LUZ ESPÍRITA
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 3 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:06 pm

CAPÍTULO 14
Quando Pedro chegou em casa, esbaforido e descontrolado, o pai logo veio perguntar:
- O que houve, filho, foi vítima de salteadores?
- Pior que isso, meu pai, fui vítima da pessoa que mais amava no mundo: Isabel.
O senhor Francisco não entendeu:
- O que Isabel, aquele anjo de candura, lhe fez?
- De anjo ela não tem nada, não passa de uma prostituta traidora e infeliz, mas eu juro que nunca a deixarei em paz.
Naquele momento, dona Regina entrou na sala e vendo o desespero do filho que torcia as mãos e esmurrava o sofá, perguntou aflita:
- Meu Santo Expedito!
O que houve com você, meu filho?
Em poucas palavras, mas fazendo-se entender muito bem, Pedro contou tudo o que Isabel havia feito.
O rosto do senhor Francisco tremia do mais puro ódio, e as faces de dona Regina coravam com tudo o que ouvia.
Ela bradou:
- Vagabunda, prostituta, infeliz!
O que será agora de sua reputação?
Foi o senhor Francisco que sugeriu:
- Vamos lavar nossa reputação com sangue.
Quem os Alcântara pensam que são para nos desafiar dessa maneira?
Lúcio morrerá e Isabel será sua, meu filho.
- Não a quero mais, papai, ela está com o filho desse homem na barriga.
Por mais que a ame, nunca a aceitarei num estado desses.
- Isso pode ser muito bem resolvido e com rapidez.
Forçaremos Isabel a fazer um aborto.
A ideia não soou tão ruim na mente de Pedro.
Mesmo assim seu orgulho era maior.
- Não! Eu não aceito Isabel nunca mais, mesmo sem o filho.
- Tem certeza de que não a quer mais mesmo? - perguntou o pai tremendo de raiva.
- Não. Não quero e também não quero que o senhor mate Lúcio agora.
Deixe que os dois se casem e eu cuidarei de transformar suas vidas num inferno.
Isabel nunca passará um dia de felicidade ao lado dele.
- Mas, filho - disse dona Regina, colérica.
Você foi ultrajado, traído, passará como fraco perante a sociedade.
Precisamos fazer alguma coisa.
O ódio de Pedro era tanto que disse:
- Prefiro sofrer agora, mas depois quem sofrerá será ela.
Não, Lúcio não pode morrer.
Morrer é muito pouco para ele.
Vou tramar uma vingança tão cruel que posso garantir que nunca, nem por um minuto sequer, serão felizes.
As palavras de Pedro, ditas com tamanho rancor e desejo de vingança, atraíram para ele espíritos inferiores e maus que, a partir daquele instante, o seguiriam noite e dia ajudando-o em seus planos de vingança.
Três sombras escuras o abraçaram prazerosamente e ele se sentiu revigorado.
Com os olhos brilhantes de cólera tornou:
- Sinto-me agora mais forte.
Deixe que tudo passe aparentemente em brancas nuvens e logo logo eles verão quem sou.
Convencido pelo filho, Francisco fingiu aceitar de bom grado o término da relação de Isabel com Pedro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:06 pm

Em toda Lisboa corria comentários de que Isabel cedera às tentações da carne e havia traído o noivo com Lúcio Alcântara, o boémio.
Comentavam também que Lúcio iria reparar o erro de tê-la deflorado casando-se com ela e dando-lhe luxo e um lar honrado.
As notícias não demoraram a chegar ao bordel Casa da Perdição, e naquela noite Madame Celina estava mais nervosa e violenta do que nunca.
Havia dado várias bofetadas em duas de suas protegidas e a toda hora gritava impropérios e palavras de baixo calão.
Pensava em uma maneira de impedir o casamento de Lúcio, a quem amava mais que tudo no mundo, mas, por mais que pensasse, não conseguia achar uma saída.
A noite ia alta quando Lúcio apareceu.
Ele era homem vigoroso e, mesmo amando profundamente Isabel, não pretendia deixar o caso com Celina que lhe dava prazeres inenarráveis.
Madame Celina alegrou-se quando o viu entrar pela porta principal, passar por diversas mesas redondas de madeira mal acabada e chegar até ela.
Não demorou para estarem na cama amando-se loucamente.
O dia já havia clareado quando Lúcio começou a se vestir para ir embora.
Madame Celina, como quem não queria nada, disse:
- Soube que vai casar com a senhorita Isabel.
É verdade?
- Sim. Você sabe que a amo, mas preciso de uma mulher da sociedade para fazer uma família.
Ela sentiu o ódio tomar conta de todo o seu ser, mas disfarçou bem:
- Sei disso, meu amor, e compreendo.
Infelizmente, tive esse destino de herdar esse bordel da minha mãe, e como única alternativa de ganhar a vida tive de prosseguir com sua tarefa.
Tenho certeza de que, se tivesse nascido numa boa família e fosse mais nova, você se casaria comigo.
Lúcio mentiu:
- Com certeza, meu amor, mas a vida nos prega peças.
Mas você sabe que, mesmo casado, não vou deixá-la.
Ela se levantou, abraçou-o por trás e disse melosa:
- Confio totalmente em você. Eu te amo.
Lúcio saiu deixando-a a pensar.
O ódio era tanto que, se ela pudesse, mataria Isabel com requintes de crueldade, mas ela nada podia contra os pais de Lúcio que protegiam o filho de tudo e de todos.
Ela era apenas uma cafetina, sem poder, apesar de ter dinheiro.
Ficou no quarto a ruminar.
De repente, auxiliada por um espírito das trevas que a acompanhava sempre, teve uma magnífica ideia.
Desceu a escada tosca e pediu que Rosália mandasse buscar algum negrinho na rua que servia de mensageiro.
Logo um menino de uns dez anos estava à sua frente.
Ela o olhou e disse:
- Entregue este envelope nas mãos de Pedro Menezes, ele mora na rua...
À esquerda.
Não é difícil achar a mansão.
Mas só entregue nas mãos dele.
Tome isto - deu-lhe um pequeno saquinho amarelo com moedas dentro e prosseguiu.
Se tudo sair como o planeado, lhe darei outro saquinho igual a este.
Celina tinha a certeza de que naquela mesma noite Pedro iria procurá-la.
E o esperado aconteceu.
Já passava da meia-noite e a Casa da Perdição regurgitava de homens sedentos por sexo e bebida, gargalhadas finas ecoavam pelo recinto, quando Pedro adentrou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:06 pm

Algumas prostitutas tentaram seduzi-lo, mas ele foi directo ter com a cafetina no balcão.
-  Sabia que viria.
Vamos beber.
Celina ofereceu-lhe um uísque escocês bastante forte e Pedro, angustiado pela traição e a perda da amada, sorveu com prazer.
-  O que você realmente quer comigo? - perguntou interessado.
Disse no bilhete que era algo referente a Isabel e Lúcio.
-  Sim. Eu tive uma ideia para nos vingarmos deles e impedir que esse casamento aconteça.
- E qual interesse seu nisso?
- Lúcio é meu amante há muito tempo.
Fui eu, com toda minha experiência, quem lhe tirou a virgindade quando ainda era praticamente criança.
Amo-o como nunca amei ninguém nesta vida, e só há uma maneira de fazermos com que esse casamento não aconteça.
- Desculpe-me, madame, mas não quero impedir esse casamento, ao contrário, quero que ele aconteça.
Celina surpreendeu-se:
- Por que? Acaso não ama Isabel?
Ela não é a mulher de sua vida?
- Não a amo mais, a odeio.
E eu não quero mais me casar com ela.
Isabel está grávida de Lúcio, acha que um homem com minha estirpe vai se casar com uma mulher deflorada e grávida de outro?
Aquela notícia penetrou o coração de Madame Celina como uma faca das mais afiadas.
Então, Isabel estava grávida!
Como ela se atrevera a engravidar do homem que ela amava?
Ela era quem deveria ter um filho com Lúcio.
Nunca deixaria aquela criança nascer.
Ainda mais raivosa, voltou a perguntar:
- Tem certeza de que não quer impedir esse casamento?
- Tenho - disse Pedro já virando outra dose do uísque.
- Que homem fraco é você!
É traído descaradamente e vai deixar pra lá - provocou Celina.
- Cale essa boca, cafetina dos infernos - bradou Pedro.
Não deixarei pra lá.
Quero que eles se casem e, a partir daí, vou infernizá-los para sempre.
Não haverá um dia na vida de Isabel em que ela será feliz.
- Tudo bem - contemporizou Madame Celina, vendo que ele estava nervoso e violento.
Se você não quer fazer nada para impedir, eu também não farei.
Vi que chamá-lo aqui não adiantou.
- Não adiantou mesmo, e se você tentar impedir o casamento e impedir que eu me vingue, juro que a mato e destruo essa sua Casa de Perdição.
Madame Celina ficou com medo.
- Acalme-se, não farei nada.
Divirta-se com minhas meninas, se quiser.
Ela subiu para o quarto deixando Rosália em seu lugar e Pedro numa das mesas bebendo muito.
Sozinha, deitou-se e pôs-se a reflectir:
- Não posso esperar que eles se casem, é muito tempo pra mim.
Preciso impedir esse casamento.
Terei de fazer tudo sozinha, mas o problema é que não possuo dinheiro suficiente.
Contava com Pedro para pagar pelo menos a metade do preço.
O que farei?
Ela ficou rolando pela grande cama, arranhando os travesseiros com as unhas grandes, vermelhas e afiadas, até que resolveu que iria ela mesma buscar a solução.
Conversaria com a pessoa que iria ajudá-la e pediria um tempo para pagar a outra parte.
Seu bordel facturava muito e tinha certeza de que conseguiria em pouco tempo quitar a dívida.
Feliz com a resolução que havia tomado, sempre intuída pelo espírito trevoso que a acompanhava, Madame Celina desceu novamente e viu Pedro completamente embriagado, entre duas de suas meninas.
Pensou:
- É realmente um fraco!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:08 pm

