LUZ ESPÍRITA
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro - Página 7 Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:28 pm

35 - PERDOAI PARA QUE DEUS VOS PERDOE
Sentada na beirada da cama, Hortência lia e relia a carta de Amanda, deixando que grossas lágrimas escapassem de seus olhos.
Os dias haviam passado, ela ficara sedada durante algum tempo, mas aos poucos foi retomando a consciência e, em vez de desespero, um grande mutismo tomou conta de seu ser.
Ficava horas calada, lembrando-se do filho, lembrando de Douglas, da mãe e tinha a certeza de que não havia mais nenhum motivo para viver.
Agora passara a ler a carta de Amanda todos os dias, como a dizer que ainda não acreditava no que havia acontecido.
Ela não conseguia entender como uma pessoa poderia planejar uma vingança tão cruel como aquela, separando uma criança inocente da mãe que a amava e a cobria de carinhos.
O certo era que nunca mais iria rever o filho.
Tinha de se conformar. Mas como?
Diva entrou no quarto e, olhando-a com a carta na mão, tornou:
- Já disse que isso te faz mal, vou queimar essa carta.
Hortência deu de ombros.
- Não faz mal.
A original está nas mãos da polícia, e eu tenho outras cópias.
- Não se torture dessa maneira.
Não quero vê-la assim.
Sabemos que é uma situação difícil, mas você é jovem, poderá ter outros filhos.
- Ninguém vai conseguir preencher esse vazio que está em meu coração.
Ninguém vai tomar o lugar do Mateus.
Ninguém, entendeu Diva?
- Entendo, mas tudo passa e um dia você terá a chance de entender por que tudo aconteceu e encontrar a paz.
- Já disse que não desejo mais saber de Espiritismo.
Foi por causa dele que meu filho foi levado.
Se não tivéssemos saído naquela noite para ir à casa de Vilma, nada disso teria acontecido.
Diva sentia pena, mas não podia deixá-la ser injusta.
- A Neide estava plantada aqui para levar o Mateus, a qualquer instante, por ordem de Amanda, e ela faria isso.
Não foi culpa do Espiritismo.
- De qualquer forma, ninguém sabe a dor que tenho no peito.
E meu ódio aumenta ao pensar que a polícia não teve capacidade de prendê-los a tempo.
- Ninguém sabe como eles fugiram.
Eles não foram descobertos em nenhum dos aeroportos e, além de tudo, Fernando era rico, poderiam ter ido de jacto.
A mansão dele permanece fechada por ordem da polícia, e o senhor Eriberto tem respondido por outras falcatruas que fazia junto com o filho.
Nesse momento, ouviram o barulho da campainha.
Diva saiu para atender, demorou alguns minutos, e voltou ao quarto dizendo:
- Dona Estela quer vê-la.
Disse que é um assunto urgente.
- Não desejo ver ninguém, você sabe que não mais sairei desta casa até que meu filho volte para mim e também não desejo contacto com outras pessoas.
Diga a ela que me esqueça.
Sei que não teve culpa pelo que a filha fez, mas não quero contacto, peça que vá embora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:29 pm

- Hortência, tenha bom senso.
A dona Estela está sofrendo tanto quanto todas nós.
O marido está preso e a filha a abandonou.
É uma mulher íntegra, bondosa, nunca compactuou com os desmandos de Edionor, nem concordava com as coisas que Amanda fazia.
Se veio até aqui, é porque tem algo importante a dizer.
Você também não poderá viver para sempre dentro desta casa e deste quarto sem contacto com as pessoas.
- Posso e assim farei.
O hotel já está inteiramente por sua responsabilidade e de Edmilson.
Não tenho mais o que fazer da vida.
Diga a essa senhora que nunca mais me procure.
Diva percebeu que não adiantava insistir, mas ela mesma conversaria com Estela.
Percebia que aquela mulher sofria muito e tinha necessidade de falar.
Voltando à sala olhou-a e disse:
- Dona Estela, perdoe Hortência, ela está muito mal e não quer ver ninguém.
Há semanas, desde que tudo aconteceu, que não sai mais do quarto.
Mas sei que a senhora não veio aqui para uma simples visita.
Vejo em seu rosto que precisa muito falar, desabafar talvez.
Não quer se abrir comigo?
Estela, deixando as lágrimas cair em profusão, olhou para Diva e comentou:
- Hortência tem todo o direito de não querer me ver, afinal sou mãe daquela que fez toda a sua desgraça. Se eu pudesse impedir...
- Não se culpe.
A senhora criou Amanda da melhor maneira possível, educou-a, ensinou-lhe o caminho do bem.
Se ela fez o que fez, foi porque quis.
- Sei disso, mas não desejo mais falar sobre ela.
Isso me machuca muito.
Vim aqui para deixar um recado de Edionor para Hortência.
Ele quer vê-la o mais urgente possível.
Acabei de chegar do presídio, e ele suplicou que Hortência fosse vê-lo.
Pediu com lágrimas nos olhos, com expressão sofrida, disse que não poderá ficar em paz se não vê-la e dizer o que precisa ser dito.
Diva intrigou-se:
- O que o senhor Edionor tem para dizer a ela? Toda a sua participação no desaparecimento de Douglas nós já sabemos.
Terá algo mais que ele não tenha revelado nem para a polícia?
- Não creio que seja isso.
Sinto que Edionor está cheio de remorsos.
Não apenas por ter matado o próprio filho, mas por saber que Amanda sequestrou seu neto e deixou Hortência em tamanho sofrimento.
Não sei o que ele pretende conversar com sua prima, mas eu peço, em nome do mestre Jesus, que a convença de que precisa ir.
Sinto que Edionor pode adoecer e morrer a qualquer momento.
Estela não conseguia conter o choro.
Diva a abraçou e elevou seu pensamento a Deus, pedindo ajuda e alívio para os sofrimentos daquela senhora.
Por fim disse:
- Pode ir tranquila, dona Estela.
Convencerei Hortência a ir.
Ela precisa sair dessa casa, voltar à vida.
Farei o possível para que ela possa superar tudo isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:29 pm

Sei que com a ajuda de Deus e dos espíritos iluminados acabarei por conseguir.
Estela, ao ouvir referências a espíritos, tocou no assunto:
- Continuo a frequentar a casa de Vilma.
É o que tem me ajudado nesses momentos difíceis.
Mas ainda não consigo entender por que Deus permitiu que essa desgraça toda acontecesse com minha família, e principalmente com Hortência.
Não acho justo que ela tenha perdido tantas pessoas que amou e, principalmente, seu filho.
- Eu sei que nada nesta vida ocorre sem uma razão justa, dona Estela.
Muitos acontecimentos inexplicáveis na vida presente têm origem em dramas vividos em outras existências, que voltam agora para a devida reparação e aprendizagem de todos os envolvidos.
Embora não possamos julgar, acredito que, se Hortência não tivesse necessidade de passar por tudo isso, Deus a teria poupado.
Não estou justificando o ato hediondo que sua filha cometeu ao tirar um filho de uma mãe.
Mas quem pode saber o que se esconde sob o véu das vidas passadas?
O que sei é que cada um de nós vem para a Terra em busca de evolução e libertação dos problemas antigos que machucam nossa alma, nos fazem sentir culpa, depressão, ter pensamentos negativos.
Por isso, a vida permite que o sofrimento apareça em nosso caminho para que possamos nos libertar de vez dos nossos pontos fracos, evoluir e futuramente ser mais feliz, encontrar a verdadeira paz.
Estela percebia lógica no que Diva dizia, e interessada questionou:
- Será que foi Hortência que fez muito mal a Amanda em vidas anteriores?
- Não temos condições de saber, e nem seria bom se soubéssemos.
Se Deus nos abençoou com o esquecimento do passado, é porque não poderíamos seguir adiante com o peso das nossas maldades na consciência.
Não podemos entrar nesse julgamento.
O que posso afirmar é que as duas estão ligadas por laços que se perdem no tempo, e só quando se perdoarem verdadeiramente é que terão a felicidade.
- E minha filha?
Poderá sofrer muito por isso...
- Sim. Mas ela também pode se arrepender a tempo e desfazer todo o mal que fez.
Estou orando para que Amanda seja tocada pelas forças divinas e pelas intuições do seu mentor.
Não devemos querer que as pessoas sofram.
Se ela resolver reparar o que praticou, vamos estar aqui de braços abertos.
Estela não mais chorava.
Conversar com Diva lhe fez muito bem.
Passaria a visitá-la com mais frequência.
Desde que toda a desgraça aconteceu, ela estava vivendo em solidão, apenas com os empregados.
Quando Estela se despediu e saiu, Diva voltou ao quarto de Hortência.
Agora ela chorava revendo as fotos de Mateus.
A cena deixou Diva perturbada, e ela chorou também.
Abraçou-a com força dizendo:
- Força! Entregue tudo nas mãos de Deus.
- Nunca mais vou ver meu bebé...
- Para Deus nada é impossível, vamos orar com fé e aguardar.
Agora guarde essas fotos, vamos nos sentar na cama e sair deste chão frio.
Precisamos conversar, é importante.
Hortência enxugou as lágrimas, olhou para Diva e percebeu que ela estava séria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:29 pm

