LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:43 pm

NINGUÉM LUCRA COM O MAL
Psicografia de Maurício de Castro

Pelo espírito Hermes

Sinopse

Ernesto perdeu a família e revoltou-se contra Deus.
Jogou tudo para o alto e resolveu ganhar dinheiro com a mediunidade.

Sua vida mudou.
Para melhor ou para pior?
Ernesto era um bom homem:
classe média, trabalhador, esposa e duas filhas.

Espírita convicto, excelente médium, trabalhava devotadamente em um centro de São Paulo.

De repente, a vida de Ernesto se transforma:
em uma viagem de volta do interior com a família, um acidente automobilístico arrebata sua mulher e as duas meninas.

Ernesto sobrevive...
Mas agora está só, sem o bem mais precioso de sua vida: a família.
Ele revolta-se contra Deus, não acredita no que aconteceu e decide dar um novo rumo à sua existência e à sua mediunidade.

Julgando-se injustiçado por Deus, passa a trilhar os perigosos rumos das consultas espirituais pagas, do egoísmo, da fama e da riqueza ilusória.

Mas a Lei de Acção e Reacção é implacável.
Ernesto vai sofrer as consequências de seus actos nesta mesma encarnação, sendo compelido a uma nova transformação, pela dor, para libertar-se do labirinto de confusões em que ele próprio se envolveu.

Esta é a mensagem de NINGUÉM LUCRA COM O MAL, mais um romance repleto de ensinamentos e de emoções que o espírito Hermes traz ao público pelas mãos do médium Maurício de Castro, uma obra que nos chama à responsabilidade sobre o que queremos efectivamente fazer das nossas vidas, a material e a espiritual.

Maurício de Castro

Nascido em Riachão do Jacuípe, Bahia, em 30 de março de 1980, Maurício de Castro teve seu primeiro contacto com o Espiritismo aos 14 anos por intermédio das obras de Zíbia Gasparetto e de Allan Kardec, aprofundando seus conhecimentos espirituais no Centro Espírita Jesus Nosso Mestre.

A sua mediunidade despontou logo aos 13 anos quando Maurício passou a sentir diversos sintomas físicos e emocionais que aparentavam alguma doença.

Sem saber do que se tratava, sua família procurou vários médicos, que sempre atestavam plena saúde física e mental.
Sua mãe, a professora Dalva Adelina, resolveu então procurar o auxílio da fluidoterapia e da orientação espiritual encontrando, assim, eficientes lenitivos para o problema do filho.

No entanto, foram precisos muitos anos de estudo e dedicação para que Maurício de castro conseguisse educar sua sensibilidade a fim de se preparar para a tarefa que lhe cabia neste mundo: a psicografia de livros.

O primeiro contacto com seu mentor, o espírito hermes, deu-se em janeiro de 2004, quando escreveu seu primeiro romance.
Trata-se de um espírito desencarnado ainda jovem, aos 25 anos de idade na década de 30, na cidade de São Paulo, e que encontrou na espiritualidade sua missão:
levar à terra histórias com ensinamentos espirituais visando o despertar da consciência para a Nova Era em que vivemos.

Sem saber, desde a infância Maurício de Castro já era inspirado por esse amigo a escrever textos, contos, peças teatrais e a amar a literatura.
Actualmente, além de psicografar, Maurício de Castro participa activamente das reuniões de estudo sobre a mediunidade no centro espírita Cascata de Luz.


Última edição por Ave sem Ninho em Seg Dez 20, 2021 10:16 am, editado 2 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:43 pm

É formado em História pela Faculdade de Tecnologia e Ciências de sua cidade e trabalha na área de educação.
Outros trabalhos estão em produção pela dupla Maurício de Castro e espírito Hermes, uma sintonia bem afinada que promete trazer a muitos ensinamentos de suma importância para o desenvolvimento espiritual do Homem.

Aos meus pais Dalva Adelina Carneiro e Pedro Silva Castro, com muito amor.

Durante a psicografia deste livro, em 2006, enfrentei algumas dificuldades que só pude vencer com o apoio de amigos deste e do outro lado da vida, aos quais deixo aqui meus sinceros agradecimentos:
Hermes, Elisa Masselli, Zibia Gasparetto, Marcelo Cezar e Sandra Carneiro.
A todo o núcleo familiar: meus pais, Vandira, Denner, Marinalva e todos os outros, por sempre estarem ao meu lado, irradiando paz, confiança e coragem.

A todos vocês, muita luz!

Falando aos leitores

A mediunidade é uma faculdade inerente a cada um de nós, mesmo desencarnados.

Ignorando o poder que essa ferramenta divina tem de produzir conhecimento, facultar consolo, iluminar consciências, derrotar a morte, muitos têm deturpado sua função, conspurcando, assim, a própria consciência e fazendo-a instrumento de desequilíbrio e maldade, ódio e vingança, numa simbiose infeliz com espíritos ainda ignorantes.

Ao trazermos à Terra esta obra, desejamos mostrar como é difícil e sofrível a trajectória de médiuns que, invigilantes, optam por caminhos obscuros, em que a ambição e os interesses terrenos predominam, atraindo para si o sofrimento reparador que tanto pode acontecer no mundo quanto na erraticidade.

Nosso planeta está mudando rapidamente.
Enorme quantidade de sensitivos de todos os níveis surge a cada instante, como necessidade do Novo Mundo.

Urge que a mediunidade seja tratada como deve: com seriedade, disciplina e respeito.
O não cumprimento desses deveres sagrados para com a faculdade que ora temos como empréstimo é o que ocasiona muitas neuroses, depressões, psicoses e outras doenças físicas de difícil tratamento, oriundas das obsessões severas dos espíritos desejosos de nos levarem à queda.

Que nessa despretensiosa narrativa o leitor encontre elementos que julgue relevantes para sua melhoria como ser humano, como espírito imortal que é e, consequentemente, como médium, na grande e maravilhosa tarefa de ser intérprete de inteligências extrafísicas, numa verdadeira ligação entre os dois mundos.

E que, nesse sentido, não esqueçamos as palavras eternas do Mestre Jesus:
"porque muitos serão os chamados, mas poucos serão os escolhidos".

Hermes 19.3.2008
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:44 pm

Sumário

Prólogo

Capítulo 1 - A fragilidade da fé
Capítulo 2 - O pacto com as trevas
Capítulo 3 - A manipulação do destino

Capítulo 4 - Influências maléficas
Capítulo 5 - A chegada de Eduardo
Capítulo 6 - Negócios escusos

Capítulo 7 - O amor e o apego
Capítulo 8 - O casamento e as convenções sociais
Capítulo 9 - Vítima da maldade

Capítulo 10 - O desespero de Alice
Capítulo 11- Convivendo com o sentimento de culpa
Capítulo 12 - O despertar do amor

Capítulo 13 - Conhecendo a espiritualidade
Capítulo 14 - A procura de auxílio
Capítulo 15 - Mãe Márgara e a magia do bem

Capítulo 16 - O regresso de Arnaldo
Capítulo 17 - O rompimento com as forças do mal
Capítulo 18 - O envolvimento de Ingrid

Capítulo 19 - O preço da ambição
Capítulo 20 - A transformação de Ernesto
Capítulo 21 - O desabrochar do amor

Capítulo 22 - O acidente
Capítulo 23 - A declaração de Eduardo
Capítulo 24 - A confissão de Ernesto

Capítulo 25 - A volta de Márcia e Lívia
Capítulo 26 - A conscientização de Arlete
Capítulo 27 - A provação de Ingrid

Capítulo 28 - A aflição de Ernesto
Capítulo 29 - A gravidez
Capítulo 30 - O psicopata

Capítulo 31 - A importância da fé
Capítulo 32 - Tempo de perdão
Capítulo 33 - O reencontro de almas

Capítulo 34 - A doença de Ernesto
Capítulo 35 - A cura pela redenção

Epílogo
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:44 pm

Prólogo

Era um magnífico fim de tarde quando Ernesto e sua esposa, Mariana, arrumavam as malas para a viagem que fariam no dia seguinte pela manhã.

