LUZ ESPÍRITA
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Série Lúcius - A Força da Bondade / André Luiz Ruiz

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 28, 2014 10:32 pm

Assim, perto de quinhentas mil pessoas estavam abraçadas pelas ondas de força espiritual que se produziu naquele fenómeno de crueldade humana e de solicitude celestial, ocasião em que os emissários do amor passaram a depositar em cada coração dos que assistiam a semente daquilo que viria, no futuro, transformar-se no jardim cristão, da esperança, da força e da boa nova no caminho dos homens.
Uma brilhante estrada celeste se abriu iluminando a arena e permitindo que legiões de arcanjos do Divino Mestre viessem trazer-lhes a auréola do sacrifício suportado com fidelidade e confiança, como o símbolo glorioso que ostentam os trabalhadores fiéis da Causa do Cristo sobre a Terra.
Como já se disse, assim que as feras se atiravam sobre os indefesos sacrificados, uma equipe de espíritos os envolvia em brando entorpecimento que lhes facilitava a suportação de tão áspera desencarnação.
E enquanto a arena se cobria de corpos dilacerados e se tingia de rubro, a corte angelical ia sendo formada com a chegada dos espíritos libertados, trazidos pelos braços de seus mais íntimos colaboradores.
Zacarias carregava Cléofas como o precioso fardo do coração.
Simeão trazia com carinho celeste o espírito de Lívia, desprendida da matéria.
Desta maneira, para cada vítima havia braços luminosos que a acolhiam e a transportavam até o círculo de forças formado pela projecção dos raios celestiais que se projectavam do alto.
Na dimensão espiritual, um verdadeiro reboliço se observava, já que grande parte dos espíritos ignorantes, passando a divisar a cena elevada que tinham sob as vistas, tentavam deixar o seu lugar para pular na arena e correr ao encontro das luzes divinas, como se ali estivessem todas as suas esperanças.
Outras, vendo a grandeza daquele fenómeno, se amedrontavam e queriam fugir dali, gritando apavoradas.
Outras mais, revoltadas por não conseguirem participar de tal banquete, passavam a vociferar contra as potências do Amor, dando vazão aos seus complexos e culpas, demonstrando todo o seu atraso e seus rancores acumulados.
Todavia, nenhuma das entidades conseguia sair do lugar que ocupava.
Parecia que uma força superior a tudo o que eles conheciam, as havia chumbado ao lugar, obrigando-as a presenciar tudo aquilo.
Dentre os encarnados que assistiam à festança, apesar de estarem sempre afeiçoados aos espectáculos dantescos que ali ocorriam, regados à bebida e à promiscuidade, grande parte dos assistentes, naquele dia, se deixara impressionar pelo gesto estóico e corajoso daquele punhado de inocentes que, apesar da tragédia a que eram expostos, cantavam hossanas a um Deus que eles não conheciam.
As vibrações elevadas do ambiente espiritual somadas às cenas fortes que ali se produziram, abriram, na indiferença do coração de muitos, as fendas luminosas da vergonha, do medo, da admiração, da curiosidade, da surpresa, verdadeiras passagens por onde, mais tarde, a compreensão diferente das leis do Universo penetraria e os transformaria também.
Ao lado deles, espíritos generosos também procuravam despertar-lhes as fibras mais íntimas, tocando seus sentimentos com forças que estimulassem a compaixão, a misericórdia.
E, em momento nenhum tanto como naquela hora, o senador Públio Lentulus sentiu uma tal aversão por todas as coisas mundanas que ele sempre buscara conquistar.
Sentindo na acústica da alma as despedidas emocionadas do espírito heróico daquela que lhe havia sido a injustiçada esposa na Terra, Públio manifestou o desejo de fugir dali, lembrando-se do encontro que tivera com Jesus de Nazaré nos longínquos dias da Palestina, que o marcara para sempre, ainda que não o admitisse publicamente.
Interessando-se pelo destino das criaturas que ali sucumbiam no espectáculo sangrento, buscou inteirar-se com seus colegas se se tratavam, mesmo, de reles condenados à pena capital aqueles que se destinavam à garra dos leões, quando foi informado por seu companheiro de senado que havia no ar o boato de que, entre alguns condenados, a maioria que estava sendo executada seria composta de pobres cristãos que haviam sido presos nas catacumbas, o que só fez crescer as angústias de Públio, lembrando-se do misterioso desaparecimento da mulher na manhã daquele dia.
No entanto, as homenagens mundanas já haviam produzido o amontoado de cadáveres na areia avermelhada que cercava o trono sumptuoso de César.
Qualquer modificação de destinos e injustiças cometidas, agora, já chegaria tarde demais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 28, 2014 10:32 pm

8 - O AMPARO ESPIRITUAL

Ao mesmo tempo em que João de Cléofas se erguia carregado por mãos amigas que o guardavam como preciosidade, a Bondade Divina tinha para os demais que haviam sido sacrificados na arena, igualmente, a generosa acolhida que se pode dispensara todos os que, em face das experiências pessoais, chegam ao término de sua existência vitimados pelas injustiças.
A grande maioria dos que ali estavam para ser assassinados ante a turba ensandecida era composta de criaturas humildes, sofredoras, desesperadas que buscavam a palavra da Boa Nova naquela noite para acharem forças.
Se os cristãos tinham seu sacrifício aceito como ato de bravura moral, ainda que estivessem, alguns deles, em processo de resgate com o qual se quitavam com a lei de causa e efeito por arbitrariedades cometidas no passado, os outros curiosos, desejosos de encontrar esperanças espirituais, ainda que não fossem cristão convertidos, eram amparados por sua condição de vítimas das injustiças, da violência, dos conflitos de interesses mesquinhos que os homens apresentam na arena da vida.
Eram processos dolorosos de desencarne que, em verdade, também significavam operações de compensação perante o grande tribunal invisível da consciência, já que ali se achavam encarnados os que, outrora, igualmente também haviam produzido sentenças iníquas, condenações escabrosas, conduzidos ao resgate de seus crimes e à limpeza de suas consciências que, para seguirem adiante no processo de elevação, se impunham regressar ao mundo para expurgarem de si mesmas, as culpas do passado.
Por isso, o amparo invisível não envolveu somente os líderes apostólicos e os cristãos convertidos, recolhidos como já vimos, por mãos excelsas.
Cada um ali desencarnado recebera o amparo conforme a sua condição espiritual e, se não puderam acompanhar a luminosa caravana daqueles que se libertavam e deixavam na areia o sangue do sacrifício pela causa do Amor, eram amparados e levados a ambientes compatíveis com a ajuda que lhes era, igualmente, destinada pelo mundo espiritual, afastando-os daquela atmosfera sinistra, onde seus corpos estavam dilacerados por todas as partes.
Todavia, se aos que haviam perdido a vida naquela tarde trágica, o mundo espiritual se desdobrara para recebê-los com as glórias das quais se fazem dignos os soldados vitoriosos, não deixou de, igualmente, amparar a malta dos alucinados que haviam acorrido ao espectáculo para saciar suas tendências inferiores.
Isso porque, uma imensa plêiade de espíritos trabalhadores do Amor estava a postos para recolher entidades espirituais ignorantes e necessitadas, que seguiam os passos dos encarnados em busca de emoção e aventura, mas que, naquele dia, se viram magnetizadas por impressionante força que, sem que pudessem compreender, as mantinha chumbadas ao local do triste e vergonhoso espectáculo.
Sobre toda a arena e as quase quinhentas mil pessoas que se amontoavam nas colinas, patamares e sacadas que circundavam o grande circo, aquilo que se poderia chamar de Manto do Senhor se havia projectado no mundo espiritual e, através de seu suave magnetismo, propiciara a modificação da compreensão e de sentimentos em uma imensidão de entidades sofredoras que, iludidas pela ignorância, se mantinham ligadas aos homens, consorciadas em uma simbiose ou interdependência nefasta para ambos, apesar de prazerosa à primeira vista.
Ao assistirem aquele cenário de tragédias, muitas das entidades espirituais que se ligavam aos espectadores e os acompanhavam, sentiram uma aversão brutal e desejavam fugir dali, amedrontadas.
Às vezes, a crueldade chega a causar pânico até mesmo nos indivíduos cruéis.
E essa condição magnética do ambiente fazia com que tais espíritos, mais ignorantes do que maus, se desesperassem com tudo aquilo e tentassem fugir dali em desabalada carreira.
No entanto, como já explicamos, não conseguiam sair do lugar, como a terem que sorver as cenas desagradáveis até o último gole, a fim de se vacinarem contra tudo aquilo.
Outras entidades havia que, num primeiro momento, partilhavam da crueldade demonstrada pelos que dirigiam o espectáculo, gritando palavrões e xingamentos aos que haviam sido apresentados na arena, engrossando o coro dos encarnados.
Pareciam lobos invisíveis que se preparavam para o banquete de carne que se iniciaria a seguir.
Entretanto, o gesto dos sentenciados que se uniam em redor de João de Cléofas e cantavam hossanas em emocionante demonstração de fé em um Deus desconhecido pela maioria, produzira tal espectáculo de luzes e força, que, no íntimo de tais entidades gozadoras, gerou um impacto tal que elas também se viram surpreendidas.
Enquanto que os espectadores viam apenas homens e mulheres cantando à espera de um trágico desfecho, o mundo espiritual ao redor testemunhava uma inundação de luzes e perfumes, cânticos e poderes espirituais que chegavam em resposta à demonstração de fidelidade, principalmente aquela que se vivência no instante do sacrifício mais dolorido.
Por isso, centenas de milhares de entidades inferiorizadas e maldosas sentiram um aperto na altura do coração e da mente, como se uma poderosa força lhes estivesse extraindo dali alguma coisa endurecida que, de há muito se havia instalado e amortecido suas capacidades de pensar e de sentir.
Muitas dentre elas foram levadas ao oposto dos sentimentos, depois que presenciaram as alavancas do Amor que respondiam ao cântico dos miseráveis que eles achincalhavam com sua ironia, e se projectaram num no de lágrimas desesperadas, como se começassem a suplicar ajuda a tais poderosas forças, reencontrando um caminho para saírem das próprias trevas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 28, 2014 10:33 pm

Não é preciso dizer, para o esclarecimento do leitor, que também no mundo invisível, ali naquela arena de paixões inferiores, havia um arremedo de direcção por parte das entidades trevosas que procuravam conduzir as emoções da turba segundo o que parecia mais conveniente no estímulo das más paixões e na manutenção das dominações inferiores sobre os encarnados que dirigiam com facilidade.
Assim, a cada área do vasto conjunto de bancos daquele anfiteatro, uma entidade de porte avantajado e de semblante grotesco e mau, se postava como a ser a que mantinha o grupo de espíritos que acompanhavam os encarnados sob seu controle.
Com isso, buscavam impor o temor naqueles que fossem mais exaltados ou que desejassem se comportar por padrões que tais espíritos dominadores não achassem adequado. Bastava que algum encarnado se sentisse propenso a ter compaixão de algum dos gladiadores ou dos jogadores que se apresentavam na arena, demonstrando um sentimento mais enobrecido, que tais entidades dirigentes se acercavam com um látego magnético invisível, plasmado pela sua vontade e pelo conhecimento das técnicas vibratórias, e desferissem golpes tanto na entidade espiritual inferior que acompanhava aquele espectador quanto na estrutura espiritual do próprio encarnado, para que ambos sentissem o mal-estar que tais ataques produziam e se desconectassem de sentimentos elevados.
No dia dos fatos narrados, lá estavam também estas entidades mais duras e frias, que se julgavam executoras da vontade do "grande imperador", espírito que se ligava directamente a Domício Nero, na condição de obsessor cruel que aproveitava das baixezas e vilezas do governante romano para produzir toda a sorte de desatinos com os quais propiciava prazeres aos seus conduzidos invisíveis.
Por isso, leitor querido, havia, ao lado do imperador encarnado, uma entidade que se intitulava também "grande imperador", que pensava possuir poder suficiente para liderar o movimento que, do lado de lá da vida, tentava reproduzir os mesmos prazeres e sensações vis, exortando tanto os espíritos que dirigiam quanto os encarnados a se manterem atrelados a condutas desregradas.
E no mundo espiritual inferior, uma rede de comando se estabelecia para dar sustentação ao seu "grande César", que era composta por sacerdotes dos diversos templos, corrompidos por suas práticas deploráveis e que, morrendo na Terra, chegaram ao mundo espiritual nas mais difíceis condições, tendo sido arrebanhados por tais entidades escuras para darem continuidade às práticas nocivas e enganosas.
Igualmente compunham tal organismo os magistrados venais e corruptos que se viam expulsos do corpo físico e acabavam assediados por tais estruturas, aceitando permanecer nas mesmas antigas concepções de uma justiça miserável e adulterada por torpes raciocínios e combinações legais.
Velhos gladiadores, acostumados à frieza e à violência da luta, depois de desencarnados na condição ignorante, eram arrebanhados para exercerem a função de controladores das vibrações em ambientes como aquele, procurando se servir de sua aparência assustadora e forte para subjugar qualquer tentativa de melhoria dos espectadores de espectáculos como aqueles.
Assim, naquele dia, tais entidades grotescas lá estavam, tentando realizar o seu "trabalho" junto dos sectores que tinham sob seu controle, na vastidão dos assentos do grande recinto.
No entanto, apesar de os olhos de todos estarem voltados para o mesmo festim, desde o "grande Imperador" até o mais inferior na escala hierárquica que haviam organizado, naquele dia as coisas não estavam saindo como nos outros espectáculos, quando era muito fácil manter a bagunça magnética em ordem, segundo os critérios que lhes pareciam os melhores, ou, melhor dizendo, os piores.
Isso porque, tomados pela emoção daquele ato de devotamento jamais encenado naquele teatro de prazeres, uma grande quantidade de entidades espirituais que acompanhavam os encarnados, sem falar-se destes próprios, passou a sintonizar com um padrão de sentimentos incompatível com o desejo da grande organização trevosa que dava sustentação a eventos desse tipo.
Inúmeros espíritos, até então acostumados a vociferar no acompanhamento das gritarias e desafios vulgares da plateia, naquelas circunstâncias ganhavam coragem para suplicar ajuda também e deixavam rolar lágrimas há muito represadas por terem se achado esquecidos pelos deuses de suas crenças.
A cada reacção inadequada por parte dos presentes, acorriam os "gladiadores" com o chicote a estalar sobre tais demonstrações de arrependimento e pedido de socorro.
No entanto, as forças que estes espíritos inferiorizados sentiam, graças a uma nova fonte de esperanças, os encorajavam a seguir na mesma trajectória de súplicas e, apesar do medo que experimentavam dos tais gladiadores desencarnados, maldosos e violentos, não modificavam suas condutas apesar das chicotadas.
Tais chicotadas não duravam muito porque logo mais à frente, ao lado, atrás, alguma outra entidade se apresentava igualmente modificada por força da mesma energia transformadora.
Para lá se dirigia a entidade agressora para distribuir suas prendas dolorosas, como descargas magnéticas de baixo teor.
No entanto, mal chegava ao local e outro, mais adiante, demonstrava a mesma sensação, a exigir-lhe o desdobramento impossível de abarcar a todos os que se mostravam propensos a uma modificação indesejável.
Via-se o tal gladiador espiritual como que perdido no meio de tantos a quem deveria castigar, sem conseguir fazê-lo e sem entender o que se estava passando, já que, acostumados à frieza de julgamento e de obediência cega, estes espíritos não se prendiam aos espectáculos ou jogos na arena e sim ao cumprimento de suas tarefas junto aos que assistiam ao espectáculo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 28, 2014 10:33 pm

