LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:15 pm

16 - O regresso do Arnaldo

A mansão de Lucrécia estava animada, apesar do adiantado da hora.
Naquela noite, Arlete, Bruno, Elza e Arnaldo estavam lá, todos conversando com Eduardo, que era muito bom de papo e com seu charme e energia contagiante agradava em demasia.

Até Elza, que era fechada e muito calada, vez por outra esboçava um sorriso e emitia alguma opinião.
Estavam, agora, falando sobre política e a difícil transição do governo que estava ocorrendo naqueles dias.

E como Lucrécia não entendia nada sobre aquele assunto, resolveu sair e tomar ar no jardim.
Sentou-se em um dos bancos e, naquele instante, agradeceu mais uma vez aos espíritos que trabalhavam com pai Ernesto pela mudança que havia ocorrido em sua vida nos últimos dias.

Ela começou a relembrar.
Havia tentado de todas as maneiras afastar Eduardo do pai, mas foi em vão, pois os dois continuavam juntos como sempre.

Daí ocorreu um facto que pareceu favorecê-la.
O filho passou a chegar mais tarde em casa, alegando que o trabalho na empresa havia dobrado.
Sempre chegava muito cansado e não mostrava disposição para conversar com o pai como antes.

Num desses dias, já depois das onze, Eduardo pediu licença e se recolheu, deixando os pais sozinhos na sala.

Lucrécia exultou e, para deixar o ambiente em penumbra, começou a desligar algumas lâmpadas, dizendo:
- Não há necessidade de tanta luz.
O Eduardo é que tem essa mania de deixar tudo muito claro.
Você acredita que ele não fecha as persianas ao se deitar?

Arnaldo fez menção de se retirar, afinal era tarde e o filho já tinha ido dormir, não havia mais desculpas para ele permanecer ali.

De repente, ao vislumbrar a mulher cuidando da casa, a mesma com quem ele viveu durante tantos anos, sentiu o coração descompassar.

Ela estava em trajes de dormir e, vez por outra, mostrava mais o busto, que parecia se insinuar aos seus olhos.
Arnaldo tentava desviar os pensamentos de desejo, mas não conseguia.

Numa força descomunal, disse:
- Já é tarde, Lucrécia. Preciso ir.
Amanhã tenho de estar no escritório antes das nove.

Ela, fingindo indiferença, aquiesceu.

- Oh sim, não quero atrapalhá-lo.
Também já vou me recolher, aliás, já estava me aprontando para dormir quando você chegou.

Ele virou as costas e saiu.
Lucrécia sentiu que o marido voltara a desejá-la, percebeu seus olhares e também sentia que não estava só ali.
Tinha certeza de que as entidades serviçais de pai Ernesto estavam presentes, algo ia acontecer.

Arnaldo foi até o portão, mas uma estranha sensação o acometeu.
Cenas eróticas entre ele e a ex-mulher vieram com extrema força a sua mente, e ele não conseguiu se controlar.

Voltou e ainda a encontrou na sala.
Ele sentia que estava agindo contra a vontade, mas havia algo mais forte que o dominava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:15 pm

Sem dizer mais nada, aproximou-se de Lucrécia e a beijou com volúpia.
De repente, já estavam no quarto entregues ao amor.
Quando tudo terminou, ele saiu desesperado, tentando conter o pranto e o sentimento de repulsa, enquanto Lucrécia vibrava extremamente feliz.

A partir daquela noite, Arnaldo, vencendo a repulsa inicial, entregou-se àquele sentimento e não via a hora de voltar a ter a ex-mulher em seus braços novamente.
De repente, as crises de mal-estar passaram como que por encanto e ele não via mais graça em Alice.

Apesar de Eduardo tentar alertá-lo de todas as maneiras, ele não ouvia, e outra noite como aquela aconteceu.

Como Lucrécia estava feliz!
Assustou-se com a presença de Arlete, que vinha com duas taças de vinho.

- Vejo que está muito feliz.
Pelo semblante distendido, percebo que finalmente conseguiu ter papai de volta.

Pegando a taça e ingerindo pequenos goles, Lucrécia parecia estar em um sonho, quando disse:
- Isso mesmo, Arlete.
Nunca saberei como lhe agradecer por ter me levado ao pai Ernesto.
Se não fosse por ele, isso não teria acontecido.

Arlete estava curiosa:
- Então vocês reataram?
Por que ele não retorna para casa?
- Nós nos amamos duas vezes na semana que passou, e sinto que para ele voltar falta pouco.
Parece que estou vivendo no paraíso.
Nunca poderia imaginar que a magia existisse e que fosse uma coisa tão boa.

- Para a senhora ver...
Comigo também está tudo óptimo.
Bruno esta cada dia mais agarrado a mim.
Não percebeu na sala?
- Sim, eu vi tudo. Quem diria?

- Pois é.
Voltei ao pai Ernesto e ele garante que Diva está em coma num hospital sem chance de voltar.
- Isso eu sei, ele me contou.
Mas e se Diva sair do coma e Bruno voltar a procurá-la?

- Isso não vai acontecer.
Ele me garantiu que tem uma entidade lá impedindo que ela retorne ao corpo, até ele a esquecer de vez.
Bruno tem ligado para lá pedindo notícias, e o estado é sempre o mesmo.

O irmão rico tem gastado uma fortuna na UTI.
Na verdade, eu não queria isso para ela, mas, se aconteceu, nada posso fazer.

Depois, pai Ernesto me garantiu que ela não morrerá, ficará assim só o tempo necessário.
Bruno apareceu junto com a irmã e Arlete encerrou a conversa.

Quando todos se despediram e Eduardo havia se recolhido, mais uma vez Lucrécia e Arnaldo foram para a cama.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:15 pm

Depois de tudo, ela virou para ele e perguntou:
- Querido, não podemos ficar assim.
- Assim? Assim como?
Não está bem para você?

Ela não gostou do que ouviu.

- Claro que não está.
De repente, os papéis se inverteram, eu virei sua amante e Alice sua esposa.
Não quero isso para mim.
Depois, tem o Eduardo, que está morando connosco.
O que ele vai pensar disso tudo?

Arnaldo sentou-se na cama apoiando a cabeça nos travesseiros macios e perfumados.

De repente, influenciado cada vez mais pelas entidades sombrias, ele começou a pensar:
"Como pude ter abandonado minha casa tão luxuosa e confortável para viver naquele apartamento?
Como fui abandonar minha mulher depois de tantos anos de casado?
Pensei amar Alice, mas estou vendo que o que vale mesmo é uma família.
Eduardo está aqui e, se eu voltar a morar nesta casa, poderei estar mais tempo com ele.
Como amo meu filho!"

Virou-se para Lucrécia e disse:
- Você está certa.
Eduardo merece respeito.
Por mais moderninho que pareça ser, ele tem ideias que vão contra situações como essa.

Não posso permitir que meu filho, a criatura que mais venero neste mundo, pense que sou um mau carácter.
A decisão está tomada.
Amanhã mesmo volto para casa.

Lucrécia parecia estar vivendo uma ilusão.
Precisou ser forte para não deixar transparecer toda a sua alegria e parecer uma mulher fácil.

Então falou:
- Faça como achar melhor.
O que queria mesmo era uma definição dessa situação, não quero forçá-lo a nada.
De qualquer forma, a casa vai estar sempre à sua disposição.
Eduardo ficará muito feliz com a notícia.

Naquela noite, Arnaldo não voltou para casa.
Acabou dormindo ali mesmo.

Pela manhã, Eduardo viu quando o pai saiu do quarto da mãe e, antes de irem para a mesa do café, foram conversar na sala.

- Pai, pense bem no que está fazendo.
Sabe o que acho de toda essa situação.
Não penso que é correto ficar iludindo a mamãe.
Cedo ou tarde isso vai acabar e ela sofrerá mais uma vez.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:16 pm

- Filho, não se preocupe.
Ontem tomei a decisão de voltar a morar aqui.
Não é justo, realmente, o que tenho feito com as duas.
Alice vai ficar triste, mas é melhor ser sincero.

