LUZ ESPÍRITA
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Acerto de contas - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

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Acerto de contas - Marco Aurélio/Marcelo Cezar - Página 8 Empty Re: Acerto de contas - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:46

— Hum. A doutora ficou cabreira. E está me dando lição de moral? Escute aqui, Zira. Eu não sou o Cornelius e não estamos no Planeta dos macacos. Portanto, pare de querer dar uma de superior, coloque-se no seu lugar e suma da minha frente, antes que eu pule desta cama e avance em seu pescoço.
— Vou chamar o médico alto e louro. Com licença.
— Isso mesmo! Detesto lidar com gente inferior. Que saco!
Adélia nada disse. Em silêncio, retirou-se do quarto. Um minuto depois, bateram e Rachel disse um “entre”, enquanto tomava um copo de água, virada de costas para a porta.
— Sou o doutor Beau. A seu dispor.
Rachel virou o corpo e, ao se deparar com a figura à sua frente, teve um ataque. O copo de água que segurava foi ao chão e espatifou-se. Ela arregalou os olhos e gaguejou:
— Vo... você?! Como?!
— Não queria um médico alto e louro? Aqui estou.— Você deveria estar morto. Aliás, morreu.
Foi a vez de Beau gargalhar.
— Sim, querida. Você mandou matar a mim e minha família toda. Você e seus amiguinhos da Ku Klux Klan.
Aterrorizada, Rachel encolheu-se na cama, desculpando-se:
— Não! A nossa seita apenas perseguia os negros. Você era branco...
Beau prosseguiu:
— Eu era branco, alto e louro. Professor. Eu e outros colegas leccionávamos aos negros para que se instruíssem e, dessa forma, tivessem a chance de se verem livres da escravidão. Você e seu grupo não gostaram da ideia. Não se lembra da nossa acalorada discussão, dois dias antes de minha casa arder em chamas?
Ela balbuciou algumas palavras:
— Estou confusa. Minha mente não está processando direito as informações. Você fez parte da minha vida, morreu, mas não desta...
— Morri porque, como disse, você mandou atear fogo em minha casa, matando a mim e minha família. Tempos depois, aqui no mundo espiritual, foi-lhe dada a sagrada chance de retorno e mudança de ideias, posturas, mas, pelo visto, não mudou nada.
— Quero sair daqui agora. Quero meu pai. Exijo!
— Não exige nada. A única maneira de parar com essa ideia estapafúrdia de separar pessoas por cor de pele ou etnia é viver situação semelhante. Só assim você poderá, em um futuro não distante, reflectir melhor sobre seu ponto de vista, tão endurecido.
Rachel sentiu um frio na barriga.
— Não podem me prender. Não podem nada. Não há o livre--arbítrio? Já ouvi falar. Eu posso escolher. Tenho esse direito.
— Evidente que tem. Apenas não tem o direito de discriminar as pessoas. O seu caso, agora, não é mais à base de conversa e entendimento. Não funciona. Vai precisar passar e sentir o preconceito na própria pele.
— Não! Não vai me obrigar a...
Não deu tempo de finalizar. Beau aplicou nela um sedativo e Rachel apagou. Adélia entrou no quarto e indagou:
— Qual é o próximo passo?
— Ela não vai ter condições de absorver nada neste plano. Está obcecada e presa aos conceitos baseados em distinção de classes, etnia, discursos racistas. A melhor maneira de acabar com esta crença cristalizada é fazer com que Rachel reencarne da forma como mais despreza.
— Vai renascer negra.
— E sem recursos. Não soube também dar valor ao dinheiro, a nada. Usou-o de maneira a se sentir superior aos demais e agora vai ter de lutar contra o preconceito e batalhar pelo seu sustento.
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Acerto de contas - Marco Aurélio/Marcelo Cezar - Página 8 Empty Re: Acerto de contas - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:46