- O que temos de importante para conversar?
Nada mais em minha vida é sério ou importante a não ser encontrar o meu filho.
- Primeiro vou contar o motivo da visita de dona Estela e depois lhe fazer um pedido, sei que não irá me negar.
- O que é? - falou sem muita atenção.
- Dona Estela foi visitar o senhor Edionor no presídio e voltou muito impressionada, disse que o marido está cheio de remorso e teme que ele adoeça.
- Tanto melhor, afinal, foi por causa dele que meu Douglas sumiu.
- Espere, ainda não terminei.
Ela veio pedir que você vá visitá-lo no presídio.
O senhor Edionor pediu isso com muita insistência, tanto que fez a mulher vir aqui lhe implorar até em nome de Jesus - Hortência ouvia calada.
Diva fez uma pausa e continuou:
- Agora vem o meu pedido: quero que você vá visitá-lo.
Peço isso em nome do que você mais ama, peço em nome do Mateus.
Ao ouvir o pedido evocando o nome do filho, Hortência não entendeu:
- Não sei para que minha visita iria servir.
E também não entendo o seu empenho em me pedir a ponto de envolver o nome do meu filho.
Pode explicar?
- Eu sinto que essa visita vai ser muito importante para vocês.
Talvez ele queira pedir perdão e, se for realmente isso, será uma oportunidade grande para você esquecer a mágoa e seguir adiante.
Sei que nunca o perdoou pelo que fez ao Douglas.
Sinto algo mais também.
Alguma coisa me diz que essa visita será mais importante do que você imagina.
Não me pergunte como, mas algo ou alguém pede para você ir.
Hortência arrepiou-se, sabia que Diva tinha intuições e sentia a presença dos espíritos.
Mas ela jurara não sair mais de casa enquanto não tivesse Mateus de volta.
Não. Não iria.
- Se o que ele busca é perdão, está perdoado, mas não posso sair enquanto não tiver meu filho novamente em meus braços.
- Respeito sua dor, mas ainda acho que devia parar com esse capricho e ir.
Sinto que não o perdoou de verdade.
Não será preciso ficar saindo de casa, mas vá ao menos a esse encontro. Eu insisto.
Hortência pensou e, intuída por seu mentor, disse:
- Tudo bem, você vai comigo.
Mas juro que nunca mais sairei de casa.
Diva sorriu contente e agradeceu a Deus.
Os dias foram passando rapidamente e, numa manhã de domingo, as duas rumaram para o presídio de Belo Horizonte.
Tiveram de sair cedo e pegar o primeiro ônibus para conseguirem chegar no horário das visitas.
Estela insistiu para que fossem juntas, mas Hortência não aceitou.
Ao chegarem ao presídio, aguardaram a vez e, ao entrarem para a sala especial, deram de encontro com Estela, que estava saindo.
Cumprimentaram-se e logo estavam de frente a Edionor.
Desde que entrara naquele ambiente, Hortência começara a sentir-se nervosa, com as mãos suando e tremendo.
As pessoas que têm certa sensibilidade conseguem facilmente captar as energias impregnadas em cada ambiente.
Um presídio é um local onde geralmente são reunidas pessoas com baixas energias, que cometeram toda a sorte de crimes influenciadas por espíritos inferiores e infelizes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:29 pm

Essas pessoas dificilmente se arrependem e acumulam ainda mais energias doentias ao entrar em contacto com outros seres iguais.
Num ambiente desse tipo, além das energias dos próprios encarnados, há as vibrações dos desencarnados acompanhantes de cada detento, que também estão no local, muitos deles em formas aberrantes e animalescas.
É comum videntes que visitam esses locais perceberem a presença de animais astrais, espíritos com formas semi-humanas, semi-animais.
Por essa razão, tanto Diva quanto Hortência não estavam se sentindo bem, apesar de não estarem vendo o mundo astral que ali se instalara.
Edionor olhou paras as duas, suspirou profundamente e abaixou a cabeça.
Percebia-se que ele chorava baixinho.
Em nada mais lembrava o homem corajoso, disposto e forte de tempos atrás.
Havia emagrecido, o cabelo e a barba estavam por fazer e fundas olheiras dava um ar de doente ao seu rosto.
Hortência sentiu pena e arrependeu-se por ter pensado em não ir visitá-lo.
Naquela hora, percebeu que era inútil odiá-lo.
Aquele homem virara um farrapo humano.
Após chorar um pouco, Edionor limpou o rosto com as costas das mãos, virou-se para Hortência e disse:
- Nosso tempo é curto, por isso serei breve.
Nada vai poder fazer com que eu pague pelo meu crime.
Em breve serei condenado, pois confessei minha culpa e, nesses casos a justiça é mais rápida.
Matei meu próprio filho, aquele que aprendi a amar no convívio do dia a dia, aquele a quem aprendi a confiar minha vida e meus negócios, levei um jovem cheio de alegria para o abismo da morte.
Isso não tem perdão.
Enquanto viver, vou me culpar.
Mas quero que não me neguem o direito de fazer o bem a pessoas que tanto prejudiquei com meu orgulho e vaidade.
Por isso, Hortência, tomei minhas providências, chamei meus advogados e, em perfeito juízo, passei metade de minha fortuna para você.
Não quero comprar o seu perdão, mas, depois do que minha filha fez, sinto-me na obrigação de ajudá-la, de fazer por você o que não pude fazer por meu filho.
Hortência corou.
Aquilo a pegara de surpresa.
Revoltada, falou:
- Eu não aceito, não quero nada que venha do senhor.
Como disse, foi por sua culpa que o Douglas morreu, isso não tem preço.
Eu era feliz, tinha meu filho, minha família, agora estou só, não tenho ninguém, além da Diva, perdi minha razão de viver e o senhor ainda quer me comprar?
Quem acha que sou?
- Esperava essa sua reacção.
Mas também espero que não faça como eu, deixando-se levar pelo orgulho.
Sei que não tenho mais muito tempo de vida.
Sou homem livre, gosto de ar puro, de viver, aqui dentro sei que morrerei aos poucos, e assim o quero.
Mas você é jovem, tem toda a vida pela frente e pode recuperar seu filho.
Se continuar em Rios Claros, vivendo só daquele hotel, não vai conseguir mais nada e nunca mais conseguirá ter nos braços quem tanto ama.
Com todo esse dinheiro, você poderá contratar bons detectives, procurar seu filho onde quer que esteja.
Não perca essa chance.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:30 pm

Deixei para você muitas fazendas, acções, apartamentos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Vá embora de Rios Claros, mude-se para uma capital e inicie as buscas, sei que vai conseguir.
Hortência sentiu que ele poderia ter razão.
Ela estava sendo orgulhosa, disposta a não aceitar de forma alguma, mas já que o sonho era encontrar o filho, por que não aproveitar essa chance?
Pensou rápido e decidiu:
- Tudo bem.
Como faço para tomar posse de tudo?
- Meus advogados irão procurá-la e a auxiliarão a tomar todas as providências.
Saiba que, se um dia quis mal a você, já paguei um preço alto.
Quero agora que encontre meu neto e seja muito feliz.
Hortência começou a chorar e disse baixinho:
- Não sei se isso é possível.
Amanda e Fernando devem ter ido embora para outro país.
Se estiverem tão longe, nada do que farei surtirá efeito.
- Fernando tem negócios escusos que só funcionam no Brasil.
Além de tudo, ele é um empresário que burla a lei, não paga impostos, não conseguirá viver em um país da Europa como deseja, voltará ao Brasil, pois sabe que aqui é o melhor lugar para falcatruas e sonegações.
Sei disso porque conheço bem esse mundo.
Eles vão retornar, e aí você vai achar seu filho e os colocará na cadeia.
Diva estava muito emocionada, aquele encontro tinha algo especial que ela não sabia dizer o que era, mas parecia que havia sido planeado pela espiritualidade.
Quando elas iam se levantando, Edionor ainda disse:
- Quero dizer que o hotel não pertence ao Douglas.
Ele começou a comprar em minha mão, mas não chegou nem à metade.
Deixarei para Estela.
Minha mulher ainda é jovem, penso que pode se interessar por alguma coisa para não morrer na solidão.
Você tem agora uma fortuna e deve sair daquele lugar o mais rápido possível.
Desejo boa sorte, sei que não estarei vivo quando meu neto reaparecer, mas onde estiver ficarei muito feliz pelo reencontro, mesmo que esteja no inferno.
Diva o abraçou e disse:
- Não pense nisso, seu Edionor.
Deus não condena ninguém ao inferno.
O senhor está arrependido, certamente irá para um bom lugar e ainda vai ajudar muito a todos nós.
Só não pode se deixar levar pela tristeza.
Tente reagir, queremos o senhor muito vivo para compartilhar connosco a alegria do reencontro.
Edionor nada respondeu, só fez chorar.
A hora da visita havia se encerrado, ambas saíram do presídio e ainda encontraram Estela as esperando.
Hortência a abraçou.
- A senhora sabia de tudo, não é?
- Sim e concordei com tudo o que meu marido fez.
Você merece ter uma chance de voltar a viver e encontrar o Mateus.
- Foi só por ele que aceitei o que me foi oferecido.
No coração de uma mãe que perdeu um filho não pode haver lugar para o orgulho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:30 pm

