LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:08 pm

- Primeiro precisa deixar de lado todo o pessimismo.
O despertar do coma, saber que escapou da morte, mudará profundamente sua maneira de ver a vida.
Deixará a depressão de lado e cuidará de fazer algo por si mesma.
É isso o que todos têm de fazer para evitar um processo depressivo.

Seu marido e a irmã dele são escravos no umbral e permanecerão assim por muito tempo, até que amadureçam para o bem.
Procure, em suas preces diárias, orar por eles, mas cuide de sua vida, busque ser feliz.
Esse é o estado natural do homem e foi pra isso que Deus nos criou, para a felicidade, o progresso, a prosperidade e a luz.

— Você diz coisas bonitas.
Queria escutar isso todos os dias.
- Não falta quem lhe diga.
Seu irmão mesmo é um dos que andam pregando essas verdades.

Arlete reflectiu e percebeu como deixara de ouvir o que Eduardo falava.
Como havia perdido tempo!
Mas havia uma pergunta que a inquietava e, ganhando coragem, resolveu fazê-la ao seu mentor.

- Sofri o acidente e fiquei no mesmo estado em que Diva ficou.
Você diz que não há punição.
Então por que isso me ocorreu?

- Dizer que não há punição nem castigos divinos não quer dizer que não exista o retorno das nossas acções.
Você precisava reflectir sobre todo o mal que fez, agiu com irresponsabilidade e não se importou quando soube o que sua rival na Terra estava passando.
Você não conhecia as leis da vida.

O mal, mesmo quando o fazemos indirectamente, é uma semente que, se encontrar solo fértil, vai se desenvolver e acabará por nos sufocar.
Por isso em toda acção que formos praticar, por menor que seja, devemos sempre perguntar se ela vai prejudicar alguém.
Se for, não devemos fazê-la de forma alguma.
Este é o preço da paz.

Arlete havia entendido.
Seu mentor carinhosamente a fez adormecer e a reencaixou no corpo físico que, na Terra, acabava de despertar.

Foram dias de alegria para a família de Lucrécia.
Arlete voltara do coma e, aos poucos, começou a se readaptar à vida.
Felizmente, nada grave lhe ocorrera na coluna e ela pôde voltar a andar.

Mesmo assim, atravessou semanas na cadeira de rodas e depois em um par de muletas.
Uma mudança profunda ocorreu nas personalidades de mãe e filha.
Fazer esforço para andar normalmente e ter escapado com vida e sem sequelas de um acidente daqueles deixou Arlete introspectiva e, como que por encanto, sua depressão foi embora.

Numa bonita manhã de sábado, as duas estavam sentadas em um dos bancos do jardim e, enquanto conversavam, Arlete falou:
— Esses dias estive pensando em como as pessoas se deprimem à toa, talvez por não saberem que já têm tudo de que precisam para ser felizes.

Lucrécia também havia pensado no assunto, pois estava se sentindo triste, mesmo tendo os filhos por perto, dinheiro e casa boa.
Nada lhe faltava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:09 pm

— Como chegou a essa conclusão?
Acho que as pessoas sempre tem um motivo para estar deprimidas.
Ninguém fica triste à toa.
— Mamãe, não sei explicar, mas algo em mim despertou.
De repente, passei a ver a vida de outra maneira, a enxergar coisas que antes não via.

Desde que saí do coma, comecei a questionar o porquê da vida, dos acontecimentos, e parecia que uma voz me respondia ao ouvido tudo o que eu perguntava.
Eduardo disse que era meu mentor.
Não sei se acredito muito nisso, mas o certo é que as respostas começaram a surgir dentro de num e eu fui reflectindo...

Curei-me da depressão.
Sabe o que descobri?

Lucrécia meneou a cabeça, e ela continuou:
— Descobri que as pessoas criam falsas necessidades, desejos grandiosos, fantasias, ambições desmedidas e acreditam que só serão felizes com isso.
Por causa disso, entram em um círculo vicioso, andam sonhadoras e se esquecem de viver o momento presente, com tudo de bom que ele tem a oferecer.
Por essa razão, entram na esperança, na ansiedade, que fatalmente levam à depressão.

Eu mesma não soube aproveitar o lar que Deus me deu.
Com o ciúme, o desejo de posse, por não aceitar meu marido como ele era, deixei de viver a felicidade que a vida me reservara, enveredei pelos caminhos do mal e, quando o perdi, fiquei depressiva justamente por descobrir que havia perdido a mim mesma.
Coloquei minha felicidade nas mãos de um homem e esqueci de ser eu mesma.

Isso nunca dá certo.
Foi preciso um acidente, ficar entre a vida e a morte, com a possibilidade de me tornar paralítica, para aprender que podemos ser felizes agora, no presente e que não devemos ficar adiando este instante.
Temos tudo para alcançar a paz, só que não valorizamos, por isso atraímos tantos sofrimentos.

Lucrécia estava emudecida.
A filha tinha mudado, parecia até Eduardo falando.

— Sinto que tem razão.
Confesso que preciso também deixar as ilusões de lado.
Tenho sentido vontade de conhecer o espiritismo.
É uma filosofia que fez muito bem ao Eduardo.
Percebe como ele está sempre alegre e feliz?

— Eu também quero conhecer.
Arrependo-me muito por ter me envolvido com a magia.
Hoje é dia de palestras no centro que ele frequenta.
Vamos falar para ele que iremos hoje.

As duas continuaram conversando sobre a vida, quando, minutos depois, viram Eduardo aparecer e se dirigir à garagem.
Tentaram chamá-lo, mas ele não escutou.
Tirou o carro e saiu com rapidez.

— Percebeu como estava o rosto dele?
— Sim, mamãe, nunca vi o Eduardo com essa cara.
O que terá acontecido?
— Só pode ser algo grave. Nunca o vi triste.
— Nem eu. De qualquer forma, seu irmão é auto-suficiente.
Seja qual for o problema, ele saberá resolver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:09 pm

Não deram mais importância ao assunto e logo estavam falando sobre outras coisas.

Eduardo dirigia com pressa.
Não gostava de ultrapassar a velocidade permitida, mas não estava conseguindo se conter.
Durante a noite tivera sonhos confusos, imagens que não conseguira identificar.

Quando acordou, sentiu uma grande tristeza, vontade de chorar, inquietação.
Ele não era médium e tinha certeza de que não estava com nenhum espírito obsessor por perto.
Orou bastante, sentiu-se aliviado, mas mesmo assim a sensação desagradável continuou.

De repente, o rosto do pai veio-lhe forte à mente.
Eles eram muito ligados, e logo Eduardo pensou que algo desagradável pudesse estar acontecendo com Arnaldo.
Desde que Alice voltara para ele, notara que o pai havia recuperado a alegria e que ela também estava muito feliz.

Viam-se regularmente.
O que poderia estar acontecendo?
Tentou esquecer aqueles pensamentos desagradáveis, porém, quanto mais lutava, mais o rosto de Arnaldo surgia em sua mente.

Não aguentando a pressão, pegou o carro e foi ao Morumbi.
Lá chegando, entrou no apartamento e encontrou o pai e Alice ainda fazendo o desjejum.

Tudo estava absolutamente em paz.
Abraçou o pai com força, perguntou como tudo estava e, ao se certificar de que nada ocorrera ali de ruim, voltou para casa.

Ao chegar, Lucrécia o abordou dizendo que naquela noite ela e Arlete desejavam ir ao centro com ele.
Eduardo ficou muito feliz e foi com prazer que entraram em um ambiente simples, porém confortável, onde ouviram uma belíssima palestra sobre o poder da prece.
Quando terminou, foram à livraria e adquiriram os livros de Allan Kardec, a série André Luiz, alguns romances ditados pelo espírito Emmanuel, bem como uma trilogia psicografado pela médium Yvonne Pereira.

Contudo, mesmo após o passe Eduardo não se sentiu bem.
Ao retornar ao lar foi logo se recolher.

Lucrécia e Arlete, empolgadas com os livros que compraram, não deram importância.
Afinal, Eduardo adorava ficar sozinho no quarto à noite, onde lia, assistia a filmes e ouvia música.

Estavam comentando o prefácio do livro Nosso Lar quando o telefone tocou e Lucrécia foi atender.

- Alô?
A voz do outro lado estava nervosa e rouca.
- Aqui é Alice.
Desculpe ligar para sua casa, dona Lucrécia, mas tentei o celular de Eduardo, que está dando caixa postal.
Estou aflita e nem sei como falar.

Lucrécia sentiu que alguma coisa grave havia ocorrido.
Alice começou a chorar desesperada e ela passou a se sentir nervosa.

