LUZ ESPÍRITA
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 3 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:38 pm

Conduzimo-la ao corpo físico, a fim de permitir-lhe recuperar-se das intensas emoções vividas e pudesse guardar reminiscências claras dos momentos vividos.
Despertando, plangia entre comovidos soluços, sentindo ainda a presença do filho no colo e a figura do pai querido, reais e vividos na memória. Após breve intervalo em que lhe permitimos sedimentar os ensinamentos recebidos, induzimos-lhe novo sono reparador, a fim de encerrarmos a tarefa. Fausto, por meio de delicadas operações magnéticas, fixava Alberto, miniaturizado em encistamento perispiritual, na cavidade uterina de nossa amiga, onde permaneceria, ambientando-se nas energias maternas, à espera do primeiro óvulo fecundado em processo de nidação48.
— Terminamos por ora nossa tarefa, amigos, podemos partir — disse Heitor. — Agradeçamos a Jesus a proveitosa noite de trabalho. Temos a esperança de que nossa irmã encontre a sua redenção, mediante o processo doloroso que a espera. Sabemos o quanto lhe custará, não somente mudar de vida, mas ainda viver a frustração do filho que não virá. Estejamos, no entanto, felizes, confiantes e cientes de que a sabedoria da vida opera o espírito através da dor, alavanca indispensável ao nosso progresso, rumo à angelitude.
— E quanto ao pai, não precisamos de sua anuência no processo? — interrogou Adelaide.
— O pai será apenas o portador dos recursos biológicos para o processo reencarnatório e não lhe solicitaremos responsabilidades de que sabidamente não poderá, em absoluto, dispor. Uma prostituta grávida dificilmente terá o reconhecimento da paternidade no mundo de nossos dias, minha amiga. Não nos iludamos. As sábias leis da vida, no entanto, registarão o dolo e o cobrarão de seu protagonista no momento devido, estejamos cientes disso — respondeu Heitor com
— Tampouco precisaremos estar presentes para a eleição da carga genética mais conveniente ao nosso amigo em trânsito na carne? — insistia Adelaide com o fito de se educar na ciência da assistência espiritual.
— Neste caso, o processo irá decorrer de suas próprias leis de atracção, pois nosso Alberto não precisará contar com um organismo aprimorado para dar cumprimento às finalidades de sua reencarnação. Não pelo fato de estarmos diante de um suicida que, por isso, desmereça maiores cuidados, mas porque sabemos que será impossível impedir que estampe nas células embrionárias as malformações oriundas da auto-destrutividade alimentada, tornando-as inviáveis. Infelizmente foi o que semeou o nosso amigo, e será o que irá colher — esclareceu Heitor, prestimoso, para o aprendizado de minha pupila.
Acalmando as ansiedades da irmã, anuí:
— Não se preocupe, acompanharemos de perto a incursão de Alberto na carne, permitindo-lhe a observação mais acurada do processo.
Heitor proferiu sentida prece, encerrando os nossos trabalhos no momento.
Solicitando licença para nos deixar, retirou-se, carregando nos braços Catherine, adormecida em espírito, a fim de propiciar-lhe breve passeio em regiões espirituais mais elevadas, afagando-lhe a alma dorida e fatigada das agruras terrenas.

45 Termo que na Grécia antiga designava a mulher dissoluta, sendo empregado comummente para caracterizar uma prostituta elegante e distinta.
46 Ato de servir como mediador à libidinagem alheia, favorecer a prostituição, manter prostíbulos ou ter lugar destinado a fins libidinosos.
47 Mateus 17:17
48 O processo de fixação do óvulo fecundado no útero.
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10 - A Bênção do Recomeço
“Não te admires de eu te haver dito: necessário vos é nascer de novo. ” Jesus - João, 3:7

Nosso serviço assistencial se intensificou com o recolhimento de Alberto no vaso físico e passamos a visitá-lo frequentemente, procurando sustentá-lo e esforçando-nos, como podíamos, para auxiliar a desventurada amiga que o recebera. Através do Departamento de Embrioterapia, estabeleceu-se um canal de comunicação permanente entre o nosso plano e a casa de Catherine, facilitando-nos o trânsito quase diário.
Nos primeiros dias nossa tarefa objectivou a limpeza do aparelho reprodutor da nossa irmã, preparando-a da melhor maneira possível, para o bom andamento do processo gestacional a que se submeteria, em breve. Era lastimável observar-lhe a precária situação orgânica, devido à prática abusiva do sexo mundano. Energias aviltantes lhe habitavam os delicados órgãos genésicos, inundando-os de emanações pestilentas. Demandamos vários dias em paciente trabalho de varredura dos maléficos eflúvios, concreções semi-carnais tão densas que podíamos quase tocá-las. Identificávamos, a cada camada de limpeza, variados bacilos patogénicos, imantados de modo ameaçador aos seus tecidos, aguardando a melhor oportunidade para eclodirem na forma das diversas doenças venéreas descritas pela medicina terrena.
— Os estudiosos do mundo acreditam que estes sejam os agentes das enfermidades infecciosas — considerava, — porém justo é observarmos que a presença deles se deva à atracção de natureza vibratória em perfeita ressonância com as energias deterioradas, geradas e absorvidas pela nossa irmã, das quais se alimentam. Na verdade, não somente aí, mas em qualquer departamento da economia orgânica, todo processo infeccioso guarda raízes na esfera espiritual do homem.
Em meio a vibriões, bacilos e vírus diversos, notávamos que havia um grande predomínio dos espiroquetas sifilíticos.
— Estão perfeitamente ambientados em seu mundo energético — mostrava à Adelaide, assustadiça. — A qualquer momento nossa irmã iria irromper-se em um quadro de Mal de Lues49 de graves proporções. Vemos como a Providência Divina actuou em seu favor, devido à sua anuência no auxílio a Alberto. Quem ajuda é ajudado, assim é da Lei. Naturalmente que aqui se alojam em decorrência do ambiente vibracional que os atrai. Não podemos deixar de compreender que todo contágio somente se estabelece mediante um convite ao agente infeccioso, coadjuvante da enfermidade, Adelaide. Tratemos de evacuar a carga vibratória que os sustenta, como nos é possível, diminuindo-lhes o potencial patogénico.
Não podíamos, no entanto, simplesmente fazer evadir essas emanações deletérias da intimidade orgânica de nossa amiga, por estarem a ela imantadas por laços de natureza perispiritual, que somente poderiam ser definitivamente rompidos mediante a mudança de seu padrão vibratório. Era-nos possível somente deslocá-las dos tecidos mais internos, carreando- as para o canal vaginal onde se acumulavam em grande quantidade.
— As células mucosas da vagina, infatigáveis trabalhadoras, irão iniciar a produção de abundante secreção, carreando estas impurezas energéticas para o exterior — dizia à Adelaide, ainda intimidada. — Nossa irmã irá padecer os incómodos de incoercível corrimento, perturbando-lhe o bem-estar por muitos dias.
Será, no entanto, recurso defensivo importante para a manutenção de seu equilíbrio. A medicina terrena ainda não se deu conta disso e trata de inibir, com insistência, essas importunas leucorréias50, dificultando muitas vezes o trabalho de drenagem dos miasmas pestilentos.
Catherine de fato, em breve se submetia ao tratamento de duchas vaginais, devido ao fenómeno que prevíramos. Um dia os médicos compreenderão que tais enfermidades desempenham tarefas no organismo, deixando de vê-las como meras e injustificáveis casualidades do mundo celular que devem ser detidas a todo custo.
Segundo recomendação médica, diante da providencial enfermidade, a amiga detivera suas actividades sexuais, propiciando-nos benfazejo período de trabalhos assistenciais. Alberto se acomodava cada dia mais em seu organismo e seu perispírito se reduzia a dimensões unicelulares.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:39 pm

Adelaide, admirando-se do facto, considerou:
— Vemos que Alberto se retrai a cada dia que passa. Não era isso o que queríamos a todo custo evitar?
— Não se assuste, minha amiga, o processo de miniaturização perispiritual apenas prosseguiu o seu ritmo e está finalmente chegando ao fim. Aqui ele encontrou o seu ambiente natural e em breve o útero desempenhará a sua função, actuando como um reflector para as energias psicossomáticas condensadas ao máximo, fazendo-as explodirem em nova e vertiginosa reconstituição orgânica.
Observe atentamente a nova forma de seu perispírito. Assemelha-se a um funil, uma verdadeira formação vorticosa, cujo vértice termina na dimensão unicelular.
Este ponto tocará o óvulo fecundado, envolvendo-o e aspirando-o qual fole poderoso, estimulando-lhe a surpreendente construção orgânica, cujo crescimento febril supera o ritmo de todas as formas vivas existentes. Estamos diante do mesmo processo que condensa a futura árvore em uma semente, para depois, encontrando ela o ambiente adequado ao seu desenvolvimento no seio da terra, explodir no inopinado crescimento. O meio uterino é, para o espírito, qual o solo fecundo que recebe e nutre a semente com os recursos necessários à sua restituição. Eis a maravilha do renascimento, que funciona sob o império das forças de condensação e expansão do perispírito. A contracção máxima, como a vemos, era já esperada porque Alberto se defrontou com o meio adequado para isso, e a executou convenientemente. Se, no entanto, ele não tivesse sido acomodado no seio uterino, aí sim, o processo lhe seria drástico, pois terminaria, como já vimos, na ovoidização. A expansão será deflagrada no instante em que Alberto identificar a presença do substrato masculino, necessário ao seu desenvolvimento. No entanto, é conveniente que esse momento seja um pouco adiado, a fim de prepararmos da melhor forma possível o ambiente orgânico de Catherine.
Notávamos em breve que a aura de Alberto lançava laços fluídicos em direcção a um dos ovários de Catherine, abraçando-o com sofreguidão.
— Embora tenha participado por incontáveis vezes de momentos como este, não me canso de extasiar-me diante da maravilha do processo reprodutivo — comentava, admirado, com Adelaide. — Alberto cuida, instintivamente, de amadurecer o óvulo mais adequado às suas necessidades neoformativas. Sem o sabermos, trazemos na memória espiritual minuciosos conhecimentos de genética e podemos seleccionar, de modo automático, a carga hereditária que mais nos convém ao renascimento.
Aprendemos isso ao longo das infindáveis experiências reencarnatórias de que já participamos.
— Caso Catherine venha a se valer de métodos contraceptivos, como iremos socorrer nosso amigo, com seu envoltório perispiritual completamente contraído e inadequado para se sustentar no mundo espiritual? — interrogou, preocupada, Adelaide.
— As forças envolvidas no processo reprodutivo, colocadas em funcionamento de forma instintiva e inconsciente pelo reencarnante, são muito mais poderosas do que podemos imaginar. Funcionam de forma vitoriosa há incomensuráveis milénios e são capazes de façanhas inimagináveis, superando muitos obstáculos que se lhes anteponham. Podem apressar o amadurecimento do óvulo e interferir no ritmo hormonal feminino. São capazes ainda de suscitarem os desejos humanos, fazendo- os meros joguetes das energias sexuais, movimentadas segundo as suas intenções ocultas. Se pudéssemos ver o reino invisível das ondas onde se operam essas maravilhas, ficaríamos admirados ao reconhecer seus dilatados tentáculos, dirigidos com precisão pelo espírito e sua vontade. A bem da verdade, no entanto, temos que admitir que há intrincados processos, movidos por fortes rejeições maternas ou paternas, que inviabilizam completamente o processo reencarnatório, exigindo trabalhosas interferências do mundo espiritual para serem superadas. E forçoso é admitirmos ainda a existência de esterilizações definitivas que não podem ser contornadas pela vontade do espírito, por mais poderosa que seja.
— E seu futuro pai não poderá dificultar-lhe o ingresso na vida, negando-se a recebê-lo? — continuou a indagar a querida estudante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:39 pm

