LUZ ESPÍRITA
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:02 pm

A sensação de estar caindo em um abismo sem fim caracteriza a mente que se aprofunda rumo à morte da razão. Aí estava patente o risco de ovoidização iminente, única defesa possível para um ser que não encontra o bem-estar almejado a todo custo.
— Depois de longo período de inconsciência absoluta, nosso amigo despertou para vivenciar afinal o seu traumático desfecho — explicava Heitor, embargando as emoções. — Para ele, é como se a morte se desse neste instante. Vejamos nisso a providência divina que acoberta a alma das dores que não pode tolerar, adiando-as para o momento em que possam ser suportadas da melhor maneira possível, resguardando-a do desespero intolerável e da ruína da revolta.
Sua maior aflição, sem dúvida, era motivada pela impossibilidade de respirar, encontrando-se a glote completamente estrangulada. O enforcamento estava patente com sua realidade, estampada nas lesões típicas. Alguns espíritos, nestas condições, trazem até mesmo a corda de que se serviram no ato ignominioso, porém Alberto não a aparentava, mostrando apenas a região cervical completamente macerada. Era imperioso, então, a introdução de uma cânula para que pudesse respirar, encontrando maior conforto e assim nutrir alguma possibilidade de recuperação. Iniciamos, sem delongas o procedimento, em tudo idêntico à traqueostomia9 realizada pela medicina terrena. Qual ambulatório aparelhado no socorro aos doentes a que se serve, mantínhamos nas Cavernas recursos para estas intervenções. Em breve um prolongado sibilo deu mostras de que Alberto podia respirar, enchendo a longos haustos os pulmões arfantes. De imediato sua musculatura relaxou-se pela veiculação de maior taxa de oxigénio na circulação. Sua mente enfim se embriagava de ar, após muitos anos de escassez, fazendo-o finalmente desfalecer. Heitor manipulou recursos magnéticos a seu favor, tranquilizando-o por completo, acomodando-o em um sono repousante, sem sonhos, activando as conexões ascendentes dos núcleos da rafe e os neurónios do locus ceruleus10. Seus precários centros vitais, esmaecidos, revitalizaram-se momentaneamente de pálida luz azulada, provocando- lhe o afrouxamento dos membros. Agora podia ser transportado com segurança para um atendimento mais eficaz em nossas enfermarias, em Portais do Vale. A ameaça de ovoidização fora superada de imediato e, com tratamentos mais adequados, tínhamos chances de trazê-lo à nossa realidade, embora muito ainda se necessitasse fazer a seu favor. Agradecendo ao Senhor a oportunidade do serviço e, deitando-o em nossa maca, iniciamos a viagem de volta à nossa colónia.
Não era ainda o momento para conhecermos mais de perto o drama desse infeliz. Sequer sabia se o teríamos sob nossos cuidados, de modo que me calei no interesse de adentrar em sua história. Adelaide, naturalmente, endereçava-me mudos questionamentos, mas sinalava-lhe com o olhar que aguardasse com paciência. Heitor apenas nos informava que há aproximadamente três anos, ajudara a depositar Alberto naquela mesma gruta, quando ainda participava das caravanas de socorro em actividade no Vale. Ali permanecera em sono profundo, na mais completa inconsciência durante esse tempo e somente agora entrava, de fato, na vivência traumática da morte. Período até mesmo curto se comparado à média dos que permaneciam ali, pois os espíritos submetidos a este tipo de patologia podem estacionar por décadas, atados ao sono restaurador da consciência perdida. E sabidamente, tratava-se de um tutelado seu ou de outros espíritos superiores, pois sua prontidão em socorrê-lo parecia corresponder aos interesses de esferas mais altas. Importante considerar que se as inter-relações no Mundo dos Espíritos baseia-se em favores e intervenções facilitadas, como no plano dos encarnados, esses favores obedecem sempre à Lei do merecimento e não atendem aos propósitos ilícitos dos valores humanos, comummente fundamentados em desideratos egoísticos, de natureza política ou monetária. Não se atiram pérolas aos porcos, ensina-nos o Evangelho, por isso, antes de accionar as benesses de uma assistência espiritual orientada, é preciso resguardar a condição de merecimento do socorrido que, se não as detiver, não será objecto delas. Assim é que seguíamos transportando nosso amigo, cientes de que chegara a sua vez, embora uma multidão de necessitados agonizasse ao nosso derredor sem que pudéssemos atendê-los prontamente, antes que os seus dias fossem contados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:03 pm

Percebíamos ainda que Alberto não maculara seu destino com grandes feitos de maldades e por isso não contava com perseguidores implacáveis atormentando-lhe o coração na requisição de vinganças. Dava mostras de ter sido vítima apenas de si mesmo, o que lhe facultava facilidades no atendimento. Quando os laços do ódio se imiscuem nas grandes tramas humanas, as enfermidades que geram na alma são de tamanha gravidade que não encontram solução na Erraticidade, requisitando a contribuição de sucessivas reencarnações para que a real cura se instale no campo do espírito. Há uma lei que confere benefícios segundo méritos, funcionando inexoravelmente em todas as paisagens da alma humana e diante dela temos que submeter nossos interesses exclusivistas, sempre prontos a burlar todos os limites.
Por isso, muitas vezes, em operações de resgates, temos que entregar à própria sorte desventurados companheiros, atados pelas recíprocas inimizades, até que as exigências de vingança das vítimas do ontem, vertidas em verdugos do hoje, se esgotem no tédio dos dissabores ou na inconsciência de seus protagonistas.
Somente as grandes dores sanam os grandes males e, nestes casos, os sofrimentos atrozes são os únicos recursos da misericórdia divina em favor dos inconsequentes.
Não havia tempo para o repouso, mesmo breve, pois devíamos voltar antes que anoitecesse. No retorno, nossos passos seriam mais lentos e à noite as dificuldades no Vale são maiores. Os malévolos, habituados às sombras intensas, colocam-se mais à vontade e dispostos a perturbar aqueles que trabalham, exigindo-nos maior vigilância. Ademais, transportando socorridos, temos que tomar cuidados redobrados para não chamar a atenção de espíritos levianos, que se aproximam para averiguar se o que levamos representa para eles algum interesse. Caso suspeitem que sim, podem se dispor a disputar connosco o assistido, como se tratasse de mera carga de interesses mercantilistas. Naturalmente que caravanas como a nossa contam com defesas seguras para óbices desses, mas é preferível evitar a todo custo altercações desagradáveis com seres inconsequentes e sem outros propósitos que não perturbar a ordem. Seres também dignos de piedade, os quais somente o tempo e a dor podem convencer de alterar a jornada de revoltas em que se comprazem. É preciso considerar que a dura lei de relações que impera neste reino de maldades se assemelha ainda à ética primitiva dos guerreiros, baseada na imposição pela força e em interesses egoísticos em que todos menosprezam a piedade e ignoram o mínimo respeito ao bem-estar alheio.
Avançamos silenciosos pelo caminho de volta. Heitor redobrara sua acuidade espiritual a fim de perceber a presença de entidades mal intencionadas antes que nos notassem. Apenas por duas vezes tivemos que nos ocultar de transeuntes errantes e, felizmente, nosso trajecto se fez sem maiores incidentes. Em breve podíamos respirar aliviados ao avistarmos de longe o sinalizador que marcava a presença dos portões de nossa colónia.
Atingindo os pórticos que sustentam os enormes muros de Portais do Vale, ponto mais alto de nossa caminhada, fomos surpreendidos por uma imagem inusitada, raramente vista naquelas paragens. Não pudemos deixar de nos deter, extasiados diante do inesperado. Naquele instante o sol poente penetrava um de seus raios avermelhado e fugidio por uma fresta de nuvem, invadindo as eternas brumas do Vale, iluminando-as por um raro momento. Sua larga extensão, sempre enevoada, deixou-se embeber pelos matizes pálidos da diáfana luz, permitindo-nos entrever sua exótica paisagem. Picos íngremes, como farpas imensas, vestidos de névoas esbranquiçadas e planícies estiradas ao longe, cobertas de mantos leitosos, desdobravam-se diante de nossos atónitos olhos, como nunca havíamos visto. Um cenário exótico, porém profundamente melancólico ecoava dor e lamento, estampando em nossas almas pesar e espanto. Extasiados, não sabíamos o que dizer diante daquela singular visão, gota de piedade da natureza que, apenas por um instante, libertava o Vale de dores das eternas sombras como a lembrar aos seus infelizes habitantes que a alegria ainda é possível para aquele que sabe esperar. Um sentimento de esperança nos invadiu na certeza de que um dia o Planeta se verá livre deste imenso fosso de amarguras. A visão se perdia nas névoas mais distantes, incendiadas por evanescente vermelho, que rapidamente se desfazia em tons rosados, vazadas por cumes elevados que, como mãos postas, afiguravam suplicar misericórdia aos Céus. Seguramente ali deve ser o fim do mundo e, embora tácito, parecíamos ouvir o som de mil vozes clamando por compaixão.
A nostalgia própria desta mágica ocasião fecundou-nos do mais genuíno e sagrado sentimento da presença do Divino e nos detivemos em breve oração de louvor e gratidão ao Senhor da vida, arrancando-nos as mais recônditas lágrimas das almas doridas e carentes da paz verdadeira.

9 Procedimento médico que consiste em abrir e introduzir uma pequena cânula na traqueia, a fim de se permitir a livre respiração.
10 Estruturas cerebrais responsáveis pela activação do sono.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:03 pm

6 - Fisiopatologia da Auto-destruição
“Em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. ” Jesus - João, 8:34

Alberto, depositado em confortável leito, respirava com certa tranquilidade, mas não dava ares de recuperação imediata.
Arregalava os olhos buscando inutilmente divisar o exterior mas somente conseguia enxergar os próprios pensamentos, desalinhados e caóticos. O efeito calmante do sono induzido se esgotara e o infeliz retornava à vivência de seus terríveis pesadelos.
— Que falta faz o sentimento de religiosidade para um espírito atormentado— considerava Heitor. — Se nosso amigo tivesse alimentado a fé sincera, motivada por crença, qualquer que fosse, estaria em melhores condições de reagir hoje. Se ele não voltar a orar com lhaneza, não se colocará em condições de colher as energias divinas que o envolvem. Ele não cultivou esse hábito e aprendeu a confiar somente em si mesmo. Não alimentou a vida do espírito e se deixou convencer de que apenas o vazio o esperava depois do túmulo. Ele não está habilitado a perceber os estímulos de nosso meio e não consegue se desvencilhar dos tormentos íntimos.
Temos que aproveitar um pequeno potencial de bondade e humildade que ainda traz no espírito.
Achávamo-nos na Casa de Apoio, nosocómio dedicado aos recém- socorridos do Vale, em quarto acolhedor e individual. O ambiente, mantido ainda na penumbra, contava com isolamento acústico e ténue luz azulada, a fim de não perturbar o repouso do enfermo com estímulos prejudiciais. Sua dispnéia11 não fora de todo sanada com a traqueostomia, porque os delicados lvéolos pulmonares achavam-se também lesionados pela prolongada hipóxia12 e a musculatura brônquica reagia com espasmos violentos, obstaculizando o processo respiratório tão importante à manutenção da fisiologia perispiritual quanto da carnal. O coração batia desalinhado e aflito na tentativa de compensar a baixa taxa de oxigenação reinante.
Um quadro em tudo semelhante à enfermidade asmática se instalara em Alberto. Os amigos do plano terreno, habituados aos efeitos drásticos dos medicamentos de potente acção no quimismo da carne, perguntar-se-ão se por ventura o plano espiritual não disponibilizará de recursos de igual natureza em tais circunstâncias. Certamente que qualquer médico gostaria de contar com a ajuda de substâncias broncodilatadoras13 em momentos como este. Não nos iludamos, os remédios podem ajudar, mas seus efeitos, quando aplicados com o princípio dos opostos, se fazem acompanhar de reacções adversas que levam ao aprofundamento subsequente da lesão que intencionam sanar. A cura real somente pode ser alcançada pela activação das vias do próprio equilíbrio, do contrário não se mantém no perispírito, conquanto possa se suster por algum tempo na carne, simulando uma solução segura para o processo mórbido. A introdução de substâncias bloqueadoras dos receptores adrenérgicos14, possível também em nosso plano de acções, levaria a um efeito fugaz de abertura dos duetos brônquicos, mas se faria seguir de um mais intenso reforço nos espasmos, pois a reactividade perispiritual é surpreendentemente muito mais rápida e enérgica do que a física, podendo agravar sobremaneira o processo, ao invés de conferir o mínimo alívio. Por isso nos valemos de recursos magnéticos muito mais efectivos em nosso plano. O uso de substâncias medicamentosas subtis, modeladas e aplicadas segundo os princípios da Homeopatia terrena, é recurso de maior eficácia no plano espiritual, pois atuam como um estímulo para o refazimento do próprio equilíbrio. E, neste caso, as utilizaríamos se nada pudéssemos esperar da terapêutica energética.
Os amigos inscientes do espírito certamente estranharão nossas afirmativas, considerando que estamos materializando sobremaneira o ser desencarnado, mencionando detalhes da fisiologia comum à carne. A estes lembramos que o espírito, no plano em que nos manifestamos, ainda se serve de um organismo em tudo semelhante ao corpo físico, possuindo a mesma tessitura celular e o mesmo arranjo de órgãos com funcionamento exactamente idêntico. Os detalhes da conhecida anatomia humana se aplicam perfeitamente à anatomia perispiritual, por serem em tudo análogos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:03 pm