Eduardo olhou-o fixamente e replicou:
- Não pense que ficarei feliz com isso.
Sei que está agindo contra sua vontade e isso nunca acaba bem.
O senhor ama Alice, mas esta iludido pela culpa, talvez induzido por espíritos que não sabem fazer o bem.

Essa decisão é muito séria.
É preciso que pense mais.

Arnaldo remexeu-se inquieto no sofá.
Não ficava bem quando o filho não o aprovava.
Tentou obter seu consentimento.

— Eu me enganei quando pensei estar amando Alice.
Na verdade, fui tentado pela ilusão de ter uma mulher jovem e bonita comigo.
Ademais, minha vida sempre foi aqui ao lado de sua mãe e ao seu lado.

Nunca serei completamente feliz morando longe de você.
O tempo que ficou no Sul, para mim, foi de muito sofrimento.
Talvez, se estivesse aqui, eu não tivesse deixado sua mãe.

— O senhor está querendo transferir para mim uma responsabilidade que é só sua.
No entanto, eu paro por aqui.
Tentei alertá-lo, conversei, fiz o que pude, agora está em suas mãos.
Faça como achar melhor.
— Sei que não está aceitando minha volta ao lar de bom grado, mas provarei que estou certo tomando essa decisão.

A conversa foi encerrada e eles foram para a mesa onde Lucrécia, com o rosto sereno e cantando, os esperava.
O café transcorreu em silêncio, mas Arnaldo percebeu que o filho estava completamente descontente com sua atitude.

Quando terminou a refeição, ele seguiu para o apartamento onde estava Alice.
Sabia que seria difícil aquele momento, mas teria de acontecer.
Sem que percebesse, vultos escuros rodopiavam ao seu redor, rindo com prazer.

Ao abrir a porta, uma surpresa:
Alice com muitas malas na sala já o esperava para sair.
Os dois trocaram um olhar significativo e nada mais precisaria ser dito.

Entretanto, Alice, muito serena, monologou:
— Aqui estão as chaves do apartamento.
Não precisa me dizer mais nada.
Sou digna e sei quando uma situação se torna insustentável.
Não sei o que o fez mudar assim tão rápido e sem motivo, mas sei que nada acontece por acaso e, antes que um de nós pudesse se ofender ou se magoar, eu me retiro.

Foi bom enquanto durou, e eu ainda o amo muito.
Talvez não ame mais ninguém neste mundo como um dia amei você.
Mas quem ama liberta.
A partir de hoje, sinta-se livre de qualquer compromisso comigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:16 pm

Não precisa se culpar porque me desonrou e me tirou de casa em uma situação complicada.
Tudo foi com meu consentimento.
Adeus e boa sorte!

Alice deixou as chaves sobre a mesa e saiu sem olhar para trás.
Minutos depois, o motorista subiu e começou a retirar as malas.
Arnaldo, vendo aquela cena, correu para o quarto e começou a chorar copiosamente.

Por que tudo aquilo estava acontecendo, por quê?
Ele não queria aquilo, amava Alice, mas também queria Lucrécia.
O que fazer? Por que estava tão confuso?
Ele ficou ali naquele desespero por mais de meia hora.

Logo depois, duas entidades obscuras começaram a soprar em seus ouvidos:
— Fique firme, você tomou a atitude correta.
Não aprendeu em sua religião que o casamento é para sempre?
Queria viver em adultério para o resto da vida?
Você se livrou do pecado.
A separação não pode acontecer, voltar para sua santa esposa é o melhor.

Uma mulher vestida de freira, com o rosto severo, sussurrou também:
- É isso mesmo!
Deus condena o divórcio.
Viver com a esposa é o melhor para um homem.
Mostre que é honrado.

Seu filho é um santo e não gosta do pecado, por isso nem se relaciona sexualmente com outra pessoa.
Quer que ele pense que você é herege? Ânimo.
Acredite que o Senhor vai te ajudar.

Arnaldo, pensando no filho com veneração, voltou a se animar.
Essa era a melhor atitude.
No fundo, Eduardo estava muito feliz, só não queria demonstrar.

Sentindo-se melhor, lavou o rosto, pegou as chaves e saiu.
Desta vez sentindo-se menos angustiado.

Os espíritos o seguiram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:16 pm

17 - O rompimento com as forças do mal

Após as intensas actividades no terreiro, Ernesto ainda se manteve por lá com seu fiel assistente Hugo.
Foram muitos despachos realizados naquela noite, mas ainda faltava o principal.

Quando o último médium havia se retirado e ele se certificou de que estava só, saiu da tenda juntamente com Hugo carregando vários apetrechos e um bode preto amarrado com uma corda.

Chegou ao meio do terreiro e observou a lua nova que ia alta no céu.
Ernesto entrou em transe, virou os olhos e começou a fungar.
Apesar de incorporado, ele continuava consciente e começou a murmurar palavras em língua estranha.

Tudo tinha de dar certo e ele teria Ingrid somente para si.
De repente, Hugo começou a tremer e caiu desmaiado.

Ernesto pegou o bode, cortou seu pescoço e o sangue jorrou em profusão na bacia de prata que reflectia a luz da lua.
Depois, vagarosamente, pegou uma caneca de barro, encheu-a de sangue e deu para Hugo beber.

Terminado o estranho ritual, a entidade incorporada falou convencida:
- Grande foi o seu oferecimento a Belzebu.
A menina será sua.

Vários estouros foram ouvidos no ar e um cheiro forte de enxofre dominou todo o ambiente.
Satisfeito, Ernesto recolheu a bacia, as adagas, as velas e os castiçais e retornou à tenda.
Estava muito feliz, finalmente teria a amada em seus braços.

Era uma questão de dias.
Após a primeira consulta, Ingrid ainda não havia retornado, e dali a dois dias estava marcada a próxima sessão.
Teria de continuar a enganá-la dizendo que estava fazendo a bruxaria para Diego e, enquanto isso, ganhava tempo.

Sabia que suas entidades não falhavam, e logo ela se declararia.
Com esse pensamento, entrou no carro, deixou Hugo em casa e foi se recolher.

O dia fora por demais cansativo.
Ingrid passou a odiar verdadeiramente os domingos.
Sua mãe, Marisa, fazia questão de que Vanessa, Diego e os netos almoçassem com ela, e era um tormento ver o homem amado continuar a ser tão carinhoso com sua irmã, cobri-la de beijos e carinhos.

Após o almoço, eles ficavam por ali e só iam embora quando estava escurecendo.
Naquela tarde, ela precisou ter uma força ainda maior para poder se controlar.
Sua paixão estava chegando ao limite, mas pensava que pai Ernesto iria ajudá-la, e com esse pensamento se acalmava.

Após o almoço, enquanto Diego se entretia na grama do quintal com os filhos, ela foi se deitar na rede da sala.

Marisa estava na cozinha lavando a prataria, e Vanessa, sem ter o que fazer, resolveu conversar com a irmã.

— Desculpe se estou impedindo seu cochilo, mana, é que nunca mais conversamos e estou com saudades.
Por que não tem ido mais lá em casa?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:16 pm

Uma imensa raiva brotou no coração de Ingrid, mas ela não demonstrou, apenas respondeu com má vontade:
- Sabe que estudo e que não posso me dar ao luxo de estar sempre na sua casa.
Vanessa, sem perceber, continuou:
- É que tenho sentido a sua falta.
Sempre fomos muito ligadas.
Lembro-me de você ainda bebé, naquela época era eu quem cuidava de seu bem-estar, enquanto nossos pais trabalhavam.

- Mas eu cresci e já sou uma mulher, será que não dá para perceber?
- Nossa! Por que está tão irritada?
Notei que você não está bem hoje.
Algum problema?
Você sabe que eu sempre estarei aqui para o que der e vier.

Ingrid sentiu uma ponta de remorso, mas não deveria ceder.
O que importava era seu amor por Diego.

