LUZ ESPÍRITA
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Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

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Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar - Página 2 Empty Re: Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 10:04 am

Ele procurou defender-se:
- Não olhem para mim dessa maneira. Estávamos falando de Maria Lúcia e ele perdeu o juízo.
- O que disse a ele para perturbá-lo tanto? - perguntou Alzira em tom firme.
- Nada de mais.
- Diga a verdade.
- Sou seu amigo e tenho de mantê-lo informado sobre todos os passos de Maria Lúcia. Amigos são para essas coisas.
- Não acha que está indo longe demais? O namoro acabou faz tempo.
- Mas Gaspar ainda gosta dela, ora.
- Não prefere dar forças, ajudar positivamente seu amigo?
Henrique teve vontade de avançar e arranhar o rosto de Alzira. "Velha intrometida e macumbeira", pensou. Ela captou o teor energético dos pensamentos de Henrique e foi categórica:
- Pode pensar de mim o que bem entender. Mas não tem o direito de atazanar a vida do rapaz.
- Não estou atazanando, estou ajudando.
- Deixe Gaspar em paz.
- Mas eu...
Celeste alterou ó tom de voz:
- Deixe meu filho. Por favor, retire-se. Ele não está bem.
Henrique saiu contrafeito, mas sentia-se realizado.
"Adorei vê-lo chorar. Ele tem a cabecinha muito fraca, mesmo."
Alzira e Celeste reconduziram Gaspar à cama.
- Vamos meu filho, controle-se.
Alzira apagou a luz do quarto e deixou somente a do abajur acesa. Fechou a porta.
- Agora, meu filho, feche os olhos. — Virou-se para
Celeste e ordenou: — Faça uma prece.
- Uma prece?
- Sim, qualquer uma. Reze um Pai-Nosso.
- Está bem.
- Concentre-se. Coloque sua fé nessa oração, para que juntas possamos dar sustento e para que os amigos do astral superior possam fazer a limpeza do ambiente e da aura de seu filho.
Celeste assentiu com a cabeça. Fechou os olhos, concentrou-se na imagem de Jesus e rezou em voz alta o Pai-nosso. Enquanto isso, Alzira esfregou as mãos e ergueu os braços para o alto. Proferiu ligeira prece e começou a dar um passe de limpeza em Gaspar. O moço sentiu a princípio um torpor muito forte, como se mãos invisíveis estivessem arrancando algo pesado de sua testa. No momento em que Alzira começou a harmonizar os chacras do rapaz, ele sentiu como se leve brisa lhe tocasse o rosto. A sensação de peso desanuviou-se. Alzira sentenciou:
- Lentamente, abra os olhos.
Gaspar obedeceu e abriu-os.
- Fazia muito tempo que eu não sentia um bem-estar tão grande! Há semanas venho sentindo peso na cabeça, nos ombros. E assim, de uma hora para outra, desapareceu.
A senhora é incrível!
Ela riu.
- Não sou incrível. Somente usei os recursos que a natureza nos oferece. Você também pode fazer o mesmo.
- Verdade?
- Claro. Se estiver disposto...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 10:04 am

Gaspar levantou-se e procurou ser cordial:
- Desculpe-me, d. Alzira, mas não gosto de frequentar Centro Espírita.
- Você não é obrigado a nada. Claro que um Centro é um espaço onde podemos receber mais directamente ajuda espiritual e também é uma grande fonte de aprendizado.
Se quiser, pode estudar, tirar algumas dúvidas comigo e, se achar necessário, tomar uns passes de vez em quando para reequilibrar as energias. Se se dedicar aos estudos da espiritualidade e consequentemente do mundo energético, poderá até se dar passes, o que chamamos de auto-passe.
Gaspar admirou-se:
- Tenho condições de chegar a tanto? Não acho isso possível.
- Você pode realizar tudo que quiser. Se se acha em condições de melhorar, vai melhorar. Você tem sensibilidade, o que chamamos lá no Centro de mediunidade.
Celeste interveio:
- Ouvi falar sobre isso quando ele tinha dezassete anos.
- E disseram que eu tinha de estudar, desenvolver a mediunidade, caso contrário minha vida não iria para a frente. Não gosto de obrigações. Sou livre, cultuo Deus a meu modo — completou ele, cabeça baixa.
- Você está com a razão, meu jovem - ajuntou Alzira. - Ninguém é obrigado a fazer nada que não queira.
Mas, sobre a mediunidade, cabe dizer que antigamente não dispúnhamos de tantas informações como temos hoje em dia. Tínhamos de aprender tudo às escondidas. As informações sobre espiritualidade eram escassas. Como as pessoas que estudavam esses assuntos eram tratadas com escárnio, muitas se fecharam em grupos, seitas, estudando clandestinamente. Por essa razão, só podíamos aprender, desenvolver e educar nossa mediunidade nos grupos esotéricos reservados e fechados, ou num Centro Espírita, mais acessível. Hoje, o mundo mudou, as informações estão ao alcance de todos. É só ir atrás delas. E há inúmeras fontes, trabalhos científicos, que comprovam a reencarnação, a vida após a morte, a influência das energias em nossa vida.
- Já li a respeito. Há pessoas sérias que comprovam a existência de tudo isso. Mas por que eu deveria aprender sobre essas coisas?
- Para se defender, meu rapaz. Veja... Se você aprender a tomar conta de sua mente, procurar sempre que possível cultivar bons pensamentos a seu respeito e a respeito dos outros, estará em vantagem. E, se estudar como nossa mente é capaz de influenciara nós ou aos outros, positiva ou negativamente, estará encontrando a chave para viver melhor consigo e com os outros ao seu redor.
- Como assim? Defender-me?
- Sim. Olhe para Henrique. Ele não é má pessoa, mas é escravo das próprias ilusões. Sente-se menos que os outros e mete-se na vida de todo mundo, trazendo tumulto e desordem. Se você soubesse um pouquinho que fosse sobre o mundo energético, poderia ter bloqueado os pensamentos negativos que ele emitiu e que o desequilibraram.
- Ele só quis me ajudar. Não teve culpa.
- Realmente não tem. Ninguém é culpado de nada nesta vida, porém somos responsáveis por tudo que pensamos e emitimos. Consegue imaginar nosso grau de responsabilidade?
- Se for assim que as coisas funcionam, nunca poderei estar bem. Não consigo deixar de pensar em Maria Lúcia.
- Sei que você sempre gostou muito dela. Mas devemos respeitar as escolhas que os outros fazem, mesmo que isso signifique estarem longe de nós. Se Maria Lúcia não quer mais namorá-lo, qualquer que seja a razão, você deve respeitar essa decisão. Não existe nada mais constrangedor para um ser humano do que rastejar por outro, em busca de migalhas de amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 10:04 am

Gaspar e Celeste arregalaram os olhos. Alzira falava com firmeza, embora sem perder o sorriso nos lábios. Ela continuou:
- Relacionar-se com outra pessoa é muito bom. Aprendemos a doar, a aceitar a pessoa como ela é. Somente nas relações pessoais é que enxergamos nossos limites, nosso grau de paciência, nossa flexibilidade.
- Sempre aceitei Maria Lúcia do jeito dela. Nunca a recriminei.
- Você sempre a aceitou, mas só o fazia porque tinha medo de ficar sem ela. Fez tudo por obrigação, e não porque seu coração assim quisesse. Sempre teve medo de lhe dizer "não". E veja só o resultado: está só.
-Serei eterno solteirão. Não há mulher no mundo que me Interesse. Nem mesmo Estela.
- Pelo menos fique do seu próprio lado — finalizou
Alzira. - Estude, conheça seus pontos fracos, determine onde você se desequilibra com facilidade. Aprenda a lidar com tudo isso, fortaleça seus pensamentos no bem, procure ter uma relação saudável consigo mesmo. Nunca se esqueça de que quando nós mudamos, as pessoas ao nosso redor mudam ou vão embora, porque tudo na vida é uma questão de sintonia. Experimente. Não custa nada tentar.
Gaspar aproximou-se de Alzira, pegou suas mãos e beijou-as. Depois, pousou delicado beijo em sua testa.
- Não sabe o bem que me fez. De hoje em diante não vou mais rastejar. Quero mudar, sei que tenho qualidades e que há outras pessoas interessantes que pensam e dão valor às mesmas coisas que eu. A senhora pode me trazer os livros o mais cedo possível?
Celeste não conseguiu deixar que uma lágrima escorresse pelo canto do olho.
- Jesus seja louvado! Filho querido, você está até mais corado. - E, virando-se para Alzira: - Obrigada, minha amiga. Não sei como agradecê-la.
- Não tem o que me agradecer. Fico feliz de vê-los bem. Não se esqueçam de que sou vizinha de parede e, se vocês estão bem, fico ainda melhor.
Os três deram sonora risada. Alzira continuou:
- Amanhã trago-lhe alguns livros.
- Obrigado.
Celeste estava tão feliz, que emendou:
- Isso mais nos pareceu um milagre. Quando é que você vai ao Centro de novo, Alzira?
- Na próxima terça haverá sessão de estudos e passes.
- Posso ir junto?
Gaspar espantou-se:
- A senhora? Não acredito!
- Pois pode acreditar. Se esse lugar que Alzira frequenta ensina todas essas coisas boas que ela nos disse e fez, por que razão eu não deveria ir? Também quero mudar.
Quero que nossas vidas caminhem para a frente. Juntos, eu e você, Gaspar, iremos longe.
Alzira animou-se:
- Assim é que se fala!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 10:05 am

