LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ

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Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:05 am

Quando ela se afastava dele, a sua lucidez retornava e o rapaz se dirigia à mãe, perguntando:
– Mãe, por que a senhora está me amarrando?
Eu fiz alguma coisa de errado? – era a indagação daquele montinho de gente, suplicando para que não fosse feito isso com ele.

A progenitora, que não podia soltá-lo sem pôr em risco a segurança dos demais, ali ficava ao seu lado, chorando de dor e acariciando a sua cabeleira suja de terra, sem poder-lhe explicar as coisas, pois logo a seguir, era novamente tomado pelo transe e se transformava em outra pessoa.

Nesses momentos, a mãe escutava da mesma boca, sem entender como isso seria possível ocorrer:
– Saia daqui, sua velha chorona.
Deixe o monstrinho amarrado que este é o lugar dele.
Deixe que ele fique sem comer porque nenhuma comida boa merece entrar nesta boca medonha...

Afastava-se a mãe, assustada, já que não teria como conversar com o filho naquelas condições.

Isso já durava alguns anos e fora se agravando com o passar do tempo, à medida que o garoto ia crescendo, o que causava muitas angústias no coração da mãe, já que o pai, depois de ver o filho nesse estado, acusara a esposa de responsável pela vergonha da família e se afastara do lar, deixando-a sozinha na responsabilidade de cuidar dele.

Resignada, a mãe se desdobrava em preces na sinagoga, fazendo oferendas ao Deus de sua tradição, que lhe parecia surdo ou indiferente aos martírios que vinha enfrentando.

Ao redor do garoto, que ali estava acompanhado de sua mãe e amarrado a um conjunto de galhos que se pretendia uma cama rústica, o povo abriu uma clareira movido pelo medo e pelo susto.

E o garoto, que era de inspirar compaixão, seguia com a face transformada em arrogante desafiador, desejando estragar o ambiente e infundir nas criaturas que estavam ao redor o descrédito na mensagem elevada que todos iriam escutar.

O espírito obsessor que dominava a personalidade do pequeno rapaz não desejava submeter-se a qualquer transformação moral que exigisse seu afastamento e, entrevendo que ele seria defrontado com princípios que poderiam modificar seus planos, mais do que depressa tratou de tomar a dianteira e agredir para desestruturar o equilíbrio do ambiente.

– Hah, hah, hah, mistificadores e mentirosos, bruxos de ocasião... fora daqui seus ladinos, enganadores da crendice inocente – continuava a vociferar a boca do jovem garoto inconsciente.

A multidão, espantada, não sabia o que fazer, pois que de uma forma ou de outra, estava observando uma acusação directa aos dois homens desconhecidos que estavam sendo agredidos na sua presença.

Muitos perguntavam se, efectivamente, eles não poderiam ser charlatães mesmo, pessoas que exploram a boa-fé com algum recurso mirabolante para depois lhes roubar coisas valiosas.

Afinal, como pensavam alguns, agora que os gritos da entidade lhes feriram os ouvidos, esses eram dois homens que ninguém conhecia de verdade.

E se fossem malfeitores que saem por aí aplicando golpes de cidade em cidade?
Assim, o ambiente se ia degenerando, sem que Zacarias ou Josué se afectassem com isso.

Mais do que qualquer coisa, nesse momento, Zacarias se viu tomado de um poder sobre-humano que, com a força de sua vontade poderia suportar o mundo sobre os ombros e, ao mesmo tempo, o poder de seu amor seria capaz de aguentar a pior das injustiças sem perder a paz interior e a compaixão pelos agressores.

Pela primeira vez, como seguidor de Jesus, Zacarias pôde entender o que o Mestre dizia quando aconselhava o amor aos inimigos como forma de amor verdadeiro, que não dependia de ninguém mais a não ser do próprio candidato ao reino de Deus.

E lembrando-se dos ensinamentos do Mestre, Zacarias deixou o lugar onde estava e, serenamente, foi caminhando pela multidão até o local onde se encontrava o rapaz obsedado e em descontrole.

O povo ficara num suspense como se fosse iniciar uma contenda entre o mal e o bem, prontos para tomar partido daquele que parecesse mais forte.
No entanto, ninguém arredava pé e, com excepção de Josué e Caleb, ninguém ali mantinha a oração como forma de defesa ou de auxílio ao equilíbrio geral.

Zacarias, surpreendido consigo mesmo, identificara, mesmo à distância, com uma visão ampliada que não lhe era comum, a presença de uma criatura disforme e horripilante que, com a mão na garganta do rapaz, lhe apertava as cordas vocais como se, assim, pudesse obrigá-lo a falar sob o seu comando.

Além disso, ténues fios escuros criavam ao redor da cabeça do garoto uma teia magnética que se impunha ao jovem, impedindo que ele exercesse o pleno controlo de suas reacções.

Tratava-se de antiga perseguição em que algozes e vítimas se igualavam na perversidade, eis que tanto o jovem reencarnado quanto o espírito que o jugulava, eram culpados por dores atrozes e recíprocas, oriundas de antigas existências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:05 am

Zacarias percebia, sem saber explicar como, que sua visão se dilatava e que, naquele momento, conseguira ver além da carne, como se uma mão luminosa lhe houvesse colocado uma lente nos olhos, que lhe permitisse devassar as profundezas humanas, ao mesmo tempo em que uma voz serena e imperiosa lhe dizia ao coração para que falasse directamente e sem medo ao jovem, pois tanto ele quanto a entidade eram muito sofredores.

Assim, a sua aproximação foi produzindo uma reacção de fuga no próprio garoto que, amarrado e sem poder-se mover, se encolhia o mais que podia, gritando:
– Vai para trás, diabo em forma de gente.
Não te quero perto de mim...
Você não vai me tomar da minha carroça... ele é meu, ele é meu...

Sem fazer-lhe caso e sem perder a coragem e a compaixão que, ao contrário, só iam aumentando à medida que ele se ia aproximando, Zacarias chegou bem ao lado do garoto e perguntou:
– O menino está sozinho aqui?

Imediatamente apresentou-se a mãe, envergonhada e aflita com o comportamento do filho amado, dizendo, humilde:
– Desculpe, senhor, o tumulto que meu filho produziu.
Não queria atrapalhar a sua pregação.
Trouxe-o de longe, depois que fiquei sabendo que um poderoso profeta estava curando as pessoas.

– Profeta das trevas, impostor maldito, filho do demónio – gritou o jovem novamente, quase em desespero.

Zacarias não fez caso e, olhando para a mulher, perguntou:
– Quantos mais vieram com você, mulher?
– Ninguém, meu senhor.
– Quer dizer que você veio arrastando essa cama de galhos sozinha, até aqui, sem que ninguém a houvesse ajudado?
– Sim, senhor – respondeu humilde, abaixando a cabeça para ocultar as lágrimas que lhe escorriam dos olhos de mãe abnegada, transformada em animal de carga para levar seu filho até a fonte da esperança.

Emocionado com aquele gesto de tamanho devotamento, Zacarias olhou-a com veneração e tomou-lhe as mãos entre as suas para beijá-las, como se estivesse osculando as mãos de sua própria mãe.

Depois disso, voltou-se para o jovem descontrolado e lhe dirigiu a palavra:
– Meu irmão querido, estamos aqui em missão de paz e a paz lhe damos como a recebemos de Deus e de Jesus.

A estas alturas, o espírito já não mais falava como queria porque a atmosfera de altas energias que tinha Zacarias como foco central lhe havia dominado a vontade, submetendo-a a um comportamento de respeito e temor, já que nunca esse espírito havia se defrontado com tamanha força e luminosidade.

Inúmeras entidades, invisíveis para a sua condição de atraso espiritual, lhe aplicavam energias calmantes para que ele também acabasse atendido pelo Amor que, naquele momento, era a porta do Céu no coração dos homens.

– Por longo tempo você tem sido algoz de seu irmão e, sem apreciarmos de quem é a culpa, lhe dizemos que seus dias de sofrimento e ignorância terminaram.
De hoje em diante, seu futuro está nas mãos de Jesus, que se importou com a sua felicidade desde há muito tempo, mas deixou que sua alma construísse segundo a própria vontade ignorante e débil.
Agora, o Senhor vem buscá-lo para a sua vinha.
Prepare-se, meu irmão, pois os dias de escuridão terminaram para você.

Falando desse modo, Zacarias colocou a mão sobre a cabeça do rapaz e elevou uma oração a Deus e a Jesus para que suas palavras fossem confirmadas, já que ele houvera falado com seu coração e sem entender por que havia dito aquelas coisas.

Desejava apenas que os dois se separassem para que ambos pudessem melhorar.
Ao cabo de alguns segundos, uma luz fulgurante envolveu o espírito que, num átimo, se viu desnudado em sua miséria pessoal e vislumbrou a figura angélica de uma entidade que, sem ser Jesus, era um dos emissários do Amor que acompanhavam a pregação dos seus dois emissários terrenos.

As mais diversas reacções de dor, aflição, angústia agitavam o corpo do jovem, que se retorcia como se sofresse fisicamente, em uma cirurgia sem anestésico.

No mundo espiritual ao redor, uma grande equipa de trabalhadores se aprestava a recompor o equilíbrio orgânico do jovem, sugado já há muitos anos por aquela personalidade estranha, numa verdadeira simbiose.

Tomando todos os cuidados para que o afastamento do espírito não acabasse se constituindo em um abalo tão profundo no rapaz que poderia produzir-lhe o perecimento do corpo físico, os espíritos serviram-se das energias de Zacarias, Josué, Caleb e de todos os presentes que as possuíssem disponíveis, para envolver o rapaz em uma cápsula de forças vitais, ao mesmo tempo em que o mesmo foi feito com o espírito, que se entregava à luminosidade doce que o envolvia, transformando-se em frágil criança disforme, sem saber o que fazer dali para diante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:06 am

Nenhuma palavra proferiu, nenhum grunhido animal, nenhuma imprecação violenta.
No entanto, tão imensa fora a presença do mundo invisível e tão fortes foram as forças envolvidas, que a luminosidade que abraçava aquelas criaturas passou a resplandecer aos olhares dos presentes que, sem entenderem de onde vinha, também podiam identificar uma luz diferente que emanava de Zacarias e envolvia a mãe e o filho.

Um silêncio sem precedentes se fez durante todo este processo, e as pessoas mais cépticas começavam a perceber que estavam diante de uma força desconhecida e que não tinham como duvidar do que seus olhos viam.

Passados alguns minutos, Zacarias disse a um homem jovem que estava próximo, com o desejo de ver com seus próprios olhos curiosos:
– Jared, auxilie nossa irmã a desprender o filho dessas amarras.

O jovem levou um susto e quase saiu correndo para o outro lado, pois ele não era conhecido de ninguém ali.
Havia chegado naquele dia como caravaneiro que pretendia ver Pilatos e que escutara a notícia das curas e resolvera conferir por sua própria conta.

– Vamos, Jared, ajude aqui – repetiu Zacarias, serenamente.
Vendo que a coisa era com ele próprio, adiantou-se admirado e estupefacto, amparando a libertação do rapaz, para o espanto de toda a multidão.

– O senhor tem certeza de que meu filho não vai ferir esta gente aqui? – perguntou a mãe, aflita e temerosa.
– Filha, Deus nos pede confiança e fé e Jesus nos disse sempre que, quando nossa fé for do tamanho de um grão de mostarda, moveremos até as montanhas à nossa volta – respondeu docemente o emissário do Cristo.

– Mãe, mãe, me ajude, não me amarre mais, eu não fiz nada, me perdoe, mãe, me perdoe... – eram as súplicas do garoto que, agora, se via livre das cordas e das amarras que o seguravam à distância dos outros.

Vendo-lhe a recuperação da saúde mental, a mulher ajoelhou-se junto ao leito de seu filho, em pranto convulsivo, e o abraçava numa cena emocionante para todos os que estavam ali, dizendo:
– Eu te amo, meu filho, eu te amo muito.
Perdoa tua mãe por ter que te manter assim até hoje.
Louvado seja Deus que ouviu nossas preces.
Filho querido, nós seremos felizes daqui para a frente... – e as lágrimas escorriam e lavavam o rosto do rapaz que, igualmente, chorava de soluçar.

Tomada de gratidão profunda, a mãe, renovada pelo Amor, procurou beijar as mãos de Zacarias, que não o permitiu, recusando entregá-las aos seus lábios, afastando-as.

Então, a mulher, desejando agradecer-lhe com o mais profundo sentimento de veneração, atirou-se-lhe aos pés, que envolveu com seus braços e beijou–os enternecidamente, sem sequer se importar estarem envolvidos pela poeira do caminho rude e pela pobreza das surradas sandálias.

Aquela cena era imensamente mais emocionante para todos do que qualquer outra jamais vivida por quaisquer dos que ali se achavam.

Zacarias abaixou-se e colocou as mãos sobre a fronte da mãe que o venerava e lhe disse, com carinho:
– Mulher, Jesus salvou teu filho.
Guarda tua gratidão sincera para dá-la ao nosso divino Mestre, o único que a merece.
Sou apenas teu irmão que te veio trazer o presente que Jesus mandou ao teu coração de mãe abnegada.
Ergue-te do solo com teu filho e segue adiante na vida, para que tua existência seja o testemunho do Amor que recebeste nesta hora.

Ajudada por Zacarias, a mulher ergueu-se juntamente com o filho que, asserenado, se mantinha grudado à mãe, como se dela tivesse se afastado por longos anos, cheio de saudade e desejo de carinho.

O povo, agora, estava petrificado com tudo aquilo que havia visto com seus próprios olhos.
Ninguém ousava abrir a boca para falar qualquer coisa.

Cada passo de Zacarias era acompanhado por todos os olhares e, assim, com essa atmosfera recomposta pela força do Amor e da Fé em Deus, Zacarias retomou o posto que lhe houvera sido preparado para falar a todos os que estavam ali.

– Proteja-nos Deus e Jesus para que, nesta noite, possamos entender, de uma vez para sempre, os caminhos da Verdade e do Amor...

Agora, nenhuma perturbação ousou erguer a voz para profligar contra a invocação sublime que Zacarias fazia naquele momento em que o Reino de Deus voltava a ser revelado às pessoas por palavras, depois de ter sido apresentado a todos na forma de acção poderosa e fraterna.

Agora, já quase não havia mais cépticos no meio dos que escutariam a mensagem.
A acção do Amor fora o poderoso argumento que tocara o mais profundo dos espíritos e, mesmo dos mais ignorantes e duvidosos, uma incapacidade de explicar os factos presenciados os desarmava, impedindo que seus preconceitos prejudicassem a acção da Boa Nova junto aos corações que sofriam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:06 am

Naquela noite a luminosidade de Zacarias foi vista por muitos que percebiam estar ele envolvido em uma forma de brilho pouco comum e que muitos atribuíam a algum problema na própria visão, enquanto outros viam ali um fenómeno espiritual a representar o aval de Deus sobre aquela alma benemerente.

Entretanto, Zacarias falou exclusivamente de Jesus, referindo-se aos inúmeros milagres que ele e Josué tinham presenciado quando de sua caminhada pelas trilhas que o Mestre buscava.

