LUZ ESPÍRITA
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:23 pm

Sem medo de amar
Maurício de Castro

Pelo espirito Hermes

Àquela que amo incondicionalmente, Dalva Adelina Carneiro.
Minha mãe nessa e em muitas vidas, aquela que foi a primeira a ensinar-me como se ama de verdade.

Prefácio
Esta história aconteceu há muito tempo, mas seus reflexos se estendem até os dias de hoje.
Ao trazermos ao público pedaços de nossa memória, muitas vezes carregados de emoção ainda tão viva dentro de nós, não temos outro objectivo se não o de ensinar por meio de factos que a própria vida escreveu, a lição maior do amor como único caminho para se chegar a Deus.
Todas as nossas histórias trazem, como pano de fundo, factos que realmente aconteceram e, se por ética espiritual necessitamos modificar alguns aspectos, seja na narrativa, seja nos nomes dos personagens ou nos lugares aonde aconteceram, a lição real e a essência moral permanecem inalteráveis.
Desde o princípio dos tempos, os espíritos do Senhor entram em contacto com os homens na tentativa de orientar quanto ao melhor caminho que, se seguido, trará mais felicidade, fazendo com que a evolução se processe com menos dor. Infelizmente, muitos são os que ignoram essas orientações que são verdadeiros chamados, e assim enveredam pelo mundo das ilusões terrenas, escrevendo com as próprias mãos um futuro de dor e sofrimento perfeitamente evitável.
Só o amor pode fazer o homem feliz, mas, contraditoriamente, é em nome dele que se cometem os piores actos de infelicidade.
Em nome do maior dos sentimentos, incontáveis são os que matam, ferem, violentam, mentem, traem...
Será mesmo o amor que lhes move os actos?
O amor verdadeiro jamais causa sofrimento.
Ao contrário, é ele que eleva, transforma, sensibiliza, acrescenta, protege, renuncia...
Quem não ama vive num oceano de tristeza, no qual o vazio, o desânimo e o desencanto de viver são constantes.
Apesar disso, o maior desejo do ser humano é sentir, dentro de si, o amor em sua mais pura expressão.
Contudo, o medo de que esse amor seja rejeitado, reprimido ou ridicularizado, impede que o deixe fluir em sua vida.
Só aquele que tem coragem de enfrentar a si mesmo e vencer seus medos é digno de amar e ser amado, como também só aquele que se ama pode viver a plenitude de uma relação amorosa, seja em que nível for.
Que esta história possa contribuir com todos vocês, queridos leitores, para uma mudança de comportamento sadia, verdadeiramente amorosa, na qual o medo de viver e de amar seja substituído pelo reconhecimento da verdade maior:
Deus nos criou para a felicidade!
Todos os personagens desta narrativa se encontram hoje reencarnados e, graças à bondade divina, caminhando para a descoberta definitiva dos valores eternos do espírito.
Que esses mesmos valores possam guiar suas vidas, na certeza de que, quando o amor vier a morar em seus corações, não haverá mais dor, tristeza ou desencanto.
Será apenas a alegria de viver.

Com carinho,
Hermes
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:24 pm

Sumário
1 - Prólogo
2 - Primeiros problemas
3 - A ira de Edionor
4 - Escolhendo o destino
5 - Pressentimentos de uma enferma
6 - Casamento marcado
7 - Convivência difícil
8 - Prevendo o futuro
9 - Amanda descobre que é estéril
10- A sabedoria dos simples
11- Estranho sentimento
12- E os anos passam...
13- Espiritualidade inferior induz ao adultério
14- Usando o livre-arbítrio
15- Douglas e Hortência se entregam ao amor
16- Suspeitas
17- Gravidez inesperada
18- O filho da luz
19- Amor de mãe posto à prova
20- Amparada pelo amor
21- Plano de vingança
22- Conhecendo a doutrina consoladora
23- Tereza teme a verdade
24- Douglas cai numa cilada
25- Surge uma esperança
26- A hora da verdade
27- Amanda descobre a adopção
28- Mecanismos da vida
29- Voltando à vida
30- A babá
31- Obsessão
32- Ajuda espiritual
33- Edionor acorda do coma
34- Vingança concretizada
35- Perdoai para que Deus vos perdoe
36- A volta
37- Douglas conta sua história
38- Pai e filho: laços que não se rompem
39- O impossível não existe
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:24 pm

1 - PRÓLOGO
Lúcia ajeitou os óculos tentando enxergar, sob a fraca luz da sala, as redacções que tinha para corrigir.
Mestra em Letras, era exímia professora de Literatura e leccionava em duas universidades.
Era uma mulher com quase quarenta anos e adorava trabalhar.
Levantava cedo, cuidava da filha, Hortência, com apenas sete anos, e dirigia-se ao serviço, que ficava numa cidade vizinha.
Felizmente, morava com as sobrinhas, que cuidavam de sua filha enquanto ela ganhava o suficiente para manter-se.
Era uma noite de verão e, apesar do adiantado da hora, Hortência ainda brincava de bonecas num canto da sala.
Lúcia parou as correcções e, olhando para a filha, pensou:
"É a minha alegria de viver.
Pena que é filha daquele calhorda.
Ainda bem que ela já sabe que ele morreu.
Vai ser assim para sempre, Hortência nunca saberá a origem de seu pai."
De repente, Aída, sua sobrinha mais nova, entrou na sala com ar assustado.
Era uma moça loura, de pele e olhos claros, cuja expressividade era contagiante.
- O que aconteceu com você?
Não é hora de estar na sala de aula?
- A professora de Inglês faltou e aproveitei para vir lhe contar um facto que acabou de ocorrer.
Está todo mundo comentando.
A notícia já se espalhou por toda a cidade.
Era sempre assim.
Rios Claros (nome fictício), cidade do interior de Minas Gerais, distante da capital, era muito pequena e logo tudo o que acontecia caía na boca do povo.
Lúcia odiava aquela gente, mas não podia se mudar.
Tinha de continuar a viver em meio ao que considerava ignorância e miséria.
- Conte logo, está me matando de curiosidade.
- Douglas fugiu com Amanda.
- Como? Quem?
- O Douglas, tia, aquele a quem a senhora dava aulas quando ainda era criança, filho de sua grande amiga Tereza.
Lúcia estava incrédula.
- Douglas?
Aquele moleque franzino que chorava por preguiça de estudar, que vivia agarrado nas saias da Tereza?
- Esse mesmo.
E fugiu com Amanda, filha do senhor Edionor, aquele fazendeiro rico marido de dona Estela.
- Mas por que fugiram?
Não estamos mais no tempo em que namoros são proibidos.
Por que isso aconteceu?
Aída sentou-se à mesa junto com a tia e, engolindo rapidamente a água que colocara num copo, explicou:
- A senhora sabe muito bem que o Douglas é pobre.
A mãe vive de vender leite e galinhas, e a Amanda é filha de um homem muito rico.
Todos sabiam que eles namoravam, mas eles também sabiam que não podiam contar isso ao seu Edionor, que iria proibir o namoro.
Então preferiram fugir.
Agora tudo está feito.
Terão de casar a todo custo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:24 pm

