LUZ ESPÍRITA
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Ela só queria CASAR - Marco Aurélio / MARCELO CEZAR

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:43 pm

Ela só queria CASAR
MARCELO CEZAR

pelo espírito Marco Aurélio

Capítulo Um
Gláucia contemplava o enxoval do casamento com olhos brilhantes de emoção.
Finalmente iria realizar o antigo sonho: casar-se.
Estava tão feliz!
Não tinha medo de dizer o quanto desejava se casar e ter um lar.
Ainda estava vivo em sua memória o dia em que tomara coragem para pressionar o namorado e acelerar os passos para chegarem ao altar.
Namorava Luciano havia sete anos.
Eles tinham intimidade, viviam praticamente como um casal, mas moravam em casas separadas.
Essa história de cada um na sua casa a incomodava sobremaneira.
Gláucia era uma mulher talhada nos costumes do século vinte e um.
Estudara e concluíra a faculdade, tinha um bom emprego, ganhava bom salário, tinha carro próprio.
Era independente, mas desde garota sonhava com o casamento e tudo que envolvia o ritual: vestido, damas de honra, igreja, madrinhas e padrinhos, festa, lua-de-mel.
Era adepta do matrimónio e acreditava que toda mulher, mesmo independente e moderna, tinha que ter um marido.
"Mulher que chegou perto ou passou dos trinta anos e não casou... hum, aí tem algo errado", ela dizia sempre para si e para as colegas.
Gláucia dava muito valor à sociedade e aos comentários das pessoas.
Namorava Luciano porque na cabeça dela toda mulher sem namorado "tem problema".
O tempo estava passando e ela começava a acreditar que Luciano não quisesse levá-la ao altar, por isso, meses antes, dera o ultimato:
- Ou nos casamos agora ou vamos romper.
Estou cansada dessa enrolação.
— Temos praticamente uma vida de casados — tornava Luciano, paciente.
Para que casar agora?
Ao menos não a importuno nos dias de futebol.
— Luciano, a gente precisa ter o nosso ninho, as nossas coisas juntos, pensar em constituir família...
- Quero muito um filho, você bem sabe.
Na verdade, quero ter um monte de filhos.
— Também não exagera!
- Como não?
Quero uns três, quatro filhos.
— Dois está de bom tamanho — ela desconversou.
Então, vamos marcar a data.
— Agora não é o momento.
— Como não?
Eu só quero casar.
— Sei, querida.
Quero guardar um pouco mais de dinheiro...
Gláucia levantou o sobrolho:
— Guardar dinheiro?
Eu escutei bem?
— Eu fiz algumas aplicações com prazo estendido e, se mexer nelas neste momento, vou perder dinheiro.
— Você é podre de rico!
Como pode me dizer que está guardando dinheiro?
— Eu não sou podre de rico.
Meu pai é que é.
Ela bufou:
— Dá no mesmo, Luciano.
O que é do seu pai é seu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:43 pm

- Não penso assim.
Trabalho com ele, ganho um bom salário, tenho participação nos lucros, mas não sou dono da construtora.
Sou empregado.
— Aposto que Lucas não pensa assim.
Luciano franziu o cenho:
— O que Lucas tem a ver com isso?
— Seu irmão é figura constante nas revistas de celebridades.
Tem uma colecção de carros.
- Lucas gasta o que não deveria.
Mas eu sou diferente.
Tenho metas, planos, sou organizado e sinto-me feliz por poder juntar o meu próprio dinheiro.
Gláucia achou por bem parar por ali.
Luciano era completamente diferente do irmão e tinha pontos de vista difíceis de serem mudados.
Por mais que tentasse persuadi-lo a usar o dinheiro do pai, ele ficava arredio e protelava o casamento.
"Preciso fazer alguma coisa", pensou.
Luciano continuou:
- Quem sabe, ano que vem a gente começa a pensar melhor no assunto?
Papai vai lançar um edifício magnífico no Jardim Europa, no estilo francês, com cinco andares apenas.
Penso em ficar com a cobertura.
— E quanto tempo vai levar para levantar esse chalé francês? — ela desdenhou.
Luciano pousou o dedo no queixo e pensou.
Em seguida respondeu:
- Uns dois anos, dois anos e meio no máximo.
Gláucia engoliu a raiva.
Trincou os dentes e suspirou para não dar um grito.
"Dois anos e meio?
Vamos nos casar com quase dez anos de namoro?
Esse cara pensa o quê?
Que eu sou menina do século dezoito?
Nem a pau vou aceitar uma coisa dessas!"
Ela pensou tudo isso e respondeu:
— Eu espero, amor.
— Por isso gosto de você.
É tão compreensiva!
Vem cá e me dê um beijo...
Gláucia fechou os olhos e, quando os lábios se encostaram, ela teve vontade de arrancar a língua de Luciano.
"Assim não pode, assim não vou aguentar.
Tantos anos grudada nesse homem e ele fica me enrolando?
Eu quero ser dondoca, ter cartões de crédito sem limites de gasto.
Cansei de ser executiva, de trabalhar, de pegar trânsito.
Meu objectivo agora é ser esposa de homem rico.
E Luciano é esse homem!"
Certo dia, assistindo a um capítulo da novela das oito, Gláucia viu ali a maneira de forçar Luciano a desposá-la.
Fingiu estar grávida, tal qual a personagem do folhetim, com direito a atestado e tudo o mais.
E Luciano, moço puro de coração, acreditou.
Marcaram a data para dali a três meses.
- Depois do casamento a barriga não vai crescer.
O que pensa fazer? — indagou a amiga Magali, que não compactuava com a armação.
- Ora, eu finjo cair de uma escada, tropeço, sei lá.
Vou pagar por um atestado falso.
Tem um monte de médico que aceita uma boa grana e assina um atestado fajuto sem pestanejar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:44 pm

— Isso não me cheira bem, Gláucia.
Não gosto de mentiras.
Vai começar o casamento em cima de conversa fiada, de armação?
Gláucia abriu e fechou os olhos, aturdida.
— Vem cá, Magali.
Você é minha amiga ou o quê?
- Por ser sua amiga falo o que sinto.
Simplesmente não acho essa atitude digna. Nada honesta.
— Falta de honestidade ou não, funcionou.
Luciano vai se casar comigo e vou realizar meu sonho.
Sabe que desde pequena quero me casar.
- E como! — exclamou Magali.
Quantos casamentos de mentirinha a gente protagonizou na nossa infância?
As duas riram.
Gláucia disse:
- Pois é. Quantas vezes assisti à reprise do casamento da princesa Diana com o príncipe Charles?
Magali levou a mão à testa.
— Santo Deus!
Você me aporrinhava tanto para assistirmos juntas ao vídeo!
— Pois é. Sou uma mulher moderna, mas presa a valores antigos, sou moça de tradição.
Quero vestido branco, véu, grinalda, buquê, dama de honra...
Quero entrar na igreja e atravessar a nave, acenando para os convidados.
Não adianta, eu sonho com isso desde que nasci.
E também tem outra coisa.
— O que é?
— Cansei de ralar e dar duro todos os dias.
Não suporto mais a vida de executiva.
— Você tem o direito de fazer o que quiser e viver da maneira que quiser.
No entanto, enganar seu namorado não pega bem, não é justo.
Seja sincera desde já, caso contrário, poderá provocar a ira de Luciano.
— Luciano não morde.
Magali era uma mulher bastante prudente.
Era ponderada e Gláucia escutava seus conselhos.
Mas escutar não queria dizer que seguiria à risca o que a amiga lhe sugeria.
— Luciano não morde hoje, mas pode morder amanhã.
— Que nada, Magali!
Luciano é um cachorrinho que venho adestrando há sete anos.
- Sete anos! — ela levantou as mãos e fez os números com os dedos.
– E sabe qual é a novidade?
- O que é?
- Ele quer que eu espere o magnífico apartamento da construtora ficar pronto, daqui a dois anos e meio.
O que ele pensa que eu sou? Tonta?
- Ele está programando tudo direitinho.
Se diz que vão morar no apartamento que a construtora do pai dele vai erguer, é porque nutre bons sentimentos por você.
Caso contrário poderia ter lhe dado uma resposta vaga.
Pense bem, amiga.
Mentir nunca dá bons frutos.
- Bobagem. Você nunca mentiu na vida?
- Não gosto de mentiras – revidou Magali.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:44 pm