— É raro tratar de reencarnes imediatos — ponderou Adélia.
— Ela não vai reencarnar agora. Vai levar cerca de dois, três anos. Precisamos preparar seu perispírito para as mudanças físicas adequadas.
— Vai reencarnar no Brasil?
— Não. Em um bairro pobre de Los Angeles, nos Estados Unidos. É naquele país que o espírito dela se comprometeu em últimas vidas. E é ali que muitos desafectos estão reencarnados, como também alguns afectos. Daqui a uns anos, os norte-americanos vão enfrentar novas questões envolvendo a segregação racial. É uma espécie de acerto de contas com a própria consciência. Rachel vai estar do lado de quem sofre e precisa lutar para mostrar-se semelhante ao próximo.
— Ainda vivemos dessa forma, tendo de provar que somos iguais, apesar da cor de pele, sexo, género, condição social...
— É, Adélia. O mundo não mudou muito nos últimos quinhentos anos. O ser humano ainda vive preso à vaidade, à ilusão. Uma boa parte já reencarnou com ideias altamente saudáveis do ponto de vista de humanização. Entretanto, muitos grupos que lutaram em últimas guerras também estão retornando com suas cargas de preconceito ainda nublando sua mente. O embate não será fácil.
— Mas, como você mesmo diz, Beau, temos a eternidade pela frente.
— Tempo é que não falta.
— Preciso falar com Olavo. Ele está no jardim, apreensivo.
— Vá, minha querida. Vou chamar nossa equipe para levá-la daqui. Assim que começar o processo de renascimento, chamaremos você.
Adélia agradeceu e saiu. Caminhou por corredores amplos, claros, logo estava em um belo jardim. Olavo a esperava, esfregando as mãos, ansioso:
— E então? Ela foi mais suave com Beau?
Adélia balançou a cabeça para os lados.
— Não. A ideia de que raça e etnia são componentes que separam as pessoas ainda é forte no DNA espiritual de Rachel. Beau vai partir para o extremo.— Ela vai voltar, não?
Adélia fez sim com a cabeça. Olavo pensou um pouco e quis saber:
— Eu poderia ir junto?
— Como assim?
— Junto com Rachel. Eu falhei com ela como pai.
— Como você mesmo disse a ela, fez o melhor que pôde.— Não foi bem isso. Eu mais falei para que ela se acalmasse ou mudasse seu jeito arrogante de ser. Eu contribuí para sua derrocada. O objectivo nesta vida era os dois vivermos juntos, nos tornarmos melhores. Fomos separados de Dorothy e Débora porque assim estava para acontecer. No fundo, me dá uma dor imensa no peito saber que ela vai voltar e, inevitavelmente, sofrer.
— Ilusão é sinónimo de sofrimento — ajuntou Adélia.
— Sim. Sabe, Adélia, ninguém, quando sofre na Terra, é vítima desprotegida ou mesmo inocente. Aprendi, durante o tempo em que aqui estive, que o sofrimento é sempre uma resposta da vida a um ato nosso e uma lição de aperfeiçoamento ao espírito. Se aquele que se perde na maldade, no preconceito, soubesse que teria um dia que pagar a conta apresentada pela vida, sofrer por causa de seus actos, por certo não os praticaria. Rachel precisa de alguém que a ame e a apoie. Eu gostaria de ir, se possível, imediatamente.
— Não sei se será possível, Olavo. Consultarei os responsáveis. O que pretende?
— Voltar no mesmo lar que ela. Ser um irmão mais velho, protector, que vai auxiliá-la no caminho do bem. Apenas isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:47

— Verei o que pode ser feito.
Olavo agradeceu com um sorriso e, antes de ir falar com os superiores, Adélia tocou em seu braço e advertiu, com suavidade na voz:
- Olavo, não se esqueça de que ninguém quer errar, apenas deseja progredir, só que, na maioria das vezes, ignora o melhor caminho e vai errar até encontrá-lo. Faz parte do crescimento de qualquer um de nós.
— Eu quero ir, mesmo que erremos. Dessa vez, irei convicto de que vou fazer algo que vale mesmo a pena.
— E quanto ao seu sentimento por Sílvia?
Os olhos dele brilharam emotivos:
— Para mim o amor é renúncia em favor da felicidade de quem se ama. Sílvia e Ivan merecem viver o amor deles. O que mais me importa, no momento, é a saúde emocional de Rachel.
Farei tudo para que ela fique bem.— Você me comove com tamanha generosidade — afirmou Adélia. — Tenho certeza de que agora vão encarar e vencer os desafios. E, se for possível, gostaria de ser sua guia espiritual quando reencarnar.
Olavo não cabia em si de tanto contentamento:
— Será um prazer. Agora vou embora com mais confiança. Obrigado!
E abraçaram-se com imenso carinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:47