Além do mais, o Douglas já tem dezoito anos, não é mais aquela criança preguiçosa que vivia aqui chorando por causa dos cadernos e livros.
Lúcia ainda continuava sem acreditar.
Nunca poderia imaginar que aquele menino sonso tivesse a coragem de enfrentar a ira de um dos homens mais poderosos daquela cidade.
A conversa foi interrompida pela chegada de Hortência, que ouvira toda a conversa e estava muito atenta a tudo.
- Mamãe, quem é Douglas?
- Oh, meu anjo, foi um aluno da mamãe.
Você não conhece.
- Queria tanto conhecer...
A senhora me mostra ele?
Lúcia riu.
- Por que essa vontade, minha linda?
Hortência abriu um sorriso doce e seus olhos brilharam enquanto disse:
- Eu quero conhecer porque ele deve ser um homem muito bonito e corajoso.
Teve coragem de roubar uma menina e fugir.
Será que eles fugiram num cavalo branco?
Aída e Lúcia não conseguiam conter o riso.
Douglas não era feio, tinha os cabelos lisos e estava botando corpo.
- Bem, bonito ele é, mas não é nenhum príncipe, não fugiu em cavalo não.
Agora vá dormir que não é hora de uma mocinha como você estar acordada.
Hortência ainda relutou, mas acabou indo para a cama, dormindo em seguida.
Aída comentou:
- A pior parte ainda não lhe contei, não quis falar na frente de Hortência.
- Uai! Tem mais?
- Sim. Dizem que o senhor Edionor está armado procurando Douglas e Amanda por todos os rincões da cidade.
Disse que se o pegar não o deixa vivo.
- Coitado. Mas por que ele tinha de se meter com moça rica?
Não sabe que isso não dá certo?
Pobre só casa com pobre.
- Tia! Não é a senhora que vive dizendo que a Hortência só vai casar com um bom partido?
- Sim, mas para a mulher a situação é mais fácil.
Já um homem pobre, que nem pode se sustentar, se meter com moça rica, tem mais é que sofrer.
- Cruzes! Temos de torcer para que ele não seja encontrado.
- De qualquer forma, ele vai ter de enfrentar a ira de Edionor, mais cedo ou mais tarde. É fatal.
- Mas que seja bem depois, quando o senhor Edionor estiver mais calmo.
- Chega de conversa, volte para a aula.
E nem pense em cabular mais.
Diva me contou que você anda cabulando algumas aulas.
Vou falar com o director.
Seu pai a deixou em minha confiança.
Veja se não faz besteira.
Aída conhecia o temperamento forte da tia, não iria discutir.
Voltou para a escola, onde outras pessoas continuavam a comentar o ocorrido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:25 pm

2 - PRIMEIROS PROBLEMAS
O carro de Douglas saiu da vicinal e entrou por uma auto-estrada.
Apesar da velocidade e do erro que estavam cometendo, tanto Amanda quanto ele não pensavam em mais nada, a não ser em ficar juntos.
Conheceram-se no colégio.
Douglas nunca fora afeito aos estudos e era mais atrasado que ela, já Amanda gostava das aulas, estudava inglês e fazia curso de piano numa pequena escola da cidade.
A atracção que os uniu foi imediata, assim que se viram pela primeira vez.
Douglas não podia acreditar que uma moça como aquela, rica, que estudava num colégio caro, andava de carro, pudesse se interessar por ele.
Estava naquela escola porque havia recebido uma bolsa da proprietária, que tinha muita amizade com sua mãe.
Como Amanda podia gostar dele?
Um dia ela resolveu tomar a iniciativa e mandou-lhe um bilhete pelo Ricardo, um amigo em comum.
Foi muita felicidade, passaram a se encontrar às escondidas, até que, um dia, Amanda chegou ao local de encontro com o rosto sério:
- Douglas, precisamos tomar uma decisão.
Meu pai disse ontem que nunca iria admitir que eu me casasse com um pobretão e já está querendo arranjar meu casamento com Fernando, filho de um de seus amigos fazendeiros.
Douglas ficou preocupado, não podia perder sua Amanda por nada.
- O que podemos fazer?
Se for falar com seu pai, ele me expulsa de lá a pontapés, vai colocar vigia em você e não poderemos mais nos ver.
- E você pensa que iríamos ficar nessa de encontros escondidos a vida inteira?
Eu tenho um plano, se você aceitar, podemos realizá-lo ainda esta semana.
- Qual plano?
- Podemos fugir.
Douglas empalideceu.
- Fugir? Para onde? Não temos lugar nem condições para uma fuga.
- Ora, sua mãe não tem parentes em Pedra Bonita?
Podemos ficar lá escondidos durante um tempo, depois casamos e, quando voltarmos, meu pai nada poderá fazer.
- Pedra Bonita fica muito perto.
Tenho um lugar melhor.
A casa da vó Leontina.
- Onde fica?
- É distante, muito longe da divisa entre as duas cidades.
Vó Leontina mora com uma neta numa casa grande, pois era de toda a família, os filhos foram embora e ela ficou lá.
É uma roça, mas vamos ficar bem e ninguém saberá onde estamos.
- Sua mãe poderá nos delatar.
- Ela não fará isso.
Sabendo como é seu Edionor, não terá coragem.
Beijaram-se e continuaram planeando.
Amanda escreveu uma carta contando ao pai o que estava fazendo e pedindo que não a procurasse, pois era uma mulher feita e quando voltasse já teria marido.
O carro com Douglas ao volante diminuiu a velocidade, pois estavam numa estrada de terra muito ruim.
Amanda indagou:
- Está muito longe?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:25 pm

- Sim. Vamos parar e fazer um lanche.
Estou com o estômago doendo.
Pararam o carro, abriram um refrigerante e comeram as sanduíches que dona Tereza, a única que sabia da fuga, havia preparado para a ocasião.
De repente, um vento forte surgiu e o céu cobriu-se de nuvens.
Uma grande tempestade estava por vir.
- Vamos nos apressar, vem chuva grossa aí.
Belo dia escolhemos para fugir!
Amanda fez beicinho:
- O que importa é que eu te amo e você me ama também.
Vamos enfrentar tudo para ficarmos juntos.
Entraram no carro e prosseguiram lentamente.
Logo, grossos pingos começaram a cair e tudo escureceu.
A chuva foi aumentando e raios cruzavam o céu.
Rapidamente, Douglas manobrou e parou o carro próximo a uma grande árvore e esperou.
Um trovão forte, um raio e a árvore tombou com toda a força sobre o veículo.
Após um tempo desmaiado, Douglas acordou com a chuva forte caindo sobre seu corpo.
A árvore arrebentara o pára-brisa do carro e o corpo de Amanda havia sumido.
Desesperado, começou a gritar, mas o vento, o ribombar dos trovões e a fúria da tempestade mostravam que gritar era em vão.
Instintivamente, Douglas foi tirando os galhos do banco de carona, onde provavelmente estaria Amanda, e finalmente a encontrou.
Com um grande corte na cabeça ela gemia.
- Amanda, Amanda!
Fale comigo!
Ela não respondia.
Quanto mais a chuva caía, mais Amanda gemia sem acordar totalmente.
Horas mais tarde, quando a tempestade serenou, foi que ele conseguiu conversar.
- Meu amor, acorde.
- O que aconteceu?
- Você levou uma pancada na cabeça e está sangrando muito.
- Meu Deus! Não quero morrer.
- Acalme-se.
O carro está todo molhado.
Não está ligando.
Teremos de passar a noite aqui.
- Estou sangrando, não posso ficar aqui.
E se eu adoecer?
Onde iremos dormir?
Douglas começou a se arrepender daquela aventura.
Se Amanda morresse, não iria se perdoar.
- Você vai ficar em meu colo para não pegar friagem.
Foi uma tempestade de verão, não vai retornar.
Já é noite e teremos de esperar o dia amanhecer para seguir viagem.
- E esse sangue?
- Estou tentando estancar com essa estopa.
Vamos ficar calmos, logo tudo vai passar.
Douglas ajeitou Amanda sobre seu colo e ela logo adormeceu.
A pancada havia sido forte e, se não encontrassem quem os ajudasse pela manhã, não saberia o que podia acontecer.
O dia amanheceu e um gostoso aroma de terra molhada veio acordar Amanda, que cutucou Douglas também o acordando.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:25 pm