- Fez muito bem, filha.
Que Deus a abençoe.
- Ainda não sei como fazer, mas vou procurar pessoas especializadas para me orientar.
- Sei que precisará de fotos de Amanda e Fernando, coisa que será fácil encontrar comigo e com a polícia.
Agora faço o convite para retornarmos juntas.
- Desta vez eu aceito.
Elas regressaram caladas, cada uma imersa em seus próprios pensamentos.
Hortência não sabia que a vida ainda lhe reservaria outra surpresa, muito mais forte e emocionante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:30 pm

36 - A VOLTA
Dois meses se passaram.
Hortência, orientada por um dos advogados de Edionor, vendeu a maioria das propriedades que estavam em seu nome e fez aplicações seguras.
Durante um tempo, ficou indecisa.
Sabia que para encontrar o filho teria de sair daquela cidade.
Agora, com tanto dinheiro, poderia comprar uma bela casa ou apartamento onde quisesse, e estava em dúvida entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Havia Diva, que era praticamente noiva e não poderia seguir com ela.
Os dias foram passando e, por fim, decidiu que iria embora para o Rio.
Chamou Diva e comunicou sua decisão:
- Não posso mais ficar aqui, nada mais tenho para fazer nesta cidade.
Comprarei um apartamento no Rio e partirei o quanto antes.
Sei que não poderá ir comigo, pois tem o Mário, mas estou bem grandinha, saberei me virar.
- Não posso deixá-la partir sozinha, você não tem nenhuma experiência com cidade grande.
Vou com você. Embora também nunca tenha saído da cidade, juntas podemos estar mais seguras.
- E o Mário?
Diva ficou com os olhos cheios de lágrimas, ao responder:
- Você é como se fosse minha filha, e Mário... bem, não gosto dele tanto quanto aparento.
Nosso namoro foi ficando muito sem graça, caiu na rotina, descobri há muito tempo que não o amo, agora terei uma desculpa a mais para terminar a relação.
- Ainda assim, não sei se você iria se adaptar a uma capital, prefiro ir só.
- Não vê que é loucura sair assim para uma cidade grande, sendo que nunca viveu por lá?
Você não saberá como se sair.
As capitais são perigosas, poderá colocar sua vida em risco, eu não vou deixar que faça isso.
Hortência tentou acalmá-la e explicou:
- Não ficarei só, primeiro vou me hospedar na casa de Verena.
Lembra-se dela?
- Verena filha do dr. Octávio?
- Ela mesma, já entrei em contacto e me receberá até que eu possa me adaptar.
- Mas você pouco a conhece.
O dr. Octávio era amigo de sua mãe, morava em Belo Horizonte.
Depois que foram embora, nunca mais tiveram contacto.
- Mas minha mãe tinha os telefones.
Ao optar pelo Rio de Janeiro, fui a nossa antiga casa, conversei com Aída, que tinha guardado todos os seus pertences.
Foi fácil conseguir a agenda com os números.
Verena me contou que está se formando em Medicina e queria abrir uma clínica, mas o pai não está muito bem financeiramente.
Interessei-me, é um ramo que sempre tem bom retorno.
Quem sabe não serei sócia na clínica?
Diva surpreendeu-se ao perceber que Hortência já tinha tudo planeado.
Ainda assim insistiu:
- Não a deixarei.
Ligue novamente para essa sua amiga aí e peça que me receba também.
Ainda hoje terminarei tudo com o Mário e estarei pronta para seguir com você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:30 pm

- O que me deixa triste é ter de deixar Aída aqui sozinha.
Se você ficasse, poderia lhe fazer companhia.
Diva deu de ombros:
- Ela sabe se virar, corre à boca pequena que está tendo um romance com o prefeito.
Além de tudo, nunca foi tão ligada a nós, é individualista.
Melhor que fique por aqui.
- Quer dizer que ela está tendo um relacionamento com o prefeito?
- Não posso afirmar com certeza, mas é bem provável.
Tenho até pena quando a senhora Rosemeire descobrir, não vai sobrar nem uma unha da coitada para contar a história.
- Essa Rose é muito perigosa, era muito amiga da Amanda.
Lembra que as duas foram me atacar na casa de minha mãe?
- Sim. Dizem, também, que ela não é fiel ao marido.
Mas não temos nada a ver com isso, a vida dos outros não nos pertence.
O que é certo é que logo estaremos juntas muito longe daqui.
Tenho certeza de que Deus nos vai abençoar e, com todo o dinheiro que recebeu, vai encontrar o Mateus.
Os olhos de Hortência brilharam lacrimosos.
- Esse é meu maior objectivo.
- E dona Tereza? Já sabe sobre sua decisão?
- Não. Essa é a parte mais difícil.
Sabe como ela está em depressão por tudo quanto aconteceu.
Mas preciso ser firme, ela ficará aqui na cidade e vai me mandando as notícias.
Tenho certeza de que o Douglas não morreu e, quando voltar, virá nos procurar aqui.
- Essa sua fé me comove.
Às vezes acho que não tem como o Douglas ter escapado daquela cilada.
- Algo deu errado, tenho certeza.
Na hora da doutrinação do espírito de seu Edionor, dona Vilma foi intuída a falar que Douglas não tinha morrido.
Além de tudo, tive aqueles sonhos nos quais o via no meio de um matagal pedindo socorro.
Ele está vivo!
As duas continuaram falando sobre a possível sobrevivência de Douglas e nem perceberam a hora passar.
Nos dias que se seguiriam, elas iriam preparar tudo para a viagem.
Depois de algum tempo conversando, resolveram orar pedindo a Deus que tudo desse certo.
A um canto da sala, o espírito de Lúcia olhava-as com os olhos cheios de lágrimas, enquanto dizia:
- Vai, filha querida, lá você encontrará o seu destino.
Mas antes disso receberá outro presente divino, você merece.
* * *
- Nossa, o ônibus está demorando... - reclamava Hortência.
Estamos com meia hora de atraso.
Diva tentava acalmar sua ansiedade:
- As estradas estão ruins.
É comum, tenha paciência.
Sentadas em um dos bancos do pequeno terminal rodoviário, nenhuma das duas conseguia conter o nervosismo.
Hortência temia que, com o atraso, ela demorasse a chegar a Belo Horizonte e perdesse o voo que as levaria até o Rio de Janeiro.
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Estavam acompanhadas pelo dr. Percival, advogado de Edionor que prometera levá-las em segurança até vê-las
instaladas na casa de Verena.
Hortência despediu-se de todos com muita alegria.
Apesar de ter vivido tanto tempo naquela cidade, partir significava para ela crescer mais, ter mais liberdade e encontrar o filho.
Por isso não se abalou com as lágrimas de Tereza nem com a súplica persistente de Aída, tentando demovê-la da viagem.
Um dia antes, havia ido visitar vó Leontina, pedir sua bênção.
A senhora encontrava-se acamada com os achaques da velhice, mas ainda assim sorriu e lhe desejou uma boa viagem.
No fundo, ela esperava alguma previsão, algo que a vó dissesse que lhe desse mais esperanças.
Mas a velha senhora apenas sorriu e olhou-a profundamente nos olhos.
Hortência sentia que ela queria lhe dizer algo importante, mas se calou.
Finalmente, o ônibus que fazia linha com outras cidades e passava em Rios Claros chegou.
Era nele que as pessoas chegavam e partiam daquele lugar.
As duas começaram a segurar as poucas bagagens com ajuda de Percival, quando, de repente, Hortência virou-se para a porta do ônibus e sentiu o coração descompassar, as pernas tremer.
O que ela via não podia ser verdade.
Segurou-se em Diva, tomou forças, deixou tudo de lado e correu em disparada gritando:
- Douglas!!! Douglas!!!!
Meu amor, você voltou!!
Você está vivo!!!!
Douglas a recebeu num abraço de muito amor, beijou-a repetidas vezes no rosto e deixaram que seus lábios se encontrassem.
Depois do longo beijo, eles ficaram abraçados, calados, enquanto todos observavam a cena igualmente emocionados.
Diva aproximou-se e o abraçou também, percebendo que Hortência soluçava.
A volta de Douglas estava programada pelo plano espiritual.
Ele não mantinha crenças na violência, por isso escapou da morte que lhe prepararam.
No entanto, a vida é sábia e o afastou temporariamente de todos que ele amava para que aprendesse ainda mais o valor da família, das pessoas e, principalmente, a perdoar sinceramente a todos que lhe fizeram mal.
A experiência do perdão à qual Douglas estava sendo submetido um dia chegará para cada um de nós.
É muito fácil perdoarmos banalidades, atitudes fúteis e pueris que apenas nos arranham.
O mais difícil, e que nos será exigido fatalmente, é a experiência de perdoarmos aqueles que ferem fundo o nosso orgulho, nossa vaidade, aqueles que nos humilham, tiram nossa vida ou a vida de entes queridos.
O Espiritismo nos ensina, pelas palavras de Santo Agostinho, que para chegarmos a Deus não há uma única senha senão a caridade, e que não pode haver caridade sem o perdão das ofensas.
A vida nos testa tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas.
Quem se magoa, se fere, acumula ódio do seu semelhante pelas pequenas atitudes do dia a dia esteja preparado para provas piores e mais dolorosas.
Quem se melindra diante de uma pequena ofensa, o que não fará diante de uma ofensa maior, quando a isso for submetido?
Se quisermos seguir adiante sem tantos sofrimentos, precisamos nos reformular todos os dias, reagindo com paciência, bondade e caridade contra todos aqueles que são enviados pelas leis da vida para nos testar.
Se fizermos isso, no dia do testemunho maior poderemos dizer junto com o Cristo:
"Eu venci o mundo".
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:31 pm

