LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:39 pm

Eles tinham uma filha na flor da juventude que se chamava Aline, por quem me apaixonei perdidamente.
Eu me casei com Eduarda sem amor, apenas por arranjo entre as famílias, mas com o tempo e a convivência passei a amá-la de verdade.

Eduarda era um anjo em forma de gente, espirituosa, bondosa, sempre vivia sorridente e feliz.
Ajudava-me com os problemas da fazenda e foi ela quem me fez um ser humano melhor, amava-a e ainda a amo profundamente.

No entanto, mesmo com todo o amor, não consegui conter a atracção que sentia por Aline.
Logo fui correspondido e passamos a nos encontrar.

Os pais da moça se aproveitaram da situação e logo tiraram de mim o suficiente para poder voltar à Itália e lá realizarem o sonho de cultivar uvas e comercializar vinho.
Todavia, na hora de voltar, Aline não queria me deixar e eu estava sofrendo com a futura separação.

Chamei o senhor Giuseppe e fui claro:
- Ainda falta um pouco de dinheiro para que voltem à Itália.
Prometo que darei todo o restante se deixarem Aline comigo.
Ela passará a viver na casa grande e terá vida de rainha.

Giuseppe não queria deixar a filha no Brasil, mas sua mulher, com olhos cobiçosos, decidiu por ele.

— Pode ficar com ela.
Nunca foi apegada a nós mesmo.
Lá deixamos outros filhos, temos família.
Ela que se arranje por aqui.

Assim foi resolvida a situação.
Coloquei Aline na fazenda como babá e Eduarda nunca desconfiou de nada.
Ambas se tornaram grandes amigas.
Notava que Aline se sentia culpada pela situação, mas seu amor por mim era mais forte e ela resistia.

O tempo passou e ela praticamente ajudou Eduarda a criar Henriqueta.
Naquela época, eu sentia um remorso muito grande por amar duas mulheres ao mesmo tempo, mas era amor mesmo, embora diferentes, mas amor.

Entre Aline e Eduarda surgiu uma afeição fora do comum.
Andavam sempre juntas e passavam horas conversando.
Eduarda acreditava em histórias de almas do outro mundo e Aline também.

Elas se amavam muito.
Eu não tive mais filhos e, quando Eduarda já estava velha, no leito da morte, sem chances de cura, Aline contou toda a verdade e pediu-lhe perdão.

Eduarda, com voz fraca, respondeu:
— Eu já sabia de tudo, mas meu amor por você e por meu marido foi maior e eu aceitei.
Estou indo para o outro mundo e lá certamente saberei o porquê de tudo.
Sei que a vida sempre faz tudo certo.

Eduarda era um ser angelical, incomum.
Depois de sua morte, Henriqueta já era casada, dessa forma, fiquei só com Aline naquela grande propriedade.
O café já não dava mais lucros, a fazenda foi arruinada.

Terminei muito pobre, vivendo de pequenas criações.
Quando cheguei ao astral, fui recebido com carinho por Eduarda, que logo após recebeu também Aline.
Fomos reunidos com os mentores e eles nos contaram que éramos almas ligadas havia muitos séculos e que precisávamos dessa experiência para evoluir e aprender a conviver sem rancores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:40 pm

Dessa vez conseguimos.
Minha mãe, Teodora, também estava na reunião e ficamos sabendo que, durante aquela última encarnação, ela havia cometido adultério várias vezes e estava muito arrependida.

Precisava voltar à Terra e experimentar o gosto da traição para aprender.
Os espíritos disseram que ela poderia aprender de outra forma, mas ela não aceitou, queria ser traída, assim como traiu inúmeras vezes.

Estávamos todos juntos, éramos afins.
Eu continuava a amar as duas mulheres que amei na Terra e me sentia envergonhado por isso.

Até que você, Eglantine, me chamou e disse:
"Só há uma solução para esse caso.
Você precisa aprender a sublimar um dos dois sentimentos.
Eduarda e Aline são almas afins, amam-se há muito tempo e você vem impedindo que elas sejam felizes.

Nessa última vida, ambas vieram no mesmo sexo e, como não tinham tendências homossexuais, amaram-se apenas como amigas, mas precisam viver a história de amor que as une.

Na próxima encarnação, elas virão em sexos opostos e poderão se amar livremente.
Escolha uma das duas para ser sua filha e assim modificar o sentimento para algo mais sublime."

Foi difícil, para mim, a escolha.
No fim, após muito meditar, preferi ser pai de Eduarda.
Ela era mais sensível, mais espiritual, por isso acreditei que seria mais fácil.
Programei que me uniria à minha mãe como marido para que ela pudesse vivenciar o que precisava, e então voltei à Terra como Arnaldo e ela, como Lucrécia.

