LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:06 pm

Ele fica na casa da ex e, quando volta, geralmente já estou dormindo.
Você sabe que me dou o valor, não aceito menos.
Se alguém não me valoriza como deve, eu termino a relação, mesmo amando.

Magali ponderou:
- Também não é para ser radical assim, mas penso que seu problema pode ter outra origem.
- Qual?
- Desde aquele desmaio estranho do Arnaldo, tenho tido suspeitas, mas nunca lhe disse nada temendo uma bronca.

Alice ficou curiosa, será que a amiga sabia de coisas da vida do marido que ela mesma ignorava?

- Conta logo, o que é?
- Penso que sua relação com Arnaldo está tendo interferências espirituais.
- Lá vem você com esoterismos.
Sabe que não acredito nessas coisas.

- Mas deve começar a acreditar.
O Arnaldo a ama e se está mudando assim e com esses problemas de saúde que nenhum médico consegue curar, é porque provavelmente está sendo obsidiado.
- Como? Obsidiado? O que é isso?
- Assim, por telefone, é ruim explicar, mas amanhã podemos marcar para sair e te explicarei tudo.
Se for mesmo obsessão, você pode até perder o Arnaldo.
Você não sabe, mas tenho estudado a vida espiritual e frequentado um centro espírita que fica próximo da minha casa.

Já descobri coisas incríveis.
Por coincidência, acabei de ler um livro maravilhoso do Chico Xavier, ditado pelo espírito André Luiz, que se chama Libertação.
Tenho certeza de que o li na hora certa, tenho muitas informações para te passar.

Alice estava achando aquilo uma loucura, mas confiava demais em Magali e queria saber o que a amiga tinha para lhe dizer.

Magali continuava, ao telefone:
— Procure ficar na paz.
É nas horas da tormenta e dos problemas que temos de nos recolher em prece e pedir a ajuda de Deus e Jesus.
Há quanto tempo você não reza?

— Ah, minha amiga, eu nem sei fazer isso.
Nunca me ensinaram.
Depois, pelo que ouço dizer, Deus não dá ouvido às adúlteras — falou com um riso nos lábios.

— Nada disso.
Quem pensa assim são os fanáticos religiosos.
Jesus perdoou a adúltera e não a condenou.
Vá deitar, reze, peça ajuda a Deus, a seus amigos do astral e ao seu anjo guardião.

Coloque sua mão direita sobre a testa de Arnaldo, enquanto ele dorme, e imagine que dela está saindo uma luz azul.
Depois entregue seus problemas nas mãos de Deus e vá dormir.
Amanhã será outro dia.

Alice, mais tranquila, retorquiu:
— Não sabe como estou aliviada.
Foi muito bom ter falado com você.
Não sabia que estava tão religiosa!
Andamos sempre juntas e você nunca me disse nada!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:06 pm

— Em primeiro lugar, não estou religiosa;
em segundo, só precisamos falar sobre as coisas da vida espiritual em momentos certos, em horas propícias.
Agora precisamos de uma boa noite de sono.

Ambas desligaram e Alice orou com sinceridade, pedindo a Deus que ajudasse Arnaldo e protegesse seu relacionamento com ele.
Depois, colocou a mão sobre sua testa e realmente uma energia azul saiu dela e penetrou o coronário do homem amado.
Atentos a tudo o que acontecia desde o jantar, dois espíritos com trajes negros, agora com semblantes preocupados, conversavam a um canto do quarto.

- Isso não estava em nossos planos.
Pai Ernesto ficará furioso. O que faremos?
- Iremos até ele e contaremos tudo.
Se Alice ceder a essa influência da amiga, muita coisa ficará difícil.

- Pode ser, mas não podemos nos esquecer que Arnaldo tem aquele ponto fraco, e com ele a causa já está ganha, em menos de um mês voltará para Lucrécia.
- É, mas lembre-se que pai Ernesto deu um tempo certo para ela.
Se essa amiga a influenciar, pode ser que demore muito mais.

- Por isso temos de ir agora acordar o pai Ernesto e ver o que podemos fazer.

Os vultos escuros desapareceram rapidamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:06 pm

11 - Convivendo com o sentimento de culpa

Em um elegante restaurante, Arnaldo e Eduardo aproveitavam o almoço que marcaram para conversar.
Havia alguns dias, Arnaldo decidira contar ao filho o que estava acontecendo em sua vida, seus problemas, seus pensamentos obsessivos, na esperança de que ele o orientasse.

Eduardo era dono de uma inteligência incomum, e o pai sabia que com que ele encontraria alguma solução.
Aliás, bastava a presença do filho para que ele se sentisse melhor.

Quando terminaram de almoçar, enquanto aguardavam a sobremesa, Arnaldo começou:
- Marquei este almoço não simplesmente para mudar de ambiente ou como distracção.
Como pode ver, pedi uma mesa em local reservado para que pudéssemos conversar sem que algum conhecido nos interrompa.
Tenho passado por problemas, filho, e sei que você pode me dar um caminho, uma solução.

Eduardo fixou-o com firmeza, quando disse:
- Tenho notado que não anda bem.
Já não é o pai alegre, bem-disposto e empreendedor de alguns meses atrás.
Mas percebi que fica pior em seu apartamento.
Nas poucas vezes que fui lá, notei que fica calado, carrancudo e com certa tristeza no olhar.
Afinal, não está feliz com a mulher que ama?

— Não é tão simples assim, meu filho.
Há algum tempo tive um desmaio estranho, minha pressão subiu e fiquei internado.
Após os exames requisitados, os médicos disseram que eu estava sadio, que meu corpo não apresentava nenhum problema.
Mas, ao sair do hospital, parece que uma espécie de depressão me invadiu.

Não me sinto em paz em casa com Alice, a mulher que amo, ando esquecido das coisas, meu trabalho tem sido prejudicado com isso, não consigo me concentrar direito.
Arnaldo estava constrangido por falar aquelas coisas para o filho, mas não viu olhar de crítica no rapaz e sentiu-se encorajado para se abrir.

Após uma pausa continuou:
— Meu corpo não anda bem, sinto enjoos, tonturas, dores de cabeça.
Já passei por vários médicos, e os exames nada acusam.
Mas o pior e o que me deixa mais intrigado é o facto de estar constantemente pensando em sua mãe.

Eduardo não sabia que o problema era tão grave, e logo imaginou o que estava acontecendo, mas não tinha como dizer ao pai.
Arnaldo era um homem bom, mas completamente materialista, apesar de ter tido uma educação religiosa.

Era católico. Nas conversas que tinham, sempre que mencionava espíritos, médiuns, o pai mudava de assunto, dizendo ser ideias de pessoas ignorantes e simplórias.

Mas resolveu tentar:
— Como são esses pensamentos com relação à mamãe?
— Não sei explicar.
Eles aparecem fortes, carregados de emoção e são insistentes.
Tem dias que, mesmo reconhecendo amar Alice, sinto que devo voltar para casa e reassumir a relação que tinha com sua mãe.
É uma loucura, tento parar de pensar, mas não consigo.

Lágrimas brotavam do rosto de Arnaldo, e Eduardo, pela primeira vez, viu o pai fragilizado.
A sobremesa chegou e eles não deram importância.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:06 pm

Eduardo, com voz firme, decidiu dizer o que lhe estava no íntimo:
— Pai, ouça bem o que vou lhe dizer, é sério e gostaria que não me interrompesse.
Sabe que quero sempre o seu bem e o apoiei quando resolveu sair de casa para ser feliz.
É meu dever de filho lhe falar a verdade, mesmo que o senhor não acredite.
Vou dizer tudo e depois o seu livre-arbítrio lhe dirá como agir.

Arnaldo enxugou as lágrimas e, curioso, perguntou:
— O que vai me dizer de tão sério?
Tenho alguma doença grave?
— Tem sim, e sabe com ela se chama?

Arnaldo assustou-se:
— Não. O que é?
— É a culpa.
— Ora, não me venha com brincadeiras numa hora dessas.
Olhe como estou. Até chorei na sua frente.
Não há nada que tenha a ver com culpa.

Eduardo continuava imperturbável.

— O senhor não tem nada no corpo físico.
É uma pessoa saudável.
Ama, é amado, é bem-conceituado na profissão que escolheu, tem dinheiro.
Qual o motivo para estar infeliz dessa forma?
— Não sei, talvez seja a depressão.
Mandaram-me procurar a psiquiatria, mas sinto receio.

— Existem, sim, casos reais de depressão, mas não é o seu.
Se procurasse um psiquiatra, ficaria pior do que já está.
Tomando remédios fortes, aos poucos poderia até mesmo perder a razão.