Estas estruturas funcionam em íntima conexão com o espírito, formando com ele uma unidade indissolúvel e, por isso, irão reflectir sempre, em forma de desorganizações estruturais ou funcionais os mínimos desequilíbrios. Desorganizações estas, no entanto, muito mais evidentes e consistentes no perispírito, por ser este um veículo de maior maleabilidade do que o corpo físico. O cérebro, sede de nossa unidade substancial, a mente, sendo a estrutura mais importante e mais complexa da nossa organização é o palco imediato destes desequilíbrios, onde se manifestam de forma mais incisiva e mais drástica. O perispírito, por isso, trabalha sabiamente a fim de desviar dele estas perturbações, depositando-as, como possível, em regiões mais superficiais de nossa unidade. Faz assim adoecer a periferia a fim de se resguardar o máximo de equilibro para o psiquismo e seus apurados instrumentos de manifestação. Desse modo, toda enfermidade superficial é uma defesa da mente e, se o corpo adoece, o faz sempre para proteger a integridade do espírito. Quando, no entanto, o processo mental se avulta sobremaneira, não há como impedir que os próprios pensamentos desalinhados firam a delicada tessitura do encéfalo em forma de distúrbios funcionais e lesões neuronais. Transtornos estes que, por sua vez, irão obstaculizar o perfeito funcionamento da mente, devido à íntima unidade com que funcionam.
Não digamos, entretanto, com isso, que as desordens mentais se devam às alterações de sua estrutura, como o faz a equivocada visão materialista da medicina terrena.
Heitor operou novamente delicadas intervenções no campo mental de Alberto de onde na verdade partiam as excitações nocivas para a manutenção de seu mórbido estado orgânico, mas com poucos resultados atenuantes. Era preciso empregar outros meios de alívio, pois, do contrário, nosso assistido iria iniciar, sem dúvida o processo de encistamento da consciência.
O nobre amigo, no entanto, necessitava deixar-nos e nos confiou a guarda do tutelado. Estava convencido de que a misericórdia divina se faria presente através de nossos modestos recursos e despediu-se agradecido e contente pelos resultados até então alcançados, não antes, naturalmente, de comprometer-se a nos ajudar no que fosse possível, pois estaria acompanhando de longe o seu tratamento, envidando todos os esforços necessários à sua recuperação. Retornaria nos momentos devidos para nos orientar no que fosse preciso.
Assumimos naquela hora a tutela de Alberto. Adelaide, colocando-se ao meu lado, dava mostras de que dividiria comigo a responsabilidade e que juntos conduziríamos o seu processo de recuperação. Ela se admirava, no entanto, de Heitor ter partido sem nos esclarecer alguma coisa de sua história e nem sequer nos orientar quanto às providências a serem tomadas no cruciante instante.
Esclarecemos que Heitor apenas dava mostras de plena confiança em nossa actuação, deixando-nos inteiramente livres para tomar as decisões que julgássemos cabíveis. Sabia que iríamos mobilizar todos os recursos para a condução do tratamento e, colocando em nossas mãos todas as decisões que o caso demandava, evadia-se, humildemente, evitando nos roubar os méritos do sucesso se porventura o obtivéssemos. Atitudes assim se encontram entre almas nobres que não enxergam no outro o serviçal inútil que somente faz o que se lhe manda, anulando-lhe a capacidade de auto-realização no serviço. Certamente que ele estaria vigiando nossas acções e não se eximiria de intervir caso adoptássemos procedimentos erróneos que viessem prejudicar o seu tutelado.
A sós, diante do amigo que sofria, de pronto nos interessamos pelo seu drama.
Despertou-nos o desejo de conhecer-lhe o passado para melhor ajudá-lo, no entanto não era ainda o momento, pois Alberto caminhava para a ovoidização e era preciso adoptar providências mais urgentes. Posteriormente, caso fôssemos bem sucedidos, então seriamos convocados a penetrar em sua intimidade com maior precisão a fim de conduzi-lo a um efectivo restabelecimento.
Ofegante, o infeliz reassumia a posição fetal como se recolhesse em si mesmo.
A desvitalização perispiritual nos mostrava a incapacidade de resposta eficaz aos estímulos energéticos ou mesmo aos medicamentos de que dispúnhamos. Seus membros enrijeciam-se e os movimentos oculares rápidos demonstravam a imediata reentrada nos pesadelos cruciantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:04 pm

Convidamos Adelaide a um exame mais minucioso do enfermo a fim de adoptarmos as providências cabíveis. O quadro configurava todos os efeitos da doença autodestrutiva ainda intensamente actuante e aproveitamos o ensejo para detalhá-la para a amiga, interessada em aprender para melhor servir.
—Vejamos, Adelaide—disse-lhe, procurando envolvê-la no interesse pelo estudo — a que ponto pode a louca desventura do auto-extermínio conduzir o ser.
Observemos a completa desorganização de nosso suicida a fim de compreendermos com mais detalhes a sua fisiopatologia. Sei que são velhos hábitos da nossa medicina, que parecem atender muito mais à curiosidade do que ao sincero desejo de ajudar, mas certamente conhecer primeiro é o caminho para se melhor interferir depois.
A autodestruição opera graves danos à organização perispiritual, sobretudo nas delicadas estruturas encefálicas, onde induz suas lesões mais importantes. Para se compreender esta patologia da alma, conhecida em nosso meio por Psicólise15 ou Autocatálise, é preciso entender o comportamento das forças que operam no perispírito e identificar as etapas do processo desencarnatório, momento em que se estabelecem as suas perturbações.
Em nosso plano, o perispírito, também chamado psicossoma, é entendido como um organismo energético, impulsionado por duas forças básicas: uma de expansão e outra de contracção. O primeiro impulso, caracterizado como Hipe dinâmico, tem carácter construtivo, operando crescimento, actividade e aumento do metabolismo. O segundo, o hipodinâmico, gera repouso, diminuição de metabolismo e degeneração.
A contracção faz decrescer o tónus vital e a expansão o dinamiza, portanto não são movimentos necessariamente espaciais, porém dinâmicos e vibracionais. A expansão promove construções de órgãos para atender às necessidades do espírito, impulsionando a vida, enquanto que a contracção os destrói, protagonizando a morte. Morte que nunca é fim, mas apenas mudança de plano de manifestação, permitindo-se com isso a constante renovação do organismo. Do equilíbrio e alternância entre estas duas pulsões nascem todas as actividades operacionais do perispírito e, consequentemente, do corpo físico. A diminuição de um deles condiciona o impulso para o aumento do outro, de tal forma que o psicossoma funciona qual mola que, se contraída, tende a esse expandir e, se estendida, propende a se contrair, dentro dos princípios de acção e reacção que embalam todos os fenómenos do universo, sejam físicos, químicos, biológicos ou espirituais.
A elaboração evolutiva, desta forma, se faz pela alternância entre ciclos de retracção e de expansão, com resultados efectivos no desenvolvimento constante do espírito. Por esta razão, crescimento e destruição, vida e morte devem se alternar no palco da evolução onde uma é apenas condição que propicia o desenvolvimento da outra. Isso faz ainda da evolução, qual onda de fases opostas, uma trajectória de ascensão, entre-cortada por períodos de desfazimentos. Assim se faz o progresso que, como todo ciclo, deve alternar suas fases. Tal é a mecânica da criação, que não permite acúmulos em um único sentido. De outra forma o espírito seria eterno na matéria e não amadureceria para a realidade maior que o aguarda.
Os momentos do nascimento e da desencarnação são os instantes nos quais se pode verificar com maior precisão a actuação destas duas forças perispirituais.
Precedendo à reencarnação, o perispírito é dominado pelo impulso contractivo, condensando-se em uma diminuta unidade celular, processo conhecido em nosso plano por restringimento ou miniaturização, cuja intensidade está intimamente relacionada à condição de cada espírito, sendo tanto mais intensa quanto menor o seu património evolutivo. Ao entrar em contacto com a carne, abraçando um óvulo fecundado, o perispírito deflagra o movimento oposto, expansionista, realizando-se com impressionante desenvoltura a rápida expansão da maturação embrionária.
O impulso de contracção, no entanto, não está por completo detido, mas segue impondo ritmos de pequenos retrocessos ao organismo, induzindo-o a destruir momentaneamente o que fez, mas apenas para se refazer, movimento chamado de caiabolismo. O impulso expansionista predomina nitidamente, realizando-se o crescimento orgânico, movimento denominado pelos fisiologistas de anabolismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:23 am

Dessa forma o metabolismo orgânico se compõe de uma fase de crescimento, a anabólica, interposta por uma outra de destruição, a catabólica. Ao atingir o seu ápice, em torno da metade do período da vida na carne, quando o organismo chega à maturidade, o impulso expansionista inicia o seu decréscimo perdendo paulatinamente a potência, permitindo assim que o contra impulso volte a predominar. Instala-se o envelhecimento, o catabolismo passa a imperar sobre o anabolismo e o ser entra em automática e comedida Auto degeneração orgânica, que irá culminar com a completa morte na matéria. Chegando ao fim da fase contractiva, o perispírito deixa o corpo e transfere-se a consciência para novo plano de manifestação. A unidade perispiritual é, então, embalada por novo impulso expansionista, reconstituindo-se outra vez, em renovado e refeito organismo, completando-se assim o seu ciclo. Ciclo que em breve se reiniciará em novo nascimento na matéria.
As forças perispirituais embalam consigo não somente o metabolismo físico celular, mas também a consciência, pois essa igualmente se apoia sobre uma base energética. Na fase de contracção a consciência se deprime e se apaga momentaneamente, e na fase de expansão ela se exalta e se desenvolve, de forma que o espírito, assim como a matéria e a energia, é também uma elaboração baseada em uma síntese cíclica. E sempre que se inicia uma nova fase de expansão, tanto a consciência quanto a forma passam por período de refazimento na qual se reconstroem, recapitulando as etapas já percorridas em seu processo de desenvolvimento. Assim é que o crescimento embrionário refaz, em curto espaço de nove meses, os milhões de anos que já perpassou na evolução. E o mesmo se verifica na morte física, quando a consciência, após breve período de contracção, novamente se expande, reconstruindo-se quase que imediatamente e recapitulando todas as etapas vividas em sua última reencarnação. Tal fenómeno, chamado de revivência mnemónica ou recapitulação panorâmica, é assistido como uma projecção cinematográfica tridimensional e se passa em fugazes minutos, embora seja percebido em uma outra realidade, parecendo demandar longo período de tempo.
Apoiados nestas considerações teóricas recordemos agora, com mais detalhes, as etapas do processo desencarnatório para melhor compreendermos os fenómenos em jogo na patologia da autodestruição. O Plano Espiritual, com muita propriedade, compara o momento da morte com a metamorfose dos insectos, pois em tudo lhe é semelhante. Uma vez cessada a vida física, o desencarnante, embalado pela contracção perispiritual, inicia também a retracção do metabolismo consciencial, entrando na fase de crisálida, onde a actividade consciente se recolhe e se completa e momentaneamente. Nesse momento o perispírito, acelerando a fase destrutiva e contractiva, promove a quebra de suas malhas teciduais, movimento conhecido em nosso mundo por histólise16 perispiritual. Ainda sob o império do impulso de contracção, irá então intensificar a absorção dos remanescentes energéticos que moviam o corpo físico, a fim de reciclá-los dentro da sábia economia da natureza que procura tudo aproveitar. Terminada essa fase, dá-se lugar a histogênese17 perispiritual, quando o psicossoma, expandindo-se, processa rapidamente a sua auto-reconstrução, seguindo o mesmo molde previamente desfeito, em base aos registros morfológicos retidos em suas malhas energéticas.
Nesse mesmo momento a consciência desperta e, entrando também em reconstrução, recapitula rapidamente toda a experiência realizada na matéria, momento nobre da vida do espírito, no qual ele recolhe tudo o que semeou, revive o que aprendeu, fixa ensinamentos ou erros e se prepara para a nova existência que se inicia. Em seguida, finalmente cai a consciência em novo sono revitalizador para despertar logo mais, activa e reconfortada, encetando a rica vida espiritual.
A revivência mnemónica é importante etapa do processo desencarnatório que visa à sedimentação dos conhecimentos hauridos na vida, retirando deles proveitos para a jornada no Mundo Espiritual na forma de conhecimentos automatizados, sendo indispensável recurso de reedificação do psiquismo. Através dela o espírito encontra-se em melhores condições de dar uma sequência à sua vida mental egressa da carne e promover, de uma maneira mais proveitosa, a sua evolução. As experiências vividas e os conhecimentos adquiridos na existência terrena serão, desta forma, transformados em impulsos instintivos, funcionando como pendores e dons natos, tanto na Erraticidade quanto na futura reencarnação do ser.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:23 am

