LUZ ESPÍRITA
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:35 am

Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual
Gilson Teixeira Freire

pelo espírito Adamastor

A vida de Santos Dumond no plano Espiritual.
A Depressão e o Suicídio sob um novo enfoque.

Dedicado àqueles que renegaram a bênção da vida.

Agradecimentos
As reuniões no Grupo de Fraternidade Espírita Irmão Vítor, desenvolvidas no decurso dos três anos que despendi para escrever esta obra foram o sustentáculo seguro que me permitiram um ambiente de sintonias propícias ao seu desenvolvimento. Por isso, devo agradecer aos meus companheiros de trabalho que não me faltaram com o apoio incansável em todas as horas de actividades.
Especialmente naqueles instantes em que a dúvida assaltava-me, ferindo de insegurança minha sensibilidade mediúnica, eles souberam proporcionar-me a adesão de confiança de que necessitava. Foram tantos que não posso aqui enumerá-los, no entanto a vida registou suas imprescindíveis contribuições e saberá recompensá-los.
Devo especial gratidão ainda a Carlos José Horta e Cléa de Paula Santos, cujas palavras de estímulo e irrestrito apoio foram imprescindíveis para que os valores do bom ânimo jamais se esvaíssem em mim, e a Sergito Cavalcanti que, aquiescendo com veemência à sua imediata publicação, cuidou de lhe dar corpo no plano físico.
Meu reconhecimento se direcciona também para Jarbas Franco de Paula, Lúcia de Fátima Marques, Vanda Zanete e António Russi que colaboraram na indispensável revisão final do texto e a Noémia Resende Teixeira que se empenhou com extraordinário zelo no trabalho de editoração, valorizando sobremodo a obra.
Desejo ainda registar emocionado que, sem o respaldo indispensável de meus entes queridos, provendo-me com o mais genuíno amor, este trabalho não teria sido possível. Tributo que me chegava, não somente em forma do afectuoso acalento vibracional, como da tolerância pelas muitas horas roubadas do precioso e indispensável convívio familiar. E se me sentisse no direito de dedicá-lo a alguém, sem sombras de dúvidas, o consagraria a minha esposa dilecta, Sónia Maria, sobejado pela sua capacidade de amar, tolerar e servir sem exigências.
E, finalmente, agradeço a Deus por me haver dado condições de contribuir, um pouco que seja, com a crença na imortalidade, corroborando a certeza de que o espírito não morre jamais, crença que é o mais valioso consolo que podemos ter em vida, não importando a religião que professemos.
Gilson Teixeira Freire
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:36 am

b]Sumário
Esclarecimentos necessários
A História de Um ícaro[/b]
1 - Em Portais do Vale
2 - Ovoidização
3 - Heitor, o Novo Amigo
4 - Rumo às Cavernas
5 - 0 Socorro no Tempo Devido
6 - Fisiopatologia da Autodestruição
7 - No Departamento de Embrioterapia
8 - Na Câmara dos Ovóides
9 - Catherine Lyot
10 - A Bênção do Recomeço
11 - Dias Atribulados
12 - Tempestade Vibracional
13 - Doloroso Transe
14 - Um Homem Sem Memória
15 - Nas Estradas do Passado
16 - Aventuras Inusitadas
17 - Dias Gloriosos,
18 - Momentos Históricos
19 - Valiosa Ajuda
20 - Fisiopatologia da Arrogância
21 - Depressão: Tempo de Colheita no Campo do Espírito
22 - Em Busca de Soluções
23 - Nas Penumbras da Morte
24 - Confissões da Intimidade
25 - Lições Para a Eternidade
26 - Sombras de Um Homem
27 - Contenda Inútil
28 - 0 Senhor dos Canhões
29 - 0 Padre dos Inventos
30 - Sanando as Chagas do Passado
31 - A força do Perdão
32 - Enfim, o Trabalho
33 - Nos Bastidores da Guerra
34 - Um Pedestal Vazio
35 - Quando o Passado Socorre o Presente
36 - Reencontro Memorável
37 - Em Um Campo de Luzes
38 - Nas Teias do Destino
39 - De Volta à Colónia
40 - O Canhão da Paz
Glossário
Mensagem de Santos Dumont
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:36 am

Esclarecimentos Necessários
Apresento ao leitor uma obra que não pode ser considerada simplesmente uma ficção. É fruto de uma estranha parceria com uma inteligência livre da matéria. Sei que lhe dar tão exótica origem coloca- a no rol das literaturas questionadas quanto à sua veracidade e levanta a suspeita de tratar-se apenas de um produto da imaginação aguçada de alguém capaz de se conceber dominado por forças estranhas, conduzindo o relato dos escritos aqui apresentados. Por isso ela está estritamente endereçada àquele que aceita a possibilidade da existência da vida em ura outro plano que não o da carne e admite a viabilidade de trocas de informações através das correntes de pensamentos que trafegam entre os dois mundos.
Este livro, no entanto, não foi desenvolvido pelas vias da psicografia mecânica na qual o medianeiro pouco interfere em seu trabalho, mas através de um envolvimento activo e directo de inspiração consciente. Escrevi-o bastante cônscio de mim mesmo e com clara percepção das ideias que entretecia na mente. Apenas as sentia brotarem com uma profusão inusitadamente rápida e com uma clareza tão cristalina que não me deixavam a mínima dúvida quanto à sua origem. Imagens nítidas se formavam em minha tela mental sem o mínimo esforço imaginativo e eu apenas cuidava de lhes dar corpo, vestindo-as com minhas próprias palavras, enquanto me sentia enlevado e envolvido por um halo de vibrações de difícil definição. O tempo parecia-me estacionado, ainda que a sucessão das ideias fosse muito superior à minha reduzida capacidade de composição e habilidade de escrita. Embora já ciente do corpo do trabalho, não tinha a menor noção do que iria escrever, até o momento em que penetrava naquele mágico fluxo de ideias. A presença nítida de alguém que não pertence a este plano de vida era evidente e incontestável e sua influência bastante poderosa para que me curvasse diante dele com sentimento de simpatia, admiração e respeito. Eu o seguia em pensamento, em pleno comando de minhas funções orgânicas, mesmo sentindo, naquele inusitado clima de enlevo, a sensação de estar flutuando ou como se meu corpo estivesse leve e estendido na posição horizontal, atado apenas pelo cérebro.
A vivência dos fatos relatados era de tamanha magnitude que muitas vezes me atirava em lágrimas por senti-los com surpreendente realidade, como se estivesse presente neles, tal a nitidez com que os quadros se formavam em minha mente.
Essas sensações são as únicas provas, ainda que restritas ao meu próprio testemunho, de que lidei com forças fora da normalidade e além de mim mesmo.
Outras comprovações para certificar-lhes que os relatos desta obra são verídicos não posso apresentar, a não ser minha própria sinceridade. Explicações diferentes, tampouco seria capaz de lhes dar, embora os descrentes do espírito se apressem em recorrer aos mistérios do inconsciente para travestir tais fenómenos de um racionalismo coerente com suas doutrinas materialistas, crenças que já não podem nem mesmo se sustentar diante da imponderabilidade da própria matéria.
Durante um ano, antes de iniciar este trabalho, fui invadido, no momento do sono, por uma profusão de sonhos muito reais e que entreteciam todo o enredo da história que iria escrever mais tarde. No entanto eu não estava ciente do fato e não podia compreender a razão daquilo. Passava os dias acompanhado por aquelas imagens inquietantes e guardava a estranha sensação de trazer a mente invadida por pensamentos que não me pertenciam, pressionando-me as paredes do cérebro para evadir-se. De certa forma me perturbavam, dificultando-me o trabalho diurno, causando-me uma íntima inquietude e a inexplicável impressão de não estar completamente desperto e integrado ao nosso mundo. Hoje compreendo que se tratava realmente de uma gestação de ideias, um preparo necessário para o perfeito desenvolvimento da obra. Embora incómodas, exerciam uma forma de pressão como se exigissem para serem escritas. Essa sensação desaparecia por completo no instante em que as transferia para o papel, proporcionando-me agradável alívio.
Enquanto o enredo se estendia, minhas noites continuaram sendo enriquecidas pelos mesmos sonhos vividos e ricos de detalhes das imagens e dos ambientes que depois se desdobravam na dissertação da história narrada. Por isso, além de escrevê-la, eu a vivi intensamente ao longo dos três anos, tempo consumido em sua composição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:37 am

Uma entidade que não pertence a este mundo esteve presente junto a mim, inspirando-me no seu relato. Responde pelo nome de Adamastor e sentia a força de sua presença, impondo-me o seu pensamento e dirigindo
activamente o trabalho. Por vezes podia acompanhar frase por frase a sua elaboração mental, para me perder logo em seguida numa avalanche de ideias e imagens qual torrente de água cristalina a banhar-me a alma com impetuosidade e ternura ao mesmo tempo. Pedindo-me paciência, falava- me em palavras mudas, impressas na tela mental: — “Escuta-me não com teus ouvidos, mas com a tua alma.
Guarda na memória as imagens que vês e as emoções que experimentas. Depois escreve-as com calma, sem tanta pressa e não queiras apreender tudo que te exprime a ideia evasiva. No final tudo se acomodará. Não temas e nada se perderá". No entanto, não pude evitar que minhas próprias interpretações interferissem no processo e que minha parca condição intelectual maculasse a clareza das ideias percebidas por esta via intuitiva de acesso ao mundo do imponderável. Certamente que não pude vesti-las com a mesma clareza com que as anotava na tela mental e, por isso, guardo a certeza de não ter sido o suficientemente assertivo para evitar os erros que assumo como de minha inteira e única responsabilidade.
Muitos nomes e termos inteiramente estranhos ao meu ambiente psíquico eram percebidos com natural insegurança, exigindo-me posterior e cuidadoso estudo a fim de conferir-lhes a exactidão, impondo à captação mediúnica um perfeito controle racional, evitando-se assim os enganos naturais decorrentes de minha insegurança e da rapidez com que se imprimiam em minha mente. Contudo surpreendia-me, atestando que a maioria deles correspondia exactamente à forma com a qual se me apresentaram. Entretanto, muitos não se acham registrados ou pelos menos não os pude encontrar nas biografias ao meu alcance, de modo que admito a possibilidade de erros em decorrência da exótica origem destes dados e da exiguidade de minha visão metapsíquica. Ainda que um dos objectivos deste trabalho seja a aproximação dos fatos desta e da outra vida, a precisão de seus informes, no que diz respeito à exactidão da grafia, não foi, em momento algum, o seu escopo principal. Seu enredo e seu personagem serviram apenas como um propósito secundário para a veiculação da verdadeira mensagem da obra, que objectiva engrandecer- nos para a vida real do espírito, incentivando nossa melhoria moral, ensinando-nos a valorizar a vida e a vê-la como um meio indispensável para a conquista dos tesouros da eternidade.
Sei que o protagonista destes relatos desperta especial interesse para a história de nossa nação por retratar um de seus mais ilustres personagens, e muitos questionamentos serão suscitados perante as revelações aqui apresentadas, por parecer desmerecê-lo das glórias e feitos que lhe atribuímos. Creio que a intenção da espiritualidade superior não é diminuir o valor de quem quer que seja, mas apenas nos revelar factos que possam nos instruir e nos tornar mais felizes.
Acredito ainda que se a vida de todos os grandes homens da história universal, exceptuando-se o Cristo e seus santos mensageiros, fosse-nos apresentada sob a óptica do espírito, falhas de carácter e fraquezas incontestáveis lhes seriam imputadas, não sendo o nosso herói em particular uma excepção à regra. Nossos ídolos, quase sempre, encarnam nossa pretensão de hegemonia, representam nossos mais genuínos anseios de perfeição e realizam nossos sonhos de audácia, por isso, costumeiramente, vê-los desqualificados pela realidade, ofende-nos os próprios brios.
Ao perceber o alcance da obra e sua possível relevância para a nossa história, senti-me incapaz de desenvolvê-la com a envergadura de que se fazia necessária.
Porém não me foi dada a opção de negar o trabalho e tive que executá-lo a despeito de minha insuficiência, pois não guardo dotes de literato, não conheço o idioma o bastante para evitar grandes erros e muito menos trago cabedal de intelectualismo satisfatório para ser aquele que a encabeçasse no mundo físico. Senti-me fortemente conduzido e tenho certeza de que a espiritualidade desprendeu enormes esforços na superação dos óbices que minha ignorância lhe contrapunha, por isso espero contar com a compreensão daqueles que, conhecendo minhas parcas possibilidades e inquestionáveis limitações, assistem-me projectado em tal patamar de realização, ainda mais por tratar-se de assunto distanciado do meu âmbito de actuação profissional.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:37 am

