LUZ ESPÍRITA
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Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 5 Empty Re: Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:21 pm

- Será que serei capaz?
- Claro! Eu não fui?
Bem, Mateus me ajudou.
Mas outros o ajudarão.
Não só poderá ajudá-la como a outros companheiros de infortúnio.

Deixou o ex-frade acomodado e combinaram visitar o avô no outro dia.
Frei Manoel esperou ansioso, queria ver o amigo.
Kim avisou o avô da visita.

Xandinho estava bem, o director do hospital esperava só por esta visita para autorizá-lo a ir com a filha para casa.

O encontro dos dois foi emocionante.
Abraçaram-se contentes.
Foram para o jardim e Kim afastou-se, deixando os dois sentados num banco.

- Por onde andou, Frei Manoel? Onde estava?
Perguntei por você logo que cheguei. Queria revê-lo!
- É uma longa história... - suspirou o ex-sacerdote.

Kim, mesmo de longe, escutou a conversa como se estivesse perto.
No começo repeliu, não deveria escutar, pensou.
Mas depois entendeu que deveria ter algum motivo e prestou atenção.

O avô disse, sem perceber a preocupação do amigo:
- Frei Manoel, queria muito revê-lo porque preciso lhe falar.
É um segredo que lhe revelo.
Não queria dizer quando estava encarnado, não tive vontade.

Mas agora estou inquieto para contar.
Escute-me! Não foi na nossa cidadezinha que o conheci, mas sim quando era bem jovem.

Morava numa cidade maior e o senhor já era sacerdote.
Eu residia com meus irmãos, Tereza e Gabriel, ninguém naquela época me chamava pelo meu apelido, mas só de Alexandre.

Tinha dezassete anos, quando ocorreu uma desgraça.
Tereza foi assassinada por um senhor rico e meu irmão foi internado num sanatório.
Com medo desse senhor, resolvi partir dali, fui para nossa cidadezinha.

Soube da morte do meu irmão e nunca mais voltei lá.
Conheci minha esposa e ela me pôs o apelido de Xandinho.
Tentei esquecer tanto sofrimento.

Quando o vi, reconheci-o.
Sempre soube que fora amante da minha infortunada irmã, como também sabia que ela era levada, fútil e bonita demais.
E quando o senhor foi para nossa cidade, a juventude tinha passado e não quis prejudicá-lo.

Achei que seu envolvimento com Tereza fora um erro do passado, por ser muito novo, e que tudo deveria ser esquecido.

Xandinho calou-se e os dois ficaram em silêncio por instantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:21 pm

Depois Frei Manoel falou, ansioso:
- Xandinho, meu bom e fiel amigo, quero que me perdoe!
Ansiava tanto lhe pedir perdão.
Encarnado, não tive coragem.

Achava que você não me reconheceu e temia perder sua amizade.
Agora vou lhe contar tudo.
Quero que saiba do meu grande pecado, a razão de ter estado desde que desencarnei num inferno.

Porque, embora não seja eterno, não se perde nada daquilo que pregava, encarnado.
Não se espante, amigo, escute-me e me perdoe. Eu...

Contou tudo. Xandinho disse sincero:
- Claro que perdoo!
Nunca o julguei culpado, pois sempre soube que foi outro o assassino.
Mesmo se fosse o senhor, perdoaria.

- Xandinho, gostaria que me chamasse de você e de Manoel.
Somos amigos!
- Claro!
- Conte-me como desencarnou - pediu o ex-frade.

Os dois se puseram a conversar e Kim se pôs a pensar:
"Por que escuto até conversas ao longe?
Por que me acontece isto?

Como Gabriel via o passado e o futuro, nesta vida também tive muitas visões.
Entendi bem o que o instrutor da escola me disse:
só o futuro que está prestes a acontecer, e já engatilhado, se pode ver com certeza.

No convento previ a visita dos frades superiores, foi porque eles já tinham decidido ir.

Vi a decisão deles.
Existindo algo já planeado, isto se pode ver, ler os planos dos outros, mas muita coisa pode ser mudada.

Quero entender e tentar resolver estas minhas visões.
Tudo isto deve estar no meu passado.
antas coisas podem acontecer no presente, pelo que se fez, pelo que se passou.

Não só em encarnações anteriores, mas na actual.
Um bom exemplo disto foi o ocorrido com meu avô e Frei Manoel.
Não querendo melindrar um ao outro, não falaram que se conheciam.

Se Frei Manoel tivesse revelado, se tivesse enfrentado a situação, teria sabido há muito que não era um assassino.

Ainda bem que os dois se entenderam.
Eu também vou conseguir compreender o que se passa comigo.
Não conseguimos fingir dos nossos erros, porque estes ficam em nós e dão seus frutos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:21 pm

Compreendendo tudo fica mais fácil.
Vou logo que possível saber meu passado, recordar.
Por ele já sofri muito.

Trago-o tão forte dentro de mim, que nem duas vestimentas carnais me fizeram esquecer.
Quero entender para conviver melhor, como também quero, se puder, fazer o bem, com conhecimento desta disfunção de que sou portador.

Aguardarei, tudo tem o momento certo.
Irei aos poucos levantando o véu do passado.
E Tereza, onde estará minha irmãzinha querida?
Onde está este espírito que amo tanto?

Veio à mente a figura de Isabela.
- Meu Deus! Será Isabela a Tereza de outrora?"

Achando que era hora de levar Frei Manoel de volta a casa, foi para junto deles.
Os dois amigos se despediram, estavam contentes.
Kim acompanhou Frei Manoel a casa e foi para a escola.

Olhou o céu.
"Como é lindo o firmamento, que azul encantador!
Como é bom estar em paz com a gente mesmo!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:21 pm

XI - O FILHO DE ONOFRE

Meses passaram.
Manoel e Xandinho estudavam e trabalhavam juntos.
Só que Xandinho ficou morando com a família e o ex-sacerdote foi residir com outros que, quando encarnados, pertenceram à sua congregação.

Continuaram muito amigos.
Kim estava muito contente, quase acabando o curso.
Tinha agora muitos conhecimentos do Plano Espiritual.

Continuava a escutar conversas ao longe, a ver pessoas e saber o que pensavam, como também a ver os acontecimentos que tiveram no passado e seus planos para o futuro.
Podemos planear o futuro, mas realizar estes planos depende de muitas coisas, sequências de acontecimentos, de outras pessoas, da colheita da plantação de cada um, ou da reacção de nossas acções, etc.

E mesmo planos podem ser mudados.
Muitas vezes pensamos em fazer algo e, após reflectir melhor, mudamos.

Naquele dia, Kim estava inquieto, pensando muito no seu irmão Onofre.
Ao sair da aula, sua mãe o esperava.

- Kim, seu irmão Onofre precisa de nós.
Já obtive permissão para irmos tentar ajudá-lo.
Iremos agora. Quer ir connosco?
- Claro!

Kim acompanhou sua mãe.
Reuniu-se a seu pai, seu avô, Manoel, e partiram em seguida.
Sua mãe lhe pôs a par da situação.

- Alex, o filhinho de Onofre de três anos, está perdido.
Seu irmão orou muito pedindo protecção, pediu ajuda a você.
A oração dele foi ouvida e estamos indo para junto deles.