Naquele dia, não puderam cumprir o seu dever de intimidar em face das muitas centenas de entidades que passaram a manifestar o seu descontentamento com o tipo de vida que levavam, seduzidas pelo espectáculo de beleza espiritual que, por primeira vez, se havia orquestrado no ambiente espiritual daquele circo.
E é importante que se diga que isso não se passou apenas no íntimo dos desencarnados necessitados.
Entre os encarnados, ainda que a sua constituição orgânica os impedisse de presenciar os feéricos efeitos de luz e encantamento que eram tão especiais naquele dia para todos os espíritos daquele local, a condição vibratória que todos ostentavam permitia que sua sensibilidade pudesse captar algumas das sensações diferenciadas que ali estavam em jogo, absorvendo através de sua "psique" os componentes elevados das vibrações em curso e, em muitos casos, sentindo uma estranha alteração em seu estado de ânimo, em sua emoção, até então, indiferente.
Por isso, para muitos encarnados a presença ali, naquele espectáculo de dor e covardia, foi a primeira brecha em sua armadura tosca que faria com que, mais tarde, se interessassem por aquela noção bela, nobre e elevada de crer em um Deus que os sustentaria até mesmo no momento crucial do mais atroz sacrifício.
E à medida que se afastavam do cenário triste o grupo dos que tiveram o corpo assassinado, a grande quantidade de entidades das arquibancadas, espíritos curiosos agora cheios de esperanças, entidades atreladas aos prazeres dos encarnados que se reconheciam cansadas das frustrações constantes, espíritos maldosos e mordazes que, repentinamente foram impressionados pelo cântico de fé dos que morriam e pela resposta do mundo superior aos seus sacrifícios, todas estas entidades começaram a receber a ajuda da grande caravana do Amor que viera à Terra para elevar os espíritos a outros patamares de compreensão e de esperança.
Assim, tornavam-se visíveis, na arena, espíritos nobres que compunham o séquito brilhante dos que eram os pescadores de almas e, veneráveis e fraternos, de lá do piso arenoso que compunha toda a pista de corrida onde se exibiam os atletas e os carros nas competições, estendiam seus braços aos espíritos que estavam na plateia, convocando-os a segui-los.
Tal caravana superior era composta por anciãos, mulheres luminosas, matronas romanas trajadas à moda das antigas tradições, espíritos que se assemelhavam a estrelas transformadas em pessoas por alguns momentos, a solicitar carinhosamente que os que desejassem, descessem à arena para iniciarem uma nova jornada.
Ante tal cenário, fez-se ouvir, através de sistema sonoro accionado pelo espírito obsessor, que se fazia chamar de "grande imperador", uma convocatória aos seus asseclas para que reforçassem a agressão a fim de impedir ou intimidar os mais entusiasmados, alertando a todos os integrantes da "organização" de que estavam sendo atacados por forças inimigas que não poderiam prevalecer.
Mais funcionários foram enviados para fazer o cerco aos integrantes da arquibancada para que não deixassem seus lugares em direcção aos que os chamavam lá na pista de corrida.
Havia centenas de espíritos luminosos que se dispuseram a enfrentar esta difícil situação para atender aos imperativos do Bem sobre a Terra e, corajosos, se mantinham serenos e sorridentes, esperando que os que tivessem coragem suficiente para vencer os obstáculos, aceitassem o convite e fossem até eles, de onde seriam encaminhados a outros lugares no mundo espiritual.
Diante da reacção violenta dos gladiadores espirituais, contudo, muitos espíritos de pouca vontade ou coragem, voltavam intimidados para seus lugares, ao passo que uma grande parcela de entidades realmente cansadas e encorajadas por tudo o que haviam visto naquele ambiente, firmavam seus olhares nas luminosas entidades que os convidavam e, sem se incomodarem com os látegos desesperados dos vigorosos perseguidores, desciam passo a passo os degraus da grande plateia e saltavam na areia.
Muitos dos gladiadores seguiam-lhes os passos, tentando jogar sobre eles as suas redes, feri-los com suas lanças, usando das armas que estavam acostumados a manejar em seus ofícios de lutadores.
Todavia, quando os espíritos que se destacavam da turba, transformados pela esperança, mantinham a sintonia com as entidades que os esperavam de braços estendidos, passavam a assimilar as forças amorosas que elas geravam e, assim, as redes, as lanças, os golpes magnéticos dos gladiadores não os atingiam mais, nem produziam as reacções negativas que eram comuns naqueles que se deixavam intimidar pelo medo.
O magnetismo elevado que envolvia o espírito inferior que desejava partir na companhia dos emissários celestes neutralizava a força pegajosa e agressora que era arremetida pelas entidades perseguidoras, tentando reter aquele que se modificava.
Assim, para desespero dos que se pensavam poderosos dirigentes daquela multidão de iludidos e despreparados, usando a intimidação, a força e a injustiça, naquela tarde gloriosa uma quantidade que superou a marca de duzentos mil espíritos deixou o ambiente da cidade pervertida, liberando a atmosfera vibratória dos encarnados de sua nefasta companhia.
Entre os que aceitaram as convocações da esperança, estavam todos aqueles que já se descreveu antes, com o acréscimo de mais de duas dezenas dos espíritos aqui descritos como gladiadores que, igualmente cansados daquele tipo de comportamento, possuindo um interior mais preparado para as modificações morais que se impunham pelos processos evolutivos, puderam ser tocados pelos eflúvios espirituais elevados que, também sobre eles, eram projectados.
Chegados à areia, eram todos recolhidos por luminosa caravana e, sem que compreendessem o motivo, eram acometidos por pesado sono, adormecendo imediatamente ao contacto com as forças poderosas do Bem que os acolhiam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 28, 2014 10:33 pm

Assim, se pereceram na arena, em nome de uma crença sincera, aproximadamente duzentas pessoas, que morriam por causa das injustiças humanas, protagonizaram um tal exemplo de amor e fé que, além de terem infundido uma semente nova na mente e no coração de uma incalculável multidão de encarnados que beirava o meio milhão de espectadores, foram igualmente o veículo do despertamento de uma multidão de espíritos sofredores, inspirados nos seus exemplos de confiança e de fé, que aceitaram mudar suas vidas a caminho de uma melhor condição espiritual.
Assim, leitor querido, nunca te esqueças de que o teu modesto testemunho, silencioso e paciente é uma força tão poderosa que nem mesmo tu consegues dimensioná-la e prever os resultados de sua aplicação sobre aqueles que te cercam ou que conhecem os teus exemplos.
Nas dificuldades que surgirem, ao invés de desertar ou pensar em fazê-lo, imita os primeiros mártires do circo e eleva o pensamento ao Criador de todos na demonstração de confiança e fé em Seu soberano Poder.
Se Ele te permitiu chegar até ali, é porque confia em tua capacidade de vencer tal desafio.
Sabe que tu estás preparado para enfrentar com galhardia a luta que se apresenta e, mais do que isso, já te enviou a celeste caravana dos amigos invisíveis que te sustentarão na hora do sacrifício, quando mais e mais sofredores poderão ser beneficiados.
Assim, em qualquer situação de angústia, em que os leões da crítica, da injustiça, da incompreensão, do desamor, da solidão, do desafecto, da dor física ou moral, do abandono, da infidelidade, da calúnia, da mágoa, do rancor, da tristeza te buscarem para dilacerar tua carne diante do auditório que te apupa e te ridiculariza, lembra-te de que ali está a sublime oportunidade de te transformares em fermento que vai atingir o coração dos que te agridem e vai transformá-los para sempre.
Nada do que tais leões fizerem para ti será tão profundo e transformador quanto aquilo que tua conduta corajosa e fraterna vai fazer no interior daqueles que te produzem o sofrimento.
Por isso, jamais te esqueças que, se a dor te fustiga e coloca na condição de vítima, o teu comportamento generoso pode ser mais poderoso e profícuo do que qualquer ato de violência ou revide.
É assim que entendemos que o perdão acaba sendo a vingança da vítima, uma vingança doce, uma vingança que constrói e transforma o agressor para o bem e para sempre.
E, não te esqueças de um detalhe:
Os leões podem ser numerosos, muito grandes e rugirem muito alto para te amedrontar...
No entanto, tu também, como os cristãos na arena, podes cantar para eles...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:23 pm

9 - MÃOS QUE SE ESTENDEM

A acolhida dos mártires no plano espiritual foi muito emocionante, especialmente pelo fato de cada um deles possuir ao seu lado um espírito amigo, ligado por laços seculares e que se incumbia de levar em seus braços o espírito recém-liberto para depositá-lo diante Daquele em nome do qual tinham entregado tudo o que possuíam no mundo.
Mais uma vez, se consegue compreender as palavras de Jesus quando se lhes retira o sentido oculto por detrás da letra fria.
Chegaram até os dias de hoje as luminosas exortações contidas em Mateus, 16, 24 a 26, que ensinam:
"Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser ganhar a própria vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.
Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Ou que dará o homem em troca de sua alma?"
Desse modo, todos os que ali estavam como cristãos e que haviam sido considerados criminosos e bandidos aos olhos humanos, haviam aceitado perder tudo, entregar a própria vida por Amor ao Messias, fazendo vivas as suas palavras.
Quando soou o clarim da libertação, jubilosos cânticos embalaram o regresso ao seio Daquele que os aguardava, com belezas e glórias indescritíveis na linguagem pobre dos homens.
Retratar a acolhida desses primeiros testemunhos no plano espiritual seria o mesmo que tentar construir um arco-íris no céu usando o material com que os homens constroem seus barracos em favelas.
No entanto, as luminosas entidades que transportavam os recém-chegados, houveram por sustentá-los pelos caminhos florescentes e inebriantes, mantendo-os amparados pelos dias que foram necessários para o reequilíbrio parcial do perispírito, ainda que alguns ainda se achassem mais adormecidos.
Dessa forma, vencidas as horas necessárias à maior ambientação dos espíritos dos mártires, foram eles encaminhados ao local preparado para que, uma vez recuperados do choque rápido da desencarnação violenta na arena de Roma, pudessem receber o prémio maior das mãos do próprio Senhor Compassivo e Amoroso.
Ao lado de Lívia seguia Simeão enquanto Zacarias carregava firme o espírito de João de Cléofas que, de maneira mais consciente, abraçava-se ao amigo com o sentimento de gratidão por tudo o que dele havia aprendido e dos exemplos que recebera nas horas cruciais de sua existência.
Reunidos em vasto salão que se misturava à natureza luminosa daquele plano diáfano e cuja nobreza sem exageros se impunha pela beleza e o bom gosto jamais igualados pelas criações humanas, numa mistura de simplicidade e brilho celestial, colocavam-se os recém-chegados em confortáveis poltronas que mais lhes pareciam ninhos macios e floridos onde seus espíritos se recompunham dos últimos acontecimentos com o corpo físico.
Por detrás de cada um mantinha-se aquele que os havia recolhido e se encarregara de ampará-los até aquele local, onde partilhariam das alegrias do Celeste Governante.
Todos possuíam, assim, um amigo espiritual que os ajudava a se equilibrarem enquanto que, em outro local, bem mais distante dali e afastado daquelas energias intensas, mas amparados por forças suaves e balsamizantes, se congregava a imensa quantidade de entidades que foram retiradas dos espectadores, convertidas à esperança que lhes sorria naquele momento trágico e desejosas de aceitar o Reino de Deus em suas vidas.
Todos os mais de duzentos mil espíritos, incluindo aí os gladiadores arrependidos, estavam submetidos às disciplinas do Amor que vigia suavemente, preparando-os para testemunharem a grandeza daquele sublime momento na vida daqueles que aceitaram morrer por uma causa maior do que tudo.
Assim, no ambiente onde se reuniam, imenso telão de material muito subtil, algo parecido com uma finíssima tela de seda pura, seria usado para que todos tivessem a visão clara da beleza daquele momento.
A maioria dos que ali estavam nunca tinha ouvido falar de Jesus, mas seus espíritos guardavam no recôndito mais profundo de si próprios a certeza de que o Governador da Terra, a mais alta autoridade espiritual do planeta estaria envolvida naquele evento.
Aliás, era exactamente por isso que lhes seria permitida a visão daquele reencontro, uma vez que o simples fato de vislumbrar o Cristo, ainda que através de um aparato semelhante ao cinema dos humanos, seria muito marcante aos seus espíritos.
Por isso, enquanto se fazia silêncio no ambiente principal onde se localizavam os primeiros mártires de seu Evangelho na grande metrópole mundana, um coro angelical se fazia ouvir com cânticos que elevavam as almas e faziam brotar lágrimas espontâneas.
Dir-se-ia que se ali existissem pedras, elas aprenderiam a chorar de emoção.
Para uma melhor imaginação do leitor, o recinto preparado para os mártires se assemelhava a um teatro que tivesse poltronas que se erguiam em forma de anfiteatro como se fossem afixadas na parede interna de uma concha, abrangendo os 360 graus, com o palco localizado no centro do vasto recinto.
A região que rodeava o palco central era composta pelas poltronas já descritas onde se colocavam os espíritos que seriam recebidos naquele banquete de amor.
As luzes suaves iluminavam todos os assentos do vasto recinto que estavam ocupados pelos espíritos que acorriam ao local para participarem das boas-vindas, entidades envolvidas com o trabalho da semeadura do evangelho na Terra, futuros cristãos que se preparavam para seguir para a frente de batalha do Bem, amigos e familiares espirituais dos que chegaram, tutores e mártires de outros tempos, delegações espirituais de todos os povos da Terra que traziam espíritos que se candidatavam a levara mensagem de esperança pelos caminhos humanos em outras paragens, todos ali estavam, silenciosos e enlevados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:23 pm