Todavia, não era bom que a irmã percebesse que algo estava errado, por isso tentou dissimular.

- É que estudar, às vezes, cansa.
Pretendo ser publicitária, mas para isso tenho de estudar muito.
Tenho ficado até altas horas com livros e cadernos na mão.
Até no fim de semana preciso rever as matérias do cursinho.
Estou stressada.

- Mas vale a pena.
Hoje sou médica, e para chegar até aqui tive de estudar muito também.
Sei que você, assim como eu, vai conseguir.
É bom ser independente, ter o próprio dinheiro.

Eu mesma não ia querer passar a vida dependendo do dinheiro de Diego.
E se um dia a gente se separar?

Ingrid animou-se.
Então a irmã cogitava a ideia de separação.

- Então pensa em um dia acabar o casamento?
Nunca imaginei que isso passasse por sua cabeça.
- Não é que pense, mas ninguém pode contar com o futuro.
Amo o Diego e sei que sou correspondida, mas também sei que não sou a dona dele.
Ficarei até quando nosso amor durar.

— Nos tempos actuais, o casamento não dura muito mesmo.
É bom estar prevenida.
Depois, o seu marido é um homem muito bonito.
Qualquer hora pode encontrar uma amante.

Vanessa achou estranha a resposta da irmã.

— Por que diz isso?
Sabe de alguma coisa que não sei?
Intimamente Ingrid ria, mas sabia que havia se excedido e deveria parar.
— Não se preocupe, mana.
Diego lhe é muito fiel.
Não notou meu tom de brincadeira?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:16 pm

Vanessa sorriu.

— É, você só podia estar brincando mesmo.
Agora vou ter com Diego no quintal e você trate de tirar uma soneca.

Ao ver a irmã se afastar, Ingrid pensou com ódio:
"Não sabe o que a aguarda".

Na segunda-feira pela manhã o consultório de Ernesto estava cheio, mas sua secretária, já avisada e com muita subtileza, passou Ingrid à frente dos outros, e logo ela estava cara a cara com o homem que, segundo seu pensamento, iria transformar seu sonho em realidade.

De costas para ela, Ernesto esperava o momento certo de encará-la com profundidade, passando sensualidade e magnetismo, assim como as entidades o orientaram.
Como o tempo estava passando e só havia um grande silêncio no ambiente, Ingrid começou a se impacientar e quase ia chamando-o, quando resolveu se calar.

Pensou que ele deveria estar conversando em pensamento com os espíritos.
De repente e sem que Ingrid pudesse prever, ele já estava na frente dela, a fitar seus olhos com profundidade.

Ela estremeceu e sentiu uma leve tontura.
Começou, estranhamente, a sentir um aroma delicado no ar e leves arrepios tomaram conta de seu corpo.

Completamente envolvida, Ingrid começou a ver Ernesto com outros olhos.

Sem que conseguisse conter sua imaginação, ela pensava:
"Que homem interessante e bonito!
Não tão bonito quanto Diego, mas tem masculinidade e ainda é jovem, como não reparei nisso antes?"

Ernesto, percebendo o envolvimento, começou:
- Consultei minhas entidades e elas me disseram algo muito importante sobre seu caso.
Estremecendo pela quebra do silêncio, ela, mesmo um pouco atordoada, conseguiu prestar atenção no que ouvia e, curiosa, perguntou:
- O que elas disseram?
Não me importo com o dinheiro, tenho como conseguir.

- Elas nem colocaram preço, disseram que é um caso perdido.
Sua irmã e seu cunhado se amam de verdade e, nesse caso, não há como interferir.
É melhor guardar seu dinheiro para outras coisas.
Sou um pai de santo que age com ética, quando vejo que um caso é perdido não engano a pessoa.

Esqueça seu cunhado e siga sua vida.
Você é jovem, bonita e pode encontrar um homem à sua altura.

Ingrid começou a soluçar.
Se nem um homem poderoso como aquele podia resolver sua vida, então realmente não havia outro caminho, ela tinha de desistir e voltar à sua rotina de sempre:
estudando, indo para casa, ajudando a mãe nas tarefas domésticas e, o que era pior, vendo Diego e Vanessa cada dia mais felizes.

Ernesto, percebendo sua fragilidade, sentou-se ao seu lado.

— Tome este lenço e enxugue suas lágrimas.
Estou sendo sincero.
É melhor chorar agora do que depois, quando tiver gasto muito dinheiro sem resultados.
O que mais existe nesta São Paulo são charlatães que vão tirar de você tudo quanto possua, e no fim sua irmã continuará feliz ao lado do marido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:17 pm

Ela estava revoltada.

- Então por que Deus fez eu me apaixonar por um homem que me é impossível?
Isso não é justo! Terei de sofrer a vida inteira?
- Essa paixão é só um arroubo da juventude e, com o tempo, vai passar.
Além do mais, sei de um homem que está amando você como nunca amou ninguém.

Ingrid, já com mais cor no rosto, perguntou sem muito interesse:
- Sabe? É seu cliente?
Tem muitos garotos interessados por mim.

- Não é meu cliente, é meu amigo.
Pediu-me que a apresentasse a ele.
Aceita sair comigo para que vocês possam se conhecer?

- Se não é seu cliente, como me conheceu?
Afinal, esta é a segunda vez que venho aqui.

- Ele estava saindo daqui quando você chegou naquele dia.
Ficou aí na frente esperando-a sair e depois voltou para me pedir informações a seu respeito.
Falei que faria o possível para ajudar.
Ele gostou de você e já está amando-a.

- Como alguém pode me amar se me viu apenas uma vez?
Estou achando tudo isso muito estranho.
- Você, por acaso, não acredita em amor à primeira vista?
Não foi assim que começou a gostar de Diego?

Ela aquiesceu e ele continuou:
- Podemos marcar para a quarta-feira à noite.
O que acha?

Ela estava por demais envolvida por aquele homem.
Enquanto pai Ernesto falava, ela começou a sentir uma atracção muito forte por ele.
Era um homem extremamente agradável e exalava masculinidade.
Algo em seus olhos a fascinava.

— Tudo bem, aceito!
Mas estou indo para ficar mais tempo em sua companhia.
Não consigo entender, estou me sentindo mais segura ao seu lado.

Depois, quero sair da rotina.
Anote o endereço do meu cursinho.
Direi à mamãe que vou estudar.
Ela não ia gostar nada de saber que estarei na companhia de dois desconhecidos.

Ernesto anotou com satisfação e, quando Ingrid saiu deixando delicado perfume no ar, ele se sentiu o homem mais feliz do mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:17 pm

Nunca poderia imaginar que fosse amar outra pessoa depois de Mariana.
Estava radiante e muito contente.
Como era boa a magia!
Podia dar a ele a mulher amada.
De repente, um pensamento lhe veio à mente.

No pacto que fez com Belzebu, ele havia prometido que jamais amaria alguém ou se interessaria por mulher alguma, que viveria somente para a bruxaria e nada mais.

Isso havia ficado muito claro quando começou a aprender as técnicas de magia com Wilton e Belzebu.
Ao mesmo tempo, sabia que sua relação com Ingrid, por mais que evoluísse, em nada iria impedir que ele continuasse seus afazeres no terreiro como pai de santo.

Resolveu esquecer e atender o próximo cliente.
O que Ernesto não sabia era que os espíritos que o guiavam estavam atentos a tudo o que acontecia.

Só naquele instante perceberam que Ernesto estava apaixonado, tentado ao amor.
Eles sabiam que a entidade que se intitulava Belzebu não iria gostar nada da ideia e trataram de agir.

No fim da tarde uma surpresa.
Wilton estava à sua frente.
Algo grave havia acontecido.

Ele era também um pai de santo famoso e não tinha tempo para nada, se estava ali, era porque tinha algum recado para ele de suma importância.

Wilton fitou-o com olhos preocupados e disse:
— Ernesto, hoje recebi um recado e fui encarregado de lhe passar com a maior rapidez possível.
A nossa entidade chefe já está sabendo de tudo.
Você foi envolvido pela chama da paixão e está se deixando levar.

