada pelo casal que Marisa pretendia flagrar, o que facilitaria a visualização da chegada ou saída de quaisquer dos carros.

Assim que se posicionaram, logo perceberam que um carro já estava estacionado.
Marisa desceu e tratou de baixar a porta da garagem de sua suíte, vedação plástica opaca que permitia ocultar os veículos dos olhos alheios ao mesmo tempo em que facilitava o afastamento lateral da cortina plástica flexível, para a observação dos vizinhos de frente, quando da chegada de Marcelo.

Glauco sabia que aquela situação era perigosa para ele, já que se permitira ir até um motel com outra mulher.
No entanto, a consciência limpa e a companhia dos Espíritos amigos que se faziam ainda mais próximos, compensava a pressão psíquica dos Espíritos inferiores que, sobre Marisa, ia se fazendo mais intensa a fim de que se consumasse o seu tão esperado desejo de aproximação.

No entanto, as forças do mal não se limitavam a criar essa coincidência nefasta.
Na rua, do lado de fora, um estupefacto e eufórico Luiz confirmava as suas suspeitas.

Efectivamente, aquele santo Glauco era, na verdade, um devasso traidor.
Estava deixando sua irmã Gláucia pensar que se tratava de um homem honesto e, enquanto a família orava em conjunto, o safado cunhado se metia em um motel com outra mulher, inventando desculpas com as quais ia disfarçando a sua conduta.

Ali, naquele momento, Luiz se sentiu com um poder supremo.
Até então, Glauco fora detentor do segredo de sua homossexualidade, o que o obrigava a esconder-se, a fugir de sua presença.
Agora, Luiz não mais estava vulnerável.
Também tinha um segredo para poder se sentir limpo ou tão indecente quanto qualquer outro homem de sua idade, como gostava de pensar, sempre que sabia dos deslizes de algum outro seu conhecido.

No entanto, ao mesmo tempo em que se sentia feliz em ver que não era somente ele o fraco, pressupondo a prevaricação de Glauco, o seu amor por Gláucia tornava ainda mais grave a constatação daquela traição do noivo.

Sabia das peripécias de Glauco no passado e testemunhara o sofrimento da irmã no período em que seu então namorado se aventurara com uma mulher mais velha.

Tudo havia passado, desde então, com a modificação da conduta do rapaz.

No entanto, será que havia passado mesmo?
Não seria possível que Glauco apenas tivesse tomado mais cuidado com a ocultação de suas escapadas?
Não seria Gláucia a ingénua a não querer ver o que se passava?

Por que deixar a irmã caminhar para o matrimónio com um indivíduo mentiroso e que já lhe havia dado provas da indecência, provas estas que repetia agora, de forma clara e decisiva?

Todos estes pensamentos iam crescendo em sua mente, nos momentos em que se deixara ficar no interior do carro, nas proximidades do motel onde vira o de Glauco penetrar alguns minutos antes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:27 am

Jefferson, o obsessor espiritual estava a postos, manipulando sua invigilância para que, com a desculpa de alertar a própria irmã, fizesse com que ela se inteirasse pessoalmente da traição, na porta do local onde estava acontecendo.

Titubeante, mas com a nítida ideia de prestar um excelente serviço ao coração da irmã que dizia amar profundamente, Luiz tomou do celular e ligou para sua casa.

— Alô — disse o rapaz, meio nervoso.
— Pronto, com quem quer falar? — respondeu a voz jovial da irmã, no outro lado da linha.
— Oi, Glau, é o seu irmão, tudo bem?
— Oi, Lu — respondeu a irmã, intimamente.
— Escuta, estou precisando de você agora.
Você pode me ajudar?
— O que aconteceu, Lu?
Fale do que se trata....

— Bem, pegue seu carro e me encontre no endereço que estou lhe passando.
Anote aí... mas tem que ser agora...
Enquanto o irmão passava o endereço, Gláucia dizia:
— Puxa, Luiz, justo hoje que é dia de oração aqui em casa... e o Glauco já avisou que não poderá vir....

— Mas é urgente, Glau.
Eu não posso falar por telefone...
Venha rápido e eu lhe explico quando você chegar.
Não é nada grave, mas preciso muito de você.
Não pode demorar muito....