No entanto, o centro onde estava o palco era guarnecido por uma penumbra que se fazia em respeito ao plácido repouso dos viajores que se adaptavam ao novo ambiente espiritual.
Recebiam baça luminosidade proveniente do reflexo daquela que se destinava às poltronas dos presentes, igualmente cuidadosos para com a tranquilidade de seus irmãos, fragilizados e protegidos.
Não tardou muito para que, anunciando a chegada do momento tão esperado, luminosa entidade se deslocasse para o centro do palco, de onde sua figura podia ser vista e ouvida por todos sem que tivesse que fazer qualquer esforço vocal maior do que pronunciar serenamente as palavras.
Seu espírito, aureolado de luz safirina, como se fosse construído por raios estelares furtados do céu nocturno, irradiava uma simpatia tal que naturalmente se projectou sobre toda a assistência, fazendo calar qualquer ruído e, com simplicidade, passou a dar os contornos daquele tão esperado reencontro.
A emoção que tomou conta da grande assembleia foi imediata.
O semblante jovial e ao mesmo tempo maduro confundia a mente dos que pretendessem entender racionalmente o que se passava.
Ali, naquela hora, era o coração que era chamado a sentir, pois a razão teria muita dificuldade e seria muito pobre para compreender.
- Amados irmãos - disse o orador humilde e sereno - permitiram, a Bondade do Pai e a Amorosa solicitude de Jesus, nos encontrássemos aqui para saudar os vencedores do mundo.
E enquanto os farrapos são devolvidos ao plano da ilusão, aqui nos achamos diante das essências verdadeiras. Breves momentos lacrimosos na Terra não serão facilmente suportados diante das imensas recompensas do Céu?
Tantos são os que regressam da vida em condições lastimáveis, depois de terem recebido toda a sorte de favores divinos para que vencessem pequenas adversidades!
A cobiça, os interesses pessoais, os defeitos morais, os caprichos da individualidade fragilizam tanto a vontade dos vivos na carne que se nos afigura pequenina qualquer festividade, por maior que possa ser, e que tenha por finalidade receber os que não fraquejaram no cenário mentiroso e ilusório da Terra dos homens.
Por isso, só pode ser compensada tal demonstração de fidelidade pela generosidade Daquele que tudo venceu, tudo ofereceu por Amor ao Pai e a nós todos.
Queridos irmãos, elevemos a oração através da qual nossas almas darão graças ao Criador pelos que chegam das Trevas da matéria sem terem se perdido pelos caminhos tortuosos e sedutores, ao mesmo tempo em que os entregamos ao Amor de Seu Filho que, com certeza, saberá acolhê-los com um carinho e um sentimento que nós ainda não logramos conquistar.
E dizendo isso, cerrou os olhos para iniciar uma sincera e comovente oração, enquanto que as luzes internas do ambiente foram se esmaecendo, envolvendo tudo em uma suave e fraca claridade, ao som das melodias espirituais dedilhadas por orquestra invisível aos nossos olhos.
- "Pai querido, aqui estamos para receber os heróis do teu amor, os vitoriosos realizadores da tua vontade, aqueles que calaram os próprios desejos para que o Teu Desejo se concretizasse neles, ao mesmo tempo em que nos unimos a todos os que vieram também por aceitarem as bênçãos do teu convite amoroso para o recomeço de suas trajectórias, abandonando os erros e os enganos de tantos séculos.
Reconhecemo-nos, entretanto, miseráveis e destituídos de méritos para erguermos homenagens à altura de seus valores e, por isso, rogamos Àquele que Te representa com tanta fidelidade perante todos nós, que possa estender as mãos de luz sobre todos eles para que despertem fortalecidos e recebam os abraços calorosos que destinamos àqueles a quem admiramos pelo seu denodo, renúncia e fidelidade a ti.
Escuta-nos, Jesus, o pedido que fazemos por estes mártires de Tua causa, para que a vida que perderam por Ti lhes seja devolvida em Glórias Celestes no Teu seio amoroso e fraterno... e por todos nós, os convidados para a reforma de nosso próprio ser, famintos de novas forças e ansiosos por novos rumos..."
O orador se havia transformado aos olhos espirituais de todos os presentes.
A figura assumira novamente as vestes pobres daquele jovem do passado, ardoroso cultor da lógica do Bem, transformado em fiel defensor da lógica do Amor na modesta agremiação mantida por Simão Pedro em Jerusalém.
E fosse porque a oração que fazia o levava para o passado distante ou porque seu coração se identificasse com o das vítimas da ignorância, todos puderam vislumbrar a sua transformação fisionómica que se transmutara naquele mesmo do pretérito, o primeiro dentre todos os mártires da causa de Jesus na Terra.
Sim. Ali estava Estêvão.
Vitimado pela sanha de Saulo de Tarso, apedrejado no recinto do templo em Jerusalém, o jovem idealista que primeiramente derramara o sangue puro sem proferir qualquer imprecação contra seus agressores, entregando-se a Deus e a Jesus, por direito e por mérito fora convocado a erguer a oração inicial, com a qual todos se preparariam, dando graças ao Criador por todas as maravilhas do seu Reino Celeste e por aqueles que ali estavam, fustigados pela miséria que a ignorância produz, mas intimoratos, vencedores.
Suas vestes resplandeciam e, nos locais onde as pedradas o haviam ferido, parecia que um floco de luz havia ali fincado suas raízes para transformá-lo em rede luminosa, como se cada cicatriz fosse uma medalha espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:23 pm

Do alto de sua cabeça, à medida que invocara a presença do Cristo, na humildade de sua confissão de subalternidade, como se não fosse ele também um dos maiores vencedores da jornada humana, um jacto de intensa luz projectou-se para o alto como que a se encontrar com um outro, ainda mais luminoso que vinha de cima.
Unidos em um canal de radiosa vibração, no ambiente esmaecido daquele vasto recinto hipnotizado por tais belezas, como que uma estrela do firmamento veio se achegando por aquela estrada luminosa e se projectou no centro do palco.
Era a forma mais luminosa que qualquer espírito houvera podido vislumbrar nos escuros ambientes terrenos.
Sua fulgurância majestosa, entretanto, não impedia que os olhos Nela se fixassem, como que para não perderem a beleza daquele instante inesquecível.
A estrela que chegava era acompanhada dos acordes mais emocionantes e inolvidáveis que nossos pobres ouvidos poderiam escutar.
Perto deles, as mais belas melodias humanas seriam cantigas de quermesse e todos os grandes músicos inspirados, apesar de sua justa e nobre realização, não passariam de toscos aprendizes da beleza sonora.
Não havia quem não se entregasse às lágrimas copiosas.
Ao mesmo tempo, em todos os que se postavam nas primeiras poltronas que circundavam o centro do auditório, dessa estrela se projectavam raios que os atingiam na altura do coração, como se fosse uma injecção de potente energia que os retiraria do estado de perturbação momentânea, a fim de acordarem para a realidade daquela hora.
O ambiente como um todo passou a irradiar-se de tal forma que se o Sol tivesse se transferido para lá, ainda estaria iluminando menos do que se observava naquele momento.
Mesmo para descrever estas cenas verdadeiras nosso espírito se sente tocado pela emoção mais absoluta e nos custa muito traduzir nas palavras frias tudo aquilo que ali se estava passando.
Lentamente, a estrela foi ganhando forma humana e, se me é possível dizer algo, olhando para a sua figura, posso afirmar que poucos tiveram coragem de olhar-lhe nos olhos, mas todos puderam constatar que estava descalça.
Sim, ali estava o Sublime Peregrino, o tutor de nossas almas e o Mestre dentre todos os mestres.
Tão logo se viu materializado, sua forma física continuava a brilhar de modo estelar.
Aproximou-se de Estêvão que, emocionado, ajoelhou-se diante dele.
Jesus abaixou-se diante do jovem luminoso e levantou-o com carinho dizendo-lhe:
- Lembra-te, filho, eu vos chamo de meus amigos e aqui estou não para ser servido e sim para servir.
Estêvão esboçou um sorriso tímido que as lágrimas molhavam e lhe disse:
- Senhor, teus verdadeiros amigos chegaram...
Olhando-os com carinhosa inflexão, Jesus sorriu e disse:
- Todos são meus verdadeiros amigos, Estêvão, mesmo aqueles que ainda não o sabem.
É de júbilo que minha alma está repleta, pois a obra de Deus não é em vão...
E dizendo isso, deixou o centro do palco e dirigiu-se para cada poltrona onde um espírito se encontrava despertando diante de tal luminosidade.
Achegou-se a Zacarias que, reverente, lhe sorriu emocionado dizendo:
- Senhor, nosso Cléofas voltou trazendo as marcas do sacrifício por muito amor ao Pai e a Ti.
Olhando-o, Jesus colocou a destra sobre a fronte de João, o mais lúcido dentre todos os recém-chegados que, imediatamente, abriu os olhos de maneira plena, exclamando, surpreso:
- Meu Jesus,... eu.... não.... sou digno.... de ....entrarem ....tua morada.
Vendo a sua humildade espontânea, Jesus se abaixou para olhar-lhe bem nos olhos e lhe disse:
- João, o trabalhador fiel é digno de seu salário.
Tu que foste fiel em pouca coisa, eu te constituirei sobre muitas outras...
O discípulo não tinha o que dizer e se o tivesse não o conseguiria.
Apenas pensou em seus irmãos que também haviam perecido na arena, ao que o Mestre lhe respondeu:
- Todos estão aqui, filho querido.
A casa do Pai é ampla e a todos sabe acolher com carinho.
Um sorriso de tranquilidade preencheu-lhe o rosto e João se viu fortalecido e disposto.
A seguir, Jesus passeou por todos os martirizados e sobre eles impôs a sua mão e conversou com cada um, demonstrando o mesmo carinho e atenção, identificando-os pessoalmente, demonstrando saber de seu drama pessoal, de suas dores e aflições e de todo o sacrifício que a vida demandara, na árdua jornada que terminara.
Lívia, que vinha logo depois de João, igualmente tocada pelo magnetismo do Mestre, recordou-se de seu encontro na beira do lago em Genesaré, quando Jesus lhe houvera dito que lhe aceitaria o sacrifício quando chegasse a hora e, num gesto de muita emoção, enquanto Jesus se deslocava para a sua direcção, pediu a Simeão que a ajudasse, pois queria estar ajoelhada quando Jesus chegasse próximo a ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:23 pm

Simeão, compreendendo o momento íntimo, ofereceu seus braços firmes e, juntamente com a irmã tão amada, ajoelhou-se também para que o Mestre assim os encontrasse, ambos.
O ambiente estava carregado de tal magnetismo que nenhum dos presentes ousava tirar seus olhos daquele palco, servindo isso para que muitos que tinham receio de encarar os desafios da semeadura da Boa Nova entre os homens, perdessem ali qualquer medo de suportar o flagício da ignorância humana, a fim de iluminá-la.
De todos os lados, almas viam despertar dentro de si mesmas o pendor para o heroísmo a fim de que o melhor de si fosse colocado a serviço da melhor de todas as Causas.
Tão logo atendera a todos os corajosos mártires da primeira hora, entre os quais se achava Lucílio também o Senhor elevou a palavra falando à toda posteridade sobre os planos de Deus para a evolução dos homens, divisando os horizontes do futuro e concitando a todos para que perseverassem no Bem, já que seria necessária muita dor ainda para que o coração das criaturas entendesse a excelsitude do Reino da Verdade e do Amor.
Era, na verdade, o sermão que profetizava para todos as venturas e dores que estavam reservados aos dias do futuro, fazendo-os compreender os planos superiores da direcção espiritual da Terra para os que pertenciam ao rebanho que tinha sido confiado à Sua guarda.
Momento de solene elevação, não havia quem não se ligasse às suas luminosas exortações, demonstradoras do mais puro sentimento de interesse e devotamento por todos os irmãos humanos.
E mesmo dentre aqueles que, lá em outro local, assistiam pela tela espiritual os lances do evento, não houve um que não se envergonhasse de seu passado e sentisse o semblante lavado pelas mais ácidas lágrimas de arrependimento como, em breve, será descrito.
Muitos se atiravam ao chão em espectáculo de desespero que era logo atendido por vigilantes espirituais a encaminharem o desequilibrado ao tratamento necessário à sua recuperação.
Assim nos dois locais estavam os convidados ao banquete do Amor.
No recinto principal, com Jesus, estavam os devotados servidores da Causa do Bem, os que perderam a vida por Amor a Jesus, recebendo a vida de volta, acrescida da gratidão celeste pelo dever cumprido, o que lhes ensejaria novas trajectórias de trabalho.
E no outro ambiente mais afastado mas, igualmente bem amparados por espíritos amorosos, estavam os convidados ao trabalho e ao sacrifício, quase que sentindo inveja dos mártires e desejando tudo enfrentar para terem a ventura de chegar a um momento de glória espiritual, aqueles mesmos que haviam desejado, durante a existência física apenas ganhar a sua vida, gozar e desfrutar os momentos de euforia, agora envergonhados pelos erros cometidos e se sentindo despidos de quaisquer méritos para solicitarem uma nova chance de voltar ao mundo.
E, longe dali, guardado na lembrança de Zacarias, estava a figura de Pilatos, envolvida pelo sofrimento do ato tresloucado com o qual tirou a oportunidade de viver fisicamente, havia mais de vinte anos.
A todos os fracassados no espírito se poderia aplicar as palavras de Mateus:
"De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a própria alma?"
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10 - O BEM COMO PRÉMIO DA BONDADE