Capítulo 6
Marines estava colocando o bolo para assar no forno, quando ouviu os berros vindo do andar de cima.
Jogou a forma sobre o fogão e subiu correndo.
- O que está havendo? Por que tanta gritaria?
Iolanda tremia dos pés à cabeça.
- Sua irmã, essa desmiolada! Onde já se viu?
Marines olhava para a mãe e para a irmã, sem nada entender. Iolanda dirigiu-se até ela.
- Olhe o que encontrei na bolsa dessa doidivanas.
Iolanda pegou a caixinha e colocou-a nas mãos de Marines.
Maria Lúcia permanecia imperturbável:
- Mamãe está nervosa porque achou uma caixinha de pílulas. Pode?
Marines mordeu levemente os lábios. Perguntou:
- Você está tomando pílula anticoncepcional desde quando?
- Desde que comecei a sair com Eduardo, ora.
Iolanda espumava de ódio. Estava ao lado de Maria
Lúcia e levantou a mão. Maria Lúcia gritou:
-Isso, vamos, mãe, bata! Pode me encher de porrada.
Sempre quis fazer isso, não foi?
Marines procurou contemporizar:
- Calma, gente. Assim não vamos chegar a lugar nenhum. Vocês estão nervosas.
- Não estou nervosa. Mamãe é que é intrometida e mexeu em minhas coisas.
- Desnaturada! Sua bolsa estava jogada no chão, como sempre. Guardei seus pertences sem procurar por nada. Mas, no momento em que vi essa caixinha...
- Tanto barulho por nada...- Como pode fazer uma coisa dessas connosco?
-A vida é minha. Você deveria me beijar, felicitar-me: sou ajuizada.
- E seu pai? Imagine se ele descobre...
- Eu ia conversar com vocês depois, mas aí...
- Cale a boca, mentirosa! Ia contar era no dia de
São Nunca!
Maria Lúcia retrucou, enérgica:
- Você sempre foi muito nervosinha, estourada.
Devia me dar os parabéns, afinal de contas estou me cuidando. Acha que eu iria me entregar a um homem sem me cuidar?
- Esse é o problema: entregar-se. Quer dizer, então, que você não é mais virgem? Se esse tal de Eduardo não quiser mais saber de você, o que vai fazer da vida?
- Sei lá. Nunca pensei nisso.
Iolanda olhava para Marines como a pedir ajuda.
- Diga-me, Marines: estou louca ou você está ouvindo o mesmo que eu? Maria Lúcia enlouqueceu.
Marines nada disse. Maria Lúcia continuava, firme:
- Eduardo nunca vai me deixar.
- Como pode ter certeza disso? Fala com tanta convicção!
- Ora, ele está caidinho por mim. Vou me casar com ele, vocês vão ver.
Marines interveio, tentando apaziguar os ânimos:
- Por que então você não o traz aqui para jantar, qualquer dia desses?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 10:05 am

Maria Lúcia riu com desdém.
- Está louca? Trazê-lo aqui neste pardieiro? Eduardo é homem rico, acostumado ao luxo, um Araújo Vidigal. O que viria fazer aqui em casa? Comer macarrão com frango?
Você tem cada ideia, Marines!
- E qual o problema? - interveio Iolanda. - Se as coisas andam por esse caminho, por que não o traz para o conhecermos? Ou vamos ter de esperar até o dia do casamento?
- Pode ser. Tenho de ficar mais amiga de d. Adelaide, minha futura sogra. Ela não vê essa relação com bons olhos.
Mas vai ter de me engolir.
Iolanda estava estupefacta:
- Como pode falar assim dela? Se eu fosse a mãe dele, faria a mesma coisa. Você acha que pode manipular os outros como bem entender, Maria Lúcia? Em que mundo vive?
- No mundo dos espertos. Manipulo mesmo. Não meço esforços para conseguir o que quero. Qual o problema nisso? É crime?
- Não quero mais escutar essas besteiras. Assim que seu pai chegar, vamos conversar.
- Não, senhora. Vou sair com Sónia.
- Sair com Sónia não pode ser mais importante do que conversar com seu pai sobre pílula anticoncepcional.
- Hoje, não, já disse. A senhora quer parar de me atormentar?
- Você é minha filha, temos de conversar.
- Sou sua filha, mas não pedi para nascer.
Iolanda nunca vira Maria Lúcia falar daquela maneira.
A jovem carregava tanto ódio nas palavras, que Iolanda até se sentiu zonza.
- Não precisa falar com mamãe nesse tom.
- Cale a boca você também, santinha do pau oco. Você é muito boazinha, e tenho raiva de gente assim.
- Por que me odeia tanto?
- Não odeio, mas devo admitir que não gosto de você.
Se não fosse por papai, bem que eu teria saído de casa.
- Então por que não sai agora? — disse Iolanda, em tom desafiador. — Se não nos quer bem, pois saia.
- Eu?! E estragar meus planos? Nunca! Engoli muito desaforo, já vivi demais no inferno que é esta casa. Estou prestes a ficar noiva e me casar. Quer que eu saia? Jamais!
Vai ter de me suportar. Você me gerou, tem obrigação de cuidar de mim até que eu me case.
Iolanda irrompeu em soluços. Agarrou-se a Marines, dizendo aos prantos:
- Ela sempre me odiou. Nunca gostou de nós. Floriano a estragou, de tanto mimá-la. Olhe só no que deu. Minha própria filha...
Marines abraçou a mãe, buscando confortá-la:
- Não chore. Fique calma. Vocês estão nervosas.
Discussões são assim mesmo. Logo tudo vai estar bem de novo.
Maria Lúcia começou a cantarolar. Saiu do corredor, entrou no quarto e bateu a porta com força. Iolanda secou as lágrimas com o canto das mãos. Olhou com pesar para Marines.
- Onde foi que errei? Por que vocês duas são tão diferentes?
- Personalidades diferentes. Maria Lúcia sempre foi assim, desde pequena.
- Mas ela nos agride com esse comportamento. E você, então, nem se conta. Com você, ou ela só grita ou só fala o necessário. Poderiam ser amigas.
- Eu bem que tentei, mas ela é assim, mãe. Temos de aprender a respeitar os outros e aceitá-los como são. O que posso fazer? Mudar de casa? Não. Somos irmãs, vivemos sob o mesmo tecto, e um dia cada uma vai seguir seu caminho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:23 pm

