LUZ ESPÍRITA
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:39 pm

31 - A Força do Perdão
“Perdoai não sete vezes, mas setenta vezes sete ” Jesus - Mateus, 18:22

Alberto acomodava-se, refazendo o seu panorama íntimo diante das sábias lições da vida. Menos acabrunhado e interessado em verter da alma todas as suas dores, animou-se a considerar, após breve intervalo:
— Agradeço imensamente as recomendações do amigo que tanto me consolam e o esforço de todos, pois sei que hoje aqui estão reunidos com o único fim de propiciar-me alívio e equilíbrio. Guardarei suas sábias palavras, utilizando-as para o meu soerguimento. As verdades que os irmãos me estampam à razão são inquestionáveis e saberei usá-las para reconforto íntimo, pedindo a Deus que os tesouros da humildade se incorporem em minha alma. Preciso, porém, superar outras imensas culpas que me pesam a consciência, pois, como o benfeitor já sabe e, certamente, contrariando suas orientações, incentivei o uso do avião nas guerras.
Hoje reconheço que não podia ter empreendido tão grave equívoco, revendo o passado que vocês me ajudaram a reencontrar. As imorredouras lembranças da época em que investi no aprimoramento do canhão ainda premiam minha consciência à correcção de rumos, e sei que o amigo muito deve ter feito para dissuadir-me da empreitada, porém não fui forte o bastante para resistir ao destaque que queria imprimir à própria personalidade. Percebo que meu infeliz invento de destruição investe-se até hoje contra mim...
— A guerra o martirizou sobremaneira, bem sei. Era o rompimento de um voto sagrado que hoje podemos compreender melhor pela visão de sua história pregressa. Recordo-me ainda que, reunidos sob a égide do iluminado Da Vinci, comprometíamo-nos a trabalhar em prol da paz, envidando todos os esforços possíveis para que o extraordinário invento não servisse tão cedo como arma de combate. Vã esperança! Imbuímo-nos do nobre intento, porém sabiam nossos orientadores que isso seria impossível.
Apenas nascia e o aeroplano, dadivoso bem do mundo espiritual, ainda frágil e mal iniciando seus primeiros passos, já era armado para a luta pelo milenar instinto guerreiro do homem terreno—sombria realidade que a todos nos diz respeito e não a um ou outro dentre aqueles que conduzem os destinos da humanidade, na Terra. Com todo o respeito aos nossos irmãos pioneiros, dos quais não queremos denegrir a imagem e nem menoscabar os preciosos feitos, todos fracassaram no intento de resguardar a invenção das disposições belicosas do homem. Em 1909 o Mundo Espiritual assistia com pesar os Wright venderem a patente do extraordinário veículo para o Exército norte-americano para a construção do primeiro avião militar da História, traindo a consciência de modo muito mais grave do que você, que ainda teve fôlego para investir contra tal intenção, atendendo aos insistentes apelos das culpas já assoberbadas. Blériot, Voisin e Farman igualmente enriqueceram-se produzindo aviões para a guerra, enquanto o conde Zepelim cuidava de aperfeiçoar rapidamente seus dirigíveis para o bombardeio em massa das cidades inimigas. E todos os governos apressaram-se a armar seus aeroplanos, subvertendo as nobres finalidades para que foram criados. Suas asas incorporaram canhões mortíferos e metralhadoras assassinas, e passaram a transportar criminosas bombas de destruição, ante o olhar pesaroso do Plano Espiritual Superior e para grande desgosto de Leonardo da Vinci e sua equipe de trabalhadores. Todos assistiam, constritos, às injustificáveis devastações, multiplicadas pelo potencial da aviação, embora o fato fosse perfeitamente previsível. Este é apenas um retrato do homem da Terra e não consequência de suas imprudentes ideias, Alberto, que não fizeram falta para ressaltar o que sobressaía aos olhos de qualquer um.
— Mas não deixei de contribuir para o equívoco, pobre de mim. Fui o primeiro a participar de uma parada militar com uma máquina voadora, em nítida alusão ao seu emprego como arma de combate. Longchamps89 ainda me dói como fino punhal penetrando-me o coração! Não precisava ter dado tanta ênfase ao fato, associando meu nome à indigna sugestão.
— Reconhecemos, contudo, seu justificado desespero ao perceber, um pouco tarde, que havia deflagrado a associação do dirigível com o militarismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:39 pm

Você, relendo as tristes reminiscências que trazia indeléveis na memória espiritual, não queria mais se consociar ao esforço bélico do homem. Era o passado que voltava e você não podia mais tolerá-lo, ciente das atrozes dores vivenciadas nos horrores das guerras nas zonas umbralinas. Recordo-me de sua comovente carta à Liga das Nações90, inútil apelo à empedernida aptidão marcial do homem inferiorizado, interpretado como fragorosa ingenuidade, porém com imensa repercussão no Mundo Espiritual, onde surtiu efeitos surpreendentes, suscitando simpatias a seu favor, apesar de seus equívocos anteriores.
A despeito de tudo e de todos, o avião terminaria, de qualquer modo, sendo empregado nos enfrentamentos fratricidas, o Plano Superior sabia disso; era inevitável. Você, porém, acalentado pelos mais sublimes ideais aprendidos das elevadas entidades que nos assistiam na tarefa, nutriu no coração, sedento da paz verdadeira, a ilusão de que poderia evitar este seu danoso uso. O propósito se lhe firmou com tal magnitude que seu sofrimento foi desmedido e inevitável diante do fracasso do intento. Assomado às outras frustrações, terminou por contribuir para precipitá-lo na soez queda do auto-extermínio.
— Meus amigos muito já me fizeram ver a respeito destes funestos insucessos.
Como aqui nos crescem as culpas, constrangendo-nos a intolerável remorso!
Gostaria de libertar-me de tamanhas aflições... O arrependimento do suicídio me é ainda dor insuportável... Gostaria de ocultar-me no sono permanente, iludindo-me de que não dei guarida a tantos erros... Dizem que na carne esquecemos todos os males, apagando- os da memória. Retornar ao plano dos homens não seria a única solução para meus sofrimentos, digno mentor?
— É grave engano pensar que refugiando a consciência na amnésia você estará assegurado contra os malefícios que reverberam do passado. O pretérito não pode ser simplesmente olvidado, pois não é mera colectânea de inconsistentes imagens amealhadas na retina espiritual, é força poderosa a se reflectir no presente em forma de alegria ou dor, conforme o arremesso efectuado. Não podemos deter-lhe o impulso, atirado qual bólide veloz, porém reorientar sua trajectória, minorando-lhe os efeitos e cuidando de granjear renovados bens para o futuro.
Exerça a complacência consigo mesmo, admitindo que sua tarefa foi executada a contento, em que pesem as dificuldades íntimas e o fim dramático que impôs à vida. Embora nada justificasse seu ato danoso contra si mesmo, esteja ciente de que o Senhor nos permite as oportunidades de refazimento e de regeneração, bastando que você siga com boa vontade os caminhos que os nossos irmãos lhe indicam, agradecendo a Deus pela valiosa ajuda que eles lhe trazem, pois, reafirmamos, far-lhe-á muito bem à alma o recolhimento na humildade.
Eu também não fracassei no intento de ajudá-lo? Não pude impedi-lo da derrocada final e senti-me também um falido. Desesperado, recorri ao socorro das Esferas mais altas, porém as nobres entidades que nos assistiam o cumprimento do ideal também tiveram que deixá-lo entregue às reverberações dos próprios equívocos, pois eram frutos de inadequados sentimentos de orgulho ferido. A lição se faria por caminhos mais longos e infaustos, infelizmente. Depois de vê-lo estirado na morte infame, junto com os obreiros do nosso Plano, ainda tentamos desenvencilhá-lo dos restos mortais, sem sucesso.
Você esteve, meu amigo, por largo período atado às vestes orgânicas em inadequado processo de conservação, nutrindo-o de agonias indescritíveis, cujas lembranças, graças à Misericórdia Divina, você recolheu nas camadas mais profundas do inconsciente. Desesperançado, ingressei-me nas caravanas de socorro que operam no Vale dos Suicidas, certo de que esta seria a sua direcção, aguardando que o tempo o bafejasse com o desprendimento do espírito. Precisava cumprir a contento a tarefa da qual me incumbira e ansiava por conquistar o seu perdão para os meus clamorosos e remotos erros. Sua condição, contudo, fazia-se muito mais grave do que quando entrara na carne e o alvissareiro futuro de paz que juntos almejáramos se desfazia mediante seu desastre íntimo.
Sejamos, contudo, fortes o bastante para enfrentar as próprias fraquezas, reconhecendo-nos carentes da Misericórdia Divina, o que nos fará muito bem à consciência. E, sobretudo, trabalhemos pela paz e pela vitória do bem, angariando medicamentos seguros para a superação de todas as nossas dores, meu amigo. Igualmente não as tenho e muito maiores?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:39 pm

— Vejo agora o quanto lhe devo... Não detenho méritos para receber tamanha dedicação e amizade. Reconheço que se algo realizei na vida foi graças à sua sabedoria suplantando minhas incapacidades. A memória se me aclara e posso ver o passado, identificando-o como o conselheiro fiel e ponderado, o amigo de todas as horas. Sinto tê-lo guardado tanto tempo como terrível inimigo a quem devia temer ou liquidar. Mas hoje sei que minhas parcas conquistas lhe pertencem e não encontro palavras para agradecer-lhe...
— Nada mais fiz do que minha obrigação, Alberto. E não me impute virtudes que ainda luto por conquistar — respondeu Heitor, com humildade. — Não mereço a sua gratidão, pois, como lhe falei, visava ao saneamento de meu nefasto passado e tampouco vim em busca de reconhecimentos que não posso suscitar, mas sim recolher seu precioso afecto, pois preciso do aprazimento do seu amor para cicatrizar as profundas feridas que ainda trago na consciência. O pretérito ainda nos macula, distanciando-nos dos sentimentos verdadeiros de fraternidade...
Neste ponto do desenvolvimento das confabulações, como Heitor silenciasse, ousei interferir com as informações que detinha, colaborando como convinha:
— É bom que você saiba, Alberto, um pouco mais do que lhe ocorreu após a sua morte, embora muito já lhe tenhamos revelado. Após largo período de indescritíveis agonias, jungido ao corpo embalsamado para inadequada veneração dos homens da Terra, você finalmente foi recolhido às Cavernas do Vale do Suicídio pelas mãos valorosas de Heitor. Ali você dormiu o sono dos aflitos por alguns anos, até que seu prestimoso amigo efectuou o seu resgate para nossa colónia, há pouco tempo, quando iniciamos a tarefa de soerguê-lo para a Vida Espiritual.
Convém inteirar- se de que, neste intervalo, você passou por rápida e frustrada investida na carne, a fim de alijar morbíficas emanações que lhe envenenavam a intimidade psicossomática. Sem condições de permanência no útero materno, foi abortado na primeira oportunidade, contudo o processo lhe foi benéfico recurso para a pronta recuperação e sem essa providência divina, você ainda estaria preso nas malhas da inconsciência, meu amigo.
— Sinto pelo dissabor que causei a todos e peço a Deus que os recompense.
Não sou merecedor de tamanha dedicação e amizade — respondeu Alberto, com submissa inflexão na voz, profundamente sensibilizado diante dos novos informes que lhe clarificavam a penosa, porém, lídima situação. — Esforçar-me-ei para corresponder a tamanha dádiva com a reforma sincera dos equivocados sentimentos...
Alberto se calava em atitude de profícua reflexão. Profundo silêncio reinava no cenário de nossas altercações. Todos os fatos estavam finalmente esclarecidos e todas as chagas do passado, estampadas e expostas com clareza no campo cirúrgico de nosso enfermo. Heitor, o cirurgião principal, auxiliando-nos no delicado ato operatório da alma, com humildade se imiscuía em seu próprio processo, fazendo-se ao mesmo tempo alvo de sua operosa acção.
Envolvido em sacrossantas emoções que não ousávamos interromper, Heitor, enovelando poderosas energias ectoplasmáticas, transmudou-se vagarosamente no Cardeal da Cunha, mediante fantástica operação de metamorfose psicossomática. Ajoelhando-se em uma das pernas, curvou- se diante de Alberto, proferindo em sensibilizadas palavras:
— Filho, rogo-te o perdão sincero pelos intensos males que causei à tua felicidade e daquela que te devota inexcedível amor, em passado ignominioso, o qual desejo soterrar definitivamente sob o beneplácito da Misericórdia Divina.
Com a alma assoberbada pelos insumos do ódio, semeados em tantos séculos de ignorâncias e crueldades, desejo renovar- me diante daqueles a quem tanto ofendi.
Anseio o valioso prémio de tua complacência, embora não o mereça de fato, a fim de alijar da alma o pretérito escabroso, permitindo-me continuar a jornada do espírito na retaguarda de teus passos.
Alberto, de inopino, domado pelas mesmas portentosas forças que se irradiavam de Heitor, transformou-se igualmente, vestindo-se do porte garboso de Bartolomeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:40 pm

