LUZ ESPÍRITA
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:35 pm

- Filho, ainda bem que voltou.
Pensei que não ia mais te ver.
Onde estava com a cabeça quando resolvi ajudar com isso tudo?
Você poderia estar morto a essa altura e eu também.
Ele afagou os cabelos lisos de Tereza e tentou tranquilizá-la:
- Calma, mãe, eu estou aqui.
Sua santinha mais uma vez me protegeu.
Nada me aconteceu.
Tereza enxugou as lágrimas e olhou detidamente para o filho.
- Você está abatido, sujo, até emagreceu.
- O dia hoje foi intenso, mas tenho de me restabelecer para estar lá amanhã novamente.
Não sei como a Amanda vai acordar.
- Não. Você não vai voltar para lá.
Eu tenho uma sensação horrível.
Quero você livre dessa gente.
Por favor, não volte.
- Calma, mãe.
O senhor Edionor percebeu que a filha gosta mesmo de mim e exigiu casamento.
Agora, cada vez mais, estarei envolvido com aquela família.
Sei que com o tempo seremos grandes amigos.
Não há o que temer, a partir de agora sou genro dele, não tem motivos para me fazer mal.
Até exigiu que eu voltasse amanhã com dona Estela, pois sabe que Amanda não vai conseguir se recuperar sem mim por perto.
Tereza, de repente, pensou no passado.
Quando um dia Douglas comunicou-lhe que estava namorando a filha daquele homem e que queria fugir, ela entrou em desespero.
Nunca iria pensar que o passado pudesse voltar e unir os filhos de ambos, não depois de tudo o que havia acontecido.
Leontina soube de tudo o que aconteceu e lhe foi de grande ajuda.
Sem ela, talvez, não estivesse viva.
Parecia que o destino estava brincando com tudo aquilo.
Na hora do desespero, que procurou ocultar do filho, lembrou-se de Maria, a mãe de Jesus.
Ela havia tido um filho e o perdido de forma trágica, certamente a iria escutar.
Foi até a igreja e ficou horas rezando.
Percebeu que não poderia mudar a escolha do filho.
Era até capaz de ele desconfiar de algo, se ela se opusesse.
Além do que, se tudo continuasse como estava há dezoito anos, realmente não havia o que temer.
Conformada, resolveu ajudar o filho naquela aventura.
Ela tinha certeza de que, houvesse o que houvesse, Edionor não mataria Douglas.
- Tudo bem, sei que você gosta dela e que iriam casar, mais cedo ou mais tarde.
O que importa é que você está vivo e bem.
Vá tomar um banho enquanto eu preparo aquela sopa que você tanto gosta.
Douglas, longe da presença do sogro, transformava-se em outra pessoa.
Não sabia definir de onde vinha tanto pavor.
Entrou no quarto, pegou a toalha e, antes de se dirigir ao banheiro, foi à cozinha simples, onde Tereza cortava alguns legumes.
- Mãe, a senhora conhece uma criança chamada Hortência?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:35 pm

- Sim, é filha da professora Lúcia.
Foi ela quem teve uma visão e descobriu onde vocês estavam, inclusive essa menina previu que Amanda corria risco de vida e que estava doente.
Douglas começou a sentir os pelos dos braços eriçar.
- Eu preciso conhecer essa menina, e hoje, depois da sopa, vamos à casa dela.
A senhora sabe onde é?
- Como você está esquecido!
A mãe da Hortência é minha grande amiga, foi quem lhe ensinou as primeiras letras.
Mas não acha que está tarde para fazermos uma visita?
- Não. Vou tomar banho e comer bem rápido, pois criança costuma dormir cedo e não quero ver Hortência dormindo.
Quero conversar com ela.
- Eu sabia que você ia querer conhecer a menina da advinhação.
- Menina de quê?
Tereza riu.
- É o nome que o povo daqui colocou na pobrezinha.
Lúcia está com muita raiva.
Ela não gosta das pessoas desta cidade, eu e Vera somos suas duas únicas amigas.
Também é difícil suportar o génio dela, sempre irascível, preconceituosa, radical...
- Espero que ela não se oponha a uma visita à sua filha.
- Isso não.
Sabendo que você é meu filho, ela não vai se importar.
Douglas demorou pouco no banho e ingeriu rápido o alimento.
Estava muito curioso para saber quem era essa garotinha.
A casa de Lúcia não era longe, e logo estavam lá.
Tratava-se de um casarão antigo, herança de família, sem hall e com muitas janelas, todas fechadas.
- Será que já estão todos dormindo?
- Não. Lúcia gosta de ficar nos fundos da casa corrigindo os trabalhos dos seus alunos.
As duas sobrinhas, Aída e Diva, estão no colégio a essa hora. Vamos bater.
Logo Lúcia abriu a porta e sorriu ao ver Tereza.
Olhando para Douglas, disse simpática:
- Nosso herói do cavalo branco já voltou?
- Herói? - perguntou Douglas.
Lúcia explicou:
- É esse o nome que minha filha colocou em você:
"herói do cavalo branco".
Desde o dia que você fugiu com a filha daquele homem asqueroso, ela cismou que você a levou num cavalo, como nas historinhas que Diva conta para ela.
Todos riram e foram convidados a entrar.
A casa de Lúcia era muito simples.
O governo de então não havia feito muitas mudanças na educação, mas ela até que ganhava bem, porém gastava muito com livros que comprava, com a comida que colocava na mesa, com suas roupas sempre impecáveis e na última moda.
Quem a via leccionando nas universidades pensava tratar-se de pessoa rica e de status.
Lúcia era fixada em notícias da moda e do mundo dos ricos.
Economizava em muita coisa para gastar em outras.
Adorava estar bem vestida, portar-se com fineza, sair para jantar com os colegas professores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:35 pm

Pensava em casar Hortência com um homem muito rico e já idealizava aquele casamento, por isso abriu uma poupança, na qual juntava dinheiro para colocá-la para estudar nos melhores colégios da cidade e depois cursar uma universidade fora dali.
Tereza interrompeu seus pensamentos.
- Meu filho vai viajar amanhã para ficar com a Amanda, que está em recuperação, e cismou que não poderia dormir sem conhecer sua filha.
A história da adivinhação impressionou muito o Douglas.
Lúcia fez um ar irritadiço.
- Essa história tirou foi meu sossego, isso sim.
As pessoas apelidaram minha filha e vivem vindo aqui querendo conhecê-la.
Pensam que de uma hora para outra Hortência vai lhes dizer alguma premonição.
Coisa de gente simplória e ignorante.
O que houve com minha filha foi uma grande coincidência.
- Mas existe uma doutrina, chamada Espiritismo, que diz existir pessoas com mediunidade de premonição.
Será que sua filha não é uma dessas?
- Vira essa boca pra lá, Tereza.
Não quero minha filha metida com assuntos religiosos.
Quero que ela estude e faça um excelente casamento, só isso.
Essa coisa de religião ficou para padre e freira.
Douglas não queria alongar aquela conversa, queria ver a menina.
- Onde ela está?
- Ah sim, está brincando de bonecas no quarto.
Vou chamá-la.
Lúcia entrou e logo depois voltou com a menina.
Douglas encarou Hortência e sentiu algo inexplicável.
Era com perfeição que sentia que já a conhecia.
Hortência, num ato de espontaneidade, correu a abraçá-lo.
- É o príncipe do cavalo branco.
Douglas se emocionou e colocou-a no colo.
Hortência não parava de perguntar como havia sido a fuga, e ele, na medida do possível, ia contando.
Ela não queria mais sair do colo do rapaz.
Uma hora depois, quando saíram, Douglas no caminho comentou com a mãe:
- Tenho certeza de que eu já conhecia essa menina.
A professora Lúcia já a levou a nossa casa?
- Não. Hortência só sai com as primas e nunca foi a nossa casa.
Quando ela nasceu e o pai a abandonou, eu fui visitá-la, mas você não foi comigo.
Apesar de minha grande amizade com Lúcia, ela não costuma me visitar, eu que sempre a procuro.
Mas você pode tê-la visto pela cidade.
Aqui é muito pequeno, todo mundo se esbarra em todo mundo.
- Pode ser, pode ser...
Douglas chegou em casa pensativo e não conseguia tirar o rosto de Hortência do pensamento.
Muitas indagações povoavam sua mente.
Como aquela menina conseguira saber onde eles estavam?
Médiuns existiam de verdade?
Que sensação de familiaridade ele sentiu quando olhou nos olhos dela!
De onde viria?
O certo é que Douglas demorou ainda a conciliar o sono.
Ao seu lado, dois espíritos iluminados conversavam.
- Se ele tivesse mais paciência, poderia saber todas essas respostas.
- Com certeza, mas a vida faz tudo certo.
Do erro que ele cometerá ao se casar surgirá um grande bem.
Haverá para ele outros momentos de escolha.
O futuro promete.
As duas entidades lançaram sobre Douglas uma energia prateada e, a partir daquele momento, ele dormiu um sono reparador e calmo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:36 pm