Chegaram. Kim olhou tudo com carinho.
Sua antiga casa estava do mesmo modo.
Não havia ninguém, todos estavam à procura do garotinho.

Sua mãe parou, concentrou e depois falou delicadamente:
- Devemos ir até o menino.
Quis achá-lo e vi onde ele está.
Vamos para perto dele.

A casa de Onofre situava-se próxima à de Martinho.
Ficavam as duas residências no sopé da montanha.

Havia três caminhos:
o da direita, que ia para a cidade, o da esquerda subia a montanha e, se seguisse recto, ia para um desfiladeiro, onde havia lugares com muitas pedras e vegetação escassa.

Alguns trechos eram de difícil passagem, principalmente porque havia muitos deslizamentos.
E foi por este caminho que Alex se perdeu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:22 pm

Logo chegaram ao lado dele.
O menino se encontrava numa cavidade, entre duas pedras grandes, caiu entre elas e ficou preso na fenda.

- Está com febre e ferido - disse Mariana.
Tem a perna direita quebrada, um corte profundo na cabeça e perdeu muito sangue.

O menino gemia.
Mariana aproximou-se do neto com muito carinho, ele abriu os olhinhos com dificuldade.
Estava sedento e com dores, mas a presença da avó o fez sentir-se melhor, protegido.

- Oremos! - propôs Mariana.
Vamos usar de nossas energias e as da Natureza para amenizar suas dores.
Fizeram um círculo e oraram.

Mariana lhe deu um passe.
O garotinho adormeceu.

- Ele está mal? - perguntou Sebastião.
- Está - respondeu Mariana.
Se não o acharem logo, ele desencarnará.

- Como achá-lo neste lugar?
Será que alguém poderá pensar que esteja nestas pedras?
Ele está muito oculto.
Como veio parar aqui? - indagou Xandinho.

Kim viu.
Alex ficou sozinho em casa.
Rafaela, sua mãe, foi lavar roupas.
Ele quis ir atrás do pai, saiu e foi andando pela trilha do meio, atrás de uma borboleta.

Foi subindo fácil nas pedras, contornando as maiores.
Ele era pequeno, mas esperto, e se distanciou de sua casa.
Escorregou, caiu, rolou e ficou preso na fenda.

- Ficarei aqui com Sebastião - disse Mariana -, vocês três devem ir ao grupo que o procura e tentar intuí-los a procurar por aqui.

Já eram treze horas, Alex deveria ter caído ás dez horas, foi quando Rafaela deu por sua falta e saiu a sua procura e, desde as onze e trinta minutos, a família toda o procurava.

O grupo foi aumentando.
Kim, Manoel e Xandinho chegaram perto de todos os que procuravam, mas estava difícil intuí-los.

Não é fácil receber uma orientação espiritual, quando preocupados e aflitos.
Com muito esforço, conseguiram que alguns do grupo recebessem, mas não deram atenção.

"No desfiladeiro, não!
Como pode ele ter ido para lá?"
"É muito pequeno para ter subido nas pedras!"
"Se estiver lá, estará morto.
Não, não deve ter ido.
Que pensamento bobo!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:22 pm

- Nunca pensei que isto seria tão difícil - comentou Kim.
Ninguém nos atende.
E logo irá escurecer.
Se não o acharem durante o dia, a noite é que não farão.

- Vamos voltar - disse Xandinho.
Vamos para perto de Alex.
- Vão vocês. Vou tentar com Regina.
Talvez ela me escute.

Foi à casa dos tios.
Regina estava sozinha.
Aproximou-se dela, a mocinha estava aflita, nervosa e profundamente triste.

Tentou dar a ideia:
"Nas pedras, Regina!
Alex está preso numa fenda."

Não conseguiu.
A prima não estava bem, sentia-se inútil e revoltada com sua inutilidade.
Queria ajudar e não podia, e no momento achava-se muito inquieta e aborrecida.

Kim percebeu que ela estava com outros problemas.
Apiedou-se dela.

"Regina, quando puder virei tentar ajudá-la!
Que passa com você?
Nunca se revoltou por ser cega!
Não fique aflita!"

Regina foi acalmando e se pôs a chorar, falando sozinha.

"Não sirvo para nada!
Coitadinho do Alex, deve estar sozinho e com medo.
Se ao menos visse onde está, iria falar.
Mas não vejo nada."

"Nas pedras, Regina!
No desfiladeiro!" - falou Kim concentrado.
"Será que está nas pedras?" - continuou Regina falando sozinha.
"Mas se ele foi lá deve estar morto!
Quando papai chegar, falo com ele."

Logo os familiares chegaram, cansados, e Rose deu a notícia para Regina.

- Não o achamos.
Procuramos por todo lado.
Ninguém o viu ou sabe dele.
Como escureceu paramos com a busca, amanhã retomaremos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:22 pm

- Papai - disse Regina.
Alex não pode estar no desfiladeiro?
Tive esta ideia.

- Como ele iria para lá? Não creio!
- Se ele estivesse num lugar fácil já teriam encontrado - opinou a mocinha cega.
- Isto é - falou Afonso.
Mas agora só amanhã.
Quem andaria por lá à noite?

Kim entendeu, Afonso tinha razão.
Mesmo conhecendo o lugar, era perigoso pelos deslizamentos que ocorriam por ali.

Foi para perto dos outros, de Alex.
O menino estava mal, a respiração era lenta e a febre altíssima, ele delirava sedento.

- Não consegui - lamentou Kim -, ninguém virá para estes lados.
Pelo menos não agora, à noite. É muito perigoso!

Mariana estava abraçada ao garoto.
Dois vultos se aproximaram.
Eram socorristas.
Entendera, vieram desligar o garoto.

- É chegada a hora - advertiu Mariana.
Alex está para desencarnar.

Afastaram, só ficaram Mariana e os dois que começaram seu trabalho.
O coração físico de Alex parou e em poucos minutos estava desligado.
Seu corpo perispiritual dormia.

Mariana o abraçou com carinho e falou aos companheiros:
- Vou acompanhá-lo até a Colónia. Voltam connosco?
- Eu vou com você - disse Sebastião.

Xandinho olhou para os outros dois e disse:
- Gostaria de ficar mais um pouco.

Ficaram os três e saíram para rever pessoas e lugares que tanto amaram.
Primeiramente foram à igreja, porque Manoel ansiava por revê-la.
Estava um pouco modificada, fora modernizada e isto o deixou triste.

E chorou quando viu seu substituto, um frade orgulhoso e vaidoso que estava acompanhado espiritualmente por dois irmãos inferiores.

Depois, meditou por instantes e falou:
- Não me cabe julgá-lo!
Quem sou eu para fazê-lo?
Fui pior que ele!
Que Deus o ilumine!
Vamos embora daqui!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:23 pm

Seguiram para casa de Afonso e Rose.
Xandinho emocionou-se, viveu ali muito tempo.
Kim aproximou-se de Isabela, achou-a muito linda.
Era uma garota obediente e dava muito valor ao lar, aos pais, continuava muito amiga da irmã, era bondosa e alegre.

Estava preocupada com o priminho.
Mas acabou por senti-los.
Ela não os viu, recordou deles com carinho.
Seu espírito percebeu a presença deles e o cérebro físico lembrou.

