LUZ ESPÍRITA
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Estava escrito - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:07 pm

Estava escrito
Maurício de Castro

Hermes (Espírito)

Dedico este livro ao amigo Fabiano Leão.
Que a Luz Divina o proteja e abençoe em todos os seus dias, sempre e sempre!

Capítulo 1
Assim que Celina acordou, olhou para o relógio de cabeceira e percebeu que eram ainda sete horas da manhã.
Ela sabia que acordaria mais cedo naquele dia, mesmo não tendo dormido quase nada à noite, que havia sido repleta de pesadelos e constantes sustos que a faziam acordar e passar horas abraçada ao travesseiro, com medo do que estava por vir.
Aquele era o dia fatídico.
Por mais que ela e sua irmã tivessem tentado evitar, por mais que as duas e o sobrinho tivessem lutado na justiça, nada havia adiantado.
Vinte anos depois, finalmente, Helena, a grande assassina do seu irmão, estava em liberdade.
Ela pensava que não estaria mais viva para presenciar aquele dia, mas ele havia chegado e ela precisava enfrentá-lo.
Sabia que, no outro quarto, sua irmã Vera Lúcia também se sentia aflita, inquieta e com muito medo.
Mas que medo Helena poderia causar?
Ficou provado, vinte anos antes, que foi ela quem matara Bernardo, seu irmão querido.
As provas foram contundentes, havia sangue em sua roupa e ela estava com a arma na mão.
Além de tudo, poucos minutos após ouvirem o tiro, chegaram ao quarto e encontraram Helena com a arma na mão, chorando alucinada.
Celina sentia muito ódio.
Era para aquela mulher ter sido condenada à pena de morte ou à prisão perpétua, mas aquelas penalidades não existiam no Brasil.
Helena representava uma ameaça, pois, provavelmente, após ser solta, desejaria retomar o convívio com os dois filhos, coisa que eles jamais permitiriam.
Mas... E se Renato voltasse a cair de amores por ela?
Estava solteiro todo aquele tempo e, mesmo namorando Letícia por três anos, nunca se animara a casar novamente.
Aqueles pensamentos incomodavam a mente de Celina que resolveu levantar e tomar um bom banho em sua grande banheira cheia de sais e deliciosos óleos relaxantes.
Tirou toda a roupa e mergulhou na água morna, com prazer.
Minutos depois estava mais calma.
No outro quarto, sua irmã Vera Lúcia já havia acordado, tomado um banho rápido, vestindo-se modestamente.
Então, foi bater no quarto do sobrinho.
Renato abriu a porta com o rosto cansado, denunciando que, assim como suas tias, não havia dormido bem.
- Preciso falar com você.
É urgente!
- Todos sabemos que Helena sai hoje da prisão.
Não quero falar sobre isso, quero esquecer e fingir que ela não existe.
Vera empurrou o sobrinho para dentro do quarto e sentou-se com ele sobre a cama dizendo nervosa:
- Você sabe que ignorá-la não é possível.
Helena sai hoje da penitenciária e vai voltar a nos procurar a fim de reactivar a convivência com os filhos.
Você precisa pensar no que vai fazer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:07 pm

- O que eu puder fazer para afastar essa mulher para sempre de nossas vidas eu farei.
Jamais deixarei que ela conviva com os meus filhos.
É um mau exemplo.
Vera olhou para o sobrinho, depois baixou a cabeça, sem saber se dizia ou não.
Renato, percebendo que ela queria dizer algo, perguntou:
- O que foi, tia?
Aconteceu algo que a senhora não quer me contar?
- Não, nada...
A voz de Vera estava vacilante, facto que deixou Renato ainda mais curioso:
- Aconteceu alguma coisa e a senhora não quer me dizer.
Vamos, fale logo!
Não podia adiar mais, era o momento, e Vera resolveu:
- Na verdade, a saída de Helena da prisão vai ser pior do que se possa imaginar.
Não é somente pelos filhos que ela pode nos prejudicar.
- E o que mais uma pobre mulher, uma ex-presidiária, poderá fazer contra nós?
- Há algo que sei há muitos anos e nunca lhe contei.
Não foi Helena quem matou o seu pai.
Um susto, e Renato ficou pálido:
- A senhora só pode estar brincando!
- Não. Esse é um segredo que guardei até hoje e acho que foi por isso que adoeci da mente, tendo essa síndrome do pânico horrível que não me deixa viver em paz.
É o pagamento pela minha omissão.
Renato sabia que a tia Vera Lúcia não era dada a mentiras nem a brincadeiras, por isso, cada vez mais nervoso, perguntou:
- Se não foi ela, quem foi então?
- Não posso dizer, mas tenho certeza que não foi a mãe de seus filhos quem matou o Bernardo.
Eu vi a cena do crime e identifiquei o assassino, embora estivesse tudo à meia-luz.
Vi que Helena chegou depois e, muito emocionada com o que viu, pegou a arma sem pensar bem no que estava fazendo.
Foi quando vocês entraram e a viram com a arma do crime nas mãos.
Mas sei que não foi ela.
Renato começou a andar de um lado a outro do quarto sem querer acreditar no que ouvia.
Aquilo não podia ser verdade.
Aqueles vinte anos foram de sofrimentos atrozes para ele, que, além de ter perdido o pai, perdera a mulher que amava, revelando-a assassina.
Como sua tia, vendo todo seu sofrimento, pôde ter alimentado aquela mentira?
Foi o que perguntou:
- Se a senhora sabia que ela não era culpada, por que não impediu que fosse presa uma inocente?
Por que, apesar de ver todo meu sofrimento e ver seus sobrinhos serem criados sem o amor de uma mãe, não disse a verdade?
Vera Lúcia começou a chorar de mansinho.
Ela sabia que errara muito.
Não tinha muitas justificativas, apenas uma, e ela disse:
- Eu tive medo de falar a verdade e ser morta também.
Fui uma fraca, uma egoísta, mas sei que, se revelasse o assassino, seria morta.
- Como assim? - perguntou Renato sem entender.
O assassino seria preso e a senhora ficaria livre.
Vera Lúcia sabia que não era bem assim.
Havia mais coisas naquela morte que jamais poderia revelar e tinha certeza que, se dissesse quem havia roubado a vida do irmão Bernardo, fatalmente seria morta em seguida, ainda que o assassino fosse preso. Contudo, não podia revelar, e após vinte anos, ainda corria perigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:08 pm

- Meu sobrinho - disse ela alisando seu rosto -, pelo amor de Deus, não diga isso a ninguém!
Até hoje corro risco de vida e não posso lhe dizer o porquê.
Só estou revelando isso hoje porque sei que ama Helena e não acho justo que sofra mais com a falta de vivência desse amor que continua sendo tão bonito.
Procure-a, vá recebê-la na porta da penitenciária, traga-a para morar aqui novamente e faça com que viva com os filhos recuperando o tempo perdido.
Renato estava surpreso e ao mesmo tempo angustiado.
Começou a andar novamente de um lado a outro do quarto sem saber o que fazer.
A revelação de Vera Lúcia o tinha deixado transtornado.
Ele, durante todos aqueles anos sofrera com aquela situação.
Saber que a mulher que mais amava havia matado seu pai que também era seu grande ídolo e lhe trouxera enormes saudades o angustiou muito.
A falta do pai e da mulher quase o fizera desistir da vida.
Só não chegou ao suicídio de facto por causa dos filhos.
Olhou para a tia que também estava transtornada e disse:
- Não posso fazer isso!
Por mais que a senhora me diga que Helena não é assassina eu não vou acreditar, não posso acreditar.
Seria muito sofrimento para mim e jamais a perdoaria pelo que fez.
Por isso, prefiro pensar que a senhora está enganada e que criou tudo isso.
Vera Lúcia irritou-se:
- Só porque tenho problemas mentais, agora quer dizer que fantasiei tudo?
- Não sei.
A senhora anda tendo alucinações, crises de pânico, diz que está vendo e falando com os mortos, não posso confiar na senhora, por mais que a ame.
E jamais iria buscar aquela assassina e trazê-la para o convívio com meus filhos.
Agora dê-me licença, preciso tomar banho e descer para o café.
- Vai se arrepender de não me ouvir - bradou Vera Lúcia com raiva.
Estou lhe trazendo a felicidade de volta e você recusa.
Pois, se não vai recebê-la, eu irei.
- Se fizer isso não a deixo mais entrar nesta casa.
- A casa também é minha, caro sobrinho, posso fazer o que quiser.
Vera Lúcia saiu batendo a porta com força, deixando Renato angustiado e com os pensamentos contraditórios.
Quando desceu para o café, seus três filhos já estavam à mesa junto com Celina que, com toda força que podia conseguir, fingia que nada estava acontecendo.
Quando Renato deu bom dia e beijou os filhos, ela perguntou:
- Não vai à empresa hoje?
- A senhora sabe que raramente vou lá, especialmente hoje.
- Que há hoje, papai? - questionou Andressa, a mais velha, com então 22 anos.
- Nada especial, minha querida, apenas não acordei bem, não desejo sair de casa hoje.
- Mas o senhor não sai de casa quase nunca, não sei como não enlouquece - disse Fábio, o filho do meio, com 21 anos.
- É mesmo, papai, o senhor precisa ser mais social, temo que uma hora acabe por adoecer - finalizou Humberto, o caçula de 19 anos.
Humberto não era filho de Helena e Renato.
Algum tempo após Helena ter sido presa, durante uma madrugada, os vigias da mansão acordaram com certa movimentação alegando terem visto uma sombra de mulher que, deixando pequena caixa em frente ao portão, sumira no escuro, desarvorada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:08 pm