— Sem dúvida seu pai será Abelardo, o jovem militar que se encantou com os dotes físicos de nossa francesa. Embora não guarde nenhuma intenção de ter com ela um filho, ele não lhe impõe obstáculos à aproximação, pois não identifica em sua memória espiritual os laços que seguramente os unem na urdidura do destino.
Embora se apresente com uma actuação aparentemente neutra, sua primeira e espontânea intenção será de negar o filho inesperado, contudo sua rejeição não traz força suficiente para interferir no processo e por isso sua participação nos parece ser meramente biológica, levada a efeito pelas circunstâncias a que se expõe.
Certamente que a lei de causa e efeito nos move na vida sempre rumo ao bem e às oportunidades de refazimento dos erros do pretérito, por isso lhe será, sem dúvida, uma óptima ocasião para o exercício e o aprendizado do amor, indispensável à própria felicidade.
Abelardo continuava a manter intensos encontros amorosos com sua preferida, nutrindo-lhe verdadeira paixão. Catherine, apesar de ser-lhe um pouco mais velha e não estar, na verdade, afeita àquele amor fogoso e incomum, deixava-se levar pelos rogos do jovem apaixonado, atendendo- lhe a exigência de fidelidade.
Pelo menos por uns tempos, pensava, pois admitia a aventura como breve e passageira. E brincava com os sentimentos do moço, proporcionando ao coração, roído por grandes decepções amorosas do passado, refazer-se nas fantasias de Eros, fingindo ser ainda uma jovem adolescente, debutando no amor. Ademais, sentia-se mais equilibrada, a pesada angústia que sempre lhe oprimia o peito a abandonara sem explicação, e começara a nutrir certa aversão aos contactos sexuais movidos por meros interesses pecuniários.
As entidades obsessoras que compartilhavam com ela as aventuras sexuais permaneciam em seu ambiente psíquico, porém meio contrafeitas com as modificações que denotavam no campo mental da parceira. Sem se darem conta do que lhe passava, imputavam a mudança à presença do jovem que lhe encantava os sentimentos femininos. Alheias à nossa actuação e à presença de Alberto, ressentiam-se dos prazeres da promiscuidade em que se compraziam, notando-a comedida diante do comércio do sexo. Frequentemente as observávamos maquinando planos para afastarem o moço intrépido que lhes roubava a atenção da sócia de prazeres, obstaculizando-lhes o manejo dos interesses menos dignos.
— Se nossa amiga se deixasse orientar por algum sentimento religioso, qualquer que fosse, que lhe sofreasse um pouco os desregramentos morais, poderia se precaver contra tal assédio das Sombras — considerava eu à Adelaide. — Precisamos esforçar-nos por mantê-la nos propósitos que vem alimentando, a fim de proporcionar-lhe uma melhor saúde física na gravidez e um mínimo de paz para nosso desventurado Alberto. O entrechoque das energias sexuais viciadas na promiscuidade pode perturbar-lhe ainda mais a delicada situação perispiritual. O bem-estar, que Catherine passou a desfrutar com a melhora de suas angústias, ajudava-nos a manter-lhe os pensamentos num nível um pouco mais elevado.
Durante o sono físico, sugeríamos-lhe as lembranças da meninice, quando seus progenitores a levavam para o catecismo, procurando trazer-lhe à memória física os valores religiosos cultivados no passado. E lhe suscitávamos frequentemente a oração, cientes de sua vivência como freira em encarnação remota. Não obstante, não conseguimos induzi- la ao hábito da prece, embora a tivéssemos surpreendido, certo dia, lendo a Bíblia. E assistíamos sua mente alimentando interesses há muito não cultuados, como um forte e inexplicável desejo de ir à missa. A hipocrisia da sociedade de então não tolerava, no entanto, a presença de meretrizes em seus templos, por sentir que maculavam seus sagrados ambientes, embora o Senhor lhes tenha deixado o exemplo vivo de Madalena. Não convinha, assim pensava Catherine, expor-se a esse incómodo, pois conhecia a história de muitas companheiras que haviam sido duramente enxotadas das igrejas e severamente repreendidas pelo ultraje a Deus.
Saneando um pouco o hálito psíquico de nossa amiga, desenvolvemos certa paz em seu devasso ambiente, embora, em torno, a chusma de pelintras, encarnados e desencarnados, seguisse seus condenáveis roteiros de tripúdios.
Não tardou muito para que, enfim, nos deparássemos com um quadro diferente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:39 pm

Ao efectuarmos nossa costumeira visita a Catherine, numa noite, notamos que Alberto se agitava febrilmente em seu nicho uterino, motivado pela presença dos elementos masculinos em dia de fertilidade de sua futura mãe. Estendia delicados laços fluídicos em direcção ao óvulo maduro, já desprendido do ovário, conduzindo-o apressadamente pela tuba uterina, a fim de trazê-lo para o encontro com os espermatozóides.
— Chegamos a tempo de presenciar o momento miraculoso, Adelaide. Nossa amiga, conhecedora de seu período fértil, foi ludibriada pela poderosa acção das forças perispirituais de Alberto que, abraçando um de seus ovários, amadureceu antecipadamente o óvulo de que necessita, alterando-lhe o habitual ciclo hormonal.
O fantástico instante da fecundação não tardará, pois as contracções uterinas estão fortemente activadas, elevando o sémen até o seu objectivo. Note como isso apressa a ascensão do líquido seminal. Sem a contribuição desses espasmos uterinos, a viagem dos espermatozóides demandaria tempo muito maior do que lhes permitem seus reduzidos ciclos vitais.
— Ocorre-me, Adamastor, o sentimento de que estamos num conluio com Alberto, constrangendo Catherine a engravidar-se — considerou Adelaide, algo contrafeita e ensimesmada. — Não estaremos participando de um engodo? Será que realmente ela aceitou engravidar-se ou foi constrangida pela presença da imagem do pai?
— Minha boa amiga, Catherine aceitou receber Alberto, inebriada por indizível ambiente de luzes espirituais, vislumbrando alegrias nunca antes sentidas e coagida pela memória do progenitor, é bem verdade. Isso, no entanto, não invalida sua livre disposição de servir à vida. Ainda não sabemos como reagirá na consciência da carne, que não guarda reminiscências tão nítidas das resoluções deliberadas no plano do espírito, mas os méritos de sua anuência já lhe foram computados pela Lei de Deus. Se ela não tivesse aceitado receber Alberto de boa vontade, estaríamos lutando com enormes dificuldades para manter-lhe a presença no nicho uterino que o rechaçaria, e nossas chances de sucesso seriam bem reduzidas. Ainda que de forma inconsciente, ela sabe o que está lhe passando neste momento. Conhecendo sua personalidade e a vida que entreteceu para si mesma, podemos aventar uma ideia bem aproximada de como irá se comportar quando realmente se vir grávida, mas não convém gerarmos expectativas que a poderão influenciar no campo subtil das sugestões mentais. Os dirigentes superiores da vida certamente já selaram o seu prognóstico, mas quanto a nós, guardemos nossos sentimentos a esse respeito. E não olvidemos que todo esse processo, embora lhe pareça um engodo, está contribuindo para reformar-lhe o patético destino, antes que sua alma se precipite em queda, nos abismos de aflições, de onde somente poderia esquivar-se com dores muitíssimo maiores. Sem esquecermos ainda que nossos protagonistas criaram, através de suas condutas, as condições favoráveis ao desencadeamento da situação que vivenciarão. A vida não se constrói somente com prazeres, sabemos disso e, cedo ou tarde, ela nos cobra a colheita das acções levianamente semeadas.
Adelaide se deixou convencer da realidade, persuadida de que o espírito necessita de vicissitudes e sofrimentos, às vezes salutares, como única linguagem de que a Lei dispõe para que a evolução se faça vitoriosa no campo das realizações mais nobres do espírito. Afastando de sua delicada alma os sentimentos que a incomodavam, voltamos nossa atenção para os maravilhosos fenómenos em jogo no precioso instante. E, em breve, podíamos presenciar o óvulo envolvido por agitada nuvem de espermatozóides.
— Note, Adelaide, que não é o primeiro que chega que guarda o direito de fecundar o óvulo — observa. — A união dos gametas se estabelece mediante liames vibratórios, ainda não compreendidos pela ciência terrena. Veja como a aura de Alberto, neste momento, dilata-se e envolve o óvulo em um halo energético, atraindo com vigor o espermatozóide mais condizente com suas necessidades. O processo se opera de forma completamente automática com base nos ensaios reencarnatórios multimilenares do ser. Por isso nem sempre é o gameta mais hábil e perfeito o escolhido, porém aquele que sintoniza com as exigências provacionais do reencarnante, podendo ser um portador de graves deformidades genéticas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:40 pm

Aprendemos, assim, que, na verdade, herdamos sempre de nós mesmos, e a hereditariedade do corpo é dominada completamente pela hereditariedade do espírito.
Catherine, parcialmente desligada do corpo pelo sono físico, permanecia ao nosso lado, já ambientada em nossa presença, porém sem se dar conta do campo divino em que se convertera o seu centro genésico naquele momento. Sua mente, obnubilada, não detivera a necessária clareza para se inteirar do fato, porém inconscientemente sentia-se possuída por apoteótica alegria, oriunda da mais deificante satisfação do espírito, a de ser partícipe do sagrado ato de criar. Pálida luz acendeu-se em seu centro genésico, há muito obscurecido, denotando a presença divina em meio às suas vilipendiadas energias sexuais.
Era quase manhã quando deixamos a sua casa. Embevecidos pelo milagre da fecundação, olvidávamos até mesmo o sorumbático ambiente de nossas actividades e louvamos a Deus e ao Seu amor, em meio a messalinas doidivanas, adormecidas nos braços de jagodes refestelados, constritos aos seus viscerais prazeres urdidos na mais ordinária das paixões humanas.
Elevando-nos sobre a mata próxima, divisamos surpreendente paisagem terrena.
O sol despontava rente à linha do horizonte, inflamando o mar de cores esfuziantes e ateando fogo às nuvens incautas, mal refeitas do repouso nocturno. O chilrear de gaivotas distantes e a carícia da brisa matinal emolduravam a artística paisagem, comovendo-nos diante de tanta exuberância. Parecia-nos que a natureza, desejosa de recompensar- nos pelos serviços, brindava-nos com admirável regalo. Um sentimento melancólico nos assaltava o espírito naquele momento, pensando na frivolidade do homem encarnado, que se deixa chafurdar na vileza dos engodos mundanos, ainda infantilizado diante das dádivas da criação, incapaz de se reconhecer herdeiro da divindade e partícipe do egrégio milagre da vida. Somente a pree podia expressar as emoções que nos brotavam em profusão e, com as almas
genuflexas diante do Altíssimo, oramos, pedindo luzes para os inconsequentes que certamente ainda somos e para os irmãos que, não obstante, ainda teimam em caminhar sob a nossa retaguarda.
Finalmente retornamos à nossa colónia completamente aliviados pelo bom êxito da tarefa. Satisfeitos, corremos até Fausto, dando-lhe em primeira mão a notícia de que Alberto se fixara em definitivo no organismo materno. Enfim, podíamos descansar um pouco, na paz do dever cumprido.

