LUZ ESPÍRITA
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:33 pm

Isso me dá esperança de que um dia ela venha a se recuperar.
Perdoe-me por tê-lo tratado tão mal agora há pouco, percebi que realmente se arrependeu e é outro homem.
- Sim, senhora Brígida - tornou Lúcio com emoção.
Hoje sei que muito errei com sua filha, jamais era para eu ter aceitado aquele noivado com ela já que nunca a amei de verdade.
Talvez se isso não tivesse acontecido, hoje ela não estivesse aí, presa nessa cama, ainda tão jovem.
- Não sei, meu filho.
Às vezes, penso que certas coisas têm de acontecer e nada as pode fazer impedir.
Muitas moças perdem seus noivos em situações piores que a de minha filha e, no entanto, não ficam dessa maneira.
Há horas que acredito que Rosalinda veio para esta vida com essa triste sina.
Lúcio não sabia o que dizer.
Ela, vendo-o calado, tornou:
- Mas isso não importa, tudo farei para que, de agora em diante, ela se recupere.
Direi ao médico o que aconteceu e tenho certeza de que ele vai encontrar nova forma de tratamento.
- Por favor, não comente com o senhor Modesto que estive aqui, ele nunca compreenderá.
- Vou comentar sim.
Assim como eu, ele precisa aprender a perdoar e depois, sabendo o que aconteceu aqui, tenho certeza de que ele não vai lhe desejar mal.
- Se a senhora pensa assim...
O que tenho a fazer agora é partir, mas não sem antes agradecer-lhe mais uma vez.
Ambos se abraçaram e Lúcio voltou à carruagem, pedindo ao cocheiro que desse a partida em direcção ao castelo.
Dessa vez, ele regressava para casa com a alma mais tranquila, feliz e livre de remorsos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:33 pm

CAPÍTULO 33
Quando Lúcio se aproximava do grande portão de entrada, viu que outra carruagem estava lá e uma jovem conversava com um dos soldados.
Aproximou-se mais e percebeu se de Lola, uma das meninas da Casa da Perdição.
Indagou curioso:
- Lola?
O que deseja aqui?
A moça fez um rosto preocupado ao responder:
- Desculpe-me, senhor Lúcio, mas preciso falar com sua mulher Isabel e saber onde está madame Celina.
Lúcio não entendeu.
- Por que Isabel saberia de madame Celina?
- É que sua esposa chamou a madame para conversar com ela aqui no castelo ontem ao final da tarde, e até agora ela não voltou ao bordel.
Algo estranho deve estar acontecendo, e todas nós estamos preocupadas.
Lúcio realmente não sabia o que dizer.
Isabel nada lhe dissera sobre qualquer conversa com madame Celina.
Ele estava achando muito estranho o facto da esposa ter chamado a cafetina logo ali.
Pediu à Lola:
- Entre, vamos conversar com Isabel.
Os portões se abriram e eles entraram.
Isabel, ao ver Lúcio, correu aos seus braços e o beijou muitas vezes.
Logo seu coração acelerou, e ela precisou ter todo controle ao ver Lola.
Nunca a tinha visto antes, mas pela forma como se vestia, só poderia ser uma das prostitutas da Casa da Perdição à procura da patroa.
Lúcio adiantou-se:
- Isabel, para que você chamou madame Celina aqui no castelo?
Por que me escondeu isso?
A voz de Lúcio era inquisidora e grave, e Isabel teve de fingir que estava muito natural:
- Ah, precisava conversar com ela um assunto muito importante e confidencial.
Por isso a chamei aqui.
Mas por que quer saber?
O que essa messalina quer aqui?
Lúcio fingiu não notar o nome pejorativo atribuído a Lola e disse:
- Ela veio ver se você sabe onde está madame Celina, pois até agora não voltou para o bordel.
Já estamos no meio da tarde, não acha estranho?
Isabel fingiu:
- Muito estranho!
Ela saiu daqui ontem pouco antes das oito da noite, um dos cocheiros do castelo foi levá-la.
- Então, chame esse cocheiro, quero saber até onde ele levou a madame.
Isabel, que já previa que aquilo pudesse acontecer, pediu que Belarmina chamasse Josué, que já estava com tudo decorado para dizer a quem quer que fosse, em troca de muito dinheiro.
Josué apareceu com aparente tranquilidade:
- O que deseja, senhora?
- Essa moça trabalha com madame Celina e disse que até agora ela não apareceu em casa.
Você fez como mandei?
Deixou-a em frente ao bordel?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:33 pm

Josué fingiu atrapalhar-se e disse:
- Bem, não a deixei em casa, senhora.
No meio do caminho, a madame pediu-me que parasse e desceu dizendo que iria seguir o resto do caminho a pé.
Lola olhou de Josué para Lúcio achando tudo aquilo muito estranho.
- E você lembra em qual trecho do caminho? - perguntou Lúcio, preocupado.
- Lembro sim.
Foi logo depois do Rio das Contas.
Notei que ela entrou naquela trilha pequena e desapareceu no meio do escuro.
- Desculpe-me, senhor Lúcio, mas isso está estranho.
Madame Celina jamais faria isso.
- Como pode afirmar que não?
Ela é uma mulher cheia de mistérios.
Lola sentiu que algo grave havia acontecido com sua patroa e resolveu falar:
-Acontece que madame Celina veio aqui resolver um assunto por demais grave.
Tenho medo de que sua mulher tenha feito mal a ela.
Lúcio olhou para Isabel esperando que ela dissesse alguma coisa.
Isabel colocou as mãos na testa fingindo nervosismo e pediu:
- Vamos todos para o gabinete, lá poderei dizer tudo.
Foram para o gabinete e entraram. Isabel abriu uma das gavetas da escrivaninha lavrada, pegou o bilhete ameaçador e mostrou a Lúcio, que, à medida que lia, sentia como se a verdade caísse em sua cabeça como uma bomba.
Em poucos segundos, concluiu tudo.
Madame Celina ameaçara matar tia Elisa, Rosa Maria e Denise, e Isabel havia se antecipado e dado um fim trágico à cafetina.
Rapidamente, Lúcio se refez para que Lola não percebesse e disse:
- Nesse bilhete, madame Celina ameaça matar a irmã, a tia e a sobrinha de Isabel queimadas.
Você sabia disso, Lola?
A moça empalideceu.
Sabia de tudo e temia ser incriminada como cúmplice.
Ainda assim ganhou coragem e resolveu falar a verdade:
- Sabia de tudo.
Infelizmente, madame Celina nunca aceitou que o senhor a tivesse deixado e se casado com Isabel.
Vivia sempre procurando uma maneira de separá-los.
Foi quando veio a ideia de mandar queimar a plantação da quinta e em seguida matar as parentes de Isabel que moram lá, caso ela não cedesse e o deixasse.
Lúcio sentiu-se inquieto e preocupado.
Aquilo era muito grave. Olhou fixamente para Lola e disse:
- Você sabia que ela poderia ser presa e condenada à morte por isso?
- Sabia sim, senhor.
Mas a madame não tinha medo, estava disposta a tudo.
- E sabe que você pode ser presa como cúmplice?
Ela se desesperou:
- Por favor, senhor Lúcio, não quero ser presa, nem morta.
Só vim aqui saber o que aconteceu com minha patroa, por favor, me poupe de um destino tão cruel.
Lúcio pediu à Isabel:
- O que aconteceu aqui entre você e Celina?
Isabel disse com naturalidade:
- Chamei-a nesse gabinete e ofereci dois sacos de ouro para que ela nos deixasse em paz para sempre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:33 pm

No começo ela resistiu, mas eu a convenci dizendo que seria melhor do que ser presa e condenada à morte.
Belarmina estava comigo e é testemunha de que ela aceitou tudo e foi embora jurando nunca mais nos prejudicar.
Eu tenho medo, não acredito que ela vá nos deixar em paz, mas foi uma forma dela parar para pensar e nos dar uma trégua, pelo menos por um tempo.
Lola levantou a cabeça e disse:
- Desculpe-me, senhor Lúcio, mas eu não acredito que madame Celina tenha cedido a isso.
Ela não precisa de dinheiro e a paixão que tem pelo senhor a cega completamente.
De jeito algum ela aceitaria uma proposta dessas.
Algo estranho aconteceu.
Lúcio, prevendo que Lola pudesse descobrir a verdade e colocar a boca no mundo, aproximou-se dela com altivez dizendo:
- Pois é nisso que você vai acreditar e é o que vai dizer às suas amigas do bordel.
Vai dizer que madame Celina aceitou muito dinheiro e que foi embora para sempre. Entendeu?
Lola persistiu:
- Mas essa não é a verdade.
- Não importa qual seja a verdade, é isso o que você vai dizer.
Ou diz isso ou entregaremos a carta à milícia e você será presa e morta como cúmplice de uma ameaça criminosa.
Agora saia daqui e trate de calar a boca sobre suas desconfianças.
Somos ricos e poderosos e vocês não são ninguém, é melhor não nos enfrentar.
Não queria agir assim, mas preciso defender minha família e não medirei esforços para isso.
Sua patroa usou da ameaça e não tenho dúvidas de que mandaria matar quem fosse preciso para conseguir seus objectivos.
Não queira entrar numa disputa comigo, pois sairá perdendo e perderá o mais importante, que é a própria vida.
Lúcio foi até o cofre, abriu-o e tirou mais dois sacos de ouro entregando-os à Lola:
- Isso é suficiente para calar sua boca e para que vá embora para sempre de Portugal refazendo sua vida em outro lugar.
Agora saia e espero nunca mais ver seu rosto.
Lola pegou os sacos com satisfação no olhar.
Era muito ouro e ela seria rica dali em diante.
- Pode contar com meu silêncio.
Só não sei o que faço com o bordel.
- Feche-o para sempre e mande as meninas embora.
- Mas muitos homens importantes são frequentadores dali, vão querer saber o que aconteceu.
-Você dirá que sua patroa fez um serviço extra, ganhou muito dinheiro e foi embora para sempre.
Todos irão acreditar, pois você era a melhor amiga dela.
Lola concordou, escondeu os sacos de ouro por entre as roupas fartas e partiu.
A partir dali, teria uma nova vida, mas em seu íntimo, grande tristeza se instalaria por ter a certeza de que sua
querida amiga Celina havia sido morta barbaramente por Isabel.
Resolveu não pensar no assunto e ir para muito longe.
Com aquela pequena fortuna, deixaria de ser prostituta e onde fosse trataria de comprar um marido e ter sua família.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:34 pm

