LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - OS MENSAGEIROS

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Série André Luiz - OS MENSAGEIROS - Página 4 Empty Re: Série André Luiz - OS MENSAGEIROS

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:22 pm

Ismália declarou terminadas as nossas actividades da oração e o administrador, após o sinal luminoso, que notificava aos operários o término das obrigações, adiantou-se para nós, exclamando:
— Gratíssimo pelo concurso fraternal.

Realizamos belo serviço intercessório. Desde alguns dias, ninguém se levantava.

Aniceto, percebendo-nos a perplexidade, falou a Vicente e a mim, de maneira significativa:
— Conforme viram, o trabalho da prece é mais importante do que se pode imaginar no círculo dos encarnados.

Não há prece sem resposta.
E a oração, filha do amor, não é apenas súplica;
comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo magnético que conhecemos.

Acresce notar, porém, já que comentamos o assunto, que a rogativa maléfica conta, igualmente, com enorme potencial de influenciação.

Toda vez que o Espírito se coloca nessa atitude mental, estabelece um laço de correspondência entre ele e o Além. Se a oração traduz actividade no bem divino, venha donde vier, encaminhar-se-á para o Além em sentido vertical, buscando as bênçãos da vida superior, cumprindo-nos advertir que os maus respondem aos maus nos planos inferiores, entrelaçando-se mentalmente uns com os outros.

É razoável, porém, destacar que toda prece impessoal dirigida às Forças Supremas do Bem, delas recebe resposta imediata, em nome de Deus.

Sobre os que oram nessas tarefas benditas, fluem, das esferas mais altas, os elementos-força que vitalizam nosso mundo interior, edificando-nos as esperanças divinas, e se exteriorizam, em seguida, contagiados de nosso magnetismo pessoal, no intenso desejo de servir com o Senhor.

E, procurando materializar o pensamento para facilitar-nos a compreensão, acentuou:
— Viram, vocês, cair sobre nós os elementos a que me refiro, e observaram a sua exteriorização com as luzes de cada um de nós, em benefício dos irmãos que dormem e sofrem.

Concedeu-nos o Altíssimo a força de auxiliar, em porções iguais para todos, mas nós a espalhamos de acordo com a nossa possibilidade e coloração individuais.

Ismália, cujos sentimentos são mais amplos e universalistas que os nossos, pôde receber com mais clareza o auxílio divino e distribuí-lo com mais abundância e eficiência.

Temos, aqui, uma profunda lição.
Como já disse, o Pai visita os filhos necessitados, através dos filhos que procuram compreendê-Lo.

Não poderíamos abusar do Senhor, como abusamos no círculo terrestre dos nossos pais humanos.
Não vive Ele ao sabor de nossos caprichos pessoais.

Nunca poderia vir, em pessoa, enxugar o pranto do necessitado que chora, em consequência, aliás, do olvido das Divinas Leis.

Compete ao necessitado caminhar ao reencontro dele.
O Senhor, todavia, atende sempre a todos os homens de boa vontade, por intermédio dos homens bons, que se edificam na casa divina.

Todos os nossos desejos e impulsos razoáveis são atendidos pelas bênçãos paternais do Eterno.
Ainda que nos demoremos nas lágrimas e nas aflições, jamais permanecemos ao desamparo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:22 pm

Apenas devemos salientar que as respostas de Deus vão sendo maiores e mais directas, à medida que se intensifique o nosso merecimento, competindo-nos reconhecer que, para semelhantes respostas, são utilizados todos quantos trazem consigo a luz da bondade, ou já possuem mérito e confiança para auxiliar em nome de Deus.

As explicações de Aniceto abriam-me novos campos de meditação.

O esclarecido instrutor, contudo, não dera por finda a lição e, depois de longa pausa, concluiu:
— Já que vocês se encontram comigo num curso de serviço auxiliador, espero aproveitem o máximo ensinamento desta hora.

Reparem que, nestes pavilhões, temos mil e novecentos e oitenta abrigados que dormem.

Todos recebendo diariamente alimento e medicação comuns mas só quatrocentos são atendidos com alimento e medicação especializados, por se mostrarem mais susceptíveis de justa melhora.

Desses quatrocentos, apenas dois terços se revelaram aptos à recepção de passes magnéticos.

Muitos não podem receber, por enquanto, a água efluviada.
Poucos foram contemplados com o sopro curativo e somente dois se levantaram, ainda assim, profundamente perturbados.

Já que iniciam um trabalho de cooperação fraternal, não esqueçam esta lição.
Façamos todos o bem, sem qualquer ansiedade.

Semeemo-lo sempre e em toda a parte, mas não estacionemos na exigência de resultados.

O lavrador pode espalhar as sementes à vontade e onde quer que esteja, mas precisa reconhecer que a germinação, o crescimento e o resultado pertencem a Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:22 pm

XXVI - Ouvindo servidores

Notei que o trabalho no Posto se desenvolvia em ambiente da mais bela camaradagem, não obstante o respeito natural às noções de hierarquia.

Enquanto palestrávamos animadamente, Ismália recebia senhoras numerosas, em atitude verdadeiramente maternal, embora muitas mostrassem o rosto envelhecido, parecendo avós da esposa do administrador.

Aniceto nos ministrava lições de vulto, extraídas de circunstâncias aparentemente inexpressivas, e Alfredo recebia os colaboradores de todas as condições, não só com espírito de solidariedade, mas também de imenso afecto.


Ria-se carinhosamente ou fornecia pareceres, sem o menor gesto de impaciência ou irritação.
Aquele clima de concórdia fazia-me enorme bem.
Tudo respirava ordem e compreensão, bondade e harmonia.

A atitude paterna do administrador do Posto de Socorro, expressa em energia e amizade, organização e entendimento, atraía-me com força.

Pedi permissão ao nosso orientador para ouvir os esclarecimentos prestados àqueles numerosos cooperadores.

Aproximei-me, impressionado.
Nesse momento, um colaborador de maneiras simpáticas dirigia-lhe a palavra, com grande interesse;
tratava-se de um velhinho de humilde expressão, que lhe falava com mostras de justo respeito.

— E o senhor recebeu as notícias?
— Sim, Alonso — atendia o chefe, sem excitação — nossos mensageiros certificaram-me dos detalhes mínimos.

Sua viúva continua muitíssimo acabrunhada, os filhinhos gozam saúde, mas permanecem na mesma ansiedade por motivo de sua ausência.

O velho, que parecia muito bondoso, esboçou um gesto de confirmação e acrescentou:
— Tenho sentido tanta falta deles!

Nos olhos transparecia a tristeza resignada, de quem deseja alguma coisa, medindo a extensão dos obstáculos.

— Você, porém, Alonso — continuou Alfredo, comovido —, não deve angustiar-se. Sei que está trabalhando agora pelo futuro da família.