7 - CONVIVÊNCIA DIFÍCIL
Pela manhã, Douglas levantou cedo, fez sua mala, despediu-se de Tereza e seguiu para a casa de Estela.
Apesar da hora, tocou a campainha e esperou.
Logo uma empregada abriu e o fez entrar.
Estela já estava arrumada e, ao vê-lo, disse:
- Que bom que chegou cedo, assim não vamos nos atrasar.
O Edionor ligou avisando que você iria connosco.
Douglas sentiu um tom de carinho nas palavras daquela mulher.
- A senhora não me condena por ter fugido com sua filha?
- Não posso fazer isso, são coisas da juventude, um dia fui jovem e sei como é.
Nessa idade não pensamos muito nas consequências.
Além do mais, sei como é minha filha, muito voluntariosa e impulsiva, aposto que ela foi quem deu a ideia da fuga.
- Foi sim, mas era a única maneira de ficarmos juntos.
Eu sou pobre, ela é rica, seu Edionor nunca ia permitir.
Estela sorriu:
- E uma fuga iria ajudar em quê? Mesmo que vocês se casassem em outra cidade, o Edionor iria transformar a vida de vocês em um inferno.
Seria pior.
- Mas ele exigiu casamento.
Parece que está disposto a selar a paz.
- Vamos orar para que isso aconteça.
Se você fizer nossa filha muito feliz, creio que não terá problemas com meu marido.
Os olhos dele brilharam.
- Disso a senhora pode ter certeza.
Amanda será a mulher mais feliz do mundo.
Ambos saíram e entraram no carro.
Quando chegaram ao hospital, Amanda estava sentada na cama tomando o desjejum, mas não se conteve e deixou a bandeja de lado dando um longo abraço em Douglas.
Logo depois, mãe e filha se abraçaram.
Com a presença da esposa, Edionor ficou mais calmo e não procurou conflitos com o genro.
Resolvendo deixá-los a sós, pai e mãe foram para o jardim.
Enquanto conversavam, Douglas disse:
- Ontem conheci uma menina chamada Hortência.
- Quem?
- Uma garotinha da nossa cidade que previu onde nós estávamos e até teve uma visão de você doente.
Se não fosse por ela, você poderia ter morrido.
Amanda começou a se arrepiar.
- Quer dizer que uma menina viu?
Teve aquelas visões que algumas pessoas têm e vêem o futuro?
- Ela é muito criança, tem apenas sete anos.
Deixa eu lhe contar tudo.
Quanto mais Amanda ouvia, mais se arrepiava.
Ela tinha verdadeiro horror a tudo o que lembrasse visões, almas do outro mundo, morte.
Douglas finalizou:
- É uma menina encantadora, gostaria que você a conhecesse.
- Deus me livre.
Eu não gosto dessas coisas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 05, 2017 7:36 pm

Depois ela me vê aí e diz que eu vou morrer.
Quero distância e quero que você também fique longe dela.
- Isso não vai ser possível, estou encantado com a garota.
Quando formos casar, quero que ela seja a dama de honra.
Amanda olhou para Douglas e sentiu uma angústia inexplicável.
Resolveu concordar, pois queria mudar de assunto.
- Tudo bem, isso vamos decidir depois.
- Depois não.
Seu pai me pressionou, quer que nos casemos logo, vai até me dar emprego.
Temos de pensar em tudo desde já.
- Papai concordou?
Que felicidade!
- Sim. Mesmo sendo rígido, ele compreendeu que fomos feitos um para o outro.
Só vai esperar que se recupere para fazer o noivado, e logo depois o casamento.
Nessa hora, Edionor e Estela estavam entrando no quarto e ainda ouviram o final da conversa.
- Não pense que vai ser fácil para você, rapaz - falou Edionor com voz grave.
Primeiro quero que saiba que vou ter minhas exigências para esse casamento.
- Ah papai, não complica as coisas.
- Cale-se, Amanda.
Se quiser ficar com esse pobretão que não tem onde cair morto, tem de aceitar as minhas exigências.
Estela se mantinha calada.
Naquelas horas sua palavra era nula.
Mas estava rezando para tudo dar certo e sua filha ser feliz.
Douglas olhou para Edionor, que dizia:
- Terá de morar com Amanda em minha casa.
É um ambiente espaçoso e poderão ficar à vontade.
Assim posso ficar mais de olho em você.
Vai trabalhar administrando algumas de minhas fazendas.
Para isso vou lhe pagar.
Por enquanto é só.
No decorrer de nossa vida juntos, outras exigências aparecerão.
- Mas eu quero ter minha casa, papai.
Dizem que quem casa quer casa.
Não quero ficar lá com Douglas.
Que privacidade nós vamos ter lá?
- Para morar longe de minha casa seu marido terá de suar muito, juntar muito dinheiro e comprar uma mansão para morar.
Não criei minha filha única para viver como favelada.
Enquanto seu marido não tiver condições de comprar uma casa digna para vocês, terão de viver comigo e Estela.
Douglas, sentindo-se impotente e humilhado, calou-se.
Ele realmente não tinha condições nenhuma para comprar uma casa mesmo simples, muito pior uma mansão.
Teria de viver na casa dele e habituar-se a isso.
Amanda ainda insistiu:
- Mas papai, pensei que fosse me dar uma casa quando eu fosse casar.
- Isso é obrigação do marido.
Se fosse casar com Fernando, não teria esse problema.
Douglas aquiesceu:
- Seu pai está certo, Amanda.
Temos de nos render a essa realidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:55 pm

Você sempre soube que sou pobre, e eu também sabia que se um dia fôssemos nos casar, você não iria morar na casa de minha mãe ou numa casa alugada.
Será melhor assim.
Edionor finalizou:
- Assim que Amanda sair desse hospital, haverá o noivado e um mês depois o casamento. Sem delongas.
Estela se manifestou:
- Não acha muito cedo?
Não compramos nada, o vestido de noiva demora a ficar pronto.
- Cuidem disso vocês.
Virem-se, você e sua filha como mulheres é que devem providenciar tudo.
E você, moleque, enquanto elas arrumam as coisas seguirá comigo pelas fazendas, onde vai aprender o trabalho.
Tudo naquela situação humilhava Douglas, mas em nome do amor que julgava sentir passava por cima do próprio orgulho.
A conversa finalizou e, quando ficou novamente a sós com Amanda, vendo o seu entusiasmo e os planos para a cerimónia, resolveu calar a revolta que tinha no peito.
Um dia ele seria rico e poderia finalmente se livrar das garras daquele homem mau e irascível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:55 pm