O espírito de madame Celina estava ali se contorcendo de ódio e com vontade de estrangular Isabel.
Dizia rangendo os dentes:
- Então, ela foi capaz de comprar minha melhor amiga?
Não sei se terei essa paciência toda para esperar uma vingança lenta.
Minha vontade agora é acabar com ela de vez.
Enzo dizia paciente:
- Acalme-se, Celina, já disse o que pode acontecer caso não se contenha.
Quer pôr tudo a perder?
- Quer dizer que Isabel faz tudo isso e ainda tem defesa?
Onde está a justiça?
- Você entende muito pouco sobre a lei de causa e efeito, por isso é melhor ter paciência e fazer as coisas aos poucos.
Tenho certeza que, se seguir meus conselhos, terá Isabel perdida para sempre e em suas mãos.
Ela pareceu se acalmar ao ouvir aquelas palavras e pôs-se a seguir Isabel e Lúcio como fazia já há algum tempo.
Algumas semanas se passaram e a notícia de que madame Celina havia ido embora e que a Casa da Perdição seria fechada espalhou-se rapidamente por toda Lisboa.
As meninas ficaram sem saber o que fazer e pediram para continuar no palacete até resolverem as próprias vidas.
Algumas decidiram tentar a sorte em outros lugares, mas a maioria ficou por ali, vendendo o corpo para sobreviver e pagar o aluguel à prima de madame Celina, única herdeira viva daquele lugar.
A notícia chegou até a quinta e, num começo de tarde, logo após o almoço, enquanto Rosa Maria embalava Denise, a fim de fazê-la dormir, tia Elisa comentava:
- Tenho certeza de que essa partida de madame Celina tem dedo de Isabel.
- É claro que tem, tia! - retrucou Rosa Maria.
A senhora viu a carta que ela nos mandou dizendo que estávamos livres para sempre das ameaças daquela mulher.
Isabel ofereceu muito dinheiro para que ela fosse embora e ela aceitou, graças a Deus.
- E você acreditou no que Isabel disse? - tornou tia Elisa, maliciosa.
- Claro que sim, ora!
Isabel nunca foi de mentiras.
- Só não se mente até surgir uma oportunidade muito forte.
Não acredito que madame Celina tenha ido embora por ter recebido muito dinheiro.
Isabel fez alguma coisa muito grave com ela.
Rosa Maria horrorizou-se:
- A senhora está querendo dizer que Isabel a matou?
- Não sei se matou, mas pode ter prendido a cafetina numa masmorra daquele castelo ou numa prisão da qual não possa sair.
O que tenho certeza absoluta é de que uma mulher apaixonada feito ela não cederia à chantagem alguma, por mais dinheiro que estivesse em jogo.
Sou mulher e já me apaixonei inúmeras vezes.
Uma mulher apaixonada faz todo tipo de loucura, mas nunca desiste de seu homem.
Vá por mim, Isabel aprontou alguma com essa madame.
Rosa Maria pensou um pouco e percebeu que tia Elisa poderia mesmo ter razão, contudo, não queria pensar mais naquilo.
Isabel era inteligente, rica e poderosa, confiava no que a irmã fazia.
- Não desejo mais falar nisso.
Seja o que for que Isabel tenha feito, foi para nosso bem.
Ou a senhora queria morrer queimada?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:34 pm

- Deus me livre!
Logo agora que estou amando novamente...
- Já lhe disse que seu romance com o negro António não vai dar coisa boa.
Ele é casado, e a esposa certamente não vai gostar nada quando souber.
E há também a grande diferença de idade.
Ele tem pouco mais de 20 anos, enquanto a senhora mais de 60.
Tia Elisa gargalhou alto:
- E desde quando o amor tem idade?
Estou amando António como nunca amei homem algum nessa vida.
Se a esposa descobrir, nada poderá fazer.
Ele é nosso empregado, precisa da nossa quinta para sobreviver.
Ela terá de aceitar.
Rosa Maria sabia que sua tia não tinha mesmo jeito, por isso encerrou a conversa:
-Tudo bem, a senhora faz o que quiser da sua vida.
Só depois não diga que não avisei.
Tia Elisa olhou bem para o rosto de Rosa Maria sem saber se compartilhava ou não uma ideia que estava vindo à sua mente há várias semanas.
Era uma ideia ousada, mas que, se Rosa Maria aceitasse, elas poderiam até mesmo ficar ricas.
Resolveu tomar coragem e dizer:
- Sabe, querida, eu estava pensando...
Esta casa é muito grande, tem muitos quartos enormes e só moramos nós três.
Não acha um desperdício?
Rosa Maria estranhou:
- Por que está pensando nisso?
- Porque acho que você pode lucrar muito com essa casa seguindo o meu conselho.
- E o que a senhora me sugere?
Que a transforme numa hospedaria?
Tia Elisa sorriu da ingenuidade da sobrinha. Coitada!
Ainda teria muito o que aprender da vida.
Uma hospedaria ali não daria lucro algum.
Disse com certa cautela:
- Hospedaria não daria resultado, penso em algo mais ousado.
- O quê?
- Veja bem, essa casa é grande, tem dois salões enormes, mais de oito quartos.
Não tem sentido deixar tudo isso aqui parado, sendo que só ocupamos dois cómodos.
Eu sugiro que você... - tia Elisa parou um pouco.
Deveria dizer ou não?
- Diga logo, tia Elisa.
O que a senhora sugere?
Era "agora ou nunca". Arriscou:
- Sugiro que você transforme a quinta num bordel, substituindo a Casa da Perdição que foi fechada.
Os homens estão loucos por diversão, por mulheres novas, por um lugar com o mesmo luxo e requinte que tinha por lá.
Aqui é o lugar ideal.
Rosa Maria corou:
- Como a senhora tem coragem de me sugerir uma coisa dessas?
Sou contra a prostituição, tenho meus princípios, meus valores.
Só vou relevar porque lhe tenho muito respeito, mas nunca mais me fale numa coisa dessas.
Tia Elisa, com coragem, prosseguiu procurando tocar em seus pontos fracos:
- E de que adiantaram seus valores e princípios?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:34 pm

Perdeu o homem amado para uma aventureira e está aí sozinha criando uma filha que sequer saberá quem é o pai.
- A senhora está me magoando.
Não fui culpada por Augusto ter me deixado e voltado para Manuela - disse Rosa Maria, com lágrimas nos olhos.
- Não quero magoá-la, só quero dizer que, às vezes, princípios de moral não têm valor algum.
Você gosta daqui, e viver só das plantações pode dar para sobreviver com dignidade, mas sei que você é tão ambiciosa quanto Isabel e sabe muito bem que plantações e animais não enriquecem ninguém.
- A senhora está enganada, muitas pessoas hoje estão ricas por causa do valor que deram à terra.
- E isso leva quantos anos?
No ritmo que esta quinta está, você só vai ficar rica quando estiver mais velha do que eu.
Quer que Denise leve uma vida de pobre?
- Denise não terá vida de pobre, Isabel é rica e dará a ela tudo que precisar.
- Mas, não é o mesmo que ganhar a riqueza vinda da própria mãe - prosseguia tia Elisa, impiedosa, mexendo com as feridas de Rosa Maria.
Se você deixar que Isabel dê coisas boas para sua filha e faça tudo por ela, é capaz de Denise valorizá-la muito mais do que valorizar você.
As ideias da tia, que naquele momento estava sendo envolvida por um espírito altamente inferior, começaram a ganhar força na mente invigilante de Rosa Maria e ela começou a pensar que a tia estivesse com a razão.
Se deixasse tudo para Isabel, seria bem capaz de Denise até renegá-la enquanto mãe.
Aquilo ela não poderia permitir.
O espírito inferior, percebendo os seus pensamentos, aproximou-se dizendo:
- É isso mesmo, Rosa Maria.
Sua tia tem total razão.
Você precisa ser muito rica para dar o luxo que sua filha merece.
Se deixar isso para Isabel, ela roubará Denise de você que, além de já ter perdido o homem que amava, perderá também a filha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:34 pm