— Tudo bem... nesse endereço eu devo chegar em meia hora.
— Está óptimo.
Estou no meu carro em frente.
Pare bem atrás de mim....
— Combinado.
Mas veja lá o que você está aprontando...

— Não se preocupe, maninha.
Eu jamais ia fazer algo que a prejudicasse.

Desligou o telefone e ficou esperando a chegada da irmã.
Nem se deu conta de que, depois de uns quinze minutos, um outro carro entrou no motel, com destino ao mesmo quarto onde Sílvia já estava preparada para a sua chegada.

Era Marcelo que vinha, acompanhado por Gabriel, o aleijado, que, por sua pouca experiência nas rotinas perturbatórias, recebera a incumbência de se certificar da vinda do marido de Marisa, acompanhando-o até o local.

No interior da suíte, o Chefe e Juvenal estavam a postos para o desfrute daqueles momentos de sexualidade exagerada, envolvidos intimamente com a experiente Sílvia, tocando-lhe os centros genésicos, estimulando-lhe os pensamentos lascivos, ajudando a criar um clima de excitação mental com o qual ambos se envolveriam e aproveitariam daquelas explosões de euforia e prazer.
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31 - TERÇA-FEIRA II O MOTEL – PROTECÇÃO AOS MAUS

Enquanto Gláucia se dirigia ao local sem imaginar o que a esperava, Marcelo já estava chegando, carregado com os documentos que Camila lhe havia fornecido como prova do envolvimento ilícito de Leandro, ao mesmo tempo em que Marisa e Glauco se posicionavam na garagem em frente à suíte que iria receber os dois amantes.

Naturalmente que o desejo de Glauco não era o de bisbilhotar a infidelidade de Marcelo, mas, sim, estar presente para tentar evitar uma suposta tragédia.

Por isso, enquanto Marisa, a esposa traída, procurava o melhor ângulo para as fotos irrefutáveis, Glauco tomou o cuidado de trancar o carro em cujo interior ficara a bolsa e os pertences da jovem, incluindo o revólver que vira em seu escritório, evitando-se, assim, qualquer atitude tresloucada.

A chegada do veículo do marido foi acompanhada pela mulher traída, passo a passo, com os instantâneos fotográficos registando a entrada, o trajecto, o estacionamento, a descida de Marcelo, a sua tarefa de baixar a cobertura que vedava a garagem dos olhares indevidos, antes de ingressar nos aposentos destinados, em geral, aos encontros fortuitos.

Em todas estas etapas, Marisa tratou de fotografar a chegada e a presença física do esposo, de maneira a ter mais documentos visuais de sua conduta suspeita, além de incluir os registros do outro veículo que já se encontrava no interior da garagem, com a melhor visualização dos detalhes como número de placa, modelo, cor, etc.

No entanto, como o leitor se recorda, naquele dia, a principal tarefa de Marisa não era tanto a de flagrar o marido, pelo qual já não tinha maior interesse.
Era, ao contrário, colocar Glauco na condição vulnerável de homem sob tentação da carne, como havia se comprometido quando da contratação dos serviços de dona Mércia e da equipe espiritual inferior que a assessorava.

Assim, depois que o marido já havia ingressado na respectiva suíte, o que poderia significar, para Glauco, o cumprimento dos objectivos daquela empreitada, Marisa passou a simular um estado de desequilíbrio emocional, indicando nervosismo, tontura, vertigem, queda de pressão procurando, com isso, chamar a atenção do seu acompanhante que conforme se podia perceber, tudo fazia para não ingressar no quarto de motel destinado aos dois.

Permanecia na garagem, acompanhando Marisa.
Para tornar mais convincente a sua encenação, passou a gesticular em busca de sua bolsa, onde sabiam se encontrava o revólver.

— Glauco, onde está minha bolsa?
Você viu, aquele sem-vergonha, aquele safado, aquele vagabundo está me traindo ali na minha cara, está se encontrando com outra bem no meu nariz... isso não pode ficar assim...
— Calma, Marisa — tentava contemporizar o rapaz, notando o visível estado de desequilíbrio da mulher de Marcelo.