Epílogo
Um ano depois.
Não podemos nos esquecer de que cada um é responsável por suas escolhas. Não existe vítima, embora todos tenham o poder de mudar. Basta querer. E Maurício tentava, diante das limitações que a vida lhe impusera, mudar sua maneira de ser.
Encarou o fisioterapeuta e rilhou os dentes:
— Não suporto mais fazer este exercício. Não consigo.
— Tente — estimulava o rapaz.
Maurício fez força e, apoiado na barra de ferro, foi se arrastando até o ponto indicado pelo profissional.
— Está difícil.
— Mais uma vez.
— De que adianta?
— Condicionamento físico. Vamos.
Ele terminou a maratona de exercícios e, ao sentar-se na cadeira, fez um gesto vago com a mão:
— Não sei por que fazer tanto esforço se ficarei eternamente preso a esta cadeira de rodas.
Uma voz feminina se fez ouvir atrás dele:
— Eternamente é muito tempo. Pode ser apenas nesta vida.
Ele sorriu e voltou o rosto.
— Clarice! Só você tem o dom de me animar.
O fisioterapeuta fez uma mesura com a mão e retirou-se. Clarice deu tchau para o rapaz e Maurício fez cara séria:
— Que intimidade é essa com o Beto?
— Fui eu quem o indicou para tratar você, esqueceu?
— Hum. É. Foi.
Ela riu da cara amarrada.
— Bobo. Acha mesmo que eu vou dar sopa para o Beto?
— E por que não?
— Já disse que você é muito importante para mim. Depois do acidente, da morte de Rachel, das confissões de minha mãe, enfim, reflecti sobre tantas coisas e não quero mais mentir para mim mesma. Eu gosto muito de você.
Maurício sentiu um tremor pelo corpo.
— Jura? Fala a verdade?
— Claro. Por que mentiria?
— Eu sinto o mesmo, Clarice. Gosto de você. Fiz muita besteira, errei muito. Agora quero ter uma nova vida. Se é que, limitado deste jeito — apontou para o corpo sobre a cadeira —, terei condições de viver bem essa nova vida.
— Você é quem sabe. Com ou sem cadeira, com ou sem perna, você ainda tem cabeça, sente, está vivo! — ela passou a mão pelo rosto dele. — O que importa é você ter consciência dos actos e querer viver melhor consigo e com os outros ao seu redor.
— Queria viver melhor com toda a minha família.
— Seus pais se sensibilizaram bastante com o acidente. Soraia tem se mostrado óptima mãe. E Paulo, então, nem temos o que dizer. Paizão e amigo.
— É verdade. Meus pais foram maravilhosos. E você tem sido companheira leal e inseparável.
Convenceu meus pais para que eu pudesse me mudar para São Paulo e me tratar no hospital em que você trabalha. Tio Ivan e tia Sílvia têm sido como pais para mim, mesmo depois de eu os ter magoado naquela noite trágica.
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Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:47