As notas foram todas elas colocadas posteriormente a fim de auxiliar o leitor e pode-se considerá-las como de minha própria autoria. Algumas, contudo, demonstravam-me nitidamente tratarem-se de sugestões do autor espiritual e as registrei como tais. Um glossário foi inserido no final do livro, com a intenção ainda de se facilitar a revisão de neologismos próprios do texto.
As lições que se depreendem de seu enredo, como as considerações sobre a ovoidização, a energética do psiquismo e as ponderações sobre a doença depressiva do homem podem ser julgadas inéditas e questionadas quanto ao seu real valor doutrinário, se para alguns parecerem não guardar perfeita identidade com as revelações que até então nos foram apresentadas como integrantes dos preceitos espíritas. Contudo, reservando-me o direito de co-autor da obra, deixo claro que se trata de opiniões pessoais, tanto minhas quanto da entidade que as ditou, pois se lhes dei guarida é porque se coadunaram com o meu próprio modo de pensar e conceber os ensinamentos espíritas que me bafejam a razão. Embora eu situe suas origens fora de mim mesmo, este não deve ser o motivo para encará-las como verdades absolutas e inquestionáveis, pois todos, encarnados ou não, somos seres ainda em crescimento e estamos sujeitos aos mesmos equívocos naturais da jornada do conhecimento.
Para isso ressalto as palavras de Allan Kardec, as quais suscito para a nossa reflexão: “um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada sendo mais do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau de adiantamento que haviam alcançado e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles”1. Portanto a razão plena deve nortear-nos, não somente na leitura desta obra, como servir também de peremptório juízo crítico para o julgamento de todo e qualquer corpo de ideias que se nos apresente como oriundo do insólito mundo dos Espíritos.
Desta forma, acreditar na veracidade dos fatos aqui narrados, fica por conta da capacidade de cada um em conceber a vida e seu telefinalismo. Aqueles que crêem que tudo termina nas portas do túmulo, certamente passarão adiante, sem a mera curiosidade de questionar o sentido da existência e o significado de obras de tão aparente exótica origem. Outros, contudo, que acreditam na imortalidade da alma, poderão aceitar a história como um drama real, vivido no Plano do Espírito. No entanto, não importa que a encarem como mera ficção, se dela for possível extrair subsídios aproveitáveis em nossa melhoria moral. Nosso esforço terá encontrado a sua recompensa. Eis o que interessa e seguramente este é o escopo maior de todo o nosso empenho, meu e de meus companheiros, deste e do outro mundo.

Gilson Teixeira Freire
Belo Horizonte, Outubro de 2000

1 Do livro Obras Póstumas, segunda parte, “a minha primeira iniciação no Espiritismo” - 17ª edição, FEB.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:37 am

A História de Um ícaro
Conta-nos o mito dos antigos gregos que ícaro, filho de Dédalo, ousou fugir dos labirintos de Creta, servindo -se de asas construídas com penas, fixadas com cera. Conseguindo voar até as alturas, aproximou-se ícaro tão demasiado do sol que seu calor derreteu a cera, fazendo-o precipitar-se no mar Egeu. Este foi o castigo para aquele que, desafiando as leis da natureza, intencionou voar mais alto que os pássaros.
Sua lenda ficou na memória da História como sinónimo daquele que é vítima de ambições excessivamente elevadas, além das possibilidades do homem comum. ícaro personalizou ainda, numa época, o sonho humano de voar como as aves.
Homens eminentes, no desempenho de missões no mundo, representam essa figura mitológica quando, deixando-se conduzir pelo orgulho desmedido, alçam voos tão altos na atmosfera das vaidades humanas que as luzes da altivez lhes abrasam as frágeis asas, precipitando-os em grandes quedas morais. Mas é preciso considerar que ícaro representa não somente missionários falidos, porém o anseio de todo espírito humano, que não basta a si mesmo e está sempre alimentando sonhos de grandeza que lhe façam enaltecer o personalismo enfermiço. Para estes é que Jesus asseverou que “todo aquele que se exaltar será humilhado”2, pois da arrogância passarão à perda dos valores que lhes integram a personalidade, em situação exactamente oposta àquela orgulhosamente pretendida. Estes movimentos fazem parte da individualidade humana que ainda não conhece o equilíbrio e não sabe situar-se na posição de humildade que nos recomendou o Evangelho: “aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande. ”3
O inventor, personagem desta história, foi um destes ícaros modernos que, escondendo por trás de sua compleição mirrada e frágil uma alma altaneira e audaz, aspirou à maior das glórias humanas ao desafiar as leis da gravidade. Desejou um dia tornar-se uma grande personalidade e inscrever seu nome nos anais da história, como aquele que realizou o maior sonho do homem: voar como os pássaros. Justo imaginarmos que tal encargo, feito sobretudo de soberbia, poderia terminar em tragédia.
O ícaro de nossa narração, por estar envolvido em elevada atmosfera espiritual, julgou ter a genialidade dos grandes sábios, sendo que, na verdade, apenas copiava o que lhe ditavam à intuição nobres entidades do invisível, desejosas de auxiliar o progresso humano. Acreditando que unicamente a sua inteligência sustinha suas frágeis máquinas, imaginou- se incapaz de falir, enquanto que o mundo espiritual trabalhava activamente para instruí-lo e orientá-lo, a fim de que seus arriscados projectos não se precipitassem em graves fracassos. Os jornais o focalizavam como o herói do novo século e, apesar de sua minguada aparência, era tido como um grande homem, aquele que competia com as águias e ousava desafiar as grandes altitudes. O mundo espiritual, ao programar a tarefa necessária ao progresso humano, sabia dos riscos que tal missão acarretaria para aqueles que se empenhassem em sua execução. Era preciso uma alma muito humilde para realizá-la com a resistência precisa, a ponto de não se deixar abrasar pelas ostentações humanas. Ao mesmo tempo, o malfadado desejo de glórias precisava ser utilizado como um pretexto para o bom êxito da incumbência, pois a alma, que ainda não atingiu a maioridade, não sabe se mover sem que a jactância lhe dirija o personalismo rumo ao enaltecimento doentio. A empreitada era delicada e difícil, mas era preciso correr os riscos em prol das necessidades do progresso. Para os escolhidos que iriam voar tão alto e experimentar o sabor das maiores vaidades humanas, o perigo da queda moral era uma ameaça altamente provável, superando certamente a possibilidade de precipitarem-se no solo.
O inventor não estava livre dessas ameaças. Conquistou glórias momentâneas no seio dos povos, mas se viu um invencioneiro ao se dar conta de que outros homens, em outras terras, também ouviram e responderam aos apelos do mundo espiritual, que tinha pressa na execução de seus projectos, e semeava ideias em qualquer campo em que pudessem florescer. E estes irmãos disputavam-lhe os mesmos méritos pela primazia do fabuloso invento, como património exclusivo de suas vaidades. Alimentara a falsa ilusão de ter possuído a maior das genialidades e ter sido o único mortal a vencer as alturas. Mas suas glórias eram falsas tanto quanto eram falsos seus inventos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:37 am

Com desespero, descobriu-se tão falível quanto qualquer outro mortal. Viu seu nome ser preterido na galeria da História por outros que lhe requisitaram o primado do eloquente feito. Medalhas, títulos, monumentos e honras caíram, desfeitos de um dia para o outro, tais quais castelos construídos nas movediças areias das ilusões egóicas. Não bastaram seus feitos por demais insignes para uma alma em curso na Terra. Ele precisava dessa primazia para alimentar o seu orgulho, que já experimentara o sabor dos louros humanos. Depois a guerra, sim, a guerra com toda a sua crueldade, insistia no uso da máquina que julgava sua, para protagonizar a destruição, contrariando as suas mais sinceras pretensões de paz. O aeroplano, aquele que teimava em considerar seu filho dilecto, não podia prestar-se a objectivos tão vis, e sua consciência, martirizada pelo passado de culpas, feria-lhe ainda mais a alma dorida, aprofundando-o no charco a que se atirara.
Seu coração vazio de espiritualismo não encontrou consolo no respeito e no carinho que o seu próprio povo lhe dedicava. Este não se importou com o facto de que outros lhe houvessem desqualificado do título histórico de pai da maior invenção de todos os tempos, fingiu não ouvir e teimou em assim considerá-lo, alçando-o aos píncaros da merecida glória. Seu nome foi enaltecido e seus feitos valorizados acima de seus reais méritos. Mas não bastou. O louvor que lhe consagrava sua singela gente, distante das realidades do mundo de então, não lhe era galardão suficiente. A desilusão se instalara em seu coração e ser herói apenas em sua restrita nação não lhe bastava para acalentar a alma doente e ferida, traumatizada pela queda das grandes altitudes do espírito. O drama estava armado e acreditara não ter como evadir-se dele, a não ser através do ato ignominioso:
fugir e não mais viver... Pondo fim ao curso da própria vida, o nosso ícaro se precipitou no abismo das maiores dores que o ser humano pode colher. Eis a história urdida nestes singelos relatos. Um romance da vida real escrito por quem o acompanhou de perto como nenhum outro.
Revelando as fraquezas e as virtudes de um herói decaído, suas lições visam, não a diminuir sua imagem na memória de um povo e importante para o sustento de uma nação, porém à nossa educação espiritual, ensinando-nos que honras e glórias precisam do equilíbrio da simplicidade e da humildade a fim de não se converterem em prejuízos evolutivos para aqueles que as protagonizam. E expondo-nos os bastidores da notoriedade, deixa-nos entrever que o génio é somente alguém que se capacitou pelo próprio esforço, a se transformar em um canal receptivo das correntes intuitivas que trafegam entre os dois planos da vida. A doença depressiva e seu cortejo de males encontram aqui uma rápida, porém profunda reflexão sobre as suas origens, enriquecendo- nos com acervo de conhecimentos que nos auxiliam a entendê-la sob diferenciados aspectos, alicerçados nas expressões do espírito eterno, visando sobretudo ao estabelecimento de medidas seguras para a sua prevenção.
A guerra, fonte de ruínas e de grandes dramas, o maior de todos os males que o homem terreno pode empreender, é também abordada nesta ícaro Redimido -19obra em um inusitado ângulo, sob a óptica do espírito. As lições daqueles que a viveram sob a dura realidade do lado de cá são preciosos ensinamentos que nos induzem a adoptar a mansuetude como norma indispensável de relacionamento em toda a extensão da vida planetária e a envidar todos os esforços para se deter a jornada de sofrimentos e destruições dos grandes conflitos fratricidas entres os povos.
Em síntese, este é o resumo da obra que temos a alegria de apresentar. Mais um romance lavrado pela influência directa dos espíritos dentre tantos já escritos se fazia realmente necessário? Certamente que a literatura espírita hoje disponível é profícua o bastante para solver toda a necessidade da alma humana, já de muito carcomida pelo cientificismo materialista diante da insofismável realidade do espírito. Não se necessita, é verdade, de mais novidades para chamar-lhe a atenção, nem de novos fatos que comprovem a veracidade do mundo do Além. Por isto, esta exposição não traz a pretensão de se juntar à plêiade de literatos do espírito, pois seu relato, à guisa de romance, apenas dá cumprimento às determinações do Mundo Espiritual que visam, sobretudo, mostrar o verdadeiro roteiro dos acontecimentos que os encarnados podem apreciar somente em um de seus lados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:38 am