Na Terra, na qualidade de pais, conseguimos movimentar muitas providências a favor dos filhos;
entretanto, aqui, podemos realizar certas medidas em benefício deles, com maior segurança.

Nem sempre agimos no mundo com a necessária visão; mas aqui é possível sentir, de mais perto, os interesses imperecíveis daqueles que amamos.

O sentimento elevado é sempre um caminho recto para nossa alma; todavia, não podemos dizer o mesmo, a respeito do sentimentalismo cultivado no círculo da Crosta.

É preciso que você tenha muito cuidado em não desorganizar a mente.
A saudade que fere, impedindo-nos atender à Vontade Divina, não é louvável nem útil.

É enfermidade do coração, precipitando-nos em abismos insondáveis do pensamento.
Alonso deixou de sorrir, mostrou os olhos rasos d’água e falou em voz súplice.

— Reconheço, senhor Alfredo, a oportunidade de suas observações.
Graças a Jesus, venho melhorando minha vida mental, nos deveres novos que me concedeu e, de facto, sinto-me renovado espiritualmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:22 pm

Sei que sua palavra não me advertiria sem razão, mas, ousaria pedir licença para visitar a esposa e os filhos à noite, quando me concentro nas preces habituais, sinto, em torno de mim, os seus pensamentos.

Esses pensamentos me penetram fundo, atraindo-me toda a atenção para a Terra.
Às vezes, consigo repousar um pouco, mas com muita dificuldade.

Sei que a esposa e os filhos estão chamando, dolorosamente, por mim.
Esta certeza me perturba de algum modo.

Não tenho sentido a mesma firmeza para o trabalho diário e desejaria remediar a situação.

Reconheço que minhas obrigações, presentemente, são outras e que devo estar conformado;
no entanto, confesso que minha luta espiritual tem sido bem grande.
Estou certo de que me perdoará a fraqueza.

Que chefe de família não se sentiria atormentado, ouvindo angustiosos apelos do lar, sem meios de atender, como se faz indispensável?

E, revelando o enorme anseio da alma, enxugou os olhos e prosseguiu:
— Quisera rogar aos meus, calma e coragem, esclarecendo que meu coração ainda é frágil e necessita do amparo deles; estimaria pedir-lhes esse auxílio para que eu possa atender as actuais obrigações, sem desfalecimentos.

Quem sabe me concederá, agora, a permissão precisa?
Temos bem perto de nossa casa um grupo de amigos espiritistas;
talvez não me fosse difícil transmitir algumas palavras, breves que fossem, tentando tranquilizar a esposa e os filhos!..

Alfredo, imperturbável, não respondeu negativamente.
Parecia compreender toda a inquietação do servidor simpático e humilde.

Observei-lhe no olhar, muito lúcido, o desejo sincero de atender, e, com extrema simpatia por sua conduta generosa, ouvi-o ponderar:
— Não será impossível satisfazê-lo, meu caro.

Nossos emissários poderão conduzi-lo, nas viagens comuns;
entretanto, creia que, como amigo, ficaria preocupado com você, pela manutenção de sua paz.

Não posso abusar da autoridade e sei que cada um tem a experiência que lhe cabe, mas creio seja de seu vital interesse o fortalecimento do coração.

É imprescindível conformarmo-nos com os desígnios do Eterno.
Você e sua mulher não ficariam separados se não necessitassem de experiências novas.

As dificuldades que ela vem amargando com a sua ausência, sofre-as também você com a separação dela.

Tenho a impressão, Alonso, de que Deus nos deixa sozinhos, por vezes, a fim de refazermos o aprendizado, melhorando o coração.

A soledade, porém, quando aproveitada pela alma, precede o sublime reencontro.

Além disso, você não deve ignorar que os filhos pertencem a Deus, que cada um deles precisa definir responsabilidades e cogitar da própria realização. Por enquanto, vivem chorosos, desalentados.

A revolta lhes visita a alma invigilante. Estabeleceu-se a desordem doméstica, depois da sua vinda.
Entretanto, que fazer senão pedir para eles e para nós a bênção do Eterno?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:23 pm

Precisam eles da conformação com a realidade justa, e você, que já lhes deu o que era razoável, necessita, igualmente, evolver e aperfeiçoar-se na senda nova a que fomos chamados.

Em que ficaria, meu caro, se permitisse a invasão total do sentimentalismo doentio em seus pensamentos?

Tão dedicado é você à família do sangue, que, por agora, não o sinto com bastante preparo a tudo ver no antigo lar, sem sofrer desastrosamente.

Há tempos, autorizei a visita de dois colegas nossos à esfera da Crosta, a fim de reverem as viúvas e abraçarem de novo os filhinhos;
mas foram tão violentamente surpreendidos pela situação, que não puderam voltar aos seus deveres aqui, lá ficando agarrados ao ninho que haviam abandonado.
Não vigiaram o coração, convenientemente.

Ouviram, em demasia, os prantos familiares terrestres, envolveram-se nos pesados fluidos do clima doméstico e, passada a semana de licença, não conseguiram erguer-se para o regresso.

Estavam como pássaros aprisionados pela visão das tentações.
Os encarregados do noticiário particular voltaram ao Posto sem eles, com grande surpresa para mim.

E, francamente, não sei quando poderão reassumir as funções que lhes cabem, o prejuízo de ambos é muito grande.

Depois de pequena pausa, Alfredo rematou:
— Os voos de grande altura pedem asas fortes.

Alonso, que ouvia de olhos arregalados, considerou resignado:
— Desisto do pedido. O senhor tem razão.

O administrador abraçou-o e murmurou:
— Deus ilumine o seu entendimento.

Admiradíssimo, reparei que outros colaboradores se aproximavam, rogando esclarecimentos, pareceres, edificando-me no exemplo do administrador amigo, que respondia em voz firme e afectuosa, demonstrando interesse de irmão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jan 01, 2012 9:23 pm

XXVII - O caluniador

Enquanto o administrador se entregava a conversações educativas com os numerosos subordinados, Aniceto chamou-nos a pequena construção Isolada e falou:
— Vejamos outro ensinamento.

Avançamos na direcção de algumas câmaras separadas.
Nosso Instrutor abriu uma porta e vimos um louco, que parecia fundamente irritado.
Fixou em nós o olhar inexpressivamente e gritou histericamente.

Aniceto, porém, adiantou-se e cumprimentou-o, atencioso:
— Como vai, Paulo?

As palavras, ao que senti, emitiram certo fluxo magnético e o enfermo revelou profunda modificação.
Aquietou-se de súbito.
Sentou-se mais calmo, embora trémulo e espantadiço.

— Tem sentido melhoras, Paulo? — perguntou nosso orientador, bondosamente, tocando-o no ombro.