Vertendo da alma sinceros sentimentos que o nimbavam de suave paz, retorquiu:
— Não posso perdoar-te, magno mentor, pois não encontro mais a ofensa nas entranhas escuras de meu ser. Hoje sei que foi ilusão senti-lo como o inimigo atroz, quando eras na verdade apenas o necessário instrumento da Lei, investido de força correctiva, pois em meus execráveis desmandos eu não merecia melhor tratamento por parte daqueles a quem ofendia pela indignidade das atitudes.
Alimentado por vaidades imensas, mercadejando ignóbeis sensações carnais e transportando ainda as mazelas das crueldades cometidas no pretérito de guerras, que mais poderia esperar da vida e dos companheiros de jornada? Levanta e deixa-me chamá-lo de meu pai, meu irmão, meu amigo. Deixa que eu me curve diante de ti, agradecendo-te todo o bem que, de teu amoroso coração, emanaste a meu favor, sem que eu o merecesse. Devo-te minha vida, minha glória, meu nome...
Envolvidos por diáfana luz, ambos se abraçaram, genuflexos, debulhando copiosas lágrimas, com as almas desfeitas em sublime amor. Sob o impacto de poderosas energias divinas, transubstanciavam-se e vimos Alberto luzir pálida chama no coração. Era o sinal de que finalmente, superando as chagas do ódio que transportara por longos anos, redimia- se diante de Deus e da própria consciência.
As preciosas tertúlias com Heitor chegavam ao fim, redundando em valorosos proventos para ambos. Enfim, as agruras do passado encontravam sua cura real na intimidade consciencial de seus protagonistas, e as algemas do ódio se convertiam em sacrossantos laços de puro amor, fundindo-os em verdadeira irmandade.
Se o homem comum conhecesse a força curativa do perdão, apressar-se-ia a praticá-lo sem restrições, escusando com sinceridade os inimigos, por maiores que lhes sejam as faltas. Prefere, contudo, alimentar perigosas nódoas de mágoas, permanecendo na senda da vindicta, como se a destruição do inimigo pudesse lhe reconfortar a sede de justiça. Grande equívoco! Não é possível derruir um oponente e a infelicidade alheia jamais endossará nossa alegria, pois a Lei somente nos permite o júbilo na exacta medida em que o distribuímos.
Agradecidos ao Senhor, sublime médico de nossas almas, em muda oração, suplicamos para que o fel do ódio abandone definitivamente o coração humano, cientes de seus imensos males, capazes de envenenarem os séculos, exigindo-nos árduos esforços em sua superação. Reservadamente demandamos o exterior, sem despedir-nos, pois as emoções nos embargavam as palavras. Devíamos deixá-los para que os sagrados sentimentos que os envolviam operassem o divino milagre da cura do espírito, quando o amor se desabrocha com seu ilimitado poder de regeneração.

89 Rever capítulo 18 e 26 para outros informes pertinentes ao facto.
90 No capítulo 26 o assunto foi mencionado com mais detalhes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:40 pm

32 - Enfim, o Trabalho
‘Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Jesus - João, 5:17

É admirável como a Sabedoria Divina transforma o ódio em pura afectividade, unindo os maiores desafectos em laços de genuína fraternidade, através do trabalho regenerador e do perdão.
Somos protagonistas de grandes erros e enormes males, porém a Lei é profícua em corrigi-los na paciente esteira do tempo, convertendo-os em tesouros para a eternidade. E toma-se compreensível como o amor é benéfica força operante da alma, capaz não somente de precaver-nos de enormes dores, como também de sanar todos os prejuízos granjeados na semeadura de crueldades, sem qualquer possibilidade de fracasso.
Entendíamos, observando nossos amigos e suas agruras nos proscénios terrenos, como o espírito transporta consigo as mágoas por tempo indeterminado, aguardando soluções definitivas na senda do Bem. E como o ódio é força perniciosa que se volta sempre sobre quem o alimenta, lesando-o de forma muito mais grave do que o alvo de suas intenções. Prolifera como erva daninha em nossa intimidade psicossomática, roubando-nos o bem-estar e a paz, não nos abandonando até que as luzes das realizações espirituais a extirpem verdadeiramente de nossos cenários interiores. Como um pesado grilhão, dificulta-nos a caminhada evolutiva, cerrando-nos as portas do progresso e postergando nossa conquista dos lídimos tesouros divinos. Somente a energia curativa do perdão ou a escola da dor podem saná-lo verdadeiramente, consumindo-se para isso, bastas vezes, largas porções de nossos destinos. São reflexões que nos conduzem a conclusões relevantes e nos fazem calar com sofreguidão todo impulso de crueldade que ainda teima em dirigir-nos os actos e a habitar-nos as intenções, a fim de nos poupar precioso tempo e dores na própria edificação, rumo às supremas realizações do espírito.
Heitor se despedira com a promessa de futuro reencontro e não tivemos mais notícia do magno amigo, embora a saudade antecipadamente já nos acuasse o coração no desejo de revê-lo em breve. Certamente outras prementes necessidades o convocavam ao trabalho nos Planos Superiores e não nos competia retê-lo em nossa colónia, local pouco aprazível para as entidades elevadas. Tampouco nos proporcionou notícias mais concretas de Catherine, certificando-nos de que não era ainda o momento ou não era mais pertinente retornar à sua história.
Alberto acomodava-se, finalmente, no máximo equilíbrio possível e suas exasperadas forças psíquicas deixavam paulatinamente seus inadequados extremos para oscilarem em busca da normalidade, encontrando a acalmia necessária ao seu bem-estar. As lições de humildade calaram-lhe fundo na alma, reverberando-se em sua consciência em forma de ensinamentos imorredouros. A bonança, enfim, bafejava suas paisagens conscienciais, aplacando-se as tempestades das imensas culpas e silenciando em definitivo suas acerbas angústias. Sem dúvida que ainda havia importantes teores vibratórios remanescentes em seus tecidos perispirituais, entretanto, doravante não lhe perturbariam sobremaneira os passos na Erraticidade e somente poderiam ser completamente drenados através dos filtros da carne, em futura reencarnação. A vida exige-nos perfeição nos moldes estabelecidos pelo Criador, por isso a substância divina que nos compõe não pode subsistir retendo em suas malhas resíduos de desamor e dissonâncias de fragorosas culpas, compelindo-nos às provas e expiações na matéria até que as virtudes se nos fixem como automatismos natos, na precípua aventura de reconstrução de nós mesmos.
Detendo definitivamente o subjugo aos embalos enfermiços da auto-destrutividade ou da super-compensação do eu, nosso amigo calou o menosprezo a si mesmo, frenando as lamúrias diante dos sofrimentos e inibindo a afanosa busca de inadequadas exaltações para compensação de sua apoucada personalidade. Felicitava-o agora a certeza de que suas dores se justificavam perante a precisa identificação dos graves delitos do passado e o reconhecimento de que o orgulho lhe fora na vida o grande vilão, responsável por todos os seus sofrimentos. Não reclamava mais direitos imerecidos, assinalando-nos que reingressara, enfim, no caminho da temperança indispensável à felicidade. Ciente de suas enormes carências espirituais, perante a nova realidade que vivenciava, desejava, agora, albergar a mensagem evangélica como norma indispensável para a conquista dos elevados patamares da evolução.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:41 pm

A alquimia do amor efectuara profundas transformações, não somente em seu psiquismo mas também em sua aparência externa. Seu perispírito se restituía completamente, moldando-se em perfeita mistura dos traços alimentados do passado com os do presente, sanando-lhe a minguada compleição. Uma nova vestidura exterior passou a lhe enfeitar a alma de suaves contornos masculinos, harmonizando-lhe as formas, demonstrando-nos que somos potentes criadores de nós mesmos e temos por herança divina o direito à beleza, desde que a mereçamos, abdicando-nos de usufruí-la unicamente para o deleite da vaidade.
Imensamente agradecido à vida, Alberto afinal podia sorrir aliviado, contagiando-nos com sua singela alegria. Os antigos familiares e amigos continuavam ausentes, porém novos companheiros se lhe compunham o séquito de relações, enriquecendo-o com a benesse de fraternidade sadia, estimulante de propósitos elevados. Envolvido por sacrossantas motivações, prosseguia agora seus estudos na escola de educação espiritual que frequentava, com renovado entusiasmo, incrementando sobremodo seu interesse nas questões pertinentes a Deus e à magnitude da criação. Preciosos livros lhe chegavam às mãos, alimentando-o com o Pão Divino que sacia para sempre. Era-nos recompensador vê-lo engendrado na correta senda da regeneração, distanciando-se a cada dia de suas imensas angústias.
Agradecíamos a Jesus pelo êxito de nossa tarefa socorrista, sem pretender mérito algum no processo, pois sabíamos estar apenas cumprindo com a operosa vontade divina, da qual somos meros agentes. Nosso objectivo fora alcançado depois de prolongado, porém profícuo labor. No entanto, faltavam-lhe ainda conquistas indispensáveis para concretizar, de fato, sua melhora, encaminhando-o para a alta assistencial. Como auxiliares do processo cirúrgico, competia-nos agora cerrar-lhe os tecidos abertos na alma, propiciando-lhe o completo refazimento.
Na terapia orientacional que empreendemos, a interposição de dois recursos é imperiosa para se efectivar a completa assistência ao enfermo, depois de atender às suas primeiras necessidades: o trabalho e a instrução. Esta última já era objecto de seu desvelado interesse, faltando-lhe o primeiro, indispensável ferramenta de auto-aprimoramento. Com estes dois estupendos lenimentos do arsenal terapêutico divino, alcançamos a excelsitude das conquistas evolutivas. O labor, quando realizado com desinteresse em favor do próximo, converte-se em altruísmo. A instrução, aplicada em benefício da ignorância alheia, torna-se sabedoria. Compõem assim as duas asas da angelitude, imprescindíveis em nosso voo rumo ao infinito. Somente mediante o franco exercício destas duas poderosas alavancas da evolução é que se finaliza a tarefa assistencial, quando o assistido se converte em assistente.
O trabalho tornava-se agora para Alberto medicamento imprescindível e era preciso, subtilmente, incentivá-lo no seu devido uso, permitindo- lhe, porém, liberdade na escolha dos próprios caminhos, obedecendo aos seus pendores íntimos.
As subtis forças da vida tratariam de conduzi-lo ao campo de expressão de suas necessidades, competindo-nos apenas afinar a intuição para ouvi-las e orientá-lo, devidamente, no momento preciso.
A praxiterapia em nosso plano segue molde semelhante à empregada no mundo carnal, porém, no nível em que estamos, o labor mais importante não é o que desempenhamos em prol do próprio interesse, porém aquele que realizamos em benefício de outrem. A fim de efectuarmos a correta tecelagem do panorama mental distorcido do passado, dissolvendo concreções psíquicas doentias, o serviço deve atender aos pendores e necessidades de aprimoramentos individuais, mas não à fome de ganhos pessoais e objectivos puramente egóicos. Não deve servir à auto-promoção da vaidade ou ser veículo de exibicionismo de competência, porém realização de precípuo benefício humanitário. Deve inserir-se no contexto das necessidades colectivas e para isso precisa ser especializado em funções complementares, evitando-se os contra produtivos entr-echoques da competição. O salário mais valioso para o seu executor é a desagregação de ondas mentais enfermiças, sanando chagas retidas do pretérito e angariando forças curativas para o próprio equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:41 pm