- Não sente raiva de sua irmã?
- Não.
- Pois deveria.
- Nunca. Maria Lúcia é estouvada, tem lá seus defeitos.
- Ela é um monstro.
- Também não exagere!
- Tenho pena desse moço que ela está namorando.
- Por quê?
- Não sei, mas sinto que ela vai fazer dele gato e sapato.
Marines abraçou-se à mãe.
- Ele gosta dela. Maria Lúcia também tem seus encantos.
- Sedutora de araque! Ainda vai se dar mal por agir dessa forma.
- Não fale assim, mãe. É sua filha.
Iolanda assentiu com a cabeça. Esboçou pequeno sorriso.
- Você vale ouro.
Marines riu.
- Diz isso porque gosta de mim. Sempre se deu bem comigo. Já com Maria Lúcia...
- Procurei fazer o possível, mas, não sei... Há alguma coisa que me impede de amá-la como amo você. É por isso que as coisas estão assim agora. Deus deve estar me castigando por fazer diferença entre as duas. Mas é algo mais forte do que eu.
- Sei disso. Não se trata de culpa, mas de afinidade.
Procure aceitar Maria Lúcia do jeito que ela é. Deixe-a ser livre para escolher. É mulher feita, está muito interessada nesse rapaz. Quem sabe logo não se casa e vai viver a vida que sempre sonhou? Tenha um pouco mais de paciência.
- Você é tão compreensiva! Como pode? Ela a trata mal, e você ainda a defende!
- Não estou defendendo, mas mostrando que cada um é único. As pessoas não têm a capacidade de mudar os outros ou o mundo, mas somente a si mesmas. - Fez breve pausa e propôs: - Vamos fazer o seguinte: desça, ajude-me a terminar o jantar. Bati um bolo; está sobre o fogão. Coloque-o no forno para mim. Papai logo vai chegar do serviço.
Não lhe diga nada sobre as pílulas. Vamos procurar manter um clima de harmonia em nosso lar. Enquanto isso, vou dar uma palavrinha com minha irmã, certo?
Iolanda beijou a filha, baixou a cabeça e desceu as escadas. Marines bateu levemente na porta do quarto.
- Pode entrar. Nesta casa não se tem privacidade nunca.
- Sou eu.
- O quarto também é seu. Entre.
Marines entrou, fechou a porta e sentou-se na beirada da cama.
- Então é sério?
- O quê?
- Esse seu namoro com o irmão de Sónia.
- Está sendo. Ele ainda não caiu em minhas garras, mas hoje prometo que as coisas vão melhorar para o meu lado.
- Como assim?
Maria Lúcia levantou-se e deu um saltinho. Olhou para a irmã e fez muxoxo.
- O que foi?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:24 pm

- Nada.
- Não confia em mim, não é?
- Você e mamãe estão sempre grudadas.
- Você e papai também.
Maria Lúcia riu. Era verdade: ela vivia agarrada ao pai. Sentia-se protegida quando Floriano se encontrava por perto. Estava tão ansiosa, que não conseguiu se segurar.
- Sónia vai me levar à mulher das cartas.
- O quê?
- Isso mesmo, Marines, a mulher das cartas. Ela atende só gente da alta. Nada de trambicagens. É uma das melhores da cidade, talvez do país.
- Não acredito!
- Tudo que ela diz acontece.
- O que tanto anseia saber?
- Quero saber se vou me casar logo.
- Mas você tem de estar preparada para ouvir tudo.
Maria Lúcia bateu três vezes na cabeceira da cama.
- Não fique botando uruca. Quer que eu me dê mal?
- Não. Nunca pensei isso. Mas... e se ela lhe revelar algo desagradável?
- Tudo está a meu favor. Só vou lá para confirmar.
- Quanto essa mulher cobra?
- Sei lá.
-Tem dinheiro? Desde que saiu do salão...
- Eu agora namoro Eduardo Araújo Vidigal. Não posso mais trabalhar naquela espelunca - mentiu, afinal sua família não soubera da briga entre ela e Estela.
- Estela foi super legal com você.
- Ela que se dane. E exploradora, falsa.
- Se quiser, posso lhe emprestar algum.
- Não quero seu dinheiro.
- Por que não?
- Não quero dever favores a você. Se a mulher cobrar, quem vai pagar é Sónia.
- O que tanto quer saber?
- Não lhe Interessa. Vou descobrir um monte de coisas hoje. Dependendo do que ela falar, coloco meus planos em acção.
- Que planos?
- Já disse que não é de sua conta, Marines!
- E se ela disser que Eduardo não é para seu bico?
Maria Lúcia injectou-lhe olhos de fúria.
- Estraga-prazeres! Imagine se isso vai acontecer...
Nunca!
- Tem de estar preparada para tudo.
- Não me ponha medo. Está vendo como deseja minha infelicidade?
- Eu?! Nunca! Quero que seja feliz. Só acho jogo de cartas um assunto delicado.
- Qual nada! Nem que eu tenha de fazer macumba para segurar esse homem!
Foi a vez de Marines bater três vezes na cabeceira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:24 pm

- Não diga uma coisa dessas. Não se meta com esse tipo de coisa.
- Não tenho medo de nada. Faço o que precisar. Mas sinto que não vou ter de ir tão fundo. Eduardo está saindo comigo, está gostando de minha companhia.
- Você tem dormido com ele?
- Claro que não, boba.
- Como assim? Mamãe não achou uma caixinha de pílulas em sua bolsa?
- Precaução. Por acaso a caixa está aberta?
Maria Lúcia foi até a cómoda, pegou a caixa que originara a discussão e entregou-a à irmã.
- É mesmo: a caixa está lacrada.
- Fui ao médico no mês passado, fiz exames.
- Com que dinheiro?
- Sempre quer saber com que dinheiro, não? Que saco. Eu sei me virar.
- Quem lhe pagou?
- Sónia me pagou tudo. Médico de primeira, sabe? Só atende gente rica, consultório na Avenida Brasil, um luxo.
Estou óptima. E, como tenho de conquistar Eduardo a qualquer custo, já estou me precavendo.
- Você não o ama!
- Claro que não! Quem falou em amor?
- Mas pretende se casar com ele.
- E preciso de amor para me casar? De onde tirou uma ideia descabida dessas?
- Não acredito que pense assim. Vai usar o rapaz só para subir na vida?
- Sim.
- Isso é desumano.
- Não, querida. Isso é esperteza.
- E se ele estiver apaixonado?
- Problema dele, não meu. Somos adultos. Cada um que cuide de seus sentimentos.
Maria Lúcia abriu o guarda-roupas e começou a escolher um vestido. Marines levantou-se perplexa. Sem nada dizer, saiu do quarto, cabisbaixa.
"Coitado desse moço! Nas mãos de Maria Lúcia, vai comer o pão que o diabo amassou. Que Deus o proteja!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:24 pm

Capítulo 7
O edifício requintado, localizado na Avenida Angélica, era circundado por lindo jardim. Maria Lúcia tremia de ansiedade e emoção.
- Nunca pensei que esse tipo de consulta pudesse ser feito num lugar tão chique!
- Você estava achando que a gente ia lá para a periferia, num buraco qualquer?
- E não é assim, Sónia? Pelo menos, nas duas vezes que fui tirar a sorte, além de ser longe pra chuchu, nunca acertaram nada. Olhe lá o que está aprontando!
- Se você quiser, pode ficar aqui no hall de entrada.
Não precisa subir.
- Não - rebateu Maria Lúcia, categórica. - De jeito nenhum. Se os famosos vêm até aqui, é porque a mulher deve ser boa mesmo. Quanto ela cobra?
- Nada.
- Nada? Como assim? Vive de quê?
- Dolores vive da pensão do marido, militar graduado. O homem lhe deixou uma fortuna. Ela não precisa de dinheiro.
- Então por que faz isso? Se fosse para aparecer, tudo bem, mas nunca ouvi falar dessa mulher, tampouco li alguma matéria sobre ela em revista ou jornal.
- E, se depender de quem aqui vier e da própria Dolores, o mundo nunca vai saber. Ela odeia publicidade.
Começou a fazer isso desde que o falecido lhe apareceu, anos atrás.
Maria Lúcia não acreditava nessas idiotices. Para ela, a morte era o fim e pronto. Mas precisava mostrar interesse.
- Verdade? O defunto apareceu para a mulher?- Apareceu e veio contar como é o lado de lá, o mundo dos espíritos. Dolores sempre foi descrente, nunca acreditou em nada; nem à igreja ela ia. Depois disso, passou a estudar, frequentar Centro. É muito amiga de Chico Xavier.
- É mesmo? Mas esse negócio de jogar cartas não é besteira? Atirar um punhado de cartas assim na mesa e começar a falar sobre sua vida? Acho muito fantasioso.
- E por que veio, então?
- Ah, porque mexe com a gente. Tem essa aura de mistério. Eu gosto disso.
Sónia deu uma risadinha.
- Vamos ver qual será sua impressão ao sair daqui.
Tocaram a campainha, e uma simpática empregada atendeu-as.
- Madame Dolores vai recebê-las num instante.
Quem vai primeiro?
Sónia apontou para Maria Lúcia.
- Minha amiga. É a primeira vez dela.
- Não, Sónia. Prefiro ir depois de você.
- O que foi? Está com medo?
- Que medo, que nada! Acabei de chegar. Pode ir na frente, que fico aguardando.
A empregada interveio sorridente e conduziu Maria Lúcia até confortável poltrona.
- A senhorita pode aguardar aqui.
- Assim é melhor. Pode ir, Sónia. Vá saber o que o futuro lhe reserva.
Ambas riram e Sónia desapareceu no corredor com a empregada. Maria Lúcia ajeitou-se na poltrona. Começou a percorrer a sala com os olhos.
- Que bom gosto! Casa de madame rica, mesmo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:24 pm