- O que foi, menina? Diga logo.
- O Arnaldo...
- O que tem ele? Vamos, fale!
- Sofreu um infarto fulminante.

Alice não conseguia mais falar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:09 pm

Lucrécia insistiu com o fone no ouvido até que outra voz feminina se fez ouvir:
- Dona Alice está muito nervosa e foi sedada agora.
Com quem estou falando?
- Aqui é Lucrécia, ex-mulher de Arnaldo.
O que houve?
- Infelizmente, ele faleceu poucos instantes antes de dar entrada aqui.
O enfarte foi fulminante. Sinto muito, senhora.

Lucrécia sentiu o chão faltar sob seus pés, mesmo assim gravou o nome do hospital onde o ex-marido estava.
Era um hospital muito bem-conceituado em São Paulo e não foi preciso anotar.
Arlete não precisou perguntar nada à mãe, pois Lucrécia disparou a falar e a chorar.

- Precisamos ter calma.
Se ficarmos assim, como vamos falar ao Edu?
- E isso o que mais temo, avisá-lo que o pai morreu.
Mesmo com tanta espiritualidade, não sei como Eduardo vai reagir.
Arnaldo era a pessoa que ele mais amava no mundo.

- Temos de estudar uma forma de subir e contar.
- Vá você, Arlete. Eu não tenho nenhuma condição.

Elas largaram os livros e tentaram fazer uma prece, como ouviram na palestra, até se sentirem mais calmas.
Enquanto isso, Eduardo, que ao chegar ao quarto deitou-se e entrou em sono profundo, logo começou a sonhar.

Viu uma enfermeira entrar segurando Arnaldo pelo braço e ele o olhava com muito amor dizendo:
— Filho, vou fazer a grande viagem.
Você foi a coisa mais preciosa que a vida me deu.
Nunca vou esquecer que um dia tive o privilégio de te amar e ser seu pai. Adeus.

Eduardo ficou nervoso, mas havia entendido.

— Eu sabia que ia chegar este momento.
Não fiquei bem o dia inteiro.
A enfermeira olhou carinhosamente para ele e falou:
— Deus sabe fazer sempre o melhor.
Chegou a hora dele.
Num esforço muito grande, conseguimos que, depois do enfarte, ele ficasse lúcido para se despedir.
Quando sentiu a dor, este foi o único pedido: despedir-se de você.
Agradeça por essa bênção.
Agora ele ficará adormecido e só acordará algum tempo depois.
- Adeus, pai!

Arnaldo deixava as lágrimas escorrer.

— Não diga adeus a seu pai — tornou mais uma vez a enfermeira.
Você sabe que a vida continua e que a morte é uma ilusão.
Diga um até breve.

Pai e filho se abraçaram.
Pouco depois, eles foram desaparecendo.

Quando Eduardo acordou, lembrou-se claramente da vivência espiritual e sabia que o pai havia desencarnado.

Quando Arlete entrou no quarto, ele apenas disse:
— Diga-me em que hospital está o meu pai.
Quero vê-lo agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:09 pm

27 - A provação de Ingrid

Depois de muito tempo desacordada pelo efeito do clorofórmio, Ingrid despertou.
Percebeu que estava em um pequeno quarto sem dominação, deitada sob um fino colchão.
A porta do ambiente era de um cedro bem trabalhado, o que a levou a pensar que estava em uma casa antiga.

Afinal, o que havia de facto acontecido com ela?
Começou a rememorar e concluiu, desesperada, que havia sido sequestrada.
Logo outras perguntas começaram a passar por sua cabeça.

Quem tinha feito isso?
Com qual intenção?
Como Ernesto e suas filhas estavam naquele momento?
Começou a chorar.
Quando se acalmou, passou a observar melhor o local em que estava.

Uma luz bruxuleante fez com que percebesse que havia ali um toucador antigo, cheio de gavetas, uma estante com livros, tudo muito empoeirado.
Aterrorizada, notou que alguns ratos, baratas e tarântulas grandes caminhavam no local.
Ficou quieta e começou a rezar.

Algumas horas depois, a porta se abriu com estrondo e dois homens encapuzados entraram.
Ofereceram a ela um prato de comida e uma maçã de sobremesa.
Ingrid pensou em empurrar tudo aquilo com raiva, mas sentiu o estômago doer de fome e resolveu comer.

Os homens que entraram e se mantinham em silêncio ficaram observando todos os movimentos dela.

De repente, um disse para o outro:
- É assim mesmo que o patrão quer.
Ela tem de estar bem cheia de carne para agradar-lhe ao máximo.
De que adiantaria para ele uma mulher que ficasse só pele e osso?
Ainda bem que é boazinha e resolveu comer.

Ingrid começou a ficar nervosa.
O que aquelas pessoas queriam com ela?

Começou, então, um diálogo:
- Quem são vocês e por que me sequestraram?
- Isso não podemos dizer, mas no final você vai gostar do que acontecerá aqui.
- Como vou gostar se estou presa, sem ver minha família e minhas filhas?
Já pediram o resgate?

O homem deu uma gargalhada maliciosa.

- O patrão não quer dinheiro.
Ele quer outra coisa tão gostosa quanto dinheiro.
Depois que conseguir tudo o que deseja e se saciar, vai libertar você.

Fique despreocupada.
Ingrid percebeu que eles não iriam falar mais nada, mas foi o suficiente para entender que o mandante do sequestro a queria sexualmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:10 pm

Os dois homens saíram e ela ficou só.
Naquele momento, compreendeu que a vida estava trazendo um sofrimento grande para sua família e, principalmente, para Ernesto.
Provavelmente por ele ter se envolvido com a feitiçaria.
Mas ela sabia que Deus era bom e não desamparava ninguém e continuou a orar e esperar para ver o que iria acontecer.

Horas mais tarde, a porta se abriu e os dois homens entraram.

- Chegou a melhor hora, garota.
Fique quietinha que vamos amarrá-la.

Ingrid tentou correr, mas os homens logo a imobilizaram.
Desesperada e com o coração descompassado, ela viu que eles colocaram um capuz em seu rosto, impedindo-a de ver o que quer que fosse.

O silêncio se fez e ela percebeu que os homens haviam saído.
Notou outra pessoa se aproximar e logo entendeu que era o "patrão".
O que seria dela naquele instante?

Amarrada, sem forças, nada poderia fazer.
O homem chegou mais perto e tocou seu braço.

Ingrid percebeu quais eram as intenções dele.
Começou a se debater, tentando dar chutes e mover as mãos, mas viu que era em vão.

Ela chorava humilhada pela situação.
Quando tudo terminou, ele se foi.
Os outros homens voltaram, desamarraram-na e a jogaram no chão.

Nunca, em toda sua vida, ela pensou que isso fosse acontecer.
Era a humilhação máxima para uma mulher.
O que seria dela dali em diante?
Certamente estava nas mãos de um psicopata que terminaria por matá-la.

Não acreditava que um dia ele fosse se saciar e a libertar.
Pela sua fúria, percebeu ser uma pessoa violenta e perversa.

Ingrid chorou muito.
De repente, enxugou as lágrimas e um pensamento pior lhe veio à mente.
E se ela engravidasse?

Sentindo aumentar o desespero, ela voltou a chorar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:10 pm

28 - A aflição de Ernesto

Ernesto e a família de Ingrid continuavam desesperados.

Os dias se sucediam e ninguém ligava para pedir o resgate.
A polícia havia iniciado as buscas, mas nem um rastro, nenhuma pista, nenhuma testemunha.
Parecia que o chão havia tragado sua esposa.
O facto de não pedirem o resgate confirmava o que pai Wilton havia lhe dito, mas também se lembrava que ele dissera que Ingrid sofreria muito no cativeiro.

O que estaria acontecendo com ela?
Naquele momento, Ernesto só não fez uma bobagem porque contava com o apoio de Marisa, Vanessa, Diego e seus pais, que vieram do interior para lhe dar forças.

Numa tarde, avisaram a Ernesto que ele tinha visita.
Foi com alegria que ele recebeu mãe Márgara.
Após conduzi-la à sala, os dois, a sós, começaram a conversar.

- Espero que não tenha vindo aqui me dar lições de moral e dizer que estou sendo castigado por ter lidado com magia negra.
Sorrindo com delicadeza, a simpática negra respondeu:
— Não somos ninguém para julgar e nem acredito que você esteja sendo castigado.
Vim para lhe dar forças e para dizer que tenho orado bastante por todos vocês desde que soube do que aconteceu pelos jornais.
Também tenho uma mensagem do plano astral para lhe fornecer.