49 Sífilis, doença venérea sexualmente transmitida.
50 Corrimento vaginal, de qualquer natureza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:40 pm

11 - Dias Atribulados
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal. ” Jesus - Mateus, 6:34

A fecundação sela a união do espírito com a carne, tornando a junção irreversível, cuja ruptura somente se faz possível mediante a morte. Iniciando o desenvolvimento de sua nova veste, o espírito entrega-se completamente à sua reconstrução, o que lhe requisita total exclusividade de acção. Somente entidades de altíssimo quilate evolutivo conseguem manipular à distância o desenvolvimento de sua forma, mantendo-se em relativa liberdade de consciência durante o processo. A maioria dos homens, no entanto, necessita da permanência constante junto à massa embrionária para propiciar a devida orientação à sua maturação. Por isso, toda a actividade consciencial do ser, acompanhando a redução perispiritual, regride também aos patamares da evolução de onde parte para a nova aventura na esfera do recomeço. E, como vimos, toda mudança de fase de vida requer a recapitulação das fases precedentes para se reiniciar, sendo a reconstrução nada mais do que uma rememoração. Desse modo, durante o desenvolvimento embrionário, o espírito recorda a evolução biológica já percorrida e refaz, em curtos nove meses, os milhões de anos já perpassados na carne. Assim é que, nas primeiras semanas, o embrião humano é de todo indistinguível do embrião dos animais inferiores, pois a ontogenia rememora a filogenia51, como temos aprendido da observação da embriologia. Fato que comprova a veracidade do fenómeno e a pré-existência de uma consciência activa e extrafísica que recorda e dirige todo o processo.
Estabelecidos de modo indissolúvel os liames que atavam Alberto ao vaso físico, vencíamos apenas a primeira parte de nossa incumbência e a tarefa se intensificou desde então. Fausto comparecia nos primeiros dias subsequentes, auxiliando-nos na condução inicial da delicada elaboração que exigia cuidados redobrados, tendo em vista a instabilidade de suas forças perispirituais.
— Estamos diante de um ovo hipoativo, como apropriadamente o denomina a medicina terrena—explicava-nos o tarefeiro do Departamento de Embrioterapia. — Embora Alberto se encontre ávido por reconstituir seu novo corpo, os exaltados estímulos auto-destrutivos anteriormente alimentados ainda reverberam na intimidade de suas forças psicossomáticas, impondo-lhe inibições à expansão e retardando-lhe o ritmo de desenvolvimento. Temos que lhe apressar os passos, pois do contrário ele se fixará na tuba uterina, onde sua permanência, naturalmente, será dificultada pelo estabelecimento de uma gravidez tubária52 com as graves consequências que acarreta. Já se passaram quatro dias e em apenas três, como de hábito, o ovo já deveria ter se fixado na cavidade uterina. Auxiliemos como nos é possível.
Apesar das intensas operações de activação empreendidas pelo tarefeiro, decorreram sete dias e o trofoblasto53 ainda não apresentava condições de nidação.
Ultrapassando a região fándica do útero Si, seu sítio habitual de fixação, terminou por se implantar nas margens do orifício interno do canal cervical55 como previra o hábil servidor.
— Sim, meus amigos, conseguimos evitar o pior, mas a placenta prévia56 já está configurada e será inevitável — disse ele. — Catherine experimentará sangramentos importantes no segundo trimestre da gravidez se Alberto não for vitimado por abortamento natural ou induzido, antes disto. Aguardemos agora os acontecimentos.
Finalmente acomodada, a massa embrionária dava livre curso ao seu desenvolvimento. Fausto nos deixou a sós na condução da operação que passou a demandar menores cuidados, entregue agora à orientação de seu próprio automatismo. Acompanhávamos o seu progresso em visitas quase diárias, exercendo a vigilância que nos cabia e permitindo a Adelaide o enriquecimento de seus conhecimentos no exame do processo reencarnatório. Embora parcialmente refeito pelo salutar contacto com as energias maternas, podíamos já observar a massa embrionária reflectindo a desorganização energética do nosso amigo, revelando movimentos anormais em seu desenvolvimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:41 pm

Dentro em breve notávamos que o coração não se desenhava segundo sua perfeita conformação, deixando entrever alterações importantes em sua anatomia embrionária. O tubo neural primitivo, onde se concentrava o potencial de suas forças deterioradas, era palco de adiantado processo patológico, na formação das vesículas primordiais, prenunciando o estabelecimento de graves patologias no sistema nervoso central. Fluidos escurecidos escoavam de seu psicossoma reduzido, aviltando a massa celular que se contorcia, desgovernada pela desorientação magnética imposta à forma.
Verificávamos, com evidência, que a carga genética herdada pelo nosso amigo era da melhor qualidade possível e não se responsabilizava pelas alterações sob nossa análise. As malformações se deviam unicamente às adulterações de seu molde perispirítico. Sabemos, sem sombras de dúvidas, que o DNA, tão venerado na ciência dos homens, não é o único responsável pelo estabelecimento das formas dos seres vivos. Esta surpreendente molécula se responsabiliza apenas por impor modelos específicos de formações proteicas, mas a adequada utilização e o devido posicionamento destas proteínas não pode, naturalmente, ser esperado de uma unidade destituída de vontade e inteligência próprias. Isso é da alçada da entidade espiritual formadora e seu molde energético que, como hábil arquitecto e executor da construção, sabe como orientar o material que recebe para a edificação da obra previamente idealizada. Seria pedir muito a uma simples molécula. Certamente é inegável que a conformação das estruturas proteicas, propiciadas pelos polímeros do DNA, pode e influencia em muito o resultado final da arquitectura orgânica, da mesma maneira que o desenho dos tijolos afecta as linhas finais de um conjunto arquitectónico. Não digamos, com isso, que os tijolos constroem a casa, com toda a sua complexidade, o que seria completamente ofensivo à lógica. Compreendamos de uma vez por todas que o código genético detém indispensável molde de elementos proteicos necessários à construção do edifício orgânico, mas sua acção se compara a de uma olaria, produtora das variadas peças que entram na formação de uma casa e nada mais.
Notávamos ainda, admirados, que o feto em desenvolvimento absorvia energias sifilíticas, irradiadas da mãe, em perfeita sintonia com suas lesões energéticas. Os espiroquetas trafegavam à vontade pelo seu organismo impondo-lhe novas dificuldades, mas ao mesmo tempo absorvendo em seu ávido metabolismo as energias igualmente aviltantes, vertidas de sua organização perispiritual.
— Estamos presenciando um verdadeiro conúbio — dizia à Adelaide — onde os bacilos apenas se alimentam das energias espirituais degradadas, auxiliando a sua evacuação da malha energética de Alberto. Por isso podemos considerá-los auxiliares da drenagem vibratória e sustentados pelas irradiações de igual natureza que promanam de sua alma.
Além deles abundavam na massa embrionária, igualmente ambientados pela corrente fluídica, os vibriões fetais57, agentes identificados pela medicina terrena como responsáveis pelo abortamento patológico.
Apesar de estarmos presenciando um desenvolvimento anormal, exigente de cuidadoso acompanhamento e suscitante de preocupações, tínhamos motivos para nos alegrar, pois sabíamos que as dificuldades do momento prometiam salutares soluções para os intrincados dramas dos espíritos envolvidos no procedimento assistencial que empreendíamos. Nosso contentamento era ainda maior, pois passamos a contar com outro grande feito. Orientadores de nossa colónia identificaram parentes desencarnados das duas entidades femininas que obsidiavam Catherine. Já cientes das responsabilidades da vida espiritual, submeteram-nas aos seus bons alvitres, encaminhando-as para o devido socorro em casa de assistência espírita cristã. Embora não obstaculizassem sobremaneira o nosso trabalho, pesava-nos ver-lhes a penúria espiritual sem nada poder fazer.
Além disso, elas promoviam desgastes vibracionais em Catherine, excitando-a à prática abusiva da sexualidade e poderiam perturbar-lhe o processo gestacional, assim que dessem conta do fato.
Catherine prosseguia sua rotina de vida, mantendo-se, felizmente, fiel ao seu apaixonado companheiro, facilitando em muito o nosso trabalho assistencial.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:41 pm

Dávamos graças a essa providência divina, que, sem o sabermos, cuidava também com desvelo pelo bom andamento do processo, certamente em obediência a outros determinantes da Lei que ignorávamos. Frequentemente a presenciávamos recordando-se de seu sonho, trazendo- lhe lágrimas de doce emotividade à alma sensibilizada. Durante o desprendimento nocturno, ainda não conseguia perceber-nos a presença com clareza a fim de confabular connosco, mas se dava conta de estar habitando ambiente vibracional diferenciado. Os espíritos levianos que habitualmente a procuravam para os folguedos libidinosos, durante o seu repouso físico, paulatinamente se afastavam, tendo em vista a mudança de seu hálito vibracional. A imagem da figura paterna, na lembrança do sonho, continuava a exercer-lhe forte influência à mente, impondo-lhe salutares sentimentos de culpa.
Muitas vezes percebíamos seus pensamentos mergulhados em sinceros desejos de mudança e podíamos verificar os efeitos benéficos que o remorso, desprovido de exageros doentios, é capaz de suscitar no espírito, induzindo-o a importantes reformas ao longo de sua linha evolutiva.
A placenta, agora desenvolvida, exercia intensamente sua actividade de abafador das toxinas, tanto materiais quanto vibratórias, emitidas pelo reencarnante. Como estas, pelo seu carácter aviltante e excessiva quantidade, ultrapassavam o seu limiar de trabalho, não tardou muito para que se estabelecesse em Catherine o quadro de náuseas e vómitos, típicos dos processos gestacionais, com a finalidade de se facilitar a drenagem das energias vertidas pelo feto em desenvolvimento.
Iniciávamos assim um período crítico no processo em andamento, quando ela finalmente se reconheceria grávida, apesar de inconscientemente já estar plenamente ciente do fato.
Em breve acompanhávamos nossa amiga em visita ao médico terreno. Convinha estarmos presentes a fim de orientar o facultativo, como nos fosse possível, evitando-se maiores agruras para nossos amigos. Aproximando-nos da companheira, notamos-lhe a vibração pesarosa e oprimida no semblante constrito, pois sua intuição já lhe adiantava, com clareza, a condição em que se encontrava.
Sabia-se grávida, apesar de todos os cuidados que aprendera a adoptar a fim de evitar esse dissabor sempre temido no tipo de vida que empreendia. Rosa, a fiel amiga de todas as horas, acompanhava-a, já ciente da novidade, pois em sua percepção previra o sucedido, por assistir à sua fácil capitulação diante dos galanteios de Abelardo.
Adentrando o consultório médico, notamos que a mente do facultativo não se mostrava acessível a qualquer tipo de inferência de nosso plano. Confirmando as impressões de nossa companheira, apressava-se a despedi- la, pouco afeito a ouvir os seus reclames. Catherine, porém, ressumando aflitivo pesar nos olhos que deixavam pender grossas lágrimas, dizia-se extremamente infeliz diante da inesperada gravidez e, atendendo às nossas sugestões, ainda que com extrema dificuldade, insistia, procurando ouvir- lhe os conselhos para enfrentar o inevitável processo.
— A madame tome as providências que achar melhor, mas eu não posso fazer nada pela senhora — dizia o médico, ainda contrafeito.
Notávamos-lhe a sólida formação moral, rica de possibilidades para a devida orientação à nossa amiga, porém sua pressa e seu pouco interesse em se envolver com o caso tornavam-no completamente impérvio à nossa actuação. Intensificamos nossa capacidade de influenciação, a fim de não perdermos a valiosa oportunidade, insistindo para a continuação do diálogo, ao que Catherine anuiu:
— Tive um sonho, doutor, em que meu finado pai me entregava um bebê...
— Madame, já está provado que os sonhos são meras criações do inconsciente, não dê confiança a essas bobagens — retorquia o médico, impaciente, interrompendo-a e despedindo-a, visivelmente contrariado e sem a mínima disposição para atender ao nosso instante petitório.
Ciente da vida de meretrício de nossa companheira, estava certo de que ela não toleraria o processo e lavava suas mãos, abstraindo-se dos conselhos nobilitantes que lhe ditávamos com insistência à mente refractária.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:41 pm

Não pudemos deixar de lamentar o fato, recordando que a palavra amiga, menosprezada por muitos profissionais da saúde, é auxílio muito mais eficaz do que qualquer medicamento para um doente aflito.
Ao deixar o consultório, apoiando-se no ombro de Rosa, Catherine mal se conteve para chegar em casa e prorromper em choro copioso. Como enfrentar a nova situação diante da vida que levava? Abelardo tolerar-lhe-ia o descuido? Assumiria com ela o filho inesperado? Rosa, alma sensível e mais afeita às nossas sugestões, considerava:
— Lembra-se do sonho que você me contou há pouco tempo? Não será verdade que seu pai tenha vindo do Além para lhe alertar quanto a este filho? Como pôde acontecer exactamente o que você viu no sonho?
— Como disse o doutor, os sonhos são apenas fantasias, Rosa. Isso não é possível, ninguém volta do Mundo dos Espíritos. É pura coincidência — respondia Catherine, inconsolável, entre soluços.
Restava-nos aguardar o repouso nocturno para tentar consolar-lhe a alma dorida, convencê-la da realidade do sonho e da necessidade de aceitar o processo com boa vontade, lembrando-lhe os compromissos assumidos.