- Mas nunca mentiu?
Seja honesta comigo, que sou sua melhor amiga.
Todo mundo conta uma mentirinha de vez em quando.
Já não perdeu a hora de chegar ao trabalho e botou a culpa no trânsito caótico?
Nunca recusou um compromisso pretextando uma dor de cabeça, um mal-estar, um trabalho de “última hora”?
- Não estou me referindo a isso.
Não vejo como mentira, mas como situações que crio para não me prejudicar.
Falo em mentira em sentido de prejudicar os outros.
- E estou prejudicando quem nessa história?
Luciano está comigo há anos.
Só estou agilizando o nosso casamento.
Ele nem vai notar.
Depois eu engravidarei de verdade e pronto.
Fica tudo certo.
- Luciano é honesto – tornou Magali.
- Ele é rico, muito rico.
- Você é independente, não precisa do dinheiro dele.
Seu pai pode ajudá-la.
Gláucia gargalhou:
- Faz-me rir! Meu pai tem um escritoriozinho de contabilidade no centro da cidade.
Acha que ele vai me dar mesada? Como?
Esqueceu que ele tem que sustentar aquelas duas sanguessugas?
— Sua irmã é batalhadora, esforçada.
Estuda com afinco e logo vai trabalhar com seu pai.
— Você não entendeu.
Preste atenção:
Débora vai se encostar no meu pai.
Aliás, ela é naturalmente um encosto.
Magali respirou e sacudiu a cabeça.
Conhecia a amiga o suficiente para saber que a conversa não ia dar em nada.
Gláucia prosseguiu:
— O que meu pai pode me dar, não me basta.
Preciso de muito, entende?
— Não entendo você, Gláucia.
Tem um padrão de vida muito bom, troca de carro todo ano, não repete roupa...
— Isso é muito classe média.
Quero viajar três vezes por ano para o exterior, e na primeira classe, óbvio.
Acha que vou ficar apertada na classe económica como sardinha em lata e dividir banheiro com duzentos desconhecidos?
Não! Eu quero ter roupas caras, muitas jóias, iate, jactinho...
Luciano é podre de rico e pode me dar tudo isso.
- O pai dele é que é podre de rico.
— Parece Luciano falando.
Ouvi a mesma frase da boca dele.
Vocês são tão parecidos.
Pensam da mesma forma.
Magali ruborizou e baixou os olhos.
Meio sem jeito, perguntou:
— Você o ama?
Gláucia desconversou e continuou a falar como se Magali não lhe tivesse feito aquela pergunta:
— Cá entre nós, depois de sete anos, imagine se Luciano resolver terminar comigo?
Com que cara vou encarar o meu pai, os meus amigos e os colegas de trabalho?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:44 pm

— Pense em você e não nos outros...
A conversa terminou logo em seguida, pois quando Glaucía botava uma ideia na cabeça, não havia Cristo que tirasse.
Ela era marrenta e queria que tudo na vida acontecesse de acordo com a sua vontade.
Quando o assunto não a interessava, ela simplesmente ignorava o interlocutor, e a conversa se encerrava ali mesmo.
A mentira deu certo. Luciano, boa índole e tomado de susto com o atestado positivo que Gláucia sacudia dramaticamente entre as mãos, decidiu pedi-la oficialmente em casamento, embora esse tipo de formalidade não estivesse mais na moda nos idos de 2006.
Na pressa, o rapaz optou por alugar um apartamento.
Escolheu um bem espaçoso, de três quartos e sala de estar incorporada a uma grande varanda gourmet.
Era tanta a quantidade de presentes que não paravam de chegar, que o apartamento, mesmo grande, dava a impressão de não comportar tantos pacotes.
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Capítulo Dois

Sentada sobre a cama de sua futura suíte, Gláucia espantou as recordações dos meses anteriores com as mãos e, em seguida, passou-as delicadamente sobre a coixa confeccionada em fino tecido.
Sentiu a maciez e suspirou:
- Não vejo a hora de me casar.
Já vislumbro a igreja decorada, os padrinhos, os convidados...
Ela divagou um pouco e concluiu:
- Na segunda-feira, sem falta, preciso fazer os últimos ajustes no vestido.
- Falando sozinha? – indagou uma voz familiar, atrás dela.
Gláucia fez uma careta e moveu os olhos para cima.
— O que faz na minha casa? — enfatizou.
O porteiro devia ter barrado você na entrada.
— Eu venho aqui quase todos os dias.
— Deu para notar que o sistema de segurança deste edifício é uma porcaria.
Ainda bem que este pombal de luxo foi alugado.
Quando for morar no meu chalé francês, no Jardim Europa, farei questão de riscar seu nome da lista de pessoas autorizadas a entrar.
— Vim ajudá-la.
Mamãe pediu para eu sair da faculdade e vir directo para cá.
- Não preciso da sua ajuda, Débora.
A moça deu de ombros.
— Claro que precisa — respondeu, enquanto rodopiava no vestido florido de pregas.
Você deve voltar ao trabalho.
O seu horário de almoço terminou faz tempo.
Pode deixar que eu me encarrego de receber as entregas.
— Agora quer controlar os meus horários?
— Seu chefe é gente boa, mas você abusa.
— Eu?! — indagou Gláucia, aturdida.
Sou funcionária exemplar.
- Semana que vem você se casa, vai tirar uns dias e emendar com as férias.
Precisa deixar o trabalho em ordem, este apartamento arrumado...
Sabe de uma coisa?
— Não, não sei.
- Tenho notado no curso de Ciências Contáveis que a organização é imprescindível para a vida profissional do contador, assim como para a vida quotidiana de todos nós.
Organizar a nossa vida, em todos os aspectos, cansa menos e permite mais tempo livre para fazer coisas prazerosas, que alegrem nosso coração.
Gláucia levantou os olhos e suspirou, contrariada.
— Não sou contadora.
Sou gerente financeira, quase directora.
Depois que me casar, vou pedir demissão.
Não quero bater ponto nunca mais na vida.
— A administração do tempo cria um sentido de aproveitamento melhor para que as oportunidades floresçam à sua maneira.
Agora é que você precisa se organizar, deixar tudo em ordem para seus funcionários, passar o serviço e...
Gláucia a cortou com secura:
— Bem, só uma criatura como você, em pleno século vinte e um, para estudar isso — desdenhou.
Por que não foi estudar Moda ou Gastronomia?
São cursos que conferem prestígio.
— Gosto do que faço — ajuntou Débora, num sorriso cativante.
Depois de formada, vou trabalhar com papai.
- Vai se encostar nele, isso sim.
— De forma alguma.
Quero trabalhar com afinco, com vontade.
Quero fazer o escritório crescer, admitir mais pessoas e promover bem-estar aos funcionários.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:45 pm