Relatando com riqueza de detalhes todos os feitos e passagens, ensinamentos e conselhos, o público não se cansava de escutar-lhe a palavra doce e inspirada.

Aproveitando-se de tal encantamento, raro nas turbas sempre ávidas pelo milagre, Zacarias pediu a Josué que contasse o caso daquela velha que quase fora pisoteada pela multidão, mas que, pela força de uma oração, fez com que Jesus regressasse e a atendesse.

Josué, entendendo o desejo do amigo de tirar de cima de sua pessoa a atenção exclusiva, abriu seu coração e falou, igualmente inspirado, das grandezas do reino que Jesus anunciava aos corações aflitos, dando o mesmo testemunho do amigo com a mesma isenção e reconhecimento de que era ele, Jesus, o Messias tão esperado, que viria libertar as pessoas das suas mazelas morais e de suas amarras mesquinhas.

A lembrança foi muito oportuna para reconduzir as atenções do povo para a figura do Cristo que, no dizer de seus dois emissários, era o foco de todas as bênçãos.

E o povo imaginava, no seu raciocínio directo e prático que, se dois homens simples do povo eram capazes de produzir tais prodígios como aqueles vistos por todos os presentes, que dizer do poder que Jesus, que os havia enviado, deveria possuir para alterar o curso de todas as coisas.

Terminada a mensagem da noite, organizou-se uma longa fila para os abraços durante os quais, segundo havia sido espalhado pelos beneficiados da noite anterior, as curas poderiam ocorrer.

Foi então que Zacarias pôde sentir a aproximação daquela que havia sido a progenitora de seu Mestre Amado, na figura humilde e inesquecível de Maria, mulher de semblante doce e diferente dentre todas as que ali se aglomeravam.

Ante sua presença, alguns que a seguiam informaram ao enviado do Cristo ser ela a sua mãe.
Sem estar preparado para aquele encontro, o olhar de Zacarias encontrou, no brilho do olhar de Maria, o encantamento e a gratidão que só conseguiu traduzir por um respeitoso beijo que lhe depositou nas mãos suaves e pelas lágrimas de emoção que lhe vieram aos olhos, espontâneas.

Sem dizer qualquer palavra com os lábios, Maria afagou-lhe os cabelos em forma de bênção e agradecimento e seguiu adiante, dando oportunidade para os que vinham atrás.

E a longa aglomeração foi sendo dissipada depois que as pessoas recebiam o abraço de Zacarias ou Josué, que abriram duas frentes para que todos pudessem ser atendidos mais rapidamente e abençoados pelo gesto fraterno do abraço amigo, no qual as forças do Céu se mesclavam às forças da Terra, para a recuperação das esperanças no coração dos aflitos.

Caleb estava exultante porque era quem organizava a fila e encaminhava para um e para outro os doentes, com o carinho que nunca havia tido por ninguém, mas que, agora, fazia parte de seu próprio ser.

Saul, que a tudo presenciara, estava impressionado e diminuído em sua posição mesquinha e interesseira, vendo que tivera sob seu tecto dois enviados poderosos de Deus e não soubera ver-lhes a presença porque tinha apenas desejos materiais.

Nesse momento, pensou na desdita de sua vida, nas situações dolorosas que criou e nas dores que sabia existir em pessoas que amava, mas a quem não atendia porque não desejava ter que gastar dinheiro com elas.

Sua consciência vislumbrava, agora, a quantidade dos bêbados que mantinham sua estalagem cheia de clientes, os quais explorava e dos quais se aproveitava, acreditando-se esperto o suficiente para empurrar os outros para o buraco e, antes que caíssem, roubasse-lhes os poucos recursos, como se lhes estivesse fazendo o favor de lhes aliviar a queda, livrando-os de um peso nocivo.

Sua conduta era confrontada, dentro de sua consciência, com a mensagem que acabara de escutar e com aquele poder que tudo sabia, tudo conhecia e tudo era capaz de prover, pelo simples acto da oração e da fé.

Que seria dele?
Recordou-se de Cléofas, preso ao leito em recanto distante de Nazaré, do qual se afastara desde que a terrível doença lhe ferira a pele, traduzindo-se na peste que todos temiam.

Cléofas estava atirado à miséria e carcomido pelas feridas.
Quantas vezes pessoas amigas o procuravam na estalagem para rogar-lhe a bênção de enviar alimento para que Cléofas não morresse à míngua, e dele haviam obtido a negativa fria e mentirosa de que não conhecia nenhum Cléofas e que fossem pedir ajuda na sinagoga, que era o lugar para estas coisas.

Saul não se sentia em paz, agora.
Tinha vergonha de sua conduta e a presença daqueles dois homens em sua estalagem ainda mais o envergonhava, pois os estava explorando para ganhar dinheiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:06 am

Sua cabeça girava sem parar quando, terminado o processo de tratamento dos diversos enfermos, Caleb avisou que precisavam ir embora.
Foi só nesse momento que Saul descobriu que os dois amigos que ele pensava dormirem no pequeno quarto infecto dos fundos da estalagem, na verdade deixavam que o velhinho ali se abrigasse e preferiam dormir ao relento, sob o manto das estrelas nocturnas para que o ancião repousasse protegido.

Mais e mais vergonha se instalava no espírito de Saul que, já muitas vezes tinha posto para correr o velho Caleb nos tempos em que ele andava por aí, criando caso com todos.

Quando chegaram à estalagem, que já estava fechada para as pessoas, Saul sentou-se em mesa rústica da sala da frente e convidou os amigos a comer alguma coisa.

Nisso, Josué lhe respondeu:
– Mas, meu senhor, nosso trato de trabalho não nos dá o direito da qualquer alimento nocturno... – falou com sinceridade e humildade.

Nesse momento, Saul começou a chorar de arrependimento e vergonha, vendo a sua miséria pessoal através da grandeza e humildade daqueles homens tão pobres e tão simples, que faziam o bem sem se acharem merecedores de qualquer tipo de retribuição.

– Eu lhes peço – disse Saul, soluçando – que façam comigo o mesmo milagre que fizeram com aquele rapaz.
Ele saiu transformado das amarras que o prendiam à Terra.
Eu desejo sair transformado das amarras que me prendem à Terra também.
Permitam-me servir-lhes a comida que tenho e que será alimento para minha alma pecadora e vil, transformando-a segundo os conceitos que aprendi com esse Jesus que vocês representam.

Vendo-lhe a sinceridade da transformação natural, os dois amigos o abraçaram, no que foram seguidos por Caleb, que sempre tivera raiva de Saul pelas humilhações dele recebidas em outros tempos e, assim, naquela noite, depois de terem sido servidos com uma refeição simples e fresca, os quatro prepararam-se para o repouso necessário.

No entanto, nesse momento, Saul, renovado por uma luz interior muito profunda, disse que as acomodações seriam modificadas.

Levou Zacarias e Josué, agora tratados como seus amigos, para um quarto melhor dentro da estalagem.
Tomou Caleb pelas mãos, conduzindo o pobre velho emocionado para o seu próprio quarto de dormir, que nessa noite seria usado pelo ancião, que não sabia o que dizer.

– Mas, e você, meu irmão Saul – falaram os três – aonde vai dormir?

Olhando para si mesmo, Saul respondeu sorrindo, envergonhado:
– Meu espírito dormia muito mal, quando meu corpo estava dormindo muito bem.
Agora, quero dormir muito bem, dormindo o corpo muito mal.
Vou me ajeitar nos bancos lá do refeitório porque meu espírito precisa aprender a ser humilde e a servir por amor os próprios amigos.
Não se preocupem.
Esta será a melhor noite de minha vida.

Emocionados todos, despediram-se, prometendo a retomada da conversação no dia seguinte, quando novos horizontes surgiriam nas emoções de todos os habitantes daquela pequena comunidade, graças ao desejo de Amar de apenas dois homens sinceros e devotados, aliados ao poder superior que tudo dirige e comanda em nossas vidas.

Isso é o que a sabedoria popular quis dizer com a frase antiga:
“O pouco, com Deus, é muito...”.
É a nós mesmos que a sabedoria do ditado se refere.

O pouco que somos, se o somos sob a inspiração de Deus e o Amor de Jesus, se amplia a tais horizontes, que não nos pareceria possível, jamais, tê-lo atingido senão pela grandeza Daqueles que tudo dirigem e comandam.

Aprendamos isso, irmãos queridos, e todos entenderemos que não somos nada por nossa arrogância, mas poderemos ser muita coisa, pela humildade de conhecermos nossa miséria e permitirmos que a riqueza de Deus se manifeste em nós e por nosso intermédio.
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20 - Sementes do amor que se espalham

O dia raiou como se uma nova era de esperanças invadisse o coração de Saul, que pouco havia dormido naquela noite, lembrando-se de tudo o que escutara e testemunhara.

A sua consciência estava se desprendendo da fase de adormecimento em que permitira cair por longos anos e, agora, pretendia fazer mais do que vinha realizando em sua vida inútil de se manter com a exploração dos vícios dos demais.

Isso porque sua estalagem, apesar de abrigar alguns viajantes mais pobres, tinha como ponto principal a venda de bebidas, funcionando também como ponto de encontro de pessoas desocupadas ou de má vida, onde se colocavam à vontade para planejar condutas imorais ou ilícitas de onde poderiam retirar algum ganho.

Saul nunca se opusera a esse comportamento, que ele conhecia porque pensava não dever se meter em assuntos que não lhe interessavam.

Seu negócio era o pagamento, ao final, pela bebida consumida.
Agora, entendia que sua vida não podia ser a mesma, nem seu negócio poderia continuar daquela forma.

Naquela madrugada, quando os outros três se levantaram prontos para o trabalho afanoso do novo dia, encontraram a mesa do café preparada, Saul esperando por eles e as portas da estalagem fechadas, o que não era muito normal.

– Bom dia, meus irmãos – disse Saul, feliz por poder chamá-los mais uma vez por esse qualificativo que, agora, ganhava outro significativo em sua compreensão.
– Bom dia, Saul – falaram, cada um à sua maneira –, mas você se esqueceu de abrir a estalagem hoje, homem? – perguntou Josué, sorrindo.
– Não é isso não, Josué.
Venham, sentem-se comigo para o nosso desjejum e eu vou explicando.

Assim que tomaram o lugar, Saul passou a relatar-lhes o quanto havia compreendido acerca das coisas da vida e de seus próprios problemas, o que lhe causou um questionamento muito grande sobre como proceder para com os semelhantes.

Por isso, havia deliberado que, naquele dia, permaneceria fechado para os que viessem buscar bebidas e só abriria na hora do almoço para os que viessem se alimentar e para os poucos hóspedes que haviam escolhido a sua estalagem como refúgio para dormir.

Como Pilatos estivesse na cidade, o seu estabelecimento havia recebido um número maior de peregrinos, o que lhe aumentava o trabalho, mas que não eram aqueles que se dedicavam à bebida o dia inteiro.

Os hóspedes, tão logo clareava o dia, iam em direcção à cidade para levar adiante os planos de se encontrarem com o governador ou conseguir alguma vantagem de sua estadia em Nazaré.

– Assim, agora pela manhã, vou cuidar de preparar as coisas que deverão ser oferecidas no horário do almoço e, depois dele, gostaria de perguntar-lhes se seria possível irmos a um lugar onde está uma pessoa muito necessitada, que não pode caminhar para vir ao encontro de vocês.

– Claro, Saul – respondeu Zacarias.
Nós estaremos aqui livres para o atendimento que se fizer necessário e gostaríamos que mais e mais pessoas pudessem receber o reino de Deus no coração.
De quem se trata?

Algo constrangido com o caso em questão, Saul respondeu que era uma pessoa conhecida, que estava distante da parte urbana da cidade.

– Algumas pessoas o ajudam com alimento e eu mesmo já estive fazendo alguma coisa para que ele não morresse.
– Será uma alegria estarmos com esse novo irmão para orarmos juntos, colocando nas mãos de Deus e de Jesus qualquer bênção que lhe possa ser entregue – falou Josué.

Via-se, nitidamente, que Saul se esforçava muito para falar sobre aquele caso, como se estivesse sofrendo para colocar a verdade para fora.
No entanto, respeitando sua dificuldade emocional, nenhum dos seus amigos ousou pedir maiores explicações.

Todavia, diante da postura generosa dos irmãos que se predispunham a ir até o local onde se encontrava o enfermo, Saul não teve como se conter e, de maneira muito aberta e sincera, desabou em prantos diante dos três.

Era o choro da vergonha de si próprio.

– Esse homem que vocês aceitaram visitar é... um... leproso... – falou ele, soluçando.
Vocês vão lá, assim mesmo?
– Ora, Saul, se você nos levar até ele, nós iremos levar-lhe Jesus que, por sinal, jamais deixou de atender leprosos, prostitutas, feridentos – respondeu-lhe Zacarias, emocionado com as lágrimas daquele homem abatido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:07 am

– Eu tenho muita vergonha de mim mesmo, agora, meus irmãos.
Eu não sabia o quanto estava errando ao fazer certas coisas.
Agora que a luz dos seus ensinamentos me trouxeram esse Jesus maravilhoso e amigo, espero que em suas lições exista algo que me conceda o perdão aos meus gestos de mesquinharia e egoísmo, pois não sou digno de qualquer condescendência.

– Não diga isso, Saul – falou Caleb, intrometendo-se no assunto e falando com o carinho de um avô.
Você é um homem bom, que não sabia como fazer a bondade e estava acostumado com as nossas velhas leis e tradições.
Se assim não fosse, seu espírito não teria entendido tanto as palavras de Jesus em tão pouco tempo.

– Sim, Caleb, as suas palavras são generosas e fraternas, mas apesar delas eu não posso fugir de mim mesmo.
Estou expurgando minhas culpas e vergonhas até mesmo para com você que, muitas vezes, expulsei daqui sob xingamentos e safanões, lembra-se?

– Claro, pois eu vinha aqui fazer arruaça, atrapalhar seus negócios com minha conversa de bêbado choramingão.
Isso é o que eu merecia – falou o velhinho, sorridente, para confortar o novo amigo.

– Não acredito que alguém mereça ser humilhado, ser expulso, ser afastado do mundo e que quem o faça possa ser justificado.
Pode ser considerado um ignorante e, por isso, merecer menor penalidade.
Mas, se é verdade tudo aquilo que Jesus tem falado, como me parece que o é, meu comportamento jamais esteve à altura da mensagem da bondade que eu pude aprender com vocês.

Voltando-se para os outros dois e, com o coração muito dolorido por tudo o que já havia dito e pelo que ainda precisava dizer, continuou, emocionado:
– Esse homem tinha saúde e frequentava minha taberna.
Às vezes, me ajudava e eu dava alimento e moradia para ele.
Um belo dia, arrumou suas malas e foi para outra cidade, dizendo que precisava de novas emoções.