CAPÍTULO 15
No outro dia pela manhã, Madame Celina acordou cedo, entrou em sua carruagem e pediu que o cocheiro a levasse em determinada rua do subúrbio de Lisboa.
Demorou para que chegassem ao destino, mas finalmente entraram na rua paupérrima onde uma grande mansão se destacava em meio a casas velhas, pobres e feias.
Pararam em frente a mansão e ela ordenou que o cocheiro a esperasse o tempo que fosse preciso.
Tocou a sineta que havia no portão de madeira e logo uma criada atendeu reconhecendo-a de pronto.
- Madame Celina!
Há quanto tempo! Seja bem-vinda.
- Obrigada, Raquel.
Vim para falar com mãe Gorete, ela se encontra?
- Sim. Mãe Gorete só sai para fazer os trabalhos que lhe encomendam e é sempre à noite.
Celina entrou na belíssima casa e ficou na grande sala a esperar.
Felizmente, naquela manhã não havia ninguém esperando para ser atendida pela temível e terrível feiticeira de Lisboa.
Melhor assim, não queria que ninguém a visse.
Mãe Gorete era uma escrava alforriada que entendia e praticava magia negra.
Quando trazida da África e vendida ao seu dono, o senhor Felisberto, foi colocada para trabalhar como escrava de dentro, fazendo os serviços da casa de sua grande e próspera quinta.
Gorete era médium desde criança e havia sido criada com inteira liberdade para lidar com os espíritos, já que, na sua terra natal aquilo era tido por natural.
Havia aprendido a fazer toda espécie de magia e aproveitou aquele conhecimento para fazer Felisberto apaixonar-se por ela.
Logo, seu dono estava em sua cama dando-lhe muito dinheiro e jóias.
Quando conseguiu tudo o que achava necessário, ela, com jeito maneiroso, pediu-lhe a carta de alforria, dizendo que queria viver livre em uma casa só sua onde iria esperá-lo todas as noites.
Contente e feliz, Felisberto a libertou e ajudou-a a construir a bela mansão onde residia com várias negras que, embora de sua mesma cor e origem, eram suas escravas tratadas feito animais.
Como não tinha o que fazer e passava o dia sendo servida, Gorete sentiu-se entediada e resolveu fazer magias para as pessoas, a fim de ocupar seu tempo.
Ela gostava muito de dinheiro, e, mesmo já tendo bastante, cobrava caro suas consultas e mais caro ainda seus trabalhos.
Com isso, amealhava cada vez mais pequena fortuna.
Em pouco tempo, sua fama de feiticeira perigosa e capaz de tudo correu por toda Lisboa.
Algumas pessoas queriam matá-la, mas temiam Felisberto, que era um homem muito
influente e amigo do rei, que todos sabiam, era protector de Gorete.
Demorou poucos minutos até que uma escrava chamou Celina:
- Entre, mãe Gorete a espera.
Celina entrou no já conhecido quarto de consultas e sentou-se numa cadeira à frente.
Mãe Gorete a elogiou:
- O tempo passa e Madame Celina continua linda e exuberante.
- Obrigada, mãe, mas desejo ir logo ao assunto.
- Sempre muito apressada...
Mas, vamos lá.
O que quer desta vez?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:08 pm

- Quero impedir um casamento.
- Já sei, quer impedir o casamento de Isabel com Lúcio.
- Como você sabe?
- Felisberto me contou ainda ontem quando veio aqui.
Toda Lisboa não fala em outra coisa.
- Então, quero destruir esse casamento antes mesmo que aconteça.
- Você sabe que o trabalho é caro e só faço depois que recebo o dinheiro.
Celina gaguejou um pouco, mas disse:
- Eu gostaria de pedir à senhora que me desse um pequeno prazo para pagar o restante.
Sei que o tenho aqui não é o bastante.
A senhora faz o trabalho, eu pago a metade e a outra metade, pago assim que facturar mais com minhas meninas.
Mãe Gorete pensou um pouco e resolveu:
- Tudo bem. Aceito.
- O que a senhora me aconselha para destruir esse casamento?
- Espere um pouco, irei consultar meus exus.
A médium entrou em transe rapidamente, fez algumas caretas, fungou algumas vezes, depois abriu os olhos e, voltando ao normal, disse:
- A situação é mais difícil do que eu imaginava e não posso lhe dar nenhuma garantia.
- Como assim? - assustou-se Celina.
- Lúcio e Isabel se amam de verdade e é extremamente difícil atrapalhar uma relação assim, mesmo quando um dos dois tem vários defeitos de moral, como é o caso de Lúcio.
A força do amor verdadeiro é muito grande, de forma que posso fazer tudo e nada adiantar.
Os olhos de Celina encheram-se de lágrimas.
Mãe Gorete era sua última esperança.
Pensou em mandar matar Isabel, mas não podia correr o risco de ser presa.
Ela era uma pessoa sem berço ou família, não tinha protecção de nenhum homem influente.
Se cometesse algum erro, seria presa e executada.
- O que quero mesmo é que a senhora mate Isabel.
Coloque nela uma doença mortal ou faça com que tenha um acidente fatal.
Tire essa mulher de meu caminho! - o rosto de Madame Celina tremia todo de ódio.
- Acalme-se.
Eu posso tentar matar Isabel, mas ela está amando verdadeiramente, está muito feliz.
Quando as pessoas estão assim, criam uma protecção natural e não há magia que as destrua.
Mas posso tentar.
- Tente. É a minha única salvação.
- Devo lhe dizer que, mesmo que a magia não funcione, deverá me pagar todo o dinheiro.
Sou sua amiga, mas com dinheiro não brinco.
Se não me pagar tudo, faço outra magia, mas desta vez será para destruir você e seu cabaré.
Como vocês não têm protecção alguma, acabarão todas doentes, na rua da amargura e pedindo esmola.
Celina conhecia muito bem mãe Gorete e sabia que ela falava e cumpria, por isso afirmou:
- Faça o que for necessário, não importa no que dê, eu lhe pago.
Ao saber o valor, Celina quase desmaiou, mas lhe deu o quanto trazia na grande bolsa vermelha brilhosa, e saiu na esperança de que em breve Isabel estivesse morta.
Na quinta de Santo António, Carlinhos estava cuidando da plantação de milho quando sentiu a aproximação do espírito luminoso de Pai João.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:08 pm

Deixou a pequena enxada de lado, foi para sua casa, sentou-se no chão e entrou em profunda concentração.
Carlinhos viu a imagem do seu amigo preto-velho, sentado humildemente numa cadeira, fumando seu costumeiro cigarro de palha.
Sua luz era intensa e suas energias confortantes.
Carlinhos perguntou:
- O que deseja de mim, meu guia?
- Nosso guia é Jesus Cristo, nunca se esqueça.
Vim hoje porque quero que você ajude a menina Isabel.
Ela será vítima de um forte sortilégio, mas tem mérito e protecção, não vai lhe acontecer o pior.
Mas para que ela não morra, vamos precisar de sua ajuda.
- Farei o que me pedir, Pai João.
Quem está fazendo o mal para Isabel?
- São duas pessoas doentes da alma, pois só faz o mal aos outros quem é doente, meu filho.
Não importa saber quem são, nem seus nomes.
Vamos entender que essas pessoas vivem na ignorância de que o mal não compensa de forma alguma e só o bem é forte e verdadeiro.
- Por que as pessoas fazem tanto mal aos outros?
- Porque ainda não descobriram a imensa força do bem que trazem dentro de si.
Pensam que, para resolver seus problemas e dores, precisam prejudicar seu semelhante.
Mas um dia todos entenderão e a humanidade será composta só de pessoas boas.
- Por que esse dia não chega logo?
- Tudo a seu tempo, meu filho.
Dentro em breve o grande consolador prometido por Jesus chegará à Terra, e a partir daí tudo vai melhorar, pois esse consolador virá para modificar o mundo.
- E quem é o consolador?
- Não é um homem, mas uma doutrina de luz, que descerá do céu para levar amor e consolação a todas as criaturas.
Essa doutrina será chamada de Espiritismo e vai ensinar em definitivo tudo o que as pessoas precisam saber para encontrar a felicidade.
Vai ensinar principalmente que existe uma lei chamada de Causa e Efeito, e que tudo o que fazemos de bom ou mal para o nosso semelhante voltará fatalmente um dia para nós.
- Isso é lindo, Pai João!
- É mesmo, meu filho, mas enquanto o consolador não chega, vamos fazer nossa parte e agir no bem.
Assim que precisar de você, viremos chamá-lo.
Desde já, intensifique suas orações e chame muito por Jesus.
Pai João beijou-lhe a testa e em seguida desapareceu deixando energias suaves e reconfortantes por todo o ambiente.
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CAPÍTULO 16
Naquele mesmo dia, no final da tarde, Isabel e Rosa Maria apareceram na pequena casa onde Carlinhos morava.
Ele já as esperava, por isso, fez com que entrassem e sentassem.
- As meninas estão acostumadas com o luxo da quinta, ignorem minha humilde casinha - disse ele.
- Você sabe o quanto gostamos de você, Carlinhos, e sua casa é pequena, mas é limpa e bem arrumada - observou Rosa Maria, com delicadeza.
Viemos aqui pela insistência de Isabel, ela quer saber mais sobre as coisas do além.
- Quero mesmo, nunca vou esquecer como você acordou aquelas duas, parecia mágica.
Naquele instante, Carlinhos sentiu o espírito amoroso de Pai João se aproximar.
Se ele estava ali, era porque tinha algo importante a dizer às duas.
- Não é mágica, já expliquei a vocês como aconteceu.
- Mas eu estou muito curiosa sobre outras coisas.
Você diz que conversa com os espíritos, como é isso? - perguntou Isabel.
- Os espíritos são as almas das pessoas que viveram aqui na Terra, mas que morreram e continuam vivas do outro lado, no além.
Elas podem se comunicar connosco, principalmente com quem tem o dom para ouvi-las ou vê-las.
Mas não é só quem tem o dom que consegue.
Na verdade, todas as pessoas podem escutar a voz das almas através do pensamento.
- Como assim?
Eu nunca escutei nada - tornou Isabel, ainda mais curiosa.
- A senhorita pensa que nunca escutou, mas escutou sim.
Quando as pessoas param para pensar e reflectir sobre a própria vida e passam, às vezes, horas pensando, na verdade estão conversando com os espíritos.
Já notou como, nesses momentos de meditação, surgem vários pensamentos diferentes?
São os pensamentos deles que se misturam com os nossos.
Isabel se arrepiou toda.
Aquilo fazia sentido.
Perguntou:
- Então, a morte não impede mesmo que eles falem com a gente?
- Não. Os espíritos são livres e vão aonde encontram pessoas como eles.
- Como eles?
Como assim?
- As pessoas que gostam de falar mal da vida dos outros, por exemplo, atraem para perto de si espíritos levianos, maus, zombeteiros, que as ajudam nesse processo.
Quem gosta de beber em excesso um dia vai atrair um espírito que foi viciado no álcool que o fará beber cada vez mais, até se tornar viciado igual a ele.
Quem vive triste, com pensamentos negativos, maldizendo a vida, se queixando a toda a hora, tem a companhia de espíritos sofredores e com isso aumentam seu mal-estar e desequilíbrio.
Por outro lado, aqueles que lutam para ficar no bem, pensar coisas boas, praticar actos de bondade, atraem espíritos iluminados que os fazem ficar mais felizes ainda.
A pessoa que gosta de aconselhar os outros no bem, que vê tudo com alegria, que compreende e ama seu semelhante, vive rodeada e protegida por espíritos amigos e bons que abençoarão sua vida, tornando-a cada vez melhor e mais gratificante.
Tudo na vida depende das escolhas que nós fazemos.
Isabel adorou ouvir aquilo.
Claro que era verdade, só podia ser!
Rosa Maria perguntou:
- Podemos conversar com nosso pai?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:09 pm

