LUZ ESPÍRITA
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:03 pm

A Vida Além da Sepultura
Hercílio Maes

Atanagildo / Ramatis

A Vida Além da Sepultura
Em "A Vida Além da Sepultura", obra inspirada por Ramatis, o fenómeno da morte, despido de toda a morbidez, é descrito com a naturalidade própria de uma "volta para casa".
Para tanto, Ramatis convida, para descrever sua própria "viagem de retorno", o discípulo que adopta o nome de Atanagildo.
Oferece uma ampla descrição da cidade do Astral Superior, onde reside, conhecida como o "Grande Coração", cujo cenário de beleza sideral justificaria o velho conceito de "céu" das crenças tradicionais.
"Quando logrei despertar no Além, tive a grata Surpresa de ser apresentado a dois espíritos com uma irradiação de luz azulada a lhes fluir pelo tórax, formando um balo em tomo das cabeças: eram os dois espíritos técnicos que me haviam ajudado a desligar-me do corpo físico.
Quando tal acontecera, eu me achava diante da lendária "Morte", tão temida...
Aquelas fisionomias iluminadas, afáveis e sorridentes, junto do meu leito, eram um formal desmentido à lenda da megera esquelética com a sinistra foice!
Eles leram, então, o meu pensamento, com certo ar travesso; depois, fitaram-me e, sem que eu também pudesse me conter, rimos francamente; um riso farto e sonoro; que inundou o ambiente de vibrações alegres e festivas!
Ríamos diante da farsa da "morte"...
Em quase cinquenta anos de reedições sucessivas, esta obra de fascinante conteúdo e repleta de informações continua uma das mais procuradas dentre as obras de Ramatis, como um oportuno "guia de viagem" para a inevitável e - porque não? - feliz travessia para a Outra Margem da vida.

A minha esposa Lola, meus filhos Zeila, Mauro e Yara, cujos sentimentos selaram a nossa comunhão espiritual nesta existência, auxiliando-me a realizar esta singela tarefa no seio do lar amigo e da paz benfeitora.

Índice
Invocação às Falanges do Bem
Invocação às Falanges do Bem
Explicações
Prefácio de Ramatis
Preâmbulo
Ave sem Ninho
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:04 pm

1. A Caminho do Além
2. Primeiras Impressões
3. A Metrópole do Grande Coração
4. Noções Preliminares sobre o Além
5. O Templo do "Grande Coração"
6. Noções Gerais sobre o Panorama Astral
7. O "Sentido" da Vista no Além
8. Residências e Edificações
9. Considerações sobre a Desencarnação
10. Colónias do Astral - Aspecto Geral
11. Colónias Astrais de Costumes Antiquados
12. Colónias do Astral - Raças e Nacionalismos
13. Colónias do Astral - Migrações
14. Colónias do Astral ­ Sua influência sobre o progresso
15. As Relações entre Vivos e Mortos
16. A Desencarnação e seus Aspectos Críticos
17. Influências do "Velório" sobre o Espírito
18. A Eutanásia e as Responsabilidades Espirituais
19. Espíritos Assistentes das Desencarnações
20. Noções Gerais sobre o Astral Inferior
21. Noções sobre as Cidades do Astral Inferior
22. Organizações do Mal
23. Os "Charcos" de Fluidos Nocivos no Astral Inferior
24. Aves e Animais do Astral Inferior
Esclarecimentos de Ramatis
25. A Obsessão, suas Causas e Efeitos
26. A Limitação de Filhos e suas Consequências Cármicas
27. As Relações Cármicas entre Pais e Filhos
28. Como Servimos de "Repastos Vivos" aos Espíritos das Trevas
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:04 pm

Invocação às Falanges do Bem
Doce nome de Jesus,
Doce nome de Maria,
Enviai-nos vossa luz
Vossa paz e harmonia!

Estrela azul de Dharma,
Farol de nosso Dever!
Libertai-nos do mau carma,
Ensinai-nos a viver!

Ante o símbolo amado
Do Triângulo e da Cruz,
Vê-se o servo renovado
Por Ti, ó Mestre Jesus!

Com os nossos irmãos de Marte
Façamos uma oração-.
Que nos ensinem a arte
Da Grande Harmonização!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:04 pm

Invocação às Falanges do Bem
Do ponto de Luz na mente de Deus,
Flua luz às mentes dos homens,
Desça luz à terra.

Do ponto de Amor no Coração de Deus,
Flua amor aos corações dos homens,
Volte Cristo à Terra.

Do centro onde a Vontade de Deus é conhecida,
Guie o Propósito das pequenas vontades dos homens,
O propósito a que os Mestres conhecem e servem.

No centro a que chamamos a raça dos homens,
Cumpra-se o plano de Amor e Luz,
e mure-se a porta onde mora o mal.

Que a Luz, o Amor e o Poder
restabeleçam o Plano de Deus na Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:04 pm

Explicações
Estimado Leitor.
Na presente obra, que se refere particularmente com a vida dos espíritos desencarnados, no mundo astral, intervém outro espírito, além de Ramatis, que dá-se o nome de Atanagildo.
Conforme promessa feita anteriormente pelo próprio Ramatis, o espírito de Atanagildo não só participou desta obra, relatando minuciosamente todos os fenómenos ocorridos durante a sua desencarnação, no Brasil, como também respondeu a todas as perguntas úteis que se relacionassem com sua vida no Além.
Ramatis, entretanto, é o idealizador, o coordenador e o responsável por este livro, no qual também participa.
Há algum tempo já lhe havíamos pedido que nos ditasse algum trabalho descrevendo os fenómenos geralmente verificados na ocasião da desencarnação dos terrestres, e nos relatasse alguns acontecimentos peculiares à vida dos espíritos no mundo astral.
Embora já existam muitas obras no género, recebidas por sensitivos de excelente capacidade mediúnica e elevado critério moral, convém lembrar que cada espírito significa sempre um mundo de provas completamente diferentes das de qualquer outro.
Por esse motivo, julguei de interesse e importância, que, através de minha singela mediunidade, se pudesse conhecer mais alguma coisa sobre o assunto.
De princípio, pensávamos que Ramatis iria nos relatar suas impressões e os acontecimentos que acompanharam sua desencarnação na última existência passada na Indochina; no entanto, compreendemos logo que isso lhe seria um tanto dificultoso e de pouco proveito para nós, quer por se tratar de espírito que não vive habitualmente em qualquer colónia situada no astral do Brasil, como porque o seu trespasse, ocorrido há quase mil anos, no Oriente, não nos ofereceria assunto apropriado aos nossos costumes e reflexões ocidentais.
Ramatis considerou inoportuna a ideia de se rememorarem os detalhes da sua longínqua desencarnação, ocorrida na Indochina, e que considera despida de situações dramáticas ou dignas de menção para as nossas indagações.
Escusou-se dessa tarefa, mas prometeu-nos de cooperar na obra e trazer, oportunamente, outro espírito amigo, desencarnado no Brasil, que nos pudesse descrever o que desejávamos e fosse bastante capacitado para narrar-nos mais alguns esclarecimentos registados na sua moradia astralina.
Assim, quando a oportunidade se nos apresentou, recebemos a visita de Atanagildo, espírito intimamente ligado ao grupo liderado por Ramatis, e que foi seu discípulo algumas vezes, principalmente na Grécia, onde também viveram alguns dos irmãos que têm actualmente cooperando na revisão e na divulgação destas obras.
Na sua última romagem Atanagildo habitou o Brasil, em região que prefere guardar no anonimato, a fim de se evitar qualquer indiscrição em torno de sua família terrena.
Atanagildo iniciando esta obra com a narrativa de sua última desencarnação terrena, favoreceu-nos muitíssimo, pois que a descrição de sua morte física deu-nos motivo para que formulássemos interessantes perguntas a ele e Ramatis.
Acreditamos que, nesta obra, o leitor conseguirá distinguir o estilo de Atanagildo, às vezes num tom de surpresa, outras vezes impregnado de certo humorismo, diferindo em relação à argumentação filosófica e o poder de síntese, próprios de Ramatis.
Há que não esquecer que não sou médium sonambúlico, mas perfeitamente consciente do que se me passa pelo cérebro durante o trabalho de recepção mediúnica; cabe-me vestir com a palavra os pensamentos dos comunicantes, coisa que nem sempre consigo realizar com êxito e fazer perfeita distinção das personalidades, assim como também me escapam certas subtilezas inerentes à psicologia espiritual de cada comunicante.
Em virtude de ambos os espíritos operarem intimamente ligados na confecção desta obra, verifiquei inúmeras vezes que, enquanto algumas respostas eram dadas por Atanagildo, fluíam-me pela mente inúmeras considerações e comparações filosóficas que ampliavam e explicavam mais detalhadamente as respostas, mas traíam perfeitamente a intromissão de Ramatis, assim como o identificavam accionando-me à altura do cerebelo.
Mais tarde pude realmente comprovar melhor que o trabalho era em conexão, por parte de ambos os espíritos operando mutuamente, pois diante de qualquer vacilação e demora na resposta de Atanagildo, na sua exposição sempre mais descritiva, verificava a imediata interferência de Ramatis, que então explicava melhor o assunto, através de sua forma peculiar com a qual já estávamos bastante familiarizados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:04 pm

Mas, apesar disso, as respostas de Ramatis ficavam sempre como de autoria de Atanagildo, a quem cabia o mérito de tudo.
Esse fenómeno constituiu para mim um salutar aprendizado, pois pude avaliar da rapidez e da segurança do raciocínio de Ramatis, comparando suas respostas com o demorado e às vezes dificultoso modo com que Atanagildo chegava às suas conclusões.
Atanagildo é afeito à mesma índole universalista do seu mentor e amigo.
Ligou-se a Ramatis desde antes do êxodo dos hebreus do Egipto, tendo-o acompanhado em várias existências, haurindo-lhe os conhecimentos e a técnica espiritual de serviço no Além.
Na sua última encarnação, no Brasil, devotava-se a vários labores espiritualistas, tendo participado de alguns movimentos esotéricos e espiritistas, visando sempre a melhoria do seu espírito e o socorro ao próximo, mas sem se deixar dominar por quaisquer exclusivismos ou segregamentos associativos.
Revelou-se sempre criatura jubilosa no esforço de servir aos demais experimentos e doutrinas alheias que se devotavam ao bem do espírito humano.
Desde os primeiros contactos que tivemos com o seu espírito acomodado, mas algo jovial e às vezes buliçoso, como se nos revelou nas apreciações sobre os dogmas religiosos já envelhecidos, observamos-lhe o sentido construtivo de suas respostas e a ausência de qualquer dramaticidade ou compungimento espiritual.
Além de sua propensão liberal, nunca nos fez exigências de ordem pessoal, nem pretendeu traçar fórmulas para os nossos trabalhos, evitando quaisquer constrangimentos nas indagações que lhe fizemos.
O seu modo ecléctico é muito comum a todos os discípulos, admiradores e à maioria dos leitores de Ramatis que, em número de algum milhares, permaneceram mais tempo reencarnados no Oriente, sob a visão protectora da "Fraternidade do Triângulo".
É possível que, em virtude da franqueza, sem gradações psicológicas, com que Atanagildo faz as suas revelações sobre o mundo astral ou a respeito de algumas concepções restritivas do leitor.
No entanto, é bem melhor que ele nos relate aquilo que pode ser rejeitado por nós, do que guardar informações que nos auxiliem a desvendar o mistério da vida do além-túmulo.
Cumpre-nos louvar o esforço dos espíritos bem intencionados, que tentam por todos os modos e meios, descrever-nos o panorama astral que habitam, desejosos de que regulemos a nossa bússola humana para o norte da segurança espiritual.
Atanagildo recomenda, em certas respostas, que aceitemos as suas comunicações mais em consequência de sua experiência pessoal do que como postulados doutrinários definitivos, considerando que outros espíritos superiores podem descrever-nos os mesmos fatos .sob perspectivas diferentes e mais lógicas, possivelmente melhor compreensíveis à nossa actual psicologia.
Ele se afirma desligado de qualquer preocupação doutrinária e pede que só o interpretem como singelo noticiarista de acontecimentos que pôde vislumbrar no Espaço, sem pretender abrir debates sobre aquilo que nos pode parecer inverosímil ou que venhamos a atribuir a produto de uma imaginação fértil.
Quando Atanagildo se referiu à sua expedição de aprendizado nas regiões do astral inferior, tornou-se-me difícil admitir a descrição de certos quadros tenebrosos, porquanto eles me pareciam exorbitar da lógica e sensatez de um plano vibratório próprio dos desencarnados!
No entanto, através de meu desprendimento espiritual, que ocorre durante as noites de sono favorável e pouca alimentação, foi-me facultado vislumbrar certos factos e cenas tão aviltantes, como se algum cérebro excessivamente mórbido estivesse interessado em plagiar os relatos de Dante em sua visita ao Inferno!
Nós custamos a acreditar nessas descrições tão aterrorizantes, porque ainda estamos fortemente condicionados às fantasias dos dogmas religiosos que, no decorrer dos séculos findos, e mesmo ainda nesta actual existência, exerceram e exercem pressão escravizante em nossos raciocínios imaturos.
Quase todos nós temos vivido em contacto demorado com as instituições sacerdotais do passado; confiávamos num céu administrado por anjos e num inferno exclusivamente dirigido pelos diabos!
Sofremos, pois, desencantados, ao verificar que no astral inferior os homens é que mantêm o inferno e, o que é pior, ainda o fizeram bem mais requintado do que o cenário imposto pela tradição religiosa!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:05 pm