— Vamos, eu quero a minha bolsa...
— O carro está trancado...
— Como? — gritou Marisa, descontrolada... — eu não posso deixar as coisas desse jeito... vamos, eu vou acabar com essa história agora mesmo... me dê a minha bolsa!!!!!....

E sabendo que, em realidade, o mais importante era conseguir fazer Glauco entrar na suíte, Marisa passou a esbravejar, aos gritos, misturando uma expressão de ódio a um choro desequilibrado e quase convulsivo.

Vendo que a mulher estava sofrendo uma crise de difícil controle, Glauco ponderou, tentando acalmá-la:
— Calma, Marisa, você tem que se controlar.
Não fique gritando... isso não vai resolver nada... só vai piorar as coisas....

No entanto, vendo que Marisa começava a esmurrar o carro, no desejo de conseguir sua bolsa em busca da arma, Glauco acabou se vendo na obrigação de recolhê-la ao interior da suíte, a fim de que, sem escândalos, Marisa pudesse ser contida.

Era tudo o que ela desejava.
Então, assim que se viu levada na direcção do quarto reservado, Marisa deu uma trégua e se deixou empurrar para o destino, onde tudo poderia acontecer de forma mais fácil e directa.
Tudo para o que havia se preparado antes visava a atingir aquele momento ou chegar naquela situação.

Enquanto isso ia acontecendo no plano físico, observemos o panorama do ponto de vista do plano espiritual.
Do lado de fora do motel, a entidade obsessora de Luiz estava controlando seus pensamentos e sentimentos de forma a agir para desmascarar o futuro cunhado, alertando a irmã sobre sua conduta leviana com a prova concreta de sua infidelidade.

Essa seria uma dupla forma de se ver livre do seu problema.
Protegeria a irmã que amava da acção de um aproveitador mentiroso, ao mesmo tempo em que afastaria o conhecedor de sua fraqueza do seio de sua família, sem precisar mais se preocuparem se encontrar com Glauco, o único que sabia de seu envolvimento homossexual clandestino.

Jefferson, a entidade astuta, directamente ligada à Organização, seguia obedecendo às ordens recebidas directamente do Chefe, mantendo Luiz sob controle cerrado.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:28 am

No interior do quarto, Sílvia estava absolutamente envolvida pela dupla de entidades obsessoras que, usualmente, se locupletavam com as emoções de baixíssimo padrão a que ela se permitia, vivenciando as alucinadas aventuras com a justificativa de entregar-se à excitação intensa, sem se dar conta de que isso era produzido em virtude do facto de que, enquanto seu corpo se relacionava com um homem físico, sua alma era envolvida pelo sensualismo múltiplo, uma vez que do ato sexual participavam activamente os dois comparsas invisíveis a formarem o trio masculino com quem ela iria trocar sensações, simultaneamente.

Marcelo, chegando ao ambiente, imediatamente foi envolvido pelo clima lascivo que se mantinha pesado e embriagador naquele quarto.

Constantemente destinado aos encontros carnais, o ambiente psíquico era dos mais inferiores, correspondendo a uma verdadeira arena, no meio da qual a cama bem arrumada e as luzes estrategicamente posicionadas serviam de improvisado palco para a exibição física, enquanto que a plateia se revezava, de um quarto para outro, sempre atendendo aos diversos padrões de perversão ou de estímulos inferiorizados que se faziam presentes nos diversos ambientes.

Ao lado das vibrações sensualistas repetidamente emitidas e condensadas por inúmeras entidades desequilibradas, as cenas veiculadas pelos aparelhos televisivos, em sua maioria sintonizados na pornografia mais vulgar, correspondiam ao fermento das emoções vulgares e animalizadas, estimulando nas pessoas a rememoração de suas experiências passadas, nos períodos da personalidade imatura de outras vidas, quando a animalidade bruta empurrava cada qual para as perversões da sexualidade, nos excessos, abusos e violências que se encontravam arquivados no inconsciente de cada pessoa que a elas assistia.

Assim, todas as forças naquele ambiente cooperavam para que os que se permitiam envolver em suas teias acabassem entregues aos excessos de todos os tipos, sob os aplausos da plateia de entidades vis e viciosas, libertinas e pestilentas, presas igualmente das sensações corrompidas da sexualidade em desequilíbrio.

