LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Página 5 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7  Seguinte

Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:47 pm

— Isso não pode acontecer...
— Mas aconteceu.
Algo me diz que Eduardo é o homem de sua vida!

— Não brinque, Magali. Que coisa!
O homem de minha vida é o Arnaldo.
Você sempre soube que só gosto de homens mais velhos, e o único que amei foi ele.
— A vida tem seus mistérios, amiga.
Você verá se o que estou lhe falando não é verdade.

— Se for, agora me afastarei dele o máximo que puder.
Não lhe darei nenhuma esperança.
Magali foi enfática:
— Não faça isso ou poderá perder sua chance de felicidade.
Você não tem pedido a Deus que faça o melhor em sua vida?

- Sim.
- Então? Não jogue fora esta chance.
Se for mesmo verdade o que senti hoje, a vida os unirá, será inevitável!

Alice parecia estar vivendo uma irrealidade.

- Isso não pode acontecer.
Seria ridículo de minha parte se, de uma hora para outra, passasse de pai para filho.
- De novo pensando nas convenções e regras da sociedade.
Precisa parar com isso.
A sociedade não a fará feliz só você pode fazer isso.

As duas continuaram conversando, enquanto espíritos amigos as enlaçavam.

Mais tarde, quando chegou em casa, Alice orou e meditou.
Nada sentia por Eduardo, mas confiava na intuição da amiga.
Por fim, mais uma vez entregou a vida a Deus, deitou e dormiu.

Eduardo chegou em casa e a encontrou às escuras.
Sentiu um alívio, pois queria ficar sozinho, deitado no sofá sob a fraca luz do abajur.
A mansão se tornara negativa e tumultuada ultimamente.

Apesar de morarem juntos, Arnaldo e Lucrécia só viviam brigando e trocando agressões verbais na frente de todos.
Arlete, após a morte do marido, passou a morar com eles, mas vivia chorando pelos cantos e se queixando, pois nunca havia conseguido ter filhos, não queria trabalhar e sentia-se só e abandonada pela vida.

Aquela hora de silêncio veio bem a calhar para suas reflexões íntimas.
Ele se perguntava como tinha estado tantas vezes com Alice e não percebera que a amava.
Sim, tinha certeza desse sentimento.
Foi de repente, mas o suficiente para saber que ele a queria para companheira pelo resto da vida.

Pensou no pai.
Não importava se ele a amava ou não, iria lutar por sua felicidade.
Havia aprendido que não podia deixar de ser feliz por causa dos outros, que sua felicidade tinha de ser prioritária.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:47 pm

Além do mais, Arnaldo a havia abandonado.
Nada mais justo do que Alice encontrar outro companheiro.
Pensou na mãe, que iria odiar aquela união.
Vivia desejando uma nora que nunca teve, netos que a fizessem mais feliz, mas jamais aceitaria que ele se casasse com Alice, aquela que um dia quase destruíra seu lar.

Mas nada disso importava para ele.
Com o dinheiro que tinha poderia comprar uma bela casa ou apartamento, casar com ou sem autorização dos pais e viver para sempre com sua escolhida.

Eduardo se conhecia muito bem e sabia que podia conquistar Alice.
Se a vida despertara nele esse amor, era porque também poderia vivê-lo.
Decidido, subiu as escadas e foi deitar-se.

Enquanto se ajeitava nos lençóis, pensou que ela poderia rejeitá-lo.
Se isso acontecesse, respeitaria seu livre-arbítrio, sabia que seu pai um dia voltaria a procurá-la e que ela poderia voltar para ele.

Mesmo assim, iria lutar até o fim por seu amor.
Eduardo acreditava que nenhum amor nascia para ser platónico e que, se a vida o despertava, era porque poderia ser vivido.

Com esse pensamento, fez uma prece e adormeceu.
O espírito de Eduardo se desprendeu do corpo e começou a caminhar por uma estrada de grama molhada pelo orvalho da noite.
De repente, envolta em um clarão, surgiu Alice.

Ambos se olharam e ela disse:
— Meu amor, sabemos que insondáveis são os caminhos de Deus.
Foi necessário esse tempo de separação para que aprendêssemos com outras experiências.
No entanto, agora é hora de estarmos mais uma vez unidos para ajudar na implantação da Nova Era.
Mas você sabe que ainda tenho uma missão com seu pai, por isso serei resistente, todavia acredito no seu amor e sei que ele será forte e aguentará até o fim.

Eles se deram as mãos e Eduardo falou:
— Sei sim, querida.
Minha alma esperava pela sua, mas não podia saber da verdade antes do momento previsto.
Só esta noite Deus me permitiu essa ventura.
Serei paciente e lutarei até o fim.
Sempre a amarei.

Ambos se deitaram na grama e entregaram-se ao amor que sentiam um pelo outro.

O céu, pontilhado de estrelas, abençoou aquela união.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:47 pm

22 - O acidente

- Pilantra! Sem-vergonha!
Como teve coragem de fazer isso comigo? - gritava Lucrécia fora de si para Arnaldo, enquanto lhe atirava todos os objectos da sala que via pela frente.

Arnaldo tentava se desviar, enquanto dizia:
- Você que é insegura, insuportável.
Não sei como fiz a loucura de voltar para você, foi o maior erro que cometi na vida.

Lucrécia sentiu aumentar sua fúria.

- Então você paquera abertamente a filha da Zélia na minha frente e eu é que sou insuportável? - atirou-lhe um bibelô.

O objecto pontiagudo acabou por acertar em cheio a testa de Arnaldo, que, sangrando e sem se controlar, partiu para cima da mulher e começou a esbofeteá-la.
Com os gritos da mãe, Arlete, que estava no quarto, veio correndo e conseguiu evitar o pior.

- Meu Deus! O que houve?
Lucrécia dizia, rangendo os dentes:
- Fomos ao clube, como todos os domingos, e seu pai, como sempre, flertou abertamente, mas desta vez com a filha de minha melhor amiga.
A garota nem estava a fim, mas ele insistiu com olhares, e vi até quando deu uma piscadela.
Você acha que uma mulher digna como eu pode suportar uma humilhação dessas?

Antes que Arlete dissesse algo, Arnaldo falou convicto:
- Quem não suporta mais sou eu.
Aliás, nunca a suportei, só poderia estar maluco quando resolvi deixar Alice e retornar para esta casa.
Até compreendo que eu estava feliz com a volta de meu filho, queria ficar mais tempo com ele e tudo isso me influenciou, mas agora chega!
Estou saindo desta casa e, dessa vez, para sempre.

Lucrécia soltou-se dos braços da filha e ajoelhou-se aos pés do marido:
- Por favor, não faça isso!
Eu não vou aguentar outra separação.
Prometo me controlar, ser mais cordata. Perdoe-me.

- Você sempre diz a mesma coisa desde que nos casamos, mas é escândalo após escândalo desde que voltamos.
Parece que nesta noite uma névoa foi arrancada de minha visão.
O que estou fazendo aqui?
Meu lugar é em meu apartamento com minha Alice.

Lucrécia gargalhou.

- Acha mesmo que ela vai aceitar você de volta?
Se sair desta casa ficará tão sozinho quanto eu.
Alice é esperta, não vai arriscar voltar para um homem inseguro como você, que não sabe o que quer.

- Mesmo que fique só, ficarei melhor do que aqui com você.
Arnaldo saiu, depois retornou dizendo:
- Amanhã mandarei buscar meus pertences.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:48 pm

Quando ele bateu a porta, Arlete conduziu a mãe até o sofá e tentou consolá-la.
Mas Lucrécia estava fora de si.

- Ele não pode fazer isso comigo.
Não pode! Vamos atrás dele.
Não estou em condições de dirigir, você guia e segue o carro até onde ele for.
Tenho certeza de que não vai para o Morumbi, deve se hospedar em algum hotel.

— Mas, mãe, não vê que é inútil?
Tudo o que a senhora fizer não o trará de volta, só vai se humilhar ainda mais.

Lucrécia vociferou:
- Você não sabe o que diz.
Ande, vamos para o carro!

Vendo que a mãe estava obstinada, Arlete obedeceu.
Como tudo foi muito rápido, ainda conseguiram divisar o carro de Arnaldo, que acabava de entrar na avenida São João.

Lucrécia chorava e dizia impropérios.
Arlete também não estava bem, fazia dias que não se alimentava direito.

Depois da morte do marido, entrara em profunda depressão e não via mais motivos para viver.
Estava frequentando um psiquiatra, usando medicação forte e nem poderia estar dirigindo.
De repente, por conta do efeito colateral da medicação, Arlete perdeu a concentração e o carro saiu da pista com velocidade, capotando três vezes.