E o acontecimento ainda se torna mais grave; mesmo para as nossas concepções mais avançadas, porque também se extingue a velha ideia espiritualista de que, após à morte do corpo, nós deveremos viver apenas mergulhados num estado íntimo de completa introspecção espiritual, gozando um céu ou um inferno virtual em nossas mentes desencarnadas.
Por isso, convém repetir o que já têm dito alguns espíritos superiores:
"A morte do corpo é apenas mudança de apartamento por parte do espírito".
Conforme já temos explicado, Atanagildo é espírito que viveu várias vezes na Grécia e, embora não estejamos autorizados a fornecer detalhes do seu passado, ele ainda traz grande influência adquirida naquelas reencarnações entre os gregos, das quais sabemos ter sido a mais importante entre os anos de 441 e 384 a.C.
Nessa época encontravam-se em ebulição os princípios e teses esposados por Sócrates, Platão, Diógenes, mais tarde cultuados por Antístenes, em cuja época também vivia Ramatis, na figura de conhecido mentor helénico, que pregava entre discípulos ligados por grande afinidade espiritual.
Eis por que o leitor não deverá estranhar certo humorismo e ditos satíricos de Atanagildo, em algumas de suas respostas, e que poderiam ser levados à conta de incivilidade para com os credos dogmáticos, quando isso é ainda o produto psicológico dá velha irreverência dos gregos de sua época, acostumados a ironizar as instituições demasiadamente sisudas e dramáticas.
Quando ele alude ao inferno e aos prejuízos decorrentes da estreiteza religiosa oficial, intercalando suas respostas com certas conclusões humorísticas, não o faz para formular gracejos extemporâneos, mas apenas para melhor despertamento do leitor, que então reflectirá quanto à improcedência e o ridículo que se ocultam em certas ideias e práticas já obsoletas e impróprias à nossa evolução mental do século XX.
Em nosso modo de pensar, basta-nos, às vezes, a emissão de um conceito divertido, mas inteligente, para ocorrer o misterioso "estalo" que então expurga de nosso cérebro a poeira deixada pelos dogmas, tradições e princípios anacrónicos que nos asfixiam e reduzem a liberdade de pensar!
***
Chegando ao término destas explicações, que acredito serem indispensáveis no início da obra, lembro aos leitores que Ramatis e Atanagildo não se entregaram a uma narrativa aventurosa e sem finalidade construtiva, no presente trabalho, mas sim tentaram demonstrar quanta compensação milita em favor daqueles que realmente seguem as pegadas de Jesus, em lugar de se atolarem nos charcos das impurezas astrais, vivendo exclusivamente em função da "porta larga" das conquistas fáceis e da ilusão dos prazeres materiais.
Peço a Jesus que inspire a todos na leitura do trabalho que temos efectivado com o sentido de contribuir com o nosso "copo d'água" para dessedentar aqueles que têm sede de conhecimentos do que seja a vida no Além e aumentar o ânimo e a esperança naqueles que se atemorizam diante da morte do carpo e duvidam da magnanimidade de nosso Pai Celestial.
Oxalá possam estas mensagens mediúnicas beneficiar alguns corações abatidos pela incerteza do dia de amanhã. 1

1 - Nota do Médium - Em face do regime inflacionário do País, e consequente alto custo na impressão de livros, foram extraídos alguns trechos desta obra, inclusive redução nos prefácios, do que consta na primeira edição.
No, entanto, essa extirpação foi feita sob rigoroso exame e sem prejudicar o conteúdo real da obra.
Jamais o pensamento de Ramatis foi reduzido ou deformado, porquanto ele mesmo orientou-nos a esse respeito.
Curitiba, 27 de outubro de 1957
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:05 pm

Prefácio de Ramatis
Estimados leitores:
Paz e Amor.
Ao apresentar-vos o irmão Atanagildo, que deseja transmitir-vos as suas impressões colhidas no trânsito comum da vida física e espiritual, com respeito ao plano educativo que é a Terra e o panorama astral que a circunscreve, reconhecemos que muitos outros espíritos já vos transmitiram de suas experiências realizadas no Além.
No entanto, lembramo-nos de que qualquer outro esforço bem intencionado, nesse sentido, sempre contém lições de utilidade comum.
O turbilhão da vida - ainda ignorado da maioria dos habitantes do vosso mundo - que palpita nas esferas ocultas à visão dos olhos da carne, requer que se divulguem as diversas experiências dos espíritos desencarnados, para que sirvam de roteiro e estímulo aos que seguem à retaguarda.
Da mesma forma, é conveniente que se registrem as dores, as decepções e as desilusões das almas imprudentes, para que esses factos sirvam de advertência severa aos incautos e despertem aqueles que ainda subestimam a pedagogia espiritual, em curso nos mundos materiais.
É conveniente saberdes que o êxito espiritual reside, acima de tudo, no bom aproveitamento das lições vividas em ambas as regiões, ou seja no mundo astral e na crosta física.
É óbvio que esse maior ou menor aproveitamento do espírito varia de conformidade com. os inúmeros factores que já imperam no seio de cada alma em experimentação educativa.
Consequentemente, em cada experiência vivida, avaliada e descrita pelo seu próprio agente espiritual, sempre existem situações, ensejos e soluções desconhecidas que podem servir-nos de orientação e apressamento para o término do curso de nossa ascensão espiritual.
Considerando que, após à libertação do seu corpo carnal, a alma é obrigada. a seguir ao encontro de si mesma e viver o conteúdo de sua própria consciência imortal, dependendo do seu modo de vida imaculada ou corrupta, na Terra, os seus gozos inefáveis ou os padecimentos infernais, acreditamos que os relatos mediúnicos feitos pelo irmão Atanagildo tornar-se-ão benéficos para muitos leitores que, assim, poderão conhecer melhor o fenómeno da morte carnal e alguns factos ocorridos no mundo astral, através da experiência pessoal de mais um espírito amigo.
Normalmente, as criaturas desinteressadas dos bens eternos do espírito acreditam que após a morte os seus representantes religiosos, de todos os matizes, hão de lhes conseguir o desejoso ingresso no País da Felicidade, assim como os seus procuradores lhe regularizam as contas prosaicas do mundo profano.
Infelizmente, bem diversa se lhes torna a realidade quando a sepultura lhes recebe as carnes combalidas pelo excesso de prazeres materiais e viciadas pelo conforto epicurístico.
O tenebroso charco de sombras, que as espera, no reino invisível à visão física, costuma substituir o caviar dos banquetes opíparos pelo vómito insuportável e a prodigalidade do uísque pelo mau cheiro exalado das chagas dos comparsas de infortúnio.
Esses espíritos situam-se, por lei contida no Código Moral do Evangelho, na região correspondente aos seus próprios delitos, pois "a cada um será dado conforme as suas obras" e dentro do livre arbítrio de se poder semear à vontade, criando-se, porém, o determinismo da colheita obrigatória.
É por isso que se tornam oportunas as páginas que o irmão Atanagildo vos transmite do Além pois, assim como ele vos auxilia a vislumbrar alguns detalhes do panorama edénico, que serve de moldura esplendorosa às almas filiadas ao serviço de Jesus, também vos fará conhecer algumas impressões dolorosas daqueles que violentam os ditames da vida digna e são por isso atraídos para as regiões dantescas, onde vive o "espírito imundo" e se faz continuamente o "ranger de dentes".
Não duvidamos de que a mordacidade humana há-de querer zombar dos esforços exóticos de alguns espíritos que, à maneira do irmão Atanagildo, desejam alertar os seus irmãos ainda 'prisioneiros no ergástulo da carne.
O homem comum não se conforma com o ser perturbado na sua faina prosaica de amontoar moedas e cobrir o corpo com quinquilharias douradas; evita pensar seriamente no assunto, temeroso de que a certeza da morte possa enfraquecer-lhe o espírito de cobiça, vaidade, avareza e luxo desmedidos.
Pressente que essa demasiada insistência dos desencarnados, em advertir sobre a responsabilidade da vida espiritual, irá despertar o remorso das suas insanidades animais e revelar-lhe o exacto valor dos tesouros que a "traça rói e a ferrugem consome".
Louvamos, pois, o esforço comunicativo do irmão Atanagildo, que se resume num insistente convite para o reino do Cristo e para a sonhada ventura espiritual, demonstrando, além disso, quão tenebrosa é a colheita produzida pelo abuso e pela dilapidação estulta dos bens que o Criador entrega aos seus filhos, para que os administrem provisoriamente no mundo da carne.
Curitiba, 27 de dezembro de 1957.
Ramatis
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:05 pm