Verdadeiros monstros, que apresentavam o aspecto de criaturas convulsionárias, em atitudes flagrantemente obscenas, babando e espumando ao ritmo dos contorcionismos dos que se exibiam no palco daquela arena improvisada, ao mesmo tempo em que gritavam, convocando outros comparsas para que acompanhassem um ou outro desempenho.

Assim, o motel era um verdadeiro amontoado de entidades, a se deslocarem como uma massa viscosa de um lado para o outro, dependendo sempre de onde vinha o maior volume de gritos e agitações da plateia.

Marcelo mergulhara, como dissemos, nessa atmosfera que, de uma forma ou de outra, se casava com a excitação que o acompanhava, ao rememorar as emoções já vividas com aquela mulher, ali no papel de fêmea vulgar.

E por mais que suas ideias estivessem ligadas ao objectivo de conquistar o interesse de Sílvia para o desmascarar de Leandro, a verdade é que ele sabia o que o aguardava, sensação que vinha ao encontro directo aos seus interesses masculinos, no exercício da actividade sexual que já não desfrutava ao lado da esposa.

Como a maioria dos homens que não aprendem a controlar o impulso da sexualidade, Marcelo era, ao contrário, controlado por ela, colocando o domínio que exercia sobre o corpo abaixo das sensações e prazeres que o corpo podia lhe propiciar.

Usando das tradicionais desculpas ou justificativas, o rapaz se permitia aquele tipo de envolvimento como alguém que exercita a sua natureza masculina, não importando os envolvimentos morais ou compromissos emocionais que já houvera estabelecido.

Adepto da filosofia de que se não aproveitar a ocasião, algum outro vai aproveitá-la, Marcelo chegava à beira do vulcão, com a consciência de que poderia sair chamuscado desse encontro, risco esse que, mais do que aceito, era, na verdade, ansiosamente buscado por suas emoções.

Marcelo, então, comparecia como quem adere incondicionalmente ao ato, dele esperando retirar o melhor para suas emoções masculinas, no exercício da função animal, divorciada dos ascendentes morais que poderiam tornar o sexo a expressão do afecto sincero e a antessala da ventura compartilhada.

Confundido com as sensações da excitação instintiva, a sexualidade acabara sendo transformada em um espinho na carne, movida por uma necessidade de estímulos crescentes, no mesmo âmbito dos vícios mais comuns a exigirem sempre maiores doses de seus usuários.

Por isso, Marcelo não podia se ver protegido, tanto quanto Sílvia, pela acção generosa de entidades amigas que pudessem ampará-los com conselhos positivos de contenção e cuidado.

Sacerdotes do prazer pelo prazer, viciados no exercício da sexualidade banalizada pelas exigências consumistas de uma sociedade que a explora para torná-la instrumento de consumo, os dois eram, apenas, bonecos teleguiados pelo desejo carnal, manipulados pelas entidades inferiores que deles se serviam para extraírem a carga de energias vitais temperadas pelo impulso mental erotizado.

Ao mesmo tempo em que o ambiente vibratório do quarto mais se assemelhava ao de um rodeio, com a arena e as arquibancadas, incluindo os anunciantes, os locutores narrando as cenas, o telão mostrando filmes grotescos, um conjunto de Espíritos amorosos e missionários se mantinha em oração no ambiente, buscando dar continuidade ao amparo tanto dos encarnados invigilantes, quanto dos Espíritos alucinados que, por óbvios motivos, não podiam visualizá-los por estarem em outro padrão vibratório.

Ali estavam Félix, Magnus, Alfonso e outros Espíritos especializados nos resgates e nas tarefas ligadas ao desvario da sexualidade tresloucada, usando da loucura dos homens e mulheres com a finalidade educativa e reorientadora de suas condutas.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:28 am

Quando Marcelo chegou ao local, Gabriel, o aleijado, o acompanhava como que o escoltando em segurança para o fatídico encontro.
Ao mesmo tempo, o Chefe e Juvenal se encontravam enlaçados com o corpo sedutor e perfumado de Sílvia, à espera das emoções fortes através das quais ambos recolheriam alimento para saciarem suas necessidades igualmente viciosas.