O fim de semana prometia ser muito divertido em Guararema, e Ernesto sentia que precisava desse descanso.
Trabalhava durante a semana num banco e à noite era frequentador assíduo de um centro espírita, onde militava como médium.

Agradecia a Deus pela família bonita que tinha constituído.
Suas filhas estavam crescidas e eram saudáveis e inteligentes - Márcia, com sete anos, e Lívia, com cinco.
Elas e a esposa eram todo o seu tesouro.
Colocaram as roupas nas malas e Ernesto telefonou para sua mãe confirmando a viagem.

Guararema tinha se tornado uma cidade muito bonita, próspera e era lá que os pais de Ernesto viviam desde que nasceram.
Havia muito tempo que não os visitava.

A manhã do sábado estava radiosa e, enquanto colocavam as malas no bagageiro, Mariana comentou:
— Você dormiu pesado esta noite e nem percebeu que levantei diversas vezes.
- Levantou-se? Por quê?
— As meninas não dormiram bem, tiveram pesadelos.
Márcia gritou muito e Lívia acordou chorando.
Fiquei um bom tempo com elas até que adormecessem.

— Orou? Pode ter sido influência de espíritos obsessores.
Ela pensou e respondeu:
— Confesso que não rezei, pois como aqui já se ora bastante, não achei que fosse precisar.

— Devemos sempre orar, nunca é demais.
Nunca se sabe quando nossos inimigos estão por perto para atacar.
Mas não se preocupe, sendo ou não um ataque de espíritos das trevas, nós somos muito protegidos.
Frequentamos o centro, não fazemos nada de errado, procuramos seguir todas as normas, então por que seríamos atacados?

Mariana, que havia se tornado espírita por influência do marido, acabou concordando com o que ele disse.
E sem dar maior importância ao caso, colocaram as meninas no carro e iniciaram a viagem.

Os 78 quilómetros que separavam a grande São Paulo daquela cidade interiorana pareceram voar, de tão rápido que foi o trajecto.

Logo eles estavam na casa de dona Lúcia e seu Anselmo, que os receberam com muito prazer e carinho.
Após as boas-vindas foram fazer um passeio pela cidade e, tanto Mariana quanto Ernesto, se admiravam com tudo o que viam.
Márcia e Lívia não paravam de perguntar sobre tudo, deixando os pais em situações embaraçosas e engraçadas.

Durante o almoço, dona Lúcia perguntou:
— E então? Como anda a vida em São Paulo?
— Muito agitada como sempre.
Levo mais de uma hora todos os dias para chegar ao banco.
Viver lá é um desafio, ainda mais sendo pobres.
Já aqui parece um paraíso, por isso é que se vive bem e com saúde.
A senhora mesmo chegará aos cem anos.

Todos riram, ao que dona Lúcia retorquiu:
- Gostaria de acreditar nisso, mas nossa Guararema perde para outras cidades paulistas em qualidade de vida.
O progresso ajudou, mas também trouxe muitas coisas negativas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:45 pm

Ernesto mudou de assunto.

- Notícias do Bruno e da Elza?
— Aqueles lá são uns ingratos — falou seu Anselmo, soltando o garfo e zangado.
Enquanto você, meu filho, não vem sempre aqui porque não pode, eles têm vida folgada.
Ficaram ricos e esqueceram que têm pai e mãe velhos.

- Não diga isso, papai, eles têm muitas tarefas no Rio de Janeiro.
Trabalham numa empresa que lhes toma boa parte do tempo, tente compreender.
- Nunca poderei entender essa ingratidão.
Filhos são para toda a vida, aliás, não os considero mais meus filhos.
Você, sim, sempre tão simples e bom!
Já aqueles dois, desde pequenos, cheios de ambições, desejos de riqueza.
Sentiam até vergonha de nós. Aqueles malditos!

Seu Anselmo deixou o prato e saiu da mesa.
Falar dos outros filhos o fazia passar mal.
Ernesto tentou se desculpar.

- Nossa, mãe, eu não sabia que o pai ficava assim ao falar dos meus irmãos.
Se soubesse nem tinha perguntado.
Dona Lúcia fez um ar triste.
- É sempre dessa forma.
O velho fica triste e não entende por que eles agem assim.
Confesso que também não consigo entender. Bruno e Elza conseguiram um emprego numa multinacional e foram embora.
No início gostamos, pois era uma oportunidade de progresso para eles, mas depois deixaram de nos procurar.
As cartas que enviavam semanalmente e os telefonemas rarearam, e actualmente não recebemos nenhuma notícia.
Faz dois anos que não sabemos deles.

Ernesto se entristeceu.

Dona Lúcia, querendo mudar de assunto, perguntou:
- Como estão os trabalhos no centro espírita?
Os olhos de Ernesto brilharam quando disse:
- Maravilhosamente bem.
Desde que me descobri médium e iniciei meus trabalhos me sinto outra pessoa.
Aquelas crises de depressão e euforia que me abalavam acabaram e hoje estou perfeitamente equilibrado.
Ser médium é uma missão árdua.
Nós sofremos muito, mas seremos recompensados na outra vida.

Dona Lúcia o beijou com carinho.

- Sempre admirei sua fé, tão diferente de nós, que somos católicos.
- Minha fé é que me ajuda a viver.
Todos os dias agradeço a Deus por ter conhecido o espiritismo.

Ele continuou falando do centro onde trabalhava, das reuniões doutrinárias, das campanhas assistenciais, das curas que ocorriam, de tudo.
Depois foram para a sala, onde seu Anselmo, já com bom humor, brincava com as netinhas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:45 pm

No domingo foram visitar mais uma vez os recantos bonitos da cidade e, quando estava a sós com o marido, Mariana voltou a comentar:
- Novamente as meninas tiveram pesadelos.
Foi um custo fazê-las adormecer.

- Mais uma vez nada percebi.
Você perguntou com o que elas sonharam?
- As duas tiveram o mesmo sonho: um carro sendo jogado a longa distância, um acidente, pessoas morrendo...
Confesso que estou começando a me assustar.

Ernesto não deu importância.
O lugar onde estavam era maravilhoso, havia uma ponte sobre um riacho cheio de quedas-d'água.
De repente, olhou para sua mulher com intensidade.

- Quantas vezes eu já disse que te amo?
Ela sorriu.
- Muitas vezes, todos os dias.

Eles se beijaram.

Mais uma vez ele perguntou:
- Quantas vezes já disse que você é tudo para mim?
- Bobo! Ainda hoje pela manhã você disse.
Ele olhou profundamente nos olhos da esposa e falou:
- Escute bem o que vou te dizer:
nada é mais importante em minha vida do que você e as meninas.
Tudo farei para tê-las sempre por perto.
Eu as amo muito e nem a morte irá nos separar.

Mariana sentiu um arrepio.
-Você me emocionou tanto que me arrepiei.
Nunca falou dessa forma.
Sei disso, nem a morte vai nos separar.

Dona Lúcia, que estava com as crianças, chegou interrompendo o momento de emoção.
A tarde estava findando quando eles se despediram e se colocaram na estrada que, apesar de ser um domingo, estava muito movimentada.

No banco traseiro as duas meninas dormiam.
De repente, uma fumaça começou a encobrir a pista.
À medida que a fumaça aumentava, Ernesto não conseguia enxergar nada a sua frente, só sentia a mão de Mariana apertando a sua.

Uma carreta que vinha na contramão, sem visibilidade, chocou-se contra o carro de Ernesto, que foi arremessado longe.