Maria Eduarda veio logo depois, como meu amado filho Eduardo, e Aline recebeu o nome de Alice, tendo como pais os mesmos italianos de outrora.
Por isso Eduardo e eu nos amamos tanto e, ao mesmo tempo, nós dois amamos Alice.

Arnaldo parou um pouco, fixou o olhar no de Eglantine, e perguntou:
— Como um dia essa questão será resolvida?
Eduardo e Alice se amam, e eu amo os dois.
O que farei?

— Só Deus sabe o que nos reserva o futuro.
Por ora, o melhor a fazer é esperar, vibrar pela felicidade deles e trabalhar pela nossa.
A ansiedade atrapalha, tudo só vem no tempo certo.
Na Terra, são muitos os casos de amor dessa natureza, que só o tempo e as provas da vida irão solucionar.
Ninguém pode julgar ninguém, pois o sentimento afectivo está no coração de cada um e só a pessoa sabe o que se passa lá dentro.

- De qualquer forma, um dia terei de deixá-los viver livremente.
Eglantine sorriu.
- Lá vem você outra vez antecipando o futuro com a ansiedade.
Entregue tudo nas mãos de Deus e vamos trabalhar.
Aqui o que não falta é o que fazer.

Ambos sorriram e foram cada um para seus afazeres nocturnos.
Alice e Eduardo mantiveram o romance em segredo durante algum tempo.
Lucrécia havia se modificado muito, mas eles não podiam prever qual seria a reacção dela ao saber que seu filho estava namorando e iria se casar com aquela que foi, durante algum tempo, sua rival.

Eduardo queria contar logo, mas Alice preferiu a cautela e pediu para que ele aguardasse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:40 pm

Quando julgaram oportuno, foram falar com ela.
Lucrécia, a princípio, ficou pensativa, depois disse:
— Vinha notando que você estava mais feliz que de costume.
Só podia ser mulher.
Sempre soube que você gostava de um bom namoro.
Quando mais jovem, era uma namorada para cada dia da semana.

Eduardo sorriu. Ele era assim mesmo.

Ela continuou:
- Contudo, percebi que se tratava de algo mais sério.
Nunca pensei que fosse Alice.
Vocês têm a minha bênção.
Estou aprendendo a perdoar e a não julgar, além do mais, de que adiantaria eu tentar impedir?

Você sempre só fez o que quis da vida!
Se eu dissesse que não aceitaria, você se casaria com ela da mesma forma e provavelmente romperia comigo.
Não. Não quero perder mais ninguém nesta vida.

Ela parou, olhou para Alice, e tornou:
- Não pense que tenho bons olhos para você, mas confio no meu filho.
Ele é muito inteligente, sábio, não iria escolher uma mulher qualquer para se casar.
Aliás, eu até lhe agradeço por tê-lo levado a escolher o caminho do matrimónio.
Achava que Eduardo nunca fosse se casar e que, portanto, nunca me daria um neto, coisa com que sempre sonhei.

Alice estava emocionada.
Como a vida era inteligente!
Deus conduzia tudo para onde deveria ir.
Provavelmente, todos eles estavam ligados pelo passado.

- A senhora tem sido muito boa comigo desde a morte de Arnaldo.
Prometo fazer seu filho mais feliz do que ele já é.
Teremos muitos filhos, encheremos essa casa de crianças.

Eduardo falou emocionado:
- E eu que pensei que essa conversa seria difícil, até me surpreendi com a sua reacção, mamãe.
Vamos brindar este momento?
- Antes, quero fazer um pedido ao casal — disse Lucrécia, séria.

Todos se entreolharam curiosos, menos Arlete, que já sabia o que a mãe iria pedir.
— Quero que se casem e venham morar connosco.

Eduardo e Alice ficaram espantados, não esperavam por aquilo.
Quando conversavam sobre o futuro, nunca mencionaram morar na mansão, pensavam em habitar o apartamento que foi de Arnaldo ou uma casa em outro bairro.
Não souberam o que dizer de pronto.

O espírito de Arnaldo, que estava presente, soprou no ouvido do filho:
"Aceite, meu amor!
Você será muito feliz aqui com Teodora e Aline.
Esta casa é muito grande, foi aqui que você nasceu e cresceu.
Aceite, Maria Eduarda!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:40 pm

Eduardo sentiu uma forte emoção e olhou para Alice, que percebeu na hora que ele queria aceitar o pedido da mãe.

— Eu não havia pensado nisso, mas esse convite é tentador.
Adoro esta casa, ela me lembra toda a minha infância, meu pai, as coisas boas que vivi na adolescência.
Por mim, aceito, mas tenho de pedir a opinião de Alice.

Mais uma vez, Arnaldo aproximou-se dela e falou:
"Aline, concorde.
Aqui você terá a chance de conhecer Teodora melhor e de se tornarem amigas.

