LUZ ESPÍRITA
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NA SOMBRA E NA LUZ - VICTOR HUGO / ZILDA GAMA

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:52 pm

"Bendita a dor que nos reabilitou perante o Soberano do Universo!
Abençoadas as lágrimas que borbotaram de nossos olhos, pois foram elas que apagaram as nódoas dos nossos espíritos.

"Sinto que uma alegria inaudita me felicita por ter sabido vencer os maus impulsos da alma, trilhando a fragosa vereda do bem, seguindo as pegadas do meu luminoso Instrutor, e, ao mesmo tempo, as deste que está a consumar frutuosa expiação e ao qual não mais designarei pelo sacrossanto nome de pai, mas pelo de irmão, pois que juntos iremos desempenhar missões de devotamento, de altruísmo, compadecendo-nos de todos os que, como nós, delinquiram, transgrediram as Leis Divinas e sociais.

"Reunamo-nos, agora, caro amigo, aos devotados companheiros que nos aguardam à beira de um leito quase funéreo".

* * *
Aqui termina a narrativa daquele que, no período agitado de uma das nossas romagens terrestres, conheci com o nome de Paulo Devarnier.
Sabeis quanto foram abundantes em infortúnios, em torturas morais e físicas, em santas abnegações, as existências que lhe deram o direito de ingressar numa das mansões venturosas, onde se coligam, para as cruzadas do bem, os servos do Omnipotente, de quem já ele é digno emissário.

Segui-o com o interesse paternal que me infundem todos os entes que formam a coroa de afeições imáculas com que engrinaldamos primeiramente o coração e depois a alma.
Acompanhei-o a urna das moradas terrenas onde se nivelam todas as criaturas, onde se arrasam todas as vanglorias e paixões pecaminosas, porque nelas imperam a dor que a todos irmana indistintamente e o pranto que, não tendo nacionalidade, é idêntico no monarca e no mais humilde habitante das florestas.

Penetrei naquele abrigo da miséria humana com a mesma reverência com que transporia os umbrais de uma necrópole.

Sim, que o hospital é o prólogo, e o cemitério o epílogo da morte.
Paramos, Astral e eu, junto de um dos numerosos leitos alinhados em extensa e ampla enfermaria.
À cabeceira desse leito encontramos uma loura religiosa a indicar ao médico um agonizante, que não mais dava pela presença deles.

Ocupava-o um doente de rosto macilento, emoldurado de cabelos de neve com raros fios de ouro.
Parecia já ter adormecido para sempre, mas o seu tórax ainda ofegava nos últimos estertores.
Às vezes, suas pálpebras tremiam, se abriam e o olhar vítreo do moribundo tentava distinguir alguém, cuja imagem certamente se lhe gravara para sempre no recôndito do coração saudosíssimo.

Ao vê-lo, fui presa de intensa emoção, lembrando-me de que já odiara aquela pobre criatura, quando, em precedente encarnação, se chamava Carlos Kceler e fora o matador de um dilecto amigo.
No momento, porém, em que o avistei pela primeira vez, depois da história de François, já lhe tinha sincera compaixão e um pouco desse infinito amor fraterno que se evola dos Espíritos triunfantes das provas planetárias, semelhante ao lume inextinguível, que se irradia dos astros e se espalha pelo Espaço em raios de ouro, outros tantos esguios e longos viadutos aéreos, lançados de uns aos outros para comunicação de seus habitantes, cordéis fulgurantes que se distendem tanto do âmago das estrelas como de todas as almas em que medrem sentimentos elevados e puros.

Subitamente minha atenção foi atraída por deslumbrantes entidades que pairavam à pouca distância do solo, em torno daquele leito mortuário.
Reconheci nelas - por uma surpreendente faculdade que o Altíssimo outorga aos desencarnados - os Protectores de Delavigne:
Sidérea e Alfen, cuja beleza e cujo donaire sobrelevavam aos de todas as que os cercavam.