Seu valor não está somente em nos mostrar que a vida continua, apesar de todas as dúvidas do homem terreno, mas em completar a História que na verdade se realiza em dois planos de vida e em dois momentos contíguos. Aproximando o curso dos factos desta e da outra vida, unindo causas e efeitos, entretece a verdadeira sucessão da História, em sua lógica impreterível, quando vista sob o prisma do espírito. E, assim, o homem em trânsito no planeta não pode mais ignorar que a vida se constrói em duas etapas complementares de experiências, sempre interligadas pela continuidade inquestionável da linha da evolução.
Sem dúvida muitos duvidarão dos fatos aqui narrados, por se acharem ainda presos à ilusão da matéria; entretanto lhes pedimos apenas que os analisem com os olhos da alma, buscando retirar da letra ensinamentos imprescindíveis para a reforma moral que a vida nos suscita. Conhecendo de perto o drama deste ícaro, certamente aprenderemos a valorizar a existência e a equilibrar os voos do nosso espírito, para que, cientes das ameaças das grandes altitudes do orgulho e da vaidade desmedida, não nos deixemos resvalar para o fosso das ignomínias humanas. Adoptando a humildade como norma do viver, aprenderemos a voar até onde nos podem suportar as frágeis asas da alma ainda incapazes de nos suster sobre os imensos abismos que nos separam do Infinito. Compreenderemos definitivamente que as luminares ideias que promovem o progresso humano não são meras e casuais criações de homens de génio, mas, sim, realizações que obedecem a planos cuidadosamente idealizados pelo mundo espiritual, fonte de toda inspiração humana. E, finalmente, que a História não caminha ao léu e a evolução não se faz ao sabor do acaso, mas se realizam dentro de um edifício conceptual já pronto, obedecendo a directrizes divinas cujas extensões não podemos ainda vislumbrar.
Embora apenas dois nomes se responsabilizem pelo desenvolvimento destes relatos, convém esclarecer que ele é fruto de um esforço de equipa, como tudo que se realiza na vida, sobretudo em nossa esfera. Muitos ajudaram, em ambos os lados da existência e, embora perdidos no anonimato, suas contribuições foram registadas pela vida, que lhes recompensará o empenho. O seu autor principal, Adamastor, embora desconhecido do meio espírita, mostrará os seus méritos pelo seu trabalho e, com discrição, dispensa outras apresentações.
Agradeçamos ao esforço de todos por esta contribuição à História, mesmo que os homens da Terra teimem em não lhe reconhecer a inquestionável veracidade. E agradeçamos, sobretudo, ao Senhor que nos permite a oportunidade do tempo para trabalharmos em favor de nós mesmos, engrandecendo o espírito na jornada rumo à Eternidade.
Que o Senhor nos ampare sempre,
Bezerra de Menezes
Belo Horizonte, setembro de 2000

2 Lucas 14:11
3 Lucas 9:48
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:38 am

1 - Em Portais do Vale
“Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir os fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se vanglorie na presença de Deus. ” Paulo -1 Coríntios, 1:27-29

Após anos de sofrimentos incoercíveis, finalmente Alberto lançara nos espaços infindos um brado de socorro em sussurrada e rouca voz. Sua mente despertara do longo e profundo sono de inconsciência em que se arrojara. Conseguira, enfim, elaborar um fio contínuo de pensamento e proferir uma pequena e singela prece, dirigida com profunda sinceridade de sentimentos às forças superiores. Sua oração ecoara pela imensidão silenciosa das escuras e frias cavernas do Vale qual clamor surdo, sufocado de agonia e piedosa súplica. Esta fora ouvida pelos planos elevados da vida, os quais não menosprezam as mínimas oportunidades de auxílio àquele que pede com lisura.
— Mãe Santíssima, socorre-me, não posso respirar! Mãe Santíssima, ouve-me, por amor de Seu Filho!
E nada mais podia aquela triste alma em frangalhos suplicar, pois seu pensamento fragmentado mal se dava conta de sua própria condição.
Permanecera detido em profundos pesadelos de tormentos e dores inenarráveis, mas naquele dia o socorro chegaria através de entidades amigas, enviadas de regiões superiores.
Eu fazia então parte da equipe de atendimento aos dementados que despertavam no Vale dos Suicidas. Já de alguns anos dedicava-me a esta tarefa, pois, por minha vez, havia sido também socorrido naquele mesmo local e ali permanecia em trabalho de minha recomposição pelas pesadas dívidas contraídas para com a vida. Sim, forçoso é declarar que eu fazia parte daquelas tristes paisagens, porque fora também um suicida. Por tempo prolongado estive inconsciente naquele Vale de amarguras, um dos mais pesarosos e lúgubres lugares que a mente do homem comum pode imaginar existir. Perdera, de certa forma, os laços familiares que me entretinham na crosta pelo elevado tempo despendido na recuperação de mim mesmo, e a maioria de meus antigos entes queridos seguia em avançados passos na jornada evolutiva, envolvidos em conquistas outras, distanciadas de minhas necessidades. Eu me retive na retaguarda, por obra de meus próprios desatinos e não me sentia mais encorajado a voltar ao seio da família dilecta, exigindo tolerância para as contingências de minha penúria espiritual.
Naturalmente que um coração de mãe jamais esquece um filho, e de minha amorosa progenitora recebia sempre apelos de afectividade que me sustentavam no espinhoso caminho que seguira. Recebera dela todo tipo de socorro e carinho e a ela devo minha condição actual. Mas, por força das circunstâncias, permaneci como trabalhador do Vale, vendo nisso uma maneira de saldar parte de meus pesados débitos para com a vida. Sim, eu era um caravaneiro do Vale das Trevas e orgulhava-me de não me contar mais entre as fileiras dos seus degenerados. Porém, não convém contar a minha história particular que nada traz de surpreendente aos homens da Terra. Devo relatar-lhes o enredo de outro homem, daquele a quem neste instante iniciávamos o socorro. Por que a sua história? Porque aprendi a amá-lo e me afeiçoei ao seu coração por razões que ainda ignoro. Ademais, conheci sua vida como nenhum outro, acompanhei-a com toda a sua dura realidade e tenho a sua devida autorização para discorrer sobre os seus dramas. Outro enredo também não lhes poderia entretecer, pois não trago dotes de intelectualismo ou aptidões literárias para deliciá-los ou instruí-los com outros contos da vida do lado de cá.
O Vale dos Suicidas já é conhecido daqueles que têm acesso às informações do Mundo Espiritual. Dele trataram autores habilitados na arte da escrita, de modo que poucas informações posso acrescentar. Ali é o triste lugar em que se reúnem aqueles que são vítimas de si mesmos e lutam desesperadamente para a recuperação de suas consciências perdidas, desfeitas no desbaratado ato de destruírem a si próprios. Vale de lágrimas e dores das mais pungentes da alma desencarnada é também local onde se pode presenciar os mais abnegados esforços daqueles que sabem amar e socorrer em nome do Altíssimo. Foram almas deste quilate que fundaram, ainda nos tempos do Brasil colonial, a cidade de Portais do Vale.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:38 am

Quando os limites da nação brasileira se delinearam na geografia política da Terra, também nos espaços espirituais que circundam o globo desenharam-se as suas fronteiras culturais e linguísticas. Notoriamente é preciso considerar que, no Mundo Espiritual limítrofe à crosta planetária, os povos se distribuem em nações semelhantes às da Terra e continuam jungidos pelas mesmas afinidades de costumes e idiomas que os unem durante o estágio na carne, delimitando uma região de actuação espiritual denominada “Espaço das Nações”. Aí estagia, além-túmulo, a grande massa de desencarnados à espera do momento precioso de retorno à carne. Somente em planos superiores, habitados por espíritos que já ultrapassaram as necessidades de comunicação verbal e as distinções culturais, é que as fronteiras das nações se rompem, dando lugar a uma só comunidade.
Estamos, no entanto, muito distanciados dessas luminares esferas, pois ainda nos apresentamos, relacionamos e nos comunicamos da mesma forma como o fazíamos na Terra.
Ao mesmo tempo em que se formava a nação brasileira nos espaços espirituais, desenhavam-se também as suas regiões de sombras, ocupadas por aqueles que insistem no exercício da maldade sem lindes, a fim de colherem as dores e os lamentos semeados. Nesta época estabeleceu-se o Vale dos Suicidas como a região que congrega almas em sofrimentos expiatórios, originários da louca desventura da autodestruição. A matéria extrafísica é entretecida de substância muito mais maleável às emanações mentais dos seres que a habitam, e paulatinamente o ambiente se amolda às suas características psíquicas predominantes. Por isso o Vale dos Suicidas, adaptando-se progressivamente, formou precipícios, charcos e cavernas em perfeita correspondência às emissões mentais e às necessidades de seus protagonistas. É da Lei que o homem colha exactamente o que semeia, pois do contrário o progresso não se faria, se a vida lhe conferisse sempre confortos imerecidos. Todas as nações do Mundo dos Espíritos têm, assim, os seus Vales de dores em tudo similares ao nosso.
A maioria dos exilados do Vale ali permanece por décadas, aguardando a bênção da reencarnação, comumente a única porta de acesso para a libertação de suas aflições. Muitos dormem na letargia profunda, enquanto outros vivenciam pesadelos intermináveis e angustiosos. Poucos se sentem vivos, mas não compreendem seus tormentos, guardando no organismo perispiritual as dores dos últimos instantes de vida e os estigmas das agressões que infligiram ao próprio corpo. Suas agonias são inenarráveis,
ícaro Redimido - 25de modo que aqui encontramos os maiores dramas humanos e os mais pungentes tormentos a que pode se resvalar o espírito em trânsito na evolução. Grande e imenso abismo de dores, onde aquele que caiu na desgraça, vítima de si mesmo, lamenta e chora a maior das desditas humanas: o haver negado a vida, o dom mais precioso que herdamos do Criador.
Abnegados monges portugueses, desencarnados no início da formação do Vale dos Suicidas, imbuídos do sagrado propósito de amparar as infelizes almas que se ajuntavam nestas paragens de dores, fundaram Portais do Vale, uma colónia dedicada à tarefa de socorro, sob a égide do Cordeiro. Seus grandes portões, limitando a sua entrada, conferiram- lhe logo o seu conhecido nome.
Nesse local residem almas nobres, possuídas de imensa dedicação ao sofrimento humano. Almas que poderiam estar desfrutando ambientes espirituais felizes, permanecem suportando as tristes e pesadas vibrações que daí promanam. Grande parte de seus habitantes, no entanto, é formada entre aqueles que, como eu, são recuperados do Vale e se reintegram nas actividades da vida espiritual como colaboradores, ajudando os que ficam e os que chegam constantemente nesse fosso de lágrimas. Assim, nada fazemos de mais e apenas devolvemos à colónia e à vida o mesmo que recebemos. E isso faz a nossa felicidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:38 am

2 - Ovoidização
“O perispírito se dilata ou contrai. ” Allan Kardec - O Livro dos Médiuns, item 56

