LUZ ESPÍRITA
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:48 pm

Quando viu Isabel descer da carruagem, vestida ricamente e sendo apoiada por um pajem, ela não conteve as lágrimas.
Chorava porque estava vendo a irmã novamente e sabia que ela a havia perdoado e chorava também por ver que Isabel conseguira realizar todos os seus sonhos.
Assim que Isabel desceu, Lúcio também desceu.
Ela entregou Denise à tia Elisa e correu a abraçá-los.
A emoção foi forte e as irmãs choraram muito pelo reencontro.
Após os cumprimentos, foram para a sala.
Isabel olhou a menina nos braços de tia Elisa e sentiu-se arrepiar.
Não conteve as lágrimas de emoção, tomou-a no colo e disse:
- É linda demais, Rosa.
Deus te deu um presente.
- Sim, Denise é a coisa que mais amo no mundo.
- Denise?
Ela se chama assim?
- Sim, acabei de lhe colocar esse nome.
Isabel estava enternecida com a menina, que olhava para a tia e sorria feliz.
Isabel tornou:
- Ela não é só sua filha, mas minha também.
Sinto que o laço que nos une é forte e tudo farei para que seja uma vencedora.
- Obrigada, minha irmã.
Precisarei muito de sua ajuda para criar Denise.
Isabel preocupou-se:
- Está passando dificuldades?
- Não, graças a Deus a quinta tem produzido o suficiente para nos manter, mas me refiro a criá-la nessa sociedade moralista e hipócrita.
Discriminada, não poderá estudar nas escolas abastadas que só aceitam filhos de casal.
Tenho medo de que Denise sofra com isso.
Toda mulher que é mãe solteira é considerada prostituta.
O coração de Isabel encheu-se de indignação:
- Eu garanto a você que ela nunca sofrerá.
Tenho poder e muito dinheiro e o dinheiro compra tudo e todos.
Não se preocupe, minha irmã, Denise será tão respeitada quanto qualquer outra criança.
Rosa Maria emocionou-se:
- Agradeço, sem você nem sei como seria nossa vida nesse sentido.
Lúcio se manifestou:
- Eu sei que ela ainda não foi registada, mas eu posso fazer isso.
Eu a registo como minha filha e ela não terá dificuldade alguma em ser admitida num colégio.
- Você concorda com isso, Isabel?
- Claro, minha irmã, já ia sugerir isso a Lúcio.
O desgraçado do Augusto fez o que fez com você e por isso nem merece saber que Denise existe.
Lúcio assume a paternidade dela no cartório e ela será uma Alcântara.
Com esse nome, todos a respeitarão.
Isabel sorriu feliz e agradeceu a eles.
Em seguida, foram fazer um lanche.
Foi com saudade que Isabel e Lúcio passearam pelo pomar.
Ela gostava dali, mas não era o lugar que lhe fazia feliz.
O que a deixava feliz mesmo era seu castelo, onde tinha a vida que pedira a Deus.
Ela e Lúcio estavam andando por entre as árvores quando, de repente, ela parou e, pálida feito uma vela, fixou um pé de pêssegos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:48 pm

Lá estava escrito "Pedro e Isabel"
e em torno do desenho de um coração.
Imediatamente, ela se lembrou do dia em que Pedro escrevera aquilo e sentiu-se mal.
Começou a ver o mundo rodar e só não caiu porque Lúcio a segurou.
Vendo que ela não reagia, ele a pegou no colo e a levou para o interior da quinta.
Rosa Maria e tia Elisa assustaram-se:
- O que aconteceu?
- Ela viu um pé de pêssego onde Pedro escreveu seu nome e o dela.
Certamente, lembrou-se do dia do casamento e quase desmaiou.
Isabel, aos poucos, foi voltando ao normal, mas uma sensação de medo a deixava em pânico.
- Quero ir embora daqui, Lúcio, por favor, leve-me daqui agora.
Rosa Maria tornou apreensiva:
- Sinto muito, Isabel, que tenha acontecido isso.
Vou mandar derrubar aquele pessegueiro.
Ela não respondeu.
O pajem a segurou junto com Lúcio e a colocou dentro da carruagem.
Olhou para Rosa Maria e disse:
- Está tudo prometido.
Assim que estiver bem, vou fazer compras para Denise e vir pessoalmente entregar, e assim que Lúcio voltar de viagem, irá registá-la.
Amo você, minha irmã.
- Eu também amo você, Isabel.
- Se cuida, minha sobrinha - tia Elisa soltou sem querer aquele alerta.
- Vou ficar bem, tia.
A carruagem partiu, mas na quinta ninguém ficou tranquilo.
Rosa Maria e tia Elisa contaram a Carlinhos acerca do ocorrido e ele explicou:
- Isabel ainda está muito impressionada com o que aconteceu em seu casamento e também está guardando a culpa, por isso passou mal.
Sinto que ainda sofrerá muito por isso.
- O que podemos fazer para ajudá-la?
- Orar.
A oração é o único recurso que temos, pelo menos por enquanto.
Assim que Carlinhos saiu, Rosa Maria, com Denise ao colo, junto com tia Elisa, foram para o grande oratório rezar.
O que mais queriam era que Isabel ficasse bem.
Mas, intimamente, elas sentiam que aquilo não seria possível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:50 pm

CAPÍTULO 27
Assim que chegou ao castelo, Isabel recolheu-se em seus aposentos alegando estar angustiada e com dor de cabeça.
Lúcio preocupou-se, mas ela estava irritada e pediu que a deixasse só.
Na sala, ele foi ter com os pais que tomavam licores e entabulavam gostosa conversa.
- Isabel não passou bem e está na cama.
Nem me deixou ficar com ela no quarto.
- O que houve? Não é caso de mandar chamar um médico? -preocupou-se a senhora Tereza. - Nunca vi Isabel doente.
- Ela não está doente, mas impressionada.
Nem sei por que fomos dar uma volta naquele maldito pomar.
- O que houve no pomar? - indagou o senhor Januário, preocupado.
- Eu e Isabel fomos dar uma volta quando, de repente, ela parou e ficou olhando para o tronco de um pessegueiro no qual está escrito "Pedro e Isabel" circulado por um coração.
Ao ver aquilo, Isabel quase desmaiou e fui obrigado a levá-la no colo para dentro da quinta.
Durante a viagem de volta, chorou um pouco e se mostrou triste.
Ela ainda não esqueceu o suicídio de Pedro, e tenho certeza de que se culpa por isso.
- E qual mulher é capaz de esquecer aquela loucura? - disse a senhora Tereza, pousando o cálice na mesa de centro.
Se fosse comigo, não viveria mais feliz pelo resto da vida.
- Não diga besteiras, mulher - falou Januário, em tom ríspido.
- Nem todas as mulheres são iguais e tenho certeza de que Isabel será forte o suficiente para vencer isso - virou-se para Lúcio e tornou:
- Não se preocupe, filho, em breve tudo passará.
Mas Lúcio entendia bem o que era a culpa.
Desde o dia do casamento, quando soube que Rosalinda estava presa a uma cama, levando vida vegetativa por sua causa, ele não mais conseguia esquecer, sentia-se culpado pelo triste destino de sua ex-noiva.
Contudo, o caso de Isabel era bem pior, e ele temia que ela perdesse a razão.
Vendo o filho pensativo e triste, o senhor Januário propôs:
- Venha, vamos tomar licor juntos enquanto Isabel se recupera.
Não é bom cultivar maus pensamentos.
Lúcio juntou-se aos pais e ficou por ali, sem se desligar muito de Isabel.
Nem notou que estava sendo meticulosamente observado pelo bruxo Wladimir.
Em seu quarto, Isabel não conseguia relaxar nem dormir.
A sensação de medo tinha sido substituída pela sensação de angústia e culpa.
Lembrava-se nitidamente do dia em que Pedro, amando-a muito, esculpira seus nomes no pessegueiro.
"Por que ele foi se suicidar?
Era jovem, bonito, rico, tinha tudo pela frente".
Ela se sentia culpada, mas ao mesmo tempo seu amor por Lúcio era mais forte do que tudo, não seria justo a ela renunciar àquele amor para ir viver com Pedro uma vida de aparência.
Ela compreendia isso mentalmente, mas seu coração insistia em culpá-la.
Naquele momento, o espírito de Pedro, todo envolto em labaredas, chorando e gritando muito, apareceu no quarto.
Demorou alguns minutos para que ele se localizasse, mas, mesmo em meio às chamas que queimavam seu corpo astral, ele pôde ver Isabel na cama, chorando e entristecida.
Ele, esquecendo que tinha sido traído, e se deixando levar apenas pela paixão que sentia, foi para a cama e a abraçou com força.
Naquele instante, Isabel sentiu forte tontura e imenso calor tomou conta de todo o seu corpo.
O calor foi aumentando tanto e de tal maneira que ela pensou estar pegando fogo.
Levantou-se correndo, tirou as roupas pesadas, ficando apenas com a roupa íntima, mas o calor prosseguia inclemente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:50 pm