Arnaldo continuava confuso.

— Até agora você não disse em que ponto a culpa entra nessa história, pode me explicar?
— Sei que não acredita em espiritismo, em vida após a morte.
Já começamos a conversar sobre isso e o senhor sempre cortou, acredita que seja balela, mas é hora de atentar para a imortalidade da alma e para as coisas do espírito.
Se assim não fizer, sua vida só vai piorar.

Arnaldo irritou-se.
Esperava conselhos filosóficos do filho e ele vinha com essa de espiritismo.

- Não acredito e sei que, apesar de você ser espírita, jamais participarei dessa seita.
Apesar de tudo, Eduardo sorriu e disse:
- O espiritismo não é seita nem religião, mas depois lhe explico melhor.
Vamos para sua vida, que é o que interessa.

Fixando os olhos profundos no pai, Eduardo começou a explicar.

- O senhor está envolvido por espíritos ignorantes que têm sugado sua vitalidade e que desejam dominar sua vida, levando-o para a infelicidade.
Esses espíritos querem que o senhor retorne ao antigo lar e não sabemos por que, mas estão usando da sugestão hipnótica constante de pensamentos para esse fim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:07 pm

Arnaldo sabia que o filho era uma pessoa séria e inteligente e começou, então, a dar crédito ao que ele dizia:
- Isso realmente pode acontecer?
- Pode e é mais frequente do que se imagina.
A maioria das emoções que sentimos vem de fora, dos pensamentos da sociedade, das pessoas encarnadas e, principalmente, dos espíritos que já deixaram este mundo.

A maioria das pessoas infelizes que busca consultórios psiquiátricos, na realidade, são médiuns e estão com seu sexto sentido em desenvolvimento.
Como não conhecem o processo, buscam todos os meios para se sentirem bem.
Embora muitos encontrem a melhora, a maioria não consegue ficar bem, a não ser com o uso contínuo de medicação.

Arnaldo se interessava cada vez mais pelo assunto e não resistiu à pergunta:
- E por que ficam bem quando tomam a medicação?
Se são espíritos que os estão atacando, eles não deveriam apresentar nenhuma melhora.

- Cada caso é um caso.
Às vezes, a sensibilidade perturbada acaba atingindo o físico, e é realmente necessário o uso de medicação.
Mas, na maioria das vezes, os remédios prejudicam e aumentam o problema.
Os que ficam bem quando tomam a medicação geralmente são aqueles que estão se auto-ajudando, buscando ideias optimistas, aprendendo a lidar com seu mundo interior.

Pode durar mais de uma encarnação.
Mas, se são atingidas pelos espíritos das trevas, é porque deram abertura com o baixo padrão vibratório.
Nenhum espírito, por pior que seja, vai conseguir nos atingir se estivermos no bem e na felicidade.

- E no meu caso?
Se estou sendo atingido por espíritos, não dei abertura em nenhum momento, vivia feliz com a Alice, com minha profissão, amigos...
Como isso se explica?

Eduardo esperava por essa pergunta.

- Não lhe falei que sua doença se chamava culpa?
- Sim, e...?
- A culpa é um instrumento de autotortura que as pessoas usam até inconscientemente, é uma porta aberta para inúmeras obsessões e sofrimentos.
Sei que, apesar de ser feliz com a nova companheira, o senhor nunca deixou de se culpar pela solidão na qual deixou a mamãe.
Pelas nossas conversas por telefone e mesmo ultimamente, tenho percebido que se acha responsável pelo facto de ela viver triste e amargurada.

É por meio desse sentimento mórbido que os espíritos das trevas conseguiram alcançá-lo.
É preciso perceber que ninguém é culpado pelo que acontece na vida dos outros.
Cada um atrai e vivência aquilo que é necessário ao seu crescimento interior.
Enquanto não se livrar da culpa, sua vida continuará como está.

Arnaldo percebeu que o filho mais uma vez falava a verdade.
Ele se sentia responsável pela vida de Lucrécia.
Sempre que podia e se via só, ligava para ela para saber como andava a mansão, se havia algum problema que ele pudesse resolver.

Era-lhe doloroso saber que uma pessoa estava entregue à solidão por sua causa, além disso sempre ouvira dizer que o adultério era um pecado mortal.
Se Eduardo seguia o espiritismo, por que o ajudou a se separar?

- O que me diz é verdade, filho.
Sinto que sou o culpado, mas o que fazer?
É mais forte que eu.
Ademais, você sabe que comecei a me relacionar com Alice enquanto ainda estava casado e que sempre tive amantes.
Sou de família tradicionalmente católica e sempre ouvi dizer que o adultério é um pecado terrível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:07 pm

— Essas ideias são das religiões que o homem criou, mas Deus dirige a vida com leis bem diferentes das dos homens.
Não existe pecado.
O que há são acções negativas que trazem dor e sofrimento, variando de acordo com a intenção de cada um.
Para as leis cósmicas, os actos em si nada valem, o que conta mesmo são as intenções.

Arnaldo estava surpreso.

— Então você é a favor do adultério?
- É claro que a traição é uma acção negativa, que produz frutos dolorosos.
Ao sentir que não amamos mais alguém e que há outra pessoa em nosso coração, devemos ser sinceros e terminar a relação fracassada antes de iniciar a outra.
Isso é honestidade.

Mas nem sempre quem comete adultério tem intenções negativas.
Na verdade, são pessoas que têm essa fraqueza e que só o tempo irá modificar.
Mas há traições planeadas, situações dúbias bastante negativas que envolvem pessoas com o intuito de causar sofrimento.

Os que assim agem vão sofrer para harmonizar o que fizeram.
Por outro lado, há criaturas também de coração grande, que amam duas ou mais pessoas ao mesmo tempo sem que isso seja adultério.

Há variáveis que envolvem o processo, e não temos condições de julgar.
Muitas dessas situações vêm de vidas passadas, assuntos mal resolvidos que precisam agora de reajuste.

Arnaldo atalhou:
- Então quer dizer que não errei tanto assim?
Que posso ser feliz sem culpa?

- É claro, pai. O mais sensato seria ter comunicado à mamãe que gostava de outra e, só depois, começar a se envolver, mas isso não é motivo para culpa.
Todos nós somos seres em busca da perfeição total.
Somos perfeitos em nosso nível de evolução, mas, para chegarmos à perfeição total que está destinada a nosso espírito, erramos e erraremos muito mais.
É natural.

- Nossa, filho, como essa conversa me aliviou!
Quer dizer que, se me livrar da culpa, todos os meus problemas desaparecerão?
- Quando mudamos nossos pensamentos para os positivos, há uma desconexão natural com as entidades perversas, mas no seu caso aconselho que vá tomar passes em um centro espírita.
O passe é uma transmissão de energias sadias, de fluidos benéficos, que muito o irá ajudar.

Depois que pagaram a conta, cada um foi para sua casa.
Eduardo recolheu-se em seu quarto e agradeceu a Deus a oportunidade que teve de esclarecer o pai.
Mas no íntimo sentia que não seria fácil Arnaldo voltar a ser como antes.

O poder destrutivo da culpa infelicita milhares de criaturas e produz resgates dolorosos de erros que poderiam ser feitos pela harmonização através da inteligência e do amor.

Antes de deitar para seu sono vespertino habitual dos domingos, Eduardo ainda pensou na frase do apóstolo Pedro que, se fosse colocada em prática, mudaria a humanidade:
"O amor cobre a multidão de pecados".
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:07 pm

12 - O despertar do amor

Ernesto estava triste e saudoso naquele fim de tarde.
De repente, parecia que a vida havia perdido o sentido.
Aliás, desde o fatídico acidente que vitimara sua família, ele não via mais graça alguma em continuar vivendo.

A mediunidade a serviço das trevas em troca de dinheiro veio para ele em boa hora, pois preenchia seu tempo, permitia que interferisse no destino das pessoas tornava-o poderoso.
Como seus serviços funcionavam, davam os resultados esperados, sua clientela foi aumentando e ele já contava com uma grande soma na conta bancária, além de diversos imóveis espalhados pelo centro de São Paulo e até em bairros distantes, que lhe serviam como fonte a mais de renda por estarem alugados.

Mas, vez por outra, batia a melancolia.
Nessas horas entrava em tristeza profunda, tudo perdia o sentido, e ele chorava muito, escondido, para que seus empregados não percebessem.

Jamais pensara em voltar a se relacionar amorosamente com alguém.
Seu grande amor, Mariana, a vida injusta e cruel o havia tirado.