Naquela manhã de intensos trabalhos de assistência aos recém-socorridos do Vale, fora convocado com urgência ao serviço, de maneira que mal tive tempo de adiar algumas obrigações rotineiras, e me embrenhei mais uma vez nas Cavernas do Sono. Eu as
conhecia muito bem, pois nela servira não somente como Caravaneiro das Trevas, como fora também um de seus hóspedes delinquentes por aflitivos anos. Já não era, no entanto, membro activo das Caravanas de busca e somente era requisitado em ocasiões especiais. Exercera actividades de atendente médico por muito tempo, pois fora profissional da área e ainda podia fazer jus a tal título em Portais do Vale, embora desmerecesse essa qualificação. Os enfermos resgatados do Vale necessitam de cuidados prementes, muito semelhantes à rotina da medicina terrena e, pelas habilidades exercidas na vida, acha-se um facultativo em melhores condições de desempenhá-las do que outros. As graves lesões das almas dos suicidas reflectem-se em seus organismos espirituais, apresentando-se comumente, como é de se esperar, em frangalhos. Requerem curativos, suturas e, às vezes, verdadeiras intervenções cirúrgicas, por mais impróprio que isso possa parecer ao entendimento dos encarnados. Fora, desse modo, convocado para préstimos médicos assim que me vi em condições de reassumir o pleno domínio sobre mim mesmo, pois, quando encarnado, assistira os dilacerados da guerra e habituara-me à manipulação dos corpos mutilados. Depois de muito trabalho e estudos, no decorrer de largos anos, despertara em mim o interesse pela ovoidização, pois me intrigava e condoía-me sobremaneira assistir a esta bizarra e grave dismorfia, própria do mundo espiritual, tão diferente de tudo que se conhece na Terra, em prol da qual pouco se pode fazer. Passei assim a atender especialmente àqueles suicidas ameaçados por essa penosa patologia da alma, actuando sobretudo na sua prevenção.
A ovoidização é uma das mais pungentes enfermidades que pode acometer o espírito depois da morte. Consiste na perda da consciência activa, quando o eu consciente desmorona-se completamente, em decorrência de atrozes e insuportáveis sofrimentos, voltando-se sobre si mesmo, anulando-se e perdendo todo o contacto com a realidade. A actividade consciente da alma entra em letargia, refugiando-se nas camadas do subconsciente. O pensamento contínuo se fragmenta, perdendo seu fio de condução, e a estrutura perispiritual se desfigura completamente, desfazendo sua natural conformação humana, adquirindo o formato aproximado de um ovo, cujas dimensões se aproximam de um crânio infantil. O processo é em tudo semelhante ao das bactérias que se encistam diante de condições adversas de vida, aguardando novas oportunidades para retornarem à actividade normal. A ovoidização é processo incurável no Plano Espiritual, sendo uma das mais graves enfermidades de nosso mundo, e somente pode ser revertido em reencarnações expiatórias, quando o espírito reencontra-se com novo ambiente de manifestação e pode refazer o metabolismo do seu consciente. Várias reencarnações, porém, se consomem em tentativas frustradas, de modo que a perda evolutiva é imensa para estes infelizes seres. Muitos regridem a condições tão primárias da vida humana que necessitam reencarnar entre povos primitivos, a fim de que a rudeza dos organismos ainda involuídos possam suportar-lhes a grave patologia, sem se desfazerem em malformações congênitas4 incompatíveis com a biologia humana. Por isso, existe em Portais do Vale um departamento de serviços que se empenha em estudar e tratar preventivamente a ovoidização, onde eu situava naquela época os meus singelos esforços de serviços e pesquisas.
Os suicidas que dormem nas Cavernas do Sono são os candidatos naturais à ovoidização. Permanecem em sono reparador, em baixíssima actividade consciencial, por anos a fio. Ao iniciarem, no entanto, o despertamento, a rápida percepção da amarga realidade que lhes assedia pode deflagrar, de imediato, mediante reflexo de defesa, a retirada apressada para camadas ainda mais profundas do inconsciente inferior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:39 am

Esse reflexo não somente inibe totalmente o despertar, como retrai o metabolismo mental, motivado por novo impulso de contracção, estabelecendo-se a ovoidização de forma incondicional. Por isso, quando o serviço de vigilância de nossa colónia identifica almas em tais condições, com indícios de ovoidização, somos convocados em regime de urgência. Neste instante ainda podemos actuar, antes que o suicida deflagre a contracção do “eu”, tornando o processo tardio demais para ser revertido em nosso mundo.
O suicídio é possível também no Plano do Espírito e não somente na carne.
Quando encarnado, pode o ser danificar sua veste orgânica de tal modo a torná-la incompatível com a vida na matéria. Na Esfera Espiritual, no entanto, o perispírito possui mecanismos regeneradores muito mais eficazes, de modo que destruí-lo por dano físico é praticamente impossível. Mediante a contracção da actividade consciente, no entanto, é permitido ao ser continuar negando a sua existência, fugindo de si mesmo. Desta forma, podemos considerar de fato a contracção como um autocídio espiritual. Como se vê, temos também nossos suicidas. Suicídio que, naturalmente, pressupõe mera tentativa de fuga da realidade que envolve o espírito depois do túmulo e não a destituição da individualidade, pois tal não é possível no plano em que nos projectamos.
As causas do encistamento da alma são as mesmas que motivam o auto-extermínio na carne: o desespero diante de sofrimentos intoleráveis, somados à falta de preparo para a existência no Plano Espiritual. Sofrimentos, a bem da verdade, aparentemente intoleráveis, pois a sabedoria das Leis divinas não nos proporciona nunca dores que sobrepassem nossa capacidade de suportá-las. Se parecem aniquilar-nos, é porque nossa revolta diante delas é incomensurável e indevida. O mais forte indutor de tais barbaridades, no entanto, está na falta de preparo para a vida espiritual, sendo o materialismo o seu mais poderoso protagonista. Materialismo que se desenvolve diante do enfraquecimento do pensamento religioso do homem moderno, desgastado na ideação de fórmulas mentais arcaicas, não lhe proporcionando mais subsídios para a crença no espírito.
Os apelos de um ser que aprendeu a raciocinar e a crer na razão não podem mais ser satisfeitos por uma fé cega que macula o conhecimento, genuína conquista da Ciência. Como se vê, urge lutarmos contra tal situação a fim de que a penúria do espírito seja desterrada do Planeta e banidos os riscos do mergulho na inconsciência. Não destituindo as conquistas modernas que representam valores reais e não podem ser questionadas, mas renovando o pensamento religioso do homem terreno, para que o seu frio racionalismo não sufoque a alma que anseia pelos genuínos bens da eternidade. Semeemos novamente as verdades que consolam, verdades que nos foram reveladas desde que aprendemos a pensar, mas que acabaram esquecidas e que precisam ser relembradas e reestruturadas, compatibilizando-se com o nosso avanço intelectual. Por isso a implantação do Espiritismo na Terra, protagonizando a fé alicerçada na razão, pode ser vista como uma das maiores vitórias do Plano Espiritual Superior na actualidade.
Os ovóides, espíritos em fuga de si mesmos, como se pode deduzir, aumentam assustadoramente nos dias atuais. Permanecem espalhados pelo Vale dos inconscientes, atados a rochas ou troncos de árvores, pois podem segregar substância pegajosa que os fixam a qualquer superfície. No entanto, preferencialmente, aderem-se a outros seres vivos, encarnados ou não. Tristemente temos que considerar que o ovóide se torna, na verdade, um parasita. Como todo ser vivo, seu metabolismo, embora baixíssimo devido às suas reduzidas necessidades, precisa da absorção de seivas vitais para a sua subsistência. Não dispondo de meios para produzi-las, a manutenção de sua exígua vitalidade somente pode ser levada a efeito mediante a aquisição de recursos vitais externos, provenientes de outros seres. A anatomia e a fisiologia dos ovóides adquirem assim todas as características próprias dos parasitas da Terra, especializados na assimilação e metabolismo de forças vitais roubadas de outros seres vivos. Embora qualquer tipo de energia vital possa servir- lhes para este fim, aquelas que melhor se adaptam às suas necessidades e para as quais eles se especializaram são as energias do psiquismo. Por isso, o hospedeiro natural do ovóide é a mente humana.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:39 am

Devido a esta característica, os ovóides comumente são colhidos por espíritos dedicados ao mal, que os utilizam como instrumentos de torturas humanas. Eles podem atá-los aos cérebros de inditosos obsediados, minando suas forças e deteriorando suas resistências psíquicas através do escoamento de suas forças mentais. Induzem assim, não somente a depressões, mas à demência e à loucura, desequilíbrios de difícil remissão, tanto na carne quanto no mundo espiritual. Sendo os ovóides joguetes nas mãos desses infelizes, natural que este seja outro motivo para se lhes evitar, a qualquer custo, a proliferação no Vale dos Suicidas.
Muitos poderão se perguntar por que a Lei de Deus, que é sobretudo bondade, permite a existência desse estranho parasitismo, infectando a intimidade consciencial de espíritos de consideráveis conquistas evolutivas, deixando-os expostos a esta cruel e aparentemente injusta espoliação. Podemos apenas responder que tal regime de desamor é o mesmo que impera no mundo da carne, com sua dura realidade, onde o parasitismo subsiste como norma de vida entre criaturas de diferenciados níveis evolutivos. Seres aparentemente involuídos, dotados de hábeis e intrigantes mecanismos de exploração de recursos vitais, subjugam hospedeiros, chamados naturais, aos seus caprichos e egoísticas necessidades de subsistência. Regime de vida que nos faz questionar se tal comportamento é de fato natural e representa apenas a obediência à vontade de Deus. Se nosso Pai é amor, por que a vida em suas primitivas bases se apoia neste consórcio de iníquas explorações? Como nada no âmbito da criação pode estar fora do domínio de Sua Lei, temos que encontrar razões que justifiquem esse estranho comportamento. Lucubramos que todos, sem excepção, mantemos um ambiente de disputas pela supremacia da vida, e ainda somos parasitas de seres que nos sucedem na jornada evolutiva, pois nos damos à exploração de seus recursos vitais, com o sacrifício mesmo de suas vidas, quando na carne. Justo é assim estarmos, por nossa vez, sujeitos ao roubo exploratório de nossos valores orgânicos por outros seres, mesmo sendo menos evoluídos do que nós. Porém, somente o afastamento da bondade pode justificar tais aparentes barbaridades no seio de uma criação que é feita essencialmente de amor. Tais inquirições, no entanto, não podem aqui ser respondidas e as deixamos como suscitantes de questionamentos das razões do viver e do evoluir.
A ovoidização, contudo, não é uma adulteração das leis perispirituais, pois está subordinada aos mesmos princípios da miniaturização ou restringimento, fenómeno a que está submetido o espírito no processo reencarnatório, quando a tessitura plasmática do perispírito, antecedendo nova descida à carne, sofre uma contracção involutiva, retornando aos patamares da evolução biológica, para abraçar um novo óvulo fecundado e elevá-lo, rapidamente, à condição das últimas conquistas no campo da vida carnal, através do milagre do desenvolvimento embrionário. Este impulso de contracção é o mesmo que deposita a potência de um carvalho em uma semente, fazendo-a explodir depois, num anseio incontido de crescimento. O perispírito, ricocheteando suas forças contraídas, atira-se ao rápido refazimento, expandindo-se e confeccionando seu futuro corpo na recapitulação embrionária, quando, em apenas nove meses de gestação, refaz todas as etapas por que já passou. Sem esta precedente contracção involutiva não se veria tal explosão evolutiva que lhe surge como uma reacção imediata. É assim que temos aprendido que o perispírito está sujeito, como todo fenómeno da criação, às forças de contracção e de expansão. A ovoidização, portanto, em última análise, é apenas uma ícaro Redimido - 31contração ou miniaturização patológica, pois ocorre distante do momento reencarnatório. Não encontrando o reservatório uterino, meio indutor, mantedor e protector de tal processo, o ser, em franco processo de contracção, estaciona-se na fase ovóide deste percurso, restringindo sua consciência às etapas mais elementares da vida biológica.
Alguns observadores do nosso plano referem-se ao ovóide como sendo a segunda morte do espírito. Fenómeno este muito pouco divulgado na literatura dos espíritos, dirigida aos homens, por tratar-se de tema de natureza ainda muito complexa e que poderia causar maiores dúvidas e questionamentos entre os pesquisadores da Terra. De fato, a morte ovoidal pode ser considerada a segunda morte, porém, para o perfeito esclarecimento do estudioso, devemos compreender que se trata apenas de um dos patamares onde pode estacionar a contracção perispiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:40 am