Nas paragens espirituais luminosas, o reencontro entre os personagens que haviam sido recolhidos na tragédia do Circo Máximo naquela trágica tarde foi como a realização de um sonho bom que todos nós possuímos, mas que achamos que nunca se concretizará.
À medida que a figura luminosa de Jesus visitara um a um os seus primeiros mártires do primeiro massacre colectivo em nome da causa da Boa Nova, em pleno coração daquele mundo dito civilizado, os espíritos que recebiam o influxo de Amor, partido do coração amoroso do Divino Mestre, eram tocados por uma luminosidade e uma vitalidade que, sem excepção, os reerguia para uma condição de plena capacidade e lucidez.
Ao final desse percurso, todos já estavam plenamente livres de qualquer perturbação espiritual, esse estado natural que sucede o processo de morte do corpo e que pode durar de algumas horas a alguns séculos, conforme as lições espirituais indicam e cuja duração está na dependência do estado de amadurecimento e de preparo do espírito que regressa ao mundo invisível.
Na condição de vítimas corajosas de todas as vicissitudes e sacrifícios, dos quais não fugiram, todos eles puderam receber a acolhida de espíritos amigos que, nos momentos mais cruciais de seus testemunhos últimos, já os envolviam e amparavam.
Por isso, mesmo depois de terem recobrado a lucidez plena, o carinho desses companheiros devotados e luminosos era outro motivo a mais para encher de ventura o coração destes vitoriosos sobre si mesmos.
Como dissemos, João de Cléofas e Lucílio foram acolhidos por Zacarias, Lívia recebera o afecto das mãos de Simeão, enquanto que todos os demais eram abraçados por entes amorosos que a eles se ligavam por estreitos laços de amor sincero.
Com tais sentimentos despertados, os recém-chegados se sentiam leves e pertencentes a uma dimensão que mais lhes parecia de venturas indescritíveis e jamais imagináveis, como se tudo aquilo que Jesus havia prometido quando de sua estada na Terra, fosse ainda muito pobre se comparado à realidade que os aguardava.
A beleza de tudo, numa mistura de simplicidade e rara nobreza, produzia no espírito um encantamento e uma elevação ímpares.
Enquanto tais emoções eram sentidas por todos os espíritos ali congregados para as homenagens aos viajores da fecunda semeadura do Amor entre os homens, no mesmo instante longe dali também este Amor ilimitado penetrava os corações.
Como o leitor há de se recordar, não apenas os vitimados pelos leões foram recolhidos naquele dia.
Como já explicamos, toda uma grande família espiritual que fora recolhida naquela tarde no Circo de crueldade e ignorância, havia sido acolhida em ambiente afastado, de vastas proporções, onde mãos generosas e devotadas à causa do Bem os amparava nos acessos de emoção e de desespero de que eram vítimas, ao contacto com aquelas cenas maravilhosas que lhes eram transmitidas em uma grande tela, comparada pobremente a um vasto cinema.
Por força das vibrações espirituais de alto padrão que haviam revestido toda a arena e as arquibancadas, ainda que de maneira invisível para a maioria, quando os mártires passaram a elevar o pensamento a Deus através do cântico que ofereciam para espanto de muitos que lá estavam, o mundo espiritual pôde accionar todos os recursos disponíveis para desencadear um grande processo de ajuda colectiva às entidades ignorantes ali congregadas, seja por acompanharem os encarnados, seja por mera curiosidade e prazer mórbido naquele espectáculo cruel.
Ante o impacto da coragem, do destemor, da Fé superlativa daqueles poucos seres humanos vitimados pela ignorância de muitos milhares, muitos destes se viram compelidos a pensar naquele gesto inusitado e que demonstrava um poder e uma coragem pouco conhecidos num mundo de disputas e conflitos onde os mais violentos e agressivos eram os mais invejados, admirados e imitados.
Reunidos aqueles espíritos que se permitiram tocar por essa sensação, os trabalhadores do Amor lá presentes se fizeram visíveis à turba de entidades ensandecidas, postando-se na arena diante deles e convidando-os a descerem até lá para que pudessem ser ajudados.
Milhares de espíritos passaram a gritar por socorro, para surpresa e desespero das entidades trevosas que pensavam manter o controle sobre aquela assistência despreparada.
Estimulados pelas visões amorosas que os convidavam a se aproximar, deixando as arquibancadas e seguindo em suas direcções, eram agredidos por outras entidades cruéis e violentas que tudo faziam para tentar intimidar os que se demonstrassem desejosos de mudar de vida.
No entanto, era tal a atmosfera de elevação construída pelo mundo espiritual, que o número dos que se dispuseram a procurar o agasalho generoso do Bem, nos braços das entidades luminosas impedia qualquer forma eficaz de intimidação, sobretudo porque dentre estes espíritos gladiadores que se incumbiam de assustar os demais com sua violência, mais de vinte dessas entidades acabaram se deixando levar pela onda de esperanças que os envolvia naquela hora, abandonando o posto de guarda e seguindo com as outras entidades na direcção das mãos amigas que se estendiam para eles.
Assim, mais de duzentos mil espíritos necessitados e ignorantes foram recolhidos naquele dia, sendo certo que todos eles o fizeram por sua própria vontade, libertando-se das opressões que os castigavam e seguindo os seus caminhos com suas próprias deliberações de espírito.
E recolhidos Belos trabalhadores devotados a serviço de Jesus, caíam adormecidos no mesmo instante em que se aproximavam da arena, onde a atmosfera muito mais energizada era tamanha que o choque magnético como que os induzia ao sono, ocasião em que eram recolhidos e levados para esse ambiente previamente preparado no plano espiritual para recebê-los.
Nesse recinto de vastíssimas proporções, eram acolhidos com carinho e colocados em confortáveis assentos onde esperariam o retorno à consciência mais lúcida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:24 pm

Como não se tratavam de recém-desencarnados, não necessitavam enfrentar os problemas da perturbação que ocorre ao espírito logo após a morte física.
Sobre todos eles, naquele ambiente espiritual muito mais elevado do que os que estavam acostumados a frequentar junto aos encarnados invigilantes e viciosos, uma ténue chuva de fluidos balsamizantes era projectada sobre eles, penetrando todo o organismo perispiritual dessas entidades adormecidas e lhes infundindo nova sensação de vitalidade.
Na verdade, era como um processo de limpeza, assepsia necessária à nova etapa evolutiva que haviam escolhido percorrer.
Precisavam desfazer-se dos eflúvios densos que se acumularam em suas almas por todo o tempo de desatinos e ligações indébitas com a matéria, nos processos de vampirização de forças dos próprios encarnados e de manutenção de vícios e condutas inadequadas para a sua condição de espíritos.
A inalação de tais energias através da respiração e da penetração em seus perispíritos, ia limpando a sua estrutura pessoal das mais grosseiras emanações, como um banho para a retirada das impurezas mais volumosas.
Na medida em que isso ocorria, com a liberação de tais forças negativas, os espíritos iam voltando à consciência desperta e identificando o ambiente diferente que os acolhia, generoso.
O grande anfiteatro espiritual era inteiramente envolvido por uma leve penumbra que garantia uma sensação de paz e acolhimento, ao mesmo tempo em que o vasto teto, abobadado e transparente, permitia a visão de um céu jamais entrevisto pelos olhos dos humanos dos limites estreitos de seus olhares presos à superfície da Terra.
Nas paragens espirituais onde se encontravam recolhidos, o céu era mais rico de detalhes, ainda que fossem as mesmas as estrelas identificadas pelos olhos que as fitassem.
Eram maiores, mais brilhantes, envolvidas por uma escuridão aconchegante e imponente, como se parecessem pérolas com brilho próprio, engastadas em uma vasta colcha de veludo precioso.
Tudo ali fazia pensar em um Pai cuja imensitude era inalcançável, mas cuja humildade emocionava o menor dos seres criados, a revelar-se modestamente em tudo o que existia.
Os deuses criados pelos homens, diante de todo aquele espectáculo, não faziam qualquer sentido.
Eram construções mesquinhas e caprichosas, partilhando os mesmos defeitos e fraquezas humanas que em nada se pareciam com a Soberana Nobreza de toda aquela atmosfera.
Tão logo abriam seus olhos naquele recinto, eram atraídos pela vasta visão cósmica, a penetrar-lhes a mente espiritual e lhes infundir não só o encantamento da surpresa ante o maravilhoso, mas, acima disso, uma sensação de miséria pessoal, de vergonha ante a excelsitude do Universo que jamais experimentaram.
Muitos choravam em silêncio, levados pelos seus erros a se recordarem de suas culpas, arrependendo-se de todos os actos insensatos que já haviam adoptado ao longo de toda a trajectória de suas vidas.
Outros se deixavam levar pela melancolia e pela dor por terem desperdiçado tantas oportunidades durante as quais ficaram privados de sentir tamanho enlevo espiritual.
Emoldurando toda esta atmosfera, a música celeste embalava as emoções de todos em sonoridade jamais imaginada por nenhum daqueles ouvidos acostumados ao rufar violento dos tambores das paradas militares dos exércitos que chegavam à grande capital imperial de seus dias, sem maiores noções estéticas que os fizessem se lembrar das belezas do espírito.
Além disso, a energia que caía sobre eles na forma de leve véu, uma quase garoa, trazia com ela um perfume que, na percepção de cada um dos que ali se achavam, ganhava o odor que mais lhes produzia boas lembranças.
Os perfumes se sucediam, inebriando a cada entidade necessitada que, ao inalá-los, era levada a relembrar na memória olfactiva que se encontrava arquivada em sua mente, das coisas boas que houvera experimentado.
O perfume de sua mãe, da esposa ou do marido, o perfume característico dos próprios filhos, o odor de flores que cultivava, do campo agreste onde cada um vivera momentos de ventura, todos eles possuíam algum tipo de memória nessa área, que era activada ao contacto com as forças espirituais que os envolviam.
Por este motivo, eram levados a rememorar as generosas oportunidades que a vida já lhes havia conferido para que pudessem ser felizes, chances estas que a maioria havia desperdiçado em busca de uma vida de aventuras e prazeres sem profundidade.
Esta lembrança também lhes chegava para apagar de suas mentes as falsas ideias de uma infelicidade eterna, de uma condenação cruel a uma vida sem belezas, sem momentos de alegria, fazendo-os voltarem à época de suas boas lembranças, o que lhes produzia a sensação de maior responsabilidade perante a vida.
Quando o tempo já havia feito a sua parte no processo de limpeza e de introspecção em cada um deles, estando já plenamente despertados e reconduzidos à própria consciência, muitos precisavam ser amparados por um enfermeiro espiritual que os assistia, sendo certo que postos de atendimento se espalhavam por todo o recinto, a espaços regulares, de modo a não deixar sem atendimento eficaz nenhum dos mais infelizes ou necessitados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:24 pm

O despertamento de nossa indiferença é muito doloroso para o espírito, que tem de assumir por si próprio, sem que ninguém o acuse ou o julgue, os erros cometidos, as falhas na jornada humana, o desperdício e a preguiça, a maldade e a omissão.
Muitos se abeiravam do desespero, ocasião em que eram amparados com a acção fluídica calmante de um amigo que ali estava para ajudar nessa hora.
A grande tela luminosa se mantinha transmitindo apenas cenas da beleza do Universo, a maioria desconhecidas pelos desencarnados que lá estavam e pelos próprios encarnados dos dias actuais.
A dança das galáxias no cosmo distante, as forças silenciosas da luz e da gravidade a bailarem ao redor de pontos que as comandavam como se fossem maestros hábeis, cores desconhecidas dos humanos, combinações de formas e harmonias jamais entrevistas, eram o pano de fundo que mantinha a atmosfera ainda mais propícia às mudanças morais necessárias a todos aqueles espíritos.
Em determinado momento, quando se fez a hora do início da actividade, o centro do grande anfiteatro foi iluminado com mais intensidade e um vulto feminino ali se estabeleceu à vista de todos para que, com sua suavidade e doçura, pudesse falar aos que estavam prontos para escutar-lhe as palavras.
Sua figura era igualmente talhada com esmero, no porte de juventude luminosa e serena sabedoria que não se saberia dizer tratar-se de uma quase adolescente ou de uma confiante senhora.
Seus cabelos permaneciam levemente caídos sobre os ombros e sua túnica alva e singela falava de uma humildade e resignação que aqueles espíritos jamais haviam sentido.
A sua postura suave infundia em seus corações a saudade da mãe ao mesmo tempo em que neles inspirava o amor que podiam ter por uma filha.
Muitos a viam como a materialização das filhas esquecidas no tempo, enquanto que outros desejavam beijar-lhe as mãos com a ternura dos que reencontram o coração materno, depois de todas as estroinices e os abusos de uma existência perdida.
Dirigindo-se a todos, e sentindo que sua figura infundia este espectro de emoções, ela começou dizendo:
- Irmãos queridos, que a Bondade de Deus e o Amor de Jesus nos aceitem como os modestos servidores da causa da Verdade.
Aqui estou na vossa presença por misericórdia do Pai, não por méritos que não possuo.
Venho ao vosso encontro apenas como a irmã que muito vos ama para dizer-vos que, na Casa do Pai, não existem portas fechadas aos que batem aflitos, em busca de consolação. Nossos antigos deuses continuam carrancudos e surdos no alto de seus altares, como a se divertirem com nossas lágrimas.
No entanto, Jesus abre seus braços para nos receber e chora connosco por causa de nossos sofrimentos.
E a todos vós que aceitastes dar um novo rumo a vossos passos, na estrada luminosa que começa a invadir a Terra e que haverá de chegar a todos os corações, este é um momento inigualável na trajectória de vossos espíritos.
Deixai para trás todo o sentimento de aflição, de medo, de inferioridade, pois se é verdade que tudo o que fizemos de errado nos causa a dor e o arrependimento, também é verdade que todos nós poderemos consertar o mal, refazendo as coisas por outros padrões. Grande é a seara e poucos são os trabalhadores.
Por isso, queridos irmãos, aproveitemos este momento para que novas forças nos estimulem a matar em nós aquele ser imperfeito que nos conduziu ao abismo da ignorância e multiplicar o empenho na construção do novo espírito que é capaz de erguer-se de tais profundezas do erro, carregando outros em seus braços.
Todos sois o testemunho vivo do Amor do Pai; eis que, por causa de alguns poucos corajosos seguidores da Verdade, pudestes chegar até este inesquecível momento de ventura celestial jamais imaginado.
Por isso, não nos cabe senão externarmos a gratidão à Bondade Celestial, não mais através de oferendas e sacrifícios sangrentos a deuses insensatos e, sim, por meio do sacrifício de nossos defeitos e erros no altar sagrado de nossos corações.
Se estais arrependidos do passado, aproveitai esta hora e conversai com Aquele que vos criou, que nos criou, e assumi com Ele um novo compromisso de trabalho, um compromisso de respeito pela Verdade do Espírito e de devotamento à Causa do Amor entre os homens.
Se vos envergonhais dos desatinos do passado, posso vos afirmar que está aberta a grande oficina que nos permitirá a reparação de nossos erros.
Em breve o mundo precisará ser povoado com espíritos melhores, com criaturas que tenham o desejo de quitarem seus débitos na semeadura do Bem no coração estéril dos indiferentes.
Se desejais, realmente, o perdão da própria consciência, tereis a oportunidade de pedir-lho através do empenho e do sacrifício, candidatando-vos a uma vaga nessa oficina de trabalho, junto aos homens.
A palavra daquela criatura luminosa infundia tanta esperança em todos os que a ouviam que lágrimas escorriam dos olhos, mesmo dos trabalhadores, dos enfermeiros, dos devotados servidores espirituais que ali, também, encontravam por si mesmos, o vasto campo do serviço que os recebia generoso e produtivo.
O coração daquela jovem se iluminou de tal maneira que seu plexo parecia um farol a irradiar luzes multicores para todos os lados.
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Aproveitando o momento de ventura que o ambiente propiciava naqueles espíritos imaturos que despertavam para as realidades da vida, a jovem prosseguiu:
- Jesus nos ensinou que não importa em que momento aceitamos o serviço que a tarefa. Seja na primeira chamada, seja na convocação última, todos os trabalhadores honestos serão pagos da mesma maneira.
Por isso, a palavra que o Pai tem para todos os nossos erros e fraquezas não é de censura e condenação.
É de estímulo e coragem para que nos ergamos com vontade firme.
E se nós tivemos coragem para fazer todo o mal que já fizemos um dia, não podemos dizer que somos covardes. Basta canalizarmos nossa coragem para outros sectores mais nobres de nossa vida, que estaremos actuando no sentido construtivo de nosso futuro.
Por isso, irmãos queridos, unamos nossos espíritos à oração que ouviremos a partir de agora, para que sejamos, todos nós, um único ser, uma única vontade, um único cântico de Glórias a Deus, agradecidos por todas as suas bênçãos.
Ali, humildemente, aquela alma generosa convidava a todos para que se unissem à oração que seria transmitida pela grande tela que transmitiria até ali a cerimónia de recepção daqueles que foram devorados pelas feras nas tragédias do Circo que eles viram e participaram.
Naquele momento, o espírito de Abigail que lhes falava, reverenciava com o seu carinho a figura do irmão amado, Jeziel, o mesmo Estêvão que, longe dali, se encontrava pronto para invocar a presença de Jesus na recepção de todos os que haviam chegado da Terra depois de terem enfrentado o testemunho da morte física por Amor Verdadeiro a Deus e a Jesus.
A mesma Abigail, outrora noiva abandonada pelo orgulhoso Doutor da Lei, Saulo de Tarso, que soubera estender o seu Amor natural sobre a dor alheia e aceitara os ensinamentos de Jesus que o velhinho Ananias lhe houvera transmitido nos momentos finais de sua existência terrena, junto à moradia acolhedora da estrada de Jope, na velha Palestina de tantos sofredores.
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Série Lúcius - A Força da Bondade / André Luiz Ruiz - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - A Força da Bondade / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:25 pm