Os olhos de Ernesto brilharam.
Sempre confiara muito em mãe Márgara, era uma mulher digna que trabalhava para o bem.
Haviam feito trabalhos de desmanche juntos e percebeu que ela tinha muita força e poder sobre os espíritos inferiores.
Se havia alguma mensagem para ele, certamente seria positiva.

— Uma amiga sua do outro plano manda lhe dizer que não se desespere, que sua esposa está passando por algo que ela mesma atraiu, e que você também precisava dessa dura lição para que pudesse voltar à espiritualidade.
Ela vai retornar para o lar sem nenhum problema.
Diz que está programado um sofrimento muito grande para você, mas que pode ser evitado caso se disponha a reparar pela inteligência e pelo amor.
Pede que doe tudo o que conseguiu com a magia a entidades filantrópicas e pessoas carentes.

Ernesto ficou intrigado.
Todos o aconselhavam a fazer a mesma coisa, mas ele não estava disposto a ficar sem sua fortuna por nada no mundo.
Se Ingrid ia voltar para casa, ele não precisava fazer nada daquilo.

— Tudo bem, todos acham linda a pobreza e dizem que devo doar meus bens, mas isso não farei.
O que importa é que minha esposa voltará para mim.
Tudo o que ganhei foi com muito esforço, dei energias minhas, comprometi minha alma, é justo que fique com o dinheiro.
Os umbandistas e os espíritas têm essa mania de fazer tudo de graça, mas sei que muitos médiuns espíritas estão vivendo do dinheiro de livros psicografados, então, como podem me mandar fazer o que eles mesmos não fazem?

Mãe Márgara ficou calada por alguns instantes, meditando, e depois respondeu:
— Você sabe que sou umbandista, mas conheço bem o espiritismo kardecista.
Nós fazemos tudo de graça, sim.
Nos terreiros de umbanda nada é cobrado, como também nada é cobrado em um centro espírita.

Os voluntários estão lá para servir por amor, sem interesse.
Em relação aos livros, cada um tem sua consciência e age como acha certo, não posso julgar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:10 pm

- De qualquer forma, não me desfarei do que tenho.
— Você tem o livre-arbítrio, mas o que o fez ganhar dinheiro foi o trabalho para as trevas.
Você interferiu na vida das pessoas, matou, roubou, feriu, separou.
Eu quero o seu bem, por isso o aconselho pela última vez:
esse dinheiro não serve, devolva à vida.

Ernesto pensou por alguns instantes e, para fugir à conversa, fingiu interessar-se pelo que ela disse antes.

- Você me disse que eu deveria voltar à espiritualidade.
Quer dizer que devo ser espírita novamente ou umbandista?
- Ninguém precisa ser nada se não quiser.
Voltar-se para a espiritualidade é viver no bem maior, acreditando na força da bondade, no optimismo, estar em contacto com as forças da natureza e, principalmente, ser ético em tudo o que fizer.

A propósito, o centro espírita que você frequentava passou por várias reformulações.
Lá eles estão tentando ser espiritualistas independentes, com outras formas de conhecer a verdade.
O Sérvulo aderiu aos novos conceitos da metafísica e tudo melhorou, tanto que o número de frequentadores aumentou, como também aumentou o número de pessoas que mudaram sua vida para melhor.

Eles já não acreditam mais em carma, dívidas passadas, almas credoras etc...
Seria muito bom você voltar.

- Prometo pensar.
Mas sua visita hoje me fez muito bem, estou me sentindo sereno, em paz.

A conversa foi interrompida por Marisa, que entrou na sala com uma bandeja de biscoitos e chá.
Todos começaram a conversar com mãe Márgara e, por alguns instantes, esqueceram-se do sequestro.

Logo o telefone tocou e Diego foi atender.
Todos perceberam que ele ficou com o rosto vermelho e suspeitaram ser algo sobre Ingrid.

Diego passou o telefone a Ernesto, que atendeu:
- Vamos, digam, o que fizeram com minha mulher?
A grossa voz do outro lado da linha respondeu:
- O patrão manda lhe dizer que sua mulher é muito boa de cama e que está dando um bom trato nela — após gargalhar, o homem encerrou a ligação.

Ernesto caiu no sofá desalentado.
Depois de contar tudo o que ouviu, começou a soluçar.

Diego o abraçou e lembrou:
- O telefone está grampeado pela polícia.
Logo vão saber de onde vem a ligação.
Vanessa também abraçou o cunhado e disse:
- Fique calmo, tudo vai passar.
Com o número do telefone, certamente chegaremos mais próximos do sequestrador.

- Enquanto isso, minha mulher está lá sendo estuprada por esse miserável.
Se eu pudesse, o mataria com requintes de crueldade.
Mãe Márgara interferiu:
- E bom conter esses impulsos violentos.
Quem sabe você não atraiu isso justamente para trabalhar esse seu lado?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:10 pm

- Mãe Márgara - dizia Ernesto ajoelhado e chorando - eu não era assim, era uma pessoa boa, honesta, vivia para minha religião, minha família, meu trabalho.
Mas a vida me tirou tudo e me transformei neste monstro.

- Não tente se iludir.
Ninguém que é verdadeiramente bom fica ruim de uma hora para outra ou por qualquer facto que seja.
É muito fácil ser bom quando nada nos atinge.
Por isso a vida manda desafios, para que possamos nos testar em nossa bondade, em nosso amor ao próximo e por nós mesmos.

Quem cai e pende para o lado do mal é porque nunca foi bom de verdade, mas só aparentemente.
E preciso cuidado ao declarar que somos missionários, que temos virtudes, que somos os eleitos e enviados.
Todos somos, sim, espíritos cheios de pontos fracos que a vida vai trabalhar para fortalecer, é para isso que surgem os problemas em nossa vida.

Quando um ponto fraco nosso fica evidente, a vida manda um desafio para que possamos vencê-lo e evoluir.
Procure aprender com essa situação que ninguém neste mundo é completamente bom ou mal.
Quase todos nós ainda estamos trafegando entre essas duas polaridades, que na verdade são faces de uma mesma moeda: o bem maior.

Todos se admiraram com a sabedoria daquela mulher.
Ernesto levantou-se e sentiu-se com novo ânimo.

Mãe Márgara tinha razão, ele se iludira quanto a si próprio.
Mas sempre havia a hora de mudar e ele prometeu, naquele instante, que iria tentar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:11 pm

29 - A gravidez

Os dias se passaram e tudo o que a polícia conseguiu descobrir foi que a ligação havia sido feita de um orelhão no bairro da Penha.

Fizeram uma investigação no local, mas constataram que nada achariam ali.
De qualquer forma, as investigações continuariam.

Com o tempo, Diego e Vanessa, que passaram a praticamente morar na mansão de Ernesto, voltaram para casa.
Já não havia tanta necessidade de estarem ali.
Dona Marisa e dona Lúcia se ajudavam mutuamente e consolavam Ernesto.

Havia também seu Anselmo, que cada vez mais se penalizava com a situação do filho e, sem saber como ajudar, ficava quieto em um canto orando.
As crianças choravam muito pedindo a mãe, mas, com os cuidados das avós, acabaram por se acostumar.

E assim o tempo foi passando...
O “patrão", como era chamado pelos homens que vigiavam Ingrid, todos os dias, no mesmo horário, vinha visitá-la e a estuprava.
Depois deixava um balde com água, bacia, sabonete e toalha para que ela tomasse banho.

Os dias passavam e ela não aguentava mais a situação.
Não dormia direito pensando nas filhas, no marido que tanto amava, na mãe, na irmã e até mesmo em Diego.
Como era feliz!
Por que a vida estava fazendo isso com ela?

Logo começou a se encher de olheiras e uma palidez grande cobriu todo o seu rosto.
Começou a ficar enjoada e não conseguia comer direito.
Desesperada e quase sem razão, descobriu que estava grávida de seu algoz.

Ela conhecia os sintomas e sabia que estava esperando uma criança.
Chorou muito.
Depois de muito pensar, tomou uma decisão que talvez viesse a tirá-la dali.

Quando o homem entrou e começou a tirar sua roupa.

Ela gritou:
- Não pode mais fazer isso, estou grávida!

O homem parou, vestiu a roupa e saiu.
Logo depois, os outros dois homens entraram e tiraram o capuz preto que cobria seu rosto.

- Quer dizer que está grávida, não é?
- Sim, estou. Preciso sair daqui.
Por favor, me tirem dessa situação! - ela implorava.