Recurso indispensável em qualquer tratamento, a labor terapia consolida ensinamentos e fixa lições, habilitando o espírito para o exercício da vida no concerto dos povos, junto aos quais caminha na evolução, pois, como determinou o Senhor, não se pode progredir isoladamente. Aquele que segue à frente deve sempre se voltar, trabalhando pelos que permanecem na retaguarda, pois não há felicidade possível para o hedonista nos Páramos Celestes.
Para a maioria dos encarnados, a faina ainda, é uma imposição da existência, atendida como obrigação e da qual eles gostariam de evadir- se a qualquer custo, quando não lhes é móvel de ganâncias injustificáveis. Em nosso plano, contudo, o serviço é função social, o qual aprendemos a atender por amor ao bem comum, fazendo-nos peças indispensáveis ao organismo colectivo e habilitando-nos para a conquista de todas as qualidades necessárias ao crescimento espiritual.
Em decorrência de seus antigos pendores, Alberto frequentemente nos dirigia insistentes pedidos para conhecer nossos veículos voadores, desejoso de estudar-lhes o mecanismo de funcionamento, convencido de que algo poderia fazer para lhes impor reformas e melhorias. Ansiava de fato pelo trabalho e julgava que deveria continuar exercendo sua função no campo da mecânica arquimediana, onde detinha sua vocação, empenhando-se em servir às máquinas das quais sentia falta. Minha intuição, contudo, dizia-me fortemente que este não era o seu caminho, pois podia sentir-lhe o coração vazio das expressões do afecto, indispensáveis à vivência equilibrada do espírito.
Recomendava-lhe que aguardasse pacientemente, pois o destino lhe determinaria o roteiro de actividades, o qual não tardaria a se manifestar, desde que ele estivesse preparado e disposto ao serviço. Competia-lhe por ora estudar, o que devia fazer com empenho e boa vontade.
A vida fluía vicejando oportunidades, permitindo ao nosso amigo enriquecer-se de nobilitantes valores culturais, sedimentando-lhe a sabedoria.
Inúmeras vezes entretecia comigo ricas considerações, inteirando-se de conhecimentos preciosos referentes à dinâmica espiritual da vida, o que lhe despertava antigos interesses na área da Teologia. As grandes interrogações que nos premem o existir acossavam-no, excitando- o a salutares perquirições e pesquisas. E, frequentemente, encontrava-o admirado diante dos novos ensinamentos, bafejando-lhe o frio intelecto com as calorosas luzes das verdades sublimes, que nos aquecem a alma e reconfortam-nos na caminhada evolutiva. Diluía assim, paulatinamente, os antigos interesses que trazia da aventura terrena, estendendo os horizontes da mente para além das acanhadas instâncias de outrora.
Até um dia em que, mencionando-lhe estar atendendo aos “cianóides ”
mostrou-se muito curioso em conhecer esses enfermos, pois ouvira falar que nossa colónia os albergava em grande número. E não tardou para que, encontrando-o desocupado, convidasse-o para nos acompanhar em uma de nossas actividades corriqueiras, a fim de que pudesse se inteirar mais de perto de nossa rotina de trabalhos.
Chamamos aqui de “cianóides”, os suicidas assistidos em nossa colónia, motivados pelo vício do tabagismo. Em decorrência da forte cianose91 que se lhes estampa na configuração perispiritual, emprestando-lhes o característico tom azulado, receberam essa denominação pelos nossos enfermeiros, frequentemente também chamados de “homens azuis", embora nossos superiores relutassem em adoptar tais alcunhas como de uso oficial, sendo de fato cognominados suicidas tabagistas.
Os fumantes inveterados da Terra desencarnam de fato como autocidas e são atendidos em nossa colónia, em enfermarias especiais, pois, frequentemente, são resgatados do Vale dos Suicidas, onde estagiam por tempo indeterminado, porém normalmente prolongado. Não há quem duvide de que o estranho hábito de aspirar inadequados gases tóxicos do tabaco promova graves males ao organismo físico, impondo-lhe patologias destrutivas e minando-lhe as forças vitais. As doenças decorrentes do tabagismo são já muito bem descritas pela medicina terrena, entretanto poucos se dão conta de que tal condição é capaz de atravessar o túmulo, acarretando sérios danos à vida do espírito na Erraticidade.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 9 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:41 pm

Demandamos importante nosocómio de nossa cidade, como sempre acompanhado de Adelaide e agora de Alberto, que atendia à sua curiosidade em conhecer os estranhos “homens azuis”. Adentrando a instituição, sempre repleta de trabalhadores e enfermos, dirigimo-nos para o seu subsolo, onde, em local isolado e pouco aprazível, localiza-se a “Câmara dos cianóides”. Uma grande sala, hermeticamente fechada, permitindo reduzida renovação do ar ambiente, acomoda enorme número deles, trescalando forte e intolerável emanação recendente a tabaco. Necessita- se munir de suficiente auto-controle, pois aqueles que não se habituaram ao estranho vício experimentam fortes náuseas em contacto com o ambiente. Adelaide já se achava parcialmente adaptada e eu, como ex-fumante, não encontrava grande dificuldade no local. Alberto, contudo, mesmo advertido do incómodo, exprimia sua natural repugnância, ensaiando náuseas incoercíveis.
Máscaras especiais são usadas pelos que assistem estes doentes a fim de não se contaminarem com suas nocivas exalações, porém não são capazes de completo isolamento, exigindo-se força de vontade para a permanência no local.
A necessidade de se manter indivíduos enfermos em tão inóspita atmosfera explica-se pelas exigências patológicas que seus vícios, arregimentados ao longo da vida, impõem às suas delicadas constituições psicossomáticas.
Habituados à inalação constante dos venenosos insumos do tabaco, encontram como único e fugaz alívio a permanência em tão insalubre salão, impregnado dos eflúvios pestilentos emanados por eles mesmos, satisfazendo a doentia dependência arquivada no perispírito. Aí permanecem por tempo indeterminado, despendendo valiosas oportunidades da rica vida espiritual, agastados na vivência de aflitivas sensações, algemados às consequências da própria imprevidência. É lamentável e incompreensível a ignorância do homem moderno, deixar- se dominar desta forma por tão ignóbil vício, mesmo ciente dos grandes males que infringe à sua organização.
Dirigindo meu olhar para o passado, envergonhava-me, perante Deus e a própria consciência, por ter sido um deles, entregando-me a tão aviltante e atoleimado prazer. A duras penas suplantara a triste condição e sentia-me compelido a colaborar com os inditosos irmãos da retaguarda, relembrando os benefícios recebidos no passado. Adelaide, por extremada abnegação, acompanhava-me diariamente no penoso labor, dominando com boa vontade o intenso mal-estar que o contacto com o repugnante lugar lhe suscitava. Alberto titubeava, porém, não declinou da intenção inicial, dispondo-se a nos seguir.
Nossa tarefa consistia em aplicar aos enfermos ali reunidos passes de evacuação miasmática, fazendo-os drenar os remanescentes vibratórios das toxinas do fumo ainda impregnadas no corpo perispiritual. Todos, desencarnados por patologias próprias do tabagismo, mal conseguem respirar e, hebetizados, não se dão conta da própria condição em que se encontram. Muitos suplicam por cigarros, em franco desespero, enquanto outros, em afligentes ataques de loucura, exigem por eles.
Alguns logram, mediante automática e ingente operação ideoplástica que lhes rouba preciosas energias psíquicas, mentalizar cigarros, os quais imaginam tragar, desfrutando enganoso deleite. Todos vivenciam a ideia fixa de fumar como única solução para suas angústias, triste obsessão da qual demandam longo período para se desenvencilhar, causando sérios prejuízos aos seus progressos espirituais.
Possuídos de lastimável e imensa penúria orgânica, demandam largo período de recuperação nestas enfermarias especializadas. Os delicados tecidos pulmonares perispirituais, seriamente lesados pela intoxicação nicotínica, imprimem-lhes pesadas e aflitivas angústias respiratórias, dignas de pena para quem os assiste. Alguns mal conseguem conversar, dominados pela dispneia e quando o fazem é para suplicar por cigarros, como se fosse tudo que precisam para se acalmar. Triste condição que nos leva a meditar no imenso disparate de tão nefasto vício ao qual o homem da Terra se atira com avidez, sem dar-se conta do tamanho malefício que se está infligindo. O perispírito é sobremodo sensível às substâncias nocivas e inadequadas que usamos em demasia quando na carne, fixando-as em forma de aguilhões vibratórios, exigindo-se árduos e prolongados tratamentos para bani-los.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:42 pm

O corpo físico, confeccionado em adequada robustez, é capaz de maior resistência a este dardejamento químico aviltante, porém com a morte, os males que nos ocasionam, agravam-se, devido à tenuidade da tessitura psicossomática, ampliando- se seus assoberbados efeitos negativos, coagindo o incauto viciado a desequilíbrios e sofrimentos ainda maiores.
Após longos anos de permanência em tais enfermarias, todos ainda continuam registrando o dano nas malhas perispirituais, imprimindo-as depois no futuro corpo físico, ao reencarnarem, estabelecendo enfermidades de difícil remissão como a asma brônquica, as fibroses idiopáticas, os tumores, as pneumonias de repetição e outras patologias pulmonares crónicas.
Decididamente, em sã consciência, não se pode compreender tamanha estultice do homem em se comprazer aspirando os nocivos dejectos químicos da combustão do tabaco. Nossos dirigentes nos informam que o inadequado costume, aprendido dos indígenas americanos, somente se justifica como hábil mecanismo utilizado, em seus primórdios, pelos espíritos obsessores dos encarnados, interessados em lhes sugerirem hábitos nocivos com o firme propósito de lhes imporem prejuízos.
Posteriormente, retornando à vida física, incorporaram o mesmo mal que imputavam às suas imprevidentes vítimas, perpetuando assim o desregramento que se transformou em crónico vício social.
Embora a maioria dos tabagistas, após a morte física, encaminhe-se para o Vale dos Suicidas, muitos permanecem na crosta planetária, jungidos aos encarnados, aos quais se consorciam em doentio conúbio obsessivo a fim de continuar o sórdido prazer, induzindo a sua perpetuação, compondo assim outro lamentável panorama das tristes consequências de tão estranho costume.
Observando a infausta condição destes enfermos, não podemos deixar de lançar um apelo àqueles que ainda residem na carne e que detêm a condição de abandonar desde já o inadequado hábito, evadindo-se a tempo dos implacáveis sofrimentos pós-morte. Não há esforço que não compense nosso bem-estar no Mundo Espiritual, permitindo-nos a aquisição de importantes acervos evolutivos, habilitando-nos a vivência no máximo equilíbrio possível. Contudo, sabemos que muitos não responderão a estes nossos ditames, e somente aqui os compreenderão, pois a vida na matéria nos inunda, por vezes, da ilusão de que importa apenas o presente, e as consequências de nossos actos no porvir não nos dizem respeito. Seguramente seus padecimentos serão motivos de imensos, porém tardios arrependimentos a se reflectirem em futuras reencarnações.
À medida que terminávamos os passes de drenagem, os enfermos vertiam vómica repugnante, mal cheirosa, pela boca e narinas, após acessos de tosse incoercíveis, requerendo imediata limpeza a fim de não sufocarem com as próprias secreções. Sem conseguir dar conta de atender a todos, fazíamos o que nos era possível. Alberto, embora constrangido e expressando aversão diante da triste condição dos enfermos, presenciava nosso ingente esforço e, timidamente, tomou nas mãos os apetrechos de limpeza e passou a nos ajudar na difícil empreitada.
Profundamente sensibilizado pelos padecimentos que observava, finalmente o víamos decidido ao trabalho, pois no dia seguinte me procurou oferecendo-se para a tarefa, caso o julgássemos em condições para isso. Prontamente recorremos à direcção do hospital, requerendo sua inscrição entre os trabalhadores da instituição, admirando sua íntima disposição de dedicar- se ao árduo empreendimento. Assim é que Alberto se fez um auxiliar da enfermaria de ex-tabagistas, sua primeira tarefa no Mundo Espiritual. Aceitando com boa vontade o singelo, porém difícil labor, aos poucos foi superando a repugnância que lhe suscitava, vencido pela consternação diante de tanto sofrimento. E em breve solicitou-me orientação, demonstrando interesse em estudar com mais detalhes a condição dos pacientes que assistia.
Enfim víamos que o amigo encontrava seu lugar em nossa comunidade de serviços aos semelhantes e com humildade anuía à imposição do destino, embora muito distanciado das vocações que ainda estuavam de seus antigos pendores, advindos de suas últimas experiências terrenas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 01, 2024 8:42 pm

Felicitando-o pela iniciativa, dizia-lhe:
— Acreditamos sinceramente que agora você está atendendo realmente às suas mais prementes necessidades espirituais, Alberto. Sentimos, na verdade, que seu coração está saturado das máquinas e anseia pelos valores dos sentimentos, por isso lhe convém fortemente dedicar-se àqueles que precisam mais do que você, como roteiro seguro de crescimento espiritual. Temos urgência em desenvolver as asas do espírito, feitas de amor e sabedoria, meu amigo, e somente o empenho em tais actividades, ícaro Redimido - 369desprendendo-nos do secular comodismo, pode nos favorecer o aprimoramento dos instrumentos espirituais indispensáveis ao voo para o infinito. O refinamento de seu mundo emocional é no momento necessidade maior do que o desenvolvimento de aparelhos que atendam ao conforto humano, embora também estejam, indirectamente, a serviço do nosso bem-estar espiritual. Por isso ficamos felizes por vê-lo na senda que nos parece a mais acertada, compreendendo a extensão dos ensinamentos que lhe chegam.
— É verdade, devo confessar, Adamastor—respondeu, algo aliviado, por estar se engajando em nossas actividades, devolvendo à colónia os benefícios recebidos.
— Apesar das imensas dificuldades, sinto uma alegria que nunca pude experimentar na vida. E já estou me habituando ao serviço e encontrando imenso conforto íntimo, não me permitindo a mínima dúvida de que este é o meu caminho e minha necessidade maior.
Adelaide congratulava-se comigo ao ver que nosso assistido finalmente iniciava passos seguros rumo à concretização de sua melhoria e à sua transformação final em assistente.
A tarefa ensinar-lhe-ia, sobretudo, a valorizar a vida na carne e o respeito pelo precioso bem que é o corpo físico ao qual devemos nossa evolução. Os suicidas necessitam desta importante lição, prevenindo-se de futuras recaídas em posteriores reencarnações; por isso o trabalho junto aos companheiros de igual desdita, resgatados do mesmo ergástulo de dores de onde proviemos, é nosso mais sagrado recurso de recuperação e depositário da gratidão às bênçãos que a vida nos favorece.
As melhoras de Alberto se consolidavam rapidamente a cada dia enquanto nos entregávamos às tarefas socorristas nas intensas actividades de nossa colónia.
Crescíamos todos, arquivando tesouros para a eternidade, entretecendo sempre diálogos proveitosos para nós, quando trocávamos observações pertinentes ao nosso trabalho. Alberto se esmerava na aquisição de conhecimentos que estabilizassem sua reforma e se empenhava no labor, com dedicação, adestrando-se no amor cristão.
Alimentando salutar entusiasmo, aos poucos se envolvia com os “homens azuis”, nutrindo-lhes verdadeira afectividade e assistindo-os com desvelado interesse. Frequentemente recorria ao nosso modesto conselho em busca de providências para determinados companheiros que lhe requisitavam recursos diversos, às vezes, pedidos impossíveis de serem atendidos em benefício de si mesmos. Em breve o víamos estudando com afinco o assunto que lhe motivava a atenção a fim de aprimorar-se na tarefa, executando-a acima de suas obrigações. E frequentes vezes pudemos presenciá-lo levando a passeio um ou outro enfermo, com a devida permissão para isso, apoiando seus hesitantes passos.
Atestando seu progresso, certa feita procurou-me a fim de que o ajudasse em algumas questões suscitadas pela sua tarefa. Bastante modificado, com a mente ventilada por novos e divergentes interesses, questionou-me:
— Adamastor, sei que minha dúvida pode não ter fundamento, porém tenho aprendido em meus novos estudos que as enfermidades são todas produtos de nós mesmos, sendo criações mórbidas dos nossos pensamentos e sentimentos, inadequados à Lei de Deus. Vejo extrema lógica nisso, porém, diante dos cianóides não há como negar que eles adoeceram gravemente pela introdução de factor externo, qual seja o fumo. Como compreender o facto, diante das evidências irretorquíveis de nossos ensinamentos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:30 am