Com o susto, o motorista da carreta, que nada sofreu, foi socorrer as vítimas.
Das quatro pessoas do carro, apenas uma havia sobrevivido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:45 pm

1 - A Fragilidade da Fé

Foram momentos de desespero para todos.
Os pais de Ernesto e a família de mariana compareceram ao enterro e tiveram de tomar todas as providências, porque Ernesto, o único sobrevivente, encontrava-se internado em profunda depressão.

No acidente ele nada sofrera, além de poucos arranhões, mas a perda da família o deixara prostrado e sem gosto pela vida.
Gritava, chorava e culpava Deus por aquele destino infeliz.

Os dias foram passando e Ernesto não melhorava, tendo de permanecer internado em uma clínica psiquiátrica.
Naquele momento sua fé, seus conhecimentos e o ideal pelo qual lutara tantos anos pareciam não ter nenhum efeito.

Frustrado e desiludido, Ernesto descobriu que a teoria é muito diferente da prática.
Seu estado foi se agravando e ele tentou o suicídio por diversas vezes.

Os amigos do centro espírita, em oração, pediam a Deus ajuda para o amigo que durante tantos anos consolou pessoas e com seu dom de oratória emocionara o público com palestras acerca de vida após a morte, revelando muito conhecimento e sabedoria.

Eles não conseguiam entender porque Ernesto reagia daquela maneira.

Após dois meses de internação, ele saiu do hospital.
Mas, ao chegar em sua casa acompanhado pelos pais e amigos, teve outra crise forte, relembrando cada momento de alegria, encantamento e felicidade que havia vivido ali.

Lembrou-se do sorriso terno de Márcia, do restinho inocente de Lívia a lhe pedir carinhos, da esposa, amiga e companheira de tanto tempo e pediu:
- Mãe, pai, não desejo ficar nessa casa que tantas recordações me traz.
Quero sair daqui e ficar com vocês em Guararema.
Preciso apenas pedir licença de meu trabalho, o que resolvo em poucos dias.

Tenho medo da solidão.
Sei que a partir de hoje não desejo mais viver e vou me entregar à tristeza e à depressão, mas quero esquecer essa casa.
Aqui não consigo ficar nem um instante sem me lembrar dos momentos de felicidade.

Antónia, frequentadora do centro onde Ernesto trabalhava, tentou ajudar:
-Você precisa reagir, amigo.
Quantas vezes consolou pessoas que perderam seus entes queridos?
Quantas vezes, com suas palestras, arrancou lágrimas emocionadas e confortadoras das pessoas com problemas de todos os tipos?

Lembra quando o Guilherme perdeu a mulher, no ano passado?
Ficou assim sem querer viver, entrou em depressão, nem os médicos conseguiram ajudar, daí você conversou com ele, falou das belezas da vida espiritual, que ele deveria se desapegar dos que partiram para viver melhor.

Guilherme melhorou, hoje já reconstruiu a vida, é outro homem.
Acorde! - ela falava num tom quase áspero.
É hora de ajudar a você mesmo, não pode ser fraco numa hora dessas.

Aquelas palavras despertaram em Ernesto uma fúria que ele não conseguiu controlar.
Levantou-se do sofá e começou a quebrar todos os objectos da sala, jogando-os no chão e nas paredes.

As pessoas tentavam se proteger e segurá-lo, mas Ernesto estava com a força multiplicada e ninguém conseguiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:46 pm

Depois de quebrar tudo o que pôde e deixar a sala completamente destruída, vociferou:
- Pro inferno você e o espiritismo.
Não acredito em mais nada, não acredito nem mais em Deus.
Se ele realmente existisse não iria tirar da Terra a família de um homem bom, honesto e sensato como eu.

Tudo isso é balela.
A partir de hoje deixo a militância no centro e nunca mais acreditarei em nada.
Vocês, do centro, esqueçam que eu existo e mais...

Dizendo isso, subiu as escadas e, de repente, voltou com as mãos cheias de livros e falou:
- Doem estas porcarias aos pobres do centro.
Nunca mais tocarei em nenhum deles.

Ernesto possuía uma biblioteca grande e começou a atirar todos os livros da escada.
Antónia e Sérvulo recolhiam um a um com cuidado e humildade.

Quando terminou, ele desceu com os olhos injectados de ódio e, mirando todos, disse:
- Saiam daqui!
Quero apenas minha família comigo, os outros podem ir embora e nunca mais, nunca mais me procurem.

As pessoas, envergonhadas e humilhadas com a cena, saíram deixando-o a sós com os pais.

Naquele instante, Ernesto chorou copiosamente no colo de sua mãe, murmurando:
- Tudo em que eu acreditava desmoronou, tudo o que tinha na vida perdi.
O que farei a partir de hoje?
Não quero mais viver.

Dona Lúcia, muito lúcida, respondeu:
- Você nunca viveu suas crenças com realismo, passou por elas, mas não as deixou entrar em seu espírito, enveredou pelo fanatismo.
Se assim não fosse, não estaria agindo como está agora.
Sou católica, não entendo muito do espiritismo, mas sei que quando as pessoas se dedicam por inteiro e procuram viver as verdades de um ideal, dificilmente se tornam descrentes.

Deixei você fazer aquela cena porque sei que está fora de si e transtornado com o que aconteceu.
Você é bom e nunca faria aquilo se não estivesse doente.

Não pense em nada por agora.
Levaremos você para nossa casa e ficaremos cuidando para que melhore.
Temos fé que tudo vai se resolver.
Deus é bom e não desampara seus filhos.

— Não me fale no nome de Deus, não quero ouvir.
— Tudo bem, mas agora suba e lave esse rosto que eu e seu pai vamos fazer suas malas.
Vamos ainda hoje para Guararema.
Depois você volta e resolve seus problemas no banco.
Agora cuide de você.
Em um caso como esse, toda empresa dá vários dias de folga.

Ernesto levantou-se meio tonto e subiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:46 pm

Quando estavam a sós, Anselmo comentou:
- É, minha velha, vamos precisar de muita força para cuidar do nosso filho.
Ele está fraco e vai nos dar trabalho.
— Nossa força e fé em Deus não vão nos deixar cair.

Ele vai melhorar.
- Sinto medo de que tente mais uma vez o suicídio.
- Os médicos me disseram como lidar com isso.
É preciso vigilância total, além de tirarmos todos os objectos pontiagudos ou substâncias químicas do seu alcance.

Eles interromperam a conversa, pois Ernesto havia voltado.
Juntos, arrumaram as malas e no mesmo dia partiram para Guararema.

Os primeiros dias foram difíceis.
Ernesto acordava com horríveis pesadelos e chorando muito.
Durante o dia se recusava a comer e a tomar os medicamentos, mas com o tempo suas crises foram passando e ele começou a voltar ao normal.

Todavia, um estranho brilho fixou-se em seu olhar.
Uma noite, dona Lúcia e seu Anselmo acordaram assustados.
Ernesto estava sentado na cama com os olhos bem abertos e conversava sozinho.

Seria uma crise de sonambulismo?

Eles ficaram ouvindo o que ele dizia, mas só conseguiam escutar tudo pela metade:
- Entendi perfeitamente, meu senhor - dizia Ernesto com voz modificada.
A partir de hoje serei seu servo...
Sim, farei tudo conforme o combinado...
Serei muito rico? Sim?
Nosso pacto está selado, minha alma agora lhe pertence.

Ernesto soltou um riso macabro, depois deitou-se e dormiu tranquilamente, sem perceber a presença dos pais.

Dona Lúcia estava sentindo calafrios e seu Anselmo, muito arrepiado, comentou:
- Mulher, o que houve aqui não foi coisa boa, não.
Estou sentindo medo, nunca vi nosso filho assim.
Lembro que, quando pequeno, ele conversava sozinho durante o sono, mas ficava alegre e ria.
Agora sinto que foi coisa ruim.