37 - DOUGLAS CONTA SUA HISTÓRIA
Após a emoção do reencontro, Douglas olhou fundo para Hortência e disse:
- Sim, voltei para você, para minha vida, para o nosso filho.
Como foi difícil ter de suportar uma saudade infinita que nem eu mesmo sabia de que ou de quem era.
Parece que esses seis meses foram mais de dez anos.
Eu ainda não acredito que estou de volta, que estou com você nos meus braços e com todos vocês que sei que sofreram pela minha ausência, julgando-me morto.
Hortência sentiu o coração apertar ao vê-lo mencionar o filho, sem saber o destino cruel que ele tivera.
Só conseguiu dizer:
- O que basta é saber que você está vivo.
Meu Deus, não pode haver uma graça maior.
Os dois se beijaram mais uma vez e todos os presentes, emocionados por conhecerem a história, começaram a aplaudir.
O ônibus precisava continuar o seu percurso e as pessoas começaram a embarcar.
Só naquele momento, quando o local ficou mais vazio, foi que Hortência e Diva perceberam duas mulheres iguais, com bagagens na mão, vestidas de maneira simples, cabelos longos, loiros, presos com fita, à espera da atenção de Douglas.
Uma delas o puxou pelo braço e disse:
- Creio que cumprimos nossa missão.
Você está entregue à sua cidade, vivo e com a saúde recuperada.
Agora pode nos apresentar a essas pessoas?
Já sei que sua amada é essa mulher linda aqui, mas e o resto?
A emoção de Douglas foi tão forte ao se deparar com Hortência assim que descera do ônibus, que acabou se esquecendo de Margarida e Flora.
Olhou para elas e as apresentou:
- Essas são as irmãs Margarida e Flora.
O que elas fizeram por mim, só Deus poderá pagar, pois por mais que eu viva jamais conseguirei.
São almas puras que fazem o bem sem pedir nada em troca.
Devo a elas minha vida.
Douglas apresentou Diva e Hortência, mas não conhecia dr. Percival.
Percebendo o embaraço, logo estavam também apresentados. Hortência não conseguia conter a curiosidade, queria saber como ele havia escapado da morte, como tudo aconteceu naquela noite e como aquelas mulheres o haviam ajudado tanto.
Mas sabia não ser aquele o momento.
- Vamos ficar aqui neste terminal até quando?
Quero voltar para casa, ver meu filho, ou será filha?
Hortência não conseguiu conter as lágrimas e desabou num choro profundo e sentido enquanto se abraçava mais a ele, dizendo:
- Nosso filhinho foi roubado, levaram ele de nós, acabaram com nossa alegria de viver.
Percebendo que Hortência não conseguia mais falar, Diva interveio:
- Douglas, você passou mais de seis meses fora, não sabe de muita coisa que andou acontecendo por aqui, acredito mesmo que nem saiba por que tudo isso lhe aconteceu.
É melhor todos irmos para casa e lá, com mais calma, conversaremos.
Ele não conseguia conter o nervosismo e, passando as mãos pelos cabelos lisos, perguntava:
- Roubaram meu filho?
Como puderam? Isso é verdade?
- Vamos sair daqui, não é um bom lugar para comentarmos esse assunto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:31 pm

Fique calmo, pois as revelações que se farão sobre você poderão abalá-lo profundamente - tornou Diva.
Além do que precisamos avisar à sua mãe que você está vivo e de volta.
Douglas, mesmo nervoso, concordou que aquele não era um local adequado para ouvir coisas que pareciam ser tão sérias, tampouco para dizer o que tinha acontecido com ele.
E também tinha sua mãe. Depois de Hortência e do filho, era nela em que ele mais pensava.
Dr. Percival ofereceu o carro para voltarem, mas todos preferiram ir a pé.
O advogado despediu-se deixando-os sós.
Enquanto iam subindo e descendo ruas, Douglas sentia o corpo se arrepiar pela emoção de poder retornar àquele lugar.
Apesar da agressão sofrida, ali era sua terra e ele jamais sairia dali novamente.
De repente, sentiu o coração disparar ao ver a figura de sua mãe vindo ao seu encontro.
Certamente, um dos presentes no terminal rodoviário havia ido avisá-la.
Abraçaram-se com muita emoção.
Tereza não sabia o que dizer, simplesmente chorava, agradecendo a Deus pela volta do filho e por ele não estar morto.
Quando serenou a emoção, Tereza, beijando-o no rosto, disse com voz que a emoção entrecortava:
- Jura que nunca mais vai me deixar, filho.
Você é minha vida, tudo parecia haver perdido o sentido sem sua presença, sem sua alegria.
Principalmente agora que levaram o meu netinho.
Nunca mais me deixe.
- Não se preocupe, mãe, jamais sairei novamente de perto da senhora.
Acalme-se, o que importa é que consegui sobreviver a tudo e estou aqui.
- Aquele miserável, tudo culpa dele.
- Culpa de quem, mãe?
Diva interrompeu:
- Tereza, contenha-se.
Já estamos chegando em casa, lá Douglas saberá toda a verdade.
Quando chegaram à rua, notaram que uma multidão de pessoas estava à porta da casa.
Todos queriam constatar que Douglas realmente não havia morrido e estava de volta.
Quando o viram se aproximar, os velhos amigos, juntamente com Edmilson, o levantaram do chão e, numa salva de palmas, o introduziram dentro de casa.
Ele só fazia chorar com tamanho calor humano.
Após dizer a todos que em outro momento falaria sobre seu desaparecimento, Douglas pediu para ficar a sós com a família.
As pessoas, no entanto, insistiam, queriam de qualquer maneira saber toda a história, como ele havia escapado de um atentado tão macabro.
Foi com dificuldade que Edmilson conseguiu afastar a multidão.
Olhou para o amigo e também se despediu:
- No fundo eu sempre soube que você não havia morrido.
Agora tenho certeza de que não são só as mulheres que têm intuição.
Boa sorte nesta volta, amigo, e que você possa suportar todo o peso da verdade.
Edmilson saiu, e Douglas sentou-se convidando suas amigas para ficarem à vontade também.
Margarida e Flora sorriram e se sentaram também.
Fez-se um pequeno círculo em torno de Douglas e Hortência.
Notando sua ansiedade, Diva tornou:
- Você acabou de chegar de uma viagem, pelo visto, longa, não acho bom que conversemos agora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:31 pm

Por que não toma um banho, se alimenta e depois falamos sobre tudo?
Suas amigas devem também estar cansadas e precisando relaxar.
Flora tomou a palavra:
- Pelo pouco tempo que o conheço, sei que não ficará bem se não souber logo sobre toda a verdade.
Pelo tempo que ficou connosco, só falava em descobrir por que lhe fizeram tanta maldade.
Confesso que eu também não entendo, um homem tão bom como ele não merecia o que lhe fizeram.
Hortência, muito nervosa, pediu:
- Eu não conseguirei contar nada, é tudo muito cruel.
Peço que Diva conte.
- Apresse-se, Diva.
Não faço nada enquanto não ouvir tudo o que tenho direito, afinal é minha vida.
Tereza olhou para o filho e disse:
- Deixe, meu filho.
Eu posso falar, pois tenho uma dívida com você e, depois que souber tudo, não sei se irá me perdoar, mas chegou a hora da verdade.
O silêncio se fez.
Tereza, olhos fixos nos do filho, começou:
- Você não é filho do Gerson.
Silêncio. Douglas custava a acreditar no que ouvia, mas sabia que sua mãe era uma mulher muito séria, por isso não a interrompeu.
- Seu pai é Edionor. Não sei como vai encarar sua mãe depois disso, mas não posso deixar mais esse segredo guardado.
Você é filho desse homem miserável que mandou te matar.
Douglas levantou-se do sofá, colocou as mãos na cabeça e balbuciou:
- Mãe, diga que isso é mentira.
Não pode ser.
- Sim, meu filho.
Há muitos anos, quando estava casada com seu pai e ele viajava muito, eu passava tempos no sítio de vó Leontina, e Edionor era dono da fazenda vizinha.
Dona Estela ia para lá de tempos em tempos a passeio, e uma vez fui chamada para ajudar na arrumação da casa e na comida, pois ela chegaria para passar um fim de semana.
Eu sentia que Edionor me queria, pois me dava flores frescas, dizia palavras bonitas, mas nunca aceitei nem dei espaço para que ele ousasse algo mais.
No fim de semana que fui chamada a trabalhar na fazenda, ele pediu à sua vó que eu pernoitasse por lá, pois a família chegaria e ele precisaria de um braço direito, pois além de Estela viria também uma prima.
Fui confiante e jamais pensei que era uma mentira e que ficaria sozinha com ele naquela casa enorme.
Durante a madrugada, Edionor arrombou a porta de meu quarto e me possuiu à força.
Desesperada, fugi pelo mato e cheguei até a casa de sua avó.
Ela me entendeu e me apoiou.
Mas dias depois descobri que estava grávida, eu estava esperando você.
Fiquei com muito medo do Gerson desconfiar e pensei em abortar, mas sua avó me convenceu do contrário, e foi o melhor conselho que pude receber na vida, pois tive você, o meu maior tesouro.
Com ajuda de vó Leontina, ninguém ficou sabendo de nada e seu pai o amou profundamente.
Sinto remorso até hoje porque ele morreu sem que eu tivesse dito a verdade, mas também sei que ele jamais entenderia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:32 pm