O corpo de Lucrécia foi atirado a metros de distância, enquanto Arlete ficou presa entre as ferragens.
Quando o socorro chegou, elas foram levadas a um hospital e atendidas em emergência.
Lucrécia acordou instantes depois e percebeu que sofrera um pequeno arranhão.

Estava numa cama e sentiu o nervosismo aumentar ao recordar o que acontecera.
Como estaria Arlete? Havia morrido?
Minutos depois, um médico veio vê-la.

— Senhora, preciso que venha connosco fazer alguns exames.
Aparentemente está bem, teve apenas um pequeno corte no supercílio.
Verificamos seus documentos e sua família já foi avisada.
Contudo, é imperioso que façamos todos os exames para confirmarmos seu real estado.

Mesmo com receio, ela perguntou:
- E minha filha? Ela morreu?
- Não. Felizmente estava com o cinto de segurança, o que a prendeu no veículo.
Mas bateu fortemente a cabeça e está em estado de coma.
A coluna sofreu uma pequena fractura e não sabemos se poderá andar.

Lucrécia, horrorizada, começou a chorar.
De repente, lembrou-se que pai Ernesto dissera que a amante de Bruno, para o qual sua filha havia encomendado o feitiço, estava em uma UTI.

A vida estava castigando Arlete. Que horror!
Lucrécia chorou muito e, naquele momento, arrependeu-se amargamente por ter se envolvido com o feitiço.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 28, 2012 9:48 pm

O que aconteceria com ela?
O facto de Arnaldo tê-la deixado novamente não seria também um castigo por ela ter se envolvido com as forças do mal?
Ou será que viriam mais coisas por aí?

Apavorada, ela desmaiou.
O médico pediu que a enfermeira aplicasse um sedativo leve, pois certamente o desmaio fora em razão de a mãe saber a real situação da filha.

Quando Eduardo e Arnaldo chegaram ao hospital, já encontraram Lucrécia acordada e bem.
Os exames nada acusaram, ela estava em perfeito estado.
Olhando para o ex-marido e o filho, não conseguiu conter o pranto.

O que seria dela naquele momento?

* * *
No mesmo dia, Lucrécia saiu do hospital e foi para casa, não sem antes certificar-se mais uma vez do grave estado da filha.

Sentados na sala de estar, ela, Eduardo e Arnaldo estavam calados.
Ninguém parecia querer comentar o ocorrido.

Por fim, Lucrécia quebrou o silêncio:
- Sei que a culpa foi inteiramente minha.
Se as suspeitas medicas se confirmarem e Arlete ficar paralítica, jamais me perdoarei.

Fez uma pequena pausa, olhou profundamente para Arnaldo e continuou:
— Quero que saiba que, a partir de hoje, está inteiramente livre para fazer o que desejar de sua vida.
Reconheço que estava desequilibrada quando fiz tudo aquilo, mas escapei da morte e praticamente nasci outra vez, e ninguém permanece o mesmo depois de um facto como esse.
Chegou a hora de revelar a verdade.

Tanto Arnaldo quanto Eduardo não sabiam a que verdade ela se referia.
Ficaram curiosos, mas não interromperam.

Lucrécia, fixando o olhar num ponto indefinido, começou a narrar:
— Eu estava me sentindo muito sozinha, desamparada e abandonada nesta casa imensa, sem meu marido e meus filhos.
Não sentia ânimo para sair nem para fazer as coisas das quais gostava.
Da janela do meu quarto ficava observando o jardim e a piscina, recordando os momentos bons que passei com todos vocês.

Aos domingos, minha tristeza aumentava, lembrava os passeios de fim de semana, enfim, toda a minha vida passada voltava mais forte na solidão dos domingos.
Acho mesmo que estava iniciando uma depressão quando Arlete entrou por aquela porta e me mostrou um caminho que, ilusoriamente, pensei ser a salvação da minha vida.

Ninguém ousava interromper.
Eduardo sentia que algo grave seria revelado.

Ela continuou:
— Minha filha havia escutado falar de um pai de santo muito famoso daqui de São Paulo, que possuía um grande terreiro na Vila Maria.
Ela estava no Rio quando ficou sabendo dos poderes desse homem, que atendia até mesmo pessoas muito famosas.
Arlete era ciumenta e o Bruno nunca facilitava.

Na época, ela suspeitava de que ele mantinha um romance com uma colega de trabalho e queria a ajuda desse feiticeiro para acabar com o romance e prender o marido aos pés dela.
A princípio duvidei que isso pudesse acontecer, mas durante a consulta ele mandou um recado pra mim por intermédio dela deixando claro que possuía poderes de vidência e poderia me ajudar.

No outro dia fui procurá-lo.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:38 pm

Depois de me dizer tudo o que eu precisava fazer, encomendei um trabalho de magia negra para separá-lo de Alice e trazê-lo de volta para mim.
O que de facto aconteceu.
Você não veio para mim naturalmente, forças ocultas trabalharam para isso.

Arnaldo parecia não acreditar no que estava ouvindo.
De repente, lembrou do desmaio, das crises de mal-estar, das brigas com Alice, da separação e de sua atracção irresistível pela ex-mulher.
Será que o filho tinha razão?
O mundo astral realmente existia e interferia no físico?

Enquanto ele pensava, Lucrécia não parava o desabafo.

- Sei que estou sendo castigada e Arlete também.
Este acidente não foi à toa.
Pai Ernesto, esse é o nome dele, para afastar a amante de Bruno, fez com que a pobre moça sofresse uma queda e ficasse em estado de coma no CTI.

Arlete está passando pelo mesmo que fez indirectamente a outra passar.
Mais uma vez Arnaldo me deixou e vou continuar solitária.
No fim, tudo deu errado e posso sofrer ainda mais.

Não sei o que essas forças do além vão fazer para cobrar de mim esse erro — começou a chorar baixinho.

Mal sabia Lucrécia que, no Rio de Janeiro, naquele exacto momento, Diva despertava do coma sem nenhuma sequela.
Eduardo, no íntimo, já sabia tudo o que estava acontecendo, mas não julgava que a mãe fosse capaz de tal acto.
Arnaldo fez menção de discutir com ela, mas, a um sinal do filho, parou e voltou a se sentar.

Eduardo foi ter com a mãe e a abraçou.
Percebeu que Lucrécia estava apavorada e até tremia.
Quando ela se acalmou, ele tentou ajudar.

- A senhora e Arlete erraram muito.
Todas as pessoas que encomendam trabalhos de magia ficam comprometidas com entidades do astral inferior, que certamente cobrarão pelo que fizeram.
Se não for nesta vida, será em outras ou no plano espiritual.
Arlete está tendo o retorno da acção que indirectamente praticou e a senhora, com o fim da relação com papai, também pagou o seu preço.

Agora que melhorou mentalmente, reconheceu o erro e se arrependeu, tudo ficará mais fácil.
É hora de a senhora mudar de vida, deixar a queixa de lado e procurar reconstruir-se, ser feliz.
Lembra-se de que falei isso quando cheguei aqui?

- Lembro, sim.
Mas é que não aguento a solidão.
Mais dia, menos dia, você acabará se casando ou saindo de casa.
Arlete, se ficar paralítica, vai se tornar cada vez mais amargurada e não me servirá de companhia.

Mas, se conseguir se recuperar, também se casará novamente, pois é jovem, tem a vida pela frente para ser feliz.
E eu? Continuarei nesta casa grande e solitária.
Não tenho coragem nem sinto vontade de procurar outro marido.

Eduardo olhou sério para ela, enquanto dizia:
- A felicidade não está somente em um casamento ou em uma vivência a dois, e a solidão independe de a pessoa estar acompanhada ou não.
Se não quer um companheiro, não é obrigada a tê-lo, mas é possível ser feliz de diversas maneiras.
Acontece que durante esses anos a senhora sufocou sua naturalidade, sua espontaneidade em nome do casamento e dos papéis sociais.

Perdeu a identidade, não sabe mais do que gosta nem o que a faz feliz.
Acredita que só pendurada em um homem é que poderá estar completa.
É preciso descobrir que a vida tem muito a oferecer e preencher os vazios com novas oportunidades de progresso ilimitadas a todo o instante.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:38 pm

Temos de estar atentos aos sinais que ela nos manda para sermos felizes hoje, no momento presente.
Papai vai seguir a vida dele e trate a senhora de seguir a sua.
Procure fazer o que gosta, estar com quem deseja, fazer algo que deixou de lado quando se casou.

Caso não faça isso, entrará em depressão e viverá dependente de remédios durante toda a vida.
É isso o que quer?

Ela pareceu melhorar, enxugou as lágrimas e falou:
- Como sempre você está certo.
Só agora posso entender por que seu pai é tão apaixonado por você.
Mas o que vou fazer se Arlete ficar paralítica?
Foi culpa minha, não devia tê-la feito entrar naquele carro para seguir Arnaldo.

