LUZ ESPÍRITA
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:48 pm

- Pois, se for necessário, irei embora daqui com Manuela - havia altivez na voz de Augusto.
Tenho meus bens e dinheiro suficiente para viver com ela em qualquer lugar desse mundo.
A senhora Cândida correu a abraçá-lo chorosa.
- Por favor, filho, não faça isso, não nos deixe.
Você sabe que você e seu irmão são tudo o que temos na vida.
Não troque o amor de seus pais pelo amor de uma mulher que só vai fazê-lo infeliz pelo resto da vida.
Coração de mãe não se engana, se você ficar com Manuela e desistir do noivado com Rosa Maria, será o mais infeliz dos homens.
Pense e desista enquanto é tempo.
As palavras da mãe, ditas com tanta veracidade, tocaram mais uma vez o coração de Augusto.
Sentiu o chamado do coração dizendo que não era para ir por aquele caminho.
De repente e sem explicação, sua decisão quase caiu por terra.
Manuela, percebendo que ele poderia ser influenciado pelas palavras da mãe, tornou:
- Não vê que sua mãe está agindo por preconceito?
Quem nesse mundo não comete erros?
Só porque errei e estou desonrada e sem nome, ela não quer nossa união.
Mas nosso amor é mais forte que tudo, Augusto.
Se não fosse, você não teria me perdoado tão rápido.
Não ceda aos preconceitos de sua mãe, em nome do nosso amor.
Augusto, ouvindo aquilo, mais uma vez deixou-se levar pelas ilusões de vida feliz ao lado da amada e, afastando delicadamente a mãe de si, disse:
- Minha decisão está tomada.
Ficarei com Manuela, a única mulher a quem amei na vida - olhou para os pais fixamente e asseverou.
E vocês têm até a noite para decidir se vão ficar de nosso lado ou não.
Caso não fiquem, eu vou sentir muito, mas partirei daqui com Manuela sem data para retorno.
O senhor Frederico já ia retrucar quando Cândida, com um gesto, impediu que falasse, dizendo:
- É nosso filho amado, Frederico.
Vamos nos recolher e pensar melhor.
Não vamos tomar nenhuma atitude assim, com a cabeça quente.
O que menos quero é perder Augusto, eu não suportaria.
Frederico foi obrigado a concordar com a esposa e ambos se retiraram.
Quando ficaram a sós, Manuela e Augusto beijaram-se várias vezes com paixão.
Logo após, ela lembrou:
- Não está na hora de você escrever as cartas, rompendo o noivado?
Augusto sentiu-se estremecer.
Queria Manuela mais que tudo, mas sentia que faria Rosa Maria sofrer muito com aquilo.
Contudo, era necessário e ele não perderia tempo.
Dirigiu-se até a biblioteca, tomou da pena e do tinteiro e passou a escrever.
Ao seu lado Manuela sorria feliz, tudo estava saindo conforme planeara.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:48 pm

CAPÍTULO 20
Fazia três dias que Augusto não aparecia na quinta de Santo António e nem dava notícias.
Aquilo estava deixando Rosa Maria inquieta e irritada.
O que estaria acontecendo?
Lúcio ia todos os dias noivar com Isabel, mas também não tinha nenhuma notícia.
Rosa Maria poderia imaginar tudo, menos que seu amado estaria naquele momento desistindo de se casar com ela e voltando para a mulher que amara no passado.
No final do terceiro dia, sem mais aguentar de ansiedade, pediu a Lúcio que fosse até o palacete dos Souza e Silva e buscasse informações.
Sua ansiedade então aumentou, porquanto Lúcio só iria trazer notícias no outro dia pela tarde, hora em que chegava à quinta para ver Isabel.
Durante a noite, Rosa Maria não conseguiu dormir direito.
E se Augusto estivesse doente?
E se algo grave tivesse acontecido?
Ela estava preocupada.
Durante as poucas horas que dormira durante a noite, teve pesadelos em que uma mulher vestida de preto ria para ela chamando-a de imbecil.
Acordou ainda mais ansiosa e mal se alimentou no café da manhã, ansiosa para a tarde chegar.
Mas Rosa Maria não precisou esperar tanto.
Logo depois do café, enquanto ela, Isabel e tia Elisa admiravam a paisagem matutina, sentadas nas grandes cadeiras da varanda, viram uma carruagem surgir na estrada.
O coração de Rosa Maria disparou quando reconheceu tratar-se de uma das carruagens da família de Augusto.
Certamente, ele vinha pessoalmente explicar, finalmente, o que tinha acontecido.
Mas qual não foi sua decepção quando, em vez de Augusto, desceu da carruagem o mordomo da família.
O homem, todo empoado e com excesso de formalidade, cumprimentou a todas e disse:
- Vim em nome do senhor Augusto entregar duas missivas.
Uma para a senhorita Rosa Maria e a outra para a senhora Margarida.
- Missivas? - estranhou Rosa Maria.
Onde está Augusto?
O que aconteceu com ele?
- Desculpe-me, senhorita, mas não estou autorizado a dizer nada - disse Polidoro, com excessiva educação, sem nem olhá-la direito.
O coração de Rosa Maria descompassou e um pressentimento ruim apossou-se dela.
Havia algo muito grave acontecendo e previa que iria sofrer.
Tia Elisa entrou para chamar Margarida quando Polidoro entregou-lhe a carta.
Com o coração batendo, parecendo querer pular do peito, ela se mostrava em dúvida se abria ou não a carta.
Isabel, percebendo o seu medo, aconselhou:
- Abra logo, Rosa.
Seja o que for, é sempre melhor saber a verdade.
- Estou com medo de sofrer.
- Não é deixando de ler o que tem na carta que você vai evitar o sofrimento.
Lendo ou não, você vai acabar sabendo o que é.
Por isso, abra logo.
Rosa Maria tomou coragem e abriu.
Quando começou a ler o conteúdo, junto com Isabel, foi empalidecendo aos poucos:
"Querida Rosa Maria,
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:48 pm

Posso estar parecendo um covarde em escrever-lhe esta carta, mas seria ainda muito mais covarde se não escutasse meus sentimentos.
Eu gostei muito de você, acreditei mesmo que estava amando-a, mas um acontecimento veio me tirar essa certeza.
Manuela, a mulher que amei há muitos anos, voltou para Lisboa e foi me pedir ajuda.
Quando fiquei frente a frente com ela, percebi que meu amor não havia acabado e que a amava como no primeiro dia.
Sei que deve estar sendo muito duro para você ler essas palavras, mas preciso ser honesto.
Amo Manuela e não você, apesar de lhe ter um carinho muito especial.
Conversamos muito e eu a perdoei por ter me abandonado anos atrás.
Resolvemos ficar juntos e oficializar de vez nossa relação.
Estou rompendo, por meio desta carta, o nosso compromisso.
Espero que um dia seu coração generoso possa me perdoar.
Fique em paz!
Do seu agora amigo, Augusto Souza e Silva".
Isabel precisou amparar Rosa Maria para que ela não caísse.
Grossas lágrimas brotaram de seus olhos pela força da decepção e traição.
Nunca esperava que Augusto pudesse fazer isso com ela.
No começo apenas havia se interessado pelo seu dinheiro e beleza, mas com o tempo passou a amar Augusto com todas as forças de seu coração.
Como viveria, a partir de então, sem seu amor?
Rosa Maria partiu para o quarto chorando, enquanto Margarida, sem entender o que estava acontecendo, recebia a outra carta que leu com tia Elisa.
Na missiva endereçada a ela, Augusto contava a mesma história, pedia desculpas pelo que estava fazendo, mas infelizmente não poderia mais manter a palavra e se casar com Rosa Maria.
A decepção e a tristeza enevoaram os olhos da velha matriarca, que apenas disse:
- Você está dispensado, pode ir.
Polidoro perguntou:
- A senhora deseja mandar algum recado ou missiva para Augusto ou a seus pais?
- Não é necessário.
Diga-lhes que entendo tudo e lhes desejo boa sorte.
- Mas o que é isso, Margarida? - tornou tia Elisa indignada.
Sua filha foi enrolada, passada para trás, você foi enganada e tudo fica por isso mesmo?
- É melhor assim, Elisa - disse Margarida, triste e conformada.
Nós não temos mais um homem dentro desta casa para fazer o que deveria ser feito, por isso vamos nos render à realidade e tratar de ajudar Rosa Maria.
- Mas isso é um desrespeito a uma moça de família feito Rosa Maria - continuou tia Elisa, colérica.
Olhou para Polidoro e gritou.
- Pois, eu tenho um recado para mandar para Augusto e os pais dele.
Diga-lhes que eu, Elisa Barbosa, tia de Rosa Maria, lhes desejo toda desgraça do mundo.
Desejo que Augusto e essa tal Manuela sejam infelizes para o resto da vida e paguem tudo o que fizeram à minha sobrinha na miséria e na doença.
E diga aos pais dele que desejo que os dois, por apoiarem esse acto indigno do filho, apodreçam de remorsos e ainda terminem doentes, de preferência numa cama para que eu os possa visitar um dia.
Agora se vá, saia daqui, seu afeminado.
Polidoro corou de vergonha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:49 pm