Preâmbulo
Meus irmãos.
Através destas páginas, desejo apenas registrar os principais acontecimentos de minha vida, desde o momento derradeiro de minha desencarnação até o ingresso no Além.
Eu sei quão difícil se me torna dar-vos uma ideia nítida e mesmo sensata da esfera em que situo presentemente e depois de desencarnado, assim como fazer um relato fiel e irrepreensível.
Qual a maneira de nos fazermos compreender no ambiente ela "casca" do orbe terráqueo, se devemos usar exemplos de "fora" para revelar-vos a essência que interpenetra as formas de dentro?
Temos de nos socorrer, também, do expediente comum das comparações e simbolismos, para compensar a deficiência de descrever-vos a moradia invisível.
Mesmo para aqueles que "sentem" a realidade do mundo oculto ou gozam da vidência que lhes permite observarem os espíritos em seus trajes astralinos, apresentam-se inúmeras dificuldades que deformam a realidade espiritual vivida por nós.
Em virtude da insuficiência das comparações materiais para se configurarem as formas exactas dos espíritos em liberdade, no Além, a maioria dos homens vê-se obrigada a guiar-se mais pela fé interior, aceitando uma realidade que o intelecto ainda não consegue assimilar satisfatoriamente.
Não guardo a presunção de relatar-vos coisas inéditas ou revelações incomuns, e que já fazem parte da vasta literatura mediúnica ditada por outros espíritos sensatos e sábios.
Mas procurarei transmitir-vos um breve relato de minha visão e existência no Além, usando da maior singeleza possível, para o melhor entendimento em comum.
Estas páginas referem-se a uma experiência pessoal de um desencarnado e que, acredito, podem interessar bastante porque não existem duas vidas semelhantes no mesmo género.
Sirvo-me da oportunidade fraterna que me é oferecida pelo compreensivo espírito de Ramatis, ao colocar o seu sensitivo à minha disposição, para que ele recepcione o meu pensamento e anote estas narrativas de fraternal advertência aos leitores.
Descrevo-vos os meus últimos momentos vividos na Terra, desde a fase da agonia até o desligamento final para que guardeis algumas noções aproximadas desse instante ainda atemorizante e tétrico para muitas criaturas e que, varia na dependência exclusiva do vosso modo de vida e da natureza dos vossos sentimentos vividos na matéria.
Todos os que têm apartado serenamente à nossa esfera espiritual são justamente os que viveram existências laboriosas, afeitos ao serviço sacrificial e amoroso para com o próximo e inspirados nos sublimes ensinamentos de Jesus.
Malgrado toda a resistência intelectual que fazemos aos ensinamentos de Jesus, aqui aprendemos e comprovamos que só a integração definitiva no "amai-vos uns aos outros" e a prática indiscutível do "fazei aos outros o que quereis que vos façam" livrar-vos-á, realmente, das terríveis consequências purgativas a que comumente se sujeitam os desencarnados torturados do mundo astral.
Há homens que partem da Terra para aqui à maneira de feras chicoteadas pelas próprias paixões enraivecidas, enquanto outros se despedem de vós à semelhança do que acontece com os passarinhos; empreendem o seu voo feliz e se libertam do ninho sem atractivos!
As paixões humanas são como os cavalos selvagens; precisam ser amansadas e domesticadas para que depois, nos sirvam como forças disciplinadas e de auxílio benéfico à marcha do espírito pela vida carnal.
E para podermos conseguir essa importante domesticação das paixões selvagens, é ainda o exercício evangélico o recurso mais eficiente para se poder amansá-las, pois que o consegue através da ternura, do amor e da renúncia apregoados pelo Mestre Jesus.
O perispírito, à hora da desencarnação, é como a cavalgadura estuante de energias represadas; tanto se assemelha à montaria dócil, disciplinada e de absoluto controle do seu dono, como se iguala ao potro desenfreado que, ao arremeter desbragadamente, também pode arrastar o seu cavaleiro apavorado.
Os consagrados filósofos gregos, quando preconizavam a necessidade de "mente sã em carpo são", já expunham conceitos de excelente auxílio para o momento dei desencarnação.
A serenidade e a harmonia na hora da "morte", são estados que requerem completo equilíbrio do binómio "razão e sentimento", pois aquele que "sabe o que é, de ande vem e para onde vai", também sabe o que precisa e o que quer para se tornar um espírito venturoso.
O cérebro que pensa e comanda exige, também, que o coração se purifique e obedeça.
Oxalá, portanto, estas comunicações do "lado de cá", embora a muitos pareçam um punhado de fantasia descabida, possam atrair o interesse dos leitores bem intencionados, que desejam libertar-se das ilusões próprias das formas provisórias da matéria e queiram focalizar a sua visão espiritual no curso da vida do Espaço, que muito depende da natureza da existência que for vivida na Terra.
Curitiba, 1º de janeiro de 1958.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Abr 10, 2021 8:05 pm

Capítulo 1 - A Caminho do Além
PERGUNTA: - Valendo-nos de vossa promessa, feita em reunião passada, desejaríamos receber impressões sobre a vossa desencarnação, bem como sobre os demais acontecimentos que se verificaram após o desligamento do vosso corpo físico.
Ser-vos-ia possível atender-nos nesse propósito?
ATANAGILDO: - Eu havia completado vinte e oito anos de idade e guardava o leito, acometido de complicada inflamação nos rins, enquanto o médico da família esgotava todos os recursos para diminuir a cota de ureia que me envenenava o corpo, causando-me terrível opressão que parecia esmagar-me o peito.
Em face da minha angústia, que aumentava de momento a momento, procurei explicar ao médico o que sentia, ansioso de um alívio, mesmo que fosse por breves instantes.
Mas estranhava, ao mesmo tempo, que, à medida que baixava a minha temperatura, aguçavam-se-me os sentidos; algumas vezes tinha a impressão de que era o centro consciencial, absoluto, de toda a agitação que se fazia em torno de meu leito, porque captava o mais subtil murmúrio dos presentes.
De modo algum poderia compreender a natureza do estranho fenómeno que me dominava pois, à medida que recrudescia a minha faculdade de ouvir e sentir, também em minha alma se fazia misterioso barulho, como se esquisita voz sem som me gritasse num tom desesperado.
Era terrível associação psicológica; algo desconhecido, que se impunha e me bradava sinal de perigo, rogando-me urgente coordenação e rápido ajuste mental. Das fibras mais íntimas de minha alma partia violento apelo, que me exigia imediata atenção, a fim de que eu, providenciasse os meios necessários para eliminar um iminente perigo invisível.
Súbito, a voz do médico se fez ouvir, com inusitada veemência:
- Depressa! O óleo canforado
Então, invisível torpor já não me deixava agir, e do imo de minha alma começava a crescer o impacto invasor, que principiava a agir sobre a minha consciência em vigília; depois, num implacável crescendo, percebia que no meu ser eclodia um angustiado esforço de sobrevivência, que se produzia pelo instinto de conservação.
Tentei reunir as derradeiras forças que se me esvaíam, a fim de rogar o socorro precioso do médico e avisá-lo de que carecia de sua imediata intervenção.
Entretanto, sob forte emoção e instintivamente atemorizado, eis que ouvi-o dizer desalentado:
- Nada mais se pode fazer!
Conformem-se, porque o senhor Atanagildo já deixou de existir!
Meu corpo já devia estar paralisado mas, pelo choque vivíssimo que recebeu a mente, compreendi perfeitamente aquele aviso misterioso que antes se evolara do âmago de minha alma; fora o desesperado esforço que o instinto animal despendera para que eu ainda comandasse o psiquismo sustentador das células cansadas!
A comunicação do médico gelou-me definitivamente as entranhas, se é que ainda existia nelas algum calor de vida animal.
Embora eu sempre tivesse sido devotado estudioso do Espiritismo filosófico e científico, do mundo terreno, é inútil tentar descrever-nos o terrível sentimento de abandono e a aflição se me tomaram a alma, naquele momento.
Eu não temia a morte, mas partia da Terra exactamente no momento em que mais desejava viver, porque principiava a realizar projectos amadurecidos desde a infância e, além disso, estava próximo de constituir o meu lar; que também fazia parte do meu programa de actividades futuras.
Quis abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam-me como chumbo; envidei hercúleos esforços para efectuar qualquer movimento; por mais débil que fosse, na esperança de que os presentes descobrissem que eu ainda não "morrera", o que de modo algum podia acreditar, tal era a minha agudeza interior.
Então repercutiu-se violentamente esse esforço pela rede "psico-mental", e ainda mais se avivaram os sentidos já aguçados da alma, os quais transmitiam-me as notícias do mundo físico através de exótico sistema telefónico que eu sempre ignorara possuir.
Sentia-me colado à pele ou às carnes cada vez mais frígidas, como se estivesse despido e apoiado sobre geladas paredes de cimento em manhã hibernal.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:49 pm

Apesar desse estranho frio, que eu supunha residir exclusivamente no sistema nervoso, podia ouvir todas as vozes dos "vivos", os seus soluços, clamores e descontroles emocionais junto ao meu corpo.
Através desse delicadíssimo sentido oculto e predominante noutro plano vibratório, pressenti quando minha mãe se debruçou sobre mim, e ouvi-a pronunciar:
- Atanagildo, meu filho!
Não podes morrer; tu és tão moço!...
Senti a dor imensa e atroz que lhe ia pela alma, mas eu me encontrava algemado à matéria hirta, não podendo transmitir-lhe o mais débil sinal e aliviá-la com a sedativa comunicação de que ainda me encontrava vivo.
Em seguida, achegaram-se vizinhos, amigos e talvez algum curioso, pois eu os pressentia sempre e captava-lhes o diálogo, embora tudo me ocorresse sob estranhas condições psíquicas, porquanto não assinalava nenhuma vibração por intermédio dos sentidos comuns do corpo físico.
Sentia-me, por vezes, suspenso entre as duas margens limítrofes de dois mundos misteriosamente conhecidos, mas terrivelmente ausentes!
Às vezes, como se o olfacto se me aguçasse novamente, pressentia o cheiro acre do álcool que servira para a seringa hipodérmica, assim como algo parecido ao forte odor do óleo canforado.
Mas tudo isso se realizava no silêncio grave de minha alma, porquanto não identificava os quadros exteriores, assim como não conseguia avaliar com exactidão o que devia estar me acontecendo; permanecia oscilando, continuamente, entre as sensações de um pesadelo mórbido.
De vez em quando, por força dessa acuidade psíquica, o fenómeno se invertia; então eu me via centuplicado em todas as reflexões espirituais, no estranho paradoxo de me reconhecer muito mais vivo do que antes da enfermidade que me vitimara.
Durante a minha existência terrena, desde a idade de dezoito anos, eu desenvolvera bastante os meus poderes mentais, através de exercícios de natureza esotérica; por isso, mesmo naquela hora nevrálgica da desencarnação, conseguia manter-me em atitude positiva, sem me deixar escravizar completamente pelo fenómeno da morte física; eu podia examiná-lo atentamente, porque já era espírito dominado pela ideia da imortalidade.
Postado entre dois mundos tão antagónicos, sentindo-me no limiar da vida e da morte, guardava uma vaga lembrança de que aquilo já me havia ocorrido, alhures, e que esse acontecimento não me parecia suceder-se pela primeira vez.
O raciocínio espiritual fluía com nitidez, e a íntima sensação de existir, independentemente de passado ou de futuro, chegava a vencer as impressões agudíssimas, que por vezes me situavam em indomável turbilhão de energias que se punham em conflito na intimidade de meu perispírito.
Mas, de súbito, outro sentimento se me apresentou angustioso e também me dominou com inesperado temor e violência; foi algo apocalíptico e que, apesar de minha experiência mental positiva e controle emotivo, me fez estremecer ante a sua proverbial realidade! Reconhecia-me vivo, na plenitude de minhas faculdades psíquicas; em consequência, não estava morto mas, também, nem vivo ou livre do corpo material.
Sem qualquer dúvida, achava-me preso ao organismo carnal, pois que sensações tão nítidas só podiam ser transmitidas através do meu sistema nervoso.
Desde que o sistema nervoso ainda estivesse cumprindo a sua admirável função de me relacionar com o ambiente exterior, obviamente eu também estaria vivo no mundo físico, embora sem poder reagir, por ter sido vitimado por qualquer acontecimento grave!
Não guardei mais ilusões; acreditei que fora vítima de violento ataque cataléptico, e, se não me acordassem em tempo, eu seria enterrado vivo!
Já antevia o horror do túmulo gélido, os movimentos das ratazanas, a infiltração da humidade da terra no meu corpo e o odor repugnante dos cadáveres em decomposição.
Colado àquele fardo inerte, que já não atendia aos apelos aflitivos do meu comando mental e ameaçava não despertar em tempo, previa a tétrica possibilidade de assistir impassível ao meu próprio enterro!
Em seguida, nova e estranha impressão principiou a se apossar de minha alma; primeiramente se manifestava como um afrouxamento inesperado, daquela rigidez cadavérica; depois, um refluxo coordenado para dentro de mim mesmo, que me deixou mais inquieto e assinalava algo de acusatório.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:49 pm