Começando a se desesperar, Isabel pegou a sineta de ouro que estava no criado mudo e tocou insistentemente.
Logo, Belarmina, que ficava de guarda na porta do quarto aguardando ser solicitada por Isabel, adentrou o recinto e, ao vê-la agoniada, andando de um lado a outro, perguntou:
- O que está acontecendo com a senhora?
- Me ajude, Belarmina, não sei o que ocorre comigo.
De repente, senti um calor insuportável e por mais que tire minhas peças de roupa, não passa.
Parece que algo está me consumindo por dentro.
Isabel estava desesperada, por isso Belarmina decidiu:
- Vou chamar o senhor Lúcio, a senhora precisa de socorro.
- Não! Não chame meu marido, me ajude a entrar na banheira.
- Mas a banheira está com água muito fria, a senhora não gosta de banhos frios.
- Cale-se, Belarmina, não vê que com esse calor horroroso que me consome o que mais desejo é entrar numa água fria?
Vamos, sua demente, me ajude.
Isabel andava com dificuldade, pois parecia que seu corpo estava se enrijecendo.
Entrou na banheira de água gelada e foi se aliviando, aos poucos.
Com o espírito de Pedro, algo inusitado aconteceu.
Assim que Isabel entrou na água fria e foi se aliviando, ele também passou a sentir grande alívio, bem-estar este que nunca, desde que cometera o ato insano do suicídio, havia sentido.
O que aconteceu é muito bem explicado pelo Espiritismo.
O espírito de Pedro, ao se suicidar, levou consigo todas as impressões do facto.
Sentia-se queimar vivo, com todas as dores e sensações cruéis de tal processo, como se ainda continuasse a viver num corpo de carne.
Assim que encostou em Isabel, houve uma conexão de perispírito a perispírito e ela começou a sentir tudo o que ele sentia.
Como estavam "colados" mediunicamente, assim que Isabel entrou na água gelada, ele também sentiu alívio, já que as impressões do corpo do encarnado passam para o corpo do desencarnado também.
Quando Isabel sentiu-se melhor, pediu que Belarmina a ajudasse a sair da banheira.
Estava muito bem e foi se enxugando lentamente.
Pedro, naquele momento, não mais a abraçava, permanecia distante, observando.
Em sua imaginação, o fogo se extinguira porque ele havia entrado na água.
Ficou feliz porque Isabel o tinha ajudado e não mais sairia de perto dela.
- Agora pode chamar meu marido, Belarmina.
A serva estava de cara amarrada e Isabel percebeu:
- Desculpe-me por tê-la tratado mal, Belarmina, você sabe do apreço que tenho por você.
Venha cá, me dê um abraço.
Belarmina, que era apaixonada pela sua senhora, sentiu-se valorizada e feliz, e após o abraço, foi em busca de Lúcio que continuava com os pais, trocando ideias.
Quando Lúcio entrou no quarto, junto com Januário e Tereza, ficou feliz por ver que Isabel estava bem melhor.
Não havia mais tristeza em seu olhar e parecia equilibrada.
- Como você está, meu amor? - tornou ele, beijando-a.
- Estou bem, sim, depois de longo banho, fiquei bem melhor.
A senhora Tereza sentiu-se aliviada:
- Estava preocupada com você, minha filha.
Sabe que, se você ficar mal, Lúcio também fica.
O senhor Januário completou:
- É isso mesmo, Isabel.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Fev 01, 2018 9:50 pm

Nosso filho fica muito infeliz quando você não está bem, por isso deve se esforçar para ficar sempre alegre para que ele não venha a sofrer.
Isabel irritou-se.
Os pais de Lúcio só pensavam no filho, não estavam dando importância ao seu sofrimento, mas ao que Lúcio sentia.
Ia responder, mas achou prudente não criar embates com os dois.
Apenas disse:
- Não se preocupem.
Farei de tudo para estar sempre bem e fazer o filho de vocês sempre feliz.
- Assim espero - disse Januário, altivo.
Quando o casal saiu do quarto, Isabel esbravejou:
- Seus pais são egoístas, só pensam em você.
- Calma, meu amor, sempre foi assim, desde que nasci.
Compreenda-os - tornou Lúcio, carinhoso.
A voz do homem amado fez com que Isabel perdesse totalmente a raiva que sentia:
- Desculpe-me, Lúcio, é que desde que vi aqueles nomes no pomar, não me sinto a mesma.
Pouco depois que você saiu do quarto, comecei a sentir um calor estranho que foi aumentando tanto que parecia que todo meu corpo ia pegar fogo.
Só depois que entrei na banheira e lá fiquei durante muito tempo, foi que passou.
Mas ainda me sinto angustiada, com uma sensação de medo que não sei de onde vem.
- É que você está impressionada, não conseguiu esquecer o que Pedro fez, por isso, tudo que se refere a ele faz você passar mal.
- Me abrace, preciso de você.
Os dois se abraçaram e começaram a se beijar.
O espírito de Pedro, ao ver aquela cena, sentiu ódio descomunal apossar-se de seu ser.
O ódio foi tanto que logo as chamas que haviam se apagado de seu corpo voltaram a arder.
Pedro começou a urrar de dor e começou a correr desesperado pelo quarto.
Sem saber por que, Isabel passou a se sentir mais angustiada e começou, aos poucos, a repelir Lúcio, até que, em dado momento abriu os olhos, e numa questão de poucos segundos, viu claramente o espírito de Pedro ardendo em chamas, gritando e chamando por seu nome.
Aquela visão aterradora e real fez Isabel soltar um grito estridente e desmaiar em seguida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:55 pm

CAPÍTULO 28
Desesperado, Lúcio saiu correndo do quarto à procura dos pais, quando Belarmina entrou rapidamente.
Ao ver sua senhora desmaiada, procurou massagear seus pulsos, mas Isabel não voltava a si e respirava fracamente.
Lúcio encontrou os pais no grande salão e desesperado gritou:
- Mãe, pai, corram para o quarto.
Isabel deu um grito alto e desmaiou.
Será que está morta?
A voz de Lúcio estava entrecortada pelo choro que ameaçava cair, e logo Januário e Teresa correram junto com ele entrando na alcova.
Viram Belarmina agarrada a Isabel, chorando.
Quando chegaram perto, sentiram o desespero aumentar.
Lúcio olhou para Belarmina e perguntou:
- O que é isto no corpo dela?
- Não sei, senhor, de repente todo o corpo da senhorinha Isabel se cobriu de manchas roxas e ela está ardendo em febre.
Corre, senhor, e manda chamar um médico.
Lúcio, assustado e confuso, foi se aproximando do leito para tocar em Isabel, quando o senhor Januário pegou em seu braço com força e o arrastou de perto da cama.
- Está louco?
E se ela estiver com uma doença contagiosa?
E se for a volta da peste negra?
Ela pode morrer, mas você não.
- Pare com isso, pai.
Não vê que se Isabel morrer, minha vida perde o sentido?
Januário tinha um amor apaixonado pelo filho e sentia ciúmes do seu sentimento por Isabel.
Para ele, Lúcio lhe pertencia e deveria amar somente o pai.
Fingiu não estar com raiva e disse:
- Compreendo seu amor, meu filho, mas precisa pensar em você.
Isabel está desmaiada, com o corpo cheio de manchas roxas e ardendo em febre.
Se você encostar nela e se contaminar, estará cometendo suicídio.
Eu o proíbo de ficar nesse quarto até o médico dizer o que ela tem.
Lúcio ia retrucar, mas o semblante sério e imperativo do senhor Januário fez com que ele recuasse.
- Belarmina, permaneça com Isabel enquanto eu e Lúcio vamos chamar o médico.
Todos saíram do quarto, e Belarmina começou a orar.
O que menos queria era que sua senhora tão linda e feliz, casada com o homem amado, muito rica, morresse assim de repente e tão jovem.
Lúcio chamou Bóris e perguntou:
- Qual o melhor médico desta região?
Aqui é muito longe de Lisboa e se for mandar chamar um médico lá, pode ser tarde.
Isabel está muito mal.
Bóris demorou a responder, mostrando-se receoso.
Lúcio percebeu:
- O que foi, Bóris?
Você não conhece nenhum médico que more nas cercanias do castelo?
- Não conheço, senhor.
Preciso dizer que a senhora Helena e seu marido não precisavam de médicos.
- Meus tios, como todos os mortais, adoeciam.
Porque não procuravam médicos?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:55 pm