11 - APRENDENDO COM O AMOR

As reacções de todos à cena que passou a ser assistida na grande tela panorâmica foi algo muito marcante já que, tendo aceitado a ajuda que lhes havia sido oferecida por ocasião do martírio dos primeiros cristãos na Roma daqueles tempos dissolutos, todos se achavam com esperanças de mudança muito profundas.
Eram infelizes, cansados, desarvorados da vida, acomodados aos sofrimentos espirituais dos quais não sabiam como se livrar, envergando corpos fluídicos deformados, distorcidos, cheios das feridas que a própria mente houvera cultivado em longos anos de pensamentos negativos, de ideias fixas no mal, na revolta, no vício e nos prazeres inferiores.
Todo aquele ambiente preparado de maneira tão delicada e embelezado pelas palavras de Abigail luminosa e pela oração de Estêvão já lhes havia produzido um banho magnético muito potente e, não havia quem não se sentisse emocionado por estar ali.
Dentre os que haviam sido recebidos, os que se apresentavam em piores condições, no entanto, eram os espíritos dos gladiadores, aqueles responsáveis por intimidar os outros infelizes com sua violência e sua astúcia.
Apesar de terem escolhido o novo caminho por já estarem infelizes naquela tarefa negativa, que realizavam exactamente por causa de sua extrema frieza, as novas condições vibratórias produziam neles uma significativa reacção de espanto, de vergonha e arrependimento, já que, além de terem de enfrentar a si próprios, ali eram identificados pelos demais como os algozes de longa data, que os atacavam e maltratavam impiedosamente.
Por este motivo, naquele grande anfiteatro, a equipe espiritual que estava encarregada de atender às necessidades de todos, tinha um especial carinho pelo grupo formado pelos vinte e oito gladiadores que haviam deixado a antiga condição de algozes para se dirigirem à nova luminosa aurora para seus espíritos.
Ficavam isolados dos outros, protegidos por cordões fluídicos, já que não seria difícil supor que aqueles que estavam por ali, apesar de terem desejado seguir uma outra estrada, agora no caminho do Bem, ainda não tinham se tornado bons e poderiam se sentir inclinados a agredir, ao menos verbalmente ou mesmo mentalmente, os pobres e desafortunados espíritos que se encontravam, agora, não mais na condição de guardas agressivos, mas sim na da vítimas da ignorância.
Dentre todos os presentes, à medida que as palavras de Abigail foram proferidas e sucedidas pela oração, envolvidos pelos perfumes e pela música, as lágrimas humedeciam o rosto enquanto que o coração ia sendo aconchegado por mãos invisíveis que lhes preparavam o espírito para a continuidade daquele momento especial.
E o que era de espantar era o fato de que, assim que as novas forças iam sendo inoculadas no íntimo da vasta gama dos seres infelizes, alguns se sentiam melhores, menos enfermos, fechando algumas feridas, mudando o aspecto geral, ainda que em subtis detalhes.
No entanto, em outros, o efeito parecia ser contrário.
Depois de longo tempo endurecidos na indiferença, no ódio cristalizado ou na prática de todos os actos que a insensatez autorizava, o despertar da consciência para a gravidade de suas condutas produzia um estado de desespero, de vergonha tão profunda, que aquela carapaça longamente mantida por sua postura acostumada naquele padrão de baixas vibrações se rompia e, como que por encanto, o ser se transformava em uma figura muito mais abatida e depauperada do que antes.
Era o caso de muitos dos ex-gladiadores.
Ainda que guardassem a figura espiritual em desajuste pelas vibrações que nutriam e pelos actos que praticavam, à medida que, arrependidos, passaram a receber a ajuda que chegava até seus corações, o clamor de seus actos passados visitava-lhes à mente como a dor corrosiva do ácido, devastando-lhes as forças de resistência e fazendo com que se entregassem ao desespero.
No entanto, isso tudo não era nada, comparado ao que estava por vir.
Repentinamente, as cenas da grande tela começaram a mostrar os que haviam sido devorados pelos leões, acolhidos naquele ambiente de safirina beleza, aqueles mesmos que foram apupados, ridicularizados, xingados por muitos dos que estavam, agora, assistindo o desenrolar dos acontecimentos.
A grande estrada luminosa que se abrira sobre Estêvão, e que vinha do Alto, passou a iluminar, através da tela, todo o ambiente do anfiteatro.
As poltronas confortáveis, o carinho de entidades amoráveis que sustentavam o despertar dos que haviam sido as vítimas de todos aqueles espíritos ignorantes era de enternecer qualquer coração rochoso que presenciasse aquela cena.
O silêncio, no grande recinto dos ignorantes que despertavam, era de estarrecer e só era quebrado pelo ruído dos soluços abafados de muitos que passaram a chorar de vergonha pelo que tinham feito naquele dia de sacrifícios na arena do circo.
No entanto, quando a figura majestosa e humilde do Cristo foi plasmada na grande tela, reproduzindo os gestos de amorosa solicitude pessoal para com aqueles que haviam chegado, vitoriosos perante a tragédia, não houve entidade que não ficasse abalada em seu interior.
À medida que a imagem se fixava no carinho daquele Ser Superior que afagava um por um dos que tinham sido assassinados, a visão exercia tal poder sobre eles, que a maioria passou a proferir palavras de acusação sobre si mesmo.
Não foram poucos os que se atiraram ao solo, ajoelhando ou mesmo se deixando cair de qualquer maneira, imaginando estarem diante de alguma das grandiosas divindades a que estavam acostumados a cultuar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:25 pm

E ainda que não houvesse condições para maior explicação, sabiam que nunca tinham visto aquela figura esculpida em algum pedaço de pedra, a qual não teria nobreza suficiente para transmitir-lhe a excelsitude e a beleza.
Muitos gesticulavam como querendo rasgar as próprias roupas, num gesto de desespero, outros se batiam como a se castigarem pelo ato desumano do qual haviam participado.
E nos surtos de abatimento que se sucederam, os trabalhadores amorosos e compreensivos acorriam para atender os mais desesperados, acalmando-os com um pouco de água magnetizada, que lhes transmitia uma sensação de equilíbrio e força.
Não havia, no entanto, entre todos eles, nenhum espírito que não se culpasse por tudo aquilo de que haviam participado e, quanto maior a participação, a instigação, a influenciação no momento decisivo, maior a dor moral que sentiam.
Novamente se avolumava a tragédia íntima dos ex-gladiadores que, observando tudo com olhos de espanto diante de tamanha novidade e beleza, eram os que mais tinham espinhos a extrair da própria consciência.
Enquanto assistiam Jesus perambular de um para o outro dos que haviam tido os corpos destroçados pelas mandíbulas poderosas das feras famintas, muitos falavam entre si, se acusando de desalmados, se dizendo indignos de qualquer ajuda, culpados por crimes cometidos ao longo de tantos anos de desatinos espirituais.
Não vinha à tona apenas a culpa pelos actos praticados naquele dia triste do Circo Máximo. Surgiam-lhes na mente, agora sem as travas das mentiras que os homens usam para justificar seus comportamentos, todo o rol de perversidades que haviam cometido ao longo de muitos anos e, nessa condição, parecia que precisavam contar uns para os outros o conteúdo de suas lembranças nefastas, falando a esmo ao mesmo tempo, numa manifestação de quase loucura colectiva.
Sem as travas convencionais que as pessoas costumam usar para se desculparem por cada ato negativo que cometem, naquele momento em que a verdade os invadia por todos os lados, era imperativo a si mesmos que se confessassem uns aos outros, como efeito da sinceridade de propósitos diante da visão daquele Jesus grande e pequeno ao mesmo tempo.
Essa catarse durou vários minutos sem que os espíritos amorosos que os tutelavam interviessem, já que se fazia necessário nessa terapia colectiva, que expelissem seus defeitos e culpas para que a nova trajectória pudesse ser iniciada em uma seara íntima límpida de todos os resquícios mentirosos e inferiores.
Não era necessário que tivessem perfeição, requisito que só o esforço dos milénios vai escavando no interior de todos os Filhos de Deus.
Era, no entanto, necessário que tivessem autenticidade, sinceridade e consciência de que a nova jornada não poderia ser uma mistura com velhos hábitos infelizes.
Por isso, melhor que se revelassem como eram por dentro, para que não tivessem que sofrer mais pela frente, no caminho que lhes pediria a autenticidade, não para ferir os outros, mas para assumir suas próprias responsabilidades na dor produzida nos corações alheios e que deveria ser reparada.
A emoção colectiva foi elevada ao máximo suportável.
Muitos perderam os sentidos e tiveram de ser carregados para ambientes onde ficariam repousando até que recobrassem a consciência.
O carinho de Abigail se mantinha a postos no centro daquele ambiente, como fulgurante estrela perdida a brilhar no lamaçal do erro.
Dessa cirurgia moral sairiam almas renovadas perante si próprias, no amadurecimento que se iniciava para a jornada construtiva do Evangelho em seus corações e para o serviço da Boa Nova nos caminhos do mundo.
Não seriam, obviamente, os que teriam condições para ser considerados missionários do Amor sobre a Terra, já que ainda eram muito frágeis e precisavam de mais experiência.
Todavia, os séculos seguintes estariam por esperá-los, na contribuição para a implantação das novas directrizes de esperança e, ao mesmo tempo, no teste de seus ideais sinceros, lutando contra as fraquezas íntimas e enfrentando a consequência de seus actos.
Longe dali, em região muito mais elevada, de onde se estava transmitindo aquele encontro entre o Mestre e os seus fiéis servidores, as belezas eram tantas que não se é possível traduzi-las.
O certo é que o Amor Verdadeiro ali estabelecera o seu império, sem prédios sumptuosos, sem palácios de mármore, sem exércitos e espadas, sem dinheiro ou títulos honoríficos.
Estêvão, ao lado do Senhor, caminhava com Ele por entre os recém-chegados e, com seu sorriso e seus modos fraternos, infundia o sentimento de dever cumprido no coração surpreso dos que despertavam suavemente, nos braços de seus amigos espirituais.
Depois de ter sido abençoado por Jesus, João de Cléofas, que era amparado por Zacarias, recobrara todas as suas energias e a clareza de raciocínio.
Desse modo, passou a interessar-se pelo destino de seus companheiros de sacrifício e desejou acompanhar Jesus, como se estivesse também desejando abraçar seus fiéis e corajosos amigos.
Compreendendo o seu desejo e autorizado pelo olhar compassivo do Mestre, que já houvera sido seguido no passado por aquele mesmo Cléofas, ele e Zacarias foram acolhidos ao seu lado e passaram a envolver com seu amor os outros que ainda esperavam o toque das mãos generosas daquele Cristo tão amigo e fraterno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:25 pm