51 Ontogenia é o desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a sua maturidade. Filogenia é o desenvolvimento do filo genético. Filo é classe ou categoria ao qual um animal pertence. Quando se diz que “a ontogenia rememora a filogenia”, quer-se dizer que o desenvolvimento de um ser em especial é um processo que relembra o desenvolvimento da classe animal a qual ele pertence.
52 A gravidez que, de forma anormal, ocorre na tuba uterina e não no interior do útero. Exige intervenção cirúrgica, sendo incompatível com o desenvolvimento do feto, pois pode levar a mãe à morte.
53 O conjunto de células embrionárias que dão origem à placenta.
54 Região situada no fundo do útero, de maior amplitude, próxima à qual se fixa o ovo, em situação de normalidade.
55 O canal que comunica a cavidade do útero com o exterior.
56 Implantação baixa da placenta, próxima ou sobre o orifício uterino, levando a hemorragias na gravidez.
57 Chamado vibrio fetus, agente microbiano associado também às septicemias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:26 am

12 - Tempestade Vibracional
Por que sois assim temerosos? Ainda não tendes fé? Jesus - Marcos, 4:40

Retornando à noite, não contávamos com as dificuldades imprevistas da jornada. Era Carnaval na Terra e nesses dias de folia o plano das Trevas se aconchega à crosta, unindo suas sombras aos folguedos inconsequentes dos homens. Orientadores de nossa colónia recomendam aos seus tarefeiros que evitem a todo custo as incursões terrenas nessas épocas. Nem todos são capazes de se resguardarem das intensas tormentas vibracionais e do assédio de hordas de espíritos inferiores que, junto com os homens, entregam-se às imprudências nesses dias de algazarra. Era recomendável aguardar que as pesadas nuvens fluídicas envolvendo a grande cidade se dissipassem para que tomássemos aos afazeres assistenciais; no entanto, o serviço não podia esperar. As ondas mentais que Catherine desferia poderiam perturbar Alberto, danificando-lhe ainda mais a delicada tessitura perispiritual, ameaçando o bom êxito de nossa tarefa. Era imprescindível algo intentarmos para alívio da situação, evitando a semeadura de infelicidades ainda maiores para nossos amigos. Demandamos assim às regiões trevosas da Terra, cientes das dificuldades, embora as nossas parcas condições espirituais não nos resguardassem por completo das agressões do colidente ambiente de nossos trabalhos.
Empreendemos a jornada bastante inseguros, como marinheiros que se dispõem a enfrentar tempestades desconhecidas em alto mar, munidos de frágeis embarcações. O horizonte ensombrecido e agourento que vislumbrávamos ao longe nos ameaçava com maus presságios, infundindo- nos verdadeiro pavor. Foi preciso vencer o temor quase infantil que nos assaltava para partirmos, confiando na protecção divina. Ao nos aproximarmos do halo vibratório da metrópole terrena, sentíamos como se adentrássemos numa borrasca de graves proporções. Vibrações antagónicas nos açoitavam, quais farpas agudas em meio a vendaval de fluidos escuros soprando com fúria. Parecia que nos embreávamos na mais tenebrosa região umbralina.
Os encarnados, não habituados à percepção das vibrações ambientais, não podem fazer uma ideia precisa de como os desencarnados as registam através dos seus sentidos aguçados. Em nosso esforço descritivo, não encontramos outra forma de caracterizar essas emanações trevosas do que compará-las a um temporal. A imagem se lhes aproxima, porém trata-se de analogia acanhada que não corresponde à exacta realidade do facto. Os espíritos inferiores, no entanto, quais os homens comuns que habitualmente as compartilham, não lhes denotam a sordidez por se acharem perfeitamente adaptados a elas.
Alheio aos entre-choques da atmosfera vibracional que respira, o homem terreno desfruta dos festejos carnavalescos sem se dar conta da vileza do ambiente que o envolve. Se lhe fosse possível vislumbrar o panorama espiritual que o assedia nesses dias de levianos arroubos de festividades, aterrar-se-ia ante as assustadoras imagens que se desdobrariam aos seus atónitos olhos, conspurcando-lhe o alegre colorido das fantasias e a exuberância festiva das alegorias.
A alegria sincera e destituída de intencional idades inferiores não encontra, naturalmente, reprovações nas Leis que nos dirigem, se não nos deixássemos contaminar pelos interesses menos dignos que menoscabam o espírito, advindo daí o seu erro. Pudesse o homem, na busca da diversão a que tem direito, resguardar-se do conúbio com as Trevas, desfrutaria das festividades populares, continuando a respirar as emoções superiores sem descer à vil sensualidade.
Atravessamos silentes e apressados as tristes paisagens povoadas de corriolas de vândalos, favorecidos pelas bênçãos da volitação e encobertos pelos diferenciais vibratórios que nos destoavam do ambiente, mas não sem registar o entre-choque das emissões inferiores que nos atingiam de forma desagradável, causando-nos tensões e receios.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 3 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:27 am

O casarão francês envolvia-se na festa de Momo enfeitando-se tipicamente como o exigia a ocasião. Entretanto fora invadido pelos mesmos espíritos umbralinos que povoavam as ruas, e as trevas se somavam às cores vivas da exótica decoração. A agitação no recinto era inusitada. Em descomunal algazarra os espíritos se jungiam aos insensatos encarnados, inebriados em danças simiescas.
Catherine não se dispunha ao sono reparador, embriagava-se e, embora não estivesse ainda perfeitamente habituada aos folguedos carnavalescos, entregava-se com ânimo às folias típicas dessa festividade. Como uma criança em fuga das responsabilidades que previa pela frente, parecia desejar somente esquecê-las, atirando-se na bebida inconsequente. Não notávamos a presença de Abelardo e logo a vimos atirar-se nos braços de outros amantes, retornando aos velhos hábitos da promiscuidade sexual.
Espíritos viciados do sexo invadiam-lhe novamente o ambiente psíquico desguarnecido, voltando a compartilhar-lhe os arroubos libidinosos.
Lamentávamos não poder contar com uma de suas crises enxaquecosas, a fim de coibir-lhe os desmandos nos imprudentes excessos a que se entregava, pois o metabolismo gestacional afastava momentaneamente estes salutares incómodos. A madrugada avançava e não víamos a menor possibilidade de assediá-la com nossas influenciações, a fim de evitar o pior. Não nos cabia outra alternativa que nos recolhermos em nossa colónia, à espera do fim da exótica e lúgubre festa humana.
Ao retornarmos, ouvimos um chamado de socorro ao longe, proferido por entidade de nosso plano. Aproximando-nos, vimos que um jovem, gesticulando desesperadamente, suplicava por ajuda diante de matula infrene de espíritos vampirescos. Três encarnados armados de facas ameaçavam um cavalheiro, visivelmente embriagado, em solitária e escura ruela. A súcia de entidades demoníacas gritava por sangue em meio à desesperante algazarra. O rapaz, aflito, temia pelo velho assediado pelos bandidos. Acalmamo-lo na esperança de algo fazer em seu auxílio, mas não nos era possível qualquer actuação. Em minutos os facínoras, dando ensejo aos incentivos da corja que os excitava, desferiram golpes mortais no imprevidente homem, deixando-o agonizando na sarjeta. Os vampiros, ávidos e enlouquecidos, atiraram-se qual bando de hienas selvagens sobre a vítima, sorvendo-lhe as emanações vitais do sangue que vertia em abundância. A inesperada e terrificante cena nos paralisou por completo os sentidos. Ocultos pelas barreiras vibracionais, estávamos de certa forma defendidos contra a cambada de malfeitores desencarnados, mas muito pouco pudemos fazer em auxílio do cavalheiro. Acercamo-nos com dificuldade, apenas para constatar que a vítima agonizava nos seus últimos minutos de vida. O jovem revelava-se ser seu filho em condições espirituais mais relevantes, porém se tratava de uma entidade encarnada em desprendimento nocturno e, ante o choque e a ameaça da cena, retirara- se, espavorido para o refúgio seguro do corpo físico. Convocamos entidades de socorro, assentadas em grupo espírita cristão nas imediações, de onde valorosos companheiros acorreram em nosso auxílio. Tentamos embalde desenvencilhar o pobre ébrio do assédio dos vampiros, mas era impossível.
Achava-se jungido a eles por fortes liames e ainda se debatia com restos de vitalidade orgânica, vilipendiada pelos malignos. Os amigos nada puderam também fazer; era necessário deixá-lo entregue à própria sorte. Adelaide, em desespero, suplicava para que socorrêssemos o infeliz boémio.
— Querida amiga, é preciso conformar o coração diante das tristes realidades da vida ainda extremamente primitiva que levamos na Terra — disse, consolando a desesperada companheira. — Este cavalheiro, sem dúvida, semeou para si mesmo seu trágico destino. Alimentou vibrações que atraíram estes vampiros e estará nas mãos deles como um espantalho, servindo-lhes de joguete por tempo indeterminado e por obra de seus próprios desatinos. Tais elos somente serão quebrados pela dor e podemos auxiliá-lo incluindo-o em nossas preces.
Abandonamos o local da tragédia humana, deixando alguns espíritos de nosso plano velando pelos acontecimentos. Certamente invocariam a presença de encarnados no local, a fim de recolherem o infeliz e encaminharem as providências habituais em tais ocasiões. Nada mais podíamos fazer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:27 am

Apressadamente voltamos ao refugio seguro de nossa colónia, deixando que a tempestade das paixões humanas se aplacasse no dissabor dos apetites momentaneamente refestelados e no esgotamento providencial dos ânimos exaltados.
Retornando às nossas actividades junto a Catherine, findos os tormentosos dias, encontramo-la ainda se recompondo dos abusos a que se atirara. Sua aura exalava ainda odores alcoolizados e a graça da enxaqueca retornara, finalmente, a fim de fazer valer o seu justo merecimento depois de tantos excessos empreendidos. A situação de Alberto era de se lastimar. Sua delicada tessitura perispiritual encharcara- se dos produtos maléficos sorvidos pela imprudente irmã. Era urgente nossa intervenção para que ele não sucumbisse naquele momento. Seus batimentos cardíacos eram quase imperceptíveis e sua psicosfera empalidecida prenunciava a morte próxima. Iniciamos urgente terapêutica de limpeza a fim de libertá-lo do guante do álcool. Fizemos adormecer nossa amiga, exausta e desfeita em seus desvarios. As emanações psíquicas que lhe vertiam da mente permitiam-nos entrever o intenso desregramento a que se entregara nos últimos dias. Abandonara os imperativos da consciência, deixando-se conduzir pela inconsequência, certamente procurando na bebida olvidar os compromissos que a vida lhe suscitava.
Desprendemo-la, a custo, do corpo físico, mas sua consciência permanecia ícaro Redimido -115obnubilada pelos desatinos assoberbados. Era impossível qualquer tentativa de contacto com ela no momento. Solicitamos com urgência a presença de Fausto, a fim de nos auxiliar no imperioso socorro a Alberto. Envolvendo- o em delicadas operações magnéticas de limpeza, demandamos várias noites de tratamento intensivo a fim de libertar nosso pobre amigo da acentuada intoxicação a que fora acometido.
— Os homens agem como crianças imprudentes diante dos sagrados valores da vida. Lidam com suas energias orgânicas como se fossem feitas unicamente para o prazer — considerava-nos Fausto, concitando- nos à meditação. — As consequências a que se expõem não compensam os fugazes gozos que desfrutam.
Após alguns dias pudemos verificar os graves danos na organização de Alberto, decorrentes das peraltices de sua incauta mãe. A massa embrionária sofrerá sérios prejuízos e valiosas células físicas foram sacrificadas na tentativa de evacuar as toxinas impostas à sua frágil organização. Porém, conseguíramos evitar o pior e podíamos repousar um pouco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:28 am

13 - Doloroso Transe
“É impossível que não venham tropeços, mas ai daquele por quem vierem!” Jesus - Lucas, 17:1