Se não exagero, ao considerar o fenómeno que ocorria, tinha a impressão de estar sendo virado pelo avesso, pois a memória recuava paulatinamente através de minha última existência e enchia-me de assombro pela clareza com que passava a rever todos os passos de minha existência.
Os acontecimentos se desenrolavam na tela mental do meu espírito à semelhança de vivíssima projecção cinematográfica.
Tratava-se de incrível fenómeno, em que eram projectados todos os movimentos mais intensos de minha vida mental; os quadros se sobrepunham, em recuo, para depois se esfumarem, como nos filmes, quando determinadas cenas são substituídas por outras mais nítidas.
Eu decrescia em idade; remoçava, e os meus sonhos fluíam para trás, alcançando as suas origens e os primeiros bulícios da mente inquieta.
Perdia-me naquele ondular de quadros contínuos e gozava de euforia espiritual quando entrevia atitudes e factos dignos e podia comprovar que agira de ânimo heróico e inspirado por sentimentos benfeitores.
Só então pude avaliar a grandeza do bem; espantava-me de que um simples sorriso de agradecimento, nessa evocação interior e pessoal, ou então a minúscula dádiva que havia feito em fraternal descuido, pudesse despertar em meu espírito essas alegrias tão infantis!
Esquecera-me da situação funesta em que me encontrava, para acompanhar com incontido júbilo os pequeninos sucessos projectados em meu cérebro etérico; identificava a moeda doada com ternura, a palavra dita com amor, a preocupação sincera para resolver o problema do próximo, ou então o esforço para suavizar a maledicência para com o irmão desajustado.
Ainda pude rever, com certo êxtase, alguns actos que praticara com sacrificial renuncia, porque não só perdera na competição do mundo material, como ainda humilhara-me a favor de adversário necessitado de compreensão espiritual.
Se naquele instante me fosse dado retomar o corpo físico e levá-lo novamente ao tráfego do mundo terreno, aquelas emoções e estímulos divinos teriam exercido tal influência benéfica em minha alma, que os meus actos futuros justificariam a minha canonização depois da morte física!
Mas, em contraposição, não faltaram, também, os actos indelicados e as estultices do moço ardendo em desejos carnais; senti, de súbito, quando as cenas se me tornavam acusatórias; referindo-se às atitudes egocêntricas da juventude avara de seus bens materiais, quando ainda me dominava a volúpia de possuir o "melhor" e superar o ambiente pela ridícula superioridade da figura humana!
Também sofri pelo meu descuidismo espiritual da mocidade leviana; fui estigmatizado pelas cenas evocativas dos ambientes deletérios, quando o animal se espoja nas sensações lúbricas.
Não era uma acusação endereçada propriamente a uma natureza devassa, coisa que, felizmente, não ocorrera comigo, mesmo na fase da experiência sexual, mas que comprovava, naquele momento retrospectivo, que a alma realmente interessada nos valores angélicos deve sempre repudiar o ambiente lodoso da prostituição da carne.
No quadro de minha mente superexcitada, eu identificara os momentos em que a fera do sexo, como força indomável, me atraíra ao limiar do charco em que se debatem as infelizes irmãs deserdadas da ventura doméstica!
A projecção cinematográfica ainda continuava fluente em minha tela mental, quando reconheci a fase do aprendizado escolar e, depois, os folguedos da infância, cujos quadros, por serem os de menor importância na responsabilidade da consciência espiritual, tiveram fugaz duração..
Espantadíssimo, creio que devido à disciplina e aos êxitos dos meus estudos esotéricos, pude identificar um berço guarnecido de rendas, reconhecendo-me na figura de um rosado bebé, cujas mãos buliçosas e o corpo tenro eram objecto de júbilo e afagos de dois seres, que se debruçavam sobre mim - meus pais!
Mas o que me deixava intrigado e confuso é que, no seio dessa figura tão diminuta, de recém-nascido, sentia-me com a consciência algo desperta e dona de impressões vividas num passado remoto.
Parecia-me envidar tremendos esforços para vencer aquele corpinho delicado e romper as algemas da carne, na tentativa de transmitir palavras inteligíveis e pensamentos adultos.
Detrás da figura do bebé inquieto, com profundo espanto eu reconhecia a "outra" realidade de mim mesmo!
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:49 pm

Atento ao fenómeno dessa evocação psíquica, tal como se vivesse o papel de principal actor em movimentado filme cinematográfico, chegava a estranhar o motivo daquelas imagens retroactivas terem se interrompido e findado naquele
berço enfeitado, quando "algo", em mim, teimava em dizer que eu me prolongava além, muito além daquela forma infantil.
Percebi, de súbito, que a vontade bastante desenvolvida na prática ocultista me exauria ante o esforço de prosseguir para trás, certo de que, sob o meu desenvolvimento mental, eu terminaria desprendendo-me do bebé rechonchudo, que traçava o limite de minha existência, para então alcançar o que deveria "existir" muito antes da consciência configurada pela personalidade de Atanagildo.
Confiante nas minhas próprias energias mentais, à semelhança do piloto que deposita fé absoluta em sua aeronave, não temi os resultados posteriores, pois ousadamente, sob poderoso esforço quase heróico, desejei ir mais além e transpor aquele berço enfeitado de rendas, que significava a barreira do meu saber, mas não o limite do meu existir.
Havia um mundo desconhecido mais além daquele diminuto corpo focalizado na minha retina espiritual, cujo mundo tentei devassar, embora manietado em terrível transe que supunha de ordem cataléptica.
Sob poderosa concentração de minha vontade, coordenei todas as minhas forças mentais disponíveis, activando-as num feixe altamente energético e, decididamente, como se movesse vigoroso aríete, arremeti para além do misterioso véu que deveria esconder o meu próprio prolongamento espiritual.
Atirei-me, incondicionalmente, na estranha aventura de buscar a mim mesmo, conseguindo desatar os laços frágeis que ligavam a minha memória etérica à figura daquele atraente bebé rosado!
Então consegui comprovar o maravilhoso poder da vontade a serviço da alma resoluta; sob esse esforço tenaz, perseverante e quase prodigioso, rompeu-se a cortina que me separava do passado!
Surpreso e confuso, senti-me envolvido por festivo badalar de sinos possantes e, ao mesmo tempo, ouvia o rumor de grande algazarra a determinada distância de onde devia me encontrar.
Enquanto as ondulações sonoras do bronze inundavam o ar, senti-me envolvido pela brisa agreste, impregnada de um perfume próprio do lírio ou de flores familiares às margens dos lagos ou dos rios, ao mesmo tempo que uma nesga de um céu azul-esbranquiçado, comum aos dias hibernais, volteou exoticamente sobre mim.
Ainda pude compreender que me encontrava suspenso, no ar, pois fui agitado por vigoroso balanço, enquanto forcejava para romper as cordas que me imobilizavam, contra a vontade.
Sob a pressão de calejada mão suarenta, que me comprimia os lábios, estava impedido de gritar, enquanto violenta dor fazia-me arder o peito e a garganta.
Pairei um pouco, acima do solo, e, subitamente, num impulso mais forte, fui atirado ao seio de água pantanosa, onde o perfume dos lírios se confundia com o mal cheiroso visco da lama do rio.
Quando mergulhei, ouvi ainda o bimbalhar dos sinos de bronze e as vozes humanas num tom festivo; pouco a pouco, tudo se foi perdendo num eco longínquo, enquanto os meus pulmões se sufocavam com a água suja e frígida.
Esse rápido entreacto da cessação de minha consciência, no mergulho das águas geladas, fez-se perder o cordel das imagens que se reproduziam na minha memória perispiritual e, como se retornasse de profundo pesadelo, senti-me novamente na personalidade de Atanagildo, vivo mental e astralmente, mas preso a um corpo de carne inteiriçada.
Mais tarde, quando já de posse da memória de minha última existência, pude então identificar aquela cena, ocorrida na França, em meados do século XVIII, quando eu fora surpreendido, de tocaia, por meus rivais enciumados da minha afeição por determinada jovem, os quais, depois de ferirem-me na garganta e no peito, lançaram-me no rio Sena, atrás da igreja de Notre Dame, justamente na manhã em que se realizavam importantes comemorações religiosas.
Por isso, no meu transe psicométrico de retorno ao passado, ocorrido durante a última desencarnação, eu sentia reviver a sensação da água frígida em que fora atirado, pois a cena se reavivou fortemente no meu perispírito, assim se conjugaram as forças vitais, em efervescência, para evitar o meu desenlace.
Após aquela reprodução da queda no rio Sena, e quando eu ainda pensava no trágico acontecimento, recrudesceram dentro de mim as vozes e os soluços mais ardentes; a imagem do passado esfumou-se rapidamente, e reconheci-me ligado de novo ao corpo hirto.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:49 pm

Não tardei em adivinhar que Cidália, minha noiva, havia chegado à minha casa e se debruçava desesperadamente sobre o meu cadáver, deixando-se açoitar pela dor pungente da separação dolorosa!
Então, avivou-se-me com mais violência a terrível ideia de que fora vitimado pelo sono cataléptico!
Imensamente surpreso, pude notar que as minhas reminiscências cinematográficas, que haviam reproduzido no meu cérebro toda a minha existência transcorrida desde o berço e, além disso, revelado um detalhe da cena ocorrida na França, não haviam durado mais do que um ou dois minutos!
Era o tempo exacto que Cidália deveria ter gasto para vir de sua casa até o meu lar, assim que a avisaram de minha suposta morte, pois residia a uma quadra de distância.
Mais tarde, pude compreender melhor esse fato, quando de posse da consciência espiritual desligada da matéria.
Em tão curto espaço de tempo, eu pude rever os principais acontecimentos de minha última existência, no Brasil, e ainda contemplar o quadro derradeiro da reencarnação anterior.
Mas em breve renovou-se-me o ânimo e eu me tornei algo indiferente à situação grave em que me encontrava, pois já havia comprovado, em mim mesmo, a imortalidade ou a sobrevivência indiscutível do espírito, o que atenuou-me o receio de sucumbir, mesmo diante da apavorante probabilidade de ser enterrado vivo!
Graças ao poder de minha vontade disciplinada, impus certa tranquilidade ao meu psiquismo inquieto, controlando emoções e preparando-me para não perder o mínimo detalhe dos acontecimentos, pois mesmo ali, no limiar da "morte", o meu espírito não perdia o seu precioso tempo e tentava engrandecer a sua bagagem imortal.
Mas, ainda em obediência aos fortes imperativos do instinto de conservação, reuni novamente as forças dispersas e tentei provocar um influxo de vitalidade no meu organismo inerte, a fim de despertá-lo, se possível, do seu transe cataléptico, para retornar à vida humana ainda mais enriquecido e convicto espiritualmente, graças às comprovações que estivera na emersão da memória perispiritual.
Justamente nesse instante de afluxo vital, os sentidos se me aguçaram novamente, fazendo-me pressentir algo ainda mais grave e que me profetizava indomável violência!
Não podia precisar a natureza exacta do pressentimento, mas reconhecia a sua génese oculta na minha alma, e que me punha de forte sobreaviso:
Longínqua tempestade se desenhava no horizonte de minha mente, e o instinto de conservação lançava o temor no imo do meu espírito. Pouco a pouco, identificava o ribombo do trovão a distância, enquanto vivia a sensação de me encontrar ligado ao cadinho de energias tão poderosas, que pareciam as forças de nutrição do próprio Universo!
A tempestade que tomava conta de mim não parecia vir de fora, mas sim eclodir lenta e implacavelmente no interior de minha própria alma.
Acompanhei-lhe o crescendo implacável e percebi, desconcertado, que era em mim mesmo, no cenário vivo de minha morada interior, que ela se desenvolvia a caminho de tremendo "clímax" de violência.
Quase que agachado em mim mesmo, ouvi o tremendo trovão ribombar nas entranhas do meu espírito; fui sacudido em todas as fibras do meu ser, à semelhança de frágil haste de junco chicoteada pelo vento indomável.
O choque foi poderoso, e mergulhei num estranho turbilhão de luzes e faíscas eléctricas, para desaparecer tragado nesse vórtice flamante.
Em seguida, perdi o comando da consciência!
O fenómeno, em verdade, identificava o temeroso momento da verdadeira desencarnação, comum a todos os seres, quando então se rompe o último laço entre o espírito e o corpo físico, laço esse situado à altura do cerebelo, e pelo qual ainda se fazem as trocas de energias entre o perispírito sobrevivente e o corpo rígido.
Após esse choque violento, eu ficara libertado definitivamente do corpo carnal e todo o meu perispírito pareceu recolher-se em si mesmo sob estranha modificação, dificultando-me o entendimento e a clareza psíquica, o que me fez perder a consciência de mim mesmo.
Não sei quanto tempo transcorreu até o meu despertar no mundo astral, depois que os meus despojos haviam sido entregues à singeleza de uma sepultura.
Recordo-me tão-somente de que, embora sentisse a temperatura algo fria, o meu corpo gozava de indescritível sensação de leveza e bem-estar, tendo desaparecido todas as angústias mentais, mas permanecendo certa fadiga e uma ansiedade expectante.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:50 pm