Procurei dizer-lhe que ficasse por aqui, mas ele não me ouviu.
Partiu e fiquei um bom tempo sem receber notícias suas.
Passados alguns poucos anos, eis que retorna a Nazaré e, agora, vem acompanhado de bela dama com quem havia se casado no período em que estivera longe daqui.

Não sei se se casou ou apenas se uniram.
Apenas sei que passaram a viver juntos em uma modesta casinha daqui de Nazaré e me pareciam felizes como todos os que se casam.
Ocorre que Cléofas – como é o seu nome – depois de alguns meses, se viu doente e impedido de trabalhar por fortes dores no corpo.

Sua mulher tentou ajudá-lo, já que parecia gostar muito dele, mas não resistiu quando descobriu, com o passar do tempo, que se tratava da lepra.
Amedrontada, fugiu para encontrar abrigo junto de uma casa que recebia mulheres para encontros libertinos, já que não tinha como ganhar a vida de outra maneira.

Antes disso, no entanto, veio até aqui me pedir que ajudasse a Cléofas e a ela própria, o que me recusei a fazer depois de ter-me informado de sua história de desgraça e enfermidade.

Imaginava que, tendo partilhado da companhia de um pestoso por tanto tempo, a mulher igualmente era um deles e, assim, recusei ajudá-los e lhes pedi que se esquecessem de minha pessoa.

Nova chuva de lágrimas atestava a tempestade que lhe ia n’alma, nas ondas de vergonha e arrependimento por tudo o que já havia feito.

Recuperando o fôlego e acalmando-se um pouco, Saul prosseguiu:
– Depois que a mulher se foi, mulher esta que nunca me inspirou confiança e que nunca nos contou a sua vida anterior à união com Cléofas, fui tomado por uma sensação de dor íntima porque me coloquei no lugar dele e me senti com o dever de fazer alguma coisa.

Não poderia recebê-lo aqui por causa dos meus interesses materiais, que sempre me escravizaram, como entendo agora.
Então, falei com pessoas conhecidas, entreguei-lhes valores que possuía em minhas economias e consegui que ele fosse transferido para uma localidade fora de Nazaré, isolada o suficiente para que ficasse sossegado e sozinho.

No começo mandava comida e alguma roupa, mas nunca tive coragem de chegar perto para conversar com ele.
Depois, o tempo foi passando, fui me envolvendo novamente com as coisas que me interessavam e deixei de me preocupar com a sua situação.

Eventualmente vinha alguém até aqui pedir ajuda, mas como a minha consciência já se havia desculpado a si mesma, em virtude dos poucos gastos que tivera em comprar-lhe a choupana onde foi instalado e das vezes que lhe havia mandado alimento, passei a dizer que não conhecia nenhum Cléofas e que as pessoas deviam ir pedir ajuda na sinagoga.

O tempo passou e ninguém mais apareceu para pedir.
No entanto, graças a um vizinho que vem à taberna eventualmente, recebo notícias de suas tragédias, que escuto como se nada mais tivesse a fazer...
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Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:07 am

A esta altura, os três homens que o escutavam se achavam igualmente sensibilizados pelo drama de consciência de Saul, o qual queriam aliviar para que ele se sentisse confortado.
Assim, Caleb procurou fazer com que Saul visse os actos generosos que procurou estender ao enfermo, ainda que não tivesse tido a caridade de acolhê-lo e à mulher em sua casa.

– Veja, Saul – disse Caleb – você até que fez muito por ele.
Afinal, a maioria das pessoas que conheço nada teria realizado e, o que é pior, teria enxotado qualquer pessoa que viesse buscar auxílio ou rogar por um leproso.
Você não, meu irmão.

Seu coração bondoso aceitou ajudar o amigo, gastou seu dinheiro com ele e mandou a comida por um tempo.
Isso já é bondade em seu coração, a mesma bondade que me colocou em seu leito pessoal e que estendeu o quarto amigo para Zacarias e Josué.
E veja que nós somos pessoas estranhas e desconhecidas em sua vida.

– É, Caleb, eis o problema que hoje me fere.
Com três desconhecidos, eu aprendi a ser generoso e a dar minha cama.
No entanto, Cléofas é meu irmão de sangue, meus amigos.
Condenei à miséria material meu irmão, filho do mesmo pai e da mesma mãe.

Vejam como sou mais miserável do que ele – foi o que conseguiu dizer antes que o descontrole da emoção o impedisse de falar em uma explosão de dor e amargura, soluços e lágrimas, que nenhum deles ousou interromper, já que ali estava nascendo um novo homem, um homem para a nova era de Amor.

Zacarias levantou-se e foi buscar um pouco de água para acalmar o amigo no doloroso transe por que estava passando, dando o testemunho da própria miséria íntima, comprovando que sua conversão era sincera e autêntica.

Sentou-se ao lado do amigo e, ainda que o mesmo estivesse debruçado sobre a rústica mesa de madeira, encobrindo o rosto no meio dos braços, pediu a Josué que elevasse uma oração pedindo pelo amigo.

Josué fechou os olhos e falou com sinceridade:
– Deus, nosso Pai, Jesus nosso Mestre, aqui estamos lavando nossas almas enegrecidas na água límpida de vosso afecto.
Como nascer para o vosso reino se não sofrermos com a revelação de nossas mazelas morais?
Assim somos todos, Senhor, vítimas de nossas fraquezas que, defrontados pela generosa oferta do vosso Reino, não desejamos entrar nele fantasiados com mentirosas concepções e não desejamos furtar dele qualquer beneplácito que não tenhamos dignidade para receber.

O vosso Reino, Pai querido, pede novos súbditos.
Mas os que temos encontrado, como nós mesmos, são apenas degredados do erro, da queda moral e das fraquezas que nos envergonham.
Deixai que nos lavemos, purificando nossos espíritos no trabalho de Amor ao semelhante, de perdão das ofensas, de reconstrução de nossas vidas através da reedificação das vidas alheias.

Aqui, Jesus, nosso irmão Saul teve a coragem de abrir seu coração aos estranhos em quem confiou seus tesouros mais ocultos.
Nós também temos nossas vergonhas bem guardadas, que não tivemos o valor de revelá-las aos desconhecidos, como Saul fez para connosco.
Por isso, Mestre, é um valoroso irmão que merece mais do que nós mesmos e, assim, te rogamos que teu olhar compassivo, que sempre nos olhou o que somos por dentro, com as nossas mentiras, fraquezas e defeitos, sem nos julgar ou condenar, possa voltar-se para Saul neste momento em que o baptismo da verdade cobra o preço para estabelecer-se em nossas almas.

Ajuda-o, Senhor, para que se perdoe e para que tenha forças de seguir adiante, corrigindo o mal através do bem que puder fazer.

Vibrações radiosas encheram o ambiente pobre da estalagem e, como se o Céu tivesse se transferido para aquele lugar, outrora abrigo de bêbados e criaturas viciosas, um leve perfume envolveu-os, sem que qualquer explicação ou origem conhecida pudesse ser encontrada para a sua ocorrência.

Sabiam, no fundo, que se tratava de uma acção generosa do maravilhoso amor, como ocorria muitas vezes, nas proximidades do Mestre, em suas pregações.
Aproveitando-se do estado de espírito aberto e sincero de Saul, entidades luminosas dele se acercavam para abrir-lhe de vez o coração a fim de que não deixasse perder a sublime oportunidade da elevação de sua alma.

Enquanto isso ocorria, das mãos de Zacarias, uma energia forte e suave ao mesmo tempo emanava sobre a mente e o coração de Saul que, aos poucos, ia se sentindo envolvido em uma nova atmosfera, distanciada da autopunição, preparada para novas lutas e cheia da convicção de que o novo homem que surgia dar-lhe-ia muitas alegrias e oportunidades para reparar o mal que pertencia ao passado.

Sobre a água, medicamentos calmantes e fortificantes que os homens não conhecem ainda nos dias actuais, foram despejados para que seu corpo se estruturasse em nova dinâmica e que as células fossem padronizadas por outro carácter energético, graças ao clima de verdadeiro arrependimento que surgira no recôndito de seu espírito.

Não se tratava de uma cura física.
No entanto, era um procedimento terapêutico para a alma doente, que precisava fechar feridas abertas para que, cicatrizadas, permitissem ao enfermo do espírito retomar a caminhada sem fraquezas ou desânimos.

Depois de alguns minutos de silêncio, Zacarias tocou o ombro de Saul, que se havia acalmado, e ofereceu-lhe a cuia de água, que foi ingerida e lhe transmitiu um bem-estar nunca antes sentido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:07 am

Agora, Saul sentia sono e, por isso, foi encaminhado para descansar, enquanto que os três amigos trabalhariam preparando a alimentação que seria entregue aos que, no almoço, viessem buscar o que comer.

Lá fora, no mundo das misérias materiais e morais, a noite anterior tinha produzido maravilhas tais, que uma grande onda de esperança tomou conta de Nazaré.

Não se falava de outro assunto.
Depois de terem-se despedido de Zacarias e Josué, naquela noite inesquecível, a cena se repetia.
Pessoas doentes acordavam sadias, paralíticos se levantavam, feridas estavam fechadas, cicatrizadas inexplicavelmente.

Desequilibrados haviam recuperado a lucidez e a alegria de viver.
Essa notícia percorreu todas as casas e chegou a todos os lugares, ricos ou pobres da cidade, algumas vezes descrita com veracidade e, outras vezes, aumentada pela capacidade de fantasiar que as pessoas possuem quando vão contar alguma coisa interessante.

A sinagoga e os fariseus não deixaram de ser cientificados.
Os asseclas de Pilatos, da mesma maneira, passaram a perceber a ruidosa manifestação do povo nas ruas que, beneficiado pela generosidade daqueles forasteiros, falava deles com mais reverência do que de qualquer autoridade romana ou judaica.

Os sacerdotes e os mais importantes líderes da sinagoga local se interessaram em conhecer os que estavam produzindo tais primores e milagres, pois acreditavam tratar-se de embusteiros e encantadores de mentes despreparadas.

Não queriam aprender nada.
Somente conhecer de onde vinha aquilo para que pudessem dar um jeito de acabar com aquela fantasia libertadora, graças à qual o Reino de Deus estava chegando para os miseráveis, excluindo os mais importantes representantes da raça eleita.

Isso era muito para os espíritos mesquinhos e orgulhosos.
Serem preteridos e verem o benefício chegar a criaturas feridentas e andrajosas era uma ofensa muito grande que não poderia ficar sem punição.
Além disso, falar da chegada do Messias, dizer que o Reino de Deus estava chegando, se aproximava da blasfémia, punível com dolorosas chibatadas, em muitos casos.

Assim, os fariseus se prepararam para que, na noite que se aproximava, pudessem presenciar o teor das pregações, disfarçando-se alguns, mandando espiões outros, tudo isso feito sem qualquer alarde para que não espantassem os pregadores.

No entanto, da mesma maneira que os sacerdotes estavam se alvoroçando, o povo sofrido e esquecido por eles em suas dores anónimas igualmente se movimentava para que, na noite seguinte, mais e mais pessoas pudessem ouvir a mensagem.

Algumas criaturas mais curiosas chegaram a ir até a estalagem, no período da tarde, onde sabiam que os dois estavam hospedados.
No entanto, o aviso de que ela estaria fechada, conforme Saul havia fixado, além de afastar os bêbados, também desestimulou os curiosos que, com razão, entendiam ou imaginavam que todos tinham se ausentado, inclusive o próprio dono, já que não era comum que o avarento Saul fechasse seu negócio por qualquer coisa.

Naquele dia, depois que o almoço fora servido aos que haviam ido buscar o alimento, os três amigos, acompanhados de um Saul já melhorado e mais leve na alma, deixaram a taberna, tomando o rumo da periferia da pequena cidade, no encalço da choupana de Cléofas, onde chegaram depois de uma longa caminhada.

A casinha era um pequeno abrigo, muito pobre e sem recursos mais amplos do que o de uma tapera.
Ninguém estava por perto e, assim, Saul foi entrando devagar pelo terreno, levando consigo os seus novos amigos.

Bateu à porta tosca e escutou um gemido fraco:
– Quem... é....? Quem.... es..tá aí....?
– Sou eu, seu irmão Saul – falou com emoção e ansiedade na voz.
Posso entrar?
– A porta está encostada e a casa é sua, meu irmão – foi o que disse a voz rouquenha.

Abriu-se a passagem, e os homens penetraram naquele ambiente envolvido pelo mau cheiro de carne apodrecida.
A miséria imperava e a esperança parecia ter esquecido aquele lugar.
Cléofas, apesar de mais jovem do que Saul, tinha-se mantido vivo até aquele dia tão-somente devido ao seu vigor físico que se ia consumindo lentamente.

Não havia alimento em nenhum lugar.
Já fazia três dias que ele tinha comido pela última vez, graças à caridade de alguns vizinhos que lhe atiravam coisas pela janela, sem se aproximarem dele.
Ainda que caminhasse, não tinha ânimo para sair da casinha e expor-se à visão do povo, que fugiria certamente de sua aparência desagradável.

Pelos traços que lhe restavam, podia-se entrever a beleza de um rapaz jovem que ia envelhecendo e se acabando, graças à acção da enfermidade.
Cléofas sentiu-se emocionado e envergonhado por estar naquela situação, vendo o irmão, ainda mais acompanhado de tantos outros desconhecidos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:08 am

Ao mesmo tempo, um sentimento de medo se apossou do enfermo que, sem entender o motivo da tão inesperada visita, logo falou:
– Meu irmão, este é meu último refúgio, onde me protejo da noite e do olhar de medo das pessoas.
Não deverei demorar muito para morrer.

Eu sei que você comprou esta casinha para mim e, por isso, não tenho o direito de lhe pedir mais nada, além do que você já me ofereceu.
No entanto, só lhe peço que tenha um pouco de paciência e espere que a morte me liberte destas algemas, pois eu não terei para onde ir se você vender este terreninho para pessoas que vão querer ocupá-lo sem se importarem comigo.

Por favor, tenha só um pouco de paciência.
Eu rezo todos os dias para que Deus me leve com ele, e o liberte de tanta vergonha, meu irmão... – falava com dificuldade o doente.

Percebendo o medo do enfermo, acreditando que os visitantes poderiam ser compradores que viessem ver o terreno, o que o deixava aflito com razão, já que essa não lhe seria uma conduta estranha, pelos modos através dos quais Saul estava acostumado a agir, antes de se converter.

Para Saul, essa suspeita lhe apontava para os muitos danos que a sua conduta antiga devia ter causado a muita gente que o temia e dele se afastava para não ser sua vítima.

Tentando aclarar as coisas, Zacarias falou, amistoso:
– Não, Cléofas, Saul não vai vender esta casa.
Muito ao contrário.
Trouxe-nos aqui para que o conhecêssemos e conversássemos com você.
– Puxa vida, então Saul está mais louco ainda do que se quisesse vender esta casinha – falou o doente, mais surpreso do que antes.

– Não, Cléofas.
É que Saul hoje é outro homem.
Está renovado e arrependido de tudo o que deixou de fazer por você.
E para que pudesse provar isso, pediu que viéssemos aqui para conhecê-lo e para falarmos de Jesus ao seu coração.