— Sua questão realmente procede, meu amigo, e nos faz ver que você tem avançado em seus estudos, esmerando-se para atender às necessidades da nova tarefa da melhor maneira possível. Jesus nos afirmou, com efeito, que não é o “que entra pela boca que adoece o homem, mas o que sai dela, pois o que sai procede do coração'’92, isto é, provêm dos nossos sentimentos e pensamentos os verdadeiros agentes etiológicos de toda e qualquer enfermidade. Contudo, não podemos deixar de entender que existem duas vias para se imputar males a nós mesmos, a via interna e a externa. A interna responde pelos danos que procedem de nossas intenções equivocadas, distanciadas do amor, normalmente interpostas pelo ódio.
Esta via responde pela totalidade de nossas doenças naturais. A externa é decorrente dos malefícios que introduzimos no organismo, como aqueles oriundos dos diversos vícios a que nos permitimos, inoculando desequilíbrios no nosso delicado mundo fisiológico. Esta via causa mazelas espúrias, verdadeiros acidentes biológicos ou doenças artificiais. Na famosa assertiva evangélica, Jesus se referia ao adoecimento natural, pois o que ingerimos pode nos intoxicar e danificar o corpo físico e perispiritual, mas é incapaz de nos adoecer a alma. O que procede do espírito, em forma de pensamentos, sentimentos e actos inadequados é que nos fere de dentro para fora, representando nossas verdadeiras enfermidades. Portanto poderíamos completar o ensinamento evangélico, considerando que o que sai da boca nos adoece e o que entra, desde que impróprio a nossa natureza biológica, acidenta-nos o organismo, perturbando-lhe o funcionamento.
Muitos factores externos que nos prejudicam o equilíbrio orgânico são oriundos de agentes planetários, ditos naturais, como as irradiações nocivas a que estamos sujeitos, ou mesmo aqueles produzidos pela ignorância do homem, embora veiculados pelas suas boas intenções, como por exemplo os pesticidas agrícolas e as substâncias tóxicas do quimismo moderno. Outros são produtos que sabidamente nos danificam, mas nos permitimos usar por equivocado deleite ou intenção de fuga da realidade, como o são o álcool, o fumo e outras drogas. Estes, na verdade, reflectindo o desleixo pelo nosso bem maior que é o corpo físico, interagem com as intenções doentias de nossa vontade e incorporam-se em nossa intimidade perispiritual, transformando-se em patologias de carácter misto. Assim tudo se explica dentro da Lei de Deus, pois se os prejuízos que imputamos aos outros se revertem contra nós mesmos, os danos que infligimos à própria organização biológica, comprometendo o seu delicado e preciso metabolismo, se incorporam também na lei cármica, reflectindo-nos como perturbações orgânicas e dores. Não poderia ser de outro modo, pois do contrário não aprenderíamos a valorizar o divino santuário físico, indispensável à aquisição dos bens imorredouros da perfeição. Assim, continuamos colhendo o que semeamos no campo de experiências da vida.
Alberto deu-se por satisfeito, prosseguindo feliz nas actividades que o enriqueciam de preciosos recursos para a plena recuperação. Finalmente ele compreendia que a felicidade não consiste meramente na conquista de glórias efémeras ou na construção de patamares onde projectar a própria personalidade, porém nas actividades mais simples da vida, desde que as realizemos embasados por verdadeiro amor ao semelhante. Aí estabeleceu nosso Criador os reais fundamentos da beatitude e a única possibilidade de engrandecimento do espírito para a Vida Maior.
Vendo-o perfeitamente integrado à tarefa de enfermeiro, perguntava- me o que pensariam os encarnados se soubessem que o herói do passado, feito símbolo glorioso de uma nação, convertera-se em modesto auxiliar de enfermagem, prestando serviços humílimos de higiene. Certamente negar-me-iam qualquer crédito à informação, julgando-a absurda e inverídica, pois a veriam completamente inadequada a um homem de génio, a quem imputariam tarefas da maior importância e posição de destaque no mundo do Além. Pois saibam, definitivamente, que as vias do espírito não se fazem pelos refulgentes caminhos humanos e as portas do progresso se fecham àquele que se veste de fatuidades com a intenção de adentrar os elevados patamares da vida. A evolução caminha para a santidade e a verdadeira genialidade somente se conquista com a perfeita comunhão com o Pensamento Divino, exigindo do aprendiz de sabedoria o domínio da ciência do amor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:31 am

Os atributos que nos glorificam não são os do intelectualismo, dado à produção de comodidades ou erudição, mas os da bondade, conquistados com a prática do altruísmo, pois somente os sentimentos moralmente elevados podem nos confeccionar alegrias perenes e proporcionar inexaurível potência de ascensão para a alma.
Compreendam ainda que a morte muda a perspectiva com a qual enxergamos a vida e, ansiando pela paz verdadeira, abdicamo-nos facilmente dos transientes títulos que a Terra nos confere, pois nada é capaz de suprimir em nós o anelo pela ventura espiritual. No serviço desinteressado ao semelhante, Alberto encontrara o caminho para suplantar suas carências e conquistar o pretendido bem-estar íntimo. E o seguia com enorme alegria. Eis a realidade.
O tempo escoava, proporcionando-nos valedouro roteiro de ganhos espirituais, quando facto surpreendente interrompia nossa rotina de trabalhos. A velha Europa, na crosta, iniciava grave conflito armado entre suas nações, prevendo-se a desencarnação em massa de grande número de pessoas por espaço de alguns anos. O Plano Espiritual se preparava para o devido socorro aos inditosos guerreiros, requisitando trabalhadores em todas as instâncias possíveis. Não sabíamos ainda que a contenda se tornaria o mais desastroso embate a que o mundo já assistira, a Segunda Grande Guerra, mas todos podíamos pressentir as mefíticas vibrações que infectavam a atmosfera planetária, eivando-a de funestos presságios.
Nossos alto-falantes proferiam melancólicos apelos, convocando os homens de bem para o trabalho socorrista em auxílio à nossa desvalida casa planetária e aos infelizes irmãos de jornada. Como guardava ainda profundos liames com o velho continente, onde se demoravam corações queridos do passado, apressei-me a responder ao chamado. Mantivera também extensa participação na medicina de guerra no pretérito e devia atender à minha consciência ainda necessitada de ressarcimento de passado culposo. Suspendia assim meus trabalhos em Portais do Vale e me preparava para a partida imediatamente. Devia despedir-me, com pesar, dos queridos amigos, especialmente de Adelaide e Alberto, com quem ainda compartilhava o lar. Afeiçoara-me a ambos de modo significativo, lamentando sobremodo deixá-los, porém a gravidade do momento me convocava a urgente actividade. A amiga de todas as horas, sem titubear, manifestou o ardente desejo de acompanhar-me e, satisfazendo todas as condições mínimas exigidas para a tarefa, imediatamente se integrou à equipe que se formava.
Alberto, recebendo a notícia, mostrou-se pesaroso, pois se nos afeiçoara como verdadeiro irmão e nos tinha como únicos amigos com quem compartilhar sua vida íntima. Por alguns dias andou sorumbático e taciturno, apesar de nossa promessa de breve retorno e de que seria encaminhado para compartilhar a moradia com outros companheiros em quem poderia igualmente confiar. Porém, dentro em pouco, fui surpreendido pelo seu insistente pedido, desejando ardentemente nos seguir na empreitada, ainda que preocupado em encontrar outro serviçal para substituí-lo na Câmara dos Cianóides. Argumentava veementemente que, por conhecer muito bem o francês e se servir com certa facilidade do inglês, poderia contribuir como intérprete nas enfermarias de socorro, além de ajudar nos cuidados básicos aos recém-desencarnados. Acorremos então a solicitar a anuência de nossos dirigentes, pois Alberto, embora já engajado no serviço, até então se encontrava sob cuidados e não albergava ainda o título de assistente.
Para a nossa alegria, o seu pedido fora prontamente aceito, fazendo- nos recordar que realmente sua participação mais expressiva neste empreendimento lhe era bastante conveniente em decorrência de seu comprometimento com as guerras no passado, sendo-lhe importante oportunidade para o refazimento da consciência denegrida.
Enfim, a Misericórdia divina o convocava ao ressarcimento do pretérito, ainda no Plano do Espírito, com o concurso do trabalho e da renúncia, convencendo-nos de que, no educandário da vida, a Lei sabe dispensar o sufrágio da dor e prescindir do guante da coerção, para a redenção do espírito que desperta para a prática do bem verdadeiro e se entrega, confiante, às directrizes do Evangelho.

91 Termo comum de uso médico que designa a. coloração azulada da pele, principalmente das extremidades, decorrente da presença de elevados teores de gases carbónicos no sangue.
92 Mateus 15:11
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:31 am

33 - Nos Bastidores da Guerra
“E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; não vos perturbeis, porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim. ” Jesus - Mateus, 24:6

Iniciamos prontamente os adestramentos necessários à assistência espiritual na guerra, tendo em vista que Alberto seria promovi auxiliar da desencarnação, ajudando-me directamente na tarefa de recolher os espíritos nos campos de batalhas, desde que se adaptasse ao penoso mister, que exige perfeito controle das emoções diante da visão de corpos estraçalhados e de espíritos impregnados de pavor. Nosso amigo, no entanto, subordinado à imensa boa-vontade de servir, submetia-se com entusiasmo aos treinamentos, suplantando, em pouco tempo, a completa falta de aptidão para o inusitado empreendimento.
Nossa colónia reunia grande número de companheiros dispostos à empreitada, pois habituamo-nos a atender espíritos em pânico, vivenciando intensas agonias de mortes traumáticas e portando corpos desfigurados, tomando-nos especialmente indicados para o serviço assistencial de guerra. Mentores dos Planos Superiores compareciam frequentemente para nos instruir, reunindo-nos em imensas assembleias, durante os poucos dias em que nos preparávamos para a jornada.
Traziam-nos os princípios irrevogáveis que deveriam nortear nossa actividade, afirmando-nos, peremptoriamente, em iluminadas prelecções, que não se precisava mais de louvor à pátria, porém de amor ilimitado à Humanidade, sendo indispensável romper os restritos liames que ainda nos prendiam à nação ícaro Redimido - 375terrena de origem, transformando-nos em verdadeiros filantropos. Não haveria amigos para defender e inimigos para atacar, porém companheiros em desespero para acudir, não nos convindo perder de vista que, em qualquer enfrentamento bélico, todos estão enganados e a ninguém compete dar maior parcela de razão.
Nossas armas seriam as da bondade e da caridade cristã, e nosso eficaz escudo, o pensamento constantemente em prece, sob a intenção do Bem, insígnias sublimes que nos fariam soldados do Cristo e recursos indispensáveis ao bom êxito da tarefa.
Qualquer vítima seria meritória de iguais cuidados, não importando sua nacionalidade, pois do lado de cá da vida não há adversários ou aliados, sequer estrangeiros ou compatriotas, porém apenas irmãos em contendas, merecedores de iguais cuidados. Seria imperioso impedir que a indignação se nos convertesse em raiva, diante das barbáries presenciadas, pois, se nos deixássemos contaminar por estas baixas emoções, sintonizar-nos-íamos com a hostilidade, expondo-nos aos intensos choques vibracionais do ódio que domina em tais ambientes, perturbando-nos a ponto de nos incapacitar para o serviço. Competia-nos assim, como irmãos de uma realidade maior da vida, compreender e aceitar o homem como um ignorante dos princípios que regem a criação, infeliz pelo próprio mal que é capaz de praticar, deixando à Lei a tarefa de julgá-lo pelos seus inconsequentes actos.
Seriamos vergados pelo clamor de muitas dores, agastados pelos atritos de imensas rivalidades e abatidos pelo dardejar altissonante da fúria e do desespero, porém que permanecêssemos atentos e fiéis ao Bem, pois invisíveis entidades angelicais estariam ao nosso lado, sustentando-nos a fragilidade da alma, trazendo-nos o beneplácito do Amor Divino para suporte de nossas fadigas e consolo das desditas humanas. Enfim, altruísmo sincero deveria nortear nosso trabalho, acima de toda adversidade, combatendo-nos a acídia que, peremptória, assolar-nos-ia o ânimo. Trabalharíamos sobretudo para aplacar nos corações dos homens o potencial de crueldade, semeando sentimentos de paz, concórdia e fraternidade. Estes eram os lemas indispensáveis à nossa missão e que deveríamos seguir com profundo e abnegado amor cristão.
A guerra já havia começado e assumia proporções nunca vistas, assustando-nos a todos diante dos relatos daqueles que a presenciavam de perto. Era-nos penoso ver o homem terreno, qual criança rebelde e imprevidente, atear fogo ao próprio lar, precioso bem que a Misericórdia Divina nos concede, em nome de orgulhos injustificáveis e ambições desmesuradas. A Direcção Espiritual do planeta se apressava para socorrê-lo, convocando todos os trabalhadores disponíveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:32 am