- Eu também estou muito assustada, vamos rezar?
Os dois foram para o quarto, acenderam uma vela aos pés de uma imagem grande de Maria e começaram a rezar um pai-nosso.

De repente, uma lufada de vento muito forte entrou no recinto e apagou a vela.
Dona Lúcia admirou-se, pois a casa inteira estava fechada e o tecto era forrado.
De onde teria vindo aquele vento?

Acenderam a vela mais uma vez e o vento apagou-a novamente, impedindo-os de concluir a oração.
Um pavor supersticioso tomou conta dos dois que, assustados e aflitos, foram para a cama rezando mecanicamente.

Quando acordaram pela manhã ficaram espantados ao ver Ernesto de banho tomado, barbeado, cabelos arrumados e já tomando café.
Eles tinham uma empregada, chamada Alzira, que chegava cedinho, fazia o café, cuidava da casa e das roupas e à noite ia para a casa dela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:46 pm

— Filho? Já de pé tão cedo?
Pelo semblante está óptimo! - disse dona Lúcia, beijando-o na face.
— Não estou bem, afinal, como poderia estar?
Mas hoje desejo ir a São Paulo, tenho algo urgente a fazer lá, por isso me preparei cedo.

- Vai resolver sua situação no banco?
— Também, mas outros compromissos estão me fazendo ir para lá.
Pretendo vender aquela casa.
Procurarei uma imobiliária e devo demorar, só à noite estarei aqui.
Vamos tomar café? Só estava esperando vocês.

Seu Anselmo e dona Lúcia não notaram o brilho sinistro no olhar do filho.
Ficaram contentes por ele estar reagindo e voltando à vida.
Ernesto terminou o café e pegou o ônibus para a capital.

Não estava ainda em condições de dirigir.
Chegando a São Paulo, parou em uma movimentada avenida e retirou do bolso um papel com anotações feitas pela manhã.
Tomou mais dois ônibus e chegou a um bairro bem afastado do centro.

Andou, perguntando por algumas ruas, até que parou diante de um sobrado antigo e mal conservado.

Olhou um letreiro vermelho pregado na parede e leu:
"Pai Wilton – Confiança e Fé”.
Olhou para o papel, percebeu ser o endereço certo e disse para si mesmo:
— Hoje saberei exactamente o que ele quer de mim.
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2 - O pacto com as trevas

Em poucos instantes Ernesto estava sentado em frente a uma mesa simples, sem arrumação, em um quarto cheio de imagens de santos, fumaça de incenso e velas coloridas acesas.

Pai Wilton adentrou o recinto e, com olhos enigmáticos, fixou-se no rosto de Ernesto dizendo:
- Eu sabia que você viria.
Tanto que despachei todos os meus compromissos do dia apenas para recebê-lo.
Seja bem--vindo!

- Sei que fui chamado a este lugar por um motivo forte.
Não sei qual, mas a entidade que se comunicou comigo durante a noite disse que você me daria todas as instruções para que eu possa mudar de vida.
Pai Wilton sorriu e acendeu um charuto.
— Você é um bom "cavalo" mesmo.
Entendeu tudo direitinho, foi privilegiado.
Sabe com quem conversou durante a noite?

Ernesto fez uma negativa com a cabeça, ao que pai Wilton respondeu:
- Com Lúcifer.
Ernesto sentiu um calafrio e na mesma hora revidou:
— Mas eu sei que o diabo não existe, aprendi isso no espiritismo, sei que é uma invenção dos homens.

Soltando baforadas, o pai de santo respondeu:
— Você aprendeu muitas coisas erradas naquele centro espírita, precisa mudar sua forma de pensar.
- Então quer dizer que o diabo existe mesmo?
— Não foi isso que eu quis dizer, mas essa entidade responde como se fosse ele e é muito poderosa.
Se você foi o escolhido, deve saber que tem poder e é um homem especial.

Ernesto ficava cada vez mais confuso com o que se passava.
De repente, recordou o sonho no qual um homem de forma animalesca lhe dizia que havia chegado a hora de cumprir sua parte no trato, e que ele deveria procurar pai Wilton em São Paulo.

Disse-lhe, também, que com ele encontraria um rumo seguro para sua vida e que deveria seguir, já que perdera a mulher e as filhas para o destino.
Ernesto aceitou e lembrou-se claramente que assinou, durante o sonho, um papel que selava o contrato entre ambos.

Subitamente, percebeu que pai Wilton começou a tremer muito e a suar frio.
Seu rosto começou a se deformar e ele soltava grunhidos altos e fortes.

Ajoelhou-se e, em posição de quadrúpede, começou a falar:
- É você meu escolhido desde muitos séculos, chegou a hora de cumprir sua parte e pagar o resto que me deve.
Pensa que os anos de serviço em meu palácio foram suficientes?
Deverá trabalhar para mim.

— Quem é você? — perguntou Ernesto, ciente de que conversava com a mesma pessoa que o visitou durante a noite.
- Chame-me de Belzebu.
Vou instruí-lo para que faça tudo certo.
Os detalhes não podem ser esquecidos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:47 pm

O homem fungava e se portava como se tivesse um aleijão.

- Preste muita atenção!
Sua vida mudou, sua mulher e suas filhas morreram naquele acidente.
Não há mais razão para viver.
Ao mesmo tempo, você nasceu com uma qualidade especial, pode servir aos espíritos.
Vamos iniciá-lo no conhecimento das energias ocultas da natureza, e por isso pouco conhecidas pelos homens.

— Qual o objectivo?
— Um dia saberá o motivo de tudo isso.
Você, a partir de hoje, vai vender sua mediunidade e trabalhar para nós.
Vai se instruir com Wilton e fundar seu terreiro.
Pessoas vão procurá-lo para os mais diversos tipos de trabalho, separação, amarração, morte, doenças...
Você vai servir às trevas.

Ernesto estava assustado.

De repente, pensou na lei de causa e efeito e respondeu:
— Não! Não farei isso.
Se for para trabalhar dessa forma, não aceitarei.
O espírito sorriu malicioso.
— Não deseja ser rico, milionário?

— Sim, sempre desejei, mas sempre ocultei esse desejo.
No fundo, invejava os meus irmãos, que têm óptimos empregos e vida farta.
Sempre me questionei por que só eu levava uma vida apertada e sem recursos.

— Pois, então, esta é a hora!
Esses trabalhos não são feitos de graça e, para realizar o que pretendem, as pessoas não titubeiam em pagar qualquer quantia.
Em pouco tempo ficará muito rico, até mais que seus irmãos.

— Mas o pai Wilton é pobre, vive nesta casa velha e sem conforto.
Como acreditar no que você me diz?
-Você acha mesmo que ele mora aqui?
Aqui é simplesmente seu ambiente de trabalho.
Pai Wilton tem clientes importantes, artistas de renome, políticos famosos.
Tem muito dinheiro. Com você ocorrerá o mesmo.

Ernesto sentiu-se tentado em seu ponto mais fraco, e que escondia de todos: a ambição. Não resistiu.

- Aceito, sim. A partir de hoje vou vender minha mediunidade.
Sempre trabalhei de graça e nunca tive nada.
Vivia com um salário ínfimo que mal dava para as despesas.
Agora perdi minha família e não tenho mais motivo para continuar vivendo.
A partir de hoje viverei para acumular riquezas e ter tudo de material com que sempre sonhei.

— E assim que se fala, agora estou reconhecendo o Aristides de sempre.
Sabia que você não tinha mudado, sempre correndo atrás do ouro.
— Como farei?
— Acerte tudo com o Wilton, e quando iniciar a tarefa estarei ao seu lado.
Sua alma agora é minha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:47 pm

Ernesto teve uma sensação desagradável e vários estouros foram ouvidos no ambiente.
Um cheiro forte de enxofre fez com que ele tapasse o nariz.
Quando percebeu, já estava com pai Wilton em posição normal à sua frente.