Sem ter como se opor, já que nunca recebia visitas, Cléofas aceitou a companhia dos três e buscou maneiras de colocá-los o mais confortável possível.
E ali, por longo tempo, Zacarias, Josué, Caleb e o próprio Saul desfiaram o seu rosário de esperanças ao coração doce e resignado de Cléofas que, ao longo da conversação, foi-se entregando ao caminho da esperança, como alguém que encontra uma luz no meio da noite.

Cléofas bebia as palavras, que lhe caíam na alma com a força dos raios da aurora que se projectassem sobre ele.
Passou a ter desejo de conhecer aquele homem bondoso que curava os leprosos e, se isso fosse feito para com ele, seguir-lhe-ia os passos por onde andasse.

E entre as notícias do novo reino e o conhecimento dos inúmeros milagres que estavam sendo feitos ali mesmo em Nazaré, Cléofas pediu que os emissários do Senhor orassem por ele ali mesmo, a fim de que pudesse melhorar.

Desejaria muito abraçar o irmão Saul sem estar doente, de reencontrar sua vida e seguir adiante, no aprendizado do Bem que, agora, estava descobrindo graças ao sofrimento.
Reconhecia-se devedor da vida, havia-se conduzido mal em inúmeras ocasiões das quais se envergonhava.
Todavia, desejava recuperar-se e lutar para que sua existência pudesse terminar, um dia, dando-lhe a sensação da consciência pacificada.

E assim, naquele casebre, envolvidos pelo Amor dos dois enviados de Jesus, as orações se elevaram aos céus para o benefício de Cléofas que, encantado com aquela porta luminosa, deixou-se envolver pelo halo de luz e esperança, sentindo-se revigorar inexplicavelmente.

A água disponível fora magnetizada por Josué e dividida em duas partes.
Uma seria ingerida e a outra seria colocada na forma de compressas sobre as piores feridas do seu corpo.
Terminado o encontro, Zacarias comunicou que seria necessário cuidar do enfermo naquela noite, trocando os panos molhados até que o dia clareasse.

Ele e Josué poderiam fazer isso sem problemas.
No entanto, tinham assumido o compromisso de estarem em Nazaré junto dos outros doentes para a propagação da mensagem de Jesus.

Nesse panorama, Caleb lhe disse, para surpresa de todos:
– Eu faço questão de ficar aqui.
– Mas eu sou o irmão que deveria estar ao lado de Cléofas – respondeu Saul, desejando fazer algo por ele, por primeira vez na vida com Amor sincero.

– Mas você precisa voltar para a estalagem e acompanhar nossos dois irmãos até o local da reunião da noite.
Não se preocupe, Saul, você terá muitas oportunidades de dar testemunho de sua renovação ao mano querido, o que já começou hoje, com a sua preocupação em ampará-lo.

Eu é que ainda não fiz bem a ninguém.
Quero começar aqui, hoje, por favor.

E havia tanta sinceridade na voz do velhinho, que todos aceitaram as suas rogativas.

Providenciaram mais água, um pouco de comida nas redondezas, compradas por Saul com suas moedas que, agora, eram entregues sem dor no coração e, depois das despedidas, partiram para a cidade, pois a tarde já caía e era necessário preparar-se para a noite que chegava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:08 am

21 - Protecção antes da Perseguição

À hora combinada, naquele dia, dirigiram-se os três para o local das reuniões que, pelos sucedidos nas noites anteriores, se encontrava repleto.

Seria a quarta noite de prédicas públicas.
Os que haviam testemunhado os primeiros fulgores da mensagem libertadora, somados aos que iam chegando atraídos pelas novas realizações ditas miraculosas, agregados aos curiosos que desejavam estar a par das novidades e apurar a veracidade dos boatos, encorpados pela multidão de sofredores e enfermos agoniados, todos se aglomeravam no local, uma vez que os que foram até a estalagem para buscar-lhes a companhia ou os conselhos, naquele dia, encontraram-na fechada.

Além desses, como já foi esclarecido, alguns fariseus, trajados de maneira singela, ocultos por mantos discretos com os quais se confundiam com o poviléu e alguns espias dos sacerdotes, lá se apresentavam no anonimato com a intenção de colher maiores informações e, se fosse o caso, estabelecer a confusão no meio da multidão para denegrir o conteúdo da mensagem.

Afinal, aquele Jesus de quem esses homens estavam falando era conhecido da maioria dos fariseus e sacerdotes da cidade, eis que fora criado nas tortuosas vielas de Nazaré e, certa vez, há não muito tempo, ele próprio estivera na sinagoga da cidade, proclamando-se o enviado de Deus, quando fora escorraçado dali, tendo os seus seguidores se envolvido em muitas tertúlias verbais com os cépticos e os bem aquinhoados judeus, que se sentiam prejudicados por uma filosofia absurda que equiparava escravos a senhores, dava igualdade aos ricos e pobres, aos cultos e ignorantes.

Os judeus primavam pelo estabelecimento de privilégios de casta que procuravam manter e ampliar e, por isso, tal compreensão das coisas representava uma ofensa ao que eles possuíam de mais sagrado na consideração das relações para com o Deus de suas crenças, sempre parcial e faccioso.

Assim, as atitudes generosas que atraíam os mais humildes não eram consideradas na avaliação do mérito de tal revelação.
Ali estavam os miseráveis com a miséria que a própria conduta mesquinha dos seus pares havia criado e mantinha isolada na dor e sem esperança.
E quando alguém tratava de lhes infundir novo ânimo, de curar-lhe as feridas, de propiciar-lhes a possibilidade de acreditarem em um Deus consolador e amigo, os vigilantes da tragédia, preservadores da desgraça desejavam impedir que isso se desse, nem que se valessem, para tanto, de condutas ilícitas ou covardes e mentirosas.

O espírito rigorista, que sempre mata a essência das coisas, estava a postos para ensombrar a luz com os argumentos da escuridão.

Assim são os homens medíocres de todos os tempos.
Apegam-se a tradições religiosas ou sociais nas quais encontram a justificativa para os próprios privilégios e, quando alguma coisa ameace o seu posto e os seus tesouros, invocam uma imensa quantidade de tolices, com fundamento nessas tradições e costumes produzidos pela inércia dos erros repetidos que a ignorância sempre favorece, para defenderem a ferro e fogo a manutenção de seus postos e vantagens.

No entanto, tão grande era o povo que se reunia naquele local, que os próprios fariseus e os que se achavam ali ocultados ficaram surpreendidos com a concentração de pessoas.

Haviam estado tão ocupados com os interesses mundanos junto de Pilatos, que não se deram conta dos avanços feitos pela mensagem do Reino.
Agora, aquilo que poderia ter sido facilmente destruído nos primeiros momentos, ganhava uma publicidade que não era observada nem na sinagoga tradicional nos dias de sábado, quando se dava a principal reunião dos judeus, nos seus actos ritualísticos da fé cega.

Isso porque os fariseus reservavam poucos lugares para o povo miserável, os quais nunca eram muito bem-vindos na casa do Senhor por causa de seu mau cheiro e da interminável lamúria de seus males.

Ainda que não lhes fosse proibida a entrada, os próprios doentes se sentiam mal recebidos pela maneira como eram tratados pelos mais importantes de sua raça que ali se congregavam com suas famílias.

Ali, na praça, não era assim.
A natureza os amparava a todos, igualmente, e a mensagem do Reino de Deus caía no coração das criaturas como a fonte da esperança que amparava nas lutas, sem discriminar os menores em favor dos maiores, como faziam os judeus daquela cidade.

Entre ansiosos e agradecidos, emocionados e curiosos, interessados e desconfiados, a turba se preparava para ouvir a palavra de Josué a quem competia, naquela noite, falar do Reino da Verdade.

Postado no mesmo sítio mais elevado da noite anterior e pedindo a todos que pudessem se sentar para melhor escutá-lo, Josué tomou a palavra e saudou a todos, em nome de Deus e de Jesus, o que se tornara uma maneira padrão em suas prédicas, para que ninguém imaginasse que estavam ali por eles próprios, senão que eram, apenas, enviados de Deus e que falavam das maravilhas do Seu reino conforme Jesus os havia ensinado.

– Varões de Israel, são chegadas as derradeiras horas em que o mundo será abalado nas suas estruturas mentirosas e falíveis.
Temos produzido a nós mesmos, na usura de nossos sentimentos, na vaidade de nossos espíritos, este cortejo de feridas e dores que não podemos acreditar tenham sido criadas por Deus, que nos ama acima de todos os nossos defeitos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:08 am

Olhando para nossas ruas, encontramos o atestado de nossa indiferença na figura das mães sem alimento para seus filhos, homens sem trabalho digno, prostitutas e mulheres desiludidas no afecto, abandonadas sob o fardo da prole infantil.

Dão triste testemunho do que somos estas crianças esquálidas e sem viço que correm atrás dos mais bem vestidos a suplicar-lhes o óbolo ou a atenção.
Da mesma maneira que a mostarda é produzida por uma árvore específica, que as tâmaras nascem nas tamareiras, que os figos são encontrados nas figueiras, se olharmos para os frutos da desgraça que estão pendurados em nossos olhos, veremos a natureza da árvore que os tem produzido em abundância.

Se percebermos quanta infelicidade ronda o interior dos lares, na insatisfação, no desentendimento familiar, na carência de afecto sincero poderemos, igualmente, observar o gosto azedo da fruta que temos engendrado com o conteúdo de nossos conceitos.

Quando a miséria de muitos se levanta ao lado da ventura material de tão poucos, tal discrepância aponta para o erro de nossas filosofias, que têm procurado nos fazer inimigos uns dos outros e adversários astutos e mesquinhos.

A todos os que escutam as mensagens da lei pergunto:
– onde estão os lenços que secam lágrimas, as gotas de bálsamo que tratam das dores, a esperança para os esquecidos do mundo?
Todos sabemos onde está a sinagoga de nossas santas tradições e, no entanto, não sabemos onde está o amor que nos trataria as chagas.

A falência de nossas estruturas não é algo que precise de processos de apuração.
As provas estão expostas aos nossos olhos, aqui mesmo neste local.
E a sentença natural é a de que tem sido inútil a manutenção das mesmas estruturas, pois elas nos afastam uns dos outros como inimigos ou, o que é pior, como falsos amigos.

Por isso, entre os interesses de casta e da moeda, nos perdemos uns dos outros acreditando que Deus é isto o que dele temos feito.
A vocês que estão aqui, exibindo as chagas à luz do mundo, se a porta dos homens lhes parece trancada, a porta do céu está aberta.

A vocês que estão aqui, ocultos da verdade para espreitarem na escuridão de suas intenções mesquinhas o momento adequado para atacarem como lobos miseráveis, digo que já basta de vítimas.

Aqui não estamos para combatê-los, pois temos amor por todos vocês.
Estamos, apenas, falando de uma nova ordem que se está instalando para que todos os homens possam ser integrantes do banquete das bênçãos que Jesus nos fornece, como embaixador da Verdade, enviado de Deus em nosso caminho de erros.

A palavra de Josué era um estrondo nos ouvidos de todos.
Quantos ali presentes desejaram falar sobre tudo isso e tiveram medo de pronunciar as mais brandas advertências por temerem pela própria vida.

Quantos se deixavam levar por sonhos nos quais, um dia, tais verdades poderiam ser reveladas aos ouvidos de todos para o escárnio dos poderosos e dos indiferentes dirigentes da comunidade.

No entanto, isso era estilete no peito das autoridades religiosas ali representadas por esses elementos ocultos, fariseus ou enviados dos sacerdotes, que eram obrigados a ouvir calados a fim de que não fossem identificados no meio do povo, pois, nesse caso, estariam correndo perigo tal o volume de pessoas ali presentes.

A prudência fazia com que a coragem se ocultasse nas dobras modestas de túnicas rotas com que se trajavam e que engolissem aqueles conceitos que, mais do que opiniões, eram verdades.
Eles mesmos podiam ver isso nas reacções dos que escutavam as exortações de Josué.

O povo vibrava de euforia, em apoio às suas ideias, ainda que elas não tivessem o objectivo subversivo.
O orador estava, apenas, revelando os contrastes existentes, fruto dos defeitos intrínsecos daquele tipo de estrutura social, para que, depois, pudesse revelar o reino de Deus aos corações amargurados.

No entanto, Josué não o fazia por si mesmo.
Naquele momento, como que ligado por fios dourados de energia, o enviado do Senhor se achava inspirado pela figura majestosa e modesta do Mestre distante que, conhecendo a dureza das pessoas de Nazaré, desejava falar-lhes de maneira a que pudessem escutar a mensagem do seu Evangelho, ainda quando as mesmas criaturas não o tivessem recebido pessoalmente.

Por isso, ligava-se ao espírito de Josué que, no verbo incisivo da Verdade que desperta, falava de modo a assustar-se a si próprio, eis que nunca imaginara proferir tais conceitos de modo directo.

No entanto, a mensagem continuava para que todos escutassem.

– De nada adiantará se ocultarem em vestes miseráveis, pois a força da Verdade os descobrirá onde estiverem e desnudará as suas intenções pecaminosas e vis.
Aqui estamos à vista de todos.
A mensagem do Reino de Deus não se oculta na escuridão ou no anonimato para melhor planear um meio de atingir a integridade dos que a escutam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:08 am

Apresenta-se como cordeiro no meio dos lobos, como pomba no meio das serpentes para que lobos e serpentes igualmente possam compreender-lhe a doçura e se encaminharem para o bom caminho.
Estamos aqui para dizer-lhes a todos, filhos de Nazaré, que a nova era está fundada, na qual há espaço para os seus sonhos se transformarem em realidade, para as suas alegrias serem mais do que fugazes momentos que são levados como o pó na ventania.

O reino de Amor é aquele que se oferece aos aflitos e desesperados.
A sua mensagem é a do perdão das ofensas, da compreensão mútua, da fraterna conduta e do serviço no bem de todos.
A sua luta é contra os defeitos que existem em nossos corações, contra os inimigos escondidos nas túnicas rotas de nossos vícios, contra o interesse pessoal nas coisas de Deus, contra a miséria e o medo.

Os que se deixarem tocar pelo verbo divino poderão sentir a fortaleza interior nas horas do testemunho.
Não é um reino que venha com aparências exteriores, com faustos, com poderes mundanos, todos estes, responsáveis pelas nossas misérias como acabamos de afirmar.
O Reino de Deus se apresenta com simplicidade aos corações, pedindo a capacidade de Amar, de ajudar os que sofrem e de trabalhar para que a nova estrutura de nossas vidas possa produzir o bem ao maior número de pessoas.

Muitos vieram aqui em busca de curas físicas.
E eu lhes afirmo que o Reino de Deus não se preocupa com corpos que morrem, mas com o espírito que sobrevive sempre.
Não imaginem que estamos num movimento de renovação de carnes.
Estamos em plena vigência da era do espírito, onde as coisas da alma valem muito mais do que as aparências do corpo.