A emoção tomou conta de todos da família ao verem o lindo e rosado bebé que já chorava pedindo colo.
Acolheram a criança e foram a todos os órgãos responsáveis na tentativa de encontrar sua mãe.
A justiça concedeu um tempo para que a família ficasse com a guarda até que a solução fosse encontrada, até que um ano depois deram o caso por encerrado.
Renato, então, adoptou Humberto como seu filho e filho de Helena.
Renato conseguiu que a certidão ficasse como a dos outros filhos e o rapaz, até aquele momento não sabia que era adoptivo, pois Celina e Vera Lúcia proibiram de contar, alegando que ele poderia se sentir inferior aos outros.
Além delas e de Renato, só Berenice, a governanta da casa é que sabia a verdade.
Renato foi respondendo às perguntas que os filhos faziam, como sempre:
- O pai de vocês é caseiro mesmo.
Pensei que já tivessem se acostumado.
Não gosto de festas, não gosto de sair, a não ser por necessidade.
- O senhor só sai com sua noivinha - disse Andressa, mostrando ciúmes.
- Vocês precisam aceitar Letícia.
Já pedi para pararem com essa implicância com ela.
- Jamais! - bradou Andressa.
Dizem que foi por causa dela que mamãe morreu.
Renato empalideceu:
- Como assim?
Quem andou falando isso?
- A tia Vera Lúcia.
Num daqueles momentos em que fica doidona ela disse que Letícia já gostava do senhor muito antes de se casar com nossa mãe e que foi por causa dela, que mantinha um relacionamento com o senhor, às escondidas, que mamãe soube e por desgosto, adoeceu e morreu.
- Não acredite nisso, minha filha.
Pelo amor de Deus!
Você sabe que sua tia tem problemas mentais.
Como ousou inventar tal mentira?
É certo que Letícia já era nossa amiga desde aquele tempo, mas nunca tivemos nada.
Sua mãe morreu porque adoeceu gravemente e não pudemos curá-la.
Celina estava nervosa com aquela situação.
Vera Lúcia estava extrapolando com suas loucuras.
Morria de medo de que um dia, durante aqueles ataques inexplicáveis, ela acabasse revelando a verdade a respeito de Helena.
Desviou logo os pensamentos ao ver a irmã descer as escadas bastante arrumada.
- Berenice - falou, dirigindo-se à governanta mande o Hélio tirar o carro, vou sair.
O coração de Celina e de Renato descompassaram, e ele disse:
- Para onde vai, tia?
- Vou fazer uma visita.
- Assim tão cedo e sem tomar café? - perguntou Celina já sabendo do roteiro da irmã.
- Estou sem fome e já fui à copa e tomei um copo de leite.
É o suficiente.
Andressa tornou:
- Tia Vera está misteriosa.
Terá encontrado um namorado?
Ela sorriu:
- Não, minha querida, sua tia não está namorando e nem tem mais idade para isso.
Vou visitar uma amiga que sai hoje do hospital - disse olhando de soslaio para o sobrinho e para a irmã.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:08 pm

Prosseguiu:
- É um acto de caridade que ninguém nesta casa quer fazer.
Fábio disse:
- Tia Vera é muito caridosa.
Não tenho aula hoje pela manhã, posso ir com a senhora se quiser.
Ela empalideceu, mas se recompôs rapidamente:
- Em absoluto! Não precisa, meu querido.
Bem, agora preciso ir.
Vera Lúcia saiu e, poucos segundos depois, Renato levantou-se da mesa e a seguiu sem dar maiores explicações.
Correu para perto da tia que estava no jardim já entrando no carro.
- A senhora não pode me desafiar indo lá esperar aquela assassina sair da prisão!
- Irei porque sei que ela não é assassina, e era você quem deveria estar lá junto comigo para recebê-la.
Mesmo depois do que lhe disse ainda resiste.
Não acreditou em mim, mas um dia saberá que estou falando a verdade.
- Mas, tia...
- Nem um mas.
Faço o que minha consciência manda e já perdi tempo demais aqui. Adeus!
Vera entrou no carro e ela mesma foi dirigindo.
Fazia o que seu coração mandava e naquele momento a ordem era para apoiar Helena, que sairia da prisão para enfrentar um mundo preconceituoso, sem apoio de ninguém e com o agravante de não poder ver os filhos que tanto amava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:08 pm

Capítulo 2
Naquela manhã, Helena acordou de coração oprimido.
Finalmente, lugar que queria esquecer para sempre.
Estava em uma cela particular, pois cumpria seus últimos dias, e a direcção do presídio havia lhe permitido se separar das demais prisioneiras e ficar sozinha.
Na suja parede da prisão três fotografias faziam-lhe esboçar leve sorriso.
Eram fotos de seus filhos na infância e uma foto de seu casamento com Renato.
Como estava feliz naquela imagem!
Nunca poderia imaginar que usufruiria por tão pouco tempo daquela felicidade por uma fatalidade que a afastara do convívio do homem que amava e que passara a lhe odiar com todas as forças do coração.
Ela podia compreender aquele ódio.
Qual filho não odiaria para sempre uma mulher que tirara a vida de seu pai amado?
Mas ela não havia matado ninguém.
Fora presa injustamente e, por causa do ódio de Renato e de Celina, nunca pôde sair da prisão, pois eles usaram os melhores advogados a fim de mantê-la retida todos aqueles anos.
Nem sua boa conduta no presídio havia sido levada em conta.
A defensoria pública, corrupta, fora comprada pelo dinheiro daqueles dois e não houve como ela se libertar.
Tivera que passar vinte anos presa como um animal feroz e perigoso, longe de tudo o que amava.
Mas agora era a hora da virada.
Ela estaria de volta e colocaria, custasse o que custasse, o verdadeiro assassino na cadeia.
Helena sabia que Vera Lúcia jamais acreditara que ela havia matado o senhor Bernardo, mas nada pôde fazer para ajudá-la.
Não sabia bem o que ocorrera, mas Vera Lúcia estava presa a um segredo que a impedia de contar a verdade.
Todos imaginavam que ela sairia da penitenciária sem ter para onde ir, nem a quem recorrer, já que sua família, residente no interior, lhe virara as costas após o crime.
Soube que seu pai morrera há cinco anos e sua mãe vivia com dificuldade, junto com os irmãos em Sorocaba.
Assim que provasse sua inocência, iria procurá-los.
Ela não tinha mágoa nem raiva de ninguém.
Seu coração não possuía ressentimentos.
Entendia que seus pais não tinham como admitir uma assassina na família.
Eram evangélicos rigorosos e, como ela negara o crime, diziam que era porque ela não queria se arrepender, por isso estava com o demónio.
Renato... Renato foi o seu primeiro e único amor.
Podia entender seu ódio.
Ele e Bernardo eram muito ligados e Renato amava muito o pai.
Celina era muito desvelada com o irmão e, por ter a certeza de que ela o havia matado, também não tivera condições de perdoar, mas ela precisava fazer justiça, e a vida havia lhe ajudado de uma maneira tão estranha e ao mesmo tempo maravilhosa que lhe favoreceria a isso.
Cinco anos antes chegara à sua cela uma detenta chamada Cristina Aragão.
Era uma empresária rica e famosa, acusada de lavagem de dinheiro e envolvimento com o tráfico de drogas.
Em pouco tempo, ficaram amigas e Cristina lhe revelara que realmente era culpada do que lhe acusavam.
Seus bens foram confiscados, restando apenas uma linda mansão no bairro do Ipiranga e uma conta secreta que não havia sido descoberta.
Durante os anos que permaneceu aguardando julgamento, Cristina viu em Helena uma pessoa em quem podia confiar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:08 pm