Ela se levantou e começou a andar pelo apartamento.
Tudo muito bonito. Os móveis eram finíssimos; a decoração, primorosa. Maria Lúcia ficou admirando o aposento por longo tempo, até que vozes vindo do corredor a arrancaram de seus devaneios. Sónia trazia alegria estampada no rosto.
- Dolores vai lhe atender agora.
- Mas já? Você mal entrou.
- Imagine! Ficamos quase uma hora conversando.
- Puxa, estava aqui encantada com o apartamento.
Nem vi o tempo passar.
Maria Lúcia sentiu uma ponta de ansiedade. Respirou fundo.
- Bem, agora é minha vez.
A empregada foi solícita:
- Acompanhe-me, por favor, senhorita.
Ela se deixou conduzir. O corredor do apartamento era comprido. No final dele e após passarem por várias portas, a empregada bateu levemente em uma que estava entreaberta. Do outro lado ouviu-se um "Pode entrar".
Dolores estava sentada numa mesa de frente para a porta. O quarto era iluminado por ténue luz azul, vinda de um abajur sobre a mesa. Duas cadeiras, uma poltrona e um quadro de Jesus e Maria abraçados, atrás da médium, mais nada. Maria Lúcia decepcionou-se com o ambiente, simples demais, segundo sua opinião. A empregada fez a moça sentar-se e saiu, fechando a porta com delicadeza.
Dolores encarou-a com um sorriso nos lábios:
- Este aposento é simples, mas aqui tenho o necessário para as consultas. Não há necessidade de luxo.
- O que disse?
- Muitos se decepcionam quando aqui entram.
- Eu não disse nada.
- Mas pensou.
Maria Lúcia sentiu um arrepio. Dolores prosseguiu:
- Eu capto os pensamentos das pessoas com facilidade. Neste quarto, onde pratico meus dons sensitivos, fico ainda mais sensível aos pensamentos das pessoas.
Maria Lúcia estremeceu de tal forma, que deixou a bolsa cair. Desconcertada, abaixou-se, pegou a bolsa e voltou a sentar-se, sem graça.
- O que a trouxe até mim?
- Sónia fala tanto da senhora, que resolvi arriscar.
- Veremos.
Dolores exalou profundo suspiro. Concentrou-se, fez uma prece e, após embaralhar as cartas com maestria, colocou-as à frente de Maria Lúcia.
- Vamos, tire dez cartas.
- Assim ao acaso?
- Isso mesmo. Escolha dez cartas e coloque-as no centro da mesa, as figuras voltadas para baixo.
Maria Lúcia obedeceu. Mecanicamente, foi escolhendo as cartas e colocando-as no centro da mesa. Dolores pegou-as e foi virando uma a uma, fazendo um desenho com elas sobre a mesa. Em seguida, pegou mais algumas cartas e colocou-as uma a uma sobre as cartas escolhidas por Maria Lúcia.
Dolores exalou novo suspiro. Perguntou, sem desviar os olhos das cartas:
- Quem é Gaspar?
Maria Lúcia remexeu-se nervosamente na cadeira.
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Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar - Página 2 Empty Re: Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:25 pm

Sentiu as pernas bambas.
- É meu... Quer dizer... Foi meu namorado.
- Ele a amou de verdade.
- Sei disso.
- Você está tendo a oportunidade de se acertar com ele. O destino está em suas mãos.
- Não quero me casar com ele.
- Eu não disse isso. Você está tendo a oportunidade de se acertar. Podem ser amigos.
- Não creio.
- Ele não vai aceitar sua proposta.
- Que proposta?
- As cartas não mentem. Você quer que ele seja seu amante.
Maria Lúcia arregalou os olhos. Como aquela mulher sabia disso?
- Deixe-o em paz, pelo menos.
- Veremos.
- Você não terá permissão de perturbá-lo.
Maria Lúcia enervou-se.
- Não vim aqui para falar de Gaspar. É coisa do passado.
- Mas ele ainda está em sua linha de destino. Estranho...
Dolores tirou outra carta, mais outra.
- Impressionante! Ele não sai de seu caminho. Algo vai uni-los. Você tem algum parente próximo a ele? Uma irmã?
Ela se riu.
- Minha irmã e Gaspar são amigos. Jamais se apaixonariam.
- Muito estranho. Não consigo determinar o vínculo.
- Então embaralhe de novo. Está vendo? Nem as cartas querem falar de Gaspar.
- Vocês dois estão atrelados pelos fios do destino.
- Impossível! O destino não pode ser mais forte do que meu desejo.
- Você o ama?
- Não.
- Tem certeza? Ele aparece aqui em sua vida, em sua linha de destino.
Dolores achou tudo aquilo muito esquisito. Percebia que Maria Lúcia não estava ligada ao moço, mas suas cartas estavam dizendo o contrário, e elas nunca a enganavam.
Gaspar continuava presente na vida dela, de alguma forma.
A médium não estava conseguindo entender. Procurou concentrar-se. Tirou mais algumas cartas.
Maria Lúcia estava visivelmente perturbada. Interpelou:
- Escute aqui: não quero saber sobre destino, o que vai acontecer daqui a um, cinco, vinte anos, quando eu estiver velha e sem jeito de melhorar minha vida. Gaspar faz parte de meu passado. Suas cartas estão dizendo que ele não vai sair de minha vida. E não vai mesmo! Ele vai ser meu amante, mais nada. Nunca poderá me dar luxo, festas, dinheiro, viagens internacionais. Não poderá me fazer circular pela alta sociedade. Eu vim aqui por causa de outro e...
Antes de terminar, Dolores interrompeu-a. Virando uma carta do baralho, foi incisiva:
- Você quer Eduardo.
- Agora estamos começando a nos entender.
- Por que o quer tanto?
- Porque ele pode me dar tudo isso, além de ser atraente.
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Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar - Página 2 Empty Re: Medo de Amar - Marco Aurélio/Marcelo Cezar

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:25 pm

- Você não o ama e nunca o amou.
- O amor não existe.
— Vai se machucar.
— Dane-se. Ele apareceu aí em meu jogo. Então vai ser meu marido.
Dolores retirou outras cartas. A modulação de sua voz alterou-se sutilmente.
— Não vai ficar muito tempo com ele.
— Não quero. Desde que me dê sobrenome e dinheiro, já está óptimo.
Dolores não tirava os olhos das cartas.
— Há outra na vida dele.
Maria Lúcia deu de ombros.
— Pouco me importa. Vamos nos casar?
- Tudo indica que sim.
— Óptimo.
- Você o manipula com facilidade. Mas pode se dar mal. Tudo tem limite.
— Como, me dar mal? Ele não aparece aí nas cartas?
Então? É com ele que vou me casar.
— Sua vida poderá se tornar um inferno.
— Desde que fique milionária, topo qualquer negócio.
E filhos? Aparecem?
Dolores manuseou as cartas, tirou mais algumas e colocou-as sobre a mesa. Nesse momento, a médium sentiu uma tontura sem igual. Respirou fundo. O que as cartas lhe mostravam era desolador. Ela fitou Maria Lúcia com pesar.
— Só tenho a lhe dizer que somos responsáveis por nosso destino. Toda e qualquer atitude que tomamos no presente se reflecte naquilo que colheremos amanhã. Sua consciência a chama para o acerto, o equilíbrio emocional.
Precisa parar de manipular as pessoas com sua graça e charme. Precisa reaprender a amar.
- Tolice. O amor nos cega.
— Você tem uma visão errada acerca do amor. Mas a vida vai lhe ensinar a amar.
— Eu?! Suas cartas estão débeis, bêbadas.
— Não estou brincando.
Maria Lúcia encarou-a com desdém.
— Dane-se a vida. Pago o preço que for para me tornar e me manter rica. Faço o que quiser; ninguém manda em mim. E não tenho medo de ser cobrada no futuro. Sou dona de mim.
Dolores fechou o baralho. Não adiantava continuar.
O que viu naquelas cartas impressionara-a sobremaneira.
Nunca havia visto projectadas em suas cartas imagens tão desconcertantes.
- Vá com Deus, minha filha, e reze bastante por sua alma conspurcada. Você precisa de muita oração, para não cair em tentação.
Maria Lúcia levantou-se impaciente.
- Vim até aqui para ouvir só besteira?
— Veio ouvir o que tinha de ouvir.
— Ridículo! Foi por isso que Sónia veio primeiro, não?
Passou-lhe todas as informações a meu respeito, falou de Gaspar e de Eduardo, não foi?
— Eu jamais faria isso. Confio em meus guias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:25 pm