- Não foi culpa de ninguém.
Foi uma reacção natural da vida para fazer Arlete despertar a consciência.
Ninguém escapa da colheita de sua semeadura.
O mal tem um preço alto e costuma voltar multiplicado para aquele que o pratica.

Mesmo quando o fazemos indirectamente, estamos sujeitos à reparação que fatalmente chegará.
O acidente ocorreria com ela mesmo se a senhora não tivesse feito nada.
A lei divina nos alcança onde quer que estejamos, e ninguém pode fugir de suas consequências.

- Mesmo que a pessoa se modifique?
- Para que isso ocorra é preciso um trabalho interior incessante que ninguém quer fazer.
Ao praticarmos uma acção, emitimos energias para o universo, que tem um ciclo próprio, onde, findo o tempo, voltará a quem a praticou.
O efeito é assimilado pela conduta moral e mental que o indivíduo terá quando ocorrer o retorno.

Infelizmente, entre o tempo de uma acção e sua reacção correspondente a pessoa geralmente não se modifica, permanece a mesma ou cometendo actos piores, então sofrerá para que possa aprender a disciplinar a mente, acreditar no bem e trabalhar na própria redenção.

Lucrécia parecia haver entendido.
Ficou calada meditando, pensando em como Deus agia.

Arnaldo finalmente se pronunciou:
— Acredito que todos nós tivemos nossa parcela de responsabilidade.
Fui alertado por Eduardo sobre o que estava acontecendo.
Claro que ele não sabia sobre o feitiço, mas disse que meu problema era espiritual, que eu tinha sido atingido porque cultivava a culpa.

Na época, apesar de encontrar lógica, não levei a sério.
Quero que saiba que a perdoo pelo que fez, pois agora sei que, se tivesse agido com meu coração e me livrado da culpa, não teria rompido com a mulher que realmente amo e voltado para cá.

Lucrécia olhou para ele e abraçou-o, emocionada, perguntando:
— Amigos?
— Amigos.

Apesar do acidente e do clima ruim que envolvia a casa, naquele instante a força do perdão trouxe novas energias e todos se sentiram muito bem.

Eduardo ficou um pouco triste, pois sabia que o pai procuraria Alice e ela certamente voltaria para ele.
Contudo, resolveu se antecipar e se declarar para ela.
Não custava tentar.
Não sentia culpa por estar competindo com o pai, afinal o amor era livre e cada um tinha o direito de escolher.

Sabia que, se Alice o aceitasse como namorado, seu pai sofreria muito e talvez não o perdoasse, mas seria o livre-arbítrio dela que iria ditar a escolha.

Quando Arnaldo se foi, Eduardo e a mãe se recolheram, não sem antes fazer uma prece a Deus e aos espíritos amigos pela saúde de Arlete.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:38 pm

[b]23 -[i] A declaração de Eduardo

No outro dia pela manhã, antes mesmo de descer para o café e ir ao hospital ver Ariete, Eduardo ligou para Alice, deixando-a a par de tudo o que havia acontecido e convidando-a para sair com ele à tarde.

- Infelizmente, não posso.
Só saio do trabalho às seis.
Tem algo mais a me contar?

- Tenho, sim.
Quero lhe dizer algo muito importante.
Meu pai vai querer voltar para você e é provável que a procure ainda hoje.
Mas, em nome de nossa amizade, peço que se negue a conversar com ele, pelo menos antes de nos encontrarmos.

Alice não estava entendendo nada.

- Por que isso?
O que está acontecendo?
— Você saberá no momento certo.
Dê-me o endereço de seu trabalho, passarei aí às seis para que possamos conversar.
- Tudo bem. Farei o que me pede.

Eduardo anotou o endereço e desceu para o café.
Alice ficou pensativa e não conseguia imaginar o que o filho de Arnaldo iria lhe dizer de tão importante.
Ela se esquecera completamente do que Magali havia dito sobre o rapaz e, por mais que pensasse, não conseguia imaginar o que ele queria com ela.

Será que Arnaldo estava doente?
A esse pensamento, sentiu o coração descompassar.
Amava aquele homem com todas as forças de seu coração.
Se ele fosse procurá-la, como Eduardo dissera, certamente retomaria o romance.

Afinal, o trabalho de magia havia sido descoberto e desfeito, e Arnaldo merecia uma nova chance.

Tentou se concentrar no trabalho, e só com muito esforço conseguiu.

No hospital, Lucrécia estava muito triste.
Arlete continuava na mesma.
Não acordava do coma e não havia possibilidade de saber, no momento, se ela voltaria a andar.
Eduardo a consolou mais uma vez e depois de algum tempo voltaram para casa.

As horas passaram rápido, e às seis em ponto Eduardo, em seu carro, já esperava por Alice.
Assim que ela entrou no veículo, percebeu que ele estava mais lindo do que de costume.
Havia se arrumado com esmero e trazia nas mãos um buquê de rosas vermelhas.

Quando o entregou a ela, Alice rememorou tudo o que Magali havia dito sobre o suposto interesse afectivo dele e começou a achar que a amiga tinha razão.

Se fosse verdade, o que diria a Eduardo?
Ele era o homem perfeito, aquele que toda mulher sonha encontrar, mas ela amava justamente o pai dele.
Fingindo achar normal receber um presente daqueles, ela simplesmente sorriu e logo depois rumaram para uma elegante confeitaria.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:38 pm

Eduardo tentou ser natural o tempo inteiro, mas Alice percebia os olhares apaixonados, as frases ditas com segundas intenções, mas apenas sorria e respondia naturalmente.
Após algum tempo juntos, enquanto bebiam e conversavam amenidades, ela foi directo ao ponto, mesmo já sabendo o que ele iria dizer.

- Você me trouxe aqui para um assunto sério e até pediu para que não conversasse com seu pai antes, e foi o que fiz.
Pouco depois, Arnaldo também me ligou pedindo para conversar e marquei com ele às nove.
Sinto muito, Eduardo, mas não posso demorar aqui.
Além do mais, este lugar é elegante e não vim com roupa adequada.
Você está parecendo um príncipe e eu, uma plebeia.

Ambos riram.

Eduardo olhou-a profundamente, pegou suas mãos e Alice sentiu o coração descompassar.
Por que sentira aquilo?
Devia ser por estar com um homem bonito, envolvente e muito sensual à sua frente.

Ele começou a falar:
- Nunca fui bom em cantadas.
Até perdi a chance de namorar muitas meninas interessantes na adolescência porque sempre fui muito directo.
Com você não será diferente.
Naquela noite, quando saímos, percebi que a amava.

Ela gelou e retirou delicadamente suas mãos das dele.

- Eu nunca amei ninguém de verdade.
Talvez, por isso, sempre curti um bom namoro, mas, quando o relacionamento ia ficando sério, eu terminava.
Talvez tenha frustrado muitas mulheres, mas sempre gostei de ser sincero.
Nunca quis nada sério com ninguém... até aquela noite.

Olhando em seus olhos, senti como se um véu me fosse arrancado e, de repente, estava diante da mulher que sempre amei, desde muito tempo, quem sabe de muitas vidas.
Aceita namorar comigo?
Eu a farei a mulher mais feliz do mundo.

Alice não conseguia acreditar no que ouvia.
Mas era verdade, Eduardo a amava.
Podia sentir em seus olhos francos e brilhantes de emoção.
Como ele era lindo! Mas ela precisava ser forte.

Tinha certeza de que amava Arnaldo, por isso olhou firme nos olhos dele e respondeu:
- Infelizmente, não posso aceitar.
Sei que é uma pessoa especial.
Talvez um desses iluminados de que a gente ouve falar no espiritismo, mas eu amo seu pai.

Sei que ele deseja voltar para mim e é o que farei hoje.
Sinto-me honrada em saber que um homem como você está entregando a mim o seu amor, mas preciso ser sincera com você e comigo.
Espero que entenda e que possamos ser mais amigos do que nunca de agora em diante.

Eduardo sentiu um nó na garganta.
Esperava aquela resposta, mas no íntimo ainda tinha alguma esperança.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:38 pm

Quando ela terminou de falar, ele, dominado pela emoção, expressou-se:
— Seremos amigos, mas eu nunca vou te esquecer.
O amor verdadeiro não se acaba, mas antes de tudo sabe respeitar a liberdade do ser amado.
Serei feliz sabendo que você estará também feliz ao lado de meu pai.
Quero que saiba que meu coração lhe pertence hoje e pertencerá para sempre.

Alice estava emocionada. Ficaram em silêncio.
Os dois não conseguiam falar mais nada.

Pediram a conta e, durante o trajecto de volta, ela não conteve a pergunta curiosa:
— Como você teve coragem de fazer essa proposta, mesmo sabendo que seu pai me ama e reataria a relação comigo?
Não sente a consciência doer?
E se eu aceitasse?