Contou-lhe toda sua vida e Helena, por sua vez, desabafou contando a sua.
Cristina passou a ter por ela verdadeira afeição e dias antes do julgamento chamou-a e disse:
- Não tenho ninguém.
Sempre fui uma pessoa sozinha.
Tive meus casos amorosos, mas nunca me liguei a homem algum.
Meus bens foram confiscados, outros vendidos para pagamento de dívidas, mas possuo uma conta num banco estrangeiro e uma casa muito grande.
Esses bens são legítimos e quero dá-los a você.
Helena surpreendeu-se:
- Não posso aceitar, Cristina, eles são seus.
Você poderá ser absolvida e deverá voltar para sua casa e usar seu dinheiro.
- Sei que não serei absolvida.
Todas as provas são contra mim e eu mesma me declarei culpada.
Passarei muitos anos na prisão e, enquanto eu estiver cumprindo minha pena quero que fique tudo entregue a você.
Chamarei meu advogado e farei uma procuração para que possa tomar conta de tudo.
Nunca encontrei em minha vida alguém com seu carácter.
Infelizmente sou uma mulher perdida, sem rumo, deixei me levar pela ambição, pagarei pelos meus erros, mas com você aprendi que ser honesta é a melhor coisa da vida.
Durante esses cinco anos que passamos juntas, você, mesmo inocente, nunca acusou ninguém, nunca falou mal, nem a vi ter ódio.
Você, com sua bondade, me inspirou a ser melhor.
Por isso, quando sair da prisão, quero encontrar você e poderemos, conforme estiver sua vida, viver juntas ou simplesmente poderei lhe agradecer por ter cuidado do que me restou.
Por isso, peço que aceite!
Diante daqueles argumentos, Helena não teve como negar.
Abraçou a amiga com força e ambas choraram emocionadas.
No dia seguinte o advogado foi até o presídio onde Cristina, por ser suspeita de comandar uma rede de tráfico, estava detida para esperar o julgamento em segurança máxima.
Assinaram os papéis e tudo ficou acertado.
Dias depois, o julgamento de Cristina aconteceu e ela foi condenada a 30 anos de prisão em regime fechado.
Os advogados ficaram de recorrer, mas uma semana depois veio a trágica notícia:
no presídio para onde fora levada, Cristina, deprimida e inconformada pelos longos anos que teria de cumprir, acabou se suicidando, asfixiando-se.
Helena sentiu muito o trágico fim da amiga, mas outra surpresa veio acontecer um mês depois.
O advogado de Cristina disse que ela havia feito um testamento, parecendo já saber o que pretendia realizar, deixando a mansão e todo o dinheiro para Helena.
Aquilo a tomou de surpresa e ela se recusou a aceitar, ao que o Dr. Américo disse:
- É melhor aceitar, senhora Helena, pois há uma cláusula que diz que, caso a senhora não aceite, tudo será revertido a instituições de caridade.
- Então, é melhor, essa pequena fortuna não me pertence.
Não posso aceitar.
- Volto a dizer que é melhor que aceite, pois a senhora Cristina, propositalmente, talvez para forçá-la a aceitar, colocou no documento nomes de instituições duvidosas, que desviam o dinheiro para fins ilícitos, e duas delas já fecharam as portas.
A senhora deseja que todo o património que restou dela vá parar em mãos sujas?
Helena viu que não havia jeito e acabou por aceitar.
Aquelas lembranças fugiram de sua mente com rapidez quando Zezé, a carcereira, foi chamá-la sorrindo:
- Finalmente, seu dia chegou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:09 pm

Não aguentava mais vê-la aqui.
- Muito obrigada por tudo, Zezé, saberei recompensá-la.
Me procure no endereço que já lhe dei.
- Não se preocupe, Helena, não quero nenhuma retribuição.
Tudo o que fiz por você foi porque sei de sua honestidade.
- Ainda assim.
Aqui fiz amizades e você é uma delas.
Caso precise, não hesite em me procurar.
Ambas se abraçaram:
- Vá ser feliz, você merece!
- Feliz não sei, mas vou fazer justiça!
- Deus a proteja.
De posse de pequena mala, Helena foi andando vagarosamente pelos intermináveis corredores do presídio até que chegou à recepção.
Tânia, que trabalhava ali desde a sua chegada, também se emocionou com sua saída e lhe entregou seus pertences:
- Foi tudo o que deixou aqui quando chegou.
Helena abriu uma caixinha e lá estavam outras lembranças da família, fotos dos filhos, mechas de cabelos de cada um deles, seu anel de casamento, algumas cédulas que não tinham mais valor, que ela não se lembrava como haviam parado ali.
- Obrigada por tudo, Tânia!
- Seja feliz, Helena.
Assim que se viu fora daqueles muros altos, Helena olhou o sol emocionada e respirou com profundidade o ar puro.
Como era bom estar livre!
Como era bom poder voltar à vida!
Olhou para os lados na esperança que Renato estivesse ali esperando por ela.
Mas em vão. Não havia ninguém.
Ela havia vestido um costume azul-claro simples, mas bonito, presente de Tânia para o dia de sua saída.
Havia dado um jeito nos cabelos ruivos e revoltos, amarrando-os para trás com gracioso laço de fita.
Sabia que vinte anos não tinham sido suficientes para apagar o amor que sentia por Renato.
Amava-o como nunca e a esperança de que ele estivesse ali, por mais remota que fosse, pairava em seu coração.
Resignada, pegou as malas e foi andando.
Havia um ponto de táxi a uma quadra dali, segundo lhe informara Tânia, e de lá seguiria para a mansão que fora da amiga inesquecível...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:09 pm

Capítulo 3
Andou poucos passos quando viu um elegante carro se aproximar.
O vidro baixou lentamente e ela, com susto, percebeu ser Vera Lúcia ao volante.
Sorrindo, Vera olhou-a:
- Entre, vim buscar você.
- Vera! - disse Helena, emocionando-se.
Sabia que você iria me procurar, só não pensei que fosse justamente hoje.
Você nunca acreditou que eu tivesse matado seu irmão.
- Nunca acreditei mesmo, mas entre logo, vim para ajudá-la.
Helena entrou no carro pondo a pequena mala no banco traseiro.
- Sei que não possui nada, nem mesmo um lugar para ficar.
Para onde pensava ir?
Helena hesitou um pouco, mas disse:
- Na verdade tenho onde ficar.
Ia agora mesmo para o ponto de táxi e de lá iria me dirigir ao Ipiranga.
- Ipiranga? Tem alguma amiga lá?
- É uma história longa, Vera, outra hora lhe conto.
Mas me diga: como estão meus filhos e Renato?
Morro de saudades deles.
Foi cruel o que Renato fez, privando-me da convivência com eles.
- Foi cruel, mas o que você queria que ele fizesse?
Que dissesse que a mãe era a assassina do avô deles e que estava presa?
Ela se calou.
Vera tinha razão.
Ela não queria que os filhos pensassem que ela era a assassina do senhor Bernardo.
- Mas você não me disse como estão.
- Estão todos bem.
Andressa está uma mulher linda, e o Fábio um rapaz inteligente e saudável.
- Estou louca para vê-los!
- Sei que está e acho que você deve vê-los, mas deve esperar algum tempo.
Vim porque pretendo ajudá-la a descobrir o assassino, mas ninguém jamais poderá saber que estou do seu lado.
Helena ia falar, quando Vera disse:
- Vamos nos calar por enquanto e durante o lanche que faremos numa confeitaria próxima, direi a você tudo que sei.
Helena sentiu-se confortada pela ajuda de Vera que naquele momento apertava sua mão imprimindo força.
Rodaram por mais algumas ruas até que Vera parou numa confeitaria discreta, porém elegante.
Após fazerem os pedidos e estarem bem instaladas no ambiente, Vera Lúcia começou:
- Eu sei quem matou o meu irmão.
- Como assim?
Você sabe? - assustou-se Helena.
- Sei e esse segredo me tortura tanto a ponto de eu ter desenvolvido problemas mentais.
Nunca me perdoei por ter me calado durante tanto tempo sem revelar a verdade.
Os olhos de Helena brilharam emocionados:
- Mas por que você me deixou presa todos esses anos?
Por que me deixou longe de meus filhos e do homem que amo?
Vera hesitou um pouco, mas disse:
- É que não posso revelar a verdade.
Minha vida e também a de um de seus filhos correria perigo se o verdadeiro assassino fosse preso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:09 pm