Portais do Vale, assim como outras colónias, desdobrava-se para atender aos apelos do Alto e todo colaborador que satisfazia às condições mínimas exigidas deveria ser aproveitado, devido à grande extensão das necessidades, pois milhares de espíritos recém-desencarnados jaziam nos campos de batalhas à espera de urgente socorro e aguardava-se ainda o desenlace da ordem de dezenas de milhões de pessoas, entre civis e militares, até o fim do conflito. Nossa missão, conforme os treinamentos recebidos, consistiria no recolhimento desses desencarnados, pois a maioria deles não podia estar entregue ao relento, assistindo à decomposição do corpo físico, por não guardarem deméritos para tais sofrimentos.
Grande curiosidade nos assaltava com respeito aos motivos de tão descomunal conflagração e, embora se aventassem causas imediatas para a sua irrupção, nossos superiores nos advertiam que sua verdadeira origem residia nos orgulhos nacionalistas, aviltados por intoleráveis interesses chauvinistas.
Os sentimentos humanos, ainda inferiorizados, acumulam discórdias insopitáveis ao longo da caminhada evolutiva, desabando em enormes tormentas de ódios, gerando-se a necessidade da deflagração de tais conflitos expurgatórios. Por isso, esses grandes embates são, comumente, o resultado de hostilidades seculares, que somente podem ser resolvidas pelo caminho mais afanoso, ou seja, o enfrentamento fratricida. Embora seja a solução mais difícil e dolorosa, na luta, os inimigos, ainda que a contragosto, conhecem-se, aproximam suas culturas e acabam por se fundirem na dor que ambos disseminam, terminando na compreensão e no apaziguamento de suas rivalidades. Fato que nos atesta a excelsitude da Lei divina, capaz de retirar, ainda que do Mal, realizações imorredouras para o Bem.
Além dessas causas ocultas, todo conflito humano nunca se limita à dimensão terrena, mas se estende ao outro lado da vida, envolvendo activamente o Mundo Espiritual, tanto as Esferas Superiores quanto os domínios do Mal.
Enquanto os Planos Iluminados, ainda que chorando a desgraça dos irmãos encarnados, cuidam de lhes amparar a desdita, socorrendo-lhes as necessidades, as regiões tormentosas se consorciam à maldade, tratando de auferir proventos da crueldade e da vingança nas quais se comprazem.
Envolvem-se activamente no conflito, assumindo partido nas disputas humanas, como se integrassem nações da dimensão terrena, obedecendo aos mesmos propósitos que movem o homem na carne. E, muitas das vezes, as querelas terrenas não são mais do que prolongamentos de atritos que, na verdade, iniciam-se nestas esferas. Embora não se possa eximir os encarnados de sua parcela de culpa e de suas equivocadas intenções, a participação das Trevas é decisiva em tais embates, seja excitando-os ou servindo-se deles para execução de nefandos propósitos. Porém, de qualquer forma, são os sentimentos ainda barbarizados dos homens que os afinam com os Planos Umbralinos, mantendo-se-lhes o estreito conúbio de ignóbeis escopos.
Não podemos olvidar ainda, como já consideramos que, assim como na Terra, os desencarnados se organizam em grandes comunidades, onde mantêm os costumes e os idiomas aprendidos na jornada da carne, configurando no espaço espiritual os mesmos limites políticos dos países de origem, em um nível dimensional denominado Espaço das nações. As rivalidades oriundas do Plano Carnal atravessam a barreira da morte e prosseguem nestas regiões, pois os homens, embora envergando nova roupagem, continuam portando os mesmos sentimentos que os moviam na romagem física. Somente em dimensões muito elevadas é que são suplantados esses nacionalismos, unindo-se os espíritos pelos imperativos do amor sublimado, aplacando-se todas as desavenças, e onde os óbices da comunicação falada são superados pelos intercâmbios puramente mentais.
O Mundo Espiritual inferior, destarte, ainda é dominado por grandes impérios regidos por precária ética de relações, fixada na involuída moral dos tempos medievais, na qual ainda se estacionam. Comandados por poderosas entidades chamadas de Dragões, compõem exércitos infernais, ávidos de conquistas e práticas de atrocidades. E também deflagram guerras, disputando territórios de influências e massas humanas para exploração de seus baixos interesses. Dirigentes da Terra, imprevidentes e gananciosos, pensando agir em nome de suas próprias ambições, na verdade, afinados com esses Dragões das Sombras, respondem às suas ignominiosas sugestões, excitando-se nos instintos aguerridos, fazendo da casa planetária uma arena de lutas sangrentas nos dois planos da vida.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 9 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:32 am

Nossos orientadores informavam que a Segunda Grande Guerra Mundial, na verdade, era apenas uma continuação da primeira, que prosseguira sem solução na Esfera Espiritual. Grande número de espíritos, desencarnados no conflito anterior, reverberava no Além os ódios acumulados, ansiando por revide, acicatando os compatriotas terrenos à vingança. Menoscabados pelo incontido orgulho ferido e distanciados da real compreensão da vida, ainda que habitantes do Plano do Espírito, não se conformavam com a humilhante derrota. Estimulavam pretensões colonialistas nos companheiros da retaguarda a fim de satisfazerem seus propósitos de dominação e crescimento desmedido. Assim, germânicos, franceses e ingleses continuavam praticando hostilidades desde o Mundo do Além, demonstrando-nos que a guerra, na verdade, era motivada pelos inadequados interesses de hegemonia dos povos de ambos os lados da vida, reflectindo a natureza inferior e orgulhosa do homem onde quer que se encontre.
Embora se possa ainda imputar nomes responsáveis pela deflagração e condução do grande conflito, suas actuações jamais teriam sido possíveis sem a corresponde ganância de seus dirigidos, tanto na dimensão física quanto na espiritual, em perfeita sintonia com seus nefandos propósitos. Desta maneira, dever-se-ia atribuir tamanha hecatombe à própria natureza inferior e rebelde do espírito humano e sua belicosidade, oriunda da instintividade animal que ainda o domina, no Mundo Carnal ou fora dele.
Os soviéticos, com seu descomunal império, bravateando domínios para além de suas incontidas fronteiras, eram outra ameaça que intimidava os gananciosos, na carne ou fora dela, obstaculizando-lhes as imoderadas ambições. A supremacia da raça perfeita, a imposição de uma nova ordem social ao mundo e o extermínio contumaz e cruel das populações consideradas inferiores eram apenas motivações secundárias, atractivos engodos, alvitrados pelos espíritos trevosos, sedentos de execrandas vindictas e ávidos do exercício de infrenes crueldades. O bolchevismo judaico, pretensamente consorciado às aspirações comunistas, completava o erróneo pretexto, tornando-se alvo das injustificáveis maldades que somente as inimizades do passado e a própria natureza humana podem explicar.
A situação havia se agravado sobremaneira desde o aparente fim da Primeira Grande Guerra e o Plano Espiritual inferior se agitava assustadoramente, irrompendo mórbidos e febricitantes sentimentos que somente seriam apaziguados mediante a disseminação de destruições em massa. O momento era um dos mais graves já vivenciados pela casa planetária, que ameaçava ruir sob o guante de equivocados déspotas, apregoando falaciosas promessas. Previa-se o envolvimento de cerca de trinta nações da Terra, segundo as estimativas de nossos dirigentes. Os mais pessimistas prenunciavam o fim do mundo, contudo, estávamos confiantes e esperançosos no seu apaziguamento, pois o Plano Espiritual Superior envidava imensos esforços para minorar ao máximo a grande tragédia. E, seguros de que a Lei conduz os nossos destinos, sabíamos que não seria permitido ao homem ultrapassar os limites impostos por sua própria maldade.
Encarnados e desencarnados, consorciados em interesses comuns e alimentados por inimizades seculares, deflagraram assim o conflito, motivado por disputa de supremacia entre os potentados dos dois planos. Por isso, a guerra estendeu seus embates para além dos horizontes humanos, ampliando-se a crueldade, alçada às raias do absurdo. Enquanto os encarnados, armados de todos os modos possíveis, estraçalhavam seus corpos em imensa loucura colectiva, hostes de espíritos barbarizados digladiavam-se também nas regiões trevosas, juntando-se-lhes aos horrendos enfrentamentos, utilizando armamentos semelhantes e ferindo- se mutuamente como se ainda participassem das mesmas sensações da carne. A Segunda Grande Guerra tornou-se, deste modo, um despautério fratricida de dimensões inimagináveis pelo historiador terreno, fazendo- nos ver que, tanto no nível individual quanto no colectivo, continua o homem a disputar quem é o maior, principal causa de todas as suas desditas, uma vez que tais erróneas intenções levam à destruição do semelhante, espargindo desgraças ao seu derredor e semeando infortúnios em seu destino.
Túrbidas nuvens de vibrações negativas enovelavam-se na atmosfera e nas regiões espirituais imediatas à crosta, disseminando agruras e comprometendo todo o equilíbrio do Orbe, contaminando desde os ambientes físicos até os seus campos magnéticos e espirituais. Contudo, os serviços assistenciais se intensificavam sobremaneira, coibindo a extensão do mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:32 am

Desde as Esferas Superiores que comandam a humanidade, providenciavam-se recursos salvacionistas, solvendo as necessidades imediatas de todos os envolvidos, em ambas as dimensões, a fim de que a civilização não sofresse graves danos e o planeta pudesse prosseguir cumprindo sua missão no cortejo da evolução.
O trabalho urgia e nossos treinamentos não podiam se estender por muito tempo.
Os menos hábeis no socorro espiritual deveriam seguir os mais experientes, fazendo do serviço activo a real prática do aprendizado. Alberto, apesar da imensa boa vontade, ainda não demonstrava plena capacidade para a tarefa, porém comprometia-me a vigiar o seu desempenho, acompanhando-o de perto e interrompendo sua actuação se a julgasse inadequada a si mesmo ou aos nossos assistidos.
Em breve partíamos rumo ao Velho Mundo, embarcando em um grande hospital itinerante. Alberto consumia-se em imensa curiosidade a respeito dos mecanismos de navegação da inusitada casa voadora. Pouco podia esclarecer-lhe, porém informava-lhe estarmos utilizando processo desconhecido dos homens, pois não trafegamos na mesma dimensão espacial do mundo físico e usamos propulsão de natureza electromagnética. Viajaríamos por lugares de grande turbulência vibratória e necessitávamos de protecção para atravessá-los. Como nossos corações se achassem constritos e carregados de infaustos presságios, éramos envolvidos por coral de harmónicas vozes femininas, enovelando melodias sublimes que nos enlevavam e nos resguardavam dos imensos choques fluídicos que nos atingiam.
Chegando ao continente europeu, nosso hospital se estabeleceu em região espiritual correspondente a Portugal a fim de nos afastar um pouco dos focos de conflitos situados ao Norte. A atmosfera, contudo, era angustiante, reflectindo as ominosas emanações mentais dos encarnados, submetidos ao doloroso transe expiatório. Os vários grupos de tarefeiros, apoiados pelo hospital de Portais do Vale, deveriam montar acampamentos móveis nas diversas regiões onde se desenvolviam as frentes de batalha e dirigimo-nos imediatamente para a capital francesa, onde estabeleceríamos nosso posto socorrista.
Alberto pisava o solo francês depois de largos anos, emocionando-se sobremodo ao contacto com o palco de suas antigas aventuras terrenas. A Torre Eiffel esboçava-se ao longe, entre brumas entristecidas, despertando- nos nostálgicos sentimentos.
Espantado diante das profundas mudanças, admirava-se dos novos modelos de automóveis e perscrutava os céus em busca dos aeroplanos modernos, tomado por imensa e incontida curiosidade, atendendo seus antigos interesses. E, como eu, ele desejava rever logo os locais que lhe marcaram as últimas experiências de vida, buscar pelos antigos amigos, porém as condições eram sobremaneira adversas e não mais correspondiam à época em que ali vivêramos e, tampouco, havia tempo para breve deleite, pois a premência do serviço nos concitava à actuação imediata.
A Igreja de Saint Philippe de Roule foi indicada para nos sediar em seu ambiente vibracional. Em complexa operação, técnicos de nossa colónia armaram uma rede de protecção vibratória em torno do espaço ocupado pelo alojamento, a fim de se resguardar o máximo possível de paz e tranquilidade, necessárias aos desencarnados em estado de intenso trauma e que ali seriam acolhidos.
Segundo nos informavam, a guerra já assumia proporções assustadoras, atingindo a península dos Balcãs, a fronteira da França, os Países Baixos, o Canal da Mancha e o Norte da África, onde se travavam sangrentos combates. E o conflito não tardaria a se estender pela Ásia até a Oceânia, pois previa-se que logo os soviéticos e os japoneses se somariam aos embates. Os homens então haviam feito evoluir as armas de guerras, aumentando sobremaneira seu poderio destruidor. Os alemães estavam em vias de dominar toda a Europa, em quase um ano de guerra, e agora seus inimigos começavam a se organizar para a reconquista dos territórios perdidos. O momento de fato era penoso e grave.
Os campos de batalha espalhados por diversas regiões já contavam com grande número de desencarnados, retidos em seus restos mortais, aguardando a caridade cristã para se desvencilharem de suas tristes condições.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:33 am