Seria bom o chamarmos até aqui?
Carlinhos explicou:
- Não é bom evocar as almas daqueles que já se foram.
- Mas por que não?
Se eles são espíritos, claro que podem vir até aqui e falar com a gente.
- Quando as pessoas morrem, passam a viver em outro mundo, deixando os afectos, os bens materiais e praticamente tudo que amaram aqui na Terra.
Por isso, para muitos, o processo de desapego é muito doloroso e difícil.
Por não terem conhecimento do que acontece após a morte, a maioria dos espíritos que morreram não aceitam a nova vida no outro mundo e, presos a tudo que deixaram aqui, acabam voltando, geralmente vivendo no mesmo lar que viviam antes ou, então, ficam vagando na escuridão.
Ninguém sabe ao certo como está uma pessoa que morreu, do outro lado da vida, por isso, nunca é bom evocar os espíritos, principalmente aqueles que partiram há pouco tempo.
Rosa Maria entendeu, mas tinha outras dúvidas:
- Mas você não pode perguntar a Pai João como e onde está o nosso pai?
- Não costumo fazer muitas perguntas a Pai João, geralmente, quando ele vem, diz tudo que preciso saber, mas se a senhorita quiser, podemos perguntar, Pai João está aqui.
Rosa Maria arrepiou-se, nunca tinha estado numa situação daquelas.
Já Isabel, coração aos saltos e sem medo algum, estava ansiosa por saber como estava seu querido pai.
Carlinhos fechou os olhos, pediu que todos dessem as mãos e fez uma oração breve, depois soltaram as mãos e ele começou a respirar de maneira mais acelerada, em poucos segundos a voz de Pai João se fez ouvir:
- Minhas filhas, que Deus as abençoe, sei que o desejo de saberem sobre seu pai é sincero e não fruto de uma curiosidade passageira.
Por isso, os irmãos mais elevados permitiram que eu desse algumas informações.
O senhor Raimundo está muito bem, vivendo connosco numa colónia espiritual; sempre que ele pode, aproxima-se da família, ajudando-a.
Ele está bastante preocupado com alguns fatos que vão acontecer em breve e que abalarão a todos, mas pede que tenham muita fé em Jesus, pois é através desses factos que todos aprenderão os verdadeiros valores da alma.
Pede também que jamais se esqueçam de que nunca estão sozinhas.
A bondade de Deus é infinita e não há nesse universo sem fim um só filho dele que não esteja amparado.
Emocionadas, Rosa Maria e Isabel se abraçaram chorando.
Naquele momento, não tinham mais dúvidas de que a vida continuava depois da morte, e que um dia todos iriam se reencontrar.
Pai João se despediu abençoando a todos e deixando delicado cheiro de alfazema no ar.
Carlinhos voltou ao normal, abraçou as duas e pediu:
- Peço que as meninas não contem nada a ninguém do que aconteceu aqui, principalmente à senhora Margarida que é muito católica e não aprova este meu lado espiritual.
Isabel disse, ainda emocionada:
- O que aconteceu aqui foi tão maravilhoso que gostaria de sair correndo e contar para todo mundo.
- Mas Carlinhos tem razão, nem todos estão preparados para conhecer a espiritualidade, podem ignorar e ele sair prejudicado -ponderou Rosa Maria.
As irmãs despediram-se e saíram do pequeno casebre com muita paz e esperança no coração.
O jantar transcorreu tranquilo.
Todos estavam alegres e as piadas de tia Elisa contribuíam ainda mais para tornar o ambiente agradável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:09 pm

Já era tarde quando Isabel retirou-se para seu quarto e entre os lençóis de seda adormeceu.
Sonhou que estava dentro de uma mata fechada e em desespero procurava a saída sem encontrar.
Girava, em círculos, mas acabava voltando ao mesmo descampado onde estava inicialmente.
Completamente aturdida, começou a gritar até que uma mulher negra, vestida de peles de animais, apareceu com dois homens igualmente vestidos, segurando alguns objectos que ela desconhecia.
O pavor tomou conta de Isabel por inteiro, pois sentia que aquelas pessoas estavam ali para lhe fazer mal.
A negra, com olhos vermelhos faiscantes, aproximou-se dela, colocou a mão direita sobre sua testa e ela desmaiou, mas o desmaio era estranho, ela estava desacordada, mas via e ouvia tudo que se passava ao redor.
Viu quando, sob as ordens da negra, os dois homens fizeram um círculo de pólvora e velas ao seu redor, e em seguida sangraram pelo pescoço, um bode preto.
Isabel tentava gritar, mas a voz não saía.
Sentia angústia e pavor indescritíveis.
Por último, ouviu a negra gargalhar diabolicamente e finalmente acordou tremendo e molhada de suor.
Nunca em toda sua vida tivera um sonho igual àquele.
Vestiu-se e foi bater na porta do quarto da irmã.
Rosa Maria atendeu assustada:
- O que aconteceu, algum problema com a mamãe?
Assustada e ainda sem conseguir falar, Isabel adentrou o quarto da irmã feito um furacão e encolheu-se toda na cama.
- Se você não me disser agora o que foi que houve, acordarei toda a casa.
- Tive o pior pesadelo de minha vida e estou sentindo muito medo.
Isabel contou à irmã tudo que tinha sonhado e finalizou:
- Nunca mais dormirei sozinha, e nem naquele quarto.
Sinto que tem alguém querendo me fazer muito mal.
Vendo que a irmã estava mesmo descontrolada, Rosa Maria saiu do quarto e foi procurar tia Elisa.
Após explicar o que tinha acontecido, ambas retornaram para o quarto, desta vez já encontraram Isabel desmaiada e terrivelmente pálida.
Tia Elisa assustou-se:
- Isabel desmaiou, vamos tentar acordá-la.
As duas abriram a janela para que entrasse ar fresco e começaram a massagear os seus pulsos, contudo, os minutos passavam e Isabel não reagia.
Assustada, tia Elisa disse:
- Está quase sem pulsação, temos de chamar um médico urgente.
- Vou chamar Carlinhos e pedir que ele atrele os cavalos à carruagem e busque imediatamente o doutor Eduardo.
Com a agitação que se deu no grande corredor, a senhora Margarida acordou e, igualmente assustada, começou a chorar dizendo:
- Meu Deus!
Será que minha filha vai morrer?
Estava tão bem na hora do jantar!
Tia Elisa tentava acalmá-la:
- Foi um desmaio nervoso, Isabel teve um pesadelo e, assustada, desmaiou.
- Onde já se viu desmaiar por causa de um pesadelo? - retrucou Margarida, nervosa.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 3 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 29, 2018 9:09 pm