O meu esforço situava-se no problema de reunir os pensamentos dispersos e ajuizá-los no campo da memória, a fim de entender o que pudesse ter acontecido comigo, porquanto ainda alimentava a sensação física de haver retornado de violento choque ou pancada no crânio, proveniente de algum contundente instrumento de borracha.
Esse torpor era perturbado por um estranho convite interior, com relação ao ambiente onde me encontrava, repleto de expectativa e de silencioso mistério.
Sentia-me bem, quanto ao estado mental, gozando a sedativa sensação de haver sido submetido a uma lavagem purificadora, cujos resíduos incómodos se houvessem depositado no fundo do vasilhame mental, permanecendo à tona apenas um líquido refrescante e balsâmico.
Temia tentar algum esforço de memória muito pronunciado, a fim de não misturar a escória, depositada no fundo cerebral, com a limpidez agradável e cristalina da superfície.
A sensação era de paz e de conforto espiritual; não tendia para, evocações dramáticas ou assuntos dolorosos; nem me achava crivado de indagações aflitivas para recompor a situação ainda confusa, pois as ideias, que se me associavam pouco a pouco, eram sempre de natureza optimista.
Em oposição ao que eu considerava antes um terrível pesadelo, no qual vivera a sensação da "morte"; aquele segundo estado de espírito assemelhava-se a suave sonho, que não desejava interromper.
Após breve esforço, pude abrir os olhos e, para minha surpresa, deparei com um tecto alto, azulado, com reflexos e polarizações prateadas, semelhante a uma cúpula refulgente.
Apoiava-se sobre delgadas paredes impregnadas duma cor azulada, em suaves tons luminosos; parecia que compridas cortinas de sê da cercavam docemente o meu leito alvo e confortável, dando-me a impressão de que repousava sobre genuína espuma do mar.
Uma claridade balsâmica transformava as cores em matizes refrescantes, e às vezes parecia que a própria luz do luar filtrava-se por delgado cristal de atraente colorido lilás.
Mas eu não vislumbrava instalações nem lâmpadas com que pudesse identificar a origem daquela luz agradável.
De outra feita, eram fragmentos de pétalas de flores ou espécie de confetes duma cor carmim-rosado, que pousavam sobre mim e se desvaneciam na fronte, nas mãos e nos ombros, provocando-me a sensação de um banho de magnetismo reconfortante, a nutrir-me o corpo exausto mas contente.
Estranhando o ambiente em que despertara, completamente diferente do modesto aposento que constituía o meu quarto de enfermo resignado, acreditei que fora transportado, às pressas, para algum hospital luxuoso e de instalações moderníssimas. Consegui, então, distinguir alguns vultos confusos, que me rodeavam o leito; um deles guardava forte semelhança com minha mãe, e identifiquei-o como um homem de meia idade.
Uma senhora idosa, sorridente e extremamente afável, debruçou-se sobre mim e chamou-me com insistência.
Pronunciou meu nome com profundo recolhimento e ao mesmo tempo com profunda veemência, conseguindo arrancar-me uma exaustiva e balbuciante resposta de aquiescência.
Ela sorriu com visível satisfação e chamou outra pessoa, de aspecto pálido, com olheiras profundas, vestida de branco imaculado, que me fez evocar a figura de um daqueles clássicos magos do Oriente, cuja fisionomia é serena mas enérgica.
Havia certa bonomia nos seus gestos e inconfundível segurança no agir; fitou-me com tal firmeza, que um fluxo de energia estranha, e de suave calor, projectou-se do seu olhar e atingiu-me a medula, amortecendo-me pouco a pouco o bulbo e o sistema nervoso, como se poderosa substância gasosa, hipnótica, se derramasse pelos meus amplexos nervosos e provocasse incontrolável relaxamento dos músculos.
Lutei - esperneei, por assim dizer - tentando contrariar aquela vontade poderosa, mas uma ordem incisiva fixou-se-me no cérebro: - durma.
Então afrouxaram-se-me os músculos e fui quedando-me num doce e misterioso bem-estar, para ser envolvido por gradativa inconsciência e desaparecer suavemente num voluptuoso repouso compensador.
Numa réstia de consciência final, ainda pude ouvir a voz cristalina daquela senhora afável, que assim se expressava:
- Não lhe havia dito, irmão Crisóstomo, que só o irmão Navarana poderia provocar o repouso compensador ao seu neto, e evitar-lhe a excessiva autocrítica tão prejudicial, ainda, à sua confusão psíquica é natural da desencarnação?
Convenhamos em que o seu neto Atanagildo é portador de uma mente muito vigorosa!
Já no bruxuleio final da consciência em vigília, então eu compreendera tudo; Crisóstomo era o meu avô materno, a quem só conhecera na infância.
Realmente, não havia mais motivos para lutar ou temer; eu era um "morto", na acepção da palavra ou, mais propriamente, um desencarnado!
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:50 pm

Capítulo 2 - Primeiras Impressões
PERGUNTA: - Quais foram as vossas novas impressões após ao despertardes no Além, depois de haverdes sido submetido ao sono, pelo irmão Navarana?
ATANAGILDO: - De princípio, não pude compreender o ambiente em que me encontrava, pois não conseguia vislumbrar nada além daquele quarto silencioso, envolto por agradável luminosidade e balsâmico fluido.
Sentia-me num estado de profunda auscultação espiritual, mas reconhecia-me impedido de tentar qualquer esforço directivo.
Ainda submerso em suave torpor, lembraria a figura silenciosa do peregrino a fitar o horizonte escuro, aguardando o advento na madrugada, para recomeçar a longa viagem interrompida pela noite.
Mantinha-me em curiosa expectativa, mas anteriormente certo de logo desvendar o mistério que me cercava. Não tardei em notar estranho fenómeno de luzes, que sugiram inesperadamente, assim como se incontestável número de pétalas luminosas fosse lançado pelos faróis de veículos distantes para mergulharem no seio de densa cerração.
Mentalmente desperto, eu observava aquela sucessão de luzes, que iam desde um azul claro aos tons da safira e terminavam em matizes de agradável violeta. que, ao me tocarem, se transformavam em um refrigério balsâmico.
Não podia precisar de onde provinham; de vez em quando, o fenómeno se tornava até audível, pois eu supunha ouvir algumas vozes distantes, cuja pronúncia era de agradável entonação e simpatia.
Não tinha mais dúvidas quanto à natureza e à força daquelas luzes que me visitavam amiúde, pois elas sempre se esvaíam em mim, após deixarem-me a voluptuosa sensação de alívio e ao mesmo tempo de nutrição espiritual.
Mas houve um momento em que me senti chocado, tal como se um jacto de água fria caísse sobre o meu perispírito; em seguida, fui tomado de uma sensação de tédio, de pesar, e depois de angústia, para finalmente sentir algo como se fosse o remorso ou o arrependimento pela prática de qualquer acção má ou precipitada.
No imo de minha alma ainda permanecia esse brado aflitivo, provocado por imprevista emoção de amargura, quando um novo facho daquelas luzes azuis-violeta vieram ao meu encontro e dissolveram miraculosamente toda aquela acção opressiva, restaurando as minhas forças e devolvendo-me o bem-estar anterior.
Então agradeci, em profunda prece a Jesus, o inesperado alívio trazido nas asas daqueles confetes luminosos e coloridos que me penetravam a organização perispiritual e sumiam-se deixando-me delicioso alimento energético.

PERGUNTA:- Durante essas extraordinárias emoções já vos encontráveis desperto e consciente de que havíeis desencarnado?
ATANAGILDO: - Eu já havia despertado do sono hipnótico provocado pelo irmão Navarana, que agira em companhia de meu avô Crisóstomo e da irmã Natalina, aquela senhora bondosa e afável que me atendera antes da minha imersão no repouso reparador. Quando eu me acordara, da primeira vez, fora apenas um rápido estado de vigília astral, em que ainda me sentia exausto e com o corpo dolorido, além de sentir um frio incómodo; estava cansado da travessia que deveria ter feito da crosta até a região onde pudera me situar.
O repouso se fazia necessário, porque o tipo de enfermidade que me havia feito desencarnar era de molde a exaurir grandes cotas de energias espirituais, que muito são necessárias no trânsito para o Além.

PERGUNTA: - Podemos considerar que os mesmos fenómenos e o modo de vossa desencarnação podem servir de padrão para avaliarmos os acontecimentos com outros desencarnados?
ATANAGILDO: - De modo algum deveis pensar na igualdade de sensações e de acontecimentos para com todos os que desencarnam; não há, possivelmente, uma desencarnação exactamente igual a outra.
A situação na, hora da "morte", para cada criatura, depende fundamentalmente de sua idade sideral e dos hábitos psíquicos que tenha adquirido através dos milénios já vividos no contacto com a matéria; influi para cada um a sua natureza moral, e mesmo o tipo de energias que ainda predominem, em reserva, no seu perispírito; energias essas que variam de conformidade com os climas ou regiões da Terra ou de outros planetas em que o espírito tenha se reencarnado.
Entretanto, existem certos factos e acontecimentos que são comuns em quase todos os casos de desencarnação, e que fazem parte do processo de desligamento do corpo, como sejam a recordação imediata e regressiva de toda a existência que se finda, a agudeza de percepção nos primeiros momentos da agonia, a suposição de se tratar de um sonho ou pesadelo e, também, o choque interior que se verifica com o rompimento do último cordão de vida carnal.
Afora tais fenómenos e o tempo de sua duração, a desencarnação varia de espírito para espírito, diferindo também os demais acontecimentos que se sucedem após ao despertar no além-túmulo.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:50 pm