- Como assim?
Você vive sob ameaça?
- Sim. Eu mesma procurei o assassino um mês após o crime, fiz de tudo para que se entregasse, revelasse a verdade.
Mas ele não me ouviu, o que era lógico.
Então, disse que iria naquele momento mesmo entregá-lo à polícia.
Foi quando me ameaçou e também ao Fábio, que tinha apenas três anos na época.
Meu medo foi tanto que me calei durante todos esses anos.
Creia, Helena, se eu falar, tenho certeza que serei morta e seu filho também.
Um arrepio de horror passou pelo corpo de Helena.
- Então, como vou fazer para descobrir quem matou o Dr. Bernardo e poder me apresentar limpa e digna para meus filhos?
- Sinto muito, minha querida, mas você terá que descobrir sozinha o autor do crime.
E aconselho que tenha muita cautela, se ele desconfiar que você está investigando, não só a vida de seu filho, mas a sua também correrão perigo.
- Mas o que meu filho Fábio tem a ver com isso?
Vera empalideceu.
Sabia que aquela pergunta viria, mas não poderia respondê-la por completo:
- Não posso dizer, o que posso garantir é que o assassinato do meu irmão teve muito a ver com seu filho Fábio, neto dele.
Helena tomou-se de horror.
O que poderia fazer? Jurou, em todos aqueles anos que ficou presa que, assim que saísse, descobriria o assassino, mas então, com as revelações de Vera, não poderia fazer aquilo e arriscar a vida de um jovem que tinha tudo pela frente e que ela amava de todo coração.
- Obrigada, Vera, por ter me alertado.
Tenho muito dinheiro agora e quero mover céus e terras para descobrir o autor daquela atrocidade, mas vejo que terei de esperar.
- Eu aconselho você a esquecer esse assunto e deixar o assassino nas mãos da justiça divina.
- Mas como posso deixar de fazer justiça por ter ficado presa 20 anos?
Por ter ficado tanto tempo longe do homem que amo e de meus filhos?
Não pude acompanhá-los no crescimento, na chegada à adolescência, nos primeiros namoros, na escolha da profissão, nada!
Acha justo isso para uma mãe?
- Não, não acho justo, mas menos justo ainda é Fábio morrer por conta de uma vingança.
Sei que é uma boa mulher, por isso tenho certeza que o amor pelo seu filho será maior do que seu desejo de vingança.
Vera estava se levantando quando Helena pegou em seu braço:
- Posso até esquecer o assassino, mas tudo farei para ter o convívio com meus filhos de volta, nisso irei até o fim.
- Penso que está certa e vou lhe ajudar.
Mas você não pode aparecer como a assassina do avô deles.
Seria uma tragédia e eles não iriam aceitá-la.
Acreditando que você foi a culpada, Renato disse-lhes que a mãe deles morreu num acidente.
Eles pensam que você está morta.
Helena chorou sentidamente, enquanto Vera a consolava:
- Não fique assim, minha querida.
Vou encontrar uma forma de você voltar a conviver com seus filhos.
Passe-me seu telefone, ligo assim que tiver uma ideia boa.
- Ainda não comprei um celular, mas a casa que vou morar tem telefone, anote aí.
Vera abriu sua bolsa, pegou pequena agenda e anotou o número e o endereço.
Ambas se abraçaram e despediram-se.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:09 pm

Na saída da confeitaria, Vera disse:
- Infelizmente não posso levá-la até sua nova casa.
Tenho certeza que, a essa altura, o assassino já deve estar nos seguindo ou ter mandado nos seguir.
Tenha muito cuidado, Helena.
Amo seu filho como se fosse meu e posso até morrer, mas ele não.
É um rapaz inocente, inteligente, meigo.
Não merece pagar por um crime que não cometeu.
- Entendo, Vera, vou reflectir no que me disse e aguardar sua ligação.
Vera entrou no carro e partiu.
Helena ficou pensativa, e grossas lágrimas desceram por sua face.
Pelo que a cunhada dissera não havia muito o que fazer.
Ela estava de mãos e pés amarrados.
Seu filho corria perigo, e ela não podia arriscar.
Tentaria, com o tempo, descobrir a verdade através de Vera, mesmo que não fosse mais entregar o culpado à polícia.
Mas de uma coisa tinha certeza:
iria descobrir quem fizera aquilo e a mandara para o destino cruel de ser presa inocente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:09 pm

Capítulo 4
Quando Helena chegou à mansão que Cristina lhe dera, ficou surpresa.
A casa era realmente grande, bonita e muito bem conservada.
O grande jardim da frente estava descuidado, com o mato invadindo os canteiros e impedindo que as roseiras se desenvolvessem do jeito que deveriam.
Ela amava rosas e quando morava com Renato fazia questão dela mesma cuidar das flores.
Como era bom aquele tempo! Como fora feliz!
Após pagar o táxi, ela pegou as chaves, abriu o portão e seguiu por uma grande alameda até chegar à porta principal feita em madeira ricamente trabalhada.
Girou a fechadura e entrou.
Como o advogado lhe dissera, a mansão estava toda mobiliada e arrumada.
Ele, a pedido de Helena, providenciara arrumadeiras e copeiros para deixar tudo no lugar a fim de receber a futura dona.
Olhou os cómodos principais e sorriu feliz ao pensar que sua amiga deveria estar alegre por vê-la ali cuidando do que era dela.
Àquele pensamento passou-lhe um arrepio de horror.
Se a vida realmente continuava como diziam algumas pessoas, sua amiga deveria estar num lugar de muito sofrimento.
Os espíritas diziam que os suicidas sofriam muito no mundo espiritual, que ficavam em locais de grande sofrimento revivendo o instante do crime.
Será que era verdade?
Helena não tinha certeza, não acreditava naquelas coisas, no entanto resolveu orar.
Orou sentidamente por Cristina, pedindo a Deus que a amparasse onde quer que estivesse.
Agradeceu-lhe por ter deixado aquela boa casa e um bom dinheiro para que refizesse a vida e pudesse lutar pelos seus filhos, mas disse-lhe que o que ela queria mesmo era que Cristina estivesse viva, usufruindo também de tudo aquilo.
Helena não podia ver, mas encolhido a um canto da sala estava o espírito Cristina, todo envolto em energias negras e densas, cheio de equimoses pelo corpo.
A prece feita por Helena a aliviara das muitas dores que sentia, mas ela prosseguia triste e infeliz, muito arrependida pelo acto que havia cometido.
Ficaria ali para sempre ao lado da única amiga verdadeira que fizera na vida.
Helena não percebeu nada e subiu.
Olhou os quartos e escolheu um que tinha vista para o jardim.
Havia uma cama de casal, um belo e grande guarda-roupa, dois criados-mudos e um lindo toucador.
Entrou no banheiro e tomou uma ducha reconfortante.
Desceu as escadarias, foi para a cozinha e abriu a geladeira.
Tudo que ela precisava para se manter por pelo menos um mês estava ali e dentro dos grandes armários.
Fez um lanche saboroso e, depois de comê-lo, foi para a sala de estar.
Deitou-se em confortável sofá e começou a lembrar de como havia conhecido Renato.
Ela era uma jovem de 19 anos nascida e criada em Sorocaba.
Muito bonita, tinha cabelos ruivos e lisos, olhos amendoados, tez clara e voz suave.
Era uma moça encantadora.
Seus pais eram evangélicos e por isso ela e os irmãos tiveram educação rigorosa.
Até aquela idade nunca havia tido um namorado, pois seus pais diziam que ela só poderia namorar um rapaz da mesma religião que eles e fizesse parte da mesma congregação.
Ela aceitava aquela forma de viver e era tranquila.
Enquanto as colegas de colégio viviam metidas em namoros que davam errado e as faziam sofrer, Helena estava calma, sabendo que um dia teria seu marido e filhos.
Diferente das demais jovens da época, ela não queria trabalhar fora ou fazer curso superior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:10 pm