Nunca alguém tinha dito coisas semelhantes para aquela família, muito menos o chamado de afeminado, coisa que ele era, mas não gostava que ninguém observasse.
Entrou na carruagem e saiu em disparada cruzando rapidamente a porteira e sumindo na estrada.
Tia Elisa e Margarida entraram e foram ter com Rosa Maria no quarto.
Ela estava chorando muito, abraçada a Isabel.
Um misto de tristeza e ódio invadira todo o seu ser e ela não sabia qual dos dois sentimentos era maior.
Não havia palavras para consolá-la, mesmo assim tia Elisa tentou, afagando os seus cabelos:
- Acalme-se, querida.
Sei que você ama muito Augusto, mas não existe só ele de homem no mundo.
Aliás, o que mais tem nesse mundo são homens lindos e sensuais.
Você pode ter quantos quiser com esse corpo e rosto maravilhosos que tem.
Rosa Maria, irritada com aquelas palavras, continuava a chorar.
Tia Elisa prosseguia sem notar a irritação da sobrinha:
- Venha comigo numa viagem a Paris.
Lá o sexo é livre, não há preconceitos, você vai vivenciar tudo o que quiser sem que ninguém diga nada.
Depois de experimentar muitos e muitos homens, duvido que um dia você vá se lembrar de que Augusto existiu.
Foi assim com meu marido e...
Tia Elisa ia continuar quando Rosa Maria soltou um grito estridente:
- Chega!!! Saia a senhora daqui agora!
Aliás, saiam todos, não quero ninguém no meu quarto, preciso ficar sozinha, me respeitem nesse momento.
Assustadas com o descontrole de Rosa Maria, todas saíram deixando-a só e trancada.
Já na sala, Margarida, aborrecida com tia Elisa, disse:
- Como você teve coragem de sugerir essas imoralidades à minha filha?
Não tem vergonha não?
Tia Elisa não se importou:
- Pois tenho certeza de que ela vai reflectir e verá que estou certa.
Rosa Maria amou muito Augusto e eu duvido que, depois de um amor frustrado desses, ela vá querer outro homem.
Por isso, o melhor para ela é se divertir, ela é moça e não pode ficar para sempre trancada dentro dessa roça.
- Pois eu achei uma falta de respeito, você está querendo induzir minha filha a ser libertina como você sempre foi - bradou Margarida, colérica.
Não quero você mais aqui na quinta, volte para a casa de sua filha ou procure outro lugar para ficar, dinheiro é que não lhe falta.
Isabel interveio:
- Acalme-se, mamãe, a senhora sabe como tia Elisa é.
Ela tem esse jeito liberal, porque viveu em outros países, conheceu outras culturas.
Ela ama a senhora, por isso peço que reconsidere essa decisão.
Margarida não disse nada e com cara fechada saiu, indo para o quarto.
- Não se ofenda com o que mamãe disse - tornou Isabel, conciliadora.
Ela está nervosa e não entende a forma da senhora viver a vida.
- Fique tranquila, Isabel, não me ofendi com o que Margarida disse.
Entendo que fui apressada e falei o que não devia, mas essa será a única solução para Rosa Maria, de agora em diante.
Isabel não conseguia entender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:49 pm

- Por que é a única solução?
Rosa é moça, jovem, bonita, tem tudo pela frente.
Pode amar alguém de novo e ser feliz.
- Ah, minha querida, você não tem a minha idade, não conhece o mundo nem as pessoas do jeito que eu conheço.
Uma mulher como Rosa Maria, que se entregou de corpo e alma a um amor igual ao de Augusto, não vai querer ser feliz com outro.
Se ela fosse outra mulher, com personalidade diferente, eu nem diria isto, mas conhecendo-a como conheço, sei que Rosa Maria nunca mais vai se entregar ao amor.
Isabel sentia que o que a tia dizia era verdade.
Tia Elisa prosseguiu:
- E ainda há outro problema.
Rosa Maria, assim como você, não é mais virgem, não tem mais honra.
Se encontrar um homem de bem para se casar, o casamento termina na lua de mel quando o moço descobrir que ela já foi usada por outro.
Isabel surpreendeu-se:
- Como a senhora sabe disso?
- Na sexta-feira, após o almoço e o pedido de noivado, enquanto nós estávamos na varanda, Rosa Maria sumiu com Augusto.
Quando entramos para a sala e você foi tocar piano, saí sem que percebessem e fui procurá-los no pomar, estava estranhando a demora.
Então, vi os dois nus fazendo sexo debaixo de um pessegueiro.
E então? O que me diz?
Augusto tirou a honra de sua irmã e dificilmente ela conseguirá se casar com um rapaz de bem.
A não ser que queira se unir a um velho viúvo.
Isabel estava horrorizada.
Tia Elisa, além de ter invadido a privacidade alheia, falava daquilo como se tivesse contando uma vantagem.
Ia reclamá-la, mas se lembrou de sua ajuda quando quis se deitar com Lúcio e não disse nada.
- A senhora tem razão, mas o pior a senhora ainda não sabe.
- O que é?
- Rosa Maria ficou grávida.
- Como você sabe?
- Eu não tenho certeza, mas ela me garantiu ontem à noite que está grávida de Augusto.
Disse que mulheres sentem essas coisas.
Tia Elisa bem sabia.
Ela só tivera uma filha, mas abortou inúmeras outras crianças, filhas de homens que ela nem sabia quem eram.
E todas as vezes que engravidava, ela sentia.
- Então, a situação é pior do que pensei.
Imagine quando sua mãe descobrir isso?
Isabel não falou mais nada e foi ter com Margarida no quarto.
A mãe continuava chorosa, sem saber como ajudar a filha num momento tão difícil.
Isabel também não sabia como fazer, por isso se limitou a lhe afagar os cabelos até que se acalmasse mais um pouco.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:49 pm

CAPÍTULO 21
Sentada sobre uma pedra, às margens do Rio Tejo, Rosa Maria observava suas águas límpidas e tranquilas, vez por outra jogando pedrinhas nelas.
O impacto da notícia acerca de Augusto já havia se amortecido e, então, em lugar da raiva e da revolta, havia apenas um grande e imenso vazio dentro de sua alma.
Não sabia como e nem por que viveria dali em diante.
Mesmo tendo a certeza de que estava grávida, não se sentia mãe e nem tinha por objectivo viver para o filho.
A única certeza que tinha na verdade era que doaria a criança assim que ela nascesse.
Rosa Maria não tinha coragem para abortar, mas ao mesmo tempo não queria e sabia não ser possível viver com aquela criança.
Sua mãe não sabia de sua gravidez e, quando soubesse, certamente não aprovaria e, provavelmente, se ela não doasse a criança, seria expulsa de casa e sua única solução seria pedir abrigo no bordel de madame Celina.
Tornar-se prostituta era a última coisa que ela queria para sua vida.
Amara Augusto mais que tudo, mas ainda tinha o sonho de se casar com um homem rico que pudesse lhe dar vida de rainha.
Sabia também que não mais conseguiria casar-se com um rapaz de bem da corte, mas havia muitos viúvos ricos e idosos loucos para um novo casamento e era um deles que ela iria conquistar.
Mas, mesmo viúvos, solitários e idosos, nenhum deles se arriscaria a casar com uma mulher que já tivesse filhos.
Por isso, passaria todo o tempo da gravidez na quinta sem aparecer na corte.
Depois que o filho nascesse, ela o entregaria à Roda dos Expostos e ficaria livre para conquistar a riqueza e a ascensão social com que sonhava desde menina.
Perdera Augusto, o amor de sua vida, por isso viveria apenas para usufruir do dinheiro e de todo o bem que ele pudesse lhe oferecer.
Estava assim reflectindo, quando percebeu que alguém se aproximava a passos lentos.
Olhou para trás e viu que era Carlinhos.
O rapaz sentou-se em outra pedra próxima a ela e perguntou:
- O que faz aí tão triste?
- Pensando na vida e em como ela é injusta.
Depois de tudo o que aconteceu comigo, não posso pensar em outra coisa.
Carlinhos observou-a por alguns segundos e disse:
- Se eu lhe dissesse que a vida não é injusta, você acreditaria?
Rosa Maria irritou-se:
- Lá vem você com suas ideias.
Fui uma pessoa confiante e cheia de esperança, sempre procurei ser boa para todos e em qualquer circunstância.
Mesmo assim, fui enganada pelo único homem que amei e ainda o perdi.
Como, diante de tudo isso, você vem dizer que a vida não é injusta? - sua voz reflectia toda amargura que lhe ia na alma.
Carlinhos disse calmo:
- Você está olhando a vida com os olhos da revolta e do ódio, assim não consegue enxergar sua grandeza.
Só com a paz no coração é que conseguimos compreender que a vida é maravilhosa, trabalha sempre a nosso favor e faz tudo certo.
Você diz que perdeu o homem amado, mas eu garanto que você não perdeu ninguém, e sabe por quê?
Ela balançou a cabeça negativamente e Carlinhos continuou:
- Porque ninguém é dono ou possui nada nessa vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:49 pm