Por isso, não tardou o momento em que se aproximaram de Lívia e que, no seu coração luminoso e abnegado, viu-se envolvida por um halo de luzes que a embalavam com grande enlevo, como se um arco-íris celestial dançasse ao seu redor.
Também ela desejou seguir Jesus, agora que se levantava e abraçava ternamente o espírito de Simeão.
E a cada um dos que eram tocados pelo Mestre, como nos velhos tempos em que, na Terra, os estropiados lhe pediam o milagre, todos tinham ímpetos de se levantar e seguir aquele Sol que os aquecera.
Jesus caminhava adiante de todos eles, tendo Estêvão ao seu lado.
No entanto, logo atrás era seguido por aqueles que desejavam também dar as boas-vindas aos irmãos de infortúnio.
Era a expressão mais doce da fraternidade.
Os que morreram no corpo juntos, despertavam na alma juntos e felizes.
Todas as coisas iam enchendo a atmosfera de um alto teor de forças, com os cânticos sublimes que acompanhavam cada despertar dos filhos do sacrifício, fiéis no testemunho até o fim.
No entanto, em determinado momento, diante de um dos assentos, Jesus interrompeu suavemente a sua jornada, no que foi acompanhado por todos, que aguardavam.
Voltando-se para os que o seguiam, disse, ternamente:
- Zacarias, meu filho, aproxima-te.
Ouvindo a sua convocação pessoal, destacou-se do grupo dos recém-chegados o velho sapateiro, atendendo ao chamamento do Senhor.
- Sim, Mestre, aqui estou.
Jesus estava parado diante da poltrona de Lucílio Barbatus, o centurião romano que se fizera amigo de Zacarias. Retomando a palavra, Jesus continuou:
- Eis aquele que nos ajudou nas horas mais difíceis e que te estendeu mão amiga no cumprimento do pedido que eu te houvera feito na protecção de nosso irmão Pilatos.
Emocionado, Zacarias respondeu:
- Sim, meu Senhor, este é Lucílio, graças a cuja bondade nosso irmão pôde ser assistido e protegido contra os que o queriam trucidar.
Se não fosse por ele, nem a pouca coisa que se pôde fazer em favor de nosso irmão Pôncio se teria conseguido realizar.
Tenho uma grande dívida de gratidão para com este irmão.
- Por isso, filho amado - disse Jesus - gostaria que essa nossa gratidão, que considero minha também, fosse externada neste momento e que Lucílio despertasse encontrando teus olhos de amigo devotado.
Zacarias, emocionado, deixava rolar lágrimas cristalinas que se perdiam em sua barba, a mesma que houvera emoldurado o seu rosto ao tempo de sua última encarnação na Terra.
De pé, lado a lado com Jesus, ambos se posicionaram à frente do assento confortável que acolhia o espírito de Lucílio, adormecido como uma criança por força do balsâmico anestésico espiritual empregado no momento da tragédia dilacerante.
Sustentado por uma entidade amiga, que se mantinha a postos junto de Lucílio, o ambiente espiritual que o envolveu nesse instante foi muito intenso.
Jesus, tomando a de Zacarias junto à sua própria, impôs ambas as destras sobre a fronte do ex-centurião.
Um jacto de luz penetrou-lhe o espírito que, encantado com a sensação inebriante, foi descerrando os olhos devagarinho, como se desejasse não sair daquele estado de enlevo que sentia.
E para sua surpresa, ali, diante dele, o velho amigo sapateiro estava de braços estendidos, aureolado por uma atmosfera nunca vista.
- Zacarias, Zacarias... - exclamava Lucílio, como uma criança feliz.
Que saudade eu tinha de você, meu amado paizinho...
Constrangido pela menção eufórica de Lucílio a seu respeito e que, talvez pela capacidade visual ainda não adestrada, não havia identificado Jesus, Zacarias abaixou-se na direcção do amigo querido e lhe falou, carinhoso:
- Sim, meu filho querido.
Sou eu que estou aqui para te abraçar como nos velhos tempos.
Mas presta atenção, porque aquele que nós amamos com todas as nossas forças está aqui para te abençoar, Lucílio.
- Zacarias - disse ele, titubeante - você está falando de Jesus?
- Sim, o nosso Mestre.
- Ora, meu amigo, eu não sou ninguém para merecer a atenção Dele.
Pelo tamanho de meus erros já não mereço, sequer, a Sua bondade que tanto me guiou e me ajudou.
Que dizer, então..
E enquanto ia terminar a frase, aquele véu luminoso que o ofuscava foi se transformando na figura indescritível de Jesus.
Lucílio não conseguiu terminar de exprimir a sua indigência, eis que o sorriso daquele Mestre o impediu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:25 pm

- Se... nhor... - balbuciou inebriado.
Este miserável soldado ignorante não é digno desta graça.
- Bem-aventurados, Lucílio, os que não viram e creram.
A minha gratidão te pertence pelo muito que buscaste fazer por um ser a quem amo profundamente e que tu te desdobrastes em proteger com todas as forças de teu ser, mesmo sem teres sido convocado para fazê-lo, pessoalmente.
- O governador?!...
- Sim, nosso irmão Pilatos, meu filho.
As tuas boas sementes voltam ao teu celeiro nesta hora, na certeza de que os teus mais pequeninos gestos de cuidado foram anotados nos livros da Bondade Celeste para se levantarem como favos de mel para tua alma.
Lucílio não sabia o que dizer.
Por isso, limitou-se a chorar e a pedir, humildemente:
- Senhor, eu nunca pude te encontrar, a não ser pela palavra luminosa de Zacarias...
Agora que isto está acontecendo pela primeira vez, gostaria de pedir-te uma coisa... se não for ousadia minha...
- Fala sem temor, filho querido...
E sem jeito diante daquela situação, o ex-soldado romano se encorajou e disse:
- Senhor, deixa-me beijar a tua mão...
Comovido com o pedido humilde e compreendendo a emoção daquele espírito, Jesus abaixou-se em sua direcção, ficando na mesma altura, já que Lucílio, ao fazer o pedido, tinha se ajoelhado diante do Mestre.
Segurando-lhe as duas mãos que estavam unidas, reverentes, Jesus não impediu que o centurião as beijasse e molhasse com suas lágrimas.
Depois, ergueu-o e lhe disse:
- Filho, o trabalho do Amor ainda está por fazer.
Zacarias está lutando para concretizá-lo, mas precisa de ajuda também.
- Senhor, eu não me pertenço mais.
Pertenço a ti.
Faz de mim o que desejares fazer.
Eu apenas obedeço.
Um dia, por imposição da vida, fui um soldado de Roma.
Hoje, por escolha de minha alma, sou um soldado de Jesus.
Olhando, carinhoso, Jesus afagou-lhe os cabelos e o entregou a Zacarias, a João de Cléofas, a Lívia, a Simeão e a todos os outros que iam compondo a corte dos seus novos seguidores, naquele ambiente de ventura espiritual.
O Amor ainda tinha uma vasta seara para ser trabalhada sobre a Terra.
Ali estavam despertando as novas ferramentas de Deus para o serviço rude de amarem sem esperar serem amados.
Eram as fecundas sementes que iriam ser atiradas novamente ao solo para multiplicarem-se na tarefa de espalhar Amor para todas as direcções.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:25 pm

12 - PALAVRAS DE ZACARIAS

Ao término daquele momento memorável para todos, tanto os que estavam reunidos à distância quanto aqueles que foram recebidos por Jesus, pessoalmente, foram encaminhados aos ambientes espirituais adequados à plena e mais directa recuperação, adaptando-se às novas realidades espirituais segundo o grau de afinidade que possuíam, ao lado de entidades amigas que os estavam ajudando.
Dessa maneira, o grupo de espíritos ligados entre si pelos dramas da última encarnação estava reunido, sob a protecção de Zacarias que, no seu modo generoso e fraterno, humilde e doce, assumira a natural posição de pai daquele conjunto de entidades em processo de semeadura.
Trasladados, com o final do encontro, para um outro local propício aos primeiros entendimentos daquela hora e no qual se podia conversar com a desenvoltura dos velhos tempos, se reuniram Lívia, Simeão, Lucílio, João de Cléofas sob as vistas amorosas de Zacarias.
O ambiente aprazível era envolvente e inspirador, diante da beleza da natureza exuberante que rodeava aquele local, de uma constituição absolutamente desconhecida e impossível de ser descrita na linguagem humana, que não guarda terminologia adequada para tanto.
Saturado de forças revigorantes, era como um ninho que recebia os recém-chegados para que pudessem aproveitar o descanso depois da batalha.
A alegria no íntimo de cada um era transbordante.
Todos, sem excepção, se sentiam imerecedores da acolhida de que tinham sido objecto, mas a ventura íntima lhes dizia do grande Amor que o Mestre lhes devotava e que, por isso, a este sentimento seus corações se deixavam escravizar suavemente.
Valendo-se da hora favorável, Zacarias dirigiu-se a eles, dizendo:
- Como é bom podermos nos reencontrar nesta hora tão importante para os nossos destinos.
É certo que não tivemos, todos, a ventura de nos encontrarmos pelos caminhos do mundo, em nossa última encarnação.
Todavia, todos os que estamos aqui nos unimos por causa do Cristo.
Se não pude me acercar de Lívia nem de Simeão, Cléofas levou até eles a minha presença.
Se vocês não conheceram Lucílio, a tragédia do Circo os irmanou naquele dia de testemunhos valorosos.
O que é certo é que todos estamos unidos sob a bandeira augusta da esperança e, se o que recebemos neste ambiente espiritual excede em muito o nosso mérito pessoal, isso só nos infunde a convicção de que tais bênçãos não nos pertencem como privilégio.
Representam, antes, o sagrado depósito do Pai sobre nossos espíritos, a fim de que nos tornássemos mais fecundos na função pobre de sermos sementes úteis.
E porque fossem ditas com extremado carinho, as palavras de Zacarias produziam uma salutar atmosfera em suas almas que, silenciosos, não ousavam interromper a explanação do ex-sapateiro.
- A trajectória iniciada por Jesus necessita de mãos dispostas a dar-lhe ampliação, já que a seara é muito vasta e há muito solo a ser arado e preparado para a semeadura.
Nenhum dos elementos que já aceitou o convite amoroso do cordeiro pode ser dispensado da quota que lhe compete, no esforço pessoal, na luta árdua que prepara o terreno a fim de que se amplie o campo fértil.
Não estamos felizes apenas porque vocês voltaram.
Estamos exultantes porque nos reagrupamos de maneira a podermos buscar novos horizontes que propiciem ao serviço do Bem ampliar-se no mundo.
Baptizados no fogo da tragédia, saíram das chamas do incêndio sem se intimidarem com o seu calor e com as queimaduras que ele poderia produzir.
Esta coragem é o material principal daquele que aceita o serviço do Amor.
O egoísta faz planos para agir e retirar as vantagens para si mesmo de cada gesto.
O fraco procura reunir elementos e armas que lhe facilitem a defesa, agredindo se necessário for.
O orgulhoso perguntará sobre as glórias e poderes que serão lançadas sobre seu nome e sua tradição.
O vaidoso indagará dos louros que ornamentarão sua cabeça, como recompensa.
O preguiçoso pedirá repouso prévio para reunir maiores forças a fim de que, um dia, possa iniciar a obra.
O falso devoto esperará que algum outro comece para seguir-lhe os passos e dizer-se trabalhador da primeira hora, desejando os benefícios de um pioneirismo que não teve.
Todos estes podem realizar alguma coisa, mas são trabalhadores imperfeitos, ainda que estejam sempre proferindo o nome do Mestre com aparência de unção e respeito.
Seu devotamento é apenas fantasia bem costurada que oculta o corpo deformado onde se escondem defeitos.
No entanto, aquele que entendeu o que Jesus pretende para o mundo, com sinceridade e clareza, é um trabalhador de outra têmpera.
Não ingressa na jornada pensando em si e, por isso, sabe renunciar às suas aspirações e aos seus sonhos pessoais.
Não pede vantagens nem favores maiores do que aquele que já sabe possuir, pois para ele, nada é mais valioso do que o muito Amor que Jesus lhe devota, em nome de Deus.
Não se preocupa em defender-se com armas de pouca eficácia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:26 pm

Leva a prece como escudo e o Amor como a espada que rompe todos os pesados grilhões nas almas despreparadas para a mansuetude.
Tem em Deus o soberano protector e a Ele se submete sem temor de ser injustiçado.
Sentirá ventura em ser esquecido, em não ser lembrado com respeito, já que não procura as glórias humanas nem deseja ser enaltecido pela ignorância, o que representaria sempre uma ligação espúria com o mal.
Todos os que se regozijam com os aplausos da ignorância dão provas dos elos que carregam com a retaguarda.
Por isso, esse que entendeu os ideais de Jesus com verdadeira lucidez, não se deixa deter pelas cerimónias e homenagens, no gozo constante de uma vaidade balofa e oca.
Se os recebe, atribui-os ao verdadeiro dono, àquele generoso patrão que o paga e o sustenta e, feito isso, segue adiante no cumprimento das obrigações espirituais que lhe competem.
Quando cansado, só se permite repousar depois que não houver mais nada a fazer, impondo-se o regime de esforço redobrado, diante do exemplo recebido daquele que o assalaria, a quem não é dado um minuto sequer de repouso, ante a Obra que o Pai lhe atribuiu.
Assim, se o Amo trabalha sem descanso, como pode o servo pedir o repouso, enquanto o patrão segue trabalhando?
Enfim, o verdadeiro servo da bondade, ainda que não seja bom como deseje ser, não fica esperando que os outros dêem o primeiro passo.
Age com humildade e se oferece para a obra, sem desejar enaltecimento, sem pleitear os lugares de realce, sem se deixar levar pelos brilhos sedutores e falsos das lisonjas humanas, sempre armadilhas edificadas para tirar o trabalhador do caminho certo.
E dentro deste perfil, todos vocês possuem as qualidades necessárias para que mais sementes possam ser espalhadas, em nome do muito Amor que Jesus nos dedica.
A palavra de Zacarias emocionava os espíritos de seus companheiros que, embevecidos, pareciam se sentir transportados para um mundo de sonhos do qual acordariam a qualquer momento.
Vendo que estavam de tal maneira envolvidos pela emoção, e desejando que eles também pudessem participar activamente de tal colóquio fraterno, Zacarias calou-se e, sorrindo, deu a entender que gostaria que eles também falassem o que sentiam.
Simeão, na sua experiência e no seu modo humilde, entendendo a intenção de Zacarias, tomou a palavra e deu início à conversa:
- De minha parte, querido irmão, reconheço-me despido de virtudes e forças para pleitear semelhante condição de semeador.
Meu espírito, no entanto, muito se alegrará se o Divino Amigo, por sua alma generosa e simples, me aceitar para que possa trabalhar em alguma coisa.
Estimulados pela palavra de Simeão, os demais foram se soltando também.
João de Cléofas, emocionado por poder dirigir-se, agora, directamente, deu vazão ao seu sentimento, dizendo:
- Minha dívida para com Zacarias já é impagável pelo muito amor que dele recebi, pelo perdão que pude aprender de sua alma amiga.
Que dizer, então, da dívida para com o Mestre a quem, todos nós, aprendemos a Amar e a buscar como a mariposa se deixa embevecer pela chama luminosa.
Antes de Zacarias e de Jesus, era um espírito egoísta, mesquinho, mundano.
Graças a eles, já sou alguém que tentou rectificar sua trajectória de erros clamorosos, através da obra no Bem que aprendi com ambos.
Também não me vejo com direitos ou ambições.
Apenas necessito do vasto campo de trabalho, no qual pretendo continuar lutando para expurgar minhas imperfeições à sombra dos exemplos de Cristo e de todos vocês.
Zacarias sorriu-lhe humilde e fraternalmente, dando a entender que aquelas palavras não deveriam mais ser dirigidas a ele, pois não tinha, em seu coração, qualquer lembrança negativa dos erros de Cléofas.
Lívia, emotiva, tratou de manifestar-se, igualmente:
- Minha alma débil não pode imaginar que utilidade possa ser vista nas pequenas forças que possuo.
No entanto, aprendi com o carinho de Simeão, com os exemplos de Jesus a nunca desanimar e a buscar sempre construir o Bem sobre os escombros da dor e da desilusão. Minha união matrimonial me ensinou a ser assim e a tudo suportar pelo desejo de compreender os que não entendem, de ajudar os que fazem a injustiça, de alimentar os que produzem a fome nos outros corações.
E se falo assim não o faço como a esposa que guarda mágoa daquele a quem me entreguei com todas as forças de meu espírito.
Falo como aquela que muito aprendeu nas lições que tive de enfrentar, mas que reconhece que, aquele que foi o agente de tais dores, sofrerá ainda mais quando perceber o tamanho de seu equívoco, apesar de meu carinho e meu Amor incondicional.
Ante a perspectiva de ser julgada por Deus e a de ser julgada por mim mesma, aceito o veredicto do Pai que sabe ser muito mais generoso do que nós próprios quando lançamos as sentenças sobre nossos equívocos, depois de termos nos arrependido das falhas cometidas.
Entendendo que lhe seria permitido falar, também, Lucílio esperou que Lívia terminasse e se pronunciou, assim:
- Meus irmãos, se a todos vocês, que tiveram o privilégio de conhecer o Mestre querido, impõe-se a noção de inutilidade diante da grandeza de seu Amor, que dizer a mim, que não passo de um reles soldado, sem capacidade ou requisitos morais que me permitissem, ainda que por um momento fugaz, imaginar ser possível esta cena que presencio?
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Série Lúcius - A Força da Bondade / André Luiz Ruiz - Página 2 Empty Re: Série Lúcius - A Força da Bondade / André Luiz Ruiz