Os trabalhadores de nosso Plano não alcançavam atender a todos e, exaustos, desdobravam-se no penoso mister, requerendo ajuda sem demora. Formadas as equipes de socorro, demandamos à região de Dunquerque, ao norte da França, envolvida em horripilante luta. Milhares de soldados ingleses e franceses estavam sendo acuados em direcção à costa e cruelmente dizimados pelo poderoso exército alemão.
Informavam- nos que providências urgentes estavam sendo adoptadas para que o comando germânico aplacasse a intenção de exterminar em massa os Aliados, permitindo a evacuação do que restara de suas tropas para a Grã-Bretanha, evitando que o conflito assumisse proporções inadequadas e o domínio da Alemanha se estabelecesse de forma irreversível e desastrosa no panorama geopolítico dos encarnados.
Atiramo-nos à tarefa, somando nosso pequeno esforço aos grupos que já atendiam activamente no local. A movimentação em nosso Plano era intensa e por todos os lados víamos espíritos transportando desencarnados, a maioria em grave estado, a fim de acomodá-los onde fosse possível. À medida que nos aproximávamos da linha de frente, as vibrações reverberavam-se em nosso íntimo como ondas de choque, exigindo-nos grande controle das emoções. Turba de trânsfugas, abatidos e estropiados, cruzavam por nós, em grande número, desfeitos em desespero, configurando ainda os severos traumas físicos que os levaram à desencarnação, compondo verdadeiro exército de flagelados, enquanto outros, tomados por loucuras colectivas, corriam esbaforidos sem rumos em meio a grande algazarra de espíritos inferiores. O céu brumoso, pejado de altos teores de aflições, assustava-nos sobremaneira, como prenunciando descomunal tormenta.
Guardávamos a sensação de estar em frágil embarcação em mar revolto, agitado por terrível borrasca. O horizonte distante se vestia de luto, ferido por violentos relâmpagos magnéticos, reflectindo o acúmulo do imenso ódio humano. O teor das vibrações morbíficas no ambiente era de tal monta que as fazia precipitarem, caindo sobre nós sob a forma de pequenas floculações gríseas, quais cinzas vulcânicas, desfazendo-se ao nosso contacto, sem causar-nos, aparentemente, sensação táctil alguma. Imperceptíveis aos olhos dos encarnados e das entidades barbarizadas, são capazes, porém, de veicular funestos sentimentos nos espíritos que se lhes afinam e podem se acumular perigosamente na organização perispiritual dos trabalhadores ainda incautos, envenenando-os paulatinamente e incapacitando-os para o serviço.
Ao atingirmos o local dos renhidos entrechoques, o cenário se tornava ainda mais aterrador. A soturna paisagem desfeita em ruínas se locupletava com o ribombar dos canhões, os estampidos dos fuzis e a matraca das metralhadoras, compondo patética sinfonia de lágrimas, furor e pânico, acompanhada pelo coro de alaridos estridulosos dos espíritos inferiores que se compraziam com a algazarra, ovacionando a morte e a destruição. Bandos de sicários desencarnados, trajando truanescas vestimentas, brandindo armas medievais e blasonando vitupérios, lutavam ao lado dos combatentes humanos, estendendo seus ferozes embates para o outro lado da vida. Matilhas de ferozes cães adestrados, atiçados pelos guerreiros das Trevas contra os oponentes, compunham por vezes o horripilante espectáculo.
Cenas pavorosas de extensões jamais vistas fixavam-se em nossas retinas espirituais de forma imorredoura. Em meio ao assombro, elevávamos permanentemente nosso pensamento em súplica ao Altíssimo para que viesse em socorro da casa planetária, transformada em báratro colossal.
Se os homens pudessem divisar esses tétricos quadros que preenchem o invisível, acompanhando-os no gládio da morte, aterrorizados evadir-se-iam apressadamente, reconhecendo, na sua extensão, o grande erro da guerra, acorrendo a abraçar os inimigos, em busca dos tesouros divinos da paz e da concórdia.
E logo o longo e agudo silvo das bombas atiradas de aviões chamava a atenção de Alberto, que, dirigindo seus olhos para o alto, via pela primeira vez os modernos aeroplanos, transmudados em aves de rapina, pondo ovos de fogo, arrancando-lhe lágrimas de estupenda comoção. Ali estavam suas máquinas dilectas, seus inocentes e frágeis aparelhos de deleite, convertidos em águias de aço, feitas para derruir e assassinar. Atónito diante do espectáculo, precisei deslocá-lo a fim de demovê-lo da perplexidade em que se estacava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:33 am

Com o coração em pranto, atiramo-nos ao trabalho, em meio à bátega de projécteis e explosões, a fim de cumprir nossa missão. Assustado, Alberto seguia-me de perto, enquanto Adelaide permanecia no alojamento de Saint Philippe, cuidando dos desencarnados que não paravam de chegar.
Deixávamos que o fragor dos prélios se esvaísse para depois atendermos como possível aos que tombavam em combate. Muitas vezes fazíamos dormir os atormentados, a fim de recolhê-los mais tarde, providenciando o desprendimento espiritual daqueles que já guardavam condições para isso, entregando-os aos padioleiros para serem atendidos nas enfermarias. Muitos agonizavam, gementes e aflitos, poucos catam na inconsciência, enquanto outros, vivenciando relutante desdobramento, em pleno desespero diante do próprio corpo retalhado, procuravam reunir suas partes estraçalhadas sem compreenderem o que realmente se passava. Os mais afoitos e imbuídos de imenso ódio, mesmo sem suas vestes orgânicas, prosseguiam combatendo, como se ainda continuassem vivos na carne, engalfinhados em luta corpo a corpo, sem se darem conta de que estavam no outro lado da vida e sem que tombassem diante dos sucessivos e inúteis golpes mutuamente desferidos. Por estes, nada podíamos fazer até que seus furores se aplacassem na exaustão e, cessando a emancipação transitória, caíssem na inconsciência, terminando o inusitado transe.
Por muitos dias trabalhamos intensamente em meio à tempestade de sangue, até que a fuga precipitada dos sobreviventes para a Inglaterra acalmou a situação em Dunquerque. A espectacular e bem dirigida operação de resgate contou com significativa ajuda do Plano Espiritual, minorando os imediatos efeitos de uma atroz e desproporcional devastação. Então os arredores de Paris passaram a sofrer intensos bombardeios e para lá dirigimos nossos esforços socorristas. Não tardou, porém, para que a França capitulasse diante do poderio alemão, temerosa de se ver cruelmente dizimada pelo inimigo. Assistimos com pesar aos germânicos marcharem sobre Paris, desmembrando o país, obrigados, contudo, a olvidar nossas origens e calar, a todo custo, os inadequados sentimentos nacionalistas que ainda teimavam viger em nossas almas. Pesava-nos presenciar o povo constrito, acomodado na desesperança, abatido pelo orgulho ferido, porém era forçoso adaptar o coração à nova realidade em que nos encontrávamos, pois como tarefeiros espirituais não nos convinha mais tomar partido nas disputas terrenas.
Sem demora os exércitos precipitaram-se, em grande azáfama, buscando novas direcções, seguindo as incontidas ambições de seus protagonistas. A saga sanguinária seguia outros rumos, dizimando cidades e ignorando os valores da comiseração, como se os povos que julgavam inferiores fossem meros bandos de animais. Mediante volitação, excursionávamos pelos campos, acompanhando os movimentos dos embates, à cata dos recém-desencarnados, o que nos fazia recordar a lenda das Walquírias, o mito que numa época povoou a lenda nórdica, que apregoava que mulheres, em corcéis alados, compareciam nos locais de batalha, recolhendo os guerreiros mortos, levando-os para o Walhala, a morada dos deuses, fato que atesta que o imaginário humano sempre reflectiu as verdades do Invisível.
Por longo tempo trabalhamos nas frentes de combate, recolhendo desencarnados. O penoso trabalho nos exigia o desprendimento das comodidades, contudo, vibrações sublimes, advindas dos Planos Superiores, nos sustentavam a jornada, confeccionando-nos o bem-estar indispensável ao espírito. E não estávamos sós, pois, no esforço comum, fazíamos muitos amigos e, apoiando-nos uns aos outros, superávamos as dificuldades da árdua, porém necessária tarefa.
Alberto auxiliava-me como podia, com boa vontade, sempre ao meu lado, fortalecendo-se na penosa actividade. Muitas vezes o via desalentado ou assustado, porém, quando os seus olhos se cruzavam com os meus, aquietava-se e se mantinha equilibrado, revelando que se prestava ao serviço, superando sua acídia e sua completa falta de habilidade para a tarefa. Por vezes ainda o via marejando lágrimas ocultas e lançava-lhe o apoio do meu pensamento, ciente de suas fragilidades, pedindo a Deus para que ele não se combalisse diante das imensas dificuldades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:33 am

Paulatinamente se adaptava ao hostil ambiente, auxiliando os necessitados com denodo, expondo-se ao entre-choque das energias aviltantes com disposição para servir, embora muitas vezes alquebrado pelas exigências do penoso mister. Distanciava-se a cada dia de seu imenso interesse pelas máquinas, sobejando a alma vazia com genuínos anseios cristãos. Adestrando-se na capacidade de amar, convertia suas forças depressivas em renovadas energias para a felicidade, refazendo o equilíbrio desfeito pelo suicídio. Convertido em verdadeiro enfermeiro de guerra, em quase nada nos fazia mais recordar o genial “Inventor” dos tempos passados. O poderoso “Senhor dos Canhões”, o magno “General das Trevas”, que fora no pretérito jazia prosternado, silenciado pelas lições de humildade que a vida lhe conferira. E a dedicação ao sofrimento alheio cuidava de lhe modelar agora a alma, matizando-a com os adornos dos sentimentos nobres, necessários à confecção da angelitude.
Por onde íamos, o panorama era o mesmo, multiplicando-se a cada dia o infortúnio, a dor e o ódio. Prantos e lamúrias imanes, reverberando nos míseros corações em apressado trânsito entre os dois mundos, feria- nos profundamente a sensibilidade, diante de tamanhas e inúteis barbáries. Paisagens em escombros, povoadas por corpos esquartejados e almas dementadas, esboçando-se quais tétricos e esquálidos fantasmas em meio às brumas vibracionais, turvavam-nos as retinas espirituais com plangentes e dantescas imagens, arrancando-nos indescritível melancolia, exigindo- nos imenso esforço para não nos abater o ânimo, obstaculizando em definitivo nossa capacidade de actuar em benefício da triste situação. Por vezes, diante da enormidade da tragédia humana que se nos estampava com toda sua dura realidade, nossos passos fraquejavam e, aspirando por paz, ansiávamos por evadirmo-nos rapidamente do hostil meio em que nos encontrávamos, porém, ao pensar nos inditosos espíritos, presos aos cadáveres desfeitos e nos exaustos companheiros de trabalho, convencíamo-nos da importância de continuar na tarefa que precisava de alguém para ser cumprida.
O que mais nos constrangia no serviço de guerra era observar os tétricos quadros espirituais que se seguiam ao furor das batalhas. Quando o terrível matraquear das metralhadoras e o ribombar assustador dos canhões se calavam, bramidos de dores prorrompiam o funesto silêncio que se estampava, propalados pelos espíritos em pânico. Em meio às brumas carregadas do cheiro de sangue misturado ao odor da pólvora queimada, figuras hediondas saíam das sombras, completando a triste desolação dos escombros. Eram hordas de vampiros, verdadeiros bandos de hienas que, invadindo o palco de atrocidades em busca das presas fáceis, refestelavam-se em macabro banquete de sangue, saqueando com avidez os restos fluídicos dos corpos dilacerados, sem que nada pudéssemos fazer em defesa das imprevidentes, vítimas devido ao alto teor de ódio conspurcando-lhes as sacrossantas energias vitais. Passavam como um vendaval destruidor, deixando uma tropilha de esquálidos molambos agonizantes, em meio às emanações de fúria e pesar inenarráveis. Mas não era tudo, logo que a algazarra desses cérberos afoitos e ferinos se acalmava, uma segunda leva de monstros latrinários, frequentemente isolados, transportando exóticas e hórridas zoantropias que nos faziam recordar diabólicas figuras mitológicas, percorriam, calmamente, os campos de sangue, em busca do que restara dos remanescentes cadavéricos.
Enquanto churdas aves negras, assemelhando-se a enormes abutres, pousavam sobre os corpos abandonados, à procura dos eflúvios vitais das carnes em adiantado processo de decomposição, multiplicando sobremaneira as aflições das chacinas humanas, envolvendo-as em burel de extensões jamais presenciadas.
Uma agonia infinda invadia nossos corações, exigindo-nos imenso esforço para manter o pensamento conectado às Esferas Superiores, suplicando pelos beneplácitos do Bem a fim de apaziguar nossa sofrida humanidade, renitente no ódio e na revolta, fazendo jus a tal desdita pelo distanciamento da Lei divina do amor. Compreendíamos o imenso equívoco da guerra, inútil e descabida solução para as contendas humanas, servindo apenas para multiplicar suas aflições e nutrir o futuro com dissabores muito maiores do que aqueles que os levam aos embates da morte. Contudo, mesmo em meio às emanações da ira e das aflições, sentíamos que invisíveis seres angelicais nos sustentavam a jornada, amparando-nos os passos frágeis e vacilantes, única alegria que podíamos nutrir no penoso serviço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:34 am