Não somos donos nem do nosso corpo de carne que um dia, pela lei natural de transformação, irá morrer e retornar a terra, como então podemos dizer que perdemos uma pessoa, sendo que jamais a possuímos?
Rosa Maria estava confusa.
Carlinhos dissera coisas que confundiram seu raciocínio.
- Não posso concordar com isso.
Quando duas pessoas se amam, elas passam a pertencer uma a outra, devendo-lhe respeito e fidelidade.
Augusto era meu noivo e me trocou por outra, por isso, o perdi sim.
Carlinhos, acendendo calmamente seu cigarro de palha, prosseguiu com serenidade:
- Na verdade não é assim.
Quando Deus criou as pessoas, as fez individuais e, embora devamos caminhar juntos, ninguém pertence a ninguém.
A vida aproxima e afasta as pessoas conforme suas necessidades de aprendizagem e também pelas afinidades adquiridas ao longo das muitas vidas que viveram juntas.
Mas, mesmo as almas afins não são donas umas das outras, são apenas companheiras de viagem.
Por mais que amemos uma pessoa, chegará o dia da separação para que cada um possa viver novas experiências e aprender outros valores.
Se o amor que as une for verdadeiro, um dia estarão juntas para sempre, mas sem sentimento de posse e com a consciência de que mesmo amando, cada um pertence apenas a si mesmo.
Percebendo que era ouvido com atenção, Carlinhos continuou falando, inspirado pelo espírito do seu mentor:
- Por isso, Rosa Maria, você não perdeu ninguém.
Augusto, por escolha própria, desviou-se para outra experiência, e fique certa de que, tanto ele quanto você e também os outros envolvidos aprenderão muito com isso.
Na vida, não adianta revoltar-se com as atitudes das pessoas que amamos.
Quem realmente ama, respeita a liberdade do ser amado e não o impede de seguir pelo caminho que precisa para aprender a ser melhor.
Nesse ponto, você ganhou e não perdeu.
Para aqueles que amam, a distância física é um mero detalhe que o tempo vai resolver, o que realmente importa é que o sentimento de amor continue fluindo e dando bem-estar a quem o sente.
Por isso, não se revolte, nem diga que perdeu.
Nada está perdido na vida, pois tudo é experiência e no final todos saem beneficiados.
Carlinhos falava com a voz levemente modificada e Rosa Maria sentiu paz indescritível tomar conta de seu ser.
Percebendo que estava conversando com um espírito evoluído, perguntou:
- Mas por que logo eu tive de passar por uma experiência dessas?
Porque, além de tudo isso, estou grávida de uma criança que não poderei criar e terá de ser dada para a adopção?
Será que fui muito má nas outras vidas que vivi?
- Não justifique seus sofrimentos como tendo origem em vidas passadas.
Embora alguns fatos sejam reparações de erros do passado, eles só acontecem quando as pessoas não procuraram aprender pela inteligência e pelo amor.
Por isso, o que importa é o agora, quem você é e o que você pensa, e não o que você foi.
Você atraiu essas experiências para aprender os valores eternos do espírito.
O primeiro deles está aprendendo agora, que é que não somos donos de ninguém e nem responsáveis pelo que os outros fazem da própria vida.
Com esta separação, você está aprendendo que deve deixar livre tudo o que você ama e entregá-lo nas mãos de Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:50 pm

Se você tivesse essa consciência antes, não passaria por essa situação.
Ou Augusto não lhe abandonaria, ou você atrairia outra pessoa que realmente quisesse estar ao seu lado.
Rosa Maria sentia que aquilo era verdade.
Por mais que não quisesse admitir, sabia que o que Carlinhos dizia era sua verdade.
Ela estava acusando a vida e Augusto pelos seus sofrimentos, mas na verdade ela é que era a responsável.
Naquele momento, a consciência de Rosa Maria se abriu e ela queria saber mais, entender como a vida funcionava.
Por isso perguntou:
- E essa criança que está em meu ventre?
Você não falou nada sobre ela.
- Você disse que não poderá ficar com a criança, nem criá-la, mas isso é uma escolha sua, não está determinado.
Quando Deus coloca uma criança no ventre de uma mulher, é porque sabe que ela tem condições de cuidar desse espírito e ampará-lo sempre.
Você está fugindo de sua responsabilidade, mas é uma escolha sua e um dia terá de responder por ela.
Entre lágrimas, Rosa Maria tornou:
- Mas a sociedade é cruel, minha mãe jamais irá aceitar esta criança e eu jamais conseguiria me casar tendo um filho nos braços.
Carlinhos balançou a cabeça negativamente e afirmou:
- Vejo que, mesmo passando por todo esse sofrimento, você permanece iludida pelos valores distorcidos da sociedade e pelas ilusões do mundo.
Se continuar assim, sofrerá ainda mais.
Você diz que a sociedade é cruel, porque quer ser a pessoa certinha e normal que todos aplaudem e aceitam, além disso, acha que a felicidade verdadeira vem com a conquista de bens materiais, mas tudo isso é ilusão.
A sociedade está doente e por isso rotulou o que é certo e errado criando um modelo do que as pessoas devem ser.
Mas ninguém é igual a ninguém, e quando uma pessoa esconde sua própria natureza e forma de ser, em nome dos papéis sociais, vive infeliz e deprimida.
O preço que as pessoas pagam por querer ser iguais às outras é muito alto e é pago sempre em dor e sofrimento.
Cada um só é feliz sendo exactamente o que é.
Por isso, Rosa Maria, enfrente tudo e todos e tenha seu filho.
Jesus disse:
"De que vale o homem ganhar todo o mundo e perder sua própria alma"?
Não espere os aplausos da sociedade que é falsa e hipócrita, prefira os aplausos de Deus que certamente quer que você siga sua alma.
Sua mãe vai entender e aceitar essa criança, e só aceite um homem se ele tiver a sensibilidade de entender e aceitar você do jeito que é.
Querer se transformar para conseguir uma pessoa amada é ilusão e, quando você faz isso, só atrai pessoas falsas e materialistas em sua vida.
Só sendo original e aceitando-se como Deus a fez, é que será amada de verdade. Fora disso, tudo é mentira.
Carlinhos suspirou profundamente e voltou ao normal.
Sorriu para Rosa Maria que chorava emocionada e disse:
- Este espírito que aqui veio é muito evoluído, espero que a senhorita possa aproveitar tudo que ele lhe disse.
Levantou-se, tocou levemente o ombro dela e saiu.
Rosa Maria voltou a olhar as águas límpidas e cristalinas que corriam à sua frente, mas com certeza sua visão, naquele momento, passou a ser outra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:50 pm