Gláucia meneou a cabeça.
— Por Deus! Como pode ser tão sonsa?
Vai transformar aquele escritório medíocre numa instituição beneficente?
— Não, mas um lugar prazeroso onde as pessoas poderão dar o melhor de si e, em contrapartida, ter um bom ambiente de trabalho, bom salário, participação nos lucros...
- A mártir da contabilidade! Santo Deus!
Ainda bem que vou me ver livre de você, estropício.
Débora sorriu.
— Fique à vontade para falar mal de mim.
Estou acostumada, maninha.
Débora, envolta por uma meiguice fora do comum, começou a arrumar alguns pacotes.
Um carregador aproximou-se com uma caixa grande e pesada.
— Ei, moça, onde boto essa caixa?
Débora apontou:
— Ali no canto. Por favor.
O rapaz sorriu e, com grande esforço, colocou a enorme caixa próximo da cama.
- Aqui não! — protestou Gláucia.
— Ora, não há mais lugar na sala.
— Não quero saber. Aqui não fica.
— Deixe de ser turrona — Débora falou, e o carregador obedeceu.
Num instante ele reapareceu no quarto, com um pacote menor e bem mais leve.
Gláucia disparou:
- Já disse. Aqui não.
O carregador coçou a cabeça.
— Ó dona, desculpa eu me intrometer, mas a mocinha — apontou para Débora — tem razão.
A sala está entupida de caixas e embrulhos.
— Esse pacote é pequeno.
Coloque em qualquer lugar.
— Não posso. E se cair?
Aí vão querer descontar o estrago no meu salário.
Gláucia rangeu os dentes de raiva.
Engoliu em seco.
Levantou-se da cama e pegou o pacote.
Débora advertiu:
— Não pode carregar peso. Está grávida.
Gláucia imediatamente fez uma cena e deixou a caixa ir ao chão.
Houve um barulho de vidro quebrado.
O carregador falou primeiro:
— Não me responsabilizo.
A senhorita pegou o pacote da minha mão e deixou cair no chão.
— Não tem problema — Gláucia abaixou-se e abriu a caixa.
Sorriu, irónica:
— Era mais um conjunto de potinhos de sobremesa, daqueles de vidro incolor, que pobre adora.
Coisa cafona. Só pode ter vindo do seu lado da família —tornou, encarando Débora.
O rapaz saiu e ela fechou a porta.
Fuzilou Débora com os olhos:
— O que pensa que está fazendo, garota?
— Nada. Vim ajudá-la.
— Não preciso e não quero a sua ajuda.
— Você está grávida, não pode carregar peso, tampouco pode passar nervoso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:45 pm

— Só de olhar para você eu fico nervosa.
Não tem como enfiar essa cara num capuz para eu não me irritar?
- Engraçada, você!
— Cadé o respeito?
Vai mandando assim na casa dos outros sem mais nem menos?
Está se sentindo a dona do apartamento?
- Não. Estou só querendo ajudar.
Poderia estar em casa almoçando ou mesmo na companhia das minhas amigas da faculdade.
Recusei até um convite para assistir ao novo filme do Almodôvar, Volver.
Quer ir comigo? Dizem que o filme é fantástico!
— Deus me livre!
Eu lá tenho paciência para esses filmes com fala enrolada?
— É espanhol. Muito parecido com o nosso idioma.
— Só uma tonta como você para gastar dinheiro com esse tipo de coisa.
Débora ignorou e prosseguiu:
- Escolhi estar aqui para ajudar você, mana.
- Pare de me chamar de mana.
Você não é minha irmã, Débora.
— Fazemos parte da mesma família.
Afinal, o seu pai se casou com a minha mãe.
— Que horror! Nem me lembre desse acto insano de meu pai.
Tanta mulher no mundo e ele, talvez num momento de extrema carência, pegou a primeira que apareceu no caminho.
No caso, a sua mãe — frisou.
— Viu? Temos o mesmo pai.
Isso nos torna irmãs.
Gláucia deu um gritinho de espanto e incredulidade misturados.
— Deus me livre e guarde! — bateu na mesinha do criado-mudo ao seu lado.
— Está certo. Meia-irmã pode ser?
É politicamente correcto?
Gláucia não percebeu a troça e continuou:
- Meu pai só se casou com a Iara porque, infelizmente, Deus tirou a minha mãe de nossa vida — disse, num tom sentido.
— Deus não tirou a sua mãe — respondeu Débora, voz delicada.
Era chegado o momento dela.
Seu espírito partiu para outro plano, outra dimensão.
Em breve vamos todos nós...
Gláucia a interrompeu e deu novo grito, dessa vez num tom acima do normal:
— Pare! Não continue a falar besteiras.
Essa conversa idiota de espíritos que você e sua mãe tentam me impor é difícil de engolir.
Odeio quando você toca nesse assunto.
Tudo uma grande bobagem.
Gláucia caminhou de maneira abrupta.
Bateu o salto agulha com força sobre o assoalho e estugou o passo até a sala.
Débora sentou-se na cama e balançou a cabeça para os lados.
- Pobre Gláucia. Tão presa aos conceitos do mundo!
Que Deus abra seus olhos e seu coração para que ela veja e sinta além do convencional.
A vida é tão mais interessante quando não nos deixamos guiar pela opinião da sociedade.
Como é bom viver com alegria no coração!
Débora era uma garota encantadora.
Aos dezanove anos, tinha uma cabeça madura para a sua idade.
Espírito ousado e dono de suas vontades, reencarnara na família para dar sustentação e equilíbrio ao lar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:45 pm

Tivera conflitos com Gláucia numa encarnação distante, mas, depois de novas experiências no mundo, reflectiu sobre os problemas que a afligiam, mudou crenças e posturas.
Aprendeu a ser impessoal e ofereceu-se a reencarnar como sua irmã para vencer os ressentimentos passados.
Em sã consciência, Débora não se lembrava disso.
Entretanto, estava sempre de bem com a vida, pronta para combater a negatividade do mundo.
Não se tratava de uma mocinha infantil e chata, agradecendo por todas as desgraças que porventura atravessassem seu caminho.
Não! Longe disso.
Débora era uma moça bem consciente dos valores espirituais e, por isso, sabia tirar proveito das situações mais espinhosas.
Era moça bonita, alta, esguia, cabelos alourados e sedosos, rosto arredondado, olhos verdes grandes e expressivos.
Cursava o terceiro ano de Ciências Contáveis e pretendia trabalhar no escritório de contabilidade do pai.
Mesmo sendo filhas de mães diferentes, ela e Gláucia eram parecidas fisicamente.
Para você entender melhor o grau de parentesco entre elas, vamos voltar um pouquinho no tempo.
Armando, pai das meninas, casara-se com Miriam no comecinho da década de 1980.
Ele fazia curso técnico em contabilidade, e ela cursava secretariado na mesma escola.
Namoraram até o fim do curso.
Em seguida noivaram, e Armando ingressou na faculdade.
Suas famílias eram de classe média e ambos vislumbravam uma vida a dois repleta de sonhos e realizações.
Com o incentivo moral e financeiro do pai, Armando fez sociedade com seu amigo Régis e montaram o escritório de contabilidade no centro da capital paulista.
Logo depois do casamento, Miriam engravidou e Gláucia nasceu.
Quando a garotinha tinha acabado de completar três anos de idade, Miriam começou a sentir fraqueza de um lado do corpo e passou a ter visão dupla.
Armando insistiu
para que ela consultasse um médico, mas Miriam acreditou aquilo tudo ser fruto de uma vida stressante, em que ela tentava conciliar as prendas do lar e a maternidade com o trabalho de meio período como secretária numa empresa de importação e exportação.
Infelizmente, num sábado de manhã, Miriam acordou, levantou-se e teve uma dor terrível a pressionar-lhe a cabeça.
Armando correu com ela até o hospital, contudo já era tarde.
Miriam fora acometida de um aneurisma cerebral e chegara morta ao centro cirúrgico.
A vida de Armando foi tomada de uma tristeza sem igual.
Sozinho e pai de uma garotinha de três anos, foi difícil aceitar a morte da esposa e continuar a viver sem ter a chance de realizar os planos que ambos haviam idealizado para uma longa vida em comum.
Tocado por sua tristeza e infelicidade, Régis, o seu sócio no escritório, à época frequentador de um centro espírita, falou a Armando sobre o espiritismo e sobre a continuidade da vida após a morte do corpo físico.
Desesperado e em grande dor, Armando aceitou a sugestão e passou a frequentar sessões no centro espírita não muito distante do escritório.
Recebendo tratamento adequado com passes e palestras edificantes, começou a perceber que a vida tinha um significado bem diferente daquele que acreditara por anos.
Ao perceber que a morte nada mais é do que o fim de um ciclo reencarnatório e o espírito vive eternamente, seu coração aquietou-se.
A tristeza foi embora e ele passou a administrar de maneira menos sofrida a saudade que sentia da esposa.
Interessou-se verdadeiramente pelos estudos espirituais e foi com muita emoção que recebeu uma carta ditada por Miriam e psicografada por uma médium no centro.
Ela dizia estar bem, muito lúcida e pronta para estudar e viver em outros mundos espirituais.
Disse, ainda, que não teria mais contacto com ele por muitos anos e desejava, de coração, que Armando cuidasse da própria vida.
Ele era jovem, tinha uma filha pequena para criar e merecia uma nova chance de ser feliz ao lado de outra mulher.
Nessa época, Armando conheceu Jussara e tornaram-se amigos.
Jussara era o tipo de moça que sempre metia os pés pelas mãos em inúmeros relacionamentos afectivos desastrosos.
Maltratada e sentindo-se solitária, encontrara no centro espírita alívio para seu coração constantemente despedaçado.
Numa tarde em que foi ao centro para ajudar a separar brinquedos que seriam doados a crianças carentes no Natal, Jussara levou uma amiga, Iara, para conhecer o local.
Esta, por sua vez, estava se recuperando do fim de um relacionamento afectivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:45 pm

