LUZ ESPÍRITA
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:06 pm

Carmem deixou o mouse de lado e a fixou nos olhos:
— Não consigo entender por que você é tão careta.
Às vezes penso que deveria ter tido mais filhos.
Nunca fomos amigas, você nunca concordou com nada do que eu disse.

- Mas, mesmo assim, nos amamos e é isso o que importa.
As diferenças não nos separaram.
As duas sorriram e Carmem convidou:
- Venha ao meu quarto, tenho umas fotos de uns rapazes com quem pretendo me relacionar e quero que você opine.
- Não, mamãe, sinceramente não gostaria de fazer isso.
Escolha a senhora mesma.
- Bobinha.

Alice ficou sozinha na sala e resolveu dar uma volta no jardim que circundava a casa.
Não eram ricos, mas tinham uma bela residência, herança de seu avô, pai de Albano.

Tudo estava muito cuidado e limpo.
Carmem podia ser uma doidivanas, mas gostava de cuidar de tudo com capricho.
Depois de respirar ar puro, Alice resolveu entrar e só aí se lembrou que tinha deixado o celular descarregado na bolsa.

Iria recarregá-lo assim que chegasse à casa da mãe, mas havia esquecido completamente.

Quando ligou o aparelho, percebeu que havia várias chamadas vindas do telefone de Arnaldo.
Ele não costumava ligar àquela hora da manhã, alguma coisa tinha acontecido.
Preocupada, ela retornou imediatamente a ligação.

- Alice? Onde você esteve? - perguntou irritado.
Há horas que tento falar com você e não consigo.
- E que acabei me distraindo com a mamãe e esqueci de recarregar o celular.
O que aconteceu? Você não costuma me ligar a essa hora.
Algum problema?

- Não sei o que houve direito.
Passei mal no escritório, minha cabeça doía sem parar.
Tomei um comprimido e, mesmo assim, a dor não me deixou.
Fui ficando sem ar até que desmaiei.
Acordei no hospital e devo ficar aqui até amanhã fazendo exames.

Eu sempre detestei hospitais, médicos, tenho verdadeiro horror a exames, temo que encontrem algo de grave — ele falava sem parar.
Não posso ficar sem você, por favor, venha imediatamente.

Alice se preocupava mais à medida que Arnaldo ia falando.
Quando desligou o telefone e anotou o endereço do hospital, viu sua mãe se aproximar com várias fotos nas mãos.

- Esses são os garotos que posso escolher para me divertir ainda hoje.
Olhe e me diga: qual é o melhor?

Alice saiu em disparada, deixando a mãe falando sozinha.

Carmem, ao vê-la sair, reclamou:
- É assim que os filhos de hoje são, uns ingratos.
O que custava uma opinião?

Dizendo isso, subiu as escadas que levavam ao seu quarto sem se importar com a súbita saída da filha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:07 pm

5 - A chegada de Eduardo

Na casa de Lucrécia o clima era de despedida:
- É uma pena que você não possa ficar mais.
Sua vinda aqui praticamente modificou minha vida.
Nem sei como te agradecer por ter me levado ao pai Ernesto.

- Sinto que fui intuída a lhe falar sobre ele, e sei que nossa ida lá resolverá nossos problemas.
- Não estou tão confiante.
Desejo ver para crer.

Arlete fez ar de desagrado.

- Essa sua falta de fé pode complicar.
Procure acreditar para ajudar no trabalho.
A fé é fundamental.
- Achei que fundamental fosse o dinheiro.
Nunca vi alguém cobrar tão caro.

- Além do dinheiro, temos de vibrar positivamente, foi isso que pai Ernesto me ensinou — fez uma pequena pausa e prosseguiu.
Não posso ficar mais, meu voo é daqui a uma hora e não quero perdê-lo.
Quero chegar ao Rio o mais rápido possível e tentar armar um flagrante do Bruno com a Diva.

- Não faça isso.
Deixe tudo nas mãos da magia.
Quer pôr tudo a perder?
Depois o Bruno pode ficar revoltado, te deixar e o trabalho não surtir efeito.

- Ele não vai fazer isso.
Sei de muitos segredos do Bruno.
Ele está envolvido com pessoas do tráfico juntamente com a irmã e já o ameacei:
se me deixar, conto tudo para a polícia.

Lucrécia não discutiu, sua filha deveria saber o que estava fazendo.

Após os abraços, Arlete saiu e Lucrécia deitou-se em uma confortável poltrona pensando:
"Como é bom saber que existe uma pessoa com capacidade para resolver nossos problemas.
Se soubesse disso antes, não teria ficado tanto tempo sofrendo e chorando sozinha".

Uma entidade maliciosa que trabalhava com Ernesto estava ao seu lado e lhe dizia:
"É isso mesmo. Há muitas coisas que você desconhece.
Pai Ernesto resolverá todos os seus problemas, seu marido será só seu, acredite".

Lucrécia sentia aumentar sua confiança no trabalho que havia encomendado, e só o pensamento de que Arnaldo poderia voltar para casa a fazia vibrar de emoção.
O toque alto do telefone a fez sair do devaneio.

- Alô?
- Mãe?! Está bem?
- Eduardo, meu filho! Que surpresa agradável!
Esta semana foi maravilhosa, sua irmã passou alguns dias comigo e hoje você me liga.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:07 pm

- É... Mas o assunto talvez não lhe seja agradável.
Estou precisando voltar a morar com a senhora, tem lugar ainda para mim?
- Como? — Lucrécia não conseguia entender, afinal seu filho morava fora de São Paulo havia anos, era bem empregado, o que estaria acontecendo...

— É que a empresa em que trabalho é muito grande e vai abrir filial em São Paulo.
Como tenho experiência, fui designado para dirigi-la.
Após uma pausa, concluiu:
— Tem um lugarzinho reservado para mim aí?

Muito feliz, Lucrécia respondeu sorrindo:
— Claro, meu filho, sabe que tanto Arlete quanto você são tudo o que possuo de mais precioso.
Além do mais, esta mansão ficou muito triste depois que seu pai me abandonou por aquela vagabunda.
Vivo sozinha, praticamente não tenho amigas, e sua presença aqui, sempre tão alegre e cheia de vida, vai me fazer muito feliz.

Eduardo ouvia com atenção e falou:
— Sinto que tem muita mágoa do papai, mas tente entender que cada um é livre e pode fazer o que desejar de sua vida.
Ele optou por uma mudança, seja por amor ou não, quem somos nós para julgar?
Enquanto guardar essa mágoa no coração não poderá ser feliz.

— Você fala isso porque não está em meu lugar.
Ser traída e trocada nessa idade não é fácil, parece que acabamos morrendo um pouco.

Eduardo não queria continuar a conversa naquele momento e resolveu finalizar.

— Quando chegar aí conversaremos melhor.
Acredito que no fim de semana já chegarei com a mudança.

Lucrécia exultou:
— Que maravilha! Vai trazer alguém com você?
Uma mulher, por exemplo?
Afinal, você já tem mais de trinta anos, já passou da idade de casar e me dar um neto.

Eduardo riu com prazer, enquanto disse:
— Estou solteiro como sempre e me sinto muito feliz assim.
Quando chegar a hora saberei e poderei lhe dar o neto com quem tanto sonha.

A conversa continuou por alguns instantes e logo depois Lucrécia colocou o fone no gancho.
Estava muito feliz.
Teria o filho de volta ao lar e o marido também.

O espírito que estava acompanhando a conversa de Lucrécia desapareceu da mansão e foi para a casa de Ernesto.
Era hora do almoço, e ele encontrou o pai de santo fazendo sua refeição.

— Pai Ernesto, pai Ernesto! - gritou alto aos ouvidos espirituais do médium.
— Quem deseja falar? - perguntou, interrompendo o almoço.

Era comum os espíritos o procurarem em qualquer horário.
Ele realizava muitos trabalhos e tinha muitos amigos no astral que faziam parte de uma falange que o avisava de tudo.
Foi com a ajuda deles que Ernesto chegou ao sucesso e estrelato, participando até mesmo de programas de TV.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:07 pm

O espírito falava apressado:
— É o caso da dona Lucrécia, corremos perigo de fracasso.
— O que aconteceu?
— Um dos filhos dela está voltando para casa.
Enquanto ele conversava com a mãe, senti algo estranho, daí usei minha vidência e o vi rodeado de muita luz.
Parece que é uma pessoa ligada ao Cordeiro.

Ernesto não gostou do que ouviu.