CAPÍTULO 22
Depois desse dia, Rosa Maria foi acalmando cada vez mais o coração.
Passou a sentir um amor intenso e profundo pelo ser que estava em seu ventre e pensava como um dia pôde ter a ideia de abandoná-lo.
Foi combinado com Isabel que ela só contaria da gravidez à mãe após o casamento da irmã, pois Isabel não queria que mais um problema viesse atrapalhar a grande festa que estava preparando para sua união com Lúcio.
Os preparativos para o casamento de Isabel corriam rápidos, e tanto ela quanto Lúcio não cabiam em si de tanta felicidade.
Ele deixou definitivamente de frequentar a Casa da Perdição e prometeu a si mesmo jamais voltar a ter algum tipo de relacionamento com madame Celina.
Como ela não mais o havia procurado e parecia ter aceitado que o perdera para Isabel, Lúcio seguia preparando-se, despreocupadamente, para se casar.
Mas o que ele não sabia era que tanto madame Celina quanto Pedro, além de não terem se conformado, tramavam diabólico plano para o dia do casamento dos dois.
E o dia finalmente chegou.
Toda a mais fina e requintada Sociedade Lusitana tomou assento nos imensos bancos de madeira da não menos requintada e rica Basílica da Estrela, local escolhido pelos pais de Lúcio para ser realizada a cerimónia.
A igreja, encimada por uma cúpula e erguida ao alto de uma colina no oeste de Lisboa, já era famosa pela grande obra de arte que representava, pela extrema beleza do seu estilo barroco e neoclássico em que fora construída e parecia ainda mais bela pelo grande número de arranjos de tílias espalhando doce perfume que a senhora Tereza, mãe de Lúcio, mandara colocar por todo o ambiente.
O senhor Januário, postado no altar ao lado da mulher e de Lúcio, que jamais tinha sido visto tão belo, mantinha-se preocupado, pois tinha observado os pais de Rosalinda, o senhor Modesto e a senhora Brígida entre os convidados, bem como na última banca à esquerda, a prostituta Celina, que estava disfarçada e sorriu para eles ironicamente assim que entraram na nave. Januário se perguntava preocupado o que eles faziam ali, já que odiavam o casal. Tentou não pensar mais no assunto e concentrou-se na entrada da igreja quando a marcha nupcial começou a ser tocada.
Isabel, mais linda e feliz do que nunca, começou a entrar a passos lentos, sendo levada pelo irmão António, que a entregou a Lúcio assim que chegaram ao altar.
A emoção tomou conta de todos, principalmente de Rosa Maria que se lembrava de Augusto e de como poderia também estar se casando com ele e sendo tão feliz como Isabel.
A emoção também dominava a senhora Margarida por estar casando a filha caçula e com isso, sentindo-se praticamente com a consciência do dever cumprido com a família.
Tia Elisa, apesar de emocionada por toda a beleza que presenciava, não deixava de balançar a cabeça e pensar em como Isabel estava sendo tola, pois em vez de ter vida livre e com muitos homens, preferira se unir a um só pelo resto da vida.
O padre orou em latim, e finalmente os noivos disseram "sim", selando a união com leve beijo no rosto.
Nem bem Lúcio tirou os lábios do rosto de Isabel e teve sua atenção voltada para a porta da igreja onde alguém acabava de entrar gritando feito louco e segurando uma tocha na mão.
Todos ficaram nervosos com a cena e balançaram a cabeça sem entender.
Isabel empalideceu ao reconhecer Pedro, seu ex-noivo, com o corpo todo molhado, olhos faiscantes de ódio, aproximando-se dos dois.
Isabel gritou:
- Pedro?
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O que quer aqui?
Ele, com olhos ainda mais brilhantes de ódio, olhou para ela e para Lúcio dizendo entre dentes:
- Vim aqui para que você nunca, em toda sua vida, seja feliz.
Pensa que esqueci sua traição e abandono?
Pois, a partir de agora, você pagará por todos os dias de infelicidade e amargura que passei.
Depois do que eu fizer aqui, não haverá um único dia em sua vida que terá paz.
Isabel tremendo, apertou o braço de Lúcio e pediu:
- Segure-o, ele quer nos queimar.
Percebendo que Lúcio poderia imobilizá-lo, Pedro, num gesto rápido, jogou a tocha de fogo sobre o próprio corpo que começou a arder em chamas.
Uma verdadeira sensação de terror tomou conta de todos e ninguém se atrevia a se aproximar de Pedro, que, morrendo queimado pelas próprias mãos, ria de maneira macabra.
Aquela cena foi forte demais para Isabel e ela desmaiou.
Aos poucos, todos foram deixando a igreja ficando apenas Lúcio e a família de Isabel.
Ninguém ainda podia acreditar que Pedro havia jogado querosene por todo o corpo e se queimado, em seguida provocando a própria morte.
Poucos instantes depois, Pedro deixou de rir e seu corpo tombou ao chão já morto em meio às chamas que continuavam inclementes.
Lúcio, nervoso e transtornado, pediu que tirassem Isabel dali e a levassem para a carruagem de volta para casa.
Foi quando percebeu o senhor Modesto e a senhora Brígida se aproximando.
- Pelo visto não fizeram mal apenas à minha filha.
O jovem Pedro, com toda a vida pela frente, matou-se por causa da vil traição de vocês.
Tenho certeza de que pagarão caro por esse erro - disse Modesto, com gravidade na voz.
- Não tivemos culpa de nada - bradou Lúcio, com raiva.
Não somos culpados se Pedro foi um fraco que não aguentou ser trocado por outro.
Saiam daqui.
- Vai dizer que também não tem culpa pela nossa filha Rosalinda estar vegetando em cima de uma cama? - perguntou Brígida com voz cortada de emoção e raiva.
Lúcio não entendeu bem.
- Rosalinda está doente?
- Desde aquele maldito dia, ela teve uma violenta queda de nervos e está prostrada em cima da cama, sem andar, falar, praticamente um vegetal.
Os médicos já desenganaram.
Lúcio ficou assustado.
Não sabia que Rosalinda estava naquele estado tão grave.
Gostava dela apesar de tudo e não queria que adoecesse por não ter conseguido amá-la.
Ele nunca mais procurou saber como Rosalinda estava passando, e nos ambientes que frequentava, ninguém comentava nada sobre sua doença.
Ele pensara, então, que Rosalinda devia estar viajando para esquecê-lo.
Ao imaginá-la presa a uma cama por causa de seu rompimento, ele se sentiu mal.
Contudo, não deixou que ninguém percebesse e tornou:
-Também não temos culpa se Rosalinda adoeceu.
As doenças vêm porque o corpo é fraco.
Nunca tive intenção de magoá-la.
-Você sabe que agiu mal com minha filha.
Por isso, aproveito para dizer que, além de viver para sempre com o suicídio de Pedro lhe pesando a consciência, vai viver também com a culpa de ter adoecido gravemente uma jovem sonhadora e inocente.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:50 pm

Quero ver se com tudo isso conseguirá ser feliz com Isabel - dizendo isso, a senhora Brígida apertou com mais força o braço do marido e puxou-o, saindo em seguida.
Margarida, Tereza, tia Elisa, Rosa Maria e os irmãos de Isabel foram saindo levando-a para a carruagem, enquanto Lúcio ficava ali com o pai olhando para o corpo queimado de Pedro, que já começava a exalar terrível odor de carne queimada.
- Vamos sair também e avisar aos pais dele o que aconteceu -disse o senhor Januário com pesar, pensando no imenso prejuízo que teria com a festa que mandara preparar em seu palacete e que naquele momento teria de ser cancelada.
- Não precisamos fazer isso.
A esta hora, tenho certeza de que os pais de Pedro já sabem e nunca vão me perdoar, nem à Isabel.
- Não se culpe, meu querido Lúcio, você não teve responsabilidade em nada.
Pedro é que foi fraco.
Se fosse um homem igual a você, jamais faria isso.
Lúcio saiu nos braços do pai, deixando o corpo queimado do suicida para trás, não sabendo que aquele ato traria consequências mais sérias do que poderia imaginar, em seu futuro.
Já no palacete dos Alcântara, Isabel havia despertado bastante nervosa e angustiada chamando por Lúcio.
- Estou aqui, meu amor, nada vai te acontecer - disse ele, afagando seus cabelos com carinho.
Isabel pareceu não ouvir e abraçou-o com força, chorando.
- Nossa vida está acabada.
Como vamos viver com a imagem de Pedro morrendo queimado pairando em nossas mentes?
- Acalme-se.
Eu amo você, e nosso amor há-de superar tudo.
Isabel continuava a chorar descontrolada, e Lúcio resolveu levá-la para o quarto.
Ficara combinado que os dois morariam no palacete de seus pais e por isso foi preparado um quarto ricamente adornado para o casal.
Foi difícil para Lúcio fazer com que Isabel tomasse um chá calmante e adormecesse.
Depois que a viu dormindo, desceu e foi ter com os irmãos dela, tia Elisa e a senhora Margarida que ainda permaneciam ali, chocados com o acontecimento.
- Eu sinto muito - disse ele, com lágrimas nos olhos.
O que era para ser o dia mais feliz de minha vida, acabou sendo o mais infeliz.
- Não diga isso, meu filho! - tornou o senhor Januário, não querendo que Lúcio sofresse.
Foi terrível o que aconteceu, mas você há-de esquecer, com a graça de Deus.
Está casado com a mulher que ama, será muito feliz, principalmente com a notícia que tenho para lhe dar.
- Notícia?
- Na verdade é mais que uma notícia, é uma surpresa, um verdadeiro presente.
- O que é? - tornou Lúcio, curioso.
- Vocês não vão morar connosco, infelizmente.
- Não? Mas como assim?
- Lembra-se de sua tia Helena?
- Sim, tia Helena é muito querida.
Faz tempo que não a vejo, pedi que mamãe lhe enviasse um convite para o casamento, mas ela não apareceu.
O que tem tia Helena?
Foi com tristeza que Januário tornou:
- Helena infelizmente faleceu há um mês.
Lúcio assustou-se.
- Como não ficamos sabendo de nada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:50 pm

- Você sabe que sua tia, após a morte do marido e do filho naquele trágico acidente nas galeras, nunca mais foi a mesma e fugia ao convívio social.
Pessoa boníssima, mas profundamente entristecida, fechou-se em seu castelo e passou a viver à espera da morte.
Há um mês, recebemos uma carta de seu castelão anunciando sua morte por forte doença nos pulmões.
Helena mandou-me outra carta dizendo ter deixado todos os seus bens para você, o sobrinho mais querido ao qual tinha por filho.
Como sabia que estava próximo de se casar, como último pedido antes da morte, queria que você e Isabel fossem morar no seu castelo, cuidando dele como ela sempre cuidou e sendo felizes com os filhos que
Deus lhes enviar.
Por isso, meu filho, o belíssimo Castelo de Vianna é seu e de Isabel.
Seja muito feliz lá.
Pai e filho abraçaram-se e, enquanto Lúcio chorava de alegria, Rosa Maria e toda a família de Isabel agradeciam a Deus a sorte que lhes dera.
- É um dos castelos mais bonitos da Europa - disse Lúcio, com olhos brilhantes de felicidade.
Isabel precisa saber disso.
Subiu novamente as escadas à espera de que a esposa acordasse.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:51 pm