- Mamãe - disse ela - se Kim estivesse aqui, acharia Alex.
Estou com muitas saudades dele, do vovô e até do Frei Manoel.
Não gosto do novo frei.

Sempre pensei que Frei Manoel iria celebrar meu casamento, isto é, se casar um dia.
Como será que eles estão, mamãe?
Será que sabem do desaparecimento de Alex?

- Não sei, filha, esta vida é tão complicada, tão sem explicações!
Perguntei isto ao novo frei, ele me respondeu que talvez eles possam saber o que acontece connosco.
Aí, eu me pus a pensar que, se no céu eles sabem o que se passa com os entes queridos, devem sofrer junto, então céu não é o paraíso sem problemas como se diz.

- Mamãe, não quero ir para o céu, se lá não tiver nada para fazer.
É tão ruim ficar à toa.
O trabalho glorifica o homem.
É incoerente pregar um paraíso ocioso e a preguiça ser pecado.
Pode-se concluir que o preguiçoso tem mais vez.

Rose pensou um pouco e depois disse:
- Meu pai conversava muito com Senhor João, o Espírita, e as ideias deste senhor são sensatas.
Tenho pensado, Isabela, que Deus não nos separa por crença e há muitas coisas que outras religiões podem explicar.

Acho muito mais justo aquilo que o Espiritismo ensina:
que a vida continua sem saltos e que sempre trabalhamos, porque, como disse Jesus:
"O Pai trabalha e eu também."

Se nossos entes queridos sabem o que acontece connosco, talvez eles possam ajudar e nos confortar.
Pensando assim me sinto protegida e confortada.

- Qualquer dia vou conversar com o Senhor João - acrescentou Isabela.
Acho que com ele poderei entender muitas coisas que não compreendo.

Foram repousar, todos estavam cansados.
Kim observou novamente Regina, estava quieta, triste, escutou a conversa da mãe com a irmã sem falar nada.
Kim as beijou.

Saíram e Manoel comentou emocionado:
- Sinto que Isabela foi Tereza.
Ela gosta de mim, perdoou-me!
Tereza não me guarda rancor e gosta de mim!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:23 pm

Foram à casa de Onofre, que estava muito abatido, triste, e repetia a cada instante:
- Se Kim estivesse aqui, o acharia!
Coitado do meu irmão!
Eu não gostava de suas adivinhações, tinha até medo.

Ele me disse que um dia necessitaria de seus dons e que ele não estaria mais connosco.

Era para eu não dizer que eram malditas.
Agora entendo, nunca foram.
Ele não fazia mal com seu dom e, se estivesse aqui connosco, acharia meu Alex.

Kim se emocionou, abraçou o irmão com carinho.
Tentou lhe dar ânimo e conforto.

"Onofre, tenha calma!
Alex agora está bem.
Nada mais poderá fazer por ele. Coragem!"

Onofre sentiu-se melhor, virou-se para a esposa e disse:
- Vamos descansar, nada temos para fazer agora.
Amanhã recomeçaremos a busca.
Sinto que Alex está bem. Estará morto?
Se estiver, minha mãe cuidará dele.

Os dois foram deitar e os três visitantes saíram.
A noite estava escura.
Kim sentiu vontade de voltar para perto de Isabela.

- Ainda não estamos preparados para ficar aqui - considerou Xandinho.
Sinto que você, meu neto, gostaria de ficar perto deles, de Isabela.
E você, Manoel, da sua igreja e eu, do meu antigo lar.

Mas, se ficarmos sem autorização e preparo, nós nos tornaremos obsessores.
Tudo tem momento certo. Vamos voltar!

- Quando estiver preparado, pedirei para trabalhar na igreja com o frade.
Mas para isto terei de aprender muito - falou Manoel.
Mariana veio ter com eles.

- Deixei Alex acomodado no berçário do Educandário.
Ele irá dormir por um bom tempo.
Obtive permissão para ficar com Onofre nestes momentos difíceis.
Quando Alex acordar, estarei perto dele.

- Mamãe, por que Alex desencarnou tão novinho? - perguntou Kim.
- Meu filho, todos nós temos que aprender com a oportunidade da reencarnação.
Não devemos deixar de fazer a lição que nos compete, porque um dia teremos que apresentá-la e de preferência bem feita.

Alex na encarnação anterior por motivo fútil, por um amor não correspondido, suicidou-se pulando de um precipício.
Nesta aprenderá a amar a vida encarnada e dar valor ao período que se fica no corpo carnal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 14, 2015 10:23 pm

Quero que entenda que para muitas reacções as acções não precisam ser iguais.
Cada um tem o aprendizado que necessita.

- Você, Mariana, ama muito Alex.
Já viveu com ele outras encarnações? - indagou Manoel.
- Não, e nem nesta.
Quando desencarnei, ele ainda não havia encarnado.
Estou aprendendo a amar todos.

Se Deus quiser, chegará um dia que direi com alegria:
Todos para mim são meus filhos, netos e irmãos.
Regressaram à Colónia em silêncio.

Mariana dias depois deu a notícia:
- Acharam o corpo de Alex três dias depois, quando urubus voavam onde estava.
Foi sepultado com muita tristeza.

Onofre e Rafaela estão mais conformados.
Poderei visitá-los sempre e tentarei confortá-los.
Logo receberão Alex por filho novamente e desta vez terá uma longa existência encarnada.

Kim terminou contente seu curso.
Já estava marcado um outro estudo, em outra Colónia, para que aprendesse usar bem as disfunções das quais abusara no passado, por duas encarnações as teve sem controle, sem saber usá-las correctamente.

Porém, para isto teria ele que recordar suas existências anteriores.
Marcado dia e hora, lá foi ele um tanto temeroso e ansioso ao Departamento próprio levantar o véu do passado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:51 pm

XII - LEVANTANDO O VÉU DO PASSADO

Kim achou o Departamento muito bonito, caminhou para o andar que atendia as pessoas que queriam recordar seu passado.

Todos que vão lá pela primeira vez escutam palestras sobre o assunto.
Isto para terem conhecimento do que pretendem fazer.

Foi directo para um auditório que estava lotado.
Sentou-se no lugar indicado e aguardou o início.
Colónias não são réplicas umas das outras.

Existem nelas muitos processos usados com a mesma finalidade.
Muitas Colónias têm usado este processo de informar primeiro, porque ultimamente são muitos os desencarnados que procuram recordar, saber seu passado.

Por isto as palestras são muito importantes e instrutivas.
Aqui vamos resumir o que Kim escutou.
Uma senhora de aspecto muito agradável iniciou sua palestra após orarem todos juntos.

- Nossos actos bons e maus nos pertencem, somos herdeiros do que fazemos.
Sendo assim, deduzimos que no futuro seremos aquilo que construirmos no momento.
Concluo que o presente é para nós o mais importante.

É agora que podemos reparar erros do passado, anulá-los pelo Amor verdadeiro e pelo trabalho edificante.
Não podemos mudar o passado, mas idealizar o futuro.
Sempre se tem como mudar, melhorar, e devemos fazê-lo no momento, agora, já.

Não importa se estamos desencarnados ou encarnados.
Para que nos preocuparmos com o que passou, se não podemos mudá-lo?
Não devemos ficar presos ao passado, seja ele de glórias ou fracassos.