O suicida, deixando-se embalar pelo impulso autodestrutivo, altera esses movimentos naturais e necessários para a caminhada do ser na linha da evolução.
Alimentando o desejo de retirar-se da vida e intencionando a dissolução completa de seu próprio eu, faz preponderar o movimento de contracção sobre o de expansão, promovendo assim a deterioração das forças reconstrutivas do perispírito. Deste modo se pode compreender todo o desenvolvimento de fisiopatologia envolvida na autocatálise. Como o perispírito é sumamente muito mais sensível às acções da mente do que o corpo físico, reflectirá, de forma instantânea e intensa, os profundos desequilíbrios oriundos da psicólise. E será ainda no momento da desencarnação que essas alterações far-se-ão sentir de modo mais proeminente, deixando depois suas marcas indeléveis registradas em dismorfias perispirituais atípicas. As etapas naturais da morte não se completam eficazmente no suicida, embalado por intenso fluxo anti vital. A histólise perispiritual é acelerada e a histogénese é extremamente enfraquecida. A contracção da consciência é tal que, obnubilando-a, não permite o semi-despertamento para dar lugar à revisão mnemónica. A assimilação dos eflúvios vitais remanescentes do corpo físico não se conclui, de forma que o cordão fluídico, por onde trafegam os impulsos comunicantes entre este e o psicossoma, permanece activado, unindo ambos em fortes liames e fazendo com que os fenómenos da decomposição sejam sentidos pelo desencarnante. E, mesmo que os trabalhadores do desligamento sejam bem sucedidos nesta separação, estaciona-se a histogénese na conformação do momento da morte, retendo por isso, de modo vivo, todos os processos traumáticos a que o corpo físico fora submetido. De acordo com a fixação do suicida em um desses momentos, determina-se o tipo de patologia perispiritual predominante. Alberto fixara-se na paralisia da histogénese perispiritual e não efectivara o despertamento da consciência. A histólise não se detivera e ainda operava- se a retracção perispiritual. Seu psicossoma, por isso, mostrava-se completamente desvitalizado, moldado na aparência física do momento da desencarnação e com a consciência completamente bloqueada. A revivência mnemónica não se estabelecera e o impulso de reconstrução fora completamente inibido, revolvendo-se o infeliz em adiantado contra- impulso vital, embalado pela doentia vontade de não viver. Permanecera em completa inconsciência, sem dar mostras de nenhuma actividade mental por longo período, até que finalmente despertara para a vivência de pesadelos, não conseguindo manter-se desperto na dura realidade em que se projectara.
Apreciando a complexa patologia da psicólise, o homem encarnado poderá melhor ajuizar-se quanto à gravidade de suas levianas acções ao acelerar as forças destrutivas de sua alma. Não somente engendrando o suicídio consciente, mas se permitindo agredir de forma insciente e inconsequente pelo abuso de substâncias tóxicas de toda natureza que lhe facultem, nos prazeres fugazes, a fuga de suas insatisfações. Em que pesem todas as condições adversas que obstaculizem a plena concretização da felicidade na Terra, nada justifica a louca desventura de se auto-aniquilar, pois as drásticas consequências do ato perdurarão por prolongados períodos, quando o autocida terá que conduzir a reconstrução de si mesmo em longa jornada de dores e refazimentos, perturbando sobremaneira a sua carreira evolutiva, entretecendo-a de agruras ainda maiores do que aquelas de que intencionou fugir.
Tocamos a fronte do moribundo com nossas destras, a fim de ouvirmos os seus pensamentos e inteirarmo-nos de suas necessidades imediatas. A desorganização da estrutura mental era assustadora e, de imediato, percebemos vibrações enegrecidas alargando-se como um manto lamacento, recobrindo toda a delicada tessitura neuronal dos lobos frontais, estendendo-se pelo sistema límbico18. As meninges, delicadas lâminas defensivas do sistema nervoso central, tentavam desesperadamente recolher essa substância tóxica, concentrando-a em si mesmas.
— São as energias do pessimismo, da angústia e da negação de todo o potencial divino depositado em nosso espírito — acrescentava, diante do espanto da amiga. — Estas forças degradadas, geradas e alimentadas por uma doentia vontade auto-destrutiva, caracterizam um processo depressivo de longa duração, Adelaide.
Alberto mostrava ter vivenciado prolongado período de auto-desvalorização, promovendo com isso a destruição das forças espirituais que sustentam a consciência. Tal sentimento funciona, não somente como material isolante das potências sagradas que trafegam pela mente e que fazem a manutenção do eu, como contamina toda a malha neuronal em que se assenta o pensamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:24 am

Engendrado pela própria vontade doentia e nutrido pelas frustrações a livre realização dos intentos ególatras, depois de longo tempo, passa a funcionar por retroalimentação automática, como se tivesse existência própria, degenerando todo o delicado maquinário encefálico.
Nosso amigo trazia toda a tela mental enegrecida por essas emanações degradadas. O centro coronário, empalidecido, sofrendo o bloqueio temporário das energias divinas que o mantêm, não conseguia dinamizar as outras peças do cérebro. Até mesmo a articulação mental das palavras estava impossibilitada porque as ondas mentais originárias dos núcleos conscienciais não atingiam a área de Broca19. O hipotálamo sobrecarregava a hipófise com estímulos desesperantes de síntese de adrenocorticotróficos20, objectivando uma resposta contra a iminente ameaça de ruína orgânica. Toda a região somestésica21 estava coberta por manto cinzento, determinando o bloqueio de quase toda a sensibilidade proprioceptiva. A obstaculização das conexões do sistema límbico impedia a perfeita troca de estímulos entre o hipocampo22, o giro parahipocampal23 e o corpo amigdalóide24, ameaçando a instalação de uma verdadeira ablação bilateral dos lobos temporais25. Além disso, a interrupção do círculo de Papez26 se impunha como uma necessidade defensiva contra a grave depressão e a ansiedade desmedida.
Numa desesperada tentativa de evacuar essas energias degradadas, as células da glia27 trabalhavam intensamente, defendendo a integridade da delicada tessitura neuronal, com o sacrifício de seus próprios metabolismos. Captavam as emanações pestilentas drenando-as nos vasos que se dirigem à pia-máter28, onde se acumulavam de modo assustador. As meninges se intumesciam prenunciando os mecanismos que levam, em etapas posteriores, ao aparecimento de processos infecciosos, quando os bacilos patogénicos, verdadeiros lixeiros dos sistemas biológicos, são chamados também para colaborar com a drenagem vibratória, em suas etapas derradeiras. As energias mais subtis, no entanto, escapam a este processo mais grosseiro de limpeza e derivam-se para os sonhos, onde são escoadas na geração de correntes mentais atordoantes, mas capazes de lhes consumirem parte do potencial destruidor. Por isso os pesadelos, quando não se trata de ideações induzidas por entidades malévolas, são mecanismos automáticos de defesa da mente ao se ver ameaçada de desorganização pelos próprios impulsos destrutivos.
Sua consciência se enchia assim de sensações desesperantes e imagens aterradoras, fazendo-o experimentar todas as emoções primitivas da alma humana:
uma forma de exauri-las, porém recurso de valor limitado, pois impõe ao ser uma lamentável vivência de pânicos. Sentindo-se esmagar por situações dramáticas, Alberto vivenciava tormentos de destruição de si mesmo, imaginando-se em meio a tempestades, furacões e outros perigos que lhe ameaçavam o aniquilamento completo. Um tormento mental em tudo semelhante à síndrome do pânico29, descrito pela psiquiatria terrena. Presenciava, de fato, uma situação real de perigo iminente e por isso todas as reacções típicas do medo extremo estavam presentes, dominando-o completamente. Qualquer associação lógica era impossível. O sistema autónomo simpático protagonizava todas as reacções possíveis de fuga. O coração acelerava-se descompassadamente e o sistema vascular se retraía, concentrando-se nas regiões de maior requisição orgânica no momento, deixando a pele fria e pálida.
Os pêlos se eriçavam como um animal acuado e os pulmões arfavam com pressa o oxigénio impossível de ser absorvido com eficácia. Seus músculos estremeciam como a se prepararem para uma imediata evasão. O centro gástrico, totalmente retraído na inactividade, fazia desaparecer qualquer sensação de fome ou sede.
— Como você pode ver, Adelaide, nosso amigo está em plena fuga. Foge da vida que parece ameaçar-lhe, enquanto que suas verdadeiras ameaças são internas e engendradas por ele mesmo. Por isso foge de si mesmo, de seus próprios pensamentos, de seu angustioso mundo íntimo e da desdita que cavou para si próprio.
Compadecíamo-nos do amigo, na medida que vislumbrávamos a extensão de seu drama íntimo. Podíamos sentir seu imenso pavor e seu desalento ao se ver completamente impossibilitado de evadir-se do tormento em que vivia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:24 am

De forma impressionantemente realista o víamos na tela mental, refugiado dentro de uma pequena gaiola, à qual se agarrava com desespero, solta e em queda livre rumo a um abismo de trevas, em meio à fúria de uma forte tempestade.
— Trata-se de uma barquilha, o pequeno cesto pendente dos balões, onde se acomoda o aeronauta — dizia. — Ela, no entanto, desprendeu- se de seu apoio aéreo e está caindo no vazio. Aí, nesta frágil estrutura, seu espírito busca um refúgio desesperado e inútil. Nosso amigo degenerou os mecanismos de suporte de sua consciência espiritual e o desastre parece iminente e inevitável. A defesa segura somente se faz mediante a completa desestruturação dos mecanismos que sustentam o eu na massa neuronal, fazendo-o retroceder às etapas primordiais da organização mental, mergulhando-o na completa inconsciência. A qualquer momento ele irá ultrapassar os limiares da actividade consciencial e estará irremediavelmente encistado na pseudomorte ovoidal30. Nós o perderemos, Adelaide, se não agirmos com urgência. Sua permanência no Plano Espiritual não mais se sustenta. Seu mundo orgânico, perante tamanha desorganização, não irá resistir por muito tempo.
— Somente a reencarnação... ,
— Sim, Adelaide, somente a reencarnação — continuei-lhe o pensamento — ou várias reencarnações em condições precárias poderão proporcionar-lhe o refazimento do espírito. No exercício paciente de novas e dolorosas experiências de vidas, sua trajectória evolutiva será restituída, ainda assim com graves danos às suas conquistas atuais, que praticamente se perderão. A memória de suas últimas experiências na carne será desfeita quase por completo, tornando-se de difícil acesso, por se verem resvaladas para os porões ocultos do subconsciente. Pouco proveito auferirá ele de suas últimas e preciosas lições de vida. Trata-se de um grave dano ao espírito, minha amiga, um dos quadros mais lamentáveis que se pode presenciar em nosso plano. Vemos, no entanto, que embora sua mente não consiga articular palavras, seu coração irradia uma silenciosa e desesperada súplica a Deus, seu último refugio. Esses sentimentos sustentam o seu sistema circulatório, apesar do caos orgânico, dotando-lhe de alguma capacidade de reacção. Aí reside um pequeno potencial de resposta que temos de aproveitar, agindo rapidamente. Resta-nos ainda um último recurso, vamos recorrer à Embrioterapia sem demora. Não há outro caminho.
A janela deixava-nos entrever os alvores da aurora prenunciando um novo dia, ofuscando com miríades de matizes pálidos o manto de estrelas que rapidamente se esmaecia no veludo purpúreo da abóbada celeste. O encanto do momento ensejava-nos a presença do Divino e recolhemo-nos em sentida prece ao Senhor da vida, para que nos ajudasse a realizar algo em favor daquele desventurado suicida.
Nossos corações se inundaram de sentimentos elevados, que, recaindo sobre ele, o apaziguaram momentaneamente. A fim de prepará-lo para breve incursão na carne, acomodamo-lo na câmara de restringimento, disponível para este fim e, sem demora, demandamos o Departamento de Embrioterapia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:24 am