Tudo parecia ainda muito irreal para os dois.
O que parecia ser uma fuga perfeita acabou se transformando num desastre.
Douglas, mesmo cansado pela noite mal dormida, sorriu para Amanda.
- Estamos vivos. Sobrevivemos.
- Não brinque, Douglas.
Estamos perdidos no meio dessa estrada deserta e muito longe da casa de sua avó.
Devemos estar perto da cidade.
Se continuarmos aqui, meu pai logo nos achará, e não sei o que será de nós.
Lembre-se que temos de voltar casados, só assim ele nos deixará em paz.
Douglas levantou-se e percebeu que o carro, além de molhado, estava todo amassado pela força da árvore.
Ao descer, atolou o pé numa poça d'água e xingou.
Precisava fazer alguma coisa para sair dali.
Pelos seus cálculos, o sítio de vó Leontina ainda devia estar longe.
Começou a se desesperar.
O que iria fazer para chegar lá?
Ficando ali na estrada, logo Edionor os encontraria.
Douglas bem sabia a fama do fazendeiro, era capaz de matá-lo, logo ele que era arrimo.
Tentou acalmar-se.
- Vamos esperar que alguém passe por aqui.
É a única solução.
Assim fizeram.
Quando o Sol estava no meio do céu, já cansados pela fome, ouviram um ruído.
Passos aproximavam-se.
Dois homens conversavam.
- A chuva estragou tudo mesmo Zé.
Olha aquela carnaubeira, tão grande e no chão.
- Uai, e você queria o quê?
Precisamos mesmo de chuva por estas bandas, não podemos reclamar.
O homem mais velho parou e avistou o carro onde Douglas e Amanda se encontravam:
- O que é aquilo ali?
- Um carro, seu maluco.
Não está vendo?
- Sim, mas me refiro àquele aceno.
Ali tem alguém com problemas, vamos ajudar.
Seguiram até chegar ao carro.
- O que vocês querem aqui no meio de todo esse estrago?
Douglas adiantou-se, enquanto Amanda, envergonhada, recostou-se na poltrona.
- Nós estamos indo para a casa de minha avó, mas pegamos esse temporal.
A árvore destruiu meu carro e não temos como chegar lá a pé.
Vocês poderiam nos ajudar?
O homem olhou-os desconfiado.
Afinal, o que dois jovens queriam por aqueles lugares ermos?
- Não sei, isso tá me cheirando a confusão.
De quem é o carro?
Amanda se pronunciou:
- É de meu pai.
Ele emprestou para a gente viajar.
- Vocês são de onde?
- Somos de Rios Claros.
- Vocês já estão muito longe de lá.
Douglas se alegrou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:25 pm

- Então devem conhecer minha avó.
Ela se chama Leontina.
Todos a conhecem por vó Leontina.
Vive com Aninha, sua neta mais nova.
Um sorriso surgiu no rosto de Zé:
- Você é neto dela? Meu Deus!
Você está quase em frente à casa em que ela mora, mais dois quilómetros e chega lá.
Foi uma alegria para os dois.
- Pode nos levar até lá?
- Com todo o prazer.
Sabe, meu rapaz, sua vó tem o dom da cura.
Aqui vem gente de todo lugar procurar pelas rezas e pelos remédios que ela prepara.
Dizem, também, que dona Leontina fala com os mortos.
Mas eu não tenho medo.
O Juninho, meu filho mais novo, adoeceu e eu o levei para sua vó benzer.
Ela fez o benzimento, passou uma garrafada com remédio e o moleque já está correndo para lá e para cá.
Mas, escuta aqui, sua vó é uma mulata daquelas, por que você é branquelo?
Douglas sorriu.
- Minha mãe é branca.
Meu pai era filho de vó Leontina, mas morreu quando eu era ainda pequeno.
Nesse instante, uma crise de tosse acometeu Amanda, e os três homens pararam a conversa. Um deles observou:
- Ela tomou muita chuva e enxugou a roupa no corpo, isso pode complicar.
Melhor irmos logo para a casa de sua avó.
Eles foram andando e observando a natureza ressequida daquelas paragens.
A chuva viera na hora exacta, e outra tempestade estava surgindo.
A casa de vó Leontina antigamente era muito grande e começou a estragar, ameaçando cair, mas as pessoas, agradecidas pelo que recebiam, acabaram por derrubá-la, mesmo a contragosto da dona, e construíram uma casinha menor com várias portas e janelas.
Foi com emoção que eles chegaram lá.
Apesar da chuva, o terreiro estava muito bem varrido e as plantas verdes.
Ao chegarem à cerca, um cachorro alegre os recebeu.
Amanda viu galinhas, pintos, porcos, ovelhas, todos se alimentando alegremente depois do temporal.
Quando Douglas resolveu se aventurar pela estrada, o fez movido por impulso, afinal, fazia muito tempo que ele não visitava a avó e tinha até medo de errar o caminho, mas finalmente estavam lá.
Com a algazarra do cachorro, logo Leontina e Aninha apareceram na porta.
Emocionada ao ver o neto, a velha senhora andou em passos rápidos para abraçá-lo.
Zé tomou a frente:
- Encontramos os dois perdidos no caminho.
O carro estragou todo, não sei como não morreram.
Vó Leontina estava emocionada:
- Eu sabia que você ia chegar, meu neto, e também sabia que seria acompanhado.
Vamos entrar. A moça precisa de cuidados.
Entrem vocês também. Vamos todos almoçar.
Catamos um franguinho hoje cedo e Aninha preparou, é moça prendada.
Os homens agradeceram e seguiram o rumo.
O almoço transcorreu calmo.
A canja estava realmente uma delícia, mas a tosse de Amanda continuava persistente.
Durante a refeição, Douglas explicou à avó por que tinham feito aquilo, e ela respondeu:
- Sempre a pressa da juventude.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:25 pm

Hoje ninguém mais quer esperar nada, por isso os jovens cometem tantos erros na escolha do parceiro.
Vocês têm de pensar melhor antes do passo que querem dar.
Amanda, com voz cansada, aquiesceu:
- A senhora acha que o Douglas está errando ao me escolher?
Que não devemos casar?
- Não é isso, minha filha, mas a natureza não gosta de nada apressado.
Veja em quanto tempo nosso mundo foi criado e obteve condições para aparecer vida.
Olhe quantos dias tem o nosso ano.
A pressa costuma estragar muita coisa boa que está marcada para nos acontecer.
Vocês são muito jovens ainda, devem conviver mais para decidir se o casamento é o melhor para suas vidas.
- Mas eu amo o Douglas e ele me ama.
Leontina fixou o olhar num ponto indefinido e resolveu não alongar a conversa.
Estava falando com dois jovens completamente imaturos e que iriam sofrer muitas provações durante aquela encarnação.
Resolveu mudar de assunto.
- Minha filha, você precisa se deitar.
Essa tosse sua não está boa.
Vou preparar um remédio aqui para você.
No fundo da casa temos uma pequena plantação de ervas que servem para muitas doenças.
Siga para o quarto com Aninha que eu vou buscar o que preciso.
Douglas, venha comigo.
Foram caminhando e ele percebeu a infinidade de ervas e hortaliças cultivadas ali.
Apesar da seca, tudo estava bem cuidado e verde.
- Vó, como a senhora mantém tudo isso aqui assim tão verdinho?
- É muito difícil.
Temos de passar pela trincheira do caldeirão e trazer água no balde.
Mas eu e Aninha damos conta.
O caldeirão não é longe e vale a pena o esforço para ver toda essa beleza.
As pessoas precisam da natureza para recompor o estrago que elas fazem no corpo, e eu aprendi com meus guias espirituais a misturar as ervas para cada problema.
Sempre dá certo.
Eles foram recolhendo as ervas necessárias e logo voltaram para casa.
Aninha estava preocupada.
- Vó, a moça tá com febre.
- Eu sabia que ela ia ter febre, mas já peguei tudo aqui.
Vamos preparar.
Douglas foi para o quarto simples, onde Amanda gemia e parecia fora de si, dizendo palavras sem sentido.
- Ela vai me roubar de você, Douglas.
Mas eu não vou deixar, você é meu.
- Calma, ninguém vai roubar você de mim. Eu te amo.
- Não é verdade, ela nasceu para ser o inferno em nossas vidas.
Eu vou sofrer.
Amanda tossia e tresvariava pela febre alta.
Vó Leontina pegou um pano quente e ia retirando o suor de seu rosto.
A custo conseguiu fazê-la beber o chá.
Quando Amanda adormeceu, já estava anoitecendo, e Douglas lembrou-se do carro.
- O carro é do pai da Amanda, ela pegou as chaves escondido e trouxe o carro até mim.
Não posso deixá-lo na estrada.
- Mas terá de deixar.
Não temos recursos aqui para removê-lo de lá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:26 pm