- Sei!
- A verdade é poderoso instrumento de destruição das ilusões.
- Dane-se você e a verdade. Você e suas cartas sebosas não me enganam, não! Vá para o inferno!
— Lamento que pense assim. Faço isso para ajudar, orientar as pessoas a tomar decisões mais firmes e condizentes com o que se propuseram antes de reencarnar.
Maria Lúcia deu uma gargalhada.
- Você é uma velha louca! Uma rica excêntrica que não tem nada de melhor para fazer na vida e fica se fazendo de sensitiva, de boazinha. Juro que nunca mais ponho os pés aqui.
- Só mais um aviso de meus amigos espirituais.
- Certo, macumbeira de luxo. Desembuche logo.
- Toda a intenção que você tiver, a partir de agora, será respondida na mesma proporção, seja boa ou não. Você não está mais protegida, porque tem consciência de fazer o melhor. Você sabe o que é o melhor e se nega a fazê-lo. É lúcida e completamente consciente de seus actos. Há pessoas que gostam de você, amigos do astral que estão prontos a lhe ajudar. Há até um que é capaz de reencarnar a seu lado só para amenizar seu sofrimento.
- E eu preciso de alguém para me amparar? Vou ter Eduardo e todo o dinheiro dele. Não preciso de mais nada.
Agora chega, porque ouvi besteiras demais.
Maria Lúcia rodou nos calcanhares e saiu, batendo a porta com força. Dolores olhou para o lado e viu um amigo espiritual de Maria Lúcia. Ele se aproximou e disse, em tom amoroso:
- Fizemos o possível, Dolores. Agradecemos sua ajuda. Maria Lúcia é livre para fazer o que quiser. Vamos orar e vibrar.
- Fiquei um pouco perturbada. Acabei sendo indelicada e rude. Não gosto de discussões.
O espírito riu.
- A energia de manipulação que circunda a aura de Maria Lúcia é muito forte e nos perturba. Você sentiu essas energias.
- Mas eu poderia ter somente registrado as energias e depois tê-las mandado de volta. Deveria ter ficado quieta.
- Ora, Dolores, só porque foi sincera? Os mais esclarecidos sabem que tudo que pensamos se materializa, seja no mundo que for. No mundo de vocês, o pensamento leva mais tempo para se materializar; aqui do nosso lado é instantâneo. Aqui se cria e disso se vive. Nada mais.
- Não gostei do que vi nas cartas. Se ela continuar com esta cisma de se tornar amante de Gaspar...
O espírito fez sinal de boca fechada, levando o indicador aos lábios.
- Isso não é problema seu. Não se deixe impressionar por um punhado de imagens. Maria Lúcia tem o poder em suas mãos. Tudo que foi mostrado pode ser alterado, a qualquer momento.
- Vou vibrar por ela.
- Sua leitura foi de grande valia, Dolores. Muito obrigado. Continue atendendo, orientando. E não se esqueça: cada um é responsável por si. Maria Lúcia ainda tem chances de mudar e alterar seu destino.
- Deus nos ouça.
O espírito deu um passe reconfortante em Dolores e se foi. A médium ficou em prece por alguns instantes e logo estava novamente em perfeito equilíbrio.
Maria Lúcia, após bater a porta, estugou o passo até a sala.
- Vamos embora.
- Como demorou! - reclamou Sónia.
- É mesmo? Nem vi o tempo passar. Vamos embora.
Saíram do prédio e entraram no carro. O motorista perguntou:
- Para casa, d. Sónia?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:25 pm

— Não. Leve-nos para aquele restaurante perto de casa. Vamos jantar.
— Sim, senhora.
No trajecto, as jovens não trocaram palavras. Chegaram ao restaurante, e o maître conduziu-as até a mesa preferida de Sónia. Após fazerem os pedidos, esta perguntou à queima-roupa:
- O que Dolores lhe disse, que a deixou tão furiosa?
- Nada.
- Como, nada, Maria Lúcia?
- Nada.
— Vai me enganar?
— Ela não disse nada de mais.
- Ouvi seus gritos. Você saiu perturbada.
Maria Lúcia remexeu-se na cadeira. Procurava não encarar a amiga.
- Fiquei preocupada, sim. Mas não acha que é tudo loucura de nossa cabeça? Mal sentei e a mulher leu meu pensamento.
Sónia deu uma risada gostosa.
— Eu falei que Dolores é fera.
— Mas quem garante que ela não fez uma pesquisa sobre mim?
- Ela é séria.
- Você mesma pode ter falado alguma coisa.
— Já sei. Dolores lhe disse algo de que não gostou, por isso está inventando um monte de besteiras, para não enxergar a verdade. Se ela falasse maravilhas, você bem que estaria marcando consulta para a semana que vem.
— Não sei, não. Fiquei intrigada.
— Você ama meu irmão?
A pergunta pegou Maria Lúcia de surpresa. Precisava ser excelente actriz. Aturava Sónia e aquelas conversas chatas sobre as injustiças sociais. Estava farta. Por que ela não pegava um avião e ia para a África? Por que não se tornava samaritana? Quanto desperdício! A vida era injusta. Aquela sonsa era rica e queria ajudar os feridos de guerra. E ela, que saberia muito bem usar o dinheiro, tinha nascido sem um tostão.
Maria Lúcia respirou fundo e olhou directamente nos olhos da amiga. Lágrimas forçadas começaram a escorrer por suas faces. Ela segurou as mãos de Sónia e falou em tom desesperador:
- Amo Eduardo mais que tudo neste mundo. Deus fez a forma de seu irmão e depois jogou fora. Não existe outro igual. Sou louca por ele.
Sónia comoveu-se. Também chorou.
- Eduardo vai ser muito feliz. Que sorte você aparecer em nossa vida. Isso tem dedo de Deus.
- Tem sim, um dedão!
— Prezo muito sua amizade.
- Obrigada. - Maria Lúcia fez cara de coitada. - Pena que sua mãe não pense assim...
Sónia concordou:
- É verdade. Não posso mentir. Mamãe não engole o namoro de vocês.
- Ela tem ciúme. É natural.
- Ela acha que...
— Vamos, fale. Estou preparada para ouvir.
— Ela acha que você não ama Eduardo.
— Defesa de mãe. A minha diz coisa semelhante. Acha que Eduardo não me ama.
— Verdade?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 22, 2024 8:25 pm

— Sim. Pode esperar, Sónia, que infelizmente o mesmo vai acontecer a você. Quero ver a reacção de d. Adelaide quando seu príncipe encantado aparecer.
- As mães são apegadas.
- O que mais posso fazer para mostrar à sua mãe que amo Eduardo?
- Case-se com ele e seja feliz. E encha sua casa de filhos.
Maria Lúcia segurou o riso. Imagine que iria deformar o corpo tendo um filho atrás do outro! Não era coelho! Se seus planos dessem certo, ela teria um. Só um filho.
Ela disfarçou o mal-estar, levantou-se e beijou a face de Sónia. Tentando dissimular para ganhar mais confiança e apoio da amiga, foi incisiva:
- Vou encher você de sobrinhos. Aguarde.
Maria Lúcia suspirou profundamente. Aquela representação a deixara tonta. Fizera tremendo esforço, e a idiota da Sónia acreditou, como sempre. Mas descobrira que Adelaide pressionava o filho. Ela nunca engolira aquele namoro.
Mas jamais poderia desconfiar de suas reais intenções. Maria Lúcia mentia tão bem! A velha era ciumenta mesmo. A jovem iria se aproximar e fazer novo sacrifício, mover céus e terra para agradar aquela velha jararaca. Ah, Adelaide iria gostar dela tal como uma filha legítima.
Maria Lúcia esboçou um sorriso diabólico. Nem mais prestava atenção às baboseiras que Sónia lhe falava. Olhava ao redor, as pessoas elegantemente vestidas, o requinte do restaurante. Pensou, entre ranger de dentes:
"Logo, logo, farei parte deste mundo. Serei rica, respeitada. E tanto Gaspar quanto Eduardo vão comer em minha mão".
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:31 am