CAPÍTULO 34
As ideias do espírito tomavam forma na mente dela, que as absorvia como se fossem suas.
Logo, Rosa Maria estava totalmente convencida de que era exactamente aquilo que deveria fazer.
Contudo, alguns resquícios de consciência ainda permaneciam, e ela insistiu:
- Sei que tem certa razão, tia, mas não posso concordar em ficar rica vendendo meu corpo e o corpo de outras pessoas.
O espírito inferior teleguiava tia Elisa, que raciocinava com muita clareza junto com ele e argumentava:
- Pense que esta é uma profissão como outra qualquer.
Para que esse moralismo?
As mulheres vendem o corpo porque querem, não é culpa sua.
E você não precisará vender seu corpo, basta cobrar cinquenta por cento de tudo que as meninas facturarem durante a noite e em pouco tempo estará muito bem de vida.
- Mas isso não é errado?
- Não, querida! Imagine!
Você não estará forçando ninguém, todas elas são muito adultas e escolhem esse caminho porque querem.
Fiquei sabendo que as meninas da Casa da Perdição estão passando muitas dificuldades.
Você poderia ir lá conversar com elas e sugerir que venham para cá.
Será uma beleza ver esta casa grande virando um imenso e famoso cabaré.
Tia Elisa delirava de prazer ao imaginar aquilo, mas Rosa Maria não estava totalmente convencida.
Naquela casa viveram seus pais, pessoas dignas, cristãs e honestas.
Naquele lar todos aprenderam os princípios do evangelho, aprenderam a orar a Deus, viveram felizes.
Transformar aquela casa num bordel lhe parecia algo muito fora da realidade, uma coisa pecaminosa e triste.
Certamente, seus pais, onde estivessem, jamais apoiariam aquilo.
Por outro lado, tia Elisa tinha razão.
As plantações e a criação de gado enriqueciam quem os fazia em larga escala, e ela, por mais que gostasse da terra e dos animais, não tinha condições de fazer grandes coisas.
Daria para se manter e viver bem, mas riqueza jamais.
Contudo, a prostituição lhe parecia algo muito repugnante e ela não podia compactuar com aquilo.
- Não sei bem se isso é certo, sinto-me desonrada em fazer isso.
- Bem, eu vou deixá-la pensando, tenho certeza de que acabará por concordar com sua velha tia.
Tia Elisa saiu levando Denise já adormecida em seus braços para colocá-la no berço, deixando Rosa Maria deitada no sofá com os pensamentos contraditórios.
A ideia da riqueza fácil era tentadora e ela pensava se não estaria certa em aceitar a ideia de tia Elisa.
Uma verdadeira batalha moral passou a ser travada na alma daquela mulher.
De um lado, estavam seus pais, espíritos radiosos e iluminados, inspirando-a para nunca aceitar aquela ideia, e de outro, sem percebê-los, estava o espírito de um homem deformado, antigo inimigo de Rosa Maria que queria sua queda moral, sugerindo-lhe que se tornasse cafetina.
Na verdade, foi ele quem havia inspirado a tia Elisa a ter aquela ideia desde o dia em que a velha senhora soube que o bordel havia sido fechado, e que as moças estavam passando dificuldades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:35 pm

Tia Elisa, antiga prostituta desde as épocas remotas do Império Romano, captou com facilidade aquelas sugestões imorais e pervertidas, achando-as normais e saudáveis, em decorrência do seu espírito ainda inferior e preso aos prazeres dissolutos do sexo desregrado.
De repente, o espírito resolveu jogar sua última cartada, aproximou-se mais de Rosa Maria, soprando-lhe aos ouvidos:
-        Lembre-se de que foi trocada por Manuela.
Augusto, o homem que tanto você ama, a deixou por causa de uma prostituta.
Vingue-se dele tornando-se uma delas.
Um dia ele voltará e perceberá que você não o esperou e que agora pertence a muitos homens e é muito rica.
Será sua vingança.
O orgulho de Rosa Maria falou mais alto ao ouvir aquela sugestão e ela quase cedeu, mas ainda havia seus princípios, sua moralidade.
O que fazer?
A partir daquele dia, ela não mais deixaria de pensar no assunto.
Raimundo e Margarida, mãos dadas, choravam a um canto:
-        É, meu velho, nossa filha vai cair nas garras do orgulho e cometer um dos maiores crimes, que é o da prostituição própria e alheia.
-        E o pior é que nada podemos fazer.
Ela tem livre-arbítrio e precisará escolher.
-        Mas, seu inimigo achou seu ponto fraco, tenho certeza de que nossa filha vai cair - lamentou Margarida, chorosa.
-        Ainda temos uma saída.
Vamos procurar Carlinhos e pedir que converse com nossa filha.
Quem sabe com os esclarecimentos dele, ela não volta atrás?
-        É uma boa ideia, meu velho.
Carlinhos vai nos escutar e fará o que nós lhe pedirmos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 03, 2018 9:36 pm

CAPÍTULO 35
Assim, os dois espíritos saíram dali para buscar ajuda junto à cabana onde Carlinhos residia.
Três dias se passaram sem que Rosa Maria decidisse o que fazer.
Tia Elisa prosseguia incessante, falando de suas ideias, tentando de todas as formas convencer a sobrinha a fazer o negócio o quanto antes.
Todos os argumentos possíveis e imagináveis, baseados na falsa lógica, eram usados pela velha senhora na tentativa de conseguir seus objectivos.
Naquela manhã, Rosa Maria estava com a cabeça muito confusa e resolveu sentar-se às margens do Tejo sobre a costumeira pedra.
Alguns minutos passaram-se enquanto ela meditava ouvindo a doce melodia das águas do rio, correndo impassíveis e serenas, enquanto machucava, entre os dedos, pequenas florzinhas do mato.
Logo, ouviu passos aproximando-se e, olhando para trás, percebeu que era Carlinhos.
Sentiu-se bem, pois queria mesmo falar com ele sobre o assunto que a preocupava, mas não havia encontrado jeito.
- Pensando na vida, não é, senhorinha Rosa?
- Sim, Carlinhos, acho que foi Deus que o mandou aqui, pois preciso muito lhe falar e ouvir seus conselhos.
Você me fez muito bem daquela vez, neste mesmo lugar, quando fui abandonada pelo Augusto e recebi suas palavras sábias de consolo.
Você é um sábio.
Ele meneou a cabeça negativamente:
- Não sou sábio, é a vida que ensina.
Qualquer pessoa pode aprender muito com ela se prestar atenção.
Carlinhos sentou na outra pedra e começou a enrolar seu cigarro de palha e a dar suas baforadas.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, quando ele começou:
- Seus pais, o finado Raimundo e a finada Margarida, vieram me ver.
Rosa Maria estremeceu:
- Quando foi isso?
- Há três dias. Eles estão muito preocupados com seu futuro e o futuro da quinta e pediram para lhe dar um recado.
Se ela tinha ainda alguma dúvida da mediunidade de Carlinhos, naquele momento não existia mais.
A ideia de transformar a quinta num bordel famoso era secreta, só ela e tia Elisa sabiam.
Rosa Maria ficou emocionada, então seus pais continuavam mesmo a olhar por ela e por sua vida.
Perguntou ansiosa:
- Qual o recado?
- Eles estão muito tristes com o que a senhorinha e a dona Elisa querem fazer aqui na casa grande.
Disseram que, se a senhorinha aceitar, vai entrar por um caminho muito errado, que Deus condena, e terá de responder com muita dor no futuro - ele fez pequena pausa, olhou-a ainda mais fixamente e prosseguiu.
Vender o corpo é um ato criminoso perante as leis universais e quem o pratica terá de reparar um dia por meio do sofrimento.
Não faça isso, senhorinha!
Seus pais pediram que pense neles, pense em como a família de vocês é honrada e comprometida com os princípios de Jesus.
Desista enquanto é tempo.
Rosa Maria começou a chorar.
No fundo, ela sabia de tudo aquilo, mas naquele momento, sabendo que seus pais haviam saído de onde estavam para lhe mandar aquele recado, tudo ficava mais claro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:40 pm