A chegada do rapaz euforizou a plateia que, aos gritos, pedia o início do show, antecipadamente anunciado pelos Espíritos perturbadores, convocando mais e mais entidades desequilibradas para ajudarem nos excessos e na excitação dos encarnados.

Tão logo Marcelo se viu sozinho na presença de Sílvia, um grupo de entidades femininas do mesmo teor de desequilíbrio da área da sexualidade projectou-se sobre ele, acariciando-o, emitindo raios escuros e pegajosos sobre sua mente e seus centros genésicos, colando-se ao seu desejo de prazer e fazendo-o recordar as aventuras excitantes que já vivera com inúmeras mulheres.

— Queremos você, desejamos fazê-lo subir às alturas... não nos negue essa possibilidade... você é nosso homem... — eram os sussurros que lhe chegavam à acústica da alma, ainda que seus ouvidos carnais escutassem apenas as palavras excitantes e provocantes da própria mulher que o esperava.

Gabriel, o aleijado, observando que tanto o Chefe quanto Juvenal se encontravam desligados da atenção que exerciam sobre ele, aproximou-se do local onde as entidades amigas se posicionavam, como se as estivesse identificando.

Foi então que Félix, sabendo da alucinação em que se encontravam os dois outros comparsas, estendeu as mãos sobre a mente de Gabriel e perguntou-lhe, directamente:
— Meu filho, tudo está conforme planeado?
Imediatamente tocado pela indagação que lhe chegava ao fulcro cerebral, Gabriel accionou seus poderes mentais e respondeu:
— Sim, paizinho, tudo está pronto conforme solicitado.

— Está bem, então.
Bom trabalho, Gabriel.
Aguardemos o momento adequado para o início do processo de resgate.
Esteja a postos para que suas energias potentes possam ser usadas como a força necessária para a transformação das almas, protegendo-as contra suas próprias perversidades.
— Sim, paizinho... estou atento...

Foi então que Magnus, admirando-se da íntima relação que existia entre Félix e aquela entidade deformada, indagou, perplexo:
— Mas eu sempre pensei que este se tratasse de um Espírito ignorante e mau!!!
Como é que, agora, pode escutar seus pensamentos e tratá-lo de paizinho?

Calmo e paciente, Félix explicou:
— A obra divina não desperdiça nada nem ninguém, Magnus.
Este irmão é um dos trabalhadores devotados do Bem, a serviço nos lugares mais sórdidos como esforço do Amor em amparar aqueles que só pensam em fazer o mal.

Naturalmente que não guarda uma evolução acentuada.
No entanto, valendo-se de seu estado adulterado na forma, resquício de sua última encarnação no sofrimento depurador, Gabriel aceitou o convite de nossos superiores a fim de esmerar-se na tarefa do Amor, ocultado pelo casulo vibratório deformado que não lhe seria difícil manter por causa da fixação mental de sua última jornada terrena, ao mesmo tempo em que usaria o seu sentimento despertado no Bem para ser útil no momento adequado.

Conduziria sua acção com o indispensável cuidado, valendo-se da personalidade aleijada com que se vestia desde a derradeira experiência carnal, temperando sua conduta com sua aparente ingenuidade, que seria tomada à conta de burrice pelas entidades trevosas.

Estas, sem grande capacidade de penetração na observação profunda do Espírito, surpreendidas pela sua aparência, o aceitaram em decorrência dela, desajustada e assustadora, imaginando que baixo de tal forma, a maldade certamente estaria asilada.

E o estado bisonho e apalermado seria relevado pelas entidades dirigentes da treva, entrevendo nele a possibilidade de uso processos de atemorização de encarnados e de Espíritos, intimidados com a sua forma aterradora.

Não sabiam, entretanto que, no íntimo, Gabriel se mantinha interessado no cumprimento da tarefa a que se comprometera com os amigos generosos que o têm sustentado, não se permitindo agir no mal e defendendo-se de tais missões pela atitude atrapalhada, apatetada, própria de entidades inexperientes ou abobalhadas, que precisam ser adestradas no mal por outras mais conhecedoras de seus mecanismos.