8 - PREVENDO O FUTURO
Alguns dias depois, Amanda se recuperou e foi levada para casa.
Começou, então, para Douglas um tempo diferente, pouco ficava em casa com a mãe e, sob o olhar severo do sogro, passou a visitar as fazendas nas quais iria trabalhar.
Ele alegara que não sabia nada de administração, mas Edionor retorquia dizendo que ele iniciaria observando, e só depois enfrentaria o serviço.
As fazendas eram enormes e os limites se perdiam no infinito.
Quando as via, Douglas tremia por dentro, não se sentindo capaz de administrar tudo aquilo.
No fundo achava que Edionor queria mesmo era ver seu fracasso como empregado para ter um motivo de vê-lo distante de sua família.
No entanto, os dias foram passando e ele percebeu que a decisão do sogro era real, e então tratou de aprender.
Ele era muito bom em contas, e julgava que administrar era calcular.
Logo percebeu que ia muito além.
As fazendas eram de corte e leite, tinha de providenciar das mínimas rações aos mais altos pagamentos.
Embora não estivesse só, porquanto tinha sempre alguém com mais experiência auxiliando, ele sentia que ia fraquejar.
Um dia, Edionor o chamou ao escritório da fazenda Sol Nascente.
Após olhá-lo minuciosamente, disse:
- Sinto vontade de rir de você, mas depois do que vi não posso mais.
- Rir de mim? Qual seria o motivo?
- Será mesmo que você imaginava que eu ia entregar minhas fazendas para você administrar?
Um moleque borra-botas, que mal saiu das fraldas?
- O senhor está me ofendendo.
Estou fazendo de tudo para aprender com os administradores mais antigos, mas é tudo muito difícil ainda.
Por isso tenho me esforçado e certamente irei aprender tudo.
- E justamente por seu esforço que não posso rir de sua falta de jeito em lidar com tudo isso.
Coloquei-o em uma experiência, queria ver se era capaz de ser macho mesmo, de se esforçar em nome de minha filha.
E você foi aprovado.
Percebi, a contragosto, que é dedicado, gosta de trabalhar e será um óptimo marido para Amanda.
Pois, então, o trabalho que lhe prometi não é em minhas fazendas, mas sim lá na cidade mesmo.
Douglas, que estava estupefacto com tudo o que ouviu, não ousou interromper.
Ele continuou, levantando-se da grande cadeira de couro:
- Omar, o dono do Grande Hotel, entrou em dívidas com agiotas, bancos e por isso foi à falência.
Antes de sua fuga com Amanda, ele veio me procurar para vender o hotel, propondo-me um bom preço.
Na ocasião, não tinha motivos para ter outro negócio e compreendi que ele veio me procurar por eu ser o homem mais rico da região.
Não sabendo o que fazer com um hotel tão grande, recusei.
Mas agora a coisa mudou, você entrou na minha vida e, para ter minha filha, deve trabalhar e aprender a ganhar dinheiro.
Por isso voltei atrás com Omar e fechei negócio.
A partir de agora o Grande Hotel é seu e de Amanda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:55 pm

Vivendo na minha casa pouco terão no que gastar, mas o hotel é rentável e poderão fazer uma poupança para que possam construir ou comprar uma casa própria.
Satisfeito?
Douglas levantou-se aturdido, sem saber o que fazer ou dizer.
Por fim, deu a resposta:
- Em nome de Amanda aceito sim.
Gosto de comércio e vou levar adiante aquele hotel, que vai se tornar melhor do que já é.
O senhor ainda vai se orgulhar de mim e nunca mais vai me chamar de borra-botas.
- Enquanto não der uma casa boa à minha filha, o chamarei sim.
Agora vamos rumar para a cidade que muitas obrigações nos esperam.
A conversa foi encerrada e ambos retornaram.
Ao chegar em casa, Douglas contou a sua mãe toda a conversa, finalizando:
- Terei muito trabalho para lidar com um empreendimento tão grande, mas vou conseguir.
Tereza estava amedrontada.
- O que eu queria era que você nunca tivesse se envolvido com Amanda, isso ainda não vai acabar bem.
E se o hotel falir?
O que esse homem fará com você?
- Não vai falir, eu juro.
Sou óptimo em contas, sou económico, saberei fazer tudo certo.
Sabe, mãe, toda vez que o senhor Edionor me humilha, eu penso que um dia serei rico como ele e poderei ser respeitado.
Hoje, quando ele me chamou de borra-botas, me deu vontade de dar-lhe um soco!
- Meu Deus!
Ainda bem que eu o eduquei para não ser violento.
Se você bate num homem como aquele não sai vivo.
- Eu não entendo por que tanto medo dele.
Aqui na cidade todos têm essa bobagem.
- Não se trata de bobagem.
O dinheiro deixou esse homem muito poderoso e acima da lei.
Ele tem feito muita maldade há bastante tempo e não há punição.
Todos o conhecem e sabem do que ele é capaz, por isso o temem.
- Mas eu não tenho medo.
Vou mostrar a ele quem eu sou e um dia serei respeitado.
Tereza olhou para o alto e murmurou:
- Jesus o ouça, meu filho!
O tempo foi passando e Douglas assumiu o Grande Hotel.
A princípio, manteve todos os funcionários e até Edmilson, o subgerente, que foi sua salvação, orientando-o em tudo o que fosse fazer.
Após o rápido noivado, finalmente o dia do casamento.
A Igreja de Santa Cecília nunca esteve tão bonita e, após a celebração, todos foram para a fazenda mais próxima, onde seria servido um churrasco.
Amanda e Douglas estavam no auge da felicidade.
Ela implicou bastante, pois não queria Hortência como dama de honra, mas o futuro marido estava caído de amores pela menina e ela resolveu aceitar.
Lúcia, a princípio, não queria, pois achava que iria expor sua filha ao ridículo, mas por fim acabou concordando e arrumou Hortência com esmero.
O churrasco seguia animado na enorme área da casa grande.
Os noivos a todo instante recebiam cumprimentos.
Tereza estava envergonhada, pois ali só tinha gente rica, e ela não sabia se portar, para se arrumar teve de pedir a Lúcia uma ajuda.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:55 pm

Em tudo ela notava como o velho Edionor fazia questão de humilhar seu filho.
Isso a fazia sofrer.
De repente, a atenção de todos foi voltada para um grito que vinha de dentro da casa.
As pessoas foram entrando e, ao chegarem, constataram que Diva gritava por socorro, pois Hortência havia desmaiado.
Lúcia começou a chorar e a massagear os pulsos da criança, que parecia morta.
Felizmente, havia dois médicos na festa que, após examiná-la, disseram:
- Foi apenas um desmaio, talvez o calor.
Daqui a alguns instantes ela acorda.
Mas é bom a senhora levá-la depois ao nosso hospital, para requisitarmos exames.
Lúcia ficou mais aliviada, embora Hortência não acordasse.
Amanda chegou e, com ódio, disse:
- Só podia ser essa menina mesmo para acabar com a alegria de minha festa.
Douglas interferiu:
- Não fique assim, amor, ela é apenas uma criança.
Pode estar doente.
- Que esteja!
Mas bem longe de meu casamento.
Por favor, dona Lúcia, retire sua filha imediatamente daqui.
Há vários carros aí e eu pedirei que alguém as leve de volta à cidade.
Antes que Lúcia esboçasse qualquer reacção, Hortência abriu os olhos e fixou-os nos de Amanda.
Com voz forte começou a falar:
- Você não será feliz com seu marido.
Não pode ter criança, nunca vai dar um filho a ele.
Seu marido é de outra mulher e vai deixá-la.
As pessoas não entenderam o que estava acontecendo.
Lúcia imaginou que fosse outra "adivinhação", e com muita vergonha começou a sacudir e a bater na menina, que acordou de vez e começou a chorar.
Diva, percebendo a fúria da tia, partiu para cima e segurou seus braços.
- A senhora vai matar a Hortência!
Pare com isso.
Lúcia caiu em si e olhou o rosto todo vermelho da filha por causa de suas bofetadas.
Começou a chorar.
Aída pediu que as pessoas se afastassem, mas Amanda, completamente descontrolada com o que ouviu, começou a gritar olhando para Hortência:
- Bruxa!!!!!! Bruxa!!!!!!!
Saia já da minha casa, da minha vida ou eu acabo com você!
Ela ia partir para bater na menina quando Douglas a segurou.
Foi um espectáculo de horror, e Estela se pronunciou dizendo que a comemoração estava encerrada.
Amanda foi levada ao quarto e logo Lúcia, suas sobrinhas e Hortência saíam da fazenda.
Elas nunca mais esqueceriam aquele dia.
Quando chegaram em casa, Lúcia tratou de interpelar a filha.
- Onde você estava com a cabeça de fazer aquela cena no meio da festa?
A menina permaneceu muda.
- Ande, fale ou vai apanhar.
- Tia, pare com isso - Diva interveio.
Não vê que a Hortência não fez porque quis?
- Ora, Diva, não me venha defender.
Você não entende de educação, nunca teve filhos e provavelmente nunca os terá, já passou da idade de casar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:56 pm