Não mais de ritos mentirosos, de rezas intermináveis e insinceras, de condutas aparentemente virtuosas com as quais dilapidamos o património dos aflitos.
As nossas preocupações devem ser com as doenças de nosso íntimo, estas muito mais difíceis de combater e que nos pedem a disciplina da vigilância diária.

Queremos a almofada, mas oferecemos pedras aos demais.
Desejamos remédios que curem nossas doenças, mas, aos outros, oferecemos muletas ou catres para que sigam nas suas misérias e enfermidades.
Desejamos o privilégio do Reino de Deus, mas oferecemos a lapidação aos fracos que caíram no erro.
Tudo isto demonstra a deficiência do que somos ao mesmo tempo em que mostra como estamos equivocados no que diz respeito à natureza de Deus.

Acreditamo-lo irascível, intolerante, quase mau na observância rigorosa de mesquinhos rituais.
E, no entanto, eu lhes afirmo que Ele é como o mais amoroso dentre os amorosos pais de família.
A todos conhece, a todos ajuda e a ninguém despreza.
Todos podem senti-lo pessoalmente, todos podem receber dele as benesses de seus cuidados, pois mesmo quando estamos repousando, o Criador segue trabalhando.

Onde está o seu reino? – perguntam muitos.
No coração das criaturas – responde Jesus.
Onde estão seus exércitos? – querem saber os iludidos cultores do poder e da supremacia humanas.
Estão nos que trabalham pelo bem do próximo.

Quais são as armas de seus soldados?
Os gestos sinceros de amor ao semelhante.
Qual é o prémio pela vitória?
A paz na consciência e o Amor no coração.

Estes são os requisitos para sermos admitidos nas suas fileiras.

Quando nossos espíritos se dispuserem a beber dessa fonte divina, nossos males cessarão, nossos corpos sararão, nossas almas estarão curadas de seus males.
Por agora, o Reino de Amor cura as pessoas para que possam ver as maravilhas que as esperam.
Dia virá em que as próprias pessoas farão esse milagre por si mesmas, já que todas possuem a força criadora em seus corações.

Que haja paz em todas as almas e que, mesmo para aqueles que aqui, hoje, estão ocultos por medo da Verdade, posso afirmar que o Reino de Deus os aguarda também e que a Verdade não se ocultou deles.

Com essas palavras de fé e de coragem, Josué deu por terminada a prelecção da noite, como se doce hipnotismo o tivesse envolvido e guiado as argumentações e a fluência assustadora das palavras.

Ao fazê-lo, encontrou o olhar luminoso de Zacarias, que o recebeu com um abraço de amizade e admiração sincera, prontos para as realizações fraternas junto dos que sofriam.
Saul estava igualmente embevecido com tais conceitos, tanto mais agora, que entendia com clareza as necessárias hipocrisias humanas por ter participado delas por tanto tempo.

Os que os ouviam, extasiados e igualmente seduzidos pelo poder magnético do orador, se encontravam ou abertos para o novo reino ou confundidos em suas ideias pequenas acerca das antigas tradições, cuja conduta para com o povo, não resta dúvida, era exactamente aquela que Josué havia desnudado ali, perante todos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:09 am

Os que se pensavam incógnitos observadores, viram-se surpreendidos pela revelação indirecta de sua presença, sem coragem para responder a tais referências, para que não se fizessem conhecer nos seus desejos clandestinos e para que não atestassem a superioridade das percepções dos que, ali, representavam a nova filosofia de viver.

A fim de evitarem maiores problemas, fariseus e espiões, em sua maioria, se dispersaram rapidamente, enquanto que alguns poucos tiveram a coragem de permanecer para observarem o que viria depois.

Assim, puderam constatar, estes que continuaram, a fileira dos desesperados que os dois amigos, secundados por Saul, que organizava as duas longas filas, atendiam com desvelo e carinho, não importando qual fosse a sua doença.

Ali estavam leprosos, desequilibrados, loucos, feridentos, velhos fracos, crianças corroídas pelos vermes, que os dois amigos abraçavam e abençoavam em nome de Jesus.
Naquela noite, por causa da presença das autoridades escondidas, parece que o Mundo Invisível esmerou-se ainda mais na realização de prodígios, pois que inúmeros aleijados abandonaram suas muletas na frente dos olhos emocionados dos seus familiares e dos desconhecidos, que se iam convencendo da superioridade das exortações evangélicas.

Alguns, vitimados por doenças cruéis e de longa data se viram, igualmente, aliviados, cegos recobraram a visão ao toque das mãos de ambos os emissários.

No entanto, a fila era longa e não havia tempo para exaltações indevidas à personalidade dos dois trabalhadores.

Era necessário dar lugar ao próximo doente ou desesperado.
E por mais de duas horas os dois homens se puseram a atender os aflitos, para os quais, conforme eles mesmos sempre diziam, o Reino de Deus havia chegado.
Mais de um dos fariseus que ficaram ali foi tocado verdadeiramente pelas realizações daqueles homens humildes e pela mensagem de esperança.

Os que se ausentaram levavam consigo a ideia de se vingarem de tais perigosos subversores da ordem e dos costumes.
Os mais arraigados aos compromissos materiais se amedrontavam diante de tais conceitos universalistas, o que os fazia tremer ante a simples ideia de se fraternizarem com a malta dos malcheirosos e maltrapilhos.

Quando todos foram atendidos e o local se esvaziou, um desses fariseus se apresentou a Josué e Zacarias, revelando-se na sua condição de oculto observador.

– Senhores – disse Jochabad – a sua filosofia me encantou a ponto de me apresentar a vocês confessando a minha condição de fariseu oculto no meio do povo, já que tinha errada ideia a respeito das suas intenções.
Agora vejo que se trata de uma mensagem libertadora e que, ainda que conflitue com nossos velhos conceitos, tem a finalidade de renovar nossos costumes e melhorar nossas vidas.

A surpresa de tal revelação acabou por confirmar aquilo a que o discurso de Josué havia feito indirecta referência.
Ambos acolheram Jochabad com simpatia e louvaram a Deus a sua compreensão.

No entanto, Jochabad continuou, preocupado:
– E se me arrisquei a ficar aqui até o final, não é só porque simpatizo com os conceitos que foram colocados nesta noite.
É porque temo pela sua segurança a partir de agora.
Conheço os fariseus e os sacerdotes, que sabem, com muita habilidade, tramar acidentes fortuitos, ocorrências casuais que destruam os seus adversários sem que o sangue lhes tinja as mãos.

Por isso, neste momento, os outros de minha casta, que se foram, devem estar programando alguma dessas casualidades para que elas venham a ferir o seu trabalho.
Daí, se não se ofenderem com a minha intromissão, gostaria de convidá-los a que passassem a noite em minha casa, aproveitando este momento de escuridão em que estamos, durante o qual os próprios fariseus estão se organizando para atacar à sua maneira.

Ouvindo-lhe o alvitre, Zacarias ponderou:
– Mas será isso necessário?
Afinal, não encontramos nenhum deles a não ser o senhor, que nos está alertando.
Será que se incomodarão com o que estamos fazendo?

Tomando a palavra, Saul respondeu:
– Eu conheço bem essa raça perigosa e matreira.
Eles bem que poderão estar fazendo isso sim.
E como disse nosso amigo, havia outros por aqui que se foram.
Por isso, creio que é melhor que nos abriguemos em outro local, se isso puder ser feito.

Aliviado em sua ansiedade de proteger os dois homens pelo apoio de Saul, Jochabad acrescentou:
– Mesmo contra o seu Mestre foi tramada a sua morte quando esteve entre nós há não muito tempo!...
Os judeus não o aceitam, pelos mesmos motivos que temem a sua verdade aqui proferida a todos os cantos.
E Jesus, quando aqui esteve, permaneceu apenas na sinagoga, sem ter realizado feitos de vulto no meio do povo.

Seus discípulos foram afrontados pelos mais arrogantes cultores da lei e era de admirar a maldade dos próprios sacerdotes planeando a maneira de punir os arrogantes, como eles chamavam os seguidores de Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 15, 2014 10:09 am

Mas, se aceitarem minha oferta, devem ir rápido para que não sejam surpreendidos no meio do caminho.
Minha casa fica em ruela e possui duas entradas, pois fica numa esquina.
A principal está na rua da sinagoga e é facilmente identificada por uma grande estrela desenhada no umbral principal.

Na sua lateral, bem ao fundo, há pequeno portão que dá passagem para a área interna, onde encontrarão um pátio arborizado no qual estarei esperando para levá-los até seus aposentos.

Peço que tomem rumo diferente do meu, pois podemos estar sendo observados.
Assim, Saul, encaminhe-os pelo contorno do horto, que é um caminho mais sinuoso e que acaba passando nas proximidades desse portão discreto e, quando estiverem por ali, empurrem a porta, que ela estará destrancada e passem rápido.

Identificando o local de sua residência com facilidade, Saul se mostrou familiarizado com o caminho e com o local para onde deveriam seguir e, usando de sua antiga astúcia, agora a serviço do bem, tomou os atalhos mais inesperados, seguindo por caminhos pouco frequentados, conduzindo Zacarias e Josué até que chegaram ao local combinado e puderam ser encaminhados por Jochabad ao interior de seus modestos, mas confortáveis aposentos, onde fora colocado alimento simples, mas abundante, para que pudessem matar a fome que os deveria estar castigando, àquela hora da noite.

E enquanto a noite caía sobre Nazaré, cumprindo os mais tristes vaticínios de Jochabad, misterioso incêndio irrompeu na modesta estalagem de Saul, onde os adversários da verdade imaginavam que estavam instalados os pregadores, levando ao desespero os que ali dormiam que, aflitos e surpreendidos pelas chamas, abandonavam para trás todos os seus pertences e corriam para a rua com os trajes de dormir, enquanto o fogo ia consumindo as dependências da estalagem sem que ninguém soubesse explicar como houvera começado.

No dia seguinte, ao acordarem depois de sono profundo, receberam a notícia de que algo muito sério havia acontecido aquela noite.
E para surpresa de todos e dor mais aguda de Saul, foram informados de que só havia cinzas e paredes derrubadas naquilo que havia sido a taberna onde estavam instalados.
Procurando consolar o amigo, Zacarias e Josué se acercaram dele, num abraço fraterno pelo qual apresentavam as desculpas por tal transtorno em sua vida pessoal.

Emocionado com o gesto de carinho e de desculpas, Saul lhes respondeu:
– Se é preciso entrar no reino de Deus, que seja com a renúncia ao reino da Terra.
Se essa fogueira pudesse ter queimado ao menos parte de meus erros, eu já a teria acendido muito antes com minhas próprias mãos.
Mas se apraz a Deus que isso aconteça, que o Senhor saiba que aceito a perda como quem se liberta do peso de seus equívocos.

Na verdade, eu tinha uma estalagem, mas era solitário.
Graças a Jesus, agora, eu não tenho mais a taberna, mas tenho amigos a quem amo com sinceridade e de quem recebi a luz da nova vida para minha alma.
Do que mais eu preciso?

E a renúncia de Saul era digna de emocionar os corações.
Enquanto o povo todo corria a ver a fumaça se elevar dos restos das instalações incendiadas, os três homens agradeceram a Jochabad a protecção daquele dia, aceitaram-lhe o convite para voltarem a se abrigar ali por mais algum tempo e saíram antes que a manhã estivesse alta, para voltarem à casa de Cléofas, onde os aguardava Caleb e o leproso sob seus cuidados.

Em Nazaré, os fariseus exultavam com o ocorrido, eis que julgavam ter acabado com os seus adversários no incêndio, apesar de não terem sido encontrados corpos queimados.

Poderiam ter sido transformados em cinzas, poderiam ter fugido do incêndio e deixado a cidade, poderiam ter entendido a mensagem de que não eram bem-vindos, poderiam ter sido expulsos pelo dono do negócio, por terem sido considerados os que vieram lhe amaldiçoar o progresso material.

Muita coisa poderia ter ocorrido com eles, pensavam os fariseus e sacerdotes, imaginando que estariam livres de suas presenças.
A estas alturas, Pilatos já houvera sido informado por eles e por seus informantes pessoais que Nazaré estava naquele clima de alvoroço, com os profetas milagreiros falando de Jesus e curando em seu nome, com os fariseus revoltados com estas coisas, com o incêndio inexplicado, mas presumivelmente criminoso, o que lhe dava muito a pensar e a se preocupar.

Os fariseus, no dia seguinte, procuraram envolver Pilatos no problema religioso que estavam tendo, falando que o pregador afrontara as tradições de sua fé e que se lhe fosse permitido, poderia desencadear uma revolta contra Herodes, o Tetrarca da Galileia, o que poria em risco até mesmo o domínio imperial.

Naturalmente que Pilatos não se deixou levar por esse quadro exagerado, limitando-se a dizer que ainda não via problemas que precisasse solucionar com a prisão dos acusados.
No entanto, uma vez que estavam ali falando em nome de Jesus, Pilatos iria convocá-los a que explicassem suas ideias pessoalmente a ele próprio, como forma de avaliar o seu perigo pessoalmente.

Deste modo, no dia seguinte que amanheceu com os restos carbonizados da estalagem de Saul, foi expedida uma ordem de condução dos dois pregadores e seus mais próximos colaboradores até a sua presença, não como criminosos detidos, mas como pessoas a serem interrogadas pela autoridade maior dos romanos no governo daquela província.

Só que os soldados do governador não sabiam aonde buscar os procurados, já que a estalagem estava consumida e não havia indício do paradeiro dos mesmos.

As patrulhas passaram por todos os locais prováveis pedindo informações, mas ninguém sabia aonde tinham ido.

Em realidade, ninguém sabia onde ficava a casinha de Cléofas, onde todos estavam reunidos para agradecer a Jesus a cura maravilhosa do leproso que ali morava, sob os auspícios de Caleb, ocorrida durante a noite de vigílias e orações.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:02 am

22 - Reparação e Testemunho

Tão logo chegaram ao local onde os dois amigos haviam ficado no dia anterior, os três homens foram surpreendidos pelas novidades generosas que, mais uma vez, também ali haviam-se manifestado.

O enfermo havia-se recuperado quase que miraculosamente.
Sua epiderme apresentava sinais de rápida regeneração e o seu estado geral se encaminhava para a plena capacitação para a vida normal.

Não é necessário dizer da emoção de Cléofas e de Saul quando puderam se reencontrar na manhã do novo dia.

Um havia perdido praticamente tudo que houvera construído em sua vida, depois do incêndio criminoso, enquanto que o outro estava recuperando tudo o que havia perdido desde que se apresentara enfermo, o que lhe havia custado a vida, a paz, a harmonia do pensamento e o equilíbrio do afecto.

Assim, leitor querido, possa você compreender o que Jesus sempre afirmara quando convidava os homens para se submeterem ao seu jugo.
Asseverava que tal elo que ele oferece ao candidato ao reino de Deus é muito mais leve e o fardo mais suave do que quaisquer outros que o mundo possa dar a qualquer um dos vivos na carne.