11 Falta de ar, dificuldade de respirar.
12 Baixo teor de oxigénio no sangue.
13 Substâncias farmacologicamente activas que promovem a dilatação dos brônquios, usadas na crise asmática.
14 Estruturas moleculares das paredes celulares, onde atua a adrenalina.
15 Palavra composta de psiché, termo grego que significa espírito ou mente, e lysis, ruptura, destruição.
16 Palavra composta do grego histós, que significa tecido, e lysis, quebra. Portanto histólise perispiritual é a dissolução dos tecidos orgânicos e perispirituais.
17 Do grego histós, tecido e gênesis, formação, portanto na histogénese o perispírito reconstrói os seus novos tecidos, preparando-se para a nova vida no mundo espiritual.
18 Complexo sistema neuronal formado por diversas regiões do cérebro que fazem a integração entre a emoção e o corpo físico, através do sistema nervoso autónomo. Por meio dele a vida emocional interfere, positiva ou negativamente no funcionamento visceral e na regulamentação metabólica de todo o organismo. Dele fazem parte o giro Hipo campal, o hipocampo, o tálamo, o corpo amigdalóide e o giro do cíngulo, dentre outras estruturas.
19 Assim é chamada a área da fala no cérebro, que na verdade não a gera, mas apenas coordena as estruturas físicas que propiciam ao pensamento escoar-se pelas vias da comunicação sonora.
20 Hormônios produzidos pela hipófise que estimulam a produção de adrenalina pela glândula supra-renal, substância esta necessária nos momentos em que o organismo está submetido a alguma ameaça.
21 Região do cérebro responsável pela sensibilidade.
22 Estrutura cerebral situada nos lobos temporais, considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico.
23 Uma das circunvoluções cerebrais, as saliências sinuosas situadas em sua superfície, localizada em sua parte inferior e interior. Faz parte do sistema límbico, além de ser sede da olfacção.
24 O nome não se refere às amígdalas propriamente ditas, os órgãos defensivos da orofaringe, mas sim às massas de neurónios situadas internamente no cérebro que fazem parte do sistema límbico, sendo importante centro regulador do comportamento sexual e da agressividade.
25 Quadro conhecido na Terra como Síndrome de Klüver-Bucy, observada no homem como consequência da remoção dos lobos temporais e caracterizada por alterações do comportamento, como a cegueira psíquica e a regressão à fase oral, levando o indivíduo a colocar na boca tudo que pega, mesmo coisas completamente inadequadas ao consumo humano. A síndrome, embora muito rara entre os encarnados, é manifestação comum entre os suicidas em estado de consciência reduzida a limites críticos.
26 Conjunto de várias estruturas cerebrais que compõem parte do sistema límbico. Este sistema, por sua vez, é um importante conjunto de estruturas nervosas intracerebrais que participam das emoções.
27 Ou neuróglia, conjunto de células e fibras que sustentam os neurónios no sistema nervoso central.
28 Uma das membranas que formam as meninges, lâminas protectoras do encéfalo.
29 Patenteia-se aqui uma das origens desta psicopatologia de causas ainda ignoradas pela medicina.
30 O processo de formação do ovóide, assim chamado por simular a morte para um espírito que já adquiriu a consciência - ver glossário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:24 am

7 - No Departamento de Embrioterapia
“E terás confiança, porque haverá esperança; olharás ao redor de ti e repousarás seguro, deitar-te-ás, e ninguém te amedrontará. ” Jó, 11:18

Deixamos a Casa de Apoio rumo ao Departamento de Embrioterapia. As intensas actividades nocturnas se encerravam em nossa colónia e muitos trabalhadores buscavam o repouso em seus lares, enchendo as ruas de expressiva movimentação. O quadro se assemelha às grandes cidades da Terra, no fim do expediente diário, mas aqui se verifica o contrário. Aproveita-se o período nocturno, quando os encarnados repousam, para se trabalhar com mais proveito junto aos espíritos desligados do corpo físico. O dia nos serve para o recolhimento e o serviço interno, digamos assim. Muitos desencarnados ainda precisam do descanso para a restauração das forças perispirituais desgastadas no trabalho corriqueiro, recolhendo-se para isso, comumente em seus lares ou em locais de lazer durante parte do dia. A medida que o espírito se habitua à vida espiritual, reduz-se-lhe essa necessidade de refazimento, enquanto os recém-chegados da Terra ainda se utilizam do período nocturno para o sono, como de hábito quando encarnados. Adelaide e eu já estávamos afeiçoados ao serviço quase constante e nossa necessidade de descanso se fazia unicamente semanal, sem que déssemos mostras de exaustão. Por isso, avançamos rapidamente para o referido Departamento, a fim de agilizarmos a assistência a Alberto.
Rumando para o outro extremo de nossa colónia, o ambiente paulatinamente se modifica, enriquecendo-se de jardins acolhedores, árvores frondosas, fazendo-se mais presentes as irradiações solares, tão salutares para a vida do ser, em qualquer nível em que se manifeste em nosso orbe. A Casa de Apoio encontra-se no limiar do Vale, recebendo ainda de forma expressiva a sua influência vibracional, pois os enfermos ali acolhidos necessitam de uma ambientação progressiva. Poderíamos compará-los àqueles que, vivendo nas trevas, para retornarem à luz do dia, precisam de paulatina adaptação à claridade a fim de não se enceguecerem. Por isso esse nosocómio não conta com protecções seguras contra as vibrações do Vale e seus ambientes são um tanto quanto lúgubres e sombrios. Suas construções são rudes e seus jardins, áridos, embora o ambiente se faça acolhedor e confortável em comparação às cavernas e charcos de onde a maioria procede.
Adentrando os portões do Departamento de Embrioterapia, Adelaide admirava-se de seus ricos e floridos jardins, uns dos mais belos de nossa colónia. Seguíamos por uma larga passarela ornamentada de flores, onde podíamos admirar uma série de estátuas situadas a distâncias regulares, representando as sete etapas principais da embriogénese. A primeira delas mostra uma mórula, uma massa de 16 blastómeros, desenhada em minúcias, marco inicial do desenvolvimento morfogénico. Seguem-se esmeradas reproduções das demais fases embrionárias, na exacta sequência de seus desenvolvimentos, cópias perfeitas de suas congéneres vivas, talhadas em substância vítrea, deixando entrever em seus interiores todos os seus ricos detalhes anatómicos. Todas elas, ademais, emitem vibrações sonoras de delicada composição musical, a se difundirem por todo o ambiente. A última, no entanto, nos desperta especial atenção, uma das mais belas esculturas de nossa colónia: dois vigorosos braços de mármore, saídos da rocha bruta, sustentam no alto um bebê humano, recém-nascido, ainda com o cordão umbilical pendente, estampando na face um meigo sorriso para a vida, no lugar da habitual expressão de dor. Um receptáculo, à feição de uma concha uterina, envolve-a em delicado espelho d’água, reflectindo-lhe a beleza no líquido cristalino. Realmente uma linda construção capaz de suscitar admiração a quantos dela se aproximam, despertando, não somente os sentimentos de maternidade e paternidade, mas sobretudo a gratidão pelas dádivas do processo reencarnatório.
Adelaide estacionou-se, extasiada, diante do magnetismo da obra. Desejava beber-lhe as subtis emanações e fazer embalar sua alma nos doces sentimentos da maternidade terrena, bênção incontestável do Pai, através da qual somos partícipes de Seu sagrado ato de criar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:25 am

—Esta é uma das mais famosas estátuas de Portais do Vale— expliquei ante o emudecimento da irmã. — Chama-se Esperança e representa os sentimentos do suicida perante a vida, que lhe brinda com novas oportunidades de refazimento, através da bênção da reencarnação. Quase sempre o retorno à carne dentre os suicidas se faz em estágios dolorosos, em corpos deformados e através de embriões frustros, abortados na primeira oportunidade, quando não são cruelmente expulsos por mães que não lhes toleram as emanações negativas. No entanto, o sorriso desta criança guarda a esperança em futuros renascimentos saudáveis e felizes. Diante deste monumento muitos se emocionam, ansiosos pelo retorno ao ritmo natural da vida.
— São realmente emocionantes e nos retiram vibrações do mais fundo da alma — respondeu, enfim, a amiga, ao lhe cessar o influxo vibracional de sadia emotividade.
Examinando essas estatuetas nos perguntamos como pode o homem moderno se convencer de que as formações embrionárias são meras construções de forças casuais da carne. Absurdo igual seria afirmarmos que essas estatuetas são produtos de encontros fortuitos das substâncias que as constituem. As estruturas embrionárias são resultantes de cálculos precisos que prevêem com exactidão detalhes que desconhecemos. As células germinativas não detêm um conhecimento de conjunto para levar a efeito tamanha sabedoria. Tal não se pode exigir de uma unidade celular ou mesmo do código da vida, o DNA, mero registo de moldes proteicos. Há necessidade de uma fonte directora e unificadora de propósitos, que conheça a finalidade e o resultado final da construção levada a efeito. Imaginar o contrário seria o mesmo que admitir que bastaria ajuntar os materiais formativos de uma casa para se obter a sua perfeita edificação, sem a necessidade do arquitecto e dos executores da obra. Por isso é muito mais lógico compreendermos que as células físicas são meros tijolos posicionados pela sabedoria formativa do espírito; este, sim, o verdadeiro artífice do edifício orgânico sob a orientação divina.
— Estes monumentos guardam o propósito de prepararem o visitante para adentrar-se no sagrado ambiente do Departamento, suscitando-lhe o respeito pela magnitude da vida—prosseguia. — Entretanto, esta última funciona também como um colector vibracional. Todos os visitantes que por aqui passam, deixam aos seus pés as mais santas emoções da maternidade, impossíveis de não serem suscitadas.
Energias emocionais que são colhidas a fim se servirem à reencarnação de muitos espíritos infelizes, desprovidos de suficiente força vital para se sustentarem na carne.
Atrás desta última estátua, abre-se um admirável e sereno lago, tendo em seu centro as construções do Departamento. Árvores frondosas e floridas contornam todo o lago, tecendo verdadeira coroa de flores ao seu redor.
— Aqui, Adelaide — continuei, diante da amiga ainda extasiada — estamos em um Departamento que necessita de defesas seguras contra as emanações que se irradiam do Vale, pois acomoda os suicidas em interregnos reencarnatórios, quando se acham extremamente susceptíveis às emanações do mal, desguarnecidos de suas protecções naturais. Poderíamos dizer que aqui os espíritos se encontram quase nus, desvestidos de suas habituais roupagens. Não, não pense que os veremos em forma pura — adiantei-me ao perceber-lhe o pensamento assustado — o espírito puro não existe ainda no plano evolutivo em que vivemos. Na verdade continuam revestidos de material orgânico, porém bastante ténue e instável.
Acalme-se! Vamos visitá-los e logo você compreenderá melhor.
O lago atua qual malha absorvente de eflúvios, particular propriedade da água, como sabemos. As árvores ao redor são cerejeiras mantidas em permanente estado de floração, cujo viço branco também guarda especial absortividade das irradiações do pesar. As melodias, permanentemente irradiadas das estátuas, funcionam como um manto musical abafador das emanações do desespero e da insegurança, neutralizando com eficiência seus efeitos perturbadores. O visitante, no entanto, que aqui chega ainda portando sentimentos pesarosos é impedido de atravessar a ponte que leva ao interior do Departamento, devendo aguardar ou retornar desse ponto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:25 am