Perdoe-me, filho, por ter escondido isso a vida inteira, mas fiz pelo amor que sentia pelo meu marido e, principalmente, por você.
Douglas deixava que grossas lágrimas rolassem por sobre sua face.
Vendo o silêncio da mãe, ele criou coragem e perguntou:
- Como a senhora deixou que eu me casasse com minha própria irmã?
Como a senhora teve coragem?
- Eu sempre soube que Amanda não era sua irmã.
Douglas sentia a cabeça girar.
- Como assim?
Amanda é filha do senhor Edionor.
- Não. Não é.
Só sua avó sabia esse segredo, mas éramos muito amigas e, quando você chegou em casa contando seu envolvimento com ela, me desesperei, tomei um táxi e fui procurá-la.
Ela, então, me contou toda a história que agora você deverá também conhecer.
Tereza narrou em detalhes como Amanda fora adoptada e finalizou:
- Jamais deixaria que você se casasse ou tivesse algo mais íntimo com ela sabendo a verdade.
Vocês eram livres para se amar, e esse amor se transformou em ódio e vingança.
Foi ela e Edionor que tramaram sua morte, como também foi ela quem sequestrou seu filho.
Douglas começou a andar de um lado a outro da sala, mexendo nervosamente nos cabelos.
Por fim perguntou:
- Meu próprio pai mandou me matar e Amanda roubou meu filho?
Foi a vez de Hortência falar:
- Sim, o senhor Edionor ficou sabendo toda a verdade, descobriu que era seu pai e não resistiu ao constatar que havia mandado assassinar o próprio filho.
Sofreu uma parada cardíaca, demorou a se recuperar.
Quando estava com a saúde restabelecida, entregou-se para a polícia.
Contou que sentia-se traído e envergonhado pelo que você fez com a filha dele, abandonando-a e trocando-a por outra.
Confessou que guardava uma grande mágoa e que era uma vergonha para o nome da família tudo o que estava acontecendo.
Por essa razão, resolveu matá-lo.
- Mas ele está muito arrependido - salientou Diva.
Sinto que não vai resistir à prisão e acabará doente.
Acredito, mesmo, que o seu maior desejo é pedir-lhe perdão.
Douglas chorava, não conseguia sentir ódio, apenas não entendia o porquê de tamanha violência.
Após vencer a morte e passar por extremos problemas de saúde, Douglas não conseguia mais odiar ninguém.
Ele estava vivo, nascera outra vez, e esse acontecimento o fizera um novo homem.
Limpou a face e com as costas das mãos e olhou para todos perguntando:
- E nosso filho, como foi que Amanda o levou?
- Ela teve ajuda de Fernando, que era seu amante e talvez tenha até saído do país com o Mateus - tornou Diva.
- Mateus? Esse era o nomezinho dele?
- Sim. Era uma criança muito linda, sorridente, não dava nenhum trabalho - continuou Diva, enquanto Hortência e Tereza desfaziam-se em lágrimas.
À medida que precisávamos nos dedicar mais ao hotel, pensamos em contratar uma babá para cuidar dele.
Não sabemos como, mas Amanda soube e enviou uma jovem que passou a morar nesta casa com a função de sequestrar o menino.
Ela deixou um bilhete revelando ter sido a autora do sequestro, e que estava fazendo isso para se vingar por ter sido traída por você.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 14, 2017 9:32 pm

Douglas ouvia tudo aquilo sem querer acreditar até onde ia a maldade humana.
Vendo-o silencioso e sem ter mais o que dizer sobre os factos, Diva tornou com cautela:
- Acho que todos nós queremos saber, também, como conseguiu sobreviver.
Edionor garante que o assassinaram na mansão de Fernando e jogaram seu corpo longe.
O que o fez sair intempestivamente naquela noite?
Ele começou a recordar:
- Enquanto vocês estavam no quarto, ouvi batidas na porta.
Quando fui atender não tinha ninguém, apenas um envelope pardo jogado no assoalho.
Ao ler, percebi tratar-se de um bilhete, e quem o escreveu revelava o relacionamento de Amanda com Fernando dizendo que naquele momento eu poderia flagrá-los juntos, garantindo, assim, o sossego de minha nova família.
Na hora pensei em desistir, mas eu sabia que Amanda era uma mulher perigosa e poderia acabar com minha paz, então pensei que, sabendo de seus segredos, ela estaria em minhas mãos e não voltaria a nos importunar.
Agi por impulso, sem nunca imaginar que estava caindo em uma cilada.
Peguei o carro, fui até a mansão de Fernando e deparei-me com o portão dos fundos aberto.
O bilhete indicava até mesmo o quarto onde os dois estariam naquele momento.
Pensei ingenuamente que alguém estava me ajudando e poderia ser um dos empregados daquela casa.
Segui por onde o bilhete indicava e, abrindo a porta, flagrei os dois na cama.
Senti nojo e comecei a bradar que ela estava em minhas mãos dali por diante, mas eles pareciam estar em transe e tentaram me envolver.
Já ia tentando fugir quando Fernando me agarrou firme, mas, de repente, alguns homens entraram no quarto e disseram que o jogo havia sido invertido, que outra pessoa agora era quem mandava.
Naquela hora senti que estava metido numa enrascada e poderia perder a vida.
Rapidamente, eles me desacordaram com um lenço embebido em clorofórmio e só vim acordar tempos depois numa caatinga.
A narrativa não deixou de impressionar os presentes.
Todos ouviam calados, e ele pediu:
- Flora e Margarida, quero que contem todo o resto.
Afinal, foram vocês que salvaram minha vida.
Margarida começou:
- Eu e Flora, como podem ver, somos gémeas.
Viemos de uma família numerosa do interior da Bahia e moramos num sítio próximo a uma caatinga.
Nossa casa é dentro de um pequeno povoado de uma cidadezinha sem desenvolvimento.
Nossos irmãos e pais foram para a capital, mas nós sempre gostamos da natureza, nascemos ali e não queríamos sair, e acabamos ficando sós.
Por obra do destino, não nos casamos e passamos a viver para nos ajudarmos mutuamente.
Enquanto eu trabalho numa pequena escola do povoado, minha irmã cuida da casa, cria galinhas, porcos, ovelhas.
A seca castiga muito e precisamos, às vezes, buscar água fora, em tanques distantes, para alimentar os animais e para as tarefas da casa.
Costumamos fazer isso ainda de madrugada, antes de o sol nascer.
Numa madrugada, juntamos os baldes e fomos seguindo o conhecido caminho que nos levaria a um caldeirão que ainda estava cheio, tínhamos de atravessar a caatinga, mas já conhecíamos o lugar e não tínhamos medo.
Estava escuro e, de repente, tropecei em algo estranho e caí, acreditei que fosse um animal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:21 pm

Ajudada por Flora, consegui me levantar e ela perguntou:
- No que você tropeçou?
- Nesse animal aí.
Deve estar morto com essa seca.
- Esta caatinga é fechada, nenhum animal passa por aqui, a não ser lagartos e cascavéis.
Eu não conseguia enxergar direito, mas disse:
- Pode ser que alguém tenha jogado o animal aí, vai saber.
Vamos seguir nosso caminho.
Já íamos andando, quando escutamos um gemido.
Paramos assustadas.
Flora me segurou com força dizendo:
- Acho que estamos escutando a voz das almas.
- Credo-cruz!
Não diga isso nem brincando, vamos correr.
Mas uma força era maior que nós e não conseguíamos sair do lugar, enquanto os gemidos continuavam.
Logo percebemos que vinham do chão. Os primeiros raios de sol começavam a aparecer e pude ver claramente um homem nu, todo surrado e ensanguentado.
Assustada gritei:
- Valha-me Deus, tem um homem jogado aqui.
Fizeram alguma maldade com ele.
Flora também assustada disse:
- Sim, acho que tentaram matá-lo, o sangue está fresco e a cabeça está ferida.
- Meu Deus, o que vamos fazer? - perguntei desolada.
- Não podemos deixá-lo aqui senão ele vai morrer.
Temos de ir ao povoado pedir ajuda.
Com coragem, abaixei-me e o examinei melhor.
Ele só gemia enquanto seu corpo estava coberto de hematomas.
Olhei para Flora e disse:
- Não podemos ir até o povoado pedir ajuda.
Se tentaram matá-lo, todos, em breve, saberão que ele escapou e voltarão para terminar o serviço.
Algo me diz que devemos ajudar esse moço, ou então ele vai morrer.
- Mas nós não podemos fazer nada sozinhas, e depois ele pode ser um bandido, e nós estaremos correndo perigo.
- Sinto que esse moço é bom, fizeram maldade com ele.
Acredite e vamos levá-lo para nossa casa - falei com firmeza.
- Ele é pesado, nós não aguentaremos carregá-lo, estamos longe de casa - disse Flora.
Eu pensei um pouco e decidi:
- Tem uma pessoa que pode nos ajudar e vai guardar segredo.
Sinto que esse moço está sendo perseguido e, se o encontrarem novamente, vão matá-lo de verdade.
Vamos à casa do José, contaremos tudo e pediremos que ele venha até aqui com o carrinho de mão e o leve até nossa casa.
Noémia também é uma boa pessoa, vai guardar segredo.
- Sei não, acho mais certo entregá-lo para a polícia.
Hoje em dia eles têm como encontrar qualquer pessoa da família dele com facilidade.
- Por enquanto, vamos salvar a vida dele, depois veremos isso.
Saímos as duas em direcção à casa do nosso amigo, que ouviu tudo e, apesar de não concordar que o levássemos para casa, resolveu ajudar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:21 pm