Para os encarnados, havia naquele amplo recinto apenas um médico, uma tristonha irmã e enfermos lívidos.
Mas, quem possuísse a visão psíquica, que tudo devassa, tudo desvenda, tudo esquadrinha, que observa os mais ínfimos detalhes de tudo quanto existe neste e noutros planetas - como a possui o autor destas páginas psicograficamente escritas - poderia observar os amigos invisíveis do agonizante, com as mãos entrelaçadas, formando um estema de efeito maravilhoso, simbólico do sentimento que encadeia uns aos outros todos os Espíritos evoluídos, enquanto que à nossa audição apurada chegavam os acordes de uma harpa longínqua, tocada em surdina, acordes que, certamente, transpunham o éter como o luar em noite de plenilúnio, quando límpido o céu.

Ao verem-nos, a fúlgida corrente circular rapidamente se abriu e todos nos estenderam as mãos para que também participássemos dela.
Astral, porém, se ajoelhou à cabeceira do moribundo e na sua fronte se produziu uma irradiação estelar que fendeu o Espaço em demanda do Além: era uma súplica veemente dirigida a Deus na intenção do que se achava in extremis.58

E os nossos pensamentos, unificados com os dele, harmónicos, subiram ao Céu.

58 No último momento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:52 pm

CAPÍTULO IX

Lá estavam, no âmbito daquela enfermaria onde imperava rigoroso silêncio, só de quando em quando quebrado por lancinantes gemidos, duas humanidades que se tocavam, que se sobrepunham:
uma tangível, imponderável a outra.

Numa, os pálidos semblantes exprimiam o desalento, a mágoa;
na outra, a espiritual, se estampavam a tranquilidade, o fulgor da esperança, compaixão pelos grilhetas da carne.

Compenetrado da magnitude daquele momento, o Mentor do piedoso Astral, tendo à sinistra o seu amado discípulo e à direita a pulcra Sidérea, nos chamou a atenção e disse, na linguagem tácita do pensamento, que se propaga de alma a alma e que, para nós os desencarnados, tem vibração melodiosa, timbre cristalino, eloquência perturbadora:
- Irmãos! Volve-se a derradeira página de uma existência planetária fecunda em prantos e em progresso espiritual:
concentremos nossos pensamentos e pelo moribundo façamos sincera e vibrante prece ao Eterno;
modulemos, em nosso íntimo, um cântico triunfal, exprimindo o júbilo que nos ilumina os espíritos por vermos transpor o marco miliário da vida material mais um irmão redimido pelas pugnas da adversidade impavidamente sustentadas, mais um vitorioso nas campanhas contra o mal, mais um herói cujo corpo tomba no sepulcro para que sua alma cinda o Espaço, em busca da mansão onde a iniciaremos no aprendizado das gloriosas missões.

Se algum laureado artista - um Rembrandt, um Murillo, um Leonardo da Vinci ou um Correggio, fulgidos génios que, guardando reminiscências das Artes supremas, realizadas nos orbes rútilos, habitaram a Terra e deixaram da sua trajectória por este planeta um rastro de luz semelhante ao que no Espaço deixam os aerólitos - se algum deles quisesse legar à Humanidade uma obra assombrosa, diluindo, nas tintas em que umedecesse os pincéis, fragmentos de sóis, cintilas de astros, bastaria fixar num painel a cena que presenciávamos em torno e acima de um leito de hospital e da qual nem sequer suspeitava a religiosa que exorava pelo agonizante.

Poderia intitulá-la:
O crepúsculo de uma vida dolorosa - delineando numa tela o que se não descreve em nenhum idioma planetário, uma epopeia muda e sublime, digna de inspirar Chateaubriand ou Alighieri, capaz de desvanecer o pavor que todos sentem pelo momento em que se passa de uma existência de lutas para uma outra mais perfeita, pela hora em que a alma transpõe o pórtico da Eternidade, liberta-se das vestes materiais que a retinham presa às sombras terrestres, para se alar ao firmamento, onde palpitam os corações de luz das estrelas.

Vou tentar, embora a traços incolores, esboçar o quadro que os Invisíveis contemplavam naqueles augustos instantes.

Num leito de alvas cobertas agonizava um ente humano, pálido como jaspe, com os cabelos semelhantes a prata em fios, mesclados ainda de algumas estrigas de ouro, ressumbrando-lhe do semblante contrição e serenidade.
Sustinha, na única mão que possuía, um crucifixo do Redentor, esculpido em marfim, o qual, na posição que tomara, apresentava semelhanças com o perfil do moribundo.