Armando chegou em seguida e, quando seus olhos pousaram na moça, o rapaz sentiu um frémito de emoção.
Foi amor à primeira vista.
Confuso, pois acreditava ser Miriam o seu grande amor, Armando tentou lutar contra o sentimento.
Régis o lembrou da carta psicografada, o coração falou mais alto e, quando Gláucia completou cinco aninhos, ele e Iara casaram-se numa cerimónia simples somente para familiares e amigos.
Os pais de Miriam, ainda abalados com a perda da filha, recusaram-se a comparecer.
Um ano depois da união, nasceu Débora.
A rejeição de Gláucia à nova irmãzinha, assim como à "nova mãe", era impressionante.
A menina não chegava a falar, mas sentia certa aversão à madrasta e à irmãzinha recém-nascida.
Débora cresceu uma menina bonita, saudável, educada e amorosa.
Procurava transformar positivamente cada palavra ruim que Gláucia lhe dirigia.
Incentivada pela mãe, logo a menina se afeiçoou aos estudos espiritualistas.
Por incrível que pudesse parecer, não ligava para os impropérios da irmã mais velha, era imune a esses ataques e, todas as noites, colocava Gláucia em suas preces.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:45 pm

Capítulo Três

Passava das nove da noite quando Magali ligou.
— Amiga, está pronta?
Gláucia mordiscou os lábios, insegura:
— Não sei o que fazer.
— O que aconteceu?
— Estou nervosa.
— Por qual motivo? — perguntou Magali, preocupada.
- Que vestido eu ponho?
Magali riu, reflectiu por instantes e considerou:
- Sabe que na festa terá de usar uma fantasia confeccionada por todas nós.
Você vai ficar igualzinha à Madonna, como no clipe da música Like a virgin.
Esqueceu?
Gláucia falava de maneira rápida.
Estava afobada:
— Sei. Claro que sei.
- Então não se preocupe.
- Sempre falamos sobre usarmos o vestido igual ao do videoclipe.
A Samira até separou os brincos e os colares em formato de crucifixo.
Mas não posso chegar ao bar com a fantasia.
Quero chegar linda, com um vestido de arrasar.
Magali sorriu do outro lado da linha ao dizer:
— Coloque aquele vestido de cor cereja que compramos no shopping semana passada.
- Não posso usá-lo, Magali.
Comprei aquele vestido para a lua-de-mel.
- Luciano não vai estar na festa.
Esqueceu que é despedida de solteira?
Solteira com "S"?
Só mulheres vão comparecer.
— Esqueci... — ela se atrapalhou toda e perguntou:
—Tem certeza de que está tudo certo?
O bar, as bebidas, o DJ...
- Sim. Eu sou a madrinha de honra dessa festa de despedida.
Tudo foi feito conforme suas orientações.
Um conhecido meu é amigo do dono do bar e até conseguiu para nós um espaço maior na área vip.
Todas as nossas amigas estarão lá, fique sossegada.
— Ai, Magali.
Não sei o que seria da minha vida sem você.
Estou confusa, o casamento é semana que vem e depois vem a lua-de-mel...
- E depois vem a "perda" do bebé.
— Não me lembre disso agora — rebateu, fria.
— Ainda tem tempo de mudar de ideia.
— Não tenho, não.
Sei que não fui correcta, mas hoje não quero me culpar por nada.
Hoje a noite será minha, só minha.
— Não acha melhor contar a verdade logo para o Luciano?
- Por que insiste?
— Não sei.
De repente ele descobre a farsa e pode ficar triste, decepcionado.
Ou, pior, poderá ficar com raiva.
Poderá ser difícil para ele aceitar e entender...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:46 pm

Gláucia, do outro lado da linha, balançava a cabeça para os lados.
- Pare de viajar!
Ele nunca vai descobrir.
— Tomara! É que, toda vez que você fala sobre essa gravidez, sinto um aperto no peito.
— Bobagem.
Você está impressionada.
— Não é isso, não.
Eu apresentei um atestado falso, fingi alguns enjoos.
Está tudo sob controlo.
Luciano jamais vai saber da tramóia.
- Você é quem sabe.
Quem avisa amigo é.
— Hoje quero ser, estar e me sentir feliz!
- Tem razão — ponderou Magali.
Deixemos esse assunto de lado por agora.
Amanhã, depois do porre e durante a recuperação da ressaca, a gente conversa melhor sobre isso.
- O mais importante é acertar o vestido para esta noite.
- Já disse, Gláucia. O cereja.
É bonito e ousado na medida certa.
Você vai arrasar.
— Jura?
- Confie em mim.
Você será a mais bonita quando chegar à festa.
- Confio em você.
— Óptimo. Daqui a meia hora eu a pegarei em casa.
— Combinado, amiga. Beijos.
Gláucia desligou o celular mais tranquila.
Apanhou o vestido cereja no guarda-roupa e sorriu ao colocá-lo em frente ao corpo, olhando-se no espelho.
— Vou ficar linda.
Bateram na porta.
- Quem é? — ela gritou da porta do banheiro.
— Sou eu, querida. Iara.
Gláucia bufou. Não gostava de Iara.
Tinha colocado na cabeça, com grande incentivo dos avós maternos, diga-se de passagem, que a madrasta havia roubado parte do coração de seu pai e tomado o lugar de sua mãe.
Justina e Eriberto, pais de Miriam, eram contra a nova união de Armando.
Afirmavam que casar-se de novo era como matar Miriam novamente, pois Gláucia seria criada por uma nova mãe e apagaria a mãe biológica para sempre da memória.
Por isso, nos poucos encontros que tinham, o casal dizia à menina que Iara era uma oportunista, uma mulher aproveitadora, má e sem escrúpulos.
Gláucia era ainda menina à época, por isso acreditou nos avós e passou a nutrir antipatia gratuita tanto por Iara como por Débora.
Para não arrumar briga com o pai, ela sorria na frente da madrasta e da meia-irmã, mas, por trás, fazia bico e desdenhava das duas.
Fingindo amabilidade, tornou:
— Pode entrar.
Iara entrou e parou a alguns passos da porta do banheiro.
— Não está atrasada?
— Um pouco — respondeu, voz gélida.
— Quer que eu passe seu vestido?
— Por quê?
Está achando que ele está amassado?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:46 pm