Espíritos lúgubres, repletos de negativismos, não podem adentrar neste ambiente e, por isso, a vegetação aqui não lhes sofrendo as influências nefastas, detém especial exuberância, sendo até mesmo mais expressiva do que a do nosso Templo Central, onde todos têm natural acesso.
Três enormes edifícios em forma de cúpulas erguem-se na pequena ilha rodeada por águas puras e mansas. No centro uma torre pontiaguda, vítrea, como uma espícula, erige-se para o alto, emprestando à arquitectura um aspecto futurista.
Entramos em um imenso salão onde vários operários transitavam e procuramos por Fausto, o interlocutor directo de nosso trabalho. Expusemos-lhe a situação de Alberto e ele se prontificou a agilizar os procedimentos habituais mediante a urgência do caso. Recorreria prontamente a informações superiores, estabelecendo o plano de tratamento e, em breve, os contactos necessários com os envolvidos directamente no processo seriam levados a efeito.
Alberto foi imediatamente transferido para o Departamento a fim de se agilizar o seu preparo, dando-se prosseguimento ao seu restringimento, o que demandaria alguns dias. Restava-nos, por ora, apenas esperar o andamento do tratamento proposto.
A embrioterapia é o mais eficaz recurso terapêutico usado em nosso plano em favor dos suicidas, principalmente daqueles que estão na iminência de ovoidização.
Visa colocá-los em contacto com as salutares energias maternas, a fim de adestrar convenientemente seus impulsos autocatalíticos. Como vimos, tais pulsões podem terminar por desorganizar completamente a estrutura perispiritual do psicolítico31.
Conduzido, no entanto, para o ambiente uterino, ele encontra a sua devida orientação, de modo a se acomodar em natural processo reencarnatório. O impulso contractivo, dessa forma, não é simplesmente forçado a uma repressão, mas reorientado e devidamente aproveitado. O homem terreno guarda a ilusão de que se pode simplesmente eliminar estes impulsos patológicos, fazendo-os desaparecer, mas no mundo biológico eles funcionam quais projécteis cujas trajectórias não podem ser obstaculizadas sem que provoquem estragos ainda maiores, devendo ser reorientados a fim de que minorem seus efeitos. Ao entrar em contacto com o útero materno, esgota-se-lhe o impulso contractivo, invertendo-o no sentido da expansão, levando ao refazimento do perispírito. O impulso histolítico é exaurido e o histogénico é estimulado satisfatoriamente, detendo-se assim a ovoidização.
Serve ainda a embrioterapia para o escoamento do potencial de negatividade do suicida. A massa embrionária, por especial propriedade da carne, presta-se como um adstringente poderoso de suas energias degeneradas, drenando-lhes o potencial
destrutivo. De modo geral, esse escoamento vibracional é de tal monta que imprime graves deformidades à massa celular em desenvolvimento, tornando-a incompatível com a vida, terminando o autocida32 por ser espontaneamente expulso. Em muitos casos, no entanto, o abortamento natural não se faz esperar, pois as energias negativas que irradia na mãe tornam-no vítima de criminosa expulsão. Um mal sem justificativas, mas que as sábias leis da vida fazem com que redunde em proveitos para o Bem, servindo-se para a correcção dos rumos do suicida. O sofrimento abortivo termina por ser também terapêutico para este, pois sua consciência registará a frustração diante da morte prematura, fixando o ensinamento da real valorização da vida.
A isso ainda se deve acrescentar o facto de que o fole uterino é um auxiliar da drenagem vibratória do reencarnante, funcionando também como uma desembocadura para os seus impulsos negativos. Tudo isso faz da embrioterapia o melhor remédio para o suicida, indispensável, na maioria das vezes, à sua recuperação.
— Mas para isso, então, a embrioterapia deve contar sempre com mães dispostas ao sacrifício. Será sempre possível encontrá-las receptivas, acolhendo em suas intimidades entidades tão desequilibradas?
— Isso requer cuidadosas considerações. Na verdade, as mães nem sempre se acham, de fato, dispostas a esse sacrifício e quase sempre a prova lhes é imposta por deméritos. Trata-se, comummente, de mulheres que realizaram abortos em outras existências e não detêm condições saudáveis para o pleno desenvolvimento fetal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:25 am

Trazem lesões energéticas no aparelho reprodutor, tornando-as incapazes de saudável sustento ao embrião, servindo então para a reencarnação de espíritos igualmente lesados, como os suicidas. Outras são mulheres levianas, que praticam o sexo descompromissado, guardando natural aversão à gravidez, com firme disposição à prática do aborto criminoso. Não somente mulheres, mas homens frívolos em busca dos prazeres fáceis, que também são chamados à responsabilidade pelos seus actos. Neste caso a prova lhes é imposta pelas Leis Divinas, que acomodam aqueles que negaram a existência junto àqueles que também lhes recusam o nascimento. São fatos que servem como recursos terapêuticos para todos os envolvidos, chamando a atenção daqueles que lidam com o sexo como se fosse mero veículo de prazeres e ensinando a outros a valorização da vida. Assim funciona a Medicina da Lei, que a tudo condiciona de modo que nada exista sem objectivos sublimes e até mesmo o Mal encontre realizações no Bem.
Os protagonistas do processo, no entanto, não são escolhidos ao acaso. O Departamento de Embrioterapia se encarrega da cuidadosa selecção daqueles que irão receber o suicida. Normalmente exige-se a existência de relações entre os envolvidos, pois dificilmente um espírito é aceito para a reencarnação sem o consentimento, mesmo inconsciente, de seus pais. Essas relações são cuidadosamente estudadas, buscadas muitas vezes no passado, para que o processo se faça alicerçado na lei de causa e efeito e redunde em proveito para todos. Sem que essas interacções se estabeleçam, suas chances de êxito se tornam muito reduzidas.
Importa ainda considerar que o organismo materno está, até certo ponto, defendido do alto poder destrutivo das energias fetais degradadas, pois a natureza lhe dotou de um dos mais qualificados mecanismos de defesa contra tal potencial desorganizante: a placenta. Esta é, seguramente, o mais eficiente instrumento biológico de adstringência vibracional que se conhece. Ao mesmo tempo em que nutre o reencarnante e recolhe seus excretos biológicos, absorve também com sabida avidez as suas energias negativas, impondo-lhes eficazes bloqueios e drenando-as com segurança através da organização materna. É, dessa forma, um verdadeiro filtro miraculoso cujas células, especializadas nesta sagrada função, sustentadas pelo amor materno, minoram a carga deletéria do reencarnante, proporcionando-lhe um desenvolvimento embrionário compatível com suas necessidades. Muitas vezes, no entanto, essa carga vibratória ultrapassa o limiar neutralizador da placenta, tornando-se passível assim de atingir o organismo da mãe, desencadeando os incómodos sintomas da gestação. O metabolismo materno, activando os seus próprios emunctórios33 vibracionais, intensificará a eliminação de líquidos orgânicos, carreadores dessas energias deletérias, através do aumento do fluxo urinário, da sudorese e, mais frequentemente, dos vómitos, estabelecendo-se dessa forma a hiperémese gravídica34. Em graus mais avançados essas vibrações podem ainda ocasionar as infecções ginecológicas e urinárias da gestação, quando essas cargas energéticas são de tal monta que os microrganismos são convocados para auxílio mais eficiente na drenagem fluídica excedente. Se nada disso é suficiente, assistiremos então ao estabelecimento dos quadros de eclampsia35, que a medicina terrena chama também de toxemia gestacional e que corresponde a uma verdadeira intoxicação vibratória, podendo, aí sim, trazer graves danos à organização materna, quando a gravidez não é interrompida pelo abortamento espontâneo ou induzido.
Quadros mais dramáticos, estes que, no entanto, guardarão sempre correspondência entre causa e efeito para se estabelecerem nos destinos de seus protagonistas.
Caminhando por extenso corredor, notávamos o grande número de colaboradores movimentando-se activamente, porém com calma e respeitoso silêncio sem provocar o mínimo sinal de tumulto no ambiente. O Departamento não somente estabelece as directrizes da embrioterapia como prepara, acomoda e acompanha o suicida em sua incursão na carne, até a sua plena libertação do processo autocatalítico. O serviço demanda número expressivo de trabalhadores especializados. Suas enfermarias acolhem ainda os suicidas nos interregnos reencarnatórios, estacionados em delicados estágios em que se apresentam detidos na fase embrionária do desenvolvimento físico, impregnando-se suas malhas perispirituais da aparência de fetos dismorfos36, fenómeno aqui chamado de embriomorfia.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 2 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:26 am

Percebendo a extrema curiosidade da irmã, convidei-a para uma rápida visita à Câmara dos Embrióides, como também são conhecidos os embriomorfos, a fim de que pudesse avaliar a delicada condição desses espíritos. Mediante autorização, penetramos assim a referida enfermaria. Enorme sala acomoda pequenas câmaras semelhantes às estufas existentes na Terra, onde se abrigam os recém-nascidos.
Fios quase invisíveis pendem do tecto, conectando-se a estes pequenos cestos.
— São todos espíritos suicidas, assistidos pela nossa colónia — explicava à Adelaide. — Passaram por uma primeira encarnação a fim de se refazerem da louca desventura da autodestruição. Estes embrióides, no entanto, participaram de encarnações malogradas, pois não detiveram suficientes impulsos vitais para se sustentarem na carne. Poucos, entretanto, evoluíram até a expulsão espontânea, sendo a maioria vítima do aborto criminoso.
De modo geral estes espíritos desencarnam com reduzido potencial expansionista e por isso não estabelecem adequada histogénese perispiritual, aprisionando-se na forma física embrionária detida. Muitos trazem os sinais das teratogenias37, impostas na carne, pelas suas vibrações deletérias e outros ainda se deixam impregnar pelas lesões próprias do abortamento instrumental. Assim permanecerão até que novas oportunidades reencarnatórias os libertem do aprisionamento da forma. Sob os cuidados de dedicados colaboradores permanecem aqui, aguardando as bênçãos de novas reencarnações. Suas necessidades de sustento são muitíssimo reduzidas e consistem praticamente de calor e vibrações, principalmente aquelas oriundas da maternidade. Os fios pendentes do tecto trazem estas emanações, colhidas de diversas origens, como pensamentos de familiares distantes, preces de entes queridos e energias colhidas em reuniões de intensificação vibracional, sessões levadas a efeito pelo Departamento, com este fim.
— Quer dizer que os sentimentos maternais que a estátua suscitou-me estão sendo empregados aqui, neste momento? — Lembrou a amiga, admirada.— Sem dúvida. E muito bem aplicados!
Convém esclarecer que o Departamento acomoda somente os embrióides oriundos do Vale, enquanto outros, não suicidas, encontram assistência em diferentes colónias do mundo espiritual. Existem ainda aqueles que, muitas vezes, permanecem imantados aos organismos maternos depois de expulsos do meio uterino, jungidos por laços de amor ou intensos ódios recíprocos, compondo quadros graves, exigindo solução no tempo. Comumente tal comportamento, contudo, não decorre de reencarnantes suicidas, pois devido aos seus precários estados vibracionais, estes não se acham capazes de alimentar tais sentimentos e, mesmo inconscientes, dão-se conta de suas condições de devedores da vida.
Observando respeitosamente os pobres seres dismorfos, protegidos por incubadoras translúcidas, podíamos perceber suas actividades vitais através dos batimentos cardíacos, visíveis nas pulsações das artérias superficiais. A intensa contracção de suas auras, condensadas pela miniaturização, envolve-os em névoa leitosa, deixando-lhes os limites físicos pouco precisos.
O aborto criminoso, entretanto, deve ser considerado como um factor agravante da embriomorfia. Quando o suicida consegue maior permanência no ambiente uterino, pode neutralizar com mais eficiência o seu potencial contractivo, desencarnando em melhores condições de completar satisfatoriamente sua histogénese perispiritual. Fato, todavia, directamente dependente da potenciação espiritual de cada um e dos méritos morais arquivados. Quanto maior as aquisições evolutivas do indivíduo, maiores são suas possibilidades de refazimento.
— Penso naquelas que abortaram e hoje se dão conta de haverem provocado tanto mal a seres já por si tão infelizes. Como poderemos ajudar a consolar esses corações que caíram? — questionou a irmã, preocupada com aquelas que acobertaram o crime em plena ignorância de seus actos.
— Devemos compreender que não são somente as mulheres que abortam.
Muitas vezes são elas vítimas da incompreensão de familiares ou de companheiros que não assumem com elas as responsabilidades pela maternidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:26 am

Desvalidas e rejeitadas pela sociedade, vêem-se compelidas ao acto por forças das circunstâncias e profundas inseguranças diante da vida. Sem considerarmos aquelas que são alvos de estupros ou seduções. Não nos iludamos, os homens também realizam abortos e podem se responsabilizar muito mais pelo ato impensado do que as mulheres. Para aquelas que incorreram no erro sem conhecer a extensão do mal praticado, podemos aconselhar a dedicação à gravidez desamparada, ajudando as mães que desejam ter seus filhos, mas não encontram recursos para isso. E que tratem de criar condições para engravidarem, o mais rápido possível, se puderem, a fim de minorarem seus compromissos diante da vida.
— Nosso Alberto corre o risco de se estacionar na embrio-morfia, neste caso?
— perguntou, preocupada, a amiga.
— Sim, não conhecemos ainda o seu potencial moral, mas mesmo que ele se aprisione na embriomorfia, sua condição será muito melhor do que na pseudomorte ovoidal e seu tratamento será muito facilitado. A ovoidização é patologia muito mais grave e significa perda evolutiva muito mais expressiva do que a embriomorfia. Os embrióides detêm mais rápido potencial curativo e muitos conseguem se desenvolver completamente até a forma adulta, mesmo no Plano Espiritual, sem passar por imediata reencarnação.