- Vamos aguardar para termos certeza.
Se for do lado da luz, pode atrapalhar um pouco, mas não acabará com nosso plano.
Esqueceu-se como é difícil acabar com um processo de magia?

— Sei disso, mas é preciso estar atento.
Os espíritas têm acesso a poderes que podem nos neutralizar.
Lembra-se do caso da Hilda?
Tudo estava encaminhado para ela morrer, mas levaram--na para um centro espírita, ela fez tratamento e ficou curada.

Ernesto estava irritado.

Detestava lembrar que um dia foi espírita, por isso interrompeu e falou:
— Vamos acabar com esse papo porque preciso almoçar em paz.
Fique atento e qualquer diferença no ambiente venha me falar.

O espírito saiu, mas Ernesto não conseguiu concluir sua refeição.
Os grupos espíritas estavam se intensificando e sabiam lidar com as forças das trevas, muitas vezes inutilizando-as, principalmente se fosse um grupo sério.

Resolveu meditar para encontrar uma solução.

Arnaldo, após fazer os exames requisitados pelo médico e receber os resultados, obteve alta e foi para casa.
Tanto ele quanto Alice ficaram satisfeitos, pois os exames mostraram que Arnaldo estava com a saúde perfeita.
No entanto, o episódio da dor de cabeça ficou sem explicação, e a partir daquele dia uma estranha sensação de vazio apoderou-se dele.

Alice continuava tratando-o como antes, era uma relação carinhosa e cheia de cumplicidade.

Mesmo assim, Arnaldo começou a pensar insistentemente na ex-mulher e nos filhos.
Ocultando de Alice, quando não suportou mais a pressão dos pensamentos obsessivos, ligou para sua antiga casa.
Lucrécia atendeu e exultou, porém disfarçou com um tom de voz formal.

- O que deseja?
Arnaldo pigarreou e não sabia o que dizer, afinal para que ligara?
Que estranho impulso o fizera discar o número de sua antiga residência?

Tentou ser natural:
— Liguei para saber se tem alguma notícia dos nossos filhos.
Afinal, nos separamos, mas não me separei dos meus filhos.
Sabe que os amo profundamente e jamais quero perder o contacto com eles.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 23, 2012 11:07 pm

Há meses que Arlete não vem me visitar nem me dá um telefonema.
O Eduardo é sempre muito atencioso, me manda cartões e nos falamos regularmente.
Mas hoje, em especial, bateu aquela saudade deles...

- Se gostasse realmente deles, não teria feito o que fez.
Deixar uma família bem constituída para viver com uma aventureira não é atitude de um pai amoroso que pensa nos filhos.

- Lucrécia, não torne mais difícil a situação.
Quando saí de casa nossos filhos já eram independentes.
Alice não é nenhuma aventureira, é moça nobre e muito sensata.
É duro dizer, mas você sabe que te deixei porque o nosso amor acabou.
Preferi ser verdadeiro.

As lágrimas começaram a rolar no rosto de Lucrécia, que decidiu finalizar a conversa.

- Se o que deseja é saber de seus filhos, pois bem, Arlete passou alguns dias dessa semana comigo, veio resolver uns problemas do Rio.
Mas a surpresa melhor tive hoje, pois o Eduardo me ligou dizendo que vai voltar a morar comigo aqui em São Paulo.

Arnaldo se alegrou.
Eduardo era o filho de que mais gostava.
Não conseguia esconder sua predilecção, o que deixava, muitas vezes, Arlete enciumada e com raiva.

Eduardo era culto, inteligente, perspicaz, maduro, tinha o porte atlético e arrancava suspiros por onde passava.

Lembrava muito Arnaldo quando jovem.
Ele se identificava muito com as ideias espirituais do filho, o qual era seu conselheiro.
Jamais poderia contar a Lucrécia que foi Eduardo quem o apoiou na separação, dando força para que ele saísse de casa e fosse feliz.

- Meu filho vai voltar a morar em São Paulo?
Não poderia acontecer coisa melhor. Quando vem?
- No início da próxima semana - falou Lucrécia sem muita vontade.
— Então me ligue assim que ele chegar, anote o número do meu celular.
Não posso deixar de passar aí para dar um abraço em meu filhão.

Quando o telefonema terminou, Lucrécia estava muito irritada.
Não aprovava a amizade profunda que existia entre pai e filho.
Eduardo tinha ideias avançadas para seu tempo e muitas vezes influenciava o pai a agir de forma inconsequente.

Foi para o quarto e deitou-se.
De repente, um pensamento lhe foi sugerido.

"E se a volta do Eduardo influenciar também a volta do Arnaldo para casa?
Tenho certeza de que essa ligação já foi o trabalho de pai Ernesto funcionando.
Como ele é bom!"

Animada, desceu as escadas, dispensou o motorista e foi dirigindo para o costumeiro salão de beleza que frequentava.

Resolveu ficar bonita, afinal, tudo mudaria em sua vida.
Pai Ernesto estava mostrando que tinha muito poder.

Depois que saiu do salão, foi às compras em badalado shopping e só retornou para casa muito tarde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:49 pm

6 - Negócios escusos

Assim que chegou ao Rio de Janeiro, Arlete tentou ser a mais amável das esposas.
Procurou dissimular o ódio que sentia ao imaginar que Bruno estava tendo um caso com outra e só pensava em como flagrá-los para aprontar mais um escândalo.

Arlete era formada em secretariado, mas quando se casou optou pela vida doméstica.
Seu sonho era muito simples:
ser casada, ter seu lar, seus filhos e viver para o marido.

Esse desejo casou-se com o de Bruno, que era machista e sonhava com uma mulher igual a sua mãe, que dedicasse sua vida a ele.
Conheceu Arlete em São Paulo, quando prestava serviços para empresa.
Do encontro casual ao namoro foi muito rápido, e logo os dois se viram apaixonados.

Havia um problema, no entanto:
eles moravam em cidades diferentes;
a solução foi ele pedir para ser transferido à filial de São Paulo.

Bruno não gostava dessa cidade, julgava-a sem atractivos, sem belezas naturais, e ainda havia seus pais que moravam no interior e ele os queria esquecer, mas por Arlete faria o sacrifício.

Em pouco tempo estavam casados e ele a convenceu a ir morar no Rio.
Lucrécia se opôs, mas Arlete já era maior de idade e seguiu com o marido.

Começou, para Arlete, o tempo da convivência matrimonial.
Bruno apresentou sua irmã Elza, que logo se tornou sua amiga, mas percebeu que entre ela e o irmão havia um segredo que, com o tempo, iria descobrir.
Bruno e Elza haviam feito sociedade com um grupo já reconhecido, e, como não tinham capital, entraram com o trabalho.

Chegavam em casa tarde, às vezes com o dia já claro.
Um dia Arlete acabou descobrindo que nos caminhões da firma ia droga, para ser entregue em outros estados.
Ficou assustada e procurou esquecer, mas na primeira briga revelou ao marido que sabia da verdade e que, se ele a deixasse, a polícia seria avisada de sua actividade ilícita.

Bruno e Elza entraram em pânico e até pensaram em matá-la, mas resolveram esperar, não podiam sujar as mãos daquela maneira, afinal, Arlete era filha de pessoas ricas e influentes, os dois poderiam ser desmascarados e seria pior.
Bruno resolveu, então, sujeitar-se ao que a mulher pedia ou fazia, porém era um homem sedutor e não se contentava somente com a esposa, sempre tinha amantes.

A cada descoberta era um escândalo.
Arlete, apesar de ter sido criada com a mais esmerada educação, quando se descobria traída fazia escândalo, perdia a compostura.

Naquela tarde, ela estava preparando o jantar.
Elza morava com eles desde o início do casamento, aliás, essa foi uma exigência do marido:
ter a irmã por perto. Ele se sentia responsável por ela.

Elza era sozinha, não tinha namorados, era sisuda e só vivia para os negócios.
Apesar de ter um bom dinheiro, ela nunca se decidia a comprar apartamento ou casa e ia ficando ali com eles.

Arlete terminou o jantar e ficou na sala vendo televisão.
Antes do horário costumeiro, Bruno e Elza chegaram com semblantes sérios mostrando preocupação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:49 pm

Enquanto Elza foi directo para seu quarto, Bruno abraçou e beijou a esposa, que inquiriu:
— Nossa, meu amor, o que está acontecendo?
Algum problema no trabalho?
— As mesmas coisas de sempre, nada que possa te preocupar.
A propósito, você chegou ontem de São Paulo e nem perguntei como está sua mãe.
Que falta de educação!