Naquele momento Carlinhos, acompanhado pelo espírito de Pai João, entrou no quarto dizendo:
- Me desculpem, senhoras, mas o caso da senhorita Isabel não é para médico.
O que ela tem é espiritual.
Fui avisado por um espírito de luz que a menina Isabel está sendo vítima de pessoas que querem lhe fazer o mal.
Margarida descontrolou-se:
- Já disse para você não aparecer aqui novamente com essas histórias de espíritos.
Não acredito e vá logo chamar o médico, se minha filha morrer, será culpa de sua demora.
Carlinhos já havia sido avisado que encontraria resistência em ajudar Isabel, pois, os espíritos que a estavam assediando envolveriam outras pessoas para impedir que alguém lhe trouxesse a cura.
Contudo, naquele momento, nada poderia fazer a não ser obedecer à patroa, assim atrelou os cavalos e partiu.
Enquanto esperavam, as mulheres começaram a rezar, mesmo assim Isabel não reagia, e sua respiração continuava cada vez mais fraca.
Quase uma hora depois, doutor Eduardo chegou acompanhado de Carlinhos.
Levado ao quarto, examinou demoradamente a paciente e, olhando para eles, tornou:
- Suspeito que Isabel teve uma violenta queda de pressão, contudo, seu estado é estranho e inspira cuidados.
Traga-me um pouco de sal.
Apesar de achar estranho aquele pedido, Margarida foi até a cozinha e voltou trazendo um punhado de sal numa colher.
O médico retirou um pouco da substância e colocou
debaixo da língua de Isabel.
Demorou alguns minutos em que todos ficaram em silêncio e, finalmente, Isabel voltou a respirar normalmente, em seguida abriu os olhos.
O alívio foi geral em todos.
Doutor Eduardo olhando-a, perguntou:
- Como se sente, Isabel?
- Estou sonolenta e muito cansada, o que foi que tive?
- Sua irmã contou que você acordou de madrugada muito nervosa alegando ter tido um pesadelo e em seguida desmaiou.
Você teve uma queda de pressão, mas agora está melhor.
Aterrorizada, Isabel lembrou-se do pesadelo e começou a chorar novamente dizendo:
- Por favor, não me deixem sozinha, sinto que uma coisa muito ruim vai me acontecer.
Aquelas pessoas do sonho existem, são reais.
Era notório o desespero de Isabel.
Doutor Eduardo aconselhou:
- A senhorita precisa se acalmar para que não tenha uma crise nervosa.
- Mas eu já estou nervosa e com muito medo.
Tenho certeza de que se dormir de novo, encontrarei com aquelas pessoas horríveis.
- Então, vou lhe receitar um calmante, mas tente não se impressionar com sonhos, eles não são reais.
O médico se despediu e, enquanto Carlinhos foi levá-lo de volta a Lisboa, Isabel permaneceu nervosa e aflita e, foi a custo que Rosa Maria e tia Elisa a convenceram a tomar o remédio em líquido, o que, por fim, a fez adormecer.
Contudo, ninguém na casa conseguiu ter um sono tranquilo, afinal jamais tinham visto Isabel tão descontrolada.
O que só Carlinhos sabia era que o estado de Isabel se dava por causa da magia negra que mãe Gorete havia feito naquela noite para ela, a mando de Madame Celina.
Carlinhos sentia que precisava ter muita força para vencer a resistência da senhora Margarida e, com ajuda de Pai João, libertar Isabel daquele sofrimento.
Naquela hora, em sua humilde casa, Carlinhos começou a orar.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 3 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:50 pm

CAPÍTULO 17
A partir daquela noite, Isabel foi piorando lentamente.
Nem as visitas de Lúcio ajudavam-na a recobrar o ânimo e a vontade de viver.
A doença de Isabel era estranha, e doutor Eduardo, sem saber o que dizer, atribuía a uma crise nervosa.
Contudo, nenhum remédio que ele lhe passava resolvia a situação, ao contrário, quando tomava aqueles medicamentos, Isabel piorava, ficava horas dormindo e quando acordava se mostrava alheia a tudo e a todos.
Depois de cinco dias naquele estado, passou a não querer mais se alimentar e definhava a olhos vistos.
Rosa Maria tentava animá-la:
- Você não pode ficar assim, Isabel.
Se não fizer um esforço em comer, acabará morrendo.
É isso o que quer?
Em certo momento, Isabel, aproveitando que não tinha ninguém no quarto, puxou a irmã para mais perto de si e disse nervosa:
- Tenho certeza de que há espíritos maus aqui querendo que eu morra.
Por favor, Rosa Maria, me ajude.
- Você está impressionada com aquele pesadelo e entrou em uma crise nervosa.
Não há ninguém aqui que queira lhe fazer mal.
Isabel, parecendo nem ouvir o que a irmã dizia, continuou:
- Vejo vultos pelo quarto e quando consigo dormir, sonho novamente com aquela mulher negra rindo e rodopiando ao meu redor junto com outras pessoas que não conheço.
Ela ri alto e diz que vai me matar.
Isabel tinha razão, naquele quarto e ao seu redor, havia vários espíritos trabalhando para sugar-lhe o fluido vital, para que com isso ela viesse a desencarnar.
Eram trabalhadores de Gorete que fariam de tudo para que Isabel morresse.
Ao ouvir as últimas palavras da irmã, Rosa Maria arrepiou-se.
E se aquilo fosse verdade?
Carlinhos afirmava que as almas dos mortos podiam interferir na vida dos vivos, e tentou várias vezes ajudar, mas dona Margarida não permitia.
E se realmente Isabel estivesse sendo vítima de espíritos maus?
Nesse caso os remédios não resolveriam, só mesmo a ajuda de Carlinhos.
Naquele momento, lembrou-se da advertência feita por seu pai em relação aos problemas que a família passaria, e ela tinha certeza de que aquele era um deles.
Movida por forte intuição, pegou as mãos frias de Isabel e prometeu:
- Eu acredito em você, minha irmã.
E prometo que vou trazer Carlinhos aqui para salvá-la.
Isabel chorava comovida:
- Por favor, Rosa Maria, faça isso, nem o Lúcio acredita em mim.
Sinto que, se continuar assim, vou mesmo morrer.
- Prometo a você que a ajuda não passará de hoje.
Rosa Maria pediu que uma criada ficasse no quarto e saiu pretextando um passeio.
O dia já se findava e naquela hora certamente Carlinhos já estaria em casa.
Ela foi em direcção à sua pequena choupana, chamou e ele prontamente atendeu.
- Entre, senhorita, fui avisado de que viria aqui hoje.
Sua irmã está mal e se não for ajudada hoje, terá poucos dias de vida.
- Por favor, Carlinhos - pediu Rosa Maria, em lágrimas.
Não sei o que faria sem minha irmã, ajude-a.
- Acalme-se. Na hora da dor e do sofrimento, só consegue ajudar aquele que está em equilíbrio.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:50 pm

Vamos confiar em Deus, sabendo que Ele é amor e bondade e está no comando de tudo que acontece no universo.
Jesus disse que não cai uma só folha da árvore sem que Deus permita, por isso, a melhor coisa que podemos fazer é acalmar o nosso coração e pedir a Deus que tudo aconteça pelo melhor.
Isabel é uma moça boa, tenho certeza de que será ajudada pelos bons espíritos.
Rosa Maria sentiu uma brisa reconfortante lhe envolver e, naquele momento, toda sua angústia passou.
Carlinhos tinha razão, Deus estava no comando de tudo, e era preciso confiar.
Contudo, sua irmã era boa, por que estaria passando por tudo aquilo?
Perguntou:
- Porque Isabel tem de passar por este sofrimento?
Por mais que você diga que Deus é bom e amoroso, não consigo entender por que espíritos maus atacam pessoas indefesas, muitas vezes levando-as à morte.
Carlinhos, envolvido pelo espírito de Pai João, começou a explicar, com voz levemente modificada:
- Para que uma pessoa seja atingida por espíritos maus, ela precisa estar na mesma sintonia.
Aparentemente, a pessoa não tem culpa, mas algo em sua personalidade, em sua forma de ser e de pensar, abriu a porta para a invasão dos espíritos maus.
Apesar de parecer, ninguém é vítima de nada ou de ninguém, cada um atrai e vivência todas as situações da vida para aprender os valores eternos do espírito.
- Mas eu tenho certeza de que Isabel não é má, nem pensa e nem deseja o mal a ninguém - retrucou Rosa Maria, indignada.
- Isabel realmente não é uma pessoa ruim, mas não é só a maldade que atrai os espíritos maus.
Quando a pessoa está alheia à vida espiritual, só pensando em si mesma e ignorando as leis que regem o universo, está também em uma vibração negativa que atrai não só espíritos maus, mas pessoas encarnadas que podem prejudicá-la, fazendo-a sofrer.
Nestes casos é Deus agindo para provocar uma mudança na vida da pessoa, fazendo com que desperte para a realidade e mude para melhor.
A bíblia diz que até as boas árvores seriam podadas, para que pudessem crescer mais e dar melhores frutos.
A dor não é boa, o sofrimento incomoda, mas muitas vezes eles são os únicos remédios para a cura da alma.
Rosa Maria estava tocada com aquelas palavras.
Nunca havia parado para pensar no sofrimento daquela maneira.
Vendo que Carlinhos havia voltado ao normal e parado de falar, ela lhe propôs um plano:
- Mamãe não vai permitir que você entre na casa para ajudar Isabel, por isso vou pedir ajuda à tia Elisa e, quando todos estiverem dormindo, pedirei que ela venha aqui chamá-lo.
Você entrará pela porta da antiga despensa que é a mais próxima do quarto de Isabel.
Vamos correr esse risco, mas vamos ajudar minha irmã.
Carlinhos concordou, e Rosa Maria voltou para casa.
Lá chegando procurou tia Elisa, explicou tudo, e ela concordou em ajudar.
Naquela, como em todas as outras noites, depois que Isabel tinha adoecido, o jantar decorreu triste, mesmo com a presença de Lúcio à mesa.
O rapaz não se conformava em ver a noiva naquele estado e, naquela noite em especial, por vê-la tão fraca, decidiu que dormiria lá.
Por mais que Rosa Maria dissesse que não precisava, ele insistiu e acabou ficando.
Ela não sabia, mas os espíritos inferiores, servos de mãe Gorete, sentindo-se ameaçados, influenciaram o rapaz para que ficasse na casa, a fim de atrapalhar os trabalhos do bem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:50 pm