Sabe que em nossa seita jamais podemos nos envolver com ninguém.
Belzebu o escolheu só porque você ficou viúvo, não queria mais ninguém.

Vim aqui para alertá-lo.
Se continuar com essa paixão tenebrosa, seu fim será trágico.
Morrerá e passará a ser escravo no astral.
Ninguém rompe um trato com nosso chefe sem a severa punição.

Ernesto desabou na cadeira.

— Não sei o que fazer, simplesmente aconteceu.
Estou amando e quero ser correspondido.
Além do mais, quando fiz o feitiço, as próprias entidades disseram que Belzebu havia permitido.

— Você foi iludido por outros espíritos.
Ele jamais permitiria uma coisa dessas.
Você foi meu pupilo e me é muito querido, desista enquanto é tempo.

Sabe que sou muito ocupado e não poderei voltar aqui para lhe dar outro aviso como este.
Se quiser continuar com essa loucura, só posso mesmo é lamentar, será mais um servo das trevas no além.

Wilton saiu deixando Ernesto desalentado.
Ele havia se esquecido completamente que os homens daquela seita não podiam se envolver amorosamente com ninguém.
De que adiantaria sua vida agora?
Tinha dinheiro, carro do ano, casa confortável, muitos imóveis, mas sem o amor de Ingrid sua vida perderia completamente o significado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:17 pm

De repente, resolveu:
iria, sim, envolver-se com ela, nem que fosse a última coisa que faria em sua vida.

Um espírito que o observava perguntou ao outro:
— Esse está perdido.
Devemos trazê-lo para cá.
Vamos fazer isso agora?
Poderemos produzir uma parada cardíaca fulminante.

O outro meneou a cabeça negativamente:
- Ainda não. Vamos ver se ele tem mesmo coragem.
Depois que ele sentir o gosto do amor novamente é que o faremos morrer.
Neste lado e sem o amor, após tê-lo provado, sofrerá muito mais, não acha?

- Claro que sim, Germano.
Como não pensei nisso antes?
Grande ideia a sua.
- Não foi minha, seu idiota, recebi directamente de Belzebu.
Não sabe que sou médium e que recebo comunicações ostensivas dele?

- É mesmo, havia esquecido que aqui deste lado também existe mediunidade.
- Então vamos aguardar, vamos dar mais corda a ele para que se enforque.

Gargalhadas foram ouvidas no ambiente e Ernesto, arrepiado, as escutou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:18 pm

18 - O envolvimento de Ingrid

Marisa estava à máquina de costura quando viu Ingrid sair do quarto vestida de forma diferente naquela noite.
Estranhou, pois a filha geralmente usava um jeans e uma blusinha simples para ir ao cursinho e agora estava com um vestido novo, muito elegante, que tinha comprado havia pouco tempo.

- Por que está vestida assim, filha?
Vai faltar ao cursinho para ir a alguma festa?
Ela, esperando pela pergunta, respondeu prontamente:
- É que depois do cursinho vou à festa de aniversário da Adriana, por isso me vesti assim.

— Não seria melhor você voltar para casa e se arrumar depois?
Seus colegas vão achar estranho e podem até fazer piada.
— Qual nada, mãe, outros colegas do curso irão também, pretendo pegar carona com eles.
Se eu me atrasar, não se preocupe, estarei em boas mãos e prometo não demorar muito.
— Vá com Deus, minha filha.

Ingrid andou alguns metros e, chegando à esquina, tomou um táxi.
Teria de deixar aqueles livros e cadernos na casa de uma colega antes de ir para a frente do prédio onde estudava.

Não pretendia entrar, ficaria na portaria esperando Ernesto chegar.
Estava muito excitada e não sabia para onde ele a levaria nem quem era o homem que estava apaixonado por ela.

Na verdade, o que Ingrid não conseguia entender era por que passara os últimos dias pensando tanto em Ernesto.
Não conseguia tirá-lo da cabeça, e chegava inclusive a ter pensamentos eróticos em relação a ele.
O que ela não sabia era que estava sendo envolvida por entidades das trevas para fazer com que Ernesto quebrasse o trato e sofresse.

Assim que ela chegou, após poucos minutos Ernesto desceu de um carro último tipo e, ao vê-lo, sua excitação aumentou.

Ele estava muito elegante, bem vestido, estava perfeito!
De repente, pensou que Diego não tinha mais tanta importância assim.
Se pai Ernesto a apresentasse ao amigo, ela recusaria e depois trataria de se declarar a ele.

Após vê-lo tão impecável, tinha a certeza de que estava apaixonada.
Como fora cega querendo destruir o lar da irmã.
Ainda bem que havia acordado a tempo.

Entrou no carro e durante o percurso foram conversando amenidades.
Ernesto versava bem sobre diversos assuntos, e logo estavam à mesa de um famoso piano-bar.

Após os aperitivos, Ingrid indagou:
— Onde está seu amigo que não chega?
Por que a demora?
Terá desistido de me conhecer?

Ernesto pegou as mãos de Ingrid e apertou-as entre as suas.

Disse com voz dominada pela paixão:
— Não existe amigo nenhum.
O homem que está apaixonado por você sou eu.
Ingrid surpreendeu-se.
- Você? Como pode?
Por que não me disse antes?
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:18 pm

— Inventei aquela história porque não queria que você fugisse de mim assustada.
Mas aqui, agora, nesse clima romântico, sinto-me seguro para me declarar.
Estou amando você e quero que seja minha esposa.

Ela parecia estar vivendo um sonho.

Completamente envolvida, ela respondeu:
- Pois eu também estava torcendo para que esse seu suposto amigo não aparecesse ou desistisse de mim.
Na verdade, não consigo parar de pensar em você.
É um sentimento forte, inexplicável.
Parece que o conheço há muito tempo, sinto ânsia de estar ao seu lado.

Agora, neste momento, percebo que o que sentia por meu cunhado era uma paixão boba.
Eu aceito ser sua esposa.

Ernesto delirava.
Tomou Ingrid pelas mãos e a levou para a pista de dança.
O piano tocava Crazy, e eles, envolvidos, deixaram-se levar pelo som bonito da melodia.

Logo estavam no carro mais uma vez e Ernesto a levou para sua casa.
Sabia que ela se entregaria a ele naquela noite, por isso preparou a cama com pétalas de rosas vermelhas e aromatizou o ambiente com agradável cheiro de sândalo.

Completamente apaixonados, Ernesto e Ingrid entregaram-se ao amor.
Amaram-se várias vezes durante a noite e Ingrid, esquecida do mundo lá fora, acabou dormindo ali mesmo.

Pela manhã, Ingrid acordou cedo e observou Ernesto, que dormia profundamente.

Inebriada por tudo o que viveu, pensou:
"Como estou feliz!
Como estava enganada quanto ao que sentia por Diego.
Ernesto é tudo o que quero para mim."

Movida pela paixão, ela o beijou várias vezes no rosto sem que ele acordasse.

Desceu as escadas e ligou para a mãe, que atendeu aflita:
- Filha, onde você está?
Estamos todos preocupados.
Você nunca dormiu fora de casa e não temos o telefone de sua amiga aqui.
Você está bem?

- Sim, mãe, estou óptima.
A festa se alongou e ficou tarde para voltar, resolvi dormir na casa da Adriana mesmo, logo estarei aí.
Mas você disse que estão preocupados?
Por acaso Diego e Vanessa estão aí?

- Não, mas já liguei para eles avisando.
Querem saber onde você está.
Ainda bem que está tudo em paz. Isso não se faz.
Onde já se viu uma moça de família dormir fora de casa?

- Deixe de drama, mamãe, já dormi fora outras vezes, quando fui acampar, e a senhora não se importou.
- De qualquer forma, volte logo, pois não quero que fique na casa dos outros dando trabalho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:18 pm

Ingrid desligou e foi preparar um café para quando Ernesto despertasse.