- Se o veículo estragar mais ainda, não sei o que farei, não tenho dinheiro para pagar o conserto.
- Tenha calma, meu filho, tudo se resolve.
Se você sair agora, vai enfrentar novo temporal.
Bastou que Leontina falasse para se ouvir um ribombar de trovão.
- Não falei? Vem tempestade das boas aí.
Vamos nos recolher, depois você vê o que faz com o carro.
Preocupação agora não vai adiantar.
Vó Leontina levantou-se e foi ajudar Aninha a fechar a casa.
Douglas passou a mão pelos cabelos lisos, tentando tirar as preocupações da mente.
Olhava para Amanda e percebia que sua respiração estava diferente, curta.
E se ela morresse?
E se o carro ficasse inutilizado?
Naquele momento mais uma vez se arrependeu daquela aventura.
A chuva chegou com muita força, parecia que o mundo estava se acabando lá fora.
O vento uivava, açoitava plantas, derrubava árvores.
Douglas percebeu que sua avó e Aninha estavam de olhos fechados orando.
Ele resolveu fazer o mesmo.
Orou com fervor e pediu a Deus que tudo se resolvesse.
Mesmo com o barulho da tempestade, Amanda não acordou, dormia profundamente.
Num dado momento, quando a intempérie havia serenado, ela começou a tossir.
O acesso de tosse foi ficando cada vez mais forte e seu corpo dava sinais de febre.
Douglas apavorou-se.
- Vó, faça alguma coisa, senão ela vai morrer.
- Sossegue, filho, ninguém morre antes da hora, e Amanda ainda vai ter muito o que viver sobre esta Terra de Deus.
- Como a senhora pode ter tanta certeza assim?
- Coisas de uma preta velha.
Vó Leontina levantou-se e ordenou que Aninha pusesse água no fogo.
Fez outro chá e o deu para Amanda tomar, o que ela fez com dificuldade.
A tosse parecia que não ia ceder, e ela começou a colocar uma secreção amarela pela boca.
Leontina, com segurança, enxugava sua testa com um pano húmido e dizia:
- Vamos, Amanda, coloque toda sua maldade para fora.
A maldade faz mal para o espírito e para o corpo, deixe que ele libere essa energia que já te fez tanto mal.
Douglas não compreendia o que a avó estava dizendo.
Como ela podia dizer que Amanda era má se nem a conhecia?
Logo sua Amanda, que era um anjo em pessoa?
Amanda, após ouvir aquelas palavras, serenou e voltou a dormir.
A chuva, após quase uma hora, havia terminado.
Era o momento de Aninha entrar em acção para limpar a casa.
O vento trazia muita poeira e sujava tudo. Leontina abriu as portas e, sentindo o ar fresco, comentou:
- Como é bom sentir o ar depois de uma tempestade.
Douglas aproximou-se da janela e, junto com a avó, aspirou a delícia do cheiro da terra e a brisa leve que agora envolvia o ambiente.
- Eu também gosto, vó.
Sempre depois da chuva parece que o ar fica diferente.
- E fica mesmo.
As tempestades limpam as energias doentias que as pessoas lançam no mundo.
Sabe, meu neto, as pessoas na vida de hoje andam pensando muita bobagem, não acreditam mais em Deus, são pessimistas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:26 pm

Por isso o mundo anda tão feio, tão triste.
A maioria vive na maldade, cometendo crimes, criando mentiras, cometendo falsidades, corrompendo, matando.
Tudo isso gera desarmonia no planeta, então nosso Criador, para limpar essas energias pesadas, acciona os tufões, os maremotos, as ventanias, os terremotos e as tempestades.
Sem isso a Terra seria pior do que é.
Quando qualquer um desses fenómenos acontece, a atmosfera fica leve porque foi saneada.
- Quanta sabedoria, vó.
De onde a senhora tira tudo isso?
- Não tem segredo, é a vida que ensina.
Além do mais, estou aprendendo muito com meus amigos do além.
Aprendi a ler e estou estudando os livros de Allan Kardec.
Quando meus filhos foram se casando e indo embora, acabei ficando só.
Meu velho já tinha me deixado, e então fui me sentindo muito triste.
Esta casa é isolada e eu não tinha muito contacto com as pessoas.
Tentei procurar abrigo na casa de um dos filhos, mas um a um eles me recusaram, e quase entrei em depressão.
Fui ficando triste, adoeci.
Até que Vera, a minha nora, veio me visitar, pois sempre foi muito apegada a mim, e trouxe com ela a Isilda, uma senhora que cultuava os orixás.
Ela pediu para que eu a deixasse me benzer.
Eu permiti e, à medida que ela fazia a oração, foi se transformando, e com voz modificada disse:
"Suas mãos podem curar, é hora de usar o dom que Deus lhe deu.
O sofrimento no mundo é grande.
As pessoas estão perdidas, angustiadas, sem saber que tudo tem remédio.
Você vai trabalhar com a natureza e nós te ajudaremos.
Aceite ser um instrumento do bem e, além de ficar curada, terá alegria e paz".
Isilda falava com convicção e eu ouvia sentindo que tudo aquilo era verdade.
Depois que ela terminou a oração, enquanto Vera passava um café, ficamos conversando, e ela me disse que foi seu guia quem apareceu e disse aquelas palavras.
Falou que eu tinha uma missão e que devia começar já.
Eu não sabia o que fazer, mas, a partir daquele momento, algo em mim despertou.
Já não queria ficar pendurada em filhos, eu tinha de me ajudar.
Então tive a ideia de plantar ervas que curassem as doenças e ajudar as pessoas das redondezas.
Comecei com pouca coisa, e logo as pessoas viram os resultados e meu trabalho crescendo.
Uma delas "por acaso" pediu que eu a benzesse.
Eu não sabia fazer isso, mas mesmo assim fui.
De repente, fui tomada de uma força estranha e comecei a gesticular, bocejar, repetir palavras que eu não conseguia controlar.
Fiquei assustada, mas não deixei que ninguém percebesse.
E assim continuou, toda reza que eu fazia em alguém a força me pegava e eu não controlava.
Até o dia em que amanheci ouvindo uma voz.
Essa voz me dizia as coisas que eu tinha de fazer para ajudar as pessoas, e que logo alguém chegaria para me ajudar.
Não fiquei com medo, essa voz era doce, serena e eu percebi que era de alguém que não morava mais neste mundo.
Compreendi que existem espíritos, e que eles estão constantemente a nossa volta.
Passei a conversar com eles todos os dias, desenvolvi o dom da premonição, mas continuava só, sem ninguém para me ajudar na lida.
Um dia, Vera chegou com Aninha ainda pequena.
A menina estava franzina, mas era esperta, tinha os olhos brilhantes e negros feito duas jabuticabas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:26 pm

Percebi que Vera não estava alegre, como de costume, e perguntei:
"O que está acontecendo, minha filha?"
Ela começou a chorar e me contou:
"Osvaldo quer ir embora, tentar a vida em São Paulo.
O Júlio arranjou serviço para ele lá, mas não pode levar criança, só eu poderei acompanhá-lo.
Ficaremos num alojamento".
"Já é decisão tomada?"
"Sim, temos de partir o quanto antes.
A lida na roça não dá para sustentar três bocas.
Se ele não for, acabaremos morrendo de fome.
Quero que a senhora cuide de Aninha.
Tem a sua aposentadoria, possui mais recursos."
Olhei para a criança, que sorria inocente, e percebi que a pessoa que iria me ajudar havia chegado.
Aceitei ficar com ela, e foi minha grande sorte.
Aninha é meu braço direito.
Vivemos da minha aposentadoria e das plantações que temos aqui, mas não nos falta nada.
Faço doces para vender, crio meus animais e somos felizes assim.
Até coloquei-a para estudar em Pedra Bonita.
Todo dia, pela manhã, ela vai para a estrada, pega o ônibus e vai.
Na hora de voltar faz a mesma coisa.
Douglas estava cada vez mais admirado com sua avó.
Não conteve a pergunta:
- Como a senhora consegue ser feliz com tão pouco?
- Escuta bem, meu filho, a riqueza é linda, ter dinheiro é muito bom, é uma chance que temos de ajudar o progresso do mundo.
Mas para ser feliz não é preciso ter muito dinheiro, para isso basta apenas ter a consciência tranquila, ter onde dormir, o que comer e o que vestir.
Creia, para a felicidade basta muito pouco.
- E quem não tem nem mesmo o que comer?
Vó Leontina olhou o Sol, que se punha no horizonte, e respondeu serena:
- Se as pessoas não fossem tão orgulhosas, tão sonhadoras, não lhes faltaria o necessário para viver.
Este mundo tem trabalho para todos, todas as profissões são dignas, mas muitos querem ter tudo pela lei do mínimo esforço, não querem enfrentar a vida, vivem buscando quem lhes dê uma esmola ou sonham com uma riqueza caída do céu.
Se arregaçassem as mangas e fossem ao trabalho, ninguém neste mundo passaria fome.
A Providência Divina nunca desampara quem é humilde e simples de coração.
Douglas calou-se.
Sua avó tinha razão.
Sua mãe, Tereza, ficara viúva jovem e o criara com sacrifício, mas nada lhe faltava.
Ela sabia trabalhar e não tinha medo de sair de porta em porta oferecendo leite, serviço de faxina, galinhas.
Coisa que muita gente com saúde não queria fazer.
A conversa foi encerrada e a noite havia chegado.
Amanda acordou e parecia melhor.
Aninha preparou uma sopa e todos se alimentaram.
Mas, apesar de tudo, as preocupações ainda permaneciam na mente de Douglas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:27 pm