Eles planeavam mexer em seu cérebro provocando-lhe terrível insónia, assim ele impediria Carlinhos de adentrar a casa.
Todos foram se recolher mais cedo, e só tia Elisa permanecia no quarto de Isabel que, estranhamente e sem tomar remédio algum, caíra em sono profundo.
Em seus respectivos quartos, Rosa Maria continuava acordada com o terço na mão, e Lúcio rolava na cama insone.
O velho carrilhão deu as dez badaladas, e Rosa Maria pensou que já era hora de agir.
Abriu a porta e, quando ia girar a maçaneta do quarto da irmã, ouviu a voz de Lúcio chamando-a:
- Que faz aí?
Isabel piorou?
Pega de surpresa, pois não esperava encontrar Lúcio ali, ela disse:
- Não, é que não consegui dormir e resolvi me levantar para ver se Isabel está bem.
Ficamos nos revezando, um dia eu durmo com ela, no outro dia tia Elisa é quem dorme, e como ela costuma cochilar diversas vezes durante a noite, às vezes, levanto para ver se está tudo bem.
Lúcio retorquiu:
- Eu também não consegui dormir, rolei na cama até agora, daí resolvi ver como está Isabel, seu estado de saúde muito me preocupa.
Rosa Maria começou a pensar numa maneira de tirar Lúcio dali.
Se ele ficasse, com certeza iria atrapalhar a ajuda de Carlinhos.
Foram para o quarto e uma vez lá dentro, notaram que tia Elisa estava mesmo a dormir muito à vontade na espaçosa cadeira de balanço.
A velha senhora, contudo, acordou rapidamente assim que percebeu a presença dos dois no quarto.
Tentou desculpar-se:
- Acabei dormindo, meu sono é muito fácil, mas posso garantir que nada aconteceu com ela.
Lúcio resolveu:
- Já que a senhora costuma dormir, eu é que vou ficar no quarto esta noite.
Isabel parece ter piorado, não é bom vacilar.
Vendo que não havia outra maneira de tirar Lúcio dali, Rosa Maria resolveu arriscar, contando-lhe a verdade:
- Lúcio, espero que compreenda, mas esta noite traremos Carlinhos aqui para ajudar Isabel.
Sei que você e mamãe não acreditam, mas o problema dela é todo espiritual.
Há espíritos aqui querendo que ela não melhore, e posso afirmar com certeza que se Isabel não tiver um socorro espiritual, vai acabar morrendo.
Eu não quero que minha irmã morra e você, que diz amá-la tanto, com certeza deve querê-la viva para que realizem o amor que os une.
Se você tentar impedir ou falar com mamãe, não garanto pela vida de Isabel.
Lúcio, olhando Rosa Maria fixamente, percebeu que ela falava a verdade.
Era uma moça bastante séria para brincar com uma coisa daquelas.
Ele não acreditava em vida após a morte, espíritos etc., mas já que Rosa Maria falava com tanta firmeza, resolveu não ir contra:
- Não vou atrapalhar, mas quero estar presente em tudo.
Daqui não saio.
- Então, está na hora de tia Elisa ir lá chamar Carlinhos e voltar deixando a porta da despensa aberta.
Tia Elisa levantou-se, já completamente acordada, saiu em busca do ex-escravo, enquanto os dois se colocavam a esperar.
Alguns minutos depois, tia Elisa regressou sozinha dizendo:
- Carlinhos disse que vai demorar ainda alguns minutos, pois está à espera de outra pessoa que virá com ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:51 pm

Pediu que entrássemos em oração desde já.
Rosa Maria irritou-se:
- Ele não falou que viria com outra pessoa, vai ter gente demais no quarto, pode atrapalhar.
Tia Elisa aconselhou:
- É melhor aceitar o trabalho como ele quiser que seja feito.
Muitas pessoas conhecem as forças da natureza que nós desconhecemos, por isso, sabem o que estão fazendo.
Vamos nos reunir, dar as mãos e começar a orar.
Os espíritos que estavam obsidiando Isabel, pressentindo o perigo, correram até a casa de mãe Gorete, mas nada puderam lhe falar, já que ela, naquele momento, estava tendo intimidades com o amante.
Voltaram para o quarto de Isabel e começaram a fazer com que ela se agitasse e acordasse.
Logo que perceberam a inquietação de Isabel, Rosa Maria ameaçou interromper a oração, mas a um sinal de tia Elisa, continuou em prece.
Formou-se então naquele ambiente, sem que ninguém pudesse ver, uma pequena batalha entre o bem e o mal.
As orações feitas de coração pelos presentes atraíram espíritos iluminados, acompanhados por outros chamados lanceiros, que carregavam consigo lanças e espadas afiadas.
Pouco tempo depois, Carlinhos chegou acompanhado de uma negra com a aparência jovem.
Ele explicou:
- Essa é Etelvina, escrava aqui da quinta e que também conhece o mundo dos mortos.
Trouxe-a para que nos ajude.
É ela que sempre me ampara quando vou socorrer alguém influenciado por espíritos maus como é o caso da menina Isabel.
Etelvina tem o poder de amarrar em seu corpo essas entidades que estão prejudicando a pessoa e fazê-las ir embora - fez pequena pausa e concluiu.
Vamos todos fechar os olhos e chamar o Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mesmo com medo, todos começaram a orar chamando pelo Cristo.
Cascatas de luz branco-prateadas jorravam por todo o ambiente e, sem conseguirem mais ficar ali, os espíritos das trevas entraram chão adentro gritando.
Isabel voltou a se acalmar e novamente dormiu.
Carlinhos pediu mais concentração de todos e um grande silêncio se fez.
De repente, Etelvina começou a tremer, suar frio e abriu os olhos desmesuradamente.
O medo invadiu a todos, mas Carlinhos, com segurança, aproximou-se de Etelvina, que rangia como se fosse um cão selvagem e perguntou:
- Porque está querendo fazer o mal à Isabel?
Ela é uma moça boa e não merece.
Não tem medo da justiça divina?
A entidade que estava incorporada em Etelvina parou de ranger os dentes e parecia confusa.
- Onde estou?
Como vim parar aqui?
Como ousaram tirar-me da minha casa?
Carlinhos sabia que quem estava ali era o espírito de mãe Gorete que fora tirado do corpo temporariamente para que fosse esclarecida e desistisse de fazer o mal, por isso disse:
-Você não tem permissão de fazer o mal a essa moça, por isso Deus interferiu e trouxe-a para que possamos conversar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:51 pm

Os espíritos da luz estão dizendo que, se você não tirar todas as energias negativas que colocou em Isabel e libertá-la desse sofrimento, não voltará mais ao corpo, que ficará inerte e vegetando enquanto seu espírito irá para este lugar, olhe.
Carlinhos aproximou-se da médium, abriu a mão direita sob seus olhos e ela a fixou por alguns segundos.
Mãe Gorete viu que o lugar era o abismo, uma região umbralina localizada no centro da Terra onde, os que para lá vão, passam por sofrimentos indescritíveis.
Percebendo que Carlinhos estava do lado da luz e dizia a verdade, ela começou a gritar:
- Não! Para esse lugar não, pelo amor de Deus, eu imploro.
- Então, você vai nos dizer por que está querendo que Isabel morra e em seguida tirará tudo que colocou nela.
Ou isso ou irá para o lugar que você viu.
Etelvina suspirou profundamente e começou a falar:
- Fui procurada por uma pessoa que ama o sinhozinho Lúcio e não quer que ele case com Isabel de forma alguma.
Essa pessoa é tão apaixonada que não pensou duas vezes e, sabendo dos meus poderes de feiticeira, pediu-me que eu a matasse pagando enorme quantia por isso.
Como vêem, estou aqui fazendo apenas o meu trabalho.
Lúcio, que até aquele momento mantinha-se calado e apreensivo, perguntou com raiva:
- E quem foi esta pessoa que ousou encomendar a morte de minha amada a uma feiticeira?
Mãe Gorete falou sem cerimónias:
- Foi Madame Celina, sua amante.
Ela é perigosa e não vai desistir fácil, peço que o sinhozinho tome cuidado.
Ao ouvir o nome de Celina, Lúcio tremeu de ódio.
Ela se veria com ele.
Captando os pensamentos de Lúcio, mãe Gorete alertou-o:
- Não pense em fazer nada com ela, você não sabe do que aquela mulher é capaz, o melhor a fazer é fingir que não sabe de nada, pois se ela voltar a ira contra você, não sei se terá a mesma protecção de Isabel, por isso pense bem.
Carlinhos foi enérgico:
- Chega de conversa, vá até Isabel e desfaça o trabalho.
Etelvina levantou-se e, a passos curtos, aproximou-se do leito de Isabel.
Começou a gesticular estranhamente sobre ela, em seguida falou palavras estranhas e vários estouros foram ouvidos no ambiente.
Um terrível cheiro de carne em decomposição fez com que todos sentissem repulsa.
Etelvina voltou para seu lugar e perguntou:
- E agora, poderei voltar ao meu corpo?
- Não sem antes me ouvir - falou Carlinhos, imperativo.
Você, Gorete, nasceu com um dom precioso, aprendeu a manipular as energias e as forças da natureza, coisa que poucas pessoas sabem.
Porque, em vez de usar esses poderes para o bem, os usa para o mal?
Há muitas pessoas sofrendo na Terra, você poderia utilizar tudo que sabe para amenizar e curar as dores humanas.
Aviso-a de que, se continuar assim, dedicada ao mal, chegará a hora de prestar contas às leis divinas e nessa hora sofrerá muito.
Ela gargalhou alto e disse em tom zombeteiro:
- Faço o que quero e não é você que vai mandar na minha vida.
Já fiz o que vocês queriam aqui, Isabel está curada, querem me soltar desse corpo e me deixar livre?
Carlinhos, vendo que ela não iria mudar a conduta, colocou as duas mãos sobre a cabeça de Etelvina, fez bela prece aos Espíritos Superiores e logo a moça estava normal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:51 pm