Diante de nossos olhos, temos dois irmãos encarnados. Saul, aliado às convenções humanas, vivendo de acordo com suas exigências e hipocrisias.
Homem cheio de defeitos e que, à vista das conveniências sociais, era considerado criatura normal, dentro dos padrões esperados dos que caminham sob as algemas do mundo.

Cléofas, seu irmão, da mesma maneira se havia deixado levar pelas aventuras da vida, unindo-se à mulher que julgava ser a efectiva companheira de sua jornada, realizando ao seu lado tudo quanto fosse necessário para que estivessem diante do futuro promissor, nas exigências de progresso.

No entanto, vitimado pela dor física, maneira de reerguimento do espírito endividado na Terra, quedou-se abandonado, no mais completo isolamento.

Ambos receberam do mundo o jugo e o fardo que buscavam junto às criaturas.
Saul, despojado de sua estalagem por um incêndio criminoso, e Cléofas, atirado à margem da vida por uma criminosa indiferença.

E todos estes crimes foram cometidos por pessoas que apresentavam argumentos justos para realizá-los.
Os judeus temendo a nova ordem filosófica que se instaurava com aquela pregação de igualdade e amor aos sofredores, tentavam proteger-se aniquilando os seus divulgadores.
A esposa, o irmão e os demais conhecidos de Cléofas temiam a enfermidade que se instalara nele, sem aviso, afugentando-os pelo temor de contraírem a peste e perderem a saúde e a consideração dos outros.

O primeiro era o temor da reforma dos costumes.
O segundo era o temor da doença.
Esse é o jugo do mundo, que oferece o que os homens medíocres possuem para dar, quando ameaçados: agressão ou isolamento.

No entanto, diante de dores que os próprios homens produzem, se levanta o jugo que Jesus oferece às criaturas:
Saul recupera-se da culpa em abraçando o irmão que havia abandonado por medo de sua doença, enquanto que Cléofas obtém a cura para a enfermidade, que o devolve à vida normal, para o prosseguimento de suas lutas através de outros princípios de vida.

Ao contacto com as coisas do mundo, sofrimento, remorso, abandono e crime.
Ao contacto com as forças do Amor Divino, regeneração, cura, reerguimento, perdão e novos ideais a serem concretizados.

Por isso Jesus era tão claro ao dizer a todos nós:
“Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei.
Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis o repouso de vossas almas;
porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”.
(Mt. 11, 28 a 30)

Assim, diante de problemas que estiverem à sua frente, observe o que eles têm a ensinar e entenda que, muitas vezes, desejar fugir deles é escolher o jugo e o fardo que o mundo oferece.
A gravidez inesperada ou indesejada que pode fazer pensar em abortar;
o problema financeiro que pode aconselhar a desonestidade;
a enfermidade sem cura aparente que pode sugerir o suicídio ou a eutanásia;
a dor emocional que pode apontar para o revide cruel como solução;
a injustiça recebida que pode solicitar a revolta imediata e agressiva – tudo isto é interpretação equivocada que redundará em mais sofrimento, pois representa as soluções covardes que a mundanidade, muitas vezes, aconselha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:03 am

No entanto, não se deixe levar pelo canto das sereias, pois ninguém consegue fugir aos problemas de que necessita para o crescimento e pagamento de seus débitos.

Aceite o jugo suave que Jesus oferece.
Criar a criança não desejada, com amor, poderá estar sendo o gesto que lhe garantirá todas as venturas do futuro e, muitas vezes, o porto seguro e o ombro amigo na solidão da velhice.

Suportar os reveses financeiros possibilitará o reencontro com a humildade, que ensina sobre a necessidade de aceitar qualquer tipo de trabalho a fim de reconstruir a vida de compromissos.

A enfermidade dolorosa representa desafio que ensina a valorizar a vida e a companhia de pessoas que não valorizávamos e com quem nem nos importávamos, tornando o enfermo mais sensível e melhorando as virtudes de bondade que já existem em seu espírito, fazendo com que reavalie os caminhos que trilhou em toda a sua vida para reajustá-los.

A compreensão das fugas e traições afectivas, suportando-lhes a dor sem tratar de expandi-las através de gestos tão inferiores quanto os que lhe foram desferidos, permitirá meditar melhor sobre os próprios erros da emoção, a maneira pela qual você mesmo encarou as realidades do afecto, a indiferença para com as necessidades do outro, o modo de ser distante e descompromissado com que a união era considerada, a rotina que se deixou transformar em monotonia, já que nunca há apenas um culpado para tais situações.

A injustiça, aceita dentro da resignação que compreende que a revolta não está nas leis com que Deus construiu o Universo, permitirá perceber o quanto são dolorosas para os demais as posturas arrogantes, indiferentes, próprias do descaso com que nós mesmos, muitas vezes, tratamos os outros.

Sentir-se injustiçado na vida, ainda que se esteja tentando coibir ou corrigir tal situação através dos meios legais, significa amadurecer a consideração pessoal pelos problemas alheios, os mesmos que não escutávamos adequadamente quando tínhamos seus casos sob as nossas vistas profissionais, os mesmos que ficavam esperando horas na fila para serem mal atendidos por nossa indiferença pessoal, os mesmos que encontravam em nós a parede que se antepunha à realização de seus anseios por simples capricho de não colocarmos o carimbo em uma folha de papel por causa do final do expediente burocrático.

Assim, prezado leitor, em todos os momentos difíceis da vida, permita que o jugo leve o ensine com sabedoria a corrigir-se, de tal maneira que isso é o convite a uma nova oportunidade, a uma chance de acertar, depois que se aprende a lição com humildade e resignação, força e coragem.

Não procure o caminho da fuga, que parece fácil, pois o peso que o mundo lhe reservará não será pequeno nas consequências advindas de seus actos impensados.
Herança de tais comportamentos estão sob as nossas vistas, na figura de enfermidades crónicas e cruéis, deformidades orgânicas, frustrações e perturbações mentais e afectivas, obsessões e crises sem explicação coerente nos manuais dos estudiosos.

Como Saul, aceite o revés e encontre os motivos que enriqueçam sua alma, como ele encontrou os novos amigos que lhe seriam, daí por diante, o tesouro maior, ao lado de Jesus e de seu irmão.

Como Cléofas, submeta-se com Amor aos testes da vida, sem revolta e sem blasfémias porque, no momento em que tiver aprendido tudo o que aquela lição lhe oferecer, você já estará preparado para superá-la e, então, ela passará naturalmente.

A emoção dos dois irmãos que se reaproximavam era indescritível.

Saul pedia perdão por tudo o que havia feito ou deixado de fazer.
Cléofas lhe agradecia ter trazido Zacarias e Josué até ali, tendo feito por ele a única coisa que lhe trouxe o amparo definitivo e transformava o perdão das ofensas em agradecimento sincero, esquecendo qualquer conduta mesquinha de Saul.

Saul convertia a culpa e o arrependimento em arrebatamento de alegria por se ver socorrendo seu desditoso mano, perdoando-se a si próprio da sua mesquinha conduta anterior.

E tão logo se recuperaram da emoção, os dois se voltaram para Zacarias e Josué, a quem buscaram em lágrimas de gratidão e felicidade que há muito tempo não vertiam de seus olhos secos ou cansados de chorar de dor e sofrimento.

Ajoelharam-se diante dos dois servidores do Bem e desejaram submeter-se a eles, de corpo e alma.

Falando pelos dois, Josué procurou esquivar-se de tal reverência e, para demonstrar que ambos nada lhes deviam, os dois enviados do Mestre, seguidos por Caleb, ajoelharam-se igualmente na pequena tapera, acrescentando:
– Ofereçamos o fruto desta hora ao Pai que nos ama e a Jesus que nos entrega esse Amor, dando-nos a oportunidade de corrigir nossos erros pelos caminhos da bondade – falou Josué.
Todos nós somos espíritos defeituosos e se há alguma virtude que nos mereça a reverência de nossa genuflexão, esta está em Jesus, unicamente.
Assim, que o Senhor receba a gratidão de nossos corações e a fidelidade de nossas vidas, para sempre.
Assim seja.

E todos, igualmente, repetiram essa expressão de compromisso com aquilo que a prece lhes havia gravado na alma sincera.
Levantaram-se e se abraçaram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:03 am

Nas redondezas, Saul conseguiu adquirir algumas roupas para o irmão, pois sempre que saía de sua casa, o ex-comerciante levava consigo uma bolsa com o grosso de seu dinheiro, o que lhe permitira estar ali sem muitas dificuldades para as emergências do dia-a-dia, já que, com essa medida, salvara seus recursos do fogo.

Tão logo as coisas se acertaram, Josué e Zacarias começaram a ponderar sobre a necessidade de deixarem Nazaré, diante dos acontecimentos dos últimos dias.

Haviam considerado que muito ali já se havia plantado e que outras comunidades poderiam ser visitadas ao longo do caminho de regresso até Cafarnaum, onde entregariam ao Mestre o relato de seus dias de pregação.

Tanto Saul e Caleb, quanto Cléofas não possuíam mais nada na vida e, por isso, ansiavam seguir com Zacarias e Josué ao encontro do Cristo, pelos caminhos do mundo.

E os dois mensageiros não viam essa ideia com maus olhos.
Apenas ponderavam da necessidade de estabelecerem uma comunidade pequena nas cercanias da cidade, onde os novos adeptos da ordem se reunissem para se ajudarem mutuamente e para falarem de Jesus e de seus ensinos.

Assim, considerando a idade avançada de Caleb, os quatro homens aventaram a possibilidade de que ele ali permanecesse para que fosse o ponto de referência dos adeptos da nova ordem, espalhando benefícios aos que sofriam.

Caleb, que desejava seguir o grupo, mas sabia de suas limitadas forças físicas para tão longa jornada, viu-se seduzido pela perspectiva de, ali em Nazaré, estar colocado como um representante avançado da Boa Nova.

Contudo, ponderou:
– Sim, eu entendo que a velhice me impede os grandes desafios que meu coração gostaria de afrontar.
Todavia, até hoje sempre fui um homem miserável, sem nada nesta Terra de Deus e continuarei sendo, pois nada possuo de meu que possa oferecer como abrigo e refúgio, nem qualquer recurso que me permita amparar os outros a não ser a minha vontade firme e o meu carinho.

Isso também era verdade, à vista de todos.

Assim, sem esperar que o silêncio caísse por completo na improvisada planificação dos destinos que todos ali realizavam, Saul tomou a palavra e disse, quase feliz, para encantamento de todos os que o ouviam:
– E esta choupana, Caleb, é muito pobre para os seus sonhos a fim de que você possa morar nela?
Que tal tornar-se o seu novo proprietário?

Ninguém ali tinha pensado nisso.
Era verdade que Saul a possuía como dono e, já que não pretendia continuar mais em Nazaré, poderia deixá-la para quem quisesse.

Surpreendido por tal oferenda, Caleb refugou:
– Ora, homem, isso é um palácio para minhas necessidades.
No entanto, nem isso eu posso comprar, já que nada possuo, como falei.

– Pois então, de hoje em diante, você é o novo proprietário – confirmou Saul, rindo-se da expressão aparvalhada do velhinho emocionado.
Você será o seu dono e aqui se acenderá o candeeiro da esperança.
O seu único compromisso é acolher os que Jesus mandar, com o seu carinho e a vontade de obedecer a Deus.

O terreno é grande.
Dá para plantar, para construir mais outras casinhas de tal maneira que, se quiser trabalho, ele não lhe faltará.

Vou deixar papéis com você que atestarão ser o novo proprietário, para que possa apresentar perante qualquer autoridade legal.
E, com isso, você me ajuda a liberar-me de pesos que não mais desejo possuir nesta localidade.

Todos os quatro homens se admiravam da maneira espontânea e sincera com que Saul se manifestava naquele momento e aplaudiram a sua iniciativa.

Lembrando-se das necessidades de Caleb, acrescentou:
– E lhe deixarei algum recurso em dinheiro para que possa ajudá-lo a começar a obra do Senhor por estas bandas.
Não é muita coisa, mas é muito mais do que você tem agora, nas dobras de suas roupas – falou sorridente e amistoso.

Assim acertaram os homens que iriam deixar as coisas quando Cléofas se lembrou de pedir algo que era justo fosse atendido:
– Irmãos, agora que estamos combinando partir daqui para a continuidade da jornada, me ocorre que do mesmo modo que Saul me trouxe as bênçãos desta hora, eu desejaria levá-la até uma pessoa a quem muito devo e que não gostaria de deixar sem ajuda antes de partir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:03 am

É verdade que ela me abandonou, que me esqueceu na doença, que nunca mais procurou se aproximar de mim.
No entanto, mesmo agora, que entrego minha vida a Jesus e não pretendo mais restabelecer qualquer vínculo afectivo íntimo com ela, não poderia deixar de tentar entregar à sua alma a mensagem libertadora que me salvou a vida.

Precisaria da ajuda de vocês para levar à minha companheira a fonte da esperança, do mesmo modo que ela brotou aqui, ontem, para sempre.
Zacarias, Josué, não tenho direito de pedir nada, mas ouso erguer a minha palavra para pedir por uma irmã necessitada.

Ajudem-me a tentar resgatá-la da miséria moral na qual se meteu.
Ela se encontra em uma casa de mulheres perdidas, não muito longe daqui, afastada da cidade, pois em Nazaré as aparências prevalecem, ainda que a prostituição campeie na escuridão dos seus becos quando a noite cai ou quando o governador ou nosso rei Herodes passam por aqui.

Escutando-lhe a sinceridade do pedido e uma vez que a sua rogativa se dirigia para a recuperação de uma alma que estava chafurdando na lama dos sentimentos frustrados, Zacarias e Josué aceitaram dirigir-se ao local onde a mulher estava.

Tomaram o caminho, deixando Caleb na casinha, dando os primeiros ajustes e arrumações, depois de tanto tempo sem cuidados mais específicos.
Depois de uma caminhada não muito longa, chegaram próximo de uma casa mal conservada, onde se abrigavam criaturas desvalidas da sorte que se dedicavam às facilidades do corpo para homens que desejassem emoções fáceis dos sentidos, sem o compromisso do afecto verdadeiro.

A presença de homens por ali não era de assustar, motivo pelo qual ninguém se preocupou quando os quatro se aproximaram, batendo à porta.
Uma mulher mal arrumada e com ares de vulgaridade veio atender, perguntando no seu linguajar igualmente vulgar, o que é que desejavam quatro homens naquela casa de mulheres.

Cléofas tomou a palavra e disse:
– Gostaria de saber se minha mulher está aí.
– E quem é você, meu rapaz?
– Eu sou Cléofas, que morava no caminho das três pedras.
– Você é o pestoso? – gritou a mulher, apavorada, querendo fugir.
Fora, pestoso maldito!
Como é que você vem aqui atrás de Joana...
você devia ficar lá no seu buraco e morrer logo....

Seus gritos desesperados fizeram com que outras mulheres se aproximassem para ver o que estava acontecendo, ouvindo as últimas palavras da apavorada prostituta que se afastava dali como quem foge do diabo:
– Aquele maldito leproso, marido da Joana, está aí na porta chamando por ela...
Ela que vá lá falar com ele, pois eu não fico aqui dentro enquanto ele estiver por perto...