Ao contacto pessoal de Aniceto, o doente mostrou algum raciocínio e respondeu:
— Vou melhorando, graças...

À vista da expressão reticenciosa, o instrutor falou em tom Firme, como se desejasse auxiliar-lhe a vontade enfraquecida:
— Termine!

O doente fez enorme esforço e concluiu:
G. .r. .a. .ç. . a. .s. .a..D. .e. .u. .s.

Anotando-lhe o sofrimento e a indecisão, lembrei dos enfermos das Câmaras, aos quais prestava Narcisa ampla colaboração afectuosa.

Percebendo--me as íntimas considerações, disse o mentor esclarecido:
— Vêem a diferença entre os que dormem, os que estão loucos e os que sofrem?

Em “Nosso Lar”, não temos dos primeiros, e os que se encontrem desequilibrados, nos serviços da Regeneração, sentem, na maioria, angústias cruéis.

É necessário reconheçamos que os que gemem e sofrem, em qualquer parte, estão melhorando.
Toda lágrima sincera é bendito sintoma de renovação.

Os escarnecedores, os ironistas e os perturbados que não registam a dor são mais dignos de piedade, por permanecerem embotados em estranha rigidez de entendimento.

E, designando o enfermo sob nossos olhos, afirmou:
— Paulo é um doente a caminho de melhora positiva.
Ainda não possui a consciência exacta da situação, mas já chora, já padece com as recordações do passado triste.

Recebi o esclarecimento com atenção.
Lembrei-me que, de facto, os doentes conduzidos pelos Samaritanos a “Nosso Lar”, em serviço diário, eram grandes sofredores.

Os que não acusavam padecimentos atrozes, revelavam estranho pavor das sombras.

A única entidade que ali observara, com absoluta inconsciência da própria miséria, fora a de pobre vampiro que não encontrara guarida nas Câmaras de Rectificação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:26 pm

Nosso instrutor, sem qualquer preocupação de transformar o doente em cobaia, recomendou, afectuoso:
— Concentrem no Paulo a capacidade de visão!
Estimulado pela experiência anterior, fixei nele todo o meu potencial de observação.

Aos poucos, caracterizou-se a meus olhos a sua tela mental, parecendo formada em compacta sombra nocturna.

Com surpresa, divisei formas diversas que se movimentavam.
Vários vultos de mulher ali surgiam, despertando-me enorme admiração.
Entre eles, reparei o de Ismália como que doente, enfraquecida, ansiosa.

Alguns homens passavam, igualmente, mostrando desesperação, e notei, nessas imagens, o próprio Alfredo a evidenciar cansaço e extrema velhice prematura.
Vozes misteriosas se faziam ouvir.

Sobre Paulo chovia maldições e blasfémias.
As mulheres pareciam acusá-lo, clamorosamente;
os homens davam ideia de perseguidores ferozes, ocultos no mundo interior daquele enfermo estranho.

Observando, porém, que os vultos de Ismália e Alfredo se movimentavam naquele painel escuro, não pude sofrear a curiosidade e interrompi o minucioso exame, voltando a conversar com o nosso orientador, perguntando:
— Como explicar o fenómeno? Estou assombrado!

Antes, porém, que pudesse expressar mormente o espanto que me dominara, Aniceto ajuntou:
— Já sei. Admira-se da presença de Ismália e do seu marido nas reminiscências do enfermo.

E, ante a minha perplexidade, continuou:
— Lembram-se da história de Alfredo?
Temos diante de nós o falso amigo que lhe arruinou o lar.

Paulo, contudo, não somente cometeu a ingratidão, como envenenou o espírito doutras senhoras, traiu outros amigos e destruiu a alegria e a paz doutros santuários domésticos.

Observando Ismália aflita e Alfredo desesperado, nas recordações dele, vemos as imagens criadas pelo caluniador, para seus próprios olhos.

Nossos amigos deste Posto evoluíram, transpuseram a fronteira da mágoa, escaparam aos monstros do ódio, vestem-se hoje de luz; no entanto, Paulo os vê como imagina, para escarmento de suas culpas.

O criminoso nunca consegue fugir da verdadeira justiça universal, porque carrega o crime cometido, em qualquer parte.

Tanto nos círculos carnais, como aqui, a paisagem real do Espírito é a do campo interior.
Viveremos, de facto, com as criações mais íntimas de nossas almas.

Reparando-me a dificuldade para compreender de pronto, Aniceto prosseguiu, depois de pequeno intervalo:
— Para melhor elucidação, recordemos a crucificação do Mestre Divino.

Sabemos que Jesus penetrou na glória sublime logo após a suprema dor do Calvário; entretanto, estamos ainda a vê-Lo frequentemente pendurado na cruz, martirizado pelos nossos erros, flagelado pelos nossos açoites, por que a visão interior a isso nos compele.

A condenação do Mestre foi um crime colectivo e esse crime estará connosco até ao dia em que nos vestirmos na divina luz da redenção.
O esclarecimento não poderia ser mais lúcido.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:27 pm

Sentia-me diante de nobre revelação.
— O dever possui as bênçãos da confiança, mas a dívida tem os fantasmas da cobrança — tornou o generoso mentor, com grave acento.

Readquirindo a serenidade, interroguei:
— Mas Paulo veio ter casualmente a este Posto?

— Não respondeu Aniceto, atencioso — foi trazido pelo próprio Alfredo, que se sentiu necessitado de disciplinar o coração.

Nosso amigo, que hoje dirige esta casa de amor, desprendeu-se do mundo, sob intensa vibração de ódio e desesperação.

Sofreu muitíssimo nos primeiros tempos, embora nunca fosse abandonado pela dedicação da abnegada companheira.

Alfredo, todavia, não pôde ver Ismália enquanto não se desenvencilhou das baixas manifestações do rancor.
Socorrido em “Campo da Paz”, compreendeu as próprias necessidades.

Tão logo adquiriu algum mérito, intercedeu pelo amigo infiel, buscou-o em recanto abismal, e tão nobremente se dedicou ao aperfeiçoamento de si mesmo, que conquistou a posição de administrador de um Posto de Socorro.

Trouxe o tutelado em sua companhia e trata-o como irmão, actualmente.
Não julguem que o marido de Ismália conseguiu essa vitória espiritual tão-somente pelo fato de desejá-la.

Ele desejou-a, procurou-a, alimentou-a, e, agora, permanece na realização.
Há muitos anos conversa com Paulo, diariamente.

Nos primeiros tempos, aproximava-se do enfermo, como necessitado de reconciliação;
depois, como pessoa caridosa; mais tarde adquiriu entendimento, comparando situações;
em seguida, sentiu piedade;
logo após, experimentou simpatia e, presentemente, conquistou a verdadeira fraternidade, o amor sublime de irmão pelo ex-inimigo.