3 - A IRA DE EDIONOR
Edionor entrou em fúria quando leu a carta de Amanda.
Aquilo não poderia estar acontecendo com ele.
Um respeitável fazendeiro, dono de muitas terras, temido por todos da cidade, não podia estar sofrendo aquela afronta.
O que iriam pensar dele e de Estela?
Sem titubear pegou sua arma, carregou-a e, junto com seus servidores fiéis, também armados, saiu procurando-os por toda a cidade.
A chuva dificultou a passagem para algumas de suas fazendas, aonde ele imaginava que Amanda pudesse ter levado Douglas.
A cidade era dividida por dois rios grandes de águas cristalinas e, quando chovia forte, geralmente ficava ilhada.
Edionor percebeu que teria de esperar a água baixar para ir a suas fazendas.
Quando chegou em casa, Estela, percebendo que o marido não havia encontrado a filha, sentiu alívio.
Sabia como Edionor era violento e nem queria imaginar o que aconteceria quando ele a encontrasse.
- Eu te falei que você não os iria encontrar. Eles estão longe.
- São inexperientes nesses assuntos, devem estar em uma das minhas fazendas.
Com essa chuva as linhas telefónicas estão em pane e não consigo falar com meus caseiros.
Esse rapaz não perde por esperar.
Ele não sabe com quem mexeu, minha filha não é qualquer uma, lavarei minha honra com sangue.
Estela sentiu o sangue ferver.
- Não faça isso, pelo amor de Deus.
Nossa filha também teve responsabilidade.
Se ela não quisesse, não teriam fugido.
- Bem se vê como você é ingénua.
Ela foi seduzida, aliciada e deflorada por esse patife, que está em busca só do nosso dinheiro.
- Não posso permitir que você mate aquele rapaz.
Eu vi como a Tereza o criou com dificuldades, saindo para vender galinhas, comercializando leite.
Se você o matar, ela morre.
- Eu estive na casa dessa mulher e já a avisei que o filho dela está com as horas contadas.
- Não perguntou se ela sabe o paradeiro?
- Ela disse que não sabe, mas eu sei que sabe.
Vou tentar encontrar os dois, se não conseguir, pegarei a Tereza e darei uma sova nela.
O filho, onde estiver, ficará sabendo e voltará correndo para socorrer a mãezinha.
Estela estava horrorizada com a frieza e a crueldade do marido, mas tentou apelar para o bom senso.
- Pense bem, o melhor que você pode fazer é achar os dois e o obrigar a reparar o erro casando-se com nossa filha.
Eu sei que, se ela fugiu, é porque gosta dele.
Não adianta ir contra o destino.
Edionor sentiu a ira aumentar.
- E vão viver de quê?
De galinhas?
Minha filha deve ter vida de rainha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:27 pm

- E você acha que alguém vai querer casar com ela depois do que aconteceu?
Nossa filha foi desonrada.
Edionor começou a perceber que a mulher tinha razão.
Havia prometido a mão de Amanda a Fernando Medeiros, filho de um pecuarista amigo seu.
O moço estava estudando Agronomia e tinha futuro, era sensato e rico.
Mas ele sabia que os pais de Fernando eram moralistas, não iam desejar ver o filho casado com uma mulher já deflorada por outro homem.
Edionor levantou-se da sua poltrona de vime e, ao ouvir as últimas palavras da mulher e perceber que a única solução seria aquela, entrou em fúria e atirou um arranjo num grande espelho que, com a força da pancada, ficou destruído. Estela sabia que tinha dito a verdade e que o marido acabaria por concordar.
Após a fúria, Edionor voltou para sua poltrona e calou-se.
Um silêncio absoluto reinou na sala, até que Zilda apareceu.
- Dona Estela, tem uma mulher aí na porta querendo falar com seu Edionor.
- Você perguntou de quem se trata?
- É a professora Lúcia, aquela que ensina em Pedra Bonita.
- Lúcia? Não me recordo.
O que ela pode querer com o Edionor num dia como esse?
- Ela disse que é caso de vida ou morte.
Edionor deu um salto e, parecendo acordar de um sono, gritou:
- Provavelmente essa mulher tem alguma informação sobre nossa filha, mande-a entrar já.
Lúcia entrou na sala com receio, sentindo-se ridícula por estar ali.
Não gostava da fama daquele homem, muito menos de entrar nas casas ricas daquela cidade.
Mas o que fazer?
Agora era tarde.
Observou o luxo da grande sala de estar, dos candelabros, dos bibelôs, dos arranjos e sentiu inveja.
Como queria ser rica!
Mas Hortência estava crescendo e em breve estaria moça, podendo se casar com um homem de posses.
Edionor estava à sua frente indagando:
- Deve ter um bom motivo para a senhora estar na minha casa num dia como hoje.
Deve saber onde está minha filha.
É ou não é?
Lúcia sentiu-se mal, não gostava de ser tratada de forma rude.
- Primeiro devo dizer que sou uma pessoa séria e não estaria aqui se o motivo não fosse forte.
Estela percebeu a seriedade e a convidou:
- Sente-se.
- Então, mulher, fale logo! - Gritou Edionor.
- Eu não sei onde está sua filha, mas tenho uma pista.
Os olhos do homem brilharam esperançosos.
Não sabia quem era aquela mulher, mas se ela o pudesse ajudar, que fosse rápida.
- Diga logo.
Onde suspeita que ela esteja?
Quem lhe contou?
Como sabe?
- Calma, homem!
Não vê que a professora Lúcia está nervosa?
- Estou, sim, eu não sei nem se deveria ter vindo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 04, 2017 9:27 pm

Bom, a história é um pouco confusa, mas quero que saibam que nem eu mesma sei dizer ao certo se é verdadeira.
Contudo, penso que precisamos ajudar os outros, e minha consciência ficaria pesada se não viesse aqui dizer o que sei.
Edionor e a esposa ficaram calados.
Perceberam que Lúcia era séria e que tinha algo importante a dizer.
Ela continuou:
- Eu não sei se vocês acreditam em Espiritismo, pois eu mesma não acredito, mas tenho uma filha de sete anos que me levou a pensar no assunto e a buscar informações.
Ontem, quando o Douglas fugiu com sua filha, nós comentamos o ocorrido em casa e ela ficou impressionada, fazendo perguntas.
Estranhei, pois Hortência é muito menina e não dá importância às histórias dos adultos, mas ela não cansava de perguntar.
Edionor pensou que estava diante de uma louca.
No meio daquela situação, uma mulher vir falar em Espiritismo!
Pensou um pouco e lembrou que tinha pessoas com dom para fazer trabalho, ele mesmo já havia procurado um curandeiro tempos atrás.
Lúcia continuou, percebendo que a escutavam com atenção.
- No meio da noite, Hortência acordou suando muito e com voz modificada.
Ela dizia:
"Mamãe, a moça vai morrer, a moça vai morrer".
Eu perguntei assustada:
"Que moça, meu bem?"
"A moça que fugiu com o Douglas.
Se não a encontrarem, a pobrezinha vai morrer."
Minha filha falava angustiada, então chamei minhas sobrinhas.
Uma delas é espírita há muito tempo e eu, embora discorde dessa filosofia, não a impeço de segui-la.
Diva, então, disse que Hortência poderia estar tendo uma vidência, e que deveríamos saber mais.
Então perguntamos:
"E onde ela está?"
"Está numa roça distante.
Tem de achar ela, mãezinha, senão ela morre, ela está muito doente."
Edionor e Estela se arrepiaram.
- Mas isso não ajuda em nada.
Saber que ela está numa fazenda eu já sei, provavelmente em uma das minhas.
Lúcia ficou em dúvida se falava ou não, por fim disse:
- Olha, senhor Edionor, minha filha disse que sabe onde eles estão, mas que tem medo de falar e o senhor matá-los.
- Escuta aqui, minha senhora, o que quer de mim?
Vem aqui com essa história louca e ainda me chama de assassino?
Ponha-se daqui para fora.
Lúcia sentiu o sangue ferver:
- Pois saiba que eu acredito em minha filha e acho que Amanda corre risco de vida.
Não desejo nada do senhor, vim aqui para ajudar, agora, se não quer, adeus.
Ia se retirando, quando ouviu o chamado:
- Espere, quero ver sua filha.
Vamos até sua casa.
Estela pegou a bolsa e seguiu o marido.
Entraram no carro e seguiram.
Lúcia não morava distante, e rápido estavam lá.
Quando chegaram e colocaram Hortência na frente do casal, ela parecia estar em transe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:33 pm