Lembra-se como ela a tratava na casa grande?
Por saber que era minha amante, humilhava-a constantemente e vivia fazendo chantagens e ameaças.

Você não está sendo convidada a viver com ela à toa.
Seus espíritos ainda nutrem reflexos negativos um contra o outro e necessitam harmonizar-se.
A vida não deixa nenhum assunto mal resolvido, não fuja, a hora é esta".

Alice captou integralmente a essência da mensagem, embora nada tenha escutado.

Foi com os olhos brilhantes de emoção que disse:
- Aceito, sim, Lucrécia.
Aqui poderemos ser amigas, nos perdoarmos mutuamente.
Talvez não seja fácil nossa convivência, mas vamos tentar.

Lucrécia pegou sua mão e afirmou:
- Você não sabe como mudei depois que conheci a espiritualidade.
Terá a prova enquanto vivermos.

Arlete trouxe as taças e todos brindaram aquele momento, não sem antes agradecerem a Deus por tudo ter se resolvido da melhor maneira.

Três meses depois, Eduardo e Alice se uniram no civil em uma cerimónia simples no Clube Paulista.
Eles teriam agora largo momento de paz, felicidade e amor.

Assim que o juiz de paz encerrou o enlace, Arnaldo, abraçado a Eglantine, chorava de emoção.

— Finalmente os dois estão unidos.
Aqui acaba minha missão.

Eglantine percebeu que o amigo estava triste.
— Não deixe o desânimo tomar conta de seu coração.
O dever cumprido costuma nos dar alegria.
Chegou a hora de cuidar de você e tratar desse apego terrível que sente pelo Eduardo.
Isso o tem prejudicado muito ao longo dos séculos.

— Terei mesmo de fazer a grande viagem?
— Sim. Nossos maiores disseram que para você é o melhor.
— Pedi para que pudesse renascer filho deles, mas não me foi concedido.

- Isso mesmo.
Se você viesse a ser filho do Eduardo, seria muito dependente, o que estacionaria ainda mais sua evolução.
É hora da grande viagem.
Você renascerá em outro planeta, viverá com outras pessoas, aprenderá a se desapegar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:40 pm

- Sentirei muitas saudades. Como é difícil!
- É por isso que é necessária essa medida extrema.
O apego aprisiona, faz sofrer, torna-nos dependentes e fracos.
Com o tempo, colocamos nossa força no outro e passamos a fazer dele uma muleta.
Mas Deus sempre intervém, mostrando que amor não é apego.

Arnaldo secou as lágrimas, beijou o filho, olhou para Eglantine e disse:
- Você prometeu me acompanhar.
Vai cumprir a promessa?
Ela o abraçou.
- Sim. Serei sua mãe, mas como sou muito independente, livre, o ensinarei a amar sem se pendurar.
Você vai ter uma mãe durona, que não passa a mão na cabeça.
Cedo terá de se afastar de mim para assumir a própria vida.

Arnaldo pareceu aceitar.

- Agora vamos.
O tempo passa depressa, e mais rápido do que supõe poderá voltar à Terra e rever Eduardo, mas, quando isso acontecer, você estará modificado, mais maduro, mais dono de si.
Aí se unirão eternamente.

Os dois amigos se abraçaram e desapareceram no meio do céu estrelado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:40 pm

34 - A doença de Ernesto

Apesar dos cinco anos passados, a família de Ernesto jamais esqueceu o que aconteceu com Ingrid e Diego.
A Justiça o inocentou, pois foi considerado um doente mental grave e não estava de posse de sãs faculdades mentais quando fez tudo aquilo.

Mesmo assim, ele passou um bom tempo no manicómio judiciário e só mais tarde foi transferido para uma clínica psiquiátrica particular.

Vanessa continuava em sua incansável luta para tentar trazê-lo de volta à realidade.
As pessoas olhavam de soslaio e riam, considerando-a ingénua, mas ela continuava incansável.

Aos poucos, e para o espanto de todos, Diego começou a se modificar.
Conversava naturalmente e se mostrava arrependido pelo que tinha feito.
Vanessa vivia um tormento, pois sabia que os psicopatas eram exímios mentirosos, e, quando os momentos de dúvida apareciam, ela se recolhia na prece.

Ernesto voltou a trabalhar pouco tempo depois, mas rompeu qualquer tipo de relação com a cunhada.
Ela deixara sua mansão com os filhos e regressara ao lar.
Ingrid ficou muito triste, porém amava o marido e concluiu que jamais poderiam viver como antes, caso Diego um dia retornasse ao lar.

Anselmo e Lúcia voltaram para Guararema assim que tudo se acalmou, e Ingrid passava quase todo o dia cuidando das filhas em companhia de Marisa.