— Dona Lucrécia está bem, aliás, bem melhor que nós, vivendo naquela mansão todinha para ela.
— Você sempre soube que nunca fui rico como você e sabe que a casa que posso te dar é esta.
Senti uma pequena reclamação em seu comentário.

Arlete o beijou nos lábios, enquanto disse:
— Qualquer lugar do mundo com você é maravilhoso.
Mas bem que você poderia ir trabalhar lá na filial de São Paulo e irmos morar todos juntos na casa de mamãe.
Lá teria mais espaço até para nossos filhos, quando eles vierem.

— Você sabe que me irrito quando fala assim.
Meu trabalho é aqui no Rio, minha vida é aqui.
Não tente mudar minha vida.

Dizendo isso, saiu irritado e foi para o quarto.

Arlete sentiu que algo estranho estava acontecendo.
Bruno estava irritado, nervoso.
Algo muito sério estava ocorrendo no trabalho e só podia ser ligado ao tráfico.

Ficaria atenta para tentar descobrir.
Todas as noites, depois que ela dormia, Bruno levantava-se da cama e ia para a cozinha conversar com a irmã.
Certamente ela descobriria o que estava acontecendo.

Todos jantaram em silêncio.
Como sempre acontecia, Bruno, pela madrugada, levantou-se e foi para a cozinha, onde sua irmã impaciente e fumando muito já o esperava.

Arlete também se levantou e pé ante pé foi tentar ouvir algo.
Eles conversavam em voz baixa.

- Com o que nos aconteceu hoje, acho que realmente precisaremos ir embora do Rio.
Elza dizia furiosa:
- Eu não posso acreditar que fomos cometer aquele erro.
Tudo estava indo tão bem!

Bruno retorquiu:
- Não adianta nos culparmos agora.
O Leopoldo está seriamente desconfiado de que estamos fazendo algo errado na transportadora.
Se descobrir o que fazemos, estaremos perdidos.
Ele é um homem que gosta de tudo dentro da lei.

- Vamos dar um tempo e pedir transferência para a outra empresa de São Paulo.
Não podemos sair assim rápido.
Desde que soube da desconfiança dele, parei com todo o serviço e acredito que Leopoldo não encontrará nada de errado.
Somos os chefes daquele departamento e até hoje nada fizemos para levantar suspeitas, a não ser aquele telefonema que demos para o Olavinho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:50 pm

- Passaremos mais um mês aqui e depois diremos que nossos pais estão mal de saúde e que precisamos mudar de cidade para cuidar deles.

Elza fez um ar de incrédula.

- Não vai ser nada fácil.
Acha que Leopoldo fará a troca assim?
Nós somos muito eficientes aqui.
Talvez não consigamos.

Dois espíritos vestidos com trajes que lembravam os antigos inquisidores medievais entraram no ambiente e se aproximaram de Bruno.

Bruno, de repente, falou em tom mais alto:
- Tenho uma ideia.
O tráfico que ajudamos tem suas ligações em São Paulo.
Podemos prometer que lá o serviço será melhor, dobrado...

Elza estava sem entender.

— E o que isso tem a ver?
— Podemos accionar nossos contactos e pedir um favorzinho... — disse com expressão maquiavélica e sorriso irónico.
— Você está falando em código.
Não gosto disso, seja directo.
Estamos sozinhos aqui, a tonta da sua mulher a esta hora está no décimo sono.

— Então serei claro.
Os gerentes da transportadora lá são o Luciano e a Cleide.
Podemos dar a ficha deles a alguns de nossos contactos e pedir que os eliminem.
Com a Cleide e o Luciano mortos, pediremos a transferência, que nos será muito facilitada.
Não acha fantástico meu plano?

— Não sou contra matar, mas só em último caso.
Não acho necessárias essas mortes.
— E o que faremos?
O telefonema do Olavinho foi gravado, se continuarmos aqui teremos de servir ao Macedo do mesmo jeito, transportando a cocaína.
Logo seremos descobertos e, como a corda só arrebenta do lado mais fraco, seremos indiciados por crime hediondo inafiançável.
E isso o que quer para sua vida?

Elza acendeu mais um cigarro e concluiu:
- Você está certo, aliás, como sempre.
Então, a partir de amanhã começaremos nossos planos.
Agora me responda: o que vai fazer com a Diva?
Não está apaixonado por ela?

— É claro que darei um jeito de levar a Diva comigo, não a deixo por nada.
— Às vezes não entendo por que você não deixa logo a Arlete e assume que está com outra.
Afinal, você casou por interesse, mas agora, com o dinheiro que conseguiu, não precisa mais dela para nada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:50 pm

Bruno enfureceu-se.

— Você parece que não pensa.
Tenho dinheiro, mas nasci numa família pobre em Guararema, nunca terei o prestígio social que tanto almejo se deixar Arlete e me casar com uma mulher como a Diva.
Além de dinheiro, quero ser reconhecido socialmente.
A família de Arlete em São Paulo é muito bem-vista na sociedade.

O velho Cardoso, pai da dona Lucrécia, foi um barão do café muito influente.
Apesar de ela estar separada agora, o nome da família continua tendo prestígio.
Jamais deixarei Arlete. Jamais!

- Mas esse nome aqui no Rio de Janeiro de nada vale.
- Você é que pensa.
A família de Arlete tem parentes até no governo.
Elza sorriu.
- Você realmente pensa alto.
Agora vamos dormir que amanhã o dia será longo.

Eles não viram que Arlete estava escutando tudo e chorando copiosamente.
Quando viu que a conversa estava encerrada, saiu rapidamente, meteu-se debaixo das cobertas e fingiu estar em sono profundo.

Mas não conseguiu mais dormir.
Lembrou--se de seus sonhos de juventude, em que se via amada, cuidando do lar com desvelo e amor.
Recordou os primeiros encontros com Bruno, de sua falsa sinceridade, de seus olhos demonstrando amor e paixão.

Como fora se enganar tanto?
Mas, apesar de tudo, amava o marido com todas as forças de seu coração e jamais iria perdê-lo.

De repente, pensou que sua ida para São Paulo seria providencial.
Lá, pai Ernesto, que certamente afastaria Diva de seu caminho, iria fazer outro feitiço, agora para que Bruno a amasse de verdade.

Todos os dias Arlete agradecia a Deus pelas pessoas que entendiam de magia e realizavam, assim, o desejo das outras.
O que Arlete não sabia era que, envolvendo-se com energias negativas do astral inferior, estava cada vez mais se comprometendo com a própria consciência e, terminado o prazo da magia, tudo iria ruir, destruindo de vez todos os seus sonhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:50 pm

7 - O amor e o apego

Lucrécia acordou animada.
Era o dia em que seu filho Eduardo estaria de volta a São Paulo.
Arrumou-se com esmero, pois o esperaria no aeroporto de Guarulhos.

Enquanto se enfeitava, procurou ser o mais provocante possível, apesar de já não conseguir pelo peso da idade, pois Arnaldo tinha adoração pelo filho e certamente estaria lá a esperá-lo.
Desceu as escadas e ficou fazendo hora, folheando uma revista da moda.
Quando ia pedir para o motorista tirar o carro, percebeu que alguém abria a porta.

Surpreendeu-se.

- Arnaldo? O que faz aqui?
Ele pigarreou e respondeu:
- Vim buscá-la para que, juntos, possamos ir esperar nosso filho.
Parece que não o vejo há séculos.
Essa volta do Eduardo foi o que de melhor me aconteceu ultimamente.

Lucrécia observou bem o ex-marido e pôde notar que ele não estava bem psicológica e fisicamente.
Ela o conhecia o suficiente para saber que algo o abalava.

Depois, era muito estranho o Arnaldo vir buscá-la.
Será que já era o trabalho de pai Ernesto funcionando?
Se fosse, ela teria motivos de sobra para comemorar.

A curiosidade foi maior, e ela perguntou:
— Você está bem?
Noto que está com olheiras, emagreceu e seu rosto está abatido.
Parece que envelheceu uns dez anos.

- Não seja exagerada.
Nada de mais está acontecendo comigo.
Na realidade, desde o dia que minha pressão subiu eu não recuperei a saúde.
Os médicos dizem que está tudo bem comigo, que tenho a saúde perfeita.

Mas me sinto mal, tenho dores de cabeça, mal-estar, enjoo e o que mais está me deixando preocupado é a insónia.

Há dias que não consigo fechar os olhos durante a noite.
Viro na cama e, quando cochilo, tenho sonhos horríveis.
Tenho pensado em procurar um psiquiatra.
O doutor Rodrigues me indicou.