Foi assim que, há alguns meses, Gabriel acabou aceite na organização como importante elemento de intimidação, ainda que visto como uma criança grande que precisasse ser amoldada e treinada para as tarefas de perseguição.
Esse foi o modo pelo qual pudemos manter um dos nossos soldados em missão de reconhecimento, exposto aos mais diferentes riscos, mas pronto para qualquer sacrifício no sentido de ajudar os encarnados, no plano mais vasto que está traçado pela espiritualidade superior.

Surpreendido com a explicação directa e clara, Magnus admirou-se diante da Sabedoria Divina e deixou-se calar, observando o desenrolar daquela cena, para ele inusitada até aquele momento.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:28 am

Enquanto isso, na arena, o show havia começado com a torcida das entidades inferiores, observando e pedindo mais, gritam expressões indecentes e despejando sobre o casal que se contorcia as cargas de energia deletérias próprias de suas ideias vulgares.

Enquanto tudo isso ia ocorrendo, Félix e Alfonso se aproximaram do casal encarnado e, unindo suas vibrações em uma prece, começaram a criar um campo magnético que ligava aquele quarto aos raios luminosos que começavam a cair do alto.

Sem se ocuparem das entidades que assistiam ao espectáculo, agitadas agora pelo clímax do orgasmo físico, as duas almas se vinculavam aos planos superiores da vida para que, a partir daquele momento, as atitudes da ignorância pudessem começar a serem disciplinadas pela própria ignorância que as caracterizava.

Enquanto o casal se permitia o relaxamento físico, buscando forças para uma segunda etapa na disputa carnal, qual luta de gladiadores medievais despidos de suas armaduras tradicionais, as entidades instrutoras, experientes na questão da sexualidade humana na superfície da crosta, se consorciavam, fraternas, na emissão de energias, pedindo a Deus e aos seus superiores espirituais que pudessem amparar a insensatez humana, pelos caminhos que mais eficazmente a reconduzisse à consciência, mesmo que fosse por meio do sofrimento.

— Senhor, aqui estamos — dizia Félix, emocionado — como servos do Seu amor a levá-Lo a todas as partes, mesmo que nossa função nos obrigue a entregá-Lo aos que se permitiram resvalar na pocilga dos prazeres vis.
Cumpridores humildes de Sua vontade, afastando de nós a condição de julgadores dos equívocos de nossos semelhantes, equívocos esses nos quais já incidimos inúmeras vezes, solicitamos, nesta hora, a concessão sábia que permita que a lição superior possa encaminhar estes irmãos para o roteiro elevado da própria transformação.

Ajuda-nos, Senhor da Vida, para que mais e mais semelhantes encontrem o Celeiro Celeste e possam se valer dos manjares que matam a fome da alma para sempre.
Estes, que aqui estão, são os mesmos aos quais Sua voz doce e compassiva se referira quando pedira ao Pai que perdoasse seus algozes porque eles não sabiam o que estavam fazendo.

Eles também não sabem o que realizam, Senhor, e, por isso, aqui estamos para invocar a Sua Augusta Protecção para o sublime momento do despertamento.
Concede-nos, Jesus, a autorização para que suas vidas possam ser reconduzidas do lixo da insanidade para o ambiente mais elevado do Hospital da experiência, que as medique, as alimente e as desperte...

A oração se fizera fulgurante no coração das duas entidades, cujos braços estendidos para o alto pareciam haver se transformado em antenas que tocavam os arcanos celestiais, tal o jorro de luz que de lá desceu sobre aquele ambiente.

A escuridão, a treva, a perversidade, o mal, a ignorância, a pestilenta atmosfera, num átimo, foi dissolvida e, surpreendidas por tal estado de elevação, todas as entidades perturbadoras e vagabundas que ali se alimentavam suportaram um choque de energias que produziu nelas a fuga amedrontada, a paralisação ou o desmaio.

Em contacto com as forças sublimes oriundas de mais além, a maioria saiu em desabalada carreira, deixando aquele ambiente íntimo e buscando penetrar outros quartos, assustados.