O que você entende de criança?
- Esqueceu que sou eu e Aída que praticamente criamos a Hortência?
Lúcia engoliu em seco.
Ela era muito ocupada e, se não fossem as sobrinhas, não saberia como fazer para trabalhar.
- Tudo bem, então você sugere o quê?
Que eu passe a mão pela cabeça dela sempre que fizer uma coisa como essa?
De qual nome vão chamar minha filha agora?
De bruxa?
- Acalme-se. Aída, leve a Hortência para o quarto, tente distraí-la, eu preciso ficar a sós com a tia.
Aída saiu levando Hortência e Diva fez Lúcia se sentar.
Olhou-a profundamente.
Como sentia pena da tia!
Era uma mulher que tentava esconder seu sofrimento na amargura e na maldade.
Ela não conseguia entender por que muitas pessoas agiam assim.
A vida era tão cheia de chances de felicidade e muitos as desperdiçando.
- Tia, a senhora precisa conhecer mais sua filha.
Ela tem algo, digamos, especial.
- Lá vem você.
Sabe que eu não acredito em Espiritismo e nem passarei para essa doutrina só porque minha filha tem chiliques.
O caso dela é para um psicólogo.
- Até quando a senhora vai fechar os olhos sem querer enxergar que sua filha tem mediunidade?
- Já falei que não acredito e nem tente me convencer dessa filosofia ridícula.
- Não quero fazer proselitismo nem convencer ninguém, mas se não procurar entender vai ser muito sofrimento, para a senhora e para sua filha.
Lúcia pareceu meditar um pouco, depois disse:
- Tudo bem, vou lhe dar uma chance para explicar sua teoria. Vamos, comece.
Diva sabia que com a tia era assim, ela tinha de abraçar aquela chance.
- Todos nós nascemos com uma sensibilidade orgânica, a qual chamamos de mediunidade.
Uns a possuem com mais intensidade outros menos, mas todos a têm.
Hortência é uma criança muito sensível e, pelo que pude observar, tem mediunidade de premonição.
Quando entra em estado alterado de consciência, com a ajuda de espíritos, ela pode ver o passado ou o futuro.
Isso ficou provado quando a Amanda estava doente.
Hoje aconteceu novamente.
Ela pode prever, isso é dela.
- Eu não quero que minha filha única, minha princesa, se meta com essa sua religião.
Ela nasceu para estudar e fazer um bom casamento.
Quem tem essas coisas são pessoas desligadas do mundo, passam a viver em contemplação, e eu não quero isso para ela.
Se isso continuar, vou procurar um jeito de barrar.
Qual o homem da alta sociedade que vai querer como esposa uma mulher problemática, que tem crises e vê coisas?
- A senhora está sendo precipitada.
Durante a infância, é comum as crianças manifestarem com mais intensidade essa faculdade.
Normalmente, tudo passa quando elas vão se desenvolvendo.
Se tiverem de trabalhar com ela, a faculdade voltará a despontar na adolescência.
Quem tem mediunidade não precisa ser santo nem se desligar do mundo, precisa estudá-la, se educar e ter uma vida mental equilibrada.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:56 pm

Do jeito que a senhora está fazendo com Hortência, ela facilmente perderá o equilíbrio.
Lúcia ouvia com atenção.
E se aquilo tudo fosse verdade?
- Isso não pode ser uma coisa boa.
Olha só o que ela falou na festa.
Veja só como a noiva ficou.
- Mas teve o lado bom, ela ajudou Amanda a se curar, descobriu onde ela estava.
Ocorre que as crianças têm um passado espiritual e são influenciáveis.
Existem muitos casos de obsessão na infância, acredito que hoje espíritos maledicentes a envolveram, no entanto, ela pode estar falando a verdade.
O que importa mesmo é que os pais de crianças com mediunidade devem estudar o fenómeno, manter o ambiente em boa vibração, sempre com preces, evitando pensamentos negativos, discussões, competições e, se possível, fazer o culto do Evangelho no Lar semanalmente.
- Não estou disposta a tudo isso e nem sei se resolve.
O que quero é levá-la a um psicólogo.
- Deixe eu tentar.
Vamos escolher um dia e fazer o culto no lar, não custa nada a senhora participar.
Lúcia olhou a sobrinha e concluiu que deveria haver algo sério no que ela estava dizendo.
Diva era uma moça equilibrada, sorridente, de bem com a vida, cheia de amizades.
Não namorava porque dizia não ter encontrado ainda a pessoa que tocasse fundo seu coração.
Era aplicada nos estudos e boa conselheira.
Não poderia estar assim tão iludida.
- Tudo bem.
Vamos fazer e ver se ela melhora.
Mas o que vou fazer com os apelidos que colocam nela?
Depois dessa festa horrenda, vão chamá-la de bruxa.
Notei que aquela Amanda é uma cobra e ficou com ódio de Hortência.
Aquela é capaz de qualquer coisa.
Saiu ao pai.
- Acalme-se.
O importante é não ligar para o que os outros falam.
A senhora é independente, paga suas contas, é inteligente, deve parar de ser vaidosa.
- Vaidosa?
- Sim. Toda pessoa que teme o que outros vão dizer ou pensar dela é vaidosa.
Precisamos ser humildes.
Cada um tem sua cabeça e pensa o que quer, somos todos livres.
O que vale não é o que dizem de nós, mas o que realmente somos.
Pense nisso, tia.
Agora vamos ver como está Hortência.
Ao chegarem ao quarto simples, a menina estava rindo muito e brincando com Aída.
Ao ver a mãe, retraiu-se e agarrou-se ao pescoço da prima, dizendo:
- Não deixe ela me bater, Diva, não deixe.
Lúcia aproximou-se e, com carinho, a pegou no colo.
- Mamãe não vai bater.
Sua mãe é uma tonta não vendo que você é a menina mais especial do mundo.
Os olhos de Hortência brilharam e ela, num gesto espontâneo, deu um longo beijo no rosto de Lúcia.
Aida e Diva olharam emocionadas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:56 pm

9 - AMANDA DESCOBRE QUE É ESTÉRIL
O tempo passou e Douglas fez o Grande Hotel continuar prosperando.
A cidade era pequena e o melhor local de hospedagem era aquele, por isso a procura nunca parava.
Embora soubesse pouco como lidar com um negócio como aquele, aos poucos foi se esforçando e, quase dois anos depois, já estava à frente de tudo.
Trabalhar e ter seu próprio dinheiro fez com que Douglas se sentisse valorizado, começou a vestir-se melhor, cortar os cabelos na moda, cuidar do corpo.
Em pouco tempo estava sendo desejado por muitas mulheres que, mesmo sabendo de sua condição de casado, tentavam em vão manter algum relacionamento com ele.
Douglas apenas tinha olhos para sua esposa, contrariando as suas admiradoras.
Amanda demorou um tempo para se refazer do que ouviu de Hortência na festa de seu casamento.
Foi combinado que eles passariam a lua-de-mel em uma fazenda muito bonita que Edionor possuía, não queriam viajar para longe, estarem juntos, para eles, era o maior presente.
No outro dia, após a união, partiram.
Apesar do ambiente romântico, da casa grande e confortável, do belo pomar e das frondosas árvores que compunham o tom bucólico do lugar, Amanda não estava se sentindo bem.
Por mais que tentasse, não conseguia esquecer o rosto e as palavras de Hortência.
Tremia de pavor ao pensar que um dia poderia perder seu marido ou não poder ter filhos, afinal, aquela menina havia adivinhado onde ela estava quando fugiu e ficou doente, por que agora iria errar na previsão?
Ao pensar naquilo seu corpo gelava.
Douglas a abraçava, beijava, acariciava, dizendo que não acreditasse naquilo.
Lembrava que sua avó Leontina dizia haver espíritos mentirosos que usavam as pessoas para enganar outras, e só podia ser isso que havia ocorrido com Hortência, pois ele a amava muito e jamais a deixaria.
Depois, ela era uma mulher saudável e logo encheria a casa de crianças.
Ao ouvir aquilo, Amanda se acalmava, mas durante a noite tinha pesadelos nos quais uma mulher jovem trajando um vestido das antigas sinhás de escravos ria muito e a acusava de coisas de que ela não se lembrava.
Dizia que Douglas era dela e que estava na hora de Amanda devolvê-lo.
O pesadelo terminava com a jovem transformando-se em uma criança, que na verdade era Hortência.
Com isso, a estadia na fazenda foi interrompida.
Amanda entrou em depressão e nada do que o marido fazia a agradava.
De repente o excesso de calma, os chiados dos pássaros, as noites mais escuras do lugar pareciam querer levá-la cada vez mais para o fundo do poço.
Em menos de uma semana voltaram.
Edionor e Estela, preocupados com o estado da filha, chamaram um especialista.
Amanda foi tratada e só com o passar dos meses foi que se recuperou.
Edionor, com ódio, pensava em procurar Lúcia e exigir que ela saísse da cidade, para evitar que sua filha e Amanda se encontrassem.
Por muita insistência de todos, até da própria filha, ele desistiu da ideia.
Mas tratou de pagar às pessoas desocupadas do lugar, aos moleques de rua para que chamassem Hortência de menina bruxa, apelido que, para desespero da mãe, acabou sendo acatado por todos.
A criança foi crescendo com esse estigma mesmo sem ter dito mais nenhuma premonição a ninguém.
Naquela tarde, Amanda estava muito nervosa esperando o marido voltar do hotel.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:56 pm