Estava se refazendo do choro quando Claudete, uma espécie de secretária, entrou em sua sala dizendo:
- Acabou de chegar uma jovem desesperada, chorando muito, desejando ser atendida agora.
Disse-lhe que o horário de expediente terminou há mais de uma hora, mas ela insistiu dizendo morar longe e alegando que o trânsito a impediu de chegar na hora marcada.

Ernesto ergueu as sobrancelhas e imaginou que atender mais alguém, mesmo com o horário encerrado, seria bom.
Naquele dia, em especial, mais uma consulta o ajudaria a distrair a mente.

Ao seu lado estava o espírito luminoso de Mariana e seu amigo Fernando torcendo para que ele atendesse a moça.

Mariana comentou:
- Deus ajude que ele possa se render ao bem desta vez.
- Vamos orar e ficar por perto.

Os ajudantes de Ernesto não sabiam o que ia acontecer hoje e não estão aqui, por isso vamos ficar vigilantes.
Ambos começaram a orar e de seus espíritos começaram a sair faíscas de luz prateadas que inundaram o ambiente.

Olhando para Claudete, ele disse:
- Pode mandar entrar.
Se estava marcado, não posso deixar de atender.

Ernesto preparou o local acendendo incensos, velas coloridas, luzes que reflectiam por todo o ambiente, deixando-o exótico.
Apesar de trabalhar para o mal, Ernesto mantinha um consultório agradável ao olhar dos clientes, apesar de no lado espiritual o ambiente ser tenebroso e assustador.

Das paredes descia uma espécie de líquido semelhante ao sangue, mas bem mais escurecido.
No chão, insectos, como aranhas e baratas, e animais como cobras e ratos, do astral inferior perambulavam de um lado a outro.

Atrás de Ernesto sempre ficava um espírito de capa preta que o guiava nas tarefas, mas ele não estava ali naquele momento.
Tendo encerrado o expediente, o citado espírito havia ido ao encontro da entidade que se autodenominava Lúcifer para contar os êxitos do dia ao lado do "cavalo".

Tudo preparado para atender, Ernesto estava de costas e falou mecanicamente, quando a moça foi anunciada:
— Sente-se.

Ao se virar e olhar para a pessoa à sua frente, Ernesto corou, seu coração acelerou, uma emoção muito forte tomou conta de seu ser.

Quem seria aquela jovem tão bela?
Completamente entregue à emoção, Ernesto começou a fitá-la e, quando seus olhos se encontraram, a emoção aumentou a tal ponto que uma lágrima desceu de seu olho esquerdo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:07 pm

A jovem, percebendo que algo estranho estava acontecendo, perguntou:
— Sente-se bem, pai Ernesto?

A pergunta o fez despertar do quase transe em que havia entrado.

Ele se refez rapidamente e respondeu:
— Sim. Sinto-me bem.
Apenas rememorei um facto triste de uma cliente que saiu há algum tempo daqui - mentiu.

Ernesto estava completamente emocionado com a presença daquela pessoa até então estranha e que fez brotar de seu íntimo um sentimento há muito esquecido.

— Como se chama?
— Ingrid.
— Quantos anos você tem?
— Dezanove.

Ernesto admirou-se.

— Tão nova e já buscando os recursos da magia?
Quem lhe influenciou a tomar tal atitude?
- Sou de uma família que entende do assunto, mas que trabalha só para o bem.
O que quero eles dizem que não podem fazer.
Daí procurei a mãe Márgara, mas só havia vaga para daqui a três meses.
A assistente que trabalha com ela disse que vocês são amigos e que eu poderia tentar aqui.

- Mãe Márgara tem muito poder mesmo.
Mas aqui a agenda também está lotada, só temos vaga para daqui a quatro meses.
Como conseguiu assim tão rápido?
- A Claudete me colocou no lugar de uma cliente que havia desmarcado.

- Sorte sua. Mas...
O que pretende aqui?

Ingrid abriu uma pequena bolsa e foi retirando alguns pertences em busca de algo.
Ernesto, completamente apaixonado, observava cada gesto delicado que ela fazia, a maneira educada como conversava, a voz pausada.
Era uma jovem bonita, alta, de cabelos cacheados abaixo dos ombros, branca, de uma brancura que chegava mesmo à palidez, mas que contrastava com seus lábios vermelhos e discretos.

Após retirar vários objectos, ela encontrou uma foto pequena em que estava um homem e uma mulher.

Eram jovens.
O homem tinha porte atlético, estava de camiseta e mostrava músculos bem definidos.
A mulher era muito parecida com Ingrid, apesar dos cabelos lisos e da tez amorenada.

Mostrando a foto, Ingrid disse determinada:
- Quero este homem, custe o que custar.
- Vejo que é determinada.

- Sou sim. Quero que faça dois trabalhos.
Primeiro, um de separação.
Quero vê-lo longe da mulher e dos dois filhos, depois quero que o faça se apaixonar perdidamente por mim.
Este homem é a minha vida.
Sei que é poderoso e pode fazer o que desejo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:08 pm

Ernesto estava confuso.
Não sabia o que fazer.
Não sentiu a presença do exu que o guiava.
Onde ele estava que não aparecia para sugerir algo?

Mesmo quando o expediente terminava, as entidades ficavam atentas, pois poderia aparecer um caso extra.
Por outro lado, Ernesto reconheceu ter sentido por Ingrid um amor súbito, tempestuoso.
Seria por isso que o exu de capa preta não estava por perto?

Pausando a voz, ele continuou:
- Posso fazer o que me pede, mas para isso é preciso que me conte como se apaixonou tão perdidamente a ponto de recorrer à magia.
E preciso saber de tudo para que o trabalho tenha eficácia.

Ingrid estranhou.

- O filho de mãe Márgara disse que o senhor é tão poderoso que adivinha tudo antes mesmo de a pessoa falar.
Então, por que preciso contar minha história?

Ernesto ficou perdido com a pergunta inesperada.
Era assim que acontecia.
Os clientes chegavam e as entidades lhe contavam tudo, fosse pela audiência mediúnica, fosse pela telepatia, mas, naquele instante, além de não sentir nenhuma delas por perto, queria estar mais próximo de Ingrid, demorar o máximo possível em sua companhia.

Subitamente inventou:
- As entidades estão pedindo que você conte a sua história.
Elas querem captar as vibrações de sua voz, do que você vai narrar para usar no trabalho no terreiro.
É muito comum isso acontecer.

Ela então começou o relato:
- Sou filha de pais separados, mas que viveram bem durante muito tempo.
Minha irmã mais velha, Vanessa, tem vinte e nove anos.
Meus pais não queriam mais ter filhos, porém, por descuido, minha mãe engravidou dez anos depois de Vanessa ter nascido.

Eu fui criada mais por minha irmã do que por minha mãe.
Somos de classe média baixa e meus pais trabalhavam o dia inteiro.
Pela manhã, enquanto Vanessa estava na escola, a empregada cuidava de mim, o resto do tempo eu ficava com ela.

Mesmo com a diferença de idade, conseguíamos nos entender e sempre fomos amigas.
No entanto, há três anos Vanessa chegou a nossa casa sorridente e muito feliz, dizendo ter encontrado o homem de sua vida e que ele a tinha pedido em namoro.

Marisa, nossa mãe, sorriu e disse:
"É assim com todos.
Depois de um mês você enjoa e aparece com outro pretendente".
Vanessa, sorrindo muito, retorquiu:
"Desta vez é diferente, é para valer.
Estamos apaixonados".

Eu adorava minha irmã e, na época, tinha só dezasseis anos, era tímida, pouco ia às baladas e tinha tido poucos namorados.
Mesmo assim, estava feliz ao vê-la tão eufórica e apaixonada.

Ela disse à mamãe:
"Amanhã quero um jantar especial, ele vem aqui pedir minha mão à senhora.
Já que papai nos deixou e foi para Ouro Preto, só resta a senhora aqui para aprovar a união".
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:08 pm

Mamãe sorriu e tudo foi preparado para o jantar especial.
Vanessa era recém-formada em Medicina e fazia residência em um hospital conhecido, onde conheceu o Diego, que é instrumentador cirúrgico.
A noite chegou e, quando o Diego entrou com um buquê de rosas vermelhas para minha mãe, fiquei estarrecida.

Foi paixão à primeira vista.
Nunca havia sentido por nenhum homem o que senti em poucos instantes pelo namorado de minha irmã.
Quando ele me abraçou cordialmente e me beijou no rosto, senti um calor maravilhoso, meu coração disparou, parecia que ia desmaiar.