Dentro de si havia um desejo imenso de ter seu marido e dedicar-se a ele e aos filhos por amor e prazer.
Seu sonho era ser dona de casa.
Naquele tempo, as mulheres estavam começando a ser mais valorizadas no mercado de trabalho, a abertura dos costumes e a quebra de tabus faziam com que a maioria quisesse estudar, ter carreira e ajudar os maridos no orçamento doméstico.
Não que ela não quisesse ajudar o marido ou fosse preguiçosa, mas achava ser dona de casa um trabalho muito bom e honesto.
Em sua mente não via diferença entre uma advogada brilhante e uma dona de casa esmerada e, por isso, também brilhante.
Se seu marido fosse pobre ela poderia se dedicar à costura, pois havia feito o curso e sabia costurar muito bem.
Lembrou-se de que conhecera Renato quando a empresa do pai dele inaugurara uma filial em sua cidade.
Sua mãe Edite havia sido contratada para ser uma das funcionárias da limpeza, e no dia da festa de inauguração todos deveriam estar presentes.
Ela pôs sua melhor roupa e, junto com a família, foi receber o senhor Bernardo, seu sócio Bruno e seu filho Renato que, com 25 anos, já trabalhava junto ao pai.
Durante a festa, eles trocaram olhares e Renato se aproximou.
Helena não acreditava no que estava acontecendo.
Renato era lindo e extremamente rico, não era possível que tivesse se interessando por ela.
Mas era verdade.
Renato apaixonou-se por Helena à primeira vista e, enfrentando a resistência do próprio pai e dos pais dela, iniciaram namoro.
Toda a cidade não falava em outra coisa e, seis meses após se conhecerem, já estavam casados e morando na capital.
Helena havia feito o colegial e era uma mulher muito educada, mostrando muito bom gosto.
Celina e Vera a ajudaram a comprar todo o enxoval, bem como as roupas que utilizaria depois de casada, já que pertenceria à mais alta sociedade.
Surpreenderam-se quando viram o bom gosto da moça que, de maneira muito natural, escolhia sempre as melhores peças de roupa, as mais bonitas, com os cortes mais bem feitos e caimentos perfeitos.
Helena mostrou-se uma grande dama desde o início.
O que ela teve de enfrentar desde sempre foi o ódio e a desconfiança do senhor Bernardo.
Ele nunca aceitou o fato do filho ter se casado com Helena, pois a via tal qual uma pobre sem educação e berço, interessada apenas em sua fortuna.
Não foram poucas as vezes que dizia ao filho para se separar, argumentando que Helena não o amava e logo arrumaria um amante.
Renato, contudo, nunca acreditou no pai e prosseguia no casamento.
Chegou Andressa, e a mansão se encheu de alegria.
Lágrimas escorriam pelo rosto suave de Helena ao se lembrar do nascimento da filha.
A menina era linda, muito parecida com o pai, o que deixou o senhor Bernardo mais maleável, principalmente por vê-la cuidar bem da criança, dedicar-se integralmente, mostrando-se excelente mãe.
Mas o tempo passou, e as implicâncias continuaram.
Ele fazia questão de humilhar Helena todo o tempo.
Não foram raras as vezes em que Renato teve que interferir a fim de que Helena não sofresse mais com tantas humilhações.
Quando Fábio nasceu, um ano e meio depois de Andressa, Bernardo tornou-se um pouco mais maleável com Helena, mas assim que a criança foi crescendo toda a implicância em relação à nora voltou novamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:10 pm

Helena foi perdendo a paciência e começou a responder à altura, o que o deixava ainda mais irritado e com ódio.
Sempre lhe atirava na cara que a mulher de seu filho deveria ser Letícia, filha de seu sócio Bruno, uma moça realmente merecedora e digna, que já namorava Renato antes do fatídico encontro dele com Helena em Sorocaba.
Ela, contudo, aprendera a se impor, e os dois então viviam trocando farpas e com isso o ambiente da mansão acabava se tornando insuportável.
Renato, que amava e tinha verdadeira adoração pela mulher, começou a pensar em se mudar para outra casa, mas Bernardo, ao ter conhecimento daquela ideia do filho, com muita raiva, dissera em alto e bom som, na presença do sócio Bruno e de alguns empregados, que mataria Helena caso o filho saísse de casa.
Três dias depois daquela discussão aconteceu o crime.
Era noite e parecia que todos já haviam se recolhido.
De repente, Helena, que havia descido um pouco para tomar ar no jardim por estar com insónia, fruto do nervosismo que as intermináveis discussões com o sogro provocavam, ouvira um tiro.
Assustada, correu para dentro de casa e viu a luz do escritório acesa.
Ao chegar lá, encontrou Bernardo morto com um tiro certeiro no coração, e o revólver jogado ao lado.
Aquela cena a desesperou e ela, sem pensar, correu para cima do corpo dele a fim de reanimá-lo.
Naquele momento, sua roupa já estava suja de sangue e ela, no desespero e sem saber que estava se comprometendo ainda mais, abaixou-se ao chão a fim de pegar a arma e mostrar a todos que o tiro saíra daquela pistola.
Mas, antes mesmo de se levantar, viu os rostos de Renato, Celina, Vera Lúcia e Berenice que a olhavam com ares de acusação.
Por mais que ela tentasse explicar, suplicando para que fosse ouvida, ninguém acreditou em sua inocência.
A polícia foi chamada e ela, presa em flagrante, jamais poderia esquecer o olhar de decepção de Renato e sua última frase para ela:
- Tenha certeza que pagará por esse crime e nunca, por mais tempo que viva, a perdoarei.
Você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida.
Meu pai sempre teve razão.
O mundo havia acabado para ela naquele instante.
Poderia aceitar as desconfianças de todos ali, menos do homem que amava e que julgara conhecê-la o suficiente para saber que jamais cometeria aquele crime.
No tempo em que ficou presa aguardando julgamento, recebeu a visita de Celina que lhe jurara vingança, de Bruno, o sócio e melhor amigo de Bernardo, que prometera contratar os melhores criminalistas do país para fazê-la ficar presa o mais tempo possível, de Letícia que a visitou com a intenção de tripudiá-la sobre sua desgraça por ter sido preterida por Renato e por Vera Lúcia, a única que dizia ter a certeza de que ela não era a assassina, mas que não podia fazer nada para ajudá-la.
Levando em conta a péssima relação que tinha com o sogro, as últimas e mais fortes discussões de ambos, a ameaça dele em matá-la e o verbo inflamado da acusação afirmando que ela matara por ódio, o júri fora unânime em considerá-la culpada, sob pena de 20 anos de prisão em regime fechado.
Havia a possibilidade da redução da pena em um terço, dentre outras facilidades, mas a família de Renato, juntamente com Bruno, comprou a todos, então Helena passou os 20 anos na penitenciária.
Ela só não podia esquecer uma visita que lhe foi feita um mês após sua condenação.
A carcereira a chamou dizendo que uma pessoa queria vê-la.
Ela achou que deveria ser o pai ou a mãe que havia lhe perdoado ou algum dos irmãos, mas qual não foi a surpresa ao se deparar com uma mulher bem-vestida, loura, cujos cabelos ela percebeu imediatamente tratar-se de uma peruca.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 23, 2018 9:10 pm

Estava de óculos escuros, deveria ter 50 anos no máximo e seu rosto era muito familiar.
A estranha mulher sentou-se e disse:
- Não precisa perguntar quem sou, pois não posso me revelar.
Vim lhe dizer que sei que é inocente e um dia a ajudarei a provar isso.
Vera Lúcia está certa ao acreditar que você não o matou, só eu e ela sabemos quem foi.
Um dia poderei lhe ajudar a sair daqui, mas se não conseguir lhe ajudar a sair, assim que cumprir a pena e estiver livre a procurarei para ajudá-la a fazer justiça.
Helena lembrava-se que a mulher chorava, mas ela não sabia o porquê.
Suplicou:
- Seja a senhora quem for, me ajude, fizeram uma injustiça comigo, deixei dois filhos lindos lá fora, que muito amo e sei que sentirão a falta de uma mãe.
Renato me ama e será muito infeliz vivendo em meio a essa tragédia.
Se sabe quem matou o senhor Bernardo, fale à justiça, seja caridosa.
- Infelizmente, agora nada poderei fazer, mas na hora exacta virei lhe ajudar.
Dizendo aquilo, a elegante senhora saiu.
Durante mais de dez anos aquela visita tinha sido sua esperança, mas que acabou morrendo com o tempo.
Fosse quem fosse aquela mulher, ou tinha morrido ou não podia ajudá-la e não acreditava que depois de tanto tempo essa misteriosa mulher cumpriria a sua promessa.
Afinal, que assassino tão perigoso era esse que colocava em risco a vida daquela senhora, de Vera Lúcia e até do seu filho Fábio?
Seria alguém da casa? Impossível.
Celina não tinha motivos para matar o irmão, muito menos Vera que era uma pessoa irrepreensível.
Havia Berenice, a governanta que morava na casa muito antes dela chegar, mas era também uma pessoa boa, de muito bom carácter.
Não! Definitivamente na casa o assassino não estava.
Mas havia Bruno, o sócio, que, com a morte de Bernardo poderia agir mais livremente nas empresas, sua mulher Morgana, também muito interesseira e sua filha Letícia que jamais havia se conformado em ter perdido Renato para ela.
Um dos três, sabendo da desavença que existia entre sogro e nora, poderia ter matado para incriminá-la.
Mesmo que não tivesse com a arma na mão, a principal suspeita seria ela, devido a tudo o que vivia com Bernardo naquela mansão.
Após muito pensar, Helena resolveu sair.
Iria a alguma loja próxima comprar algumas roupas.
Estava desactualizada do mundo e não sabia nem andar pelas ruas direito.
Pegou a lista telefónica, pediu um táxi e esperou.
Consultou o motorista que a indicou um shopping não muito grande dentro do próprio bairro.
Então, ela se dirigiu para lá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:47 pm