Não conseguia nem mais chorar, tinha de seguir o conselho de sua mãe e tentar ficar o mais calma possível para dar a notícia a Douglas.
Mas sentia que não conseguiria.
Ia do sofá à janela a cada três minutos.
Estela, que acompanhava seus movimentos, perguntou:
- Por que você não vai logo ao hotel e conta tudo para ele?
É melhor do que ficar nessa aflição.
- Não posso, mamãe.
Não quero tratar de um assunto tão grave e tão triste no local de trabalho dele.
- Também fiquei triste, mas há aquela solução, por que não pensa com carinho?
O rosto de Amanda se encheu de cólera.
- Nunca. Jamais farei uma coisa como esta.
Até papai discorda, não sei por que a senhora insiste nisso.
- É que não vejo diferença nenhuma e daria muita felicidade a vocês dois.
- Cale-se, nunca farei isso.
Se for preciso, irei para os Estados Unidos me tratar, papai paga tudo.
- Mas os médicos disseram que mesmo fora do país é uma tentativa com mínima chance de dar certo.
Com essa viagem, você só vai gastar tempo e dinheiro.
Amanda sentou-se no grande sofá e deu livre curso às lágrimas.
Porque isso estava acontecendo com ela? Porquê?
Estela sentia dó da filha, mas nada podia fazer, a não
ser aconselhá-la a agir com bom senso.
Infelizmente, Amanda saíra ao pai, era teimosa e orgulhosa.
Finalmente Douglas chegou e, ao entrar na sala, percebeu o clima estranho.
Amanda aproximou-se dele e começou a chorar.
Douglas já sabia o que ia ouvir, mas preferiu que ela contasse.
- É isso mesmo, meu amor, sou estéril, nunca vou poder engravidar.
Os médicos foram taxativos.
Que horror! Aquela menina bruxa estava certa, meu útero é seco!
Amanda chorava copiosamente abraçada a Douglas, que também chorava.
Seu maior sonho era ser pai.
As desconfianças de que havia algo errado começaram pouco depois do casamento.
Amanda não engravidava com o passar do tempo, mas os médicos diziam que era normal e um dia aconteceria.
Mas não aconteceu.
Então eles foram procurar um especialista em Belo Horizonte, que solicitou uma série de exames ao casal.
Segundo ele, o problema poderia estar também em Douglas.
Feitos os primeiros exames, constatou-se que ele estava bem, que podia ter filhos.
Naquele dia, Amanda fora buscar os resultados dos seus exames e conversar com doutor Bruno.
Assim recebera a notícia que no fundo já esperava.
Douglas a conduziu ao sofá tentando consolá-la.
- Não há motivos para ficar assim.
Eu a amo da mesma maneira e vou amá-la sempre.
Podemos adoptar muitas crianças, que encherão nossa casa de alegria e muito barulho.
Sei que você é generosa e vai aprender a amar essas crianças como se fossem seus próprios filhos.
Ela se desvencilhou dele abruptamente e, correndo para o quarto, disse:
- Nunca colocarei um enjeitado no colo e o chamarei de filho.
Quero um filho seu, só seu!
Douglas ia seguindo-a quando dona Estela o segurou pelo braço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:57 pm

- Não a deixe mais mimada do que já é.
Amanda precisa aprender a aceitar a verdade para poder amadurecer.
Deixa-a sozinha, ela vai chorar hoje, amanhã e ainda muitos dias, mas depois vai se render à realidade.
- Eu também fiquei triste, dona Estela, mas estou disposto a adoptar uma criança.
Se possível, podemos pegar um bebé de colo.
Vai ser nosso filho do mesmo jeito.
- Por enquanto, espere que ela passe essa fase de revolta, depois volte ao assunto.
Agora vá tomar seu banho que uma deliciosa sopa nos espera.
Douglas amava a sogra, que tinha por ele desvelos de mãe.
Durante o banho, começou a pensar na esterilidade de Amanda.
Sentiu um aperto estranho no peito e, de repente, lembrou-se de sua avó.
Era isso! Sua avó conhecia ervas e poderia fazer alguma coisa para que sua esposa engravidasse.
Amanhã mesmo, sem que Amanda soubesse, iria chamar Tereza para acompanhá-lo à casa de Leontina.
Com certeza, ela teria a solução.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:57 pm

10 - A SABEDORIA DOS SIMPLES
Passava das sete quando Douglas bateu à porta da casa da sua mãe.
Durante aqueles dois anos de casamento, sua vida mudara muito, mas seu amor por Tereza, sua dedicação e carinho por aquela que o gerou continuaram os mesmos.
Tereza estava temerosa, porquanto o filho penetrara no mundo dos ricos e para ela o dinheiro era mau e corrompia as pessoas.
Todavia, logo percebeu que seu filho era uma alma boa e nada daquilo o deslumbrara a ponto de mudar a forma de ser.
Como agradecia aos céus por tê-lo em sua vida.
Ao abrir a porta e dar de encontro com o filho, ela ficou nervosa.
- Algum problema?
O que houve para você estar aqui a essa hora da manhã?
Ele entrou, puxou-a para o sofá e disse:
- Não é nada sério, preciso que a senhora vá à casa de vó Leontina comigo.
- O que deseja lá?
- O resultado dos exames confirmou que Amanda é estéril, não pode engravidar.
Desde ontem está apática, depressiva, sem querer sair do quarto.
Temo que mais uma vez adoeça.
Amanda é muito sensível e não merecia um golpe desses.
Eu também não merecia, afinal meu maior sonho sempre foi ser pai.
Tereza ia dizer que Amanda não era sensível coisa alguma.
Era manipuladora, chantagista, mimada, acostumada a ter tudo o que sempre quis com a maior facilidade e, por isso, entrava em depressão.
Para Tereza, uma mulher experiente, era fácil enxergar aquilo, mas seu filho era muito jovem, além de estar apaixonado.
Ela olhou fixamente para ele enquanto disse:
- Sei que seu maior sonho é ser pai, e o meu é de ser avó.
Sempre sonhei com nossa família se perpetuando, mas a vida nem sempre faz as coisas como queremos, é preciso aceitar o que não se pode mudar.
Porque não adoptam uma criança?
- Amanda não quer nem ouvir falar.
Disse que jamais chamaria de filho uma criança adoptada.
- Então conforme-se.
Você nunca vai ser pai.
Não sei em que sua avó pode ajudar.
- Mãe, ela entende de ervas.
As pessoas costumam dizer que não há mal que vó Leontina não cure.
Quero procurá-la para que possa fazer uma poção, uma garrafada, algo do tipo que faça com que Amanda recupere a fertilidade.
Sei que a vó pode fazer isso, ela fala com os mortos, tem poder.
Tereza ia argumentar contra, mas sabia que o filho era teimoso, quando queria algo ia até o fim.
Depois, ele tinha o direito de tentar outra possibilidade.
Por fim, disse:
- Não é necessário que eu vá, você sabe muito bem o caminho.
Daqui a pouco o Horácio chega com os baldes de leite e minha freguesia aumentou, não posso deixá-los.
- Mãe, a senhora não entendeu.
Quero-a por perto para me dar forças, para ajudar a conversar com a vó.
Preciso de alguém ao meu lado.
Douglas estava fragilizado, e Tereza sentiu pena.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:57 pm