— Minha consciência está tranquila, não fiz nada de errado.
No amor, todos são livres e ninguém tem posse sobre outra pessoa.
Errado estaria se tivesse deixado de lutar por seu amor com medo das regras sociais e de relacionamentos que as pessoas criaram e que não são verdadeiros.
Desde quando seguir o real desejo do coração é errado?

— Mas seu pai iria sofrer, e a culpa seria sua.
— Engano seu.
Ninguém tem o poder de fazer os outros sofrer.
As pessoas se magoam e se ferem com o que nós fazemos porque são vulneráveis.

Tenho certeza de que chegará o dia em que as pessoas descobrirão que só elas têm o poder sobre suas vidas.
Só então deixarão de culpar os outros por seus problemas.

Alice percebeu, mais uma vez, quanto Eduardo era evoluído e especial.
Deu um beijo em seu rosto, agradeceu por tudo e entrou em casa.

No carro parado, Eduardo pensava:
"Meu amor, sei que um dia será minha, serei paciente.
O tempo faz tudo na hora certa.
Guardarei a lembrança deste beijo e serei feliz por esse momento".

Eduardo estava orgulhoso de si mesmo.
Havia tido a coragem de expressar seus sentimentos.
Quantas pessoas sofriam por ter medo de mostrar o que sentiam pelas outras?
Muitas, certamente. Preferiam cultivar a infelicidade a ser leais a si mesmas e a suas almas.

Ele preferia pagar o preço verdadeiro.
Horas mais tarde, Alice finalmente dizia um novo sim a Arnaldo e juntos se entregavam ao amor.

Todavia, dentro do coração dela algo começou a mudar, e ela jamais seria a mesma.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:39 pm

24 - A confissão de Ernesto

Felizmente, após um longo período hospitalizado, Anselmo recuperou a saúde, com o auxílio da esposa e de Ernesto, regressou ao lar.

O incidente o deixou com pequenas sequelas, que com o tempo e alguns exercícios iriam desaparecer.
Durante as quatro semanas em que permanecera em Guararema, Ernesto manteve contacto com Ingrid por telefone, que o avisara já ter dito à mãe que havia se enamorado por um homem mais velho e que, em breve, seria apresentado à família.

Dona Marisa, Vanessa e até mesmo Diego ficaram bastante curiosos para conhecer a pessoa que finalmente tocara de maneira profunda o coração de Ingrid.
Todavia, ela não havia revelado sua identidade.
Eles o conheceriam em um jantar especial que seria realizado assim que o pai de Ernesto melhorasse e ele pudesse regressar.

Estava compenetrado nesses pensamentos quando foi chamado à realidade por dona Lúcia:
- Aceita um café? Acabei de passar.
— Aceito, sim. Está frio e uma bebida quente vem em boa hora.
Após servir o filho, dona Lúcia perguntou:
- No que estava pensando agora há pouco?
Achei seu semblante um tanto quanto preocupado.

Ele resolveu se abrir com a mãe.

- Pensava em qual será a reacção da família de Ingrid quando souber quem sou.
Vou conhecê-los amanhã à noite, temo ser mal recebido.
Fiz fama como feiticeiro pai de santo que trabalhou para o mal.
A mãe de Ingrid é esotérica, entende de magia, mas nunca aceitou a bruxaria, o lado negro desses processos, condena tenazmente quem trabalha com eles.

Hoje estou distante de tudo isso, ganhei muito dinheiro, o suficiente para viver bem pelo resto da vida.
Confesso que abandonei essas práticas somente por Ingrid e que, no fundo, não estou arrependido de nada do que fiz.
Temo que a mãe dela perceba e dificulte as coisas.

Dona Lúcia olhou séria para o filho e disse:
- Fiquei muito preocupada com você desde o dia em que decidiu seguir este caminho.
Sou de formação católica, mas não posso fechar os olhos à vida espiritual e aos fenómenos que acontecem com quase todas as pessoas, independentemente da religião que professem.

Sempre soube que esse não era um bom caminho.
Sentia uma sensação estranha toda vez que gastava o dinheiro que você nos mandava mensalmente, e ainda sinto.
Rezei todos os dias a Maria pela sua mudança, mas vejo que saiu do caminho errado não por perceber que fazia o mal, mas por uma mulher.

Temo que lhe possa acontecer algo ruim.

Ernesto meneou a cabeça negativamente:
- Não vai me acontecer nada.
A princípio pensei que fosse até morrer, mas já se passaram meses e continuo óptimo, amando, sendo amado e feliz.
Os espíritos disseram que algo terrível me estava reservado, mas não acredito mais nisso.

Sabe, mãe, estudei com pai Wilton tudo sobre magia negra e sei o que poderia acontecer com uma pessoa que faz um pacto e o rompe, nenhuma fica viva para contar a história.
Se nada me aconteceu até hoje, é porque eles desistiram de mim.
Estou seguro quanto a isso.

— Sei não. Enquanto você falava, senti um arrepio e a impressão de ouvir gargalhadas.
Meu filho, ouça sua velha mãe!
Arrependa-se enquanto é tempo.
Nunca é tarde para se voltar ao bem.
Lembra-se da parábola do filho pródigo que Jesus nos contou?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:39 pm

Ele assentiu, lembrando que havia lido muito as parábolas de Jesus quando foi espírita.

Ela continuou:
- Pois bem, nunca é tarde para voltarmos à casa do Pai, que nunca nos deixa de lado.
Tenho certeza de que sua fortuna não é bem-vista por Ele.
Entregue tudo a entidades beneficentes e volte a trabalhar com honestidade.
Você é forte, jovem e pode viver com dignidade.

Ernesto sentia que sua mãe tinha razão, mas não conseguia se ver sem seu dinheiro, tendo de trabalhar duro para conseguir um salário mísero.
Como iria dar o luxo que pretendia a Ingrid?
É certo que ainda morava na mesma casa simples que vivera com Mariana, na qual havia feito apenas algumas reformas, mas pretendia comprar uma mansão ou um apartamento de luxo.

Não! Não poderia ficar sem seu dinheiro.
Resolveu encerrar a conversa, antes que sua mãe disparasse a falar tentando confundi-lo.

— Prometo pensar em suas palavras.
Mas me diga, onde papai está agora?
- No quarto dormindo. Fiz com que tomasse um calmante, por isso adormeceu.
Apesar de ter se recuperado do físico, a alma dele está doente.
Não aceita que Bruno e Elza tenham morrido sem que tivessem feito as pazes.
Vive lamentando o tempo que perdeu com o orgulho, sem querer procurar os filhos, fingindo que eles não existiam.

- Entendo. Eu não consigo sentir nada com a morte daqueles dois.
Parece que são desconhecidos que morreram, como tantos morrem todos os dias.
— Você diz isso porque, depois que eles partiram, não tiveram mais contacto, além disso, nunca teve afinidade com eles, mesmo na infância.
Já eu, que sou mãe, sofri muito com o distanciamento e a morte, mas sei superar.
Deus é o mesmo que dá, é o mesmo que tira e é o mesmo que consola.

Ernesto olhava cada vez mais admirado para a mãe, uma mulher sábia.

- E por que a senhora não os procurou?
- Não queria contendas com seu pai.
Quando ele disse que Bruno e Elza não eram mais filhos dele, proibiu-me de procurar e manter qualquer contacto.
Confesso que fui fraca e submissa, mas não me culpo, fiz o que achei melhor no momento.
Hoje rezo para que eles estejam bem onde estiverem.

Ernesto notou que a mãe chorava baixinho.
Ele a abraçou e assim ficaram até o entardecer.

Pela manhã, partiu para São Paulo.
Seu Anselmo ficou muito feliz ao saber que o filho rumava para uma nova vida e uma nova relação afectiva.

O jantar simples, porém caprichado, estava pronto e à espera do convidado especial da noite.
Vanessa e Diego contrataram uma babá para cuidar dos filhos, porque não queriam levar crianças para uma ocasião como aquela.
Todos estavam muito contentes e Ingrid ainda mais, por observar que Diego já lhe havia perdoado a loucura, pois voltara a conversar com ela normalmente e parecia aliviado em vê-la amando outro homem de verdade.

Dona Marisa nem parecia a mesma senhora que vivia em meio aos tecidos e linhas da profissão de costureira.
Trajava um costume verde-claro que havia feito há tempos para uma ocasião como aquela, e finalmente chegara o dia de usar.

Quando a campainha soou e Ingrid foi atender, a ansiedade de todos havia aumentado, afinal, até a última hora ela havia feito segredo sobre a identidade do amado.
Ernesto entrou na sala muito bem vestido e com um buquê de flores nas mãos.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:39 pm

Após cumprimentar todos com elegância e discrição, dirigiu-se a Ingrid para lhe entregar o presente, quando ouviu a voz alta de Marisa:
- Pare onde está.
Dê meia-volta e saia de minha casa agora.