Fazendo pequena pausa, voltou a dizer, espirituosamente:
— Como vêem, o ensinamento de Jesus, quanto ao “batei e abrir-se-vos-á”, é muito extenso.

No plano da carne, insistimos à porta das coisas exteriores, procurando facilidades e vantagens;
mas, aqui, temos de bater à porta de nós mesmos, para encontrar a virtude e a verdadeira iluminação.

Vicente, que até então se conservara calado, indagou:
— Paulo, todavia, permanecerá aqui, indefinidamente?

Nosso instrutor fez um gesto significativo e concluiu:
— Voltará breve à Terra.

Ismália tem feito a seu favor inúmeras intercessões e não deseja que ele, ao retomar a razão plena, se sinta humilhado, com o benefício das próprias vítimas.

Uma das irmãs, por ele caluniada no mundo, já voltou ao círculo carnal, e a abnegada esposa de Alfredo pediu-lhe que recebesse Paulo como filho, tão logo seja oportuno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:27 pm

XXVIII - Vida social

À noite, surpreendiam-me os sublimes aspectos do firmamento no Posto de Socorro.

O luar safirino envolvia todas as coisas, O céu era qual infinita colcha de azul muito límpido, pontilhado de astros fulgurantes.

As nuvens da tarde haviam desaparecido.
Contemplando a beleza da noite, Alfredo acentuou:
— Felizmente, os fenómenos magnéticos foram deslocados do nosso círculo.

Os aparelhos, porém, continuam registando enorme conflito de forças inferiores.

Ia comentar a beleza do céu, ante a observação do administrador, quando a campainha retiniu suavemente.

Chamavam à entrada. Alfredo e Ismália sorriram.
Muito gentil, o chefe do Posto asseverou:
— Temos a visita de amigos do “Campo da Paz”.

E, convidando-nos à recepção no baluarte avançado, acrescentou jovialmente:
— Temos, também, aqui, a nossa vida social. Como não? É preciso saber viver.

Encantado com essa nota alegre, acompanhei os donos da casa, verificando, com indizível surpresa, que tínhamos sob os olhos um belo carro tirado por dois soberbos cavalos brancos.

Tratava-se de veículo confortável e interessante, quase idêntico aos velhos carros de serviço público, do tempo de Luís XV, que eu vira, mais de uma vez, em publicações antigas.

Nele chegara pequena família da colónia próxima, que, pelas informações de Aniceto, demorava a três léguas do Posto, aproximadamente.

Alfredo apresentou-nos, cavalheirescamente, com excepção de nosso orientador, que era velho amigo dos recém-chegados.

Constituíam-se os visitantes do casal Bacelar e duas filhas jovens.
O chefe do grupo mostrava idade avançada, revelando, porém, excelentes disposições.

A senhora dava impressão de madureza, aparentando, contudo, maravilhosa vivacidade, assim como as duas moças.

A alegria era enorme.
Não se observava qualquer nota de convencionalismo menos digno, como na Terra.
Os gestos de cada um, a simplicidade, a despreocupação e as frases afectuosas demonstrava sinceridade pura.

Permanecíamos num quadro social inacessível ao fingimento.
Voltando ao interior doméstico, entre grandes manifestações de júbilo familiar, observei que os recém-chegados eram amigos de muito tempo, que vinham ao encontro de Ismália.

A nobre senhora pareceu-me contentíssima.
Expediu recados afectuosos para algumas famílias do Posto e, em breves minutos, o castelo recebia inúmeras pessoas que concorriam ao brilhantismo da selecta reunião.

Sentindo-me assaz insignificante, ao lado dos novos amigos, limitava-me a ouvir e observar.

Logo aos primeiros instantes de conversação particularizada, ouvi Aniceto perguntar ao senhor Bacelar:
— Como corre o serviço?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:27 pm

O velho bondoso respondeu num sorriso largo:
— Bem, sempre bem. Apenas não podemos fixar demasiada atenção nos companheiros encarnados.

E ajuntou com graça:
— É indispensável aprender a servir e passar.

Nosso instrutor sorriu igualmente e observou:
— Compreendo, compreendo. Aliás, o progresso humano não é uma questão de dias. Não tenhamos ilusões.

E, percebendo que Vicente e eu poderíamos aproveitar com a palestra, Aniceto indicou o novo hóspede de Alfredo, explicando solícito:
— Nosso salgo Bacelar é chefe de turmas de assistência aos nossos irmãos do círculo carnal.
Tem longa experiência dos homens e conhece-os como ninguém. Há muito que aproveitar nas suas observações.

— Não tanto, meus caros — exclamou o senhor Bacelar, de bom humor — não tanto.
Sou simples companheiro de vocês, cumprindo deveres por acréscimo da misericórdia divina.

Não posso fazer muito, em razão de minhas deficiências naturais.
— Estamos certos do grande proveito da sua palavra — objectou Vicente, até então calado.

— Tudo o que nos disser sobre o problema de assistência constituirá, para nós, ensinamento precioso — disse por minha vez.

O novo amigo fitou-nos com inteligência, e perguntou:
— Foram médicos no mundo?
— Sim — respondemos a um só tempo.

O senhor Bacelar pensou alguns momentos e acentuou:
— Sempre gostei de conversar com os amigos, recorrendo aos símbolos sugeridos pela profissão que exercem.
Mas, no tocante às minhas actividades, não teria muito o que dizer a médicos militantes.

— Pelo contrário — aduzi — seus esclarecimentos enriquecerão nossas experiências.

O interlocutor sorriu, optimista, e declarou:
— Não creia. Recorde os seus doentes comuns.
Muito raramente lembram a medicina preventiva.

De modo quase invariável, esperam a positivação das moléstias para buscarem o recurso preciso.

Necessitam de anestésicos para o socorro do bisturi.
Fogem ao regime tão logo surja a primeira melhora.

Confundem o método de tratamento, apenas se registe o primeiro sinal de cura.
Detestam a dor que restabelece o equilíbrio. Descontentam-se com a indicação de purgativos.

Preferem a medicação de sabor agradável.
E, sobretudo, quase sempre querem saber muito mais que os médicos.

Esta síntese aplicável a corpos doentes representa, em nosso campo de serviço, o resumo do programa de assistência aos Espíritos enfermos, encarnados na Terra, e com agravantes de vulto, porque, em nosso sector, não podemos manipular a alma, à maneira do cirurgião que opera as amígdalas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:27 pm

Somos forçados à preparação do campo mental conveniente, a proceder à semeadura de pensamentos novos, velar pela germinação, ajudar os rebentos minúsculos e aguardar a obra do tempo.

Nossa luta não é simples, porque, se o clínico do mundo encontra sempre familiares amorosos, dispostos a cooperar com ele em benefício do doente, o que encontramos, por nossa vez, são enormes legiões de elementos adversos à nossa actividade restauradora e curativa.