O cortejo de atribulações seguia a sucessão do tempo sem nos deixar esquecer de que o Mestre nos recomendou olvidar de cada dia o seu próprio mal. Ainda estamos distantes da vivência integral do Evangelho para o ressarcimento de todas as nossas dores e prosseguimos semeando-as no campo de nossos destinos, sem reconhecer que somente o Bem nos pode conferir alegrias verdadeiras. As vicissitudes se amontoam em forma de desesperos, as aflições nos assolam em cada estação da existência, pois não sabemos praticar a vida na rectidão do dever e no amor ao semelhante. Justo ansiarmos pela felicidade, genuíno anelo herdado do Criador, porém enquanto não nos fizermos seareiros da alegria, não deteremos méritos para desfrutá-la e seguiremos como meros fantoches de agonias, sombras de nós mesmos, colhendo os tormentos livremente fomentados.
Catherine não estava preparada para a reforma sadia de seu destino. Não encontrou seus novos caminhos na execução dos projectos que a vida sabiamente lhe ofertara. Dera asas ao desespero, pois não desejava abandonar as comodidades e a luxúria sustentadas pelo dinheiro fácil, embora advindo de tão execrável fonte.
Abelardo, ciente da gravidez de sua amada e certo de que deveria se responsabilizar pela paternidade, preferiu dar vazão à covardia, pois não lhe convinha assumir uma prostituta e seu filho, ambos renegados pela sociedade. Era-lhe muito mais cómodo ignorar o fato e olvidar sua pretensa afeição, embasada na mais fugaz das paixões carnais. Nunca mais fora visto, deixando nossa amiga inteiramente sozinha, multiplicando-lhe as agruras. A Lei, que é feita de uma substância inalcançável pela nossa parca percepção, tudo assinala e registou com imagens vivas, na memória de seu protagonista, o instante do dolo. Ela saberá retorná-lo ao seu destino, em forma de reacção, no momento mais apropriado. Não nos convinha qualquer indignação com sua ignorância, cabendo-nos apenas o pesar e um pensamento de paz em seu favor.
Tivesse ele se disposto a apoiar nossa irmã e ela teria angariado condições para mudar a sua vida. Encontraria ensejos para sustentar sua gravidez e juntos poderiam ter entretecido um lar, meritório de grandes venturas. Mesmo que não recebessem Alberto, outros filhos tecer-lhes- iam á alegria de um destino benfazejo. Os ganhos evolutivos seriam incalculáveis e dores imensas evadir-se-iam de suas almas. Mas nossos amigos optaram pela desdita, eximindo-se de assumir as suas responsabilidades. O destino é força poderosa que tende a seguir um roteiro previamente estabelecido, mas funciona qual nau em cruzeiro determinado. Embora a rota esteja já traçada, o timoneiro tem liberdade de segui-la ou não, podendo aportar na segurança do cais almejado ou atirar o barco da vida de encontro a rochedos ameaçadores. Elegeram eles, por livre escolha, o caminho da comodidade, rumando para as perigosas falésias da irresponsabilidade. O pobre Alberto guardava a predisposição de expor-se aos danos advindos da infeliz eleição. Tivesse ele, no entanto, encontrado guarida segura junto aos amigos encarnados, teria haurido maiores benefícios de sua fugaz incursão na carne, apesar de todas as dificuldades que o envolviam no processo reencarnatório.
Se o amor habitasse o coração dos homens, a felicidade lhes seria hóspede permanente. Enquanto isso não se dá, o infortúnio contumaz lhes parasitará a alma, por força de expressão de uma Lei que é, sobretudo, justa e proporciona a cada um os frutos de suas obras.
A perda de Abelardo ferira a alma sensível de Catherine muito mais do que se poderia esperar. É verdade que ela brincara com os sentimentos do rapaz, mas nunca se sentira tão feliz, confiando em um braço amigo em quem apoiar seu profundo desterro. Na desilusão em que se chafurdava, a gravidez indesejada se lhe desenhava como a vilã que lhe afastou o companheiro e com ele a doce alegria de se sentir amada. Durante o repouso nocturno intentávamos, embalde, desligá-la do corpo físico, a fim de entretecer com ela um diálogo amistoso, consolando-a diante das aparentes dificuldades da vida, mas era-nos impossível qualquer tentativa nesse sentido. Seus olhos espirituais se cerraram diante da responsabilidade assumida, completamente dominada pela ideia fixa de deter, a qualquer preço, o divino processo gestacional de que era palco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:29 am

Desferia perigosas ondas mentais contra Alberto, que lhe penetravam quais aguilhões afiados, danificando-lhe a já frágil organização perispiritual. Auxiliávamo-lo como podíamos, mas não tardaria o momento que não seria mais possível o seu sustento na carne. A placenta, imiscuída de energias repulsivas ao feto, feria-se de pontos inflamatórios, que logo deixariam processos cicatriciais calcificados, promovendo-se a atrofia de seus delicados tecidos. Além disso, desenvolvendo seus vasos sanguíneos ricamente intumescidos nas margens do orifício uterino, não demoraria ainda o instante em que se romperiam, deflagrando um fluxo hemorrágico, comprometendo-se então, de forma incisiva, o andamento da gestação, como já nos prevenira Fausto.
Catherine, sem saber que sua gravidez seria inexoravelmente interrompida, não se dispunha a aguardar o que o destino lhe reservara. Enceguecida, não enxergava senão o próprio corpo desfeito, o filho incómodo, a ausência de um pai com quem dividir as responsabilidades da maternidade, somadas à negação de uma sociedade incomplacente, disposta a condenar-lhe desapiedadamente os deslizes da conduta.
Seu orgulho não se curvaria diante dos olhares de desdém, desonrando-lhe a altivez da alma. Rosa permanecia ao seu lado, disposta a lhe dar o apoio nestas difíceis horas, tornando-se nosso único canal para transmitir-lhe o sustento que intentávamos e os conselhos que gostaríamos que ouvisse.
Mas tudo foi em vão. A promessa proferida em espírito foi esquecida, o sonho olvidado e as esperanças fenecidas nas tramas da desilusão. Catherine, desfeita em desenganos, buscava no abusivo uso de bebidas a inútil fuga de suas vicissitudes.
Incapazes de lhe proporcionar qualquer alívio, os efeitos nocivos do álcool somente multiplicavam-lhe as aflições, comprometendo-a ainda mais diante das Leis da vida, na medida que promoviam desapiedada agressão ao feto.
Até que numa manhã, embora o sol brilhasse com sua habitual alegria, fazendo o dia avançar despreocupadamente pela ingerência do tempo, encontramos Catherine em uma carruagem, acompanhada por Rosa, dirigindo-se para retirada região no subúrbio da grande cidade. Seu semblante constrito exalava um fatídico pesar. Não tínhamos a menor dúvida para onde se dirigiam. O cocheiro, ciente da direcção que lhe indicaram, seguia os passos de seu obediente cavalo, mostrando receio do ambiente hostil que adentrava. Apenas o pataleio surdo do animal na terra seca da poeirenta ruela quebrava o sorumbático silêncio que movia as nossas personagens, actrizes da vida real. Não havia mais lugar para confabulações ou qualquer desesperada tentativa de persuasão. Em vão intentamos todos os recursos.
Não se podia mais alterar o rumo de seu destino. Estava inexoravelmente traçado.
Cumpria-nos a .obrigação do apoio, mesmo em hora tão abjecta. Convocamos Fausto para nos auxiliar na dura empreitada e o valoroso amigo não tardaria a chegar.
No fundo de um morro, uma velha ponte quebrada interrompia a marcha do veículo, forçando o cocheiro a estacionar diante de casebre singelo, ao lado de córrego mal cheiroso. O ambiente de imediato nos assaltou com desagradáveis eflúvios, mas não era o mangue próximo com seu característico odor que nos feria com tamanha repugnância. As entidades que se amontoavam nas suas proximidades eram as que o descoloriam de intensa abjecção. O cheiro de sangue pútrido emanava de todos os cantos. Vibrações que gritavam as agonias de muitas mortes bafejavam de odor cadavérico o triste barraco, conquanto a vegetação do entorno, indiferente à vileza do ambiente, esmerava-se na exuberância.
O cocheiro afastou-se, macambúzio, entretendo seu obediente animal com o verdejante pasto em derredor, enquanto uma senhora atendia à porta, desenhando na face macilenta a figura de uma assustadora estrige58. A chegada do coche despertou de imediato o interesse da turba de espíritos, agitando-a com frenética algazarra. Muitos acorriam da mata próxima, onde pareciam aguardar o ansiado instante. Acotovelavam-se em torno de Catherine, ao denotar-lhe de imediato a disposição íntima de vítima próxima. Entidade monstruosa, de aspecto reptiliano, parecia chefiar a súcia de comparsas, impondo-lhes certa ordem, pois buscava com os olhos determinar aqueles que detinham o direito da vez, ordenando aos outros que se retirassem.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 3 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:29 am

Ao longe duas entidades aparentando bondade nos observavam, percebendo-nos de imediato a presença. Aproximaram-se sem receio e se apresentaram:
— Meus amigos, vemos que são espíritos benfeitores. Não podemos dar-lhes as boas vindas a este vil lugar, aonde somente os malignos se comprazem em vir.
Apresento-me como Matias, servo de vocês, e este é Daniel. Representamos aqui a vigilância dos Obreiros do Bem.
Os nobres companheiros, dispostos à ingrata tarefa, recebiam-nos com amabilidade e explicavam que nos achávamos em um local sob a guarda de poderosos Dragões, como são denominados, em nosso plano, os espíritos malignos que dominam largas regiões trevosas das esferas inferiores. Uma flâmula tremulante composta de dois compridos triângulos sobrepostos, vivamente coloridos de vermelho e verde, assinalava-lhes a posse e domínio absoluto da localidade. Para ali eram enviados vampiros, que estes Dragões guardavam interesse em recompensar por serviços prestados, a fim de se comprazerem com os remanescentes vitais dos fetos criminosamente sacrificados. Sim, estávamos em uma casa dedicada à prática do aborto criminoso. D. Carmem, a senhora encarnada que a dirigia, expressando em seu perispírito o triste aspecto de uma bruxa, era antiga e respeitada parteira da região que, após nobilitantes serviços no bem, envolvera-se com espíritos das hordas draconianas, optando pela prática dos delitos hediondos a que se entregava.
Estabelecera-se no solitário casebre, isolado da cidade, na beira do imundo córrego, a fim de não levantar suspeita das autoridades locais. Utilizava-se ainda do ribeirão que se achava bem próximo ao mar, para atirar os restos fetais, servindo-os de alimento aos peixes, ocultando, assim de modo eficiente, as provas de seus crimes.
Matias e Daniel muito pouco podiam fazer em socorro aos infelizes que aportavam no local quase que diariamente. Acudiam um ou outro e cuidavam de convocar as equipes de trabalho de nosso plano que atendiam à caridade cristã, amparando as pequenas vítimas que ali desencarnavam em delicadas condições perispirituais, providenciando ajuda para aqueles que não mereciam, por força da Lei, cair nas mãos da plévia ali acampada. Recebiam ainda os trabalhadores que, como nós, costumeiramente compareciam, acompanhando suas imprevidentes assistidas. Achavam- se, à nossa semelhança e por graça Divina, protegidos pelas barreiras vibratórias que nos tornavam ocultos à turba de criminosos.
Cumprindo com suas obrigações, avisou-nos Matias:
— Amigos, todo o cuidado aqui é pouco. Embora ciente de que já conhecem o fato, é de minha obrigação alertá-los de que devemos nos esforçar ao máximo para não alimentar qualquer atitude menos honrada como a indignação, a revolta ou a raiva, diante das barbaridades aqui acometidas. Se deixarmos que estes sentimentos nos dominem a alma, como sabem, poderemos nos impregnar dos fluidos aqui reinantes, adensando nossos perispíritos a ponto de torná-los perceptíveis a alguns dos criminosos aqui reunidos, colocando-nos assim ao alcance de suas agressões.
Achávamo-nos rodeados de verdadeira súcia de vampiros da mais vil estirpe.
Há muito não percebíamos entidades em condições tão lastimáveis. Sustentava Adelaide, solicitando-lhe manter o pensamento elevado em prece constante, a fim de não se permitir afectar pelo ambiente.
Empregamos a denominação de vampiro para espíritos bastante inferiorizados que se comprazem em se suster das vibrações hauridas de matérias vivas como os remanescentes vitais dos corpos recém-mortos e, principalmente, do sangue, seja de origem animal ou humana, onde os elementos de vitalidade se concentram de modo significativo. Obviamente que não podem degustar e deglutir estas substâncias, como o fariam se estivessem encarnados, mas são capazes de absorver pela olfacção os ricos eflúvios energéticos que emanam delas. São espíritos estropiados, almas em frangalhos com terríveis expressões draconianas desenhadas em suas faces, porém sem os caninos agudos e as vestes típicas que conhecemos dos vampiros que entretecem o imaginário humano. De fato, esta é uma triste realidade do Mundo Espiritual em que vivemos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:30 am