- A moça está mal.
Se o senhor não chegar lá na roça, ela morre.
Edionor não sabia conversar com crianças, mas tentou.
- Você sabe onde ela está, Hortência?
Fala para o titio aqui.
Hortência fez beicinho e resmungou:
- Não posso, o senhor vai matar o Douglas, e eu não quero que ele morra.
Ele é um príncipe que fugiu com a moça num cavalo branco.
- Eu não vou matar ninguém, minha criança. Confie.
- O senhor promete?
- Prometo.
Hortência ficou calada por alguns segundos e depois disse:
- Ela está na casa de uma senhora preta, velha, chamada vó Leontina.
É uma casa branca, cheia de janelas e bichinhos.
Muito longe, muito longe...
Edionor parecia não acreditar no que estava ouvindo.
Aquela menina estava possuída por alguma entidade.
Como não pensara nisso antes?
É claro. Leontina era a mãe do pai de Douglas, vivia distante e raramente aparecia em Rios Claros.
Diziam que era curandeira.
Aquela menina falava a verdade.
Desesperado, perguntou:
- E minha filha está dodói de quê?
- Ela tosse muito, solta uma coisa amarela pela boca, está toda quente.
O senhor tem de ir lá.
Não foi preciso dizer mais nada.
Edionor acreditou que estava diante de uma criança prodígio.
Tinha de seguir o que ela estava dizendo.
- Dona Lúcia, sua filha vale ouro.
Tem um dom especial.
Agradeço por tudo.
Quanto a senhora quer pelas informações?
Vejo que sua casa está toda precisando de uma reforma.
Se eu achar minha filha, prometo deixá-la novinha.
- Muito obrigada.
Não desejo nada seu.
Se minha filha não tivesse tido essa visão e não tivesse insistido para que eu fosse à sua casa, eu não me importaria com a vida de sua filha, mas sim com a do Douglas, que é pobre e sei que sofrerá em suas mãos.
O senhor não merecia ouvir o que ouviu aqui, merecia que sua filha morresse para aprender a dar valor a outras coisas.
Agora ponha-se daqui para fora.
Edionor não esperava aquilo.
- Escute aqui, sua atrevida...
- Escute aqui o senhor, retire-se imediatamente ou não responderei pelos meus actos.
Estela arrastou o marido e saíram.
Uma vez no carro, ela disse:
- Como você foi oferecer dinheiro, homem?
Não vê que é mulher pobre, mas digna?
- Ela é uma desaforada, isso sim.
Não pense que o que ela me disse ficará por isso mesmo, na hora certa me vingarei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:33 pm

- Você deve agradecer a ela e à filha por terem dito onde Amanda está.
- Vamos ver se ela acerta.
Irei hoje mesmo à casa daquela velha.
- As águas não baixaram, você não conseguirá passar.
- Não viu que nossa filha corre perigo? Tenho de chegar depressa.
- Espere para amanhã, já é noite e parece que não vem mais chuva.
Se não vier, as estradas estarão livres bem cedinho.
Edionor pareceu concordar e foi para casa, mas ainda estava muito impressionado com Hortência e com tudo o que ela havia lhe dito.
Como poderia saber que ele tencionava matar Douglas?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:33 pm

4 - Escolhendo o destino
Nem bem o dia clareou e Edionor já estava a caminho da casa de Leontina.
Fazia tempos que ele não passava por aquela estrada, mas lembrava-se muito bem dela.
Depois de quase três horas de viagem, avistou o carro em que Amanda fugiu.
Arrependeu-se de estar só.
Provavelmente precisaria da ajuda de Douglas para remover Amanda e seu carro permaneceria naquela estrada.
Após muito pensar, resolveu que não iria fazer nada que prejudicasse o futuro genro.
Sua filha também escolhera fugir, agora que casasse com um pobre e fosse viver longe dele.
Mas será que ele conseguiria viver longe de sua princesa?
Parou o veículo e olhou o seu carro.
Estava destruído, ninguém conseguiria movê-lo do lugar.
Vendo que não tinha muito o que fazer ali, prosseguiu viagem.
Logo a casa de dona Leontina apareceu.
Como sempre, o cachorro serelepe veio fazer festa.
Edionor desceu do carro e já ia abrir a porteira quando viu Leontina à sua frente.
- Eu sabia que o senhor ia chegar.
Se veio em paz que entre, se veio em guerra que fique de fora.
- Calma, senhora.
Eu só quero saber como está minha filha. Vim em paz.
- Que Jesus seja louvado!
Sua filha está precisando muito de ajuda.
Ela pegou uma pneumonia forte, que não está cedendo com minhas ervas.
Trabalho há muito tempo com curas e sei quando as pessoas precisam da medicina dos homens.
Sua filha tomou toda aquela chuva e secou a roupa no corpo, faz três dias que está doente, não reage, não come.
Se não for logo atendida por um médico, vai morrer.
Edionor abriu o pequeno portãozinho de madeira e entrou em disparada na casa.
Amanda estava pálida, deitada numa cama, tendo Douglas aos seus pés chorando e rezando.
Ele fingiu não ver o rapaz e foi logo dizendo:
- Minha filha, tenha força, seu pai chegou.
Vamos embora daqui.
Ela parecia dormir e nada respondeu.
Ele se virou furioso para Leontina:
- Como a senhora deixou uma pessoa doente nesse estado sem atendimento médico?
Se ela morrer, a culpa será sua e de seu neto.
- O senhor está sendo injusto, tratamos sua filha com tudo o que a natureza pode oferecer.
Aqui ela recebeu todo o carinho possível.
- E a senhora acha que essa porcaria de mato ia curar minha filha?
Tinha de providenciar um carro e levá-la para um hospital.
Pedra Bonita fica perto. E você, imprestável?
Por que não agiu feito macho?
Na hora de tirar minha filha de casa soube ser homem, por que não age como tal agora?
Douglas tremia de medo.
Conhecia o pai de Amanda e tinha medo que, a qualquer hora, ele pudesse sacar uma arma e o matar.
Nada respondeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:34 pm