Tanto Diego quanto Vanessa nada entenderam daquela reacção agressiva.
Marisa continuava, enquanto Ernesto se mantinha parado.

- Não ouviu o que ordenei?
Saia já daqui, o jantar está desfeito e você jamais voltará a ver minha filha. Saia!
- Calma, senhora! - disse Ernesto, já esperando aquela reacção.
Precisamos conversar, preciso esclarecer coisas que talvez a senhora não saiba.

Ela parecia não ouvir e, aproximando-se de Ingrid com os olhos cheios de lágrimas, colocou:
- Então é com este homem que você tem saído?
Responda--me. Onde está sua cabeça?
Por acaso perdeu o juízo?
- Mamãe, tente entender, aconteceu.
Estou gostando de Ernesto e é com ele que me casarei e terei meus filhos, quer a senhora aprove ou não.

Dona Marisa sentou-se na poltrona mais próxima e começou a chorar.
O que fazer em uma situação como aquela?
Jamais poderia entregar sua filha nas mãos de um homem da espécie de Ernesto.

Vanessa percebeu que algo sério estava acontecendo e perguntou:
- O que há aqui? Por acaso Ernesto é casado?
Para mim, esse é o único impedimento plausível para Ingrid ser proibida de continuar essa relação.
Conte, mamãe, já estou ficando aflita.

- Este homem não é simplesmente Ernesto.
É pai Ernesto, um feiticeiro perigoso que já fez muito mal para as pessoas.
Por certo enfeitiçou minha filha.
Ela é jovem, sonhadora, tencionava estudar e prestar vestibular.

Agora vem com essa de casar e logo com um homem desse tipo.
Com certeza está enfeitiçada.
Amanhã mesmo a levarei a uma amiga, ela desfará esse trabalho e você verá que não sente nada por esse sujeito.

Ernesto jamais pensou que a magia um dia poderia influir negativamente em sua vida.

Pensou em se defender, mas Vanessa começou a crivá-lo de perguntas.
- Isso é verdade? Vamos, diga!
O que pretende com minha irmã?
- É verdade. Pretendo ser honesto com todos vocês.
Posso me sentar para tentar explicar?
Afinal, tenho esse direito.

Vanessa aquiesceu:
- Sim. Quero saber tudo o que aconteceu entre você e minha irmã.
Pelo que sei de magia, ela pode muito bem estar enfeitiçada.
Se você fez algo do tipo, fale agora.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:39 pm

Nós lhe daremos esta chance de se pronunciar, mas depois quero que se retire daqui.
Eu mesma cuidarei para que minha irmã o esqueça.

Marisa gritou entre dentes:
- Vocês ainda conversam com um homem desses?
Ele é perigoso, com um olhar pode amaldiçoar esta casa e qualquer um de nós.
Mande-o embora, Diego, você que é o único homem representante da família.
Faça alguma coisa!

Diego, que até então estava calado só observando, pronunciou-se:
- Dona Marisa, a senhora está sendo muito radical.
Vamos ouvir primeiro o que ele tem a dizer.
Depois, sua filha já é maior de idade e pode fazer o que quiser da vida dela.
Se quiser partir com um feiticeiro, não será a senhora quem irá impedir.

O silêncio se fez.

Vendo que era sua vez de falar, Ernesto começou:
- Dona Marisa está certa.
Ela entende muito do assunto, sabe que a magia é uma espécie de ciência antiga, surgida em civilizações extintas como a Atlântida, mas perpetuada por todas as outras ao longo do tempo.

Ocorre que algumas pessoas passaram a usar essa força da natureza para o mal, e aí surgiram os feiticeiros, os magos negros, as bruxas...
Eu era espírita fazia muitos anos, acreditava em tudo o que aquela filosofia dizia, fazia palestras e, desde que me descobri com faculdades mediúnicas, comecei a participar de sessões de desobsessão.

Eu era muito feliz, tinha uma esposa que amava e duas filhas que eram tudo para mim.
No entanto, um dia um acidente tirou minha paz e felicidade, minha mulher e minhas filhas morreram e eu fui atirado à solidão.

Acho que ninguém pode avaliar a dor que senti naquele momento.
Ninguém aqui presente pode me julgar porque não passou por uma dor desse tipo.

Ninguém ousava interromper, mesmo dona Marisa, que já conhecia aquela parte da história.

Ele continuou:
- Abandonei o espiritismo e fui morar com meus pais no interior.
Uma noite, em estado de sonambulismo, entrei em contacto com uma entidade que disse ter poderes de me tirar da depressão se eu aceitasse assinar um contrato e trabalhar para ela como pai de santo.
Disse-me que eu lhe devia algo e era a hora de pagar.
Durante a noite mesmo, assinei o contrato e logo depois comecei a aprender a arte de enfeitiçar.

Com o tempo, abri um terreiro e passei a fazer toda espécie de trabalho.
Dona Marisa tem razão, sempre trabalhei para o mal, mas também nunca fui feliz, sentia uma angústia, um vazio que nada preenchia.
Até o dia em que conheci, casualmente, Ingrid.

- Como conheceu minha irmã?
O que ela estaria fazendo com um tipo como você?

Ernesto não poderia revelar que Ingrid havia ido procurá-lo para fazer um feitiço que iria destruir o lar da irmã.
O jeito era apelar para a mentira, que já estava articulada em sua mente.

- Ingrid foi a meu consultório acompanhando uma colega de cursinho que desejava prender um rapaz.
Coisas de adolescente.
Na verdade, a sua irmã havia ido até lá na tentativa de fazer a amiga desistir do intento da magia.
Durante a consulta, falou muito bem de dona Marisa e do que havia aprendido com ela.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:40 pm

Tanto falou que a colega desistiu do trabalho e foi embora, não sem antes deixar o endereço do cursinho onde estudavam por força de meu pedido.
Com o endereço nas mãos e já completamente apaixonado por Ingrid, passei a esperar ela e sua colega todas as noites na saída das aulas, até que um dia as abordei e as convidei para me acompanhar a uma confeitaria próxima.

Elas relutaram, mas eu insisti e acabaram cedendo.
Durante esse encontro insisti com a colega para que ela fizesse o trabalho, mas aquela conversa era pretexto só para estar perto de Ingrid.
Nunca, depois de minha esposa, eu havia sentido algo parecido por ninguém.

Olhou para Marisa e disse com voz emocionada:
- Conhecer sua filha foi a luz da minha vida.
Depois daquele encontro, estreitou-se uma amizade entre nós e eu, muito feliz, percebi que Ingrid me correspondia.
Quando me declarei, ela também se disse apaixonada, assim começamos um namoro.

Depois de algum tempo, sua filha conversou sério comigo dizendo que se eu não deixasse a magia ela não continuaria o namoro.
Com esse amor no coração, tive a coragem de arriscar minha vida e acabei com tudo.
Não sou mais pai de santo, fechei meu terreiro e encerrei minhas consultas.
A senhora sabe que quem rompe um pacto com as trevas está sujeito a tudo, mas, por amor, assim o fiz.

Essa é a maior prova.
Procure todos os meus clientes, vá até o local onde ficava meu terreiro, na Vila Maria, e a senhora poderá comprovar.
Posso morrer hoje, mas morrerei feliz por um dia ter conhecido sua filha.

Todos estavam mudos com a narrativa de Ernesto.
Dona Marisa sentia que ele estava sendo sincero, apesar de ter algumas coisas naquela história que certamente estavam mal contadas.

Com os olhos rasos d'água, ela o abraçou dizendo:
- Desculpe-me por julgá-lo.
Sei que está sendo sincero, sou intuitiva e posso detectar uma mentira, mas por ter rompido com as trevas, eu permito o namoro com minha Ingrid.

Espero que a faça muito feliz.
Nesta noite senti que o amor de vocês é verdadeiro e belo, vou orar para que nenhum mal lhe aconteça, afinal, se minha filha o ama, também passarei a amá-lo.

Todos concordaram com as palavras de dona Marisa, e assim passaram ao jantar.

No final, Ernesto tirou do bolso do terno uma caixinha e pediu que Ingrid a abrisse.
Assim que ela o fez, percebeu um lindo par de alianças.

Ernesto explicou:
— O que seria um simples jantar, vai ser, a partir de agora, um noivado.
Quero me casar com sua filha e fazê-la a mulher mais feliz do mundo - disse emocionado, olhando para Marisa e Ingrid.

O noivado foi realizado e Diego sugeriu que abrissem um vinho para comemorar.
Dona Marisa foi à cozinha buscar a bebida e, quando estava lá, sozinha, sentiu uma lufada de vento frio e ouviu várias gargalhadas e estouros.
Arrepiou-se por inteira e começou a orar.