Ficou deslumbrada com a cozinha.
Tudo muito moderno, limpo e tinha de tudo.
Preparou uma bandeja e levou ao quarto.

Ernesto estava acordando quando ela entrou.
Não conseguia se conter de felicidade.
Parecia que voltara a viver.
Havia se esquecido de como o amor era importante.

Passara a se dedicar à magia e deixara de viver.
A partir de agora, independentemente do que acontecesse, ele iria viver esse amor.

Depois do café, ele, com olhos fixos nos dela, perguntou:
- Como será nossa vida de agora em diante?
Já me considero casado com você.

Ela mostrou preocupação no rosto.

- Não queria pensar nisso agora, mas confesso que será difícil para mim assumir uma relação com você e casar.
Minha mãe é muito conservadora e também entende de magia.
Ela praticava desde a adolescência, mas deixou-a quando se casou por imposição de meu pai.

Depois que ambos se separaram e ele foi para Ouro Preto, ela não se sentiu mais à vontade para voltar, diz que prefere a máquina de costura.
Mas o certo é que minha mãe entende muito do assunto e sempre me diz que pais de santo, geralmente, trabalham para o mal, e que aqueles que fazem bruxarias para destruir pessoas estão ligados às trevas.
Ela nunca vai aceitar nossa união.

Ernesto ajeitou-se na cama e respondeu:
— A magia é uma espécie de ciência muito antiga.
Praticamente todos os povos a praticaram durante sua passagem pelo mundo.
Eu preferi me dedicar ao mal.
Estava desiludido com a vida e com Deus, e ainda estou.

Agora, com você, é que parece que o mundo voltou a sorrir para mim.
Estou disposto a largar a magia por você já tenho muito dinheiro e podemos ser felizes juntos.
Ninguém precisa saber o que sou e o que faço.

— Você é muito famoso em toda a São Paulo e até em outros estados.
Provavelmente minha mãe sabe quem você é.

Ernesto sentiu-se desanimado.
Após aquela linda noite de amor, não queria pensar em mais nada.
Mas, ao mesmo tempo, Ingrid entrara em seu coração, e foi com veracidade que ele falou em abandonar a prática da magia por ela.

Não voltaria a acreditar no bem nem em Deus, claro, mas deixaria de ser pai de santo, se esse fosse o preço para tê-la para sempre em seus braços.
Ouvira dizer que coisas horríveis aconteciam com quem abandonava o pacto com essas entidades diabólicas, mas queria pagar para ver.

Mesmo que para isso precisasse morrer, ele seria feliz enquanto pudesse.
Resolveu contemporizar.

- Não vamos pensar em nada agora.
Por enquanto, vamos manter nosso amor em segredo.
Fecharei meu terreiro e consultório, criarei um tempo para que as pessoas me esqueçam como bruxo e depois pedirei sua mão em casamento para sua mãe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 27, 2012 10:18 pm

Ambos resolveram esquecer o assunto e Ingrid partiu.

Ernesto estava descendo as escadarias quando ouviu um assobio.
Seu corpo arrepiou-se por inteiro, e ele sentiu medo.
Era alguma entidade que queria falar com ele e, pela sensação, não vinha com boas intenções.

Mentalmente, ele começou a conversar:

- Quem é e o que deseja?
- Aqui é Germano e trago mensagem de Belzebu para você.
— Diga. Estou pronto.
— Ele já sabe o que está se passando e o considera um traidor.
Como tal, terá a paga que merece.
A partir de hoje sua mediunidade está suspensa e se prepare para o que o aguarda.

- Vão me matar?
Podem fazer isso desde já.
Provei o gosto do amor verdadeiro e, por mais que me tirem desta vida, irei feliz, pois o momento que vivi ontem me fará feliz pela eternidade.

Germano riu macabramente.

- Estudamos seu caso com profundidade.
Você se comprometeu seriamente com o que chamam de lei de causa e efeito.
No terreiro, fez rituais de amarração, separação, moléstias e até mortes.

Pensa que vai ficar impune?
Além do mais, está rico com um dinheiro amaldiçoado, e terá de prestar contas um dia, centavo por centavo.
Se tirássemos sua vida agora, seu sofrimento seria pouco.

Fique com o seu amor e aproveite enquanto pode.
O que está reservado para você eu não quero nem para o meu pior inimigo.
Adeus e seja muito infeliz.

Ernesto ficou tonto e quase desmaiou.
Com muita força, readquiriu o controle de seus movimentos e sentou-se em uma cadeira.
Pelo menos eles não o mataram.
Mas Germano sabia de alguma coisa muito terrível que iria lhe acontecer.

O que seria? Matariam Ingrid?
Não. Não podia ser.
Ela era uma pessoa protegida, tinha luz, eles não conseguiriam fazer isso.

O estômago começou a arder, ele tomou um sal de frutas e foi para o consultório, que ficava nos fundos da casa.

Estava decidido a parar com o que vinha fazendo por amor a Ingrid.
Muitos clientes importantes estavam à sua espera naquele dia.
Ele foi enfático ao dizer que estava fechando o consultório por tempo indeterminado.

Mentiu dizendo ser ordem das entidades e que ele, durante o tempo em que ficaria ausente, iria fazer um curso, de onde voltaria mais poderoso ainda.

Algumas pessoas aceitaram, outras protestaram, pois já haviam pago metade do dinheiro dos despachos.
Ele prometeu devolver, e assim o problema foi resolvido.

O que ele não sabia é que ninguém lucra com o mal, e que, para ser feliz como ele sonhava, haveria de trilhar um longo e árduo caminho de redenção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:44 pm

19 - O preço da ambição

Arlete dirigia em alta velocidade por entre os carros de uma movimentada avenida, embora as lágrimas embaciassem sua visão.

Não podia acreditar que aquela tragédia havia acontecido.
Por sorte não pegara nenhum engarrafamento, e logo entrou na garagem da mansão da mãe, cantando pneu.
Esbaforida, abriu a porta e deixou-se cair no chão num pranto convulsivo.

Lucrécia estava ao telefone conversando com uma amiga, mas, ao ver o estado da filha e sentir que algo muito sério havia ocorrido, desligou sem se despedir.

Tirando Arlete do chão perguntou, aflita:
- Meu Deus! Minha filha, o que houve?

Arlete soluçava e não conseguia articular nenhuma palavra.
Quanto mais Lucrécia inquiria, mais ela chorava.
Pediu que a empregada trouxesse um calmante e a fez tomar mesmo a contragosto.

Os minutos se passaram e, aos poucos, pelo efeito do medicamento ela se acalmou, só aí pôde falar:
- Foi horrível, mãe. Horrível.
Eles estão mortos.
- Mortos? Quem?
- Bruno e Elza. Os corpos estão no Instituto Médico Legal.
Foi durante a madrugada, mas só soube agora - ela contava enquanto o pranto retornava.

Lucrécia ficou nervosa, mas queria saber ao certo o que tinha acontecido.

- Conte-me.
Como isso aconteceu?
Foi assalto?

Mesmo entre soluços, Arlete tentou explicar o que até para ela estava confuso.

- Bruno e Elza, nas últimas semanas, passaram a chegar cada vez mais tarde em casa.
Não me metia nos assuntos deles e não fazia perguntas.
Só que ontem eles demoraram mais que o habitual, passava das três e nem sinal.

Comecei a ficar preocupada.
Pensei em ligar para cá, mas resolvi esperar.
Não consegui mais pregar o olho e o dia clareou sem que eu tivesse nenhuma notícia.

No íntimo, sentia que algo grave estava acontecendo.
Pela manhã, quando Iracema chegou, encontrou-me no sofá da sala aflita.
Enquanto ela preparava o café, o telefone tocou e fui atender com rapidez.

Uma voz masculina do outro lado da linha dizia:
- Apagamos os dois, não cumpriram as regras, nos traíram pela ambição, receberam a morte.
Se você sabe de alguma coisa, fique calada ou sua vida não valerá nem um centavo.