— De maneira alguma, mas uma passadinha pode deixá-lo ainda mais bonito.
Posso fazer isso para você.
Gláucia olhou atentamente para o vestido e percebeu aqui e ali uma dobrinha, um amassadinho no tecido.
Deu de ombros.
— Acha mesmo necessário?
— Sim. Hoje é uma noite especial para você.
— Está bem.
— Deixe-me pegá-lo, por favor — insistiu Iara.
- Pode fazer o que quiser, desde que o passe em cinco minutos.
Vou me banhar e Magali vai chegar daqui a meia hora.
- É coisa rápida.
Iara pegou o vestido e foi para a área de serviço.
Deitou-o sobre a mesa de passar roupa e ligou o ferro.
O telefone tocou.
Armando não estava em casa, e Débora também estava no banho, por isso Iara correu até a cozinha e atendeu.
Era a amiga Jussara reclamando do companheiro.
As palavras saíam aos borbotões:
- Cirilo pensa que sou idiota, Iara.
Ouvi uma conversa dele ao telefone.
Assim que pude, fui dar uma checada no celular, procurei pela última chamada e descobri se tratar de "Amiga 3".
O que é isso?
— Não fique nervosa, Jussara.
- Como não?
O patife sai com um monte de mulher.
- Você já desconfiava dele, não?
— É. Mas, para piorar, sabia que ontem sumiu dinheiro do caixa?
— De novo?
- De novo, Iara.
— Estou passando um vestido para a Gláucia.
Por que não vem aqui mais tarde?
— Hoje é sexta-feira e teremos muitos pedidos para atender.
Além do mais, Cirilo me disse que tem uns "assuntos" para resolver.
Na sexta-feira à noite?
Acha que eu sou tonta?
Não. Sabe o que fiz?
— Não.
— Falei que ele podia sair para resolver o que quisesse, mas que teria de ir de ónibus.
— Estou um pouco atarefada, amiga — tornou Iara.
— Podemos nos falar amanhã, no salão — sugeriu Jussara.
Você vai fazer pé e mão?
— Vou.
- Também marquei hora.
Eu pego você na portaria do prédio e colocamos os assuntos em dia.
- Perfeito.
Agora preciso desligar. Um beijo.
- Outro.
Iara estava desligando o telefone quando Débora apareceu na soleira da cozinha.
Havia acabado de sair do banho.
Enrolada numa toalha branca, enquanto enxugava os cabelos com uma toalha menor, ela perguntou:
- Cadé o Bolinha? — referindo-se ao cachorrinho que ela ganhara do pai, um poodle caramelo, alegre e saltitante.
O cachorrinho, ao ouvir seu nome, saiu em disparada da área de serviço e correu.
Passou pela mesa de passar roupas e esta balançou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:46 pm

O ferro inclinou e a chapa quente deitou sobre o vestido.
Débora abaixou-se para brincar com o cachorrinho. Iara sorriu.
— Bendito seja esse cãozinho em nossa vida.
Bolinha é tão doce e gentil. Um amor.
- É, mãe.
Ele é muito nosso amigo.
Parece até gente!
— Porém, não gosta da Gláucia.
— Não gosta mesmo.
- Viu como ele rosna quando ela se aproxima?
— Porque ela não gosta de bicho.
De nenhuma espécie.
Pensa que o Bolinha não sente a rejeição dela?
— Pode ser.
Foi então que sentiram um cheiro forte de queimado, e Iara lembrou-se do ferro e do vestido.
— Ai, meu Deus!
Ela correu para a área de serviço e Débora a seguiu.
- O que é isso, mãe?
Iara balançava a cabeça para os lados, inconsolável.
— Eu me ofereci para passar o vestido de Gláucia... — enquanto falava, Iara tentava ver o estrago.
Não tinha como não ver a marca do ferro, bem escura, no tecido era grande e provocara um estrago significativo no vestido, para não dizer perda total. Iara levou a mão à boca:
— Sua irmã vai me trucidar. Meu Deus!
— Aconteceu, mãe.
Fazer o quê?
— Liguei o ferro e fui atender Jussara ao telefone.
Foi uma conversa rápida e...
— Vai ver o Bolinha passou pela mesinha de passar, o ferro balançou e caiu.
Paciência. Não foi por mal.
— Claro que não foi por mal!
Mas sabe o que Gláucia vai dizer, não?
— Eu mesma levo o vestido.
Pode deixar.
Débora pegou o vestido queimado e foi até o quarto.
Entrou no momento em que Gláucia saía do banheiro.
Bolinha veio logo atrás, abanando o rabinho.
Débora entrou e o cachorro estacou na soleira.
Não gostava de entrar no quarto de Gláucia.
- E aí, a sua mãe já passou meu vestido?
— Passou, mas ocorreu um pequeno problema;
— Como assim? — Gláucia perguntou enquanto se enxugava.
— Queimou.
— Hã? Não entendi.
— O vestido queimou.
Gláucia parou de se enxugar e pregou os olhos no vestido.
Ao ver a marca triangular sobre o tecido, deu um grito de horror.
Débora esperava por isso e fechou os olhos.
Respirou fundo.
- Você e sua mãe querem me matar! — vociferou Gláucia.
— Imagine.
Foi um acidente doméstico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 13, 2015 8:46 pm

— Acidente doméstico?
Acidente doméstico é o que vai acontecer agora com você.
Vou esganá-la. Ah, se vou!
Gláucia avançou sobre Débora e tentou lhe puxar os cabelos, mas ela se afastou e safou-se a tempo.
- Calma!
— Como posso ter calma?
Hoje é uma noite especial e você me pede calma, sua imbecil?
- Sei que é chato, mas não é o único vestido que você tem.
O seu armário está abarrotado de vestidos.
Gláucia fez uma careta.
- Não tenho outro vestido cereja.
- Mamãe pediu para me dar o nome da loja onde você comprou este aqui — apontou — pois vamos lhe dar um novinho antes de partir em viagem de lua-de-mel.
- Suas incompetentes!
Nem para fazer um serviço tão simples as duas prestam.
- Mamãe teve a melhor das intenções.
- Claro! A melhor intenção foi queimar meu vestido.
Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi dar o vestido para a sua mãe passar.
Quanta incompetência!
- Falar assim não vai mudar nada.
O vestido queimou e logo a Magali vai chegar.
Quer que eu a ajude a escolher outro?
- Ajudar como?
Você não sabe nem a diferença entre xale e echarpe.
Veste-se de maneira tosca.
— Eu me visto da maneira que gosto.
— Cafona. Brega.
Usa vestido do verão passado.
— Não vamos agora discutir meu gosto.
Estou aqui para tentar resolver o seu problema.
— Débora sugeriu, com amabilidade na voz:
— Que tal você pôr aquele verde-piscina que o Luciano lhe deu de aniversário.
O que me diz?
- Saia daqui!
- Mas, Gláucia, entenda.
Mamãe não fez por mal.
- Fora do meu quarto!
E leve esse cão imundo com você.
Ela gritou e apanhou, com muita raiva, o vestido das mãos de Débora.
— Você se deixa desequilibrar muito facilmente — a meia-irmã rebateu.
— Claro! Você e sua mãe têm o dom de me desequilibrar.
Foi sempre assim.
— Não foi.
Você é que nunca gostou de nós.
— Não mesmo.
- Sem motivo.
Quer dizer, sem motivo nesta vida.
— O motivo real é que vocês são intragáveis.
O que posso fazer?
— Não faça nada, querida.
Terá uma noite especial e você precisa estar alegre, feliz.
- Vocês duas me tiram do sério. É isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:09 pm

— Para que ficar irritada?
Pode atrapalhar a gestação.
Vamos, eu a ajudo na escolha de outro vestido.
- Ainda bem que você não vai a essa festa.
Graças a Deus. Agora, sai.
— Mas...
— Não quero a sua ajuda e não quero mais olhar para essa sua cara de santinha.
Saia daqui imediatamente.
Gláucia falou e deu novo grito.
Pegou um porta-retratos e atirou-o com força.
Débora foi mais rápida e fechou a porta antes que o objecto a atingisse.
Escutou o som de alguma coisa se espatifando no chão e seguiu com o cãozinho para seu quarto.
Gláucia pegou o vestido e rasgou-o em vários pedaços.
— Juro! Eu vou me casar e, depois da festa, nunca mais vamos nos ver.
Eu juro que nunca mais vou me relacionar com elas. Nunca mais.
Soltou um grito de raiva e, nervosa, correu até o guarda-roupa.
O vestido sugerido por Débora era lindo e perfeito para a ocasião.
Para não dar o braço a torcer, apanhou outro vestido, um tubinho preto estilo tomara que caia.
Em seguida, colocou os brincos, um colar de ouro que seu pai lhe dera quando completou quinze anos e calçou os sapatos de salto alto.
Passou um perfume delicado sobre o colo e os pulsos.
Apanhou uma bolsa grande de grife e começou a ajeitar carteira, documentos e tantos outros pertences — vários — que costumam habitar a bolsa de uma mulher.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:09 pm