No entanto, fingi muito bem.
Com o tempo, ele passou a frequentar nossa casa regularmente, e minha paixão aumentava.
Depois que o conheci, não consegui mais namorar ninguém.
Passava os dias a sonhar com ele, imaginando-o em meus braços, sonhando com o dia em que ele terminaria tudo com minha irmã e se declararia para mim.

Mas isso nunca aconteceu.
Eles ficaram noivos e se casaram há dois anos.
Vanessa já casou grávida, e há poucos meses deu à luz o segundo filho.
Eles vivem muito bem, felizes e eu amo a minha irmã, mas não consigo deixar de amar o Diego de forma alguma.

Queria tê-lo para mim de qualquer jeito.
Sempre ouvi dizer que nenhum homem resiste quando uma mulher se insinua, então tracei um plano.

No dia que minha irmã estava de plantão e Diego, sozinho em casa, fui para lá.
Cuidei de fazer a cópia da chave do apartamento deles com antecedência para facilitar as coisas.
Entrei sorrateiramente e com roupas previamente pensadas para aquele momento, deitei na cama dos dois, enquanto ele, entretido, cuidava do Marquinhos.

Quando Marquinhos dormiu e ele entrou no quarto, ficou pasmo com o que viu.
Jamais poderia imaginar aquilo de sua cunhada.
Fui provocante.
Falei que o amava desde o início e que naquele momento meu corpo ardia pelo dele.

Ele, com o rosto perplexo, segurou-me com força, fez-me vestir a roupa e, quando estava pronta, decepcionado me disse:
— Você é uma adolescente inconsequente e sem limites.
Vou perdoá-la por isso, mas nunca mais apareça em nossa casa e saiba que jamais trairei a Vanessa.
Amo-a muito e quero que entenda que o que sente por mim é impossível.

Seja digna, nenhum homem gosta de mulher que se oferece, que lhe vem fácil.
Dê-se ao valor antes que fique passando de mão em mão e termine como muitas, solitária e infeliz.

Agora saia de minha casa e só me dirija a palavra em caso de extrema necessidade.
Vou fingir que nada aconteceu aqui pelo bem-estar de minha mulher e de minha família, que tanto amo.
Agora saia!

Ele disse essas últimas palavras com o rosto vermelho e quase gritando.
Peguei um táxi e chorei copiosamente até chegar em casa.
Havia dito a minha mãe que dormiria na casa de uma amiga.

Em meu quarto, continuei a chorar.
Nunca fui tão humilhada.
Ele havia me chamado de mulher fácil, quando tudo o que fiz foi por amor.
Gostaria que soubesse que não sou de fazer sexo com qualquer um, aliás, sou virgem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:00 pm

O que fiz foi movido pelo grande amor que sinto por ele.
Isso aconteceu há seis meses e, de lá para cá, minha paixão só fez aumentar.
É um desejo de amor que me consome.
Tenho de aturá-lo com minha irmã, fazendo-lhe carinhos, beijando-a.

Não suporto mais. Quero esse homem para mim.
Apesar de amar minha irmã, esse amor é mais forte que eu.
Sinto que jamais serei feliz longe dele.

Ernesto ouviu tudo com atenção e disse:
— É um caso difícil, mas não sei se é impossível.
Terá de gastar muito com material, sangria de animais e não sei se terá dinheiro para tanto.
Ela, enxugando as lágrimas que a narrativa provocou, respondeu:
— Não se preocupe com o pagamento.
Tenho como conseguir a quantia.

— Se é assim, melhor.
Mas terá de trazer a metade daqui a uma semana, tempo em que iniciarei os trabalhos.
— Posso ter a garantia de que terei o Diego para mim?
— Praticamente, sim.
Muitos resistem a uma mulher provocante, mas raros resistem a um feitiço bem feito.
Vá e fique tranquila.

Ingrid levantou e deu a mão a Ernesto, dizendo:
- Não sei como agradecer.
- Não precisa agradecer, basta pagar.

Ela saiu deixando um delicado perfume no ar.
Ernesto dispensou Claudete e foi para casa.
Não conseguiu jantar, e sua mente estava confusa.

Aquela era uma mulher especial.
Sim! Uma mulher.
Apesar da pouca idade e virgem, pensava e agia como uma adulta.

Foi para o quarto e rolou insone pensando nela, em seus olhares, em sua doçura ao falar.
Ernesto habituou-se a conhecer, desde o tempo de espiritismo, a alma das pessoas.
Ingrid era uma alma boa que estava agindo pela ignorância.
Provavelmente, no dia que tentara seduzir o cunhado, estava sendo induzida por espíritos ligados ao sexo e às paixões.

Em seu peito um sentimento de amor começou a surgir.
De onde ele vinha?
Sentia que amava com paixão aquela criatura frágil e iludida pelos apelos de uma paixão descontrolada.

De repente, veio-lhe um pensamento:
e se, em vez de fazer o feitiço para ela ficar com o cunhado, fizesse um para que ela se apaixonasse por ele?
Sabia que seria difícil realizar o que Ingrid pedia.

As bruxarias não penetram em lares onde há amor verdadeiro, o que parecia ser o caso de Vanessa e Diego.
Nenhum feitiço, por mais forte que seja, consegue destruir uma união baseada no amor.
Ernesto sabia disso e não iria perder tempo, investiria nele.
Olhou-se no espelho e, apesar de ter trinta e cinco anos, era muito conservado e de porte elegante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:00 pm

Não tinha tanta beleza, mas possuía masculinidade, entendia os jogos da sedução.

Tanto que conquistara Mariana.
Mariana... Onde estaria naquele momento?
Gostaria de saber, mas nenhum guia seu tinha essa informação.
E suas filhas? Como estariam?

Ao seu lado, sem que ele pudesse ver, Mariana dizia:
- Meu amor, estou e estarei sempre ao seu lado.
A vida nos separou porque era a hora.
Vou torcer para, que por meio desse amor por Ingrid, ocorra sua redenção.
Vim para a Terra com nossas filhas como voluntária para o teste que você mesmo escolheu antes de nascer.

Nossa morte seria necessária para que você pudesse optar pelo caminho da sombra ou da luz.
Fique com Deus!

Ernesto sentiu uma brisa suave em seu rosto.
De onde vinha? Seu quarto estava todo fechado.

De repente pensou:
"Mariana? Você está aí?"

Pela manhã, apesar de estar constantemente pensando em Ingrid, Ernesto resolveu continuar com as consultas.
Dessa vez estava sentindo a presença de seus companheiros.

Lucrécia entrou altiva na sala e, com voz estridente e arrogante, perguntou:
- O que está acontecendo com o trabalho que encomendei?
Faz semanas e nada vi de novo.
Olha, se não der certo, quero meu dinheiro de volta!

- Calma, senhora.
Não viu como tudo deu certo com sua filha?
A amante do marido dela está em coma e é impedida de voltar ao corpo pelo espírito de Gorete.
Enquanto isso, ele se aproxima muito mais de sua filha.
Não tem notado?

- Sim, com a Arlete, sim, mas e comigo?
Nada está acontecendo.
Enquanto eu estou na solidão, aquela vagabunda da Alice dorme todas as noites com meu marido.

Ernesto detestava clientes arrogantes e autoritárias, mas não podia perder a paciência.

- Meus guias dizem que ele está mais voltado ao lar, que tem estado lá constantemente.
Eles garantem que Arnaldo pensa em você o tempo todo e que mais rápido do que imagina voltará, mas também vêem dois problemas que podem atrasar a situação.
Lucrécia abriu ainda mais os olhos nervosos e, quase gritando, perguntou:
- O que diabos pode atrapalhar? Fale logo!

- Há duas pessoas que trabalham para o Cordeiro e que podem interferir na situação, tornando seu desejo mais lento de ser atendido.
- Pessoas? Cordeiro?
O que é isso?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:00 pm

- Cordeiro é Jesus, são as forças do bem.
As pessoas são seu filho Eduardo e uma amiga da amante de seu marido.
Eles podem atrapalhar. Mas, se você contribuir, tudo ficará mais fácil.

Lucrécia não sabia o que dizer.

- Como Eduardo pode interferir nisso?
Sei que ele foi a favor do pai na separação, mas ele não pode ser superior a um bruxo como você.
- E não é! Você pode atrapalhar a relação dos dois.
Interferir para que fiquem juntos o mínimo tempo possível.
- Impossível! Arnaldo é apaixonado pelo filho, jamais vou conseguir.