Ernesto, de repente e sem motivo, começou a se sentir mais cansado que o habitual.
Começou a emagrecer muito rapidamente e foi ao seu médico, que diagnosticou uma crise de stresse.
Ele foi medicado e melhorou.

Nunca mais havia escutado as vozes ou sentido nada.
Não parecia que tinha sido pai de santo, muito menos espírita.
A imobiliária crescia a olhos vistos e a fortuna de Ernesto aumentava a cada dia.

No entanto, o cansaço retornou um mês depois, e dessa vez mais forte, tanto que ficou prostrado na cama por diversas vezes.

Dessa vez não emagreceu, mas começou a tossir com frequência.
A tosse ia aumentando e o impossibilitou de trabalhar.

O doutor Guedes dava-lhe uns tapinhas nas costas e dizia:
- Você não tem febre, está com apetite, não tem dor.
É essa poluição!
Receitava alguns xaropes, mas Ernesto não melhorava.

De repente, veio a dor.
Forte. Profunda. Aguda.
De tão forte, Ernesto desmaiou.

Foi levado para o hospital e examinado, ao que o médico falou:
- Precisamos esperar que acorde.
Aparentemente não tem nada grave, mas temos de esperar para que ele nos possa dizer onde se localiza exactamente essa dor.

Por conta do sedativo, Ernesto dormiu muito e, quando acordou, doutor Guedes o inquiriu:
— Onde é mesmo a dor?
- Aqui - ele suspendeu a camisa e mostrou o lado esquerdo das costas, acima do pulmão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:41 pm

— Você fuma?
- Não. Quer dizer...
Fumava esporadicamente.
Mas faz anos que deixei.

- Irá tirar raios X do pulmão para analisarmos melhor.
Por ora ficará aqui em observação.

Ernesto sentiu um pouco de preocupação no olhar do médico, mas não deu muita atenção.
Logo estava conversando animadamente com um dos funcionários da sua empresa.
Mas as crises de tosse voltavam e ele tinha de parar.

Os exames foram feitos e o doutor Guedes mandou chamar Ingrid em seu consultório.
Ela, com o coração aos saltos, compareceu.
O médico a olhou profundamente, estudando as palavras que iria dizer.

- Senhora Ingrid.
O correcto seria falar directamente com seu marido, mas sou, além de tudo, amigo de vocês e confesso que não sei como Ernesto vai reagir ao ouvir o que tenho a lhe dizer.
Ingrid sentiu que o sangue lhe faltava, mas manteve-se firme.
- Pode dizer, doutor. Estou preparada.

- Seu marido tem um tumor muito grande no pulmão esquerdo, e é inoperável.
Pela visualização das imagens, podemos dizer com acerto que se trata de um tumor maligno muito agressivo.
O único jeito é tentar a quimioterapia para ver se o tumor diminui, só assim conseguiremos operá-lo.

Ingrid teve uma crise de choro.

O médico ofereceu um lenço e, quando estava mais calma, ela perguntou:
- Quais as chances que ele tem de cura?
- Eu diria que são mínimas.
Um tumor desse tamanho certamente já está espalhado por várias partes do corpo.
Mas em medicina temos visto de tudo.
Pessoas desenganadas que milagrosamente se curam e estão melhores do que nunca.

Outras com doenças simples que acabam por morrer.
O que gostaria mesmo é que você soubesse primeiro para que pudesse apoiá-lo.
Não podemos enganar o paciente, ele deve estar ciente de tudo o que está se passando.

- Meu marido é forte, vai aguentar.
Ele já passou por muita coisa nesta vida, precisa saber o que está realmente acontecendo.
- Então vamos lá.

Entraram no quarto.
As visitas tinham ido embora e Ernesto estava entretido na leitura.
Quando o médico, juntamente com sua esposa, informou o que ele tinha, entrou em um mutismo angustiante.

Ao ficar só com o marido, Ingrid tentou conversar, mas Ernesto parecia não ouvi-la.
De repente, todo o filme de sua vida passou em sua mente sem que ele pudesse parar.
A infância pobre, as brincadeiras de criança, os namoros de adolescente, o casamento com Mariana e a chegada das filhas, suas mortes e, finalmente, seu pacto com as trevas.

Só naquele instante ele entendera o que os espíritos queriam dizer quando mencionavam a punição.
Quando a avalanche de pensamentos passou, Ernesto abraçou Ingrid como a pedir que ela salvasse sua vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:41 pm

Ambos choraram.
Dormiram abraçados na pequena cama do hospital.
Ernesto não acreditava em mais nada além da vida material.
Deixou-se, então, conduzir pela medicina somente.

O caso era extremamente grave e logo começaram as sessões de quimioterapia.
Quando o medicamento entrava pelas veias, todo o corpo de Ernesto pinicava como se estivessem lhe espetando diversas agulhas.
Sem que ele visse, os espíritos aos quais se filiara estavam lá acompanhando tudo, aumentando suas dores, sua angústia.