Como pudera pensar em ceder?
- Oh! Carlinhos, não tenho como lhe agradecer por ter sido o intermediário.
Eu estava praticamente disposta a fazer o que tia Elisa me sugeriu, mas agora eu não vou mais.
Não tenho mais dúvidas.
Obedecerei aos meus pais.
Carlinhos olhou-a com ar de dúvida e perguntou:
- A senhora sabe mesmo quais as consequências da prostituição?
- Sei sim.
As prostitutas são discriminadas pela sociedade, sofrem todo tipo de impropérios com os clientes que muitas vezes as tratam feito animais e muitas delas contraem doenças dolorosas e morrem.
Não é uma vida boa nem fácil como parece, a princípio.
Ele a olhou e disse:
- A senhora só falou das consequências materiais, a senhora já se perguntou o que acontece espiritualmente a alguém que se prostitui?
- Não... Nunca pensei nisso.
- Então, está na hora de saber.
A mulher ou o homem que se prostitui, que vende seu corpo em troca de dinheiro, acumula energias negativas e doentias em seu perispírito, que se apresentam como pontos escuros que um dia explodirão em formas de doenças físicas ou mentais.
Cada pessoa que entra numa vida dessas nunca está sozinha. Junto a ela estão espíritos obsessores, viciados em sexo, que as usam para atingir um prazer que não conseguem mais obter no mundo onde vivem.
É por isso que as pessoas que entram para o comércio sexual envelhecem mais cedo que as outras.
Não é apenas pelo desgaste físico, mas principalmente porque são sugadas por espíritos trevosos, e suas energias se esgotam muito rapidamente.
Além disso, como a prostituição é uma prática contrária às Leis Divinas, nenhuma pessoa que a comete é feliz.
Vivem frustradas, angustiadas, depressivas e com vazio interior.
Por fora aparentam estar felizes, alegres e contentes, vivendo às gargalhadas, mas por dentro sentem estranho vazio de viver e angústia inexplicáveis.
Tudo que é contrário às leis cósmicas, eternas e imutáveis, que regem o universo, produz sofrimento.
Carlinhos começou a acender outro cigarro e prosseguiu:
- Quando estas pessoas morrem, sem se perdoarem pelo que fizeram, são sugadas para lugares do plano espiritual inferior onde estão espíritos que, na Terra, cometeram o mesmo erro.
Nesses locais se tornam escravos de espíritos ainda mais perversos e viverão experiências tão duras e chocantes que nem dá para falar aqui.
Mas não termina por aí.
As pessoas que se prostituem vão contra as leis universais e terão de voltar à Terra em futuras reencarnações, com sérios problemas na área da afectividade e do sexo, para poderem harmonizar tudo que fizeram.
Por isso, não se comprometa desse jeito, minha querida.
Rosa Maria estava assustada com tudo que ouvia, e seu perseguidor invisível com muito ódio, pois tentava atacar Carlinhos impedindo-o de dizer aquelas verdades, porém não conseguia.
Ao redor de Carlinhos, havia uma camada de energia azulada que repelia o espírito perseguidor.
Envolvida por aqueles ensinamentos, Rosa Maria levantou-se da pedra e abraçou Carlinhos dizendo:
- Não posso te agradecer por essas informações, só rezar a Deus que o proteja sempre mais.
Vou voltar agora para casa e dizer à tia Elisa que esqueça de vez esse assunto.
Foi por poucos instantes, mas Carlinhos pôde ver com nitidez a figura horrenda do espírito que queria ver o mal de Rosa Maria, sorrindo para ele com ironia.
Vendo aquilo, Carlinhos segurou no braço da moça e disse com firmeza:
- Tenha força, senhorinha, pois pareceu se convencer, mas para ter a certeza do que se quer, é preciso muita fortaleza de carácter e muita vontade.
Temo que a sua não esteja tão forte.
Quem comanda nossa vida e nosso destino é a vontade, quando ela não é suficiente, tropeçamos e caímos nos primeiros pedregulhos do caminho.
Vá com Deus!
Rosa Maria o abraçou ainda mais como a querer sugar suas energias para se fortificar e se foi.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:41 pm

CAPÍTULO 36
Antes que Rosa Maria chegasse à casa grande, seu obsessor já estava lá colado à tia Elisa dizendo tudo o que ela deveria falar para a sobrinha a fim de convencê-la de vez.
Ele era poderoso e esperto e não seria um negrinho qualquer que iria lhe passar a perna.
Carlinhos veria quem era mais forte.
Quando entrou na sala, percebeu que Denise dormia placidamente no colo da tia, por isso foi falando:
-Tomei minha decisão definitiva:
não vamos abrir nenhum bordel aqui.
Quero que a senhora saiba que muito a estimo, mas não posso concordar com isso e desejo que esse assunto se encerre aqui.
Tia Elisa, completamente dominada pelo espírito vingativo, demonstrou calma impressionante enquanto dizia:
- Tudo bem, Rosa, não insistirei mais.
Tentei de todas as maneiras chamá-la à razão, mas você prefere seguir o que chama de princípios, então nada mais tenho a dizer, ou melhor, nada mais tenho a fazer aqui.
Ainda hoje arrumarei minhas coisas e partirei da quinta.
Rosa Maria foi pega de surpresa.
Tia Elisa prometera ficar com ela para sempre, pois não tinha mais interesse em morar com a filha, e também lhe prometera ajudar na criação de Denise.
Sem ela ali, tudo ficaria difícil, ou melhor, impossível.
Como iria viver sozinha naquela casa enorme, rodeada de peões por todos os lados?
Como criaria Denise sem ajuda de uma pessoa experiente?
Desesperou-se:
- Por favor, tia Elisa, a senhora não me compreende e está querendo se vingar de mim indo embora e me deixando sozinha aqui
- Rosa Maria deixou que lágrimas sentidas caíssem de seus olhos.
Tia Elisa disse com alto grau de amabilidade na voz:
- Não me interprete mal, minha querida.
É que, ao contrário de você, quero ter uma vida ainda mais rica.
Se você não quer montar o bordel e vai esperar suas criações darem resultado, é uma escolha sua, mas eu vou juntar o resto de minhas economias, comprarei o palacete onde ficava a Casa da Perdição e continuarei o negócio que foi da madame Celina.
Entendo seu jeito pacato e quieto de ser e também entendo que, embora tão ambiciosa como Isabel, você prefira não se envolver no comércio sexual.
Então, não posso deixar de realizar um sonho e ficar aqui com você esperando essa quinta dar algum resultado.
Rosa Maria chorava, não saberia o que fazer ali sem a tia.
Em meio ao desespero e também influenciada pelo seu obsessor, nem pensou que poderia chamar a mulher de um dos colonos para morar com ela e ajudá-la em tudo.
Ela só via um futuro negro e incerto, sozinha naquela imensidão de casa.
- É sua última palavra?
Não tem pena de me deixar aqui só, não lembra das promessas que me fez?
- Lembro-me de tudo, querida, mas tenho agora um amante e o António gosta de vida boa.
Disse que, se eu ficar muito rica, deixará a mulher e ficará comigo para sempre.
Acha que perderei essa chance?
- A senhora nunca foi ligada em homem nenhum, por que logo agora esse amor súbito por António?
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:41 pm

- Simplesmente, porque nunca havia amado antes, e António, com seu jeito, me fez perceber o que é o verdadeiro amor.
Quero que me compreenda, mas a única forma de permanecer aqui com você é se transformarmos essa quinta num bordel, ganharmos muito dinheiro e ficarmos ricas.
Rosa Maria, com medo da solidão e não querendo deixar sua terra amada para ir viver com Isabel no castelo, esqueceu-se de tudo o que Carlinhos lhe dissera há poucos minutos e decidiu:
- Tudo bem, vamos fazer o que a senhora quer.
A quinta será o bordel mais famoso de Lisboa.
Tia Elisa deixou Denise no sofá, sorriu muito e abraçou e beijou a sobrinha diversas vezes.
- É assim que se fala, querida! Tenho certeza de que nunca irá se arrepender, seremos muito ricas, e quando Augusto voltar, você terá o prazer de estar linda e ainda snobá-lo.
Ao pensar em Augusto, Rosa Maria sentiu crescer o desejo de ser muito rica a fim de humilhá-lo, e teve a certeza de que estava no caminho certo.
Lembrou-se de Carlinhos,
mas aquela conversa então não mais importava, ela não tinha certeza de nada, e tudo o que ele lhe dissera poderia ser invenção.
O que importava era não ficar sozinha ali e se vingar de Augusto.
Enquanto Raimundo e Margarida choravam abraçados, o espírito zombeteiro e mau sorria muito e rodopiava ao redor das duas, ajudando-as nos diversos planos da sexualidade pervertida.
No Castelo de Vianna, o espírito madame Celina sentia-se entediado.
Fazia semanas que ela e Enzo só observavam Isabel o tempo todo, sem, contudo, encontrar nela uma falha moral maior para que começassem a obsessão.
Aquilo a deixava inquieta e raivosa, principalmente porque não conseguia se aproximar de Lúcio e fazer amor com ele como pretendia.
Bem que ela tentou observá-lo e a Isabel no ato íntimo, mas nessa hora uma luz azulada os envolvia e ela era arremessada ao longe.
Enzo lhe explicara que, quando existe amor verdadeiro entre um casal, a Espiritualidade Superior protege seus momentos íntimos para que não sejam violados por ninguém.
Aquela explicação a deixou ainda com mais ódio.
Quando teria finalmente sua vingança, e Lúcio em seus braços?
Estava a pensar, sentada numa das poltronas imensas no quarto da rival, quando viu Enzo aparecer, de olhos brilhantes.
Foi logo perguntando, autoritária:
- Onde estava até agora?
Não aguentava mais ficar sozinha olhando essa dondoca bordar junto com Belarmina.
- Acalme-se.
Hoje, finalmente, conseguimos a primeira forma de levarmos Isabel à ruína moral.
Madame Celina distendeu a face num largo sorriso:
- Conte-me. Como conseguiu isso?
- Fui fazer uma visita à quinta onde moram a tia e a irmã dela e fiz uma descoberta surpreendente.
A senhora Elisa teve a ideia de transformar aquela propriedade num cabaré, substituindo o seu que foi fechado por Lola.
Bem que Rosa Maria resistiu, mas agora há pouco acabou por ceder.
Aquele ambiente se tornará palco de orgias e desvarios sexuais.
Madame Celina estava sem entender:
- Mas o que isso tem a ver com Isabel?
- Tudo a ver.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:41 pm