Capítulo Quatro

Luciano estava com os olhos fixos na tela do computador.
Sorriu ao ver no extracto bancário a compensação do último cheque referente às compras dos móveis e electrodomésticos para o apartamento.
Depois clicou para ver seus investimentos.
— O que está vendo aí? — indagou Lucas.
Entrou em algum site erótico?
Luciano parecia não estar prestando atenção, e Lucas alteou a voz:
— Ei! — bateu na mesa com a mão espalmada.
Estou falando com você, criatura.
— Afissé me — Luciano não tirava os olhos da tela e riu.
Estava contente.
E, quando estava feliz da vida, costumava soltar frases em grego.
Luciano trabalhava com o pai e era competente, realizava-se no trabalho, estava de casamento marcado com uma moça bonita e de boa família.
Mas, curiosamente, sentia um vazio no peito. Não sabia explicar.
Pagara algumas sessões de terapia e, quando o terapeuta lhe disse que ele não amava Gláucia, parou de ir às consultas.
"Eu e Gláucia nos damos bem e vamos ter uma família. Isso é o que importa.
O amor vem com o tempo", pensava.
Lucas estava sentado numa cadeira defronte à mesa do irmão.
Curioso, levantou-se e deu meia-volta.
— Nossa! Você tem tudo isso guardado no banco?
Luciano virou os olhos.
— O que tem isso?
É fruto do meu trabalho, da minha disciplina, da minha vida mais comedida.
- Ganho o mesmo que você e não tenho essa grana preta na conta bancária.
Luciano riu e, enquanto desligava o computador, tornou:
— Pois é claro. Você é perdulário. Gasta sem limites.
— Por que não? Torro meu salário e satisfaço meus desejos.
— E o futuro?
— Que futuro, Luciano?
— Ora, não pensa em ter sua própria casa, casar-se, ter filhos, fazer seu pé-de-meia?
— Penso.
— Então precisa juntar dinheiro e guardar, investir.
Lucas jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Voltou a se sentar e rodopiava o corpo sobre a cadeira giratória quando disse:
— Só você mesmo para me dizer uma coisa dessas. Somos ricos.
— Não. Papai é rico.
— Vamos herdar muito dinheiro.
Nesse momento, a secretária parou na porta e fez sinal com os dedos, chamando Lucas.
Ele se levantou e foi ao encontro dela.
Ao sair, encostou a porta.
— O que foi, Sarajane?
— Escutei a conversa de seu pai com o advogado.
— Não acredito! Como conseguiu?
O velho sempre se tranca com esse advogado.
Não deixa nem mosca entrar na sala.
Sarajane passou a língua nos lábios, uma característica que a acompanhava desde sempre.
— Inventei que a filha do advogado estava passando mal.
Enfim, menti, entrei na sala e descobri.
— E?
- O doutor Andrei vai passar a casa da praia para o nome do Luciano como presente de casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:09 pm

— Não pode ser!
Meu pai não me trairia pelas costas.
— E tem mais.
— Pelo amor de Deus, Sarajane.
Vem mais bomba?
— Ahã.
— Diga.
Ela baixou o tom de voz e considerou:
— Doutor Andrei também vai dar de presente para Luciano a cobertura daquele prédio que vão construir no Jardim Europa.
Lucas deu um murro na parede e mordeu os lábios com tanta força que engoliu saliva misturada com sangue.
— Desgraçado! Velho maldito!
Está destruindo o nosso património.
Sarajane tinha um traquejo natural para aproveitar os momentos tensos e conseguir levar alguma vantagem.
Emendou:
— Uma casa como aquela em Maresias vale coisa de milhão.
— Milhões — corrigiu Lucas.
- Acho isso um absurdo.
É como se o doutor Andrei estivesse tirando milhões da sua herança!
— Tem razão, Sarajane.
Tem toda a razão.
— Eu tomaria providências.
— O que poderia fazer?
- Se você quiser, amanhã posso conversar melhor com o doutor Elias — disse, num tom sensual.
— De que vai adiantar você dar em cima dele?
O doutor Elias é casado e fiel, pai de quatro filhos, um homem de princípios.
— Fiel, sei... — disse ela, de maneira irónica.
Deixe comigo. Eu farei esse sacrifício por você.
— Ainda bem que tenho você como aliada, Sarajane.
Ele mexeu no bolso da calça, sacou a carteira e tirou algumas cédulas de cem reais.
- Pegue. Isto é por ter escutado a conversa do velho com o advogado.
Os olhos dela brilharam de prazer.
- Obrigada.
- Não tem que agradecer.
— Faço isso porque acho um absurdo seu pai dividir os bens de maneira errada, desproporcional.
Só porque o Luciano vai se casar, doutor Andrei não pode se empolgar e começar a dilapidar o seu património — enfatizou.
Imagine quando vier esse neto?
Doutor Andrei poderá cometer maiores desatinos.
- Não, isso nunca.
— Precisamos ficar atentos, Lucas.
Por isso preciso sair com o doutor Elias, virar amante dele por um tempo, sei lá, a fim de arrancar dele esses segredinhos que tem com seu pai.
— Faria mesmo isso por mim?
Elias é homem feio, transpira muito.
— É por isso que a gente toma banho, né, Lucas?
Ele riu.
— Está certo. Você me convenceu.
Se conseguir dobrar o Elias, eu juro que lhe depositarei um bom dinheiro na conta.
Sabe que sempre cumpro o que prometo!
- Sem dúvida.
- Vai até poder ajudar seu tio.
Sarajane forçou um sorriso.
- Com certeza. Posso ir embora?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:10 pm

— Está dispensada por hoje.
— Tenho de pegar metro e ónibus.
- Se continuar me passando essas informações preciosas, logo terá um carro.
Sarajane abriu e fechou os olhos em êxtase.
Imaginou-se dirigindo um carro último tipo, buzinando, avançando o sinal, gritando e ameaçando pedestres e motoristas.
— Não se esqueça de que não sou uma simples secretária.
Serei sempre sua amiga, Lucas.
Conte sempre comigo. Boa noite.
— Boa noite.
Sarajane saiu e tomou o elevador, e Lucas rosnou de ódio.
- O desgraçado do meu pai vai colocar mais um imóvel no nome do Luciano.
Que absurdo! Preciso estudar uma maneira de acabar com isso.
Agora tenho necessidade urgente de sair, descontar em alguma vadia a minha ira.
Estou muito nervoso.
Se não colocar a raiva para fora, morro.
Passou a mão pelo rosto e mudou de fisionomia.
De repente, parecia estar bem.
Entrou na sala sustentando um enorme sorriso.
Luciano havia terminado de desligar o computador e apanhou a bolsa de couro.
Prosseguiu:
— Se a herança vier, óptimo, mas eu não conto com ela.
Esse dinheiro todo pertence ao nosso pai.
- Se é do pai, também é nosso.
— Não vejo dessa maneira.
Papai construiu todo esse império com o próprio esforço.
- Depois que a mãe morreu, a nossa parte na herança cresceu sobremaneira.
- Como pode dizer assim? — perguntou Luciano, indignado.
- Chegou a hora da mãe e ela morreu.
Agora temos muito mais o que herdar.
— Áde tora 2, Lucas.
Se papai quiser torrar o dinheiro dele, não podemos fazer nada.
— Claro que podemos.
— Como?
— Eu o interdito, entro com uma acção na Justiça e declaro o velho incapaz.
Luciano meneou a cabeça.
— Você não muda, não é mesmo, Lucas?
Só pensa em dinheiro.
— também em mulheres e bebidas — completou, rindo alto, procurando manter oculta a contrariedade.
— Nunca pensou na possibilidade de papai se casar de novo?
— Não. Nem quero pensar.
— Ele tem cinquenta e cinco anos, pratica desportos, é um tipo que atrai muito a mulherada.
Sua cabeleira vasta e prateada é o charme dele, o que as seduz.
Papai não foi comparado ao actor Richard Gere? Pois então...
Lucas deu um pulo e disse entre dentes:
— O pai pode ser o Richard Gere brasileiro, mas nunca — ele enfatizou — nunca, jamais, em nenhum tempo e de forma alguma vou permitir que ele se case de novo.
— Você não tem esse direito.
— Como não?
Também sou filho.
— Papai é viúvo, livre, desimpedido.
— E daí?
— Pode se casar a hora que bem lhe aprouver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:10 pm