Ernesto foi franco:
- Sem sua ajuda ficará mais demorado.
Pense e descubra uma forma de afastar pai e filho que eu cuido da amiguinha da Alice.
- Em quanto tempo terei meu marido de volta?
- Fique tranquila que será rápido, basta que neutralizemos Eduardo e essa outra pessoa.

Lucrécia se irritou ainda mais:
- Sempre que venho aqui você me diz que está perto, mas nada acontece.
Cansei de ser enganada.
Se dentro de um mês ele não voltar para casa, quero todo o meu dinheiro de volta.

Sabe que sou influente e posso fazer uma denúncia dizendo que você faz sacrifícios de pessoas no seu terreiro lá na Vila Maria.
Tenha cuidado e trate de fazer o que peço.

Lucrécia colocou seus óculos escuros e saiu, deixando pai Ernesto completamente irritado.

Um espírito inferior aproximou-se dele e disse:
— Não se impressione com essa aí, tem tantos pontos fracos que, antes que possa fazer algo para nos prejudicar, plantaremos nela uma baita doença que a impedirá de fazer qualquer coisa.
— Sei disso, mas quero realizar o que ela pede.
Não gosto de deixar clientes insatisfeitos, você sabe que Lúcifer não gosta.

— Sei, sei. Mas também sabemos que esses espíritas têm poderes que não conseguimos vencer.
Há também terreiros que trabalham para o bem, com técnicas, desconhecidas dos espíritas, que nos neutralizam.
Você, que já foi espírita, sabe muito bem disso.

— Não me lembre dessa época, não gosto!
— Falei apenas para que fique atento.
Agora acalme-se, o próximo cliente vai entrar.

Lucrécia dirigia muito irritada.
Por que com Arlete dera certo e com ela não?
Era justo ela sofrer sozinha, enquanto seu marido se divertia com uma aventureira?

Ao chegar em casa, deu de cara com Eduardo, que acabava de chegar do trabalho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:00 pm

Uma sombra escura a envolveu e soprou-lhe ao ouvido:
— Esse aí é o atraso de sua vida.
Vai fazer você continuar amarga e infeliz como está.
Mande-o embora de sua casa.
Ele é muito grandinho. Para que morar com a mamãe?

Ela registou a mensagem por telepatia e, quando Eduardo veio abraçá-la, sentiu um ódio muito grande do filho, rechaçando seu abraço.

Ele notou que algo estava estranho e perguntou:
- O que aconteceu, mãe?
Algum problema?

A entidade rodopiava ao redor de Lucrécia e dizia:
- Não ouça esse aí, mande-o embora. Vá!

Lucrécia deu um empurrão tão forte no filho que ele precisou se apoiar no sofá para não cair.

- Saia daqui, Eduardo!
Deixe-me em paz!

Notando o descontrole de sua mãe, o rapaz subiu as escadas e prometeu a si mesmo conversar com ela quando seu ânimo estivesse menos exaltado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:00 pm

13 - Conhecendo a espiritualidade

Sentada à mesa de uma confeitaria, Magali estava ansiosa à espera de Alice.
Haviam marcado três horas, e já passava das quatro sem que a amiga aparecesse.

Chovia em São Paulo naqueles dias e, por isso, o trânsito estava engarrafado.
Mas Magali não culpava o trânsito, afinal a confeitaria ficava a poucas quadras do apartamento de Arnaldo.
Por que Alice se atrasara tanto?
De repente, lembrou-se da conversa que havia tido pela manhã com Joana, médium espírita que frequentava o mesmo centro que ela.

Magali a havia procurado e relatado o que estava acontecendo com a amiga sem, contudo, entrar em detalhes e também ocultando os nomes dos envolvidos.

Joana, depois de ouvi-la com atenção, disse:
- Você está certa em adverti-la!
Vejo o lar mencionado cheio de entidades que querem ver a separação do casal.
Também sinto que foi um trabalho encomendado a um médium que trabalha para o mal.
Esses espíritos aproveitam a culpa do homem envolvido para manipulá-lo.
Se ele não melhorar, sua amiga acabará separada.

Magali não se conformou:
- Mas isso é injusto.
Acompanhei o romance dos dois desde o início.
Sei o que minha amiga teve de enfrentar e renunciar para estar com ele.
Além do mais, eles se amam de verdade.

- Se há amor, um dia retornarão e serão felizes.
O mal não é uma fatalidade, ele só acontece quando permitido por Deus, para nosso crescimento moral e evolução.
Mas tome cuidado. Vigie seus pensamentos.

Ao tentar alertá-la, você estará sendo visada pelas entidades inferiores envolvidas no caso e pode acabar prejudicada.
É preciso ficar alerta e em prece.

Magali protestou.
— As pessoas que ajudam, que trabalham na divulgação da espiritualidade e que fazem caridade deveriam ser automaticamente protegidas.
Não acho certo ter de sofrer a influência de espíritos mal-intencionados quando estamos no trabalho de auxílio.

Joana sorriu ao dizer:
— Todos nós estamos sujeitos a essas interferências.
Só quem sabe ajudar efectivamente obtém protecção.
Muitas vezes, na tentativa de ajudar, queremos impor nossa opinião, fazer valer nosso orgulho, ser paternalista, sofrer junto com a pessoa.

Isso não é adequado, pois baixa nosso padrão vibratório, e daí podemos ser atingidos.
Muitos querem ajudar, não nego que haja boa intenção.
Mas, para ajudarmos realmente, temos de saber como.

Envolver-se em problemas que não são nossos, de amigos, parentes e até do companheiro, dá errado, porque, ao fazermos isso sem sabedoria e equilíbrio, acabamos atraindo para nós toda a carga energética que os outros estão mantendo.
Muitas vezes orar e enviar boas vibrações é a melhor ajuda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:01 pm

— Quer dizer que não devo fazer nada?
A senhora está se contradizendo.
— Em seu caso, acredito que tem sabedoria para ajudar da maneira correta.
Tenho notado como se dedica à espiritualidade, sem fanatismo, com bom senso e discrição.
Sabe, Magali, quando entramos no espiritismo sentimos tudo nos deslumbrar, parece que todos os nossos males se acabam em um passe de mágica só porque conhecemos mais uma parcela da verdade.

Mas logo percebemos que estamos enganados.
Conhecer a espiritualidade só nos torna mais responsáveis perante a vida e as leis universais.
É por isso que muitos de nossos companheiros de ideal se revoltam e se afastam quando sofrem uma decepção e percebem que a vida continua a mesma, que os problemas, os pontos fracos permanecem.

É preciso entender que só o conhecimento teórico, intelectual, não leva a lugar nenhum.
É preciso praticar de verdade para ter uma vida feliz, e você tem feito isso.
Acredito que pode e deve orientar sua amiga e ficar ao lado dela, pois prevejo que eles vão se separar.

Magali estava confusa.

— Não dá para realizar um trabalho para desmanchar esse feitiço que fizeram?
— No centro em que trabalhamos podemos trazer os espíritos envolvidos e até mesmo fazer com que eles retirem as energias desequilibradas que colocaram no casal, mas o processo não é tão simples assim.
Vejo que o homem é bastante resistente e não está disposto a mudar o pensamento.
Nesse caso, o alívio é apenas temporário.

As pessoas encarnadas precisam mudar para não atraírem mais esses espíritos.
É por isso que muitos trabalhos feitos para desmanchar o que se chama de feitiço não dão certo.
Se os envolvidos não mudam a forma de agir e pensar, tudo segue igual.
De qualquer forma, é bom que um dos dois frequente o centro, lá temos mais recursos e esclarecimentos.

Magali assustou-se com a chegada intempestiva de Alice.
- Nossa! Eu me atrasei demais, pensei que não fosse mais encontrá-la aqui.

As duas se abraçaram e pediram um lanche.
Enquanto esperavam, conversaram amenidades, mas logo Magali foi directo ao ponto.

- Alice, preciso alertá-la quanto ao que está acontecendo com você e o Arnaldo.
Confesso que pensei bastante antes de termos essa conversa, mas sempre me guio pela intuição e sei que você está preparada para saber e agir correctamente.
- Do jeito que você fala, parece que vai haver um desastre.
Conte-me tudo logo.

Magali fez uma pequena pausa e começou:
- Como te falei ontem, suas brigas e a frieza do Arnaldo têm causa espiritual.
Fizeram uma bruxaria para que ele deixe você e, provavelmente, volte para a antiga casa.

Alice deu uma gargalhada.

- Bruxaria? Nossa!
Até nisso, hoje em dia, você acredita?
Ontem você me disse que era interferência espiritual, hoje já diz que é bruxaria.
Por favor, decida-se.