Basta-nos as dificuldades do presente.
Sempre temos muito a que nos dedicar no momento.
Desenvolveremos a inteligência solucionando os problemas que nos surgem.

No futuro teremos dificuldades?
Sim, poderemos tê-las, mas se aprendermos agora a solucionar as que temos, será cada vez mais fácil resolvê-las.

E não devemos nos preocupar com o futuro.
Basta-nos o dia a dia, como nos ensinou Jesus.
Citando alguns casos particulares, deu por encerrada sua palestra e um jovem iniciou a sua.

Kim entendeu que a aparência no Plano Espiritual não tem importância.
Aquele espírito de aparência jovem era um mestre, um estudioso, com muitos conhecimentos.

- Vocês aqui estão por um objectivo comum, recordar o passado.
Motivos? São vários.
Peço-lhes que reflictam antes deste acontecimento.
O fruto maduro é próprio ao consumo, será útil.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:51 pm

Alimentar-se de fruto verde pode se tornar indigesto.
Assim é que recordar o passado, despreparado, pode nos ser prejudicial.
Quando estamos preparados, as recordações costumam vir à tona mais facilmente se desencarnados, mas podem ocorrer no período encarnado.

Recordar nossas vivências passadas, sem o devido preparo, pode nos causar dificuldades difíceis de superar.
Muitos obsessores têm forçado suas vítimas encarnadas a recordar.
E são muitos que se desequilibram, podendo ficar doentes.

Criaturas mais fracas se chocam diante de erros cometidos.
Curiosidade?
São muitos os curiosos que esquecem que caminham, mas que por muitos motivos também podem ter ficado estacionados, ou muitos erros podem ter cometido.

Aqui, desencarnados, tendo a comprovação de que a vida continua, muitos querem realmente se certificar de que viveram em outros corpos.

E ainda há os que querem saber se foram importantes.
Tudo passa, meus amigos, glórias, personagens, nossas existências, mas ficam em nós, espíritos eternos, as consequências dos nossos actos.

Muitos dizem que a reencarnação deveria ser mencionada mais claramente nos Evangelhos.
São muitos os ensinos de Jesus tão importantes quanto a reencarnação e aos quais ainda não se é dado o devido valor.
A reencarnação é importante, porém o que não se faz agora, no momento, fica adiado e por fazer, sempre na próxima.

O importante é aproveitar a oportunidade agora, neste momento, como se fosse a única.
Não adiar mais.

Temos na Bíblia muitos textos que nos falam da reencarnação, é só compreendê-los.
Não devemos nos preocupar com o que fizemos, mas sim com o que fazemos.
Não devemos ficar presos ao passado, nem ao remoto e nem ao recente.

É no presente que construímos.
Podemos atender todos que aqui estão, porém pensem bem.
Não se chocarão diante de erros?
Será que terão motivos para se orgulhar?

E este orgulho é proveitoso?
Terão a certeza de que não irão querer vingar-se de ninguém?
Perdoarão todos? Até vocês mesmos?

Vocês poderão se amargurar.
Lembro-os de que tristezas não pagam dívidas.
Deus é bondoso demais, dando-nos oportunidades de recomeçar com o esquecimento momentâneo.

Nosso espírito tem registado todas nossas existências, tudo está arquivado.
É colocado um véu que nos impede de recordar.
Mas as lembranças estão lá e só se deve levantar este véu com segurança, ciente de que isto não nos abalará.

Todos prestaram muita atenção e a palestra foi encerrada.
Os ouvintes receberam um livreto com passagens bíblicas sobre reencarnação, como também muitos textos tirados dos livros de Allan Kardec.

Foi pedido para que lessem, meditassem e, se ainda continuassem com vontade de recordar, que marcassem uma entrevista, aí ia ser estudado cada caso particularmente.
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Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 5 Empty Re: Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:52 pm

Se a equipe do Departamento achasse que seria útil ao pedinte, então, teria ajuda para recordar o passado.

Dois senhores que estavam ao lado de Kim comentaram:
- Pensei que bastava desencarnar para recordar todas minhas existências.
- Estou reflectindo, não quero mais recordar - ponderou o outro.
Já me basta esta última encarnação.

São muitas recordações dolorosas.
Escutando isto, tenho a certeza de que estou só adiando minha reforma íntima.
Certamente só irei me chatear com mais lembranças.

Desisto, não me acho preparado.
Se vier a saber que assassinei alguém, eu me entristecerei tanto, que, se não fosse desencarnado, diria que morreria de tristeza.

- Você tem razão - comentou um outro senhor.
Vou ler este livro e pensar melhor.
Se nem nesta última encarnação tive motivos para me alegrar, errei tanto, imagine o que posso ter feito nas outras.
Acho também que devo esperar amadurecer.

Voltou somente uma pequena percentagem dos que estavam ali.
Muitos resolveram esperar mais tempo, retornariam quando se sentissem mais seguros, a maioria, naquele período desencarnado, porque, conforme iam estudando, aprendendo, trabalhando, o véu ia levantando e espontaneamente as recordações vinham.

Outros voltaram ao Departamento, porém achavam-se confusos.
A equipe de orientadores estudou caso por caso.
Alguns foram encaminhados para recordar, outros, a tratamentos para ajudá-los a resolverem seus conflitos.

Kim ficou dias estudando o livreto e voltou.
Respondeu um questionário e foi marcado dia e hora para o retorno.

E ele, resoluto, lá estava no horário marcado.
Foi atendido por Maciel, um senhor muito simpático.

- Muito bem, então você, Joaquim, quer recordar seu passado?
- Já recordei muitos factos.
Quero lembrá-los para aprender a conviver com suas consequências.
Erros não me assustam, porque quase sempre o passado é de erros...

- Todos nós cometemos erros, recente ou remotamente - disse Maciel.
Muitas fobias são heranças do passado.
Aqueles que se sentem quites com seus desacertos os vêem sem tristezas, sem se perturbar.
É como enxergar as artimanhas da infância e compreender que o amor nos transforma!

- Você, Maciel - perguntou Kim - gosta do que faz?
Já recordou seu passado?

- Já lembrei de minhas existências.
Amo muito meu trabalho.
Na minha última encarnação fui médico e me interessei pelos problemas das pessoas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:52 pm

Acreditava que algo a mais as atingia.
Este algo a mais era devido a outras existências.
Quis provar, não consegui.
Desencarnei, dediquei anos à Medicina, agora trabalho neste departamento onde aprendo muito pesquisando.

Planeio reencarnar e me dedicar a este assunto:
provar pela Ciência a reencarnação.
Venha comigo, garoto!

Kim acompanhou-o até uma sala com escassa luminosidade.
Maciel convidou-o a sentar e ele acomodou-se.

- Kim - disse Maciel - tudo que aprendemos nos pertence.
E infelizmente ao termos conhecimentos errados, ou se os usamos para prejudicar, estes podem nos marcar profundamente.

É muita responsabilidade usar para o Mal o que poderia fazer o Bem.
Conhecimentos considerados incomuns podem nos causar dificuldades, se não forem equilibrados ou usados sem controle.