— Eu já disse que isso não vai acontecer — gritou Lucas.
Luciano se assustou com a irritabilidade do irmão.
Às vezes sentia medo de Lucas.
Eles tinham uma diferença pequena de idade, algo perto de um ano e meio e, desde pequenino, Lucas tinha essas explosões, assim, do nada.
Brigava em casa com os empregados, arrumava encrenca na rua, no colégio, nas festinhas.
Sempre fora considerado nervosinho.
Aonde ia, arrumava briga.
Luciano sabia que algumas ex-namoradas reclamavam do jeito bruto de Lucas.
Sugerira ao pai que pagasse terapia para ele, mas Andrei achava que era coisa da idade.
"Logo seu irmão vira homem de facto e muda."
Mas Lucas não mudou.
Os anos passaram e ele parecia ficar cada vez mais irritadiço com qualquer assunto.
Gritava com funcionários, com Luciano, com o pai, com quem quer que fosse.
Sempre tratava a todos no grito.
A excepção era Sarajane.
Lucas adorava a secretária.
Também, pudera, Sarajane e ele eram muito parecidos.
Eram apegados às ilusões do mundo e adoravam maltratar as pessoas, de forma geral.
Outro factor importante:
Lucas tinha pavor de ficar pobre e sem um tostão.
Era um comportamento estranho, visto que ambos eram nascidos, digamos, em berço de ouro.
Luciano fitou Lucas pensativo e lembranças da infância lhe vieram à mente...
Andrei, o pai deles, era descendente de gregos.
Yos Panopoulos, avô deles, viera para o Brasil quando ainda era um bebé, no início da década de 1920, no auge da guerra (3) e, já adulto, abriu um restaurante no bairro do Bom Retiro.
Yos casou-se tarde, com quase quarenta anos, e teve dois filhos com Katina: Andrei e Xenos.
Tudo corria muito bem, o restaurante ganhou fama e era frequentado pela elite paulistana.
Yos fez muito dinheiro e pôde proporcionar uma vida bem confortável à família.
Como nem tudo são rosas, certa vez Katina viajou com os filhos, na época adolescentes, para uma estação de esqui em Bariloche, na Argentina.
Os garotos adoravam neve, e ir a Bariloche era mais conveniente porque eles aproveitavam as férias escolares para praticar o esqui.
Certo dia, Katina e Xenos saíram para esquiar, e Andrei preferiu ficar no hotel.
Estava muito frio naquele dia, e o garoto quis ficar próximo da lareira, lendo.
Então, houve uma avalanche que tirou a vida de Katina e Xenos, soterrando-os enquanto esquiavam.
Yos entrou em choque, vendeu o restaurante e, com Andrei ao seu lado, mudou-se para o bairro de Perdizes.
Yos nunca mais se casou, e Andrei entrou na faculdade de engenharia civil.
Depois de graduar-se, o pai lhe deu recursos suficientes para montar uma pequena construtora, que o rapaz baptizou em sua homenagem.
O jovem conhecera Judite no ginásio e engataram namoro.
Casaram-se logo depois da formatura e tiveram dois filhos: Luciano e Lucas.
Andrei queria dar nomes gregos aos filhos, contudo, Judite bateu pé para que os rebentos fossem baptizados com os nomes do pai e do avô dela, respectivamente.
Logo depois que Lucas nasceu, Yos faleceu.
A construtora cresceu e prosperou, apesar das oscilações da economia.
No entanto, com habilidade natural para lidar com os negócios, Andrei fez a Construtora Yos se tornar uma das maiores, mais sólidas e mais respeitadas do país.
Dez anos antes, assim como ocorrera com Miriam, primeira esposa de Armando, Judite começou a sentir fraqueza de um lado do corpo e passou a ter visão dupla.
Andrei também insistiu para que a esposa consultasse um médico, mas Judite acreditou que aquilo fosse fruto de uma vida stressante, em que ela tentava conciliar as prendas do lar com a criação dos filhos, garotos arteiros e agitados.
Luciano até era mais comportado, mas Lucas lhe dava muito trabalho.
Infelizmente, também num sábado de manhã, Judite acordou, levantou-se e sentiu uma dor terrível a persignar-lhe a cabeça.
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Ela só queria CASAR - Marco Aurélio / MARCELO CEZAR Empty Re: Ela só queria CASAR - Marco Aurélio / MARCELO CEZAR

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:10 pm

Andrei correu com ela até o hospital, contudo já era tarde.
Judite fora acometida de um aneurisma cerebral e chegara morta ao hospital.
Igualzinho ao que acontecera a Miriam, mãe de Gláucia.
Andrei fechara-se em copas para o amor.
Bonito, honesto e rico, era muito assediado pelas mulheres, porém nunca quis saber de relacionar-se de maneira séria.
Só saía, de vez em quando, para dar vazão ao instinto masculino.
Procurou dar uma boa criação aos filhos e, embora sentisse a rejeição de Lucas, era muito apegado aos dois.
Luciano voltou a si e encarou novamente o irmão, dessa vez com ar piedoso.
Sabia que Lucas tinha um génio difícil, beirando o intratável, e procurou acalmá-lo.
— Não estamos atrasados?
Lucas deu uma risadinha e consultou o relógio.
- Vamos para casa nos arrumar.
Eu seleccionei um monte assim de gatinhas — fez um gesto com as mãos —para animar nossa noite.
Você vai se esbaldar na sua festa de despedida de solteiro.
Luciano levantou o braço e moveu a cabeça para os lados:
- Quero me divertir com meus amigos.
Não careço de intimidades.
Eu e Gláucia nos relacionamos intimamente.
— Isso eu sei.
Você a engravidou.
- Estranho.
- Estranho o quê, homem?
Vocês transaram sem protecção.
É nisso que dá.
- Esse é o ponto.
Eu sempre usei preservativo.
Lucas riu de maneira vulgar e irónica.
- Vai ver a camisinha furou.
Essas coisas acontecem.
Luciano coçou a cabeça, pensativo, e o irmão continuou:
- Vai sempre se deitar com uma única mulher?
— Sim.
- O mundo está cheio de mulheres deslumbrantes que dariam tudo para deitar-se com a gente.
Não me diga que depois do casamento pretende ser fiel...
- Pois claro!
De que adianta eu me casar e trair a minha esposa?
Se fossem outros tempos e o casamento fosse por conveniência, haveria com certeza brecha para a traição, contudo eu e Gláucia nos damos muito bem em tudo.
Quer dizer, quase tudo.
- Ela é bem marrenta.
— Isso é.
- Não sei como você a suporta.
Desculpe-me falar assim, sei que você está prestes a se casar e ela será minha cunhada, mas não acho que você seja louco por ela.
— Eu gosto muito dela.
Gláucia é uma moça bonita, elegante, culta.
— E chatinha.
Eu não vou me deixar levar assim como você.
- Quero ver o dia em que encontrar uma mulher que o deixe de quatro.
Daí você vai me dizer.
- Não vou dizer.
- O mundo dá voltas, meu irmão.
— Pode girar à vontade.
Jamais terei uma mulher grudada no meu pé.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:11 pm

— Você é quem diz...
— Não vou deixar acontecer.
Não sou homem de me amarrar.
Luciano passou o braço pelo ombro do irmão e saíram do escritório.
Deixaram a sede da construtora, localizada num moderno edifício próximo à avenida Faria Lima, e seguiram para casa.
Lucas estava mais animado do que Luciano.
Já vislumbrava as garotas à sua frente e mentalmente escolhi com qual — ou quais — se deitaria naquela noite.
Luciano estava mais quieto.
Sentia um desconforto que não sabia explicar.
Era como se houvesse um peso sobre sua cabeça e ombros.
Fez um gesto com as mãos e empurrou a sensação.
"Preciso aproveitar e me distrair", pensou.
"Semana que vem serei um homem casado e logo, logo, um pai de família."
Em seguida a esse pensamento, quis ligar para Gláucia.
- Ligar para quê? — protestou Lucas enquanto lhe tirava o celular das mãos.
Ela também vai se divertir com as amiguinhas.
Largue um pouco do pé da sua amada.
— Queria só desejar boa noite, mais nada.
— Envie um torpedo.
— Tem razão.
— E desligue esse celular.
Hoje a noite é nossa!