Como demorou muito tempo sem reaparecer na sala, ao abrir os olhos viu Vanessa à sua frente indagando:
— O que a senhora faz aí de olhos fechados?
Todos querem o vinho.
— Estava orando pela paz do casal.

Foram para a sala e só depois da meia-noite é que foram dormir.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:40 pm

Os meses passaram depressa e o casamento aconteceu.
Foi tudo muito simples, com uma cerimónia civil.
Ernesto comprou uma mansão e levou a sogra para morar com ele.

A princípio, dona Marisa o aconselhou a levar uma vida modesta e doar todo o dinheiro que angariou com os trabalhos de magia, mas ele argumentava que o dinheiro estava sendo bem usado, e que assim não haveria problemas.
Marisa acabou se calando, mas no íntimo sentia a esperança de convencer Ernesto a devolver tudo e levar uma vida simples.

Esse foi um dos motivos que a fizeram aceitar morar com a filha.
Tentar trazer Ernesto cada vez mais para o bem e proteger aquela nova família das investidas das trevas.
Tinha certeza de que conseguiria.

Uma noite, quatro meses após o casamento, Ernesto, ao dormir, sonhou que estava afundando numa areia movediça enquanto quatro homens sorriam e rodopiavam ao seu redor.

Aquele que parecia ser o chefe disse:
- Tire-o daí e o recoloque no corpo.
Para que fazer o coitado sofrer agora mais do que sofrerá no futuro?

O outro retrucou:
- Germano, você está ficando muito bonzinho.
Esta areia movediça deixa a pessoa com o sono agitado e impregna o espírito de miasmas negativos.

No outro dia, a criatura acorda cansada, indisposta, irritada e com coceiras pelo corpo.
Muitos são os que trazemos para essa areia durante a noite.
Por que não fazer com ele, que é um traidor?

— Vocês mesmos sabem o que ele vai passar e nem será por interferência nossa, mas pelo acerto dele com o Cordeiro.
Agora levem-no para o corpo.
Coitado, não sabe o que o aguarda!

Ernesto ainda ouviu as últimas frases, quando acordou banhado de suor.
Olhou para Ingrid que, ao seu lado, dormia tranquila.
Ele havia escutado claramente que algo horrível iria lhe acontecer.

Mas o que seria?
Sentiu que se perdesse Ingrid, a única alternativa que lhe restava seria o suicídio.
Ficou apavorado e sem conseguir conciliar o sono.

Pensou em orar, mas para quem?
Certamente, se Deus existisse, não estaria se importando com aquela situação.

Naquela hora, Ernesto chorou muito e só adormeceu quando o dia começava a clarear.

Nem viu que Mariana e suas duas filhas, Márcia e Lívia, estavam ao seu lado velando por ele.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:40 pm

25 - A volta de Márcia e Lívia

A vida de Ernesto e Ingrid transcorreu sem problemas durante muito tempo.
Ela, logo após o casamento, voltou a estudar, pois pretendia ter nível superior, trabalhar e ser independente, ao que Ernesto não se opôs.
Dona Marisa ajudava a filha com os trabalhos da casa, mesmo a contragosto de Ernesto, que queria contratar ainda mais empregados para a mansão onde agora viviam.

Ingrid possuía arrumadeiras, cozinheiras, copeiras, mas fazia questão de escolher pessoalmente os arranjos de sua casa e participar activamente em tudo o que acontecia nela.

No entanto, Ernesto começou a sentir um vazio interior.
Havia fechado o terreiro, acabado com o consultório, não tinha o que fazer.
Possuía muito dinheiro e poderia viver muito bem com o que tinha, mas a falta de ocupação o deixava apático, sem vontade para levantar da cama.

Foi daí que surgiu a ideia de ter uma empresa.
Mas em que investir?
Ele já possuía imóveis que eram alugados por uma boa quantia.

Pensou bastante e resolveu montar uma imobiliária.
Adquiriu mais terrenos, imóveis comerciais e montou seu negócio; então o vazio terminou.
Transformar-se em empresário, ter com o que se ocupar durante o dia o deixou mais completo.

Agora tudo ia muito bem em sua vida.
Era um homem feliz, tinha a mulher que amava, um lar, pais que o veneravam, trabalho, tudo!
Definitivamente, a magia só tinha trazido coisas boas para ele.
Não acreditava mais que algo de ruim pudesse lhe acontecer.

Um ano depois do casamento, Ingrid começou a sentir tonturas, mal-estar, enjoo.
Marisa ficou muito feliz, conhecia bem aqueles sintomas e sabia que a filha estava grávida.
Todos ficaram felizes com a suspeita, que logo após os exames médicos foi confirmada.

Ernesto não cabia em si de tamanho contentamento.
Mas a alegria estava só por começar.
Logo descobriram, após o primeiro ultra-som, que se tratava de uma gravidez de gémeos.
Começou, então, um tempo de cuidados redobrados com a gestante.

Nove meses depois nasciam duas lindas meninas.
Na verdade, eram Márcia e Lívia que retornavam à convivência com Ernesto.
Na última curta existência que ambas tiveram, tudo foi programado para que a morte delas servisse de prova para ele.

No entanto, agora elas regressavam para aprender coisas novas, disciplinar a mente, dar um passo a mais na senda da evolução.
Sabiam que era arriscado ter um pai como Ernesto, mas ao mesmo tempo laços do passado os uniam.
Foi a própria Mariana e outros espíritos amigos, com o aval do plano superior, que aprovaram e cuidaram da reencarnação.

Vanessa e Diego estavam sempre por perto, e Ingrid, sempre que os via, sentia um remorso grande.
Como um dia tivera coragem de tentar separar um casal tão lindo como aquele?
Ainda bem que Diego a perdoara e parecia nem se lembrar mais do ocorrido.
Ele e Vanessa foram os padrinhos de uma das meninas.

Dois anos se passaram depressa e a família de Ernesto só fazia prosperar.
Beatriz e Hanna, as gémeas, estavam cada dia mais saudáveis, risonhas e levadas como todas as crianças naquela idade.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:41 pm

Ingrid, finalmente, voltara a estudar e fora aprovada no vestibular para publicidade, mas resolveu não cursar no momento, pois deveria estar ao lado das filhas, que exigiam muito sua presença.

Dona Marisa não concordava e dizia:
— Aqui tem muita gente, pode estudar tranquila, não tem com o que se preocupar.
Ao que ela dizia:
- Agora sou mãe.
Nessa fase, as crianças ainda são muito dependentes da presença materna, desejo e quero apenas estar com elas nesse momento.
O estudo pode esperar.

Dona Marisa sorria e pensava:
"Essa nasceu com o dom de ser mãe mesmo".

Era uma tarde ensolarada e Ingrid resolveu passear com as filhas num jardim próximo.
Fátima, a babá, as acompanhou.
Ela adorava ter contacto com a natureza e queria ensinar às filhas como isso era importante desde cedo.

Após algum tempo, Fátima percebeu que alguém acenava para ela ao longe, pediu licença à patroa e foi ver quem era.
Estava anoitecendo e o jardim ficou praticamente sem ninguém.
Ingrid não gostava de ficar sozinha com as filhas, pois eram muito levadas, mas Fátima garantiu que não iria demorar.

De repente, sentiu que alguém colocava um lenço embebido de clorofórmio em seu nariz e logo perdeu os sentidos.
Foi tudo muito rápido e dois homens desconhecidos a levaram desacordada para um carro estacionado a poucos metros, sem que ninguém percebesse.

Depois deram partida e sumiram numa esquina.
Quando Fátima voltou, encontrou as crianças chorando e chamando pela mãe.
Ficou assustada, mas resolveu esperar, certamente a patroa deveria ter ido a algum lugar próximo.

No entanto, as horas passavam e nada de Ingrid aparecer.

Ela começou a se desesperar e, quando chegou em casa com as meninas, encontrou Ernesto, que já havia voltado da imobiliária louco de desejo de rever as filhas e a esposa.
Estranhou quando viu que Ingrid não viera com elas.
Abraçou as filhas e beijou o rosto de cada uma delas, que pararam de chorar imediatamente.

Percebendo que algo estava errado e que Fátima estava branca feito cera, perguntou:
- Onde está minha mulher, Fátima?
Silêncio.
- Fale, Fátima, onde está Ingrid?
Fátima, com a voz rouca de medo, respondeu:
- Não sei, senhor.
Ela desapareceu no jardim.

- Como desapareceu? — era a voz de Marisa, que vinha descendo as escadas e acabou escutando.
- Não sei como foi - respondeu Fátima já chorando.
Um homem me chamou para pedir uma informação e fui ajudar.
Pedi à dona Ingrid que ficasse sozinha um instante e, quando voltei, ela não estava mais lá.
Esperei, procurei por todo o jardim e não a encontrei.