Leontina foi enérgica:
- O único transporte que passa aqui é o ônibus escolar, mas a chuva fez subir os riachos, não estava dando para passar.
Se tivéssemos um carro, com certeza sua filha estaria num hospital.
Edionor disse com desdém:
- Quem manda morar no meio do mato feito bicho?
A senhora é uma maluca que ajudou dois desmiolados a cometer um erro grave.
Vou entrar com processo contra a senhora e quero vê-la presa.
Leontina olhou-o firme.
- O senhor sabe que não tenho medo.
Há muito tempo nos conhecemos, e só eu sei o que senhor foi capaz de fazer há exactos dezoito anos. Esqueceu?
Edionor estremeceu.
Leontina sabia realmente toda a verdade.
Revidou:
- Pensa que me intimida?
- Penso, sim.
Se o senhor fizer algo contra meu neto, saiba que não titubearei em contar toda a verdade para a dona Estela.
Eu não sou de fazer ameaças, aprendi que o bem vence tudo, mas ele só pode vencer se a pessoa que o pratica for forte.
Até hoje o mal só venceu por causa da timidez do bem.
Mas eu não tenho essa timidez.
O senhor vai levar sua filha embora, vai tratar dela e cuidar muito bem do meu neto.
Moro longe, mas me mantenho muito bem informada.
Saberei de tudo o que ocorrerá.
Se algo suceder a ele ou a Tereza, não tardarei em procurar sua esposa.
E nem adianta me matar, tem mais gente que sabe e, se eu morrer, outros farão no meu lugar.
Leontina falava em tom grave e continuou:
- Levante, Douglas, deixe de ser covarde.
Pessoas sem coragem não vencem na vida, aprenda que o mundo é dos fortes.
Ajude seu Edionor a colocar Amanda no carro e depois volte aqui, quero falar com você.
Edionor ficou calado, com medo das ameaças de Leontina.
Por isso não falou mais nada e, ajudado por Douglas, levou Amanda e a instalou no veículo.
Enquanto ele arrumava os bancos para deixar a filha mais confortável, Douglas voltou para ver a avó.
Ela estava sentada calmamente fumando seu charuto.
- Vó, a senhora ficou doida?
Como foi falar assim com aquele homem?
- Coisas de uma preta velha, meu filho.
Agora preste muita atenção no que eu vou te dizer.
Seu destino não é com Amanda.
Ela representa uma prova para que você possa escolher livremente seu caminho.
A pessoa que lhe está destinada é outra, de modo que, se você casar com essa aí, não vai estar livre para quando o amor aparecer.
- Como a senhora pode ter certeza?
- Eu sei e digo mais.
Amanda vai fazer muita gente sofrer, é um espírito muito endurecido.
Não a escolha para sua vida.
A hora da opção é agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:34 pm

O que escolher decidirá seu futuro.
- Mas vó eu amo a minha gatinha.
- Ama não, meu filho.
O amor não é isso.
Você pensa que ama porque achou que uma moça rica e fina se interessar por você é vantagem.
O amor você ainda vai conhecer e vai demorar muito.
Douglas estava confuso. Seria verdade?
Tentou argumentar:
- Mas não posso mais voltar atrás.
Eu tirei a honra de Amanda, serei obrigado a casar.
- O tempo é outro, meu neto. Desobrigue-se.
Pense na sua felicidade antes que seja tarde.
Agora vá que o seu Edionor o espera.
Douglas saiu pensativo.
Sua avó estaria certa?
Dentro da casa, Aninha que a tudo viu, não se conteve.
- Oh vovó, acho o Douglas e a Amanda um casal tão bonito!
A senhora não exagerou?
- Não, minha filha.
Eles formam um belo par, mas não foram feitos um para o outro nesta encarnação.
Amanda veio para seguir com ele como uma grande amiga, não para ser mulher.
Mas estou vendo que as coisas não seguirão o caminho que foi programado, por isso muito sofrimento vai aparecer.
- Como saber qual o caminho certo?
- O caminho da paixão nunca é certo.
Douglas e Amanda estão apaixonados, e tomar uma decisão movido por esse sentimento nunca dá bons resultados.
Estou pressentindo que eles se casarão e, quando a mulher da vida de meu neto aparecer, ele vai cair nos caminhos da traição.
Ele não resistirá a essa prova.
- Mas não é a senhora que diz que tudo está certo como está?
- Sim. Mas o sofrimento pode sempre ser evitado.
Se as pessoas fossem mais prudentes, ouvissem a voz da alma, não precisariam sofrer.
Em todo caso, ficarei aqui orando pelo meu neto.
Sei que ele um dia vai cruzar aquela porteira desesperado e eu estarei aqui para ajudar.
Agora vamos alimentar os bichos que, com essa confusão, ficaram sem comida.
As duas foram cuidar dos animais e das plantas, recebendo energias benéficas que só a natureza pode oferecer na vida pacata da zona rural.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:34 pm

5 - PRESSENTIMENTOS DE UMA ENFERMA
Douglas entrou no carro e logo percebeu que Edionor não estava disposto a conversar.
Amanda dormia no confortável banco traseiro, e eles começaram a seguir viagem.
O trajecto durou silencioso até que, impulsionada pela tosse, Amanda acabara por despertar.
Mesmo estando muito fraca, ela conseguiu se levantar e, percebendo-se no carro do pai, balbuciou fracamente:
- Pai, estou muito mal.
Como conseguiu me encontrar?
Onde está o Douglas?
- Calma, Amanda. Agora está tudo bem.
Tente descansar, pois estamos indo em direcção a Pedra Bonita, onde terá melhor atendimento.
Douglas mostrou seu rosto e ela sorriu:
- Sabia que nesse momento meus dois maiores amores não iriam me abandonar.
- Descanse, meu bem, logo estaremos no hospital.
Amanda, vencida pela fraqueza, acabou por adormecer novamente.
Não estava nem encontrando forças para tossir e a febre havia recomeçado.
Edionor, aproveitando o sono da filha, olhou com ódio para Douglas.
- Maldito moleque, viu no que deu sequestrar minha filha?
Se ela não tivesse tão apaixonada e não houvesse sido desonrada, eu mataria você.
Douglas tremeu.
Era evidente o pavor que sentia daquele homem.
Mesmo assim, tentou se explicar num fio de voz:
- Não foi minha intenção deixar Amanda doente.
Ninguém podia imaginar o que iria acontecer, nem que iríamos enfrentar aquele temporal.
Parecendo não escutar, Edionor continuou:
- Você, a partir de hoje, viverá sob o meu controle.
Como terá de casar com minha filha, deverá ter um emprego que possa dar a ela todo o luxo que sempre teve.
Darei um trabalho a você, mas terá de me obedecer, qualquer desvio das minhas ordens darei um jeito de sumir com você e com sua mãe.
- Por favor, seu Edionor - pediu Douglas com lágrimas nos olhos - deixe minha mãe fora disso.
É uma mulher honesta, pobre, que se esforça para se manter.
Seja o que for fazer, que seja comigo.
- Sua mãe bem que merece uma lição.
Fui procurá-la para saber aonde você havia levado minha filha e ela mentiu, dizendo que não sabia.
A mentira de sua mãe poderia ter custado a vida de Amanda, se não fosse por Hortência...
- Quem?
- Uma criança que mora lá em Rios Claros.
Ela tem esses dons que esses macumbeiros têm de ver as coisas.
Foi essa menina que viu onde estavam e me disse.
No futuro, essa garota deverá fazer igual a sua avó, que é outra macumbeira, e viverá de vender e fazer sortilégios para as pessoas.
Mas o que importa é que ela achou vocês.
Douglas sentia raiva daquele homem, que não entendia a espiritualidade da sua avó e ainda criticava uma criança que só tinha feito ajudar.
Resolveu não responder.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:34 pm

Não adiantaria mesmo discutir com uma pessoa irascível como Edionor.
Quando chegasse a Rios Claros, iria procurar a menina e conhecê-la.
A entrada de Pedra Bonita logo se fez divisar.
Era uma cidade grande, bonita, bem organizada, onde o atendimento médico era melhor.
Rios Claros tinha hospitais e Postos de Saúde, mas Edionor confiava em demasia num médico que trabalhava na cidade vizinha.
Logo entraram no hospital.
No saguão, Edionor perguntou:
- Dr. Henrique Freitas se encontra?
A atendente sorriu com simpatia.
- Sim, está atendendo no consultório que fica aqui mesmo no hospital.
O senhor deseja falar com ele?
- Na verdade, é uma emergência.
Minha filha está no carro passando mal, com todos os sintomas de pneumonia.
Preciso que ele a atenda agora.
- Um instante que vou tentar entrar em contacto.
Fiquem à vontade.
Edionor conteve-se para não agredir aquela moça, será que ela não percebia que sua filha podia morrer?
Depois de um telefonema, ela o chamou:
- Dr. Henrique acabou de atender um paciente, está vindo ao seu encontro.
Pouco depois, um senhor de cabelos castanhos, onde já se notava alguns fios brancos, porte médio, rosto simpático, apareceu e abraçou o amigo de longa data.
Edionor contou o que estava acontecendo e logo tudo foi providenciado.
Uma padiola levou Amanda para um quarto especial, onde foi consultada.
Após examiná-la clinicamente, dr. Henrique disse:
- É um caso de pneumonia sim.
Precisamos ver em que proporções os focos pneumáticos atingiram os pulmões.
Este hospital tem todos os recursos para que possamos fazer os exames de que ela necessita.
Receio que o caso seja grave.
Vamos rápido.
Amanda foi levada à sala de raios-x e logo depois ao quarto.
Enquanto isso, Douglas continuava no saguão.
Edionor o proibira de participar da consulta.
Já estava vendo como seria humilhado quando se casasse com Amanda.
De repente, recordou-se do que sua avó disse e reflectiu se não estava sendo precipitado.
Sentiu uma angústia imensa.
Lembrou-se da mãe.
Deveria estar aflita esperando notícias dele, até mesmo com receio de que fosse morto por Edionor.
Resolveu pedir uma ligação do próprio hospital para a casa de uma vizinha que tinha telefone.
Minutos depois, Tereza atendeu aflita:
- Filho! Finalmente!
Não sabe o quanto tenho orado aqui por você.
Onde está? Está bem?
- Calma, mãe, estou bem.
O senhor Edionor nos encontrou na casa de vó Leontina e trouxe Amanda para um hospital em Pedra Bonita, ela está muito doente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:34 pm