Um dos homens riu muito e falou:
- O patrão disse que gostou muito de sua gravidez, que Ernesto vai criar um filho dele e nunca saberá quem é o pai.
Mas disse que, a partir de hoje, não vai usá-la mais, que já se saciou.
Vai esperar alguns dias para libertá-la.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:38 pm

Ingrid, percebendo que eles estavam dispostos a conversar, continuou:
- Por que o patrão de vocês nunca fala nada?
Nunca escutei sua voz.
- Nosso patrão ficou mudo por causa de uma magia que seu marido fez para ele.
Comunica-se connosco por sinais.
Não vê que isso aqui é uma vingança?

Ingrid ficou estarrecida.
Então era realmente o que ela imaginava.
Alguém que fora prejudicado pelos feitiços de Ernesto estava agora se vingando.

Mas, por outro lado, ele dissera que ia libertá-la.
Finalmente estaria livre daquele tormento.

O que faria com aquela criança?
Certamente Ernesto não ia querer e iria exigir um aborto.
Era também o que, no íntimo, ela queria, mas não tinha coragem para fazer.

Pensaria naquilo depois.
Por um lado não desejava ter um crime como o aborto pesando em sua consciência, por outro, toda vez que olhasse para a criança, se lembraria de tudo o que passou naquele lugar horrível.

Os homens começaram a cochichar baixinho, mas Ingrid percebeu o teor da conversa.

Vendo que ela havia escutado, um deles disse:
- É isso aí gracinha, o patrão não a quer mais, mas nós queremos.
Como não usufruir de uma beldade como esta?

Começaram a tirar sua roupa e um de cada vez a estuprou.
Quando tudo terminou, Ingrid simplesmente sentou-se de cócoras no chão e deixou um imenso vazio tomar conta de seu peito.

Já não se importava com as tarântulas, ratos e baratas que passavam sobre seus pés.
Ficou ali, remoendo aqueles instantes como os piores e os mais traumáticos de sua existência.

Fazia três meses que Ingrid havia sumido sem deixar pistas.
Ernesto passou do desespero à apatia, entrou numa depressão profunda, ficava horas deitado na cama com os olhos fixos no tecto.
De repente, aquela casa luxuosa, com tudo o que havia do mundo moderno, seus carros e imóveis perderam todo o valor.

Aliás, para ele nada mais tinha valor.
Nem com as filhas brincava ou as acariciava.

Vendo-o assim, dona Lúcia comentou com Marisa:
- Só o presenciei nesse estado quando perdeu a esposa Mariana e as filhas.
Temo que faça alguma bobagem, como tentar o suicídio.

Marisa retorquiu:
- Ele não fará isso.
Aquela médium, a mãe Márgara, o tem ajudado bastante.
Ela garante que Ingrid vai voltar sã e salva para o lar.
E isso o que me dá forças como mãe e o ajuda a continuar vivendo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:38 pm

- Nós, mães, sofremos junto com os filhos, é inevitável.
Eu mesma perdi dois de uma vez.
Nunca senti uma dor tão imensa, mas essa perda me ensinou que não somos donos dos nossos filhos, que a qualquer hora a vida pode traçar outros rumos e nos separar.

Conformei-me e, com isso, ajudei o Anselmo a se conformar também.
Os filhos morreram sem estar bem com ele.
Foram para o outro mundo sem o perdão do pai.
Devem ter sofrido muito.

- Eu acredito que a vida continua.
Minha família é descendente de bruxas, mas bruxas do bem.
Mulheres que descobriram as forças ocultas da natureza e as utilizavam em vários rituais para a saúde, a prosperidade e a paz entre os povos.
- Nossa, Marisa, você não parece uma bruxa.

Elas sorriram.

Marisa continuou.
- Eu praticava também, mas casei-me com um homem céptico, que me proibiu e eu parei.
Tanto que nem ensinei nada às minhas duas filhas sobre o assunto.
- Mesmo assim, Vanessa e Ingrid parecem mulheres fortes, independentes.
Você as educou bem.

- Fiz o que pude.
O pai delas me deixou logo que a Ingrid nasceu.
Fui mãe e pai dela.
Ambas deram sorte, encontraram homens bons, sinceros e que as amam.
Estou feliz por elas.

-Você ainda é jovem e muito bonita, não pensa em se casar outra vez?
Marisa olhou fixamente para dona Lúcia, ao responder:
- Não sinto necessidade. Sou muito feliz como estou.
Morando aqui, ajudando a criar minhas netinhas, trabalhando com costura como gosto, viajando para onde quero.
Sinto-me completa.
A sociedade fica querendo empurrar homem para a gente, como se essa fosse a única forma de ser feliz.

Dona Lúcia corou.

- Não falei por mal.
É que acho que a gente só se completa mesmo com outra pessoa.
Eu mesma, se ficar viúva, não sei como farei.
- Sei que não falou por mal, e até acredito que é óptimo ter alguém, mas cada coisa na sua hora e na sua forma.
Acho que meu momento agora é o de ficar sozinha.

As duas sorriram e foram tentar, mais uma vez, ajudar Ernesto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:39 pm

30 - O psicopata

Ingrid começou a se desesperar, pois estava ouvindo passos que certamente seriam dos homens que a violentaram.
Se aquela situação continuasse, ela acabaria por enlouquecer, pois seu estado mental havia chegado ao limite do equilíbrio.

Os passos se aproximaram da porta, e logo os mesmos homens asquerosos estavam à sua frente.
Dessa vez nada falaram, já foram amarrando-a, tirando a roupa dela e as deles também.
Quando iam começar, Ingrid, mesmo desesperada, viu outro homem com o rosto coberto por um capuz e luvas nas mãos entrar no pequeno quarto e, ao flagrar a cena, sacou de um revólver e atirou nos dois, que caíram mortos.

Ela percebeu ser o "patrão", que, sentindo-se traído por seus comparsas, vingara-se com a morte.
O homem misterioso trancou a porta, deixou os dois corpos jorrando sangue no chão e saiu, não sem antes desamarrar Ingrid.

Olhando aqueles dois cadáveres estendidos à sua frente, ela teve náuseas.
Nunca imaginou passar por uma situação como aquela.
Agora tinha certeza de que estava mesmo nas mãos de um perigoso psicopata, que por certo não a deixaria viva.

Mesmo com todo o desespero, conseguiu orar pedindo a Deus auxílio para que, pelo menos, pudesse ver Ernesto e as filhas antes de morrer.

Nessa hora, sem que percebesse, o espírito de Mariana dizia ao seu ouvido:
"Fique calma, Deus está à frente de tudo e logo sua situação será resolvida.
Tenha fé!"

Ela sentiu uma calma inexplicável, sentou no fino colchão e procurou não olhar os homens caídos à sua frente.
O homem encapuzado, responsável por tudo o que estava acontecendo, saiu do porão onde Ingrid estava, tirou as luvas, o capuz e passou por uma grande sala mal conservada.
Era uma casa antiga e grande, cheia de quartos, circundada por um jardim maltratado, cujo mato passava de um metro.

O homem passou por uma trilha sem observar a beleza da lua, que iluminava a paisagem da Terra.
Abriu o portão, fechou-o com cuidado e andou alguns passos, quando percebeu que as luzes de vários carros se acenderam e que estava cercado por policiais.

Naquela hora, arrependeu-se de ter deixado a arma na casa.

Tentou correr, mas ouviu a voz do delegado:
- Sr. Diego, renda-se. Está preso.

Diego sentiu que chegara ao fim.
Sem arma, ainda tentou lutar com os policiais, mas eles eram muitos e o imobilizaram.
Uma lanterna iluminou bem seu rosto e ele pôde ver Vanessa e Ernesto, que o olhavam com muito ódio.

Não disse nada, estava perdido.
Os policiais entraram na casa, arrombaram as portas até que chegaram ao porão.

Ernesto os acompanhou.
Ao encontrar a esposa, abraçou-a e ambos choraram de emoção.
Ingrid contou tudo o que acontecera e foi levada ao hospital, devido ao seu estado debilitado, enquanto todos os outros foram para a delegacia.

Houve tumulto, pois Vanessa e Ernesto insistiam em ouvir todo o depoimento de Diego.

O delegado Arthur começou a interrogado:
— O senhor não pode negar, é evidente que foi o mentor disso tudo.
Para facilitar as coisas, diga tudo, desde o começo, como e por que fez isso
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:39 pm

Vanessa, com os olhos inchados de tanto chorar, não se conteve:
— Eu só quero entender o motivo.
Nós éramos felizes, temos dois filhos lindos.
Como nunca percebi o monstro que você é?

O delegado interveio:
— Calma, senhora, deixe seu marido falar.
Ela obedeceu e Diego começou:
— Sou inocente.
Estava naquela casa tentando negociar com os sequestradores de Ingrid.