Capítulo 8
No quarto, Adelaide andava de um lado para o outro, nervosa e impaciente. Osvaldo, colocando as abotoaduras no punho da camisa, tentava acalmá-la.
- De que adianta ficar assim?
- Não posso acreditar!
- Nosso filho é adulto.
- Jantar de noivado é praticamente um passo para o casamento.
- Calma, querida! Os jovens de hoje são mais rápidos do que éramos — disse ele, em tom de brincadeira.
- Mas só um ano de namoro? Muito pouco para um passo tão sério.
- Hoje um ano é muito.
- Eduardo parece enfeitiçado por essa moça.
- Ela é encantadora.
Adelaide deu um tapinha no braço do marido, em tom de reprovação.
- Conversou com ele? Porque comigo ele nem quer saber de conversa.
- Dou razão a ele; você só faz comentários maledicentes sobre Maria Lúcia.
- Quero abrir os olhos de meu filho.
- Por que tanta birra, Adelaide?
- Não se trata de birra.
- E trata-se de quê?
- Ela não ama Eduardo.
- Coisas de mãe...
- Ele vai ser infeliz. Sinto uma dor no peito só de pensar.
Osvaldo preocupou-se:
- É sério? Está com dor? Quer um comprimido?- Não é dor física.
- Como assim, não é física?
- Não sei explicar. É uma sensação ruim, um aperto no peito. Nem tenho dormido direito, ultimamente.
Osvaldo abraçou a mulher.
- Controle-se. Sei que é difícil para uma mãe deixar que o filho siga sua vida, que se case. Lembra como sua mãe ficou apática quando pedi sua mão em casamento?
- Outros tempos. Eu estava apaixonada; você, também. Eu era filha única. Mamãe ficou viúva muito cedo. Compreendi que a apatia dela era o medo de ficar só, e também houve a confusão que sua família aprontou para nos afastar.
Osvaldo pegou a mulher pelo braço e conduziu-a carinhosamente até a cama. Sentaram-se.
- Não estará fazendo o mesmo?
- Como assim?
- Não estará fazendo a Maria Lúcia o que minha mãe fez com você?
- É diferente.
- Não estará sendo injusta com essa menina?
- Não me importo com níveis sociais diferentes.
- Eduardo gosta dela. Sónia também gosta dela. Não podemos fazer nada.
- Sabe que não sou possessiva, tampouco retrógrada. Amo meus filhos; criei-os para o mundo, para a vida.
Mas sinto que essa moça não vai fazer bem a nosso filho. É como se ela fosse trazer sofrimento à nossa família.
- Só o tempo vai nos mostrar isso, Adelaide.
- Está tudo errado. Por que ela nos impediu de conhecer sua família?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:32 am

- Os jovens hoje são muito diferentes.
- Mas você não acha estranho? Vamos ao jantar de noivado de nosso filho, e somente esta noite iremos conhecer a família dela?
- Exacto. E nesta noite vamos tirar nossas conclusões. Eles parecem ser gente boa, segundo comentários de Sónia.
- Que pelo menos a família dela seja de pessoas de bem. Quem sabe eu não possa conversar com os pais dela e...
Osvaldo repreendeu-a.
- Não vamos nos meter. Se quiser, posso conversar com Eduardo. Mas, intrometer-me em sua vida, jamais.
Você mesma não disse que criamos nossos filhos para o mundo? Pois bem, Adelaide, vamos deixá-los seguir o caminho que quiserem. A nós, pais, cabe o apoio incondicional, mais nada.
- Está certo. Então faça um favor para mim.
- Claro que faço.
- Vá até o quarto de Eduardo e converse com ele.
Vocês dois sempre foram multo amigos.
- Vou, sim. Temos tempo de sobra.
Osvaldo foi até a penteadeira, abaixou-se e ajeitou o nó da gravata. Passou as mãos pelos cabelos embebidos em pasta e foi até o quarto do filho. Bateu na porta e em seguida entrou.
- Já arrumado, papai? Temos tempo.
- Sei, mas gosto de ser pontual.
- Vou me vestir.
- Importa-se se eu ficar aqui, enquanto se arruma?
- Fique à vontade.
- E então, meu filho, está feliz?
- Estou. Maria Lúcia é bonita, educada, inteligente.
Gosto de sua companhia.
- Você a ama?
- Ela é uma boa moça.
- Não me respondeu. Você a ama?
- À minha maneira, papai, sim. Não sou tão romântico.
Sabe que sou prático nessas questões.
- Tem razão: sempre foi reservado, nunca gostou muito de abraços e beijos.
- Não mesmo. E Maria Lúcia entende Isso. Foi a primeira garota que conheci que não me cobrou uma postura diferente. Geralmente as meninas querem que eu seja carinhoso, que as trate como nas histórias de fotonovelas. Eu tenho este jeito de ser. Talvez mude com o tempo.
- Você vai mudar se tiver filhos. Principalmente uma filha. Parece que os opostos se atraem, de verdade. Adelaide é louca por você e eu sou louco por Sónia. O pai sempre paparica a filha, protege-a. Espero que você tenha uma filha.
Aí quero ver se esse muro de frieza não virá abaixo!
Eduardo riu.
- Não sou frio, sou diferente. Maria Lúcia também é prática, sem dengos. Nós nos damos muito bem.
Osvaldo meneou a cabeça para os lados.
- E por que o noivado? Não acha que...
- Não acho nada, pai. Estou com trinta e um anos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:32 am

Maria Lúcia é uma mulher que acabou de completar vinte anos. Somos adultos, sabemos o que queremos. Por que esperar mais?
- Vai conhecer a família dela só hoje. Não acha estranho?
- Por quê? Os pais dela trabalham, a irmã faz faculdade, são todos muito ocupados. Na verdade, eu vou me casar com ela, não com a família dela.
- É que sua mãe acha tudo muito rápido.
- Não penso que seja isso. Sabe, mamãe sempre me quis grudado ao lado dela. Quando surgiu a oportunidade de estudar fora do Brasil, para mim foi como se eu tivesse ganhado um prémio de loteria. Senti-me livre, e só não fiquei em definitivo no exterior porque eu tinha a responsabilidade de dirigir nossas empresas.
- Fico feliz de que tenha se interessado por nossos negócios.
- Mamãe pensou que eu voltaria a ficar sob suas asas, e o que aconteceu? Conheci Maria Lúcia, começamos a namorar e agora vamos nos casar. Dona Adelaide não aceita isso. Eu sou homem feito, pai.
- Concordo, mas sabe como é sua mãe: sente que você vai ser infeliz.
- Isso é problema meu. Ela sempre fez chantagem.
Quando fui para a França, ela quase precisou ser hospitalizada, lembra-se?
- Mas naquela época sua mãe andava deprimida; sua avó havia falecido fazia pouco tempo.
- Não vou dar ouvidos a ela. Gosto de Maria Lúcia e vamos ficar noivos. Vou aproveitar e pedir a mão dela em casamento.
- Você é quem sabe. Não estou em sua pele para decidir o melhor para sua vida.
- Obrigado pela compreensão, pai.
* * *
Na casa de Maria Lúcia, Iolanda também andava impaciente pelo quarto. Floriano procurava contemporizar:
- Não adianta ficar de cara amarrada. Se ouviu por detrás das portas, não tem o direito de exigir nada.
- Como não?
- Maria Lúcia sempre foi temperamental, muito impulsiva. Não podemos dar crédito a tudo que ela fala.
- Você sempre interferiu na criação dessa menina.
Só podia dar no que deu.
- Eu?!
- Tentei criar as meninas de maneira disciplinada, com responsabilidade. Você sempre foi apegado a Maria Lúcia. Sempre encobriu suas mentiras, não deixou que eu lhe desse uns tapas quando ela precisou, e olhe só...
Floriano sentou-se na cama. Segurou a cabeça com as mãos e pousou os cotovelos nos joelhos, pensativo.
- Amo minhas filhas. Marines parece que veio pronta, sem defeitos. É uma criatura independente, sabe o que quer.
Maria Lúcia sempre foi dependente, mais frágil. Eu me senti na obrigação de estar mais próximo.
- E estragou a menina com tantos mimos. Hoje ela não me respeita, faz birra com Marines. Você contribuiu para que ela ficasse assim.
- Pode ser. Mas o que fazer? Ela é mulher adulta, vai se casar.
- Esse é o meu medo. Casar, ora essa!
- Qual o problema?
- Floriano, acorde! Vamos conhecer o noivo e a família dele só hoje. Tem cabimento uma coisa dessas?
- São tempos modernos.
- Tempos modernos, que nada! Sabe o que ela disse outro dia ao telefone, conversando com Henrique?
- Não sou de escutar conversa das minhas filhas.
Iolanda sentiu o sangue subir nas faces. Respirou fundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:32 am