- Tudo bem. Esperemos o Horácio chegar e eu peço que ele distribua o leite hoje.
Enquanto isso, vou tomar meu desjejum.
Você me acompanha?
Faz tempo que não toma café com a mamãe.
Douglas sorriu.
Só em estar perto da mãe tudo mudava.
Aquela casa simples, com poucos adornos, tão diferente da mansão de Edionor, cheia de tapeçarias, lustres e bibelôs, causava-lhe imenso bem-estar.
Apenas em entrar já se sentia aliviado de algo que nem ele mesmo sabia explicar.
O que Douglas desconhecia é que cada ambiente possui a atmosfera psíquica das pessoas que vivem nele.
Os locais onde os encarnados são vigilantes no pensamento, optimistas, cultivam a espiritualidade, evitam a maledicência, mantêm a limpeza física e uma arrumação caprichada atraem espíritos iluminados, amigos do astral que tornam o clima do lugar contagiante, agradável, saturado de fluidos benéficos, de forma que quem chega não quer mais sair.
O contrário ocorre nos ambientes onde as pessoas cultivam vícios, são pessimistas, praticam o mal, não acreditam na fonte da Vida.
Para esses locais são atraídos espíritos inferiores, principalmente os que circulam pela crosta terrestre, onde fazem moradia, complicando a situação dos seus moradores.
Dessa forma aparecem os problemas de saúde, financeiros, brigas constantes, irritação, desânimo, depressão.
É preciso estar atento e lembrar sempre a frase de Jesus:
"Orai e Vigiai".
Tereza era uma mulher que vivia com pouco dinheiro, mas era alegre, estava sempre sorrindo, falando só em coisas boas.
Saía para dançar todos os sábados e voltava quando o dia estava clareando, mas nunca ingeria bebidas alcoólicas ou praticava o sexo irresponsável.
Fazia da dança sua terapia, tinha seus parceiros para isso, mas não lhes dava muita intimidade.
Depois de viúva, contentava-se com a vida que levava e não mais sentia falta do amor.
Apesar de seus defeitos, de ainda cultivar alguns rancores do passado, aprendeu a orar por aqueles que a prejudicaram, e isso lhe dava grande bem-estar.
Douglas não resistiu ao cheiro do café da mãe e acabou comendo muito, afinal saíra tão ansioso que nada ingerira.
Disse a Amanda que ia tentar uma solução para o problema que estavam atravessando e, por mais que ela insistisse, ele não disse do que se tratava.
Sabia que a mulher não iria compreender.
Assim que terminaram a refeição e após Horácio chegar, ambos partiram para o sítio.
Fazia mais de dois anos que Douglas estivera lá, quando fugira.
Apesar de sentir muitas saudades da avó, dos seus conselhos, da sua sabedoria e lucidez, ele nunca mais pudera voltar.
Sua vida mudara muito.
A convivência com o sogro, a administração do hotel, os caprichos de Amanda, que vez por outra entrava em depressão, tomavam todo o seu tempo.
Durante o caminho foi conversando amenidades com a mãe até que finalmente chegaram.
A paisagem estava linda, tudo muito verde, os animais à vontade, o cheiro do orvalho, só por isso já valeria a viagem.
Viram que havia um táxi parado em frente ao portão de madeira, mas não estranharam.
Era comum pessoas procurarem vó Leontina e, com o tempo, essa procura só tinha feito aumentar, agora vinham até de cidades mais distantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:57 pm

Entraram sob os latidos do cachorro, que veio fazer festa, e logo Aninha os recebeu.
Douglas percebeu que ela tinha crescido muito, já era quase uma mulher, mas o jeito simples e simpático continuava.
- Vó Leontina vai ficar muito feliz em ver vocês dois.
Ela sempre se queixa que não vem vê-la, que o neto predilecto dela a abandonou depois que se casou com a moça rica.
- Ela sabe que continuo amando-a como sempre e, se fala mesmo com os mortos, sabe também quais os motivos da minha falta de visitas.
Sei que ela também me ama e, se a conheço bem, não está chateada de forma alguma.
Aninha sorriu.
- Conhece mesmo a vó, né?
Ela se queixa um pouco, mas logo diz que tudo está sempre certo e volta à alegria de sempre.
Aninha percebeu que ambos estavam de pé e apressou-se.
- Que bobeira a minha, fiquei conversando e nem os chamei a sentar.
Querem café?
Acabei de passar.
- Queremos mesmo é falar com a vó, mas, pelo visto, tem gente aí.
Tenho de esperar.
- Tem sim. Ela está atendendo uma professora que veio lá da cidade e trouxe a filha.
Parece que a menina tem problemas.
- Vamos esperar, enquanto isso podemos ver a plantação de ervas.
- Este ano está tudo mais bonito, a chuva não tem faltado, nossa vida facilitou em demasia.
Tereza olhou curiosa para Aninha.
- E você não está já com algum namoradinho?
A moça corou.
- Gosto de um moço de Pedra Bonita, mas nada certo ainda.
- Uma moça como você não pode se entregar a qualquer um.
É prendada, educada, bonita.
Cuidado, há muitos aproveitadores por aí.
- Não precisa se preocupar, dona Tereza, sei me cuidar muito bem e também não tenho pressa.
Como a vó me ensina, o que é meu está guardado e na hora certa vai aparecer.
Se não for esse moço aí da cidade vizinha, será outro.
Tereza gostou de ver a segurança da moça e, juntos, foram ver a plantação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:57 pm

11 - ESTRANHO SENTIMENTO
No quarto onde Leontina reservara para consultas, Lúcia estava muito nervosa:
- Sei que a senhora é poderosa e pode tirar isso dela.
Sinto que o que chamam de mediunidade vai estragar a vida da minha filha.
Ouvi dizer que a senhora fala com os espíritos e, se eles realmente existem, quero que peça para tirar esse dom que ela tem.
Hortência nasceu para se formar, ter nível superior, casar com um homem rico que a mereça, não para ficar metida em centro espírita ou fazendo programa de rádio prevendo coisas.
Quando penso nisso chego a sentir náuseas.
Hortência, ao lado, não compreendia muito bem a situação, nem o que sua mãe queria ao certo.
Já estava com nove anos e não entendia o porquê de tamanha preocupação.
Achava natural saber as coisas antes que elas acontecessem e até mesmo divertido.
De repente, conversando com as pessoas, ela dizia coisas que iam acontecer com elas e logo mais o facto se dava.
O problema era que previa com precisão as mortes de pessoas conhecidas, e era com isso que sua mãe mais se horrorizava.
Diva dizia que era maravilhoso, trazia livros para Lúcia ler, mas ela não queria aceitar.
Leontina olhou profundamente nos olhos daquela mãe e sentiu compaixão.
- O que a senhora me pede nem eu, nem ninguém poderá fazer.
Se o motivo da consulta é esse, pode voltar, e ore muito para entender a situação.
Lúcia torcia as mãos com raiva.
- Como não?
Outro dia me contaram que a senhora afastou um encosto de uma criança com uma simples oração.
Se fez isso, pode, sim, tirar essa coisa que minha filha tem.
- Afastar um espírito mal-intencionado com o poder da prece qualquer pessoa pode fazer, desde que tenha fé.
Não sou privilegiada.
Mas a mediunidade é um potencial natural de todo ser humano e vai se desenvolver fatalmente em determinado
momento de sua evolução.
Ser médium é ser um canal de luz entre as inteligências invisíveis e o homem.
A senhora deveria agradecer.
- Pois não agradeço nada.
Qual homem da sociedade vai querer desposar uma mulher que anda vendo o futuro?
- Sua filha tem essa faculdade porque necessitava dela para evoluir mais rápido.
Quem tem o dom da premonição, seja anímico ou mediúnico, é um instrumento que Deus usa para aliviar as dores do mundo.
Olhando para a menina, ela continuou:
- Sempre que você ver alguma coisa, seja ela boa ou ruim, não conte para a pessoa, tá?
Deus faz você enxergar isso para poder vibrar pelos envolvidos, rezar por eles.
Toda vez que sentir, faça uma oração para a pessoa e entregue nas mãos de Deus.
Hortência era criança ainda, mas compreendeu o que aquela senhora lhe disse, uma vez que Diva sempre lhe falava a mesma coisa.
Olhando para a mãe, ela respondeu num fio de voz:
- Vou fazer sim, vó!
Lúcia interrompeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:58 pm