1 Deixe-me, em grego.
2 Francamente, em grego.
3 A Guerra Greco-Turca de 1919-1922, também chamada de Guerra da Ásia Menor ou guerra de independência turca, é o nome dado a uma série de confrontos militares ocorridos entre 1919 e 1922 durante a partilha do Império Otomano, em seguida ao término da Primeira Guerra Mundial.
A guerra foi travada entre a Grécia e os revolucionários turcos do Movimento Nacional Turco, que posteriormente fundariam a República da Turquia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:11 pm

Capítulo CINCO

O motorista freou o ónibus bruscamente.
Todos os passageiros que estavam em pé perderam o equilíbrio.
Sarajane aproveitou para se deixar encostar por um passageiro alto, encorpado, com os braços tatuados.
Sorriu maliciosa, e o rapaz sussurrou em seu ouvido:
— Noite de sexta-feira — disse, enquanto mordiscava sua orelha.
— Pois é — ela respondeu, com um gemidinho de prazer.
- A gatinha tem compromisso?
Sarajane se esfregava no rapaz enquanto respondia:
— Depende. Se alguém quiser me convidar para sair...
— Se eu estivesse com a minha moto, juro que levaria você para um passeio bem longe daqui.
— Quem sabe um dia?
— Gosta de pagode? — perguntou ele.
Sarajane suspirou emocionada:
— Amo de paixão.
— Tenho um amigo que vai formar uma roda de pagode com churrasco.
Coisa fina. A laje dele é grande e espaçosa.
— Eu topo.
— Vai descer onde, gata?
— Daqui a dois pontos.
— Eu sigo até o ponto final.
Não quer me acompanhar?
- Ah, até queria, mas preciso tomar um banho, me arrumar.
Estou com roupa muito comportada para ir a uma roda de pagode.
— Que pena!
— Não! É só você me passar o endereço do seu amigo. Eu vou.
— Jura?
— Hum, hum — ela mexeu o corpo para a frente e para trás.
Sarajane abriu a bolsa, apanhou caneta e um bloquinho.
— Qual é o endereço?
O rapaz passou, ela anotou e depois guardou a caneta e o bloquinho.
Em seguida, pegou o celular e pediu:
- Agora me dê o seu telefone e seu nome.
Eu anoto e guardo aqui no meu aparelho.
— Meu nome é Cirilo.
Anota meu número.
Sarajane teclou nome e número e armazenou-os no celular.
O ónibus dobrou a rua e ela apertou o botão.
— Vou descer.
- Jura que vai mesmo me encontrar?
- Pode acreditar.
Vou só dar comida para o meu tio doente, depois me arrumo e apanho um táxi para não demorar muito.
— Gostei da atitude.
Eu vou esperar você, hein, gata?
— Pode contar comigo.
O ónibus parou e Sarajane desceu.
Uma senhora também foi descer e desequilibrou-se.
Tentou se desculpar:
— Perdi o equilíbrio...
Sarajane falou com amabilidade:
— Imagine, minha senhora.
Por favor, me dê a sua mão e eu a ajudo a descer os degraus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:11 pm

- Oh, que garota mais encantadora!
A senhora sorriu e agradeceu.
Sarajane desceu primeiro, estendeu a mão para a mulher e a puxou com força, de propósito, fazendo-a perder o equilíbrio, escorregar e cair.
Sarajane deu um sorriso abafado e fez voz infantil:
— Ah, desculpe-me, querida.
Eu me desequilibrei também. Machucou?
— Um pouco.
— Logo passa.
Ela deixou a pobre mulher falando sozinha e deu tchauzinho para Cirilo.
Dobrou a rua e foi cantarolando.
Entre um assobio e outro, murmurou:
— Como é bom machucar as pessoas!
Por que gosto tanto de provocar dor?
Porque me excita! — ela perguntava e respondia ao mesmo tempo.
Depois emendou:
—Agora preciso alimentar titio e me preparar para a roda de pagode.
Ai, esse Cirilo é de enlouquecer!
Atravessou a rua de um bairro classe média, onde havia casas espaçosas e bonitas.
A rua era arborizada e Sarajane adorava arrancar as flores dos jardins.
Chegou a sua casa e empurrou o portãozinho de ferro entalhado.
O cachorro da vizinha apareceu na frente, começou a latir e ela disse, com a maior calma do mundo:
- Pare de latir, gracinha.
Porque, se continuar, sou capaz de fazer uma bola de carne moída com pedaços de vidro para você parar de me amolar.
- Experimente fazer isso — ajuntou a dona do cachorrinho, que apareceu para apanhá-lo.
Eu a processo, vou à televisão, faço escândalo.
Já não chega a maneira ordinária como trata seu tio?
Pois tome sua linha.
— Não se meta na minha vida, velhinha abusada.
— O que você faz é desumano.
Sarajane deu de ombros.
— Titio tem um teto.
Poderia estar pior, vivendo na rua da amargura.
- Imagine. Você é que não tem onde cair morta.
Vive aí de favor. Sua mãe...
— Não fale de minha mãe — Sarajane disse, séria.
Senão sou capaz de sumir com seu cachorrinho. Au, au!
- Ainda vou botar você na cadeia.
Sarajane não respondeu.
Encarou a vizinha, sorriu e entrou. Bateu o portão.
Caminhou pela garagem, passou por um corredor extenso na lateral até chegar a um grande quintal com jardim.
Encontrou o tio preso na cadeira de rodas, fazendo esforço para não chorar.
— O que faz fora do seu quartinho, titio?
- Desculpe, Sarajane.
Eu precisava tomar um ar.
— Por quê?
— O quarto fica fechado o dia todo.
As paredes estão com infiltração e mofadas.
O cheiro me sufoca e eu... eu... — ele tragou o cigarro.
— Calma. Não fique nervoso.
Quando fica nervoso, fuma demais.
Fumar não é bom. Faz mal à sua circulação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 14, 2015 9:11 pm

— Já disse para me levar ao posto médico.
Essa ferida não está cicatrizando — apontou para uma das pernas.
— Eu cuido da ferida, tio.
— Tenho que passar pelo médico.
— Vou pensar. Mas por que essa cara?
Coriolano respirou fundo e disse:
- A fralda vazou e eu me urinei todo.
- Jra?
— Sim. Se ficasse no quarto, o cheiro seria insuportável.
Ela o olhou com ar de comiseração.
- Pobrezinho — colocou a bolsa sobre a base que protege o registo de gás, e balançou a cabeça para os lados:
— Oh, pobre tio. Por que não segurou?
— Não deu. Juro que não deu.
— Será que vou ter de dar um banho no senhor?
— Por caridade, menina.
Eu só quero uma água no corpo.
Estou cheirando mal.
Estou até com ânsia — disse ele, enquanto apagava o cigarro.
— Não tem de quê — ela se abaixou e pegou a mangueira.
Abriu o registo e mirou o bico na direcção de Coriolano.
Uma cascata de água fria jorrou sobre ele.
— Agora está se sentindo mais limpo, tio?
— Pare!
Ela continuou:
— Esse banho de torneira é óptimo para noites quentes como esta.
Você agora vai ficar limpinho.
A noite não estava nada quente.
Coriolano, preso à cadeira de rodas, tentava se proteger do jacto forte com as mãos.
Estava tão cansado que, sem forças, deixou-se cair.
— Pare de me maltratar...
— Estou dando banho no senhor, titio.
Falta o champô.
— Não precisa.
— Precisa, sim.
Queria entender por que pessoas idosas não gostam de banho.
Interessante, não?
— Por favor, Sarajane.
Dê-me uma toalha.
Ela parecia não escutar.
Era como se estivesse num transe.
- Ih - — ela mordiscou o lábio — o seu champô acabou.
Acabei conhecendo um rapaz no ónibus e esqueci de comprar.
- Já disse que não tem problema. Estou limpo e...
- Pode ser sabão em pó?
O efeito de limpeza é o mesmo.
Sarajane aproximou-se de Coriolano e despejou sobre a cabeça dele um punhado de sabão em pó.
Jogou mais água sobre o corpo velho e cansado, desligou o registo e jogou uma toalha velha, fedida e encardida na direcção dele.
- Enxugue-se direitinho.
Caso contrário, não vai jantar. Menino levado!
Coriolano não conseguia falar.
A água fria o fazia tremer dos pés à cabeça.
A dentadura até saiu do lugar.
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