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 29, 2014 10:26 pm

Dentre todos vós, sigo eu acreditando que Deus errou ao me ter conduzido para cá e que, se aqui estou, é apenas pela misericórdia que se deve ter para com um leproso da alma.
No entanto, ainda que eu tenha sido um equívoco das potências superiores que nos colocaram juntos aqui, procurarei aproveitar dessa companhia luminosa e aprender até que o funcionário de Deus, encarregado de corrigir este erro me venha buscar e indicar o lugar onde devo permanecer.
Enquanto isso não ocorre, procurarei estar a serviço, como todo soldado, seja de Jesus, seja de todos vocês.
Depois que todos já tinham se manifestado, Zacarias ia preparar-se para continuara sua explicação, quando Lívia pediu para perguntar, no que foi atendida.
- Desculpe-me a ousadia, querido irmão, mas diante de nossa ventura e das nossas condições actuais, não posso deixar de me lembrar de outros irmãos que, na trajectória comum na última encarnação, tiveram seu destino marcado por decepções e dores espalhadas por onde passaram.
Naturalmente, não pretendo estabelecer qualquer comentário negativo sobre falhas que, também existem em mim e estão gravadas na alma.
Apenas gostaria de pedir que você, querido Zacarias, nos falasse do que aconteceu àqueles com quem convivemos e que, na insensatez de sua imaturidade, regressaram ao mundo espiritual antes de nós, como foi o caso do governador Pilatos e de nossa irmã Fúlvia.
Vendo-lhe o interesse, Lucílio se deixou levar também pela indagação e, fazendo suas as palavras de Lívia, já que ele estivera com o governador até os últimos dias que antecederam o seu suicídio na prisão em Viena, aproveitando-se do momento para pedir informações sobre Sávio, aquele soldado romano que fora, indirectamente, o envenenador do próprio Zacarias na última encarnação.
Simeão, igualmente tocado pelo momento, desejou que Zacarias falasse sobre aquele que o havia vitimado naquele entardecer cruel na Samaria de outrora, como verdugo romano que pretendia intimidá-lo, o lictor Sulpício.
Deste modo, todos os sentimentos generosos estavam, agora, voltados a buscar informações sobre os que houveram se perdido nos caminhos escusos do mundo, nos actos de crueldade, de agressão, de vício e fraqueza moral.
Demonstrando a preocupação fraterna e sincera, Zacarias esperou que todos se manifestassem e, de maneira pausada e serena, deu-lhes a entender que lhes iria contar todo o acontecido.
Afinal, segundo ele próprio lhes diria, aquela reunião que estavam realizando tinha a ver, exactamente, com os processos de amparo que Jesus desejava fosse levado a todos eles, como forma de que viessem a sentir a renovação íntima brotar em suas almas.
E as realidades cruéis que tinham atingido a todos os gozadores do mundo ensinariam aos novos integrantes da família espiritual a serviço de Jesus que ali estava reunida, a entender a grande responsabilidade que é viver na Terra, como o vasto campo da sementeira, que pode ser de livre escolha, mas da qual derivará a colheita que será obrigatória e na exacta correspondência à qualidade da semente.
Conhecer-lhes o destino seria uma lição que colocaria em teste toda a capacidade de agir no Bem, no exercício da verdadeira compaixão que Jesus esperava que todos tivessem para com aqueles que haviam se pervertido, afastando-se do caminho recto da virtude espontânea e sincera.
Na palavra emocionada de Zacarias, todos entenderiam o que Jesus havia querido ensinar quando asseverara:
"A cada um, segundo as suas obras.
Todo aquele que com ferro fere, com ferro será ferido.
Com a mesma medida que medirdes, serás também medido."
E, encerrando aquela conversação amistosa, Zacarias sorriu, tristemente, e disse:
- Mais do que contar sobre eles, eu os levarei até onde estão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 30, 2014 10:10 pm

13 - O ABISMO

A escuridão se estendia por toda aquela vasta área, onde o medo e a astúcia tinham feito a sua moradia e escravizado aqueles espíritos que se houveram deixado levar pelo erro, pelo mal, pela ausência de sentimentos elevados.
A fim de que o leitor possa melhor avaliar a posição de inferioridade a que se aferram os espíritos que habitam estas regiões umbralinas, é preciso entender que o ser humano é o somatório de seus actos, pensamentos e sentimentos.
Na estrutura de suas vibrações pessoais, está definido o padrão de sua personalidade, como a impressão digital magnética inconfundível, que atesta o nível de elevação, de compromisso como o espelho fiel do seu carácter geral.
Dessa maneira, uma vez perdido o envoltório carnal, os espíritos, que até a morte física estavam levando a sua a vida de acordo com seus hábitos, seus costumes e com aquilo que se costuma chamar de "imposição do meio social", despertam no lado espiritual ostentando em si próprios o padrão luminoso ou escuro de todos os seus comportamentos, sem poder evitar que, no caso da ausência de luz pessoal, isso tenha sido produzido pela sua adesão ao tipo comum da conduta da maioria das pessoas.
Ser normal como a maioria das pessoas, fazer o que todo mundo faz, andar pelos mesmos caminhos e se desculpar, nos erros cometidos, alegando que nada mais fez do que seguir o grande rebanho dos inconsequentes, não servirá a ninguém como escusa ou argumento capaz de melhorar a sua posição vibratória.
Na realidade do mundo espiritual, a questão da essência é fundamental.
Seremos, efectivamente, aquilo que fizemos de nós próprios, ainda que o tenhamos feito tão somente para agradar aos outros ou para não destoarmos da maioria.
Esteja certo, leitor querido, que a maioria das pessoas também estará mal como aquele indivíduo que a imitou e se manteve sem melhoras significativas.
Deste modo, surpreendidos no plano do espírito, a maioria dos indivíduos se sente fustigada por essa aparente contradição, alegando de maneira infantil que conduziu sua existência por um caminho que lhe parecia justo e correcto.
Muitos costumam dizer:
Eu não fiz mal a ninguém; nunca prejudiquei o meu semelhante; nunca tirei o que não me pertencia.
Então, como é que vim parar aqui?
Onde está o Paraíso?
E, quando lhes é perguntado acerca do Bem que espalharam, se perdoaram os que os prejudicaram ou se dividiram o que lhes pertencia com os que nada possuíam, as respostas desaparecem e o desejo de encontrar o Paraíso murcha diante da realidade da omissão, do egoísmo, da indiferença para com os que eram seus semelhantes.
Por isso, quando o espírito recém-chegado da Terra se conscientiza de que não será capaz de esconder coisa nenhuma de suas intenções mais vis, de seus pensamentos mais ocultos e de seus actos mais inferiores - coisa que todos estão acostumados a fazer num mundo físico que admite todo o tipo de máscaras e disfarces, - se vê desnudado na sua maneira verdadeira de ser e, por mais que suas palavras digam o contrário - já que continuará tentando fantasiar a verdade com o ténue véu da fantasia - seu perispirito, como espelho de sua alma, denunciará a sua realidade à vista de todas as pessoas.
Será como o bêbado falando que não bebeu, mas sendo denunciado pelo próprio hálito.
Isso é o que espera pela maioria dos indiferentes, dos que se consideram razoáveis indivíduos, que muitas vezes se têm até mesmo na conta dos que são os eleitos de Deus.
Quando, no entanto, sobre a consciência do espírito pesam actos nocivos, erros clamorosos, deliberadamente cometidos sob a condescendência de um carácter ao mesmo tempo cruel e fraco, os efeitos de tais acções se cristalizam na estrutura subtil de seu envoltório energético e o deformam, desestruturando a sua harmonia pelo exercício de sentimentos contrários à lei de Amor que rege o Universo.
Estando de volta ao Mundo da Verdade, o espírito não tem como se livrar de suas marcas as quais, por si sós, são capazes de lhe fazer muito amargo o sofrimento na colheita dos frutos podres da sua semeadura negativa.
Além disso, estarão ao seu encalço muitas entidades que foram suas vítimas e que, no seu atraso espiritual ainda não foram capazes de perdoar e deixar a Justiça entregue aos gabinetes Divinos.
Milhões de criaturas que estiveram na aparente condição de vítimas se levantam todos os dias clamando contra seus algozes e desejando retribuir o sofrimento com mais sofrimento.
Então, como também estas criaturas são o fruto doloroso do algoz, correspondem ao património acumulado de seus erros e actos de agressão, o que as coloca no mesmo padrão vibratório e, em consequência, o agente do mal tem de receber, também, o espólio de seu investimento, multiplicado pelos juros da revolta e do ódio acumulados por muito tempo no coração dos que feriu.
A perseguição das vítimas é outro item desse cenário de dificuldades que é enfrentado pelo espírito que chega no porto da Verdade sem carregar maiores recursos que não a bagagem de lágrimas e decepções, sangue e tristezas que espalhou na Terra em troca de alguns momentos de gozo e prazer, poder e luxo, ostentação e grandeza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 30, 2014 10:10 pm

No lado espiritual da vida, a presença de entidades inteligentes mas cruéis possibilita que os espíritos sem méritos e que se tenham permitido vibrar nas mesmas condições inferiores, sejam igualmente fustigados, perseguidos e escravizados por seus antigos sócios de delitos, pelos que se haviam acumpliciado com eles enquanto estavam servindo aos interesses mesquinhos ainda no corpo físico.
Dessa maneira, também as entidades umbralinas que foram os antigos comparsas e, porventura, estejam há mais tempo na vasta região das sombras que circunda a crosta terrestre, se associam nas dores de seu associado de desatinos para manter-se no domínio de sua personalidade vulnerável e fraca, prolongando o poder que exerciam sobre ele.
Como se vê, leitor querido, o Mundo da Verdade revelará aos incautos seguidores da grande maioria dos que dormem e que estão acomodados, o cortejo de lágrimas e sofrimentos que os espera, sem que consigam alegar qualquer das tolices e das honrarias humanas como factor de atenuação.
Só o sentimento de nobreza, o Bem que se pratica sem desejo de realce, o Amor que se espalha por sinceridade e devotamento, a renúncia e o sacrifício dos próprios interesses, os actos que levaram esperanças aos aflitos, a fome, o frio, o cansaço que se enfrentaram para que outros comessem, se alimentassem ou descansassem corresponderão aos factores atenuantes de nossos erros a se levantarem como os nossos defensores no tribunal da Verdade incorruptível do mundo espiritual.
Por isso, o destino de nossos personagens foi tão díspar.
Não se tratou de nenhum privilégio de Deus a garantir a recepção luminosa para alguns e esquecer outros nas profundezas da dor.
Cada qual se elevou no caminho que quis ou se projectou no abismo que escolheu.
Por isso, na região tenebrosa da ignorância, muito diferente da noção infantil do inferno tradicional, se congregavam os espíritos de Pilatos, Fúlvia e Sulpício, como os pobres herdeiros de seus caprichos antigos, a sofrerem as consequências de suas condutas nas deformidades do próprio corpo espiritual, as perseguições da chusma enlouquecida pelo ódio que nutriam contra eles e, ao mesmo tempo, a companhia recíproca de si mesmos, sendo que Pilatos se sentia horrorizado ao contacto com a figura monstruosa de Fúlvia, Fúlvia tinha esgares de medo e desespero ao contacto do antigo amante a quem explorara em suas fraquezas e depois mandara matar e ambos se sentiam dominados pela crueldade de Sulpício, aquele espírito ignorante, que há mais tempo já tinha voltado para o mundo espiritual e que houvera sido o sócio de atrocidades e aventuras tanto de um quanto de outro.
Em Pilatos, no entanto, a mensagem do Cristo que Zacarias lhe havia revelado havia feito com que seu espírito se visse menos envolvido pelas nocivas vibrações de ódio e, carregando no pensamento a culpa pela morte de Jesus, sofria calado, sem revolta e, no fundo, guardava a lembrança daquele amigo e protector que lhe ofereceu a palavra de consolo e que, já havia muitos anos, não conseguia divisar novamente.
O sentimento de arrependimento lhe era favorável, ainda que o suicídio lhe pesasse negativamente, impondo as naturais consequências para a disciplina de seu espírito fragilizado diante das adversidades da vida.
Sulpício era o mais denodado cultor do antigo estilo de ser, aprendido e desenvolvido ao lado do ex-governador da Galileia, por quem nutria um certo carinho, mas que, no seu modo de entender, era encarado como uma ligação de comando e admiração que ele queria preservar, não perdendo o controle da situação.
Por esse motivo, mantinha o governador como que encarcerado sob os seus domínios, não lhe permitindo liberdade e determinando-lhe a rotina de todos os momentos.
O assassino de Simeão continuava a ser o terrível perseguidor, liderando a vasta rede de soldados que se mantinham unidos pelo medo de seu líder, acreditando que estavam a serviço de um exército fictício, que continuava nos abismos da morte a existir como na antiga Roma que haviam deixado.
Sobre Fúlvia, o que se pode dizer é que seu espírito estava em péssimas condições.
Sua atmosfera vibratória era o reflexo do mais absoluto desequilíbrio, comparando-se a estas loucas alucinadas dos piores hospícios que se conheçam na Terra.
Seu pensamento, acostumado às tortuosas trilhas por meio das quais tecia as intrigas, fazia os conchavos, se insinuava e corrompia, mandava matar e matava quando lhe era interessante, tinha muita dificuldade em aceitar a sua culpa no sofrimento de que se via vítima.
Sem noções espirituais elevadas e sem jamais ter-se submetido ao entendimento religioso de maneira sincera e devotada, ainda que fosse ilusório o mundo de seus deuses de mármore, não possuía nenhum requisito que pudesse atenuar-lhe a culpa por todos os actos praticados.
A intriga para destruir a união de Lívia com Públio, o assassinato de Sávio, a morte de Zacarias, a traição à sua irmã Cláudia, a degeneração de sua filha Aurélia, a conspiração para matar seu antigo amante, Pilatos, talvez o único homem por quem ela, realmente, houvesse tido um sentimento de afeição menos mentiroso, ainda que o visse apenas como um bibelô a serviço de seus caprichos, as tramóias engendradas contra muitos nas quais se servira de Sulpício e de sua cooperação, pagas com os favores carnais de seu corpo exuberante.
Ah! Que cortejo de misérias e dores poderia ser mais pesado do que tudo isso?
Daí, a condição de todos espelhar, efectivamente, a verdade cruel que eles mesmos produziram, como a necessária experiência dolorosa para servir-lhes de vacina contra os males futuros que teriam de suportar.
Compreendidas as coisas, no sentido da perfeição da Lei, importa que o leitor não se esqueça de que, nas palavras de Jesus, Deus quer misericórdia, não o sacrifício.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 30, 2014 10:11 pm