Frequentemente penetrávamos as ruínas, em meio a bombardeios, a fim de recolher os desencarnados, ainda presos aos escombros, quase sempre civis em desespero, infelizes e aparentemente inocentes, no meio do grave conflito.
Construções seculares ruíam sob os bombardeios assassinos, de ambos os lados da guerra, que não poupavam hospitais, escolas, crianças, mulheres ou idosos, matando apenas para produzir efeitos morais, disseminando a revolta nas regiões inimigas, minguando- lhes a confiança em suas forças, na esperança de que capitulassem ante o poderio do atacante.
De outras feitas vasculhávamos as ferragens retorcidas de aeronaves abatidas, socorrendo pilotos sobressaltados, nos interlúdios da morte, sem compreenderem o que se passava ou completamente inconscientes, fortemente presos aos restos mortais carbonizados ou intensamente desfeitos em fragmentos irreconhecíveis, como único refugio no transe doloroso.
Assustados, diante do poderio armamentista do homem, rogávamos constantemente a Deus para que o sanguinário prélio encontrasse o seu fim, mas os dias se seguiam, longos e terríveis, agónicos e inditosos, amontoando dores e amarguras, acumulando ruínas e somando ódios, sem que muito pudéssemos fazer em prol do imensurável drama terreno.
Convém esclarecer certas particularidades da tarefa que desempenhávamos, a fim de que o estudioso da ciência do espírito se inteire dos fenómenos que regem a criação em seus variados planos de manifestação, ainda que no venda vai desenfreado das grandes paixões humanas. Diferentemente do óbito por enfermidades ou outros acidentes, o espírito que desencarna submetido a condição de violência, no intenso fragor da luta, desencadeia um quadro aqui denominado cacotanásia. As pungentes emoções do ódio, vivenciadas no trágico momento, o elevado índice de catecolaminas circulantes no universo orgânico, configurando as reacções de pavor e fuga, o entrechoque das funestas vibrações antagónicas do ambiente e a presença dos espíritos inferiores actuantes no adverso cenário de hostilidades projectam o recém-desencarnado em um nicho fluídico diferenciado, configurando particularidades que interessam àqueles que o assistem.
Como ocorre na maioria dos desenlaces dos homens de mediana evolução moral, de modo geral eles não podem ser removidos, de imediato, de seus restos mortais, requerendo tempo variável para isso, em torno de dois a cinco dias. Espíritos profundamente apegados à matéria e inseguros nos primeiros passos no Além, podem demandar semanas até que se libertem das vestes carnais, e permanecem nos campos de batalhas em estado de completa inconsciência, até que possam ser recolhidos pelos obreiros da desencarnação, os obiatras.
Muitos que tombam em pleno combate, movidos por intenso ódio, comumente não se dão conta .da condição em que se encontram e prosseguem como mortos-vivos, na Dimensão do Espírito, sem ressentirem a morte física. Continuam perseguindo o inimigo e atracando-se com ele em acirrado prélio. Estes participam, na realidade, de conhecido fenómeno de desdobramento e ainda não se desenvencilharam, em definitivo, de seus restos mortais. Uma vez que se lhes desvanece o ímpeto de agressão, caem em imenso torpor, sendo reconduzidos automaticamente ao corpo físico e, sem conseguir despertá-lo para a continuidade da vida e sem entender o que sucede, entram em desesperante pesadelo. Assim permanecem até que se lhes sobrevenha a inconsciência da morte, quando então iniciam, de facto, as etapas naturais da desencarnação. Alguns, na impossibilidade de recorrerem à defesa do sono profundo, candidatam-se à ovoidização, em decorrência da adversa condição em que se encontram, se não recebem socorro eficaz. Daí a importância do socorro espiritual em auxílio a esses infelizes. A indução do estado de inconsciência é premente necessidade para estes espíritos, resguardando-os destes graves quadros, representando as maiores dificuldades para os obiatras, pois as condições adversas de trabalho e a intensa agitação que os domina dificultam sobremodo a necessária concentração de energias hipnóticas para o êxito do socorro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:34 am

Os aflitos que sucumbem abruptamente em meio a descomunal susto, como aqueles surpreendidos por uma explosão, também vivenciam idêntica condição de emancipação transitória e permanecem tentando recolher o corpo esfacelado, sem compreender o que se passa, em estado de completa demência, requerendo o mesmo tipo de urgente assistência. O pavor, sobrepondo-se ao ódio, no entanto, faculta-lhes facilitado mergulho na inconsciência da morte, demonstrando-nos que a crueldade é força coerciva de acção caótica, desalinhando-nos o mundo íntimo com muito maior intensidade.
Em muitas ocasiões, principalmente quando o desencarnante detém méritos que lhe facultem um desprendimento ameno, o óbito traumático requer o chamado túnel de escape, fenómeno pouco conhecido que convém descrevermos com detalhes.
Trata-se de um verdadeiro canal de transição, entretecido em matéria ideoplástica, que envolve o espírito em processo de desprendimento, usado para isolá-lo do ambiente dimensional terreno e projectá-lo, de imediato, na realidade espiritual.
Muitos daqueles que experimentaram o fenómeno de “quase-morte”, conseguindo retornar ao corpo físico no último instante, quando ainda é possível reassumir a vida, puderam visualizá-lo, descrito como um longo e escuro tubo, quase sempre intensamente iluminado em sua abertura final, para onde são atraídos, favorecendo-se o traspasse com agradável sensação de plenitude espiritual.
Comumente parentes e amigos de nosso Plano os aguardam do outro lado, projectando-os, em decorrência da diferenciada arquitectura espacial que sustém o mundo do Além, em lugar aparentemente distante de onde se encontram. Os obiatras são adestrados na confecção deste adutor de emancipação, proporcionando grande lenitivo aos traspasses excessivamente traumáticos.
Vítimas presas em meio aos escombros de bombardeios, às vezes consumidas por chamas, atadas às ferragens de aeronaves ou sufocadas no interior de embarcações levadas a pique, devido aos elevados cabedais morais conquistados no exercício da bondade encontram neste recurso eficiente meio para um desenlace confortável. Infelizmente, porém, poucos eram os que guardavam condição para utilizá-lo com proveito.
Muitos combatentes, excessivamente arraigados ao ódio, ao se desvencilharem de seus restos mortais, são arrebatados para o contingente de desencarnados que servem aos exércitos umbralinos, sem que se possa impedi-los. Compõem exóticos batalhões de soldados esquálidos, estropiados e dementados, comandados por hábeis generais das Trevas, que seguem guerreando nas regiões infernais, aprazendo-se em assustar os incautos, excitar a destruição e fazer prisioneiros aqueles que se lhes afinam pelos laços da crueldade, escravizando-os para fins indignos.
E outros há que, após o traspasse, buscam seus algozes ainda encarnados, quando podem identificá-los, jungindo-se-lhes ao plano mental, em mordaz e prolongado assédio obsessivo. Transformados em verdugos, continuam, desde o Plano do Espírito, a urdidura de vindictas, perpetuando o duelo, até que o amor os transforme em amigos, na incansável esteira do destino.
Vemos, assim, de forma inquestionável, que a guerra continua no nosso mundo com idênticos requintes de barbaridades e fundamentada nos mesmos injustificáveis interesses da Terra, perpetuando a destruição, espargindo dores e prosseguindo a semeadura de infelicidades.
A guerra no Além guarda, portanto, íntima correspondência com a praticada no Plano Carnal, comumente se lhe associa aos propósitos e, inclusive, utiliza armamento muito semelhante. Os enfrentamentos são igualmente brutais a ponto de produzirem danos aos organismos em luta. Obviamente, no Mundo Espiritual a vida do inimigo não pode ser aniquilada, contudo, o psicossoma é passível de sofrer lesões à semelhança do corpo físico. Tal lesão, porém, guarda íntima relação com o grau de densidade da tessitura perispiritual. Quanto mais embrutecido é o espírito, mais densa é sua matéria constitutiva, tornando-a susceptível de sofrer danos em sua contextura, enquanto que entidades de grande envergadura evolutiva são completamente imunes a qualquer agressão externa.
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Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire - Página 9 Empty Re: Ícaro Redimido - A vida de Santos Dumont no Plano Espiritual - Adamastor/Gilson Teixeira Freire

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:34 am

Por isso os espíritos inferiores são capazes de se ferir como se estivessem na carne e, sofrendo traumas extensos, que ultrapassem a elevada capacidade regeneradora do perispírito, podem entrar em estado de colapso da consciência, encaminhando-se para os fenómenos da ovoidização.
Naturalmente que não é possível a completa anulação da individualidade, tampouco a destruição do aparelho psicossomático que veste o ser em evolução; este, contudo, é passível de se retrair a patamares inferiores de organização, acompanhando a degradação do psiquismo, segundo os imperativos que determinam a segunda morte.
Ademais, os projécteis e explosões dos artefactos humanos podem também contundir entidades inferiorizadas, excessivamente materializadas e sintonizada com o ambiente carnal, promovendo-lhes iguais lacerações perispirituais. Devido a este fenómeno, o lamentável resultado das guerras, comumente, não é somente a multiplicação das mutilações e mortes físicas mas também a proliferação de traumas espirituais que podem evoluir para graves contracções da consciência, resultando em elevado número de ovóides nos ambientes de batalhas.
Não se surpreenda o estudioso diante desta revelação. O instinto aguerrido acompanha o ser no Além, onde as rivalidades são tão expressivas quanto as praticadas no palco terreno. Disputas de hegemonias, conflitos de interesses divergentes e práticas de vinganças fazem do submundo do Além um reino de atritos e rixas constantes, envolvendo todos os que se lhe subjugam ao domínio das aviltantes emoções. Aos vencidos, como na Terra, impõe-se o cárcere, a escravidão e a ignóbil exploração de recursos vitais, em perpetuação de ódios que varrem os séculos e se estendem ao plano físico, onde prosseguem disseminando seus dramas até se desfazerem na dor e no amor.
Os conflitos terrenos, destarte, são ainda passíveis de promoverem perturbações nas Esferas Extrafísicas. Guerras de grandes proporções podem contaminar o campo vibratório do planeta pela disseminação dos eflúvios do ódio e dos sofrimentos, perturbando a vida do espírito em qualquer nível em que se encontre.
A intensa absorção das energias mentais degradadas acomete os espíritos incautos que se lhes sintonizam, ocasionando-lhes lesões fluídicas, caracterizando patologia própria do psicossoma com manifestações variadas. Os casos mais leves se expressam com sintomas de náuseas e mal-estar, evoluindo para o aparecimento de máculas cutâneas arroxeadas, e os mais graves caminham para um quadro onde está presente a mesma fisiopatologia do choque e dos quadros tóxico-infecciosos da carne.
Tarefeiros inexperientes, imbuídos da intenção de servir, porém ainda necessitados de aprimoramento moral, que costumeiramente não conseguem manter postura de imparcialidade nos conflitos, podem sofrer esse contacto fluido, requerendo afastamento de suas actividades e tratamentos específicos. Muitos recém-desencarnados, impossibilitados de pronta remoção para planos de refazimento e sem o isolamento vibracional de nossas enfermarias, também se contaminam com essas emanações, agravando-se-lhes a recuperação. Por isso os trabalhadores de nosso Plano, comumente os menos habilitados, como Alberto, periodicamente necessitam afastar-se do ambiente de actividades para a descontaminação fluídica, pois, de forma bastante variável absorvem-nas a ponto de lhes comprometer a saúde perispiritual. Recorrem à hidroterapia, recurso capaz de eliminar com eficiência esses eflúvios negativos, impedindo que se acumulem em níveis perigosos. Porém, é forçoso confessar que, em maior ou menor grau, todos nos deixávamos contaminar pelas vibrações reinantes, sofrendo-lhes as consequências e somente os espíritos muito superiores podem servir, incólumes, no hostil ambiente das batalhas humanas.
Esses altos teores de emanações psíquicas da guerra, provenientes dos entrechoques das torpes emoções humanas, aglomeram-se ainda, perigosamente, na atmosfera planetária e, ao atingirem níveis inadequados, desabam em espantosas tempestades vibracionais, imperceptíveis aos olhos humanos. Rompendo o equilíbrio espiritual do orbe, explodem em espectaculares relâmpagos de fogo, reverberando nas regiões magnéticas do Plano Espiritual como reflexo dos imensos dramas humanos, acumulados em perigosos eflúvios de ódios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:34 am