31 Termo de origem espiritual oriundo de psicólise, já definido, significando aquele que no mundo espiritual continua se autodestruindo, o suicida do espírito - ver glossário.
32 Aquele que comete autocídio, o mesmo que suicídio.
33 Órgão, abertura ou canal por onde se eliminam do organismo os produtos da depuração do metabolismo, não somente físicos, mas também vibracionais.
34 Vómitos habituais da gravidez.
35 Quadro caracterizado pelo aumento da pressão arterial durante a gestação, podendo trazer graves consequências para a mãe e o feto.
36 Sem forma.
37 Desenvolvimento fetal em formas monstruosas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:26 am

8 - Na Câmara dos Ovóides
O salário do pecado é a morte Paulo - Romanos, 6:23

Não podíamos, no entanto, deixar o Departamento sem completarmos as lições do dia e por isso convidei Adelaide para examinar de perto a Câmara dos Ovóides, contígua à enfermaria que visitávamos.
— Conheço a existência destes estranhos seres, mas jamais vi um deles — dizia a estudante, admirada diante da ímpar oportunidade.
Uma sala de iguais dimensões continua a Câmara dos Embrióides, construída nas mesmas feições, contendo pequenos berços também conectados por fios translúcidos. Ali, no entanto, estes são abertos, pois os ovóides não necessitam de protecção vibratória e temperaturas diferenciadas, como os embrióides.
— Aqui se acomodam os ovóides suicidas em preparo para a embrioterapia com selectivo potencial de recuperação, pois existem outros, oriundos de etiologias. Há aqueles que são filhos do ódio, centralizados em monoideísmo de revolta e vingança. Os que aqui são assistidos, entretanto, não alimentaram tais sentimentos, mas são apenas vítimas de avançada psicólise38. Examinemo-los detidamente, a fim de que você possa ajuizar-se dos limites da queda humana.
O ovóide é uma verdadeira regressão biológica, representando o colapso da forma e da consciência. O processo se efectua através de paulatinas degradações em que a configuração humana se contrai, inicialmente pela perda dos membros e redução significativa do tronco, até que se estaciona
em sua forma final, assemelhando-se a uma mórula embrionária agigantada, pois guarda dimensões que variam entre as de uma laranja e as de um crânio de recém-nascido. A alta densidade da psicosfera39 envolve-o em uma névoa, tornando-lhe os contornos imprecisos e emprestando-lhe um aspecto gelatinoso, como os embrióides. Sua membrana externa acinzentada, à semelhança da mórula, apresenta desenhos losangulares arredondados.
Toquei de leve a fronte de Adelaide de modo a permitir-lhe uma visualização mais abrangente do estranho ser sob nossa respeitosa análise. Abaixo da membrana protectora, podíamos vislumbrar os vasos sanguíneos com pulsões quase imperceptíveis, denotando-se-lhe a fraca actividade vital. Os órgãos internos se apresentam reduzidos em suas formas embrionárias. A bomba cardíaca bate fracamente em sístoles frouxas, intercaladas por longas diástoles. Sua anatomia está regredida ao coração dos répteis, apresentando quatro câmaras incompletas, formadas por dois átrios e um só ventrículo parcialmente dividido. O sistema nervoso também se acha retrocedido aos primórdios de seu desenvolvimento embrionário, mostrando-se como o arquicéfalo, o cérebro primitivo, constando de um tubo neural dividido nas três vesículas encefálicas primordiais. Os doze pares de nervos cranianos e suas formações ganglionares, no entanto, acham-se presentes. Sua temperatura é instável, variando com a do ambiente, mantendo-se menos de um grau acima deste.
— Estes cistos humanos, assistidos por dedicados enfermeiros espirituais, estão em permanente sono estivai, quais os animais hibernantes — disse a Adelaide. — O pensamento contínuo está neles detido momentaneamente e não há registro sequer de sonhos. O fenómeno aos nossos olhos demonstra, sem sombra de dúvidas, que o encistamento não é unicamente um património dos animais inferiores. O longo letargo lhes permite a espera por melhores condições de vida e, dessa forma, podem resistir às situações adversas do ambiente espiritual em que se projectaram.
Importa ainda considerar, junto ao estudioso, que a ovoidização, embora pareça exótica aos nossos olhos, não se trata de uma aberração biológica completamente estranha à natureza do ser. Foi e continua sendo um procedimento vitorioso nos reinos inferiores da existência, arquitectado pelo princípio inteligente com o fim precípuo de se resguardar, diante de condições adversas de vida. Aparentemente foi abandonado no plano carnal, à medida que este evoluiu e desenvolveu organismos mais complexos para a sua subsistência, porém continuou a ser um mecanismo biológico útil após a morte física.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:27 am

Depois do desenlace, por não encontrarem no Plano Espiritual condições favoráveis à manutenção de suas vidas, os animais superiores e mesmo o homem primitivo promovem o encistamento perispiritual, recolhendo a consciência ainda insciente, em sono letárgico, aguardando desse modo, de forma cómoda, a oportunidade de novo renascimento na carne. Por isso, os ovóides humanos já habitaram abundantemente as paisagens espirituais de nosso planeta nos primórdios da humanidade, até que conseguiu o homem desenvolver o seu perispírito e amadurecer sua consciência, a tal ponto de viabilizá-los para o sustento do pensamento contínuo fora da matéria, modelando no mundo extra-físico uma estrutura capaz de mantê-lo em vida activa, tal qual nos encontramos hoje.
Desta maneira, os desencarnados que recorrerem à ovoidização estão apenas recordando antigo e bem sucedido mecanismo da evolução, amplamente utilizado no passado e registrado na memória espiritual de todo ser vivente.
— Observe outros aspectos deste estranho ser — continuei. — Olhe mais atentamente na sua superfície e veja que nos centros dos losangos da membrana protectora, que não poderíamos chamar propriamente de pele, há pregas que confluem para pequenos orifícios. São ductos que vertem uma secreção pegajosa, secretada quando o ovóide não está acomodado na intimidade de algum hospedeiro.
Essa secreção o protege, ajudando-o a fixar-se em qualquer superfície em que esteja. Notemos também que na parte inferior do ovóide se observa um pequeno orifício pregueado que continua em fímbrias delgadas. Trata-se de sua ventosa, através da qual ele se alimenta. Não de detritos ou substâncias de natureza material, porém de vibrações.
Instalam-se estes cistos humanos, regredidos a organização tão rudimentar, preferencialmente na mente humana, pois se alimentam das emanações psíquicas de suas vítimas. Comumente se alojam na fronte de seus hospedeiros em íntima conexão com o centro cerebral, fonte de intensos eflúvios mentais. Como essas vibrações não produzem resíduos e o metabolismo celular está praticamente estacionado, a organização do ovóide dispensa o trabalho dos órgãos digestivos e excretores, que se encontram reduzidos em suas formas embrionárias, completamente destituídos de actividade orgânica. Naturalmente que levarão ao esgotamento das energias psíquicas daqueles que parasitam, acarretando-lhes graves transtornos mentais.
— Não estaremos sujeitos ao ataque de um deles?
—Não se intimide, minha amiga, tal assédio se fundamenta em certos quesitos que seguramente não trazemos no momento. Há necessidade de sintonia para que a parasitose se instale em qualquer nível em que se manifeste, pois vítima e algoz sempre se unem mediante anuência da Lei de Deus. Observe, no entanto, que o ovóide possui um lentíssimo movimento pulsátil, que é a sua respiração, na razão de um ciclo completo a cada dois minutos, aproximadamente, na mesma frequência das vibrações que está absorvendo neste instante. Este movimento cessa por completo, uma vez que não esteja se alimentando. Ele absorve, neste momento, nossas emissões de simpatia, como podemos notar pela ligeira sensação de frio nas pontas de nossos dedos, ao lhe aproximarmos nossas mãos. No mundo sub-humano das Trevas, no entanto, eles são temidos e usados como verdadeiras armas de persuasão por espíritos com intenção de domínio, que podem aplicá-los tanto em encarnados quanto em desencarnados e por isso os ovóides são muito procurados por estes infelizes. Uma triste realidade de nosso mundo, minha amiga.
— É assustador, Adamastor, observarmos como pode degenerar a alma humana. Um ser superior transmudado em uma massa embrionária disforme, perdendo completamente a configuração já conquistada. Isso me deixa pasma diante da possibilidade da regressão.
— Nossos amigos na carne costumam suscitar controvérsias diante do ovóide, detentor de nítido processo retroactivo da forma, por não terem compreendido muito bem a revelação que parece formalmente contestá-la. Aqui o fenómeno da degradação está patente aos nossos olhos e todos os dias o constatamos em nossos assistidos, portanto não podemos mais lhe negar a veracidade. Sabemos, contudo, que o património evolutivo já conquistado pelo ser continua retido como potencial e na verdade não se perde. Porém, não há dúvidas de que as forças involutivas da contracção foram colocadas em funcionamento pela alma doente, que requererá imenso esforço para se recuperar, retardando sobremodo o seu progresso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:27 am

De forma que não podemos mais duvidar da possibilidade de regressão, representando, sem dúvida, o maior dano que o espírito é capaz de se infligir. As grandes quedas morais do ser em evolução são sempre possíveis, desencadeando movimentos retrógrados para si mesmo, até que este atinja os patamares da sublimidade, de onde se torna improvável resvalar-se novamente para os abismos do mal e da revolta.
Enquanto isso for possível, permite o Senhor a liberdade de se rebelar contra Suas Leis; destarte, tais graves erros recorrerão sempre em forma de prejuízos evolutivos para quem os pratica, única forma de se coibi- los, ensinando, com isso, a não mais exercê-los.
A Câmara dos ovóides no Departamento de Embrioterapia detém aqueles com algum potencial de recuperação imediata. São encaminhados para reencarnações frustras, mas bastante salutares para eles. Levarão a formações teratogênicas40, incompatíveis com a vida, muito mais graves, naturalmente, do que as induzidas pelos embrióides. Serão assim os protagonistas de diversas patologias da prenhez, como as ectopias gestacionais41, os deslocamentos placentários, os blastomas coriais42, como a mola hidatiforme43 e, sobretudo, as malformações embrionárias44, absurdas do ponto de vista biológico, despertando no observador terreno a noção de que a vida está subordinada ao acaso e a presença do Divino é incerta e duvidosa.
— O pesquisador da Terra imputa a erros genéticos aleatórios e injustificáveis as perturbações induzidas pelos espíritos regredidos — dizia a Adelaide, — mas não são nada disso, são ensaios biológicos de desovoidização como chamados aqui.
Produzem verdadeiras aberrações biológicas, mas ricas de inquestionável valor terapêutico para esses desvalidos seres. A natureza não produz inutilidades e mesmo a teratogenia guarda sua necessidade. Após vários ensaios reencarnatórios frustros, o ovóide pode se recuperar e refazer seu molde perispiritual na conformação humana. Depois nascerão ainda como mongóis, imbecis ou portando outras malformações genéticas, as mais diversas, catalogadas pela ciência terrena, sem lhes alcançar a causa, erradicada no espírito. Com esforço, porém, podem se recuperar e continuar assim a acompanhar o grupo humano ao qual pertencem.
Grande parte deles, no entanto, não se restabelecerão e serão enviados para humanidades primitivas, onde prosseguirão suas evoluções.
— Portanto, deduz-se que os homens não deveriam deter estes processos uma vez identificados, não é mesmo?
— Sim, Adelaide, mais uma vez o aborto comparece aqui como factor de prejuízos para todos os envolvidos. Estes processos gestacionais devem ser suportados até o ponto em que não ameacem a vida das mães que os acomodam.
Embora dolorosos, são ressarcimentos expiatórios e devem ser tolerados ao máximo, a fim de que cumpram com suas finalidades.
As energias desequilibrantes da massa ovoidal são exoneradas para a carne nesses choques biológicos, aliviando-lhes a danosa acção no perispírito. Para o espírito nessas condições, funcionam como verdadeiros choques, quais os electrochoques da psiquiatria, levados a efeito com o mesmo propósito de despertamento da consciência adormecida na loucura. Irão reflectir no espírito como salutar impulso de refazimento, invertendo, como já vimos, o impulso contractivo do encistamento ovoidal.
Cabe ainda considerarmos que existem ovóides, tão intensamente atados aos seus hospedeiros desencarnados, que reencarnam jungidos a eles, produzindo estranhas enfermidades para a análise dos estudiosos do mundo, como o cisto dermóide, uma malformação embrionária, descrita pela patologia humana, rara e incompreensível. Esta evidente comprovação da existência do ovóide consiste num exótico tumor cístico, que se desenvolve de forma anómala na região frontal daquele que o transporta, formado por uma pele envolvendo uma massa de restos embrionários em estado rudimentar, onde se nota a presença de pêlos, glândulas sebáceas e sudoríparas, cartilagens, ossos e dentes, demonstrando que, junto com o hospedeiro, o ovóide submeteu-se a caótico ensaio de desenvolvimento embrionário. Nosso conhecimento da perfeição das Leis Divinas obriga- nos a inocentar a natureza pela produção dessas estranhas patologias, sendo o próprio espírito caído o único artífice dessas graves desarmonias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 11:27 am