Primitivos antropófagos, que permaneceram arraigados à alimentação excessivamente carnívora, e espíritos sanguinários, animados por disposições malignas e habituados ao crime na Terra, assumiram após a morte o estranho costume do vampirismo. Hábito delinquente também chamado draconismo, faz-se não somente pelo assédio aos restos cadavéricos, como também através do consórcio com encarnados que, afinados com seus macabros escopos, são estimulados ao crime fácil e aparentemente sem propósito, com a precípua finalidade de lhes arrebanharem vítimas. Conúbio hediondo estabelecido desde épocas remotas em seitas primitivas, dedicados à oferta de sangue animal ou mesmo humano aos pretensos deuses, estes, na verdade, os antigos comparsas desencarnados que, assediando seus companheiros de retaguarda, dissimulados em abominável sacerdócio, davam continuidade aos seus terríveis vícios. Ainda hoje se pode verificar esse sinistro costume nas festas de sangue, levadas a efeito nos cultos satânicos. Afora estes ritos sanguinários, esses espíritos se reúnem em qualquer local onde se pratique a mortandade de animais e abunde o sangue, como nos matadouros. Outros ainda habitam necrotérios, velórios e cemitérios onde absorvem os restos vitais de cadáveres. Naturalmente que não está todo ser humano sujeito a essa vil depredação vibratória, mas somente aqueles que não guardam na vida a devida reserva moral a fim de resguardá-los da maldade alheia. Obviamente os encontraremos também nas casas clandestinas de aborto criminoso, onde absorvem os restos vitais dos fetos assassinados e do sangue que habitualmente promana daquelas que infelizmente se dispõem ao grave delito.
Justo é que o estudioso sincero, crente na sabedoria das leis da vida e ciente de que o amor governa a criação, interrogue os motivos que levam a comportamento tão adulterado, distanciado da bondade que a todos deveria nortear na jornada da vida. O vampirismo, contudo, pode ser entendido como um continuísmo inadequado daquilo que nos foi usual ao longo da estrada evolutiva, pois no baixo mundo animal a vida se sustenta no jogo da morte, onde o mais forte pode devorar o mais fraco. A persistência, no entanto, em tais hábitos baseados em ética tão primitiva e tolerada pela Lei do Amor apenas nos passos iniciais do ser, não se justifica ã medida que o espírito cresce, despertando-se para a razão e para o exercício da bondade como normas indispensáveis do viver. Preferimos assim compreender que a demora neste animalizado vício é uma contrafacção da criação, divorciada das pretensões divinas, promovida pelo espírito que optou pela franca negação da benevolência para com os irmãos da retaguarda evolutiva.
Nosso sustento na vida ainda se baseia em inadequado vampirismo, praticado em refinadas expressões, sem nos darmos conta de que exercitamos, na verdade, um regime em oposição à Lei do Amor. Se insistimos neste estranho hábito de ingerir as vísceras de nossos irmãos inferiores, justificados por viciadas e pretensas necessidades biológicas, justo é estarmos, por nossa vez, sujeitos ao roubo exploratório de nossas biomassas doentiamente surripiadas de outros. O amor e não a morte deve alimentar a nossa vida, se queremos de fato que a felicidade habite nossa alma. A indústria da morte, sustentando nos séculos o vício do vampirismo, deve ser assim banida de nossa sociedade, a fim de que ela se harmonize com as Leis de Deus e a paz se estabeleça em seu seio. Sem dúvida que o homem encontrará diversas maneiras de prover sua vida física no planeta, de forma eficiente e saudável, que não se baseie no extermínio de seus irmãos menores, maculando o puro amor que lhe consubstancia a alma divina. Mas isso é assunto que extrapola o âmbito destes nossos relatos e aqui os deixamos apenas como motivação para a nossa reflexão.
Todos os espíritos que se nutrem das emanações da carne são classificados no Mundo Espiritual em que vivemos como vampiros. Em qualquer panorama em que se manifestem, experimentam graves transformações perispirituais. Naturalmente que, depois da morte, não se metamorfoseiam em morcegos, como entretecido na lenda dos encarnados, mas promovem regressões em suas feições, desenhando em seus perispíritos deformações animalescas, misto de homem e fera, em variados contornos, compatíveis com suas posições mentais e com as vibrações inferiores que haurem de seus irmãos menores. Por isso, a fantasia humana, na verdade, não se distanciou da realidade, ao lhes delinear as assustadoras imagens, presentes em seus romances dantescos ou películas de terror.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:30 am

Quando o homem santificar-se, purificando o seu ambiente planetário, se tais espíritos persistirem na vil prática, aqui não poderão mais reencarnar e serão levados para outros planos da vida universal, a fim de prosseguirem a evolução junto a rebanhos humanos primitivos, capazes de lhes tolerar as criminosas atitudes e nefandos apetites.
Não estávamos, assim, rodeados de verdadeiros Dráculas, saídos de um filme de terror ou dos contos do famoso novelista inglês, mas sim de espíritos infelizes, teriomórficos59, bestificados e mutilados, verdadeiros loucos, distanciados da realidade divina em que fomos criados. Não podiam, na verdade, infligir-nos dano algum e nos infundiam mais pesar do que pavor. Não se assustem os homens, nutrindo em suas imaginações o temor da morte com o receio de se entregarem a essas terríveis criaturas. Entretanto, urgem a prática constante do bem e o exercício de uma vida moralmente elevada, a fim de nos resguardarmos contra esta dura realidade da vida espiritual. A verdadeira protecção contra tais ataques não advém do uso de armas ou de escudos especiais, mas sim da prática constante do bem. Por obra do Senhor, achávamo-nos munidos destas defesas, não por méritos que ainda não detínhamos, mas por trajarmos já a armadura do bem sincero.
Enquanto Catherine encetava negociações com a senhora das Trevas, indignando-se diante da vultosa quantia que lhe exigia para a tarefa, adentramos o casebre, visivelmente contrafeitos, diante, não só da algazarra dos espíritos, como das péssimas condições de higiene do local. Notávamos, pela conversação que entreteciam, que Catherine já era conhecida da ex-parteira, certamente por ter-se servido de seus préstimos para algumas de suas cortesãs.
De imediato observamos que restos fetais, envolvidos em trapos sanguinolentos, descansavam em um canto, atraindo as moscas, certamente oriundos das práticas do dia anterior. Adelaide, sobressaltada, questionava- me se porventura a entidade espiritual que se associava àqueles despojos não estaria ainda presente. Atendendo à ansiedade sadia da amiga desejosa de ajudar, esclareci-lhe:
— Não se apavore, Adelaide. A Misericórdia Divina assiste o ser em qualquer situação em que se encontre. Os obreiros do desligamento já estiveram aqui e encaminharam o espírito que estava unido a estes restos carnais. Embora as condições de desencarnação variem sobremaneira de acordo com a bagagem moral de cada um, o Plano Espiritual dedica especial atenção ao desenlace destes espíritos em situações tão delicadas, com o mesmo desvelo com que o homem terreno recebe aqueles que renascem com dificuldades físicas. Deus socorre o homem através do próprio homem, como temos aprendido, portanto estes espíritos nunca jazem abandonados à própria sorte. Alguns permanecem unidos ao organismo feminino pelos laços do amor ou do ódio. A maioria, no entanto, encontra socorro nas enfermarias de embrióides, quais a que visitamos no Departamento de Embrioterapia, a fim de se restabelecerem do choque reencarnatório interrompido, ou tornarem, em curto intervalo de tempo, ao vaso físico. Raríssimos detêm o demérito de se deixarem cair nas garras dos draconianos, servindo-lhes de joguetes em interesses indignos, sem que os obreiros da caridade nada possam fazer. Adelaide interrompia-nos o diálogo, desviando sua atenção para Catherine que se preparava para a intervenção, ingerindo uma beberagem na qual identificávamos a presença da Nux moschata, erva utilizada para se estimular as contracções uterinas. Posicionava-se em seguida para o início do procedimento abortivo, quando se nos apresentou, para alívio de nossas aflições, a figura majestosa de Heitor, acompanhado de Fausto. Vergonhoso pesar, entretanto, corou-me o pensamento por não ter conseguido manter Catherine na linha do seu dever, evitando-se um desfecho tão infeliz na programação que intentávamos. Heitor, espírito nobre e percebendo de imediato a minha desconcertada disposição íntima, aduziu:
— Caros amigos, novamente nos encontramos em situação adversa, maculando-lhes a alma sensível. Sinto muito tê-los envolvido nesta constrangedora conjuntura. Guardem a certeza de que estou ciente dos fatos e sei que fizeram todo o possível para evitar o draifta que se desenvolve diante dos nossos olhos. Não permitam que culpas infundadas contaminem a nobreza de suas intenções e agradecemos imensamente todo o empenho que despenderam em favor da tarefa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:30 am

As condutas de nossos companheiros na carne já eram perfeitamente previstas, como certamente todos havíamos intuído. Não nos convinha, contudo, simplesmente aguardar pelo esperado, eximindo-nos do esforço sincero em modificar-lhes as infelizes disposições íntimas. Naturalmente não seria sensato, pois, como sabemos, o conhecimento de nosso destino pode nos inibir toda tentativa de modificá-lo, por isso não nos é conveniente a certeza de um futuro inexorável. E estejamos certos de que a vida nos faculta sempre a possibilidade de se evitar o pior, pois se o escândalo é necessário, como nos disse o Mestre, podemos sempre criar condições para desmerecê-lo.
Fausto, cumprimentando-nos e expressando o pesar em sua face, acrescentou:
— Nossas preocupações se justificam devido ao quadro de placenta prévia estabelecido em Catherine. Temos informações de que nossa infeliz irmã Carmem utiliza-se da introdução de velas no orifício uterino, ferindo de morte o feto e induzindo o aborto, mas ela não sabe que encontrará a placenta ricamente vascularizada em seu caminho, provocando uma hemorragia de graves consequências. Eis o motivo de nossos receios, meus amigos, e o que justifica a presença de nosso nobre mentor.
A ex-parteira iniciava sem delongas o processo, hábil no manejo de seu instrumental de morte. Com destreza posicionava o espéculo vaginal a fim de expor o colo uterino, iniciando vagarosamente a introdução das velas, para a sua progressiva dilatação. Heitor, aproximando-se de sua pupila, aconchegou-a amorosamente ao seu regaço, osculando-lhe a face suarenta. Grossas lágrimas pendiam de seus olhos, aparentando aceitar com doçura e compreensão os deslizes da tutelada, que capitulava ante a ímpar oportunidade de renovação. Sensibilizava-nos sua atitude, semelhante à de um pai diante da filha travessa que desconhece a extensão das faltas cometidas.
Rosa, aflita, recolhida em angustioso silêncio, proferia sentida prece a Nossa Senhora, pedindo por aquela que considerava sua benfeitora, sustentando-lhe a mão trémula. O sol, a meio caminho do zénite, inundava de escaldante calor a pequena choupana, enquanto os espíritos vampirescos se posicionavam, ansiosos, para o horrendo banquete. Apesar da celeuma reinante, respeitavam a ordem estabelecida, pois três deles, estampando sorrisos macabros nas faces licântropas, apresentavam-se como os pretendentes da hora. Um dos mais afoitos, com o punho cerrado, desferia golpes contra o abdome de Catherine, na tentativa de estimular as contracções uterinas e acelerar a expulsão do precioso repasto.
Não tardou muito para que uma vela mais grossa fosse cuidadosamente introduzida, porém com força, com a intenção de penetrar na cavidade uterina e matar o feto indefeso. Quando, então, um jorro de sangue em profusão assustou de imediato a assassina, ciente de que estava diante do imprevisto. Algo apavorada, aplicou-lhe tamponamentos de algodão, que, no entanto, não surtiram o efeito desejado. Irritada diante do inesperado, ordenou a Catherine que se levantasse e fosse logo embora, pois estava terminado. Mais tarde o feto sairia por si mesmo.
Despedia-se sem delongas e meio aflita, desejosa de desvencilhar-se imediatamente do que poderia ser-lhe um grave incómodo. Entre lágrimas de dores, Catherine levantou-se, ainda cambaleante, sem compreender muito bem o impositivo de ir-se tão cedo e os motivos da súbita irritação de D. Carmem. Rosa, amparando-a, não se dava também conta do que acontecia, somente assustava-se com o sangramento abundante que lhe descia pelos membros inferiores. A ex-parteira corria para chamar o cocheiro com palavras ríspidas e apressadamente despachava nossas amigas.
Os vampiros, que espreitavam especialmente os restos fetais ricamente vitalizados, vivamente decepcionados, encolerizaram-se, vociferando gritos terríveis. O mais audaz deles, inconsolado, atirou-se então de encontro a Catherine, agarrando-se às suas pernas, em triste atitude, aspirando com sofreguidão, entre uivos apavorantes, o sangue vivo que lhe jorrava da intimidade. A cena nos feria a sensibilidade com imenso pesar e repugnância, mas nada podíamos fazer ante o assédio das Sombras, pois nossa amiga, lamentavelmente criara em si mesma a condição de se expor à sobre-horrenda espoliação vibratória. Heitor não deixava de lhe suster amorosamente a cabeça, constrito, porém mantendo a suavidade que lhe caracterizava a nobreza do espírito. Adelaide chorava, procurando inutilmente desviar os olhos da terrível cena, ocultando-os com as mãos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:31 am