PERGUNTA: - Qual a origem dessas luzes coloridas, e que se desfaziam junto ao vosso perispírito?
ATANAGILDO: - Durante, minha última reencarnação eu pudera manter-me num certo nível espiritual equilibrado, conforme já vos disse, graças ao desenvolvimento de sadia vontade que havia empregado satisfatoriamente sob a inspiração do serviço de Jesus.
Embora não fosse portador de credenciais santificantes, sempre fui compassivo, pacífico e tolerante, esforçando-me para viver a distância de sensações pervertidas, das conversas licenciosas ou de anedotário indecente, que ainda é muito comum à maioria da humanidade.
Os exercícios esotéricos as práticas elevadas e as reflexões superiores, a que me submetia amiúde, sublimavam-me a carga de magnetismo superexcitante no metabolismo do sexo.
Mergulhei deliberadamente na leitura filosófica de alta estirpe, espiritual e buscava viver de modo sensato, medindo os seus pensamentos e controlando minhas palavras.
Era comunicativo e alegre, despido de preconceitos e afável para com todos; nunca me rebelava diante dos acontecimentos desagradáveis da existência humana, embora também tivesse sido provado no curso do sofrimento e nas mais íntimas fibras do ser.
Também não me interessavam as gloríolas políticas "nem me afligia pela posse desafogada dos tesouros que "a traça rói e a ferrugem consome".
Desde a infância sentira-me possuído de inexplicável ardor e ansiedade para saber o que eu era, donde vinha e para onde ia.
Reconhecia que esse conhecimento era de capital importância para a, minha vida, e que tudo mais era de insignificante valor.
Sob essa íntima e incessante preocupação, conseguia ser feliz com bem pouca coisa, porque eram raras as seduções do mundo que conseguiam despertar-me interesse ou atear-me o desejo de possuir riquezas.
Gostava de empregar alguma parte de meus haveres em favor dos deserdados e auxiliar a pobreza do meu subúrbio.
Quando me punha a solucionar os problemas alheios, nunca o fazia por exclusivo interesse pessoal, e bonificava o próximo despreocupado da ideia capciosa de me candidatar aos favores do céu.
De modo algum vivia a "fanática preocupação de "fazer caridade" a fim de cumprir um dever espiritual; sempre agia com espontaneidade, e os problemas difíceis e aflitivos, do próximo, significavam os meus próprios problemas necessitados de urgente solução.
O meu activo espiritual se apresentava com certo fundo de reserva, quando da minha desencarnação para o Além, pois aqueles que souberam da minha "morte" não só a prantearam sob ardentes votos de ventura celestial, como os mais afectivos e gratos continuaram a me dedicar preces em horas tradicionais, evocando-me com ternura e com passividade espiritual.
Essas orações e ofertas de paz, dedicadas ao meu espírito desencarnado, é que se transformavam naquelas luzes azuis, lilases e violeta e que, na figura de pétalas coloridas e luminosas, fundiam-se com o meu corpo astral e o inundavam de vibrações balsâmicas e vitalizantes.
A rogativa no sentido do bem é sempre dádiva celeste, e mal podeis avaliar quanto ela auxilia o espírito nos seus primeiros dias de desencarnação!
Trata-se de energia confortante, que às vezes se assemelha à brisa suava e de outra feita se transforma em fluxos energéticos, vivos, que reanimam a actividade do perispírito!
O facto de me desligar mais depressa dos despojos cadavéricos - embora essa libertação dependa fundamentalmente do estado moral do desencarnante - devo muito às orações que não cessaram de pousar afectuosamente em minha alma.

PERGUNTA: - E qual o motivo por que ficastes subitamente num estado de angústia e de arrependimento, no momento em que vos pareceu receber um jacto de água fria, só reanimando posteriormente, pelo regresso das pétalas de luzes coloridas?
ATANAGILDO: - Só depois de desencarnarmos é que realmente compreendemos o espírito da advertência constante daquela frase de Jesus, quando anunciou que a criatura deverá pagar até o "último ceitil"!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:51 pm

Naqueles momentos abençoados, em que se depositava sobre mim o reconfortante maná trazido pelas orações nas asas daquelas fagulhas luminosas, alguém interceptava o fluxo dessas preces e perturbava-me a recepção do precioso alimento da alma.
Só mais tarde vim a descobrir a razão daquelas quebras vibratórias, repentinas, embora de curta duração, mas que me angustiavam, pondo-me na situação de culpado por qualquer coisa que não sabia explicar. Indubitavelmente, era lançada contra mim alguma carga nociva, de tal vibração negativa que me percorria o corpo, à semelhança de um vento desagradável, em completa oposição ao efeito das luzes sedativas!
Tratava-se de Anastácio, um infeliz delinquente que eu conhecera na Terra, na última reencarnação, mas que a mim se ligara pelos imperativos da Lei do Carma, como consequência do meu passado descuidoso.
Era a cobrança justa do "último ceitil" que lhe devia.
Embora eu já tivesse envidado os maiores esforços para saldar a minha dívida cármica para com o planeta e reajustar-me na contabilidade divina com quase todos os meus credores de maior importância, Anastácio fora a criatura que ainda continuara adejando à minha sombra, pondo-me à prova o máximo de tolerância de espírito!
E usando e abusando desse direito derradeiro, que ainda lhe conferia a Lei do Carma, para a cobrança justa de minha dívida, ele sempre agiu de modo implacável, apesar de todo socorro e protecção que lhe dispensara na última romagem.
Espírito imaturo e insatisfeito, demonstrando hostilidade mesmo diante dos indiscutíveis bens que lhe proporcionara na ultima romagem física e, como não pudera se vingar totalmente, desforrou-se após a minha desencarnação, vibrando odiosamente contra mim e tentando macular-me a memória na Terra, a fim de desvalorizar os favores recebidos.
Mas o facto era muito natural e próprio do seu estado evolutivo, pois, enquanto o espírito elevado perdoa as maiores ofensas que lhe fazem, o involuído não perdoa sequer um esbarro em sua pessoa!
As almas pequeninas e infelizes vertem tonéis de ódio contra os que mal lhes respingam algumas gotas de água!

PERGUNTA: - Para que melhor compreendamos vossa situação espiritual após li desencarnação, poderíeis nos explicar algo sobre as vossas relações aqui na Terra com esse irmão Anastácio?
ATANAGILDO: - Anastácio era um homem profundamente desajustado e ocioso no meio humano; usava de toda capciosidade para com aqueles que o socorriam, amiúde, como acontecera comigo.
É evidente que, sob imperativo cármico, ele cruzou o meu caminho, na mocidade, induziu-me a ajudá-lo a casar-se com certa jovem pobre, filha de ferroviário, a qual ele abandonou após três anos de casados, deixando-a com dois filhos, ao desamparo.
Compadecido de tal situação, fui em socorro dos três infelizes e normalmente os assisti, valendo-me dos proventos hauridos em trabalho honesto.
Mais tarde, a esposa de Anastácio uniu-se a outro homem, laborioso mas paupérrimo; o meu adjutório também não lhes faltou, mas Anastácio irritou-se com isso, acoimando-me de culpado pela sua infelicidade, chegando ao ponto de emitir conceitos caluniosos à minha pessoa, atribuindo-me falta de honestidade para com a sua ex-esposa!
Felizmente, dado o meu conhecimento espiritual, que em grande parte me ajudava a entender a origem enferma da maioria das perfídias humanas, desisti de formular justificações à opinião pública ou de perturbar-me no ambiente do mundo transitório.
Não só perdoei a calúnia de Anastácio, a qual me causara sérios dissabores e prejuízos morais, como também preferi olvidar-lhe a própria perfídia, tratando-o bem como antes, sem que ele notasse, sequer, qualquer mudança no brilho do meu olhar.
Mais tarde, o infeliz entrou em conflito com o novo companheiro de sua esposa que, apesar de franzino, era homem curtido no serviço pesado e hábil na luta, motivo por que o massacrou à vontade, obrigando-o a ficar hospitalizado por longo tempo, com fracturas nas costelas e na fronte.
Tratei logo de acudi-lo; retirei Anastácio da enfermaria de indigentes, coloquei-o num excelente hospital, com todos os recursos médicos, e ajudei-o qual irmão abnegado, durante mais de quatro meses.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:51 pm

Quando Anastácio saiu do hospital, teve a coragem de andar propalando que a minha dedicação e a cobertura das despesas de seu tratamento provinham da necessidade que eu tinha de superar o meu próprio remorso de havê-lo separado da esposa!
Subestimava sempre o esforço feito a seu favor e confundia a minha humildade com o servilismo.
Movido pelo seu espírito capcioso e negligente, passou a me explorar de todos os modos, no mais flagrante ato de chantagismo.
Certo de que eu ficara confrangido com a sua calúnia, propalando que eu o socorria temeroso de escândalo, não esquivou-se de me procurar novamente.
Como eu me encontrava decidido a superar todas as minhas paixões e a escoimar a minha alma das mazelas do passado, deliberei servir-me da vingança de Anastácio como um exercício cotidiano de renúncia, resignação e iniciação espiritual, na forma de intensiva prática superior.
É verdade que eu pressentia a minha desencarnação, mais ou menos próxima pois, dotado de grande sensibilidade psíquica, que ainda mais se firmara pela cuidadosa alimentação vegetariana e pela higiene psíquica e mental, vivia em acentuada relação interior com o mundo invisível, travando verdadeiros diálogos mentais com os meus mentores e demais amigos desencarnados.

PERGUNTA: - De acordo com a Lei do Carma, tínheis que pagar os males que também havíeis feito a Anastácio, ou então fostes vítima de um sofrimento injusto!
Que nos dizeis?
ATANAGILDO: - A Lei do Carma não é bem a lei do "olho por olho e dente por dente", como geralmente a entendeis, e pela qual um facto delituoso terá que gerar outro fato idêntico e pagável pelo culpado.
Aparentemente, parece que houve exagero por parte de Anastácio, em contraposição com a minha tolerância, por se tratar de alma demasiadamente capciosa e vingativa.
Mas a solução do problema moral de cada alma é para consigo mesma e não para com a Lei, pois esta não cria acontecimentos iguais aos anteriores para, através deles, se cumprir a punição.
Não seria justo que o delito de um homem, em certa existência, obrigasse a Lei a criar um acontecimento criminoso, no futuro, para que o culpado se ajustasse ao mesmo na próxima encarnação.
O Cristo deve servir de barómetro, a fim de podermos conhecer qual a "pressão" do nosso espírito em todos os nossos actos, à semelhança de uma agulha bussolar, que nos guie sempre para o norte da bem-aventurança eterna!
Só um caminho existe para a definitiva libertação das algemas cármicas nos mundos físicos; é a renúncia e o sacrifício absoluto para com os nossos algozes e detractores!
E, "se o teu adversário obrigar-te a andar uma milha, vai mais uma com ele e, se te tirar a capa, larga-lhe também a túnica", é o conceito que melhor nos indica a solução desses problemas adversos, do passado.
Na farta messe de perfídias e ingratidões recebidas de Anastácio, eu colhia os frutos da má semente plantada alhures, em momentos de imprudência espiritual!
Não havia exigência absoluta da Lei para que eu pagasse a Anastácio tostão por tostão; mas teria que suportá-lo junto a mim, na última encarnação, e sofrer-lhe as reacções naturais do seu espírito delinquente, porque o atraíra no passado para a órbita do meu destino espiritual.
Quando minha alma ainda se aferrava brutalmente às ilusões da vida material, em me servira dele, usando-o como fiel comparsa que sabia cumprir todas as minhas ordens imprudentes e materializava fielmente toda a minha vontade egocêntrica.
As mazelas e subversões de Anastácio foram-me um excelente recurso em remotas existências, e servi-me delas para fins desonestos e prejuízos ao próximo.
Em lugar de orientar Anastácio para que adquirisse melhores estímulos para o Bem, não só exaltei-lhe os próprios defeitos, como ainda alimentei a natureza capciosa do seu espírito vingativo, tirando dele todo o proveito possível para solucionar os meus problemas de riqueza, fama e poderio!
Ele, então, se tornou o meu servidor incondicional e colocou toda a sua bagagem inferior à minha disposição, assim como o enfermo se posta diante do médico, expondo-lhe as chagas do corpo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Abr 11, 2021 7:51 pm