Em geral, o médico do mundo presta socorro a quem deseja recebê-lo, pelo menos nas ocasiões de graves perigos;
nós, porém, meus amigos, muitas vezes temos de prestar assistência aos que não a desejam, por viverem sob véus de profunda ignorância.

— Tem razão — murmurei, ouvindo comparações tão lógicas —;
entretanto, vale por conforto a certeza de que há muitos cooperadores encarnados no mundo prontos a colaborar na tarefa.

O senhor Bacelar teve uma expressão fisionómica muito significativa, e revelou:
— Nem sempre.
A cooperação é outro problema:
a maioria dos irmãos que se propõem ao serviço, partem daqui prometendo, mas gostam de viver descansados, no planeta.

Poucos fogem ao estalão comum.
Raramente encontramos companheiros encarnados com bastante disposição para amar o trabalho pelo trabalho, sem ideia de recompensa.

A maioria está procurando remuneração imediata.
Nessas condições, não percebem que a mente lhes fica como aposento escuro, atulhado de elementos inúteis.

À força de viciarem raciocínios, confundem igualmente a visão.
Enxergam tormentas onde há paisagens celestes, montanhas de pedra onde o caminho é gloriosa elevação.

De pequenos enganos a pequenos enganos, formam o continente das grandes fantasias.

Daí por diante, a recapitulação das experiências terrenas inclina-os, mais fortemente, para a exigência animal e, chegados a esse ponto, raros voltam ao dever sagrado, para considerar a grandeza das divinas bênçãos.

Nosso interlocutor fez uma pausa e tornou:
— E o “desculpismo”? Nesse terreno de assistência espiritual, verão, um dia, quantos pretextos são inventados pelas criaturas terrestres por fugir ao testemunho da verdade divina, nas tarefas que lhes são próprias.

Os mordomos da responsabilidade alegam excesso de deveres, os servidores da obediência afirmam ausência de ensejo.

Os que guardam possibilidades financeiras montam guarda ao património amoedado, os que receberam a bênção da pobreza de recursos monetários aconselham-se com a revolta.

Os moços declaram-se muito jovens para cultivar as realidades sublimes, os mais idosos afirmam-se inúteis para servi-las.

Os casados reclamam quanto à família, os solteiros queixam-se da ausência dela.
Dizem os doentes que não podem, comentam os sãos que não precisam.

Raros companheiros encarnados conseguem viver sem a contradição.

O senhor Bacelar parecia disposto a prosseguir, mas as duas jovens foram buscá-lo, a ele e Aniceto, em nome de Alfredo, a fim de providenciar solução de problema íntimo que lhes dizia respeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:28 pm

XXIX - Notícias interessantes

Em vista de apresentação mais íntima de Aniceto, que deixara as jovens em nossa companhia, entramos a conversar animadamente com Cecilia e Aldonina.

A primeira tinha sido filha dos Bacelar, quando na Crosta; a segunda era uma sobrinha do chefe da família, que aguardava a volta da mãezinha para a organização de um lar na cidade próximas.

Ambas demonstravam magnífico desenvolvimento mental, robusta inteligência e notável capacidade de expressão.

E, enquanto os nossos maiores se conservavam afastados, cogitando de assunto privado, Vicente e eu ouvíamos as jovens, encantados com a sua nobreza e vivacidade.

Verificava que o quadro era idêntico à paisagem social da Terra, apenas diferindo quanto aos sentimentos reais.

Não havia qualquer nota de falsa apresentação.
Em tudo a alegria pura, a simplicidade fiel, a sinceridade sem mácula.

No desenvolvimento espontâneo da palestra, falou Cecilia, com graça:
— Estou trabalhando, há muito, para alcançar um prémio de visita a “Nosso Lar”. Minhas superioras prometeram-me semelhante satisfação para o ano próximo...

E, sorrindo, rematou expressivamente:
— Entretanto, para consegui-lo, tenho de atender a umas tantas obrigações importantes.

— Pois quê! — perguntou Vicente, admirado — é preciso tanto?!
— Sem dúvida — tornou a jovem, bem-humorada — o meu amigo talvez não esteja convencido, quanto ao brilho de sua actual posição.

Viver em “Nosso Lar” é uma grande bênção.
Acaso não o terá compreendido ainda?
Sorrimos todos.

E, reafirmando o conceito, Cecilia continuou:
— Segundo os instrutores que nos visitam em “Campo da Paz”, os seus Ministérios são verdadeiras universidades de preparação espiritual.

O ensejo educativo, neles, é imenso.
E chego a crer que, para avaliarem a extensão da benesse que Jesus lhes concedeu, seria necessário viverem alguns anos em nossa colónia, onde o trabalho activo de vigilâncias e assistência é mais imperioso, mais exigente.

— Em “Nosso Lar”, porém — objectei —, temos um grande número de sofredores.
A Regeneração é uma colmeia de milhares.

A interlocutora, todavia, revelando profunda acuidade nas observações, considerou:
— Você diz muito bem, quando se refere à colmeia, significando possibilidades de trabalho.

Creia que os sofredores que atingem o seu núcleo já se encontram a caminho de excelentes realizações.

Naturalmente que os irmãos desequilibrados, que por lá existem, já se torturam pelo vagaroso despertar da consciência, já sentem remorsos e arrependimentos indicativos de renovação.

São sofredores que melhoram progressivamente, porque o ambiente da cidade é de elevação positiva.

Onde a maioria vive com a bondade, a maldade da minoria tende sempre a desaparecer. “Nosso Lar”, portanto, mesmo para os que choram, possui soberanas vantagens espirituais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:28 pm

Impressionado com o que ouvia, lembrei:
— Eu mesmo trabalhei algum tempo, em cooperação, nas câmaras rectificadoras.

— Já ouvi diversas referências a essa instituição — exclamou Cecilia, senhora do assunto —, mas, baseando-me nos informes de mentores amigos, continuo a manter minha opinião.

E, como se já conhecesse nossos processos de serviço, asseverou, sorridente:
— Vocês conhecem lá muitos espíritos sofredores, mas, em “Campo da Paz conhecemos muitos espíritos obsessores.

Lá poderá existir muita gente que ainda chora; mas em nosso meio há muita gente que se revolta.
É mais fácil remediar o que geme, que atender ao revoltado.

Nas câmaras a que se refere, vocês rectificam erros que já apareceram, dores que já se manifestaram;
mas aqui, meu amigo, somos compelidos a lutar com irmãos ignorantes e perversos, que se sentem absolutamente certos nas fantasias perigosas que esposaram, e vemo-nos obrigados a atender a doentes que não acreditam na própria enfermidade.