Isto ocorreu com você.
Aprendeu, usou este conhecimento indevidamente e não teve controle sobre eles.
Mas está aqui para aprender a controlá-los.

Kim relaxou, sentiu-se confortável, Maciel calou-se.
Foi como se revivesse novamente.
As lembranças vieram tão nítidas, que foi como se tudo estivesse acontecendo naquele exacto momento.

São usados muitos métodos para recordar.
Normalmente diferem muito, porque cada recordador é um caso, e especial.
Maciel agiu assim com Kim, que esperava só uma entrevista, e o fez quase recordar sozinho, só deu uma pequena ajuda.

Estava auxiliando para que ele entendesse e trabalhasse no presente de maneira certa com os conhecimentos dos quais abusara.

O véu levantou-se e Kim recordou.
Muitas encarnações passaram sem, entretanto, prender sua atenção.
Foram lembranças de existências comuns, de dificuldades, alegrias, erros e acertos, sem nada especial.

Encarnou em lugares diferentes, em muitos países.
Então veio a lembrança do tempo em que tiveram início seus problemas actuais.

Morava numa cidade movimentada pelo comércio.
De um lado da metrópole havia uma cadeia de montanhas, de outro um vale.
Era um local bonito e habitado por muitos magos, feiticeiros, pessoas de conhecimentos além do normal e que usavam uns para o Mal, outros para o Bem.

Na cidade moravam alguns feiticeiros que viviam de ler sorte, fazer sortilégios e filtros.
Nasceu e cresceu ali.
Filho de comerciantes, aprendeu a lidar com cerâmicas e vivia bem financeiramente.

Era voluntarioso e inquieto.
Apaixonou-se, rapazinho, por Isabela. (1)
Casaram e viviam bem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:52 pm

Três anos passaram e tiveram um filhinho.
Morava perto deles um feiticeiro chamado Jof, apelidado de Mago, que desejou Isabela e a quis para si.
Ela o recusou, era honesta, atenciosa, e ele tratou de vingar.

Jof planeou um encontro com Kim, como se fosse casual.
Conversaram e o mago ofereceu para ler sua sorte.

Disse-lhe com firmeza:
- Você está sendo traído. Quer prova?
Achará no baú uma roupa do amante e na caixa de jóias uma pulseira que ela ganhou de presente.

Quando o mago se encontrou com Kim, um empregado fiel dele correu, entrou no lar de Isabela e colocou tanto a peça de roupa como a jóia, no local indicado.

Kim ao escutar os dizeres do mago procurou manter a calma, despediu-se e foi apressado para casa.
Ele sabia da fama daquele homem que se dizia mago.
Todos sabiam que ele era conquistador, vingativo, e também que usava a difamação para destruir suas vítimas.

Mesmo assim ficou louco de ciúmes.
Chegou em casa aos gritos, assustando o filho, que começou a chorar.

Isabela pegou a criança, afagando-a.
Kim remexeu no quarto e encontrou a roupa e a jóia.
Impulsivo, num puxão, tirou o filho do colo da esposa e com um punhal a matou.

Kim suou ao recordar este pedaço.
Lágrimas escorreram-lhe pelo rosto.
Sentiu como se vivesse as cenas novamente.

Foi julgado inocente pelo chefe da cidade.
Seu filho foi entregue aos avós maternos.
Diante das provas da roupa e da jóia, foi sua esposa Isabela considerada infiel, embora ninguém soubesse do seu suposto amante.

Kim, então, tardiamente compreendeu o jogo sujo do mago.
Revoltou-se. Amava a esposa e a matou deixando seu filho órfão.

Chorou desesperado.
Em vez de entender que foi imprudente e que agiu de modo errado, culpou o mago, porque sempre é mais fácil culpar os outros pelos nossos erros.

O mago agiu mal, mas Kim deveria ter com calma investigado; mesmo que comprovasse a infidelidade da esposa, não lhe cabia julgá-la e muito menos matá-la.

Com muito ódio, resolveu vingar.
Porém era uma tarefa difícil, Jof era poderoso nas suas feitiçarias.
Então, resolveu aprender, ser também um feiticeiro e depois enfrentá-lo.

Nas montanhas, vivia um grupo de estudiosos, pessoas boas que faziam a caridade, conhecedores de muitos modos de fazer o Bem, anular as maldades que muitos imprudentemente faziam pela região.

Eram chamados de magos brancos.
Costumavam meditar, orar e ensinar a quem os procurasse o caminho da Paz.
Dificilmente desciam das montanhas.
Kim despediu-se dos pais e partiu esperançoso para lá.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:53 pm

Decepcionou-se quando os viu.
Moravam os magos numa gruta, viviam modestamente de seus trabalhos.
Plantavam cereais e hortaliças, como também teciam suas vestes.

- Peço-lhes permissão para ficar com vocês.
Quero aprender magia - pediu a um deles.

Teve permissão e passou a viver como eles.
Ouviu muito falarem de perdão e do agir correctamente.
Mas isto não lhe interessava.
Cansou, e após um tempo foi conversar com um deles.

- Quero ser mago e não estou aprendendo.
- Meu jovem, você está aqui connosco com ideias de vingança, ódio no coração.
Nosso objectivo sempre foi fazer o Bem, nunca o Mal.

- Estou em lugar errado, então.
Sempre ouvi dizer que os senhores eram mais fortes que os magos negros do vale.
Por isso resolvi vir até vocês, que eram os melhores. Enganei-me...

- Aprenda, Kim, a perdoar.
Nós não queremos comparar forças e nem almejar ser mais fortes.
Nossa força está no perdão, na compreensão, no desejo de ser útil, em ajudar.

Você foi o mais culpado na tragédia que o envolveu.
Ninguém o obrigou a acreditar.
Poderia ter analisado, escutado sua esposa, que era inocente.

Depois, mesmo que fosse verdade, nada justificaria um assassinato.
Não continue errando, querendo vingar. Perdoe!
Vá criar seu filho, seus sogros estão velhos e são pobres.

Contrariado, voltou à cidade.
Isabela também revoltou-se ao desencarnar.
Não perdoou o esposo por ter matado seu corpo jovem e bonito.

Ficou perto do filho e, quando viu Kim voltando da montanha, sentiu ódio, ficou perto dele querendo vingar, gritando toda sua raiva.

Kim em vez de procurar o filho e ajudar os sogros resolveu ficar longe deles.
Aumentou seu desejo de vingança, quando viu o mago rico, orgulhoso, passeando pela cidade.

Esqueceu as lições ouvidas na montanha.
Pensou com ódio que, se os bons não haviam ajudado, os maus certamente o fariam.
Resolveu procurar os malignos do vale, como eram chamados os magos e feiticeiros que viviam ali.

Kim partiu sem sequer ver o filho.
Isabela ao ver que ele se dirigia ao vale voltou temerosa, ainda ficou a vagar por ali.
Tempo depois, cansada de sofrer, chamou por socorro, perdoou e foi socorrida.

O caminho para o vale era fácil, mas feio, e piorava quanto mais próximo do agrupamento de casas onde moravam os magos e seus aprendizes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:53 pm

Fluidos pesados destroem ou empobrecem até a natureza.
O lugar tinha muitas pedras e neblina, e o ar pareceu-lhe pesado.
Continuou resoluto, seu desejo de vingar era maior que qualquer coisa ou sentimento.