Fonte de imensos sofrimentos para as entidades inferiores, são precisamente previstas pelos nossos técnicos, que nos avisam a tempo de nos recolhermos em abrigos seguros a fim de não sermos surpreendidos por elas, em meio aos espavoridos guerreiros desencarnados que prorrompem em estridentes fugas. Embora causem danos ao ambiente espiritual inferior do planeta, são recursos de reequilíbrio da Lei Divina, impedindo-se males maiores e irreversíveis.
Muitas vezes, envolvidos em demasia com o fragor das contendas e assoberbados pelas intensas actividades socorristas, podíamos sentir as ícaro Redimido - 391vibrações dos explosivos bélicos dos homens, e os estilhaços em movimento nos atingiam causando-nos estranhas e assustadoras sensações, se nos encontrássemos muito próximos a eles, devido à persistência, no perispírito, de reflexos condicionados oriundos da vida física. Os menos avisados, como Alberto, por vezes precisavam ser apoiados, pois se sentiam desfalecer. Com o tempo, porém, adestrávamos as emoções, dominando-as completamente, evadindo-nos da sintonização com a balbúrdia que imperava na ribalta de nossas actividades.
O terrível panorama da guerra, visto do Além, multiplicando-lhe o penoso realismo, deveria coibir no encarnado a sua prática, estimulando- lhe a apressada busca de soluções pacíficas para suas contendas. Os recursos gastos e o dispêndio de esforços seriam suficientes para fazer feliz todo o planeta, suprindo todas as suas necessidades. Mas prefere o homem deixar-se imolar pela aspiração de domínio e a ilusão de que o desenvolvimento de armas poderosas poderá lhe facultar a almejada paz e segurança na Terra. E, acreditando que a morte é o fim de tudo, guarda ele, fixado em renitente materialismo, a estranha ilusão de que seja possível eliminar os oponentes, simplesmente matando-os, impondo no cenário terreno os seus interesses, livres de toda e qualquer oposição. Triste engodo, jamais se liquida quem quer que seja; e do Plano do Espírito a pendenga segue seu mesmo rumo, muitas vezes agravada, aguardando solução real na Lei Divina. Saibam os homens que a destruição dos inimigos não é solução definitiva para suas querelas, pois a vida continua carreando suas desavenças para além da morte; por isso as guerras jamais resolvem desentendimentos e animosidades entre os povos. Nunca terminam com a capitulação do opositor, mas somente quando vencidos e vencedores estabelecem a fraternidade e o colaboracionismo por norma de relação.
Sem olvidarmos ainda que as crueldades praticadas na guerra, onde o homem sente que lhe é lícito o exercício de toda maldade, geram a necessidade, em futuras reencarnações, dos grandes desastres colectivos, quando a dor comparece a fim de propiciar a colheita dos frutos semeados, conferindo preciosas lições aos espíritos e fixando ensinamentos necessários ao equilíbrio dos povos.
Por tudo isto, estejamos absolutamente cientes de que não há vitoriosos na guerra, onde todos são derrotados e somente o amor é arma poderosa o bastante para apaziguar todas as contendas e vencer definitivamente os inimigos, transformando-os em verdadeiros irmãos.

93 Ver glossário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:35 am

34 - Um Pedestal Vazio
‘Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Jesus - Mateus, 6:21

Transcorria ainda pouco tempo de nossa chegada e Alberto mantinha-se ansioso por rever os locais e os amigos de sua convivência terrena. Sentia saudades dos seus mecânicos, de António Prado, o conselheiro das horas difíceis, de Sem, o companheiro que o retratara tantas vezes nas caricaturas, contribuindo para popularizá-lo nos meios parisienses e muitos outros que lhe entreteceram, agradavelmente, a romagem física. Contudo, a vida é uma onda em permanente renovação e somente as construções na eternidade permanecem imutáveis. Muitos dos amigos tomaram rumos diversos e o panorama lhe era agora muito distinto dos antigos tempos. As uniões imorredouras somente são aquelas que transportamos no coração e que o trânsito pelas diferentes dimensões do existir não pode jamais apagar.
— Não se preocupe em procurá-los, Alberto. Aqueles que se fixaram ao seu destino de forma definitiva, tornarão sem que se esforce por reencontrá-los — dizia-lhe, na tentativa de consolá-lo. — Todos, indistintamente, trazemos nossas nostálgicas lembranças terrenas e gostaríamos de rever os antigos ambientes com que nos comprazíamos quando encarnados, porém muitos deles não podem ser refeitos, pois a acção inesgotável do tempo a tudo modifica. Acalme-se e tratemos do serviço que nos compete, sem exigir da vida outro pagamento que não a paz da consciência.
Destarte, nosso amigo, dominado por fáusticos sentimentos, insistia para que pelo menos revisse os locais de sua preferência. A antiga residência na rua Washington, sua oficina de Saint-Cyr, onde tinha o seu hangar, deveriam estar intactos, porém, sobretudo, desejava estar novamente diante do seu ícaro alado, a estátua que tanto o impressionara e que permanecia indelevelmente delineada em sua memória, como a mais alta homenagem que recebera na Terra.
Diante de sua insistência, anuí ao seu pedido, pois de fato o amigo trazia o coração ainda fixado nos falazes dividendos terrenos. Adelaide, convidada a nos acompanhar, não pôde nos seguir em decorrência de suas actividades na enfermaria e demandamos, sem demora, a praça de Saint-Cloud, por onde iniciaríamos nossa pequena excursão e onde se erigia sua majestosa escultura em bronze, sobre um pedestal que lhe ostentava a esfinge e as inscrições, exaltando suas pioneiras e surpreendentes conquistas na aeronavegação.
Ao atingirmos o local, Alberto estancou de chofre. O olhar extasiado fitava o inesperado, enquanto o assombro se estampava em sua face. O pedestal estava vazio! Constrito pesar lhe vestiu a alma de decepção. Lágrimas discretas lhe rolaram de imediato pelo rosto e, cabisbaixo, não se animava a tecer qualquer comentário.
Seu amado ícaro sucumbira, possivelmente abrasado pelo sol da vileza humana que varre de sua memória os valores superados pelo tempo. Tácito, diante do monólito que restara de seu monumento, a ideia que de imediato perfilou em sua mente era a de que ele não merecera mais o título que lhe conferiram os homens, pois outros, de fato, haviam se assenhoreado de seu lugar na História. A mais cara recordação que deixara na Terra havia desaparecido, seu nome e os registos de seus feitos estavam, definitivamente, banidos da memória da humanidade.
Desconcertado, intentava disfarçar, desairosamente, sem conseguir, o imenso desapontamento que lhe tomara de assalto. Concitando-o à ponderação e à superação de seu injustificável desvalimento, disse-lhe:
— Não se intimide desnecessariamente diante do malogro, Alberto, como uma criança que acaba de perder um precioso brinquedo. Compreendo que você o guardava como egrégia relíquia, lembrança definitiva entre os homens de suas memoráveis façanhas e jamais acreditou pudesse ser derruído. Mas tudo é possível no transitório reino das formas. Olvide seu esplendoroso passado e retornemos ao serviço, único caminho que pode preencher a inacção que por vez nos abate a alma.
— Acredito que pelo menos me restará a cópia, embora imperfeita, que deixei no túmulo da família...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 02, 2024 11:35 am

— Não se esvaia diante da lição de desprendimento, Alberto. Recorde que Jesus nos recomendou não estacionar o coração nos bens perecíveis da Terra, onde os ladrões os podem roubar e a traça roer, pois quem se fixa nessas possessões perecedouras está sujeito a recolher desilusões e sofrimentos inadequados. Somente os tesouros espirituais são eternos, por isso aceite a corrigenda e olvide definitivamente as efémeras referências humanas.
Entreguemos ao mundo, decididamente, o que é do mundo, como nos disse o Mestre, se não queremos fazer da existência um amontoado de desilusões.
Esqueça os epítetos que lhe deram e os triunfos que você conquistou, inumando-os definitivamente na memória do tempo, tratando de confeccionar novo futuro em base aos reais bens do espírito. Eis a única maneira de desvencilhar-se também das lembranças amargas que tanto o constrangem.
Recorde-se das sábias palavras que Heitor lhe deixou.
Procumbido, Alberto se deu por vencido, esforçando por se desfazer das recordações dos esplendores vividos. Deixando exaurir por completo o entusiasmo de rever o palco de suas preciosas conquistas terrenas, parecia conformar-se. Recolhi-me no silêncio, caminhando ao seu lado, de volta aos nossos afazeres.
Após longo intervalo o irmão, enfim, refeito de seu dissabor, animou- se a considerar:— Obrigado, irmão, por dividir comigo as dores de minha alma.
Infelizmente precisava desse choque para assimilar o aprendizado no qual tanto os amigos insistem. Compreendo que não posso mais me sustentar nas gloriosas conquistas do passado, como alimento necessário à alegria do espírito, nutrindo-me de continuada arrogância. Devo esquecer o nome que enverguei e o que ele representou na Terra, cientificando-me de que colaborei com o progresso humano apenas por lhe ser devedor e nada mais. Fixei-me na ilusão de que fui um homem ilustre, portador de genialidade acima dos comuns, porém hoje sei que nada inventei e nada fiz demais.
Ante minha admiração, por ver que, enfim, a lição surtia o seu efeito de forma quase instantânea, continuei a ouvir suas reflexões, amadurecidas nas peias da dor:— Sustentado por essa errónea convicção, desejava prosseguir, gabando-me dos mesmos doentios enganos do pretérito, perpetuando os seus males. Meu pecado chama-se, com efeito, orgulho, pois tudo que realizei foi mero devaneio para lustrar-me a vaidosa personalidade e não posso vangloriar-me de alguma coisa ter inventado. Agora vejo que as sábias palavras dos amigos e suas abalizadas orientações de pouco me valeram. Foi preciso que eu me deparasse com a dura realidade dos fatos para convencer-me da falácia de meus propósitos. Eu careço olvidar, decididamente, de uma vez por todas, as máculas do passado, mesmo o galardão da fama, que me lastima tanto quanto a lembrança dos fracassos. E hoje pude verdadeiramente alijar de meu coração o fascínio pelo pretérito e, de cabeça erguida para a luz do Cristo, quero percorrer novas estradas da realização interior, evadindo-me das perigosas rotas das quiméricas conquistas exteriores... Sinto que libertei enorme peso da consciência. Não desejo mais fazer-me vítima de minhas memórias, prisioneiro de meus devaneios, cativo de meus pretensos inventos... fui um mero inventor de ilusões e nada mais... Encerremos o assunto, pois sei que já o cansei sobremaneira com minhas inconvenientes rememorações, e os meus próprios dissabores já me bastam...
— Alegro-me por vê-lo, finalmente, cedendo às evidências e terminando por assimilar o bom senso indispensável ao seu completo soerguimento. Deixemos de cuidar das prerrogativas do ego se queremos ser felizes. Rumemos para o porvir, entregando o que fizemos de bom para a vida, agradecidos a Deus pelas oportunidades de algo realizar em prol da humanidade. Renunciando às notoriedades do pretérito, certamente os momentos de amarguras e os equívocos que lhe martirizam a lembrança também evadir-se-ão de seu íntimo, permitindo-lhe novas e felizes aquisições para o espírito, meu amigo. Jesus sem dúvida o abençoará nesse propósito. Sigamos para frente, a passos decididos na trilha do Evangelho, deixando ao passado seus próprios dissabores e suas fugazes conquistas. Quem vive de ilusões colhe decepções.
Alberto voltava a sorrir, denotando que o preceito fora assimilado em plenitude.
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