O ovóide ainda traz um metabolismo vital, embora bastante reduzido, mostrando, ademais, resíduos de actividade consciencial, sendo portanto apenas um dos limiares em que estagia o ser rumo à segunda morte. Na realidade, esta é o resultado de aprofundamento em nível ainda mais inferior da condensação involutiva, acometendo espíritos com alto quilate de rebeldia e maldade, levando-os à completa estagnação da consciência, com a total perda da actividade vital, fenómeno raríssimo e conhecido também como a petrificação perispiritual. Isto, entretanto, pressupõe apenas o limiar do mergulho do ser no abismo da inconsciência e não a anulação de sua individualidade.
Naturalmente, trabalhando nos ambientes espirituais onde se recolhem as almas embaladas por estes impulsos auto-destrutivos iniciados na carne, na acção suicida, achávamo-nos envolvidos por esta exótica e triste patologia do espírito e a ela dedicávamos nossos estudos, abordando-a em toda sua dura realidade, a fim de encontrar meios eficazes de auxílio, interferindo como possível e como nos permite o Senhor da Vida.
À guisa de esclarecimentos para o estudioso, é preciso considerar que, além da exaltação do impulso contractivo no suicídio, o perispírito está sujeito ainda à alteração do movimento contrário, ou seja, a expansão inadequada. A hipertrofia perispiritual é patologia que guarda igualmente a sua gravidade, sendo também identificada e estudada no plano do espírito em que nos achamos. As forças perispirituais hipertónicas se responsabilizam pelos crescimentos celulares exagerados, quais os tumores de qualquer natureza e a hiperactividade de qualquer função orgânica identificada pela medicina terrena. Guardam sua origem nos estímulos do psiquismo doentio que se apoiam no exagero do “eu”, como os sentimentos exaltados de egoísmo e egolatria, vícios da alma a que todos, sem excepção, estamos afeitos neste planeta. Nos capítulos subsequentes tornaremos ao assunto com mais exactidão a fim de se completar o estudo proposto5.

4 Defeitos anatómicos na formação dos embriões.
5 Nos capítulos 6 e 20 o assunto iniciado aqui encontrará o seu desenvolvimento mais abrangente.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 10:40 am

3 - Heitor, o Novo Amigo
“Bendito aquele que vem em nome do Senhor. ” Salmos, 118:35

A direcção de nossos trabalhos, identificando em Alberto, o suicida que despertava nas Cavernas do Sono, um risco iminente de ovoidização, convocara-nos para a actuação sem demora. Olegário, meu dilecto companheiro de serviços, aguardava-me para a partida imediata.
Tínhamos pouco tempo para os procedimentos habituais necessários à jornada e devíamos apressarmo-nos.
Não pensem os amigos que podemos penetrar nas Trevas sem o devido preparo.
Quais os mergulhadores da Terra, é necessário precavermo-nos com uma série de cuidados especiais. Não que devêssemos nos meter em escafandros especiais próprios para as águas, mas para se visitar as Cavernas do Vale é preciso que se tomem algumas precauções, se não se é um espírito superior. Os espíritos de grandes conquistas evolutivas podem adentrar nestes ambientes ocultando suas luzes para não serem notados, e com seus avançados padrões vibratórios, de modo geral, são imunes aos fluidos do ambiente. Nós, no entanto, assim como a imensa maioria dos trabalhadores de Portais do Vale, espíritos de medianas aquisições morais, não podemos perambular pelo Vale sem adoptar cautelas que nos protejam das nocivas correntes vibratórias e nos previnam do assédio das entidades das Trevas. A absorção de emanações mentais maléficas dessas plagas sombrias pode envenenar nossa constituição perispiritual, perturbando-nos com o chamado “mal do caminhante das Trevas”, que nos lembra o “mal dos navegantes”, pois ambos se manifestam com sintomas muito semelhantes, como tonturas e náuseas incontroláveis. Certo é que, como não estamos imantados por dano de consciência às redes do mal que aí dominam, não precisamos temer o ataque directo de entidades das Sombras. No entanto, não somos de todo imunes contra o cerco desses espíritos e podemos sofrer ameaças e mesmo ser expulsos de seus domínios, como muitas vezes acontece. Nossa sintonia com o ambiente não é completa e, destarte, não nos libertamos de todo do Mal, pois somos seres ainda em processo de melhoria e não conseguimos exercer a bondade em toda a plenitude de que gostaríamos.
Faz-se imprescindível o completo controle das emoções para se lidar adequadamente com os espíritos mal intencionados ou travessos que perambulam pelo Vale. Eles estão em seus domínios e o trabalhador deve saber respeitar-lhes os limites. Ele deve estar preparado para enfrentar situações conflituantes e saber abdicar-se de seus interesses imediatos, pois o ingresso em disputas impróprias e indignas pode desequilibrá-lo facilmente, indispondo-o à tarefa e deixando-o à
mercê das agressões do meio. Por isso, o tarefeiro que não consegue dominar os próprios impulsos diante da maldade alheia e da injustiça, não está preparado para esta tarefa. A intermediação de modo inconveniente nas relações entre vítima e algoz deve obedecer, não a um partidarismo próprio, mas a um roteiro determinado pelos orientadores, que conhecem as motivações de tais contendas e as reais necessidades de cada um. Os verdugos do momento são vítimas do passado, e tão meritórios de socorro quanto aqueles que são maltratados. Assim, vestir-se de humildade, controlar com eficiência a raiva e a indignação e eximir-se do desejo de fazer justiça com as próprias mãos são imposições indispensáveis ao servidor. A arrogância diante dos sofredores é igualmente atitude condenável que pode deixar o seareiro em situação embaraçosa. A bondade, a humildade, a capacidade de perdoar e a abnegação devem ser as únicas armas ao dispor daquele que deseja servir com Jesus e actuar com proveito para todos.
Necessário ainda se faz esclarecer que o tarefeiro, para actuar com eficiência no resgate de entidades sofredoras, deve fazer-se visível ao meio a fim de interagir em seu mesmo nível de manifestação. Os espíritos recuperados daquelas plagas, transformados em obreiros do Bem pela boa vontade de servir, continuam sendo visíveis aos companheiros da retaguarda por tempo variado, penetrando nestes sítios sem maiores inconvenientes. Estes, entretanto, incentivados à reforma íntima e pela constante dedicação ao penoso trabalho, terminam por se desenvencilhar de parte de suas inferioridades, tornando-se, paulatinamente, imperceptíveis ao baixo ambiente em que servem.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 7:58 pm

Daí a necessidade de promoverem a condensação perispiritual cada vez que retornam a ele. Esta condensação é feita mediante a absorção dos eflúvios atmosféricos do meio pela respiração, mas o processo requer adestramento, para que não se transforme em prejuízos e incómodos para o trabalhador, pois, se não for subordinado a um controle, pode ultrapassar determinado limiar de tolerância, desencadeando nele os mesmos sintomas do “mal do caminhante das Trevas”, indispondo-o à viagem. Contudo, chega um ponto que o servidor, pelo esforço próprio, atinge nível evolutivo tal em que a condensação se lhe torna dificultosa e até mesmo impossibilitada. É, assim, preciso que um recrutamento constante de novos elementos, dispostos à penosa tarefa, renove frequentemente o acervo de caravaneiros das Sombras.
Além de uma primorosa conduta íntima, requer-se ainda do tarefeiro uma apresentação pessoal discreta e simples, de modo a não chamar atenção sobre si.
Cores alegres e vivas não são recomendadas, naturalmente. Para aqueles, entretanto, que se sentem incomodados com a ideia de que os desencarnados usam vestes, somente podemos asseverar que a vida e as necessidades no mundo extra-físico não diferem sobremaneira daquelas encontradas na Terra.
Outro imperativo para o mergulho nas Trevas é o pleno controlo do medo.
Como o trabalhador se acha adensado, sua presença torna-se perceptível não somente aos sofredores, mas também aos seres malignos que as habitam, quase sempre dispostos a recebê-los com animosidades. A simples visão destas entidades, comumente transfiguradas em formas monstruosas em franca exibição de agressividade, pode paralisar o servidor bem intencionado, porém não adestrado à tarefa, aniquilando-lhe toda a capacidade de serviço e criando dificuldades para os demais membros da equipe. Por isso desenvolvem-se em Portais do Vale longas sessões de treinos especializados com o propósito de dominar o medo com eficiência. E preciso estar habituado à visão das mais terríveis mazelas do homem e suas desfigurações perispirituais sem se deixar aniquilar pelo pavor. Como todos já passamos pelas Trevas, não é difícil, ao encarnado, imaginar as horripilantes figuras e as lúgubres paisagens que podem nos paralisar de terror pela sua simples visão.
Não obstante a boa vontade de servir nas Sombras, é necessário ainda estar habilitado a lidar com suas ameaças. Ameaças que são mais ilusórias do que reais e que mais despertam pavor do que realmente significam algum dano à nossa integridade. Se não trazemos a consciência ultrajada pela prática de grandes males, não guardamos liames com as entidades que se comprazem com o exercício de crueldades. Espíritos, que são muito mais infelizes e necessitados do que realmente perigosos, podem inibir e assustar aqueles que se lhes mostram susceptíveis, actividade na qual se comprazem e da qual tiram proveito como única fonte de suas parcas alegrias. Assemelham-se a adolescentes imaturos e inconsequentes, que se deleitam em perturbar a ordem estabelecida pelo simples prazer em dar vazão aos seus instintos rebeldes.
Por todas estas razões, a maioria das caravanas de socorro é composta de espíritos recém-resgatados das Sombras, o que facilita, em muito, não somente suas ambientações vibratórias como também o controle do medo, pois se acham habituados às suas imagens desagradáveis e não se assustam facilmente com elas. A urgência do socorro necessário exigia uma equipe já treinada, e por isso fomos convocados. Apesar de nossas parcas condições espirituais, Olegário e eu achávamo-nos preparados para o serviço, cientes de todos os riscos e necessidades da empreitada, em decorrência de muitos anos dedicados a esse tipo de actividade.
Contaríamos com a presença de Adelaide, uma companheira ainda pouco experiente, que nos vinha acompanhando, em obediência à direcção de nossa colónia, a fim de adestrar-se na tarefa socorrista, sendo já nossa conhecida. Ao chegarmos ao Posto Avançado, já estava ela aguardando-nos para a partida imediata. Dois guardas de Portais que a acompanhavam, zelosos, despediram-se de imediato ao chegarmos, em busca de seus afazeres. Faziam-lhe companhia enquanto estava sozinha, cumprindo apenas com as gentilezas de nossa colónia, pois ali não havia ameaça alguma à sua pessoa. Neste dia, no entanto, contaríamos com a participação de um novo amigo e, como sua presença fora autorizada pelos nossos dirigentes, sabíamos tratar-se de um espírito experiente neste tipo de serviço. Aguardávamo-lo para a partida.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 7:59 pm