— Parabéns. Sei que não se arrependerá da escolha que fez.
— Não me arrependerei.
Se for esse o caminho que tenho de seguir, que seja assim.
O que faço agora?

- Você vai aprender tudo comigo.
Não gosto de concorrentes, mas se Belzebu pediu que fosse com você, é porque deve ser, e a ele não desobedeço.
Comigo você conhecerá todos os rituais de enfeitiçamento, fará sua iniciação e aprenderá todas as técnicas de magia negra.

— Sempre pensei que macumba não existisse.
— Pensou errado.
Existe, sim, e só as pessoas que estão inteiramente livres de seu carma é que são imunes aos seus efeitos.

- Como se processa o enfeitiçamento?
- Há muitas maneiras, mas a mais comum é feita pelo hipnotismo de entidades desencarnadas.
Praticamente todo o serviço é feito por elas.
Mas não fazem de graça, elas exigem muitas coisas, principalmente o sangue humano e de animais.

Ernesto estava estupefacto.

- O que elas fazem com o sangue?
- Essas entidades são vampiros que se revigoram com a energia do plasma sanguíneo de animais e pessoas.
Depois explico melhor.

Ernesto saiu atordoado daquele ambiente e mal falou com uma moça que trabalhava como atendente.
Uma vez na rua, tomou o ônibus e, durante o trajecto, foi pensando.
Não poderia pedir demissão do seu emprego no banco até ver se iria realmente obter lucro.

Havia combinado com pai Wilton que passaria duas semanas com ele para aprender tudo.
O que diria a seus pais?
O dia passou rápido e, ao entardecer, Ernesto já estava com os pais em casa.

Durante o jantar, dona Júlia perguntou:
- Resolveu tudo, filho?
- Procurei uma imobiliária e coloquei a casa à venda — mentiu.
No banco, a situação está regularizada, tenho alguns dias de licença ainda.
Mas preciso conviver com a realidade, quero voltar a São Paulo e ficar na minha casa até que consiga vendê-la.

Anselmo protestou.

- Mas já, filho? Não posso concordar.
Você ainda está muito abatido e ficar lá sozinho pode agravar sua depressão. Não deixarei.
- Eu também não.
Há poucos dias você ainda pensava em suicídio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:47 pm

A conversa continuou, e ele resolveu contemporizar.

- Pensarei melhor, mas fugir não adianta, preciso retomar minha vida.

Demorou mais algumas semanas até Ernesto conseguir convencer os pais de que seria melhor ele morar sozinho em sua antiga casa.
Dona Lúcia o fez prometer notícias diárias, e assim ele partiu.

Dias depois, começou a aprender sua nova "profissão".
No começo, assustou-se com tudo o que viu, mas depois foi se acostumando e ganhando mais entusiasmo.
O tempo passou, ele abriu o próprio local de consultas e iniciou os trabalhos.

Não vendeu a casa em que viveu com a família, e depois de muitas desculpas acabou convencendo os pais de que estava bem e recuperado da perda.
Lúcia e Anselmo, com o tempo, deixaram de se preocupar com o filho e esqueceram por completo o seu comportamento estranho e o que viram na noite em que Ernesto se entregou completamente às ilusões do mundo e ao caminho do mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 22, 2012 11:47 pm

3 - A manipulação do destino

Lucrécia atirou longe uma revista de fofoca que lia sem prazer.

Tentava acalmar os pensamentos, mas não conseguia.
Estava difícil aceitar a separação.
Afinal, uma mulher com mais de cinquenta anos separada, além de não ser mais bem-vista na sociedade, também não era bem-vista pelos homens.

Ao pensar que poderia terminar sozinha, sem ninguém por perto, além dos empregados, ela enlouquecia.
Levantou-se da cama e abriu as persianas.
Olhou o jardim de sua sumptuosa mansão e viu a piscina onde se divertiu muito com o marido e os filhos, deixando que lágrimas teimosas escorressem do canto dos olhos.

Lucrécia Brandão havia se casado muito cedo.
Conheceu Arnaldo ainda muito moça e por ele se apaixonou, foi correspondida e logo estavam casados, vivendo um sonho de amor.

Durante vinte e sete anos foram felizes.
Até que um dia ele chegou diferente, dizendo que iria arrumar as malas e deixaria aquela casa.
Não adiantou ela insistir e implorar;
ele confirmou estar amando outra e que, por Alice, deixaria tudo.

Recordando esses momentos, ela voltava a chorar.
Como não percebeu que ele estava diferente?
Não a procurava mais e suas amigas diziam que era até normal, com tantos anos de casamento.

Ela não insistiu até o dia em que descobriu a verdade:
fora trocada por uma mulher mais jovem e bonita.
Isso acontecera havia um ano, e ela ainda não tinha se acostumado.

Rolar na cama à procura do ombro amigo que havia dormido com ela tantos anos e encontrar o vazio era muito doloroso.

Muitas vezes, passava as noites em claro imaginando o que eles estariam fazendo.
Arnaldo era um engenheiro civil muito famoso e constantemente saía em revistas da moda.

Certa vez, viu uma foto dele com Alice.
Ela era uma moça de, no máximo, vinte e cinco anos, morena, cabelos escorridos, alta e magra.
Não poderia nunca competir com ela.
Olhou-se no espelho e viu uma senhora que, apesar de manter o rosto conservado, trazia um corpo um tanto gordo, cansado e mostrando o peso da idade.

Mesmo estando depressiva, Lucrécia não deixou sua vida parar.
Continuava a frequentar o cabeleireiro, os lugares da moda, sempre acompanhada por algumas amigas, mas percebia que, por estar separada, já não era tão requisitada quanto antes.
Ela não havia aprendido uma profissão, portanto, tinha de ocupar o dia com futilidades e viver da renda dos imóveis que herdara do pai, um barão do café.

Tinha dignidade e não podia aceitar o dinheiro que Arnaldo lhe ofereceu como espécie de mesada.

Resolveu descer e tomar o café na cozinha.
Quando terminou, foi para a sala e largou-se no sofá.
O que ela faria naquele dia?
Estava se sentindo mais só e entediada do que de costume e não estava com a mínima disposição para shoppings, cinemas e tudo o mais que São Paulo oferecia.

Estava assim indecisa quando ouviu o som de carro na garagem.
De repente, a porta se abriu e sua filha Arlete entrou.
Era uma mulher alta, loura como a mãe, pele rosada e dentes alvos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:02 pm

Lucrécia admirou-se:
- Você? O que faz aqui?
Arlete sorriu.
- Há meses que não a vejo e é assim que me recebe?

As duas se abraçaram e trocaram beijos.

- Ah, filhinha, é que você sair do Rio de Janeiro e vir a São Paulo a essa hora do dia só pode ser tragédia. Conte-me tudo.
- Mamãe, olha o drama, nenhuma tragédia aconteceu.
Vim por um motivo muito especial.
Enquanto o Gustavo descarrega minhas malas, vamos para o jardim?
Lá poderemos falar melhor.

Lucrécia estava cada vez mais intrigada.

- Malas? Então é mais sério do que imaginei.
Você vai deixar seu marido lá sozinho?
Logo você que é um poço de ciúme?
- O Bruno vai ficar sem mim, mas acredito que por pouco tempo.
Acho que em apenas uma semana resolverei o que pretendo aqui.

Lucrécia agarrou sua mão e a puxou para o jardim.

Sentadas num banco, ela indagou:
- O que, afinal, está acontecendo?
Arlete abriu sua bolsa e retirou um cartão.
Olhou para a mãe e disse:
- Leia.

Lucrécia leu e começou a sorrir.