Bóris ainda demorou a responder:
- Porque quem tratava de seus problemas de saúde era Wladimir.
- Wladimir, o bruxo?
- Ele mesmo.
Wladimir entende tudo de medicina e vai além.
Ele conhece leis da natureza que as pessoas comuns nem suspeitam que existem.
Muitas vezes ele nem passava remédios para nossos senhores, ele movia as mãos, gesticulava de maneira estranha e logo eles estavam bem.
Nunca um médico entrou neste castelo desde que vivo aqui com minha esposa.
O senhor Januário olhou para Lúcio com imperiosidade:
- Você não vai querer que sua mulher, doente como está, seja tratada por um feiticeiro, não é?
- Bóris está afirmando que Wladimir curava meus tios.
Não custa tentar.
- Não seja tolo, Lúcio!
Sua tia era dada a misticismos, mas nós não somos e nem acreditamos em nada disso, vamos procurar um médico.
- Temo que Isabel não resista até lá.
Bóris interveio:
- Eu mesmo vou à vila mais próxima e trago algum.
Prometo ser rápido.
Lúcio consentiu, e Bóris saiu.
Mesmo com louca vontade de entrar no quarto para ver a amada, o olhar de domínio do pai fazia com que ele ficasse ali, parado, temendo que ela morresse.
Naquele momento, Lúcio percebeu que amava Isabel muito mais do que supunha.
Se ela viesse a morrer, preferiria morrer também.
A senhora Tereza orava baixinho e ninguém percebia que eram observados por Wladimir que, atrás de uma grande pilastra, não perdia um só movimento deles.
Meia hora depois, Bóris chegou com um médico de meia-idade.
O senhor muito educado, polido cumprimentou todos e se apresentou como Doutor Venceslau, médico da província de Santa Maria Madalena, não muito distante do Castelo de Vianna.
A referência não era boa, mas o que importava naquele momento era que Isabel recebesse alguma espécie de socorro.
O médico entrou no quarto, pediu que Belarmina se afastasse da doente e começou a examiná-la.
Levou quase vinte minutos naquele processo e ao final olhou para todos e perguntou:
- Isabel sofreu alguma emoção muito forte?
- Não, senhor - disse Lúcio, tremendo.
Ela se contrariou com algo que viu, mas não foi nada tão sério.
- O castelão disse-me que ela soltou um grito alto e em seguida desmaiou.
Tem certeza de que não foi algo mais grave?
- Tenho certeza.
Isabel já estava melhor e estávamos conversando normalmente quando ela deu o grito.
Não entendi como isso foi acontecer.
O médico olhou-o fixamente e disse:
- Ela não tem nenhuma doença.
- Como assim? - perguntou Lúcio, incrédulo.
- Ela não está mais com febre e pelo que pude apurar, não há outros sintomas que caracterizem uma moléstia.
O que posso dizer é que a senhora Isabel passou por forte emoção, por isso seu corpo teve essa reacção.
Ninguém se conformava.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:55 pm

O senhor Januário tornou:
- Uma emoção pode causar febre e manchas roxas no corpo?
Nunca ouvi nada desse tipo.
O médico explicou bondosamente:
- As responsáveis pela saúde do corpo são as emoções.
Nunca percebeu que, quando fica irritado ou contrariado, sua pressão sobe, sente dores de cabeça ou fica tonto?
Ele meneou a cabeça positivamente.
Doutor Venceslau prosseguiu:
- O nosso corpo é uma máquina perfeita, mas quem o comanda é o nosso espírito.
Sempre que nos desequilibramos emocionalmente, ele reage no ponto mais sensível e daí aparecem as doenças.
Tenho certeza que, no caso de Isabel, foi algo que ela sofreu ou...
O médico parou sem saber se continuava ou não.
Vendo que todos esperavam com ansiedade, ele prosseguiu:
- Ela pode estar sendo vítima de uma obsessão.
- Obsessão? - perguntou Lúcio, incrédulo.
Que tipo de obsessão?
- Obsessão de pessoas que já morreram.
Você acredita nessa possibilidade?
Foi Januário quem respondeu:
- Não acreditamos em nada disso e agora o senhor já pode medicá-la e se retirar.
O médico prosseguiu imperturbável:
- Eu perguntei ao seu filho.
Vamos, Lúcio, me responda.
O que pensa do assunto?
Daquela vez, Lúcio resolveu desafiar o pai e dizer o que pensava:
- Eu acredito, doutor.
Já vi casos em que espíritos interferiram na vida das pessoas vivas.
Na quinta onde Isabel nasceu, há um escravo que entende dessas coisas.
Uma vez duas senhoras desmaiaram lá e ele chamou seus espíritos de volta e elas acordaram em seguida.
Por isso, acredito que Isabel possa estar envolvida por um mau espírito.
- Muito bom, rapaz!
Acreditar já é bastante.
O que vocês precisam é saber se isto é verdade e agir para que esse assédio termine.
Caso seja uma obsessão, Isabel não vai melhorar com remédio de médico nenhum.
- Preciso buscar Carlinhos na quinta o mais rápido possível - disse Lúcio já se retirando do quarto.
- Não precisa, senhor - foi a vez de Wladimir que, na porta, olhava para eles com olhos enigmáticos.
Como ninguém disse nada, ele prosseguiu.
- Eu sei que a senhora Isabel está sendo vítima de um espírito sofredor e sei como afastá-lo.
Se permitir, o faço agora.
O senhor Januário estremeceu de medo:
- Eu vou me retirar, não estou habituado a essas coisas.
- O senhor tem todo o direito, mas se ficar, terá a chance de perceber com clareza que a vida continua após a morte e essa certeza vai mudar sua forma de ver o mundo e a vida.
Ninguém permanece o mesmo ao saber que a vida continua.
O senhor Januário, vencendo o medo, permaneceu no recinto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:56 pm

Wladimir pediu que todos dessem as mãos e começou a fazer uma prece.
De repente, Isabel começou a suar frio e a se debater na cama, mas ele fez um gesto para que todos permanecessem em seus lugares.
Wladimir viu o espírito de Pedro em chamas, próximo ao corpo de Isabel e perguntou:
- Quem é você e o que faz aqui?
- Sou uma alma que sofre muito.
Fui traído e ela terá de me pagar.
Todos estremeceram de pavor.
Estavam ouvindo claramente a voz do espírito que era terrivelmente assustadora.
Aquilo acontecia através do fenómeno de voz directa explicado por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns.
Pela manipulação de uma substância chamada ectoplasma, presente em todos os seres vivos, os Espíritos Superiores permitiram que a voz de Pedro fosse ouvida por todos para que lhes servisse de aprendizado e aperfeiçoamento moral.
Wladimir, olhos fechados, prosseguiu:
- Porque não perdoa Isabel pelo que ela fez?
Só nesse dia é que estará em paz, e o fogo deixará de consumir seu corpo.
O espírito de Pedro chorou copiosamente e soluçando muito disse:
- Eu amo Isabel, sempre amei.
Ela jamais poderia ter me trocado por Lúcio.
Por isso, me matei no dia de seu casamento para que aquilo ficasse para sempre marcado em sua mente impedindo-a de ser feliz.
A surpresa tomou conta de todos.
Era a alma suicida de Pedro que ali estava falando, e ninguém sabia por onde.
- Veja só, irmão - tornou Wladimir, com calma.
Atrás de você, está chegando um grupo de médicos, veja só o que eles irão fazer com seu corpo.
Um senhor vestido de branco, acompanhado por duas enfermeiras, pegou uma manta fosforescente e com carinho cobriu Pedro.
Naquele momento, o fogo cessou, e Pedro soltou um grito de alívio:
- Oh, meu Deus! Que alívio!
Já não mais aguentava esse suplício.
Como é bom não arder nas chamas.
- Você quer continuar assim e partir com esses médicos para tratar seu corpo? - perguntou Wladimir, com carinho e amor.
- Sim, eu quero.
Não aguento mais queimar sem fim.
- Para isso é preciso que você deixe Isabel em paz.
Este é o preço.
Caso não aceite esse tratamento, seu corpo voltará a pegar fogo e de tanto se consumir, você se deteriorará e se transformará numa massa disforme e sem consciência.
É isso o que você quer para sua vida?
Pedro chorava:
- Não, eu quero melhorar, mas ao mesmo tempo eu quero Isabel.
- Isso não é possível.
É muito bom amar alguém, mas esse sentimento é nosso.
Por amar, a pessoa não tem nenhuma obrigação de nos corresponder.
Aceite que Isabel é livre para ser feliz, pois caso não aceite, demonstrará que o que sente não é amor, mas apenas uma paixão egoísta.
Quem verdadeiramente ama quer que o ser amado seja feliz, não importa como, nem com quem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:56 pm

Pedro ouvia e prosseguia chorando.
Wladimir continuou:
- Sei que no íntimo está acusando Isabel de traidora e Lúcio de usurpador, mas ninguém manda no coração.
O amor é um sentimento espontâneo e livre, e deve ser vivido sempre.
Isabel não traiu ninguém, ao contrário, ela foi fiel a si mesma e a seus sentimentos.
Você preferia que ela se negasse e vivesse ao seu lado infeliz para sempre?
- Não, eu quero que ela seja feliz, mas ao meu lado ela passaria a me amar.
- Isso é uma ilusão, Pedro.
O amor que sentimos pelas pessoas, muitas vezes, vem de outras vidas, foi construído ao longo dos milénios e por isso, frequentemente, reconhecemos a pessoa
amada com apenas um simples olhar.
Isabel, ao seu lado, poderia amá-lo muito, mas como pessoa, ser humano, nunca com o amor apaixonado que ela tem por Lúcio e que carregará para sempre.
Conforme-se, pois ninguém tem o poder de mandar nos próprios sentimentos e nem no sentimento dos outros.
No dia em que entender isso, será feliz.
Pedro, então, mais calmo, disse:
- Você tem razão.
Amo Isabel, mas não posso continuar a sofrer desse jeito.
Esses médicos são bons.
Seguirei com eles.
Uma luz muito intensa tomou conta de todo o ambiente e nessa hora todos viram Pedro ser adormecido, colocado numa maca e em seguida desaparecer do quarto.
Isabel passou a respirar normalmente e em seguida abriu os olhos, sendo abraçada por Lúcio.
Ficou em todos a certeza da imortalidade da alma e, a partir daquele dia, cada um iria lutar pela própria melhoria íntima.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:56 pm