Nos deu roupas, pois ele estava despido, e assim passamos a cuidar dos seus ferimentos.
Eu tenho alguns conhecimentos de enfermagem, pois ajudava no Posto Médico do povoado e aprendi muitas coisas.
Fui à cidade comprei tudo que precisava e fomos tratando.
Nos primeiros dias, ele não conseguia falar, não comia nem bebia, mas aos poucos foi melhorando e os ferimentos cicatrizando.
Um dia começou a perguntar quem era e o que estava fazendo ali.
Logo notei que ele havia perdido a memória.
Começamos a conversar e pude comprovar que, de fato, se tratava de uma pessoa bondosa.
Ele ficou bem fisicamente, mas não conseguia se lembrar de nada.
Flora fazia o possível para que o levássemos à delegacia, mas eu resistia.
Sentia medo, como se algo ruim fosse acontecer se o entregássemos à polícia.
Ele também temia e preferiu continuar connosco.
Não foi difícil escondê-lo durante esse tempo.
Nossa casa é isolada, os poucos amigos que a frequentam só aparecem muito raramente e, nessas ocasiões, sempre o escondíamos.
Ele se habituou a nossa vida simples, gostamos de ler revista, assistir a novelas, criar gatos e cuidar dos animais.
Logo estava nos ajudando nas tarefas.
Um dia, após alguns meses, Flora o indagou:
- Não deseja voltar para sua família? Não acha que já é a hora?
Os olhos dele estavam melancólicos ao responder:
- Não sei se tenho família e, se tenho, devo ser uma pessoa muito má para ter sido quase assassinado.
Minha família agora são vocês duas.
Quero esquecer o passado e permanecer aqui para sempre.
Olhei-o penalizada e, chamando-o pelo nome que pusemos nele, disse:
- António, você precisa saber quem é e o que te aconteceu.
No começo, eu não queria que você fosse se apresentar ao delegado, mas agora sinto que o perigo já passou, penso que é hora de retomar sua vida.
Os olhos dele se encheram de lágrimas, enquanto disse:
- Já sei, não desejam mais minha presença aqui, devo estar incomodando.
Não se preocupem, arrumo minhas malas e vou partir hoje mesmo.
Pego a estrada sem destino.
- Não precisa fazer isso.
Sua presença aqui em nada incomoda.
Vamos respeitar sua vontade, sei que um dia se lembrará de tudo e vai desejar voltar para os seus.
Ele entendeu, agradeceu e continuou connosco.
Mais alguns meses se passaram, e ele começou a conversar durante o sono.
Dizia nomes estranhos, depois frases inteiras.
Nós acordávamos assustadas e eu dizia:
- Ele está falando o nome dos familiares, tenho certeza.
Vamos pegar um caderno e anotar.
Pela manhã, ele não se recordava de nada, e todas as noites passamos a fazer a mesma coisa, anotando tudo o que ele dizia.
Um dia, quando já tínhamos várias páginas escritas, mostramos tudo a ele.
Ao passo que ia lendo, ele ia se emocionando, chorando, mas não reconhecia aqueles nomes, nem aqueles acontecimentos que estavam ali escritos.
Até que há alguns dias ele acordou chorando muito e nos chamou.
Acendemos o candeeiro e perguntamos o que havia acontecido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:21 pm

Ele nos disse que havia sonhado com sua esposa, sua mãe e alguns amigos, que finalmente lembrara de tudo.
Contou-nos como foi atraído para a cilada e de como estava preocupado com os seus, principalmente com Hortência e o filho que havia nascido.
Intrigada com a história, perguntei:
- É certo que alguém queria tirar sua vida, mas por que não o fez?
Quando o encontramos na caatinga, você estava muito surrado e havia levado uma pancada na cabeça, mas penso que, se o objectivo era matar, eles deveriam ter usado de mais força ou uma arma.
Douglas pensou um pouco e respondeu:
- Lembro-me bem que os homens que me levaram disseram que o jogo havia mudado.
Provavelmente alguém poupou minha vida. Quem terá sido?
Flora interveio:
- O importante é que você está vivo e, agora que lembra de tudo, pode voltar para sua família e saber realmente por que tudo aconteceu.
Ele ficou nervoso e disse:
- Não sei quem e por que fez isso comigo.
O que sei é que minha ex-mulher e o amante dela estão envolvidos, pois fui atraído para o local onde eles se encontravam.
Está claro que foi uma armação.
Por outro lado, temo que tenham feito algum mal a minha família, tenho mãe, mulher e um filho.
Quero voltar agora mesmo para Rios Claros.
Ele pareceu pensar por alguns minutos, olhou-nos e disse:
- Não tenho nenhum dinheiro para a viagem, peço a vocês que me emprestem e, assim que chegar à minha cidade, dou um jeito de pagar.
Naquele momento, analisando a situação, falei com firmeza:
- Você nos ajudou muito na lida e, para nós, é mais que um amigo, sua personalidade firme, doce, honesta nos cativou, é hoje mais que um irmão.
Por isso, nós te daremos o dinheiro da passagem, temos nossas economias e ainda iremos juntas.
Douglas ficou encabulado.
- Agradeço a boa vontade, mas quero emprestado, faço questão.
E não há necessidade de vocês me acompanharem, aqui tem muito trabalho, não dá para deixar o sítio só, posso muito bem me virar sozinho.
- Nós é que fazemos questão.
A seca destruiu nossas plantações, tivemos de vender os animais, ficaram só as ovelhas.
Podemos pedir a José que tome conta delas enquanto estivermos fora e que dê comida aos nossos gatos.
Sempre fazemos isso quando vamos à capital e o recompensamos.
Eu não ficaria tranquila se você viajasse sozinho.
Li numa revista que a amnésia tem cura, mas que em alguns casos ela pode retornar sem nenhuma explicação.
Imagine você esquecido das coisas, perdido, sem ter ninguém conhecido por perto?
Ele pensou e concordou:
- Aceito, mas desejo retribuí-las de alguma maneira.
Vocês não estão indo a Salvador, que é pertinho, e sim para Minas Gerais.
Eu tenho dinheiro e posso ajudar na reforma do sítio, na compra de novas ferramentas e de animais.
Flora sorriu:
- Não pense nisso agora, de qualquer forma você não pode viajar desde já.
Tem de cuidar da aparência, comprar roupas novas, se preparar para o retorno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:22 pm

- Não. Preciso ir logo, amanhã mesmo estaremos a caminho de Minas.
- Então que seja.
Vamos pedir a José para levá-lo à cidade, onde você comprará novas roupas e fará barba e cabelo.
Assim aconteceu.
Quando, no fim da tarde, Douglas chegou, estava muito bonito.
Sorriu, nos agradeceu por tudo e começamos a arrumar a viagem.
Assim, depois de três dias chegamos aqui.
Durante todo o trajecto ele ia nos contando sobre sua vida, e falou muito de você, Hortência, ele a ama de todo o coração.
Nunca vi um homem amar tanto uma mulher como ele te ama.
Falava empolgado do filhinho, dizendo que deveria estar grande, mas, ao mesmo tempo, ficava muito preocupado em algum mal ter-lhes acontecido.
De certa forma, ele tinha razão, o filhinho de vocês foi sequestrado.
Douglas abraçava Hortência com força e, olhando para todos, bradou:
- Nunca poderei perdoar o senhor Edionor por tudo o que aconteceu.
Infelizmente, seu sangue corre em minhas veias, mas ele não passa de um ser asqueroso e cruel, assim como a filha dele.
Não tenho muito dinheiro, mas usarei tudo o que me for de direito para encontrar meu filho.
Sou herdeiro dele, não sou?
Pois entrarei na Justiça para tomar posse de todos os bens a que tenho direito, ficarei rico e assim encontrarei Mateus onde quer que ele esteja.
Hortência, pela primeira vez, via ódio em Douglas.
Tereza também estava surpresa com o filho, por isso revelou:
- Edionor passou metade dos bens para Hortência, parece que se arrependeu mesmo.
Não quero que você tenha ódio no coração.
Não o criei para isso.
Não sou nenhum exemplo, mas você sempre foi bom, não deixe que os acontecimentos o abalem dessa maneira.
Douglas nem ouviu as últimas palavras, olhou para Hortência com indignação:
- Você aceitou o dinheiro desse infeliz?
Como pôde?
- Calma, meu amor, eu, assim como você, não queria perdoar.
Um dia ele me chamou a visitá-lo e, por muita insistência de Diva, acabei indo.
Lá eu vi não aquele homem mandão e autoritário de antes, mas um farrapo humano, uma pessoa em depressão,
esmagada pelo peso da culpa e do remorso.
Naquele momento, meu coração cedeu e eu senti que não valia a pena odiá-lo.
Durante a conversa, ele me propôs passar metade dos seus bens, a parte a que você tem direito, alegando que, com isso, eu poderia ir em busca de meu filho e encontrá-lo.
Essa foi a razão que me fez aceitar a proposta.
Não tenho ambições, não desejo ser rica nem famosa, mas, depois que perdi o meu filho, se pudesse teria toda a riqueza do mundo, pois só assim poderei tê-lo de volta.
- E o que pensa em fazer com o que possui agora?
- Eu já vendi boa parte de tudo e, no exacto momento em que você chegou a esta cidade, eu estava partindo para o Rio de Janeiro.
É de lá que pretendo iniciar minhas buscas.
- E o hotel?
- O senhor Edionor o deixou para dona Estela, mas creio que, na depressão em que vive, não conseguirá administrá-lo.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro - Página 7 Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:22 pm