Adelaide dava-se por satisfeita e era forçoso terminarmos nossas observações, finalizando a proveitosa visita ao Departamento. Respeitosamente deixamos a enfermaria com a esperança de que o homem terreno aprenda definitivamente a valorizar a existência e a se deixar conduzir pelo amor, a fim de que as aberrações, sob as nossas vistas, deixem definitivamente de macular as paisagens divinas da vida.
— Não terminamos nosso trabalho, em absoluto, Adelaide — disse à amiga que acreditava estarmos encerrando ali nossa tarefa, ao entregar Alberto aos cuidados do Departamento.
— Quando assumimos uma tutela, responsabilizamo-nos pela sua completa execução. Podemos nos servir da ajuda de outros tarefeiros, mas trabalhamos com um modelo de assistência integral, há muito adoptado em nossa colónia. Acompanhamos nosso enfermo até que ele se veja capaz de caminhar por si mesmo. Enquanto não terminamos essa tarefa não passamos adiante. Tal roteiro de serviço pressupõe o contacto com várias actividades assistenciais, que nos levam à dilatação do conhecimento em um sentido unitário e global. Afastamo-nos assim da assistência estritamente especializada ainda em curso na Terra, forma eficaz de trabalho, mas que nos distancia da visão de conjunto, tão necessária ao nosso crescimento. É certo que, em diversas circunstâncias, necessitamos de conhecimentos especializados, como agora, mas somos forçados a acompanhar de perto o processo e com ele crescemos na assistência integral. Outrora funcionávamos no modelo terreno, onde cada especialista tratava de uma particularidade do enfermo, mas se perdia o contexto global de suas necessidades, e ninguém terminava por se responsabilizar por ele. Por isso nossos dirigentes nos trouxeram esta outra forma de intervenção muito mais eficiente, capaz de nos atar aos destinos do assistido, de nos fazer envolver afectiva e efectivamente com ele, incentivando-nos a lutar verdadeiramente pela sua recuperação. Na Terra, com muita propriedade se diz que o doente que tem muitos médicos; na verdade, não tem nenhum. Isso é exactamente o que conseguimos evitar. Por isso, todos estes embrióides e ovóides, além da carinhosa assistência que aqui recebem de enfermeiros especializados, têm todos os seus tutores zelando de perto pelos seus destinos. Assim funciona a misericórdia de Deus, que assiste o homem através do próprio homem.
Deixamos o Departamento com o compromisso de nos encontrar, no momento aprazado, com os encarnados que seriam envolvidos no processo de auxílio ao nosso amigo.

38 Ver o glossário no final da obra.
39 O mesmo que aura.
40 Ver glossário.
41 Gravidezes que ocorrem fora do útero, frequentemente na tuba uterina e, mais raramente, no ovário ou na cavidade abdominal.
42 Tumores uterinos oriundos de trofoblastos fetais defeituosos. Os trofoblastos, por sua vez são as células que formarão a placenta.
43 Processo tumoral desenvolvido na gravidez, pela degeneração das vilosidades coriônicas, produzindo-se uma massa de cistos que lembra um cacho de uvas.
44 Defeitos na forma dos embriões.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:35 pm

09 - Catherine Lyot
“Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. ” Jesus - João, 8:7

Fez-se noite e demandamos a crosta, acompanhados de Fausto.
Rumávamos para grande metrópole das terras brasileiras e seguíamos o tarefeiro do Departamento de Embrioterapia, encarregado de nosso auxílio. Levávamos Alberto, resguardado em envoltório protector. Volitávamos por região de densas trevas, atravessando ligeiros sem nos deter nas particularidades do triste caminho, repleto de angustiosas paisagens. Em breve atingimos agitado centro urbano, que ainda se acomodava nas últimas actividades do dia e os humanos se preparavam para o repouso nocturno. Seguíamos silentes e resolutos, pois Fausto sabia com precisão aonde se dirigir. Adentramos turbulenta região urbana, impregnada de intensas radiações mentais, que nos penetravam quais dardos agudos e dolorosos. Entidades vestidas de sombras se revolviam intensamente em cada dobra de rua, motivadas por aspirações humanas de baixo teor vibratório. Não havia dúvidas: estávamos em região de prostíbulos, no submundo humano. Acomodavam-se os homens, cansados de suas lides diárias, mas os espíritos amantes das paixões carnais despertavam para os prazeres nocturnos, agitando de augúrios sombrosos a aparente quietude da noite terrena.
Adelaide mostrava-se assustadiça diante do ambiente nada aprazível. Ofereci-lhe o apoio do meu braço a fim de que se sentisse mais segura.
— Não se aflija, irmã, nada temos a temer do lugar que adentramos, pois estamos a serviço do Cordeiro — afiancei, procurando tranquilizá-la. — Mantenha firme o seu pensamento e sua presença nem mesmo será notada pelos espíritos vampirescos que se comprazem neste ambiente de sevícias aviltantes.
Estacionamos diante de um casarão à semelhança de pequeno palacete, protegido por grades em meio a exuberante vegetação. Espíritos viciados do sexo se acomodavam sequiosos dos prazeres da carne, acotovelando- se nos cantos escuros, denotando a triste natureza do lugar onde adentrávamos. Uma carruagem estacionava nos portões do palacete no mesmo instante em que chegávamos, deixando simpática madona, vestida com exuberante sedução, exalando extravagantes essências francesas, acompanhada de uma jovem de traços morenos.
— Aqui temos Catherine Lyot, irmãos, a amiga a quem vamos recorrer nesta noite — disse-nos Fausto, indicando respeitosamente a mulher madura que chegava. — Trata-se de uma francesa radicada no Brasil. Como os amigos já notaram, estamos numa casa nocturna de comércio do sexo onde, infelizmente, tivemos que buscar socorro para Alberto. Sei que vocês esperariam melhor ambiente para situar nosso amigo em posição tão delicada, porém, em obediência às determinações que nos chegaram do Plano Superior, este é o lugar que melhor lhe convém, e esta a pessoa mais apropriada para recebê-lo, tenham a certeza disso.
Ainda não sabemos o que une os protagonistas do nosso roteiro, mas estejamos convencidos de que estão atados por laços do passado, cujas origens ainda ignoramos. Ademais, fomos informados de que entidades de planos mais altos estão interessadas no socorro a esta desventurada amiga e guardam a intenção de mudar-lhe os rumos do destino, chamando-a para as responsabilidades diante da vida. A jovem que a acompanha é Rosa, uma órfã, a quem ampara e devota apreço maternal, apesar de ter sido levianamente induzida à sua mesma vida desregrada.
— Ela será coagida a receber o nosso amigo por filho frustro neste caso? Não me parece com cara de quem irá aceitar isso de bom grado — considerou Adelaide.
— Embora tenhamos meios de efectivar o processo à revelia de sua anuência, é conveniente que tentemos convencê-la da necessidade de aceitar a prova, aproveitando o ensejo para renovar os tristes caminhos de sua vida. Assim tudo será mais fácil e as chances de êxito serão maiores para todos — explicou-nos o dedicado tarefeiro, já bastante ciente de seu trabalho.
Catherine — prosseguiu o amigo — merece todo o nosso respeito.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 2 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:36 pm

Não a tratemos com a hipocrisia dos homens, que usam de palavras condenatórias e atitudes de menosprezo, como se lhe fossem superiores, pois não temos esse direito. Sabemos pouco de seu passado, porém, embora identifiquemos nesse momento a sua condição de hetera45, no exercício de execrável proxenetismo46, estejamos cientes de que se trata de valoroso espírito, antiga monja, desviada de suas intenções na presente encarnação. Esconde por trás desta sua aparência de requintada mulher da vida uma alma aflita e vazia, profundamente sofrida, pois sabe que este não é o destino para o qual renasceu. Entregou-se à prostituição ainda na França, de onde vem. Sua família faliu nos negócios, após o falecimento de seu pai e ela, renegando-se a viver na simplicidade, preferiu prostituir-se, explorando seus dotes de refinada beleza. Seus entes queridos a repudiaram por isso e, para não cair no descaso, preferiu partir para longe unicamente com o propósito de enriquecer e reconquistar a posição social perdida em seu país de origem. E aqui já se firmou como pessoa de prestígios e dotes de conquistas fáceis, embora, naturalmente, desperte profunda aversão e inimizade nas pessoas que se consideram na posição de moralistas. Especializou-se em servir os senhores mais abastados dessa sociedade fútil e com isso acumula bens que lhe conferem respeitável situação económica. É a dona desta casa e arregimenta jovens para o vil comércio do sexo, às quais explora. Eis o triste cenário tecido pela nossa desventurada amiga, palco de nossos trabalhos, mas o Senhor está connosco do mesmo modo que está no coração dessas infelizes. Naturalmente não podemos apoiar esse abjecto negócio, porta para profundas dores da alma, mas como já nos asseverou o Mestre, não temos o direito de atirar-lhes as pedras da condenação.
São apenas irmãs trêfegas, esquecidas de que são feitas de substâncias divinas, merecedoras de nossos melhores sentimentos.
De imediato percebemos que o pensamento de Heitor, o amigo que nos acompanhou nas Cavernas, se fazia presente em forma de ondas de reconfortante apoio, indicando-nos que liames do coração o uniam à amiga sob nossos olhos.
Respeitosamente oramos em silêncio para que Jesus nos abençoasse a empreitada e algo nos permitisse realizar em seu benefício.
Catherine dirigia-se aos seus aposentos a fim de se preparar para mais uma de suas costumeiras noites. Duas entidades femininas, vestidas de sombras, aguardavam-na ansiosas, na entrada do casarão, risonhas e frívolas. De imediato percebemos tratar-se, não de entidades malévolas, mas levianas, unidas pelas teias do sexo, compartilhando com nossa amiga os seus vícios carnais.
A algazarra no salão que adentráramos era imensa. Espíritos envolvidos em tristes atitudes obscenas despertavam-nos profunda compaixão. Emanações pestilentas, mal-cheirosas, atordoavam-nos os sentidos, exigindo-nos grande concentração a fim de não afectar o nosso trabalho. Sentíamos por Adelaide, mas ela se mostrava estar em condições de enfrentar o sórdido panorama sob nossos olhos, e além disso, precisava adestrar-se no manejo do submundo humano, se desejava mesmo servir aos que sofrem, pois este era o palco natural de nossos empreendimentos assistenciais. Ademais, aprendemos com Jesus que não são os sadios que precisam de médicos.
Penetramos nos aposentos de Catherine, acompanhando-a respeitosamente. O quarto, decorado em primoroso luxuário francês, repugnava-nos pelos tristes eflúvios da mais baixa lascívia. Na porta, um espírito de aspecto grotesco exercia a função de guarda do erótico aposento, vigiando aqueles que podiam participar do estranho conúbio de prazeres da carne, mas sua baixíssima condição vibratória o impediu de nos notar a presença.
— O Mal tem também sua organização — disse à Adelaide — e aproveita para tirar vantagens do comércio com os homens.
Entidades infelizes, cativas do sexo, esgueiravam-se por entre os móveis, ansiosas pelos prazeres que a noite prometia, felizes com a chegada daquela que pareciam idolatrar. Catherine colocou-se diante de grande espelho, revelando sua enorme vaidade, contrafeita com as pequenas rugas que já ameaçavam se imprimir em seu rosto jovial.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:36 pm