— O que nos diz dessa ligação?
Um gravador foi ligado e ouviu-se a voz clara de Diego dizendo:
"Cuidem bem de Ingrid, não vou usá-la mais, amanhã a libertarei."
"Sim, senhor Diego.
Tudo como o combinado.
E o resto do pagamento?"
"Amanhã à noite irei até aí e acertaremos tudo."

Diego ficou vermelho.
Como poderiam ter gravado aquilo?

— Está surpreso?
Pois nós, da polícia, já não nos surpreendemos com nada.
Antes do seu depoimento, peço a Vanessa que nos conte como conseguimos esta gravação.
Está em condições?

Limpando os olhos, ela respondeu:
— Sim. Farei tudo o que for preciso para ver esse monstro atrás das grades.
Há poucas semanas, comecei a desconfiar do comportamento do Diego.
Notei que mentia para mim dizendo estar no hospital, quando, na verdade, não estava.

Em casa temos um porta-chaves e percebi que as da casa de uma tia falecida dele haviam desaparecido.
Era uma casa antiga na Penha, que ela deixou para o sobrinho, mas nós nunca quisemos ir morar lá.
Vivia abandonada, Diego não mandava cuidar.

Pensei que ele pudesse estar me traindo.
Então, um dia, sem dizer nada a ninguém, resolvi segui-lo e vi quando entrou na casa.

Nada pude fazer a não ser esperar que a suposta amante chegasse ou ele saísse com alguém, mas isso não aconteceu.
Algumas vezes ele saía sozinho, outras com dois homens que eu não conhecia.
Horrorizei-me ao imaginar que ele estivesse mantendo relações homossexuais, contudo fiquei calada observando.

Um dia, percebi que ele atendeu um telefonema e falava baixinho.
Escondi-me num canto e, com muito esforço, consegui escutar parte da conversa.

"Já não disse para não ligarem para cá?
O quê? Ingrid desmaiou?
Mantenham-na presa, como sempre, e quando acordar obriguem-na a comer.
Logo a libertarei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:39 pm

E jamais liguem novamente para cá.
Se quiser me comunicar com vocês, usarei o orelhão de sempre.
Sei que ninguém jamais desconfiará de mim, mas não é bom arriscar.
Se algo der errado, vocês também estão em cana."

Quase desmaiei ao constatar que meu marido era o responsável pelo sequestro de minha irmã.
Parecia que estava sonhando e que, a qualquer instante, iria despertar.
Felizmente, Diego não me viu dentro de casa e achou que eu tivesse ido às compras.

Logo depois saiu.
Abraçada com Marquinhos, chorei muito.
Em minha mente só vinha uma pergunta: por quê?
O que levou Diego a um acto como aquele?

Minha vida havia acabado naquele momento.
Contudo, outra vida estava em jogo e era a de minha irmã, mas eu não poderia provar nada.
Assim que ele regressou, pedi que ficasse com as crianças e vim aqui relatar tudo o que tinha escutado.

O delegado pediu calma, pois, se invadissem a casa, Ingrid correria risco de morte, deveriam agir com cautela e obter uma prova concreta.
A polícia o seguiu e grampeou o orelhão do qual ele fazia as ligações.
Assim obtivemos esta prova.

Vanessa começou a esmurrar o marido e a gritar:
- Por quê? Por quê?

Alguns policiais a seguraram e pediram calma.
Ernesto, a um canto, olhava sinistramente para Diego.
Se pudesse voltar aos seus rituais de magia, faria um para ele morrer.

Foi então que o rosto de Diego começou a se transformar.
Do vermelho intenso, foi ficando pálido e com expressões de riso.
Ele começou a rir, chegando mesmo a gargalhar.

-Tolos, idiotas, imbecis.
Você. Vanessa, é a maior das imbecis!
Fui eu sim.
Sequestrei Ingrid, usei-a sexualmente até quando quis, ou melhor, até quando ela engravidou.

Ao ouvir aquilo, Ernesto empalideceu.
Foi preciso muita força dos policiais para que ele não matasse Diego ali mesmo.

O delegado interveio:
- Vou tomar o depoimento do senhor Diego.
Peço que se retirem.

Vanessa e Ernesto imploraram para ficar, pois queriam e tinham o direito de saber o que motivou Diego, um homem equilibrado, bom pai e marido, a fazer uma coisa daquelas.
O delegado, percebendo a situação dos dois, concedeu permissão.
Então Diego começou a narrar.

- Ingrid foi a grande culpada de tudo.
Um dia, quando entrei no meu quarto, encontrei-a seminua debaixo dos lençóis.
Fiquei surpreso, mas minha cunhada revelou estar apaixonada por mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:39 pm

Foi provocante e quase me levou ao delírio naquele momento.
No entanto, dei uma de moralista e a mandei embora.
Ela insistiu e percebi que estava disposta a destruir a família da irmã para ficar comigo.

Nos dias que se passaram, procurei evitá-la e não dar mais importância ao ocorrido, mas, com o tempo, passei a sentir um desejo louco de tê-la em meus braços.
Tentei lutar contra esse impulso, mas ele foi ficando mais forte que eu e passou a ser uma obsessão.
Quando ela revelou estar apaixonada e querendo se casar com outro, fiz um esforço enorme para não mandar às favas minha vida, meu casamento e tudo o mais para ficar com ela.

Tinha desejo, mas não tinha coragem.
Pensando bem, não queria abandonar minha mulher, só queria tê-la como amante.
Tive de disfarçar ao máximo o ciúme ao vê-la se casar com Ernesto e ainda ter de participar da vida dos dois.

Foi daí que surgiu o plano do sequestro.
Armei tudo meticulosamente.
Iria realizar meu desejo sexual e, quando me saciasse, entregaria Ingrid para o maridinho sem que ninguém soubesse quem, na verdade, fora o autor de tudo.

Contudo, quanto mais a possuía, mais meu desejo aumentava, era uma chama que parecia me queimar por dentro.
Quando descobri que ela estava grávida, percebi que era hora de parar e libertá-la.

Ele fez uma pausa e prosseguiu, olhando para Vanessa:
- Você foi tão idiota que não percebeu nada.
Sua irmã é uma traidora, se pudesse teria destruído sua vida.

Quando cheguei a casa, os meus ajudantes estavam tentando abusar de Ingrid.
Louco de ciúme, matei-os sem piedade.
Naquela hora, percebi que estava perdidamente apaixonado por ela.

Se não poderia ser minha, não seria de mais ninguém.
Eu a usaria outras vezes até chegar a hora de por fim à sua vida.

Todos ficaram surpresos demais para comentar alguma coisa.
Estavam na frente de um doente mental.

O escrivão registou tudo e Diego foi levado para a cela.
O delegado pediria sua transferência imediata para um presídio onde aguardaria julgamento.

Naquela noite ninguém conseguiu dormir.
A decepção foi grande para todos.
Diego nunca se mostrara um desequilibrado, ninguém conseguia se conformar.

Ernesto foi ao hospital onde Ingrid estava internada e lá ficou sabendo que ela havia abortado espontaneamente a criança.
Isso o aliviou bastante, pois ele jamais criaria o filho de um monstro como Diego e faria a mulher abortá-lo de qualquer maneira.
Ingrid ainda permaneceu alguns dias no hospital, fez diversos exames e só depois regressou para casa.

Felizmente, o pesadelo havia passado, mas deixaria marcas em todos para sempre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:40 pm

31 - A importância da fé

Vanessa estava muito triste naquele fim de tarde.
Desde o dia em que Diego foi detido, ela se mudou com os filhos para a casa da irmã, pediu licença do trabalho e passava a maior parte do dia ruminando os últimos e trágicos factos de sua vida.

Seu marido, após exames médicos, foi dado como psicopata frio de ânimo e, desde então, permanecia em um manicómio judiciário.
Como ela nunca percebera que convivia com um doente mental?

Fez esta pergunta ao psiquiatra que cuidara do caso e ele respondeu:
— Os psicopatas são pessoas completamente sociáveis e podem levar uma vida normal durante muito tempo, até que algum facto concorra para desencadear o transtorno.
No caso do seu marido, a doença estava em gérmen até o dia em que sua irmã a despertou.

Foi um acto impensado, procure perdoá-la.
Além do mais, a psicopatia é uma moléstia mental congénita e qualquer dia seu marido acabaria por desenvolvê-la.