Capítulo 5
Quando entrou, sentiu-se perdida, não se recordava bem da última vez que estivera em uma loja de departamentos, não sabia usar os cartões de crédito que o advogado lhe dera, mas estava com algum dinheiro na bolsa.
A conta de Cristina no exterior era lícita, não houve como comprovar irregularidades naquele dinheiro, e o Dr. Américo só estava esperando que se resolvessem alguns problemas com seu nome para ir com ela abrir uma conta para que fizesse a transferência do montante.
Para que ela pudesse se arranjar com pequenas coisas, ele lhe deu quantia razoável.
Entrou numa loja de roupas femininas e provou algumas saias e blusas.
Havia um vestido de seda verde-garrafa muito bonito, mas ela viu que o dinheiro não daria para comprá-lo.
Quando pagou e saiu da loja com as sacolas na mão, foi surpreendida com uma delicada mão que segurou seu braço.
- Ainda se lembra de mim?
Helena assustou-se e, com o rosto pálido, reconheceu a senhora que a visitara 20 anos antes prometendo ajudá-la.
Havia se passado duas décadas, mas ela pouco mudara.
Deveria estar com aproximadamente 70 anos, mas estava muito bem conservada e bonita.
Continuava usando uma peruca loira, mas muito diferente da primeira.
- Pelo susto sei que se lembrou.
- Como a senhora me achou aqui?
Por que nunca mais voltou para me ajudar?
- Não pude fazer nada esses anos todos, mas agora posso lhe ajudar.
Helena estava assustada, não sabia o que fazer.
Desconfiada disse:
- Não posso aceitar sua ajuda se não me disser quem é e o que quer comigo.
- Vamos a um lugar mais calmo e conversaremos melhor.
Sentaram em um banco e começaram a conversar:
- Você tem todo direito de recusar minha ajuda, mas creia, sou praticamente a única pessoa que pode ajudá-la, além de Vera.
Infelizmente, não poderei lhe dizer quem sou, mas saiba que me sinto no dever de ajudá-la por um grande e único motivo:
sei que é inocente e sei quem é o verdadeiro assassino.
Mas há outro motivo.
De certa forma ajudei o criminoso a matar o senhor Bernardo.
- Como assim?
A senhora é cúmplice do crime?
- Não, não pense isso.
Mas com palavras, sem saber exactamente o que estava fazendo, incentivei-o a matá-lo.
Por isso tenho um dever de honra com você, Helena.
Permita, pelo amor de Deus, que a ajude e possa ter paz em minha consciência.
- Como poderei confiar?
Quem me garante que não foi a senhora mesma quem matou ou está a favor do assassino querendo preparar uma cilada para mim?
Se você o incentivou a matar pode estar aqui agora querendo me fazer mal.
Os olhos da senhora se fizeram melancólicos:
- Entendo que uma pessoa que passou por tantas provações e dificuldades numa penitenciária passe a ser desconfiada, mas garanto que estou aqui para ajudá-la, não só a descobrir o autor do crime, mas também voltar a conviver com seus filhos.
Estou seguindo você desde a hora que saiu de casa.
Não a encontrei aqui por acaso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:47 pm

Se eu fosse a assassina não estaria lhe propondo uma coisa dessas, e se fosse cúmplice do criminoso não estaria aqui disposta a entregá-lo.
- Mas a senhora disse que o incentivou.
- Mas não da maneira como você está pensando.
Com conversas que não me dei conta, acabei por ajudar essa pessoa a fazer o que ela exactamente queria.
- Então aceito sua ajuda, mas terá que me dizer agora quem é o assassino e com todas as provas.
Sem isso não posso aceitar e peço que nunca mais me procure.
- Não seja tão radical, Helena.
Você terá que ser inteligente e forçá-lo a se entregar sozinho.
Helena começou a chorar baixinho:
- Não sei mais se quero saber quem é o assassino, o que quero é voltar a conviver com meus filhos, só isso.
- Eu tenho uma ideia e, se você aceitar me ouvir com atenção e fizer tudo o que eu disser, tenho certeza que poderá voltar a conviver com seus filhos e ser muito feliz.
Quando for a hora, o assassino será forçado a se revelar naturalmente.
- Que ideia?
- Você fará um grande jantar em sua casa com todo requinte possível e convidará as seguintes pessoas:
Vera Lúcia, Celina, Renato, Bruno, Letícia, Morgana, Berenice, seu marido Osvaldo e Duílio.
- Duílio?
Filho de Berenice?
Mas por quê?
Ele era um adolescente quando tudo aconteceu.
- Duílio hoje é um advogado famoso.
Ganhou oportunidade de estudar e crescer dentro da empresa de Dr. Bernardo, depois da morte dele.
Já pensou que pode ser ele o assassino?
Já pensou que ele, Berenice e Osvaldo podem ter motivos que você desconhece para tê-lo matado?
- A senhora está querendo me dizer que um dos três é o assassino?
- O que quero lhe dizer é que um dos que estão nessa lista é o assassino.
Todos podem ter matado o Dr. Bernardo.
- Até Vera Lúcia, Celina e Renato?
- Até eles.
Mas não se fixe em um apenas.
Posso lhe garantir que todos eles tinham motivo de sobra para ter cometido o crime.
- Mesmo Renato, o único filho, que amava muito o pai?
- Mesmo Renato.
- Isso não pode ser!
Renato é uma pessoa maravilhosa, tem o coração bom, puro.
Jamais mataria o próprio pai.
- Você, além de amar Renato, é muito apaixonada por ele.
Quem é apaixonado por alguém costuma não enxergar seus defeitos.
- Não posso crer... - balbuciou Helena desconcertada.
A possibilidade do homem que amava ter matado o pai
E jogado a culpa nela tirava-lhe todo o sossego.
Resolveu não pensar que Renato fosse o autor daquela barbaridade.
Poderia ser qualquer um, menos ele.
Após ficar um tempo pensativa, enquanto a senhora terminava seu café, ela tornou:
- Sinto que devo confiar em você, mesmo sem saber quem é.
Vivi muitos anos numa penitenciária.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:47 pm

Procurei todo o tempo ser a melhor possível, tive que lutar contra mulheres horríveis que desejavam fazer as piores coisas comigo, mas acabei me impondo pelo meu comportamento e oferecendo minha amizade, mas muitas vezes fui abusada e até agredida.
A vida numa cadeia nos ensina muitas coisas, uma delas é que aprendemos ver quem são realmente as pessoas com as quais convivemos.
Olho para a senhora e vejo que é boa, tem coração bom.
Sinto que deseja me ajudar.
Mas como vou fazer?
Para que esse jantar?
- Vou lhe dizer.
A estranha senhora foi dizendo seu plano a Helena que, à medida que ouvia se surpreendia com seu raciocínio.
Era perfeito tudo aquilo que ouvia.
Como não pensara antes?
Só não gostou da última parte, mas faria como ela estava lhe orientando.
Era a única forma de conviver com os filhos, reconquistar Renato, conter o assassino para que não continuasse matando e por fim, fazer com que ele se revelasse.
Meia hora depois, quando entrou num táxi e chegou a casa, estava renovada com as novas ideias mas, ao mesmo tempo, profundamente intrigada com a figura daquela mulher.
Ela sabia tudo sobre a família de Renato, mas nunca, em momento algum, foi vista frequentando a mansão ou nos poucos círculos sociais em que estavam envolvidos.
Em sua mente, a pergunta não parava de surgir:
Quem seria ela?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:48 pm