- Mas esse é o cartão de um pai de santo.
O que você pode querer com um tipo desses?
Arlete, com os olhos num ponto distante, disse:
- A senhora sabe o quanto amo Bruno e quanto sou ciumenta e possessiva.
Não desejo terminar separada como a senhora.
Estou desconfiada de que ele anda de olho numa colega de trabalho.

Tentei perguntar para a Elza, irmã dele, mas ela negou.
Eu não acreditei.
Bruno e Elza são muito ligados, ele pode estar me traindo e ela, dando cobertura.

Foi aí que numa manhã, ao entrar na cozinha de meu apartamento, encontrei minha empregada e outra amiga conversando sobre um pai de santo famoso de São Paulo.

Interessei-me pela conversa por curiosidade e acabei entrando no papo das duas.
Gabriela saiu de São Paulo para morar com os patrões no Rio e havia descoberto que eles conseguiam tudo quanto desejavam por meio da magia.
Conseguiram emprego, dinheiro, destruíram concorrentes, tudo com rituais de enfeitiçamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:02 pm

Lucrécia estava incrédula:
- Como pode!
Isso é bobagem, coisa de gente ignorante.
Essas coisas não existem.
Até você caiu numa história dessa?

Arlete fez ar sério.

- Mamãe, se eu fosse a senhora não duvidaria tanto, e ainda iria lá comigo para tentar melhorar de vida.
Sei que ainda ama o papai e faria tudo para tê-lo de volta.
Em vez de ficar aí nessa incredulidade, deveria fazer algo por si mesma.

Lucrécia não acreditava no que ouvia.

- Não posso crer que você acredite numa coisa dessas.
Sempre foi tão céptica!
Nunca se dedicou a nenhuma religião, nem mesmo à nossa, católica, nunca foi nem de rezar...
- Eu mudei muito, e depois quero experimentar para ver se realmente esse homem é sério.
Fui me informar melhor e soube que até políticos cariocas o procuram.
Se gente da alta está metida com isso, é porque deve dar algum resultado.

Lucrécia sentiu-se arrepiar.

- Não gosto de falar nessas coisas.
Também nunca fui dada à religião e nem acredito em quem lida com forças ocultas.
Vá você, se quiser, e deixe-me com minha vida.

Arlete riu maliciosa.

- E não vai querer o papai de volta? Tem certeza?
- Pare com isso, menina, vamos mudar de assunto.
Como vão os negócios do Bruno?

Elas continuaram a conversar e logo se esqueceram do assunto anterior.
Ernesto se modificou bastante com o passar dos anos.
Estava mais velho, carrancudo e com uma expressão soturna no olhar.

Assim que percebeu que seu novo "negócio" produzia rios de dinheiro, pediu demissão do banco e passou a se dedicar exclusivamente à magia.
No princípio, eram casos corriqueiros de amor e paixão, mas, com o tempo, os problemas envolvendo dinheiro começaram a surgir, heranças, dívidas, títulos, e Ernesto foi se prendendo cada vez mais às energias negativas do astral inferior.

Não demorou para que pedidos de morte começassem a acontecer, e ele, cada vez mais envolvido e descobrindo que tinha grande poder, os realizava.
Não se mudou de sua antiga casa.
Procurou reformá-la e construiu um cómodo no quintal, que servia como ambiente de consultas.

Logo, Ernesto estava com muito dinheiro.
A notícia de que ele havia se tornado um pai de santo caiu como uma bomba na casa de seus pais.
Seu Arnaldo tentou tirar o filho desse caminho a todo custo, mas não conseguiu.
Dona Lúcia adoeceu e ficou internada durante um tempo sem se conformar com a escolha do filho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:02 pm

Mas, com o passar do tempo, acabaram aceitando, pois Ernesto passou a mandar mensalmente uma boa quantia para eles.
Tudo assim resolvido, ele se sentia cómodo.
Não seria mais feliz mesmo, pois a família que ele tanto amara morreu tragicamente.

Ele não acreditava mais na bondade de Deus, como um dia aprendera no centro espírita.
Achava que Ele era mau e perverso, por isso estava pagando na mesma moeda.
Se o mal tinha mais poder, então era no mal que ele iria ficar.

Nunca mais se interessou por nenhuma mulher e, apesar de às vezes ser requestado por algumas clientes, ele sempre negava.
Naquela tarde, ele estava atarefado.

Tinha atendido clientes complicados, com situações extremamente complexas, e não queria estar com mais ninguém, porém Fernanda entrou na sua sala dizendo:
- Pai Ernesto, há uma cliente que pegou um engarrafamento e só pôde chegar agora, já estava agendada, o que vamos fazer com ela?
De mau humor, ele respondeu:
- Diga-lhe que volte amanhã.
— Tentei explicar que o senhor estava exausto, mas ela disse que paga o que for preciso.
Ela mora no Rio de Janeiro e não pode demorar muito na cidade.

Ernesto pensou que podia ser mais uma milionária e resolveu atender.
Arlete entrou e percebeu que o ambiente era diferente do que ela imaginava.
A sala em que Ernesto trabalhava era muito asseada e arrumada com apuro.

Muitas velas de diversas cores, muitas imagens que ela não conseguia identificar e, acima da cadeira onde ele se sentava, um quadro grande de um ser com chifres que a fez tremer de pavor.

— O que a trouxe aqui? — perguntou Ernesto, mecanicamente e com voz melíflua.
Arlete sentiu uma sensação estranha e teve vontade de sair correndo, mas resolveu ser firme.
- Ouvi falar que tem poder e que pode deixar um homem preso a uma mulher para sempre.
Pois bem, sou casada há quatro anos, meu marido tem porte atlético, aonde vai arranca suspiros das mulheres.
Sou muito insegura, vivo armando confusões e pagando detectives para segui-lo.

Minha vida é um inferno!
Quero que faça um trabalho para mantê-lo fiel a mim sempre e também para que deixe o interesse por uma colega de trabalho.
Há tempos venho percebendo que outra mulher tem mexido com ele.

Ernesto ouvia sem muita paciência, era mais um caso de ciúme e insegurança ao qual ele estava muito habituado.
As pessoas inseguras chegam a qualquer extremo para conseguir o que querem, com essa não seria diferente.

- Primeiro precisamos jogar o taro e ver o que as cartas dizem.
- Como? Taro?
Não vim aqui para esse tipo de coisa, quero algo mais prático.

Ernesto olhou-a no fundo dos olhos enquanto disse:
- O taro é um meio importante de conhecer qualquer situação, inclusive o passado e o futuro.
Ademais, comigo essa prática é bem diferente, enquanto olho para as cartas, as entidades vão me dizendo ao ouvido tudo o que preciso saber.
Vamos ao jogo?

Arlete estava incrédula, mas pegou o volumoso baralho, misturou e cortou, como Ernesto pediu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:04 pm

De repente, ele começou a se modificar, os olhos ficaram vermelhos e a voz, alterada:
- Seu marido é alto, moreno e tem cabelos castanhos jogados no rosto.
Apesar de não ver o seu rosto, vejo-o trabalhando numa grande empresa.
Ele cresceu financeiramente cedendo veículos ao tráfico de drogas carioca.
Ele e a irmã são aliados de traficantes poderosos e ricos e têm enorme fortuna.

Demorou um tempo e continuou:
- Ele tem outra mulher.
Sua amante é Diva, uma mulher da periferia.
Esqueça a Dione, que é secretária do seu marido e não tem interesse por ele;
ela não lhe oferece nenhum perigo.
Há dois anos Bruno e Diva se encontram e você não percebe.

Arlete sentiu o ar faltar, uma tontura se apossou de seu corpo e ela desmaiou.
Fernanda entrou e, após alguns minutos, conseguiu reanimá-la.
Já refeita, ela fez Ernesto repetir tudo o que já havia dito.