Kim estranhou, esperava encontrar um lugar desorganizado e de grandes orgias.
Mas não, ali era organizado e orgias só em dias de festas.

No vale se estudava e trabalhava.
Foi barrado na entrada, onde teve que contar o motivo de sua ida.

Um dos moradores o atendeu.
Kim observou tudo com atenção.
As casas eram uma ao lado da outra, havia em suas portas símbolos que eram de cores vivas e fortes.

Tudo era muito enfeitado, como se quisessem pela aparência mostrar que lá viviam pessoas alegres.
Era tudo de muito mau gosto.
Vamos fazer uma parada na narrativa para uma explicação.

Kim viveu neste período num lugar exótico e místico.
Magia é a arte de alterar as sequências das leis naturais, manipular as forças da natureza.
Magos são independentes, trabalham por si mesmos, são estudiosos e prezam seus conhecimentos.

E estes conhecimentos podem ser usados para prejudicar.
Por isto, são chamados de magos brancos - os bons - e de magos negros - os maus.

Feiticeiro é outra coisa.
Diferem, porque têm menos conhecimentos, e se aliam a outras entidades, normalmente desencarnadas, são dependentes de outros e quase sempre fazem o mal.
Houve tempo em que todos que tinham acesso ao sobrenatural, ao intercâmbio com o mundo espiritual, seja com os desencarnados bons ou maus, eram taxados de magos ou feiticeiros.

Onde Kim viveu havia poucos magos, mais feiticeiros e aprendizes.

O homem que o atendeu ouviu sua história e depois lhe disse:
- Você veio ao lugar certo.
Gostamos de ensinar a vingar.
Vingança é arte difícil, porque sempre fere quem vinga.

Por isto precisa primeiro aprender a não amolecer com estes ferimentos e ter a paciência de esperar o momento certo.
Você quer mesmo aprender?

-Sim. Quero para voltar à cidade e me vingar. Odeio-o.
Mas ele é forte, porque sabe feitiçaria.
- Ele é filiado a nós, chamam-no de Mago indevidamente.
É um aprendiz, um feiticeiro.
Não intrometemos em brigas particulares a não ser que nos prejudique.

Faça como quiser.
Só que temos nosso preço.
Terá que trabalhar para nós e, quando sair daqui, pagar uma contribuição. Aceita?
- Sim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:53 pm

Foi conduzido ao seu alojamento.
Ficou dias conhecendo tudo ali.
Percebeu que os magos mesmo eram três e viviam mais isolados, meditando, estudando, e que ali naquelas casas e nos alojamentos só havia pretensos aprendizes.

Começou a trabalhar, plantava ervas, limpava casas, também passou a ler livros de feitiçarias e a fazer filtros, preparar venenos e remédios.

Participava de rituais e aprendeu a invocar espíritos, prendê-los e soltá-los para fazer tarefas.
Vamos novamente dar uma pausa para explicar.
Macumbeiros, feiticeiros, encarnados, que trabalham para o mal, normalmente têm escravos, imprudentes desencarnados para trabalharem para eles.

Estes imprudentes, quando encarnados, usaram de seus favores ou também aprisionaram desencarnados, e têm o retorno.

São escravos também, porque de algum modo prejudicavam outros.
Estes, desencarnados, normalmente sofrem e são obrigados a obedecer.
Porém, se arrependidos com sinceridade, clamarem por ajuda, são auxiliados.

Estes factos narrados haviam acontecido há muito tempo, porém este processo é usado até hoje, e infelizmente são muitos os que agem como os feiticeiros desta história verídica.

Aqueles que escravizam muitas vezes têm que passar a serem escravizados, para aprender.
O vale era visitado por muitas pessoas da cidade, da região e até mesmo de longe, iam em busca de favores que eram pagos muito caro.

Dois anos passaram e Kim achou que havia aprendido muito pouco.
Foi então servir como secretário do feiticeiro mais importante do alojamento, Max, e tornaram-se grandes amigos.

Anos depois, cansado de ser só empregado e achando que já tinha alguns conhecimentos, despediu-se do vale e voltou à sua cidade.
Ainda não sabia se podia com o mago Jof, por isso resolveu deixar para enfrentá-lo depois.
Alugou uma casa nos arredores da cidade entre as meretrizes e ali se estabeleceu.

Passou a ler sorte, a fazer filtros e poções mais baratas, fazia com dedicação.
Logo ficou famoso.
Nunca havia ganhado tanto dinheiro.

Ambicioso, passou a querer mais, comprou uma casa, mobilou-a com luxo, contratou um empregado e passou a se vestir luxuosamente.

O dízimo para o vale, era alto, todo mês tinha que mandar dinheiro para eles.
Soube dos parentes, do filho, este trabalhava e sustentava os avós, viviam pobremente.

Não os procurou e nem os ajudou.
Mas, quando se faz o mal, normalmente se tece armadilha para si mesmo.

Seu filho suicidou.
Ao saber da notícia ele se abalou.
Soube que foi por um amor não correspondido e que a moça por quem se apaixonou, dera para seu filho uma poção, um filtro que ele mesmo fizera.

Ao ser desprezado se matou.
Ele fez o feitiço para uma pessoa ama-la, fez sem saber para quem ela daria.
Achamos que devemos fazer uma outra pausa para elucidar.
Filtros, poções, termos muito usados nas feitiçarias antigamente e actualmente em muitos lugares.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:53 pm

Há muitos nomes para determinados feitiços.
Normalmente filtros e poções são usados para que uma pessoa fique presa por sentimentos confusos a outra.

Paixão carnal é o termo mais exacto, nunca o amor.
Amor é afinidade, carinho.
Muitos me têm perguntado:
Feitiços pegam? Têm efeito?

Respondo:
Depende. Sim, depende da pessoa, de sua vibração.
Aquele que vibra bem, que é protegido por orações, que ora com fé, que é protegido fazendo boas acções não tem sintonia para ser afectado por forças do mal.

Porém, se vibrar baixo, isto é, se estiver na mesma sintonia, o mal pode afectar em proporções.

Mas há os que fazem o mal e os que fazem o bem.
Muitos feitiços levam muitos dos enfeitiçados a procurarem os bons, fazendo-os conhecer este processo e aprender muitas coisas no bem.

E são muitas, mas muitas mesmo, as formas de se fazer estes feitiços que são denominados de diferentes maneiras.

A imprudência é a mesma. E ninguém faz ou usa deste processo impunemente.
Sempre o pagamento é mais caro do que se imagina.
Não só em termos financeiros, mas no vínculo que se faz.

A morte do filho o deixou muito revoltado.
Insensato, em vez de reconhecer sua culpa, achou mais fácil culpar os outros.

Reacendeu o ódio pelo Mago.
Ele era culpado, foi ele que o fez matar a esposa inocente e separá-lo do filho.
Resolveu vingar, aquele deveria ser o momento, pensou.

Parou de atender seus clientes para se dedicar ao estudo.
O Mago Jof esqueceu de Kim, até que este foi morar na cidade e tomou a maioria de seus clientes, então passou a odiá-lo.

Kim para pagar o vale, foi vendendo tudo que havia adquirido.
Vendo que não podia continuar assim, resolveu enfrentar logo Jof.