Todas as mulheres tiveram quase que o mesmo comportamento.
Foram rápido chamar Joana que, sem qualquer delicadeza, se aproximou da porta da frente, como que a desejar acabar rápido com aquela entrevista.

Era uma mulher modificada pelo tempo e pela actividade que lhe produzia os estragos naturais na beleza que se esvai no curso dos anos de desgastes.
No entanto, em seu rosto, Cléofas ainda conseguia vislumbrar a figura da mulher amada de outrora.

– Fale logo, traste inútil – gritou Joana, lá de dentro, colocando só a cabeça para fora da porta.
– Mas seu nome não é Joana – falou Cléofas.
– É esse o meu nome por aqui, pois não queria que os outros me conhecessem pelo meu nome antigo por sua causa, seu maldito pestoso.

E à medida que ia falando, Joana começou a reparar melhor em seu marido, vendo-lhe os traços renovados, a disposição melhorada e a saúde refeita.
Isso foi fazendo com que ela saísse um pouco mais para a luz exterior, a fim de encontrar-se de frente com ele.

– É, mas você está diferente, não parece aquele que estava às portas da morte – falou a mulher agora mais perto.
– Sim, Judite, por isso estou aqui, eu fui salvo da morte por um milagre e estou lhe trazendo os que fizeram isso comigo.
Estes são os meus amigos, Zacarias, Josué e meu irmão Saul.

Diante daqueles nomes, proferidos com naturalidade, Joana empalideceu visivelmente.
Na verdade, Zacarias também estava um pouco aparvalhado, porque conhecia aquele tom de voz, aquele rosto por detrás das rugas e desgastes.

Sim, ali estava Judite, a esposa que o abandonara por uma aventura com um homem mais jovem do que ele.
E Zacarias seguia dando voltas na cabeça com as ideias que se iam juntando.
Se Joana era Judite, a sua ex-mulher, Cléofas deveria ser o homem que lhe havia destruído o lar anos antes, levando-lhe a esposa, obrigando-o a fugir da vergonha que passou a sentir na pequena aldeia onde vivia e a mudar-se para Emaús.
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Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ - Página 4 Empty Re: Série Lúcius - O Amor Jamais Te Esquece / ANDRÉ LUIZ RUIZ

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:03 am

– Maldição, maldição – gritou Joana, atirando-se ao solo.

Sem entender o que estava acontecendo, Saul, Josué e Cléofas começaram a se admirar daquele comportamento aloucado da mulher.

– Maldição dos infernos.
Eu devia imaginar que esse dia ia chegar na minha vida.
Eu, que até ontem não tinha nenhum marido, agora estou aqui, com dois de uma vez.

E suas palavras eram entrecortadas por acessos de fúria nos quais procurava arrancar os cabelos, em um torvelinho de lágrimas que não se sabia serem de emoção, de arrependimento ou de contrariedade.

No entanto, só Zacarias entendia o que se estava passando.
Sabendo que estava diante de um momento crucial em sua vida, no qual ele deveria curar velhas chagas abertas no peito, ainda que fosse o instrumento da cura de muitos irmãos que encontraram Jesus por suas mãos, sentiu que, se em outras horas podia pedir ajuda a Jesus para os irmãos de jornada, chegara ali, para ele, o próprio testemunho.

Voltaram-lhe à mente as palavras de Jesus, no dia em que foram enviados para Nazaré, vaticinando tais ocorrências:
– “Em vossos espíritos afinizados entrevejo as bênçãos do verdadeiro afecto, pelo que vos designo um como o amigo inseparável do outro.
Por onde andardes, não vos esqueçais:
estais preparados para regressardes vitoriosos.

No entanto, vos advirto que não será sem lutas profundas que havereis de regressar até mim, com o fruto doce de muitas dores saneadas, mas com o dever de fecharem muitas feridas dentro do próprio coração através do perdão e do esquecimento.
Voltareis até mim e apreciarei o vosso sucesso contando cicatrizes na vossa alma.

Estarei sempre a sustentar-vos.
Seguireis para Nazaré a espalhar a mensagem do Reino de Amor para todos, sem excepção”.
Chegara o momento de tratar das próprias feridas, dando o testemunho do poder do Amor diante da mulher traidora e do homem que se imiscuíra em seu relacionamento, acabando com a sua harmoniosa vida afectiva.

Pensando nas palavras de Jesus, que lhe prometiam apoio e sustentação, Zacarias tomou a dianteira, abaixou-se ao solo e, com inexcedível tom de carinho na voz, dirigiu-se a ela:
– Judite, minha irmã, que a paz de Jesus esteja em seu coração angustiado.
– Afaste-se de mim, fantasma do passado, que me procura para me punir.
Já não lhe basta meu estado de lixo humano? – gritava ela, descontrolada.

Vendo a reacção de Zacarias e conhecendo-lhe os detalhes da vida íntima, Josué compreendeu do que estava se tratando aquele momento doloroso.
Olhou para Cléofas, que não entendia o que se passava, e para Saul, mais aturdido ainda e fez sinal para que silenciassem e esperassem.

– Querida Judite, não a procuro como o credor do passado, mas como o devedor do seu afecto, para lhe dizer que nada tenho contra você a não ser o perdão que lhe devo pedir pelos meus modos rudes do ontem perdido no tempo.
Graças a tudo o que me aconteceu, pude encontrar o caminho do Amor que Jesus semeou em minha vida e asseguro-lhe, dentro dele há bastante afecto e carinho para todos.

Ouvindo-lhe as palavras doces, a mulher acalmou-se um pouco e respondeu:
– Mas eu o traí, homem de Deus.
Como é que você está aqui para me pedir desculpas?
Traí você com esse que era belo, mas que depois virou leproso.

Lembra de minhas idas ao mercado?
Lá encontrei o jovem provocante que me encantou e me completou os desejos de mulher sonhadora.
Fui feliz com ele e acreditava que a felicidade era para sempre, quando o meu crime começou a ser cobrado pela Justiça de Deus.

Ele caiu doente e o medo me atingiu o coração.
Fugi e, sem ter para onde ir, acabei aqui, dependendo da migalha dos que me usam para viver.

Nesse momento, Cléofas começou a entender a história toda e uma sensação de imensa vergonha lhe tomou o íntimo.
Ele sabia que a mulher era casada, mas não lhe conhecia o marido verdadeiro.

Encontrando-se com ela nas cercanias do mercado para onde ela se dirigia ocasionalmente, no pequeno vilarejo onde viviam Zacarias e Judite, não muito longe de Emaús, Cléofas tramou a fuga e a deserção dos deveres familiares, sem que tivesse tido o desejo de lhe conhecer o marido, envolvido que estava pelos planos de felicidade para os dois.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:04 am

Era a felicidade deles, construída sobre a infelicidade de alguém.
Assim, uma onda avassaladora se abateu sobre Cléofas, que não sabia como se comportar agora, diante daquele que se agigantava ainda mais diante de seus olhos, por ter sido o veículo de sua cura.

Zacarias, num relance, compreendeu o sentimento de Cléofas a seu respeito.
Olhou para ele e sorriu como um amigo verdadeiro que desculpa sem mágoas.

Ergueu a mulher do chão, dizendo-lhe sem laivo de personalismo:
– Judite, o Reino de Deus chegou para todos nós.
Viemos convidá-la para entrar nele, pois Cléofas, seu marido de outrora, depois que foi curado pela intervenção de Jesus, se preocupou com você e nos pediu que viéssemos até aqui para lhe falar dessa nova era em nossas vidas.

Não a buscamos como homens que lhe disputam o carinho.
Falo por mim que a quero como minha irmã e a quem libero de todo e qualquer compromisso comigo, mesmo o do remorso ou da culpa, que não acho devam pesar em seu coração.
Escute nossas palavras e aceite nossa mão amiga para que a sua vida possa recuperar o viço e seu ser consiga reerguer-se para Deus.

O Senhor nos ensinou que há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que se confirmam em sua justiça.
Assim, minha irmã, a convidamos a seguir a estrada bela da Boa Nova que nos permite superar os equívocos da jornada sem abandonarmos a luta.

Só que, agora, com outras armas.
Nossas armas não são mais nosso dinheiro, nossa beleza, nossos corpos.
São concentradas em nossos corações sinceros e amigos.
Não condenamos seu estilo de viver.

No entanto, reconhecemos que ele não é senão a maneira que você escolheu para se punir pelos erros de que se acusa.
E Jesus nos mandou aqui, os seus dois esposos de ontem para lhe dizer que não a acusamos de nada, minha irmã.
Nós exultamos e agradecemos ao Senhor nos ter deixado encontrá-la a tempo de lhe falarmos do reino de Amor que pede para nascer em seu coração valoroso e justo.

A expressão de Zacarias era tão generosa e verdadeira que não havia, ali, quem não chorasse o pranto mais sentido de emoção e arrependimento.
Eram os adversários que se reencontravam para os reajustes e acertos necessários, a fim de que a nova caminhada começasse no solo firme e seguro da consciência apaziguada.

Judite chorava baixinho, o choro das crianças sem defesa ou justificativa.
Zacarias, o pranto da alegria pela verdadeira capacidade de perdoar e esquecer as ofensas.
Josué, o da admiração pelo esforço sobre-humano do amigo de jornada.
Cléofas, o do arrependimento e da vergonha.
E Saul, o pranto da gratidão por ser testemunha de tamanha beleza.

– Mas eu sou uma perdida e não tenho para onde ir.
Esse reino de Deus não é para as prostitutas e para as malditas mulheres traidoras como eu.
– Não diga isso, Judite.
Por acaso a luz do Sol deixou de nos iluminar, apesar de sermos todos pecadores como somos?
Há sempre oportunidade de recomeçar.
Até hoje você aceitou o jugo do mundo, que é sempre mesquinho e pesado para nossas quedas.

Hoje Jesus lhe oferece o jugo do seu amor, leve e suave para todo o recomeço.
E o que ele lhe pede, Judite?
Que se transforme em irmã de todos, ajudando a todos, amparando os caídos, velando os enfermos, dando comida aos famintos.
Não lhe faltarão apoio e forças se você aceitar o reino da Bondade dentro do coração.

Jesus não vê a mulher que caiu.
Vê a que é capaz de se levantar e transformar-se em estrela do céu.
E se você aceitar esse convite, garanto-lhe que não vai mais morar aqui.

E vendo-lhe a surpresa estampada nos olhos e lábios mudos, Zacarias continuou:
– Hoje mesmo foi fundada aqui a comunidade da bondade, em uma casinha onde um velhinho está disposto a fazer isso que lhe pedimos.
Seja a sua primeira companhia, Judite.

Ajudem-se para que o reino de Deus possa implantar-se para sempre em nossos corações através de seus exemplos.
Eu conheci de perto as suas virtudes de mulher, o mesmo acontecendo com Cléofas, que aqui está, nos ouvindo as confissões da alma.
Aceite o novo caminho, minha irmã querida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:04 am

Judite parecia titubear.
Sentia o carinho de Zacarias, no qual acreditava pela maneira com que ele lhe falava.
No entanto, não sabia como se comportar com relação a Cléofas, que nada tinha dito depois que todos os factos tinham sido revelados.

Sabendo dessa situação delicada e animado pela citação directa que lhe fizera Zacarias, o segundo marido abandonado se aproximou da ex-mulher e, tomando-lhe as mãos entre as suas, lhe disse:
– Judite, veja as cicatrizes de minhas feridas.
Todos somos assim, criaturas enfermas que saram para poderem caminhar adiante.
Aquele que é a maior vítima nossa, pelos caminhos da Verdade e do Amor nos trouxe a salvação e o perdão.

Não pense que eu desejo outra coisa em relação a você.
Quero que me perdoe pelo desatino que a induzi a cometer, quando estava sossegada em seu canto, lá onde morávamos.
Agora, peço-lhe que atenda o pedido de Zacarias porque nunca houve nem haverá nada mais nobre e verdadeiro sobre a Terra do que os ensinamentos de que Jesus é portador e que nos fez chegar ao coração.

Eu seguirei com Zacarias ao encontro do Mestre, mas lhe faço o mesmo pedido que esse benfeitor lhe enviou agora:
aceite o recomeço, Judite.

A felicidade lhe seguirá o caminho e lhe abrandará as dores.
Depois de algum tempo ninguém mais irá se lembrar da mulher que caiu, mas ninguém se esquecerá da mulher que ajudou os caídos a se erguerem.
Não é mais um tribunal e uma cadeia para nossos erros.
É o hospital, a escola e a nova obra para que acertemos.

Vamos, querida, poucas vezes na vida uma mulher teve dois maridos que se encontrassem diante dela para dizerem a mesma coisa e desejarem a mesma felicidade ao seu coração.

Judite sentia que uma chuva suave e refrescante lhe invadia a alma.
Estava afogueada pela fuga ao dever desde o abandono de Zacarias, anos antes.
Nada lhe propiciava a paz interior.

Tinha medo de voltar e ser acusada justamente pelo acto de traição e, ao mesmo tempo, acusava-se por tê-lo perpetrado contra um homem que sempre lhe fora bom e compassivo, ainda que não lhe atendesse plenamente nos anseios do afecto feminino.

Agora, no entanto, a palavra doce, o perdão sincero, a mensagem de esperança, a amizade espontânea que ambos lhe ofereciam era para ela o refrigério que lhe faltava, dando-lhe uma nova vida como que se perdoando de seus erros mais cruéis que a consciência não tem como esconder nos prazeres efémeros da carne ou das riquezas materiais.

Uma sensação de felicidade mesmo invadiu-lhe o coração e, envolvida pela plêiade de espíritos luminosos que acompanhavam aquela cena tocante em que corações davam prova do poder do Evangelho, inclusive com o apoio sereno e emocionado do Divino Amigo que para lá se houvera trasladado em espírito, Judite ergueu a fronte para o alto e disse com sinceridade:
– Eu o aceito, Jesus, eu o aceito como meu Mestre e minha salvação também, porque eu estava perdida e você me encontrou.
Dê-me forças para recomeçar e saúde para seguir adiante.

No Mundo Invisível, um coro angelical enviava a Deus cânticos de venturosa alegria, pois mais uma ovelha tresmalhada havia sido resgatada pela força do amor e da renúncia.

E Judite, como que desejando mudar radicalmente sua vida, falou aos seus novos irmãos de jornada:
– Meus irmãos, arrastem-me daqui para onde desejam.
Não quero voltar ao interior nem para apanhar minhas coisas.
Se eu tiver forças em mim mesma, prometo a esse Jesus que voltarei aqui para falar dele a todas estas minhas irmãs que me acolheram da maneira como podiam.

Irei me fortalecer para poder ter algo para oferecer-lhes e deixo-lhes meu compromisso de voltar aqui para que elas possam receber as mesmas bênçãos que eu.
No entanto, agora, levem-me com vocês para a nova vida que quero viver.

E, assim, naquele dia, uma nova Judite retornava ao mundo dos devotados servidores da bondade, na companhia de Caleb, que a recebera com efusão de alegria e a quem Judite acolhera como um velho pai amoroso a quem estenderia seus cuidados filiais.