Após concluir, Ernesto falou:
- Não precisa se preocupar, meus guias dizem que podem neutralizar a situação.
Se fizermos um bom trabalho, ele não só a deixará como ficará para sempre ao seu lado e fiel.

Arlete, muito nervosa, questionou:
- O que preciso fazer?
Seja o que for, estarei disposta.
- Seu caso é simples, você precisa trazer ainda amanhã uma peça íntima usada por ele e um fio de cabelo.

- Não tenho como, não moro em São Paulo.
Seria impossível.
Ernesto olhou-a e falou com voz cobiçosa:
- Para você é impossível, para mim, não.
- Como assim?
- Se me pagar o que é justo, posso trazer do Rio uma peça íntima e um fio de cabelo dele sem nenhum problema.

Ela estava curiosa.

- Como pode fazer isso?
- Nunca ouviu falar em fenómenos de transporte?
- Não, nem sei o que é isso.

Ele explicou:
— É simples, com um médium de efeitos físicos conseguimos trazer objectos, plantas, animais e até pessoas para onde queremos, não importando a distância.
— Como assim? Que loucura é essa?

— Loucura nenhuma.
São fenómenos naturais, porém o homem não os estuda, não os conhece.
Tenho um médium para esse tipo de serviço, mas ele, assim como eu, cobra caro.
Com a ajuda desse médium, traremos a sunga e o cabelo de lá para cá sem que ele perceba.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:05 pm

Arlete estava confusa:
"Aquilo poderia mesmo acontecer?"

Ernesto continuou explicando:
— A peça vai desaparecer e, quando ele der conta, o trabalho já estará feito.
Muitos dos objectos das pessoas que somem estão sendo usados em trabalhos desse tipo.
Vamos imantar a sunga e o cabelo com as energias que precisarmos, e ele será só seu.

— Estou muito confusa com tudo isso, não sei se quero...
Ele a interrompeu.
— Se não fizer isso, perderá seu marido para outra, além de terminar sozinha como sua mãe.
Aliás, diga a ela que ainda está em tempo, Arnaldo pode voltar e deixar a Alice.

Arlete já não tinha mais dúvidas, aquele homem era um verdadeiro bruxo.
Após pagar a consulta e dizer que voltaria no dia seguinte, ela saiu.

A casa de sua mãe ficava em Moema, e ela estava distante.
Teria de pegar um caminho mais fácil para evitar o engarrafamento.
Quando chegou em casa, assustada com tudo o que viu e ouviu, chamou a mãe para o quarto.

— Mãe, o homem é realmente bom.
Praticamente não abri a boca e ele falou tudo sobre mim.

Lucrécia continuava incrédula.

— Esse tipo de gente sabe que quando uma mulher os procura é porque está sendo traída ou querendo conquistar alguém.
E só ter um pouco de raciocínio, falar o que elas querem ouvir e pronto, está feita a consulta.
- Não! Esse é dos bons, valeu a pena ter vindo do Rio para cá.
Descobri que Bruno me trai com uma fulana chamada Diva, e não com Dione, como suspeitava.
Ele descreveu meu marido perfeitamente e, ao final, mandou um recado para a senhora.
Disse, com todas as letras, que Arnaldo poderia deixar a Alice e voltar para casa.

Um arrepio percorreu o corpo de Lucrécia, que disse:
- Não brinque com isso!
Como esse homem poderia saber sobre minha vida com seu pai?

— Ele é realmente um médium capaz de ler os pensamentos das pessoas.
Mãe, preste atenção, vá comigo amanhã na hora de minha consulta e aproveite para se consultar também.
Se há chances de o papai voltar para a senhora, por que não tentar?

— Não sei se devo...Tenho medo dessas coisas.
Nunca parei para pensar na existência de seres de outro mundo.
Não, não vou! — falou muito segura.

Arlete insistiu, tocando em seu ponto fraco:
- E vai querer continuar nesta solidão?
Morando nesta casa enorme, completamente sozinha sem o seu tão amado marido?
Vai permitir que ele viva feliz ao lado de outra, sendo que pode mudar o rumo do seu destino?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:05 pm

Lucrécia parou para reflectir.
Sua vida estava realmente muito difícil.
Tinha tudo, dinheiro, jóias, prestígio, mas a solidão não a deixava em paz.

A filha estava certa, ela deveria tentar fazer algo.
Procurar Arnaldo pessoalmente e tentar uma reconciliação ela jamais faria.
Tinha orgulho e não estava habituada a correr atrás dos homens, mesmo que fosse seu marido.
Se existia alguma magia que pudesse trazer o Arnaldo de volta, ela faria sim.

- Irei. Amanhã mesmo estarei lá.
Não aguento mais a vida que levo, se continuar assim entrarei em depressão.
Preciso lutar para ter minha vida de volta.

Arlete exultou.
- Isso mesmo, é assim que se fala!
— Você está muito animada para quem soube há poucas horas que está sendo traída.
Não a estou reconhecendo, você já fez escândalo por muito menos.

- É porque estou confiante em pai Ernesto, sei que ele fará o Bruno deixar a Diva e ser fiel só a mim.
Além disso, eu amo meu marido e jamais irei perdê-lo.
Farei tudo o que estiver ao meu alcance para nunca ficar longe dele.

Lucrécia sentiu firmeza nas palavras da filha e se animou ainda mais para ir, no dia seguinte, procurar o pai de santo.
Amanheceu e logo as duas estavam na casa de Ernesto, na sala de espera, aguardando o atendimento.
Lucrécia percebeu que muitas pessoas da alta sociedade frequentavam aquele lugar e, com isso, sentiu-se menos deslocada.

No fundo, ainda estava incrédula e pagaria para ver.

Arlete entrou e Ernesto, demonstrando muita satisfação, pegou uma sacola vermelha e tirou seu conteúdo.
Logo ela percebeu se tratar de uma das peças íntimas do marido e se arrepiou.
Então era verdade. Os objectos poderiam mesmo ser transportados.

- Surpresa? — perguntou ele com voz misteriosa.
- Confesso que sim.
No fundo, duvidava que isso fosse possível.
- Há mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia, disse um sábio.
Agora veja só — abriu um saquinho menor e retirou, envolta em fita preta, uma mecha de cabelos - é de seu marido, olhe!

Ariete estava cada vez mais admirada e não conteve a pergunta:
- Como isso pode ser possível?
- Não é um trabalho tão fácil, por isso você terá de pagar muito.
Mas não dá para lhe explicar o processo, pois você não o entenderia.
Dê-se por satisfeita porque temos o material em mãos.
Agora o trabalho será perfeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:05 pm

Aríete preencheu o cheque com a quantia e o entregou.

- Em quanto tempo verei o resultado?
- Em menos de duas semanas.
Se não acontecer o que espera, pode retornar aqui e eu devolverei o que me pagou.
Aríete sentiu-se segura, mas questionou:
- Ouvi dizer que em alguns a magia não pega.
E se meu marido for um desses?

Ernesto riu diabolicamente.

- Ele é um fraco.
Se não resistiu ao adultério, como resistirá aos efeitos de uma magia?
Raras são as pessoas que não são atingidas por um trabalho desse tipo.
Quem cede com facilidade aos apelos do sexo, como no caso do seu marido, não tem protecção alguma.
Fique calma, tudo vai dar muito certo.

Aríete saiu confiante e foi a vez de Lucrécia entrar.
Ela gostou do que viu, o ambiente lhe fez bem.

À sua frente, Ernesto dizia:
- Foi muito bom você ter vindo.
Vejo que é uma dama e que estava com receio, mas aqui é frequentado por pessoas de alto nível, não há o que temer.
Lucrécia tentou se explicar:
- Não é apenas isso.
Sou uma pessoa materialista, nunca imaginei que pudessem existir poderes que interferissem na vida das pessoas.
Sempre achei tudo muito fantasioso...