Não podia negar pagamento ao vale.
As ameaças dos magos eram terríveis.
Escutou temeroso os emissários de lá e sabia que eles eram capazes de coisas que produzem resultados funestos.

- Você está sendo ingrato!
Tudo que tem deve ao vale.
É melhor pagar em dia, senão podemos fazê-lo escravo ou transforma-lo em bicho, e servirá como guarda.

Sabia que o mal cobra a preço alto aqueles que não se submetem ao pagamento estipulado.
Jof era um feiticeiro treinado, conhecia muito as artes das maldades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 15, 2015 10:54 pm

Kim o enfrentou, brigaram, mandando feitiço um ao outro.
Kim vendo que ia perder, que não ia resistir, foi à casa do Mago para mata-lo, foi prendido e assassinado.
Ficou muito perturbado, suas más acções não lhe saíam da mente, foi atraído para o vale onde foi ajudado.

Depois, consciente de seu estado, passou a trabalhar para eles.
Max, ainda encarnado, chamou-o para trabalhar com ele.

Kim, então, sentiu-se melhor.
Odiando o Mago, não desistiu da vingança, mas sabia que tinha muito que aprender e o fez.
Estudou muito, principalmente para ler os planos dos outros, para descobrir o que as pessoas pensavam em fazer e para achar objectos e pessoas.

Pensou que ao encarnar poderia achar Jof também reencarnado e se vingar.
Max o ajudou, ele fez para Kim um grande feitiço, em rituais com vítimas, para que ele fixasse na mente perispiritual estes conhecimentos.

Isto o marcou muito, foram cenas repugnantes e violentas.
Max desencarnou, continuaram amigos e no vale.
Então, surgiu uma oportunidade.

- Kim - disse Max - Gurt, um de nossos feiticeiros, quer um filho.
Sua esposa deve conceber logo.
Encarne!

Isabela e seu filho já estão encarnados na cidade, você poderá encontrar com eles e se reconciliar.
Vocês se amam.
Casará com ela e eu serei filho de vocês.

- Mas se não der certo, se Isabela não me quiser?
- Aqui estarei para ajudá-lo.
Você, como filho de Gurt, crescerá entre as magias, nada lhe será oculto, então vingará de Jof facilmente.

Novamente vamos fazer um intervalo na narrativa de Kim.
Não são todas as reencarnações programadas pelos espíritos bons.
Abrigados e moradores das Colónias e Postos de Socorro podem dispor deste auxílio.

Desencarnados que vagam, ou trevosos, podem ter muitas vezes a reencarnação programada pelos orientadores bons.
Porém, muitos desencarnados que vagam e trevosos podem ser atraídos para afins, ou, como na nossa história, eles mesmos programarem.

Assim aconteceu.
Kim reencarnou como filho de Gurt, um feiticeiro do vale.
Achou que era uma óptima oportunidade para se vingar de Jof, porque teria o pai como aliado e Max como filho.

Cresceu forte ali, entre magia, aprendia fácil, deixando seu pai contente.
No vale houve modificações.
Os três magos resolveram partir e só ficaram os feiticeiros ambiciosos, que deixaram de estudar, para se dedicarem a enriquecer.

Kim ajudado por Max, desencarnado, recordou sua vida anterior e o ódio voltou forte.
Preparou-se para vingar de Jof.

Soube que havia reencarnado na cidade, que era novamente feiticeiro competente e estudioso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 16, 2015 11:02 pm

Era rico e não dependia mais do vale.
Kim dedicou-se, e muito, ao estudo, a ler o astral das pessoas, o passado e os planos para o futuro.

Tornou-se logo mestre neste assunto.
Casou-se com Isabela, ficaram morando no vale e seu primeiro filho foi Max, como combinaram.

O lugar já não era o mesmo:
poucos trabalhavam, dinheiro fácil, havia muitas orgias e bebiam muito.

Isabela gostava daquela vida ali.
Era vaidosa e ociosa, tinha medo de Kim, embora não tivesse motivo.
Sentia vontade de traí-lo, mas não o fazia por medo.

Pensava muito, sem entender:
"Fui honesta e ele não me deu valor".

Ela não sabia do passado e Kim nunca lhe contou nada.
Kim previu desagradáveis acontecimentos, mas ninguém no vale quis ouvi-lo, nenhum deles estava disposto a largar a boa vida para se dedicar ao estudo e se organizar.

O Mago Jof sabia que Kim ia vingar.
Resolveu enfrentá-lo antes que se preparasse.
Unido a outros feiticeiros, invadiram o vale e derrotaram seus habitantes.

Foram mortos todos os chefes.
Kim desencarnou sob torturas e depois ficou servindo aos encarnados como escravo.

Isabela também desencarnou e ficou a vagar por ali.
As crianças foram poupadas e aqueles que tinham aptidão para magia foram estudar.

Jof adoptou Max por filho.
Kim o odiou, depois conformou e o remorso começou a machucá-lo.
Passou a conversar com Isabela e juntos reconheceram seus erros.

Sofreram muito, durante anos.
Kim se lembrou dos magos bons da montanha.
Um dia conseguiram fugir, caminharam muito e chegaram à montanha, onde pediram abrigo aos desencarnados bons que lá trabalhavam.

Receberam ajuda, orientação, viveram lá algum tempo e pediram para reencarnar.
Os bons prudentemente os levaram para longe dali, para um recomeço.

Foram, então, Tereza e Gabriel.
As lembranças acabaram.

Kim abriu os olhos e viu Maciel a olhá-lo.
Chorou alguns instantes.

Depois suspirou.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 16, 2015 11:03 pm

- Maciel, agora o véu se desfez, o passado não tem segredo para mim.
Fui mau, errei muito...
- Mas o passado se foi e não deve incomodá-lo mais.
Resgatou pelo sofrimento, como Gabriel, e como Kim sofreu, mas também fez muitas acções boas.

- Não, o passado não me incomodará mais.
Quero agora me dedicar a fazer o Bem com meus conhecimentos.
- Concordo com você, só que para isto terá que aprender novamente.

- Farei com amor.
Muitos dos meus colegas já escolheram uma actividade, o trabalho que farão após o estudo.
Gostaria de vir trabalhar com você.
Se me quiser, logo que terminar este curso que irei fazer, virei ajudá-lo.

- Combinado, Kim - respondeu Maciel sorrindo -, será meu companheiro de trabalho.
Aprenderemos muito juntos.
- Maciel, por que só como Gabriel e nesta última vida lembrei do meu aprendizado em ler o astral?

- Você usou muito de sua energia para isto.
Foi um acontecimento muito forte o feitiço que você e Max fizeram para que tivesse lembrança disto.

A violência deste acto o marcou.
Não propriamente pelo feitiço, mas pelo ocorrido.
E houve o desequilíbrio, no véu de protecção da memória, que o fez recordar nestas suas duas últimas encarnações.

- Maciel, poderei ter estas lembranças no futuro?
- Você agora estudando e, compreendendo, não tem por que temer.
Usando destes conhecimentos para fazer o Bem, você poderá escolher, se quer tê-las ou não, na próxima encarnação.
E, se as tiver, garanto que não mais será prejudicado, porque as terá dominado.