É óbvio que um médico não se aproveita das chagas do doente, para aumentar a sua renda; no entanto, eu procedi ao contrário; a minha inteligência soube aliar as minhas maquinações, habilmente, às chagas morais de Anastácio, quando devia curá-lo, como assim me ordenava o mais singelo dever fraterno!
Em consequência, a Lei do Carma ligou-me a ele através dos séculos, pois se o mantive, falaz, capcioso e ingrato, para melhor aproveitá-lo no sucesso dos meus planos maquiavélicos, era muito justo que eu viesse a sofrer as consequências de minhas próprias imprudências quando a técnica sideral resolveu conduzi-lo à minha presença, reafirmando-se então o velho conceito evangélico:
"o que o homem plantar, isso colherá".
Se eu houvesse sublimado aquela alma ainda informe é claro que também poderia tê-la junto de mim, na última existência, como excelente companheiro afinizado às minhas ideias e também sugestionado pelos meus novos sentimentos.
Em outras existências anteriores fora o meu comparsa fiel que reproduzia no ambiente do mundo material o conteúdo subvertido que eu pensava e queria; ultimamente, apesar de minha melhoria espiritual e de distanciar-me de seu campo vibratório inferior, ele postou-se junto a mim como terrível barómetro que eu mesmo confeccionara, para medir a temperatura emotiva do meu coração!
Em vista da grande disparidade espiritual que se fez entre mim e Anastácio - pois realmente efectuei hercúleo esforço para me elevar acima de minhas próprias mazelas morais do passado - eu só poderia libertar-me da sua presença na forma de absoluta renúncia, devendo entregar-me de "mãos e pés atados" à sua vilania e ingratidão insuperáveis.
Para isso teria que me sujeitar às mais acerbas humilhações e infâmias, sofrendo em mim mesmo o que por meu intermédio também provocara noutros seres.
E, na conformidade da lei tradicional de que "quem com ferro fere, com ferro será ferido", Anastácio significou o próprio instrumento rectificador de minhas velhas atitudes, submetendo-me a terríveis testes de tolerância, paciência, perdão e humilhação!
A Lei não se serviu dele para punir-me, o que seria incompatível com a bondade de Deus; mas transformou-o no recurso terapêutica para a minha alma, efectuando-se a cura através do processo "similia similibus curantur".
Eis por que ele sempre se me apresentou como um indivíduo exigente, que não tolerava as minhas negativas e subestimava os meus auxílios.
Apresentava-se de modo provocante à minha frente; na figura de alguém que eu explorara, diferenciando-se ostensivamente da condição comum de pedinte necessitado; exigia com arrogância, dando-me a entender que não pedia favores, mas apenas requeria devolução!
Era incapaz de reagir desaforadamente, mesmo diante de criaturas do seu próprio nível moral, mas para mim se transformava num verdadeiro inquisidor, cuja força devia provir da terrível acusação subjectiva que o seu espírito me formulava, verberando o progresso que eu já havia alcançado, e por tê-lo abandonada na delinquência do mundo, depois de sua adesão incondicional a mim, no passado.
Felizmente, pressenti a força e a justiça da Lei, que me solicitava o devido reajustamento; reconheci em Anastácio a alma credora desse passado e tornei-me dócil, tolerante e mesmo jubiloso diante de suas ingratidões, convicto de que, com essa "auto-punição", cancelava em público o saldo devedor das subversões espirituais.

PERGUNTA: - Mas, em face das leis divinas, o sofrimento e a humilhação que sofrestes não bastavam para evitar-vos o assalto das vibrações venenosas, provindas de Anastácio, após vossa desencarnação?
Porventura já não havíeis resgatado, na Terra, a dívida para com ele? Cremos que, sob tal disposição, o vosso sofrimento moral deveria cessar exactamente na hora de vossa desencarnação; não é assim?
ATANAGILDO: - Repito-vos: a equanimidade da Lei do Carma é que marca o resgate do "último ceitil", de que falou Jesus.
Este último ceitil, no meu caso, ainda figurava em débito nas derradeiras vibrações antagónicas ou confrangedoras que eu sofrera ao desencarnar.
Só então a Lei se dera por satisfeita no reajustamento, porque essa lei eu mesmo é que a havia invocado contra mim!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 12, 2021 7:29 pm

O meu passivo, nas relações com Anastácio, montava a determinada quantidade de humilhações ou perfídias, e a certo tempo de vulnerabilidade magnética receptiva aos seus pensamentos e actos contra o meu espírito.
Quando eu desencarnei e, devido ao serviço fraterno e humilde, prestado a ele e outros, criei então alguns factores para me auxiliarem na condição de desencarnado; mas ainda existia um pequeno saldo credor a favor de Anastácio, que assim me colocava sob a sua dependência, em matéria de vingança.
E, como já disse, a sua reacção foi contundente; não sofri maiores consequências da sua toxidez vibratória, porque no fundo de sua alma ele já principiava a sentir remorsos de sua atitude tão insana para comigo.
Assim, ser-vos-á fácil compreender que nós mesmos aumentamos ou diminuímos as nossas desditas porque, se eu houvesse escorraçado Anastácio, sob reacções anti-fraternas, ainda neste momento, em que vos dito esta comunicação, estaria sofrendo as consequências do seu rancor para comigo.
Mas este, dias depois, logo cessou e, proveitosamente, cheguei mais tarde a recepcionar seus pensamentos de arrependimento e desejo de perdão!
A Lei do Carma exige que pagueis "ceitil por ceitil", ou seja o total de todas as perturbações que ocasionardes aos outros com a vossa natureza animal inferior; mas a bondade divina permite que diminuais a quantidade ou a intensidade do mal praticado, desde que trabalheis em favor dos miseráveis, ou então vos sacrifiqueis heroicamente para a melhoria do mesmo mundo em que tenhais contribuído para a sua perturbação.
Tendes oportunidade de pagamento contínuo da dívida cármica, e incessante crédito provindo dos serviços espontâneos de abnegação e amor desinteressados.
Há mil recursos oferecidos pela vida humana, que permitem à alma laboriosa e decidida reparar os seus delitos no pretérito.

PERGUNTA: - Então, podeis vos considerar isento de dívidas para com esse irmão, sendo-vos permitido prosseguir d'ora avante por outros caminhos distanciados dos da evolução dele; não é assim?
ATANAGILDO: - Realmente, essa é a concepção exacta perante a Lei de Causa e Efeito, a que já me submeti na liquidação do meu débito para com Anastácio.
Cumpriu-se aquilo de que nos avisou Jesus, ao prevenir: "o que desligares na Terra também será desligado no céu".
Assim, estou desligado carmicamente, aqui, do espírito de que me servi de modo irregular, pois o mesmo já se cobrou, em parte, do seu crédito, fazendo-me suportar a inversão dos actos do passado.
A Lei, pois, permite que eu continue daqui o meu caminho evolutivo, sem que Anastácio continue a me perturbar.

PERGUNTA: - Não entendemos bem a vossa explicação.
Por que motivo dizeis que Anastácio cobrou-se "em parte", do seu crédito, e nos afirmais, ao mesmo tempo, que ele já se encontra compensado pela Lei?
ATANAGILDO: - Explico: - Em virtude de minha incessante actividade benfeitora no mundo, socorrendo a muitos necessitados, mesmo com sérios agravos para o meu orçamento económico e para a minha saúde, o total de minha dívida obrigatória para com Anastácio reduziu-se em grande parte, pois foi um serviço espontâneo que prestei ao próximo e que a própria Lei Sideral registou como crédito de minha compensação cármica.
O acervo de abusos que pude cometer no passado, por intermédio da precária moral de Anastácio, ficou bastante reduzido na minha última existência, em face da cooperação prestada a outros espíritos em provas dolorosas no mundo material.
Daí se infere que a Lei é rigorosa mas é justa; que o Pai é fundamentalmente Amor e não simplesmente Justiça.
Compreendereis, agora, por que motivo Anastácio cobrou-se "em parte" do seu crédito, pois o que lhe devia não foi pago integralmente; uma parte foi levada à conta dos auxílios que prestei aos necessitados que de mim se acercavam, e desse modo a minha dívida total ficou cancelada.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 12, 2021 7:29 pm

PERGUNTA: - O espírito de Anastácio ainda se encontra encarnado na Terra?
ATANAGILDO: - Há mais de três anos regressou ao Além pois, em face do seu drama delituoso, terminou, terminou caindo sob o punhal de um sicário, uma vez que, devido aos seus homicídios do pretérito, a Lei Cármica também o colocou na dependência de possibilidades de morte violenta.
É óbvio que, se ele se tivesse dedicado a fundo à sua renovação interior, exercendo o amoroso serviço ao próximo ou renunciando às suas deliberações vingativas, essa mesma Lei severa não só o afastaria para zonas de maior protecção no mundo físico; como também lhe favoreceria com novos ensejos de longa vida.
A Terra, como divina escola de educação espiritual, não se revolta contra o aluno que tenta reparar o curso perdido, embora, para isso, tenha que repetir novamente as lições atrasadas.
É claro que Anastácio não se reencarnara para morrer de propósito nas mãos de impiedoso assassino, pois isso nos faria supor, sem dúvida, que alguém se transformaria fatalmente em homicida, para que fosse cumprido o seu destino trágico!
Na verdade, a Lei Cármica o situara num meio onde havia maiores probabilidades de ser vítima de violências, quer por se encontrar entre maior número de homicidas em potencial, quer por se achar ligado a dois adversários vingativos, que haviam sido suas vítimas no pretérito.
Não defrontamos com um destino implacável a confeccionar homicidas para que se tornem instrumentos cármicos punitivos das infracções do passado; a lei apenas aproxima adversários que se unem dentro das suas próprias afinidades e tendências espirituais, por cujo motivo terminam punindo-se entre si, ainda sob a mesma lei de que "os semelhantes curam os semelhantes".

PERGUNTA: - Depois da desencarnação de Anastácio, já o tendes encontrado no Além?
ATANAGILDO: - Já vos disse que a Lei Cármica me desligara da contingência de me envolver nos futuros ciclos reencarnatórios de Anastácio, porque eu já resgatara a contento o total do meu débito para com ele.
Mas isso não o priva de, espiritualmente, prosseguir em seu auxílio, pois o meu actual conhecimento espiritual só o identifica como o irmão ignorante e necessitado de urgente socorro.
Anastácio não significa para mim um adversário a exigir direitos compulsórios; d'ora avante será o meu pupilo, a alma que me cumpre proteger com sincera dedicação, quer seja no Espaço, quer seja em reencarnações futuras.
O grau de entendimento e o júbilo indestrutível, que a bondade do Criador já concedeu ao meu espírito, inspiram-me para que essa minha ventura seja empregada em aliviar as angústias de outros necessitados e, principalmente, em relação a Anastácio.
Isso representa para mim um novo ensejo de trabalho criador, pois Anastácio é um objectivo de importância a que me consagrei, por longo tempo, na senda de minha própria evolução, até consegui-lo transformar no amigo leal, afectuoso e bom.
Em verdade, esta minha norma de acção é um processo comum e extensivo a todos os espíritos bem intencionados, pois aqueles que progridem tomados de novos ideais e propósitos superiores reconhecem que a sua libertação definitiva da carne lhes será mais breve se também se decidirem a proteger os seus próprios algozes do passado.
Não se trata de sentimentalismos de almas privilegiadas entre a humanidade sideral; são apenas condições naturais e comprovadas por aqueles que já vos antecederam na viagem para cá.
Quantas vítimas de nossa incúria pretérita não se fatigam afanosamente, ainda neste momento, para nos auxiliarem ao ingresso nos ambientes felizes de paz e amor!
Na verdade, muda o diapasão de nossa ventura, quando também nos tornarmos criadores de venturas alheias a exacta comprovação do ensinamento divino de Jesus, quando aconselha que "se caminhe mais uma milha a favor do adversário" ou que, depois de "exigido o manto, também se dê a túnica".
Quando isso nos ocorre em sua divina espontaneidade, sem quaisquer laivos de vaidade ou interesse mesmo espiritual, é porque Deus então já flui por nosso intermédio, porque reflectimos parte do seu Amor Incondicional!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 12, 2021 7:29 pm

Capítulo 3 - A Metrópole do Grande Coração
PERGUNTA: - Como se denomina a comunidade ou colónia espiritual em que vos encontrais actualmente, no mundo astral?
ATANAGILDO: - Em face do grande número de espíritos que habitam a região em que me encontro e da multiplicidade de labores e objectivos de educação espiritual, que também recordam certas actividades terrenas, a iluminada cidade do mundo astral, em que resido, bem merece ser conhecida, na pitoresca linguagem do Além, como sendo a metrópole do "Grande Coração"!
Quando nós a observamos a distância e recordamo-nos dos seus serviços amorosos às almas fatigadas e libertas da carne, ela significa realmente a figura de magnânimo coração; que se recorta no seio de infindável massa astral de um suave azul-esmeralda.
É um dos mais encantadores "oásis" sediados na esfera astral e devotado ao socorro do viandante que atravessou o deserto da vida física, compondo-se de sublime comunidade de almas benfazejas, que operam na zona que envolve certa região do Brasil.
Os seus misteres são sempre de paz e de progresso em relação àqueles que procuram fazer da vida um motivo de elevada educação espiritual.