Começava a entender a lógica daquela argumentação, e, reconhecendo a impossibilidade de qualquer contradita, a jovem continuou, segura de si:
— Aliás, é natural que assim seja. Estamos a pouca distância dos homens, nossos irmãos na carne.

E sabemos que, na Crosta, a situação não é diferente.

Quantos materialistas se fantasiam, por lá, de filósofos?
Quantos demónios com capa de santos?
Quanta má fé a fingir generosidade e boas intenções?

A influência da Humanidade encarnada em nosso núcleo de serviço é vigorosa e inevitável.

Vicente, que ouvia atencioso, obtemperou:
— Deduzo de tudo isso manifestações sacrificantes muito grandes, mas o trabalho em “Campo da Paz” deve ser altamente meritório.

— Incontestavelmente — respondeu a jovem.
— A história da fundação é interessante.

Alguns benfeitores, reconhecidos a Jesus, resolveram organizar, em nome dele, uma colónia em plena região inferior, que funcionasse como Instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas.

O projecto mereceu a bênção do Senhor e o núcleo se criou, há mais de dois séculos.
Nem todos os Espíritos evoluídos, no entanto, estimam o serviço nesse órgão de assistência constante.

A maioria dos missionários vitoriosos, ao se ausentarem da Terra, necessitam refazer energias, por direito natural do trabalhador fiel, e os mentores de nobre posição hierárquica têm seus programas de serviços, que não devem quebrar, em obediência aos desígnios do Senhor.

Desse modo, nosso serviço é activo, mas nossas aquisições são lentas e devemos sempre esperar por cooperadores que se eduquem na própria colónia, em benefício geral.

Ganha-se excelente recompensa, temos direito a grandes valores intercessários, mas, por isso mesmo, nossas responsabilidades não são pequenas.

Conhecendo a utilidade dos que servem em nossa colónia, não passamos nunca sem instrutores abnegados, que procedem da zona superior, alentando-nos o bom ânimo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:28 pm

O que pedimos, com fundamentação legítima, nunca é negado;
e, se tarda o recurso, beneméritos orientadores de nossas actividades prestam explicações que nos libertam de qualquer angústia na espera.

Por isso, nosso grupo está sempre coeso e muitos preferem adiar certas realizações sublimes, para permanecer ao lado de companheiros antigos, aos quais se unem com desvelado amor.

Os esclarecimentos da jovem encantavam-me.

Naquelas poucas palavras estava todo um resumo de lições sobre o sacrifício e o merecimento, o compromisso fraterno e a solidariedade compensadora.

— A sua família sempre viveu lá? — perguntei com interesse.

A jovem sorriu e explicou:
— Meu pai, há mais de cinquenta anos, foi socorrido pelos benfeitores de “Campo da Paz” e, restabelecida a saúde espiritual, fixou-se na colónia, com razoável impulso de amizade e gratidão.

E mais tarde, minha mãe reuniu-se a ele e, faz precisamente vinte anos, Aldonina e eu fomos atraídas amorosamente por ambos, a fim de continuarmos, ali, no santuário familiar.

Desse modo, trabalhamos ao lado deles, desde a primeira hora.
— E tem muitos programas para o futuro? Indaguei.

Cecilia fez um gesto que lhe caracterizava o coração de moça sonhadora, e redarguiu:
— Tenho muitos projectos e problemas a resolver, mas estou aguardando a chegada de alguém que ainda se encontra na Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:29 pm

XXX - Em palestra afectuosa

Voltávamo-nos em conversação para as belezas de “Nosso Lar”, quando Aldonina interveio, acrescentando:
— Alguns membros de nossa família visitam a cidade de vocês, de tempos a tempos.

Nossa irmã Isaura, que se casou em “Campo da paz” há três anos, lá reside em companhia do esposo que é funcionário dos Serviços de investigação do Ministério do Esclarecimento.

Percebendo-nos a curiosidade, prosseguiu:
— Morava ele connosco, mas, desde tempo, foi convocado a serviços por lá, indo, mais tarde, buscar a noiva.

Vicente, que se mantinha em atitude séria, exclamou:
— Tocamos num assunto que muito me tem despertado, desde que regressei aos círculos terrenos.

Não tinha, no mundo, nenhuma ideia de que pudéssemos cogitar de uniões depois da morte do corpo.
Quando assisti a festividades dessa natureza, em “Nosso Lar’ confesso que minha surpresa ralou pela estupefacção.

Cecília, vivaz, acentuou, sorrindo:
— Isto se deu também connosco.

É forçoso reconhecer que tal estado d’alma resulta do exclusivismo pernicioso a que nos entregamos no plano carnal, porque, se o casamento humano é um dos mais belos actos da existência na Terra, porque deixaria de existir aqui, onde a beleza é sempre mais quintessenciada e mais pura?

E, além do mais, é imprescindível ponderar que não vivemos à revelia de leis sábias e justas.

— E como são felizes os que se casam em nossos planos! — acentuou o companheiro, denotando aspirações secretas do coração.

Aldonina esboçou um gesto expressivo e considerou:
— Sim, para possuirmos aqui essa ventura, é preciso ter amado na Terra, movimentando os mais nobres impulsos do espírito.

Para colher os júbilos dessa natureza, é necessário ter amado com almas.

Os que se consagram exclusivamente aos desejos do corpo, não sabem amar além da forma, sendo incapazes de sentir as profundas vibrações espirituais do amor sem morte.

Desejando, porém, retomar o assunto referente a ela interroguei, curioso:
— Continuem falando-nos da irmã que se mudou para “Nosso Lar”.
Estimaria saber como se realizou o consórcio.

Se você, Cecilia, está aguardando um prémio de visita à nossa cidade, como se casou ela, transferindo-se para lá definitivamente?

Cecilia sorriu e retrucou:
— Isto é outro caso. Isaura não poderia correr atrás do noivo, porque estava em situação inferior à dele, mas António, como superior, poderia descer a buscá-la.

Não creiam, porém, que o matrimónio se tenha verificado sem qualquer preparação ou exigência.

O noivo poderia conduzi-la sem qualquer formalidade, desde que recebesse o devido consentimento, porquanto obtivera permissão das autoridades de “Nosso Lar”, mas um dos chefes de serviço aconselhou a Isaura, nesse sentido, explicando-lhe que, como administrador de uma colónia em condições de inferioridade, não podia opor qualquer embargo, mas pedia à noiva preparar-se, por seis anos sucessivos, em “Campo da Paz”, antes da partida definitiva, acrescentando sensatamente que, num casamento de almas, é indispensável apurar o enxoval dos sentimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2012 11:29 pm

Nossa irmã, que foi sempre muito prudente, aceitou a solicitação e trabalhou durante todo esse tempo em nossa colónia, adquirindo valores culturais e aprimorando o campo do pensamento.