- Psiquiatra? Acha que é para tanto?
Eu acho que o problema é com sua amante, provavelmente deve ter estourado todos os seus cartões de crédito e não deve lhe dar sossego.

Arnaldo arrependeu-se de falar sobre seu estado com Lucrécia, mas disse:
- Não é nada com Alice.
Já disse que vivemos muito bem.
Até me arrependi de ter falado com você sobre meus problemas de saúde.
Vejo que não mudou nada depois da separação, continua a mesma mulher de antes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:50 pm

Lucrécia ofendeu-se.
- Como assim? O que pode haver de errado comigo?
Não tenho culpa se os anos passaram e seja não sou a garotinha com quem se casou.

- Lucrécia — disse Arnaldo em tom lamentoso - vamos parar por aqui para que não nos ofendamos ainda mais.
O nosso objectivo hoje é receber nosso filho, e para isso precisamos estar bem.
Nada seria pior para o Eduardo que o fôssemos receber com esses rostos compungidos e esse ar de derrotismo.

Vamos nos esforçar para que ele se sinta bem aqui.
Temo que Eduardo não fique bem com você.
Desde os dezanove anos é independente, mora fora, é feliz.
Não quero que se sinta mal aqui.

Lucrécia sentiu-se ofendida.
Logo ela fazer mal ao filho!
Mas resolveu não discutir, Arnaldo estava diferente.

De repente, pensou que ele fora lhe buscar para agradar ao filho, e não tinha nada a ver com o trabalho do pai de santo.
Sentiu-se depressiva, mas tentou se mostrar na melhor forma possível.

Já no carro com o ex-marido, Lucrécia quase não conversou, dando asas à imaginação, pensando estar com ele novamente e que tudo era como antes.
Como o amava!
Se soubesse o que tinha causado de facto a separação, faria de tudo para evitá-la.
Se pudesse, voltaria no tempo.

Algumas amigas diziam que os homens acabam se afastando das mulheres que só cuidam do lar, dos filhos, dos problemas domésticos, e que preferem as ardentes e sensuais.
Ela nunca fora sensual.
Aprendera que era venalidade mostrar que sentia desejo, e que só aos homens isso era permitido.

Será que se tivesse sido boa amante Arnaldo a teria deixado?
Essas e outras perguntas ocuparam sua mente durante o trajecto de casa até o aeroporto.
Reconhecia que nos últimos tempos já não caprichava no visual nem fazia coisas para agradar ao marido.

Quando ele a deixou de procurar na cama, conversou com uma amiga, que disse:
— É assim mesmo que acontece.
Todo casamento é igual.
No princípio são flores, mas os homens são venais, gostam de sexo, e nós, mulheres de respeito, não podemos fazer tudo o que eles querem.
Se fizermos, onde estará nossa dignidade?
É natural que procurem as mulheres de vida fácil para conseguir a satisfação dos baixos instintos.

Lucrécia questionou:
— Então passarei a viver sem sexo?
Zélia respondeu:
- Temos de nos acostumar.
Chega um ponto no casamento que todo marido deixa de procurar a mulher, é natural.
Procure se conformar, desenvolva actividades filantrópicas para gastar suas energias.
Envolva-se com tarefas assistenciais, com arte, pintura e se sentirá completa.
Verá que com o tempo o sexo não lhe fará falta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:50 pm

Ingenuamente, Lucrécia acreditou naquelas palavras e procurou segui-las.
Mas nenhuma tarefa que tentou fazer lhe agradara.
Não era dada a artes, nunca aprendera a bordar, costurar, pintar, coisas que as mulheres de sua época haviam aprendido.
Havia o piano, mas não sentia estímulo para dedilhá-lo.

Então, foi ficando por ali, tentando se interessar pelos adornos da casa, pela organização do lar.
Tentou trabalhos assistenciais, mas descobriu que não tinha o dom para a caridade.

O carro parou, e só então ela despertou para a realidade.
Estavam no aeroporto e, pouco depois, quando viram Eduardo empurrando seu carrinho, correram para abraçá-lo.

Eduardo era um jovem de beleza majestosa.
Era louro como a mãe, mas havia puxado os traços fortes do pai, que demonstrava no rosto.
Gostava de academias de ginástica e musculação, tinha o corpo perfeito.

Os pais o adoravam.
Durante o trajecto de volta para casa, crivaram-no de perguntas:
"O que estava fazendo?", "O que pretendia, de facto, em São Paulo?"

Eduardo ia respondendo àquela avalanche e sorria com a curiosidade dos pais.
Ao sorrir, mostrava os dentes alvos, enfileirados e perfeitos, que se casavam perfeitamente com o par de olhos, que ora estava azul-celeste, ora prateado.

Ao chegarem em casa, foram para a sala.
Arnaldo pareceu haver remoçado, de tão feliz próximo do filho.

Lucrécia, ao vê-los em colóquio, lembrou-se do que o ex-marido lhe dizia:
- Eduardo saiu a mim em tudo.
Nunca vi um filho se parecer tanto com o pai dessa maneira.
E destemido, estudioso, sabe aproveitar as oportunidades.
Tem meu porte, meu rosto. É tudo para mim!

Lucrécia não gostava e dizia:
- Pare com isso, a Arlete já percebeu sua predilecção e sofre com essa situação.
Essa sua mania de mostrar em exagero o que sente ainda vai deixá-lo em maus lençóis.

Mas Arnaldo não ouvia e desfilava com o filho adolescente por todos os lados.
Naquela época, eles tinham intensa vida social e quase sempre a família aparecia nas mais diversas revistas da moda.
Nunca havia fotos de Arlete com o pai, apenas de Eduardo.

Um dia, ao chegar em casa, Eduardo comentou:
- Pai, recebi uma proposta para trabalhar no Sul e estou deixando esta casa.
Foi como se uma bomba tivesse caído sobre Arnaldo, que contra-argumentou com veemência:
- Filho, como pode fazer isso?
Você tem apenas dezanove anos!
A lei não permite que vá morar em outro estado sozinho, é menor.
Afinal, que empresa é essa que está agindo fora da lei e empregando jovens menores de idade fora de sua cidade?

- Não é fora da lei.
É uma empresa que fornece cursos técnicos para quem quer aprender, e quem é aprovado passa a trabalhar.
Recruta jovens com autorização judicial dos pais e é no ramo que eu gosto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:51 pm

Arnaldo protestava sem entender.
— Mas filho, aqui em São Paulo há tudo o que um jovem possa querer para progredir e ter sucesso na vida.
Não posso permitir — disse gritando e fora de si.

Eduardo foi para o quarto e ficou depressivo.
Sabia que em São Paulo poderia fazer exactamente o que iria fazer no Sul, mas queria ser livre, independente, e o pai o estava sufocando muito.

Queria treinar o desapego.
Espírito livre e evoluído, não gostava de ficar preso a nada que o contrariasse.

Os pais perceberam a situação e o levaram ao médico da família, que disse:
- É melhor deixar que o filho de vocês se vá.
É jovem, tem espírito aventureiro.
Se permanecer onde está e como está adoecerá.

Faça o que é melhor para ele.
Aprenda, Arnaldo, que nossos filhos não são nossos, mas sim da vida.
Um dia todos teremos de nos separar para cada um seguir experiências diferentes.
O apego é ruim e prejudica mais do que ajuda. Liberte sua criança.

Arnaldo chorava copiosamente.
Era duro demais separar-se da pessoa que mais amava no mundo.
Lucrécia também sofria, mas entendia que Eduardo era maduro o suficiente para morar só e cuidar de si mesmo, queria o bem do filho.

Arnaldo não gostava de sua atitude e a acusava de não amar o filho tanto quanto ele.

A situação foi resolvida e Eduardo partiu.
Então, Arnaldo adoeceu.
Entrou em profunda depressão, abandonou o escritório e foi para uma fazenda que tinha no interior, lá, em meio ao verde, ao som das águas do córrego, conseguiu se acalmar.

Um dia, enquanto estava na grama chorando, sentiu um torpor e percebeu que alguém se aproximava:
era um anjo com asas, muito luminoso.
Arnaldo sempre fora católico e, embora não praticasse a religião, acreditava em anjos guardiões.

Sem entender bem o que estava acontecendo, perguntou:
— O que deseja aqui?
O espírito fixou-o profundamente e disse:
— Retome sua vida e procure a paz.
A paixão tolda a razão e nos afasta do verdadeiro amor.
É hora de libertar Eduardo de uma vez por todas, de lembrar que ele é seu filho e que, portanto, deve amá-lo como tal.