- Ela não ama Eduardo. Vai se casar é com a conta bancária dele. E ainda quer que o pobre Gaspar seja seu amante.
Eu não criei uma filha para se tornar tão lasciva. Recuso-me a acreditar no que ouvi. Isso é atitude de rameira.
Floriano levantou-se indignado.
- Você está sendo dura demais. Onde já se viu, xingar nossa filha?
- A partir de hoje, lavo minhas mãos. Fiz o melhor que pude, e daqui para a frente vou me preocupar comigo e com Marines. Chega!
Iolanda saiu do quarto com a respiração alterada e desceu as escadas correndo. Encontrou Maria Lúcia na sala de jantar. Disfarçou o nervosismo:
- Como vão os preparativos, Maria Lúcia? Está tudo em ordem?
-Sim. O jantar está pronto. Os petiscos também. Não se preocupe: está tudo sob controlo.
- Você acha justo o que faz? — perguntou Iolanda, à queima-roupa.
- Como? Não entendi.
- Ouvi uma conversa sua com Henrique ao telefone, dia desses.
- Ah, anda escutando conversa dos outros? Que modos mais feios!
- Deixe de ser hipócrita.
- O que a deixou irritada?
- Você não o ama.
- Isso não é novidade. Nunca menti para você. Dê graças a Deus. Vamos ficar livres uma da outra.
- Torço por isso. Mas e Gaspar?
- O que tem ele?
- Você disse que iria torná-lo seu amante.
Maria Lúcia riu alto.
- Além de ficar escutando conversa dos outros, deturpa tudo.
- Foi o que ouvi.
- Não vou brigar com seu ouvido.
Iolanda balançou a cabeça para os lados e foi para a cozinha verificar os pratos. Não havia jeito de se acertar com a filha. Falavam línguas diferentes.
A campainha tocou e Maria Lúcia foi atender.
- Oi, queridinha!
- O que deseja, Henrique?
- Preciso de um grande favor.
- Por favor! Agora, não. Esqueceu meu jantar de noivado?
- Claro que não! Mas é algo urgente.
- O que quer?
- Preciso de uma blusa de Marines e também da carteira de identidade dela.
- Para quê?
- Preciso, ora.
- Vai fazer macumba para ela se apaixonar por você?
Quer uma calcinha também?
- Estou falando sério.
- Outra hora eu pego, tá bom?
Henrique bateu o pé no chão, voz manhosa:
- Não! Tem de ser hoje!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:33 am

- Qualquer blusa?
- Qualquer uma. E não se esqueça da identidade. Ah, e uma foto recente.
- Espere aqui fora. Se alguém de casa o vir, é encrenca na certa.
Maria Lúcia subiu correndo as escadas. Marines estava tomando banho. Ela correu até o quarto, abriu as gavetas. Pegou uma blusa. Correu até a bolsa da irmã, vasculhou-a e pegou a identidade.
- A foto... Só no quarto de papai.
Ela estugou o passo e bateu.
- Entre.
- Oi, papai.
- O que deseja?
- Nada. Estou procurando um brinco.
- Procure aí na caixinha de jóias de sua mãe.
- Deixe-me ver - ela fuçou o armário e achou a caixa de fotografias da família. Abriu, vasculhou e escolheu duas fotos recentes de Marines.
- Aonde vai?
- Já volto, pai. Um instante.
Maria Lúcia voltou a seu quarto e pegou uma sacola de plástico. Colocou tudo dentro. Desceu as escadas arfante. Foi ao jardim.
- Pronto! Aqui está a encomenda.
- Obrigado. Você é um anjo em minha vida.
- O que vai aprontar com Marines?
- Nada de mais. Só um susto.
- Bem, boa sorte.
Henrique tinha a língua solta. Precisava falar:
- Gaspar vai viajar com uma amiga esta noite. Bem, queridinha, bom jantar de noivado.
Henrique saiu e mal cabia em si de tanta alegria.
Beijou a amiga e partiu feliz.
"Nunca pensei que fosse tão fácil. Passei noites em claro planeando um jeito de dar um susto naquela intrometida. Vou ligar para o delegado Medeiros. Marines precisa de uma lição. Vai pagar caro por ter me ameaçado."
Dobrou a esquina e foi cantarolando até o ponto de ónibus. Naquele instante, uma massa escurecida pairou-lhe sobre a cabeça, e ele começou a imaginar Marines sofrendo todos os tipos de crueldade, das mais perversas que um ser humano pudesse ser vítima.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:33 am

Capítulo 9
Maria Lúcia encostou a porta, irritada.
"Então Gaspar vai viajar justo hoje?", pensou.
"Quem será a tal amiga?"
Ela sabia que precisava agir rápido.
"Tenho de colocar meus planos em acção hoje mesmo. Mas como? Eduardo está para chegar com a família. O que faço?"
Entrou no banheiro, pensativa. Ligou o chuveiro e começou a pensar no ex-namorado.
"Ele era óptimo amante. Tão diferente do insosso do Eduardo! Ultimamente não pude dar minhas escapadas, nem com Gaspar nem com ninguém. Adelaide está com marcação cerrada. Tenho de me controlar."
Ela começou a se ensaboar. De repente, teve um lampejo:
"E se eu for agora? Danem-se Eduardo e sua família.
Eles que me esperem!"
Livrou-se da espuma com incrível rapidez. Enxugou-se e colocou as mesmas roupas. Entrou novamente no quarto dos pais.
- Papai?
- Sim, querida?
- Preciso ir ao salão de Estela.
- Mas a esta hora? Ela já deve ter baixado as portas.
- Esqueci de pegar o laque. Sem ele meu cabelo não vai ficar armado.
- Não pode usar outro produto?
- Não. Só o laque de Estela é que funciona.
- Deixe que eu vou até lá. Já estou pronto.
- Não, pai.
- Como não?— Quero as chaves do carro.
Ele coçou a cabeça.
— Sua mãe não gosta que eu lhe empreste o carro.
— Mas o salão é tão perto! Só hoje.
— Eduardo e a família estão quase chegando.
Maria Lúcia fez beicinho:
- Ah, paizinho, deixa, vai.
— Sua mãe não vai gostar nada disso. Na verdade, o carro é mais dela do que meu.
— E quem disse que ela precisa saber?
— Não sei...
- Ah, pai - disse ela, com voz melosa.
— Está certo. As chaves estão na estante.
Maria Lúcia abraçou-o e beijou-o várias vezes na face.
— Paizão, não há outro como você.
Floriano riu satisfeito. Quando Maria Lúcia o chamava de paizão, ele ia às nuvens. Ela era seu encanto, e ele achava que Iolanda era rígida demais com a menina.
Maria Lúcia desceu as escadas na ponta dos pés, fazendo o mínimo de barulho. Olhou em volta e ouviu a mãe conversando com Marines na cozinha. Correu até a estante da sala, pegou as chaves e saiu. O carro estava estacionado na porta. Entrou rápido, deu partida e engatou a marcha.
Ao dobrar a esquina, avistou Henrique. Diminuiu a marcha e desceu a janela do lado do passageiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:33 am