Diante dos olhos estupefactos de todos, Carlinhos disse:
- Graças a Deus e a Jesus, Isabel está liberta, vamos render graças a Eles.
Mais uma vez eles deram as mãos e em prece agradeceram a Deus por tudo que havia acontecido.
Só não contavam que a senhora Margarida havia acordado e presenciado tudo pela porta entreaberta.
Quando viu que tinham terminado, entrou no quarto justamente na hora que Isabel havia acabado de acordar.
Perguntou:
- Posso saber o que aconteceu aqui?
Surpresos, eles não tiveram alternativa a não ser convidar a senhora a se sentar e explicar tudo.
Não foi difícil convencer a senhora Margarida sobre a realidade do que tinha acontecido.
Ela, apesar de católica, sabia que as almas dos mortos visitavam os vivos e, depois de tudo que tinha visto, não tinha mais como duvidar.
Envergonhada, olhou para Carlinhos e pediu:
- Desculpe-me pela ignorância, se não fosse por você, tenho certeza de que minha filha não ficaria viva.
- Não precisa pedir desculpas, senhora, sei que nem todos entendem a espiritualidade, é natural.
Isabel, já sentada na cama e ingerindo uma leve sopa, ainda estava atordoada, porém, havia entendido que tinha sido vítima de um trabalho de magia negra encomendado pela amante de Lúcio.
Por isso, assim que terminou a refeição, pediu delicadamente que todos saíssem deixando-a a sós com o noivo.
Olhou para ele com certa mágoa.
- Pensei que fosse a única em sua vida, mas pelo visto tenho uma rival que quase me matou, como posso confiar em você?
Lúcio amava Isabel mais que tudo e jamais poderia perdê-la, por isso disse:
- Mas você é a única, Isabel.
Desde que a conheci, só penso em você e só tenho olhos para você.
Madame Celina é a dona da Casa da Perdição, o bordel mais famoso de Lisboa, não posso lhe negar que tive um romance com ela, mas tudo acabou assim que te conheci, é por isso que ela entrou em desespero e encomendou essa magia.
Por favor, amor, acredite em mim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:51 pm

CAPÍTULO 18
Lúcio falava próximo a Isabel e seu hálito, seu cheiro másculo, suas mãos fortes a envolveram tanto que ela não pensou em mais nada, entregando-se a ele ali mesmo.
Passaram o resto da noite se amando e, só quando o dia começou a clarear, foi que Lúcio retornou ao seu quarto.
A mesa do café da manhã estava alegre como há tempos não acontecia.
A impressionante melhora de Isabel surpreendia a todos, mesmo sabendo que tinha sido salva por forças espirituais.
Lúcio, extremamente feliz, marcou o noivado para dali a duas semanas e foi com alegria que deixou todos na fazenda tecendo planos para o futuro, enquanto retornava para Lisboa.
Naquela mesma manhã, madame Celina estava furiosa na grande sala de espera da casa de mãe Gorete.
Fazia mais de uma semana que havia encomendado a morte de Isabel, mas nada havia acontecido, e Lúcio sumira de vez.
Ela teria de dar um jeito naquela situação, afinal havia pago uma fortuna à feiticeira para que tudo saísse como desejava.
A escrava Severina entrou no ambiente, olhou-a fixamente e disse:
- Mãe Gorete já está vindo, peço perdão pela demora, mas como lhe disse, ontem ela desmaiou de repente, demorando muito a acordar, mas já se refez e em breve virá vê-la.
A ansiedade aumentou no peito de Celina, mas finalmente, depois de poucos minutos, a feiticeira estava à sua frente.
Mãe Gorete foi directa:
- Vou conversar com você aqui mesmo na sala.
Serei franca e espero que entenda, senão será pior para você.
Celina sentiu medo, os olhos de Gorete brilhavam intimidadores e estranhos e um frio na espinha fez com que percebesse que algo muito sério havia acontecido.
- Quero saber por que até hoje nada aconteceu a Isabel.
- Eu havia lhe avisado que Isabel tinha protecção, mas nunca imaginava que a protecção dela fosse tão forte.
Fiz tudo que estava ao meu alcance, mas não pude atingi-la.
Madame Celina sentiu ódio surdo brotar em seu ser, descontrolada bradou:
- Não sabia que você era tão fraca. Se não aconteceu nada a Isabel, quero meu dinheiro de volta, agora!
Mãe Gorete, olhos faiscantes de domínio e raiva pela petulância daquela mulher, disse:
- Você não sabe com quem está falando, enquanto Isabel teve protecção, tenho ‘certeza de que você não tem.
Se não for embora agora de minha casa, pedindo desculpas por ter me chamado de fraca, garanto que sua vida não valerá um centavo, aliás, não garanto que chegue viva em seu bordel ao sair daqui.
Celina, arrependida do que tinha dito, relembrando a fama perigosa da feiticeira, tremeu muito e pediu:
- Desculpe-me, Mãe Gorete, fiquei fora de mim ao saber que o trabalho deu errado.
Peço que me perdoe, mas me devolva o dinheiro, foi difícil consegui-lo e agora não poderei ficar sem ele.
Mãe Gorete riu alto dizendo:
- Dinheiro que chega às minhas mãos não volta, e se você insistir, não respondo por mim.
Agora, ponha-se daqui para fora.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:51 pm

Humilhada e com medo, madame Celina saiu praticamente correndo e já na calçada deu ordens ao cocheiro para que saísse dali depressa.
Duas semanas após, a quinta de Santo António estava em festa.
Lúcio finalmente pedira a mão de Isabel em noivado e casamento, o que foi aceito prontamente pela senhora Margarida, que naquele pequeno espaço de tempo, acabou por aprender a gostar do futuro genro sem reservas.
A fama de boémio e viciado em álcool foi esquecida por sua postura séria e respeitadora com que passou a tratar todos da família.
Havia outro motivo de felicidade naquele momento.
Augusto, sabendo que Lúcio pediria Isabel em noivado naquela sexta-feira, comprou um lindo anel de brilhantes da mão do melhor ourives de Lisboa e, aproveitando o momento, também pediu a mão de Rosa Maria que não podia se conter de tanta felicidade.
Eram almas afins que, apesar dos erros cometidos na presente encarnação, estavam tentando ficar juntas e encontrar a verdadeira felicidade.
Após o alegre almoço, enquanto todos estavam na varanda saboreando licores, Rosa Maria convidou Augusto para darem um passeio pelo pomar.
Apesar do sol alto, as frondosas árvores carregadas de frutas espalhavam gostosas sombras ao redor, convidando quem ali passasse para uma parada a fim de bem mais observar a beleza do lugar.
Pararam debaixo de um pessegueiro e sentaram na pequena relva que acabara de nascer.
Estavam felizes e Rosa Maria não continha a emoção:
- Sinto que minha vida não tem valor algum sem você.
Eu te amo, Augusto.
Ele, emocionado, tornou:
- Eu também te amo, Rosa Maria, nunca pensei que depois de tudo que passei, pudesse amar novamente e com tanta intensidade.
Também posso dizer que, desde o dia que te conheci, naquela festa, minha vida não tem mais valor sem você.
A brisa fresca que passava ao redor, o canto dos pássaros e a gostosa sombra contribuíram para que ambos entrassem em um clima mais íntimo e, então, começaram a se amar ali mesmo.
Quase uma hora depois, inebriados de prazer, vestiram-se e foram ter com os outros na grande sala de estar, onde Isabel distraía a todos tocando músicas da época num enorme piano de cauda.
Apenas tia Elisa notou a demora excessiva de Augusto e Rosa Maria.
A velha senhora, muito experiente nos assuntos de sexo, logo notou que algo mais íntimo havia acontecido entre os dois.
Sorriu feliz.
Ela era a favor do sexo livre e achava errado as moças terem de se casar virgens, sem conhecer o marido antes na intimidade, por isso, ensinou sua filha a se entregar desde cedo, o que para ela tinha dado certo, pois estava muito feliz no casamento.
Naquele momento, enquanto todos ouviam as músicas concentrados, tia Elisa questionava como alguém poderia ficar tão feliz em se casar.
Pensava que deveria ser um verdadeiro terror uma mulher ter de aturar o mesmo homem anos a fio e vice-versa.
Por isso, seus namoros não duravam mais que três semanas e quando se casou, traía constantemente o marido.
Olhou fixamente para os rostos de Isabel e Rosa Maria e certa tristeza a invadiu, pensou que as duas teriam o triste destino da maioria das mulheres:
viver para a casa, para o marido e para os filhos.
Resolveu beber mais licor para esquecer aqueles pensamentos.
Tia Elisa era tal qual muitas pessoas ainda são:
dominada pelas ilusões da matéria, dos prazeres e do sexo.
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Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro - Página 3 Empty Re: Alma Gémea - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:52 pm

Não sabia das alegrias sublimes de um casamento feito por amor, ignorava a imensa, mais bela e mais importante missão da mulher sobre a Terra: ser mãe.
O casamento, a comunhão sexual com base no respeito e no amor, a fidelidade mútua, a tolerância recíproca, trazem para a sociedade a evolução através da mais sublime instituição: a família.
Dessa forma, se todos pensassem do mesmo jeito que tia Elisa, logo nossa sociedade voltaria ao primitivismo e possivelmente nos igualaríamos aos animais, aliás, entre estes há muitas vezes uma afeição tão sincera e profunda a qual falta a muitos homens.
Felizmente Deus é amor, e na hora certa tia Elisa iria aprender o valor de tais coisas.
Estava anoitecendo quando Lúcio e Augusto saíram da quinta.
Após o jantar, Rosa Maria e Isabel trocavam confidências no quarto:
- Tudo o que nós queríamos e sonhávamos está acontecendo - dizia Rosa Maria, com olhos brilhantes.
- Lembra que sempre dizíamos que nossos destinos seriam diferentes:
que casaríamos com homens lindos e milionários?
- Sim! Acho que foi nosso pensamento que atraiu o Lúcio e o Augusto.
Se ficássemos cultivando aqueles pensamentos de pobreza e vida na roça, acho que nunca os teríamos conhecido.
Os olhos de Rosa Maria brilharam estranhos quando disse:
- Pois eu não acho que foi o pensamento, mas sim o destino.
Quando olho para Augusto, sinto que nascemos um para o outro, e quando converso com ele, tenho a certeza de que já vivemos juntos em outra época e em outro lugar.
A mesma coisa acontece quando vejo você e o Lúcio juntos!
Isabel achou estranho.
- Como assim, vivemos juntos em outro lugar?
- Sim, Isabel.
Conversei com Carlinhos sobre estas sensações e ele me disse que já vivemos muitas vidas aqui na Terra e em outros mundos.
Ele afirmou que na vida amorosa ninguém se encontra com ninguém aqui neste mundo pela primeira vez.
Os casamentos e as uniões outras são programadas pela vida para que possamos aprender uns com os outros e reparar erros de vidas passadas.
Quando o amor é verdadeiro, igual ao nosso, são reencontros de almas afins, ou seja, almas que adquiriram laços de amor eterno que as unem por muitas existências.
Só quando um dos dois comete um erro muito grave é que sua alma, por não se perdoar e cultivar a culpa, se condena a passar uma ou mais existências longe do ser amado para aprender o valor do amor verdadeiro.
Eu acredito muito nisso.
Isabel também sentia que aquilo era verdade.
Sentia que seu amor por Lúcio não começara naquela noite em que ela o ouviu cantando na festa de bodas, sentia profundamente que eram velhos conhecidos.
Olhou para a irmã e perguntou:
- Será que é mesmo verdade que a alma pode voltar várias vezes à Terra?
Com que objectivo?
- Carlinhos me disse que a alma volta sim, quantas vezes precisar, para adquirir sabedoria, resolver os problemas do passado e evoluir.
Só isso explica a desigualdade tão cruel do nosso mundo.
Porque uns nascem na riqueza enquanto outros vêm ao mundo na mais absoluta miséria?
Como explicar as doenças penosas e incuráveis, principalmente nas crianças que nada fizeram para merecer tanto sofrimento?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:52 pm