A senhora Elisa mentiu dizendo ter economias para reformar a casa e adaptá-la para a função de prostíbulo.
Na verdade, ela tem pouca coisa que não daria para quase nada.
Então, ela e Rosa Maria virão aqui pedir ajuda à Isabel.
- Mas, e o que tem isso a ver com nossos planos? - continuava Celina sem compreender.
- Mas você é burra mesmo, hein? - disse Enzo irritado.
Vamos influenciar Isabel a aceitar o novo negócio da irmã e dar todo o dinheiro que elas precisarem.
Isabel já fez das suas, mas gosta de ser puritana e ter bons costumes.
Vamos começar a influenciá-la ainda hoje para que ache normal a prostituição e ajude a irmã em tudo.
Não só quem pratica, mas quem ajuda e influencia o comercio sexual se compromete moralmente com as leis da vida e um dia pagará caro por esse acto.
Isabel vai ficar presa a esse compromisso
que será um dos primeiros que faremos com que ela entre e, de pouco em pouco, ela estará mergulhada na lama da imoralidade.
Daí a teremos em nossas mãos.
Madame Celina exultou:
- Desculpe-me questioná-lo tanto, Enzo, é que demorei a compreender, não sei bem como funcionam essas tais leis da vida.
Aliás, como é que você, sabendo tanto, ainda fica aqui querendo fazer mal a ela?
Pelo que me disse, quem faz o mal se compromete, sendo assim nós também estamos nos comprometendo.
- Ocorre que nós temos todos os direitos de estar aqui fazendo isso.
A lei é justa e nos concede a oportunidade de nos vingarmos.
Existem muitos espíritos de luz por aí, Isabel também tem seu anjo da guarda; nunca se perguntou por que ele não apareceu aqui para nos impedir de nos vingarmos?
- Nunca havia pensado nisso - tornou madame Celina, coçando a cabeça.
- Eles nunca apareceram porque sabem que Isabel tem compromissos sérios com as leis universais e por isso não merece ser protegida.
De quem tem protecção não conseguimos sequer chegar perto.
Isabel até que tinha essa protecção, mas a partir do momento que tirou sua vida física, ficou totalmente sem apoio dos seres da luz.
Por isso, se estamos aqui e ninguém nos impede, é porque temos direito.
A simples e rápida referência à sua morte horrível fez com que madame Celina ruborizasse de ódio:
- Essa miserável!
Nem que eu tenha de ficar aqui por toda a eternidade, mas me vingarei dela com requintes de crueldade.
- Acalme-se, Celina - pediu Enzo, com cautela.
Olhe só para suas unhas.
Cada vez que tem essas crises de ódio, elas aumentam.
Daqui a pouco você terá dificuldade em movê-las.
Ela olhou para suas unhas que sempre foram grandes, vermelhas e afiadas e notou que estavam ficando cada vez maiores, mais vermelhas e mais afiadas.
Pareciam garras de um abrute faminto e feroz.
Assustou-se:
- Não quero ficar feia assim.
O que faço?
- Precisa controlar a mente e dominar esse ódio.
Esse corpo que nós usamos é modelado pela nossa mente.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:41 pm

Quanto mais emoções fortes e carregadas, mais ele se modifica para pior.
- Mas você tem muito ódio também e no entanto está aí, muito bonito - observou ela.
- É que eu já vivo mais tempo neste lado de cá e aprendi como moldar minha aparência como quero.
Não pense que seja fácil.
É preciso muito treino, disciplina e, principalmente, apoio dos magos negros.
Já você é uma novata, e se não aprender a se controlar, logo vai virar um animal.
Ela se assustou:
- Isso não pode acontecer.
Sempre fui uma mulher linda e sensual.
Vou procurar me controlar.
Assim, os dois ficaram confabulando até altas horas e depois se dispuseram a esperar pela visita de tia Elisa e de Rosa Maria ao castelo.
Como era de se esperar, tia Elisa acabou revelando à Rosa Maria que não tinha economia alguma e que havia mentido que iria embora a fim de que ela concordasse em abrir o bordel.
Ainda assim, prosseguiu ameaçando dizendo que, embora não tivesse dinheiro, caso a sobrinha não fizesse o que ela queria, ela realmente partiria em busca de uma vida melhor, ao lado de António.
Mas tal ameaça já não tinha mais razão de existir, porquanto Rosa Maria estava cada dia mais certa de que se tornar cafetina seria a melhor saída para sua vida, principalmente quando pensava em Augusto, feliz nos braços de Manuela, enquanto sua filha Denise estava ali sendo criada sem pai.
Rosa Maria não pensava sozinha, a seu lado estava o obsessor que não a deixava reflectir por si mesma.
Carlinhos ainda tentou demovê-la mais uma vez da ideia, contudo, ela o expulsou da casa a gritos, e o rapaz entendeu que deveria se calar deixando-a que utilizasse seu livre-arbítrio.
Em conversas que se prolongavam pelas madrugadas, tia Elisa e Rosa Maria chegaram à conclusão de que só Isabel e Lúcio poderiam ajudá-las com o capital necessário para a reforma e as novas instalações na casa grande.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:42 pm

CAPÍTULO 37
Numa segunda-feira partiram para o castelo e lá foram recebidas com muito carinho e amor por todos eles.
Rosa Maria, que nunca havia ido lá, ficou deslumbrada com tamanha beleza, e tia Elisa, além de tocada pela beleza da imensa construção, imaginava como seria bom se aquele palácio fosse transformado em um lugar de comércio do sexo.
Ali sim é que teriam lucro.
A princípio, Isabel ficou chocada com a decisão de Rosa Maria, mas depois de pouco tempo, intuída pelos espíritos de madame Celina e Enzo, acabou por achar muito natural e prometeu apoio.
Chamou Lúcio e compartilhou a ideia, que na hora foi rejeitada por ele:
- Não sou hipócrita, fui frequentador assíduo da Casa da Perdição, sei que é um negócio de muita renda, mas não creio ser coisa para você, Rosa Maria, que é moça de família, honrada e cheia de irmãos que a vão odiar por isso.
Rosa Maria deu de ombros:
- Não sou mais moça de família.
Desde a visita surpresa de Bernadete e seu maldito marido, que descobriu a existência de Denise e espalhou isso para toda a sociedade.
Sou uma mulher rejeitada pela sociedade por ser mãe solteira, inclusive sou rejeitada pelos meus próprios irmãos.
Até Bernadete me virou as costas dizendo não desejar uma perdida frequentando sua casa.
O que mais tenho a perder?
Lúcio concordou que, de certa forma, ela tinha razão, mas ainda assim não poderia concordar:
- Mesmo assim, acho que você deveria pensar melhor.
Um bordel é um lugar onde se pratica todo tipo de sexo.
Você é mãe solteira, mas não perdeu a dignidade por isso.
A sociedade pode até discriminá-la, mas na verdade você é tão digna quanto qualquer outra pessoa.
Se você montar um bordel, aí sim, deixará de ser digna.
- Olha só quem fala! - disse tia Elisa com voz alterada e zombeteira.
Sei muito bem que você não era um simples frequentador da Casa da Perdição, era amante oficial da madame Celina que, por sinal, sumiu misteriosamente dentro deste castelo.
O comentário de tia Elisa desagradou a todos, mas Lúcio não se deu por vencido:
- Não importa, tia Elisa, e, por favor, não se irrite comigo.
Lembre-se também de que há a Denise.
Hoje ela é um bebé, mas vai crescer em meio a prostitutas e homens da noite.
Será uma péssima influência para ela.
Rosa Maria, olhos tristes, fixou-se no semblante de Denise que sorria nos braços de Isabel e sacudia as mãozinhas, e disse:
- Eu já pensei nisso.
Será doloroso para mim, mas Denise só viverá comigo até completar sete anos.
Depois disso, quero que você, Isabel, cuide dela como se fosse sua filha.
Ela virá morar aqui no castelo e quero que você a apresente à mais fina sociedade lusitana com uma festa inesquecível quando fizer as quinze primaveras.
Promete-me isso?
Isabel sentiu lágrimas nos olhos:
- Claro que prometo, minha irmã!
Denise já é minha filha do coração e tudo farei para que tenha o melhor futuro, o melhor casamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:42 pm