A influência foi tanta que Ernesto entrou em depressão profunda.
Os exames anunciaram que o tumor não cedia e que mais sessões seriam necessárias, e que, findas estas, nada mais poderia ser feito.
Felizmente, o tumor não havia se espalhado para outros órgãos, mas, se continuasse a crescer, certamente isso ocorreria.

Foi com horror que Ernesto se viu careca e numa cadeira de rodas.
Perdera completamente o gosto pela vida.
Mais uma vez seus pais estavam presentes, torcendo e com fé para que não perdessem o único filho que a vida lhes deixara.

Um dia, Ernesto estava em casa deitado, em depressão profunda, quando Ingrid entrou cautelosa no quarto.

- Tem visitas para você.
— Já disse que não quero ver ninguém, além da mãe Márgara.
Ela quem tem me dado encorajamento.

Ingrid fez uma pausa e continuou receosa:
— Só que desta vez ela não veio sozinha, trouxe algumas pessoas com ela.
- Quem são?
— O Sérvulo e a Antónia.

Ernesto não conseguiu se lembrar imediatamente de quem se tratava, mas depois de alguns minutos pensou:
"Será que são eles?
Como tiveram coragem de vir aqui?"

Ele pensou em não os receber, mas, no estado em que se encontrava, não poderia se dar ao luxo de escolher visitas.

- Peça que subam.
Sérvulo e Antónia entraram em silêncio.

A princípio, assustaram-se com a aparência cadavérica daquele que lhes fora amigo por tanto tempo, mas, fingindo não perceber, perguntaram:
- Como está hoje, Ernesto?
- E como poderia estar?
Caminhando para a morte.
Não é isso que vocês espíritas dizem?
Que morrer é bom?
Então estou óptimo.

Antónia calou-se, havia muita dor e revolta no coração embrutecido de Ernesto, mas Sérvulo levantou-se calmamente e disse numa voz alta, porém educada:
- Sabia que nos receberia assim, mas vim aqui hoje com um objectivo, e não sairei sem cumpri-lo.
Depois que eu falar tudo o que preciso, você pode me expulsar, a mim e a Antónia, como fez quando sua primeira esposa morreu, lembra?
Mas agora tenho uma tarefa a seu lado e você vai me escutar, queira ou não.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:41 pm

Ernesto fez um ar de desagrado e falou:
- Não precisa me dizer nada.
Veio aqui só para jogar na minha cara que Deus está cobrando meus débitos por ter me tornado pai de santo.
Essa ladainha conheço de cor.

- Nada disso.
Vim para dizer que você pode ser curado, levar uma vida feliz e saudável ao lado de sua família.
Deseja isso?

A postura de Sérvulo, que não o condenou como ele imaginava que fosse ocorrer, despertou em Ernesto uma curiosidade.
O que ele, então, viera fazer ali?

- Não venha me prometer uma cura miraculosa, pois não acredito.
- Não vim falar em milagre, mas em transformação.
Primeiro quero que saiba de nossa história, de tudo o que aconteceu depois que você nos deixou.
Peço a Antónia que lhe conte.

Antónia era a esposa de Sérvulo, simpática, forte sem ser gorda, cabelos ruivos e curtos, semblante sereno.

Ela contou o que ocorreu e finalizou:
- Nós todos do centro tínhamos uma postura muito rígida com relação ao espiritismo e à vida de maneira geral.
Fomos obrigados a passar por uma obsessão colectiva para que pudéssemos nos reavaliar e mudar.

Sofremos muito, mas hoje o grupo mudou, evoluiu.
Tanto que recebemos ontem uma mensagem de um amigo espiritual querido afirmando que deveríamos vir aqui dizer que você poderia se curar.

Ernesto estava cada vez mais atento.
Seria possível essa cura?
Ele não acreditava em Deus, em mais nada.
Ou acreditava?

Antónia continuou:
- Esse nosso amigo disse que você quer a todo custo impedir que Deus entre em sua vida, afirma que você nunca viveu de facto a espiritualidade.
Embrenhou-se pelos caminhos do fanatismo e tornou-se um hipócrita.
Sua mulher e suas filhas, ao morrer, representaram um teste e você optou pela descrença e pelo caminho do mal.

Esse amigo afirma que se você voltar ao bem, à espiritualidade, doar tudo o que adquiriu com o mau uso da mediunidade e, principalmente, perdoar a vida, o câncer vai desaparecer.

Desta vez Ernesto não debateu.
Sempre que falavam para ele abandonar a fortuna sentia ímpetos de agredir a pessoa, mas será que seu dinheiro valia mais que sua saúde e felicidade?