CAPÍTULO 29
Depois daquele dia, Isabel passou a melhorar e, dentro de uma semana, estava normal.
Ficou sabendo de tudo que havia acontecido e prometeu a si mesma não mais se culpar e orar pelo espírito de Pedro.
Um mês havia passado e as coisas pareciam correr bem quando, em um início de manhã, Belarmina adentrou o grande salão, onde Isabel conversava com os sogros, trazendo o semblante assustado:
- Desculpa interromper, senhora Isabel, mas um guarda está à porta do castelo dizendo que Carlinhos está lá fora pedindo para lhe falar.
Isabel assustou-se.
Carlinhos ali àquela hora devia ser porque algo grave havia acontecido na quinta.
- Mande-o entrar, Belarmina, já disse que Carlinhos pode entrar aqui a hora que quiser.
- Desculpe-me, mas achei melhor avisar antes, já que ele nunca tinha vindo aqui.
- Mas agora veio, mande-o entrar já.
Notando a palidez no rosto da nora, Tereza acalmou:
- Calma, pode ser apenas um simples recado de sua irmã.
- Não creio, dona Tereza.
Rosa Maria nunca me procurou aqui nesses meses todos, eu é que sempre vou lá.
Só pode ter acontecido alguma coisa muito grave.
Minutos depois, Carlinhos entrou com o rosto baixo, dirigindo-se à Isabel:
- Bom dia, senhora.
Trago recado de sua irmã.
- Deixe de cerimónias, Carlinhos.
O que aconteceu? - perguntou Isabel, coração aos saltos.
- Nossa plantação estava muito verde e bonita, contratamos homens e tudo estava pronto para a colheita, quando um grande incêndio veio e arrasou tudo.
Dona Rosa Maria está apavorada e sem saber o que fazer.
Isabel estranhou:
- Incêndio?
Como aconteceu isso?
- Ninguém viu ou sabe como começou, quando vimos, o fogo já estava cobrindo tudo, não tivemos como salvar nada.
- Algum trabalhador pode ter deixado alguma ponta de fumo acesa no meio da plantação, o tempo está quente, isso pode provocar um incêndio - disse o senhor Januário, tentando encontrar uma explicação que viesse acalmar a nora.
- Foi o que pensamos, mas a senhora Rosa Maria descobriu a verdade dois dias depois.
-Verdade? O que foi? - interrogou Isabel, aflita.
- Infelizmente, não posso dizer nada aqui.
A sua irmã pediu-me que viesse contar o ocorrido, pedindo que a senhora fosse para lá o mais rápido possível.
Disse que é caso de vida ou morte.
Isabel ficou ainda mais aterrorizada.
Concluiu que alguém tivesse incendiado a plantação de propósito e as vidas de Rosa Maria, de tia Elisa e de sua sobrinha Denise estivessem correndo perigo.
- Belarmina! - gritou Isabel sendo atendida prontamente pela escrava.
Mande tirar minha carruagem agora, sigo para a quinta com Carlinhos e não sei quando volto.
- Mas Lúcio foi a Lisboa cantar e só volta amanhã, não é bom que saia sem a permissão dele - ponderou senhor Januário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:56 pm

- Eu vou aonde quero e como quero.
O senhor me desculpe, mas não posso esperar seu filho chegar enquanto a vida de minha família corre perigo.
Dizendo isso, Isabel saiu feito um furacão partindo para seus aposentos.
Lá chegando, arrumou o que pôde num pequeno baú e logo estava na estrada com Carlinhos em sua carruagem e ela na carruagem dela.
Muitas horas se passaram e Isabel só chegou à quinta quando estava anoitecendo.
Encontrou Rosa Maria e tia Elisa na varanda com semblantes preocupados.
Assim que beijou Denise, que dormia placidamente no colo da velha tia, ela perguntou:
- O que houve aqui?
Para você ter me chamado com urgência no castelo, é porque se trata de algo muito grave.
Rosa Maria fez um rosto compungido e pediu:
- Vamos deixar tia Elisa aqui fora com Denise e entremos.
É melhor conversarmos em meu quarto.
O cocheiro foi tirando o baú e algumas malas, enquanto Isabel, ainda mais nervosa com aquele clima de suspense, seguiu atrás da irmã.
Quando entraram no quarto, Rosa Maria foi até o toucador, abriu uma das gavetas e tirou dela um pequeno bilhete, entregando-o à irmã:
- Enviaram para você dois dias depois do incêndio.
Isabel começou a ler o bilhete avidamente, e seu rosto cobria-se de palidez à medida que percorria os olhos pelo papel:
"Querida Isabel, você roubou o homem de minha vida e por isso vai pagar muito caro.
Esse incêndio foi feito por homens de minha confiança, mas foi apenas o primeiro.
Se você não deixar Lúcio e ir embora daquele castelo, o próximo incêndio será na casa da quinta e nem sua tia, nem sua irmã, muito menos sua querida sobrinha sobreviverão para contar a história.
M.C".
- Quem pode ter feito uma coisa dessas? - indagou Rosa Maria, muito preocupada.
- E você ainda pergunta? - gritou Isabel, possessa.
Foi a vagabunda ordinária da madame Celina.
Olhe as iniciais!
- Madame Celina?
Aquela dona do bordel?
- Ela mesma.
Tenho certeza de que nunca conseguiu esquecer Lúcio, mas nunca pensei que fosse capaz de tamanha barbaridade.
Rosa Maria apertou as mãos da irmã, dizendo amedrontada:
- Essa mulher é perigosa, Isabel.
Ela não vai sossegar enquanto você não deixar o Lúcio.
O que vamos fazer?
Pelo rosto de Isabel passou um brilho maldoso.
- Ela pensa que me assusta com o que fez e ainda tem a ousadia de me dizer o que devo fazer.
Nunca em minha vida deixarei o Lúcio, muito menos por causa de uma rameira imbecil quanto ela.
- Mas ela pode realmente mandar atear fogo na casa.
Por favor, leve-nos todos para seu castelo, não fico mais um dia sozinha aqui.
O rosto de Isabel prosseguia sereno:
- Não se preocupe, minha irmã, já sei exactamente o que irei fazer.
Você não vai precisar sair da quinta, esse lugar que tanto ama, por causa dessa mulherzinha.
Ela terá o que merece e aprenderá a nunca mais meter medo em ninguém.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:56 pm

Rosa Maria balançava a cabeça:
- Você não está avaliando o tamanho do perigo, minha irmã.
Não posso ficar aqui correndo o risco de morrer, tenho uma filha, uma tia que mora comigo. Não!
Quero ir hoje mesmo para o castelo.
- Fique calma, Rosa, eu resolverei essa situação.
Madame Celina é uma chantagista e se formos ceder, sua chantagem só vai aumentar, teremos de cortar esse mal pela raiz.
- E o que você pretende fazer?
Pelos olhos de Isabel, uma maldade mal disfarçada aparecia:
- Confie em sua irmã, nada vai acontecer.
Dê-me pena e papel.
Rosa Maria obedeceu e começou a escrever um bilhete:
"Madame Celina, estou muito assustada com tudo isso.
Tudo farei para que nada aconteça à minha família.
Mas antes quero conversar com você, tentar algum acordo, podemos eu e você
dividir o Lúcio.
Tenha piedade de uma irmã em desespero.
Estarei esperando-a daqui a dois dias em meu castelo.
Lúcio estará viajando e poderemos conversar à vontade.
Mande-me resposta e no dia exacto enviarei um cocheiro para buscá-la".
Rosa Maria não entendeu nada e, nervosa, perguntou:
-Você vai levar essa mulher perigosa para seu castelo? Perdeu o juízo?
- Não, minha cara, nunca estive com a cabeça melhor.
Confie em mim.
Agora chame o Carlinhos e peça que ele leve este bilhete à Casa da Perdição e o entregue em mãos.
Rosa Maria, vendo o olhar seguro e altivo da irmã, não teve alternativa senão obedecer.
Isabel foi ver Denise em seguida que já estava acordada clamando fome.
Após a menina ser amamentada, Isabel contou à tia Elisa que tinha um plano para acabar de vez com as ameaças de madame Celina, e pediu para que tanto ela quanto Rosa ficassem calmas.
A altivez e a serenidade de Isabel impressionaram tia Elisa e Rosa Maria de tal forma, que elas acabaram por se acalmar mesmo sem saber o que se passava na mente de Isabel.
Já era quase meia-noite quando Carlinhos voltou com uma resposta.
Madame Celina dizia-se muito honrada com o convite e confirmava presença no castelo dali a dois dias.
Olhando para o bilhete perfumado e com marca de batom, Isabel sorriu enigmática ao dizer:
- Não sabe o que a aguarda...
- Você está me assustando, Isabel, nunca a vi com esse rosto.
- Não se preocupe, minha irmã.
Daqui a dois dias, não teremos mais problemas com essa mulher.
Meia hora depois, quando todos já tinham se recolhido, Isabel ficou a pensar no que iria fazer.
Não era o mais certo, mas naquele momento não havia outra solução.
Ou realizava o que pretendia ou três pessoas morreriam queimadas.
Ela sabia que Celina era maldosa e passional o suficiente para praticar aquele ato insano.
Um ódio surdo brotou do peito de Isabel e ela custou a dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:57 pm