- Fiquei aterrada e não tive tempo de perguntar coisa alguma, pois o homem desligou.
Naquele momento, senti que Bruno havia morrido, mas não queria acreditar.
Fiquei ansiosa e com medo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:44 pm

Não poderia prestar queixa em nenhuma delegacia, não podia fazer nada, a não ser ficar quieta e esperar.
Iracema percebeu meu nervosismo e me deu um chá, mas não me acalmei.
Horas mais tarde, um delegado ligou.

- É da casa do senhor Bruno Lopes de Oliveira?
- Sim. O que houve?
Encontramos o corpo dele e o de uma mulher chamada Elza com o mesmo sobrenome, com vários tiros e afogados na represa Guarapiranga.
Sinto muito, mas eles foram assassinados.
A senhora precisa reconhecer os corpos com urgência.

- Não consegui mais escutar o que o delegado dizia e desmaiei.
Quando acordei, deixei tudo e vim para cá.
Nem sei como não morri também nesse trânsito.
Não tenho coragem para fazer o reconhecimento dos corpos.
Ajude-me, mãe.

Arlete não conseguia conter o pranto, ao que Lucrécia dizia:
— Calma, filha.
O Bruno tem um irmão que mora em São Paulo e os pais que residem em Guararema.
Mas o que você sabe sobre essas mortes?
Pela ameaça que recebeu, deve estar por dentro do que eles faziam.

— Eu não sei ao certo.
Bruno e Elza tinham contas conjuntas em que depositavam dinheiro ilegal.
Eles ajudavam traficantes de drogas.
Devem ter cometido algum deslize.
A Elza era muito ambiciosa.

Eu costumava escutar o que eles conversavam nas madrugadas e, da última vez, a ouvi dizer que havia outro grupo interessado nos serviços deles e que a comissão seria maior.
Por certo eles traíram o grupo antigo e morreram.
Mãe, diga-me, o que farei sem meu marido?

Lucrécia estava horrorizada com tudo aquilo.
Na verdade, nunca simpatizara com Bruno e menos ainda com Elza, que mais parecia um homem.
Contudo, era hora de consolar a filha e tentar ajudá-la.

— Vou com você fazer o reconhecimento dos corpos.
Precisa ser forte.
Depois ligaremos para os pais deles e os avisaremos.
Falaremos também com esse irmão que mora aqui.
Como é o nome dele mesmo?

— Ernesto. Eu nunca o conheci, nem mesmo por foto.
Bruno raramente falava dele e da família.
— Que coincidência.
Ernesto é o nome do pai de santo que tanto nos ajudou.

— Sim, mas isso pouco importa.
Quantos Ernestos não existem por essa São Paulo?

Depois que Arlete se refez, Lucrécia ligou para Arnaldo contando o ocorrido e logo depois partiram para o IML.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:44 pm

20 - A transformação de Ernesto

Ernesto havia acabado de fazer amor com Ingrid e observava enlevado seu sono.
Depois do encontro em que havia se declarado, eles passaram a se encontrar com frequência, sempre à noite.

Ela dizia à mãe que ia estudar, mas dirigia-se para a casa de Ernesto, onde viviam intensas horas de amor.
Eles resolveram manter o romance em sigilo absoluto, porque Ernesto havia feito fama como pai de santo.

Se a mãe de Ingrid descobrisse, certamente proibiria a relação.
Mesmo assim, iam a bons restaurantes, confeitarias, pistas de danças.
Ernesto estava muito feliz, tão feliz que não imaginava ser possível nada maior em sua vida.

Conhecia muito de magia, mas não estava com medo do que pudesse lhe acontecer, afinal, já estava se relacionando com sua amada havia oito meses e continuava bem e alegre.

Ingrid era especial, carinhosa e estava realmente gostando dele.
Ernesto sabia que a magia que havia feito só fora o pontapé inicial, pois as bruxarias de amor, quando fazem efeito, não trazem harmonia ao casal, logo começam as brigas, violências, discussões.

Já entre ele e Ingrid tudo corria às mil maravilhas e ela não parecia nada embruxada.
Sentia em seus olhos, em seus gestos, que o amava verdadeiramente.

Como ele estava feliz!
Descobrira que a vida não valia a pena sem amor, carinhos, beijos, sexo, companhia.
E se até aquele momento nada de ruim lhe acontecera, era porque os espíritos malévolos tinham deixado de persegui-lo.

De vez em quando ele se arrepiava e ouvia algumas gargalhadas, mas logo mudava o pensamento e esquecia.
Germano tinha lhe dito que ele havia perdido a mediunidade, portanto não precisava mais se preocupar.

O que Ernesto ignorava é que nenhum médium perde sua sensibilidade.
Às vezes, momentaneamente, para testar a paciência do medianeiro ou quando ele se perde nas ilusões do mundo, o sexto sentido é retirado apenas na forma ostensiva, mas a pessoa continua a captar pensamentos, vibrações, intuições e inspirações do além.

A captação energética é inevitável para quem alguma vez já desenvolveu a mediunidade.
O telefone tocou e Ernesto foi atender.

Uma voz conhecida falou:
- É da casa do senhor Ernesto?
- Sim, é ele quem fala.
- Aqui é Lucrécia, mãe de Arlete, esposa de seu irmão Bruno.
- Lucrécia? E você mesma?
A esposa do engenheiro Arnaldo?

- Como assim? Você me conhece de onde?
- Você e sua filha, Arlete, vieram me procurar quando eu trabalhava com magia, não se lembra?
Se está hoje com seu marido, agradeça a mim.

Lucrécia não esperava por aquilo.
Era coincidência demais.
Mas ela não queria perder tempo, e foi directo ao assunto.

- Não importa o que fui fazer, o que importa é o que tenho para lhe falar agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:45 pm

Ernesto estava estupefacto.
Então o Bruno, para o qual fizera o feitiço, era seu irmão, talvez por isso não tenha conseguido ver o rosto dele.
Era coincidência demais.

Sabia que o irmão morava no Rio de Janeiro, mas não sabia o nome de sua esposa nem como vivia, uma vez que ele e Elza abandonaram tudo e nunca mais tiveram contacto.

- O que aconteceu com meu irmão?
- Ele está morto.
Não só ele, sua irmã também morreu.
- Como? - Ernesto sentiu uma tontura e ajeitou-se melhor na cama.

Aquela mulher, além de irritante, não sabia dar uma notícia como aquela de maneira mais adequada.

- É isso o que ouviu.
Seus irmãos foram assassinados durante essa madrugada e ninguém sabe o motivo do crime.
A polícia está investigando, mas nada descobriu até agora.
Minha filha está em pânico, terá de depor, não sabe o que fazer.

Estou ligando também para avisar que telefonamos para seus pais e demos a notícia.
Acho bom você ir directo para lá.

Sua mãe reagiu bem, ficou equilibrada e serena, mas seu pai teve um derrame e está internado.
Foi com dona Lúcia que consegui o seu número, e nem havia me dado conta de que é o mesmo que consta de seu cartão de pai de santo.
Como o mundo é pequeno!

- Muito obrigado por avisar.
Vou tomar as devidas providências de velório e sepultamento e depois irei a Guararema ver meus pais.
- Arnaldo já tomou todas as providências, não precisa se preocupar.
Acho bom você largar tudo e ir logo ajudar sua mãe.
Ela é forte, mas ninguém sabe até quando irá aguentar sozinha.

Afinal, dois filhos morreram, um está distante e o marido, em estado grave.
Não sei como os seus guias não lhe informaram isso, foi preciso eu gastar com esse telefonema.
Anote aí o endereço do cemitério onde será o velório.

Ernesto anotou, um pouco enraivado pela ironia de Lucrécia, e depois desligou.
Precisava ir com urgência ter com os pais.

Nesses oito meses depois de ter fechado o terreiro e o consultório, ele havia se reaproximado dos pais, que ficaram muito felizes com sua nova vida.

