As folhas mortas do verão: Episódios da Inquisição Espanhola - Monsenhor Eusébio Sintra/Valter Turini

− Sim, vou-me, de vez, para Ávila. – responde ele. – Recolho-me em São Tomás246. – e a baixar a voz, propositadamente, cochicha ao velho amigo: − Lá, achar-me-ei mais seguro, pois, como bem o sabes, por cá, tentam envenenar-me!
− Ainda penso que isso não passa de bobagens da tua cabeça! – diz o outro, a bater-lhe, afavelmente, às costas. E, a apanhar pequena trouxa, feita de pano de serrapilheira, entrega-a a D. Torquemada e lhe explica: − Trata-se do chifre de um unicórnio; caso sintas que te envenenaram, bastará que ingiras um pouco da raspa deste chavelho, adicionada ao vinho!
Em seguida, despediram-se, com forte abraço, e D. Tomás Torquemada partiu para Ávila e por lá acabou finando-se, de morte natural, em 1498.
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243. Referência ao Decreto de Alhambra, promulgado pelos reis Fernando e Isabel, em 31 de março de 1492, ordenando a expulsão ou conversão forçada da população judaica e mourisca da Espanha.
244. No total, mais de 13 mil judeus conversos foram julgados e 2 000 foram executados entre 1480 e 1492, em solo espanhol.
245. A personagem refere-se a Alvar Fernández de Torquemada, ancestral directo de Tomás de Torquemada.
246. Referência ao Real Monastério de Santo Tomás de Ávila, fundado no final do séc. XV, por iniciativa de Hernán Nuñez de Arnalte, tesoureiro dos reis de Espanha, com o auxílio de sua esposa, Maria Dávila, e de D. Tomás de Torquemada.

Fim

§.§.§- Ave sem Ninho