Vanessa entendia um pouco de psiquiatria e sabia que o médico falava a verdade, por isso não culpou a irmã.
Sabia que Ingrid amava Ernesto e que o que ocorrera com Diego foi um facto movido por impulso.
Todavia, mesmo sabendo do estado em que ele se encontrava, ela não deixara de amá-lo.

Sabia que os psicopatas não tinham cura, e ela, que possuía uma vida tranquila e feliz, de repente viu tudo desmoronar.

Estava chorando quando viu mãe Márgara entrar.
Ela vinha ajudando Ingrid no tratamento psicológico que estava fazendo.
Sua irmã ficara muito traumatizada por tudo o que vivenciara e, além de um psicólogo, estava sempre conversando com a simpática senhora.

Vanessa levantou-se do sofá e foi abraçá-la.

— Percebi que estava chorando.
As lágrimas costumam lavar a alma, mas em demasia são prejudiciais, mostram que não estamos aceitando os desígnios da vida.
Vanessa prorrompeu em pranto.
- Vamos sentar, fique calma e pense em Jesus.
Feche os olhos e faça uma prece.

Ela obedeceu e, quando se sentiu mais calma, agradeceu.

- A senhora veio ajudar Ingrid e acabou ajudando-me também.
Tem horas que sinto que não vou aguentar.
- Você precisa ser forte.
Há duas crianças que necessitam do seu apoio, da sua alegria e da sua segurança para crescer bem e com saúde.

Ela fez uma expressão triste:
— É muito difícil ser forte numa situação como essa, parece que uma parte de mim morreu.
Saber que meu marido é portador de uma doença incurável e que, apesar de tudo, continuo amando-o como sempre, sem poder estar ao seu lado, é desolador.

— Não acredito que a doença de seu marido seja incurável.
Você sabia que não existe doença incurável?
- Como não? É o que diz a psiquiatria.
Os psicopatas não têm cura.

- A medicina é uma ciência que tem ajudado muito o homem, tem evoluído, mas, infelizmente, ainda não atentou para a realidade do espírito, para a imortalidade da alma.
Por isso, frequentemente se engana e comete muitos erros.
Aprendi com os espíritos que temos uma força mental muito grande, que, aliada às forças astrais, pode curar qualquer doença.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:40 pm

Os transtornos mentais são geralmente de difícil tratamento, porque seus portadores são resistentes em mudar o comportamento, além de serem, em grande parte, envolvidos por espíritos obsessores.
Mas não há um doente mental, por pior que seja, que não tenha sua hora de lucidez, e é nesse instante que pode trabalhar na própria cura.
Creia, seu marido poderá ser curado e você ainda pode ser feliz.

- Como acreditar nisso quando todos dizem o contrário?
- O mundo anda sofrendo da pior doença que existe: o pessimismo.
É ele que atrai o sofrimento existente em nosso planeta.
Você tem a chance de acreditar e lutar pela cura dele ou optar pelo mal, se entregando e deixando as coisas como estão.

Vanessa sentiu um calor gostoso invadir seu peito.

- Então posso lutar pela cura do Diego?
- Pode e deve.
Primeiro, precisa ligar-se com as dimensões de luz por meio da prece.
Depois, todas as noites deve visualizá-lo bem e com equilíbrio mental.
Essas técnicas criam energias que o alcançarão, trabalhando em sua recuperação.

Para Deus nada é impossível.
Os homens, sim, é que acham que não têm capacidade para conseguir a felicidade.
Lutam sozinhos, não fazem de Deus seu aliado.
Se assim o fizessem, nada lhes seria impossível.

— A senhora diz coisas interessantes, mas será que na prática funcionam?
— Tenho certeza de que sim, e você poderá testar e comprovar.
Pode demorar para que seu marido se recupere, mas nunca duvide de que isso possa acontecer.
Todos nós corremos o risco de adoecer, visto que temos atitudes que desequilibram nosso espírito e nos fazem mal.

No entanto, se Deus dá o mal, dá também o remédio.
Os distúrbios mentais são demorados porque a criatura precisa ir fundo em seu mundo interior, rever uma série de crenças negativas e mudá-las, para novamente encontrar o equilíbrio.
Mas todos podem se curar.

— Os médicos dizem que os psicopatas nascem sem a parte do cérebro responsável pelo juízo do que é certo ou errado.
Como curar uma pessoa assim?
— Os médicos ignoram que quem modela o corpo físico é o perispírito.
Se Diego conseguir introduzir um pouco de positivismo em sua alma, ajudado pelos próprios espíritos, essa parte do cérebro poderá ser recuperada.
Daí dirão que é um milagre.

Vanessa ainda duvidava.
— Será mesmo que isso é possível?
— Tudo é possível nesta vida, a natureza tem leis que ignoramos e que podem reconduzir qualquer corpo ao seu estado natural de saúde.
Ore, acredite, tenha fé e toda sua vida se modificará.

— Tenho medo de que ele não se recupere e que eu o continue amando mesmo assim.
Tento tirar esse sentimento de meu coração, mas não consigo.
— Não precisamos deixar de amar as pessoas apenas porque elas não estão do nosso lado ou porque não nos correspondem.
O amor verdadeiro simplesmente existe.
Embora a presença da pessoa amada seja desejável, sua ausência não impede que o sentimento continue fluindo e causando bem-estar a quem o sente.

Vanessa abraçou mãe Márgara, que pediu licença e foi para o quarto de Ingrid.
Aquele fim de tarde, que parecia um pesadelo, transformou-se em um momento de esperança e tranquilidade.
Intimamente Vanessa orou em agradecimento a Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:40 pm

Mãe Márgara entrou no quarto e encontrou Ingrid distraída, brincando com as filhas.
Ao vê-la chegar, pediu a Fátima que levasse as crianças para baixo, pois queria estar a sós com a nova amiga, que tanto a estava auxiliando.

— Que bom que veio.
Sinto-me bem com sua presença.
Outro dia falei a Ernesto que tenho melhorado mais com as conversas que tenho com a senhora do que com o psicólogo.

Mãe Márgara sorriu, mostrando os dentes bonitos e brancos:
— Também gosto muito de conversar com você, é inteligente e aprende tudo com facilidade.
Ingrid fez um ar sério e disse:
— Hoje eu gostaria de ter outro assunto com a senhora.
Até aqui tenho aprendido a me desligar dos pensamentos traumatizantes e a me ligar com as boas energias, mas há uma questão que tem me inquietado e chegou a hora de perguntar.

— Se poderei responder não sei, mas vamos tentar - disse a interlocutora, rindo amavelmente.
Ingrid respirou fundo e começou:
— Sei que vocês que lidam com espíritos têm respostas para muitos dos nossos problemas.
O que mais desejo saber é por que tive de passar por uma experiência tão dura.
A senhora acha que fui má na outra vida e por isso tive de sofrer?

— Minha filha, o passado pouco ou nada interfere em nossa vida quando o assunto é sofrimento.
Sofremos mesmo é pela vida presente.
Seja sincera comigo.
Você se culpava por ter tentado destruir a vida de sua irmã?

Os olhos de Ingrid se encheram de lágrimas:
— Sim, muito.
Depois que percebi a loucura que cometi, fiquei muito envergonhada perante Diego e Vanessa.
Mas só me arrependi mesmo, depois que me apaixonei por Ernesto.
Esse arrependimento, aos poucos, foi se transformando em uma culpa muito grande.

Ficava imaginando, se Diego tivesse cedido às minhas investidas, como hoje estariam Vanessa e os filhos pequenos?
Sentia alívio quando ele falava comigo e se mostrava amável, como se houvesse me perdoado.
Mas eu mesma não havia me dado o perdão.
Quanto mais Diego me tratava bem, mas eu me sentia mal, envergonhada e pensava que tinha agido como uma prostituta.

— Então está explicada a causa do que lhe aconteceu.
A culpa e o remorso atraíram tudo o que você vivenciou.
— Como? Só uma culpa é capaz de fazer tudo isso?
Não devemos nos arrepender?

— Não foi isso que quis dizer.
Arrependimento sincero, desejo de mudar, de reparar com amor e inteligência nada têm a ver com a culpa ou o remorso.
Quem se arrepende de verdade não se culpa, sabe que fez o melhor que pôde no momento e vai consertar seu desacerto com inteligência, sem sofrimento.
A culpa nos faz mal e nos impinge castigos desnecessários, que nada têm a ver com Deus, que é soberano e jamais pune.

Ingrid percebeu que ela tinha razão:
— Gostaria que a senhora me levasse a seu terreiro.
Quero conhecer mais essa filosofia que tanta sabedoria lhe dá.
- Você será muito bem-vinda lá, mas fui informada que tanto seu caminho quanto o de Ernesto é o espiritismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:40 pm

- Duvido! Ele nem aceita que se fale que um dia foi espírita.
- As coisas mudam e o tempo transforma as pessoas.
Ernesto, um dia, voltará ao aprisco do Pai e você irá junto com ele, ambos escolheram isso antes de nascer.