Pela manhã, ela acordou cedo e assim que tomou café, despediu-se de todos e partiu de volta ao castelo, deixando Rosa Maria e tia Elisa menos preocupadas e confiantes de que tudo seria solucionado.
Isabel contou aos sogros o que tinha acontecido, informando-os de que havia chamado madame Celina para uma conversa no castelo.
Disse-lhes que pretendia oferecer-lhe muito dinheiro para que ela sumisse para sempre de suas vidas.
Depois pediu:
- Senhor Januário, senhora Tereza, o Lúcio vai viajar amanhã cedo e só voltará depois de dois dias.
O senhor sabe como Lisboa aprecia sua música.
Peço-lhes que não lhe contem nada do que está acontecendo.
Deixe que resolvo tudo sozinha.
Januário, que em tudo queria poupar o filho, gostou da ideia:
- É bom mesmo que Lúcio não saiba de nada, ele não pode se envolver em problemas, pois é um compositor, um cantor, e não deve ter a mente perturbada ou não fará belas apresentações.
- É isso mesmo - concordou Isabel para agradar e conseguir o que queria.
Acho que Lúcio, enquanto músico, deve estar sempre livre de problemas e aborrecimentos.
Meu marido é muito sensível e desde que nos casamos, abandonou de vez as mulheres da vida.
Se souber que madame Celina está me importunando e que virá aqui conversar comigo, é capaz de desmarcar os compromissos na corte e ficar para me ajudar na conversa.
- Isso nunca! - bradou Januário.
Não se preocupe, cara nora, não falaremos nada.
Quando Lúcio chegou naquela noite, Isabel cobriu-o de carinhos e fizeram amor maravilhosamente bem.
Na manhã seguinte, assim que ele saiu, Isabel alimentou-se no próprio quarto e em seguida pediu que Belarmina chamasse Wladimir.
A serva estranhou, mas obedeceu.
Logo Wladimir surgiu no quarto, entrando com educação:
- O que deseja, senhora?
- Quero matar uma pessoa e você irá me ajudar.
Wladimir parecia já saber o que ela dizia, pois seu rosto não moveu um músculo.
- Creio que isso não seja assunto para ser tratado na frente de escravos - falou o mago, referindo-se à Belarmina que estava ao lado, assustada com o que acabava de ouvir da sua senhora tão querida.
- Não se preocupe, confio plenamente em Belarmina.
Então, vai ou não me ajudar?
Wladimir olhou-a profundamente, de modo a ler seus mais íntimos pensamentos.
- Como a senhora quer que ela morra?
Isabel percebeu que Wladimir sabia tratar-se de uma mulher.
- Como sabe que é uma mulher?
- Eu li seus pensamentos.
- Não acredito nisso.
- Mesmo depois de tudo o que passou, senhora?
Ela reflectiu:
- Tudo bem, sei que você tem essa estranha capacidade, por isso não preciso dizer muito, só que uma mulher perigosa e vulgar está colocando em risco a vida das pessoas de minha família, que mais amo, e em troca da paz, quer que eu me separe de Lúcio e vá embora desse castelo.
Nunca vi ousadia maior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:57 pm

- A senhora faz bem em matá-la.
Vejo essa mulher rodeada de sombras sinistras e ela é realmente capaz de destruir sua família.
Só não sei se matar será a melhor saída.
- E você acha que tenho alternativa?
Jamais deixarei Lúcio, e se ela continuar viva, vai fazer o que promete.
- Eu tenho uma solução melhor que a morte.
- Qual é? - indagou Isabel curiosa.
- Esse castelo possui uma torre que serve de prisão.
Já que ela virá aqui, podemos prendê-la lá para sempre.
- Nunca ouvi falar dessa torre.
- Ela existe faz muito tempo.
Servia para prender malfeitores quando pilhavam o castelo, tempos antes.
Quem entra lá não sai nunca mais.
- Então ela morrerá à míngua na torre?
- Não, ela será alimentada todos os dias.
Já lhe disse que talvez a morte não seja a melhor solução.
- Mas esse tipo de mulher ardilosa pode seduzir algum guarda ou escapar de alguma maneira.
Não, o que quero mesmo é que morra, daí estarei livre para sempre.
Wladimir fez um ar sério ao dizer:
- Sinto informá-la, senhora, mas a morte não vai livrá-la da sua inimiga, antes a tornará mais forte e poderosa.
- Como assim?
-A morte só destrói o corpo de carne, o espírito continua livre no mundo espiritual e daí pode fazer o que quiser.
Com certeza, assim que se libertar do corpo, o espírito de madame Celina virá atormentar sua vida, assim como Pedro fez, e a senhora não pode esquecer isso.
Já devia lembrar que não existem mortos, todos estão vivos, o que muda é a vibração, o ambiente, mas as pessoas continuam as mesmas.
Isabel lembrou-se de todo o horror que havia passado com Pedro e assustou-se:
- Eu havia me esquecido desse detalhe.
Meu Deus!
Ela parou um pouco para pensar, depois disse:
- De qualquer forma, prefiro que ela morra e venha me assombrar mais tarde do que matar minha irmã, minha tia e minha sobrinha por causa de um capricho.
Deus é justo e verá que só fiz o bem.
Wladimir ia dizer-lhe algo, mas desistiu.
Vendo-o calado, ela perguntou:
- Não aprova minha ideia, não é?
- Não estou aqui para aprovar ou desaprovar, estou aqui para cumprir as suas ordens.
- Muito bem, então me diga qual é a melhor maneira de matá-la aqui dentro do castelo sem deixar vestígios.
- Venham comigo.
Isabel e Belarmina o seguiram, passaram pelo grande salão e entraram pelo enorme corredor que dava acesso à ala dos criados.
Isabel nunca tinha entrado ali, mas o lugar era igualmente requintado, com o piso todo coberto por um tapete de veludo cor de vinho e archotes de ouro que àquela hora da manhã estavam apagados.
Eles foram caminhando e dobraram em um novo corredor à esquerda que terminava em uma porta grande de madeira, artisticamente trabalhada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:57 pm

Diante da porta, havia um grande tapete com motivos primaveris.
Isabel observou:
- É tudo muito bonito, a senhora Helena tinha excelente bom gosto.
Wladimir nada disse, apenas abaixou-se, tirou o tapete e tanto ela quanto Belarmina se surpreenderam quando viram que, debaixo dele, havia uma porta quadrada sem fechadura.
As duas perguntaram surpresas:
- O que significa isto?
- Essa porta é o começo de um túnel que vai terminar no lago dos crocodilos.
Quem cair por ela vai escorregando rapidamente e ao cair no lago é devorado pelos animais.
Ninguém jamais sobreviveu a essa porta.
Isabel assustou-se:
- E a senhora Helena a usava?
- Não. Tanto a senhora Helena quanto o marido eram óptimas pessoas e não tinham inimigos, mas os pais de Helena usaram-na várias vezes, e agora é a hora da senhora usar.
Belarmina pediu assustada:
- Senhora, não faça uma maldade dessas, pelo amor do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Isabel também não queria que madame Celina morresse de uma forma tão drástica, mas não havia saída, ou era ela ou sua família.
- Cale-se, Belarmina, sei o que estou fazendo - e olhando para Wladimir, perguntou:
- E como faço para destravar essa porta e fazer com que a maldita caia aí dentro?
- Não notaram esse enorme urso empalhado aí perto de vocês?
Isabel e Belarmina olharam para o urso, mas não viram nada demais.
Havia vários animais empalhados no castelo que serviam de ornamentos.
- E para que serve esse urso?
Wladimir aproximou-se do animal e com rapidez abaixou uma de suas mãos.
Ouviu-se um som esquisito e a porta foi destravada com rapidez mostrando imenso buraco negro que parecia não ter fim.
Ambas se assustaram, mas Isabel entendeu tudo:
- Eu a trarei para cá, farei com que fique sobre o tapete e em seguida abaixarei a mão do urso.
Muito bem, assim será!
Dizendo aquilo, Isabel saiu com porte altivo deixando Wladimir e Belarmina para trás.
- Por favor, mestre Wladimir, não deixe a senhora Isabel cometer um pecado desses.
- Belarmina, aprenda que a alma humana ainda é muito primitiva.
Isabel poderia resolver essa questão de outra forma, mas seu espírito é prático e racional, fruto de sua última encarnação quando viveu nas Gálias.
Isabel precisará passar ainda por muitos sofrimentos para aprender a agir com acerto.
Não adianta dizer a alguém que faça o contrário do que quer.
A pessoa pode até fingir que aceitou seu conselho, mas no fundo vai procurar uma forma de fazer exactamente o contrário.
- Mas existem conselhos que salvaram vidas, mestre.
- Os conselhos só ajudam para quem está aberto a eles.
Quem é muito cheio de si e dono da razão não os ouve, é inútil.
Isabel é muito dona de si, e isso, em vez de ajudá-la, vai prejudicá-la muito durante a vida.
Só a dor é que vai ensiná-la.
Wladimir, ajudado por Belarmina, colocou o pesado tapete no lugar, e saíram dali calados, cada um imerso em seus próprios pensamentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:57 pm