Aproximadamente um terço dos Espíritos que se deliciava nas arquibancadas da devassidão, tocados pelo teor diferente de forças e em virtude das condições de desgastes energéticos em que se achavam, entidades já cansadas daquele tipo de emoções que as havia consumido desde longo tempo, experimentaram suave entorpecimento no mesmo local onde se achavam e, assim, adormecidas no próprio assento, no meio dos detritos malcheirosos que produziam, foram recolhidas por devotados trabalhadores do mundo invisível que acorreram de imediato ao ambiente, como que enviados pela solicitude celeste para o labor de recuperação dos aflitos do mundo.

No entanto, aquele fenómeno espiritual se restringia, apenas, aos limites fronteiriços daquela suíte de motel, não se alargando aos demais quartos, ainda que a balbúrdia das entidades interiorizadas houvesse produzido, igualmente, desespero nas demais galerias e arquibancadas nos aposentos próximos.

O casal, que se encontrava no leito já há algum tempo, por força da modificação das vibrações que os envolvia, viu-se tomado por uma pesada sonolência, atribuída por eles mesmos ao desgaste físico nas expressões da sexualidade ali extravasada.

Irresistível sono envolveu-lhes os corpos, libertando as duas almas da algema da matéria física e permitindo que Sílvia, em Espírito, se visse abraçada aos dois comparsas que a exploravam sexualmente desde longa data.

Naquele momento, a moça assustou-se.
Parecia que seu perispírito, visivelmente deformado pelo teor de seus pensamentos e atitudes inferiores, se unia ao perispírito dos outros dois, apresentando-se igualmente adulterados.
Pelo teor de vibrações inferiores que emitiam, ambos, ali, haviam assumido uma aparência física animalesca, numa mescla de homem com hienas asselvajadas com a expressão facial de focinhos, pêlos e riso histérico, permanecendo intimamente ligados à mulher que exploravam, transformados em um trio associado pelas mesmas emoções.

Sílvia gritou assustada, tentando fugir da companhia horripilante.
Ao mesmo tempo, os dois Espíritos se deram conta da forma grotesca com que ela, agora, lhes surgia diante dos olhos, parecendo uma bruxa velha e assustadora.

No entanto, por mais que lutassem uns contra os outros, não conseguiam livrar-se, já que os três se achavam colados, perispírito a perispírito, como duas plantas saprófitas se enraizando no tronco de sua hospedeira.

Sílvia, em Espírito, não conseguia ver Félix e Alfonso como as entidades amigas que ali dirigiam aquele processo.
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Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 6 Empty Re: Série Lúcius - Despedindo-se da Terra / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jun 01, 2014 9:29 am

Foi então que Félix sinalizou para que Gabriel se aproximasse.
Com a chegada do terceiro Espírito, que, até então, havia integrado o grupo de perseguidores, Sílvia se viu ainda mais desesperada, porquanto a aparência da nova entidade era de assustar.

Ao mesmo tempo, o Chefe e Juvenal que já o conheciam, começaram a gritar para que ele viesse em seu auxílio:
— Hei, aleijado, venha nos tirar daqui... estamos presos como se fôssemos passarinhos numa armadilha... venha, faça alguma coisa, rápido...

Procurando ajudá-los, agora revelando a sua real investidura, ainda que mantivesse os aleijões de sua aparência, Gabriel respondeu:
— Sim, meus amigos, estou aqui para ajudá-los a vencer seus próprios desafios.
Chega o dia em que as coisas mudam e esse é o momento adequado para o despertamento de suas almas.

Gabriel falava inspirado pelas forças de Alfonso que o envolviam numa luminosidade suave, propícia para favorecer a receptividade do pensamento dos Espíritos instrutores que governavam aquele instante na vida dos quatro indivíduos.

— Pare de fazer discursos, seu idiota.
Venha logo e nos tire daqui, porque se demorar muito vai ter que se ver connosco pessoalmente — falou Juvenal, irritado e desesperado ao mesmo tempo.
— Agora isso já não é mais possível, meus amigos.
Vocês se enraizaram muito nos prazeres divididos com essa pobre moça.
De tanto desfrutarem dos excessos ao lado dela, conquistaram a possibilidade de se manterem fixados nela por mais tempo, como tem sido de seus desejos intensos.