Magali percebeu que ela não estava levando a sério, mas continuou sem se perturbar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:01 pm

- Você sabe como sou, jamais brincaria com uma coisa séria como esta.
A bruxaria e o feitiço existem, de facto, e têm feito muitas pessoas sofrer, provocando a morte, inclusive.
Sei que você, apesar da pouca idade, é madura e pode compreender.
O mundo oculto interage constantemente com o nosso sem que possamos perceber.

Dor de cabeça, enjoo, depressão, tristeza, raiva e revolta sem motivo aparente mostram que captamos energias do mundo astral e até de pessoas encarnadas sem perceber.

Mas, no caso da bruxaria, é bem mais profundo o processo.
Há espíritos no astral inferior treinados para destruir famílias, acabar com casamentos, provocar a morte, acidentes etc.
Tudo na maior disciplina e ordem.
Infelizmente, muitas vezes conseguem o que pretendem.

- Você está me assustando.
Quer dizer que estamos à mercê desses espíritos sem que possamos fazer nada?
— É a esse ponto que quero chegar.
Como te falei, acabei de ler o livro Libertação, de André Luiz, e também Magia de Redenção, de Ramatís.
Sei que não foi por acaso que os li.
Há alguns meses os vi numa livraria e os comprei.

Este último descreve em detalhes todo o processo de enfeitiçamento e de como nos livrar dele.
Libertação narra a história de uma mulher subjugada por espíritos do umbral e a trajectória de um chefe de uma falange de justiceiros.
Termina contando a libertação, tanto do chefe, que é resgatado pela mãe, quanto da obsidiada.
Aprendi com esses livros que essa influência ruim só acontece quando deixamos a porta aberta.

Pensamentos depressivos, pessimistas, falta de fé na vida, atitudes julgamentos, as culpa, remorso abrem o campo para que os obsessores nos influenciem.
Há também os nossos vícios e tendências que acabam atraindo para nós toda a sorte de companhias negativas, tanto desencarnadas quanto encarnadas.

Alice estava cada vez mais atenta.

Por fim, perguntou:
— E o que posso fazer para manter meu lar?
Pelo visto, sozinha nada conseguirei.
Arnaldo é incrédulo e nunca vai admitir uma coisa dessas.
É homem do mundo, materialista.
Pelo que você falou, é um caso perdido - Alice disse isso com os olhos cheios d'água.

— Não é não. Se ele não quer fazer nada, você pode.
Primeiro, não alimentando discussões com ele e o deixando livre para fazer o que quiser.
Depois deve orar e pedir a Deus protecção e amparo.
Pode também frequentar o centro, onde receberá melhores esclarecimentos.
Ficar forte na fé é o que vai sustentar sua vida e sua família.

- Não sou de espiritualidade nem de religião.
Nunca fui ensinada a acreditar em Deus.
- Talvez por isso esteja passando por essa situação.
Muitas dores e sofrimentos nos despertam para o lado espiritual da vida, mostrando que além desse mundo há outros, e que precisamos atentar para a imortalidade da alma.
Chegou a hora de você amadurecer e se ligar com o espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:01 pm

- Não quero isso para mim.
Não me vejo atrelada a uma igreja nem a um centro espírita. Não vou.
- Não precisa ficar atrelada a nada.
Basta frequentar alguns dias e, se gostar, continua.
Ninguém é obrigado a nada.

Nem sempre frequentar um centro ou estar em igrejas nos garante vida boa ou evolução espiritual.
O que vale mesmo é o despertar da consciência, ser ético, buscar o bem.
Frequenta quem sente vontade e quer de coração.

Seu caso é sério e, como amiga, a aconselho a ir comigo pelo menos um dia.
Se achar que não é bom, não precisa voltar.
No entanto, comece desde já a cultivar o hábito da prece.

Alice pareceu ceder.

— Você me convenceu, irei sim.
Mas confesso que não acredito em orações.
Vejo muita gente que reza o dia inteiro e tem uma vida horrível, cheia de problemas e doenças.

Minha avó vivia com o terço na mão e, mesmo assim, morreu muito doente.
Tanto que minha mãe passou a descrer da oração e nunca me ensinou a rezar.

Magali parecia diferente e, com olhar fixo em um ponto indefinido, respondeu:
- Muitos não acreditam no poder da prece, pois não vêem resultados imediatos.
Mas todo aquele que ora é atendido, de uma maneira ou de outra.
O que dificulta mesmo é acreditar que o simples balbuciar de palavras vai resolver nossa vida.

A prece verdadeira é aquela que vem do coração, é o momento que nos abrimos para Deus sem receios, sem restrições.
Essa prece é sempre ouvida e atendida, ainda que não vejamos logo seus resultados.
Ocorre também que para sairmos de um problema, de uma situação ruim, de uma doença é preciso aprender o que Deus quer nos ensinar com tudo isso.

Nesse caso, em vez de orarmos pedindo a solução, devemos orar pedindo a Ele que nos mostre o que precisamos saber para deixar de sofrer.
Há também orações que não são atendidas pela nossa falta de fé.

Em toda cura que Jesus realizava, ele dizia:
"Vá em paz, tua fé te curou".

Minutos mais tarde, quando saíram dali, estavam satisfeitas.
Magali por ter ajudado a amiga e Alice por estar começando a descobrir um mundo diferente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:01 pm

14 - À procura de auxílio

Apesar das orações feitas no centro por Magali, Joana e outros amigos, a situação não melhorava entre Alice e Arnaldo.

Depois daquela conversa no dia em que havia preparado um jantar especial, Alice não tocou mais no assunto, fingia que não estava acontecendo nada.
Fazia um mês que havia conversado com Magali a respeito das interferências espirituais, mas, apesar da insistência da amiga, não havia ido ao centro.

Mas agora tudo estava pior.
Além de Arnaldo passar praticamente todas as noites na casa da ex-mulher, também não a procurava na cama.
Quando ele retornava, já passava da meia-noite, e Alice já dormia profundamente.
Outras vezes a encontrava acordada vendo TV.

Alice procurava intimidade e ele alegava cansaço.

Desesperada, ela, que estava resistente, resolveu ir ao centro.
Era uma tarde de domingo e Arnaldo não estava em casa, pois havia combinado de ir ao Jockey Club com o filho.
Ligou para a casa de Magali, que atendeu prontamente.

— Oi, amiga, há quanto tempo não nos falamos, não é?
— É, há algumas semanas mesmo.
É que estou em um período de isolamento, nem tenho ido à casa de meus pais.
Parece que tudo perdeu o sentido.
E você? Por que não veio me visitar?

— Como você sabe, trabalho durante o dia e estudo à noite e, como acho que você está bem com o Arnaldo, não quero incomodar nos fins de semana.
Alice começou a chorar baixinho e a amiga percebeu mesmo do outro lado da linha.
— Está chorando? O que está acontecendo?
Não está bem com Arnaldo?
Está com algum problema de saúde?
Por favor, me conte!

Alice entrou num pranto convulsivo e só um tempo depois conseguiu recuperar-se.
Quando estava refeita, narrou tudo o que estava acontecendo em sua vida conjugal e quanto estava arrependida por não haver procurado a espiritualidade.

Magali comentou:
- Você sabe quanto insisti para que fosse ao centro logo depois daquela nossa conversa, mas como vi que você resistia muito, resolvi parar.
Depois, você nunca mais se queixou de nada e pensei que tudo estivesse se normalizado.

— Não se normalizou e ando desconfiada de que ele voltou a dormir com a esposa.
Tenho sentido cheiro de perfume em suas camisas e o pior:
já dormiu lá duas noites.

A desculpa que me deu foi que o papo com Eduardo demorou tanto que resolveu ficar por lá, mas sei que não é verdade.
Sinto que joguei fora esses anos de minha vida.
Apesar de amá-lo, não vou aceitar uma situação como essa e penso mesmo que ele está esperando apenas minha decisão para voltar para casa.
Minha mãe sempre diz que os homens nunca põem fim à relação, que sempre esperam a mulher cair fora.

Magali pensou por alguns instantes e falou:
- Você precisa ter calma e agir com racionalidade.
O que está fazendo agora?
— Eu? Você ainda pergunta?
Estou curtindo minha solidão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:02 pm

- Então venha até minha casa que iremos conversar com Joana, talvez ela tenha alguma orientação espiritual para nós.
É uma mulher muito lúcida, não custa nada ouvi-la.
- Será que a espiritualidade ainda pode me ajudar?
Afinal, fui negligente, não dei importância.

— A espiritualidade está sempre pronta a nos amparar, não importa o momento.
Estarei te esperando.