— Todos eram assim, você é que não os via dessa forma. Estava preso a outros valores e conceitos. Mudou sua maneira de enxergar a vida e, por conseguinte, a maneira de ver seus familiares. Só isso.
— Tio Jamil também se revelou uma pessoa fantástica.
— A vida toda fui muito apegada ao tio Jamil — revelou Clarice.
— Quando atingi a maioridade e passei a entender melhor sobre os sentimentos, notei o quanto ele se entristecia por não viver o que queria.
— Você se refere ao relacionamento dele com João Carlos?
— Sim. Ao final da última conversa séria que tiveram, tempos atrás, tio Jamil decidiu batalhar para superar seus medos. Passou a se auto-apoiar e, graças a essa mudança positiva em seu comportamento, a relação dele com João Carlos melhorou sobremaneira.
— Depois que vendeu a casa da vó Eustáquia e foi morar com João Carlos, notei o quanto ele modificou o jeito de ser. Para você ver— Maurício estava pensativo —, decidiu que agora quer acompanhar João Carlos em todos os eventos, exposições ao redor do mundo. Está me preparando para assumir o mercado de vez.
— Sente-se pronto para encarar tal responsabilidade?
Os olhos dele brilharam emotivos:
- Estou muito bem comigo mesmo e, tendo você ao meu lado, confesso que tenho forças para me dedicar cem por cento ao trabalho. O mercado vai prosperar ainda mais e vamos ter uma boa vida.
— Só quero que você se sinta bem, Maurício.
— Eu me sinto. Tenho sido tão agraciado pela vida que até Fernando me perdoou pelas besteiras que cometi contra ele. Fui um idiota. Rachel teve razão ao dizer, antes de morrer, que fui um idiota. Mil vezes idiota.
— O passado se foi. Não muda. Apenas podemos aprender com o que não deu certo lá atrás e procurar não repetir os mesmos condicionamentos. Vamos pensar daqui em diante. Tem mais fisioterapia para fazer. Precisa fortalecer seus braços, criar mais resistência física.
— Estou mais forte. Só perdi os movimentos das pernas. O resto está funcionando...
Maurício ruborizou-se e Clarice sorriu:
— Sei o que quer dizer. Não perdeu a sensibilidade nas partes íntimas. E, mesmo que tivesse perdido, eu não me importaria — ela falou e o beijou nos lábios, de forma inesperada.
Depois do beijo, ele a encarou, firme:
— A verdade é que eu sempre amei você. Só não sabia. Agora sei. E quero viver ao seu lado.
— Eu também.
— Será que nossa família vai permitir nossa união? Somos primos...
Clarice observou:
— Mas minha mãe e sua mãe são filhas de pais distintos. A mãe de uma se casou com o pai de outra. Somos primos, mas não temos laços sanguíneos. Portanto...
Maurício levou o dedo até os lábios dela:
— Sei. Podemos viver nossa vida. Quer ser minha namorada?
— Só isso? — ela riu.
— Por ora. Depois, quem sabe...A festa de bodas de prata de Soraia e Paulo foi realizada no Montanha Clube, no Alto. Lugar bonito, repleto de verde, era ideal para receber a grande quantidade de convidados que iriam prestigiar e celebrar os vinte e cinco anos de união do casal.
— Há vinte e cinco anos, quando nos casamos no Uruguai, você tinha me feito esse pedido.
Espero que esteja conforme o esperado — disse Paulo, ao entrarem no elegante salão, lindamente decorado para a ocasião.
— Você não esqueceu! — suspirou Soraia, emocionada.
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Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:47

— Jamais me esqueceria. Depois do acidente com nosso filho, sinto que estamos mais unidos.
Eu a amo e a amarei por mais vinte e cinco anos, se a vida assim permitir.
Emocionada, Soraia deixou uma lágrima escapar pelo canto do olho, borrando a maquiagem.
Apertou delicadamente a mão de Paulo e revelou:
— Temos passado por grandes provações desde o acidente. Mas tudo está se ajeitando e eu adoraria viver ao seu lado tantos anos quanto for possível — ela o beijou com carinho e seguiu em direcção ao toalete.
Logo em seguida, Fernando e Débora, mãos dadas, caminharam pelo elegante salão e foram até a mesa em que Maurício estava. Desde a época do acidente, não se falavam muito. As notícias de um ou de outro eram transmitidas por Clarice.
Maurício os viu e sentiu leve desconforto. Adoraria cruzar e descruzar as pernas, mas não tinha como. Encarou Fernando e cumprimentou:
— Tudo bem?
- Tudo. Fiquei sabendo que você aceitou o convite de tio Jamil e vai trabalhar no mercado.
— É. Eu me animei. Vou estudar contabilidade e administrar o mercado para ele. É da família.
E vou realizar uma função que não precisa das minhas pernas, só da minha cabeça — apontou para a testa.
— É. Isso é.
Débora o beijou no rosto.
— Como foi a vinda para o Rio?
— Viemos de carro. Clarice veio dirigindo. Ela é óptima no volante. Aliás, é óptima em tudo.
— Ela me contou que estão namorando — observou Fernando.
Maurício empalideceu:
— Algum problema? Você vai ficar chateado se a gente ficar junto? Eu não quero criar uma situação constrangedora, primo, desculpe, Fernando. Mas quero provar a vocês que o Maurício que conheciam morreu na noite do acidente. Sou outra pessoa. — Não precisa provar nada. Sei que ama minha irmã e vai fazê-la feliz. O resto não me importa.
— Verdade?
— Sim — Fernando encarou Débora e piscou. Tirou dois ingressos do paletó e os entregou para Maurício.
— O que é isso?
— Veja — apontou Fernando.
— Ingressos para o Rock in Rio? Sério?
— Clarice é louca pelo James Taylor. Compramos ingressos para a noite em que ele vai se apresentar.
— Também irão se apresentar Elba Ramalho, Ivan Lins, Gilberto Gil, Al Jarreau e George
Benson. Será uma inesquecível noite de janeiro! Imperdível — completou Débora.
Clarice apareceu logo atrás deles:
— Não vou escutar não como resposta.
— Estou deslumbrado, mas como vamos a Jacarepaguá? Assim?
— apontou para o próprio corpo.
— A gente empurra a cadeira. Se não der, carregamos você, ora — revelou Fernando.
— Bom, também, se não quiser -— rebateu Clarice —, eu posso chamar o Beto, fisioterapeuta. Ele adora o Gilberto Gil.
Maurício meneou a cabeça negativamente:
— De jeito algum! Eu vou, nem que tenha de me arrastar.
— Gostei! — exclamou Fernando.
— Isso mesmo. A cadeira de rodas jamais deverá ser empecilho para você realizar o que deseja. Reaja!
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Mensagem  Ave sem Ninho 20/3/2024, 23:47