- Então está mesmo doente? O que houve com ela?
Douglas contou tudo em poucas palavras e finalizou:
- Quero estar aí ainda hoje.
Quando tudo se acalmar, quero voltar para casa, pegar mais roupas e estar novamente ao lado de Amanda.
Mãe, estou com medo de que ela morra.
- Nem pense nisso, se isso acontecer será nosso fim.
Quantas vezes te falei para não se envolver com essa moça?
Se ela morre, Edionor mata você também - Tereza começou a chorar.
Douglas sentiu pena da mãe, ela não merecia estar naquela situação e tudo por sua culpa.
- Fique tranquila, eu penso nisso nos momentos de desespero, mas aqui ela está com os melhores recursos, sei que ficará boa.
Além do que, vó Leontina disse que Amanda viverá muito.
Tereza pareceu serenar.
- Se sua avó falou, é porque é verdade.
Ela tem mediunidade e tudo o quanto diz acontece.
Douglas ainda conversou mais com a mãe, até que viu surgir Edionor.
Despediu-se prometendo ir logo para casa e depois dirigiu-se ao futuro sogro:
- E então?
- E então? O que você esperava?
Os exames constataram pneumonia das fortes com focos em ambos os pulmões.
Deus queira que ela permaneça viva.
Se meu tesouro morrer, saiba que não viverá também.
Apesar de profundamente preocupado com a filha, Edionor não deixava a maldade de lado.
Fora criado assim e, segundo ele, assim morreria.
Julgava que toda a culpa havia partido daquele que julgava um patife.
Saiu e foi para o carro, não sem antes dizer:
- Amanda só chama o seu nome.
Faça o favor de entrar e ficar com ela.
Preciso ligar para minha esposa e avisar o que está acontecendo.
Douglas entrou no quarto e não gostou do que viu.
Parecia que sua amada havia piorado.
Os olhos estavam fitando o vazio, mas reagiu ao vê-lo entrar.
- Meu amor, pensei que tivesse me deixado só.
Aproxime-se.
- Estou aqui, nunca te deixarei.
Amanda parecia estar em transe e, como se não tivesse escutado o que ele havia dito, continuou:
- Ela pensa que vai nos separar, mas não vai conseguir.
- De quem você está falando?
- Quem mais poderia ser?
Aquela que roubou tudo o que eu tinha, por isso a enterrei viva.
Douglas percebeu que ela estava com febre alta e que por isso falava aquelas coisas desconexas.
Ele ignorava que em estados de doenças sérias o espírito desprende-se com mais facilidade do corpo e altera o estado de consciência, podendo ver o passado ou prever o futuro, dentro das possibilidades que a Lei Maior permite.
Amanda continuava:
- Ela veio para fazer tudo o que fez no passado novamente.
Mas dessa vez eu não irei permitir.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:35 pm

Amanda falava com convicção e Douglas, a certa altura, não conteve a pergunta:
- De quem tanto você fala, meu amor?
- Dela, de Hortência!
Uma espécie de angústia tomou conta do espírito de Douglas.
O que estava acontecendo com ele?
No mesmo dia havia escutado o mesmo nome duas vezes.
Uma vez pelo senhor Edionor, agora por Amanda.
Mas certamente não era a mesma pessoa.
Segundo o sogro, Hortência era uma criança e Amanda parecia falar de uma mulher adulta.
Resolveu não dar importância ao assunto, atribuindo tudo ao estado doentio em que ela se encontrava.
Pouco depois, Amanda caiu num sono profundo e reparador, mas Douglas, por mais que tentasse, não conseguia tirar o nome Hortência da cabeça.
O que ele não sabia era que Amanda falava da última encarnação que eles tiveram e que, a seu modo, temia os resultados da Lei de Causa e Efeito, que disciplina as criaturas onde quer que elas se encontrem.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:35 pm

6 - CASAMENTO MARCADO
O fim da tarde chegou e Douglas resolveu voltar para casa.
Amanda já havia dado sinais de visível melhora com o tratamento e passava a maior parte do tempo dormindo.
Contudo, ele tinha medo que Edionor não gostasse da sua decisão, afinal teria de passar a noite sozinho com a filha.
Após muito pensar, decidiu que teria de ver a mãe, abraçá-la, sentir-se seguro.
Procurou pelo sogro, que estava no quarto, e criando coragem disse:
- Senhor, estou indo para casa.
Amanda passa bem e preciso ver minha mãe, pegar roupas novas, tomar um banho.
- Pode ir, você não teria grande valia aqui mesmo.
Sei muito bem cuidar de minha filha, além dos médicos e enfermeiras que estão de prontidão.
Mas não pense que vai deixá-la só por muito tempo.
Amanhã cedo quero você aqui. Aproveite e venha com minha mulher.
Certamente a primeira pessoa que Amanda vai perguntar quando acordar será por você, de modo que, se não vier por bem, terá de vir por mal.
- Tudo bem, senhor, agora me dê licença e tenha uma boa noite.
Antes que saísse do saguão, Edionor perguntou:
- Tem dinheiro para voltar para casa?
- Sim, como não gastamos nada, tenho o que minha mãe me deu quando resolvi viajar.
- Então sua mãe teve parte nessa fuga mesmo, não foi?
Douglas não respondeu e saiu deixando Edionor furioso.
Ainda daria uma lição em Tereza. Mas como?
A velha Leontina sabia de tudo o que aconteceu e, se ele fizesse algum mal a quem ela se afeiçoasse, estaria perdido.
Só estaria livre se Leontina morresse, mas ela afirmara que outras pessoas sabiam do segredo e que iriam revelar caso ela fosse assassinada.
Edionor resolveu parar de pensar no assunto e continuar ao lado da filha, que ressonava no leito.
Douglas saiu do hospital sentindo uma grande angústia.
Cada vez mais forte vinha à sua mente a imagem da avó alertando-o sobre o erro que estaria cometendo.
Edionor era vingativo e nunca iria perdoar o que aconteceu.
Como seria sua vivência com ele?
Pelo visto, um grande pesadelo.
Entrou no ônibus e continuou pensando.
"Eu amo Amanda, minha avó está errada.
O que sinto por ela é amor sim, tenho certeza.
Nunca vou gostar de outra mulher como gosto dela.
Apesar de ter sido minha primeira namorada, nunca desejei ninguém como desejo Amanda.
Devo enfrentar tudo para realizar esse sonho de estar com ela para sempre."
Enquanto o ônibus seguia, ele ia pensando até que adormeceu.
Uma hora depois, o cobrador bateu em seu braço acordando-o.
Ao pisar os pés naquela cidade, sentiu uma sensação maravilhosa de liberdade.
Estar longe de Edionor representava para ele protecção e segurança.
Foi directo para casa.
Ao entrar, encontrou Tereza encolhida a um canto do sofá rezando o terço.
Era sempre assim, quando tinha um problema Tereza recorria ao terço e à Nossa Senhora das Graças.
Ao ver o filho entrar, deu um salto, correu e o abraçou fortemente.
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