Como entender a má sorte de algumas pessoas que lutam a vida inteira com honestidade e nada conseguem, enquanto outras más e corruptas conseguem prosperar com tanta facilidade?
Só a lei dos renascimentos sucessivos pode explicar isso dentro da justiça perfeita de Deus, que faz cada um renascer de acordo com aquilo que praticou e acredita merecer.
Se todos se perdoassem pelos seus erros e entendessem que não precisariam sofrer, a dor não existiria e todos evoluiriam pela inteligência e pelo amor.
Isabel estava curiosa:
- Quer dizer que os sofredores foram maus em outras vidas?
- Maus não é bem a palavra, os que sofrem hoje sem encontrar uma causa para suas dores, com certeza agiram fora do bem maior no passado e estão vivenciando a dor no presente para aprender a agir melhor.
Todo sofrimento que aparece em nossas vidas traz uma preciosa lição que, se aprendida e assimilada, acaba com o sofrimento na mesma hora.
As leis de Deus não castigam nem punem ninguém, apenas colocam os fatos para que possamos aprender como a vida funciona e agir a favor dela.
Por isso, todo aquele que sofre, em vez de se queixar e se maldizer, deveria pedir a Deus que lhe mostrasse o que é preciso aprender para sair dessa situação.
Aprender a lição é a única forma de vencer para sempre a dor e o sofrimento.
Rosa Maria estava inspirada por um espírito iluminado, mas falava naturalmente, sem se dar conta disso.
Isabel, apesar de achar tudo aquilo muito bonito, não queria se aprofundar, sem saber o porquê, sentia medo. Por isso mudou de assunto:
- Notei que você e Augusto demoraram demais passeando pelo pomar.
Algo mais aconteceu?
Rosa Maria enrubesceu, mas não conseguia esconder nada da irmã, por isso pegou suas mãos, colocou-as sobre sua barriga e sorriu ao responder:
- Não só aconteceu como tenho a certeza de que estou grávida.
Isabel assustou-se:
- Grávida? Mas como pode saber?
- Não sei dizer, apenas sinto que carrego uma criança em meu ventre, fruto do meu amor por Augusto.
Isabel abraçou-a feliz dizendo:
- Que bom, minha irmã, tenho certeza de que será feliz.
Também vou querer ter muitos filhos com Lúcio.
As duas continuaram a conversar até altas horas, até que, vencidas pelo frio e sono, foram dormir.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:52 pm

CAPÍTULO 19
Quando Augusto voltou para casa aquela noite, encontrou a mãe inquieta e preocupada.
Assim que o viu entrar e colocar o chapéu no aparador, a senhora Cândida levantou-se, pousou o bordado sobre o sofá e foi ter com o filho colocando seu braço no dele.
- Augusto, estava ansiosa esperando você chegar.
Aconteceu algo bastante desagradável e preocupante e nem eu e nem seu pai sabemos o que fazer.
Augusto sobressaltou-se.
O que teria acontecido?
Nunca vira a mãe tão nervosa.
- O que aconteceu, onde está papai?
- Saiu sem hora para voltar, nem mandei servir o jantar, pois sei que depois de saber o que está acontecendo, assim como eu e todos da casa, você perderá a fome.
- Mas o que é que está havendo?
Estou ficando nervoso, conte-me logo.
A senhora Cândida segurou forte as mãos do filho e com olhos lacrimosos tornou:
- A Manuela voltou.
Um silêncio se fez e uma aterradora palidez tomou conta do rosto de Augusto.
Sem querer acreditar no que a mãe dizia, ele sacudiu a cabeça:
- A senhora só pode estar brincando comigo.
Isso é impossível!
- Eu também queria que isso fosse impossível, logo ela, a mulher que arrasou sua vida, levando-o quase à morte com aquela tristeza horrível, acabou de voltar e exige conversar com você.
Completamente aturdido, Augusto deixou-se conduzir pela mãe para uma das poltronas e sentou-se lívido.
Aquele pesadelo não podia ser verdade.
Olhou para a senhora Cândida e perguntou:
- Mas por que ela voltou?
Não estava vivendo feliz com aquele pintor em Paris?
- Manuela nos contou que foi traída e abandonada por Pierre.
Está arrependida, sem honra e veio dizer que nunca deixou de amá-lo.
Quer conversar com você na tentativa de reatarem o antigo compromisso.
Augusto, que achava já ter superado sua imensa paixão por Manuela, naquele momento sentiu-se perdido.
Sua figura ainda mexia muito com ele, talvez o melhor fosse não vê-la, afinal estava amando Rosa Maria, havia acabado de firmar compromisso, não poderia de forma alguma voltar atrás.
Olhou para a mãe súplice:
-A senhora precisa me ajudar, não posso ver Manuela.
Apesar de tudo que aconteceu, da traição vil, de todas as suas mentiras, não sei como vou reagir ao vê-la novamente à minha frente.
Como a senhora e papai sabem, acabei de me comprometer com Rosa Maria e não quero que nada neste mundo venha nos prejudicar.
A senhora Cândida tentou contemporizar:
- Seu pai foi levá-la a uma hospedaria, pois seus pais, como era de se prever, não a aceitaram de volta.
Você, contudo, precisa conversar com ela, dizer que está noivo de outra e pedir que suma daqui.
Augusto passou as mãos pelos cabelos num gesto nervoso.
Não havia outra saída a não ser conversar com a ex-noiva.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:52 pm

Ele teria forças para resistir à atracção que sentia?
Amara Manuela com todas as forças de seu coração, por isso, quase morreu de tristeza quando ela simplesmente fugiu com Pierre, jovem pintor francês que tinha vindo até Portugal retractar em uma de suas telas o Rio Tejo.
Esse jovem tinha fama de rico, por isso teve de reunir todas as forças de sua alma para superar a traição, pois imaginava que ela nunca mais fosse voltar, muito menos procurá-lo.
- Não fique assim tão nervoso - tornou a senhora Cândida, fazendo-lhe delicada massagem nos ombros.
Tenho certeza de que Manuela, ao vê-lo modificado e de compromisso com outra moça, desistirá de tudo e irá embora.
Naquele instante, o senhor Frederico acabava de entrar e, após colocar o chapéu no aparador, foi falar com o filho:
- Deu muito trabalho convencer Manuela a sair daqui e ficar naquela hospedaria.
Sei que é desagradável para você, filho, mas é preciso que você vá lá conversar com ela e dizer com firmeza que não a quer e que tudo passou.
- É difícil para mim, pai, preferia que o senhor mesmo fizesse isso.
Dê-lhe o tanto de dinheiro e jóias que quiser para que refaça sua vida.
O senhor Frederico, enrolando as pontas do bigode, como era costume sempre que ficava nervoso, respondeu:
- E você pensa que já não fiz isso?
Mas não é dinheiro que ela quer.
Quer que você se case com ela e a reintegre em nossa sociedade, só assim será novamente aceita pela família.
- Mulherzinha cínica e petulante - bradou a senhora Cândida, com raiva.
Quem ela pensa que é?
Pensa que pode fugir com outro homem, virar mulher desonrada e depois voltar como se nada tivesse acontecido?
- Pois, é isso mesmo que ela fez e você, Augusto, deverá decidir o quanto antes o que fazer - disse o senhor Frederico ainda enrolando os bigodes.
Mas, antes de qualquer coisa, quero dizer que eu e Cândida somos contra esse casamento.
As leis morais em nossa sociedade são rígidas, e o que seria de minha reputação tendo um filho casado com uma mulher que foi usada por outro?
Caso cometa a loucura de terminar seu noivado com Rosa Maria para voltar para Manuela, deverá sair de minha casa e viver com ela em outro lugar.
A senhora Cândida protestou:
- Não seja tão rígido, Frederico.
Também sou contra essa união, mas daí a renegar nosso filho e mandá-lo sair de casa já é demais.
Se Augusto sair, eu saio junto.
Augusto interveio:
-Vocês estão discutindo sem ao menos saber o que vou decidir.
É melhor os dois se acalmarem pelo menos até amanhã, quando darei minha resposta.
Agora, com licença, preciso do meu quarto.
Augusto entrou no quarto, tirou o paletó, os sapatos, afrouxou as calças e jogou-se na cama.
Sua mente estava conturbada e ele não sabia o que fazer nem o que pensar.
O espírito luminoso do seu avô Joaquim estava ao seu lado e, sem que ele pudesse ver ou ouvir, Joaquim aconselhou-o:
- Querido neto, não se renda às paixões e aos prazeres terrenos.
Seu destino é ao lado de Rosa Maria e não ao lado de Manuela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:52 pm