- Já vi que minha vinda aqui foi infrutífera.
Perdi meu tempo.
Vou procurar outras casas mais competentes.
Vou-me embora.
Antes que ela saísse, Leontina a impediu.
- Gostaria que soubesse que de nada vai adiantar sua ida a esses lugares.
Vão lhe cobrar caro e tudo continuará como sempre.
A senhora precisa ser mais humana, aprender a aceitar as determinações divinas, vejo que vai passar por uma situação que vai exigir todo o seu amor de mãe.
Você teve Hortência para treinar o amor incondicional.
Ela não vai ser nada do que a senhora sonha, mas vai ser o que ela é, um espírito cheio de amor para dar.
Se quando chegar a hora a senhora não entender, vai sofrer e fazer sofrer.
Lúcia arrepiou-se, sentiu uma tontura e voltou a se sentar.
De repente, sentiu que as palavras daquela mulher eram verdadeiras.
Notava que Hortência tinha algo diferente, não sabia o que era, mas sua intuição de mãe dizia que ainda ia ter muito trabalho com ela.
- Pelo amor de Deus, diga-me o que a senhora está vendo.
- Não estou vendo nada, mas um amigo espiritual pede para que se torne mais compreensiva e nunca exija dos outros aquilo que eles não podem dar.
Você sofreu tudo aquilo justamente por ter esse ponto fraco, e a vida ainda vai mandar outros desafios.
- O que minha filha vai fazer?
- Não sei. Mas é bom lembrar que a senhora só deu o corpo a ela.
O espírito de Hortência já é antigo e precisa vivenciar certas experiências que serão inevitáveis.
É comum os pais se debruçarem sobre o berço de seus pequeninos tecendo os maiores sonhos para eles.
Grande erro.
Os pais, antes de sonhar, devem conhecer os filhos, saber o que eles querem e o que vieram realizar na Terra, só assim poderão amá-los de verdade.
- Estou assustada.
O que posso fazer?
- Confiar em Deus.
Não cai uma folha da árvore sem que ele permita.
Agora vá, minha filha, e procure ser feliz.
Sinto que está muito amarga.
A vida sem felicidade não vale a pena.
Quando vivemos infelizes, há um vazio no peito, uma insatisfação que nada preenche.
Dentro em pouco podemos até adoecer.
Procure esquecer o passado, Lúcia, perdoe para que possa encontrar a paz.
Lúcia começou a chorar sem saber o porquê.
Quando saiu da sala simples, ainda com as lágrimas descendo sobre seu rosto, encontrou Tereza e ambas se abraçaram.
A amiga não perguntou a causa do choro, apenas tentou confortá-la com um abraço.
Enquanto isso, Douglas surpreendeu-se ao encontrar Hortência ali.
Nunca poderia imaginar que fosse encontrá-la na casa de sua vó.
Ela não o abraçara, como fazia sempre que o via.
Havia crescido e estava mais envergonhada.
No entanto, Douglas começou a fitá-la e seus olhos se cruzaram.
O coração dele acelerou e seu rosto ficou vermelho.
De repente, estava atraído pela menina.
Nem se lembrou que ela previra que Amanda era estéril.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 06, 2017 8:58 pm

Tentou livrar-se daquele pensamento nefasto, mas não conseguiu.
Quanto mais olhava para ela, mais a atracção aumentava.
Lúcia o abraçou com afectividade, o que finalmente o tirou daquele transe.
Quando as duas se despediram e ele entrou na salinha para falar com a avó, já estava mais refeito.
Leontina o abraçou e o beijou muito.
- Como estava com saudades!
E você, Tereza, quanto tempo!
- É a vida. Nem sempre podemos fazer tudo o que queremos.
Se eu pudesse deixava tudo lá e vinha morar com a senhora aqui, onde tudo é paz e harmonia.
- Sei o que quer dizer.
Seu lugar é lá, sim, precisa estar de olho nesse garoto.
- Sei disso.
Douglas cresceu apenas por fora, mas continua o mesmo ingénuo de sempre, não sabe dos perigos da vida, confia em todo mundo.
- É que a alma dele é muito boa.
Tudo o que vai fazer não será de má intenção.
Deus vai perdoá-lo.
Foi a vez de Douglas indagar:
- O que farei?
Agora estou muito curioso.
Leontina riu e respondeu:
- Deixa para lá, para que antecipar o futuro?
Além do mais, são coisas de uma preta velha aqui, não é preciso se preocupar.
E, afinal, o que desejam aqui?
- Vó, não nego que vim para resolver um problema e não propriamente para vê-la.
Minha mulher não pode ter filhos.
Fizemos todos os exames, comigo tudo está normal, mas Amanda é estéril e os médicos garantem que mesmo fora do país ela não conseguirá recursos para engravidar.
Nosso maior sonho é ter um filho, eu mais ainda.
Sempre me imaginei sendo pai.
Estou triste, pensei em adoptar uma criança, mas ela não quer.
Vim para ver se a senhora pode fazer um remédio com ervas que desenvolva a fertilidade em Amanda.
Leontina meditou alguns instantes e disse:
- Existem certas ervas que podem ajudar, mas no caso de Amanda nada vai resolver.
Douglas gelou.
- Sua mulher precisa aprender que o amor não vem do corpo, e sim do espírito.
Por isso nasceu com esse problema.
A vida faz a esterilidade tanto quanto a orfandade para que as pessoas aprendam o prazer de se doar, de perceber que o amor não tem limites nem está no sangue.
Amanda prometeu adoptar crianças e exercer o amor de mãe, mesmo sem gerar um filho em suas entranhas.
Só assim vai vencer o egoísmo e o orgulho.
Se você quer curar sua mulher, cure a alma, pois o corpo não tem jeito.
- Como a senhora pode saber tudo isso, vó?
- Você sabe que tenho amigos do astral que me auxiliam, e eles estão dizendo que você ainda vai ser pai.
Há um espírito que lhe é muito ligado e vai voltar ao seu convívio.
- Quer dizer que Amanda vai concordar em adoptar?
Os olhos de Leontina brilharam enigmáticos.
- Os caminhos da vida são insondáveis.
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Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: Sem medo de amar - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 07, 2017 8:58 pm

Lembre-se de que Deus sempre faz tudo certo e coloca tudo sempre no lugar devido.
Quando pensamos que as coisas estão erradas, estamos vendo com os olhos da matéria.
Só com os olhos do espírito é que percebemos como a vida é sábia e justa.
Não posso afirmar se Amanda vai querer adoptar, mas quando menos esperar seu desejo de paternidade será alcançado.
Douglas e Tereza estavam emocionados, mesmo sem entender o que a vó quis dizer.
Não encontraram o que procuravam, mas só a esperança de ter uma criança no futuro já os deixou muito felizes.
Leontina deu por encerrada a consulta e foram tomar chá conversando sobre os vários segredos da vida.
Horas mais tarde, quando foram embora, estavam impregnados de fluidos de paz.
No entanto, Douglas não conseguia se perdoar pela atracção sentida e pretendia ocultar aquilo de si mesmo o mais que pudesse.
Não fora atracção física, mas naquele momento olhou aquela pequena criança como mulher e o pior:
como sua mulher.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 07, 2017 9:01 pm