Um pavor muito grande tomou conta de Ernesto.
O que teria acontecido?
Ingrid era muito responsável e jamais iria sair e deixar as filhas sozinhas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:41 pm

Deixou-se cair no sofá e indagou:
- Quem era o homem que lhe chamou?
O que ele queria?

- Não o conheço, senhor.
Queria uma informação, saber onde era determinada rua.
Tentei explicar, mas ele parecia não entender.
Depois de muito tempo recebeu um telefonema, disse que estava satisfeito e saiu.
Não consegui saber o que ele queria, na verdade.

Ernesto bradou:
- Foi um sequestro, com certeza!
O que vai ser de Ingrid agora?

Marisa estava chocada.

- Meu Deus! Como isso pôde acontecer connosco?
Eu sempre lhe avisei que as pessoas sabem que você tem muito dinheiro, sua fama foi grande, agora com essa imobiliária então...
Ernesto levantou e gritou:
- Suma daqui, Fátima, está despedida! Irresponsável!
- Não faça isso, meu genro.
Ela não teve culpa e pode ser muito útil para chegarmos ao homem que a chamou, ele certamente faz parte do grupo que levou minha filha.

Ernesto estava descontrolado.

- Não sei o que fazer, o que pensar.
- Acalme-se
E, voltando-se para a babá, disse:
- Fátima, tire as crianças daqui.
Vou ligar para a casa da Vanessa, quem sabe ela não está lá?

- Não, dona Marisa, Ingrid jamais sairia para qualquer lugar sem levar as crianças.
- É verdade, mas, de qualquer maneira, tenho de avisar o que está acontecendo.
Ela discou e esperou, logo a voz de Diego se fez ouvir:
- Diga, minha sogra querida.

Ela fez uma pausa.
Como iria dar aquela notícia a Diego e Vanessa, que tanto gostavam de Ingrid?

- Diego, aconteceu uma desgraça aqui.
- O que houve? Algo com as crianças?
- Não. Hanna e Beatriz estão bem, felizmente.
Foi com Ingrid. Ela foi sequestrada.

Diego assustou-se.

— Como isso foi acontecer?
— Peça a Vanessa que venha para cá agora.
Ernesto está abalado. Precisamos da força de vocês.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 29, 2012 9:41 pm

Diego relutava em acreditar.
- Vocês podem estar enganados, quem iria sequestrar Ingrid?
Tudo bem que Ernesto tem dinheiro, mas não é nenhum milionário.

— Engana-se. Ernesto tem fortuna considerável, o suficiente para atrair esse tipo de coisa.
- Já ligaram pedindo o resgate?
Enquanto não ligarem, pode ser que não seja um sequestro.
— É muito recente. Certamente ligarão.

Diego percebeu que Vanessa entrava na sala com Marquinhos e Felipe, desligou o telefone e contou-lhe tudo.
Apressados, colocaram os meninos no carro e partiram para a casa de Ernesto.
O clima estava tenso.

Já passava da uma da manhã e nada de telefonema.
O telefone chamou, mas era engano, o que aumentou a ansiedade de todos.
Com o toque, acharam que era alguém tentando entrar em contacto.

Por fim Diego sugeriu:
- Vamos a uma delegacia registar a queixa.
— Não adianta.
A polícia só começa a procurar um desaparecido após muitas horas, e não quero meter delegado nisso, pode complicar - falou Ernesto, muito nervoso e andando em círculos.

Diego insistiu:
— É muito mais arriscado, em um caso como esse, os familiares agirem sozinhos.
É melhor que a polícia esteja a par.
- Vou esperar a ligação primeiro.
Temos gravador e vamos registar a conversa, depois procuraremos a polícia.

De repente, Ernesto sentiu o coração disparar e uma tontura muito forte o acometeu, sentiu tudo rodar, ouviu muitas gargalhas e desmaiou.

Acordou tempos depois perguntando o que estava acontecendo.
Quando recobrou a memória, voltou a se desesperar.
Seria isso que os espíritos diziam que ia acontecer?
Não! Ele não podia perder mais uma vez a pessoa que amava.
Se isso acontecesse, ele se mataria.

Uma ideia lhe veio à mente e ele resolveu seguir:
- Tem uma pessoa que pode me ajudar e vou procurá-lo agora.
Vanessa interveio:
- É madrugada e você não tem condições de sair sozinho, se for dirigir será pior.
- Estou decidido, vou sair quer deixem ou não.

Diego pegou em sua mão e o encorajou:
- Sei como deve estar sendo difícil para você.
Amo minha esposa e nem sei o que faria se isto estivesse acontecendo comigo.
Se quiser sair, conte com minha ajuda, posso dirigir para você.
Se tiver alguém que pode ajudar, vamos procurá-lo.

Ernesto sentiu lágrimas nos olhos.
A preocupação, o desvelo e o carinho daquelas pessoas para com ele o deixavam ainda mais fragilizado.
Mesmo assim resolveu agir.
Diego ao volante ia conduzindo o veículo cada vez para mais longe.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:07 pm

- Estamos num lugar perigoso.
Não é melhor voltarmos?
- Não. Já chegamos ao local.
Aqui mora um pai de santo muito famoso chamado Wilton.
Quer dizer, aqui não é sua casa de verdade, mas hoje é dia de trabalhos e ele fica aqui até altas horas acordado.

Diego surpreendeu-se:
- Você não devia se meter mais com isso.
Não disse que havia parado?
- Eu parei, mas ele não.
Essas pessoas têm o poder de vidência e podem saber o que aconteceu com Ingrid, inclusive dizer onde ela está.
- Não sei, mas se quer tentar...

Ambos desceram do carro e perceberam que o sobrado estava às escuras.
Provavelmente os trabalhos já tinham acabado e pai Wilton deveria estar dormindo.
Louco de desespero, Ernesto começou a gritar pelo amigo.

Uma das janelas se abriu e a figura de Wilton apareceu:
- Ernesto? E você mesmo?
O que quer aqui a essa hora?
- Só você pode me ajudar.

Wilton desceu, abriu a porta e eles entraram.
Ernesto explicou tudo, pediu que o amigo se concentrasse e tentasse ver algo ou até mesmo evocar alguma entidade.

Wilton ponderou:
— Você sabe que sua ficha ficou suja do lado de lá, não sei se eles vão querer atendê-lo.
- Mas como amigo, sei que vai tentar.
Quero pelo menos saber se esse é o castigo que Belzebu preparou para mim.
- Vamos ver...

Todos foram para a sala de consultas e pai Wilton concentrou-se.
Demorou quase vinte minutos, em que parecia estar em transe.

Depois, abriu os olhos e disse:
- Fique calmo. Ingrid está bem.
Não é esse o famoso "castigo" que você vai ter, será algo muito pior.
Ernesto não prestou muita atenção à última frase, apenas perguntou:
- Dá para ver quem a sequestrou?
Quando manterá contacto? Onde ela está?

- Calma. Cada pergunta de uma vez.
Como lhe falei, sua ficha está suja e você é visto pela Legião das Sombras como um traidor, mesmo assim consegui ver algumas coisas.
Sua esposa está bem, mas vai sofrer no cativeiro.
Este não foi um sequestro comum, nem espere que ninguém vá pedir resgate, o que está acontecendo é uma vingança.

Ernesto abriu os olhos assustado.

- Vingança? De quem?
- Não consegui ver mais nada além disso, mas não é difícil deduzir.
Você prejudicou muitas pessoas enquanto foi pai de santo.
Provavelmente, uma dessas pessoas que se sentiu lesada está querendo se vingar.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:07 pm

Por isso, em nosso trato com os espíritos prometemos não nos casar.
Vejo que sua mulher vai sofrer muito nas mãos dessa pessoa.
Não se sabe se a vão lhe devolver com vida.

Ernesto sentiu o sangue faltar em suas veias.
Poderia haver um castigo pior?

Diego, vendo o sofrimento do amigo, colocou as mãos em seus ombros e disse:
- Vamos, Ernesto, Wilton não consegue ver mais nada e acho que já sabemos o suficiente para deixarmos este local.
Iam saindo, quando Wilton disse:
- Tenha esperança.
Se este não é o "castigo", é bem provável que ela volte sã e salva para casa.
Algo muito mais grave ainda o espera.

Ernesto sentiu-se mal ao ouvir aquilo.
Além de passar por uma situação daquelas, ter a mulher na mão de malfeitores, ainda iria sofrer mais!
Ele suportaria tudo, mas se tivesse Ingrid por perto.

Ao chegar em casa, contou tudo o que aconteceu.
Marisa não gostou do que o genro foi fazer, mas pelo menos sabia que sua filha estava bem.
Iria orar a Deus para que ela não sofresse e fosse logo devolvida.
Convidou todos para fazer uma prece, mas Ernesto se recusou a participar.