Capítulo 6
Na grande, bem-adornada e luxuosa sala de estar da mansão de Renato havia, sob a lareira, um grande quadro pintado a óleo trazendo a figura de linda mulher.
Sua pele era clara, seus cabelos louros-escuros desciam em madeixas pelos ombros, suas mãos estavam postas uma sobre a outra, na qual reluzia no anelar da mão esquerda uma grossa aliança.
Contudo, o que mais impressionava na imagem eram os olhos.
Parecia que aqueles olhos, embora lindos e harmoniosos, não combinavam com o rosto.
Mas aquele detalhe só os mais atentos poderiam notar.
Observando inebriado a linda mulher no quadro, Humberto deixava o tempo passar sem perceber.
Berenice chegou à sala e o chamou à realidade:
- Não está na hora de ir estudar não, rapazinho?
Já passa das sete!
- É que não consigo passar por aqui sem admirar um pouco a minha mãe.
Como ela é linda!
Pena que morreu tão jovem!
Berenice olhou para o rapaz com pena.
As ilusões e as mentiras imperavam naquela casa.
Para começar, Humberto não era filho de Helena e depois aquela foto, postada e adorada ali por todos os filhos, não era dela, mas de uma modelo qualquer que ninguém nem sabia a origem.
Quando Helena foi presa, para que ninguém soubesse a verdade dos factos, além de contarem que ela havia morrido num trágico acidente, retiraram todas as fotos dela existentes na casa e trancaram-nas no cofre, cujo segredo só Renato sabia.
À medida que as crianças foram crescendo, resolveram que elas não poderiam ficar sem a imagem de uma mulher que representasse sua mãe, por isso Renato mandou pintar aquele quadro e ensinou os meninos a verem e adorarem como se fosse Helena.
Berenice nunca concordou com aquilo, mas nada podia fazer.
Renato e Celina não queriam que as crianças vissem nenhuma foto verdadeira da mãe, pois um dia ela sairia da prisão e eles não desejavam que a reconhecessem.
Desfez daqueles pensamentos e abraçou Humberto com carinho:
- Sua mãe era realmente linda, mas se ficar aí a contemplá-la perderá o horário do cursinho.
Só falta você entrar para a faculdade, e seu pai quer que seja médico, por isso trate de passar o mais rápido possível.
Sua irmã faz Administração de Empresas e pensa em trabalhar para a família, Fábio começou Ciências da Computação, é a cara dele, não é?
Ambos sorriram e ela continuou:
- Falta você ser o médico da família.
Olha que estou ficando velha, velho adoece muito, quero que você me consulte.
Humberto riu a gosto.
- Você está certa.
Mamãe é linda, mas não posso me descuidar, vou dar o orgulho a papai de passar no primeiro vestibular de Medicina que fizer.
- Tenho certeza disso.
Humberto se foi segurando a pasta com o material e assim que ela ficou sozinha na sala, Celina apareceu:
- Estava ouvindo sua conversa com Humberto.
- Como sempre, não é, dona Celina?
Não tem mais o que fazer não?
- Escute aqui, sua atrevida, veja como fala comigo.
Sabe que aqui não passa de uma empregada.
- Escute aqui, você!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:48 pm

Não é porque ficou solteirona que tem o direito de sair por aí derramando sua amargura nos outros.
E não sou mera empregada, sabe disso.
Se não continuar me tratando muito bem e a todos daqui, qualquer hora dessas revelarei tudo que sei a seu respeito.
Celina enrubesceu:
- Não precisa me ameaçar.
Estava escutando a conversa com medo de que você dissesse alguma coisa e acabasse por revelar que Humberto foi deixado aqui na porta e não é filho verdadeiro de Renato.
- Não sei por que se preocupa com isso.
Já disse que nunca falarei nada.
Sei o trauma que poderia causar nele se soubesse disso.
- Você é muito confiada, sente-se no direito de palpitar na vida de todos aqui como se fosse uma de nós.
Tenho medo que enlouqueça de vez e uma hora acabe falando a verdade.
Berenice afastou-se de Celina dizendo:
- Tenho mais o que fazer do que ficar aturando ataques de desconfiança de uma solteirona amarga.
Aconselho você a curar essa secura.
Ainda está bonita, dá tempo de encontrar um rapaz novo que a queira.
- Rapaz? Está maluca?
- E você acha que um homem da sua idade irá aturá-la?
Só um rapaz novo, regiamente pago, é que faria essa caridade.
Agora dê-me licença!
Berenice saiu com o nariz empinado, deixando Celina roendo-se de raiva:
- Um dia ainda acabo com essa ousada!
Ah, se acabo!
No outro dia pela manhã, Helena estava em casa sem saber muito o que fazer.
Embora tenha aprendido a cozinhar na adolescência, depois que se casou com Renato, nunca mais entrara numa cozinha, e ela estava ali, em frente ao fogão sem saber o que fazer para comer.
Resolveu, finalmente, fazer um pequeno lanche e ligar para o doutor Américo pedindo ajuda.
Às duas horas ligou para seu escritório e, por sorte, no mesmo instante sua secretária passou a ligação:
- Boa tarde, Helena, em que posso ser útil?
Fiquei de passar aí para entregar todos os seus cartões bancários, mas ainda não tive tempo.
Estou pensando em mandar meu office-boy entregar, algum problema?
- Nenhum problema, na verdade liguei para lhe pedir um pequeno favor.
Como sabe não tenho nenhuma amiga aqui fora e só confio no senhor.
- Pode falar, sempre estou pronto para ajudar.
- Na verdade, estou me sentindo muito sozinha e sem saber direito como fazer as coisas.
Essa casa é muito grande e não sei cozinhar.
Gostaria que o senhor encontrasse para mim uma empregada que possa dormir no trabalho.
Sei que é um homem muito ocupado, mas é a única pessoa com quem posso contar.
- Como disse, estou aqui para ajudá-la e não tenha receio de me pedir o que quer que seja.
Cristina era uma cliente de quem eu gostava muito e, pouco antes de ser condenada, pediu-me que, além de cuidar do seu dinheiro, cuidasse também de você.
E creia, você está com sorte, minha mulher estava comentando em casa que precisava encontrar emprego para a irmã de nossa governanta que é solteira, não tem filhos e está passando por dificuldades.
Trata-se de uma excelente moça chamada Leonora que cuidava da mãe no interior, mas a mãe faleceu há pouco mais de um mês e ela está em nossa casa esperando surgir uma oportunidade de emprego.
Tem procurado, mas está difícil encontrar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:48 pm

Creio que vai servir para você.
Helena alegrou-se:
- Mande-a vir aqui agora à tarde, quero conversar com ela, se gostar a contrato.
- Tenho certeza que gostará.
Vou pedir que ela esteja aí às quatro horas.
Helena desligou o telefone, alegre.
Não estava gostando de ficar sozinha naquela casa imensa.
Às vezes, sentia um medo inexplicável sem saber de onde vinha, por outro lado sentia a necessidade de conversar, de ter uma amizade.
A saudade dos filhos que não via há mais de vinte anos e a saudade de Renato que amava de todo coração por vezes era tão profunda e forte que ela parecia sufocar ou cair em um abismo sem fim.
Sem que ela percebesse, o espírito Cristina, encolhido a um canto da sala, vendo a amiga sofrer daquele jeito, foi se rastejando até que se encostou nela e, com dificuldade, a abraçou dizendo:
- Não quero vê-la sofrendo, minha amiga.
Como sofro em vê-la assim tão triste!
Você foi a pessoa mais honesta que já conheci em minha vida.
Não quero que sofra assim!
A energia de Cristina estava tão negativa que, sem saber de onde vinha, Helena sentiu uma tristeza tão grande que não conseguiu conter grossas lágrimas que desceram por sua face.
A angústia foi tão grande que Helena sentiu vontade de morrer.
Naquele instante, uma luz muito forte invadiu o ambiente e foi tomando forma.
Um espírito luminoso em forma de mulher apareceu para Cristina e disse:
- Cristina, sei que sua intenção é ajudar sua amiga, mas desse jeito perceba que só a está prejudicando mais.
Afaste--se dela e venha conversar comigo.
Cristina surpreendeu-se.
Nunca, desde que se suicidara, ninguém viera falar com ela.
Sabia que havia conseguido se matar, mas se surpreendeu ao perceber que a vida continuava e que naquele momento estava sofrendo muito mais que antes.
Lembrou-se que havia acordado no meio de uma poça de lama onde outros espíritos suicidas, assim como ela, choravam, gritavam e gemiam.
Sentiu horror daquele lugar e começou a mentalizar Helena, até que mentalizou com tanta força que viu-se arremessada para a casa que tinha sido dela no exacto momento em que Helena chegava da penitenciária.
Surpreendia-se, pois, que alguém viesse falar com ela.
Olhou para a bela mulher e perguntou:
- O que deseja comigo?
Estou perdida e quem se mata não tem salvação.
- Não pense assim.
O que quero agora é que você deixe de abraçar Helena e não passe para ela todo o seu sofrimento.
Não notou que, depois que começou a abraçá-la, seu estado emocional piorou?
Se você quer realmente que sua amiga fique bem é preciso ficar bem primeiro.
Cristina tirou os braços dos ombros de Helena percebendo que realmente estava lhe fazendo mal.
Caminhou lentamente em direcção à mulher que pegou em suas mãos com suavidade e carinho e sentou-se com ela em um dos cantos da sala.
- Cristina, infelizmente seu acto de rebeldia ao se matar para não cumprir sua sentença ainda me impede de tirá-la daqui e levá-la a uma colónia de recuperação, mas fui autorizada a vir de vez em quando conversar com você.
Um dia, quando se arrepender do que fez e pedir perdão sincero a Deus, sua energia vai melhorar e daí podemos seguir juntas a um local melhor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:48 pm