— Cala a boca, seu maldito... — vociferou, em desequilíbrio, o Chefe, surpreendido pelas palavras daquela entidade que, até então, lhes parecera um imbecil no aprendizado dos delitos vibratórios que a ambos competia lhe ensinar.

— Não adianta perder a calma, Chefe.
As leis espirituais não desamparam a ninguém e, de uma forma ou de outra, todos nós seremos convocados a assumir nossas escolhas.
A partir de agora, vocês estarão entranhados na carne dessa mulher, como sempre o desejaram...

E dizendo isso, direccionado pelas forças superiores e pela acção magnética dos dois instrutores, Gabriel passou a enviar cargas de energia potentes e muito próximas das densas forças materiais, na direcção do útero de Sílvia, preparado para a recepção de dois óvulos fertilizados, transformados, assim, em ovos que vinham magnetizados pelas forças espirituais de Juvenal e do Chefe, intensamente ligados aos influxos da sexualidade de Sílvia, com cujas forças se identificavam.

O teor de magnetismo que lhes caracterizava a expressão viciosa aliado à condição favorável com que Sílvia, promíscua e leviana, lhes favorecia, criavam o ambiente adequado para que o processo de reencarnação compulsória se iniciasse, à revelia dos próprios interessados, com o apoio das forças positivas, conquanto mais densas de Gabriel, responsável pela magnetização que permitiu a união das duas entidades alucinadas às células fecundadas no íntimo da mulher, tudo sob a supervisão dos instrutores espirituais superiores.

Naturalmente que o leitor estará cogitando que, na sua condição de experiente cultivadora dos prazeres, Sílvia nunca se permitiria uma relação sexual tresloucada como aquela, sem se valer das protecções químicas, na forma de medicamentos usados para a suspensão da ovulação regular.

No entanto, não imagina, igualmente, que quando se faz necessário e indispensável para a evolução das entidades comprometidas com o mal, tais recursos são passíveis de serem anulados ou suprimidos pelas forças superiores que podem se valer tanto da neutralização dos componentes químicos no metabolismo físico visando a ocorrência da ovulação, apesar dos anticoncepcionais, quanto da hipnose benéfica a produzir, no encarnado, o eventual esquecimento do uso constante e periódico da medicação.

Não é desconhecida a acção de entidades negativas que, implantadas no perispírito dos encarnados, se aproveitam dos traços químicos das substâncias ingeridas por eles, sugando-lhes os princípios activos, sejam de medicamentos que se tornam ineficazes, sejam das substâncias alcoólicas ou drogas que sugam das entranhas dos usuários para daí retirarem a sensação do vício que já não podem mais manter por conta própria.

Desse modo, leitor querido, se as entidades trevosas dispõem de recursos para agir no meio físico e produzirem tais efeitos imediatos sobre o metabolismo dos corpos, por que motivo as entidades luminosas não poderiam usar de tais princípios idênticos para beneficiar os processos de reerguimento da personalidade, de modificação do carácter e de melhoria dos relacionamentos, quando isso seja autorizado por forças superiores?

Assim, não é de se estranhar que tal fenómeno aconteça todos os dias no meio de homens e mulheres que, por mais que tenham se protegido com o uso de preservativos ou de pílulas específicas, acabam se surpreendendo com a ocorrência da fecundação imprevista ou indesejada, a gerar compromissos igualmente indesejados pela maioria, ao mesmo tempo em que permita a ligação de Espíritos que necessitam regressar ao convívio do mundo para o reequilíbrio de suas vibrações com os seus sócios.

Nada mais compatível com esse contexto do que a situação dos obsessores sexuais ao serem arrastados ao útero que exploraram de forma irresponsável e leviana, passando a se verem nele imantados, através de novos corpos que os prenderão ao organismo da mulher que seviciaram psicologicamente.

Por isso, Gabriel acompanhava aquele caso com extremo cuidado, levando a Sílvia as vibrações que garantiriam a ocorrência do estado fértil, com a supressão da acção química dos medicamentos ingeridos, ao mesmo tempo em que garantiria a Marcelo a despreocupação com quaisquer cuidados preventivos, pela segurança que a mulher lhe oferecia pelo declarado uso dos meios anticoncepcionais.
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