- Mesmo assim, quero conhecer melhor seu trabalho.
Minha mãe também era umbandista praticante, mas acabou abandonando.
- Conheço a história de sua mãe.
Talvez o caminho dela também seja a doutrina espírita, mas quanto menos procurarmos rótulos, melhor.
Se fizermos as contas, a religião fez muito mais mal do que bem à humanidade.

Em nome dela matam, roubam, lavam consciências, enganam, criam-se pessoas hipócritas, rituais e exemplos de santidade que estão fora da natureza.
Faço meu trabalho, mas não gosto de me intitular umbandista, sou uma pessoa espiritual e só.
A forma como trabalho, como lido com os outros, não importa, o que vale mesmo é o resultado.

Ingrid, a cada dia, admirava mais mãe Márgara.
Estava mais radiante, alegre e feliz.
Decidiu que não iria mais ao psicólogo.

Descobrira como tinha atraído seu sofrimento e, a partir dali, iria mudar.
A noite chegou e, quando Ernesto adentrou o lar, sentiu logo o clima de harmonia.

Todos na sala de estar estavam folheando revistas, lendo, vendo TV.

Logo pensou:
"Finalmente a paz parece ter voltado a reinar".

Deu um beijo na esposa e subiu para tomar um banho.
Enquanto a água morna deslizava sobre seu corpo, ele foi relaxando até que, sem perceber, adormeceu debaixo do chuveiro.
Seu espírito foi desdobrado e logo ele percebeu Germano e mais dois espíritos ao seu lado.

- Prepare-se. Não pense que o sequestro de sua mulher foi castigo de Belzebu, aliás, ele desistiu de castigá-lo.
Está sabendo do que brevemente vai lhe acontecer e já acha o suficiente.
Você pagará por tê-lo traído.

Ernesto, a princípio atordoado, logo começou a escutar o que eles diziam e, desesperado, perguntou:
- Digam logo o que é.
Não aguento mais essa tortura.
O que pode ser pior do que eu perder mais uma vez minha família?

Germano gargalhou.
- Você não vai perder sua família.
Pelo visto, eles viverão muito.
Mas há coisas bem piores do que isso e logo você saberá o que é.

Ernesto encheu-se de ódio.

- Eu sabia que Deus iria me castigar.
Se não é Belzebu, é Ele.
- Deve ser mesmo.
Agora já vamos, perdemos tempo demais com você.

Os espíritos sumiram chão adentro, e Ernesto rapidamente foi atraído pelo corpo.
Não se lembrava com clareza o que tinha se passado, mas começou a sentir uma inexplicável angústia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:41 pm

32 - Tempo de perdão

A morte de Arnaldo, repentina, sem que houvesse tempo para despedidas, consternou a todos.
Eduardo, com sua fé na espiritualidade, conseguiu sair do desespero que tomou conta de seu ser ao ver o pai sendo cremado e logo voltou ao equilíbrio de sempre.

Arlete e Lucrécia demoraram mais para se acostumar com a perda.
A primeira, por sentir que havia sido uma filha relapsa, que pouco ou nada se importara com o pai.
A outra, por saber que não mais veria o homem que fora seu companheiro durante vinte e sete anos e com o qual tivera dois filhos.

Apesar de estar já conformada com a separação, ela ainda o amava muito.
Naquele momento, pensou que Deus a havia conduzido ao espiritismo com o intuito de prepará-la para esse momento.
Alice, a princípio, ficou inconsolável, mas já estava aprendendo muito a respeito da vida após a morte e, com a ajuda de Magali e dos amigos do centro espírita, conseguiu se reerguer.

Poucos dias após o ocorrido, retirou seus pertences do apartamento e foi entregar as chaves a Eduardo:
- Acho que não tem mais sentido ficar lá.
Além de não ter direitos, foi o lugar onde vivi até agora os melhores momentos de minha vida, sofrerei se tiver de ficar.
Aqui estão as chaves.

Estavam todos na mansão e Eduardo, com o molho na mão, sentiu os olhos marejar.

Olhou para sua amada e fez o que seu coração mandou:
- Não quero estas chaves, elas pertencem a você.
Vamos legalizar tudo para que aquele apartamento fique em seu nome e que você possa permanecer nele o tempo que achar conveniente ou até vendê-lo.

- Sinto muito, Eduardo, mas não posso aceitar.
O que mais quero agora é retornar para a casa de meus pais e tocar minha vida.
Eu trabalho, mas não ganho o suficiente para pagar as despesas de condomínio e as demais contas de um imóvel como aquele.
Além disso, tenho motivos pessoais para não estar lá e que já mencionei.

Eduardo insistiu:
- Mas não é justo que você saia da vida de meu pai sem ter ganhado nada.
- O que eu queria sempre obtive: o amor dele.
Esse, para mim, foi o meu maior prémio.
O resto não tem importância.

Lucrécia, a um canto, olhava cada gesto de Alice e pôde perceber que ela estava sendo sincera.

Resolveu intervir:
- Eduardo, deixe disso.
Alice já mostrou que é íntegra, que não era a interesseira que eu imaginava.
Se não quer o apartamento, é um direito dela.

Alice olhou para Lucrécia e falou:
- Eu sinto muito, senhora, se sofreu com o meu relacionamento com seu marido.
Saiba que jamais me envolveria com ele se não fosse por amor.
Tenho aprendido no espiritismo que o adultério tem um preço alto em dor e sofrimento, mas no meu caso foi por um sentimento nobre, sei que Deus me perdoará por isso.
O que desejo, agora, é sinceramente pedir o seu perdão.

Lucrécia deixou lágrimas grossas escaparem de seus olhos.

Ambas se abraçaram:
-Você está perdoada.
Também tenho aprendido muito sobre a vida.
Creio mesmo que nem tenho do que lhe perdoar.
Mas é bom saber que não guardo, há muito, nenhum ressentimento contra você.
Quero que Deus abençoe sua vida e que você seja muito feliz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:41 pm

Arlete e Eduardo estavam emocionados com a cena.

Ao fim, Eduardo se manifestou:
- A força do perdão é muito grande.
Caso uma das duas guardasse alguma mágoa, ficaria uma situação mal resolvida, que voltaria, mais cedo ou mais tarde, para uma solução, só que de forma muito mais complicada e dolorosa.

A vida não deixa nada incompleto.
Quanto mais perdoamos nossos desafectos, mais nos libertamos das amarras do sofrimento.

Alice disse que estava com um táxi à sua espera, mas Eduardo insistiu em levá-la em casa.
O táxi foi dispensado e, já no carro, enquanto conversavam, vez por outra seus olhos se cruzavam.
Alice não queria se deixar levar pelo que estava sentindo por Eduardo desde o dia em que ele se declarara, mas parecia que não estava conseguindo controlar.

Foi um alívio quando desceu do carro e entrou em casa.
Após desarrumar as malas e pedir a Diva que arrumasse suas roupas no antigo quarto, Alice entrou no banho.
Minutos depois, quando saiu, deparou-se com Carmem à sua frente.

- Pensei que não fosse mais sair desse banho.
- Você me conhece bem, mãe, sabe que meus banhos são demorados.
Carmem fez ar de mofa e foi directo ao que queria conversar:
— Estou preocupada com você, Alice.
Aliás, preocupada não, muito preocupada.

Carmem mexia os olhos nervosamente, e Alice não entendia o porquê de tamanha preocupação.
Observou que a cada dia sua mãe se vestia de maneira mais indecente, carregava na maquiagem, querendo parecer garotinha.

— Qual o motivo de sua preocupação?
— E você ainda pergunta? - gritou Carmem com voz estridente.
— Sim — disse Alice, calmamente.
Não entendo por que se preocupa comigo.
Voltei a trabalhar, ganho relativamente bem, estou pensando em me pós-graduar, tenho saúde.
O que há de errado comigo?

— Como você é ingénua!
Acha que isso é o suficiente?
Estou preocupada com sua vida afectiva.
Praticamente ficou viúva de um homem casado, foi desonrada por ele, passou a desfilar com o amante por toda a São Paulo.
O que pensa da vida?
Que homem vai levá-la a sério depois de tudo isso?

Alice não acreditava no que ouvia.
Logo sua mãe pensar uma coisa como aquela.
Ela não deveria estar em seu juízo normal.