CAPÍTULO 23
A imensa fogueira parecia crescer ainda mais com os movimentos estranhos e gigantescos de suas labaredas.
Aproximando-se mais, a visão estranha se modificava e, o que parecia ser fogueira, naquele momento, tomava formato de um vulcão em erupção, lançando ao longe suas lavas que continuavam a queimar insistentemente.
Mas o vulcão também não era vulcão, e o mais próximo possível que alguém pudesse chegar, veria um amontoado de coisas pegando fogo, coisas estas que eram indefiníveis aos olhos humanos.
Em verdade, o estranho fogo era um acúmulo de espíritos suicidas que haviam se matado em razão do uso de substâncias inflamáveis e, por não terem se perdoado pelo acto e acreditarem que precisavam ser punidos com o inferno, permaneciam com as chamas que uma vez havia lhes devorado o corpo de carne, naquele momento, a lhes devorar o perispírito.
Mas o perispírito não morre, e a consumição no fogo, a sensação de estar se desintegrando em calor insuportável e sem fim, fazia com que todos eles gritassem, gemessem e uivassem assustadoramente.
Aquela cena dantesca acontecia no Vale dos Suicidas, e não se podia calcular o tempo que aqueles espíritos que se sentiam culpados estavam ali, recolhendo o resultado de suas atitudes de rebeldia e de suas crenças no "castigo de Deus".
Vez por outra, através de muito esforço, um deles conseguia sair em meio aos outros e era atirado ao longe, o que fazia parecer um vulcão soltando suas lavas.
Assim aconteceu com Pedro.
Após ter se matado, queimando o próprio corpo durante o casamento de Isabel, sua mente levou-o a ser sugado para aquela montanha de corpos em chamas e ali permaneceu por muito tempo, até que com esforço soltou-se e foi lançado ao longe.
Seu corpo continuava a se queimar e ele chorava e gemia rangendo os dentes.
Mesmo em meio àqueles tormentos, Pedro ainda pensava em Isabel e no ódio que sentia por ela e por Lúcio.
Passou muito tempo a vagar pelo Vale com o corpo em chamas, até que, de tanto pensar em Isabel, sentiu-se arremessado para seu lado, onde ficaria para sempre, segundo seu pensamento.
A notícia que iria morar num castelo majestoso animou Isabel e a fez recobrar o brilho nos olhos.
Aos poucos, tudo foi se normalizando e, embora Isabel acordasse vez por outra tendo horríveis pesadelos com Pedro, durante o dia acabava por esquecê-lo em meio aos preparativos para a mudança.
Duas semanas após seu casamento, já praticamente não se deixava atormentar pela visão suicida do seu ex-noivo.
Faltando apenas alguns dias para a mudança definitiva, recebeu um chamado de Belarmina:
- Senhora, há um rapaz na sala desejando lhe falar.
- Quem é?
- É um escravo de sua quinta, disse que se chama Carlinhos.
Isabel assustou-se.
O que Carlinhos estaria fazendo ali a uma hora daquelas?
Ficou combinado que, uma semana depois de instalada no castelo, ela mandaria carruagens buscar toda a família para lá ficarem hospedados.
O que poderia ter acontecido?
Isabel chegou pálida à sala, temendo algo grave.
Dona Tereza, que estava também na sala, parecia já saber o que tinha acontecido e abraçou a nora:
- Você precisa ser forte, minha filha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:51 pm

Ela, com voz trémula, perguntou:
- O que houve na quinta?
Carlinhos olhava-a fixamente, tentando transmitir-lhe paz enquanto dizia:
- A senhora Margarida teve um mal súbito e desmaiou.
Rosa Maria chamou o médico que disse ser um problema grave no coração.
Pediu que reunisse toda a família, pois faltam poucas horas para ela morrer.
- Meu Deus! Minha mãe!
Não pode ser...
Isabel quedou-se no sofá chorando muito.
Ela não queria que sua mãe morresse, muito menos naquele momento tão importante de sua vida.
- Onde está Lúcio?
Quero ir para lá imediatamente.
- Lúcio e o pai foram comprar alguns mantimentos para o castelo, que estavam faltando. Saíram há pouco.
Isabel irritou-se:
- Comprar mantimentos?
Isso qualquer criado pode fazer.
Por que foram os dois?
- Acalme-se, minha filha, são coisas grandes que só homem pode comprar, e Lúcio queria ele mesmo escolher.
Isabel chorou ainda mais.
- Estou sozinha, não quero ir para a quinta sem Lúcio.
Não saberei ver minha mãe morrendo sem seu braço para me amparar.
Vou esperar por ele.
- Não é bom que espere, senhora Isabel - interferiu Carlinhos.
- Sua mãe tem poucas horas de vida e, se resolver esperar seu marido, pode ser tarde.
Venha comigo e peça à dona Tereza que o avise sobre o ocorrido para que ele possa ir em seguida.
Sem ter o que fazer, Isabel aceitou.
A viagem transcorreu devagar.
Isabel chorava o tempo inteiro, e Carlinhos sentiu que não era um bom momento para lhe dar orientações espirituais.
Quando chegaram à quinta, todos os irmãos já estavam lá.
Isabel abraçou-os um a um e foi para o quarto, onde se encontrava Rosa Maria e tia Elisa, rostos compungidos e em silêncio.
Isabel aproximou-se da mãe que, sentindo seu toque, abriu os olhos:
- Isabel, minha linda!
Só faltava você para que eu pudesse partir.
- Não diga isso, mamãe, a senhora vai ficar boa.
- Vou não, minha querida, estou vendo seu pai aos pés da cama sorrindo para mim, me esperando.
Chegou minha hora.
Isabel chorou sentidamente, ao que ela disse:
- Não chore.
Já cumpri minha missão e sei que a vida continua.
Seu pai veio me buscar.
Quer prova maior que essa?
Isabel não se conformava:
- Se papai está aqui, peça a ele que a deixe ficar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Jan 31, 2018 9:51 pm

A senhora disse com voz cada vez mais fraca:
-        Não posso, Deus me chama.
Eu te amo, minha filha, adeus!
Dizendo aquilo, a senhora Margarida cerrou os olhos carnais para sempre, e o choro de Isabel aumentou de maneira tão descontrolada que todos ouviram e concluíram que a matriarca daquela casa havia partido.
Rosa Maria e tia Elisa tiraram Isabel do quarto, que, aos prantos, não se conformava.
Doutor Eduardo propôs:
-        É melhor que ela se deite e tome um calmante.
Isabel está muito descontrolada.
-        Não quero calmante nenhum, quero minha mãe.
-        Isso não é possível, minha irmã - tornou Rosa Maria, mais conformada.
Chegou a hora dela.
Isabel revoltou-se com aquelas palavras e correu pelo grande corredor indo em direcção ao rio.
-        Deixe-a sozinha - disse tia Elisa.
Tenho certeza de que ficará melhor.
-        Fico preocupada, tia.
Isabel é muito impulsiva - tornou Rosa Maria, trémula.
-        Mas ela não fará nenhuma besteira, tenha certeza.
Está casada com o homem que ama, morará em um castelo.
Conheço a vida, minha querida, Isabel pode fazer tudo, menos se matar.
Com essas palavras, Rosa Maria se tranquilizou e foi ter com os irmãos que também choravam, mas todos conformados.
O velório e o enterro no cemitério da quinta foram muito tristes, principalmente porque Isabel, mesmo tendo se acalmado um pouco, ainda apresentava prantos profundos.
Mesmo o amparo de Lúcio e dos sogros não a fizeram melhorar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:46 pm

CAPÍTULO 24
Com a morte da senhora Margarida, a mudança de Isabel para o castelo teve de ser adiada.
Ela ficou se recuperando na quinta junto ao marido, à irmã e à tia Elisa.
Carlinhos também as ajudava consolando-as através de explicações sobre a vida após a morte.
Numa noite, enquanto Isabel e tia Elisa conversavam na grande varanda, Rosa Maria apareceu chorando de mansinho.
- O que você tem, Rosa? - perguntou Isabel, apreensiva.
- Lúcio acabou de me contar que hoje na corte aconteceu o casamento de Augusto e Manuela.
Toda a mais fina sociedade compareceu e os dois vão morar num belo solar ao sul da França.
Quando penso que esta criança que está em meu ventre nunca terá um pai, me entristeço e sofro.
Isabel não sabia muito o que dizer.
Ela não era boa para conselhos, limitou-se a falar:
- Augusto não a merecia, que fique com aquela outra e seja muito infeliz.
Sei que também está sofrendo porque perdeu o grande amor de sua vida, mas tenho certeza de que encontrará outro melhor.
- Eu amo Augusto e nunca mais em minha vida vou querer homem nenhum.
- Essa rebeldia não adianta nada - disse tia Elisa, com os olhos vivos.
Você é linda, moça, pode muito bem amar outras vezes, ter outros amores.
Vai ficar na solidão só por causa de um homem que nem tão bonito era?
- A senhora não entende de amor, tia.
Eu não valorizava o exterior de Augusto, mas sua alma.
enho certeza de que nunca amarei ninguém do jeito que o amei.
- Pois, eu acho uma pena.
- Eu prefiro viver sozinha a ter alguém que não gosto.
Vou me dedicar só à minha menina.
Isabel surpreendeu-se:
- Menina?
Como sabe que é menina?
- Ontem eu tive um sonho no qual uma mocinha de pele clara, olhos castanhos, cabelos aloirados, me abraçava emocionada e me agradecia por tê-la deixado nascer, dizendo que se sentia muito feliz por ser minha filha.
As duas mulheres se emocionaram.
Rosa Maria prosseguiu, sentando-se noutra poltrona e admirando a lua cheia que acabava de despontar por trás das colinas:
-Tenho certeza de que é o espírito que vai nascer como minha filha.
Contei esse sonho hoje cedo ao Carlinhos que me confirmou.
Por isso, sei que terei uma linda menina.
Isabel, cheia de felicidade, levantou-se e abraçou a irmã com força dizendo:
- Eu vou cuidar para que você e minha sobrinha tenham tudo de bom.
Levarei vocês para meu castelo, as apresentarei à sociedade e serão muito felizes.
Se você mudar de ideia, pode até encontrar um marido.
- Seria óptimo tudo isso, mas quero viver minha vida longe das luzes do mundo.
Vou permanecer morando aqui na quinta.
- Não pode ser verdade o que estou ouvindo - retorquiu Isabel.
Você é igual a mim, adora a riqueza, o luxo, o sucesso, os aplausos da sociedade.
Deverá ir comigo sim!
- Eu mudei, Isabel.
Essa desilusão amorosa me fez ver como a sociedade e as riquezas do mundo de nada valem.
Daria toda a riqueza que eu possuísse para ter Augusto comigo morando até numa casa de palha.
Isabel achou ridículo o pensamento da irmã, que ela julgava pequeno.
Mas sentiu, pelo tom de voz, que ela falava a verdade, estava realmente mudada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:46 pm