CAPÍTULO 30
Madame Celina sentiu-se imensamente importante com o convite de Isabel para ir ao castelo.
Comentava com Lola enquanto se esmerava na arrumação:
- Está vendo como é fácil conseguir as coisas?
Basta pôr um pouco de medo nas pessoas que elas fazem tudo que nós queremos.
- Não tem medo de Isabel?
Ela é rica e poderosa.
Celina riu:
- Ninguém é poderoso quando tem medo.
Isabel está morrendo de medo das queridinhas dela morrerem queimadas.
Tenho certeza de que vai fazer tudo o que desejo.
- E o que a senhora quer?
Acha mesmo que ela vai deixar o Lúcio e ir embora do castelo?
- Não seja tola, Lola.
Claro que ela nunca faria isso, mesmo que eu matasse todos de sua família.
Isabel é muito apaixonada e nunca teria coragem de deixar o homem amado.
Sou mulher e sei muito bem como funciona o coração feminino.
O que quero já consegui, ela mesma propôs no bilhete: dividir o Lúcio.
Ele pode não ser meu totalmente, mas dela também não será.
- E a senhora acha que Lúcio vai voltar a desejá-la?
- Ele me deseja até hoje, só não vem mais me ver porque se casou com ela.
Mas Isabel terá de facilitar as coisas.
Deverá não ceder a ele sexualmente com facilidade, deverá deixá-lo com desejos ardentes, sem, contudo, saciá-los.
Deverá também muitas vezes fingir indiferença, cansaço.
Assim, ele logo se lembrará de mim e virá correndo para minha cama.
Madame Celina riu estrondosamente e completou:
- Não há homem que aguente indiferença, minha cara.
Lola estava admirada com a sabedoria de sua chefe.
Verena bateu levemente na porta do quarto e entrou:
- Madame, a carruagem dos Vianna acabou de chegar.
- Já estou indo, diga ao cocheiro que espere.
Os olhos de Celina brilhavam orgulhosos:
- Como agi bem mandando queimar aquela plantação!
Se soubesse que teria efeito tão rápido, teria feito antes.
Lola perguntou com certo receio:
- A senhora terá mesmo coragem de matar as parentas de Isabel caso ela não venha a ceder?
- Claro que sim, ora essa!
Ainda não sabe do que sou capaz?
- Mas a senhora pode ser presa e condenada à morte.
- Prefiro morrer a perder o Lúcio.
As palavras da madame, ditas com tamanha frieza, fizeram com que Lola se assustasse e tivesse a impressão de que a estava vendo pela primeira vez.
- Abrace-me, querida, e deseje-me boa sorte.
Lola abraçou-a e despediram-se.
Madame Celina entrou na carruagem e, inocentemente, partiu para o castelo.
A beleza do castelo impressionou sobremaneira a cafetina.
Enquanto esperava Isabel, sentada no luxuoso terraço de estar, sentiu imensa inveja e ódio surdo a dominar-lhe o ser.
Era ela quem deveria estar vivendo ali, usufruindo de toda aquela beleza e luxo ao lado do homem que mais amava no mundo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:58 pm

Quem sabe um dia não conseguiria?
Iria ser paciente e esperar.
Caso não tivesse alternativa, armaria alguma emboscada e mataria a própria Isabel sem que ninguém desconfiasse.
Em sua ilusão, imaginava Lúcio, sozinho e carente, voltando para seus braços, pedindo que fosse sua esposa.
Os devaneios de madame Celina foram interrompidos pela chegava de Isabel.
Ao vê-la, mais uma vez sentiu a inveja corroer seu íntimo.
Isabel estava vestida num belíssimo vestido vermelho, todo bordado com fios de ouro, com detalhes em pedras preciosas variadas que ela não pôde contar quantas eram.
Naquele instante, não teve dúvidas de que aquela mulher teria de morrer.
- Bom dia, Celina, como vai? - perguntou Isabel, com fingida educação.
- Madame Celina, por favor, todos me chamam assim.
É uma questão de respeito, não acha?
- Oh, sim! Desculpe-me!
- Vim aqui para saber quando é que você vai abandonar o meu homem e sair desse castelo com o rabo entre as pernas.
Já sabe que, se não fizer isso, sua família morre queimada.
Isabel conteve a raiva e perguntou com fingida atenção:
- Não acha perigoso fazer-me esta ameaça?
Posso colocar pessoas em seu encalço e impedir que faça qualquer coisa.
Somos poderosos e ricos, podemos fazer uma denúncia e você será presa e morta.
Não tem medo?
Os olhos de madame Celina brilharam de prazer ao dizer:
- Não tenho esse medo, sabe por quê?
Porque sei que você é esperta o suficiente e não vai arriscar a vida de sua família, principalmente a de sua sobrinha praticamente recém-nascida.
Sabe que, se algo me acontecer, há outras pessoas que farão o serviço por mim.
Acaso acha que não pensei em tudo?
Isabel sabia que ela estava blefando.
Ninguém teria coragem de arriscar a própria vida fazendo um serviço sujo daqueles para uma cafetina que já estivesse morta.
Fingiu acreditar:
- Tudo bem, eu sei realmente que devo ceder, mas não acho prudente conversarmos aqui no terraço, vamos ao gabinete particular do Lúcio.
A menção ao nome do amado fez com que o coração da madame acelerasse.
Ela iria conhecer seu gabinete! Poderia existir emoção maior?
Isabel chamou Belarmina e as três entraram pelo imenso corredor.
- O que essa criada quer junto com a gente? Nosso assunto é estritamente particular - disse Celina, irritada.
- Não se preocupe com Belarmina.
Ela é minha aia de confiança, tudo que se passa em minha vida ela sabe.
Belarmina acompanha-me em tudo, soaria estranho aos meus sogros eu ir conversar com você sem levá-la.
Celina entendeu e foi seguindo pelo corredor que, àquela hora do entardecer, já estava todo magnificamente iluminado por velas enormes e artisticamente trabalhadas.
Chegaram em frente à porta magnífica e Belarmina começou a tentar abri-la, fingindo atrapalhar-se com as chaves.
Madame Celina estava em cima do tapete e nada desconfiava.
Isabel disse com voz desgostosa:
- Belarmina, será que erramos com o molho de chaves?
- Não sei, senhora, estou testando uma a uma...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:58 pm

- Tenha um pouco de paciência, madame Celina, eu não costumo usar esse gabinete com frequência, por isso Belarmina se atrapalha com a chave.
- Espero que não demore muito, estou ansiosa para conhecer o gabinete do meu homem.
Isabel saiu do tapete com fingida displicência e aproximou-se do urso.
Olhou com cinismo para Celina e perguntou:
- Está muito ansiosa para conhecer o escritório de meu marido?
- Sim, afinal, em breve ele será meu, só meu, não se esqueça disso.
- Sei... Mas eu tenho um lugar melhor e mais adequado para você conhecer.
- E qual seria?
O seu quarto?
Isabel sorriu:
- Não... O inferno!
Não deu tempo de madame Celina dizer mais nada.
Isabel abaixou a mão do urso, a alavanca destravou e a mulher caiu buraco adentro gritando em desespero.
Aos poucos, seus gritos foram ficando mais distantes até que desapareceram por completo.
Foi com satisfação que Isabel disse:
- Coloque tudo no lugar, Belarmina.
Essa aí agora só vai importunar o diabo.
- Senhora! Até agora não sei como teve coragem.
- Isso é para você aprender o que acontece com quem me desafia.
Belarmina fez um rosto assustado e Isabel riu alto, abraçando-a:
- Não se preocupe, minha linda, eu a amo e nunca lhe farei mal algum.
Enternecida com o carinho da sua quase dona, Belarmina ficou feliz e, enquanto Isabel saía com rosto altivo, ela foi arrumando tudo, mas não deixou de orar um “Pai Nosso” pela alma de madame Celina.
Efectivamente, Celina precisaria de muitas preces, pois naquele momento estava sendo devorada pela fome insana dos crocodilos e seu espírito estava sentindo todas as dores por ver o corpo sendo devorado, pedaço a pedaço, por aqueles animais ainda primitivos.
Isabel e Belarmina, meia hora depois, estavam bordando em seus aposentos como se nada tivesse acontecido, quando a senhora Tereza entrou no quarto:
- E então, querida?
Como foi a conversa com a prostituta?
Isabel fingiu pesar:
- Pobre coitada! Desistiu de tudo só por alguns sacos de ouro.
Como essas pessoas se vendem facilmente...
- E você acredita mesmo que ela vai deixar de persegui-la?
- Sim, não tenho dúvidas.
Belarmina é minha testemunha do quanto ela ficou satisfeita com o ouro que lhe dei, não é, Belarmina?
- Sim, senhora - respondeu Belarmina, de cabeça baixa e voz trémula, coisa que Tereza nem notou.
- Graças a Deus que esta mulher cedeu!
Imagine sua família morta por uma pessoa dessas?
- Eu nunca iria permitir que isto acontecesse, senhora Tereza, por isso ofereci logo o que todo esse tipo de gente quer: dinheiro.
Tereza ficou mais alguns minutos conversando com as duas, depois se retirou para seus aposentos para contar ao marido o resultado da conversa com a nora, que também acreditou naquela versão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 02, 2018 9:58 pm