Aproximamos nossa destra de sua fronte para lhe ouvir melhor os pensamentos, tendo em vista que as destoantes vibrações do ambiente nos obstaculizavam percebê-los de longe. Sua mente fervilhava. Pensava em Abelardo, o jovem que seguidamente a procurava nos últimos meses. Ele lhe despertara os desejos de mulher há muito obscurecidos pelos vícios da sexualidade e exigia exclusividade nas volúpias amorosas. Desejava realmente estar com ele, mas não convinha manter-lhe fidelidade, pois não podia dispensar seus endinheirados clientes. O pequeno conflito, no entanto, logo se diluiu nas fantasias sexuais que a lembrança do jovem lhe suscitava. As ondas mentais que se lhe escapavam de imediato reflectiram nas infelizes desencarnadas jungidas a ela, despertando-lhes atitudes obscenas, fazendo-as proferirem gritos e gargalhadas estridentes.
— São crianças inconsequentes, meus amigos — dizia Fausto. — Deixam-se inebriar pelas emanações das fantasias sexuais de nossa imprudente amiga, nas quais não somente se comprazem, como também se alimentam. Não podemos afastá-las daqui, pois estão imantadas ao ambiente. Como podem perceber, na aparente privacidade deste quarto, pratica-se realmente um abjecto sexo em grupo.
Todos aqueles que se deixam macular pelos prazeres mundanos deste tipo de erotismo, onde não imperam os valores da afectividade, do respeito mútuo e da responsabilidade, vêem-se obrigados a compartilhar com seres das sombras suas sagradas energias sexuais. Se os humanos pudessem observar esta triste realidade, enojar-se-iam dessa prática que repugna tanto quanto a assistir a loucos deleitarem-se em uma pocilga sem se dar conta do fato. Um dia os homens aprenderão que o sexo deveria ser um ato tão sagrado quanto uma prece.
Fausto tocou carinhosamente a fronte de Catherine e lhe pediu o recolhimento das ideias em jogo, sugerindo-lhe a figura paterna a quem muito se afeiçoara.
Sabia que a lembrança do progenitor há muito tempo desencarnado impor-lhe-ia salutar sentimento de culpa, chamando-lhe a atenção para as responsabilidades da vida. A irmã, imediatamente abrindo uma das gavetas da penteadeira, pousou os dedos sobre uma foto antiga onde se adivinhava a imagem do pai e deixou que grossas lágrimas lhe corressem pela face ricamente maquiada, suplicando mentalmente pelo perdão. Energias de profunda amargura lhe surgiram nos centros cerebrais da emotividade em direcção à região cardíaca. Fausto, adestrado no manejo das forças vitais, desviou a corrente, concentrando-a em uma das têmporas de nossa irmã. Notamos que, de imediato, aí se iniciava um processo de dilatação das artérias temporais. No mesmo instante Catherine levou seus dedos na referida região, sentindo que se lhe ameaçava uma de suas terríveis crises de enxaqueca.
— Aproveitemos o valor da enfermidade que os homens costumeiramente amaldiçoam — disse o amigo. — Sentimos ter que lhe desencadear essas dores, mas lhe são benfazejo freio aos desgastes inconsequentes de forças que lhe roubam preciosos recursos de equilíbrio. Embora nos pareça um estranho paradoxo, a saúde precisa da doença para se realizar, pois é a única linguagem a que o homem terreno sabe obedecer, ignorante ainda das leis do equilíbrio que lhe regem o bem-estar orgânico.
Não demorou muito e víamos a decepção na face dos espíritos obsessores, ao notarem que sua parceira de prazeres se atirava na cama, meio combalida e desalentada.
Em breve, Rosa, a jovem que chegara junto com Catherine, era chamada, adentrando-se ligeira no quarto, trazendo-lhe, já ciente do que se passava, a toalha molhada para lhe atar na testa, único alívio que experimentava nessas ocasiões.
O tumulto dos espíritos se somava agora ao bulício dos humanos, pois a casa se enchia de janotas, oriundos da alta sociedade local. Pelintras de faces frívolas, emolduradas pelos sorrisos irónicos dos aproveitadores e disfarçando a luxúria em trajes de requinte, exalavam eflúvios pestilentos, imiscuídos dos odores maléficos do álcool e do fumo, causando-nos piedade e repugnância pela baixeza da alma humana.
— Um bando de obsessores encarnados, explorando corações infelizes que vendem prazeres fáceis a fim de sobreviverem! Que triste realidade!
— proferi, pesaroso, à Adelaide.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:37 pm

Uma frase do Evangelho, no entanto, ressoava em minha mente: “raça de incrédulos e perversos, até quando vos sofrerei?”47 Assaltado pelas minhas reminiscências, surpreendia-me, contrito e aflito, sem o direito de menosprezo a nenhum daqueles senhores, pois no passado já havia pertencido às suas fileiras.
Lágrimas aflitivas marejaram-me os olhos, mas o momento, no entanto, requisitava-nos o máximo equilíbrio e não convinha perturbar o trabalho com minhas tristes recordações. Recolhi-me em sentida prece agradecendo ao Senhor por já não me contar entre aqueles devassos cavalheiros. Adelaide, percebendo-me a emotividade, dirigiu-me caricioso olhar e silentemente me envolveu em seu braço de amigável conforto, sem exigir-me explicações para a repentina manifestação de sensibilidade. Trazemos da vida na carne muitas lembranças que gostaríamos de simplesmente apagar da memória, mas elas nos perseguem quais fantasmas renitentes, impossíveis de se aniquilar, exigindo-nos o aprendizado do equilíbrio. O trabalho em favor dos infelizes, o estudo nobilitante e o exercício constante de sentimentos elevados são os únicos remédios para uma alma que enseja a regeneração.
Neste momento, rompendo minhas amargas conjecturas, um rapaz em trajes militares batia à porta dos aposentos de Catherine, com vigor. Na impetuosidade de sua expressão vimos tratar-se de Abelardo, o jovem que habitava as fantasias de nossa amiga pouco antes. Ansiava estar com ela e exigia-lhe que atendesse os rogos de moço fogoso e apaixonado. Rosa, gentilmente, o afastava, explicando-lhe que Catherine estava enferma, mas ele, desconfiado, queria atestar por si mesmo, temendo que sua preferida estivesse nos braços de outro.
— Precisamos afastá-lo para que não nos obstaculize os serviços da noite — pedia Fausto, que continuava a operar o plano mental de Catherine, diligenciando adormecê-la.
Intentava, inutilmente, apaziguar o companheiro imprudente, quando um robusto marinheiro, ciente do que se passava, reprimiu-o indignado, dizendo-lhe que se acalmasse, pois “madame Catarina” não era propriedade dele. Foi o que bastou para que os dois se encarassem, ameaçando se engalfinharem em animalesca luta. Acorreram-se todos a fim de se evitar o pior, enquanto os espíritos, sedentos de emoções vis, exasperados, procuravam excitar ainda mais os ânimos, desejosos de presenciar os sabores dos embates humanos. Rosa ameaçou sair para chamar a polícia, o que acalmou Abelardo que finalmente consentiu em se retirar, não sem antes constatar que Catherine estava realmente sozinha. Ela não tivera força sequer para levantar-se e acalmar a situação, apenas acenou de longe para o seu preferido, serenando-o. Sendo atendido, retirou-se o jovem, contrafeito e ofendido. Decepcionados, os espíritos levianos retornaram às motivações de seus prazeres e a casa voltou à sua rotina. Com grande alívio agradecemos a Deus pelo bom desfecho da situação que poderia ter prejudicado nossos planos, adiando ainda mais o socorro a Alberto, já sem condições de aguardar mais tempo para o ingresso na carne.
Catherine, após acessos de vómitos, sentiu esgotar suas forças físicas e finalmente adormeceu. Os obsessores, vendo que nada mais conseguiriam, deixaram-na sozinha e, sequiosos de prazeres, saíram em busca de outros repastos para seus ignóbeis regalos. Finalmente o ambiente se acomodou em um pouco de sossego e pudemos entretecer um escudo magnético em torno de seu leito, higienizando um pouco a sua envilecida atmosfera vibracional. Desprendendo-se do corpo físico, sentia-se envolvida por eflúvios de inefável paz jamais aspirados.
Enquanto Fausto se retirava, demandando outros afazeres, operávamos o campo visual de Catherine para que ela pudesse nos perceber e entretivesse connosco algum diálogo. Ao divisar-nos, prostrou-se de joelhos, acreditando-nos enviados do Céu.
— Anjos de Deus, não me mandem para o inferno — dizia, em choro veemente, revelando sua consciência profundamente ferida pelos exaltados sentimentos de culpa.
— Levante-se, irmã, somos apenas seus amigos, não somos enviados do Céu e sequer estamos aqui para lhe condenar por qualquer atitude que seja — respondi-lhe, procurando acalmá-la. — Contenha seu pranto e procure orar a Jesus para que sua alma se refaça na paz que a envolve.
De imediato Catherine começou a proferir sentida prece em francês, recordando-se de sua meninice, quando Fausto adentrou o quarto, acompanhado de Heitor, nosso já conhecido companheiro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 25, 2024 8:37 pm

— A paz esteja com todos, amigos. É uma satisfação revê-los, embora em ambiente tão desagradável para as suas sensibilidades — saudou-nos o dilecto mentor. — Catherine, como já previram, é estimada pupila de nosso coração e não podemos deixar de prestar-lhe socorro nesta hora tão importante, no destino profundamente infausto que traçou para si mesma. Vamos ao trabalho. Temos que lhe trazer à presença o progenitor, único capaz de movê-la do lameiro em que se atirou. No entanto, encontra- se ele reencarnado, em plena infância e demandaríamos precioso tempo preparando-o para um mergulho no passado. Só nos resta ludibriá-la, meus amigos. Com o devido respeito, far-me-ei passar por ele, pois assim se faz necessário para o seu próprio bem.
Em seguida, aproveitando o potencial de oração em que se movia Catherine, ainda de joelhos, extasiada diante das luzes espirituais que a iluminavam, Fausto operou seus centros mnemónicos, copiando-lhe a imagem do pai e projectou-a, através de surpreendente manipulação ideoplástica sobre Heitor, que se vestiu assim da exacta figura paterna. Vendo-se diante do querido pai, estirou-se em pranto convulso, suplicando por perdão, como uma criança surpreendida em condenáveis peraltices.
— Que fizeste, minha filha, da moral e dos costumes aprendidos na infância?
— perguntou-lhe Heitor, na figura do pai, no mais perfeito francês. — O que fazes, filha querida, neste ambiente imundo e indigno da realeza divina de que todos fomos feitos?
Catherine, sem compreender o que se passava, tentava evadir-se para o refúgio seguro do corpo físico, em imenso conflito de consciência, dividida entre o irrefreável desejo de abraçar o pai querido e a vergonha que se lhe estampava na alma maculada de ignomínias. Adelaide e eu sustentávamos-lhe a organização carnal, constrangida a tremores espáticos, reflectindo os inopinados estímulos oriundos do espírito parcialmente desprendido.
— Perdoa-me, papai, não queria manchar-te de opróbrios o honrado nome ... — respondeu arfante nossa amiga, abalada na profundeza da alma. — Compadeça-te de meu infortúnio que já me serve de oneroso castigo... Perdoa-me...
— O perdão genuíno, entre aqueles que não atingiram ainda a maioridade do espírito, somente é possível diante da sincera disposição de transformação de quem o suplica. Se reconheces o erro, nada te imputa maior desdita do que persistir nele, filha querida, tornando-se, assim, difícil a oferta do perdão sincero. Promete-me que abandonarás a estrada de devassidão em que transitas, e então moverei os Céus e a Terra para trazer-te a felicidade que almejas.
— Dá-me forças para isso, meu pai. Não quero mais a penúria do pecado que me sufoca o coração, mas não tenho outros caminhos por onde transitar. Ajuda-me, pai querido... perdoa-me... — suplicava em plangente preito, domada pela comoção intensa que lhe eclodia da alma dorida.
— Há um meio de desenvencilhar-te do atoleiro em que te chafurdas, minha querida. Vês os espíritos amigos que te amparam neste momento? Eles te trazem um filho como dádiva preciosa do Céu, e com ele, uma esperança de redenção.
Aceita de bom grado o presente de Deus e tua vida se transformará...
— Pai, o que me pedes não posso aceitar, não sou digna da maternidade...
trago o seio enodoado de culpas e vícios...
— Teu empenho sincero na reforma íntima e a dedicação ao bem serão o bastante para te incendiar de luzes, acendrando-te as nódoas do pecado, filha. Abre o coração e aceita, apenas isso te pedimos.
Nesse momento, Fausto ofereceu-lhe formoso bebê, entretecido em linhas de forças ideoplásticas, cópia viva e perfeita com a finalidade precípua, não de ludibriá-la, mas para que se sedimentasse em sua obnubilada mente o realismo do ato como se fazia necessário.
Diante da oferta, Catherine, desfeita em lágrimas, motivada por sublime sentimento maternal e sentindo-se aliviada por merecer a consideração daqueles que imaginava enviados dos anjos, abriu as portas de seu coração, estendendo os braços para receber em seu regaço a messe divina.
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