Merencória irmã de caridade, simbolizando o dever, a resignação e a piedade, prosternada, orava pelo enfermo, preludiando um de profundis.
Em torno e por sobre o leito, com as ténues mãos enlaçadas, formando um círculo vívido e encantador, cujo centro era ocupado por aquele ser prestes a desenvencilhar-se da matéria - estavam formosas criaturas intangíveis, umas de deslumbrante alvura, igual à das camélias brancas, cujas pétalas parecem modeladas em flocos de neve;
outras, radiosas como diamantes postos ao sol.

Constituíam todas maravilhosa grinalda feita de flores de névoas ou de lírios de luz.
Compunham rutilante diadema que se movia suavemente, como que a se metamorfosear num bando de pombas alvinitentes, presas por grilhões de fragrantes rosas, que se romperiam a brando impulso das asas, quando houvessem de partir em demanda do céu, para ali se aninharem.

Nimbava-lhes as frontes fulgurante auréola, reflexo de pensamentos que ascendiam ao Criador, enquanto do Além desciam brandamente, em modulações maviosas, os arpejos de uma orquestra de encantados rouxinóis.

Eis, ligeiramente esboçado, o belo quadro que tínhamos diante dos olhos.
Melhor podeis delineá-lo agora no painel mágico da vossa fantasia ou da vossa imaginação.
Quem conseguirá, porém, desenhar com precisão a magnitude do instante em que se opera o desprendimento de uma alma, momento que as religiões têm bosquejado com as mais sombrias tintas, quando deveriam servir-se de outras, feitas de rosas ou das áureas flechas que Febo dardeja, quando, no Oriente, inicia a sua triunfal jornada?

Sim, Átropos não é a ceifadora cruel, sempre de tesoura em punho, ou carrasco que arranca as vidas com a impassibilidade de um Inquisidor-mor, de um inflexível Torquemada.
É antes a exumadora das almas soterradas na argila humana em decomposição, para que se alcandorem no Espaço as que possuam as brilhantes asas que se chamam amor e virtude.

Por que há de a Humanidade execrá-la sempre, pintando-a lugubremente, tomando-a por uma entidade implacável e despótica?
Ó vós que me ledes, se não tendes o espírito obumbrado pelos erros seculares, acostumai-vos a divinizá-la, a lhe prestar homenagem digna de sua austera majestade, porquanto a morte não é na Natureza um ser à parte, gélido, esquálido, empunhando afiado alfange.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:53 pm

É, às vezes, um pai querido, uma extremosa mãe, a falange dos entes adorados que nos precederam no túmulo, assistindo aos derradeiros segundos de uma longa ou fugaz existência, auxiliando o despedaçamento dos elos fluídicos que ligam uma alma à matéria, pondo termo, não raro, a amarguras inauditas, ansiosos por acolherem-na com demonstrações de carinho, por lhe estenderem as mãos tutelares, como o fazem na Terra as mães desveladas que, quando os filhinhos despertam álacremente depois de haverem sonhado em róseo e minúsculo berço, lhes osculam as cetinosas frontes, os erguem nos braços protectores e os levam a sorver as brisas matinais.

Venerai o nome que a simboliza:
é digno do vosso culto!
Aprendei a não a abominar, mas a lhe prestar uma dulia.

Que vos importa a tenham feito tenebrosa e inclemente, pavorosa e funérea as crenças populares e as religiões que também encanecem e desmoronam, qual fortaleza milenária, reduto que parecia inexpugnável bastilha que se eternizava?!

Dia chega em que as derrocam os obuses formidáveis, as metralhas do tempo, mais destruidoras do que as forjadas de aço e cheias de explosivos, e que se chamam:
o progresso do género humano, a evolução anímica, o aperfeiçoamento da alma, que, enfim, desperta de um letargo secular, para executar os ensinamentos sublimes e as verdades remissoras, que fluem do próprio empíreo!

* * *
Delavigne agonizava...
Aguardávamos serenamente os últimos instantes de sua vida terrena, repleta de angústias e reveses, para iniciá-lo nos arcanos siderais.

O luminoso Alfen, depois de nos transmitir as ideias que lhe floresciam na mente, aureolando-lhe a fronte com um sistema rutilante, isolara-se da grinalda que formávamos com as mãos fraternalmente unidas e, elevando o pensamento ao Sempiterno, com a destra alçada para a amplidão celeste e com a eloquência que constitui um dos atributos dos Espíritos redimidos, proferiu estas palavras, que exprimiam vibrante prece:
- Deus, eterno e incomparável soberano, único no ilimitado império do Universo, em comparação com o qual todos os reinos, todas as repúblicas e todos os oceanos terrestres não passam de pugilos de pó e gotas de orvalho:
"Senhor Absoluto, cujo poder eclipsa o de todos os mais opulentos e arquipotentes Cresos e Césares planetários, que são teus súbditos e que por ti serão julgados;
"Possessor de todos os latifúndios do macrocosmo, de todos os astros que gravitam no Espaço, para quem, entretanto, não passa despercebido o voo de um pássaro, a cintilação de uma estrela, uma lágrima de dor ou de arrependimento sincero;

"Artista maravilhoso e almo, que modelaste todos os sóis e lhes deste incomparável e perpétuo fulgor, que os equilibras no Espaço com destreza igual à da criança que sustém nas cetinosas e minúsculas mãos uma esfera de arminho;
"Mago mirífico que, fazendo o globo ocular de diminutas proporções - verdadeiro átomo cristalino, em confronto com as montanhas, os mares, as constelações -, nele ocultaste um tremo encantado, inclusive a via-láctea, o maior portento do zimbório celeste, fenda fosforescente ou ogiva lúcida nele feita e pela qual, enquanto a Humanidade luta, sofre e se redime, tu a fitas paternalmente, velando eternamente todos os seres que criaste e que, em sonhos, muitas vezes ascendem até lá, como falenas esvoaçando sob um dossel de flores;

"Mecânico sublime que, ao influxo de teu pensamento omnipotente e fecundo, fazes bailar miríades de Terpsícores61 siderais, sem que se toquem ou se precipitem uma sobre as outras, girando todas pelo firmamento, ao ritmo da sinfonia do amor por ti regida;
que, por entre elas, fazes correr os loucos e nómades cometas, de longa, desgrenhada e fulva madeixa, os quais, às vezes, iracundos ou escarnecedores, rapidamente espreitam o globo terráqueo, apavorando os povos que os temem, como cotovias de cujos ninhos se aproximasse uma serpe de fogo, sem que, entretanto, nenhum se desvie um milímetro das órbitas que lhes traçaste no Infinito com dourado giz, voejando pelo Espaço, tanto eles como todas as esferas coruscantes, qual legião de lampiros sobre um vergel florido, sem que as asas de um rocem as de outro;

"Autor de todos os prodígios da Natureza, que ocultas nos estojos de Odir e de todos os oceanos róseas e azuladas pérolas, que fazes desabrochar nos valados a olorosa açucena de neve, que povoas os ares com legiões de seres visíveis e invisíveis, os microscópicos protozoários e os formosos voláteis, de plumagem rútila e policroma, privilegiados habitantes do orbe terráqueo, porque podem elevar a matéria muito acima das mais altas serranias, levitar, ao simples impulso da volição, o que os seres humanos só conseguem quando suas almas se desligam do calabouço carnal;

"Ignoto, que te esquivas na tua glória, que te furtas à admiração de teus fulgentes vassalos, que permaneces invisível e impenetrável a quase todas as entidades e que, entretanto, a todas as criaturas guias amorosamente, não deixando que nenhuma se transvie para sempre, dando-lhes, para norteadas ao céu, uma falange adestrada de Instrutores impolutos, carinhosos, que transformam os Espíritos mais sombrios em seres liriais, radiantes como o Sol;

"Magistrado incorruptível, cujas sentenças e arestos, de absoluta justiça e rectidão, ofuscam as de Salomão e quaisquer outras, porque nenhum direito na Terra se pode comparar ao do Sumo Árbitro do Universo, Juiz Supremo, que preside aos destinos de todas as almas e de toda a Criação em um tribunal incrustado de estrelas;

"Pai magnânimo, compassivo para com os seres que criaste, que não deixas nenhum de teus filhos percorrer, no galopar incessante e vertiginoso dos séculos, os mesmos ínvios carreiros; que os fazes, pouco a pouco, mudar de rota, repelir o erro e o mal, acendrar-se no cumprimento dos mais santificantes deveres, tornando-os, de precitos, de grilhetas das iniquidades, justos e bons, balizas de virtude, Valjeans do bem, capazes de voltear pelo Espaço, como pássaros de luz, que se aninham na fronde azul da árvore maravilhosa do cosmos, onde se balouçam como se fossem esmeraldas e rubis expostos aos arrebóis;

"Omnipotente, cujo poder ilimitado, incomensurável, não apresenta a sombra de um só átomo de orgulho, que não te envaideces da tua omnisciência, que baixas o olhar longânimo até ao mais humilde ser, quer ele corte os ares, quer mergulhe na profundidade dos pegos ou na cavidade das furnas, que tudo perquires, por tudo zelas e a tudo proteges, com uma visão como a de Argos, com o seu meio cento de olhos vigilantes, não pode servir de pálido símbolo - escuta a nossa súplica.

"Irmãos! ao Soberano, ao artista, ao mago, ao mecânico, ao Pai, ao ignoto, ao magistrado, ao Omnisciente, ao Incognoscível, alcemos os nossos pensamentos neste magno instante, o derradeiro, no mundo terreno, de um ente redimido que se emancipa do presídio terrestre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:53 pm

Roguemos-lhe por este irmão, que vem para o nosso lado avigorar e aumentar o glorioso exército dos Invisíveis, que combate em todo o Universo, terçando fulgurantes armas na conquista do bem e da perfeição.

"Elevemos-lhe, com verdadeiro fervor, as nossas preces na intenção deste amigo que está desencarnando, para que não seja longa nem intensa a perturbação que quase sempre precede e segue a ruptura dos laços fluídicos pelos quais o espírito se liga ao organismo material após uma existência fértil em dores, em torturas físicas e morais, imprescindíveis à lapidação psíquica e para que nos tornemos aptos a receber dele os dardos luminosos que nos criam formosos ideais, pensamentos altruísticos e puros.

"Ele é o inspirador de tudo quanto é nobre e sublime e só dele emana o bálsamo que unge as almas chagadas nas árduas pugnas do sofrimento, como a deste por quem imprecamos, a fim de que se lhe cicatrizem todas as feridas e ele possa melhor compreender a Justiça Divina, que sentencia de acordo com o delito cometido, nunca ferindo o inocente:
que pune com rectidão as infracções do código celeste e que ordena se abram as masmorras onde os galés expiam revoltantes crimes, logo que esteja cumprida a pena que lhes foi imposta.

"Esquecendo o passado sinistro, Ele então os abençoa, veste-os de luz e lhes dá entrada nas mansões radiosas que, mais abundantes do que os seixos que rolam nas praias, pontilham o domo sideral.

"Entoemos também, neste momento, um hino à morte, àquela que liberta da dor os que cumprem nobremente as suas missões terrenas.
E os irmãos esparsos pelo Infinito, ouvindo os nossos rogos, juntarão, às nossas, suas vozes harmoniosas como os sons das harpas eólias.

"Assim, unificados os pensamentos dos irmãos do Além com os dos que se acham na Terra, nossas invocações subirão rapidamente ao Eterno e esta agonia a que assistimos será suavizada por visões fagueiras, não passará de branda anestesia, de dúlcido sonho, do qual Delavigne despertará ao lado dos entes a quem mais adorou neste planeta, ao lado do filho dilecto, que lhe ensinou a amar o Altíssimo.

Seu espírito de renegado começa a vislumbrar esse ente adorado, como alguém que, depois de contemplar longo tempo o zimbório celeste obscurecido por cúmulos procelosos, os visse vergastados por um rábido aquilão, varridos para além do horizonte por violento ciclone e lograsse enfim admirar resplandecente plenilúnio, até então eclipsado por vagalhões de trevosas nuvens".

Delavigne expirou suavemente...

61 Musa da dança e do canto, representada com uma lira.

FIM

§.§.§- O-canto-da-ave

Caro amigo:
Se você gostou do livro e tem condições de comprá-lo, faça-o, pois assim estarás ajudando diversas instituições de caridade;
que é para onde os direitos autorais desta obra são destinados.


Muita Paz
Que Jesus o abençoe
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