CAPÍTULO 31
Assim que caiu dentro do túnel, madame Celina sentiu pavor indescritível tomar conta de seu ser.
Não sabia o que estava acontecendo e na ânsia por se salvar, não pensou na possibilidade de Isabel tê-la feito cair numa armadilha.
A queda não levou muito tempo, e logo ela se viu dentro de um rio de águas sujas e lamacentas.
Tentou nadar para chegar a uma das margens, mas logo notou que as águas começaram a se mexer rapidamente e figuras sinistras de crocodilos com dentes grandes e afiados surgiram-lhe à frente.
Ela, em total desespero, tentou fugir nadando para o outro lado do rio, mas outros crocodilos apareceram e ela sentiu que era o fim.
Pensou em Isabel e, mesmo em meio à agonia da morte iminente, compreendeu a emboscada de que tinha sido vítima e odiou Isabel mais do que tudo no mundo.
Contudo, nem conseguiu levar adiante seu ódio, pois os animais famintos e ferozes começaram a devorá-la pedaço por pedaço, até que de seu corpo físico nada sobrou.
O espírito de madame Celina desmaiou e acordou horas mais tarde ainda dentro da água.
Sentiu medo, mas pensou aliviada:
- Consegui salvar-me da fúria daqueles animais!
Maldita Isabel, pagará com a vida o que tentou me fazer.
De repente, o medo de que os crocodilos voltassem surgiu com força e ela começou a nadar sem parar.
Finalmente, chegou à margem do lago e deitou-se nela, esbaforida e cansada.
Horas se passaram e Celina continuou deitada ali, até que finalmente conseguiu se levantar e perceber que estava próxima ao jardim no pátio de dentro, que levava à porta principal do castelo.
Quando viu que estava lá, sentiu o ódio aumentar e começou a correr em direcção à grande porta.
Viu cinco soldados fazendo a guarda e sentiu medo.
Certamente, ela seria pega e levada à Isabel, que mandaria fazer coisa pior, matando-a de verdade.
Resolveu correr em direcção contrária e esconder-se por trás de alguns arbustos grandes e verdes.
Arrepiou-se por inteira quando ouviu um homem sinistro chamá-la:
- Madame Celina?
Como está?
Ela ficou assustada, pois o homem tinha um aspecto asqueroso, possuía cabelos grandes e desgrenhados, barba enorme, vestia-se igual a um mendigo e tinha presas afiadas como os lendários vampiros da literatura.
- Quem é você?
Afaste-se de mim, criatura das trevas.
O homem a olhou com cara de deboche:
- E você? Pensa que também não é das trevas?
Se formos avaliar aqui, nem sabemos quem é pior, se eu ou você.
- Ora, pare de falar comigo nesse tom, sou madame Celina, uma mulher importante e valorizada.
- Você é valorizada porque explora a venda do corpo para os outros em troca de dinheiro.
Isso aqui é considerado um ato trevoso, e você só não foi levada para o umbral porque eu pedi que me deixassem ajudá-la.
Celina começou a achar que aquele homem, além de feio, era louco, pois dizia coisas que ela não entendia.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:32 pm

Ele leu seus pensamentos:
- Não sou louco, você é que ficará louca se não souber o que está acontecendo.
- E o que é? - perguntou assustada.
O homem realmente parecia ter lido seus pensamentos e isso a apavorou ainda mais.
- É simples: Isabel armou uma emboscada e jogou você aqui nesse rio para ser devorada pelos crocodilos.
Eles comeram você por inteira, mas seu espírito continua vivo.
Celina assustou-se:
- Me comeram? Mas eu estou com o corpo perfeito.
- O que você chama de corpo é só a vestimenta do seu espírito que, assim como ele, nunca morre ou é destruída.
Você vive agora com o perispírito.
- O que é isso?
Nunca ouvi essa palavra.
- É que ninguém na Terra ainda estuda esse assunto com profundidade, mas o perispírito é o corpo que todas as pessoas do mundo têm e sobrevive depois da morte.
Mas não se importe com isso agora, o que importa é saber que você está viva e pode se vingar da mulher tirana que a tirou da Terra por meio de uma morte cruel.
-Você quer dizer que eu morri de verdade?
- E você acha mesmo que alguém sobrevive a um ataque de crocodilos?
É muito ingénua mesmo...
- Mas não pode ser, meu coração bate, eu tenho olhos, boca, braços, pernas.
Como posso estar morta?
- É que este corpo em que você vive agora possui todos os órgãos que o corpo de carne possuía, mas em estado diferenciado, que alguns chamam de fluídico.
E tem um detalhe, você não está morta, pois não existe morte.
A morte é a maior ilusão que o homem cultiva na Terra.
Quem morre é só o corpo, o espírito fica tão ou mais vivo do que antes.
Madame Celina, naquele momento, já estava convencida daquela verdade, por isso disse:
- Se continuo viva, quero me vingar de Isabel, vamos entrar lá agora e acabar com ela de vez.
- Não seja ingénua, Celina.
Se você entrar lá agora e começar a perturbá-la, logo vão tirá-la de cena.
Há um mago que vive nesse castelo que é muito poderoso.
Se nós fizermos uma actuação muito forte, ele saberá agir e logo nos tirará do castelo e adeus vingança.
- Mas eu morri de uma forma horrorosa, você quer que fique parada sem fazer nada?
- Não é isso, nós vamos destruir Isabel, mas de maneira subtil, pouco a pouco, sem que nem mesmo ela perceba.
- Como assim?
- Vamos obsidiá-la, fascinando-a.
Celina não estava entendendo.
Ele captou sua confusão e explicou:
- A interferência constante e maligna dos espíritos junto aos seres humanos ê chamada por nós de obsessão.
Na Terra, ainda ninguém usa esses termos, chamam de possessão, encosto do maligno, etc.
Futuramente, as pessoas estudarão e compreenderão bem mais esse fenómeno.
A obsessão mais difícil de ser combatida é a fascinação.
Nela vamos induzindo, aos poucos, e de forma quase imperceptível, as pessoas a mudarem seus pensamentos, gostos e até preferências.
Precisamos ter paciência, e devagar, um dia elas estarão todas em nossas mãos, fazendo tudo o que queremos.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 5 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:32 pm

Ela começou a entender.
Ele prosseguiu:
- Se nos jogássemos em cima de Isabel ou a enlouquecêssemos, logo perceberiam que se trata de espíritos desencarnados.
Vamos actuar devagar, e Isabel irá mudando, e ninguém suspeitará de nada.
- Mas isso vai demorar muito.
- Não seja apressada.
Afinal, não quer o Lúcio para você?
Os olhos de madame Celina brilharam.
- Claro que quero, ele é tudo que mais desejo no mundo.
Mas agora estou morta, isto não é mais possível.
O estranho homem sacudiu a cabeça com ironia:
- Você e a maioria das pessoas não sabem mesmo de nada.
Nós, espíritos, podemos fazer sexo com as pessoas encarnadas na Terra.
Isso acontece com muita frequência.
Ela se horrorizou:
- Como isso é possível?
Que loucura é essa?
- Loucura alguma, tudo é muito normal.
Durante o sono, as pessoas saem do corpo e, se estiverem num baixo padrão vibratório, podemos trazê-las para nosso lado e as seduzimos.
Também existe outra opção. Se a pessoa encarnada for médium, podemos aparecer para ela e fazemos sexo como se estivessem os dois vivos.
- Custo a crer! - disse Celina, duvidando.
- No seu bordel, por exemplo, sempre que algum cliente ia se relacionar com uma de suas afilhadas, outros espíritos sedentos por prazeres iam juntos.
E você se lembra da Guilhermina?
Aquela que dizia que durante a noite o demónio a possuía?
- Ah! Mas aquela era louca, despachei de volta para a casa dos pais.
- Ela não era louca coisa nenhuma, era uma médium muito desenvolvida.
Durante a noite, o espírito de um antigo amante dela, que vivia no astral inferior, aparecia e ambos faziam amor.
- Que horror!
- Nada é horror, tudo é natural do jeito que é.
E justamente por isso é que você precisa aproveitar, e quando for oportuno, você e Lúcio se amarão muito, mesmo nesse estado em que está agora.
Madame Celina começou a gostar de sua posição de desencarnada.
- Parece que desse lado é muito melhor para se viver do que do outro.
- Isso depende muito.
Se ficar do meu lado, viverá muito bem, mas se não quiser me obedecer, se tornará escrava na Cidade Perversa.
Você usou a prostituição para angariar dinheiro, sem se importar com o mal que estava causando aos outros.
Isso deixou você sem crédito algum perante os iluminados, e há uma pessoa importante pronta para escravizá-la, caso saia de minha guarda.
Ela se assustou:
- Meu Deus! Que perigo!
Não quero ser escrava de ninguém.
- Então, me obedeça.
Celina olhou-o novamente, e ele percebeu que ela não estava à vontade com sua aparência vampiresca.
Riu:
- Você está achando ruim conviver comigo com essa aparência, não é?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:32 pm