O passado é para nós, muitas vezes, motivo de alegria e felicidade, mas é preciso deixar que ele se vá para que possamos ser felizes.
O preço da liberdade é desamarrar todos os nós que nos incomodam e fazem sofrer.
Entenda isso e procure ser feliz.

O espírito desapareceu muito rápido, mas Arnaldo nunca mais esqueceu aquela visão.
Porém, não contou a ninguém, pois todos iriam achar que ele era louco.

Depois disso ele melhorou.
A saudade do filho ficou menor.
Mesmo assim, eles se correspondiam com frequência, e foi com felicidade que tempos depois puderam presenciar sua formatura em Administração de Empresas.

Naquela hora Arnaldo reconheceu que tudo foi para o melhor.
Na grande sala da casa de Lucrécia, todos ainda enchiam Eduardo de perguntas.

Passava da meia-noite quando Arnaldo foi embora e mãe e filho foram dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:51 pm

8 - O casamento e as convenções sociais

Após o farto desjejum, Lucrécia foi sentar-se com Eduardo num dos bancos do jardim para conversar.
Era muito agradável sentir o cheiro fresco da manhã e o perfume das flores, e ela queria aproveitar enquanto o filho ainda estava em casa arrumando suas coisas, antes de começar o trabalho.

— Imagino a vontade louca de seu pai de estar aqui agora conversando com você.
Mas, infelizmente, não pode, deixou a família e vive só para aquela patricinha, que se diverte em gastar todo o dinheiro dele.
Se estivesse connosco, poderia desfrutar muito mais de sua companhia, já que é apaixonado por você.

Eduardo a olhou seriamente, enquanto dizia:
— Apesar de o meu pai estar morando em outro lugar e com outra pessoa, não vou me privar de sua companhia.
Saiba que pretendo estar com ele o máximo de tempo possível, o quanto meu trabalho me permitir.
Irei visitá-lo e desejar-lhe boa sorte com sua nova companheira.

Lucrécia sentia-se magoada, porém, já sabia como Eduardo pensava e também que não fazia para ofendê-la.

Mesmo assim, deixando uma lágrima teimosa cair do canto de um dos olhos, comentou:
— Não consigo entender como age com tanta naturalidade.
Afinal, não estamos falando de um assunto qualquer que está acontecendo com outra família.
Estamos falando de um lar que desmoronou por causa do adultério, e este lar é o nosso.
Não vê como sofro com isso?

Eduardo não se perturbou.

— A senhora está sendo dramática como sempre.
Consigo ver com naturalidade porque enxergo com os olhos da alma.
Quando um casamento não dá certo, só há duas saídas: a separação ou a acomodação.
Meu pai preferiu ser verdadeiro a ter de viver comodamente num lar e ter amantes fora.

Foi decidido e seguro.
Sei que é duro para uma mulher perder seu marido para outra, mas tudo fica fácil quando percebemos que cada pessoa age de acordo com seu nível de evolução espiritual.
O facto de meu pai pedir o divórcio demonstra que tem maturidade, que sabe que pode ser feliz e refazer sua vida.

Nesse momento, Lucrécia já não continha o pranto.

Entre soluços, retorquiu:
— E a mulher, onde fica?
Abandonada?
Deixada de lado após tantos anos de dedicação e renúncia?

— Olha, mãe, quando um casamento termina, não é apenas o homem o responsável.
A mulher é que, na maioria das vezes, destrói o próprio lar.
O homem procura intimamente uma companheira, uma mulher interessante, que saiba conversar sobre tudo, que seja arguta, inteligente, sensual, boa amante e que saiba conduzir com firmeza a família e os filhos.

A educação errada da sociedade mata a mulher e deixa em seu lugar somente a empregada ou uma segunda mãe.
As mulheres, quando casam, estão cheias de sonhos, mas a maioria está iludida, acreditando que, cumprindo as regras da sociedade, garantirão o casamento.

— E não é assim que acontece?
— Não, e a vida mostra isso todos os dias.
A esposa que se abandona em favor do lar e dos filhos empurra inconscientemente o marido para uma amante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:51 pm

Lucrécia estava incrédula:
— Que horror!
Do jeito que você fala, eu fui a culpada de o Arnaldo ter me deixado.

— Isso eu não sei, só a senhora é que pode se avaliar e descobrir.
Há também casamentos que não são feitos para durar.
Em um relacionamento amoroso o que conta é a aprendizagem.
A vida une e separa as pessoas conforme suas necessidades de evolução.

- Você fala diferente...
Está seguindo alguma religião?
Dessas que passam na televisão?

Eduardo riu com gosto e respondeu:
— Não, minha mãe.
Sou espírita já alguns anos e tenho estudado a vida e como ela funciona.
Não tenho religião.

— Mas o espiritismo não é uma religião? — Lucrécia estava curiosa, afinal, estava frequentando um lugar que julgava ser espírita.
— Não. O espiritismo não é religião, é uma filosofia que nos foi trazida pelos espíritos superiores e organizada em livros por Allan Kardec.
Dessa organização surgiram O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Génese.
Trata-se de uma filosofia séria, baseada em princípios científicos e que vem mostrar verdades que os homens se debatem há milénios, buscando-as sem encontrar.

— Então deve ser a única filosofia verdadeira...
— Em hipótese alguma.
O espiritismo não diz a última palavra sobre assunto algum, a revelação é progressiva.
Há, também, outras escolas que estudam a vida e que estão certas em suas verdades.
Por isso buscamos ser espiritualistas independentes e procurar a verdade sem a necessidade de rótulos.

Lucrécia, quase sem querer, acabou falando:
- O que sei é que os espíritas são muito bons, ajudam as pessoas a resolver seus problemas.
Só acho que eles cobram muito caro pelas consultas.
Uma amiga foi a um terreiro espírita fazer um trabalho e está gastando muito.
Já que eles pregam a caridade, deveriam fazer tudo de graça.

Eduardo olhou-a fixamente, enquanto disse:
- É preciso cuidado.
Terreiros, pais-de-santo, trabalhos de magia não pertencem ao espiritismo, e nem sempre estão ligados à espiritualidade elevada.
Se cobram pelas consultas, muito pior.

O trabalho com os espíritos superiores jamais deve ser cobrado, o médium que faz de sua mediunidade um comércio responderá no futuro às leis divinas pelo que fez.
Geralmente, esses trabalhos são feitos por entidades negativas, que vivem nas trevas e depois voltam para cobrar pelo que fizeram.

De repente, Eduardo perguntou, movido por rápida intuição:
- A senhora não está metida nisso, não é?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:51 pm

Lucrécia corou rapidamente, mas logo se recompôs.

- Não! De forma alguma.
A Zélia que procurou um pai de santo que vem tirando todo o seu dinheiro.
- Fiquei aliviado.
Mas, quando puder, diga à sua amiga que ela precisa parar enquanto é tempo.
Esses trabalhos têm um preço alto, e quem os faz terá de pagar, mais cedo ou mais tarde.

Lucrécia sentiu um arrepio estranho, não estava gostando daquela conversa.

- O que pode acontecer com quem encomenda um trabalho de magia?
- Muitas coisas.
Os espíritos que fazem esse tipo de trabalho sempre querem algo em troca.
Muitas vezes são objectos, sangue de animais, álcool, fumo.
Mas quem faz um trabalho assim fica comprometido perante as leis universais, e, por mais que consiga seu objectivo, jamais será feliz.

Terá por companhia espíritos doentes e perturbados, que sugarão suas energias e, quando desencarnar, poderá vir a ser escravo deles no astral, vivendo como cobaia em suas experiências.

Lucrécia ficou apavorada e resolveu mudar o rumo da conversa.

- Diga-me, quando vai me dar um neto?
Estou ansiosa pelo meu primeiro.
Arlete já é casada há alguns anos e nada, e você parece que nem pensa em nada sério.
Pensei que fosse trazer junto com a bagagem uma mulher.

Ambos riram.

Eduardo ponderou:
- É melhor esquecer essa história de neto de minha parte.
Não penso em me casar e muito menos em ter filhos.
- Por quê? Um homem lindo como você ficar solteirão?
Que desperdício! — falou melosa.

- Desejo ser livre, viver a vida do meu jeito, e uma pessoa ao lado está sempre disposta a atrapalhar.
Gosto de namorar, curtir um bom romance, mas quando começa a ficar sério eu termino.
Do amor só quero a melhor parte.
A convivência, muitas vezes, destrói todo o encantamento.