Só não contou que estava namorando e que pretendia se casar.
Acordou Ingrid que, sonada, não entendeu o que estava acontecendo.
Ernesto explicou tudo e pediu que ela o acompanhasse.

- Não acho prudente.
Seus pais não sabem do nosso envolvimento e podem não aprovar.
Sou muito nova e eles vão pensar que quero me beneficiar de seu dinheiro.

- E hora de revelar a todos que nos amamos, para que esconder?
Chegou o momento.
Estamos felizes, vamos nos casar, não vamos mais adiar as coisas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:45 pm

— Tenho medo.
Minha mãe e minha irmã não aprovarão minha união com você.
- Não revelaremos a eles agora.
Por enquanto, acompanhe-me a Guararema e eu a apresentarei à minha mãe.
Depois resolveremos como vamos dar a notícia a sua família.

Você já é maior e pode fazer o que quiser de sua vida.
Se sua mãe se opuser, você se casa comigo mesmo a contragosto dela, não é?

— Claro que sim.
— Então, ligue para ela e invente que vai dormir na casa de uma amiga.
Partiremos agora mesmo.

Ingrid ligou para Marisa e a convenceu de que dormiria na casa da amiga Adriana, não sem antes avisá-la que sua mãe poderia ligar para confirmar.
Adriana era a única pessoa que sabia de sua união com Ernesto.
Tudo arrumado, eles se puseram a caminho.

Era noite e o trânsito estava calmo.
Quando chegaram, foram directamente para o hospital onde seu Anselmo estava internado.
Dona Lúcia cochilava no corredor mas, ao ver o filho, despertou e o abraçou.
Chorou muito, mas notava-se que era um pranto conformado, resignado.

Ernesto também chorou.
Não pela morte dos irmãos, com quem tinha pouco contacto, mas por ver o sofrimento da mãe, já idosa, que havia perdido os filhos e tinha o marido doente, sem saber se sobreviveria.

Quando eles se acalmaram e dona Lúcia contou a situação do marido, ela se deteve a analisar Ingrid.

Depois perguntou:
— Quem é a moça?
— Mãe, eu gostaria de dizer que muita coisa em minha vida mudou.
Não apenas deixei de ser pai de santo, como também resolvi refazer minha vida.
Esta é Ingrid, minha companheira e futura esposa.

Dona Lúcia a abraçou calorosamente, depois a olhou nos olhos e disse:
— Você é uma garota especial e tenho certeza de que fará meu filho feliz.
Você não sabe quanto rezei à Nossa Senhora para que ele deixasse aquela vida de feiticeiro e encontrasse alguém especial para compartilhar a vida.
Um dia, desesperada, orei com mais fervor e uma brisa me envolveu.

Senti-me levitar e uma voz sussurrou ao meu ouvido:
"Seu pedido de mãe foi atendido".

Não sei de onde veio aquela voz, mas fiquei muito feliz e chorei bastante.
Eu aceitava a mesada que Ernesto me mandava, pois a situação em casa não era boa, mas não estava feliz com aquilo.
Sentia que aquele dinheiro me fazia mal.
Hoje ele está rico, mas, se quer um conselho de mãe, quero que doe tudo o que conseguiu com a magia negra às pessoas carentes.

Ao ouvir aquilo, Ernesto discordou, mas não queria discutir com a mãe naquela hora.
Ele jamais ficaria sem sua fortuna tão duramente amealhada.

Logo depois, o médico chegou e, mesmo com o adiantado da hora, Ernesto conseguiu entrar no quarto onde seu Anselmo estava.
Seu pai estava dormindo e ele não quis acordá-lo.
Por fim conseguiu convencer a mãe a ir para casa descansar, pois no dia seguinte teria de deixar Guararema e enfrentar o enterro dos filhos em São Paulo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:46 pm

Durante o velório e o enterro, todos fixaram a atenção em Ernesto, que estava de mãos dadas com Ingrid.
No fundo, queriam saber quem era aquela jovem que havia conquistado o amor do famoso pai de santo.
Dona Lúcia chorava conformadamente e, quando tudo terminou, foi para a casa do filho.

Embora Ernesto a estivesse tratando muito bem e Ingrid se esforçando para vê-la melhor, ela queria mesmo voltar para sua cidade e acompanhar a evolução do estado de saúde do marido.
Ernesto entendeu que naquele momento tinha de deixar tudo e ir com ela.

E, quando se viu a sós com Ingrid, pediu:
— Venha comigo.
Será difícil enfrentar esses momentos lá sem você.

— Não posso, meu amor.
Para acompanhá-lo tive de inventar um monte de desculpas para minha mãe e ela já está bastante desconfiada.
Se eu resolver ir com você, não poderei mais fazer isso, terei de falar a verdade.

— Tem razão.
Eu vou, mas, quando meu pai melhorar, irei à sua casa e pedirei sua mão em casamento para dona Marisa.
Enquanto isso, vá amadurecendo nela e em sua irmã a ideia de que está namorando e pretende se casar.

— Sinto medo. Minha mãe não o aceitará com facilidade.
- Pelo que você conta, ela é uma mulher espiritualizada.
Confessarei tudo o que fiz e direi que estou em outro caminho.
Serei sincero, sei que ela entenderá.

Ingrid o beijou e partiu.
Algum tempo depois, Ernesto estava mais uma vez a caminho de Guararema.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:46 pm

21 - O desabrochar do amor

Fazia algum tempo que Alice havia começado a frequentar o centro espírita no qual sua amiga Magali era participante.
Depois da separação, ela tinha voltado para casa e já estava trabalhando como secretária na empresa de um amigo de seu pai.

Apesar de estar separada do homem amado e ter de aturar as futilidades de sua mãe, sempre à procura de sexo irresponsável, de presenciar as intermináveis brigas entre os pais, ela se sentia feliz e harmonizada.

Havia encontrado no espiritismo a força de que precisava para enfrentar seus desafios e vencê-los.
A descoberta de que tudo estava sempre certo e de que Deus dirigia o universo com sabedoria e amor, levando-a sempre para o melhor, confortava-a e deixava-a estuante de paz.
Sentia-se em segurança, afinal, independentemente do que houvesse, a vida a levaria para a felicidade e a harmonia.

Mãe Márgara havia lhe avisado que a separação seria inevitável, mas com tempo ele retornaria para ela.
O feitiço havia sido desfeito, mas Arnaldo, já ao lado de Lucrécia, tinha criado formas de pensamentos que o impediam de tomar a decisão de deixá-la e, assim, o processo seria demorado.

Todavia, Alice, despertando para as verdades da vida, passou a questionar se realmente queria Arnaldo de volta.
Não que ela tivesse deixado de amá-lo, mas não estava disposta a conviver com um homem que se culpava por uma separação e que, por isso, ficaria sempre amargurado e propenso ao feitiço.

Por isso, entregou sua vida amorosa a Deus.
Que Ele fizesse o melhor.
As amigas, até mesmo Magali, diziam que ela deveria arranjar alguém, que a solidão não era boa, uma vez que era jovem, bonita e podia conseguir tudo o que quisesse.

Alice retrucava e dizia que não se sentia só e que jamais se envolveria com alguém apenas para tapar um vazio que só ela poderia preencher.
Naquela noite, ela estava particularmente feliz.

Havia escutado uma linda palestra no centro sobre a força do pensamento positivo e já ia saindo com Magali por uma das portas laterais quando sentiu uma mão apertar de leve seu braço.

Virou-se, surpresa, e falou:
- Eduardo? Você por aqui?
- Sim. Há duas semanas encontrei, finalmente, o centro espírita com o qual tenho afinidade.
Já tinha visto você, mas nunca tive chance de me aproximar.
Como você está?

De repente, um nó surgiu na garganta de Alice.
Eduardo era filho de Arnaldo e muito parecido com o pai.
Olhar para ele a fez relembrar de tudo que havia vivido.

Disfarçou a emoção e respondeu:
— Eu estou muito bem. E você?
— Melhor agora na presença de vocês.
Aqui no centro conheço algumas pessoas, mas adoro fazer novas amizades e encontrar velhos conhecidos.
A propósito, não vai me apresentar sua amiga?