- Mas, você vai morar aqui sozinha com o Carlinhos e sua filha?
Terá coragem de viver aqui, nessa casa tão grande, sozinha e triste?
- Não se preocupe com isso.
Não estarei sozinha nem triste.
Carlinhos entende tudo de terra e animais, vou trabalhar e viver do dinheiro da terra que nossos pais tanto amaram e cuidaram.
- Você definitivamente não é mais a mesma - disse Isabel, em tom de decepção.
- Não mesmo, e tia Elisa irá morar comigo e ajudará a criar minha filha.
Isabel não acreditou:
- Tia Elisa, morar aqui?
Faz-me rir. Tia Elisa é uma viajante, uma aventureira.
Apesar da idade, você sabe muito bem que ela não fica muito tempo em um lugar, quando lhe vier à mente, ela sai daqui e deixa você sozinha.
- Calma, querida Isabel - disse finalmente tia Elisa.
Não vou deixar Rosa Maria só.
Sou mesmo uma aventureira, gosto de viajar, de estar cada tempo em um lugar, mas pretendo me fixar aqui em definitivo.
Rosa Maria somente ficará sozinha enquanto eu viajar, mas logo voltarei.
Não tenho mais idade para ficar longos anos fora de meu país.
Isabel estava decepcionada e com raiva:
- Quer dizer que vocês duas preferem viver aqui a morar em meu castelo?
É isso mesmo?
- Sim.
- Então, eu não tenho mais nada que fazer nessa quinta.
Vou-me embora agora mesmo.
Vendo que a irmã havia ficado furiosa com sua recusa, Rosa Maria pegou-a pelo braço, impedindo que saísse:
- Não veja isso com uma desfeita, Isabel.
Eu quero morar aqui.
Será que você não entende?
- Não entendo.
Você, assim como eu, nunca gostou desse lugar, nunca gostamos da natureza, nem de bichos nem de nada disso, vivíamos sonhando em casar, sermos ricas e irmos embora para sempre.
Só porque Augusto não a quis e você se desiludiu, agora quer viver aqui no meio desse mato.
Vou embora agora com meu marido e nunca mais me procure.
Nenhuma das duas.
Isabel saiu feito um furacão e entrou no quarto empurrando a porta com força.
Lúcio, que dedilhava uma canção em seu violão enquanto Carlinhos o ouvia, assustou-se:
- O que aconteceu, meu amor?
- Aconteceu que Rosa Maria se recusou a morar connosco em nosso castelo.
Diz que vai viver aqui com a filha e tia Elisa.
Isso foi uma desfeita a mim, por isso vou embora agora.
Vamos arrumar nossas malas.
Lúcio deixou o violão sobre a cama, abraçou a mulher e disse:
- Acalme-se.
Rosa Maria e tia Elisa têm o direito de escolher.
- Não quero discutir isso com você.
Vamos embora e nunca mais as quero ver.
Lúcio não sabia o que fazer, mas Carlinhos tomou a frente, encarou Isabel e disse:
- A senhorita ainda vai sofrer muito por causa desse orgulho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:46 pm

- Senhorita? - irritou-se ainda mais Isabel.
Sou uma senhora, a senhora Lúcio de Alcântara.
- Tudo bem.
A senhora é como a árvore dura, que não se dobra durante a tempestade.
A árvore que não se dobra é a primeira a cair durante a tormenta.
Se quer ser feliz de verdade, aprenda a ser humilde e se dobrar perante as coisas da vida.
Isabel corou de tanta raiva, levantou a mão e deu violento tapa no rosto de Carlinhos.
- Insolente!
Nunca mais fale nesse tom comigo.
Lúcio não sabia o que fazer, nem como agir, nunca vira Isabel daquele jeito.
-Vamos, Lúcio, ou vai me deixar fazer as malas sozinha?
Lúcio ajudava a mulher enquanto Carlinhos saía do quarto lentamente.
No fundo, sentia muita compaixão por ela, principalmente por saber que seu orgulho iria lhe trazer muitas infelicidades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:46 pm

CAPÍTULO 25
O tempo passou e finalmente Isabel mudou-se para o Castelo de Vianna.
Ao chegar à frente da majestosa construção, pensou que nunca em sua vida vira algo tão bonito feito pelas mãos do homem.
Ela estava feliz e emocionada tendo Lúcio ao lado dentro da bela e luxuosa carruagem.
Era primavera e as flores das plantas que circundavam o castelo estavam abertas espalhando delicado perfume no ar.
Os portões foram abertos e imensa ponte móvel desceu vagarosamente dando passagem para eles entrarem.
Além da carruagem de Lúcio e Isabel, havia também a carruagem de seus pais, onde estava Belarmina, escrava que Isabel, por afinidade, fizera questão de trazer para morar com eles e ser sua aia de confiança.
Na porta do salão principal, foram recebidos pelo castelão Bóris, sua esposa Betânia e pelo mago Wladimir.
Todos receberam felizes os novos moradores.
A senhora Helena era muito querida de todos eles e antes da morte recomendara-lhes tratá-los com todos os mimos possíveis.
Isabel e Lúcio foram conduzidos por um belíssimo e quilométrico tapete vermelho de veludo e em seguida sentaram-se nas luxuosas, grandes e confortáveis poltronas de cedro, acolchoadas de almofadas de penas de cisne.
Isabel continuava inebriada com tanta beleza e luxo.
Não conteve a pergunta:
- A tia de Lúcio morou aqui sozinha?
- Não, senhora - respondeu Bóris.
A senhora Helena foi casada por mais de 50 anos, e teve um único filho.
Depois da morte do marido e do filho, foi se tornando triste.
Gostava muito de Lúcio e fez o testamento dando tudo o que possuía ao sobrinho.
Tereza exclamou:
- Helena era madrinha de baptismo de Lúcio.
Vínhamos muito aqui quando Lúcio era pequeno e até um pouco no início de sua adolescência, mas depois ele ganhou gosto pela música e deixou de visitar a tia.
- Não me faça sentir culpado, mamãe - tornou Lúcio, constrangido.
- Não é isso, meu querido, só falei o que aconteceu.
Mas, Helena escrevia sempre e falava de você com carinho e saudade.
A conversa girou em torno de Helena por mais algum tempo, até que uma serva veio para lhes servir vinho com pão de mel.
Até Belarmina foi servida, o que fez se sentir valorizada e alegre.
Quando terminaram, Bóris e Betânia levaram a senhora Tereza e o senhor Januário para conhecerem seus aposentos.
Enquanto isso, Lúcio e Isabel ficaram na sala admirando tudo aquilo.
O grande salão do castelo era composto por muitas janelas rectangulares em sentido vertical, que permitia ver boa parte de tudo o que circundava aquela fortaleza.
Wladimir esclareceu:
- Aqui costuma fazer muito frio.
Como viram, tudo é feito de pedra, até o tecto.
A senhora Helena e o marido fizeram tudo para deixar o castelo mais confortável, mas ainda assim o frio é muito intenso.
Mas agora é primavera e costuma amenizar um pouco.
Sinto que a senhora Isabel não gosta do frio.
Vai ter de se acostumar.
- Não gosto mesmo.
O inverno, o frio e a chuva me causam tristeza.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:47 pm