— O que faz parado no ponto de ónibus?
— Vou dar umas voltas.
— Entre que lhe dou uma carona.
— O que eu lhe disse há pouco a preocupou?
— Sim. Gaspar não pode viajar hoje. Volta quando?
— Daqui a uns dias.
— Preciso encontrá-lo.
— Ei, e o jantar de noivado?
— O jantar vai esperar. Preciso agir rápido.
— O que está aprontando?
— Nada de mais. Uma pequena represália, digamos.
— Adoro isso.
— Tenho de falar com Gaspar antes que ele viaje.
- Pode esquecer. Eu disse que ele ia viajar porque fiquei sabendo agora de tarde.
- Por que esquecer? - perguntou ela, irritada.
- Ele está de malas prontas para viajar com Estela.
Maria Lúcia pisou no breque com força. Por pouco o motorista de trás não atingiu seu carro. Ela tremia e suava.
O outro motorista desviou-se e xingou-a. Ela fez um sinal obsceno com o dedo e voltou a atenção para Henrique.
- Gaspar? Viajando com aquela cadela comunista?
- Com a cadela comunista.
- Estela é uma pedra em meu caminho.
Henrique, envolvido por sombras escuras, foi categórico:
- Se quiser, posso ajudá-la a se livrar dessa pedra.
Os olhos de Maria Lúcia brilharam.
- Como?
- Quer ajuda ou não?
- Quero.
- Há jeito para tudo.
- Isso não pode estar acontecendo.
- Mas você... Não entendo... - Ele riu. - Aquela história ao telefone era verdade?
- Que história?
- Quer se casar com Eduardo e quer que Gaspar seja seu amante? Você quer os dois caras, é isso?
Maria Lúcia chorava e batia com os braços na direcção do carro. Henrique tentou acalmá-la:
- Você está nervosa. Passe para o banco de passageiros. Eu conduzo o veículo.
Henrique abriu a porta do carro, deu meia-volta e sentou-se no banco do motorista. Maria Lúcia pulou para o banco do passageiro e abraçou-se às pernas.
- Você é mais doida do que eu.
- Não quero nada de mais. Só um marido rico e um homem que me faça mulher. Qual o problema?
- Nenhum. Mas Gaspar é homem íntegro, difícil de ser corrompido.
- Todos são passíveis de ser corrompidos.
- Ele, não. E parece que a amizade dele com Estela está cada vez mais forte.
Maria Lúcia rangia de ódio.
- Então a vagabunda conseguiu...
- Você sumiu, ela tomou conta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:33 am

- Preciso ver Gaspar.
Henrique revirou os olhos nas órbitas, excitado. Em sua mente desfilavam planos os mais sórdidos e diabólicos.
- Vai unir a fome com a vontade de comer.
Maria Lúcia esmurrou o painel do carro.
- Desgraçada! Ele poderia se envolver com qualquer uma, mas com a rameira da Estela? Isso não fica assim, não.
- Quer dar um susto em Estela igual ao que pretendo dar em Marines? - Os olhos de Henrique brilhavam, rancorosos.
- Adoraria.
- Então deixe comigo.
- Afinal, o que está tramando contra minha irmã?
- Sua irmã merece um susto. Coisa boba.
- O que vai fazer com aqueles pertences dela?
- São elementos de acusação.
- Vai acusá-la de quê?
- Isso é segredo.
- Marines merece mesmo uma lição. Toda boazinha, muito certinha. Agora que faz faculdade está insuportável. É a rainha daquela casa. Faça com ela o que bem entender.
- Obrigado pela compreensão.
- Mas estou curiosa. O que ela viu?
- Marines trabalha no centro da cidade, perto do Autorama.
- Perto de onde?
- Um lugar onde se paquera de carro, lá na rua Sete de Abril.
- Como é Isso? Caça motorizada? - perguntou ela, em tom de deboche.
- Depois que as lojas se fecham, perto das dez da noite, começa o agito. Rapazes ficam andando pela calçada e outros, motorizados, ficam dando voltas pelo quarteirão, flertando.
- Não é perigoso?
- Não. É o único lugar a céu aberto desta cidade onde podemos paquerar.
- Em tempos como este, é difícil. Os militares estão no poder e têm aversão aos homossexuais.
Henrique deu sonora risada, jogando a cabeça para trás, bem afectado.
- Bobinha, que tempos duros, que nada! Claro que há alguns militares, alguns policiais que torram o saco da gente.
De vez em quando aparecem umas viaturas, e a gente se dispersa. Mas eu tenho amigos na polícia.
- Amigos?
- É. Mais que amigos, você entende?
- Entendo. Você não toma jeito, E Marines?
- Sua irmã me flagrou em posições comprometedoras com um cara, tempos atrás. Você sabe que no bairro eu tenho fama de bruto, de estúpido. E devo muito disso a você.
Salvou minha pele, espalhando que eu era garanhão.
- Foi divertido.
- Ajudou pacas! Ninguém mais mexeu comigo na rua.
- Isso já passou. Mas Marines não é do tipo que daria com a língua nos dentes.
- Preciso me precaver. Não quero mais ser motivo de escárnio.
- Bom, como eu disse, faça o que bem entender.
Henrique deu partida e logo alcançaram uma avenida movimentada. Não perceberam, mas companhias do astral inferior abraçavam-se a eles, projectando em suas mentes ideias disparatadas e sórdidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:34 am

Minutos depois, o rapaz encostou o carro na guia para Maria Lúcia saltar. Antes que ela saísse, Henrique deu-lhe um beijinho no rosto e disse:
- Vou torcer para dar certo. Enquanto isso, aproveito que estou motorizado e dou um pulo no Autorama. Quem sabe ainda dá tempo de uma brincadeira?
Maria Lúcia soltou uma risadinha e balançou a cabeça para os lados.
Assim que ele arrancou com o carro, ela tocou a campainha. Celeste abriu a porta, surpresa.
- Você, aqui?
- Boa noite, d. Celeste. Há quanto tempo!
- É. Há quanto tempo!
- Gaspar se encontra em casa?
- Está arrumando as malas. Vai viajar com a namorada.
Maria Lúcia engoliu em seco. Viu o brilho de satisfação nos olhos de Celeste. Mas precisava manter o equilíbrio. Não iria pôr seu plano água abaixo por causa daquela velha idiota.
- Preciso muito falar com ele. É urgente.
- Vou chamá-lo.
- Não será necessário. Sei onde fica o quarto. Pode deixar, que eu subo.
Celeste não teve tempo de detê-la. Maria Lúcia subiu as escadas rapidamente. Abriu a porta do quarto e seu coração disparou ao ver Gaspar nu, recém-saído do banho.
Ela quase o agarrou.
- Gaspar — suspirou.
Ele se assustou. Mecanicamente, colocou as mãos à frente dos genitais.
- O que faz aqui? Como entrou?
- Sua mãe me mandou subir.
- Minha mãe não faria isso.
- Bobagem. Vai ficar aí todo tímido? Eu o conheço até do avesso.
- Não estamos mais juntos.
Gaspar vestiu a cueca e colocou um short. Maria Lúcia correu até seus braços.
- Não posso ficar sem você, Gaspar.
- Por favor, não. Sei que vai ficar noiva.
- Como soube?
- Sua irmã me contou.
Ela segurou sua ira.
- Anda falando com Marines?
- De vez em quando. A amizade permaneceu.
- Você anda sumido.
- Estou saindo com Estela. Vamos viajar logo mais.
- Não vá.
Gaspar estava visivelmente transtornado. Era duro admitir, mas a presença de Maria Lúcia ainda mexia com ele.
- O que quer de mim? - indagou, receoso.
- Quero você.
- Não brinque com meus sentimentos.
- É verdade. Tive de ficar longe todo esse tempo para perceber quanto o amo.
- Então largue o cara. Eu ainda a amo.
- E Estela?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 23, 2024 10:34 am

- Somos bons amigos. Ela é mais companheira do que namorada.
Aquele era o momento de dar o bote. Maria Lúcia tinha certeza de que ainda era desejada. Sabia como acariciá-lo e excitá-lo. Abraçou-se a seu corpo ainda morno do banho.
- Você larga aquela ram... moça para ficar comigo?
- Estela é uma boa garota.
- Você a ama?
Gaspar hesitou:
- Você sabe que não. Mas gosto muito dela.
- Você a ama?
- Não. Você é a única que amei.
- Gaspar preciso de seu amor, de seu corpo, de sua virilidade.
- Não posso.
- Por favor...
- Não.
- Vamos, abrace-me, faça-me mulher.
Maria Lúcia ousava nas carícias, apalpando todo o corpo do rapaz.
- Você está excitado. Ainda sente atracção por mim.
Gaspar não conseguiu mais concatenar as ideias.
Seus lábios se cruzaram e ele beijou-a com volúpia e a arrastou-a até a cama.
- Isso, garotão, assim é que se faz.
Gaspar estava louco, ardendo de desejo. Maria Lúcia ainda tinha força sobre ele, conseguia desnorteá-lo. Ele não hesitou: arrancou seu vestido e possuiu-a loucamente. Pareciam dois bichos no cio.
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