E, por isso, o Universo se estrutura sobre as leis magnânimas da solidariedade, da fraternidade, da renúncia dos melhores em favor dos piores.
E onde está a tragédia mais cruel, ali haverá de estar a fonte luminosa que o Céu envia para a iluminação e o reerguimento dos caídos.
Enquanto os homens, com seus actos insensatos constroem para si mesmos presídios morais onde se encarceram nas culpas de seus crimes, nos sofrimentos que compartilham como pena para seus delitos, nas perseguições que se estabelecem uns para com os outros como carcereiros do próprio mal, Deus edifica a escola da vida, na qual os piores são aceitos para que voltem a aprender com os que já se tornaram mais firmes nas escolhas e decisões diante dos problemas.
É com Esperanças e não com suplícios que se edifica o Reino de Deus.
Por isso, depois daquele encontro entre os nossos personagens, na luminosa atmosfera espiritual onde haviam sido acolhidos, como que uma ponte de luz se fez do alto para o abismo e, na forma de estrelas radiantes, o cortejo pequeno daquelas quatro almas desceu à escuridão, em cumprimento da Lei de Amor, que jamais esquece a ninguém, principalmente os mais empedernidos.
No abismo, protegidos por suas estruturas fluídicas e por seus sentimentos elevados, como escudos fixados no coração, se fizeram presentes Zacarias, Simeão, Lívia, João de Cléofas e Lucílio, a fim de darem continuidade ao trabalho de escultura do Bem, ainda que na rude pedra da ignorância e do crime.
A cena era dantesca aos olhares purificados daquelas almas preparadas para o caminho luminoso.
No entanto, nenhuma delas, ainda que em diferentes condições de lucidez e compreensão, se deixara levar por outro sentimento que não fosse o de compaixão por todos os que ali se encontravam.
Naturalmente, a chegada do pequeno grupo ao local escuro foi precedida de todo o tipo de explicações e preparo a fim de que o evento não fosse comprometido com comportamentos inadequados para aquele momento.
Do mesmo modo, as três principais criaturas a quem se buscava não seriam capazes de vislumbrar de imediato os visitantes em face de seus padrões vibratórios muito diferentes.
Falando ao grupo em tom muito baixo, quase que num sussurro, Zacarias explicou:
- Solicitei que Sávio nos encontrasse aqui, já que, por suas características vibratórias, poderá agir como nosso intérprete diante de nossos amigos, ainda despreparados para sentirem nossa presença.
Além do mais, Sávio está estreitamente ligado a toda esta história e, na sua última encarnação, pobrezinho, foi uma das vítimas da sedução produzida por nossa irmã Fúlvia, que pretendeu usá-lo para envenenar Pilatos no exílio, pagando pelo serviço homicida com a moeda do prazer para, logo depois, assassinar o jovem soldado que lhe devotava verdadeira paixão, com o cálice envenenado que o expulsou do corpo.
Como vocês sabem, não foi Pilatos que acabou vítima do veneno que Fúlvia havia entregado a Sávio.
Desse modo, pedi ao Senhor me permitisse receber o pobre rapaz assim que readquirisse a consciência depois que o corpo terminasse seus últimos estertores.
E, desde então, tenho procurado erguer o jovem que, no começo, foi vítima de cruel sentimento de ódio contra Fúlvia que o usara com sua astúcia.
Com o tempo, foi compreendendo as condições a que se deixou levar, percebendo que agira de maneira leviana e, por isso, encontrou espaço em seu bom coração para perdoar e aceitar ficar por perto de todos eles, nesta região inferior que lhe é compatível com as próprias vibrações sem, contudo, ser daquele que compartilha do desejo do mal.
Está por aqui, na condição de um enviado da Bondade a serviço do Bem.
Como ex-soldado romano, não destoa de boa parte daqueles que, por aqui, se mantêm postados como se estivessem fazendo parte do antigo corpo militar romano.
Fica por aqui sem levantar suspeitas, exactamente para poder apresentar notícias sobre a condição dos nossos amigos e, quando necessário, tenta ajudar como pode um ou outro infeliz que esteja cansado de ficar nesta dimensão tão densa e desgastante.
Próximo daqui, possui uma pequena choupana, levantada com os materiais precários e abundantes desta região vibratória mais densa e, lá dentro, mantém um pequeno arsenal de substâncias com as quais pode ajudar a amparar os aflitos, os feridos que andam por aí, andrajosos e sangrando, purulentos e sujos.
Alguns pequenos leitos macios podem propiciar momento de descanso para um ou outro que aceite a sua hospitalidade e, revestido por um tecido feito de energia desconhecida neste ambiente, o hóspede adormece serenamente e, durante o sono, recebe a carga de forças que lhe infunde uma nova dinâmica, fazendo como que uma terapia e livrando a entidade das mais grosseiras camadas que lhe cobrem os sentimentos.
Em geral, nessas horas de repouso, o efeito magnético permite que o infeliz irmãozinho se veja levado novamente às encarnações anteriores onde encontrou criaturas generosas que o acolheram, relembrando-se de mãezinhas carinhosas, de filhos amorosos, de situações de felicidade que ele julgava, há muito, esquecidas.
Seria como um colchão da felicidade, fazendo-o relembrar em forma de sonho, dos arquivos positivos que estão fixados na sua memória de espírito.
Pelo poder magnético superior de que é revestido o leito, somente as lembranças de padrão positivo são conectadas e trazidas à consciência do espírito a fim de que, quando acorda do sono maravilhoso, tenha desligado o pensamento do ódio, da mágoa e da dor, para dar espaço às lembranças boas que estão arquivadas em seu espírito e que tocam o seu coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 30, 2014 10:11 pm

Raros são aqueles que, depois de dormirem esse sono despertam da mesma maneira que estavam ao chegar.
Muitos pedem para ficar ali para sempre, pois já havia muito tempo que não conseguiam descansar e sonhar como o fizeram naquelas horas de sono.
Quando isso acontece, Sávio se comunica com os planos que lhe são superiores e estão encarregados de lhe dar suporte para esta tarefa e, se o espírito que se hospedou aceitar a ajuda, ele acaba levado aos hospitais espirituais que o acolherão em ambiente ainda mais propício e benéfico.
Deste modo, Sávio tem-se constituído, ao longo destas décadas, em um importante auxiliar nestas paragens, da mesma maneira que tem sido um fiel observador das actividades de Sulpício, Pilatos e Fúlvia.
E mal houvera terminado de referir-se a ele, eis que passos são ouvidos naquele ambiente soturno e denso, onde muitas entidades eram obrigadas a se arrastarem pelo solo, como que envergando carapaça muito pesada.
Era Sávio que chegava, humildemente.
Trazia a roupa de soldado romano como naquele período de sua última encarnação.
No entanto, tomara o cuidado de mantê-la sem o brilho e rutilância das antigas insígnias, dando a impressão de ser soldado que se igualava ao padrão de todos os outros, sempre mal vestidos, meio esfarrapados, com os peitorais corroídos, o capacete amassado, os penachos superiores desgrenhados e desbotados.
Vendo o grupo composto pelas entidades amigas de Zacarias, Sávio demonstrou certa timidez, mas ainda assim, dirigiu-se ao seu mentor, amorosamente:
- Que bom vê-lo, paizinho.
Estava saudoso de sua palavra neste ambiente sempre tão solitário.
- Que Jesus te abençoe, meu filho querido.
Eu também sentia falta de teu sorriso, respondeu Zacarias, afagando-lhe carinhosamente o rosto cansado, mas confiante e firme.
E dirigindo-se aos outros, apresentou-os a Sávio que, imediatamente, reconheceu Lucílio entre eles e, sem saber o que fazer, baixou a cabeça, envergonhado.
Afinal, Sávio havia sido um dos soldados que Lucílio havia escolhido para ser a escolta de Pilatos até o seu exílio em Viena, por acreditar que o jovem era digno de sua confiança.
No entanto, aproveitando-se dessa confiança que Lucílio depositava nele, Sávio se valeu de um momento de descuido para levar o veneno até Pilatos, cumprindo o que havia prometido à amante Fúlvia, que havia ficado em Roma, esperando a notícia da morte do cunhado.
Sávio, no entanto, viu seu intento de envenenar Pilatos frustrado pela acção generosa de Zacarias que, desconfiando da intenção de assassinar o governador, chegara ao cárcere no exacto momento em que Sávio lhe entregava a cuia de água com o veneno dissolvido. Zacarias, alegando sede, pede para beber e, sem desconfiar de nada, Pilatos lhe entrega o recipiente que ele ingere totalmente, para desespero de Sávio, que nada diz para não se denunciar.
Sabendo que Zacarias morrerá em poucos dias e, aproveitando-se da dispensa que Lucílio lhe havia conseguido junto ao comandante do acampamento militar, no amanhecer do dia seguinte Sávio abandona o acampamento e segue para Roma, antes que Zacarias seja encontrado morto e acabem pesando sobre ele todas as suspeitas.
Afastando-se para Roma, pensava que estaria acobertado o seu crime para sempre e que jamais iria ter que se defrontar com os personagens que acabaram sabendo que ele fora o responsável pelo envenenamento de Zacarias.
Lucílio, experiente militar que acompanhara todos os lances do acontecido, naturalmente concluiu que Sávio era a peça chave naquele processo de matar Pilatos que acabou por assassinar Zacarias e, por isso, naquela hora, Sávio não tivera como esconder a própria vergonha diante do amigo a quem fora desleal havia tanto tempo.
Lucílio percebeu o estado de constrangimento do antigo soldado e, sob o olhar atento e bondoso de Zacarias, entendeu que havia chegado o momento de libertar o antigo soldado de uma de suas vergonhas.
Sem titubear, Lucílio se aproximou de Sávio e lhe estendeu a mão, num gesto de fraternidade verdadeira.
- Querido Sávio, como é bom poder reencontrá-lo aqui, no trabalho do bem - disse Lucílio.
E pensando que aquela saudação espontânea era fruto da ignorância de Lucílio sobre a sua culpa, Sávio levantou a cabeça em direcção ao antigo centurião, seu chefe, e, evitando segurar-lhe a mão estendida, com humildade, respondeu:
- Meu senhor, antes que possa aceitar-lhe a generosa saudação, gostaria de confessar a minha indignidade perante a confiança que depositou em mim.
Eu tentei envenenar Pilatos na sua ausência e acabei matando o paizinho Zacarias, fugindo apressado logo depois.
Não sou digno de sua confiança e, por isso, assim me confesso antes que venha a manchar as suas mãos amigas com a culpa de meus actos infiéis.
Emocionado com a sinceridade daquele jovem, Lucílio se permitiu dizer, carinhoso:
- Pois agora, Sávio, não pretendo apenas que aceite o meu aperto de mãos.
Quero que me receba como irmão que o abraça, agradecido pela sua honestidade e que segue confiando em seu coração generoso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 30, 2014 10:11 pm

Dizendo isso, aproximou-se de Sávio e o enlaçou num abraço muito típico dos antigos soldados romanos, mantendo-o seguro de encontro ao coração, até que Sávio começou a chorar baixinho.
- Obrigado, Senhor.
Sua generosidade é muito maior do que mereço, mas ainda assim, agradeço a compreensão e o seu gesto me alivia a alma para que, apesar dos meus defeitos, eu possa sonhar ser melhor um dia.
- E isso já está acontecendo, meu amigo.
E vamos deixar para lá esse tratamento de senhor.
Sou seu irmão Lucílio e você é meu irmão Sávio, está bem?
Meio desconcertado, Sávio sorriu e aquiesceu:
- Está bem, irmão Lucílio.
Todos os demais se emocionaram com aqueles momentos de reencontro e de perdão que a escuridão umbralina havia testemunhado e que os séculos iriam selar nos processos de fraternidade e solidariedade verdadeiras.
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