PERGUNTA: - Trata-se de um agrupamento astral que faça lembrar alguma organização terrena, no género?
ATANAGILDO: - A metrópole em que me encontro faz lembrar algo semelhante a uma das mais belas cidades terráqueas, constituída de todas as suas edificações, ornamentos e recursos de vida em comum; porém distingue-se de modo indescritível quanto ao seu padrão moral superior e às suas realizações exclusivamente destinadas à ventura da alma.
Ali, tudo foi feito exclusivamente em favor do bem comum, sem preocupações de classes, hierarquias ou organizações de destaque.
A metrópole do Grande Coração é um formoso laboratório de alquimia espiritual, no qual se formam os moldes dos futuros anjos do Senhor dos Mundos!
É liderada por costumes brasileiros, mas a maior parte de sua direcção e o maior número dos seus habitantes são almas que habitaram anteriormente e por longo tempo a Grécia e a Índia, motivo pelo qual ainda conservam algumas características do espírito filosófico, artístico, devocional e um tanto irreverente dos conterrâneos buliçosos da pátria de Sócrates, Platão e Alcibíades.

PERGUNTA: - Qual a diferença dessa metrópole em relação ao modo de vida de nossas cidades terrenas?
ATANAGILDO: - Vejo-me na impossibilidade de fazer uma descrição exacta e plenamente satisfatória às vossas indagações minuciosas nesse sentido pois, embora se trate de uma cidade vagamente parecida com alguma metrópole terrena, a sua constituição foge à regra comum da Terra e ao seu sentido de vida, que se desenvolve em diferente campo vibratório, regendo-se por uma dinâmica ainda desconhecida aos reencarnados.
Essas colónias ou metrópoles astrais se agrupam concentricamente em torno do globo terrestre e estão edificadas no "mundo interior".
Comparando-as com as cidades terrenas, estas parecem cascas grosseiras daquelas.
Há certo sentido de transitoriedade nas edificações da região astral em que resido, porque o principal objectivo dessas edificações não é apenas o de agrupar almas porém, acima de tudo, o de proporcionar a desejada modificação no carácter dos seus moradores.
A medida que vão se notando as transformações íntimas nos espíritos dos moradores da nossa metrópole, quer tenham sido conseguidas durante as reencarnações, quer nos períodos de liberdade astral, os administradores da metrópole substituem as coisas que estão em relação com os moradores, renovando os padrões familiares e modificando o ambiente, a fim de que essa modificação atenda perfeitamente às reacções psíquicas mais avançadas que então começam a se manifestar.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 12, 2021 7:29 pm

PERGUNTA: - Poderíeis nos dar um exemplo dessas modificações nas situações da vossa metrópole, destinadas a corresponderem ao desenvolvimento espiritual dos seus habitantes?
ATANAGILDO: - Conforme o padrão espiritual já alcançado pelos espíritos da nossa metrópole, através de suas consecutivas reencarnações, vão se processando modificações no ambiente de sua moradia astral.
A transitoriedade nas edificações de nossa metrópole é explicada pela facilidade de poderem ser substituídas e adaptadas rapidamente a novos projectos, porque no mundo astral as configurações servem apenas de moldura e amparo estético às realizações "íntimas" de seus moradores, e não para exibições públicas de direito de propriedade.
À medida que o espírito vai evoluindo, também se desinteressa gradativamente do imperativo draconiano das formas, despertando-se-lhe o desejo da ventura espiritual e saturando-se com facilidade do contacto exterior.
Por isso, as cidades astrais, de ordem mais elevada, modificam continuamente as suas paisagens e formas, que se tornam rapidamente tediosas ou impotentes para criarem novos estímulos evolutivos aos seus moradores.

PERGUNTA: - E qual a diferença fundamental dessa transitoriedade no mundo astral, em relação à natureza definitiva das coisas terrenas?
ATANAGILDO: - As construções terrenas - bem o dizeis - são feitas, de facto, sob a preocupação de se tornarem coisas definitivas.
Como sempre existe entre vós a preocupação de as transferirdes como herança aos filhos ou aos netos, é evidente que as homens levam-nas a efeito visando à sua solidez granítica, a fim de que possam resistir por longo tempo e servir às gerações futuras.
Os planos e cálculos são elaborados de modo a que o dinheiro seja aproveitado em obras da maior duração possível, porque o desejo de lucro e o medo de prejuízo é que realmente comandam a vida humana!
E, como se torna dificultoso prever com êxito as transformações estéticas e psicológicas que hão de se processar futuramente nos vossos descendentes, construís, então, coisas que mais atendem ao sentido utilitarista do mundo, do que mesmo às necessidades espirituais dos seus moradores.
Devido a isso, os padrões do mundo material estão quase sempre em desacordo com a realidade espiritual dos homens; às vezes eles saltam séculos à frente das criaturas, nas suas construções de estilos burlescos e precipitados, ou então se mantêm graníticos, como na maioria das cidades europeias. Sem dúvida, é dificílimo acomodar com exactidão o grau interior do homem com o seu prolongamento exacto, exterior, por que as comunidades terrenas são compostas de almas situadas em todos os extremos da gama espiritual.
Entretanto, numa colectividade como a da metrópole do Grande Coração, já existe essa harmonia selectiva de almas que tendem regularmente a um gosto e aprimoramento espiritual algo semelhante, o que possibilita efectuarem-se reformas no conjunto e elas satisfazerem a todos.
É certo que na Terra já se esboça uma nova índole criadora, em que as edificações se apresentam mais leves e menos graníticas; portanto, mais fáceis de serem substituídas na conformidade incessante do progresso estético e espiritual das criaturas.
Quanto a essa transitoriedade em nossa metrópole astral, melhor vos direi que se trata de admirável plasticidade .do meio, que se modifica em perfeita correspondência com as alterações que também Se verificam na intimidade dos seus próprios moradores.

PERGUNTA: - Agradeceríamos algum exemplo que melhor nos esclarecesse quanto a essa substituição das coisas e edificações do mundo astral, assim que elas se tornam impotentes para criarem novos estímulos ao espírito.
Podereis dá-lo?
ATANAGILDO: - Dar-vos-ei um exemplo que talvez vos sirva de paradigma para tirardes ilações mais amplas do que vos tenho dito.
O belo ajardinamento que cerca os edifícios destinados ao preparo científico e artístico dos candidatos a futuras reencarnações na Terra, é um dos locais onde mais se sente, "no ar", essa impressão de transitoriedade que vos tenho enunciado; é como se aquelas flores e ornamentações permanecessem incessantemente à espera do jardineiro que teria de lhes modificar as configurações comuns a todo instante.
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A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes Empty Re: A Vida Além da Sepultura - Atanagildo / Ramatis/Hercílio Maes

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Abr 12, 2021 7:30 pm

Os canteiros de flores que decoram os caminhos de entrada desses edifícios, por mais exóticos, belos e impressionantes que se apresentem à visão, são imediatamente substituídos por outros novos tipos desconhecidos ou aprimorados, assim que os mentores e os técnicos da metrópole verificam que os estudantes já estão se tornando indiferentes à sua cor, forma ou beleza.
Isso acontece porque as coisas que existem em nossa metrópole, sob qualquer sentido ou aspecto, servem como "propulsores" que activam a dinâmica de pensar nos moradores; excitam, despertam reflexões novas e parecem rejuvenescê-los, sempre, porque em suas mutações contínuas não só evitam a saturação espiritual, como também apuram o sentido criador da alma.
Não há dúvida de que o panorama de nossa esfera lembra algum recanto modesto do paraíso bíblico, mas não se incentiva, aqui, a exclusiva contemplatividade, que ainda é sonho de muita alma ociosa, convicta de que Deus criou o mundo e depois ficou embevecido a contemplá-lo!...

PERGUNTA: - Quanto ao aspecto geral da metrópole do Grande Coração, podemos supô-la semelhante à topografia de uma cidade terrena?
ATANAGILDO: - Em tudo que se edifica em nossa comunidade, há um sentido estético muito mais aperfeiçoado do que o cultuado na Terra, mesmo quando se trata de realizações transitórias.
A metrópole do Grande Coração abriga perto de três milhões de espíritos desencarnados, e todas as edificações destinadas às suas principais actividades situam-se nos extremos da comunidade, formando grupos encantadores.
Se vos fosse possível ter uma visão panorâmica do conjunto metropolitano, então verificaríeis certa semelhança com alguma cidade terrena, pois ele se estende sobre imensurável planalto astralino, perfeitamente dividido por sete gigantescas avenidas, que partem do centro principal e penetram pelos subúrbios a dentro, cujas edificações, a distância, lembram encantadoras miniaturas de paisagens só entrevistas nos mais poéticos sonhos orientais!
O coração da metrópole é formado por gigantesco e magnífico logra douro, em forma de heptágono e que, baseando-me nas medidas terrenas, suponho atingir a alguns quilómetros quadrados.
Trata-se de vastíssimo parque entremeado de bosques, cujos arvoredos, de pouca altura, facilitam que os raios solares iluminem todos os seus recantos e caminhos, compondo sedutoras clareiras recamadas de areia fina e de uma cor creme cintilante.
A relva de tons esmeraldinos, lembra maravilhoso tapete de grama fulgente; tudo está matizado de florinhas miúdas, semelhantes a rubis, ametistas, topázios, safiras e turmalinas, que parecem tecidos de luz liquefeita e que, emolduradas por compridos cordões vegetais, formam caprichosos desenhos e compõem longas frases de louvores ao Criador!
Da galharia miúda e suavemente colorida por um tom de malva, luminoso, pendem ramos em verde claro, cristalino, rendilhados de flores iguais às glicínias e espécies de campainhas vegetais que se movem facilmente sob o impulso leve da brisa, fazendo perpassar uma deliciosa fragrância que em mim sempre evocaram as orquídeas das matas brasileiras.
Todos os jardins, bosques, avenidas e clareiras foram edificados sob genial simetria, naturalmente prevista dentro de um plano geral, antecipado, que abrange toda a beleza geométrica e panorâmica da metrópole!
Esse logradouro, que forma o coração da verdejante cidade astral de minha moradia, apresenta o máximo de capacidade, beleza e harmonia jamais produzidos por qualquer sábio, engenheiro ou artista terreno!
Pequeninos regatos, que formam cordões líquido orlando ambos os lados das avenidas principais, depois coleiam entre as frondes perfumadas, lembrando a figura de preguiçosas serpentes prateadas, que então se despejam em sete lagos artificiais. Cinco destes lagos são rodeados por delicados e espaçosos pavilhões multicores, feitos de um elemento vítreo desconhecido
para vós, e que ao longe refulgem como se houvessem sido talhados directamente em blocos de pedras preciosas! São cobertos por vistosas cúpulas translúcidas, em tons dourados, lilases, esmeraldinos e de um verde claríssimo; circundam os lagos, lembrando cuidadosa moldura refulgente no seu colorido pitoresco!
Aí, nesses atraentes pavilhões, é que se distribuem os salões de concertos, teatros educativos sobre os históricos das reencarnações, exposição de flores, casas de música, que nos períodos de comemorações especiais executam desde os temas folclóricos dos ascendentes espirituais da metrópole, até as majestosas sinfonias que fluem do Alto nas asas da inspiração angélica.
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