Não se preocupe com isso.
- Acho melhor deixar Denise logo aqui hoje - disse tia Elisa, com empáfia.
Haverá reformas na casa, homens por todos os lados, barulho, as meninas também chegarão.
Não creio que será bom para ela ficar lá, pode nos atrapalhar.
- Que é isso, tia Elisa? - ralhou Rosa Maria, furiosa.
Denise vem comigo e ficará até fazer sete anos.
Meu comércio será o prostíbulo, mas não vou deixar de cultivar a terra e criar animais.
Quero que ela cresça em meio à natureza e vou ensinar a amá-la.
E ela ainda está mamando, jamais deixaria Denise aqui agora, mesmo confiando plenamente em Isabel.
Tia Elisa calou-se e Isabel concordou:
- Está certa, Rosa, Denise ainda é muito pequenininha, precisa muito de você - aproximou-se da irmã, deu-lhe a criança e abraçando-a, disse:
- Lembro-me sempre do nosso velho quarto na quinta, quando ficávamos até altas horas tecendo nossos sonhos de riqueza.
Como era bom aquele tempo!
Papai, mamãe, nossos irmãos todos reunidos, era uma felicidade.
Mas agora estou muito mais feliz porque estou ao lado do homem que amo e consegui tudo o que queria, resta você.
Se for para ficar rica com esse negócio, que seja! Tem meu apoio incondicional.
Rosa agradeceu e Lúcio parou de falar.
Não adiantava ele dizer nada, pois sabia o quanto Isabel era voluntariosa e cheia de si e nunca desistia de nada ou se arrependia do que fazia.
Ele a amava, mas, às vezes, se assustava com seu temperamento, principalmente depois que ela lhe confessou como havia matado madame Celina e como se mantinha sem uma gota de remorso.
Procurou não pensar mais naquilo e logo estava se despedindo da cunhada e de tia Elisa.
Quando ficaram a sós, Lúcio teve o ímpeto de voltar a falar no assunto com Isabel quando ela o abraçou com carinho pegando suas mãos e pondo-as em sua barriga.
- Meu amor, acho que teremos nosso primeiro filho.
Lúcio emocionou-se:
- Não brinque com isso, Isabel, meu maior sonho é ter um filho com você!
- Tenho certeza de que estou grávida.
Pelos meus sintomas, pelas regras atrasadas, pela experiência de Belarmina que me confirmou, posso afirmar que vem por aí nosso primeiro herdeiro.
Lúcio, emocionado, ajoelhou-se, beijando toda a barriga de Isabel.
- Porque não me disse antes?
Porque não contou à Rosa e à tia Elisa?
Elas ficariam felizes em saber.
- Só hoje tive praticamente a confirmação, embora estivesse desconfiada já há alguns dias.
E preferi primeiro lhe falar a sós, do jeito que estamos agora.
- Eu amo você, Isabel, mais que tudo nessa vida!
- Eu também amo você, meu amor!
Agora o nosso filhinho só vem selar cada vez mais nossa perfeita união!
Embalados nesse clima de amor, os dois se beijaram e foram para o quarto, deixando madame Celina a um canto, ruminando sua raiva e seu ódio.
O bordel foi inaugurado com muita pompa e a quinta Santo António passou a se chamar Quinta dos Prazeres.
Rosa Maria sofreu uma mudança grande em sua personalidade, tornando-se, aos poucos, uma cafetina mercenária e cruel.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:42 pm

Todas as vezes que lembrava de Augusto, feliz com Manuela, mais lhe vinha a vontade de explorar as pessoas.
Mas, sua transformação não ficou apenas em nível psicológico.
Sua figura externa havia sofrido também grande mudança.
Vestia-se, a partir dali, sempre com roupas sensuais, brilhantes e de cores fortes, e também passou a se chamar Madame Rosa Maria.
Em suas mãos, as prostitutas sofriam muito, mas ao mesmo tempo eram recompensadas com vida boa e agradável, e nada lhes faltava.
Aos poucos, Rosa Maria passou a juntar bom dinheiro e ficava cada vez mais feliz por estar enriquecendo tanto quanto Augusto.
Um dia, o pior aconteceu:
envolvida pelas ondas de prazer emanadas no ambiente e, principalmente, pelos espíritos inferiores e viciados que passaram a habitar o local, ela foi se entregando aos homens que achava mais interessantes e, movida pela obsessão, passou também a se prostituir junto com as demais, para alegria de tia Elisa.
Rosa Maria estava tão fascinada pelo sexo e pelo seu obsessor, que achava aquilo tudo muito normal e se perguntava como um dia fora tão moralista.
É assim que ocorre a fascinação.
A pessoa invigilante é, aos poucos, conduzida por um obsessor hábil, e vai mudando seus valores, sua conduta, sua moral, achando que tudo é muito natural e bom.
Não adiantam argumentos, conselhos ou orientações.
A pessoa fascinada acredita ser a mais certa das criaturas e começa a antipatizar e até mesmo sentir aversão de quem pensa o contrário, procurando fugir-lhe ao convívio.
Só a dor é que no futuro fará
com que os fascinados voltem-se para seu eu interior e descubram os desvarios que cometeram.
Mas a fascinação só acontece em quem lhe dá abertura, por isso, todo pensamento contrário à nossa forma natural de ser deve ser analisado e excluído da nossa mente, ainda que pareça normal e natural.
Não somos contra o progresso das ideias, ao contrário, temos plena consciência de que o pensamento evolui e marcha com outros progressos da humanidade, contudo, a ética cósmica é a mesma em todas as épocas e em todos os mundos.
Por esta razão, toda crença, pensamento, atitude e sentimento, contrários ao verdadeiro bem, ainda que mostrados como modernidade e renovação de ideias, deve ser rejeitado automaticamente.
Quem os agasalha é levado pelo turbilhão do mundo e vai sofrer muito no futuro para voltar ao verdadeiro rumo, ao verdadeiro caminho.
Rosa Maria cedeu aos instintos mais baixos que degradam o ser humano, movida pelo orgulho e pela vaidade.
Contudo, tinha o bom senso de não passar nada daquilo para Denise, que crescia sábia e bela.
Aliás, a beleza de Denise era tanta que chamava atenção até das pessoas mais distraídas.
Era uma criança encantadora e sorridente, e como prometera, Rosa Maria a ensinou a amar a natureza e os animais.
Denise passava todo o dia correndo atrás dos marrecos, galinhas, patos, porcos e ovelhas que viviam na quinta.
Carlinhos a levava sentada em seu pescoço para ver a ordenha das vacas, o que para ela era uma felicidade sem igual.
Um dia Carlinhos a levou para ver uma bela plantação de milho.
O milharal estava verde e alto e cada pé produzia muitas espigas.
Eles estavam lá observando o milho quando, de repente, Rosa Maria surgiu em roupas simples.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:42 pm

Durante a manhã, ela costumava se vestir como antes e adorava andar por entre o mato e as campinas verdes.
Encontrou-os no meio da plantação e Denise, ao vê-la, soltou-se dos braços de Carlinhos e correu para os da mãe:
- Mamãe, venha ver que lindo pé de milho.
Rosa Maria foi até lá e ela o mostrou.
Rosa pegou uma das espigas grandes, retirou do pé, abriu-a e mostrou à Denise:
-Veja que lindo, filhinha. Isso é o milagre da vida!
- Milagre, mamãe?
- Sim, minha linda!
É um milagre de Deus.
Olha para essas sementes de milho.
A gente joga no chão e elas nascem, virando esse pé enorme que vai dar outras espigas.
Não é um milagre?
- Sim, mamãe, é um milagre! - disse Denise na inocência dos seus três anos, sem saber ao certo o que aquela palavra significava.
Rosa Maria abaixou-se, pegou um punhado de terra do chão e colocou-a nas mãozinhas da filha dizendo:
- Isso aqui é terra.
É dela que vem a vida, o milagre da grande vida que Deus nos dá.
Nunca desvalorize a terra, pois ela é o que existe de mais importante no mundo.
Sem a terra, todos morreriam de fome.
A menina pareceu se emocionar. A mãe prosseguiu:
- Se um dia tudo faltar, se nada mais pudermos fazer para viver, sempre podemos recorrer à terra, pois ela existe no mundo inteiro e nunca faltará para ninguém!
Nunca se esqueça disso, Denise!
A emoção tomou conta de todos.
Carlinhos olhou para Rosa Maria e disse:
- Quando a senhora começou seu novo comércio, queria ir embora daqui, só não fui porque tinha certeza de que dentro da senhora mora um coração amoroso e bom, que valoriza as coisas simples da vida, que é humilde.
Só a simplicidade e a humildade elevam o espírito para Deus.
Ainda bem que está passando todos esses valores nobres para Denise, assim ela crescerá com a mente sadia.
- Ainda bem que você me entende, Carlinhos.
Sei que viverei pouco com minha filha, faltam só quatro anos para que eu a envie para Isabel, por isso, tiro todo o tempo possível para ficar com ela e dar-lhe muito amor, ensinando o que ainda resta de bom em mim.
Carlinhos baixou a cabeça e não disse nada.
Rosa Maria sabia que no fundo ele a recriminava pelo que fazia e não queria ficar ouvindo seus sermões.
Por isso, disse:
- Vamos, Denise, vamos ver os pintinhos novos da galinha ruiva.
Você já soube que eles nasceram hoje de manhãzinha?
- Oba! Quero ver os pintinhos da Aretuza! Vamos!
Carlinhos sorriu do nome que Denise colocara na galinha e, ao ver mãe e filha partirem, sentiu um doce sentimento no ar.
Orou por elas, pedindo a Deus que as abençoasse sempre, mesmo que não agissem de acordo com as suas leis...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:42 pm