O que quero pedir é que não se aproxime de Helena enquanto estiver nessas condições.
Vai aparecer nesta casa uma pessoa de muita evolução e quero que preste atenção em tudo que ela disser.
Tudo que ouvir dela vai ajudar em sua recuperação.
Cristina ia perguntar alguma coisa quando a linda senhora fez sinal para que se calasse e finalizou:
- Não posso mais ficar aqui, meu tempo esgotou, mas sempre que precisar pode me chamar.
Meu nome é Estela.
Basta mentalizar o meu nome e eu virei, caso seja autorizada.
Que Jesus a abençoe e lhe dê muita paz!
Cristina sentiu harmonia tão grande como nunca havia sentido nos últimos tempos.
Contudo, assim que o espírito desapareceu no mesmo clarão que o fez surgir, ela voltou a se sentir mal e profundamente angustiada.
Sua dor emocional e moral era tão grande que ela queria morrer, mas sabia que já tinha passado pela morte e não podia morrer mais, por isso sua angústia era muito maior daquela sentida na Terra.
Voltou a se encolher num canto e recomeçou a chorar.
Assim que Cristina se afastou, Helena começou a melhorar.
Levantou-se do sofá e foi ao banheiro lavar seu rosto, queria estar bem apresentável para quando Leonora chegasse.
Abriu o guarda-roupas e vestiu uma das saias que havia comprado no dia anterior e uma blusa simples de alças também comprada junto com a saia, calçou singela sandália de couro adornada com pequenas flores amarelas que deveria ter sido de Cristina e voltou ao sofá onde, pensando nos filhos e em como eles estariam, depois de vinte anos, pôs-se a esperar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:48 pm

Capítulo 7
No dia anterior, assim que Vera Lúcia chegou a casa, Celina tratou de interpelá-la:
- E aí? O que conversou com aquela assassina?
- Nada demais, apenas fui recebê-la, pois sabia que ninguém estaria lá.
Celina visivelmente contrariada disse:
- Mas você é mesmo teimosa.
Como teve coragem de ir receber a assassina de nosso irmão?
- Você sabe que nunca acreditei que Helena tenha matado nosso irmão, por mais desavenças que tenham tido, conheço o carácter dela, tenho certeza de que foi outra pessoa e que ela pagou por esse crime inocentemente, enquanto o verdadeiro assassino ficou solto, gozando de liberdade.
O mínimo que poderia fazer era esperá-la para desejar-lhe boa sorte nessa nova vida, o que não será fácil.
Helena ficará marcada para sempre como assassina e ex-presidiária, a não ser que consiga descobrir o verdadeiro assassino.
Celina empalideceu.
Aquilo não poderia acontecer sob hipótese alguma.
Ela tinha sérios interesses em manter o verdadeiro assassino oculto para sempre.
Passaram-se vinte anos e ainda não tinha conseguido seu objectivo.
Pensava que, com Helena presa, conseguiria, mas até aquele momento nada havia acontecido do jeito que planeara.
Vendo que a irmã estava pálida e sentada na cama, Vera Lúcia perguntou:
- O que houve? Está passando mal?
- Não, apenas não desejaria que esta história fosse novamente remexida.
Helena disse-lhe alguma coisa sobre tentar descobrir o verdadeiro criminoso?
- Disse sim. Disse que, além de descobrir a verdade, vai conseguir voltar a conviver com os filhos.
Celina enrubesceu de ódio:
- Isso não vai acontecer nem que eu tenha que matá-la.
Vera Lúcia assustou-se:
- Calma, minha irmã, nunca a vi assim.
Sei que, embora fale, não tem coragem de matar ninguém, e pela sua reacção sei que, assim como eu, sabe que não foi ela quem matou nosso irmão.
Por que não faz como eu, e a ajuda a descobrir a verdade?
- Você prometeu isso a ela?
Vera Lúcia sabia quem era o assassino, mas não podia falar para a irmã, por isso disse:
- Prometi sim. Como disse, sei que não foi ela quem cometeu o crime, por isso quero ajudar para que a justiça seja feita.
Celina, completamente descontrolada, levantou-se da cama e gritou para a irmã:
- Pois, enquanto você ajudá-la, eu vou fazer de tudo para atrapalhar.
Você sabe por que tenho todo o interesse do mundo que este assassino não seja descoberto e que Renato continue a pensar que Helena é a culpada.
- Sei muito bem dos seus interesses e me envergonho por eles.
Você, sendo a tia de Renato, como teve coragem de fazer tudo o que fez?
Não se envergonha não?
- Não me envergonho, pois tudo que fiz foi por amor e você deveria ter lutado para conquistar um amor também, afinal ficou solteirona e nunca provou o gosto de ser amada.
- Pois prefiro ficar sem esse gosto a ter provado da maneira como você provou - olhou com desdém para Celina e completou:
- Se eu fosse você teria nojo de mim mesma.
- Você é uma solteirona amarga que vive agarrada à batina do padre Honório, nunca soube nem saberá o que é o verdadeiro amor, por isso não tenha nojo de mim, pois provei do que você nunca provou nem provará.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:49 pm

Vera Lúcia, vendo que aquela conversa terminaria igual às demais, em uma grande briga entre as duas, resolveu se calar e sair do quarto, deixando a irmã ruminando a raiva e perdida nos próprios pensamentos.
Olhou para o relógio de pulso e viu que já havia passado a hora do jantar.
Naquele momento, seu sobrinho Renato estava, como sempre, trancado no escritório, sozinho, ouvindo músicas e pensando em Helena.
Vera, embora estivesse com fome, sentiu pena do sobrinho e resolveu procurá-lo, pois sabia que ele estava ansioso por notícias da amada.
Vera havia saído pela manhã e depois que deixara Helena em casa, havia passado na casa de algumas amigas, almoçado com elas e depois resolveram ir ao shopping e por fim assistirem a um filme.
Por isso, ela só chegara em casa tarde.
Bateu de leve na porta do escritório e, como o som estava baixo, Renato ouviu e abriu a porta para que ela entrasse.
Vera foi logo falando:
- Ela está linda, meu sobrinho, nem parece que o tempo passou e que ficou vinte anos presa.
O rosto está mais maduro, mas a pele continua delicada, os olhos continuam expressivos e lindos, e o sorriso encantador que sempre teve continua em seu rosto.
Vera apertou o braço do sobrinho com força e suplicou:
- Faça o que seu coração pede, procure por Helena, perdoe-a e sejam felizes.
Traga-a para morar nesta casa novamente, conte toda a verdade e diga que não foi ela quem matou o Bernardo.
Renato emocionou-se e disse com a voz que a emoção entrecortava:
- Jamais poderei fazer isso, minha tia, por mais que ainda a ame como no primeiro dia que a vi.
Jamais poderei desfazer a mentira que criei dizendo que a mãe dos meus filhos faleceu e de ter colocado aquele quadro de outra mulher na sala para que eles reverenciassem como se fosse a própria Helena.
Depois, mesmo sabendo que ela não é a criminosa, como poderei provar?
A não ser que a senhora fale a verdade.
Vera Lúcia entristeceu-se:
- Já lhe disse que não posso revelar o assassino.
Eu estava na cena do crime, vi quem apertou o gatilho e matou meu irmão, mas, se eu disser, morro em seguida e seu filho Fábio também.
Seria uma revelação que iria custar mais duas vidas.
Não me importo tanto com a minha, já sou velha e não tenho muito mais o que viver, mas o nosso querido Fábio só tem 21 anos, é seu filho, por acaso quer que seu filho morra?
Renato esmurrou a mesa:
- Há de ter algum jeito de pegar esse assassino e poupar a vida de vocês.
Ninguém é tão poderoso assim a ponto de estar acima do bem e do mal.
Podemos dizer em secreto à polícia, armar uma armadilha e o pegar.
O que não posso é viver daqui para frente sem saber quem é esta pessoa, que com certeza está no meio de nossas relações.
Vera Lúcia ficou nervosa:
- Pelo amor que você tem a seus filhos, jamais faça isso.
Esse crime teve motivações complexas que você está longe de saber.
Nem eu mesma sei de tudo, mas o que posso afirmar é que se o assassino for descoberto e preso, nem minha vida nem a vida de seu filho valerá um centavo.
Estamos lidando com pessoas extremamente perigosas e não tenho dúvidas de que seu filho morrerá.
- Mas por que a senhora não diz pelo menos para mim e me tira dessa agonia?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2018 8:49 pm

- Meu querido, basta você saber que a mulher que ama é inocente.
Procure-a e traga-a de volta para esta casa, faça com que ela recupere o tempo que perdeu injustamente.
Sei que vai pensar e encontrará uma saída.
Fique com Deus.
Vera saiu do escritório deixando Renato chorando baixinho.
Como amava Helena!
Daria tudo para fazer o que a tia estava pedindo, mas não sabia de que modo fazer.
Por mais que tentasse não conseguia encontrar uma saída.
Renato foi ao aparelho de som e o desligou, depois voltou a se sentar na poltrona e lá ficou até madrugada, tentando, em vão, encontrar uma solução para o problema.
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