Douglas voltou a sentar, respirou fundo e disse:
- Você estava certa em partir, nada mais temos a fazer nesta cidade.
Nosso objectivo agora é encontrar o Mateus, por isso ficarei aqui apenas alguns dias, preciso me despedir de minha avó e vê-la pela última vez, pois nunca mais pretendo voltar aqui.
Quanto ao meu pai, que morra na cadeia, onde é seu lugar, nunca mais quero vê-lo.
Diva sabia que Douglas estava extremamente magoado, por isso agia daquela maneira, tentou ajudá-lo:
- Lembre-se que sua vida foi poupada.
Quem sabe o próprio senhor Edionor não tenha dado uma segunda ordem para mantê-lo vivo?
Você não deve odiá-lo, você deve a vida a ele.
Tereza interveio:
- Não é bem assim.
Edionor garantiu que deu ordem para matar.
Se alguém salvou a vida dele, foi outra pessoa.
Também acho que ele não deve odiar o pai, mas também não pode forçar um sentimento que não tem.
Douglas não queria ouvir mais nada, olhou para os presentes e tornou:
- Agora que todos já sabem de tudo, creio ser a hora de descansarmos.
Flora e Margarida, assim como eu, precisam de um bom banho e de uma boa alimentação.
Depois, preciso esfriar minha mente, pensar direito em como vamos fazer para iniciar as buscas ao meu filho.
Hortência lembrou:
- Não temos nada para comer aqui.
Antes da viagem entreguei esta casa ao dono para que voltasse a alugá-la.
Como não podia carregar nada além das malas, deixei toda a mobília aí para que fosse vendida e o dinheiro entregue a dona Tereza.
Por sorte, tinha ainda uma cópia da chave em minha bolsa.
O que vamos fazer?
- Não se preocupem, o restaurante de dona Filomena entrega comida em casa, basta pedir - salientou Diva.
Vão tirando o pó da estrada enquanto providencio tudo.
Enquanto Diva saiu, Tereza ficou conversando com as irmãs, sabendo detalhes da vida no ambiente em que elas viviam e como Douglas tinha se comportado todo esse tempo.
Elas não podiam ver, mas a um canto da sala dois espíritos conversavam:
- É, Antero, talvez esse tenha sido o único ato de bondade de minha vida.
Sinto-me orgulhosa.
- Com certeza, Lúcia, o ato de ter salvado a vida do Douglas mostra que há em você a eterna chama do bem, revelando que nenhuma pessoa é má por completo.
- Quando aceitei participar do plano para afastá-lo de minha filha, nunca imaginei que eles pudessem chegar a esse ponto.
Fui assassina, mas passei toda a vida me culpando pelo acto, fui triste e infeliz, por isso atraí a doença que me levou ao desencarne.
Quando soube que Edionor ia matá-lo de facto, retirei todo o dinheiro que tinha aplicado e, como conhecia os assassinos, procurei-os e ofereci razoável quantia para deixarem-no vivo.
Sugeri que apenas o surrassem e o jogassem em um lugar do Nordeste, mas que o deixassem com vida.
Fiz isso pensando que minha filha o amava, e eu já havia conhecido o amor, sabia o que ela estava sentindo.
Se permitisse mais essa morte, tinha a certeza de que não iria aguentar de tanto remorso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:22 pm

Antero olhou-a com bondade.
- Agora que ele está de volta, é hora de cuidar de você e se preparar para sua próxima reencarnação.
- Tenho medo.
Mesmo sabendo que você será mais uma vez o meu mentor.
- Não se preocupe.
Desta vez tenho certeza de que você voltará vitoriosa.
Ninguém aguenta a maldade por muito tempo, ela cansa, traz infelicidade, angústia, doença.
Chega uma hora que o espírito diz: basta!
Eu quero ser feliz!
E não há outra forma de ser feliz senão seguindo o caminho do bem.
Lúcia enxugava uma lágrima teimosa, quando tornou:
- Serei filha de Hortência e Douglas e terei como irmão Raul, o homem que tanto amei e, ao mesmo tempo, fiz mal.
Não poderíamos voltar como marido e mulher e assim vencer esse problema que tanto sofrimento nos trouxe?
- Os nossos maiores sabem o que fazem.
Eles dizem que quando a paixão é exagerada, toldando a razão, não existe outra maneira a não ser sublimá-la.
Agora como irmãos terão a chance de se amarem de maneira fraternal, ajudando-se mutuamente, vencendo as imperfeições.
- Temo cair em tentação, viver brigando com ele, ou o que é pior: praticar incesto.
- Isso não irá acontecer, por isso a vida seleccionou para vocês pais espiritualizados, que ensinarão ambos desde cedo a trilhar o caminho do bem, seguindo as leis cósmicas.
O homem só erra e é infeliz quando se afasta delas.
Se os pais soubessem disso, tratariam de ensiná-las aos filhos desde o berço e não existiria tanta rebeldia e violência.
Confie em Deus, que nunca erra nem joga para perder.
Se está chamando você e Raul para reencarnarem tão rapidamente, é porque têm todas as chances de vencerem.
Os olhos de Lúcia brilharam enquanto disse:
- Deus o ouça, Antero.
Logo seus vultos desapareceram rumo ao infinito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:22 pm

38 - PAI E FILHOS: LAÇOS QUE NÃO SE ROMPEM
Decidido a ir embora para o Rio de Janeiro, não restava a Douglas mais nada a fazer naquela cidade, senão visitar a avó.
Assim que amanheceu, ele tomou um táxi e dirigiu-se sozinho pelo caminho, tão seu conhecido, não deixando de recordar quando fugira com Amanda, achando-se um príncipe encantado, julgando que havia encontrado a felicidade.
Como estava enganado!
Percebeu o quanto os impulsos da juventude podem levar as pessoas a caminhos de sofrimento que seriam perfeitamente evitáveis se fosse usado um pouco de bom senso.
Assim como no dia da sua fuga, uma tempestade se avizinhava, e ele chegou à casa de vó Leontina já debaixo de grossos pingos de chuva.
Pediu ao taxista que o aguardasse e entrou.
Ainda era bem cedo, mas um cheiro gostoso de café já se fazia sentir desde a entrada da casa.
Aninha abriu a porta e gritou:
- Meu Deus! Douglas!
Você está vivo!
- Estou, Aninha, Deus me fez voltar!
Quanto tempo, hein?
Dê-me um abraço.
Ambos se abraçaram carinhosamente e ela tornou:
- Estava pensando que a vó tinha ficado caduca, pois vive dizendo que você está vivo e que ia voltar.
Esta semana disse isso todos os dias.
- Onde ela está?
- Na cozinha.
É teimosa, não me deixa fazer as coisas sozinha.
Douglas foi entrando na casa simples, mas muito limpa, e não precisou chegar à cozinha para ver sua avó com olhos brilhantes, em pé na porta, braços abertos a esperá-lo.
O momento foi de grande emoção, abraçaram-se.
Ele estava muito envolvido por todas as revelações e lamentou choroso:
- Não tenho o seu sangue, vó, não sou seu neto de verdade.
Não mereço este abraço.
- O parentesco verdadeiro vem da alma, meu neto.
Sempre o amei como tal e não vou deixar de amá-lo nunca.
O sangue de nada vale, o que importa mesmo é o amor que temos no coração.
Ele continuava chorando.
- Consegui escapar de tudo, quase perdi a vida, meu próprio pai mandou me matar, perdi a memória.
Nunca mais iria conseguir abraçá-la.
Leontina olhou-o com profundidade, enquanto disse:
- Não quero que venha aqui para lamentar.
Você está vivo e ainda viverá por muitos anos.
Quer motivo maior para a felicidade?
Você teve outra chance de continuar na Terra e prosseguir em sua jornada, deve é agradecer.
Agora vamos tomar um café?
Acabamos de passar.
Douglas pensou que sua avó fosse valorizar seu sofrimento, mas Leontina não queria ouvir suas queixas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:22 pm