- Por acaso é contra o casamento?
- É claro que não.
Mas para casar há que existir amor verdadeiro, sem o qual nenhum casamento tem sucesso.
Depois, as pessoas gostam de fazer do relacionamento uma muleta.
Vivem pendurados um no outro.
Definitivamente, eu não tenho vocação para o casamento.

— Mas ninguém pode levar uma vida inteira só namorando, sem ter algo sério.
E quando a velhice chegar, e a solidão?
— A solidão é a falta da própria companhia.
Eu, por exemplo, nunca me sinto só, pois estou sempre comigo, do meu lado, além disso faço somente o que gosto e o que me dá prazer.
Depois, casamento não é garantia de companhia.
A senhora, por exemplo, casou-se, teve filhos e hoje está só.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:52 pm

— Bem lembrado. Mas o que vou fazer se fui trocada?
Na minha idade é feio tentar encontrar outro parceiro e, na realidade, ainda amo o seu pai.
Faria tudo para tê-lo de volta.
— Nesse caso, é bom tentar esquecer o senhor Arnaldo.
Conheço muito bem o meu pai.
Ele está realmente amando Alice e deixou de amar a senhora.

- Você, às vezes, chega a ser cruel!
— Sou verdadeiro.
Se o ama de verdade, guarde esse amor no seu coração e vá viver.
Procure se interessar por outras pessoas, amar de novo.
Nosso coração é grande e não amamos apenas uma vez.
Quero sua felicidade, mas vejo que a tem colocado nas mãos do papai.

Isso é muito ruim.
Nossa felicidade não depende de ninguém, apenas de nós mesmos.
Vou morar aqui e quero que muita coisa mude.
Desejo que saia mais, chame suas amigas, a Zélia, a Hilda e as outras e procure se distrair.

Não é bom ficar em casa remoendo o passado.
Uma separação para uma mulher traz um recado:
é hora de cuidar de si mesma, de se permitir ser feliz.
Aquela que corre atrás do marido que a deixou, além de perder seu tempo, cria nele uma aversão que o deixará ainda mais longe.

Lucrécia estava confusa.
Talvez não tivesse sido uma boa ideia Eduardo ter vindo morar em São Paulo.
Ele era exótico, tinha ideias diferentes da maioria das pessoas, era estranho.

Mas era seu filho.
Fingiu aceitar o que ele disse e, quando Célia trouxe a bandeja com o lanche, já estavam falando sobre seu trabalho.

- Vou gerenciar uma loja de departamentos aqui em São Paulo.
Nossa empresa cresceu muito lá no Sul e estamos abrindo filiais em vários outros estados.
- Você diz "nossa" como se algo ali lhe pertencesse.
Li nos jornais que o dono é podre de rico.
- O Galvão realmente é muito próspero, mas saiba que comprei acções da empresa, também sou dono.

Lucrécia estava cada vez mais surpresa com o filho.

- Como conseguiu comprar acções tão caras?
- Não são muitas, mas penso em crescer, obter mais.
Durante o tempo em que vivi no Sul, procurei usar apenas o necessário, economizei, prestei serviços a outras empresas e resolvi apostar nessas acções.
Não me arrependo, sei que fiz a coisa certa.

- Não é à toa o orgulho que seu pai sente por você.
É o filho que pediu a Deus.

Eles terminaram de lanchar e entraram.
Eduardo foi para o quarto e, como a empregada já havia arrumado todas as suas roupas, resolveu arrumar seus livros numa pequena estante que ficava no canto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:52 pm

Logo surgiram os livros espíritas, tanto científicos quanto romanceados, livros de auto-ajuda que tanto lhe fascinavam e uma colecção de revistas espíritas.

Eduardo procuraria um centro espírita em São Paulo pelo qual tivesse afinidade para frequentar.
Não era médium, mas um estudioso e pretendia continuar seus estudos espiritualistas, que haviam começado no Sul.

Em seu quarto, Lucrécia tentava tapar o rosto com as almofadas, rolando nervosa de um lado a outro da cama.
Não havia gostado do que Eduardo falara a respeito das magias nem havia concordado que fora ela a culpada pelo fim do casamento.

Pensava que Eduardo era jovem e, por isso, nada entendia da vida.

Ao seu lado, dois espíritos rodopiavam e diziam:
"Isso mesmo, seu filho é um louco que quer confundi-la.
Pai Ernesto é que é bom e vai trazer seu marido de volta".

Ela não ouviu, mas, de repente, pensou:
"O que importa é que pai Ernesto vai trazer meu marido de volta.
Onde já se viu uma mulher na minha idade sair à cata de homem?
Eduardo só pode estar louco!"

Os espíritos gargalharam e, logo depois, quando viram que Lucrécia estava dominada por eles, saíram do ambiente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:52 pm

9 - Vítima da maldade

Bruno e Elza conseguiram com facilidade tudo o que pretendiam, mesmo tendo sido necessário matar.

Ao comunicar à esposa que eles agora passariam a residir em São Paulo, ela não demonstrou nenhuma surpresa no rosto nem contestou, o que deixou Bruno muito desconfiado.

Será que Arlete escutava suas conversas com Elza durante as madrugadas?
Ela já havia descoberto o segredo dele na transportadora, mas jamais poderia saber certos detalhes.

Ficou apreensivo durante um tempo, mas depois resolveu esquecer.
A volta foi calma, e logo se instalaram numa grande casa no Ipiranga.
O bairro ficava distante da residência de Lucrécia, mas Bruno tinha carro e, sempre que podia, Arlete estava com a mãe e, agora, com Eduardo.

Numa noite, enquanto Arlete dormia profundamente, Bruno rolava insone sem saber o que tinha acontecido ao certo com Diva.
Começou a relembrar desde o dia em que lhe disse que ia para outra cidade.

Estavam num motel e, quando ele terminou as explicações, Diva protestou:
— Você sabe que não posso sair daqui e ir com você.
Tenho mãe doente, meu pai é aposentado, o dinheiro em casa mal dá para os remédios.
Sou a caçula e tenho de zelar por eles.
Mas me dói deixá-lo ir e só vê-lo vez por outra — disse quase soluçando.

Bruno gostava de Diva com todas as forças de sua sensualidade.
Seu sorriso maroto, seu jeito de menina, mesmo já passando dos trinta, deixava-o inebriado.
Além do que era excelente amante, coisa que todo homem desejava.

Não podia e não ia ficar sem ela.

- Você terá de vir comigo, amor.
Como poderemos ficar tão longe um do outro?
Você sabe que meu trabalho exige muito de mim, não terei tempo nem tantas desculpas para estar no Rio todo fim de semana, você aguentará ficar sem seu moreno?

Ela se derreteu toda:
— Você tem razão.
Não posso de forma alguma vê-lo longe, já me basta a condição de amante.
Direi aos meus pais que encontrei uma excelente proposta de emprego em São Paulo e que estou partindo.

Laura é casada e mora perto, tem um bom trabalho, poderá arrumar uma empregada para cuidar dos meus pais ou, então, ela pode ir com o Durval e a Cíntia morar lá em casa, o espaço é grande e dá para todos.
Além do mais, tem o meu irmão mais velho, que tem dinheiro e poderá fazer algo, se acontecer o pior.

Bruno estava feliz, conseguia sempre tudo o que desejava.

Sorrindo, falou:
— Não disse que você encontraria a solução?
— Por amor faço tudo!
Os dois trocaram beijos apaixonados, depois ela perguntou:
— Quanto tempo tenho para arrumar minhas coisas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 24, 2012 11:52 pm

— Quinze dias, no máximo.
Estou cuidando da minha transferência e a da minha irmã e devo demorar por causa da burocracia.
Havia um casal que fazia esse trabalho lá em São Paulo, mas foram assaltados e mortos misteriosamente, não há ninguém para substituí-los melhor que eu e a Elza.

— E aqui? Quem fará o trabalho de vocês?
— Aqui é mais fácil.
A empresa já tem pessoas à nossa altura, enquanto lá eles não encontraram gente de confiança.
Mas não vamos ficar aqui falando de empresa, que você não entende nada.
Vamos nos amar mais uma vez e depois você segue para casa e começa a arrumar suas coisas.
Dentro de quinze dias partiremos.

Depois que eles saíram do motel, Diva pediu um táxi e desceu numa avenida próxima a sua casa.
Ela não queria que a vissem chegando de carro.
Diva morava numa rua pobre, no terceiro andar de um prédio antigo, que pela aparência havia anos que não era reformado.