Recebia essas delicadas informações, sem disfarçar a enorme surpresa.
— Já fui visitar o casal, uma vez — disse Aldonina, honrada — quando ganhei o prémio de assiduidade e bom comportamento.

Estive em “Nosso Lar”, durante uma quinzena inesquecível para mim.

No entanto, embora visitasse sublimes instituições como o Bosque das Águas, o Salão da Arte Divina, o Campo da Prece Augusta, reconheço ter voltado muito longe de um conhecimento integral da enorme cidade.

Lá irei, contudo, mais tarde, pois continuo em meu trabalho e nossos instrutores afirmam sempre que tudo de bom deve aguardar do destino quem saiba servir ao bem e trabalhar com esperança.

Admirando a beleza de sentimentos daquelas jovens indaguei emocionado:
— Mas não têm vocês, em “Campo da Paz”, instituições semelhantes?
Não existirão, por lá, templos de alegria abertos à juventude?

— Ah! sim — murmurou Cecilia como quem não desejava ser ingrata às Bênçãos do Eterno —, muito nos dá o Senhor, em nossa colónia; entretanto, permanecemos na vizinhança dos irmãos encarnados.

As tempestades que nos atingem, obrigam-nos a serviços constantes.
Os quadros inferiores que nos cercam são profundamente dolorosos.
Nossa cidade não possui Ministérios da União Divina, nem da Elevação.

Não podemos receber a influência superior com muita facilidade.
Nossos trabalhos de comunicação e auxílio necessitam ainda de muita gente educada no Evangelho, para funcionar com eficiência.

Além disso, temos os problemas de finalidade. Nossa colónia foi instituída para socorro urgente.

A nosso ver, “Campo da Paz” é, mais que tudo, um avançado centro de enfermagem, rodeado de perigos, porque os irmãos ignorantes e infelizes nos cercam o esforço por todos os lados.

De dez em dez quilómetros, nas zonas de nossa vizinhança, há Postos de Socorro como este, que funcionam como instituições de assistência fraternal e sentinelas activas, ao mesmo tempo.

A jovem fez uma pausa mais longa, observando o efeito de suas palavras, e rematou:
— Nosso governador, quando se agravam os serviços, costuma asseverar que estamos num campo de batalha, com a Paz de Jesus.

Imagem alguma define tão bem o nosso núcleo, como esta.
No exterior, o trabalho é rigoroso e incessante, mas, dentro de nós, existe uma tranquilidade que nós mesmos dificilmente podemos compreender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:39 pm

— O serviço circunscreve-se à cidade? — perguntei.
— Não — o trabalho é multiforme.
Eu e Aldonina, por exemplo, temos grandes tarefas de assistência junto dos recém-encarnados.

Nossa cidade prepara, em média, quinze a vinte reencarnações diárias e torna-se imprescindível assistir os companheiros ou tutelados, pelo menos no período infantil mais tenro, que compreende os primeiros sete anos de existência carnal.

E talvez porque lesse em nossos olhos a mais viva admiração, a jovem adiantou-se, explicando:
Felizmente, porém, temos as faculdades de volitação bastante adestradas.

Raramente encontramos empecilhos vibratórios e podemos, por isso mesmo, agir com grande economia de tempo.
Além disso, somente nossos instrutores vão ao serviço sozinhos.
Quanto a nós, não saímos, a não ser em grupos.

Necessitamos auxílio recíproco, não só no que diz com a eficiência, senão também no que se refere ao amparo magnético.

E, sorrindo de modo singular, concluiu:
— No trabalho de assistência aos outros e defesa de nós mesmos, não podemos dispensar a prática avançada e justa da cooperação sincera.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:39 pm

XXXI - Cecilia ao órgão

Poucas vezes, no círculo carnal, tivera o prazer de assistir a reunião tão selecta.

Todos os lustres estavam magnificamente acesos e, lá fora, as grandes árvores, docemente agitadas pelo vento brando, pareciam reflectir o clarão lunar.

Pares graciosos passeavam ao longo da varanda e as escadarias extensas.
O castelo enchera-se de alegria, com a crescente multiplicação de convidados.

O administrador mostrava-se orgulhoso de confraternizar com os colaboradores directos da sua obra, na recepção condigna aos amigos da colónia próxima.

O júbilo transparecia em todos os rostos, e eu, observando a beleza do espectáculo, meditava na ventura da vida social, no ambiente daqueles que começavam a compreender e praticar o “amai-vos uns aos outros”, distanciados da hipocrisia e das convenções aviltantes.

Conversávamos, animadamente, quando Alfredo nos convidou para o Salão de Música.
Houve geral contentamento.
A senhora Bacelar, dando o braço à nobre Ismália, parecia encantada com a lembrança.

Dirigimo-nos para o grande reduto, prodigiosa semente iluminado por luzes de um azul doce e brilhante.

Deliciosa música embalava-nos a alma.
Observei, então, que um coro de pequenos musicantes executava harmoniosa peça, ladeando um grande órgão, algo diferente dos que conhecemos na Terra.

Oitenta crianças, meninos e meninas, surgiam, ali, num momento vivo, encantador.
Cinquenta tangiam instrumentos de corda e trinta conservavam-se, graciosamente, em posição de canto.

Executavam, com maravilhosa perfeição, uma linda barcarola que eu nunca ouvira no mundo.
Comovidíssimo, ouvi o administrador explicar:
— As crianças do Posto são as nossas flores vivas.

Dão-nos perfume, encantamento, alegria, suavizando-nos todos os trabalhos.
Abeiramo-nos do órgão, sentando-nos todos em confortáveis poltronas.
Quando as crianças terminaram, sob aplausos calorosos, Ismália pediu a Cecilia executasse alguma coisa,

— Eu? — disse a jovem, corando — se a senhora vem das altas esferas, onde a harmonia é santificada e pura, como poderei executar para os seus ouvidos?

— Não diga isso, Cecilia — tornou, sorridente, a generosa esposa do administrador —, a música elevada é sublime em toda parte. Vá, minha filha!

lembre-me o lar terreno nos dias mais belos!...

E, antes que a jovem Bacelar perguntasse qual a peça preferida, Ismália continuou:
— Os serviços musicais do Posto levam-me a recordar a velha Fazenda, quando voltava do Internato...
Meus pais estimavam as composições europeias e, quase todas as noites, ensaiava ao piano...

E, fixando em Cecilia os olhos húmidos e brilhantes, rematou:
Sua mamãe deve lembrar comigo a música predilecta de meu velho e carinhoso pai.

Notei que a senhora Bacelar disse alguma coisa à filha, em voz baixa, e vimos Cecilia caminhar para o grande instrumento, sem hesitação.

Com emoção indizível, ouvimo-la executar, magistralmente, a “Tocata e Fuga em Ré Menor”, de Bach, acompanhada pelas crianças exultantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:39 pm

Fixei o rosto de Ismália, notando, pela luz do seu olhar, que seus pensamentos vagueavam longe, talvez em torno do antigo ninho doméstico.