E eu orava com sinceridade a Deus para que se compadecesse de nossas desditas neste planeta de horrores.
O cocheiro, assustado, obedecia ao pedido aflito de Rosa, indeciso entre a ordem de apressar o passo de seu animal e a necessidade de evitar a todo custo os solavancos na condução da carruagem, pois a cada forte balanço do coche, novos grotões de sangue vivo afluíam abundantes de Catherine.
Finalmente acomodada em seu leito, a irmã respirava aliviada, conquanto o sangramento prosseguisse sem sinais de que diminuiria. Extremamente fraca, aguardava ansiosamente que o feto fosse eliminado, detendo-se a hemorragia, mas as horas corriam sem que nada se passasse. As cólicas de expulsão não davam mostras de se iniciarem. Apenas o sangue vivo continuava a lhe brotar em abundância. O infeliz licômano permanecia agarrado ao seu quadril, sugando os eflúvios que se evadiam junto com o precioso líquido da vida. Aplicávamos passes de alívio em nossa amiga sem nada mais poder fazer.
Sensibilizados diante do aviltoso ataque do vampiro, entreolhávamos- nos paralisados, esperando que Heitor tomasse alguma atitude. Este, no entanto, guardando serenidade diante da lastimável situação, explicava- nos que, para agirmos com segurança, teríamos que adensar nossos perispíritos de modo a tornar-nos visíveis para o monstro e então tentar persuadi-lo ou ameaçá-lo para que desistisse de seu demoníaco intento, tarefa que nos exigiria pesados esforços e nos dificultaria depois a continuidade do trabalho assistencial. Entrementes, um facto inesperado acontecia diante de nossos atónitos olhos. Os espíritos viciados do sexo, frequentadores assíduos do lugar e dispersos nas redondezas, logo se deram conta da inabitual movimentação da casa naquelas horas da tarde e acorreram para se inteirarem do que estava acontecendo. Ao se depararem com o vampiro agarrado a Catherine, indignaram-se com o infeliz, ameaçando-o com rudeza, ordenando-lhe que a deixasse, pois se tratava de pessoa protegida pelo bando. A presença da robusta entidade que vimos servindo-se de guarda nos aposentos de Catherine foi o bastante para intimidar o licomaníaco, que resolveu desistir de suas intenções, não sem antes bramir coléricos uivos que pouco intimidaram os circundantes. Admirados, demos graças a Deus pela providência que partiu dos próprios consorciados da casa, pois nós mesmos nada teríamos feito. Heitor citava a palavra de Jesus que nos recomendava granjear amigos, ainda que com os recursos da iniquidade, para que não nos faltem nas horas de aflições, e naquele momento compreendíamos a extensão dos conselhos do Mestre. Embora bastante materializados e grosseiros, os espíritos que se ligavam pelos laivos carnais àquelas messalinas eram entidades muito mais ignorantes do que verdadeiramente más e se prestavam, pelo menos, para lhes guarnecerem de certa protecção contra o cerco de seres realmente malévolos. Aproveitamos então para tecer em torno da nossa amiga um manto de protecção magnética a fim de resguardá-la de outros possíveis assédios, visto não ter ela alimentado a postura moral elevada o bastante para lhe conferir natural segurança. Para isso, foram-nos de imensa utilidade as vibrações que se desprendiam de Rosa, única pessoa capaz de se manter com o pensamento elevado em preces, mesmo diante da intensa concupiscência do ambiente. Agradecíamos a Deus, cientes de que a oração tem o seu valor e pode ser empreendida em qualquer lugar, mesmo no mais vil deles.
Afastado o vampiro, Fausto pôde examinar com mais cuidado a condição em que se encontrava Alberto, verificando que o mesmo agonizava em seus derradeiros instantes de vida. Adelaide, algo preocupada, questionou-me se porventura o espírito, em tais condições, tem consciência do que lhe passa e se regista dores em sua frágil organização. Atendo-lhe a sadia curiosidade, considerei:
— Recordemos que Alberto já completou três meses de permanência na carne e seus liames com a matéria já se estabeleceram de forma suficientemente forte para lhe reter o espírito, tornando o processo desencarnatório semelhante a qualquer outro. Embora os órgãos sensitivos ainda se encontrem em estágio de desenvolvimento, já são capazes de veicularem sensações ao espírito, de modo bastante efectivo, podendo ele já registrar o frio e o calor, o toque e, naturalmente, os estímulos dolorosos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:31 am

Compreendamos, sem sombra de dúvidas, que é uma grande ilusão do homem terreno achar que está lidando, no aborto criminoso, com seres ainda incapazes de sentir e sofrer. Eles padecem, não somente as dores físicas do acto, como também os sofrimentos de ordem moral que se lhes impregnam profundamente na alma. O medo, a intensa frustração diante dos anseios não realizados, as sensações da morte traumática e o ódio por aqueles que lhes infligem o mal compõem o cortejo de sentimentos que acompanham essas pequenas e indefesas vítimas da ignorância humana. Embora seus instrumentos físicos ainda estejam incompletos para o reconhecimento seguro de tudo que lhes sucede, o espírito encontra-se activo e percebe o que lhe passa. Ainda que estes acontecimentos não possam inscrever-se na memória física, são registados em detalhes na memória espiritual, à qual a consciência pode ter acesso em estados alterados de percepção.
— Quer dizer que se a placenta não o tivesse protegido...
— Isso mesmo. Felizmente para Alberto, a placenta, antepondo-se entre ele e o orifício uterino, protegeu-o dos golpes dolorosos da ferramenta abortiva, resguardando-o de padecimentos ainda maiores. Sua consciência, neste instante, pressente a morte próxima e agoniza também, sofrendo as dores do desenlace prematuro, registando, não somente as angústias próprias do momento, como o malogro pela vida que se frustra. Recordemos que, embora usando veste física ainda imatura, estamos diante de um espírito velho, habilitado nas sensações da vida e no julgamento das emoções humanas. Ele percebe as impressões mentais que movem sua mãe neste momento e se dá conta de que é presença indesejada. Sofre pelas injúrias físicas de que é alvo, sentindo-as como um ato de maldade. Por isso, muitos espíritos nestas condições passam a nutrir verdadeiro ódio por suas pretensas mães, sentimentos que unirão seus destinos, aguardando solução no tempo. Alberto, no entanto, em sua intimidade consciencial sabe que não é meritório da vida que não soube valorizar na última encarnação e tal disposição íntima restringe sua capacidade de gerar animosidades. O momento o alimenta sobretudo de profunda tristeza e frustração diante do renascimento malfadado, sensações que não deixam de ser curativas para suas tendências auto-destrutivas. Ele arquivará a lição, estabelecendo doravante maiores cuidados para com o próprio corpo e aprendendo a valorizar devidamente a existência física.
— Entretanto, temos de reconhecer que muitas vezes o aborto é inevitável para se salvar a vida da mãe — ponderou assustada a amiga.
— Sem dúvida, é preciso considerar que o aborto encontra, em raras ocasiões, indicações terapêuticas, como também muitas vezes se dá como acto espontâneo. Todas estas condições, no entanto, guardam correspondência com as necessidades do reencarnante, como já vimos. E lembremos que nestes casos o ódio não encontra lugar nos corações envolvidos, resguardando-os de futuros sofrimentos expiatórios.
Adelaide dava-se por satisfeita e prosseguimos na tentativa de algo realizar em benefício de nossos amigos. Fausto nos explicava a necessidade de Alberto esgotar a maior parte de seu tónus vital para desprendê-lo da massa fetal, cabendo-nos, portanto, aguardar. Catherine, como pressentíamos, em breve deixaria a vida, caso não fosse prontamente socorrida. Heitor, numa última tentativa de evitar a desencarnação próxima de sua pupila, tratou de sugestionar Rosa, infundindo-lhe forte preocupação pelo estado de sua tutora, a fim de que se dispusesse a buscar ajuda rapidamente e não aguardasse mais pelo desfecho do aborto. Obediente e facilmente influenciável, a jovem deixou-se invadir por terríveis presságios, vendo que Catherine se mostrava a cada momento mais lânguida, pedindo insistentemente por água sem dar mostras de melhoras.
Era já tarde, quando ela saiu apavorada à procura do médico, enquanto o dia se dissipava nas cores melancólicas do crepúsculo. Acompanhamo-la, eu e Adelaide, deixando nossos amigos sustentando como podiam a desventura da amiga. O médico, entretanto, negava-se a comparecer em sua casa, apesar das súplicas insistentes de Rosa. Perfeitamente ciente de que se tratava de cabaré famoso, dava mostras de orgulhosa dignidade, achando inconveniente sua presença em tão deplorável lugar, pois poderia ser notado pelos circundantes, denegrindo-se-lhe a imagem de homem probo. Insistimos com nossa capacidade de influenciação, porém não encontrávamos qualquer ressonância no facultativo, que colocava a sua honra acima dos deveres de médico e dos sentimentos humanos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:31 am