Dera, o Amor, significativa prova do seu poder para todos os que ali testemunharam as necessidades de transformação moral verdadeira.

E, assim, todos estavam mais felizes e próximos da ventura espiritual que liberta os homens do jugo dos homens, para submetê-los, unicamente, ao jugo de Jesus, embaixador do Pai no reino humano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:04 am

23 - [b]Apresentando Jesus a Pilatos[/i]

Conforme haviam planeado, os quatro homens retomaram o trajecto que os levaria de regresso a Cafarnaum, tendo deixado Caleb e Judite na choupana que lhes serviria de base para o início de novas tarefas junto aos miseráveis de Nazaré.

Caminhavam naturalmente pela estrada das três pedras que os conduziria novamente à cidade por onde passariam a fim de voltarem ao destino pretendido, sem terem ideia de que, por ordem de Pilatos, soldados romanos estavam procurando por eles a fim de serem interrogados pelo governador.

Como sabiam, no entanto, que não poderiam mais realizar pregações na cidade e que, se fossem vistos pelas pessoas mais pobres, seriam reconhecidos facilmente, os quatro deliberaram esperar que a penumbra da noite lhes servisse de manto protector, ao mesmo tempo que andariam por lugares onde não houvesse concentração de populares, buscando as ruas mais distantes do centro onde se realizaram as prédicas anteriores.

E, assim foi feito, aproveitando para as conversações fraternas que o momento pedia aos corações.
Afinal, Cléofas conhecia, agora, a verdade sobre os factos que ele havia contribuído para concretizar.
Descobrira em Zacarias não apenas aquele que lhe revelou a verdade sobre Jesus, mas aquele que fora a vítima de sua aventura tresloucada e, o que lhe causava mais admiração, continuava tratando-o com consideração e apreço.

Saul seguia calado, impregnado pela atmosfera de encantamento que seus pensamentos tinham ainda certa dificuldade de compreender plenamente, mas que seus sentimentos aceitavam com facilidade, dada a superioridade e a beleza dos exemplos que recebera de Josué e Zacarias.

Estes dois, serenos e em paz absoluta, seguiam agradecidos a Deus e a Jesus as experiências daqueles dias, nos quais tantas criaturas ouviram-lhes as exortações e receberam o pão espiritual que penetraria para sempre em suas almas a fim de que nunca mais tivessem fome.

Sentindo a posição constrangedora a que Cléofas se vira atirado por efeito das últimas revelações, Zacarias dirigiu-se a ele de modo a romper as últimas barreiras da vergonha em sua alma.
– Meu querido irmão, não se amofine por tão pouca coisa.

Para mim você é e sempre será o enfermo que a compaixão de Deus e o Amor de Jesus resgatou da dor para a luz da esperança.

Cabisbaixo e envergonhado pela referência directa, Cléofas respondeu, titubeante:
– Mas é que os actos errados me pertencem e me envergonham, porque pude descobrir o quanto de sofrimento e infelicidade eles produziram na pessoa a quem mais respeito, depois de Deus e Jesus, nesta Terra – Zacarias.

– Tudo o que acontece, meu amigo, tem sua razão de ser.
Jesus nos ensinou que até mesmo os cabelos em nossa cabeça estão contados pelo Pai e que não cai uma folha da árvore sem a sua autorização.
Assim, Cléofas, de tudo o que nos parece mal e que, efectivamente é obra de nossa ignorância a produzir o sofrimento em alguém, Deus retira aquilo que nos ajude a melhorar e o bem que seja possível.

O fogo destruiu a estalagem de Saul porque algum maldoso fariseu desejava nos assustar ou nos matar.
No entanto, graças a isso, Saul se sentiu livre para ir ao encontro de Jesus.
Imagine se isso não tivesse acontecido, quantos problemas o nosso irmão teria que resolver até que se sentisse exonerado de compromissos para seguir ao encontro da verdade.

O pai de Josué e seus irmãos não comungavam das suas crenças no Messias e, por isso, expulsaram-no de casa.
Acto que é próprio da ignorância arrogante tão comum nas nossas famílias, esse gesto abriu a Josué as portas do mundo e o impulsionou em direcção ao Mestre amado, sem deixar amarras para trás.

Se assim não tivesse ocorrido, quantos sofrimentos e pesos de consciência Josué teria que suportar para dar alguns passos na direcção da verdade, tendo que retornar rápido à companhia dos seus pela gratidão e afecto que lhes dedicasse.

Do mesmo modo, Cléofas, graças ao abandono de Judite, a vida para mim assumiu o gosto amargo da solidão que modifica a maneira pela qual nós interpretamos as coisas.

Antes, a minha sapataria me consumia em trabalhos para o sustento da jovem companheira, acreditando que meu mundo seria apenas a oficina e a casa.
Depois que ela partiu – e não o teria feito se você não lhe tivesse estendido o braço acolhedor – meu mundo se ampliou e eu, em busca de motivação para viver, acabei encontrando a mensagem do Mestre a quem passei a me devotar modestamente até os dias actuais.

Assim, foi fácil deixar a oficina fechada, a casa sem ninguém e partir ao encontro do meu destino.
Se Judite lá estivesse, será que eu teria escolhido isso?
Além do mais, se tudo isso não tivesse ocorrido, quem nos garante que tanto você como ela teriam descoberto a verdade que hoje conhecem e aceitam?

Quando nossas vidas estão envolvidas pelo conforto e pelo manto da falta de problemas, nossos espíritos se entorpecem e se acomodam nos pedestais materiais onde se colocaram, temendo perdê-los.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:04 am

É preciso que uma força poderosa nos retire desse sono secular e nos atire diante da verdade dolorosa para que, fustigados pela dor e pela insatisfação, nos acerquemos novamente da estrada e retomemos a marcha ascensional de nosso crescimento.

Daí, se entendemos estas coisas, o fariseu que mandou queimar a tenda de Saul, os familiares que expulsaram Josué, e você, que protagonizou a ruptura de um relacionamento, acabaram, mesmo sem o desejar, colaborando para que nós todos descobríssemos o caminho recto do Amor e da Verdade.

Naturalmente, o erro pesa na consciência daquele que o produz, pois é sempre uma desarmonia que tem o seu preço dentro de quem o pratica.
No entanto, quando entendemos os motivos de Deus, nossas almas percebem que, mesmo sobre as ruínas fumegantes, Ele é capaz de erguer monumentos de beleza.

Assim, Cléofas, digo-o por mim mesmo, não o considero senão como um irmão querido que a adversidade afectiva permitiu que me ajudasse a acordar a fim de que Deus edificasse em mim o seu pedestal e me transformasse para sempre.

Aceite a minha amizade sem qualquer receio, pois, no fundo de minha compreensão, vejo-o como meu benfeitor, como aquele graças a quem eu deixei de ser o velho Zacarias mesquinho e acomodado, para me tornar o homem renovado, pequenino, mas incomodado com a própria imperfeição, lutando contra ela.

Deixemos para trás os erros do passado e sigamos em direcção a Jesus como verdadeiros amigos de alma.
Você aceita assim?

Tamanha era a sinceridade e a profundidade dos conceitos de Zacarias, buscando interpretar com generosidade e correcção fraterna os actos de Cléofas, que este não se sentiu com outra opção senão a de aceder com um sorriso e aceitar a mão que Zacarias lhe estendia em sinal de confirmação de seus laços espirituais.

Um abraço fraterno e emocionado selou o compromisso de ambos, sob o testemunho igualmente emocionado dos outros dois companheiros.
Assim, as condições do anoitecer chegavam aos horizontes de Nazaré e os convidavam a seguir conforme o planeado.

Saul conhecia bem a cidade e não lhe fora difícil escolher ruas mais adequadas, pois lá no local das pregações, conforme haviam imaginado, uma grande concentração de curiosos e desesperados da sorte se mantinha impaciente, esperando a chegada da hora na qual, costumeiramente, os dois emissários de Jesus chegariam para falar ao povo.

Lá também estavam guardas e truculentos homens pagos pelos fariseus a fim de produzirem tumulto e criarem balbúrdia no seio dos infelizes, como tentativa de desmoralizar os pregadores, além de outros igualmente pagos clandestinamente, para levantarem falso testemunho sobre dores e misérias que teriam lhes ocorrido depois que ouviram os conceitos dos emissários do bem.

Os judeus desejavam, eles mesmos, prender os dois perigosos indivíduos e entregá-los a Pilatos com alguma acusação estrondosa, para que deixassem de ser apenas depoentes perante o governador e passassem a ser réus perante a autoridade.

Todavia, naquela noite, Pilatos não fora à cidade, tendo optado por permanecer em sua residência nos arredores de Nazaré, local onde trabalhava nos seus planos e despachava os assuntos de interesse do governo.

Os fariseus, naquela noite, haviam dado uma trégua ao procurador da Judeia, já que tinham o interesse desviado para os perigosos divulgadores de conceitos subversivos da ordem por eles estatuída e defendida:
a ordem do egoísmo e da tradição de misérias e castas, graças à qual se mantinham como eram, por gerações e gerações.

Assim, não havia nenhum abutre farisaico na residência de Pilatos quando um pequeno grupo de soldados ali chegou, conduzindo os quatro homens que, mesmo seguindo por ruas silenciosas, haviam sido encontrados pela escolta na saída da cidade, quando foram convocados a seguir os militares até o destino que os esperava.

Surpreendidos pela convocação dos soldados, os quatro tremeram diante do testemunho que se lhes esperava dar agora, diante da autoridade romana na província.

Não tiveram tempo de falar uns com os outros, pois os soldados não lhes deram chance ou privacidade para qualquer ajuste.
Apenas houve o suficiente para que Zacarias pedisse aos outros três que orassem muito e não se alterassem em nenhuma situação, pois Jesus havia prometido estar com eles em todos os momentos.

E esse era o principal de todos.
Já era noite adiantada quando Pilatos recebeu a notícia da chegada dos homens e colocou-os dentro de seu gabinete para ouvi-los.

Em realidade, o governador não tinha nada contra eles.
Havia sido, apenas, pressionado pelos fariseus, que ele também não tolerava, para que tomasse alguma providência, ainda que não houvessem acusado os homens de qualquer delito.
Já desejando mais a cama do que o escritório, Pilatos dirigiu-se aos homens, de maneira informal, sem perder, no entanto, a arrogante superioridade que imprimia em sua voz o timbre dos poderosos e indiferentes.

– Quer dizer que vocês estão por aí, falando ao povo? – disse o governador sem definir se perguntava ou se afirmava, já que não sabia por onde começar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 16, 2014 9:04 am

O silêncio dos quatro foi a resposta que deu a entender a Pilatos o medo que os invadia naquele momento.

– Vamos, senhores, não escutaram minha pergunta?
Não têm qualquer coisa para dizer?

Nesse momento, Zacarias, fosse por ser o mais velho dentre eles, fosse por possuir mais profundas noções da língua latina na qual Pilatos se expressava naquele momento, assumindo uma postura de sublime humildade, dirigiu-se ao governador, dizendo:
– Nobre representante de Tibério, somos miseráveis caminhantes que aqui estivemos para ajudar alguns doentes, tratar de algumas feridas e falar de esperança aos que sofriam.
Por ventura isso é algum delito contra o Império Romano?

Surpreendido com a afirmativa serena e com a pergunta, Pilatos redarguiu:
– Não lhes disse que estavam cometendo algum delito nem que Roma os está prendendo sem motivo.
Apenas estou apurando alguns factos que os fariseus de Nazaré me trouxeram ao conhecimento e que me cabe averiguar para que não me veja como um prevaricador em minhas funções públicas.

– Do que nos acusam eles? – perguntou Zacarias.
Na verdade, nem Pilatos compreendera muito bem as acusações.
Os próprios fariseus não as haviam especificado.

Sem saber como esclarecer as acusações, o governador disse, directo:
– Falam que vocês estão perturbando a ordem com pregações de uma religião diferente.
– Na verdade, meu senhor, estamos apenas fazendo o bem aos que sofrem e falando de Deus e de Jesus.

Aqui estão duas testemunhas vivas dos efeitos da bondade de Deus.
Este é Cléofas, atirado pelos fariseus e sacerdotes em uma miserável tapera da estrada das três pedras, sem qualquer ajuda para que não fosse mandado para o vale dos imundos, pois era vítima da peste.

Buscai agora, meu senhor, algum sinal da odiosa lepra em sua pele...

O olhar de Pilatos dirigiu-se para Cléofas, quase que duvidando da afirmativa de Zacarias.
Por isso, o mencionado ex-leproso levantou os tecidos com os quais se cobria para mostrar-lhe as cicatrizes das feridas curadas pelo seu corpo havia menos de 48 horas.

A visão de tal quadro impressionou Pilatos.

Aproveitando a possibilidade de esclarecer o governador e, envolvido por uma atmosfera de imensa energia espiritual que se derramava sobre os quatro e sobre aquele que exercia a autoridade na região, directamente influenciado por Jesus, que ali se encontrava presente no meio deles, em espírito, Zacarias apresentou o outro amigo:
– E este aqui, meu senhor, é Saul, o dono da estalagem de Nazaré, que foi destruída por um misterioso incêndio nesta noite passada e que, por sua natureza, não se originou de causas naturais.

O pobre companheiro foi punido em seus bens pessoais por mandatários dos fariseus que desejavam nos assustar ou matar, já que sabiam que nos hospedávamos ali, em sua acolhedora estalagem.
Podeis estar perguntando como temos certeza de que se tratou de um incêndio criminoso.

Isso nos foi revelado por um outro fariseu que se sentiu tocado pelas palavras de esperança que escutara naquele dia, horas antes de acontecer o facto destruidor.
Assim, quando nos preparávamos para voltar à estalagem, naquela noite, fomos alertados por um fariseu desconhecido que nos esperou até o final das tarefas para nos informar de tal planeamento e nos levou para sua casa a fim de que lá dormíssemos até o dia seguinte.

Foi isso o que fizemos e, graças a ele, não estamos mortos, corroídos pelas chamas.
No entanto, Saul, que poderia invocar o seu direito de proprietário e acusar os de sua própria raça perante o governador romano valendo-se do testemunho de outro fariseu, preferiu aceitar a perda e perdoar aos agressores, sem criar perante o procurador romano mais uma demanda que lhe consumiria a paz e lhe tiraria um pouco do tempo de descanso, sempre tão escasso na vida dos homens de Estado.

Eis aí, meu senhor, algumas das consequências da mensagem que espalhamos.
Melhoria das enfermidades, resignação perante as adversidades, amor aos que sofrem.
Isso será crime?

Se o for, aqui nos confessamos criminosos perante a alta autoridade da província e aceitamos a prisão ou os castigos que merecermos de vossas mãos.
Mas se a lei romana, superior a todas as outras legislações na Terra, tanto que as têm sob o seu domínio e orientação, não vislumbrar crime em seus códigos de direito, estamos serenos diante da correta apuração de vossa consciência, que saberá nos dar o destino que Roma garante aos inocentes de culpa.
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