- Oh, desculpe, que distracção a minha.
Essa é Magali, a responsável por eu ter conhecido a espiritualidade.
Ambos trocaram beijos no rosto e, já na calçada, Eduardo propôs:
- Está quente hoje, vamos tomar alguma coisa numa confeitaria?
Vocês me acompanham?

Alice ia dizer que não.
Para ela, sair com o filho de Arnaldo significava, de certa forma, voltar ao passado, forçar algo sem ser a hora.
Mas, antes que ela respondesse, Magali aceitou.
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:46 pm

- Vocês estão de carro e eu também.
Façamos assim: conheço um óptimo lugar, eu vou à frente e vocês me seguem.
Ambas concordaram e, no carro com a amiga, Alice comentou:
- Eu não queria ir.
Você nem me deixou responder.
Se alguém me vir na companhia de Eduardo pode achar que estou tentando tirar partido de sua amizade para voltar a ser amante do pai dele.
Acho que vou desistir.

Magali riu com bom humor.

- Deixe de ser boba.
Eduardo é gentil, só quer fazer amizade connosco e conversar.
O que tem de mais nisso?
Aliás, o que a opinião dos outros importa para você?
Não estamos aprendendo que as críticas não servem para nada?

- Não é isso. Coloque-se no meu lugar.
Você se sentiria bem saindo com o filho do seu ex-amante?
- Eu encararia como natural. É apenas uma amizade.
A maldade está nos olhos de quem vê.
Pare com isso. Vamos ser amigas do Eduardo.

Se ele procurou um centro espírita, é porque acredita na espiritualidade.
Vamos sempre nos ver, quer você queira ou não.
Além do mais, ele é lindo.
Notou como os olhos dele brilham enquanto fala?

- Sim. Arnaldo gosta demais do filho, vivia falando nele.
Contou-me que Eduardo é espírita há muitos anos.
Além disso, ele já foi ao nosso apartamento muitas vezes enquanto o pai morava lá.

Mas não se anime com a beleza, ele é um solteirão convicto.
Gosta de namorar, mas diz que nunca vai levar ninguém a sério.

Magali sorriu.

- Quando ele encontrar a mulher da vida dele tudo isso vai mudar.
- Já sei, você quer ser uma das candidatas.
Magali pareceu falar sem perceber:
- Não. O destino dele é com outra.
- Como você sabe?
Virou profetisa agora?

- Não sei, me deu vontade de falar e falei, foi mais por impulso.
E quer saber? Vou me candidatar, sim.
Você vai ver como vou jogar charme para ele esta noite.

O carro de Eduardo foi estacionado e logo depois o de Alice.
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:46 pm

Quando todos estavam à mesa, após pedirem um drinque, Eduardo comentou:
— Fico feliz em saber que você está bem mesmo longe de meu pai.
O amor de vocês era verdadeiro, fiquei um pouco triste quando acabou.
Magali surpreendeu-se:
— É a primeira vez que vejo um filho de uma mãe traída falar assim para a mulher que foi o pivô do sofrimento da família.
Não consigo entender.

Eduardo olhou-a firmemente enquanto dizia:
- Talvez um dia, quando amar de verdade, você compreenda.
— Mas como pode saber?
Os comentários são de que você nunca namorou ninguém a sério.
Como pode entender do amor?

— Eu entendo porque sinto amor por tudo o que faço, pela vida, pela maravilhosa chance de estar reencarnado para aprender.
É certo que até hoje não senti esse "amor paixão" por ninguém em especial, mas sei que ele mora em meu peito.
Já vivi muitas encarnações, já amei, fui amado, sofri, fiz sofrer.
Como não entender do amor?

Alice interrompeu.

— Muito bonito o que você disse.
O meu amor por seu pai foi realmente verdadeiro e ainda é, mas ele fez uma opção.
Meu dever é deixá-lo livre.

— Concordo, e você agiu certo.
Mas, já que acreditamos em espiritualidade e sinto confiança em vocês, posso afirmar:
meu pai se separou de você e está com minha mãe por influência energética.

Tentei e ainda tento alertá-lo de todas as maneiras.
Mas ele, que sempre me ouviu, dessa vez não quer saber, está completamente fascinado.
Creia, Alice, um dia ele ainda voltará para você.

Alice sentiu os olhos se encherem de lágrimas.
— Já que você tocou no assunto, gostaria de dizer que eu e Magali já estamos a par de tudo o que ocorre com seu pai.
Eduardo interessou-se:
— Como assim?

Enquanto tomavam o drinque, ambas contaram como ficaram sabendo do feitiço, da conversa que tiveram com mãe Margara e de todos os detalhes.
Eduardo cada vez mais horrorizava-se com o que ouvia, principalmente com o comportamento de sua mãe, que agia na surdina, com perfídia.

Ao final, falou:
— Sinto muito, Alice.
Se dependesse de mim, ele não teria feito o que fez.
Agora só nos resta orar e esperar.
Se você o ama de verdade, saberá aguardar a hora de tudo isso terminar.

Nenhuma relação concretizada pelo feitiço vai para a frente.
Não é natural, e a vida destrói tudo o que não é natural.

— Sei disso e é o que tenho feito.
Confesso que essa doutrina que abracei tem me ajudado muito.
As leituras, as palestras têm me deixado forte e com outra visão da vida.
Hoje não peço mais a Deus que Arnaldo volte para mim, peço apenas que Ele faça o melhor para minha vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:47 pm

Eduardo a encarou profundamente, enquanto ela dizia aquelas palavras, e sentiu o coração descompassar.
Seu rosto ficou vermelho e um calor gostoso penetrou o seu corpo.

De repente, pareceu que um véu fora arrancado de sua visão:
estava diante da mulher de sua vida.
Tinha certeza disso.

No entanto, dominou a emoção e ela nada percebeu.

- Você tem uma alma nobre, Alice.
Gostaria de vê-la outras vezes para que possamos conversar mais.
Não só você, como Magali também.
Foi muito agradável encontrá-las.
Aqui está o cartão com o número do meu celular.

Ele retirou dois cartões pessoais da carteira e os entregou às duas amigas, que retribuíram.
Quando se despediram, já passava das onze.

No carro, com Alice, Magali estava calada e pensativa.
Será que deveria dizer o que tinha percebido à amiga?

O carro parou em frente à sua casa e Alice perguntou:
- Você ficou calada de repente, o que aconteceu?
— Nossa! Você me conhece mesmo, hein!
— Claro! Conte logo o que houve.

Magali era o tipo de pessoa que não sabia ocultar segredos.
Se tinha um plano, um sonho, um desejo, se algo bom lhe acontecia, ela logo contava para todo mundo.
Sua mãe, Margarida, dizia que não era bom contar nossos planos para os outros, pois sempre dá errado, mas com Magali esse conselho não funcionava.

Ela era uma boca-aberta, por isso logo estava contando à amiga:
— Não sei se deveria falar, pois posso estar enganada e fazer confusão em sua cabeça.
— Estou ficando curiosa.
Pare com isso. O que aconteceu?

— Como eu lhe falei, fiquei jogando charme para o Eduardo o tempo inteiro, enquanto estávamos no bar.
Cheguei a encará-lo várias vezes.
Ele percebia, mas não retribuía.
Continuei insistente e, com isso, fiquei observando-o.
Em um momento, no fim da conversa, o olhar dele mudou quando a encarou.

Senti muito amor nos olhos dele enquanto a fitava.
Por mais que tentasse disfarçar, percebi que seu rosto ficou vermelho e que ele chegou mesmo a tremer enquanto pegava o copo.
Sinto que nesta noite ele se apaixonou por você.

Alice começou a ficar nervosa.
Magali não era dada a brincadeiras.

— Pare com isso, você só pode estar enganada.
Eu não percebi nada disso.
— Porque estava desatenta, falando do Arnaldo.
Mas eu, que estava de olho nele, vi tudo.
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