- Como, assim, perdoar a vida?
- O câncer só aparece em uma pessoa quando ela guarda uma grande mágoa da vida, das pessoas ou quando ela carrega frustrações, depressões, tristezas.
É uma doença do espírito.
Você nunca perdoou a vida porque ela lhe tirou sua esposa e suas filhas.
Por outro lado, fez muito mal em seu terreiro, o que o deixava cada vez mais infeliz.
Foi essa energia acumulada em seu perispírito que fez com que você adoecesse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:42 pm

- Deus não está me punindo pelos actos bárbaros que fiz como pai de santo?
- Não! Há espíritos interessados em que você pense assim, para que, cultivando a culpa, se entregue cada vez mais à doença.
Mas isso não é verdade.
Todo o mal que você fez pode ser consertado pela prática do bem.
É claro que isso pode durar muitas vidas e você deverá fazer muito esforço, mas as doenças não são punições por erros, e sim o resultado do somatório das nossas emoções em descontrole.

- Então por que doar o que possuo?
- O dinheiro é sempre bem-vindo.
A riqueza é progresso, luz, mas quando adquirida por maneiras honestas.
Usar a mediunidade para o mal e, em troca, conseguir fortuna, é extremamente perigoso.
Se você não mudar isso agora, depois da morte será levado ao abismo, e de lá não sairá tão cedo.

Ernesto ainda resistia.

- Não acredito em nada disso.
- Acredita, sim.
Você nunca deixou de acreditar.
Se não quer admitir fica mais difícil.

- O que fazer, então, com tanto dinheiro?
- Fique apenas com o suficiente para se manter até conseguir um emprego honesto e depois doe a instituições de caridade.
Você tem uma casa que comprou assim que casou, volte para ela.
Este é o preço da sua felicidade. Quer pagar?

Ele pensou um pouco e começou a chorar.
Chorou muito.
Os amigos deixaram que desabafasse.

Mais tarde, quando foram embora, deixaram Ernesto bastante pensativo sobre tudo o que tinha ouvido.

Sérvulo e Antónia, na verdade, não quiseram dizer, mas o espírito amigo que tanto queria ver o bem de Ernesto era Mariana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:42 pm

35 - A cura pela redenção

Após alguns dias, vendo que sua doença se agravava, Ernesto percebeu que realmente perderia a vida.
Ao pensar em separar-se de Ingrid e de suas duas filhas, que tanto amava, sentia o desespero aumentar, o coração se oprimir.
Já havia perdoado Diego, que estava morando em outra cidade com Vanessa e se recuperava bem.

O que mais poderia fazer?
Apesar de tudo, não conseguia esquecer as palavras de Antónia e Sérvulo.
E se fosse verdade?
E se ele se arrependesse e mudasse de vida?
Haveria realmente chance de cura?

Os próprios médicos já o haviam desenganado.
Uma tarde, enquanto estava só no quarto do hospital, ele começou a rezar.

No começo de forma mecânica, depois foi abrindo seu coração ao Criador, mostrando-se perdido, implorando a Ele sua cura, pois estava arrependido e por amor iria mudar, fazer tudo diferente.
Orou com tanta sinceridade e fervor que logo depois seres luminosos, vestidos de médicos e enfermeiros, juntos com Mariana, entraram no quarto.

Um deles comentou:
— Felizmente ele voltou ao caminho.
Qual o filho pródigo, Ernesto hoje retorna à casa do Pai.
Poderá se curar, não precisa mais da doença.

Logo, a equipe médica começou a trabalhar em seu perispírito e em seu corpo físico.
Traziam equipamentos, remédios líquidos e, com as mãos, retiravam camadas escuras de energias que estavam impregnadas em sua aura.

Quando terminaram, um dos médicos olhou para Mariana e falou:
- Nossa parte acaba, por ora, o resto a natureza dará conta de restaurar.
A lição foi aprendida e hoje Ernesto nasceu mais uma vez.

Mariana chorava, emocionada.

- Como Deus é bom!
As pessoas ainda não pararam para perceber o tamanho de Sua misericórdia.
Basta uma mudança de pensamento e comportamento para que toda uma vida se modifique ao toque do Criador.

- Além do que, sabemos como Ernesto se comprometeu desde sua última encarnação — disse um dos médicos.
- Sim - tornou Mariana.
No passado, na época da tão famosa corrida do ouro, ele era um simples sertanejo do norte.
Quando ficou sabendo que podia ficar rico nas minas, abandonou a família e foi em busca da fortuna no Sul.

Mesmo trabalhando na cata, nas escavações, nada conseguiu, até que um dia, desesperado para encontrar a maior pedra que pudesse, disse com todo o fervor que daria sua alma ao diabo para achar um diamante que o tornasse imensamente rico.