Era uma mulher sábia, talvez ele tivesse mesmo precisando deixar aquilo tudo passar.
Enquanto tomavam café com bolo e rosquinhas, ela foi falando:
- Eu sempre soube que você estava vivo e que esse dia iria chegar.
Nunca deixei de acreditar nisso um só dia.
- Como a senhora tinha toda essa certeza?
Certamente os espíritos lhe disseram.
Aninha, que acompanhava a conversa, interveio:
- Ainda pergunta como sua avó sabe das coisas?
Vejo que está meio esquecido ainda.
Douglas sorriu e explicou:
- É que, para mim, esse contacto com o invisível ainda não é muito real.
Sei que existe e acredito nos dons de minha avó, mas nunca tive uma experiência pessoal.
Vó Leontina tornou:
- Tudo a sua hora, os bons espíritos sempre estão interessados em nos ajudar, mas não nos forçam a acreditar no que eles dizem.
Depende do nosso entendimento.
Mas acredito que você, depois de tudo o que passou, sabe que a Providência Divina jamais falta.
Sem ela, você não estaria encarnado.
- Sei disso e vou continuar agora mais vivo do que nunca.
Usarei tudo o que tenho e que herdei daquele homem para encontrar meu filho.
Ele deu uma pausa, e com receio perguntou:
- A senhora acha que irei encontrá-lo?
Se os espíritos existem, quero que eles digam onde está meu filho.
- Tenha paciência, uma coisa de cada vez - disse Leontina com voz doce e pausada.
Você só vai encontrar seu filho se isso estiver previsto dentro das leis do destino, se não será inútil tudo o que fizer.
Douglas empalideceu.
- A senhora está querendo dizer que eu não devo fazer nada e esperar o destino trazer meu filho de volta?
- Não me entenda mal.
Devemos sempre agir a favor da vida.
É claro que você deve lutar, pois se estiver no destino, a sua luta será o instrumento que Deus vai usar para colocar as coisas nos devidos lugares.
Mas o que você deve entender é que nada acontece sem a permissão divina.
Para nós, foi um acto hediondo o sequestro dessa criança, mas já pensou que tudo pode estar certo assim?
- Como, vó? Um sequestro é um crime.
A senhora está querendo justificar um crime?
- Não quero justificar, mas acredito que Deus não permite nada que não seja para o nosso bem e, muitas vezes, onde os olhos humanos vêem injustiças, existe apenas as leis Dele agindo em nosso favor.
O que quero dizer é que essa criança não é inocente diante de tudo isso, muito menos vocês.
Há um motivo justo que se esconde no véu das vidas anteriores que determinaram esse facto.
Afirmo, com certeza, que se não conseguirem encontrá-la é porque não era para ser filho de vocês.
Deus não iria permitir que uma mãe perdesse um filho por acaso.
Douglas levantou-se revoltado.
- Não entendo essas leis que ajudam os maus e deixam os bons sofrer.
Se existe mesmo a reencarnação, não seria melhor que meu filho ficasse comigo e a mãe?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:23 pm

- E quem sabe se Hortência é mesmo a mãe dele?
Vocês apenas deram o corpo de carne, o espírito desse menino pode não ter nenhuma ligação com vocês.
- O que a senhora diz é cruel.
Leontina não se perturbou.
- Não é cruel.
É apenas a realidade.
Aceitá-la faz com que nós deixemos de sofrer, de condenar os outros, de guardar rancor.
Só com a aceitação é que poderemos perdoar de verdade.
A reencarnação mostra que ninguém é vítima, mas criador do próprio destino.
Creia, meu neto, se tudo o que você fizer de nada adiantar, é porque assim é que tem de ser.
- Mas não posso desistir de lutar.
- E nem deve, mas sempre colocando tudo nas mãos de Deus, afinal para Ele nada é impossível.
Mesmo que na Terra você nunca encontre aquele que um dia ajudou a gerar, no astral esse reencontro será possível, e aí você descobrirá a causa de tudo, percebendo como a vida é perfeita.
Douglas sentia que as palavras da avó eram verdadeiras, e por isso a abraçou com muita força.
Leontina mais uma vez olhou-o com firmeza, segurou suas mãos e disse:
- Sei que quer partir para nunca mais voltar, sei que irá para outro estado, mas você não pode sair daqui sem perdoar o seu pai.
Se quer ter uma vida feliz, harmoniosa, com saúde e paz, deve aprender que o primeiro passo é o perdão incondicional.
Não gosto muito de falar essas coisas, mas Edionor não tem muito tempo na Terra, logo voltará ao astral.
Tenho certeza de que, se não conseguir seu perdão, o espírito dele vai procurá-lo, provocando uma obsessão.
Edionor deixou-se levar pelo orgulho e pela vaidade, que são os piores males que um homem pode carregar neste mundo, mas ele o amava, sempre o amou, mesmo sem saber que era seu pai.
Arrependeu-se amargamente do que fez, e isso quase lhe custou a vida.
Certamente saberá que você sobreviveu e, se não receber seu perdão, não vai sossegar, vai buscá-lo onde estiver, mesmo depois de morto.
- Não quero perdoar ninguém.
- O perdão faz bem mais para quem perdoa do que para quem é perdoado.
Tenho certeza de que sua alma é boa e, assim sendo, não vai conseguir viver bem sabendo que deixou uma pessoa morrer sem receber seu perdão sincero.
Você viverá atormentado pelo remorso e nunca vai conseguir ser feliz.
A falta do perdão é a causa da maioria das obsessões que vemos grassar sobre a Terra.
Por isso sempre devemos pedi-lo quando erramos, como também doá-lo quando nos for solicitado.
Por isso, vá ao presídio, procure Edionor com o coração aberto e diga que o perdoa. Liberte-se!
Douglas sentiu-se num impasse, seu coração queria ver Edionor novamente, abraçá-lo e dizer o quanto o amava, apesar de tudo.
A verdade é que os anos de convivência fez nascer nele uma verdadeira afeição por aquele senhor, mesmo sem saber que era seu pai biológico.
Por outro lado, sua cabeça lhe dizia que não deveria perdoar aquele que quis tirar sua vida de uma maneira tão brutal.
Leontina percebeu sua luta interior e olhou-o com firmeza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 15, 2017 8:23 pm

- A luta entre o coração e a razão materialista é difícil, todavia aquele que deixa o coração vencer e falar mais alto alcança a paz e a felicidade.
São as razões terrenas que estão querendo fazer com que você não perdoe, mas o coração traz a voz da alma, e a alma sempre sabe o que é melhor para nossa felicidade.
Só quero que lembre que o tempo está se esgotando.
A vida, às vezes, exige de nós decisões rápidas, pois numa fracção de segundo poderemos mudar todo o nosso destino.
Douglas abraçou mais uma vez a avó, sorriu e tornou:
- A senhora me convenceu, vou ouvir meu coração.
Vou procurar Edionor e dizer que o perdoo.
- Eu sabia! Seu coração é enorme.
Os dois se abraçaram mais uma vez e, depois que Douglas saiu dali, estava mais renovado, sentindo-se alegre.
O ódio havia passado.
Notou que, na saída, sua avó o olhara com olhos de despedida.
Ele sentiu que, enquanto vivesse encarnado, não a veria mais, por isso pediu a Deus que a abençoasse sempre, onde quer que estivesse.
Ao chegar em casa encontrou Hortência sozinha sentada ao sofá dando mostras de ansiedade.
Ao vê-lo, logo disse:
- Demorou demais.
Já estava ficando preocupada com você no meio desse temporal.
Ele sorriu, puxou-a para junto do peito e beijou-a com muito amor.
- Não se preocupe, nunca mais vou desaparecer de sua vida, de agora por diante ficaremos eternamente juntos.
Beijaram-se longamente mais uma vez e, ao serenar a emoção, ele perguntou:
- Onde estão Margarida e Flora?
- Foram conhecer a cidade com Diva.
Elas estavam aqui inquietas e também preocupadas com você.
Quando o temporal passou, pedi a Diva que fosse distraí-las levando-as até os rios que cortam a cidade.
Quando é tempo de tempestade, eles
aumentam o volume e ficam lindos.
- Vou sentir saudade de tudo isso aqui.
Foi neste lugar que vivi os melhores momentos de minha vida, desde a minha infância, até conhecer você.
- Mas não podemos permanecer aqui, neste lugar não temos nenhuma chance de reencontrar nosso Mateus.
Douglas, só naquele instante, lembrou-se:
- Eu não sei como é o rostinho dele, você não me mostrou nenhuma fotografia.
Quero conhecer meu filho.
- Coloquei todos os álbuns com as fotos em uma das malas de viagem, vou procurar.
Enquanto ela entrou para procurar as fotos, Douglas quedou-se no sofá pensativo.
Achava praticamente impossível encontrar o filho.
As palavras da avó ora o deixavam esperançoso, ora o deixavam para baixo, deprimido, achando que havia um abismo entre eles e aquela criança.
E se Deus não permitisse o reencontro?
Certamente Amanda havia fugido para fora do país.
Nesse caso, praticamente o teria perdido para sempre.
Ele não pôde continuar seu pensamento, pois Hortência acabava de chegar com as fotos.
A emoção tomou conta de seu coração ao ver o rostinho do filho assim que nasceu, outra foto mostrava o bebé com um mês, a outra com dois e assim por diante.
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