Seu compromisso com ela terminou no exacto momento em que ela o deixou.
Tudo já fazia parte da sua programação reencarnatória, Manuela iria sair para que você pudesse reencontrar Rosa Maria e com ela formar a sua verdadeira família espiritual. Rosa Maria é sua alma gémea.
A volta de Manuela representa para você uma prova que seu próprio espírito pediu, a fim de verificar se já havia aprendido a vencer as paixões.
Por isso, não falhe nessa prova, recuse Manuela e siga seu coração unindo-se a quem você ama de verdade.
Mesmo sem ouvir aquelas palavras, achando que aqueles pensamentos eram seus, Augusto passou a reflectir que por Manuela sentia apenas desejo, paixão.
Quem ele realmente amava era Rosa Maria, por isso estava decidido:
no outro dia diria um não a ela e ficaria livre.
Contudo, sem que ele também pudesse ver ou ouvir, estava ao seu lado um espírito inferior em forma de homem, inimigo seu do passado remoto, que o queria ver caído e fracassado.
A mente preocupada de Augusto abrira campo para que aquele espírito o envolvesse.
Se tivesse o hábito saudável de orar e pedir ajuda de Deus, aquele envolvimento não aconteceria.
O espírito, com aspecto deformado e uma gosma amarela caindo dos lábios, aproximou-se de Augusto sem ao menos notar a presença de Joaquim e lhe disse ao ouvido:
- O que você deve fazer é voltar para Manuela, afinal, ela sempre foi o grande amor de sua vida.
Lembra dos momentos maravilhosos de prazer que sentiam juntos?
Não vá trocá-la por uma mulher sem graça e tediosa feito Rosa Maria.
Além do mais, se ela voltou e o está procurando, é porque você é muito melhor que o outro homem.
Dê uma chance a ela novamente, perdoe!
Mostre a ela que você é homem suficiente para fazê-la muito mais feliz do que Pierre.
Captando perfeitamente os pensamentos daquele macabro ser, Augusto sentiu o coração acelerar e começou a pensar que, se Manuela havia voltado, era porque ainda o amava e o achava melhor que Pierre.
Naquele momento, Augusto deixou-se levar pelo orgulho, o ponto mais fraco que os homens possuem e, sem perceber, cedeu às sugestões do mal.
Começou a ver Rosa Maria como uma pessoa apagada, principalmente se comparada à Manuela, que era uma loira bonita e sensual.
Passou quase toda a noite nesse dilema mental, até que, com o dia claro, veio a adormecer.
Já era tarde quando Augusto acordou no dia seguinte.
Mal tomou banho e quando se preparava para o café da manhã, foi interpelado por sua mãe que se mostrava aflita:
- Ainda bem que você acordou, já ia bater na porta do seu quarto para isso.
- O que está acontecendo?
- Manuela está lá embaixo esperando por você desde cedo.
Augusto empalideceu.
Não esperava que ela fosse ter a audácia de voltar à sua casa.
Não se sentia preparado para vê-la, muito menos para conversar com ela.
Passara a noite rolando pela cama insone sob o peso de dúvidas cruéis e não havia, até aquele momento, tomado nenhuma decisão.
Pensou em desistir e voltar para o quarto, mas era muita covardia para um homem, e o rosto de sua mãe, demonstrando querer resolver logo aquilo, o fez tomar a decisão de descer e enfrentar de vez.
Quando chegou à sala e ficou frente a frente com Manuela, seu coração descompassou e um arrepio de emoção percorreu todo seu corpo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:53 pm

Naquele momento, teve a certeza absoluta de que não a havia esquecido, do jeito que pensava.
Não sabia dizer se ainda a amava, mas o certo era que a paixão avassaladora dos tempos da juventude estava ainda viva com grandiosa força dentro de seu peito.
O que faria?
A senhora Cândida e o senhor Frederico os deixaram a sós, e longo e incómodo silêncio se fez até que ela o quebrou:
- É isso aí que você está vendo, aqui está o que sobrou de sua amada Manuela.
Ele não sabia o que dizer.
Era certo que Manuela estava mudada, seu rosto mais amadurecido e seu aspecto era de uma mulher cansada e um tanto envelhecida.
Mas sua imensa beleza, seus lindos cabelos loiros e cacheados, os olhos verdes e brilhantes e sua boca bem torneada continuavam os mesmos.
A visão da mulher que tanto amara ali, à sua frente, mostrando-se sofrida, o abalou muito mais do que ele poderia supor a princípio, contudo, ainda tentou ser duro:
- E você pretende que eu fique com seus restos?
Com os restos do seu amor?
Desculpe-me, Manuela, mas isso é impossível.
Nem sei como você teve coragem de me procurar.
Manuela, mulher experiente e vivida, apesar da pouca idade, percebeu rapidamente que dominava Augusto de maneira completa.
Ele estava em suas mãos e faria tudo que ela quisesse.
Por isso disse:
- Não quero que você fique com os restos, quero que você fique com todo meu amor.
Augusto ia falar, mas ela colocou a mão direita levemente em sua boca impedindo-o e prosseguiu:
- Se tive coragem de procurá-lo, é porque sei que ainda me ama e saberá me perdoar.
Fui uma tola ao deixar o seu amor para seguir com outro homem.
Fui obrigada a passar pela traição e abandono para descobrir que o grande, único e verdadeiro amor de minha vida é você.
Por isso, peço que deixe seu orgulho de lado e me aceite de volta.
Podemos nos casar e ser felizes para sempre.
Completamente envolvido pelas energias de Manuela, ele não mais pensou, puxou-a pelo braço e a beijou com profundidade.
Manuela, intimamente, sorria feliz pela vitória.
Era mentira que ela amava Augusto, seu grande amor era Pierre, que estava falido na França, esperando que ela desse o golpe em Augusto e fugisse com a fortuna para que ambos pudessem voltar a viver juntos.
E seu plano estava dando mais certo do que ela esperava.
Depois do longo beijo, Augusto afastou-a um pouco e disse:
- Eu a amo, Manuela, mas não sei se devo e tenho coragem de voltar para você.
Meus pais não aceitariam, a sociedade também não.
Você me abandonou e abandonou a casa de seus pais para ir embora com Pierre.
Como eu, pertencendo à alta nobreza lusitana, posso enfrentar tudo isso e me casar com você?
Ela se soltou completamente dele e fez ar de ofendida.
- Dizendo assim, até parece que me tornei prostituta.
- Mas é como se fosse.
Para os nossos costumes, uma mulher deflorada antes do casamento não tem valor algum, e você sabe disso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 30, 2018 10:53 pm

- Mas tenho certeza de que seu amor será maior do que as convenções sociais.
Você tem seu património, não precisa da aprovação dos pais nem do dinheiro deles para viver comigo.
Se me ama realmente, deixe tudo para trás e siga comigo.
A proposta era tentadora e Augusto teria de lhe falar sobre Rosa Maria.
Naquele momento, ao pensar nela, uma onda de remorso o acometeu.
Estava namorando-a, no dia anterior havia lhe prometido casamento, como teria coragem para desfazer tudo aquilo?
- Há ainda outra questão que preciso lhe dizer.
Estou namorando uma moça de família honrada que, embora não seja rica, nem pertença à alta sociedade, merece respeito.
Ontem mesmo fiquei noivo dela e pedi sua mão em casamento.
Manuela ruborizou.
Não contava com aquilo.
As notícias que chegavam em Paris era de que Augusto permanecia solteiro, sofrendo e recluso em seu palacete, contudo, não podia demonstrar contrariedade.
Tentou parecer compreensiva:
- Entendo que a solidão o tenha feito procurar outra pessoa, mas é justo continuar com ela, enquanto ama outra?
É muito mais respeitoso contar-lhe a verdade do que prosseguir num relacionamento sem amor.
Augusto teve uma sensação desagradável.
Por alguns instantes, teve a nítida sensação de que estava fazendo algo muito errado.
Era a voz da consciência, sempre sábia e verdadeira que, se ouvida de maneira absoluta, sempre leva o homem à felicidade.
Mas nem todas as pessoas obedecem a essa voz.
Por estarem envolvidas pelas energias pesadas e lentas do mundo terreno, mergulhadas nas ilusões e valores distorcidos da sociedade, as pessoas quase sempre acabam optando por caminhos dolorosos que, a princípio, aparecem como a verdadeira felicidade, mas que no fim acabarão resultando em desilusão, dor e sofrimento.
Se as pessoas soubessem a verdade da vida, seguiriam sempre e sem contestar a voz do coração, pois o coração fala da realidade da alma e satisfazer às necessidades da alma é o único caminho para a harmonia e a paz.
A felicidade na Terra é perfeitamente possível a qualquer pessoa, mas para isso ela precisa pagar o preço e ter a coragem de ser apenas o que é.
Não é fácil, pois a cabeça e a lógica humana enchem a todos de vaidade, orgulho e egoísmo, que são os sentimentos que guiam todas as atitudes infelizes do ser humano.
Mas, embora não seja fácil, é por isso que a maioria está reencarnada na Terra, para aprender a guiar-se pela alma, deixando de lado os descaminhos ilusórios do mundo.
Augusto sentiu por instantes o chamado do coração, mas preferiu ouvir a vaidade e ceder aos apelos de Manuela.
- Você tem razão - disse ele, por fim.
É você que eu amo e não posso continuar enganando outra pessoa.
Hoje mesmo farei uma carta à Rosa Maria e outra à senhora Margarida pedindo desculpas, mas rompendo o compromisso.
Manuela sorriu feliz e quando fazia menção de abraçar Augusto, Cândida e Frederico apareceram na sala.
- Nunca pensei que você fosse ceder tão rapidamente às palavras dessa mulher.
Estou envergonhado de você - disse Frederico, com rosto severo.
- Se você resolver casar com ela, saiba que não terá nossa bênção - tornou Cândida entristecida.
- Só não o coloco para fora de casa pelos muitos pedidos da sua mãe, mas se esse disparate de casamento acontecer, Manuela será uma intrusa em nossa casa e em nossa família.
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