Andando pela calçada, ela ia reflectindo.
Apesar de amar os pais e se apiedar da situação em que viviam, ela não podia ficar sem o homem amado e, além disso, não estava suportando a vida que levava.

Não tinha curso superior nem emprego fixo.
Para ajudar na renda doméstica, ela fez testes, foi aprovada e passou a ser diarista em casas de bairros mais abastados.

Foi lá que conheceu Bruno, quando trabalhava em sua casa, e ambos se apaixonaram.
Ele amou-a pela primeira vez dentro da própria casa, e ela ficou feliz em vê-lo com tanta coragem.

Enquanto ia pensando e andando devagar, não notou que sombras sinistras se aproximavam dela.
Muitas já viviam com ela pelo teor de seus pensamentos e suas acções, mas as outras acabavam de chegar com um plano pronto para tirá-la do caminho de Arlete.

Eram espíritos que trabalhavam no terreiro de pai Ernesto.
Diva estava subindo as escadas e, quando chegou no topo, sentiu um forte empurrão que a fez rolar escada abaixo.
Caiu desmaiada.

A dona do prédio, uma senhora magra e de cabelos compridos amarrados em rabo de cavalo, ouviu o barulho, mas quando chegou já era tarde.

Diva estava sangrando e parecia morta.
Logo, outros vizinhos começaram a chegar e providenciaram um carro, levando-a para um pronto-socorro.

Após o atendimento, a enfermeira disse:
- Ela está mal e pode entrar em coma.
Devem removê-la daqui, pois precisa de uma UTI.
A pancada atingiu a nuca, e ela deve fazer exames para ver até que ponto o cérebro foi atingido.
Há um corte profundo e hemorragia.

Firmina era mulher ágil e, como dona do prédio, sabia que não podia contar com a ajuda dos pais de Diva, que eram pobres e doentes.
Do próprio hospital ligou para Álvaro, irmão abastado da moça, que logo tomou todas as providências.

Diva foi internada num hospital particular e os exames mostraram que a queda tinha provocado uma grande lesão cerebral, ela precisava ser operada.
Todos se enterneceram.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:04 pm

A família, em estado de oração, ficou pelos corredores do hospital, até que um dos médicos saiu e falou:
- A cirurgia foi um sucesso, mas ela está em coma profundo, o que nesses casos não é anormal.
Após algumas horas, vamos reavaliar o caso e saber com mais precisão o que fazer.
Se permanecer no coma, não saberemos quando vai despertar.
Vão descansar e amanhã, no horário de visitas, poderão retornar.

- Eu gostaria de estar aqui quando Diva acordar, quero dormir no hospital - disse Eva, que era esposa de Álvaro e muito amiga de Diva e, além de tudo, sua confidente.
Sabia do relacionamento que ela mantinha com Bruno.

O médico alertou:
- Você pode alugar um quarto e ficar, mas só poderá entrar na UTI para vê-la nas horas certas.
- Obedecerei, mas tenho certeza de que ela acordará logo e ficará muito feliz com a minha presença.

Álvaro não gostou, mas não queria contrariar a mulher e acabou permitindo.
Ele sempre tentou ajudar a família, mas seu Onofre e dona Edionor eram muito orgulhosos e não aceitavam nenhuma ajuda dele.
Viviam quase na miséria, não fosse o salário que Diva ganhava como diarista.

Ao sair do hospital, resolveu ir para casa e tentar consolar os pais.
O espírito de Diva acordou pouco depois da cirurgia e pairava alguns centímetros acima do físico.

De repente, recebeu um puxão e uma mulher vestida com uma túnica preta a olhou com ironia e falou:
- Nunca mais acordará desse estado em que está.
Diva estava confusa.
- Que estado?

- Não percebeu ainda que está em coma na UTI de um hospital?
Ela pensou estar sonhando, mas olhou em volta e viu seu corpo cheio de tubos e fios.
Aturdida e muito nervosa, começou a gritar.
- Quero sair daqui, você é uma louca!
Como posso estar naquela cama e ao mesmo tempo aqui?
Isso é um delírio que logo vai passar.

Mas não passou.
Diva, desesperada, sentou-se no chão e passou a esperar para ver o que acontecia.
A mulher com aspecto terrível e amedrontador estava com ela e não a deixava um instante sequer.

Ela via o médico entrar de quando em vez e também as enfermeiras e, ao concluir que realmente estava em coma e ao mesmo tempo viva, desmaiou.

Quando acordou, algum tempo mais tarde, a mulher estava ao seu lado e lhe disse:
- Quanto tempo pretende ficar assim?
Precisa aceitar a realidade.

Ela tomou forças e perguntou:
- Que realidade?
— Nós, eu e meus amigos, te empurramos daquela escada e você entrou em coma.
Não poderá mais viajar com seu amante e ficará presa a uma cama de hospital.
Vai demorar muito tempo para acordar, o tempo suficiente para Bruno te esquecer.

- Por que estão fazendo isso comigo? - perguntou Diva entre lágrimas.
- Trabalhamos para pai Ernesto e fazemos tudo o que ele manda.
— Pai quem?
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Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:05 pm

A outra falava orgulhosa:
— É um pai de santo muito bom, que mora em São Paulo.

Ela parou, abriu uma bolsa que trazia consigo e dela retirou uma foto.

— Conhece essa moça?
De pronto Diva não conseguiu lembrar, mas a cabo de poucos segundos reconheceu Arlete, esposa de Bruno.
Tinha certeza de que era ela, pois um dia, remexendo na carteira dele, havia visto aquela mesma fotografia.

- Essa é Arlete, mulher do Bruno, que como você mesma já disse é meu amante.
Mas o que tem ela a ver com tudo isso?
— Tudo a ver, queridinha.
Arlete é moça esperta e ama o marido.
Sentiu que estava sendo traída e procurou os serviços de pai Ernesto.
Fizemos um trato: tiraríamos você do caminho dela e ela nos daria outras coisas.

Primeiro tentamos fazer com que vocês brigassem e ele se desinteressasse, mas não conseguimos.
Com uma peça íntima dele tentamos baixar o teor das energias sexuais que ele possui, mas também não conseguimos.
Até que o exu que comanda pai Ernesto sugeriu esse plano.

Diva estava aterrorizada e gritou:
- Afaste-se de mim, saia!
A outra gargalhou.
- Minha função aqui é fazer com que você não retome o corpo de forma alguma.
Não conseguimos matá-la.
Tem um filho do Cordeiro que protege seu cordão de prata para que não morra, talvez porque não seja mesmo seu dia, sei lá.
Mas o que importa, para nós, é que você fique inconsciente e ele a esqueça.

- E por que esse mesmo filho do Cordeiro não me protege e não me tira do coma?
- Bem se vê que você não sabe nada.
Ao se meter com um homem casado, você ficou sem protecção espiritual.
Tudo piorou quando você passou a alimentar o desejo íntimo de separá-lo da esposa, fixando na mente planos mórbidos.

Não venha querer me enganar.
Sei que de santa você não tem nada.

Diva, meio zonza, ainda conseguiu protestar:
- Muitas mulheres têm romance com homens casados na Terra e nem por isso algo acontece com elas.
- Mas elas não sabem quanto ficam sem protecção.
Na comunidade em que vivo, o sexo é livre e o casamento não é respeitado, mas os seres da luz não aprovam quem comete traições conjugais na Terra, e deixam essas pessoas livres para sofrer as consequências.

- Então estou sendo punida?
— Deve estar! Onde vivo há punição.
Se meu chefe pune, Deus deve punir também.

Diva chorava copiosamente, e todas as vezes que tentava retomar o corpo, a mulher horripilante e sinistra a impedia.
Por fim, já cansada e julgando estar sendo punida pelo adultério, ela resolveu ficar passiva e passou a ficar o dia inteiro dormindo no chão do hospital ou sobre o próprio corpo inerte.

Alheio a tudo isso, Bruno pensava na fatalidade que ocorrera à mulher que ele tanto desejava, e não conseguia entender.
Todos os dias, ligava para o Rio na tentativa de receber boas notícias, mas era sempre a mesma coisa.

Diva não saía do estado de coma.
Com o tempo, Elza acabou o induzindo a esquecê-la, coisa que ele fez com facilidade.