Foi para o quarto e, com os olhos fixos no tecto, começou a chorar.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:07 pm

26 - A conscientização de Arlete

O espírito de Arlete acordou e percebeu que estava alguns centímetros acima do corpo físico.
A princípio pensou estar sonhando, mas seu perispírito foi se levantando cada vez mais, até que tocou o tecto do quarto onde ela se mantinha em estado de coma profundo.

Ao se dar conta de sua real situação, começou a gritar desesperadamente.

Como aquilo poderia estar acontecendo?
Então tinha dois corpos?
Um que estava em estado vegetativo e outro que pairava no ar?
Que loucura era aquela!

Por mais que gritasse, ninguém vinha em seu socorro.
Passou assim vários dias e pôde perceber a movimentação dos médicos, das enfermeiras, das visitas de seus familiares, que aconteciam diariamente.
Depois de muito tempo, sentiu que alguém a puxava fortemente, até que tombou no chão.

Assustada, viu uma mulher com uma mortalha preta, cabelos desgrenhados, pés descalços e que sorria muito.

Tentou correr, mas a outra a agarrou:
- Pensa que vai aonde, garota?
- Solte-me, por favor, sua louca!
Quero sair daqui, certamente me levaram a um hospício e estou tendo alucinações. Socorro!

Quanto mais Arlete se desesperava, mais o espírito sorria macabramente.

- Desejo ser sua amiga e lhe revelar muitas coisas.
Não quer saber por que está nessa situação?

Arlete tremia de medo, mas, ao ouvir aquelas palavras, interessou-se.
Afinal, o que realmente estava ocorrendo com ela?
Por que via dois corpos seus?
Tentou vencer o medo e aproximou-se da mulher.

- Quero sim, afinal, estou prestes a ficar louca de verdade se não souber o que isso significa.
- Acalme-se. Primeiro vou me apresentar.
Meu nome é Gorete e por enquanto sou sua guardiã.
- Guardiã? Como assim?

Gorete abriu sua bolsa e retirou duas fotos pequenas.

Mostrou uma e perguntou:
- Reconhece?
- Claro que sim!
É o Bruno, meu marido que morreu.
Mas o que ele tem a ver com isso?
- Já vai descobrir.
E esta outra foto aqui?
Reconhece esta pessoa?
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:08 pm

Arlete olhou demoradamente, mas não conseguiu saber de quem se tratava.

- Não sei. Essa eu não conheço.
- Pois devia conhecer.
Ela é a causa de você estar aqui.
- Como assim? Se nem sei quem ela é, como pode ser a causa dessa situação louca por que passo?

- Eu não falei que é só ela a causa, seu marido também.
Lembra daquele feitiço que você encomendou com pai Ernesto para afastar uma rival de seu caminho?
Pois bem, o feitiço foi realizado e esta moça da foto, que se chama Diva, caiu de uma escada e ficou do mesmo jeito que você está agora, como um vegetal.

É justo que você receba o mesmo que ela.
Aquele acidente veio na hora certa.
O Cordeiro a puniu porque você fez o mal a essa moça.
Agora estou aqui com a função de não permitir que você volte ao corpo, o mesmo que fiz com ela.

Arlete sentiu todo o corpo arrepiar.

Seria verdade?
— Sinto que ainda duvida.
Deixe-me colocar a mão em sua testa que você vai se lembrar de tudo.

Arlete permitiu e, assim que Gorete colocou a mão direita em sua fronte, várias imagens começaram a se formar.
Ela reviu o dia em que foi ao consultório do pai de santo, quanto pagara pela consulta, o tombo que Diva havia tomado e seu estado na UTI, por fim, a cena do acidente e seu despertar fora do corpo.

Percebeu que a vida continuava e que estava pagando pelo seu erro.
Começou a chorar.
Gorete, vendo seu estado, começou a rir.

Riu tanto que Arlete se irritou e perguntou:
- Do que tanto ri? De minha desgraça?
Se é minha guardiã, deveria me ajudar, não ficar zombando.

Gorete, de repente, ficou séria e fez ar de mistério.

— É que sempre fico feliz quando vejo a infelicidade dos outros.
Na cidade onde moro procuramos induzir as pessoas a fazer toda sorte de maldades, para que, recebendo o troco, fiquem tão infelizes quanto nós.
Não suportamos saber que tem alguém feliz, enquanto estamos na tristeza, na culpa, no remorso.

Queremos todos iguais.
Se é para um, é para todos.
Foi por isso que a induzimos a procurar um pai de santo e fazer uma bruxaria.

- Se o que diz é verdade, as pessoas já deveriam ter deixado de fazer magia.
Aliás, quando vamos procurar um feiticeiro, ele nunca diz que vamos ter o troco, só nos promete o que queremos, pagamos e ficamos felizes quando as coisas acontecem.

— Como você é ingénua!
É claro que os feiticeiros não vão dizer isso, a maioria deles nem sabe da lei do retorno.
Na verdade, os feiticeiros estão, sem saber, sendo guiados pelos magos negros e cientistas das trevas para induzir as pessoas ao sofrimento.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Dez 30, 2012 10:08 pm

Eles também são enganados.
Mas fique certa de que toda pessoa que faz uma magia visando ao mal de alguém estará comprometida com os espíritos do astral inferior e com a lei do retorno.
Você mesma, dê-se por satisfeita por ainda estar viva, pois se seu cordão de prata tivesse se rompido e você houvesse desencarnado, estaria agora sendo escrava das legiões dos seres das sombras.

— E se você sabe que existe essa lei, por que também age no mal?
Gorete deu de ombros:
— Eu não tenho mais nada a perder.
Desde que perdi tudo e fiquei pobre, entrei no vício do álcool e morri de cirrose.
Como fiquei viciada, logo fui presa por outros espíritos que também tinham esse vício.

Fui cobaia deles durante muito tempo, até que um dia um grupo de cientistas me resgatou do vale para trabalhar para eles.
Hoje ajudo os feiticeiros e fico guardando o leito de algumas pessoas que estão em coma, como você.
Quanto a essa lei, sei que existe, mas não faço o mal por mim mesma, apenas sou uma funcionária, devo ter alguma atenuante.

Neste momento, uma luz forte penetrou no recinto.
Era o mentor de Arlete, que acabava de chegar.
Tinha uma aura que ia do azul-celeste ao prata.

Gorete percebeu que se tratava de um espírito de luz e encolheu-se a um canto, tremendo.

O ser de luz olhou ternamente para sua protegida e disse:
— É chegada a hora de você voltar à vida.
Deus lhe deu uma nova chance, tem de aproveitá-la. Vamos?

A luz era intensa e Arlete fechava um pouco os olhos incomodada, mas, à medida que fitava aquele bonito homem, a claridade parou de incomodar.
Ele pegou em suas mãos e fez com que se levantasse.

- Como Deus pode ter me dado outra chance?
Sou uma pessoa muito errada.
A Gorete diz que Jesus está me castigando e que ficarei assim por muito tempo.
Não mereço outra chance.

- Gorete, assim como muitas outras pessoas, está iludida a respeito das leis eternas e imutáveis que regem a vida.
Para Deus não existe o certo ou errado, o bom ou ruim, o que conta mesmo são as intenções que movem as acções de cada um.
É claro que existe a lei do retorno, mas nunca para punir ou castigar, apenas para disciplinar, alargar a consciência, despertar para os verdadeiros valores do espírito, sem os quais ninguém poderá ser feliz.

Quando o sofrimento nos alcança pela colheita natural de nossa semeadura, é sempre para que possamos arrancar a raiz do mal que ainda há em nós, tanto que, se a pessoa se modificar antes que ele chegue, não precisará mais sofrer.

Lembra-se de Paulo, o apóstolo?
Ele é um exemplo vivo de como o amor cobre a multidão dos pecados.
Não acredite em fatalidade, ela só ocorre quando a pessoa permanece com os mesmos pensamentos e a mesma conduta de antes.

Arlete chorava de emoção.
— Ouvi um dos médicos dizer que provavelmente não voltarei a andar.
Sou tão ruim assim para merecer isso?
— A medicina se engana muito.
Houve, sim, um pequeno problema em sua coluna, mas é simples e você voltará a andar em poucos dias assim que sair desse estado.

- Já que Deus me deu essa chance, vou aproveitar e ser uma pessoa melhor.
Meu irmão vive falando que precisamos estar conectados ao bem se queremos a felicidade.
Mas acho que não serei mais feliz.
Pouco antes do acidente, iniciei um tratamento psiquiátrico para depressão, meu marido morreu e não sei viver sem ele.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122535
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Ninguém Lucra com o Mal - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 5 de 7 Anterior  1, 2, 3, 4, 5, 6, 7  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos