LUZ ESPÍRITA
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RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:21 am

RECONCILIAÇÃO
Psicografado pela médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Romance do Espírito António Carlos

Reconciliação

Eis aqui uma das mais belas histórias espíritas. Comovente e esclarecedora, encanta a todos que a lêem.
António Carlos, exímio escritor, reúne todos os elementos capazes de cativar, narrando uma história surpreendente de forma clara e simples.

A trama prende a atenção, envolvendo na leitura, fazendo com que participemos do relato e sintamos toda a emoção transmitida pelo autor.

Tudo começa com um duplo assassinato.
O garoto Raul e sua mãe são brutalmente mortos por Manuel, pai e esposo das vítimas.

Raul ao acordar, após a morte, não sente ódio do pai assassino.
Já sua mãe, apegada aos bens materiais, fica presa ao ambiente familiar, imantada pelo ódio.

Na espiritualidade, Raul recorda-se de suas vidas passadas, vindo a saber que tinha débitos para com seu pai, assumidos anteriormente.

Sentindo grande desejo de se reconciliar com ele, solicita permissão para encarna novamente como filho de Manuel.
Assim, com outro nome, Raul está de volta ao palco de lutas redentoras, buscando auxiliar espíritos queridos, mas presos ainda a profundos equívocos.

“Portanto, se estás para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem fazer a tua oferta.”
MATEUS, V: 23,24

SUMÁRIO
PREFÁCIO


O POÇO
O SOCORRO .
APRENDENDO .

ESCUTANDO AMIGOS
AJUDANDO MINHA MÃE
O LOUCO

O PERDÃO
O PASSADO
A DECISÃO

REENCARNADO
DE REGRESSO
AJUDANDO MEU PAI

NOVAS RESPONSABILIDADES
APRENDENDO A SERVIR
NO CONFORTO DO ESPIRITISMO

GLOSSÁRIO .
ALELUIA .
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:21 am

PREFÁCIO
POR JOÃO DUARTE DE CASTRO

O médium é um instrumento do Alto na intermediação de tarefas provindas do plano espiritual.

O médium espírita sabe que o futuro está sendo projectado, modelado e definido pelo presente;
sabe também que o dia de hoje é consequência do ontem.

Tem consciência de que assumiu esse compromisso e que não pode fugir de suas responsabilidades para não pôr em risco seus resgates, seu aperfeiçoamento, seu progresso moral espiritual.

O médium fez a rogativa de servir de elemento de conexão entre as duas dimensões para mais depressa saldar seus débitos e contabilizar merecimentos.

É dando que se recebe.
É o médium um instrumento, apenas, mas de primordial importância;
nós todos, cada qual em seu sector, somos instrumentos, mas deve-se procurar ser sempre o melhor instrumento.

Sem vaidade, sem presunção, o médium-psicógrafo deve exercer sua actividade porque sabe que o trabalho não é dele, que apenas realiza o papel do telefone ou a função do lápis.

A Vera Lúcia está enquadrada exactamente nesta categoria de médiuns cônscios de sua natureza, de sua responsabilidade.
É simples, humilde, mas dedicada, consciente e responsável.
A missão dos bons espíritos, guias, amigos e protectores, ao fazer manifestações na Terra, é de educação, de amor, de justiça e de trabalho evangélico.

Conhecemos os bons espíritos pelos frutos de sua manifestação;
seus textos são direccionados tanto para a revelação da realidade espiritual como para a promoção da pessoa humana.

Em suma, com o objectivo de facilitar a evolução do espírito, fazendo-o sentir que aqui ou do lado de lá, ora num plano, ora no outro, somos sempre os mesmos e a estrada que percorremos rumo à perfeição é uma só, sempre.

Os espíritos bons, guias, amigos e protectores não se manifestam por acaso nem são escolhidos para actuar por privilégios.

Os médiuns não são manipuladores nem donos da verdade.
A missão mediúnica é santa e tem carácter socializante.
Seu objectivo é o de confraternizar pela revelação, pelo conhecimento, pelo amor.

A Doutrina Espírita é verdade trabalhada, humildade compreendida, amor exemplificado porque é o Cristianismo redivivo e autêntico;
é caridade, justiça e fraternidade leccionadas aos indivíduos na trajectória educativa ascensional.

Tudo isso está contido no trabalho do Espírito António Carlos.
Este é um romance que impressiona e agrada por muitos motivos: a história é envolvente e sugestiva, o tema é empolgante, o estilo é simples, mas atraente, a leitura é dinâmica, os ensinamentos são profundos, oferecendo uma visão magnífica da vida no plano espiritual.

O escritor desencarnado leva uma vantagem significativa sobre o trabalho de seus colegas encarnados: a de poder actuar com desenvoltura e simultaneamente nos dois planos da realidade espiritual.
Enquanto nós aqui permanecemos com os pés no chão e com uma visão muito limitada, o espírito liberto participa da vida material e da existência espiritual, ao mesmo tempo.

Nós, do lado de cá, dependemos muito da intuição, da inspiração e das informações que nos chegam do outro mundo para poder informar sobre a vida na outra dimensão;
já o informante desmaterializado tanto vê lá como aqui, tanto faz suas observações no plano invisível como no universo material, de forma directa, própria e objectiva.

Tudo neste romance impressiona, agrada e esclarece.
Contudo, ainda mais impressionante me pareceu a descrição do trabalho desenvolvido por uma equipe de espíritos socorristas num centro espírita.
Enquanto os encarnados apenas sabem da tarefa que eles próprios desenvolvem, acontece uma ampla actividade simultaneamente realizada pelo plano espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:22 am

Raul (Ricardo) descreve minuciosamente sua participação, numa dessas equipes de assistência junto a um centro espírita, primeiramente na função de guarda, actuando preventivamente contra espíritos maus, perturbados e perturbadores;
de vigia, passa a integrar a tarefa de auxílio à prática mediúnica, socorrendo, organizando e encaminhando desencarnados aos médiuns;
depois, integrando equipes de socorro que atendem a solicitações de auxílio a desencarnados que ficam vagando pela cidade, em hospitais assistindo a enfermos encarnados e desencarnados;
visitando cemitérios e confortando tanto a encarnados inconsoláveis como a desencarnados que se apegam em desespero a seus restos mortais;
encaminhando espíritos necessitados para atendimento em um pronto-socorro espiritual, e assim por diante.

Quando minha querida amiga Antonina Barbosa Negro, da cidade de Leme (SP),grande incentivadora de meus modestos trabalhos, ligou solicitando-me os préstimos para a apreciação dos originais de um romance que lhe haviam sido encaminhados, coloquei-me a sua disposição.

É frequente e natural a um escritor receber semelhantes solicitações.
Dizia Antonina saber de minhas ocupações e da escassez de meu tempo, mas que fazia questão de que fosse eu a realizar a tarefa.

Tratava-se esclareceu ela -de material psicografado por sua amiga Vera Lúcia, da cidade de Jaú (SP), autoria espiritual de António Carlos, de um romance intitulado Reconciliação, que lera e muito apreciara.
Como sempre faço ao ser solicitado para prestar tal colaboração, não deixei de também esclarecer a Antonina que meu parecer seria dado de conformidade com o valor do texto, independentemente de amizade ou consideração.

Que ela me remetesse os ditos originais, eu arrumaria tempo para sua leitura e apreciação...
Como se tratasse de material mediúnico, não deixei de "torcer o nariz" intimamente, dada a grande inflação de obras psicografadas de qualidade medíocre existentes por aí.

Infelizmente, muitos editores publicam seja lá o que for, desde que seja trabalho espiritual.
É livro ditado por desencarnado?
Então" Amém", e assina-se embaixo...

E foi com este espírito que recebi os originais deste livro e iniciei sua leitura.
Para encurtar a história, confesso que me envolvi tanto desde o seu princípio, e gostei tanto do enredo, da linguagem, do estilo, dos ensinamentos, de tudo, enfim, que, ao chegar ao seu final, não encontrei outras palavras para traduzir meu entusiasmo, senão "Lindo! Magnífico!"

E isto escrevi ao final do texto.
Que escritor exuberante é o nosso António Carlos, e que instrumento mediúnico fiel e competente é a nossa Vera Lúcia!
Ligando novamente para saber a minha opinião, foi dito a Antonina que não apenas havia gostado muito do livro como iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para vê-lo publicado.

E para me penitenciar de minha pontinha de prevenção inicial, comprometia-me a fazer seu prefácio e os dizeres da contracapa.
Daí que os originais foram encaminhados com nossa entusiástica recomendação ao Flávio e à Carmen, idealistas tarefeiros da PETIT Editora, e o livro aqui está, inclusive com o cumprimento de minha promessa quanto ao prefácio.

Sem querer fazer predição, acredito que este romance do António Carlos estará ocupando muito brevemente um lugar de destaque na literatura espírita.
Com inteira justiça, diga-se.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:22 am

O POÇO

Acordei com um torpor estranho, por uns instantes não sabia onde estava, tudo parecia confuso, os últimos acontecimentos desorientaram-me.

Fui tomando consciência aos poucos;
com muito esforço comecei a abrir os olhos, tentei ver onde estava, no alto vi luz, a claridade do Sol.
Tentei mover-me, não consegui, senti dores agudas, doía-me todo o corpo.

Só consegui mover os olhos, mas a claridade do alto tonteava-me.
Esforcei-me por falar.

- Ai, ai. - consegui balbuciar baixinho, doendo mais ainda com o esforço que fiz.
Lembrei-me então do poço.
Estava dentro, dele, conhecia-o bem, costumava brincar sempre perto dali com meus amigos;
era um seco e velho poço abandonado.

Deveria ter uns cinco metros de profundidade e não era estreito, tendo uns dois metros de diâmetro; agora, dentro dele, parecia-me muito fundo e assustador.
Com muito esforço, devagarzinho, consegui virar a cabeça um pouquinho para o lado direito, aumentando a dor que sentia, e então a vi.

Mamãe ali estava, caíra em cima dela, o seu corpo amortizara minha queda.
Vi-a do busto para cima, estava toda suja de sangue, imóvel e com os olhos fechados.
Vendo-a, além das dores horríveis, senti medo e desespero.

Concentrei-me, reuni todas as minhas forças e consegui sussurrar:
-Mãe...
Ela não se mexeu.
"Deve estar desmaiada" - pensei."
Quando acordar me ajudará."

Não me mexi mais, preferi ficar olhando para ela, dava-me mais segurança;
depois as dores eram muito fortes, quando me esforçava para me mexer, elas pioravam, e sentia como se arrebentasse, devia ter fracturado alguns ossos!

Lembrei-me de meu amigo Joãozinho, que fracturou a perna, chorou, gritou, "dizia que parecia estar arrebentado.
Agora, com a cabeça mais virada, não vi mais a boca do poço, e sim as paredes de terra e pedra, e minha mãe, que não se mexia, demorando para acordar do desmaio.

"Nos momentos difíceis, ore."
Parecia-me que escutara minha avó.
Vovó Margarida sempre me dizia isso.
Lembrei-me dela, recordei com perfeição como era ela, senti mais saudade ainda, senti falta do seu carinho, do seu jeito meigo de consolar-me quando me doía algo.

Procurei lembrar as orações, as que repetia sempre, mas não consegui recordá-las.
-Ah! Meu Menino Jesus, fazei que nos achem, que alguém nos tire daqui, por Maria, sua Mãe, eu lhe peço.
Ave Maria... - não conseguia nem começar, meus pensamentos estavam descoordenados, tinha dificuldade de me concentrar para repetir as orações que decorara.

As dores eram contínuas e fortes, sentia o suor molhar-me e deveria estar também ensanguentado, como minha mãe.
Abri os olhos e olhei-a, era tão bonita!
Agora estava esquisita, os cabelos soltos em desordem, toda suja e não se mexia.

"Oh, meu Deus!
Fazei com que nos encontrem" - pensei firme.
Era de tarde, logo viria a noite, ficaria escuro e seria bem pior, esfriaria, à noite ninguém passaria por ali e ainda mais olhar para o poço.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:22 am

Se ao menos pudesse gritar!
Sentia que estava em cima do corpo de mamãe e não notava nela nenhum movimento.
Caiu primeiro, vi quando ele a pegou, enfiou a faca no seu peito e depois a jogou dentro do poço;
ficara olhando assustado, não entendi, não queria acreditar, quis gritar, não consegui, fiquei parado.

Olhou para mim, estremeci de medo, veio em minha direcção, tentei escapar, comecei a correr, mas logo me alcançou;
segurou-me com força pelo braço, arrastou-me alguns metros, levando-me para perto do poço.

"É preciso!" - falou forte e baixo.
"Você também."

Quis gritar, não consegui, estava horrorizado, vi-o erguer a outra mão, sua direita, e a faca veio em minha direcção; aflito, desesperei-me para escapar, mas sua mão, que parecia uma garra de ferro, não me largou.

Errou o alvo, a faca feriu-me o ombro esquerdo em lugar do coração.
Que dor horrível, uma dor aguda que me tonteou.
Senti quando retirou a faca, erguendo-me pela cintura;
eu quis fazer algo, gritar, soltar-me, não consegui, e então me jogou no poço.

Senti-me cair, desmaiei na queda, devo ter ficado alguns minutos inconsciente.
Uma estranha fraqueza foi se apoderando de mim, parecia que tudo rodava.
Abri os olhos que teimavam em se fechar, mamãe continuava do mesmo modo.

- Faça, Jesus, com que ele se arrependa e venha buscar-me;
se não conseguir gritar, dificilmente alguém nos achará.
É tão raro alguém olhar dentro do poço!

Tentei repetir as orações novamente.
"Ave Maria...", não queria pensar, queria orar e os pensamentos vinham independentemente de minha vontade.
Factos acontecidos comigo invadiam minha memória, recordava minha infância, ainda estava nela, ia completar doze anos no mês vindouro.

Sempre pensei que não tinha muito o que contar de minha vida e agora lembrava tantos factos, acontecimentos, e com tantos detalhes que pensara ter esquecido; recordava-os como se os vivesse.

A fisionomia de minha avó enchia-me a mente, amava-a muito.
Chamava-se Margarida, era minha avó materna, fora ela a pessoa que mais carinho e amor me dera.
Morei com ela até meus oito anos, foi ela quem me criou, ensinou-me a orar.

Era tão boa, tão meiga e tão querida por todos que a conheciam.
Enquanto morei com ela fui muito feliz, raramente ia à casa dos meus pais e só recebíamos visitas da mamãe e das minhas irmãs.
Minhas irmãzinhas! Que vontade de vê-las!
Era o mais velho, depois vinham Taís e Telma, que moraram sempre com meus pais.

Vovó morreu de repente.
Não entendia bem o que significava morrer, senti que nos separávamos e que minha felicidade acabara.
Fui morar com meus pais.
A fazenda, como era gostosa a fazenda onde passei a minha primeira infância com vovó!

Era o lugar mais lindo do mundo, para mim!
Vovó dizia-me que sempre achamos lindos os lugares onde somos felizes.
Depois da morte de vovó, voltei lá só duas vezes.
Recordava tudo como se acontecimentos de anos antes tivessem acontecido ontem, lembrava-me dos meus brinquedos, das árvores, dos animais, da casa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:22 am

A fazenda ficava perto da cidade onde residiam meus pais e foi vendida depois que vovó se foi.
Fiquei muito triste por ter de deixar a fazenda para ir morar com meus pais;
fui assustado, meu coração saltava no peito.
A casa era grande e boa e a cidade, pequena, onde todos se conheciam.

Meu pai tinha um armazém não longe de casa, perto da igreja.
Mamãe era bonita e delicada, seus olhos grandes e azuis estavam sempre tristes.
Taís e Telma eram uns amores, quietas, delicadas, obedientes.
Morava connosco também Maria, a empregada que chamávamos de Pretinha por ser de cor negra, bem negra mesmo, e miúda.

Gostei dela logo que a vi, era muito amiga de mamãe e ambas trabalhavam muito.
Logo percebi que meu pai não gostava de mim.
Quando ele chegava em casa, Taís e Telma corriam para abraçá-lo e ele mimava-as, pegava-as no colo, ria para elas.

Não ousava me aproximar, ficava olhando, ele não me dirigia a palavra;
ignorava-me, parecia que não gostava nem de me ver.
Comecei a ter medo dele, parecia que o irritava e passou a me xingar, a surrar-me por qualquer motivo e, até mesmo, sem motivo.

Não entendia, não conseguia entender por que ele procedia assim;
mamãe, carinhosamente, tentava explicar-me:
"Raul, seu pai está cansado.
Manuel trabalha muito.
Evite vê-lo, ele fica tão pouco em casa.
Quando ele estiver, saia você, filho, vá brincar com seus amigos; quando ele sair, volte.
Essa implicância passa, devemos ter paciência, compreendê-lo, e nunca faça nada para chateá-lo".

Fiquei muito triste, mas tratei de obedecer à mamãe, sem fazer perguntas para não deixá-la mais triste ainda.
Às vezes ficava pensando sobre o porquê de ele ficar nervoso só comigo.

Se estava cansado, por que brincava com minhas irmãs e comigo não?
Por que surrava-me tanto, se não lhe desobedecia em nada?
Na verdade era minha mãe quem trabalhava muito, passava o dia todo na cozinha fazendo quitutes para serem vendidos no armazém.

Nunca fui ao armazém, sempre tive vontade de ir, mas meu pai proibira-me.
Passava sempre por perto e via-o à toa a conversar com outros homens e pensava:
"Mamãe diz que ele está cansado, não o vejo fazendo nada, será que ela sabe que ele fica à toa?”

Nunca tive coragem de comentar com ela o que via.
Na fazenda, dormia no quarto com vovó:
como era gostoso desfrutar de sua companhia, receber seu beijo de boa-noite!

Com meus pais, não quis dormir no quarto, sozinho;
queria dormir com minhas irmãs, e meu pai não deixou.
Fui dormir com Pretinha no quartinho perto da cozinha.

Estranhei no começo, porém ela era tão boazinha e logo nos tornamos bons amigos.
Pretinha ficara órfã de mãe bem pequena, e o pai colocou-a para trabalhar como doméstica, morando no emprego.

Antes, morava com minha avó e veio com mamãe, quando ela se casou.
Ela via pouco o pai, tinha irmãos da parte do pai com outra mulher, contara sua história uma vez, depois não tocara mais no assunto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:22 am

Não gostava de falar de sua vida, para ela sua família éramos nós, de quem muito gostava.
Eu tinha muitos amigos, gostava de todos e era muito querido por eles, brincávamos por todos os lados.

Ia à escola de manhã e à tarde fazia minhas lições;
gostava de ajudar mamãe e Pretinha a fazer doces.
E, quando meu pai chegava, saía rápido, indo brincar, ou até ficava em algum canto do quintal esperando que saísse novamente.

Por isso, brincava muito pela redondeza, não importando se estava frio ou chovendo.
Conhecia todos os meninos da vizinhança.
Em casa, tomou-se hábito vigiar as chegadas de meu pai.

Pretinha e minhas irmãs avisavam-me:
"Raul, papai já vem!"
Ele costumava entrar pela porta da frente, e eu saía pelos fundos.

Ia brincar, nadar no rio, pescar, brincar de pião, com bolinhas, corria por toda parte.
Não comentava com ninguém que papai implicava comigo, como mamãe recomendava.
O chato era que ia dormir muito cedo, após o jantar; papai chegava e raramente saía, eu ia para o meu quarto e lá ficava.

Sem ter com quem brincar, ia dormir.
Papai comprava roupas bonitas e brinquedos para Taís e Telma, nunca me dera nada e não deixava mamãe comprar nada para mim.
Não sentia inveja de minhas irmãs, achava merecido elas ganharem presentes, ainda mais que elas deixavam que eu brincasse com eles, só que não achava graça em brinquedos de meninas.

Minhas roupas, eu as ganhava de minha tia, de meu primo mais velho.
Eu não me aborrecia com essas diferenças;
sentia, sim, a falta do amor dele.

As dores estavam fortes, muito fortes, e não passavam.
Tentei orar novamente, queria e não conseguia repetir as que sabia de cor, pensei nas imagens que via sempre na igreja, a de Maria, com expressão de sofrimento, e a de Jesus, coroado de espinhos e todo machucado.

Jesus deve ter sofrido muito, como eu agora.
Mamãe não se mexia, estava demorando demais para acordar: será que morreu?
Apavorado, quis chorar, não consegui, meus olhos estavam secos e as lembranças teimavam em vir.

Aquela pedra!
Observei bem na parede do poço uma pedra com formato quadrado, e lembrei do meu carrinho.

Fora presente de vovó, era de madeira, uma cópia perfeita do carro que os bois puxavam na fazenda.
Tinha muito cuidado com ele, guardava no meu quarto, dentro do armário, tinha-o como lembrança de minha avó.

Um dia, estava chovendo, não vimos papai chegar, voltara mais cedo, estava começando a jantar.
Ao me ver, começou a ralhar comigo, senti muito medo, não sabia o que fazer, se ficava ou se saía da sala.
Ele mandou que olhasse para ele, olhei, e xingou-me mais ainda.

Até que escutei com certo alívio:
"Hoje não come mais! Vá para seu quarto".
Saí quase a correr, fiquei no meu quarto, peguei meu carrinho como se pedisse protecção.
Escutei vozes na cozinha, papai discutia com mamãe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:23 am

"Não devia tratá-lo assim" - disse mamãe.
"Aqui mando eu e faço o que quero.
Se está achando ruim achará mais!"

Entrou no meu quarto empurrando a porta.
Assustado, fiquei olhando sem conseguir mover-me.
Chutou meu carrinho e pisou em cima, depois tirou a cinta e começou a surrar-me.
Gritei. Mamãe e Pretinha acudiram-me e acabaram apanhando também.

Saiu furioso e choramos todos:
mamãe, Pretinha, minhas irmãs e eu.
Mamãe teve que me banhar com sal moura.
Doía-me o corpo todo, mas o que me machucava realmente era ver meu carrinho todo quebrado.

"Por que, mamãe, por quê?"
Ela não respondeu, estava tão triste quanto eu.
Ajudou-me a consertar meu carrinho.
Não ficou como antes, não rodava mais.

Guardei-o então bem escondido e só o pegava quando tinha a certeza de que papai não estaria em casa.
Após esse dia, tomamos mais cuidado, evitava ver meu pai, passando meses sem vê-lo e, quando o fazia, era de longe.

Nos últimos tempos, mamãe estava mais triste e abatida.
Pretinha dissera-me que ela estava sofrendo, Telma a vira chorar e contara que papai havia gritado com ela.
Naquela semana, pareceu-me que ele estava mu dando:
nos últimos dias, estava mais atencioso.

Encontrou-me almoçando, tremi assustado, sem saber se saía ou ficava, só me olhou e disse:
"Coma, menino".

Saiu da cozinha, indo para a sala.
Suspiramos aliviados, acabei de almoçar e saí rápido de casa.
Engraçado que, quando ele se referia a mim, nunca me chamava pelo nome, sempre de "menino" ou "moleque".

Dois dias atrás, trouxe doces, as meninas correram para pegar, já estava saindo da cozinha quando ele me chamou:
"Moleque, venha cá!"
Ficamos todos com medo, tremi assustado, parei e voltei, ele estava entrando na cozinha.
"Tome isto!"

Deu-me doces, o mesmo tanto que dera para as meninas;
fiquei contente, mamãe alegrou-se, esforcei-me e consegui dizer: "Obrigado".
Ontem, quando íamos jantar, Pretinha avisou que ele estava chegando.
Corri para meu quarto, lugar em que ele nunca mais entrara.

Da cozinha, gritou:
"Menino, venha jantar!"
Não saí do lugar, mamãe veio buscar-me e disse:
"Venha, ele está calmo".
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:23 am

Fui com medo, sentamos todos e jantamos.
Não ousei levantar a cabeça e não conversei.
Olhei-o disfarçadamente algumas vezes, pareceu-me tranquilo.
O jantar pareceu-me longo:
quando acabamos, ficamos sentados e eles conversaram.

Até que nos mandou dormir; fui, aliviado.
Hoje pela manhã, papai mandou que Pretinha levasse as meninas ao ensaio do coral da igreja à tarde e ficasse esperando para trazê-las de volta.

Logo que Pretinha e as meninas saíram, estávamos na cozinha, eu fazendo minhas tarefas escolares e mamãe fazendo bolinhos, quando papai entrou de surpresa;
nessa hora não costumava vir para casa.

Ao vê-lo entrar pela porta da cozinha, fiquei quietinho, mas virou-se para mim e indagou:
"Menino, está bem na escola?"
"Estou sim, senhor" -respondi.

"Manuela, estive pensando, acho que já é tempo de acabar com algumas coisas desagradáveis aqui em casa.
Raul não precisará mais sair de casa quando eu chegar, isso traz comentários e não vou surrá-lo mais, vamos procurar viver em paz."

"Manuel!" - exclamou mamãe.
"Quer isso mesmo? Que bom!"
"Vamos começar dando um passeio.
Estou com vontade de andar um pouco pelo campo, está bonito nesta época do ano.
Venha comigo, Manuela."

"Mas, Manuel, vou fritar os bolinhos!"
"Deixe isso para depois.
Está trabalhando muito, o armazém ficará hoje sem seus bolinhos, vamos aproveitar esta tarde bonita para conversar e nos entender.

As meninas só voltam lá pelas dezassete horas.
E venha você também, moleque. Vamos os três.
Feche a casa, Manuela, enquanto vou ao armazém dar ordens para o Oswaldo.
Vá indo na frente com o menino, encontro vocês logo, vão pela estrada da Capoeira."

Papai saiu e mamãe sorriu, feliz.
"Vamos, Raul, vamos passear com seu pai.
Feche a casa para mim, vou arrumar-me, acho que Manuel está mudando, tratou-nos tão bem..."

Logo saímos e fomos para o lado da estrada da Capoeira, que não era longe de casa, era caminho de diversas fazendas para a cidade.
Íamos de mãos dadas.
Mamãe soltara seus cabelos, penteando-os, ficara muito bonita, estava perfumada e risonha.

Recomendou-me:
"Raul, meu filho, preste bem atenção, seja obediente.
Não deve irritar seu pai, fale pouco, fique quietinho, obedeça-lhe em tudo para agradá-lo.

Fique perto de mim, não se distancie, entendeu?
Estou tão contente, tenho fé em Deus e esperança no coração de que nossa vida irá mudar.
Acho que ele me ama, está contente e tranquilo.
Quis passear connosco. Isso é bom, não acha?"
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:23 am

Fomos andando pela estrada, o campo estava florido e a tarde, morna e agradável.
Olhava mais para mamãe, alegre, estava mais bonita ainda e era tão meiga e tão boa!

Papai alcançou-nos, veio apressado olhando para trás, sorriu ao nos ver.
Passou a mão na minha cabeça, querendo ser agradável, mas não estava contente como minha mãe.
Senti medo, não sabia por que, sentia uma ansiedade, como se a qualquer momento ele fosse tirar a cinta e surrar-me.

Continuamos a caminhar.
"Vamos até lá embaixo?" -sugeriu papai.
"Não é longe? As meninas podem voltar" - respondeu mamãe.

Ora, Manuela, elas estão com Pretinha e não de moraremos, estou hoje com vontade de andar.
Não acha agradável andar pelo campo?"
"Está mesmo muito agradável. Vamos."

Foram conversando, papai pareceu-me um tanto estranho, olhava muito para os lados, enquanto mamãe ia feliz com a atenção recebida.
Ela se recordava de sua infância na fazenda, de seus pais, de quando namoravam, da coincidência de nomes.

Saímos da estrada, descemos um pequeno morro.
Eu ia calado, ao lado de mamãe, como ela recomendara, catava pedrinhas e jogava-as.

"Aqui está. O velho poço abandonado" - disse meu pai.
"Não acha perigoso, Manuel, deixar um buraco assim aberto em pleno campo?"
"Foi aberto porque julgaram achar água, como não deu em nada, abandonaram-no.
Venha, vamos vê-lo.

Manuela, você disse a alguém que íamos sair?
Encontrou com alguém no caminho?"
"Não, ninguém."

Muitas e muitas vezes, brincara por ali;
mas, por recomendações, não chegávamos muito perto do poço porque sabíamos que poderíamos cair.
Papai aproximou-se e chamou-nos.

"Venham vê-la.
Curioso, é bonito, não tem perigo, é só ter cuidado."

Aproximamo-nos, mamãe chegou bem perto dele, eu fiquei a uns dois passos dela.
Aí, tudo aconteceu.
Meu pai feriu-nos e jogou-nos ali dentro do poço.

Eu indagava: "Por quê? Por quê?"
Não entendia, não conseguia entender;
pensando nele, não sentia raiva, parecia-me que ele tinha motivos para fazer o que fez.

Nem medo dele tinha mais, não achava ruim o que nos fizera e não sentia nem um pouco de ódio.
Lembrei que, uma vez no catecismo, fiquei bravo com os homens que mataram Jesus, após ouvir a história da crucificação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:23 am

"Ah, se estivesse lá" -exclamei -, "mataria todos eles sem piedade!”
Fechei o punho, ameaçador, e dona Mariana, a catequista, respondeu-me com brandura:
"Raul, Jesus passou por muitos sofrimentos, ingratidões e até traição;
compreendeu a maldade deles, aceitou tudo com muito amor.

Perdoou-lhes e pediu para o Pai perdoar-lhes, deixando-nos o exemplo a ser seguido.
Por que não perdoamos também?
Não devemos ter raiva de ninguém, mas compreender as maldades que nos fazem."

Senti-me mais tonto ainda, estava estranho, as dores suavizavam e um frio invadiu-me.
Pensei nele, lembrei com detalhes o rosto de meu pai, sua expressão ao me segurar;
odiava-me e eu não sabia o porquê.

Tentou matar-nos, ferindo-nos tanto, e eu o perdoava, perdoava de coração.
"Perdoo-lhe, papai" - disse em prece.
"Perdoo-lhe e não vou querer mal ao senhor, não vou!"
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:23 am

O SOCORRO

Pararam as lembranças;
por uns instantes, fiquei como que vazio.
-Venha, querido, dê-me sua mão. .

Pareceu-me ser a voz de minha avó, escutava de um modo estranho, senti como se alguém me protegesse.
Quis obedecer, esforcei-me e ergui a mão com mais facilidade do que pensava poder fazer.
Virei a cabeça, já sem esforço, para cima e a vi.

Vovó estava sorrindo ao meu lado, segurava uma das minhas mãos que estendi e ela estendia-me também sua mão.

Senti-me tonto, com a sensação de que ficara leve de repente e que me erguera do chão, do fundo do poço.
Olhei para baixo, percebi que estava de pé e deitado também ao mesmo tempo.
Vi-me com nitidez, virado, todo sujo de sangue e imóvel.

-Não olhe para baixo, venha para meus braços.

Vi então que com minha avó estavam mais duas pessoas que não conhecia e também não consegui vê-las direito.
Parecia que elas me soltavam de alguma coisa e esta coisa parecia ser eu mesmo, meu corpo.
Olhei com muito amor para vovó, era bom demais tê-la comigo nessa hora em que sofria e necessitava de carinho e protecção.

-Vovó! É a senhora mesmo? - falei com facilidade.
Incrível, não sinto mais dores, a senhora veio ajudar-me?
Não está morta?

-Ninguém acaba no mundo só porque teve seu corpo morto.
Quando amamos, estamos sempre juntos, e eu amo você. Tem medo?
-Não, senhora, nunca iria ter medo da minha avozinha.

-Meu netinho, venha comigo.
-Não posso andar, até à pouco nem me mexia, as dores passaram, mas...
-De agora em diante, não terá mais dores, venha para meus braços.

Fui sem medo, amava demais minha avó, sentira sempre tanta saudade dela.
Senti seus lábios na minha testa num beijo suave, cheio de carinho, como sempre fazia nos tempos em que morava com ela.

Confortado, confiante, fiquei por uns instantes desfrutando a paz que me transmitia.
Lembrei-me então de mamãe, que também carecia de socorro, olhei para baixo e estava mamãe do mesmo modo, como eu também.
Nós dois, imóveis, quietos, machucados.

-Sou dois agora, vovó? - indaguei assustado.
-Não, Raul, você é um só.
Você é este que sente, que conversa comigo, que está nos meus braços.
O outro que está imóvel é só seu corpo.

Não se assuste, meu neto, uma nova vida começa para você.
Não quer ficar comigo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:24 am

-Sim, quero, o que mais quero é morar com a senhora novamente.
-Sabe que morri para o mundo físico, material, moro em outro lugar agora?
-Não faz mal, se eu morri, quero estar com a senhora.
-Vou carregá-lo, vamos sair do poço.

-E mamãe? Vem connosco?
A senhora e seus amigos vão tirá-la do poço?
-Raul, sua mãe virá mais tarde, não se preocupe com ela.

Não me preocupei, sempre confiei em vovó, senti-me bem, acomodei-me nos seus braços carinhosos e um suave sono invadiu-me; ainda tentei abrir os olhos, não consegui, adormeci.
Acordei bem disposto, espreguicei, sentindo-me muito bem, depois olhei para os lados procurando por Pretinha.

Pensei estar acordando no meu quarto, mas era um quarto grande com várias camas, lugar claro, agradável.
Respirei fundo, senti-me leve e disposto.
Olhei pelo quarto todo, não conhecia aquele lugar, olhei me, não estava com minhas roupas e sim com uma de dormir, limpa e perfumada.

Apalpei-me, estava como sempre, sem nenhum machucado.
Lembrei-me do poço, dos acontecimentos, de mamãe, senti medo.
Quis gritar, mas não o fiz, encolhi-me a cama, cobrindo-me todo com o lençol.

Acabei por conseguir dizer:
"Valha-me, Deus! Será que é sonho, eu sonhei?"
-Como está meu homenzinho? Dormiu bem?

Descobri só um pouquinho o lençol, o tanto que deu para ver a dona da voz, olhei-a curioso.

Era uma moça muito bonita, risonha e alegre.
Senti-me mais tranquilo, ela pareceu-me boa.
Sorriu para mim e sentou-se na minha cama.

-Não fique assustado, sou sua amiga. Como se sente?
-Eu? Bem, não sei. Poderia dizer-me se sonho?
-Claro que não, veja, vou beliscá-lo.

Apertou minha bochecha direita, riu alto e acabei por descobrir-me, soltei mais meu corpo e sorri também.

-Raul, meu querido! - Escutei a voz de vovó que chegava.
-Vovó, avozinha!
Abraçamo-nos, beijamo-nos.
-Raul, meu neto, estaremos sempre juntos agora.

O medo passou, sentei-me na cama, passei meus braços em torno do corpo dela como se a segurasse para sempre junto a mim.
A moça, minha nova amiga, fez um adeusinho com a mão e saiu, deixando-nos sozinhos.

-Estamos no céu, vovó? Mora aqui?
Que é dos amigos?
Conhece o anjo Gabriel?
Gostaria de vê-lo, acho-o tão lindo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:24 am

Vovó sorriu.
-Saberá de tudo aos poucos, meu neto.
O céu como pensa não existe, aqui é uma das moradas espirituais, linda e acolhedora.
Anjos são espíritos bons que trabalham em ajuda a todos.
Mas como se sente?

Pulei da cama, sentia-me muito feliz com a presença de vovó.
Não senti medo ou receio, a nova forma de vida estava encantando-me, ainda mais sabendo que agora ficaria com vovó Margarida.
Mas lembrei-me de mamãe, se estava viva no corpo, deveria estar machucada, ou, se estava morta, deveria estar também ali.

-Vovó, e mamãe?
Não está aqui?
-Aqui, Raul, é morada dos mortos da matéria.
-Morri mesmo? Nem acredito.
Tinha impressão de que a morte era complicada.

-A morte do corpo é um fenómeno simples que acontece a todos nós.
Sim, seu corpo morreu.
-Mamãe não morreu?
Foi mais ferida, caiu primeiro.
Ainda está lá? Está sozinha?

Vovó entristeceu-se por uns instantes, voltando a sorrir em seguida.

- Ninguém está sozinho, estarei sempre que possível com minha filha, não se aflija, por favor.
Deus é bom demais, Manuela ficará boa.
- Eles a acharam?
Deve ser noite, está escuro.

- Claro que a acharam, não deve se preocupar com isso, agora.
O importante é você estar bem.
- E vovô? A senhora dizia que quando morresse queria ficar com ele!
- Aqui não é bem como pensava que fosse.
Não ficamos todos no mesmo lugar.
Há muita justiça e uns, como seu avô, necessitam ficar em outros lugares para compreender e se arrepender dos erros cometidos.

Lembrei que vovô, nas conversas que eu escutara, fora mandão e genioso:
- Está no inferno? -indaguei ressabiado.
- Não, Raul, o inferno eterno não existe, mas há lugares feios e tristes onde ficam os imprudentes, por certos períodos, até se arrependerem.
Compreenderá aos poucos.

- Vovó - acenei para que se aproximasse e disse-lhe, baixinho:
- Sabe quem nos jogou no poço?
Foi meu pai, foi ele mesmo.

- Vamos esquecer isso também, por enquanto.
- Não tenho raiva dele, já o perdoei, como ensinou Jesus no Pai-Nosso.
- Raul, orgulho-me de você, procede do modo mais certo:
quem perdoa limpa-se e torna-se leve;
foi por isso que pôde vir para cá e estar comigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 01, 2014 10:24 am

Mudamos de assunto, começamos a falar do tempo em que vivíamos juntos, de factos interessantes.
Senti-me tão feliz ao lado dela que não pensei mais nos aconteci mentos tristes.
Vovó acomodou-me no leito, orou comigo, agradecendo por estarmos juntos.
Beijou-me, senti sono, dormi tranquilo.

Devo ter dormido muito, porque acordei com vovó me chamando:
- Raul!
Acordei, pulei nos braços dela, beijando-a.
-Está muito bem, menino.
Vou levá-lo para minha casa.
-Não mora aqui, vovó?

-Aqui é um hospital, onde ficou uns dias se recuperando.
A vida continua e não é só dormir.
Conhecerá minhas amigas que moram comigo.
Venha, mostrarei a colónia a você.

Vovó ajudou-me, mas eu sentia que mamãe chorava por mim.
Estranho, eu sabia que ela me chamava.

Eu disse para minha avó:
-Vovó, é mamãe, sinto que está chorando e que chama por mim!
-Manuela sabe que você morreu, está triste e chora, mas isso passa.
Quando sentir isso, ore e se distraia.
Não deve se preocupar com ela, as mães sempre choram por seus filhos.

-Que bobagem, vovó!
Se mamãe pudesse ver-me não iria chorar por mim.
Não falei mais nada, mas pensei:
"Acharam mamãe e ela sabe por que morri.
Papai deve estar arrependido e tudo ficará bem, lembro que sofremos e choramos quando vovó morreu e agora eu a vejo viva em espírito e estou junto dela".

-Raul -disse vovó -, não deve dizer que morreu, use o termo certo, você desencarnou, isto é, está vivo, sem o corpo carnal.
Ninguém acaba, Raul, vivos sempre estamos, no corpo dizemos que estamos encarnados ou reencarnados; sem o corpo de carne, estamos desencarnados.
-Que interessante!

Saí do quarto e vi que o hospital era grande, limpo e agradável, rodeado por um grande jardim com árvores e muitas flores.
De mãos dadas com vovó, ia olhando tudo, encantado!
Passamos por um portão, chegando a uma rua toda limpinha e arborizada.

- Tudo é tão lindo, vovó, mais parece uma cidade, ruas, casas, que coisa!
Vovó sorriu.
-É uma cidade, Raul, só que no plano espiritual; a vida continua!
-Por que, vovó, os encarnados - sorri ao falar o termo aprendido - não sabem disso?

-Muitos sabem, Raul;
outros preferem complicar algo tão simples e perfeito.
-Como é bom morrer, digo, desencarnar! - Rimos.
Chegamos à frente de uma casa rodeada de um pequeno jardim, cheio de flores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:17 am

-Aqui é meu lar e seu também de agora em diante; venha, entremos.
A casa era limpinha, agradável; as amigas de vovó, quatro senhoras simpáticas e bondosas, receberam-me alegres e logo fiquei à vontade.
-Este é seu quarto, você ficará comigo.

Em pouco tempo, conheci tudo e tomei-me amigo das companheiras de vovó.
Despediram-se de mim, dizendo que iam trabalhar, achei estranho e corri para indagar.

-Vovó, vovó, elas foram trabalhar?
Aqui não se descansa pela eternidade?
Vejo-as felizes, e vão trabalhar?

-Raul, será que pessoas dinâmicas seriam felizes sem fazer nada?
O trabalho é a alavanca do progresso espiritual.
Há muito o que fazer aqui.

Será que você não se cansará de ficar à toa?
Não irá querer saber como é aqui?
Poderá aprender, estudar. Não foi auxiliado?

Ajudamos você a desencarnar, foi atendido no hospital, isso é trabalho, é o que fazemos aqui.
O céu que muitos imaginam na Terra não é o da realidade, não ficamos ociosos pela eternidade.
Desencarnar é como mudar, muda-se a forma de viver.
Somos eternos, a vida continua e não se cresce sem estudo e trabalho.

-A senhora falou que nem todos que desencarnam vêm para cá; podem ir para onde?
-Muitos lugares, lindos e agradáveis como este;
feios e tristes, para os maus.
-Vovó, se papai desencarnar, irá para um lugar feio?

-Não sei, Raul, se não se arrepender, irá.
Mas você não deve se preocupar com isso agora.
-Vovó, se vou morar aqui, quero conhecer, aprender, não gosto de ficar à toa.

-Como me alegro em vê-lo disposto!
Vou levá-lo amanhã a uma escola onde aprenderá com outros jovens o que necessita saber.
-Escola?!
-Não é só porque desencarnou que se tornará sábio e saberá de tudo.
Para saber é necessário aprender e estudar.
Agrupam-nos em escolas, em salas de aula.

Quem sabe ensina para os que querem aprender.
A escola para onde irá é para crianças e jovens, tendo também adultos, é grande e espaçosa.
Fará muitos amigos, jovens como você;
lá passará o dia todo e só virá encontrar-se comigo à noite.

-Não ficaremos o tempo todo juntos?
-Raul, estaremos juntos, mas não o tempo todo.
Você estudará e eu tenho minhas tarefas, meu trabalho.
Não posso ir à escola com você, nem você comigo ao meu trabalho.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:18 am

Cada um de nós tem uma ocupação e não podemos estar o tempo todo juntos.
Isso acontece com os encarnados também; a vida continua.

Aguardei ansioso o dia seguinte e logo cedo fui conhecer a escola com vovó.
Andamos pelas avenidas, onde as pessoas nos cumprimentavam contentes.
Vi um senhor de mãos dadas com um garoto que, como eu, olhava tudo, encantado.

Pareceu-me ser o pai dele, e lembrei-me do meu.
-Vovó, é melhor não dizer a ninguém o motivo de meu desencarne.
Não quero que meu pai venha a ser preso e depois me envergonhar.

-Raul, os acontecimentos aqui não são iguais aos da Terra.
Não podemos esconder os factos e não tem por que se envergonhar, verá isso com o passar do tempo.
Creio que ninguém o interrogará e não precisa contar, se não quiser.
Quanto a ser preso, está entre desencarnados que não efectuam prisões.

-Vovó, sinto que meu pai teve motivos para fazer o que fez, só que não o entendo, eu esforcei-me por gostar dele.
Às vezes, sentia que ele também, só que não conseguia.
Qual o motivo do ódio dele, vovó?
A senhora sabe?
Se há motivos, gostaria de conhecê-los.

-Raul, o progresso exige mudanças, transformações, nosso modo de viver não é eterno, como nós.
Estamos sempre mudando, ora vivemos revestidos do corpo carnal, encarnados, ora estamos aqui, no plano espiritual, desencarnados.
Vivemos muitas vezes na Terra, renovando os corpos.

-Que legal! Já fui outras pessoas?
-Não, querido, você é sempre o mesmo;
já teve, sim, outros corpos, consequentemente, outros nomes, viveu em muitos lugares, teve acertos, erros, aprendendo e crescendo espiritualmente.

-Erros. Vovó, é isso, sinto que errei muito e minha morte, quer dizer, meu desencarne violento se deu em razão de meus erros do passado.
-Sofremos, Raul, o que fizemos outros sofrerem.
-Parece que sei disso, a senhora fala e parece que recordo.
É estranho, sinto que tive realmente outras existências, e junto com meu pai. É possível?

-Sim, Raul, é possível.
Laços de amizade ou de ódio são fortes.
E a Justiça Divina sempre coloca juntos nas encarnações os que se odeiam para pôr fim a esse sentimento inferior.
-Da minha parte, acabou;
gosto do meu pai, amo mamãe.
Se meu pai nos odeia, coitado dele...
-Sim, é verdade, quem odeia é digno de dó.

Chegamos ao Educandário, assim era chamada a escola de jovens e crianças.
O prédio, muito grande, era rodeado de jardins floridos e parques com brinquedos espalhados.

-Como é grande! Como é maravilhoso! - exclamei, admirado.
-Este lugar, Raul, é local de estudo e também morada para aqueles que não têm parentes aqui.
Do lado direito estão as classes dos jovens e do outro lado, as das crianças.
Há muitos professores e todos vivem felizes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:18 am

Após atravessarmos o portão, entramos na recepção, onde fomos atendidos por uma senhora simpática, que abraçou vovó e depois a mim.

-Veio acompanhar o netinho, Margarida?
Que mocinho lindo! Como está?
-Bem, obrigado -disse, um tanto encabulado.
-Gostará daqui, Raul, conhecerá hoje toda a escola, levarei você à classe que frequentará.

A escola, ou melhor, o Educandário, muito limpo, pintadinho e cheio de plantas floridas, encantou-me.
A senhora que nos recebeu deu algumas explicações à vovó.

-Margarida, Raul estudará em classe especial.
São vinte meninos da mesma faixa etária que tiveram desencarne in comum.
São espíritos inteligentes e com conhecimentos anteriores.

Terá só um professor nesse período, é o professor Eugénio, dedicado e amigo, mestre de quem seu neto muito gostará.
Aqui é a Direcção, venham conhecê-la.
São muitas pessoas que aqui trabalham visando ao bem de todos os nossos jovens e crianças.
Olhava tudo, maravilhado, nunca vira lugares tão lindos e grandes.

A nossa cicerone continuou:
-Aqui ficam as moradias, masculinas e femininas, o pátio, a ala das crianças, que são repartidas por idades, ali está o berçário.
Vi crianças de todos os jeitos e muitas brincavam felizes pelos parques.

-Terá tempo, Raul, para conhecer tudo.
Venham, nesta parte estão as salas de aula; aqui está a sua.
- Devo ir agora, Raul - disse vovó, beijando-me na testa.

Nossa condutora bateu na porta e um senhor agradável, risonho, abriu-a e deu-me um abraço.
-Você é Raul?
Esperávamo-lo, venha conhecer seus colegas.

Despedi-me com um aceno de mão da senhora que me acompanhou.
Fiquei encabulado, mas o professor não me deixou sentir receio;
tomou-me pela mão e observou-me de modo agradável.

Corri o olhar pela classe, grande, confortável, limpa e bonita.
Meus novos colegas eram só meninos de onze a quatorze anos, olharam-me sorrindo, dando-me boas-vindas.

- Este é Raul, recém-chegado do lar terrestre - disse o professor.
- Este é...
Foi dizendo o nome de todos, um por um.
-Não se preocupe, Raul, logo saberá o nome de todos.
Sou o único professor de vocês, irá estudar gramática, matemática, matérias de conhecimentos gerais, como também moral cristã e o Evangelho.
Sente-se aqui; depois, se quiser, troque e sente-se onde achar melhor, porém não incomode ninguém.
Continuemos nossa aula.

Meu coração bateu forte, observei tudo, curioso e maravilhado.
Os meninos, interessados, prestavam atenção, senti que eram amigos e gostei do meu novo mestre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:18 am

-Estamos falando, Raul, da imensa Bondade e Sabedoria de Deus, nosso Pai, que nos dá sempre oportunidades a cada reencarnação de melhorarmos e progredirmos.
"Nem todos os encarnados crêem na reencarnação.
São muitas as formas de crença.
Porque para os ateus, que não crêem em nada, o mundo surgiu ao acaso, como nós também surgimos.

Não sabem explicar como tudo surgiu, têm muitas teorias;
não crêem em Deus, mas no acaso.
E, dentro desse acaso, há formas complicadas, chegando a um ponto em que não têm mais explicações.
Para outros crentes, a maioria, Deus criou tudo e a nós também, só que acreditam que somos criados na concepção, juntamente com o corpo, tendo uma só existência.

Fazem de Deus um carrasco, porque as diferenças ficam para o acaso: sorte ou azar.
Uns são perfeitos, ricos, inteligentes; outros, defeituosos, débeis.
Temos as oportunidades de renascer no corpo muitas vezes.
O Pai nos criou iguais, somos nós que fazemos as diferenças.

Criou-nos livres, temos o livre-arbítrio de plantar e, obrigatoriamente, temos de colher o que se plantou.
Assim, as diferenças são explicadas pelas reencarnações e pela Lei de Causa e Efeito."

- Professor Eugénio - disse um dos meus colegas -, o desencarne precoce, ou seja, a morte do corpo, quando este é jovem, é uma colheita?
- Mário, nem sempre, não há regra geral na espiritualidade sobre esse assunto.
A reencarnação é necessária ao nosso crescimento espiritual, estar revestido do corpo carnal não é fácil.
Para uns espíritos é necessário passar pouco tempo encarnado para seguir às esferas superiores.

Podemos comparar a Terra a uma prisão e a pena de cada um é diferente;
uns têm algum tempo; outros, muito tempo, findando, partem para sua libertação.
Para outros, o desencarne no corpo jovem é aprendizado, colheita.

- Para mim foi uma colheita -disse Mário.
Achei ludo interessante!
O professor respondia às indagações com paciência e dedicação.

Pensei:
"Vou gostar mais desta escola que da outra que cursava como encarnado".

O professor continuou:
- Para a maioria, é aprendizado, Mário.
Estão aqui reunidos vocês que deixaram corpos de carne como jovens, mas que são espíritos adultos e de muitas existências, com erros e propósitos de acertos, tanto que todos têm histórias interessantes vividas e uma encarnação de colheitas de outras existências.
Olhei-o um tanto desconfiado e pensei:
"Tomara que não saibam que meu pai matou meu corpo!"

O professor, entretanto, pareceu nem notar minha preocupação e continuou a aula falando da beleza da reencarnação, das oportunidades que cada um tem de reparar seus erros e aprender a amar a todos como uma grande família.
Quando terminou a aula, os meninos ficaram conversando e, para meu alívio, ninguém me perguntou como desencarnei.

- Ei, Raul, conhece a biblioteca?
Não? Venha connosco, poderá pegar os livros que quiser, todos nós estamos adquirindo o hábito de ler.
Tem uma quantidade enorme de livros aqui.
A biblioteca fica na ala das salas de aula, é grande, espaçosa, com muitas estantes, todas cheias de livros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:18 am

- Já leu este? - indagou Tião.
Leia, que gostará.
É a história de Jesus para jovens. É lindo!

Pelo corredor, vi que outras salas tinham professores diferentes, e Tião explicou-me:
- Somos orientados aqui conforme nossas necessidades.
As salas de aula são agrupadas de acordo com as necessidades básicas de cada um.

No pátio despedimo-nos, a maioria seguiu para os alojamentos e outros seguiram para o portão.

Vovó esperava-me.
- Então, Raul, gostou?
- Muito, vovó, gostei demais.

- Vim buscá-lo somente hoje.
Tenho muito o que fazer, você é esperto, virá sozinho amanhã.
- Virei, sim, vovó, não quero incomodá-la, estou tão bem!

De mãos dadas, senti-me feliz, e estar desencarnado para mim era maravilhoso, eu queria agora aprender e conhecer.
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RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Empty Re: RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:19 am

APRENDENDO

Passei a ficar o dia todo na escola, assistia às aulas, com grande interesse, aprendendo gramática, matemática e outras matérias, como também as que nos davam explicações do plano espiritual. íamos muito à biblioteca, e meu interesse cresceu em relação aos livros, passei a lê-los com gosto.

Conversávamos no pátio e eu ia aos parques brincar com outros meninos.
E quase todos sentiam saudade de seus antigos lares e de seus familiares.
As horas de lazer eram agradáveis e eu me sentia sempre feliz.

Amávamos o professor Eugénio, que para tudo e todos tinha uma resposta delicada e sábia.
Aprendi com facilidade, como se recordasse; uma das partes de que mais gostava era quando um dos colegas contava factos ou mesmo a história de sua vida.

E, aos poucos, fui percebendo que não tinha do que me envergonhar e esconder sobre meu desencarne.
Cada um de nós naquela classe tinha uma história incomum, consequências de erros de outras experiências.

Naquele dia, escutara Marcílio, que contara, comovido:
-Desencarnei assassinado.
Vou narrar a vocês a história de minha vida.

Meu pai desencarnou, deixando minha irmãzinha e eu bem pequenos.
Logo após, minha mãe casou-se novamente.
Meu padrasto nunca nos aceitou, minha irmã e eu passamos por momentos difíceis, mas fomos vivendo.

Nasceram mais quatro irmãos.
Morávamos num sítio, estava com onze anos, havia nesta época um potro bravo que ninguém conseguia montar.

Naquele dia, estava a sós com meu padrasto no curral, vi-o laçar o potro e me desafiar:
"'Monte neste cavalo, menino.'
"'Eu não, ele é bravo!'
"'Tem medo?
É covarde como seu pai.'

"Enfureci-me, mas nada respondi, aí ele me pegou e me jogou em cima do potro, que saiu pulando como doido.
Ainda o escutei rir, fiquei apavorado, tentei me segurar, não consegui e caí.
Senti ser pisoteado pelo potro, nada mais vi ou senti, acordei e soube que desencarnara.
Aqui me senti feliz, o tempo foi passando e tudo parecia normal.

"Mas minha irmãzinha, um ano mais nova que eu, enfrentando dificuldades, começou a pedir-me socorro, chamando-me para ajudá-la.
Como isso é normal por aqui, estamos sempre escutando dos meninos os comentários que sentem, os pais chamarem de saudade ou por não se conformarem com seus desencarnes."

-É verdade, Marcílio - interferiu o professor Eugénio.
Tantos, por não entenderem o que seja a morte do corpo, desesperam-se diante do desencarne de um filho, neto, choram e chamam por eles, deixando-os intranquilos e tristes aqui.
-Que devemos fazer diante desses problemas, professor? - indagou Lúcio.

-Orar, Lúcio, orar por eles, distrair-se e até pedir auxílio dos professores e orientadores, tomar passes e tentar se equilibrar nos momentos difíceis.
O tempo ajuda os entes queridos acabam tendo de enfrentar os problemas da vida, e o desespero dos primeiros tempos passa.

- Mas - continuou Marcílio - não era esse o meu caso.
Só minha mãe e minha irmã sentiram meu desencarne, mas logo esqueceram.
Todos acreditaram na história que meu padrasto contou, que eu dissera que iria montar no potro e que ia parar em cima dele, que ele ralhara comigo, proibindo, e que eu insistia, dizendo que ia ser um peão famoso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:19 am

Quando ele me deixou no curral, ao escutar gritos, voltou depressa e encontrou-me no chão, já morto.
Mas minha irmã chamava por mim em aflição, inquietei-me e contei ao professor;
ele bondosamente propôs ajudar-me e fomos visitar meu antigo lar e saber o que ocorria com minha irmã.

Tudo me pareceu do mesmo modo, mamãe com muito trabalho, preocupada com os filhos pequenos, e meu padrasto, como sempre.
Olhei-o e senti dó, se minha desencarnação fora colheita, ele plantou e sua colheita viria.
Leninha estava nervosa e com medo, o professor auscultou-a e soubemos que ela temia meu padrasto, que já tentara violentá-la e a queria como amante.

Chorei ao saber disso, mas o professor Eugénio lembrou-me de que o momento exigia confiança e eu deveria estar tranquilo para ajudá-la.

Não sabia o que fazer, orei com fé, pedi a Jesus que protegesse Leninha.
Mas, se não sabia como socorrê-la, o professor, sabia.
Vendo que meu padrasto tinha uma úlcera no estômago, colocou algumas gotas de um medicamento que trouxera na água que ele tomou, fazendo com que doesse.

Com dores, teve de ficar acamado e não sentiu disposição para fazer o que planeara.
"Vamos agora, Marcílio" - disse o professor -, "ver quem poderá ajudar Leninha".

Visitamos meus poucos parentes, inclusive uma tia, irmã de meu pai, que enviuvara recentemente e estava morando sozinha.
O professor Eugénio, pacientemente, fez com que ela se lembrasse de Leninha para sua companhia.
Minha tia gostou da lembrança e achou que foi Deus que a ajudou.

Foi no outro dia à casa de minha mãe.
Assim, pediu a minha mãe para Leninha morar com ela;
minha mãe hesitou, o professor interferiu e ela deixou.

O professor ajudou-me a resolver o problema de Leninha, que está feliz com minha tia e não me chamou mais.
Hoje, conto tudo para agradecer ao professor pela ajuda que deu a mim e a minha irmã.

O professor sorriu e iniciou uma outra aula.
Achei fantástico Marcílio ter voltado à sua casa e ter ajudado sua irmã, e pela primeira vez deu-me vontade de rever minha casa, sentia saudade de Pretinha, de Taís, de Telma, dos amigos e muita, muita saudade de mamãe.
Voltei para casa pensando nela. Como estaria?

Quando vovó me viu, foi logo dizendo:
-Que o preocupa, Raul?
-Minha mãe, estou pensando nela.
Como estará ela?
A queda foi forte e ela foi ferida com a faca. Estará bem?

Difícil pensar que está encarnada.
Sinto, vovó, ela chamar-me, parece que está chorando e que diz:
"Raul, Raul, onde está você?”

Faço o que o professor recomenda, oro por ela, procuro distrair-me.
Acho que ela está sofrendo, vovó.
Por favor, se a senhora sabe, diga-me como está ela.

- Raul, nestes poucos meses aqui, já aprendeu muito.
Toma consciência da vida espiritual, desencarnou tendo o corpo de um menino, quase adolescente.
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RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Empty Re: RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:19 am

Entretanto, seu espírito é adulto e aceitou bem a desencarnação.
Você, Raul, foi um privilegiado, viu seu desencarne, isso é raro;
viu, sentiu, por não ficar com medo, porque estava tranquilo, sem raiva, sem fluidos negativos.

Tantas pessoas de conhecimento querem ver seu desencarne e não o conseguem, perturbam-se com pequenas coisas, acontecimentos, com alguns erros, apegados à matéria.
Até se libertarem desses sentimentos, passam pela desencarnação quase sempre dormindo e não a vêem.

Você viu ser desligado, seu desencarne, aceitou, adaptou-se fácil e está feliz.
Isso não ocorre com todos, não ocorreu com sua mãe.
Minha filha Manuela desencarnou antes de você.

-Desencarnou? Por que não a vi?
Não a vejo? Não está aqui?
-O desencarne pode ser de muitos modos. Não é igual para todos.
Tudo é muito justo, temos que receber o que fizermos por merecer.

"Poucos encarnados pensam na morte do corpo, vivem nas facilidades e errando.
Entretanto a religião ensina-nos o bem.
Todas as religiões, Raul, pregam a necessidade de sermos bons, para que evitemos as más acções, e sobretudo perdoar, perdoar sempre.

As religiões cristãs dão-nos grandes exemplos nos Evangelhos, na vida de Jesus, que perdoou na cruz aos que lhe quiseram mal.
Esses ensinos maravilhosos são muito esquecidos e os orgulhosos se ofendem muito com as más acções que recebem, e não perdoam.

O rancor, o ódio, são pesos que os seguram na Terra;
não perdoando, não podem vir para cá. Manuela não perdoou.
Ao cair, seu corpo morreu, seu espírito ficou junto ao corpo, não como aconteceu com você.

Seu corpo ficou horas vivo, quando acordou do desmaio, tomou consciência de tudo.
Manuela, não; dormiu para acordar mais tarde."

-Perguntei à senhora se haviam nos achado, e disse que sim. Como foi?
-Quando desapareceram, houve buscas, dois dias depois os encontraram e os enterraram.
Manuela, ao acordar, achou que estava ferida.
Viu seu corpo e entendeu que você morrera, porém ela não.

Quando os tiraram do poço, conseguimos tirá-la de seu corpo.
Ficou confusa. Para ela, está encarnada e chora por você que morreu.
Não menti a você, dormiu por dias no hospital.

Quando lhe respondia, já haviam tirado vocês do poço.
Você achou que Manuela estava encarnada, deixei que pensasse assim para não preocupá-lo e para que pudesse se adaptar bem aqui.

Não consegui falar mais, senti-me triste e chorei.
Vovó abraçou-me, consolando-me, percebi que também sofria e estava preocupada com mamãe, que era sua filha e a quem amava muito.
Esforcei-me, parei de chorar, beijei vovó.

-Vovó, eu estava tão feliz.
Agora como continuar sendo?
Sabendo que mamãe sofre, não conseguirei ser alegre.
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RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Empty Re: RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:19 am

-Raul, estar aqui é uma graça que devemos agradecer sempre.
Estar aqui não é um privilégio, é merecimento.
Se você não tivesse perdoado a seu pai, se não tivesse sido bom, não estaria aqui.

A Lei do Universo é que semelhantes se atraem, somos levados após a morte do corpo para onde fizermos por merecer.
Manuela conhece a lei do perdão, conhece o Evangelho, a vida do Mestre Jesus, entretanto, não segue seus ensinos, recusa-se a seguir os bons exemplos.

Não pode ser socorrida, não aceitou o socorro, não quis perdoar e não pude trazê-la.
Todos nós que estamos aqui, Raul, temos entes queridos que nos preocupam, a vida continua.
Aqui estudamos, trabalhamos, continuamos a educar-nos, porém não perdemos a individualidade, a consciência de nossa última encarnação.

Não deixamos de amar e nos preocupar com nossos entes queridos.
Sua preocupação é normal, ama sua mãe;
entretanto, não deve se entristecer, porque tristeza nada resolve.

Vibre com carinho, ore por ela, mande-lhe pensamentos de optimismo, que conseguiremos ajudá-la.
Sempre que posso vou até ela, procurando fazer com que compreenda e perdoe."

-Como está ela, vovó? Seu aspecto?
Eu desencarnei, deixei o corpo machucado e fiquei sadio. E ela?
-Manuela está como desencarnou.
Sente dores nos ferimentos, está suja e com o ferimento da faca a sangrar.
Seu perispírito machucou-se com a carne por não ter perdoado, por não querer ser humilde.

Ela vaga pela redondeza, repete sem parar que quer se vingar, que odeia o esposo por tentar matá-la e por ter matado você.

Não quer nem pensar em perdoar.
Para perdoar temos de ser humildes; orgulhosa, acha que foi muito ofendida.
Está ferida pelo reflexo da morte do corpo, que lhe foi muito forte.
Isso é comum, muitos desencarnam assim, ou por culpa pelos muitos defeitos, sofrem anos e anos, só sendo socorridos quando clamam por socorro e reconhecem seus erros.

Nesse sofrimento pedem a morte, sem saber que já têm essa graça.
Socorridos, têm necessidade de fazer um tratamento para refazer seu perispírito nos núcleos de socorro, nos hospitais daqui.

-Vovó, quando a senhora vai até mamãe, ela a vê?
-Não, Raul, Manuela não me vê, está obcecada pela ideia de vingança, não vê mais nada.
Sua vibração é baixa e inferior pelo ódio que sente;
julgando-se encarnada e sabendo que desencarnei, terá medo de me ver.
Raul, para sermos felizes, basta-nos tão pouco e, como depende de nós, às vezes basta perdoar com sinceridade e pedir perdão.

-Vovó, a senhora foi ajudar-nos.
A senhora sabia antes, ou ficou sabendo na hora em que caímos?
Aqui a gente sabe das coisas que vão acontecer?

-Não nos tomamos adivinhos, Raul.
Do futuro só podemos entender os resultados;
vendo as acções, sabemos das reacções.
Não sabemos o que vai acontecer, mas sabemos das intenções.
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RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Empty Re: RECONCILIAÇÃO - António Carlos / Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 02, 2014 10:19 am

Sabia pelos pensamentos do seu pai o que ele planeava;
ficou dias pensando como fazê-lo.
Tentei, de todos os modos possíveis ao meu alcance, mudar seus pensamentos.
Temos o nosso livre-arbítrio e não podemos interferir na liberdade do próximo.

No passeio, tentei ajudá-los, fazendo com que outras pessoas os vissem, fossem com vocês;
não consegui, só você desconfiou, mas Inocente como era, não entendeu as atitudes de seu pai.
"Acompanhei sua agonia e, graças a Deus, pude retirá-lo do corpo logo que este morreu."

-Foi corajosa, vovó.
A senhora dizia que queria desencarnar para ter sossego, para não saber dos muitos problemas dos filhos e netos.
Aqui se preocupa com todos nós, sabe de todos os problemas e dificuldades, vê vovô sofrendo, mamãe neste estado e está sempre alegre a sorrir. Admiro-a!

-Raul, aqui aprendi a confiar, sei com certeza que nenhum estado é eterno;
ora estamos aqui desencarnados, ora revestidos da carne, encarnados.

As oportunidades de melhorar são para todos.
Sei que chegará um dia em que meu esposo se arrependerá de seus erros, que minha filha perdoará, e que os terei junto de mim, novamente.
Lembre, Raul, que tristezas não ajudam, só atrapalham; devemos ser alegres, alegria é um estado, é um modo de ser que devemos conquistar.

Vovó calou-se.
Necessitando ainda de descanso, despedi-me dela, abraçando-a carinhosamente.

Fui para meu quarto e orei, orei muito por nós e dormi.
A prece sincera nos dá a tranquilidade necessária.
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