12 - E OS ANOS PASSAM...
Hortência, coração aos saltos, olhava admirada a fachada do Grande Hotel.
Finalmente iria poder realizar seu sonho de estar mais perto de quem passou a amar com todas as forças de seu coração.
Aquele dia seria o primeiro de seu trabalho como recepcionista ali, e não conseguia conter a ansiedade, suas pernas tremiam, suas mãos estavam geladas.
Resolveu sentar num banco próximo e se recompor antes de entrar, afinal ainda faltava meia hora.
Descobriu-se apaixonada por Douglas desde os catorze anos, e sabia que era retribuída.
Sentia, ao olhar para ele, que toda a sua vida e seu destino estavam intimamente ligados àquele amor.
Mas, mesmo estando já com 20 anos, nada ocorrera entre os dois, além de olhares.
O tempo foi passando e suas premonições foram se espaçando, raramente as tinha.
Ingressara na faculdade de Letras, como era o sonho de sua mãe, e procurava ser uma adolescente normal, tinha amigas, saía para festas, envolvia-se com alguns rapazes.
Mas não passava de relacionamentos superficiais.
Sabia que seu amor era Douglas, e só a ele se entregaria.
Diva, que era espírita e também praticamente sua segunda mãe, sabia de seus sentimentos e lhe dizia:
- Se é amor, procure guardá-lo no fundo de seu coração e vá tentar gostar de outra pessoa e ser feliz com ela.
Douglas é casado, e não é bom para nosso espírito um envolvimento com uma pessoa comprometida.
Você é jovem e, se cometer esse erro, vai se arrepender muito no futuro.
Por outro lado, ele tem deveres com a mulher, deve respeitá-la.
Há muitos jovens de sua idade, lindos, estudiosos que dariam tudo para tê-la como namorada.
Além do mais, se sua mãe souber vai ser um horror, nem sei o que te pode acontecer.
Ela questionava:
- Eu sei que você me diz isso porque é espírita, mas, pelo que sei, essa filosofia não condena o divórcio.
E se ele se separar?
- Claro que não condena, o divórcio só veio ajudar a Lei de Deus e só separa aquilo que já está de facto separado.
Mas o que vejo é que você não quer saber se ele vai se separar ou não.
Quer ter um relacionamento mesmo ele sendo casado.
Isso nunca dá certo.
O que começa errado, só termina errado.
Amanda é uma mulher orgulhosa e prepotente, se descobrir esse seu sentimento pode lhe fazer mal.
- Ah, Diva, ninguém é de ninguém.
Ela não é dona dele.
- Sei disso.
Mas enquanto estivermos com alguém devemos respeitar essa pessoa e não traí-la.
Se você se insinuar mais, acabarão tendo um romance, e você também será responsável diante da lei por causa disso.
Se ele se separar é diferente, estará livre para você, mas também não devemos querer que casais se separem.
Siga sua vida e entregue o resto nas mãos do destino.
Naquele momento, Hortência lembrou-se dessas conversas que tinha com a prima, mas a excitação por trabalhar próximo a ele foi mais forte, e ela faria de tudo para que se relacionassem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 07, 2017 9:01 pm

Afinal, não era espírita nem seguia nenhuma religião.
Se Deus existisse, que a perdoasse, mas ela o amava mais que tudo.
Arrumou melhor os cabelos e entrou.
Passou pela recepção e foi para a sala de Douglas.
Com um sinal, ele fez com que ela entrasse e sentasse para conversar.
Era notória a atracção que sentiam um pelo outro.
Douglas já a sentia havia muitos anos.
Ao passo que a menina foi crescendo e a atracção foi aumentando, e, de repente, ele também descobriu que a amava.
Quando Lúcia foi procurá-lo pedindo emprego para a filha, ele não pensou duas vezes, demitiu uma das recepcionistas e a colocou no lugar.
No entanto, mesmo com toda a atracção, ele não se sentia com coragem para trair a mulher.
Naqueles anos todos, sua relação com o sogro melhorou consideravelmente.
O hotel prosperou, Edionor passou a confiar muito no genro, dividia com ele todos os seus problemas financeiros e ouvia seus conselhos sempre oportunos e viáveis.
Com o tempo, Douglas foi se tornando mais homem, mais decidido, mais seguro de si.
Só não conseguia dominar o sentimento por Hortência.
Pensou que trabalhando com ela poderia vê-la mais vezes e mais de perto.
Já que não podia tê-la como amante, pelo menos que fosse como amiga.
- Sente-se, Hortência.
Quero que seja bem-vinda aqui.
Sua mãe me procurou dizendo que você tem gastado muito com os estudos e gostaria de trabalhar para ajudar com as despesas.
Noto que é esforçada, por isso lhe dei a chance.
- Eu agradeço e prometo não decepcionar.
Sei que não tenho experiência, é meu primeiro emprego, mas sou boa observadora, em pouco tempo saberei fazer tudo.
- Você não precisa aprender nada.
Com sua beleza, sua simpatia, seu sorriso, posso considerar a melhor recepcionista que já conheci.
Ela corou.
Sentia que ele a amava também.
- Agradeço os elogios, agora pretendo começar.
- Ah sim, vamos lá.
Ambos saíram e Douglas apresentou Hortência a Mónica, outra recepcionista.
Nesse momento, Amanda chegou.
Notava-se que o tempo a havia transformado.
Estava mais vaidosa, arrumava-se com apuro e na última moda.
Ia sempre à capital fazer compras e demorava dias, sempre ao lado de sua inseparável amiga Rose.
Ao perceber as apresentações, Amanda ficou furiosa:
- Como é que é? Será que eu ouvi bem? Essa bruxa vai trabalhar aqui com você?
- Controle-se, Amanda.
A mãe dela pediu, a moça é esforçada e quer trabalhar.
Não há nenhum problema.
- Não gosto dela.
Já percebi que o olha de forma diferente e nunca vou esquecer que foi ela quem disse que eu nunca ia engravidar.
Deve continuar bruxa como sempre.
Dizem que a mãe tem o maior desgosto.
Hortência sentia pavor de Amanda e estava quieta, sem articular palavra.
Douglas tentava conter o temperamento da mulher.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 07, 2017 9:01 pm

- Isso faz muito tempo, não tem mais nenhum sentido agora.
- Sim, foi há 13 anos, mas está muito vivo em minha memória.
Quero que a afaste daqui, exijo isso.
- Não posso e tente entender.
Prometi e preciso cumprir.
Ela fica.
Amanda estava colérica.
- Você me desautoriza na frente dessa zinha?
Douglas pegou a mulher pelo braço e voltou ao escritório.
- Amanda, você precisa se controlar.
Não há nada de mau em Hortência trabalhar aqui.
O que ela pode fazer contra mim ou a você?
- Não sei...
Não gosto da forma como ela o olha, e além do mais não gosto dela.
- Mas sou homem de palavra.
Não posso voltar atrás.
Amanda suspirou.
Sabia que o marido sempre honrava a palavra dada.
- Tudo bem, mas estarei de olho.
Se essa sirigaita se atrever a tentar seduzi-lo, pagará caro.
- Ela não vai fazer isso e, mesmo que faça, quero que saiba que nunca a trairei.
Sabe o quanto a amo.
- Eu sei. Mas é que eu não gosto dessa Hortência.
Ela me dá arrepios.
Nem vou poder mais vir aqui à vontade.
Temo que a qualquer hora ela olhe para mim e diga que vou morrer.
- Deixe de bobagem, nunca mais ouviu-se dizer que ela tenha tido premonições.
- Você é que pensa! Dizem que ela continua tendo previsões, mas a mãe proíbe que ela fale por aí.
De qualquer forma, não simpatizo com essa moça desde que ela era pequena.
Farei de tudo para vê-la longe daqui.
- Não se intrometa em meus negócios.
Os meus funcionários estão sob minha responsabilidade e não vou permitir que faça nada com Hortência.
- Esqueceu que esse hotel também é meu?
Aliás, ele é só meu, afinal, foi com o dinheiro de meu pai que ele foi comprado.
- Dinheiro esse que estou juntando e já pagando.
Agora volte para casa antes que eu me irrite ainda mais com você.
Nossa vida não está sendo muito harmoniosa nos últimos tempos e não desejo que piore.
Amanda sentiu que exagerou.
Não deveria ter dito que o hotel era do pai, ela sabia que Douglas se sentia humilhado.
- Desculpe, meu bem.
Passei aqui como sempre para vê-lo, mas ter encontrado com essa mulher me descontrolou.
Você me perdoa?
- Tudo bem, Amanda.
Agora vá, que eu preciso trabalhar.
Amanda segurou seu queixo e o beijou, saindo em seguida.
Ao passar pela recepção, fingiu não ver Hortência nem Mónica.
Não iria perder seu tempo com aquelas duas.
Hortência sentia-se aliviada.
A presença daquela mulher lhe causava arrepios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 07, 2017 9:01 pm

Tinha de concordar que Amanda era muito bonita e arrumada, mas não tinha nenhuma educação nem simpatia.
Apesar do medo que sentia, não iria deixar de traçar um plano para se aproximar mais de Douglas e relacionar-se com ele.
Passou o resto do dia conversando com Mónica, tentando aprender como se fazia aquele trabalho.
Logo percebeu que era tudo muito simples.
Combinou com Douglas que deixaria o serviço às cinco da tarde, pois à noite ela estudava.
O que Hortência não sabia era que o destino estava sendo traçado por suas próprias escolhas.
Por não saber esperar o momento ideal, ela estava desencadeando forças negativas.
Não agia com o intuito de sensualidade, mas de amor, o que lhe iria atenuar muito as consequências, mas ainda assim não deixaria de senti-las para aprender o sagrado dever de respeitar uma união.
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