Alice desligou o telefone e foi se arrumar para sair.

De repente, pensou:
"Não vou. No que vai adiantar essa conversa?
Meu relacionamento está acabado e não há nada que possa fazê-lo ser como era antes".

Sem perceber, Alice dialogava com entidades perturbadoras, mas ao mesmo tempo seu mentor estava por perto e lhe dizia:
"Fique firme, Alice, procure a ajuda espiritual.
A hora é agora, não desanime.
O mal só triunfa porque o bem age com timidez.
Seja corajosa, lute por sua felicidade!"

Mesmo sem registar as palavras de seu amigo espiritual, Alice pensou:
"Devo lutar por minha vida, sim.
Não vou me deixar desanimar.
Se essa conversa com a Joana não resolver nada, pelo menos não me fará mal.
O que não posso é ficar trancada nesse apartamento sozinha.
Se continuar assim enlouquecerei".

A esse pensamento, uma energia nova a revigorou.
Escolheu um belo vestido e partiu para a casa da amiga.
Lá chegando, encontrou-a no portão à sua espera.

- Vamos? - disse Magali eufórica.
Não podemos perder tempo, Joana tem trabalho no centro hoje às seis, se demorarmos talvez não a encontremos em casa.

As duas partiram.
Alice tinha carro, o que encurtou o trajecto.
Chegaram a uma rua bem arborizada e pararam na frente de uma pequena casa com hall e portão de ferro.
Chamaram e logo Joana apareceu sorrindo.

- Que surpresa agradável!
Vamos entrar, sintam-se à vontade

A casa de Joana era simples, porém agradável.
Elas estavam em uma sala espaçosa, cheia de vasos com flores naturais e quadros com belíssimas paisagens.
Alice gostou do ambiente e, como que por encanto, toda a sua tristeza passou.

Joana as olhou e perguntou:
- O que a trazem aqui num domingo à tarde?
Algo de especial ou só vieram mesmo para me ver? — disse num gracejo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:02 pm

Magali foi directa:
- Desculpe, Joana, por estar aqui te incomodando no seu dia de folga, mas achei que não ia se importar se eu trouxesse minha amiga, que está sofrendo muito e precisa de um conselho seu.
Sei de seus longos anos de experiência como espírita e também como é bom o trabalho de aconselhamento espiritual que realiza no centro.
A senhora já sabe do processo que Alice atravessa e sei que é a melhor pessoa para dizer como ela deve agir.

Joana olhou seriamente para Alice e escutou toda sua história, falando por fim:
- Vejo que a situação se tornou mais séria do que imaginei a princípio.
Seu companheiro está completamente envolvido pelos espíritos e pela magia que fizeram para ele.
Se não agir rápido, poderá perdê-lo mesmo.

- A senhora quer dizer que devo frequentar o centro e só?
- Seu nome e o de seu marido já estão no caderno de preces, mas tem certos tipos de problemas que nem todo centro espírita kardecista pode resolver.
Sabe, não gosto de falar sobre isso para todo mundo.

Existem muitos preconceitos contra outros segmentos espiritualistas que trabalham para o bem, e o centro que frequento nem permite que se fale deles para quem vem pedir ajuda.
Mas sou daquelas que têm opinião própria e, sempre que posso, alerto as pessoas que nem tudo se resolve em um centro espírita.

Magali estava curiosa:
"O que Joana queria dizer com aquilo?"

Ela prosseguiu:
— Por causa desses preconceitos, a maioria dos centros espíritas deixou de estudar o mundo energético de forma mais profunda, eles não desenvolvem técnicas capazes de tratar casos de bruxaria, como é o de seu marido.
São obsessões complexas que os doutrinadores não sabem como lidar.
Mas a Providência Divina não deixa ninguém sem socorro.

Existem médiuns que trabalham com a fraternidade branca, estudam os processos de enfeitiçamento e aprenderam como desmanchá-los.

Magali interrompeu:
— É por isso que Sérvulo, o presidente do centro, não gostou quando disse que li o livro de Ramatís e questionei uma série de coisas.
— Eles têm suas limitações, que devemos respeitar — aquiesceu Joana - mas não podemos deixar de ajudar pessoas que passam por situações como esta por puro medo ou preconceito.
Por isso, Alice, aconselho-a a procurar uma pessoa que entenda do assunto para fazer algo que desmanche o feitiço.

Eu mesma conheço uma mulher óptima que trabalha para o bem e tem ajudado muita gente.
Trata-se de mãe Márgara.
Tenho aqui o endereço e posso lhe passar.

Alice sentiu medo.

- Não é perigoso eu me envolver com isso?
- Seria se você fosse procurar pessoas que cobram e que trabalham para o mal.
Mãe Márgara não cobra por seus trabalhos e se sente feliz ajudando as pessoas.
- Não entendo.
Por que o centro, por si só, não resolve?

- O centro espírita kardecista, aliado aos espíritos superiores, trabalha na desobsessão e, por vezes, nas mais difíceis, como os casos de subjugação.
Mas, como havia explicado, nem todos estão preparados para lidar com esse outro tipo de trabalho, que é o feitiço, embora muitos já estejam trabalhando e obtendo bons resultados.

Em todo caso o médium chamado mãe ou pai de santo estudou melhor esses processos e lida com entidades mais apegadas ao mundo material.
Um feitiço é encomendado a entidades que estão muito presas ao materialismo, por isso, para desfazê-lo, é necessário também entidades que ainda estejam apegadas à vida na Terra, mas que estejam voltadas ao bem.
Geralmente, essas entidades boas foram iniciadas em vidas passadas, viveram no Oriente e entendem bem os segredos da natureza, por isso são trabalhos mais práticos, mais rápidos e exclusivamente para casos de magia.
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 3 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:02 pm

Magali questionou:
- E os espíritos superiores, em um centro espírita, não podem fazer isso sem que seja preciso recorrer a uma mãe de santo?
- É claro que sim.
Os espíritos da luz têm uma acção irresistível contra os que estão no mal, mas para isso seria necessário que os centros deixassem o preconceito e estudassem mais a fundo o assunto.

Assim preparariam melhor seus médiuns e teriam um belo trabalho.
Mas é importante lembrar que as reuniões de desobsessão nos centros auxiliam muito e têm curado muitas pessoas.
Mas os casos complexos nem elas nem as mães de santo conseguem resolver.

— Por quê? — indagou a voz angustiada de Alice.
Joana explicou sem cerimónia.
— Mesmo que uma pessoa consiga que a magia seja desmanchada por alguém entendido no assunto, se os envolvidos não se voltarem para o lado espiritual e vencer seus pontos fracos, outros espíritos chegarão e continuarão o serviço.
A chave da cura está na mudança de postura dos envolvidos.
Por isso, minha filha, além do trabalho, procure orar para que seu marido deixe de se culpar e possa assumir a nova vida sem remorsos.
Sem isso, você não o terá de volta, ainda que mãe Márgara desmanche o que fizeram para ele.

— Então, de que adianta eu ir lá?
— Com as entidades afastadas, Arnaldo terá um momento de trégua e será nesse instante que você deverá trabalhar o emocional dele.
Com certeza, ele voltará para você e aí, sim, será a hora de os dois frequentarem as meditações e fazerem um dos cursos do nosso centro.
Devem, também, ler para entender como funciona a vida espiritual e como ocorrem as influências.

Se Arnaldo conseguir compreender, ficará imunizado contra qualquer outra investida das trevas.
Vejo também um rapaz louro, alto, branco, de traços fortes e que possui uma luz imensa.
Tem tentado ajudá-lo, mas não tem conseguido.
Una-se a ele e ficará mais forte.

Alice quase gritou:
— É o Eduardo, filho dele.
Tenho certeza.

Todas se emocionaram.
Quando saíram dali, estavam radiantes de esperança.

Alice deixou Magali em casa com a promessa de, no dia seguinte, acompanhá-la à casa de mãe Márgara.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:02 pm

15 - Mãe Márgara e a magia do bem

Magali e Alice chegaram cedo à casa de mãe Márgara naquela segunda-feira.
Estranharam, pois não havia ninguém na antessala além de um rapaz que recepcionava os clientes.

Sempre ouviram dizer que as pessoas que lidavam com magia eram bastante procuradas e que conseguir vaga e marcar uma consulta era muito difícil.
Será que mãe Márgara não era tão boa quanto Joana havia dito?

Aproximaram-se do rapaz que, para a surpresa das duas, falou:
— Suponho que sejam Alice e Magali. Estou certo?
Elas se entreolharam assustadas e Magali tornou:
— Sim. Como sabe?
Afinal, nunca viemos aqui.