CAPÍTULO 38
O tempo passou e foi com sofrimento na alma que Rosa Maria deixou Denise no castelo para ser criada por Isabel.
A despedida foi triste, mas Rosa Maria não queria que sua filhinha, ainda criança, regressasse à quinta, para não se ver envolvida no clima de orgias que por lá pairava.
A menina cresceu cada vez mais em beleza e inteligência e logo descobriria o que se passava ali.
Rosa Maria pretendia contar-lhe a verdade, mas só quando Denise tivesse maturidade para aquilo.
Enquanto viveu na quinta, Denise passava mais tempo em contacto com a natureza e com os animais do que dentro da casa, mas ainda assim fizera amizade com as meninas que trabalhavam lá, pois era uma criança encantadora e muito doce.
Quando chegou ao castelo, encontrou Isabel e seus três filhos:
Maurício com também sete anos, Alda com seis e Zélia com cinco.
Logo fez amizade com os três, mas talvez devido aos gostos e à mesma idade, dava-se melhor com Maurício.
Os arredores do castelo ofereciam beleza natural farta e rica, e Denise costumava fugir para o mato com Maurício passando por lá horas e horas a brincar.
Contudo, tanto Lúcio quanto Isabel preocupavam-se com o comportamento do primogénito.
Maurício era um menino muito normal, mas por vezes tinha crises de abatimento, ficava triste em um canto por horas, sem falar com ninguém, sendo que, em outros momentos, tinha crises de euforia, brincava sem parar, corria pelo castelo e muitas vezes se perdia pelos imensos corredores e salões, e somente Wladimir era quem o encontrava.
Wladimir foi consultado pelo casal e lhe explicou que Maurício era sensitivo, possuía a capacidade de absorver as energias dos encarnados e desencarnados, o que hoje chamamos de médium.
Isabel não queria aceitar aquilo, muito menos os avós da criança, que ficaram por demais preocupados.
Mas as conversas com Wladimir foram, aos poucos, acalmando o casal.
Sempre que o menino ficava cabisbaixo ou enérgico demais, o bruxo fazia-o parar e aplicava-lhe passes dispersivos e calmantes, assim, logo ele voltava ao normal.
Uma tarde, Denise estava na sala com Maurício e as outras irmãs dele brincando de desenhar, tendo mais à frente sentados em poltronas e conversando Lúcio, Isabel, a senhora Tereza e o senhor Januário.
De repente, Maurício ficou muito inquieto e começou a pedir:
- Quero papel e lápis!
Quero papel e lápis.
Denise explicou:
- Já tem papel e lápis aqui, é só pegar.
Maurício parecia em transe e dizia:
- Quero papel na minha frente e um lápis na minha mão.
Como ele falava alto e com voz alterada, logo todos estavam perto e vendo a estranha cena.
Denise colocou o papel e o lápis e Maurício começou a escrever rapidamente.
Em poucos minutos, havia toda uma página escrita.
Em seguida, a criança respirou fundo e disse:
- O que foi que aconteceu, Denise?
Você está com uma cara espantada...
- Você pediu lápis e papel e escreveu tudo isso, olhe - disse a menina realmente assustada.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 6 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:43 pm

- Deixe-me ver - Isabel puxou rapidamente o papel e começou a ler em voz alta para que todos ouvissem:
"Eu a odeio!
Odeio porque tomou o Lúcio de mim e me matou mandando me jogar para os crocodilos.
Pensa que esqueci?
Sou sua sombra, vivo aqui dia e noite só esperando uma hora para me vingar.
E tenha certeza de que vou conseguir.
Só descansarei quando a vir sofrendo muito, nem que para isso leve toda a eternidade.
Garanto que, assim que achar uma oportunidade, você perderá a paz e jamais a recuperará.
Madame Celina".
Isabel foi sentindo tontura, e pavor inexplicável tomou conta de todo o seu ser, o que a fez desmaiar.
Logo Lúcio tomou a carta, leu novamente para ter a certeza de que não tinha sido uma alucinação da esposa, e percebeu que era verdade.
O que tinha acontecido ali?
Wladimir estava por perto e havia presenciado a cena e, enquanto Isabel era colocada na cama pelos lacaios, ele disse:
- Seu filho recebeu uma carta de um espírito, e esse espírito se chama madame Celina.
Maurício tem a capacidade de escrever o que espíritos lhe ditam.
- Mas não pode ser!
Isso é um engano! - tornou o senhor Januário, incrédulo.
Wladimir perguntou:
- Vocês já comentaram na frente dele alguma coisa sobre madame Celina?
- Nunca! - disse Lúcio, resoluto.
Até esquecemos que essa mulher um dia existiu.
- Então, não há dúvidas de que o fenómeno foi real.
O espírito dessa mulher está aqui no castelo e quer se vingar.
A senhora Tereza tomou-se de pavor intenso:
- Meu Deus! Então, quer dizer que essa Isabel matou madame Celina jogando-a no rio dos crocodilos?
As crianças estavam entretidas, já esquecidas do episódio, mas Wladimir, temendo que elas ouvissem algo, chamou-as de volta ao meio do salão.
- Acho melhor que Lúcio conte toda a verdade a você.
Lúcio enrubesceu, mas não havia como negar.
O fenómeno espiritual fora muito real.
Sentou-se junto com os pais e explicou o que Isabel havia feito.
Ambos se horrorizaram, mas ao final concordaram que não havia mesmo outra saída para ela.
Isabel acordou chamando por Lúcio, e Belarmina correu a chamá-lo.
Lúcio foi ao quarto e ela o abraçou temerosa:
- E agora?
O que faremos com essa alma penada aqui? Estou com medo.
Bem que Wladimir me avisou que ela voltaria para se vingar.
Tenho medo de acontecer comigo novamente o que aconteceu quando Pedro veio aqui para me cobrar.
Ajude-me, Lúcio.
Não me deixe só.
Era nítido o pavor de Isabel.
Lúcio não sabia o que fazer e pediu que Belarmina chamasse Wladimir imediatamente.
Quando ele chegou, Isabel atirou-se em seus braços chorando e pedindo socorro, ao que ele disse:
- Tenha calma, senhora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:43 pm

Madame Celina só conseguirá lhe atingir se a senhora der abertura.
Na carta, ela disse que está esperando essa hora chegar, isso é sinal de que a senhora está bem mentalmente, com boa moral e, embora tenha a mancha de um crime pairando em sua aura, Deus deve ter-lhe dado alguma atenuante, pois do contrário provavelmente já estaria em total desequilíbrio.
Esse facto aconteceu há sete anos e se até agora ela nada conseguiu, é porque a senhora tem protecção.
Agora, se começar a se desesperar e alimentar o medo, facilmente ela vai lhe atingir.
- Mas eu sou uma criminosa, como é que Deus pode estar me dando protecção?
- Nós não sabemos tudo sobre Deus e estamos longe de saber, acredito mesmo que nunca saberemos todos os mistérios da divindade.
Contudo, eu acredito que seu crime não tenha sido motivado
por uma coisa vã.
A senhora o cometeu para proteger as pessoas que mais gostava, acredito que Deus tenha visto suas intenções e lhe dado atenuantes que impedem madame Celina de se aproximar e se vingar.
Um crime, um assassinato, são actos erradíssimos e um dia a senhora terá de voltar à Terra para reparar esse crime, mas em todas as coisas Deus vê as intenções e é por isso que não podemos julgar nada, pois só Deus conhece o íntimo de suas criaturas.
Fique em paz, sem preocupações, ore muito, peça perdão à madame Celina, e tenho certeza de que ela nunca vai conseguir lhe fazer mal algum.
É tudo que a senhora pode fazer.
Isabel acalmou-se um pouco e quando Wladimir percebeu que ela queria ficar a sós com o marido, retirou-se do quarto.
Chegou ao salão onde as crianças brincavam e começou a observar Denise com profundidade.
Ela era linda, e Wladimir havia se encantado por sua figura assim que a viu chegar ao castelo pela primeira vez.
Ele era um homem reservado no amor.
Quando sentia necessidades físicas, ele procurava alguma serviçal do palácio ou camponesa, mas amor nunca havia sentido.
Mas, desde então, era diferente.
Seu coração amou Denise assim que ele a viu pela primeira vez.
Contudo, Denise ainda tinha sete anos, e ele a esperaria crescer para conquistá-la, mesmo sendo trinta anos mais velho.
Continuou a olhá-la embevecido e em seguida retirou-se para seus aposentos jurando que Denise jamais seria de outro homem.
Isabel resolveu seguir o conselho de Wladimir e foi se modificando.
Fazia constantes orações vindas da alma e pedia perdão sincero à madame Celina pelo ato do qual estava totalmente arrependida.
Se fosse naquele momento, não mais a mataria, a encerraria na torre e a deixaria lá para sempre, mas com vida.
Aquela mudança de postura irritou sobremaneira a ex-cafetina, que passou a ficar agressiva com Enzo:
- Então, ficamos aqui esse tempo todo para perdermos a parada?
Você é mesmo um fraco, olhe só para aquela capa de protecção azulada em torno de Isabel.
Nem sequer consigo mais chegar perto dela.
- É um risco que nós corríamos, mas a culpa foi toda sua, quem mandou escrever aquela carta através do menino?
Várias vezes mandei você conter seus impulsos, e agora viu que eles a prejudicaram.
Se não tivesse escrito nada, ninguém saberia que você estava aqui à espreita para se vingar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:43 pm