— Não estou me importando com o que pensam de mim.
Arnaldo foi o único homem a quem amei de verdade e, por ora, nem cogito a possibilidade de me relacionar com outra pessoa.
Vou me dedicar aos estudos e ao trabalho.
O dia em que o amor aparecer será bem-vindo.

Carmem soltou uma gargalhada:
— E quem vai querer uma mulher que já foi caso de homem casado?
Estou preocupada porque temo que termine sozinha.
Uma moça que faz o que você fez nunca mais é levada a sério por um homem.
Bem que eu tentei avisá-la quando tudo começou, mas você nem quis ouvir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:41 pm

Alice irritou-se.
Quem era Carmem para falar aquilo?

— A senhora não me avisou coisa alguma, e até me incentivou porque Arnaldo era engenheiro famoso e rico.
Além disso, vive uma relação horrorosa com papai, paga garotos de programa para ter sexo, não é a pessoa mais indicada para me dar conselhos.
— Petulante, hein?
Vou fingir que não me ofendeu e dizer o que realmente quero com essa conversa.

Alice mandou que ela falasse logo, pois queria se vestir e estava apressada.

Carmem revirou os olhos, piscou duas vezes, e começou:
— Como já falei, depois que você se tornou amante de um homem casado, ninguém vai querer aproveitá-la como se deve.
A não ser esses pobretões de plantão.

Desde que Arnaldo morreu, o deputado Valdo Rodrigues, que é viúvo, nos procurou pedindo sua mão em casamento.
É um homem velho, já perto dos oitenta, mas tem muito dinheiro, pode ajudar você a fazer um belo pé-de-meia.
É claro que nós concedemos sua mão e você deverá se casar com ele em breve.

Alice não aguentou e soltou uma sonora gargalhada.
Só de imaginar a situação e pensar no ridículo que seria se isso acontecesse, desatou a rir.
Realmente, Carmem não era uma pessoa normal, não dava nem para sentir raiva.

— Do que ri? A situação é séria.
Marcamos para hoje um jantar especial no qual vocês ficarão noivos.
— Mãe. Alô! Estamos no século XX.
A época dos senhores de engenho já passou há muito tempo.
Não vou me casar com ninguém e hoje à noite tenho compromisso, não posso ficar para esse jantar ridículo.
Não sei como a senhora pensou que eu iria aceitar uma situação como essa.

- Ora, você sempre foi chegada a um velho.
Daí juntei as peças.
Pense bem, a situação financeira de seu pai não é das melhores.
Se continuarmos como estamos, teremos de parar de viver no padrão de luxo ao qual estamos habituados.
Faça esse esforço! Por seus pais.

Carmem fazia umas caretas suplicantes e Alice não continha o riso.

- A senhora que resolva a situação.
Se quiser continuar vivendo assim, cada dia fazendo sexo com um michê diferente e que cobra caro, vá trabalhar.
O senhor Valdo que vá comprar outra, não estou à venda.
Agora saia, mãe, que preciso me vestir e quero ficar à vontade.

- Que desgosto!
Então é para isso que colocamos os filhos no mundo?
Foi para isso que deformei minha barriga por nove meses, me enchi de estrias?
Eu sempre soube que deveria ter tido mais filhos.
Você nunca foi das minhas.
Agora, se quiser viver aqui, terá de ajudar nas despesas.
Farei uma lista e você deverá pagar tudo que tiver nela.

- Desde que não venha nenhuma conta de michê, tudo bem.

Carmem saiu do quarto gesticulando e gritando.
Depois se acalmou e tentou encontrar uma boa desculpa para dar ao deputado mais tarde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:42 pm

33 - O reencontro de almas

O tempo passou depressa, e a amizade de Alice e Eduardo foi se fortificando.

A cada dia ele se enchia de esperanças.
Tinha certeza de que um dia ela seria sua.
No entanto, os dias transcorriam e, apesar de se verem sempre no centro espírita, Eduardo não tinha coragem de voltar ao assunto.

Um ano depois da morte do pai, num dia em que Magali havia faltado a uma reunião doutrinária, ele a levou à confeitaria onde os três lanchavam após as palestras.

Sentados um na frente do outro, após fazerem os pedidos, Eduardo comentou:
- Sabia que o apartamento onde você morou com o meu pai ainda está intacto?
- Como assim? Não venderam?
- Não. Eu não permiti.
- Ora, por quê?

- Você sabe quanto eu amava meu pai.
Tudo dele, para mim, é sagrado.
Só em saber que ele morou naquele lugar e que ali foi muito feliz é o suficiente para que eu não o venda.

Há o toque de meu pai em todos os locais daquele apartamento.
Quando sinto saudade dele, vou para lá e fico horas.
Converso, imagino que ele está à minha frente e digo tudo o que quero dizer.
Sei que, de alguma forma, sou ouvido.
Às vezes sinto sua presença ao meu lado.

Alice arrepiou-se. Que amor lindo!
Nunca vira um filho amar um pai daquela maneira.
De repente, uma ideia maluca passou por sua mente.

- Estou com vontade de voltar lá.
Você está com as chaves dele agora?
- Sim. Sempre estou com elas.
Mas, por que esta súbita vontade?

- Talvez saudade.
Quero ver como reajo ao entrar lá mais uma vez.

Eduardo resolveu que iriam logo após o lanche.
Assim que terminaram, eles rumaram para o Morumbi.
Alice sentiu o coração descompassar ao entrar no apartamento.

Realmente Eduardo não mentira, tudo estava igualzinho como ela deixara há um ano.
Foi tocando de leve os estofados, os móveis, os quadros e foi se arrepiando.
Deixou que algumas lágrimas rolassem em seu rosto.

Eduardo também sempre se sentia assim ao entrar ali.
Foram para o bar.

- Nossa! Até as bebidas continuam as mesmas.
- Meu pai adorava este vinho.
Vamos tomar um pouco?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 31, 2012 11:42 pm

Ela aquiesceu e ambos começaram a beber.
Algo mágico parecia estar marcando aquele momento.
Talvez pela bebida, também pelo ambiente, Eduardo foi sentindo uma atracção cada vez mais irresistível por Alice.
Ela também, sem saber explicar o porquê, deixou-se levar, e quando percebeu já estavam se beijando.

Eduardo, com a voz que a emoção tornava rouca, dizia:
- Eu a amo, Alice, mais do que tudo nesta vida!
- Eu também sinto que o amo com todas as forças de meu coração.
Mas como pode ser isso? É errado!
- Amar nunca será errado, e eu te amo, desejo que seja minha agora.

Deixando-se levar pela emoção, Alice entregou-se completamente e foi conduzida até a cama.
Tudo parecia um sonho.
Eduardo foi tirando sua roupa enquanto a beijava e em pouco tempo estavam nus e entregues ao amor.

Energias radiosas pairavam sobre o casal.
Na sala, o espírito de Arnaldo, acompanhado de Eglantine, sorria feliz.

- Pensei que ela fosse resistir e que essa relação demorasse.
Ainda bem que tudo aconteceu como o previsto.
Eglantine sorriu.
- É isso mesmo.
Agora que cumprimos nossa missão, deixemos os dois no acto lindo do sexo com amor.
Seus espíritos volitaram e logo chegaram à colónia em que habitavam.

Era noite, e Eglantine, que era a mentora de Arnaldo na presente encarnação, sentou-se com ele na grama de um lindo jardim onde começaram a observar as estrelas.

- Sinto a necessidade de me abrir com você.
Falar tudo o que agora sei.
- Conheço toda a história, mas é sempre bom desabafar.
Se quiser, estarei pronta para ouvi-lo.

Arnaldo meneou a cabeça.

- Não acha chato ouvir uma história que já conhece?
- Não. Além de ser um desabafo para você, é uma grande lição de vida.

Arnaldo, então, começou a contar:
- Eu era um rico fazendeiro paulista no fim do século XIX.
Nessa época, era cafeicultor.
Como os escravos, em sua maioria, haviam abandonado minha propriedade por conta da abolição, fiquei sem mão de obra.

A colheita do ano quase foi perdida, quando começaram a chegar as primeiras levas de imigrantes italianos ao país.
Eles vieram para trabalhar, fazer fortuna, e eu os contratei, assim não perdi toda a safra.

No entanto, tratava-os como escravos brancos.
Na fazenda moravam minha mãe, que era viúva, minha esposa e minha filha de poucos meses.

Eu me chamava Rodolfo, minha mãe, Teodora, minha esposa, Maria Eduarda, e minha pequena, Henriqueta.
Havia um casal de italianos que eram corajosos, organizavam motins contra mim, buscavam uma situação melhor para a vida deles no Brasil.
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