Ele simplesmente respondeu:
— Entrem por esse corredor e, na última porta à esquerda, dêem duas batidas e entrem.
Mãe Márgara as espera.

As duas seguiram assustadas.
Como mãe Márgara adivinhara que elas iriam justo naquele dia?
Bateram e entraram com certo receio.

Mãe Márgara, ao vê-las, sorriu e disse:
— Sabia que viriam.
Podem se sentar à vontade.

De repente, o receio havia passado como que por encanto.
Mãe Márgara era uma negra muito sorridente, simpática e bonita.
Já estava na casa dos cinquenta, mas não aparentava.

O ambiente era simples:
uma mesa redonda, um altar com imagens de Jesus e Maria, cortinas amarelas e um quadro muito bonito de São Jorge.
Havia algumas velas brancas acesas no altar e o ambiente era impregnado de incenso.

Magali começou:
— Viemos pedir ajuda.
Mas gostaria de saber como a senhora sabia que nós viríamos?
Foi pela vidência?
Seu secretário sabia até nosso nome.

Ela sorriu, mostrando os dentes alvos e bonitos:
- Não foi vidência. Não sou tão poderosa assim.
A amiga de vocês, que também é minha amiga de longa data, ligou-me ontem à noite pedindo que as atendesse.
Foi Joana quem me avisou.
Ela sabe que não trabalho às segundas, mas me contou o caso e, pela urgência, pediu-me que viesse só para atendê-las.

Costumo sentir sempre quando devo ou não atender a um pedido como esse, e meu guia maior me orientou que viesse.
Quero dizer que não temam nada.
Há muito preconceito em torno de meu trabalho, muitas pessoas o deturpam, mas ao saírem daqui poderão tirar as próprias conclusões.

Foi a vez de Alice falar:
- Vim porque não desejo me separar do homem que amo.
Para falar a verdade, antes da conversa que tive com Magali, há poucos dias, eu não acreditava em nada que dissesse respeito à vida depois da morte, magia, essas coisas...
Sou sincera e também não sei se a senhora poderá resolver meu caso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:03 pm

- Nesta vida, minha filha, ninguém resolve o caso de ninguém, isso é uma ilusão.
É a própria pessoa que resolve a vida.
Nós estamos aqui apenas para dar uma mão, mas o resto é a pessoa que faz.
Eu mesma não me sinto com mérito algum nos trabalhos que faço, tudo vem dos guias que se manifestam por meu intermédio e, quando a pessoa não quer ser ajudada, não há nada que se possa fazer.

- Isso a Joana já nos contou.
Mas a senhora pode desmanchar o que foi feito para mim e meu companheiro?

Mãe Márgara demorou um pouco e disse:
— Vamos ver.
Ela fechou os olhos, demorou alguns minutos, e falou:
- Realmente, minha filha, fizeram feitiço para que você e seu marido se separassem.
Um dos meus amigos espirituais está afirmando isso e também diz que pode desfazê-lo.

Está dizendo que você é uma moça honesta e que não foi por má intenção que se envolveu com um homem mais velho e casado.
Muito pelo contrário, fez isso por amor.

Saiba que é muito protegida.
O feiticeiro que fez a magia também tentou atingi-la, fazendo com que você sentisse repulsa pelo Arnaldo e o traísse, mas por sua conduta nobre nada a atingiu.
Você é filha de Xangô, o Orixá da justiça, por isso não gosta de nada errado.

Alice estava emocionada.
Tudo o que ela dizia estava certo.
Mãe Márgara permaneceu calada durante um tempo e depois abriu os olhos.

Fitou Alice e disse:
-Vamos desfazer isso e, com a fé na luz divina, tudo voltará ao normal.
Mas precisarei de dinheiro.

Magali ficou perplexa.
Joana garantiu que ela não cobrava.
Fez mais, avisou que pessoas que cobram pelos serviços não estão na linha do bem.

Antes que Alice dissesse alguma coisa, ela se pronunciou:
- Desculpe, senhora, mas se é amiga de Joana sabe muito bem como ela pensa.
Se cobra é porque não trabalha para as forças da luz, então não queremos trabalho nenhum.
Sua amiga garantiu que a senhora não cobrava.
Estou sem querer acreditar.

Márgara não se perturbou.

- Minha filha, eu não cobro nada pelo que faço.
Desde a adolescência descobri que tenho o sexto sentido desenvolvido, sempre previ as coisas e elas sempre aconteciam.
Previ a morte de meus pais e de uma irmã com precisão.
Mais tarde casei-me com um homem muito católico, que não aprovava o que eu fazia.

Na época, já era médium de terreiro, umbandista.
Tive de parar com minhas tarefas para me dedicar ao casamento, mas sempre senti a presença dos espíritos necessitados e orava com fé para eles.

Depois da oração, percebia que uma luz os envolvia e eles eram levados.
Não me arrependi de ter parado.
Do meu casamento nasceram meus dois bens mais preciosos, o Carlos e a Fernanda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 26, 2012 10:03 pm

Carlos é o rapaz que estava na entrada.
Ele me ajuda aqui. Fernanda trabalha durante o dia e estuda à noite.
Vivo da pensão do meu marido, que já desencarnou, e estou muito feliz com isso.
Meu trabalho aqui é gratuito.

- Não entendo.
Então, para que quer o dinheiro?
- As entidades que atuam nesse tipo de trabalho, tanto de feitiçaria quanto de desmanche, são muito ligadas ao mundo material e às sensações que experimentaram aqui.
A diferença é que aquelas que trabalham no feitiço agem para o mal, enquanto as que trabalham no desmanche atuam para o bem e para recuperar o equilíbrio das pessoas.

As entidades boas fazem o trabalho que espíritos mais elevados não podem fazer, pois não estão tão ligados à matéria.
São boas, mas não tão evoluídas quanto aquelas.

Ela fez uma pequena pausa e continuou:
- Para desmanchar um trabalho, elas pedem materiais, tais como cigarros, comidas, velas etc.
Elas julgam necessário que elementos materiais positivos atuem contra os negativos.

Por isso peço o dinheiro, apenas para comprar o material.
Mas, se você não quiser me dar, posso lhe passar a lista do que é necessário, você compra e traz aqui.
O resto eu faço.

Elas entenderam.
Realmente mãe Márgara era uma mulher muito íntegra e nobre.
Fazia tudo aquilo de graça, só pelo prazer de ver o bem-estar das pessoas.

Por fim, Magali, curiosa, perguntou:
- A senhora parece ter bastante conhecimento do mundo espiritual.
Por que não deixa esse trabalho aqui e vai ajudar em um centro espírita?

- Um centro espírita também tem condições de desmanchar esses trabalhos e pode fazer sem que seja necessário nenhum tipo de material, só com os médiuns.
Há médiuns específicos para trabalhos desta natureza.
Eles se desdobram, vão até a pessoa enfeitiçada e tiram dela todas as energias.

Na reunião, os espíritos que estão obsidiando as pessoas são atraídos e, dependendo do caso, ficam impedidos de continuar a fazer o mal.
Só que a maioria dos centros não gosta desse tipo de trabalho, que requer muito estudo, disciplina e acção.
Por outro lado, eu gosto da forma como trabalho aqui, faço como posso e, na maioria dos casos, a situação acaba resolvida.

- Por que não resolve todos os casos?
- Minha filha, nada sem a fé vai para a frente.
Muitas pessoas vem nos procurar para que, num passe de mágica, tudo se resolva, são imediatistas e não querem esperar.
No fundo, muitas duvidam do nosso trabalho e até nos ridicularizam.
Depois, quando não dá certo, vêm nos culpar.

Nesses casos, como em qualquer outra situação da vida, a fé é primordial.
Sem ela você não pode viver, pois a vida está cheia de desafios e a todo instante temos de usá-la.
Por isso, não contem apenas com o que vou fazer, mas principalmente tenham paciência e fé.

Orem sinceramente e aguardem.
Estou vendo que a separação será inevitável, mas, com o trabalho desfeito, logo ele poderá voltar para você.

Ambas se calaram.
Por fim, decidiram deixar a quantia com mãe Márgara e esperar para ver o que ia acontecer.

Ao chegar em casa, Alice estava mais animada e resolveu que dali em diante ia se dedicar à vida espiritual com afinco.
Independentemente de Arnaldo ir embora ou voltar para ela, algo em si desabrochara, ela queria ir além, descobrir mais sobre a vida e seus mistérios.

Alice não sabia, mas naquele instante estava acontecendo o despertar de sua consciência.
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