Mas como você sabe disso?
- Vejo em sua aura.
- Aura?
- Sim, uma espécie de energia que fica ao redor de seu corpo.
- Quem é você? - perguntou Isabel, sentindo-se desconfortável diante do olhar daquele lindo homem, mas que parecia desnudar toda sua alma.
- Sou Wladimir, o bruxo do castelo.
Ela se arrepiou toda.
- E qual sua função aqui?
- A senhora Helena e o marido eram muito místicos, por isso contrataram meus serviços.
Esse castelo possui enormes plantações de trigo, uva, e muitos outros vegetais que são comercializados.
Ela sempre confiava que o invisível lhe diria o bom tempo para plantar e colher, os melhores comerciantes, e até pessoas que pudessem prejudicá-la.
Sempre a ajudei muito.
Isabel não gostou daquilo, olhou para Lúcio e disse:
- Mas, a partir de agora, não precisaremos mais de seus serviços.
Eu e meu marido não somos místicos.
Quando puder, faça suas malas e vá embora daqui.
Lúcio corou com a indelicadeza de Isabel.
- Não se ofenda, Wladimir, Isabel teme essas coisas.
- Não se preocupe, senhor Lúcio, com o que pensa a senhora sua esposa.
Não irei embora daqui até que dona Isabel pense melhor e veja que não sou nenhum perigo, mas alguém que ela pode confiar os segredos mais íntimos.
Isabel desarmou-se.
Wladimir não tinha olhar nem jeito de gente má, por isso desculpou-se:
- Desculpe-me, Wladimir.
Você pode ficar por mais tempo.
Se eu gostar de você, pode permanecer aqui como sempre viveu desde que foi contratado pela tia de Lúcio.
- Agradeço, senhora.
A conversa foi interrompida pelo castelão que chegou dizendo:
- Senhores, venham conhecer vossos aposentos.
Isabel e Lúcio foram conduzidos por um corredor atapetado de veludo carmim e passaram por muitas portas.
O castelo era muito iluminado pelas janelas rectangulares e também por algumas clarabóias.
Chegaram ao quarto.
Quando entraram, Isabel pensou que iria ter uma vertigem.
Era o lugar talvez mais luxuoso daquele castelo.
A cama de casal era imensa, com um jogo de lençol de pura seda, bordado com fios de ouro, ladeada por dois criados mudos adornados com bibelôs de cristal em formatos de anjos e ao tecto vários lustres também de cristal lilás, cheios de velas amarelas.
Havia um guarda-roupas enorme, estilo barroco, e Isabel o abriu.
Os vestidos que ali estavam eram dignos da mais rica princesa.
Todos de seda pura, bordados com fios de ouro e adornados com diamantes, esmeraldas e rubis.
Lúcio também parecia que sonhava.
Nunca havia visto tanta riqueza em sua vida.
Vendo a admiração dos dois, Bóris sorriu:
- A senhora Helena fez esse quarto para vocês, especialmente.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 4 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:47 pm

Mas toda a beleza e o luxo não acabam aí.
Há outros cómodos do castelo que vocês precisam conhecer, como a biblioteca e a sala de música, por exemplo.
- Por enquanto, queremos ficar por aqui.
Bóris entendeu a intenção de Isabel e se retirou do recinto.
Quando a sós, ela puxou Lúcio, jogou-o na cama, tirou sua roupa e se amaram durante horas.
Sentia-se a mais feliz das mulheres.
A sala de jantar era igualmente rica, e na hora da refeição nocturna, todos sentaram à mesa juntos para o deguste.
Terminada a refeição, eles foram conhecer a sala de música que Isabel achou um deslumbre tão grande, que mal conseguiu executar duas melodias ao piano.
Quando iam se recolher, Wladimir chamou Lúcio a um canto e disse:
- Assim que sua mulher dormir, saia do quarto e venha até o grande salão.
Estarei à sua espera, é muito importante.
Lúcio, curioso, perguntou:
-Já tem alguma previsão para nosso futuro?
Wladimir sorriu:
- Não é isso, senhor.
Trata-se de uma missão que a senhora Helena, sua tia, confiou apenas a mim.
Pediu-me que lhe mostrasse algo já no primeiro dia que entrasse aqui no castelo.
- Diga-me, por favor, o que é.
- Nada posso dizer agora e nem diga à sua mulher o que lhe disse.
É um segredo só nosso que foi levado ao túmulo pela dona Helena e seu marido.
A curiosidade de Lúcio aumentou, mas ele não teve alternativa a não ser ir para o quarto e esperar que Isabel dormisse.
Ela perguntou:
- O que o bruxo queria com você?
- Pare de chamá-lo assim.
Ele é um mago.
- Dá no mesmo, foi o próprio que se chamou de bruxo.
O que ele queria?
- Disse-me que tem uma previsão para nós e que depois quer me dizer - mentiu ele.
Isabel assustou-se:
- Não ouça nada do que ele tenha a dizer.
Tenho medo de ser coisa ruim.
Ainda não me esqueci da morte do Pedro totalmente e não estou preparada para outra coisa desse tipo.
- Não se preocupe, meu amor, ele já adiantou que é coisa boa.
Isabel, mais tranquila, foi para a cama.
Demorou bastante tempo para adormecer.
Estava por demais empolgada com tudo aquilo e lembrava-se de Rosa Maria o tempo inteiro, com tristeza e saudade.
Pensava na modificação rápida da irmã.
Ela poderia estar, naquele momento, ali no castelo, desfrutando de toda aquela alegria e luxo junto com sua filha e tia Elisa.
Mas preferia ficar no meio do mato.
Depois de muito pensar, vencida pelo cansaço, adormeceu.
Lúcio saiu sorrateiro e foi para o grande salão.
Lá chegando, encontrou Wladimir esperando-o com um archote na mão.
- Acompanhe-me, senhor.
- Aonde vai me levar?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:47 pm

- Confie em mim, não tenha medo, logo saberá.
Lúcio começou a segui-lo por um enorme corredor que, tal qual o outro, era cheio de portas e janelas.
Ao final, havia um grande tapete persa redondo, no qual se via desenhos de flores exóticas, mas magníficas.
Wladimir pediu que Lúcio segurasse o archote e com dificuldade tentou tirar o tapete do chão.
Após muito esforço, conseguiu e jogou-o de lado.
Lúcio, surpreso, percebeu que embaixo do tapete havia uma pequena porta trancada com espessa fechadura.
- O que é isso aí?
Iremos aos subterrâneos do castelo? - perguntou assustado.
- Esta é uma das passagens que leva aos subterrâneos, mas não vamos descer muito. Siga-me.
Ambos entraram e foram descendo por longa escada até que chegaram a outro corredor cheio de portas.
Wladimir parou frente a uma delas e, com uma pequena chave que trazia no bolso, destrancou-a.
- Entre e veja o que há aqui.
Lúcio entrou e ao olhar aquele ambiente cheio de lustres pendurados no tecto iluminando-o com velas grossas e de luz forte, não acreditou no que via.
Olhou para Wladimir assustado e disse:
- O que isto significa?
-Tenho certeza de que você já deduziu.
Lúcio olhou mais uma vez e parecia que sua visão havia se dilatado.
Começou a analisar meticulosamente tudo o que tinha ali.
Eram muitos baús abertos e em cada um deles havia enorme quantidade de pedras preciosas.
Os baús estavam tão cheios que transbordaram e muitas pedras estavam espalhadas pelo chão.
Wladimir explicou:
- Sua tia era mais rica do que se podia imaginar.
Aqui ela deixou um verdadeiro tesouro, e ele é todo seu.
Lúcio não conseguia pensar direito e nem tinha ideia do que fazer com tudo aquilo.
- Mas o que vou fazer com isso?
Wladimir olhou para um ponto indefinido e começou a dizer:
- Você e Isabel ganharam agora uma das provas mais benéficas que se pode ter na vida: a prova da fortuna.
Quem aproveita a riqueza e faz dela um bom uso pessoal e, principalmente, a reverte para o desenvolvimento do meio em que vive, beneficiando a sociedade, sai da Terra vitorioso, rumo às mansões celestiais onde viverá gozando da paz dos justos.
Se você souber agir no bem, essa riqueza será para você o caminho da felicidade, mas se agir no mal, será conduzido para a dor, e através do sofrimento, irá aprender o verdadeiro valor da fortuna.
Lúcio entendeu e sentiu que era muita responsabilidade para ele lidar com tudo aquilo, por isso disse:
- Eu vou ignorar esse tesouro, fingir que ele não existe.
Não sei como lidar com tamanha fortuna.
- Não faça isso, estará cometendo o terrível erro da omissão.
Fugir de uma prova quando Deus nos manda é só adiar o momento de enfrentá-la.
- Mas é muita riqueza, Wladimir.
Sempre fui rico, mas nunca dessa maneira.
Aliás, como a tia e seu marido conseguiram tanto?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:47 pm