O Posto Avançado é o verdadeiro limite entre nossa colónia e as Trevas. Um grande muro nos separa do ambiente exterior, lembrando- nos as construções medievais. Ervas robustas e ressequidas lhe sobem pelas pedras, espinhosas e desprovidas de flores, emprestando às suas velhas paredes uma beleza rude. No alto, vislumbra-se um céu de chumbo, com suas nuvens lúridas e ameaçadoras, emoldurando permanentemente a extensão do soturno Vale, onde o sol jamais fulgura com seus raios de vida.
Enfim chegava Heitor, a quem esperávamos para a prece antes da partida.
— A paz esteja convosco, irmãos — saudou-nos com discrição o novo amigo.
— Só posso pedir aos Céus que os recompensem por esta hora de serviços em prol dos que sofrem. Sou Heitor e apresento-me como o mais humilde de seus companheiros. Trago do Alto a recomendação para resgatar um espírito amigo que jaz neste abrigo de dores. Sua hora chegou. Portanto, partamos sem demora. Heitor irradiava tal aura de simpatia que não tínhamos a menor dúvida de que se tratava de um espírito de escol, vindo de esferas mais elevadas do Plano Espiritual. Uma barba grisalha lhe emoldurava a feição de bondade e sabedoria, exalando paz e convidando-nos à entrega confiante e imediata ao seu afecto. Suas vestes e sua aura nos diziam tratar-se de uma alma religiosa, talvez algum monge, amadurecido na dedicação ao próximo e na renúncia de si mesmo. Se não divisávamos sua luz, certamente era porque sua humildade lhe inibira o fulgor a fim de não nos constranger e não despertar a atenção dos infelizes seres de nossos escuros caminhos. Há muito não presenciávamos no Vale um espírito de tão elevada estirpe a nos acompanhar, de modo que fomos imediatamente invadidos por confortante alegria e indizível sentimento de paz.
Convocando a imagem de Jesus para nos abrigar as intenções e exorando a presença Divina, proferia o amigo:
— Recordemos a palavra do Mestre que, na parábola da ovelha desgarrada nos dizia: “Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e não vai atrás da perdida até que a encontre? E achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”6. É verdade, meus amigos, o céu não é lugar para se desfrutar de felicidades solitárias, por isso o pastor que perdeu a sua ovelha é tão infeliz quanto ela mesma, e não descansará enquanto não a recuperar.
Em seguida, fechando os olhos, proferiu uma prece sem palavras. Sentimos seu tórax inflamar-se suavemente e um facho de luz, partindo das alturas caiu sobre nós, inundando-nos de inexprimível contentamento. Tive que conter o meu impulso de sorrir, tal o influxo de energias que sentia percorrer-me o íntimo e a felicidade que, de inopino, invadiu-me a alma.
Sem mais preâmbulos iniciamos a jornada rumo aos portões que nos separavam do Vale, seguindo os passos decididos de Heitor, que parecia conhecer muito bem o caminho. Nossa tarefa demandava urgência e não convinha delongar o nosso tempo com outras considerações que podiam ser adiadas. Neste percurso, no entanto, ainda podíamos entreter alguma conversação e aproveitamos para nos conhecer melhor, estreitando os laços que nos uniam no serviço. Esta era uma oportunidade que não podíamos dispensar, haurindo os benefícios que a tarefa nos ensejava.
Heitor informava-nos, percebendo de imediato a primeira impressão que nos causara, que realmente minha intuição era acertada. Ele se achava ligado a ordem de natureza religiosa, pois se dedicara ao sacerdócio em suas últimas encarnações.
Vivia no Mosteiro dos Templários de Cristo, uma colónia de planos superiores, conhecida apenas por Templários, onde dava continuidade à sua formação monástica. Servira, no entanto, nas caravanas de socorro do Vale e por isso conhecia muito bem os seus caminhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 7:59 pm

— Trabalhando na Ordem dos Servos de Jesus por muitas décadas, pude exercitar o verdadeiro amor cristão e dar seguimento ao meu aprendizado no socorro aos necessitados — agregou Heitor. — Aqui o Senhor pode melhor nos ensinar a servir, pois na tarefa de regaste temos que renunciar ao nosso conforto e desprender-nos de antigas comodidades, forjando nossas almas no real espírito do servo cristão. Depois, sentindo a necessidade de aprender, para melhor compreender a natureza humana, situei meus esforços em Templários, onde, pela graça do Senhor, venho dilapidando a rudeza de minha mente, através do beneplácito do estudo e da meditação. Ouvi, no entanto, os apelos de um espírito amigo, conhecido de longas eras e não pude furtar-me ao seu socorro, pois senti nele a ameaça de irremediável mergulho na inconsciência. Por isso, solicitei de Portais do Vale a inestimável ajuda de vocês. O socorro, todavia, como sabem, é urgente.
Heitor expressava em seu olhar tal ternura e influxo de bondade que, por um momento, nasceu-me na alma o ímpeto de atirar-me aos seus pés. Percebendo meus sentimentos, contanto, o nobre amigo desviou seus olhos e, com simplicidade, senti seu pensamento desfazer em mim qualquer atitude de reverência.
— Fui médico na Terra — disse por minha vez, ainda evitando-lhe o olhar percuciente que, sem dúvida, tudo já sabia pela simples incursão em nosso campo mental. — Estou aqui com o interesse não só de aprender a servir, mas também para conhecer e estudar o sofrimento humano, e dessa forma adquirir melhores condições de ajudar sem atrapalhar. Caracterizou-me a vida o grande apego às riquezas da matéria e não pude evadir-me do desespero ao me ver privado de todos os bens. Atirei-me na bebida até configurar o suicídio, que me trouxe para este Vale lúgubre. Aqui permaneci por muitos anos, consumindo minha inferioridade nas Cavernas do Sono até ser socorrido pelos samaritanos de Portais do Vale. Como se vê, não faço nada de mais a não ser dar minha cota de pagamento a tudo que recebi dos amigos que hoje compõem praticamente a minha família. Depois de muito tempo fui elevado à condição de médico socorrista, título para o qual não guardo méritos, mas trato de desempenhar o melhor que posso. E, indicando-lhe Olegário, continuei:
— Este é meu fiel companheiro de incursões no Vale. Foi militar quando encarnado e precisa adestrar-se no trato com os delinquentes, pois exercera sua actividade sem a necessária benevolência para com os malfeitores. Também foi socorrido do Vale, através de nossa modesta ajuda, onde uma grande decepção amorosa o conduziu ao auto- aniquilamento. Aproveitamos a sua aparência robusta de soldado para intimidar os espíritos delinquentes que nos ameaçam nas incursões nestes sombrios caminhos.
— Ademais, alimentei o ódio nas guerras e preciso purificar minha alma — acrescentou Olegário, com sinceridade nas palavras.
Realmente, Olegário era prestimoso companheiro, indispensável em minhas excursões pelo Vale. Fora designado para servir ao meu lado pela direcção de Portais do Vale, por termos tecido sincera amizade ao longo de alguns anos em que me empenhara no seu reequilíbrio. Dedicava- me tamanha amizade que suplantava minha capacidade de merecê-la, sendo que não fizera por ele mais do que minha sincera obrigação. Embora guardasse a distinção e o respeito, impostos pela disciplina militar, na verdade servia-me como um enfermeiro, além de encarregar-se de nossa defesa quando necessária. Sua presença assegurava-nos confiança e tranquilidade ao serviço.
Caminhando ao nosso lado, silente e humilde, Adelaide apenas sorria e nos fitava com sua expressão meiga, despertando de imediato o interesse de Heitor, que suscitava, com o olhar inquiridor, o que justificava aquela delicada presença feminina em nossa pequena caravana. Adiantei-me então a apresentá-la:
— Aqui temos Adelaide, nossa aprendiz. É a segunda vez que excursiona nas cavernas, mas sua serenidade nos fala de um espírito seguro e confiante nas directrizes do Alto. Como o amigo pode perceber, sua alma emana bondade e ternura, dispensando maiores apresentações.
— Venho da Escola dos Samaritanos — prosseguiu Adelaide, levemente intimidada pelas considerações que tecíamos a seu respeito — e estou em tarefa de adestramento. Não basta ter o desejo de servir, é preciso estar preparada para o serviço, como todos sabem. Assim sendo, a melhor maneira de se fixar o ensinamento é o exercício do trabalho, sob a orientação de quem pode nos instruir. Quero observar para aprender, mas também ajudar, se possível, sem importunar.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 7:59 pm

— É uma alegria conhecê-la, querida irmã—respondeu Heitor. — A humildade de suas palavras traz imensa sabedoria, por isso, tenho a certeza de que seus objectivos serão atingidos.
— A irmã, no entanto, é a única que não foi socorrida do Vale e não traz em sua história o drama do auto-extermínio — apressei-me a considerar.
— Desejei conhecer o Vale porque tive uma filha querida que daqui foi socorrida. Eu não tinha, na época, condições de ajudá-la e não podia sequer visitá-la, pois a simples aproximação das vibrações destas plagas abissais me paralisavam as forças, abalando-me a frágil organização espiritual. Sentia-me desvalida e infeliz por nada poder fazer e assim decidi empenhar-me no esforço de aprender a servir a quem mais precisa. Compreendi, com Jesus, que não são os sãos que precisam de socorro, mas os doentes. E os impuros dessas Trevas são as criaturas mais necessitadas que já vi nas paisagens espirituais, onde viceja a dor. Hoje já trago o espírito mais fortalecido e posso caminhar por aqui sem que o horror me paralise.
Quero conhecer de perto os serviços socorristas e adestrar-me neles, como uma maneira de recompensar a vida pelo muito que recebi, através do amparo à minha filha.
Não convinha, contudo, delongar mais nossas interlocuções, pois chegamos diante dos enormes portões que nos permitiriam a entrada no Vale e, com excepção de Olegário que já se achava devidamente ambientado pelas suas incursões diárias, devíamos iniciar o adensamento perispiritual sem demora. Já treinados nos procedimentos habituais, começamos a alterar o ritmo respiratório a fim de sorver, a longos haustos, os fluidos reinantes. Adelaide, ainda pouco experiente neste exercício, demandava maior tempo a fim de promover a condensação progressiva.
Sustentávamos-lhe o braço, pois a cada inspiração ela cambaleava, ainda um pouco nauseada, porém, já ciente dos procedimentos, não tardou para que obtivesse os resultados esperados.

6 Lucas, 15: 3-7
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:00 pm

4 - Rumo às Cavernas
“Não é da vontade de vosso Pai que está nos céus que venha a perecer um só destes pequeninos. ” Jesus - Mateus, 18:14