— Você terá todas as provas.
Afinal, quer o Arnaldo de volta ou não?
— Que... que... quero sim.
O que me aconselha?
— Vamos ver o que dizem as entidades.
— Não vai jogar o taro, como fez com minha filha?
— Cada caso requer uma prática diferente.
Com você agirei de outra forma.

Ernesto acendeu as sete velas pretas que estavam num castiçal e depois fechou os olhos, entrando em profunda concentração.

Demorou alguns minutos e disse:
— O caso de seu marido não é fácil.
Ele está realmente amando outra.
Onde há amor fica mais difícil interferir, mas não impossível.

Foi duro para Lucrécia escutar aquelas frases, mas, criando coragem, perguntou:
— O que preciso fazer?
— As entidades que vivem comigo dizem que é preciso muito trabalho para que ele deixe a Alice e volte para você.
Custará caro, e elas exigem o sangue de alguns animais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:05 pm

Lucrécia começou a se assustar.

— Sangue?
— Isso mesmo. Mas você não terá de participar de nada pessoalmente.
Tenho um terreiro em um local não muito distante, farei tudo com meus auxiliares.
Irá pagar pelo trabalho e verá o resultado. Está disposta?

Ao ouvir o valor, Lucrécia quase desistiu, mas, ao pensar nas noites insones sem o marido ao lado, resolveu pagar.

Mais tarde, ao sair dali, estava confiante e serena, sem saber que estava se comprometendo seriamente com seres das trevas, que riam e rodopiavam ao seu redor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:05 pm

4 - Influências maléficas

Num luxuoso apartamento no Morumbi, um homem alto, de meia-idade, elegantemente vestido, cabelos grisalhos jogados na testa, falava ao telefone, demonstrando muito interesse na ligação.
Estava em um quarto ricamente mobiliado acompanhado de uma jovem que, deitada em uma cama, parecia absorta em revistas de moda. Ao concluir o diálogo, ele pegou uma valise e, acenando para a jovem, saiu.

Arnaldo estava muito feliz com sua nova companheira.
Alice era dedicada, amiga, conselheira, carinhosa e fiel.
Há muito tempo sentia que não amava mais a esposa.
Foi sincero ao terminar um casamento de tantos anos e assumir seu amor por outra.

No princípio, ao ser correspondido por uma moça tão jovem, pensou estar entrando em uma cilada.
Muitas vezes vira amigos deixar tudo por aventureiras, que tiravam tudo o que eles tinham e, após uma bela traição, abandonavam-nos.

Ele não queria isso.
Buscava amar e ser correspondido de verdade.
Alice apareceu num momento em que ele estava se sentindo muito sozinho.
Lucrécia havia mudado bastante.

Eles se casaram por amor.
Todavia, com o tempo, a esposa foi se tornando diferente.
Segura de que vivia um casamento eterno, foi se desleixando na aparência, já não se importava em manter viva a chama da paixão.

Arnaldo era um homem amoroso e sensual, nunca se conformou com a mudança de Lucrécia e, quando percebeu que o amor havia acabado, só viu a separação como saída.

Conheceu Alice na empresa de um amigo.
Era secretária. Apaixonou-se perdidamente, a cortejou e foi correspondido.
Ela, a princípio, estava temerosa, não queria se envolver com um homem comprometido, mas a maneira como foi tratada, os carinhos, os mimos de Arnaldo fizeram com que cedesse.

Seus pais levavam uma vida moderna, tinham um casamento aberto e, apesar de ser filha única, não se importaram quando ela revelou estar apaixonada por um homem casado.

Alice, no auge dos seus vinte anos, estava sendo sincera.
Nunca se interessara por homens de sua idade, os mais velhos sempre a atraíram de forma excepcional.
Estar com Arnaldo era tudo o que mais desejava na vida.
Sem titubear, quando soube de sua separação, arrumou seus pertences e se mudou para um apartamento recém-comprado só para eles.

Deixou a profissão por insistência do amado e passou a viver exclusivamente para ele.

Naquela manhã, resolveu que iria visitar os pais.
Arnaldo iria passar o dia fora e ela não tinha muito o que fazer.
Adorava trabalhar e, na primeira oportunidade, voltaria à activa.

Arnaldo entrou em seu escritório e tentou se concentrar numa planta de um enorme edifício empresarial que estava sob sua responsabilidade.

Era sua função, como engenheiro, planear, projectar, gerenciar, supervisionar e fiscalizar as actividades de construção.
Conseguiu concentrar-se por vinte minutos, logo depois, uma estranha dor de cabeça o acometeu.
Pediu um comprimido e tentou relaxar, mas a dor persistia.

Foi tão forte que acabou desmaiando.
A secretária percebeu algo estranho e, ao entrar e encontrá-lo caído, mobilizou tudo para que ele fosse hospitalizado.
Todos ficaram temerosos de que o pior tivesse acontecido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:06 pm

Horas depois, ao acordar no hospital, o médico lhe explicou:
- Sua pressão sanguínea subiu em demasia, mas agora está tudo bem. Algo o preocupa?
- Não. Estou muito bem.
Nem sei como isso foi me acontecer...

- Muitas vezes as pessoas têm esses problemas e não sabem.
Estou requisitando vários exames que você fará aqui mesmo no hospital.
Ficará em observação hoje.

Arnaldo impacientou-se.

- Não posso permanecer aqui por muito tempo.
Tenho um trabalho grande para realizar e minha esposa não sabe de minha situação.
Não desejo ficar no hospital.
O médico insistiu:
- Não sabemos o que ocasionou a alta de pressão e o desmaio.
Deverá ficar até sabermos a origem.
Não insista em sair, pois pode ter outra crise e será pior.

Um arrepio perpassou o corpo de Arnaldo e ele resolveu obedecer, afinal, não era um homem que se descuidava da saúde.

-Tragam meu celular, preciso ligar para minha esposa.

Apesar das chamadas insistentes, Alice não atendia.
Não estava no apartamento e, provavelmente, seu aparelho devia estar desligado ou descarregado.
Mas ele tentaria outras vezes até conseguir.
Arnaldo não percebeu, mas ao seu lado um espírito de capa preta ria com muito prazer.

Alice chegou à casa dos pais e encontrou sua mãe sozinha entretida no computador.

— Onde estão todos? - falou beijando a mãe que, apesar da idade, era uma mulher muito conservada.
— Deixaram-me sozinha.
Lúcia foi fazer compras para a despensa e seu pai deve estar no clube se divertindo com alguma garotinha.
Eu estou procurando um garotão para hoje à noite.

Alice não se conformava com a vida que os pais levavam.
Quando saiu de casa, até se sentiu aliviada por não estar compactuando com um modo de viver que ela julgava completamente errado.
Onde já se viu aceitar traições?

— Não entendo como a senhora pode aceitar uma vida como esta.
Sei que ama papai e deve sofrer por vê-lo te traindo.

Carmem soltou sonora gargalhada e respondeu:
— Todo homem trai, de uma forma ou de outra.
Você deve se preparar, pois vai acabar sendo traída pelo Arnaldo.
Quando percebi que fidelidade não existe, propus um casamento aberto, assim também me sinto livre para minhas aventuras e não me entristeço quando o Albano sai com outras.

Depois tudo volta ao normal e acabamos novamente um nos braços do outro - fez uma pequena pausa e continuou:
- Se eu fosse você tratava de propor ao seu marido uma união assim, para depois não ter queixas.
Alice não gostou do que ouviu e protestou:
— Não gosto dessa filosofia de vida.
Só aceitei me relacionar com Arnaldo porque descobri que o amava de verdade.
Se fosse por simples atracção, jamais me envolveria com um homem comprometido.
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