- Esse tesouro pertenceu à família do marido da senhora Helena.
Você não sabe o quanto de sangue foi derramado para que se tenha juntado tudo isso aí.
Esse tesouro é maldito, vejo muitos espíritos, que foram vítimas de cupidez dessa família, agarrados a esses bens que aí estão, clamando por justiça.
Só o uso dela voltado para o bem é que pode reparar esse mal.
Lúcio assustou-se e se calou.
Começou a analisar mais detidamente o que havia ali.
Um dos baús estava cheio de diamantes, outro continha rubis, outro, safiras, esmeraldas, turmalinas, dentre outras.
Mais à frente havia várias prateleiras de madeira pregadas às paredes, e ele se aproximou.
Cada prateleira estava repleta de barras de ouro, tantas que Lúcio não podia precisar.
Aquilo o deixou tonto.
Ele nunca fora ambicioso.
Gostava de sexo e de música, mas a fortuna não lhe fazia falta.
Se seu pai perdesse tudo e ele tivesse de viver da música, viveria muito bem, sem problema algum, desde que tivesse bebida e mulheres à vontade.
Ele já tinha a mulher que amava, e com tudo o que a tia lhe deixara, poderia dedicar-se à música sem problemas e para sempre.
Olhou para Wladimir:
- Eu não sei o que fazer com isto, mas vou pensar melhor e pedirei conselhos a meu pai.
- Não! Não faça isso, pelo amor de Deus.
Sua tia pediu que você não contasse nem mesmo à Isabel a existência disso aqui.
É segredo absoluto!
- Mas, e como farei para gerir tão imensa fortuna?
Wladimir ficou alguns instantes calado, depois disse:
- Quem vai ajudá-lo será sua tia Helena.
-Tia Helena? Está brincando?
- Não, senhor.
A morte é apenas uma mudança de estado e de lugar, quem morre continua vivo em espírito em outros lugares do universo.
Acaso pensa que a vida se resume a esse frágil corpo físico e a esse diminuto mundo em que vivemos?
Lúcio calou-se.
Ele já tivera provas de que existia algo além.
Lembrou-se de Carlinhos e dos fenómenos ocorridos na quinta.
Não havia como negar.
- Mas eu não tenho capacidade de ouvir ou ver os espíritos.
Como isso vai acontecer?
- Eu consigo conversar com os espíritos, e depois que sua tia partiu, já veio ter comigo muitas vezes.
Quando for oportuno, ela voltará e vai lhe dizer como agir.
Fique tranquilo.
Lúcio estava com medo.
Wladimir percebeu:
- Não tenha medo de conversar com sua tia só porque ela morreu.
Quem morreu foi o corpo que ela usava aqui na Terra, mas seu espírito continua mais vivo do que nunca.
- Fico mais calmo em pensar assim.
- É bom voltarmos logo, antes que algum servo passe pelo corredor e veja o tapete fora de lugar e descubra a passagem.
Eles fizeram o mesmo caminho de volta e, já no grande salão, Wladimir deu-lhe um forte abraço, pedindo:
- Sigilo, senhor Lúcio.
O silêncio sobre muito do que se sabe é a maior garantia da paz.
Lúcio meneou a cabeça positivamente e eles se despediram.
Ao entrar no quarto, viu que Isabel ainda dormia.
Deitou-se ao seu lado, mas não conseguiu conciliar o sono pensando no que fazer de sua vida dali em diante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:48 pm

CAPÍTULO 26
O tempo foi passando lentamente e a barriga de Rosa Maria se avolumava.
Tia Elisa e ela, aos poucos, foram se acostumando com a falta que Margarida fazia e, junto com Carlinhos, se consolavam trocando ideias sobre a vida após a morte.
Rosa Maria estava feliz com a gravidez, mas nunca em seu coração conseguiu libertar-se do sentimento de abandono, traição e desprezo que Augusto lhe fizera passar.
O que mais queria era que a filha nascesse para ver se aqueles sentimentos negativos acabavam, pois ela não gostava de senti-los.
Numa noite de domingo, ela e tia Elisa, como sempre faziam após o jantar, estavam sentadas na grande varanda admirando o céu que, naquela noite, estava pontilhado de estrelas.
Elas conversavam amenidades até que Rosa Maria sentiu um repuxo no baixo ventre e em seguida uma forte dor.
Gemeu alto e disse para tia Elisa:
- Parece que vai nascer, tia, finalmente minha menina vai nascer essa noite.
Tia Elisa emocionada e assustada, disse:
- Finalmente teremos aqui uma linda criança para encher essa casa de alegria, mas temos de chamar Carlinhos e pedir que ele vá chamar Balbina, a parteira.
Quanto antes fizermos isso, melhor será.
Ninguém aqui tem prática em fazer partos.
- Vá, então, chamar o Carlinhos, tia, rápido!
Tia Elisa saiu e, poucos minutos depois, voltou com ele já encontrando Rosa Maria deitada em sua cama gemendo de dor.
Ao ver o lençol da cama todo molhado, tia Elisa assustou-se.
Carlinhos disse:
- Não haverá tempo de chamar Balbina, você já entrou em trabalho de parto.
- E agora?
O que faremos? - tornou tia Elisa, aflita.
Ninguém aqui sabe fazer um parto.
- Eu sei - tornou Carlinhos.
Se a senhorita me permitir, ajudarei sua menina a vir ao mundo.
Rosa Maria não aguentava de dor e não viu alternativa:
- Me ajude, Carlinhos, não aguento mais.
Carlinhos pediu à tia Elisa:
-Vá ao fogão e esquente água, enquanto me passa uma toalha.
Tia Elisa assim o fez, e Carlinhos enrolou a toalha pedindo que Rosa Maria a mordesse na hora que a dor viesse forte.
Ela suava muito e se contorcia.
Os minutos foram passando e nada da criança nascer.
Tia Elisa já havia trazido a água e molhava panos nela passando pela testa de Rosa Maria, a fim de limpar o suor que saía em profusão.
Num dado momento, Carlinhos exultou:
- Está nascendo, já está apontando a cabecinha.
Vamos, Rosa Maria, força.
Ela fez toda força possível e em meio a um gemido muito alto, a criança nasceu chorando muito.
Rosa Maria, emocionada, não conteve o pranto, e logo Carlinhos colocou sua linda menina em seus braços.
Parecia que a dor não existia mais e ela só fazia beijar a cabecinha suja de sangue de seu bebé, sem conseguir controlar o choro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:48 pm

Carlinhos, depois de alguns minutos, pediu:
- Dê-me ela, tia Elisa vai banhá-la, enquanto eu limpo você.
Rosa Maria entregou a criança e, mesmo com vergonha,
permitiu que Carlinhos fizesse sua assepsia.
Ele, todo o tempo manteve-se respeitoso e hora alguma demonstrou segundas intenções por estar vendo suas partes íntimas.
Quando tudo terminou, Rosa Maria agradeceu-lhe:
- Muito obrigada, Carlinhos.
Que Deus te pague por esse bem.
- Deve agradecer a Ele mesmo, e sabe por quê?
- Por que?
- Porque eu nunca fiz um parto na vida e nem sei como fazer.
Ela se assustou:
- E como se atreveu a uma coisa dessas?
- É que os espíritos iluminados pediram que eu fizesse, que eles é que iriam actuar em minhas mãos e que tudo correria bem.
Confiei e fiz.
Rosa Maria estava impressionada.
- Obrigada, mais uma vez, Carlinhos, sem esse dom que você tem, como minha filha iria nascer?
- Fique tranquila, senhorita, Deus nunca desampara ninguém.
Ele é pai bom, justo e amoroso.
Às vezes, pensamos estar sós e abandonados, mas logo vemos que aparecem pessoas e coisas que nos ajudam.
Tudo é Deus que manda.
Por isso, em qualquer acontecimento de nossa vida, devemos voltar nosso olhar para Ele e agradecer sempre.
Carlinhos disse aquilo e saiu calado como sempre fazia.
Enquanto ficou só, Rosa Maria fez sentida prece de louvor e agradecimento ao Criador.
Os meses foram passando e a menina foi crescendo sadia e bonita.
O ódio e a revolta por Augusto diminuíram, mas sempre Rosa Maria se lembrava dele e de como poderia ser feliz se estivessem juntos vivendo aquele momento.
Tia Elisa aproximou-se, sentou na cama em que ela estava com a criança e disse:
- Já faz três meses que sua menina nasceu e ainda não tem nome.
Terá de decidir para que possa ser registrada.
- Venho pensando nisso, tia, mas não cheguei a nenhuma conclusão.
De vez em quando, um nome fica martelando na minha cabeça, não sei por que, mas parece que é para eu colocá-lo em minha filha.
- Que nome é?
- Denise. Parece que alguém sopra esse nome em meu ouvido.
- Deve ser algum espírito que deseja que sua menina se chame Denise.
É um lindo nome, por que não decide logo?
Rosa Maria pensou um pouco, e sem ver a entidade luminosa que estava ao seu lado dizendo o mesmo nome, decidiu:
- Será Denise, minha menina se chamará Denise.
A criança rosada e linda pareceu gostar do que ouviu e abriu lindo sorriso.
Elas continuaram a conversar quando ouviram trotar de cavalos.
Alguém estava chegando.
Foram para a varanda e Rosa Maria emocionou-se quando viu ser a carruagem de Isabel que se aproximava.
Desde que brigaram porque que ela não quis morar no castelo, nunca mais tinham se falado.
Quando Denise nasceu, ela mandou um mensageiro levar uma carta ao Castelo de Vianna avisando, mas passados três meses sem que Isabel respondesse, Rosa Maria, muito magoada, achou que a irmã a tinha desprezado para sempre.
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