Os quatro se uniram em um afectuoso abraço e Maurício não pôde deixar de conter algumas lágrimas que escorriam pelo canto do olho. Estava emocionado e feliz. Fernando empurrou a cadeira e os quatro foram para o jardim.
Próximo deles, Adélia e Raul conversavam, animados:
— Fiquei sabendo que Rachel está sendo preparada para voltar.
— Sim, Raul. Em breve.— E quanto a mim? Terei chance, agora, de voltar?
— Depende de você. Está pronto?
Ele olhou para Clarice sentada sobre o colo de Maurício. Sorriu:
— Creio que sim. Nunca tive raiva de Herculano. Jamais o culpei por ter me atropelado e, por consequência, eu ter morrido. Eu não o conhecia e a vida nos juntou em um momento trágico.
— Herculano estava muito preso às ilusões da vida. Reencarnou de forma rápida porque o espírito dele clamava por nova chance e, de certa forma, Soraia estava ligada a ele pela culpa.
Foi feito um rearranjo.
— O que possibilitou a Herculano ter retornado ao mundo como Maurício.
— Isso mesmo. Agora — explicou Adélia, voz amável —, por causa do acidente, em vez de fugir por meio de manipulação, Maurício decidiu enfrentar a verdade, reconheceu que errou, tem condições e pode mudar, portanto, ele vai conseguir rever suas crenças, modificar a postura diante da vida, melhorar a auto-estima e tornar-se um indivíduo de bem consigo mesmo. Porque o poder da mudança está nele. Só Maurício tem o poder de fazer isso e acertar as contas consigo mesmo.
— Concordo. E me prontifico a vir como filho. Dele e de Clarice.
— Eu sabia. Estava apenas esperando o seu pedido.
— Vamos agilizar isso?
Adélia fez sim com a cabeça. Antes de irem, passaram por Soraia e Paulo, Sílvia e Ivan, porquanto Alaíde estava intuindo-os com mensagens positivas para que seus espíritos pudessem encarar os desafios com força e coragem.
Em seguida os três espíritos, de mãos dadas, sorriram para Fernando e Débora. Pararam em frente a Maurício e Clarice. Fizeram um círculo em volta do casal e, de olhos fechados, com as mãos espalmadas, irradiaram-lhes energias revigorantes. E foram embora. Naquele instante, Maurício fechou os olhos e sentiu que seu corpo flutuou até as estrelas.
Bem ali, no meio delas, ele podia caminhar e sentir toda a força da vida.
Um minuto depois, respirou fundo, abriu os olhos e percebeu o quanto amava Clarice, amava a vida e a si mesmo, tendo certeza de que o amor acontece de forma espontânea e vem para cada um de maneira singular.
Maurício sorriu, segurou a mão de Clarice e depois a beijou com delicadeza. Olhou novamente para o alto e, enquanto contemplava o céu estrelado, sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

Fim

MARCELO CEZAR nasceu na cidade de São Paulo em maio de 1967 e é um dos escritores espiritualistas mais lidos e admirados de sua geração. Há quarenta anos dedica-se aos estudos espíritas e de outras correntes espiritualistas e filosóficas ligadas à reencarnação, pois acredita ter nascido e morrido muitas vezes. Seu romance O amor é para os fortes, lançado em 2010, vendeu mais de 300 mil exemplares e permaneceu por vinte semanas nas listas dos mais vendidos. Com 2 milhões de exemplares vendidos, é autor de vinte livros e gostaria de publicar outros vinte, antes que morra de novo. Todos os seus livros são inspirados pelo espírito Marco Aurélio.

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