Nossa caravana, de fato, se resumia a nós quatro, destarte, éramos o suficiente para o trabalho. Não iríamos aos confins abismais e não tardaríamos mais do que um dia na caminhada, de modo que não necessitávamos de recursos indispensáveis às incursões nas regiões mais profundas do Vale. As Cavernas do Sono ficam próximas e não demandam maiores esforços para serem atingidas. Guardas de Portais do Vale as protegem constantemente dos assaltos freqüentes dos mercantilistas das Trevas, que por ali sempre perambulam à cata de ovóides perdidos.
Nas mãos destes delinquentes, representam mercadoria de barganha de estimado valor entre os malignos e, por isso, são muito procurados. Se suspeitassem que transportávamos ovóides, poderiam nos acuar, na tentativa de persuadir-nos a abandoná-los. Neste caso, os guardas, informados de nossa missão, nos ajudariam a dissuadi-los de qualquer ataque à nossa caravana. A presença de Heitor, no entanto, com seu elevado potencial espiritual, era mais do que o suficiente para desestimular qualquer ameaça desses infelizes.
Ao sinal de Heitor, os guardas accionaram as roldanas que movem os pesados portões que, rugindo melancolicamente, entreabriram-se, deixando-nos passar.
Bem no alto, divisamos a lanterna vermelha de localização, sempre piscante, qual farol costeiro, orientando a direcção ao viajante. Poucos passos, no entanto, eram suficientes para ocultá-la completamente de nossas vistas. Embora não possa ser avistada em regiões mais distantes, este sinal atrai a direcção de aparelhos rastreadores, instrumentos indispensáveis aos caminhantes inexperientes, que ainda não conseguem se orientar pela percepção das correntes mentais. Trazíamos também nosso rastreador, à feição de bússola orientadora, embora não necessitássemos dele, pois Olegário e eu frequentemente efectuávamos incursões nestas áreas, onde exercíamos o socorro aos ovóides e as conhecíamos muito bem.
Heitor trazia um mapa com a localização de Alberto, o infeliz amigo que iríamos resgatar e deixamo-nos conduzir por ele, que mostrava segurança em sua orientação e não necessitava de nossa singela ajuda. Rumando para as Cavernas do Leste a passos decididos e firmes, descemos uma das trilhas que corta o caminho para as Escarpas. Devíamos evitar, propositadamente, o trajecto mais largo, porém mais frequentado pelos errantes do Vale, a fim de evadirmo-nos de encontros desagradáveis e desnecessários. Afinal, se ali é o domínio dos atormentados, é também o reino dos malignos e eles se acham inteiramente no direito de o defenderem como se realmente lhes fosse herdade particular, tratando-nos como invasores de suas propriedades.
A paisagem progressivamente se transforma à medida que descemos rumo aos grandes Abismos. A atmosfera se torna pesada, opressiva, imprimindo-nos certa dificuldade na respiração. Uma angústia, lembrando os pesares da morte física, estreita-nos o coração. Um odor lamoso invade- nos as narinas com desagradável impressão. Uma névoa fria e húmida nos veste paulatinamente de sombras, esmaecendo a já fraca luz solar. O solo, pedregoso e irregular, cobre-se de uma humidade lutulenta, escorregadia, irradiando um frio penetrante e gélido. A escassa vegetação torna-se paulatinamente definhada, retorcida e espinhosa, parecendo agredir o visitante incauto. Troncos ressequidos, tortuosos, sem folhas, traçam retoques lúgubres na paisagem, emprestando-lhe um matiz de ruína e desolação.
Nuvens umbrosas e ameaçadoras rematam o sombrio quadro, emoldurando-o de angustiosos presságios. Pedras volumosas, cavadas de reentrâncias e saliências, mostrando farpas pontiagudas, ameaçadoras, interrompem frequentemente a trilha estreita e íngreme, obrigando-a a curvas acentuadas. Frequentemente a pequena estrada é entre-cortada por outras trilhas que dão em todos os sentidos, emprestando ao visitante a impressão de estar penetrando verdadeiro labirinto. Estas são as “estradas de ninguém”, como são conhecidas aqui. Não levam a lugar algum e por elas perambulam os espíritos verdadeiramente errantes, dementados, cujo único passatempo consiste em caminhar incansavelmente por elas, sem rumo, sem destino, vagueando permanentemente em fuga de si mesmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:01 pm

Pouco se divisa ao longe, sendo necessária grande destreza no sentido de orientação para não se extraviar por completo nestas intricadas veredas. E, realmente, com frequência, caravaneiros ainda inexperientes se perdem, necessitando do auxílio de tropas de busca, sempre de prontidão em nossa colónia para este fim. O serviço, no entanto, adestrou-nos na orientação e por ali nos movíamos mesmo de olhos vendados, pois percebíamos as correntes mentais e podíamos segui-las com segurança quais animais de fino olfacto que, farejando as emanações trazidas pelos ventos, podem se guiar para os sítios de seus interesses.
As formações rochosas, lembrando amálgamas vulcânicos da crosta, parecem crescer como troncos, emprestando ao ambiente uma atmosfera de exótico irrealismo. Embora possam espantar os neófitos estudiosos do espírito, temos que afirmar que são estruturas calcárias e graníticas, quais as do mundo físico. Muitos se surpreendem diante dessa afirmativa, pois considerariam o Mundo Espiritual confeccionado em substâncias fluídicas, leitosas, como mantos diáfanos e não compreendem como seja possível divisar aqui rochas tão pesadas e firmes quanto às da matéria bruta. Pois saibamos, de uma vez por todas, que o mundo espiritual também é feito de substância urdida nas mesmas bases atómicas do mundo físico.
As duas matérias, física e extra-física, diferenciam-se apenas na íntima condensação de seus elementos infla-atómicos, e ambas são de idêntica origem e natureza, oriundas das mesmas energias coaguladas que entretecem todo o sustentáculo do universo dinâmico e material.
A atmosfera angustiante e o frio gélido reinam juntos com o silêncio quase absoluto e ameaçador, entre-cortado por piados melancólicos e rugidos distantes, intimidadores, avisando aos incautos que estão invadindo território alheio. Uma impressão de ameaça paira no ar, sugerindo-nos que a qualquer momento monstros horrendos podem nos atacar. Se o caminhante não é experiente no exercício do autocontrole, deixa-se facilmente dominar pelo pavor, suscitado pelas vibrações do ambiente, capazes de paralisá-lo por completo, atraindo as entidades das Sombras, sempre atentas às emanações que o medo irradia. Somente o pensamento firme nos propósitos superiores e a certeza de que não pertencemos ao meio nos reconfortam e nos protegem. A presença de magnos espíritos como Heitor nos confere serenidade e segurança, capacitando-nos para os serviços com a calma e a confiança que demandam.
À medida que penetramos nas trevas mais densas, podemos perceber formas animalescas esgueirando-se sorrateiramente entre as sombras ou passando ao léu por não perceber-nos ou por não se verem atraídas pelos nossos eflúvios, em nada condizentes com os seus interesses. Sintonizam- se especialmente com o ódio, as emanações do pavor ou as vibrações das grandes culpas como se pudessem ver essas projecções mentais, tal a acuidade que desenvolveram em percebê-las, de modo que, se o transeunte não as exala, não se deixa ameaçar por tais criaturas infelizes.
As efluências que carreiam propósitos superiores do bem exercem ainda uma barreira natural, afastando esses seres pela simples dissonância vibracional. Além desses monstros errantes e solitários, encontram-se no Vale, frequentemente, hordas de espíritos malignos em busca de presas fáceis para seus propósitos de dominação ou simplesmente para darem vazão aos seus instintos agressivos. São aqueles que realmente podem molestar- nos, perturbando-nos o trabalho.
Formam acampamentos provisórios, quais caçadores nómadas e se apresentam como antigos guerreiros e bárbaros dos tempos medievais, munidos, inclusive, de armas semelhantes. Organizam-se em base a éticas involuídas, próximas daquelas que imperam entre os animais, onde os mais fortes preponderam sobre os mais fracos, subjugando-os segundo seus interesses. Poderosos chefes dominam largos territórios e comummente batalhas selvagens são desencadeadas entre rivais por interesses antagónicos ou disputas territoriais, formando um palco de agressões e alucinações colectivas que o homem encarnado dificilmente poderia imaginar existir. O Plano Espiritual superior, que orienta a evolução planetária, tolera esses círculos de selvagerias, ciente das necessidades de redenção da alma humana, cerceando-lhes os limites com desvelo e amor, enquanto aguarda a urgente evangelização do Orbe para que possam ser saneados e a maldade banida definitivamente de nossas paisagens.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:01 pm

Ao atingirmos pequena clareira entre as rochas pontudas, Heitor estacou-se de pronto, solicitando um minuto de concentração. Pressentia um bando de entidades mal intencionadas aproximando-se, sorrateiramente. Sem dúvida perceberam nossa presença e vinham ao nosso encalce. Naturalmente que nos achávamos providos de meios naturais de defesa e os Senhores das Sombras não podiam nos infligir sofrimentos. Mas o bom senso nos convidava a evitar altercações desnecessárias.
Assim, era melhor nos ocultar a fim de passarmos desapercebidos. Procuramos, então, por uma reentrância mais próxima nas rochas, escondendo-nos bem ao fundo de uma pequena gruta, em completa escuridão. Um forte odor de putrefacção de pronto agrediu-nos o olfacto, repugnando-nos os sentidos, exigindo-nos o exercício do auto-controle, para não nos rechaçarmos espavoridos. Era imperioso permanecer ali por breve período até que nos sentíssemos seguros. Heitor, dando-se conta do fato e podendo divisar na escuridão, afastou-se de nós, como à procura de algo que lhe atraía a atenção. Logo podíamos ouvir os ruídos dos espíritos que se aproximavam com alarido. Gritos e uivos ameaçadores indicavam suas disposições de ânimos nada aprazíveis.
— Não encontramos sinais dos santinhos podres. Vamos. Não estão por aqui ou fugiram de medo. Os biltres do Cordeiro sempre se acovardam — ouvimos um deles dizendo, em meio à completa algazarra. — Temos mais o que fazer do que ficar seguindo estes patifes. Retornemos.
Em breve momento a celeuma se dissipava ao longe e podíamos prosseguir nossa jornada. Sentia as vibrações dos pensamentos de Adelaide recheados de receios, comuns aos neófitos em seus primeiros confrontos com os seres das Sombras. Aconcheguei-a ao meu lado, a fim de apoiá-la em sua infundada insegurança. Heitor, entretanto, chamava-nos a atenção, solicitando-nos a ajuda.
Um desvalido sofredor jazia no fundo da gruta e a caridade nos suscitava atendê-lo como possível. Este era o motivo do forte cheiro de putrefacção que sentíamos.
Tratava-se de um espírito recém desencarnado, jungido ao corpo físico por liames perispirituais do qual hauria as emanações imateriais da degradação orgânica.
Trouxemo-lo para fora com todo o cuidado que a mobilização demanda nestes casos. Podíamos agora vê-lo em seu adiantado processo de cadaverização. Sem dúvida um dos quadros mais tétricos de se presenciar no Vale. Acalmamos Adelaide que dava mostras de apreensão, embora estivesse já ciente do facto em seus treinamentos anteriores.
A cadaverização acomete os imprevidentes que desencarnam sem o devido preparo para a existência no Além, acreditando tratar-se o plano físico da única possibilidade da vida. Ocorre ainda entre os suicidas que não conseguem desenvencilhar-se de seu mortuário orgânico, presenciando em si mesmos os terríveis fenómenos da decomposição. Em sua grande maioria continuam atados aos seus féretros, até que se esgotem os últimos alvores de suas energias físicas, remanescentes nas carnes em decorrência da prematura morte. Outros são trazidos por imantação a essas paragens, onde permanecem estirados nos lodaçais purgativos. Encontrá-los escondidos naquelas covas era raro, daí o nosso assombro. Possivelmente aquele fora atirado ali por espíritos vampiros com a intenção de ocultá-lo, a fim de seviciá-lo mais tarde, dominando-o para os seus propósitos indignos. É lastimável, mas forçoso é compará-los às feras que ocultam suas carcaças para as devorar mais tarde, com paciência. Hostes rivais de entidades vampirescas disputam essas presas imprevidentes com sofreguidão, cobiçadas por serem fontes de energias vitais preciosas para seus sustentos. Quais espantalhos vivos, são lânguidos joguetes nas mãos destes flibusteiros que lhes sugam todas as forças, abandonando-os em estado lastimável.
Cautelosamente, para não provocar sobressaltos e intensificar os pesadelos que vivenciava, acomodamos o infeliz em nossa padiola, a fim de transportá-lo para um local mais seguro e aprazível. Nada pode nos comover tanto os sentimentos de fraternidade do que a vista de um ser tão desvalido. Não podemos nos evadir de um pensamento condoído de compaixão e meditar nas razões que levam um ser racional a atirar-se em tamanha desgraça.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:01 pm