Ela rangeu os dentes com ódio:
- Malditos, malditos!
O ódio de madame Celina foi tanto que seu corpo começou a se transformar.
Enzo, que esperava aquele momento com ansiedade, aproveitou e começou a hipnotizá-la:
- Você tem muito ódio, Celina!
Muito! Sinta cada vez mais ódio!
Ela parecia obedecer ao comando, e ele prosseguia:
- Você está se transformando numa cadela feroz e valente.
Você é uma cadela feroz, muito feroz.
Seus dentes são afiados e suas patas são fortes e grandes.
Madame Celina, movida pelo ódio, obedecia cegamente aos comandos hipnóticos de Enzo.
Ele prosseguiu e depois de algumas horas, madame Celina havia ganhado a aparência de uma cadela grande, raivosa, com dentes e unhas afiadas e grandes.
Ela latia e uivava sem parar.
Enzo, com brilho de satisfação no olhar, pegou uma espécie de coleira e a prendeu dizendo:
- Agora será minha escrava para o resto da eternidade.
Finalmente, consegui o que queria.
Demorou, mas valeu a pena!
Pensa que esqueci quando, no Império Romano, sobre o comando de Graco, você me traiu e ainda fez com que me jogassem na arena onde fui devorado por leões?
Maldita mulher que amei pela vida toda e me traiu insensivelmente.
Menti, dizendo que tinha uma vingança contra Isabel, que na realidade nem sei quem é, e ela fez certo matando-a.
Você caiu nas minhas garras e agora será minha cadela nos meus aposentos e eu a farei sofrer para sempre.
Enzo, transformando-se naquele espírito com aspecto vampiresco, saiu arrastando madame Celina pela coleira, enquanto ela, movida pelo ódio, latia e grunhia incessantemente.
Aos poucos, saíram do castelo e no meio de uma estrada de terra, Enzo encontrou um buraco invisível aos olhos humanos e lá mergulhou com ela para nunca mais voltar.
É isso o que acontece com todos aqueles que não aplicam o ensinamento de Jesus:
"Perdoai setenta vezes sete", e se lançam em uma vingança.
Acabam sempre vítimas do próprio ódio.
Será assim até o homem aprender que, acima de tudo, o mais importante é perdoar e se livrar de todo o mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:43 pm

CAPÍTULO 39
Denise estava impaciente.
Havia mais de duas horas que estava parada, de pé, rodeada de costureiras, bordadeiras, alfaiates e pajens que a ajudavam na prova do magnífico vestido que usaria na sua festa de quinze anos, na qual seria apresentada à sociedade lusitana, em uma comemoração requintada como nunca Isabel havia feito antes.
O seu vestido da mais pura seda rosa-claro, era todo bordado em fios de ouro, formando motivos de flores com pétalas confeccionadas na mais pura prata, ricamente decoradas com pedras preciosas.
Isabel fez questão de lhe dar de presente de aniversário um solitário de diamante negro, que Lúcio havia subtraído do tesouro escondido, do qual Isabel já sabia da existência.
Algumas horas depois, a prova terminou, e os alfaiates disseram que estava perfeito.
Denise saiu do quarto impaciente procurando por Maurício, que se encontrava no terraço lendo um livro.
- Ah, que prova chata! - disse suspirando.
Pensei que não fosse acabar mais.
E olhe que foi a oitava vez que provei esse vestido.
Maurício sorriu, fechando o livro.
- Vocês mulheres são engraçadas, querem toda a perfeição, mas são impacientes.
Não sabe que a perfeição exige paciência?
Ela fez ar de descaso:
- Paciência demais não consigo ter.
Não suporto esperar.
Maurício mudou de assunto:
- Soube que sua mãe e sua tia estarão presentes no evento -riu Maurício.
Vai ser um escândalo para a sociedade.
Minha mãe é mesmo corajosa.
Vai colocar tia Rosa e tia Elisa nas cadeiras do centro, junto com ela e papai.
Todos terão de cumprimentá-las e ainda beijar-lhes as mãos.
Denise riu também:
- Tia Isabel é o símbolo da coragem.
Vai fazer a sociedade frívola e hipócrita desse país se curvar a duas cafetinas.
- Isso é muito bom, acho que esses costumes da nossa sociedade são antiquados.
Que é que tem uma mulher ser cafetina?
Deve ser bem divertido ter um bordel.
Sou louco para ir lá, mas papai proibiu.
- Você pode ir escondido, seu bobo - Denise calou-se um pouco e seus olhos perderam-se no horizonte.
Eu penso como você.
No começo, estranhei essa escolha de mamãe de ser cafetina, mas hoje penso que não seja nada demais.
É uma profissão como outra qualquer.
- Isso mesmo, Denise, não seja arcaica. Tudo é normal.
E um dia ainda vou lá conhecer, matar minha curiosidade.
Tia Elisa me disse que há uma espécie de tecto móvel de onde descem mulheres nuas, fazendo poses sensuais, cantando e dançando muito - Maurício riu, inebriado só de pensar na cena.
- Mas você é um depravado mesmo, hein?
Não sei a quem saiu.
- À tia Elisa - ele riu gostosamente quando viu que o clima havia mudado com a chegada sorrateira de Wladimir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 04, 2018 8:43 pm

Denise fechou o semblante em desagrado:
- O que quer aqui?
- Vim fazer companhia a vocês.
Adoro o papo de jovens.
- Você é velho demais para se meter em nossas conversas - tornou Denise com rispidez.
- Não me trate assim, senhorita, sabe o quanto a aprecio...
- Mas, eu não gosto nem um pouco de você, nem da forma como me olha.
Já falei a Maurício que você me disse aquelas coisas ousadas, se continuar contarei tudo à tia Isabel e você será expulso daqui.
Maurício interveio:
- Deixe-nos a sós, Wladimir, por favor.
A ordem era bastante imperativa, e o bruxo saiu com raiva.
Nunca conseguia se aproximar de Denise.
Não estava tendo alternativa a não ser fazer uma magia para que ela se apaixonasse por ele.
Não era isso que Wladimir queria, o que ele desejava era que a moça caísse de amores por ele, espontaneamente, mas parecia que aquilo não iria ocorrer, então ele recorreria ao que sabia fazer de melhor:
sortilégios e encantamentos.
Novamente a sós com o primo, Denise retorquiu:
- Mas, esse velhote não se enxerga mesmo, hein?
Teve a ousadia de me convidar para ir ao seu quarto.
Imagina se tia Isabel sabe disso?
- Nem conte à mamãe, é capaz dela mandar matá-lo.
Denise arrepiou-se:
- Não quero ser responsável por uma morte, não contarei nada, mas se ele continuar, não terei outra solução.
Maurício calou-se um pouco e disse:
- Denise, aconteceu de novo.
- Não me diga!
Que dia foi?
- Ontem. Ele chegou e passou duas horas me ditando essas páginas, olhe aqui.
Maurício abriu uma pasta cheia de papéis com letras muito pouco legíveis, mas possíveis de ser entendidas se fossem observadas com paciência.
Denise começou a ler e exultou:
- Então, ele está continuando a história da moça que se matou por causa do conde russo.
Essa história é linda!
- Sim, bonita é, mas eu tenho medo.
Ele toma minha mão e eu não consigo controlá-la.
No final, não diz nada e só assina com a letra H.
- Ah, a letra H deve ser a inicial do nome dele.
- Você fala como se tivesse falando de alguém normal.
Estamos falando de um espírito!
- E o que tem isso de anormal?
O Wladimir já explicou que os espíritos são seres humanos que já viveram aqui na Terra e que, ao morrerem, continuam vivos na outra dimensão.
- Eu sei, mas ele fica me aconselhando e dizendo para eu não fazer mais aquelas coisas...
Você sabe o que é.
- Sei sim, mas não ligue para esses conselhos, deve ser um espírito velho e careta.
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