Ela meneou a cabeça afirmativamente.
- Pois, eu só ando assim para assustar as pessoas, já virou um costume.
Mas posso mudar quando quiser, veja.
Ele fechou os olhos, concentrou-se e em poucos instantes, transformou-se num rapaz belo e com feições delicadas.
Madame Celina o considerou lindo e exclamou:
- Bravo! Agora sim, podemos conviver em paz.
Sua outra aparência era repugnante.
- Só a uso quando preciso.
Fique tranquila.
Ela o olhou desconfiada e perguntou:
- Mas qual seu interesse em me ajudar?
Conheço muito bem a vida para saber que as coisas não vêm de graça.
Cedo descobri isso.
- Espertinha você, hein?
- Sim, quero saber o que vou dar em troca.
O espírito mentiu:
- Tenho o desejo de me vingar de Isabel também, por isso estou aqui para que juntos levemo-la à ruína.
- Mas nunca o vi na Terra.
De onde veio esse desejo de vingança?
O espírito continuou a mentir:
- Isso vem de vidas passadas.
Isabel me fez muito mal numa outra vida e agora quero vê-la sofrer.
- Outras vidas?
- Sim, mas depois eu explico como é isso.
Agora vamos entrar no castelo e nos postar ao lado dela.
Precisamos ficar vinte e quatro horas observando-a para ver seus pontos fracos e assim começar a actuar.
- Para que ver os pontos fracos de Isabel? - questionou Celina, sem entender.
- Só conseguimos manipular as pessoas da Terra de acordo com os seus pontos fracos.
Sem isso é impossível.
- Então, todo mundo na Terra é obsidiado, pois ninguém lá é santo.
- Não é bem assim.
A vida só permite uma interferência dessas quando os pontos fracos das pessoas já não fazem mais parte de seu nível de evolução espiritual.
A pessoa que sabe menos, que não conhece como funciona a vida, é protegida, porque para Deus é considerada ignorante e criança.
Só conseguimos atingir as pessoas que já têm condições de agir melhor e não o fazem, e sei que Isabel é assim. Por isso, teremos muito sucesso. Dê-me a mão.
Madame Celina e Enzo (assim era o nome daquele espírito) deram-se as mãos e entraram no castelo com facilidade, postando-se ao lado da cama de Isabel que, àquela hora da noite, dormia placidamente como se nada de errado tivesse feito durante o dia.
Ela não sabia que, a partir daquele dia, sua vida passaria a mudar por completo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:32 pm

CAPÍTULO 32
Naquela manhã, antes de voltar para casa, Lúcio tomou coragem e decidiu que ia visitar Rosalinda.
Desde o dia de seu casamento, quando ficou sabendo que, por sua causa, ela entrara em estado vegetativo, sua consciência vez por outra o acusava e ele se sentia inquieto e triste.
Na noite anterior, sonhara com Rosalinda em pé, de braços abertos, suplicando que ele a fosse visitar.
Aproveitou, então, que estava em Lisboa, e resolveu ir até seu palacete.
Sentiu medo da reacção dos pais dela, mas decidiu arriscar.
Quando chegou à frente da casa, desceu da carruagem e tocou a sineta.
Uma criada veio atender, perguntando:
- Com quem quer falar?
- Gostaria de falar com os pais de Rosalinda, eles se encontram?
- Só a dona Brígida está em casa, vou chamá-la.
Lúcio aguardou alguns instantes no portão, e poucos minutos depois, a senhora Brígida apareceu.
Tomou um susto e raiva surda brotou de seu peito quando viu que era Lúcio:
- Como tem coragem de voltar até esta casa?
Saia daqui imediatamente.
Você não é digno de pisar nem nesta calçada.
- Acalme-se, senhora Brígida.
Sei que para a senhora sou a pior das pessoas, mas vim aqui fazer uma visita à sua filha.
Desde o dia em que soube de seu estado, não consigo ficar em paz.
- É consciência pesada, pois vai continuar com ela até morrer de remorso.
Minha filha você não verá nunca mais.
A senhora Brígida fez menção de fechar a porta quando ele pediu quase aos gritos:
- Pelo amor que a senhora tem à sua filha, deixe-me entrar e vê-la.
A mulher sentiu-se tocada com aquelas palavras, mas ainda assim resistiu:
- Não sei se será bom para ela revê-lo.
Além do que, há o Modesto, ele o odeia mortalmente, é capaz de matá-lo se chegar em casa e encontrá-lo aqui.
- Eu corro esse risco, mas quero ver Rosalinda, desejo pedir-lhe perdão.
A senhora pensou um pouco e decidiu:
- Entre, só não sei se vai adiantar alguma coisa.
Após o choque nervoso que minha filha tomou, perdeu a consciência de si mesma e vive alheia.
Até para comer e tomar banho, depende de mim e das criadas.
Uma onda de pena invadiu o peito de Lúcio.
Rosalinda era uma moça viçosa, alegre, bonita e encantadora.
Como fora virar um farrapo humano?
Ele adentrou a casa e acompanhou a senhora Brígida até o quarto da doente.
Lá chegando, seu coração acelerou e ele quase desmaiou ao ver Rosalinda deitada na cama, extremamente pálida, excessivamente magra, rosto fundo e profundas olheiras.
Em quase nada lembrava a moça que um dia tinha sido sua noiva.
Tocado pelo remorso pungente, Lúcio ajoelhou-se perto dela e chorou talvez como nunca tivesse feito na vida.
Movido pela emoção, pediu:
- Rosalinda, perdoe-me.
Perdoe minha fraqueza, perdoe o homem cheio de erros e covarde que fui.
Nunca a amei de verdade, mas gostava de você como ser humano, como mulher virtuosa e boa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:33 pm

Se existir ainda um pouco de bondade em seu coração, perdoe a mim e a Isabel.
Sei que um dia poderemos estar juntos mais uma vez e prometo reparar todo o mal que fiz a você.
Brígida chorava de emoção vendo que Lúcio falava a verdade.
Já ia dizer que sua filha não estava compreendendo nada, quando, de repente, viu que duas lágrimas escapavam dos olhos de Rosalinda.
Como aquilo podia acontecer?
Lúcio percebeu que ela chorava e pegou em sua mão.
Logo, Rosalinda apertou as mãos de Lúcio entre as suas e mais uma vez choraram.
Eles não sabiam, mas o espírito de Rosalinda estava consciente de tudo o que estava acontecendo.
Desde que adoecera, passou a viver mais do lado espiritual do que do terreno, e espíritos amigos vinham visitá-la ajudando-a na fase difícil de reajuste pelo qual estava passando.
Rosalinda descobriu que, em vida anterior, fora uma moça voluntariosa e egoísta.
Apaixonou-se por um homem casado e foi correspondida, mas ele não podia ficar com ela porquanto sua mulher era influente e impedia uma separação.
Movida pelo desejo de posse e pela paixão desenfreada, Rosalinda contratou um matador de aluguel e encomendou a morte da rival, contudo, a bala foi mal disparada e atingiu a coluna da mulher, indo se alojar na medula.
Esse facto a deixou para sempre inválida em cima da cama.
Rosalinda, mesmo sem conseguir matá-la, como era seu desejo, ficou feliz porque seu amante ficou mais livre para vê-la, até quando a esposa morreu de vez e ambos se casaram, vivendo felizes até o fim das suas vidas.
Quando desencarnaram, estagiaram no umbral sofrendo os horrores do local, escravizados por espíritos demoníacos e violentos.
Décadas se passaram até que Rosalinda e o amante fossem resgatados e encaminhados para nova reencarnação.
Considerando que o ato havia ferido uma pessoa inocente, ela pediu para passar pela mesma situação na próxima vida caso não mudasse seu temperamento possessivo e mimado.
Foi o que aconteceu.
Não resistindo à rejeição de Lúcio, seu espírito, que só esperava esse momento, entrou em choque e provocou um dano no sistema nervoso periférico, deixando-a prostrada para sempre numa cama, assim como fez outrora com aquela que julgava rival.
De posse daquele entendimento, Rosalinda não tinha mais como odiar Lúcio e Isabel.
Entendia que os havia atraído para sua vida pela necessidade que tinha de reajustar seu crime de vidas passadas.
Por isso, naquele momento, sem poder falar, ela emitiu para ele ondas de pensamentos amorosos:
- Querido Lúcio, você está perdoado.
Não sou ninguém para julgá-lo nem acusá-lo de nada.
Um dia fui criminosa e pecadora, por isso estou aqui cumprindo uma sentença que eu mesma decretei para mim.
Você não é culpado de nada, cada um é responsável apenas pela própria vida.
Siga em paz e seja feliz com Isabel.
Enquanto ela pensava aquilo, lágrimas de emoção rolavam sobre seu rosto magro e pálido.
Lúcio, mesmo sem ouvir, conseguiu entender que aquelas lágrimas eram de perdão, pois em seu olhar não havia nenhuma sombra de acusação ou ódio, só de compreensão.
Quando soltou as mãos dela, a senhora Brígida o abraçou:
- Obrigada, meu filho!
Rosalinda nunca havia esboçado nenhuma reacção antes.
Hoje ela chorou e teve forças para apertar suas mãos.
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