Sem saber, ele accionou forças de espíritos trevosos que se dizem demónios, que o envolveram, e ele passou a agir diferente.
Com cautela e de maneira quase automática, começou a escavar num local onde ninguém suspeitava existir nada de especial, mas eis que surgiu o diamante tão esperado.

Muito rico, ele trouxe sua família para as Gerais, onde viveu bem pelo resto da vida.
Quando morreu, bastou sair da sepultura para encontrar um espírito deformado à sua espera.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:42 pm

Intitulava-se Belzebu e lhe disse:
"Aristides, esqueceu que você vendeu sua alma para mim?"
"Como? Minha alma?"
"Sim, você disse que daria sua alma ao diabo se achasse o diamante.
Então trabalhei ao seu lado até você o encontrar.
Não acha que é hora de me retribuir?"

Aristides, muito assustado e percebendo que realmente havia morrido, perguntou:
"Então você é o diabo?"
— A entidade mentiu:
"Eu mesmo.
E você acha que foi quem que tentou Jesus no deserto?
Eu, meu caro. Agora vamos."

- Aristides tentou fugir, mas percebeu que era em vão.
Logo foi amarrado e levado a um palácio no mundo das trevas, onde, apesar do luxo excessivo, tudo era sujo e malcheiroso.

Trabalhou durante anos como vassalo dessa entidade, até o dia em que fui chamá-lo.
Ao me ver e reconhecer como sua mãe, ele se jogou em meus braços e o levamos para a nossa colónia.

Ela continuou:
- Explicamos que há superstição nas histórias de pessoas que vendem a alma ao demónio, pois ele, na realidade, não existe, mas sim espíritos ignorantes que assim se intitulam.
Contudo, quando uma pessoa diz isso acreditando que há uma força do mal capaz de ajudá-la em troca de sua alma, esses seres das trevas se aproximam e ajudam para cobrar depois.

Ele entendeu e, após um tempo connosco, foi para uma cidade estudar e descobriu que na próxima vida seria médium e ajudaria os sofredores do além.
Mas havia a prova da fortuna e o reencontro com essa entidade que, apesar de séculos, ainda foge à reencarnação, escondendo-se no centro da Terra.

Se ele vencesse a prova da cobiça pelo dinheiro desonesto e resistisse em usar a mediunidade para o mal, sairia vitorioso.
Mas ele, mais uma vez, mostrou que ainda não estava preparado, e por ignorância fez o melhor que pôde.
No entanto, colheu os resultados, aprendeu, evoluiu, está imunizado.

O médico a olhou e comentou:
- É isso mesmo.
Cada um escolhe a maneira como vai evoluir e chegar mais rápido à perfeição total.
Agora, deixemo-lo repousar e de longe observaremos a medicina da Terra dizer que um milagre aconteceu.

Ernesto sentiu uma tranquilidade após a oração e adormeceu profundamente.

Os dias foram passando e, vez por outra, a equipe médica do astral retornava e continuava o tratamento.
Surpreendentemente, os médicos foram notando sensível melhora em Ernesto.
Estava mais forte, menos pálido, tossia menos, queixava-se menos da dor, a cada dia progredia mais.

Os médicos, com o facto inesperado, fizeram novos exames, nos quais foi detectado que o tumor havia sido reduzido a tal ponto que poderia ser operado.

Ninguém acreditava no que estava acontecendo.
Um verdadeiro milagre ocorrera ali.

No momento propício e com Ernesto mais resistente, a cirurgia foi realizada com sucesso.
Os pequenos tumores que haviam se instalado em outros lugares simplesmente desapareceram.
O caso de Ernesto foi comentado por toda a mídia e pesquisado para a divulgação de artigos nas mais variadas revistas científicas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:43 pm

Realmente, acima de tudo está Deus!

Ernesto teria de continuar fazendo exames de revisão ainda por muito tempo, mas logo retornou às suas actividades no centro espírita.
Lá encontrou Lucrécia e Arlete.
As duas se admiraram, pois o palestrante da noite era ele.
Ambas foram cumprimentá-lo.

- Muito bonito e certo tudo o que você disse — afirmou Arlete.
- Sua oratória é maravilhosa - elogiou Lucrécia.
- Agradeço pelos cumprimentos, mas o mérito é do alto.
Eu ainda estou tentando chegar lá.

Ambas riram amavelmente.

Ernesto perguntou como as duas estavam, e Lucrécia foi a primeira a falar:
- Eu estou muito bem, trabalho como voluntária aqui no centro e tenho me sentido útil.
Procurei tornar minha vida uma alegria, não quero mais casar.
Meu prazer agora é viajar, curtir meus futuros netinhos e continuar meus estudos sobre a vida espiritual.

Sinto-me completamente preenchida assim.
Já Arlete... - ela deu uma piscadela maliciosa.