Que lhe trouxessem a doente, determinou secamente, sem delongas, despedindo a aflita moça. Lacrimosa, Rosa retornou, apurada e bastante contrafeita, pois suspeitava que Catherine não detivesse forças para resistir a nova caminhada, mesmo que não tão longa.
Encontramos Catherine já em estado de choque e completamente obnubilada.
Acomodando-se em camadas profundas do inconsciente, atirava-se a desvarios, quando Heitor me convidou ao exame minucioso dos pensamentos que a moviam naquela hora de agonias. Com a destra em sua fronte podia ouvir-lhe as correntes mentais aflitivas, enquanto Rosa providenciava a sua remoção urgente. Na iminência de perder o bebê, seus sentimentos maternais se exaltavam, nutrindo-a de frustrações e pesares diante da covardia a que dera vazão, evadindo-se de recebê-lo com amor e desfrutar os encantos da maternidade. Sentimentos ambíguos que no entrechoque das forças psíquicas despertavam reminiscências profundas em sua memória espiritual, trazendo-lhe à tona época remota, advinda de outra existência.
Sem plena consciência da preciosidade do instante que vivenciava, via-se enclausurada em uma solitária e fria masmorra, em hábitos de freira, sentindo imenso pesar por grave ocorrência. A mesma ambiguidade de sensações em intenso antagonismo consigo mesma a movia, pois se via constrangida pela morte de um homem que amava, porém responsabilizava-se pelo seu assassinato.
Dominada pela vingança, diante da afeição não correspondida e de infame traição, revolvia-se entre o amor e o ódio. Uma amargura infinda dominava-lhe a alma de angustiosas recordações que não sabia de onde provinham. Podia ver ali as forças poderosas do passado agindo no presente. Segredos que o espírito transporta, emoções não resolvidas que vinham à tona, aguardando ensejo para soluções definitivas. Certamente presenciava a execução de importantes lições para os amigos envolvidos naquela trama e as premissas do presente não os uniam por mero acaso, mas obedeciam às instruções do destino, contidas nas páginas do pretérito, escritas em linhas indeléveis no livro da vida. A gravidade do momento frenava-me o ímpeto de atender à curiosidade, questionando Heitor sobre o quadro que se desdobrava ante minha análise e calei-me respeitoso. Atendendo à caridade cristã, emitia ondas de paz, tentando confortar a amiga, em instante tão decisivo para o seu destino. Pressentia que o momento de alguma forma se ligava àquele drama distante e os sentimentos que a inundavam pareciam corresponder aos mesmos que lhe afloravam, sub-reptícios, da remota lembrança, afigurando-se-me o irmão reencarnante como o mesmo personagem, alvo de seus contraditórios sentimentos de paixão e ódio.
Alberto, nesse momento, iniciava seu processo de desencarnação, recolhendo-se para as camadas internas do inconsciente, apagando-se para a realidade em que mal iniciara os passos. Seu perispírito começava a absorção do tónus vital remanescente na massa embrionária, a fim de deixá-la definitivamente, e se contraía, inibindo todos os exaltados estímulos expansionistas, colocados em funcionamento. Concretizara assim o seu desfecho, pondo fim a todas as suas esperanças de vida nova. Dava cumprimento, porém, às linhas de seu destino, traçadas pelas próprias desventuras, como todos já prevíramos.
As estrelas mais afoitas já enfeitavam o céu quando, enfim, Rosa conseguiu mobilizar sua amiga, carregando-a com ajuda de outras companheiras para a carruagem que a levaria ao médico. O fluxo hemorrágico não cessara e as entidades que, por curiosidade, permaneciam ao seu lado, retiraram-se, obedientes a outros convites da noite. O quadro de choque já se achava instalado e Catherine não conseguia mais responder aos estímulos ambientes. Ao ser colocada cuidadosamente no veículo que a levaria, novo e intenso fluxo hemorrágico colocou-a no limiar da morte. Não guardava mais vitalidade suficiente para atingir o médico. As amigas, sem se darem conta disso, saíram à procura do socorro. Sudorese fria cobria-lhe o corpo e sentimos que sua pulsação chegava ao fim. Sua consciência se retraía nas reentrâncias do espírito, apagando-se completamente para a realidade. O óbito clínico estava efectivado e Catherine entrava nos estágios iniciais do desenlace, pouco depois de Alberto. Ambos, no entanto, permaneciam jungidos às vestes corpóreas, como de praxe, nos momentos iniciais da morte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:32 am

Diante do consultório do médico, pôde o profissional apenas constatar que a enferma já havia falecido, recomendando que retornassem para providenciar o seu funeral, sem questionar as verdadeiras causas que desencadearam o inopinado e grave episódio hemorrágico.
Findo o primeiro período de recolhimento da desencarnação, em curto tempo, Fausto, com delicada destreza, pôde recolher Alberto de seu pequeno manto físico, colocando-o em uma cesta prateada, própria para este fim. Enquanto o reduzido séquito de amigos, vestidos com o luto da ignomínia e lastimando a ausência da parentela francesa, enterrava os despojos da famosa cortesã, demandamos as regiões espirituais que nos aguardavam, ciosos de que cumpríramos com o melhor ao nosso alcance. Deixando os humanos transportando seus fardos de infortúnios, exaltados diante dos mistérios da morte, distanciamo-nos do palco de seus intermináveis dramas de cada dia.
Heitor permaneceu ainda velando por Catherine e dias depois pôde providenciar o seu desligamento. Embora nossa irmã transportasse consigo uma consciência denegrida no exercício de uma vida ímproba, deixou o plano físico nos braços de seu protector, partindo rumo às esferas de refazimento.

58 Vampiro com traços de mulher e cadela em certas lendas orientais.
59 Que têm forma de animal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:32 am

14 - Um Homem Sem Memória
“Vendei o que possuis e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não envelheçam ” Jesus - Lucas, 12:33

A morte é o fim somente da organização carnal temporária de que se serve o espírito em sua romagem terrena. Limita apenas uma das infinitas dimensões da vida, que se desdobra além, em panoramas inalcançáveis para a mente humana. Para o espírito em evolução, sujeito a quedas e recomeços, os recursos propostos pela Mente Divina para a sua educação são ilimitados, sobrepondo-lhe a reduzida capacidade de empreender o mal e sofrer-lhe as consequências. Embora isso não justifique a permanência no desacerto, é-lhe dado o livre-arbítrio para errar, pois sempre é possível o reparo da consciência ferida e vilipendiada pelo desamor. Os atropelos não compensam os abusos livremente pretendidos, mas todas as oportunidades são oferecidas para a regeneração do espírito e o seu retorno definitivo ao seio amoroso do Pai, que o aguarda com paciência e o quer livre na capacidade de eleger e agir, vivendo, enfim, por espontânea vontade, confinado nas fronteiras do amor sem limites. A dor comparece como recurso de correcção, inibindo novos sofrimentos para que o espírito conquiste a alegria perene, herança genuína com a qual foi criado. Além dela, o amor se estabelece como auxílio poderoso, capaz de cicatrizar as maiores chagas do espírito, remédio seguro, sempre disponível na criação, em qualquer instância, aguardando somente que a vontade do ser se manifeste para utilizá-lo em proveito de si mesmo. Por isso o apóstolo pescador nos asseverou que a benevolência pode cobrir a multidão de nossos males.
Não fosse o amor de Heitor por sua pupila, estaria ela entregue ao dissabor de um traspasse doloroso e prolongado. O óbito a surpreendera com um coração desalentado e a alma despreparada para uma vida espiritual feliz. Porém, a misericórdia do Pai lhe sustentava os passos vacilantes na nova existência que iniciava. Se a Lei é capaz de punir, ela o faz com o escopo único da correcção, nunca visando à semeadura de desesperos, frutos exclusivos da própria desdita do ser. E se é possível amparar, antes que acoimar, esta sem dúvida é opção da Misericórdia Divina. Catherine seguiu seu caminho e não nos cabia acompanhá-la por ora. Heitor a ampararia com a dedicação de verdadeiro e amoroso pai, orientando-a com segurança na nova estrada que se desdobrava aos seus pés.
Cumprira ela, embora com dificuldades, a tarefa que a vida lhe pedira e, se foi protagonista do escândalo, era porque o escândalo se fazia necessário.
Não fosse a disposição de Heitor em amparar Alberto, possivelmente não estaríamos empreendendo a sua assistência naquele momento. Mas, a misericórdia de Deus a ninguém abandona e assiste o homem através do próprio homem sem que ele se dê conta de Sua amorosa presença.
Alberto, em obediência à Providência Divina, fora recolhido no Departamento de Embrioterapia, na mesma enfermaria que anteriormente visitara em companhia de Adelaide. Em breve, acompanhado da dedicada amiga, retornávamos ao local, a fim de nos certificarmos dos novos rumos a tomar em nossa tarefa de tutoria.
Embora amparado pelo Departamento, continuava ele sob nosso encargo e devíamos nos inteirar de suas novas necessidades. Ainda não conhecíamos a sua história e ignorávamos as causas que o levaram ao infeliz auto-extermínio, mas no momento nossa expectativa se direccionava ao estado em que iríamos encontrá-lo.
Ter-se-ia fixado na embriomorfia? Necessitaria de novo e urgente mergulho na carne? Haveria ainda risco de ovoidização?
O espírito que é abortado na fase de desenvolvimento embrionário tem destino variado, guardando dependência directa de sua condição evolutiva e do período em que deixa o corpo em formação. De modo geral, aqueles que interrompem sua incursão na carne antes da terceira semana de gestação desligam-se quase que automaticamente de suas vestes orgânicas ao serem abortados. Seus liames com o perispírito feminino são mais fortes do que com o próprio corpo em desenvolvimento e assim continuam, por tempo indeterminado, jungidos às mães que o abortaram por qualquer motivo que seja, aguardando nova oportunidade de renascimento, segundo programação espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 26, 2024 10:32 am

Por isso, na maioria das vezes, o espírito expulso até essa fase é o mesmo que torna a nascer logo depois. Esta é a forma como a natureza protege esses seres, surpreendidos em delicada situação de trânsito entre os dois mundos. Os que falecem depois da terceira semana, de modo geral, abandonam a intimidade materna juntamente com seus restos orgânicos, estando o desligamento perispiritual subordinado aos mesmos princípios que norteiam a desencarnação em geral, ou seja, guarda dependência directa com a posição evolutiva de cada um, sendo tanto mais dificultosa quanto menos evoluído é o ser. Alguns, da mesma forma, podem voltar à união quase imediata com suas mães, aguardando novo nascimento, quando assim programado, enquanto que outros são cuidadosamente recolhidos às casas assistenciais que se dedicam a este tipo de amparo, qual o Departamento de Embrioterapia. Estejam seguros os homens de que o mundo espiritual dispensa especial atenção a estes espíritos, da mesma forma que na Terra se cuida com desvelo dos bebés prematuros. Aqueles que não tornam à carne logo de imediato demandam período variável para se recuperarem, de acordo com seus potenciais evolutivos. Uma pequena parcela, de modo geral oriunda de ovóides ou suicidas, não se recupera, tornando-se embrióides, como vimos, presos ao molde embrionário, tendo a reencarnação como única possibilidade de volver à normalidade da forma.
Sabemos, no entanto, que os liames do pretérito e as forças do ódio podem alterar todas essas condições, modificando sobremaneira os destinos dos envolvidos. Embrióides comprometidos com processos dolorosos, comummente renitentes criminosos do passado, podem cair nas garras de espíritos malignos, servindo-lhes aos interesses nefastos, situação bastante rara, que cria graves consequências para o ser, exigindo a interferência da Misericórdia Divina. No aborto criminoso, como regra geral, estabelecem-se laços de ódios recíprocos, jungindo mãe e filho, tecendo destino de amarguras para ambos, com difícil solução no tempo. Mesmo transportando precárias condições orgânicas, os embrióides podem promover, de imediato, acirrado ataque às infelizes mães que os abortaram, em triste urdidura obsessiva, que pode conduzi-las à loucura ou mesmo à morte. Fora do âmbito dessas conjunturas dolorosas, os embrióides, de modo geral, encontram socorro nos serviços especializados de assistência onde são amorosamente cuidados, a fim de se restabelecerem do choque reencarnatório ou tornarem, em curto intervalo de tempo, ao vaso físico.
Ao chegarmos ao Departamento de Embrioterapia, fomos surpreendidos por Fausto que nos informava haver transferido Alberto para as Câmaras de Rectificação. O amigo se desculpava por não ter-nos inteirado do fato a tempo, mas a nossa alegria pela notícia suplantava qualquer sentimento de desagrado. O tarefeiro nos dava conta de que o pequeno impulso contractivo do desenlace de Alberto esgotara-se prontamente, dando início à efectiva expansão reconstrutora perispiritual, levando ao seu pronto refazimento.
O tratamento proposto redundara no resultado esperado. Como o desamor não interferia no processo e uma onda de simpatia lhe amparava a alma desvalida, a qual até mesmo Fausto dizia não saber de onde provinha, nosso amigo pôde se recuperar, pois detinha suficiente potencial evolutivo para isso. Apesar do aborto lhe ter sido hedionda imposição, o processo fora benéfico o bastante para efectuar o saneamento de suas energias negativas, evacuadas com proveito para a massa embrionária. A embrioterapia tinha sido bem sucedida. Podíamos respirar aliviados e dar graças a Deus pelo êxito do tratamento.
Demandamos às Câmaras de Rectificação ansiosos por examinar nosso amigo.
Estas Câmaras são usadas no plano espiritual para se acomodarem, com relativo conforto, espíritos que necessitam passar por sono prolongado após o óbito, mas somente aqueles, no entanto, cujas consciências não se achem desequilibradas por ódios comprometedores ou aflições angustiosas a ponto de perturbarem a paz que reina em tais ambientes. Apesar de serenos, trazem a intimidade psicossomática imiscuída de remanescentes vibracionais deletérios, oriundos de desequilíbrios da vida mental na carne e ainda se ressentem dos sintomas que lhes acompanhavam a jornada terrena nos últimos dias. Aí permanecem eliminando tais resíduos fluídicos, a fim de amealhar um bem-estar maior na nova vida que iniciam. Espíritos que, embora providos de certas conquistas morais, nutriram a crença na nulidade após a morte e não conseguem despertar para a realidade espiritual, aí também se estacionam em sono prolongado, às vezes, por anos a fio.
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