Comoção que lança um brado de interrogação rumo ao Senhor da Vida, como se Ele, Pai magnânimo e de Amor infinito, fosse capaz de abandonar completamente os seus filhos. Um ser em frangalhos, desfeito em nauseabunda e repugnante substância, mas um filho Seu, que guarda uma alma feita da mesma essência que nos forma, tão sagrado quanto qualquer ser vivo, como pode ser assim esquecido da criação? É necessário grande entendimento dos mecanismos da vida para se compreender isso, pois do contrário colocamo-nos, por nossa vez, revoltados contra a Sabedoria Divina que deveria cuidar dos ignorantes como vela pelos animais inconscientes, nunca deixados ao léu na natureza. Se Deus cuida das feras e lhes dá as covas para se protegerem, por que não zela com maior desvelo pelos seus filhos caídos? Naturalmente que tais inquirições não podem ser respondidas aqui. Guardemos a certeza, contudo, de que o Senhor, com Sua infinita bondade e misericórdia, sabe o que faz, não podendo ser questionado em momento algum e, muito menos, condenado por estas aparentes atrocidades da vida.
A visão do infeliz nos cortava o coração, enchendo-nos de piedosos sentimentos. Adelaide não podia conter o pranto silente e lutava entre a repugnância e a extremada comiseração. Somente quem já esteve perto de um destes seres consegue aquilatar até onde pode chegar a desventura da revolta humana e a importância da ciência do espírito que, preparando- nos para as realidades da vida depois da morte, protege-nos contra tais lamentáveis situações.
Comovido pela caridade inibo-me de descrever com minúcias a deplorável situação orgânica do infeliz, detalhando-lhe a grave patologia perispiritual. Transportamo-lo sem delongas, com toda a suavidade possível, continuando nossa caminhada, silenciosos, rumo ao nosso objectivo.
Adelaide nos interrogava com os olhos, buscando esclarecimentos sobre aquele inesperado encontro e suas razões, mas não era hora para tergiversações.
Em breve podíamos divisar a entrada das Cavernas do Leste. Um dos guardas, avisado de nossa excursão, já se achava a postos para nos receber, saudando-nos de longe. Embora exercendo intensa vigilância nas entradas das Cavernas, nossos sentinelas não podem impedir de todo a entrada de qualquer interessado, pois não conseguimos o completo domínio sobre o local, em decorrência das vibrações reinantes e das condições precárias daqueles que ali se hospedam. Por força da Lei, eles se fazem susceptíveis aos ataques dos interesseiros do mal, aos quais se prendem pelos laços da ressonância. O Bem não pode ter o controlo absoluto do reino das Trevas, por própria imposição da Lei de Deus, que dá a cada um o produto de seus méritos. Enquanto existir a disposição para a maldade, as regiões trevosas também existirão como os limites de seus domínios. A vigilância apenas pode manter contactos com nossa colónia, avisando- nos da presença de seres perversos e solicitando socorro para aqueles que se encontram em condição de receber ajuda. Para os espíritos travessos, mais inconsequentes do que realmente maus, os vigilantes podem representar, entretanto, alguma intimidação às suas incursões à cata de ovóides.
Penetramos no largo salão que dá acesso às grutas, verdadeiras câmaras mortuárias. Aqui jazem os seres detidos em sono profundo de completa inconsciência, perdidos de si mesmos, menosprezando a preciosidade do tempo, verdadeiros estacionários da evolução, aguardando o dia do despertamento. Nem de sonhos ou meros pesadelos se revestem suas consciências, ocultas na mais completa obscuridade. Muitos podem permanecer nesse estado por décadas sem darem mostras de qualquer actividade mental, denotando a gravidade em que
atiraram suas almas. Toda a profícua vida do espírito no plano em que nos encontramos é malbaratada, desperdiçando-se as oportunidades de crescimento e aprendizado. Alguns caminham para a ovoidização, como afirmamos, enquanto outros são levados, pela caridade dos amigos, para reencarnações reconstitutivas como única possibilidade de regeneração. Poucos se restabelecem antes de longos anos de profundo sono. Daí a importância de nossa vigilância, a fim de socorrer com eficiência aqueles que dão mostras de recuperação.
Adelaide nos perguntava, intrigada, quanto aos motivos de se manter em local tão pouco acolhedor almas necessitadas de aconchego e protecção, muito mais infelizes do que más.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:02 pm

De facto, muitos são levados para as Câmaras de Rectificação, acomodações mais aprazíveis, em colónias mais iluminadas. No entanto, a maioria deles pode sofrer choques vibratórios em ambientes elevados, à semelhança da luz que, quando muito intensa, pode cegar. A necessidade de permanecer em sombras traduz-se assim numa obrigatoriedade para quem não pode suportar o brilho das regiões superiores sem se perturbar. Estas cavernas oferecem o meio adequado para estas almas, em obediência à Lei de Deus, que situa cada um no devido lugar de suas reais necessidades. E como nossa colónia, há outras que cuidam dos desvalidos dessas cavernas, como quem zela por crianças abandonadas.
Mantendo vigilância constante, nossos dirigentes procuram retirar o mais depressa possível aqueles que dão mostra de poder suportar sítios mais elevados.
Tochas pendentes projectam pálidas luzes nos recortes de rochas, tecendo sombras tremulantes nas paredes do macambúzio salão. Uma atmosfera adensada emanando mofo e exalando melancolia e morte nos envolve de imediato ao penetrarmos o local. O trabalhador que ali adentra necessita de equilíbrio emocional para não se deixar abater pelas agonias reinantes, paralisando sua capacidade de servir. Pelo menos as Cavernas do Leste se conservam mais secas pela temperatura que ali se mantém um pouco mais elevada, embora ainda muito frias. A maioria delas, no entanto, são muito mais geladas e húmidas, tornando-se ainda mais desagradável a permanência nelas.
Depositamos o infeliz suicida recolhido em nosso caminho sobre uma campa, a fim de socorrê-lo como possível. Heitor o examinou mais detidamente, enquanto guardas se aproximavam para observar. Não havia muito a fazer por ele no momento, a não ser tentar induzi-lo ao sono profundo, bloqueando-lhe os pálidos resíduos de consciência, a fim de que se desligasse definitivamente de suas vestes cadavéricas. Entretecendo delicadas operações magnéticas, Heitor, adestrado no hipnagogismo7, operava o tronco encefálico, anestesiando a região talâmica, bloqueando assim o tráfego dos impulsos que ainda provinham do que lhe restava do distante corpo físico e cortou-lhe, finalmente, o laço fluídico de retenção perispiritual. Um forte tremor o sacudiu de chofre, em breve, assistíamos a sua respiração estertorosa acalmar-se, adquirindo ritmo lento, bastante irregular, denotando que o amigo, graças a Deus, entrava em letargia profunda. Seus olhos esbugalhados finalmente se cerraram, mostrando que o terrível pesadelo que o perseguia, pelo menos momentaneamente, lhe daria sossego. Talvez assim pudesse ambientar-se nas Cavernas, caso não voltasse a apresentar seus terrificantes delírios, condição então que lhe exigiria outro tipo de socorro. Por ora, seria deixado ali, aguardando identificação e o auxílio que demandasse. Olegário tomava as providências, encaminhando-o para a assistência devida. Adelaide, comovida, mostrava interesse em conhecer-lhe a história, para melhor ajudá-lo, alegando que se ele chegou a nossas mãos por vias tão especiais, aparentando obra do acaso, era porque lhe devíamos assistência. De fato, poderíamos penetrar em seus registos mnemônicos8, identificando-lhe o drama particular, mas não convinha determo-nos nesta tarefa, enquanto tínhamos outra mais urgente para cumprir. Infelizmente, justificava Heitor, não era este o momento e o que podíamos e devíamos fazer por ele havia terminado.
Cumpríramos essa missão e nosso outro socorrido, motivo de nossa jornada, corria o risco da ovoidização, exigindo-nos maior urgência em seu atendimento. Cada minuto era precioso naquele instante e entregamos o amigo aos cuidados dos guardas da Caverna que zelariam por ele até que se tomassem as providências cabíveis, pois esta era uma tarefa corriqueira para eles.

7 Processo hipnótico de indução ao sono.
8 Relativo à memória
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 24, 2024 8:02 pm

5 - O Socorro no Tempo Devido
“0 dom gratuito de Deus é a vida eterna” Paulo - Romanos, 6:23

Descemos, passando por diversas galerias, até atingirmos o terceiro nível inferior da Caverna. Escadas íngremes, esculpidas nas rochas, exigiam-nos cuidados redobrados na deambulação na penumbra quase completa. A iluminação não deve ser ostensiva neste ambiente, pois as irradiações electromagnéticas podem perturbar os que dormem, suscitando-lhes vivências inadequadas de pesadelos, quase sempre terrificantes, de difícil controlo e indutores de loucuras.
Benedito, tarefeiro de nossa Colónia e responsável por aquele sector da Caverna, já nos aguardava, avisado de nossa excursão. Após os cumprimentos habituais nos disse o amigo:
— Bom que vocês chegaram a tempo. Tenho feito o possível para acalmar Alberto. Há poucos dias percebi que ele está semi-desperto e suas feições se modificaram. Ele começou agora a vivenciar a desencarnação. Mas é preciso ajudá-lo sem demora, pois ele dá mostras de piora rápida.
Espírito simples, porém zeloso, Benedito forjava sua reforma dedicando-se à sua tarefa com extremada boa vontade, apesar das condições adversas do ambiente.
Trazia ainda a compleição de anão, oriunda de sua última encarnação e não tardaria muito a ser transferido, pois há muitos anos se esmerava no penoso mister.
Seguimos o amigo que se locomovia com destreza na penumbra, caminhando sem titubear por intricados labirintos até estacionar diante de pequena gruta, escondida em estreita reentrância de rocha, mergulhada em completa escuridão.
Heitor conferiu rapidamente a identificação afixada na entrada, embora sua aguçada percepção espiritual não necessitasse disso, mas em obediência às normas da direcção da Caverna, pois alguns colaboradores podem se equivocar, perturbando enfermos que não se acham preparados para o procedimento visado. Ao penetrarmos, accionamos pequeno aparelho de iluminação portátil, de tonalidade azulada, adequada neste momento, focalizando o aflito amigo a quem iríamos socorrer como possível. Notamos, de imediato, que o pobre companheiro se achava em completa hipnofobia, estado de terror durante sono profundo onde o indivíduo, vivenciando pesadelos horríveis, não consegue operar estímulos eficientes a fim de
superficializar a consciência para a realidade. Uma agonia acerba domina a alma do hipnófobo, perseguido por sonhos horripilantes que considera reais, sem conseguir despertar, gerando um círculo vicioso de estímulos que podem levar à rápida deterioração dos mecanismos da consciência e induzir à ovoidização, única fuga possível. Não convinha ainda mobilizá-lo, era urgente atendê-lo ali mesmo.
Heitor deitou seu amoroso olhar em Alberto e lamentou-lhe a penúria espiritual, suspirando profundamente. Cerramos os olhos em breve prece, suplicando aos Céus os recursos necessários para o serviço. O infeliz amigo achava-se enrodilhado em cama improvisada na rocha, completamente paralisado, em rígida posição fetal. Sua organização psicossomática amoldara-se à morfologia mórbida do dramático instante do desenlace violento a que se impusera, retirando-se da vida. Trazia o rosto edemaciado, com a língua pendente e cianótica, estirada lateralmente, completamente ressequida. Os olhos estacionados e esbugalhados parecendo saltar das órbitas. As mãos atavam-se com sofreguidão ao pescoço, onde situava toda sua agonia, tentando em vão libertá-lo da sufocação angustiosa. Seu peito arfava sem conseguir respirar. Sua mente, embora desfeita em completo torvelinho de sofrimentos, despertava por instantes de seu sono comatoso, dando-se conta de seu desespero. Podíamos ouvi-lo mentalmente, sussurrando palavras mudas e aflitas de súplicas à Mãe Santíssima. Mas, por não encontrar nenhum conforto na realidade do momento, seus pensamentos voltavam-se sobre si mesmo, procurando por refúgio seguro na inconsciência. O sono, no entanto, não lhe era também possível, pois breve entorpecimento era o bastante para lhe projectar em angustioso pesadelo de queda, comum também nesta patologia espiritual.
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