- O que tem a Arlete?
- Está namorando o filho mais novo do Sérvulo.
Apesar da diferença de idade, Luiz é um rapaz honesto, sincero, tem valores nobres.
Minha filha está e será muito feliz.

Eduardo e Alice aproximaram-se.

- Estes são meu filho e minha nora.
Ernesto olhou para a barriga de Alice e comentou:
- A senhora vai ser vovó mais cedo do que eu imaginava.
- Isso mesmo.
Não imagina como estou feliz, finalmente o neto com que tanto sonhei.

Ela fez uma pausa, olhou profundamente para Ernesto e comentou:
- Você... Você nem parece aquele homem que conheci e que fazia feitiços.

Todos ficaram constrangidos, não esperavam que Lucrécia fosse tocar naquele assunto.

Sem cerimónia, Ernesto respondeu:
- Eu não era aquele homem.
O verdadeiro está aqui, na sua frente.
Quando enveredamos pelo caminho da maldade, deixamos de ser nós mesmos e passamos a agir contra nossa verdadeira essência.

Precisei passar por um câncer para aprender isso.

Todos ficaram admirados com a resposta dele.
Era realmente um homem inteligente e que, pelo sofrimento, aprendera o valor do bem.

Despediram-se e felizes rumaram para suas casas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:44 pm

Epílogo

O obstetra tentava visualizar com dificuldade o sexo do bebé, e após algum tempo conseguiu.

Olhou para o casal ansioso ao seu lado e disse:
- Parabéns, terão uma menina!
O marido, olhos marejados, beijou a esposa, que chorava de felicidade.
- Meu amor, uma menina. Quanta felicidade!

Vieram os preparativos.
Quarto e móveis novos comprados com dificuldade, paredes pintadas em rosa-chá, bonecas usadas, vestidos.
Nove meses depois, uma linda e saudável menina acabava de nascer.

A mulher olhou para o marido e falou:
- Não escolhemos ainda o nome.
Ficamos muito indecisos.
Precisamos registar, temos de escolher rápido.

O homem pensou e, num lampejo, falou:
- Mariana! Ela vai se chamar Mariana.

Assim a registaram.
Dois meses se passaram, a menina cresceu e foi ficando cada vez mais bonita.

Até que um grave acidente levou a vida de seus pais e a criança foi parar nas mãos de sua única parenta viva.
Era uma senhora pobre, mas de sentimentos nobres.

Olhou para a menina e disse:
- Aqui onde moro não posso te dar nem comida, vai para o orfanato.

Helena saiu numa noite em que a chuva caía fina e deixou o pequeno carrinho na porta do orfanato sem ser vista.

Pouco tempo depois, o porteiro, que havia saído, retornou ao seu posto quando escutou um choro.
Abriu o portão e percebeu que era mais uma rejeitada.
Entre os poucos pertences da garota, encontrava-se um papel no qual estava escrito o nome Mariana.

Assim todos passaram a conhecê-la lá dentro.

Pouco tempo depois, um casal interessado em adoptar uma criança entrava no escritório do director.
- Meu marido, Ernesto, colocou na cabeça que deve adoptar uma criança.
Agora que ganha bem, passou no concurso e voltou a trabalhar no banco, sabe que conseguirá — dizia Ingrid.

O director os olhou, como se os estivesse analisando, e disse:
- Muitas crianças chegam aqui toda semana.
Terão de escolher e passar por toda a burocracia que uma adopção legal requer.
- Estamos dispostos - disse Ernesto.

Logo foram ao berçário e se encantaram com um bebé negro que sorria insistentemente para eles com olhos brilhantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 01, 2013 11:44 pm

Num ímpeto, Ernesto disse:
- É aquele! Vamos adoptar aquele!
- É uma menina - disse a assistente social que os acompanhava.
Chegou tem mais de um mês.

Aproximaram-se.
Uma emoção muito forte tomou conta de Ernesto.

- Ela tem nome?
- Sim. Aqui todos nós a chamamos de Mariana.
No saquinho com as roupas dela tinha um papel com esse nome escrito.

Ingrid e Ernesto se arrepiaram.
Seria quem eles estavam imaginando?
Não. Não poderia ser, estavam fantasiando.

Eles prosseguiram com o acto de adopção até que conseguiram oficializá-lo.
Foi uma felicidade a chegada da criança àquela casa.
Era mais um motivo que todos ali encontravam para viver.

Quando os olhinhos vivos dela se encontravam com os do pai, ele não continha a pergunta:
— Mariana, será mesmo você?

Fim

§.§.§- O-canto-da-ave

Caro amigo:
Se você gostou do livro e tem condições de comprá-lo, faça-o, pois assim estarás ajudando diversas instituições de caridade; que é para onde os direitos autorais desta obra são destinados.


Muita Paz
Que Jesus o abençoe
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