Não imaginava Bruno que o adultério mal-intencionado, tanto para a mulher quanto para o homem, acarreta sérios compromissos de reajustes dolorosos que todos terão de enfrentar, cedo ou tarde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:05 pm

10 - O desespero de Alice

Garoava à noite, e Alice havia mandado preparar um jantar especial à luz de velas para ela e Arnaldo.
Próximo ao prédio onde residiam havia um excelente restaurante, de modo que ela praticamente não precisava preparar nada, bastava ligar e eles entregavam o pedido.

Habituada a uma infância e adolescência apenas voltada para os prazeres e diversões, ela não havia aprendido nada sobre prendas domésticas.
Sua mãe dizia que isso era coisa de outros tempos e que não iria criar sua filha única para viver enfurnada em casa, fazendo trabalhos domésticos.

Quando o serviço do restaurante entregou a refeição, Arnaldo havia acabado de sair do banho e logo estava à mesa.
O aparelho de som tocava canções de Caetano Veloso, que Alice seleccionara especialmente, pois sabia que ele adorava.

Aquele momento estava sendo mágico para ela.
Desde que Eduardo chegara, havia quatro semanas, Arnaldo inventava um pretexto para ficar à noite com o filho em sua antiga casa.
Ela não sentia ciúmes de Lucrécia, sabia que Arnaldo a amava, mas ao mesmo tempo estava sentindo sua falta.

Todas as noites ele só aparecia depois das onze.
Alice, já ensonada, às vezes nem percebia e, quando ainda estava acordada, sentia que Arnaldo não estava com disposição para o amor.

Então resolveu agir.
Conversou com ele e pediu que ficasse mais tempo com ela, ao que ele concordou.
Aquela noite era o momento de estarem juntos, e ela aproveitaria ao máximo.

No entanto, mesmo com todo o clima de romantismo, Alice sentiu-o distante.
Teve até a impressão de que seu desejo mesmo era estar em sua antiga casa.

- O que está acontecendo com você, amor?
Onde está neste momento?
Arnaldo assustou-se e respondeu:
- Desculpe, querida, pensava em Eduardo e no que conversamos ontem.
Meu filho tem uma filosofia de vida maravilhosa.
Tenho descoberto um mundo novo com ele.

Alice percebia que falar do filho era a coisa de que Arnaldo mais gostava, e deu largas à conversa.

- Ele veio poucas vezes ao nosso apartamento, mas percebi que é realmente inteligente.
Pensa diferente da maioria das pessoas, tem coragem de se mostrar como é.
Admiro pessoas assim, ele é uma cópia sua.

Arnaldo soltou o talher e falou com orgulho:
- Ele não é uma cópia minha, quisera eu.
Eduardo é tudo o que eu queria ser e ainda não sou.

Alice levantou-se e o abraçou pelas costas, beijando-o.

- Ainda bem que se entendem e se amam, assim como nós.
Ele respondeu reticente:
- É, querida. É...
Alice não aguentou e desabafou:
- Não adianta, Arnaldo, você já não é o mesmo comigo.
Tem algo acontecendo de muito errado connosco, ou melhor, com você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:05 pm

Eles deixaram a mesa e o jantar pela metade e foram para a sala.

— Você sabe que depois daquele súbito desmaio nunca mais fui o mesmo.
Tenho feito exames, mas os médicos não encontram nada.
Continuo lento no trabalho, esquecendo coisas...
Só melhorei depois que meu filho voltou a morar aqui.

Basta estar na presença dele para que me sinta melhor.
Você está certa, meus sintomas continuam.
Foi-me sugerido um tratamento psiquiátrico, como você sabe, mas sinto receio de que pensem que estou louco.
Nunca fui homem de chiliques.

- Não é a isso que estou me referindo.
Embora saiba que você está abalado psicologicamente, sinto que nossa relação mudou.
Você não me olha mais com paixão como antes, está frio, seus gestos demonstram que não sente mais carinho por mim como no princípio.

Sou sensível e percebo quando algo está errado.
Toda mulher sente quando seu parceiro muda.
Muitas querem se enganar e fazem como avestruz, enfiam a cabeça na terra e fingem não ver, mas sou prática e você sabe disso.

Portanto, me responda agora:
não me ama mais, está em dúvida sobre nosso amor?

Arnaldo não esperava aquele desabafo inesperado e ficou sem saber o que responder de pronto.
Algo estranho estava acontecendo com ele, e que não havia revelado a ninguém.
Havia algum tempo vinha pensando com insistência em Lucrécia e em tudo o que viveram juntos, até saudade voltou a sentir.

Recordava com nitidez suas viagens à Europa, seus fins de semana no haras, a chegada dos filhos...
Eram pensamentos carregados de emoção e, após o retorno de Eduardo, eles foram ficando mais intensos.
Na verdade, estava adorando o clima do seu antigo lar e achando aquele apartamento sufocante, pequeno.

Em contraposição, sentia que amava Alice com todas as forças de seu coração, não queria deixá-la, mas em sua subtil obsessão já até havia levantado a hipótese de regressar ao lar que abandonara.
Pensou rápido e tentou contemporizar.

— Que é isso, amor?
Em nada mudei com você.
São os meus problemas que estão me deixando assim.
Você sabe que até a principal obra sob minha responsabilidade está atrasada - falou isso e puxou-a de encontro ao peito.

Ela conseguiu se afastar e continuou:
— Não, Arnaldo. Sei que não está sendo sincero.
Gostaria que pensasse bastante no que vou dizer.
Amo-o profundamente e faço qualquer coisa para estar ao seu lado.
Deixei meu emprego e desisti de fazer um curso superior para me dedicar apenas a nossa vida, a você.
Talvez esse tenha sido o meu erro.

O que faço agora da vida?
Enquanto você trabalha, passo o dia em cinemas, teatros, shoppings, centros de lazer, apenas isso.
Tudo bem que sempre saio com a Rose e a Magali, que são minhas melhores amigas, mas acho que tenho descuidado de mim por causa de você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 25, 2012 9:05 pm

Isso nunca dá certo.
Estou disposta a retomar meu trabalho, estudar e não desejo que se oponha.
Se sentir que seu amor por mim terminou, não titubearei em deixar este apartamento e voltar para a casa de meus pais.

Não sou, nem quero ser como a Lucrécia.
Se quiser me deixar livre, faça-o, pois eu sei me virar.

Arnaldo estava cada vez mais estupefacto com tudo o que ouvia.
Parecia que Alice era outra pessoa.
Será que ele havia dado motivo para tanto?

— Querida, creio que você está completamente enganada.
Amo você profundamente.
Sempre te amei, desde o princípio, e vou te provar agora, deixando-a voltar a trabalhar e estudar.
Sinto se não estou sendo o homem que você deseja, mas creia que procurarei um psiquiatra e vou me tratar.

Não posso permitir que nada abale nossa relação.
Por você joguei fora um casamento de mais de trinta anos, amo-a com paixão, com loucura.

Ele puxou Alice e ela não resistiu, era completamente apaixonada por ele.
Foram para o quarto e se amaram como há muito não faziam.
Horas mais tarde, enquanto ele dormia, Alice foi ao telefone e, angustiada, esperou que sua amiga Magali atendesse.

- Alô? - falou uma voz preguiçosa do outro lado da linha.
- Magali?! Que óptimo que atendeu!
Desculpe, amiga, te ligar neste momento, a esta hora da madrugada.
- O que aconteceu?
Foi alguma coisa muito grave, senão não haveria motivo para uma ligação a esta hora.

Alice começou a falar e logo o choro veio junto.

- Sinto que estou perdendo o Arnaldo.
A vida está me castigando.
Tirei um homem do lar, destruí uma família e não vivi feliz nem três anos.
- Quanto drama! - falava Magali, agora completamente acordada.
O que foi que houve?

- Como você sabe, o Arnaldo está diferente, mudou muito, já não é o mesmo comigo.
Hoje fiz um jantar especial, mas ele parecia estar em outro planeta, mal tocou na comida.
Falei o que sentia, mas não me convenci com suas respostas.
Sei que está deixando de se interessar por mim.
O que farei sem ele?

- Calma! Você sempre foi muito racional e inteligente.
Todo mundo sabe que o Arnaldo te ama.
Nenhum homem deixa uma família sólida como a dele se não for por amor.
O Arnaldo tem passado por problemas, pode ser isso.

- Não é! Eu sei, eu sinto.
Agora mesmo fizemos amor como no princípio, mas, quando tudo terminou, ele virou para o lado e dormiu.
Isso não é normal, não com ele.
Além disso uma série de factos vem acontecendo.
Desde que Eduardo, o filho mais velho, voltou a morar aqui, tenho passado as noites sozinha vendo TV.
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