- E Isabela?
Agora somos amigos, não é? - perguntou o mocinho.
- Claro! Você tirou a vida física de Isabela no passado, nesta encarnação, desencarnou para salvá-la.
Aprendeu a amá-la sem egoísmo, aprenderá a todos amar.

- E meu filho?
E Max? Os outros?
- Pedi aos moradores da montanha notícias para você.
Seu filho, o que suicidou, está encarnado e relativamente bem, está dando valor à vida no corpo físico.

Vive naquela mesma cidade.
Max tornou-se um grande feiticeiro como queria, já está velho e cansado.
Jof desencarnou e foi preso por outro feiticeiro mais forte:
serve de escravo no momento.

Creio, Kim, que você poderá ajudá-los um dia.
O vale mudou muito, lá agora é morada de poucos feiticeiros.

- Obrigado, Maciel, muito obrigado - disse Kim com sinceridade, e, depois, olhando-o bem perguntou:
- Por que você não tira esta pinta do rosto?
Ela não lhe faz lembrar que foi sua mãe quem matou seu corpo físico?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 16, 2015 11:03 pm

Maciel riu, Kim percebeu que foi inconveniente e desculpou-se.

Maciel explicou:
- A pinta no meu rosto poderia ser uma recordação ruim, se não tivesse perdoado.
- Matar o filho pelo amante.
Coitada! - exclamou o mocinho.

- Realmente é de apiedar.
Preocupo-me com ela.
Desencarnou e vaga em sofrimento.
Tenho ido visitá-la e tenho esperança de logo socorrê-la.

Nasci com uma pinta igual a dela.
Isto era motivo de orgulho para ambos.
Meu pai desencarnou e deixou toda a fortuna para mim.

Minha mãe, jovem ainda e muito bonita, arrumou um amante que fingiu amá-la, porém queria o meu dinheiro.
Filho único e não tendo filhos, com minha morte ela herdaria a fortuna.
Os dois planearam minha morte e ela me assassinou, envenenando-me.

- Peço-lhe desculpas novamente.
Aprenderei a ser discreto.

Maciel sorriu. Despediram-se.
Kim voltaria, após ter concluído seu estudo, para trabalhar no Departamento junto do seu novo amigo.
O curso que faria se iniciaria só no começo do mês, teria que aguardar.

Kim lembrou de Regina, de sua expressão triste.
Pediu permissão para tentar ajudá-la.

Obteve.
Feliz, foi passar dias com os familiares.

(1) Para melhor compreensão, chamaremos nossos personagens em todas suas encarnações de Kim, como também sua companheira, de Isabela. (N.A.E.)
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Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho - Página 5 Empty Re: Véu do Passado - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 16, 2015 11:03 pm

XIII - O CASAMENTO

Kim chegou e encontrou Regina, Isabela e sua tia Rose fazendo o dejejum.
Regina estava calada, escutando sem prestar atenção na conversa da mãe e da irmã.

Ao terminar, levantou-se e foi para a lavandaria lavar roupas.
Regina fazia todo serviço de casa, até cozinhava com a mãe ou irmã perto, pois Rose temia que se queimasse.

A mãe e Isabela trabalhavam na horta e atendiam as freguesas.
Kim ficou escutando a tia e a prima conversarem.

- Mãe - disse Isabela -, estou muito preocupada com Regina.
Está tão triste e esquisita.
Não a entendo, não quer nem falar no Waldomiro.
Não o quis, coitado, sofre por ser desprezado.

Porém, acho que ela gosta dele.
Sinto que sofre.
Mas por mais que eu insista ela não me fala nada.

Quero ajudá-la e não sei como.
Se Kim estivesse aqui, ele me diria o que acontece com ela.
Ele adivinhava tudo.

- Você não esquece de seu primo, não é? - perguntou Rose.
- Nunca vou esquecê-lo.
Quando eu era criança, sonhava em me casar com ele.
Fico pensando se já vivemos juntos outras vezes, em corpos diferentes, e se já não amei muito Kim.

Mamãe, lembra quando Regina falava isto?
De outras vidas?
Lembra aquela vez que falou a da senhora e levou uma surra?

- Claro que me lembro!
Embora o melhor fosse esquecer.
Passei tanta vergonha!

- Pois... - falou Isabela pensativa - será que Regina não está tendo outra crise?
Ou... como se chama isto que ela tem: fenómeno?
Não sei. Talvez seja isto que a faz ser tão esquisita.
Está lembrando o passado de novo e não diz, porque jurou não dizer mais.

Bateram palmas, as duas encerraram a conversa e foram trabalhar.

Kim aproximou-se de Regina.
Rose separava as roupas, esfregava as mais sujas, explicava para a filha e ela as lavava.
Regina, agora moça, era esperta, trabalhadeira e tentava fazer tudo do melhor modo possível.

Esfregava a roupa, enxaguava, torcia e as colocava no varal.
Era um exemplo.
Mesmo com limitações - e a cegueira é uma bem acentuada - aprendeu a trabalhar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 16, 2015 11:03 pm

Levava uma vida saudável, sem compadecer-se de si mesma.
Todos somos capazes quando queremos, quando colocamos a vontade acima das dificuldades.
Certamente ela e os familiares sabiam que não podia haver perfeição no seu trabalho.

Muitas vezes uma roupa lavada por ela ficava com manchas, mas ninguém falava nada para não desmotivá-la.
Regina era independente e todos os deficientes devem ser educados, orientados, para que possam ser o mais independente possível.

Regina não tinha visão, mas usava bem o que tinha, e não perdia tempo em lamentar o que não possuía.

Kim a abraçou carinhosamente e perguntou, fixando sua mente na dela:
- Que tem Regina?
Que se passa com você?
É por Waldomiro que sofre?

Ela não percebeu a presença do primo.
Mas se pôs a pensar no ocorrido, escutando os pensamentos dela.
Kim se colocou a par do que acontecia.

"Não posso confiar no Waldomiro.
Diz me amar muito, mas já disse isto no passado.
Não creio! Só me fará sofrer novamente."

"Isabela tem razão" - pensou Kim.
"Regina soube do passado.
Confunde com o presente.

É por isto que no Departamento pedem cautela nas recordações.
Os problemas dela devem ser as consequências do passado interferindo no presente.
Vou tentar saber tudo e quem sabe ajudar."

Voltou a olhar a prima.
Seus olhos parados, sem vida, não se fixavam em nada.
Suas mãos movimentavam rápidas pelas roupas molhadas.

Fixou sua mente nela novamente.
"Regina, pense no que acontece..."

Ela o fez, ele não precisou insistir, Kim compreendeu que a mocinha estava ultimamente pensando muito nisto.
Lembrou-se de sua encarnação anterior em que foi casada com Waldomiro.

Os dois eram pobres, moravam numa fazenda.
Conheceram-se, amaram-se e casaram.
Mas ele era grosseiro e logo passou a tratá-la mal.
Foram muitas surras, bebedeiras e traições.

Teve uma vida difícil, criando os quatro filhos quase sozinha, trabalhando muito para sustentá-los.
Logo depois que o último filho casou, ela desencarnou por um ataque cardíaco, deixando o esposo desesperado.
Foi uma existência de privações e sofrimentos.
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