Vi enxugar as lágrimas discretas e abraçar Cecilia carinhosamente, ao findar a execução.

— Agora, Cecília, cante alguma canção da própria alma! falou a nobre senhora com ternuras de mãe — mostre-nos seu coração...

Os senhores Bacelar estavam satisfeitos e emocionados.
Lia-se-lhes nos gestos o carinho com que acompanhavam os menores movimentos da filha.

A jovem sorriu, voltou ao teclado, mas permanecia, agora, fundamente transfigurada.
Seu belo semblante parecia reflectir alguma luz diferente, que vinha de mais alto.

Começou a cantar, de maneira misteriosa e comovedora.
A música parecia sair-lhe das profundezas do coração, mergulhando-nos em sublime emotividade.

Procurei guardar as palavras da maravilhosa canção, mas seria impossível repeti-las integralmente no círculo dos encarnados na Terra.

A sombra da meia-noite não poderia traduzir o revérbero da aurora.
Mas de algo me lembro, para registar aqui, com a fidelidade de que é ausceptivel minha memória imperfeita.

Como se fora rodeada de claridades diversas daquela em que nos banhávamos, Cecilia cantou com voz veludosa e acariciante:
“Guardei para os teus olhos
As estrelas brilhantes do céu calmo...
Guardei para tua alma
Todos os lírios puros dos caminhos!...

Amado meu, amado meu,
Como é longa a viagem entre escolhos
Neste oceano imenso da saudade,
Ao sublime Luar da eternidade!!!...

Em vão, a fada Esperança
Acende a luz dentro de mim...
Porque te foste ao mundo, assim?!

Volta, amado!
Ainda mesmo
Que as tuas mãos estejam frias
E que teus pés sangrem de dor.

Trago comigo o bálsamo, a ternura,
Volte a mim,
Vem respirar, de novo, no jardim
Da imortal união!...

Curarei tuas chagas de amargura,
Dar-te-ei o roteiro para a estrada,
Amare os que amas,
Para que me abençoes com o teu sorriso.

Volta, amado!
Esquece a dor e a sombra do passado,
Volta, de novo, ao nosso paraíso...”
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:40 pm

Quando desferiu as últimas notas, vi-lhe o semblante lavado em lágrimas, como se fora banhado em pérolas de luz.

Observei que a senhora Bacelar, muitíssimo comovida, tocou de leve a mão de Ismália, e falou:
— Cecilia nunca o esquece.

A esposa do administrador, mostrando-se extremamente sensibilizada, indagou:
— Não têm vocês novas noticias de Hermínio?

— O pobrezinho tem vivido de queda em queda — esclareceu a nobre interlocutora — e Cecilia sabe que não poderá contar com ele, por muito tempo ainda, guardando, por esse motivo, muitas mágoas íntimas.

Entretanto, nossa filha não desanima e trabalha, incessantemente, cheia de esperança.
Nesse momento, porém, a jovem regressava ao círculo familiar, enxugando os olhos.

A esposa de Alfredo abraçou-a e falou:
— Minhas felicitações.
Não sabia que você progredira tanto na arte divina! E que bela canção!...

Cecilia fez um gesto de timidez, beijou a mão da carinhosa amiga e retrucou:
— Perdoe-me, querida Ismália, meu coração permanece ainda muito ligado à Terra!...

Ismália, porém, de olhos húmidos e compreendendo-lhe o sofrimento íntimo, aconchegou-a ao peito e murmurou:
— Devotar-se não é crime, minha boa Cecilia.
O amor é luz de Deus, ainda mesmo quando resplandece no fundo do abismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:40 pm

XXXII - Melodia sublime

Num gesto nobre, Aniceto pediu a Ismália que executasse algum motivo musical de sua elevada esfera.

A esposa de Alfredo não se fez rogada. Com extrema bondade, sentou-se ao órgão, falando, gentil:
— Ofereço a melodia ao nosso caro Aniceto.
E, ante nossa admiração comovida, começou a tocar maravilhosamente.

Logo às primeiras notas, alguma coisa me arrebatava ao sublime.
Estávamos extasiados, silenciosos.

A melodia, tecida em misteriosa beleza, inundava-nos o espírito em torrentes de harmonia divina.

Penetrava-me o coração um campo de vibrações suavíssimas quando fui surpreendido por percepções absolutamente inesperadas.

Com assombro indefinível, reparei que a esposa de Alfredo não cantava, mas no seio caricioso da música havia uma prece que atingia o sublime — oração que eu não escutava com os ouvidos mas recebia em cheio na alma, através de vibrações subtis, como se o melodioso som estivesse impregnado do verbo silencioso e criador.

As notas de louvor alcançavam-me o âmago do espírito, arrancando-me lágrimas de intraduzível emotividade:

“Ó Senhor Supremo de Todos os Mundos
E de Todos os Seres,
Recebe, Senhor.
O nosso agradecimento
De filhos devedores do teu amor!

Dá-nos tua bênção,
Ampara-nos a esperança,
Ajuda-nos o ideal
Na estrada imensa da vida...
Seja para o teu coração,
Cada dia,
Nosso primeiro pensamento de amor!

Seja para tua bondade
Nossa alegria de viver!...
Pai de amor infinito
Dá-nos tua mão generosa e santa.
Longo é o caminho.
Grande o nosso débito,
Mas inesgotável é a nossa esperança.


Última edição por O_Canto_da_Ave em Ter Jan 03, 2012 10:41 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:40 pm

Pai Amado,
Somos as tuas criaturas,
Raios divinos
De tua Divina Inteligência.
Ensina-nos a descobrir
Os tesouros imensos
Que guardaste
Nas profundezas de nossa vida,
Auxilia-nos a acender
A lâmpada sublime
Da Sublime Procura!

Senhor,
Caminhamos contigo
Na eternidade!...
Em Ti nos movemos para sempre.

Abençoa-nos a senda,
Indica-nos a Sagrada Realização,
E que a glória eterna
Seja em teu eterno trono!...

Resplandeça contigo a Infinita Luz,
Mane em teu coração misericordioso
A soberana Fonte do Amor,
Cante em tua Criação Infinita
O sopro divino da Eternidade.

Seja a tua bênção
Claridade aos nossos olhos,
Harmonia ao nosso ouvido,
Movimento às nossas mãos,
Impulso aos nossos pés.
No amor sublime da Terra e dos Céus!...

Na beleza de todas as vidas,
Na progressão de todas as coisas,
Na voz de todos os seres,
Glorificado sejas para sempre,
Senhor.


Que melodia era aquela que se ouvia através de sons inarticulados?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:41 pm

Não pude conter as lágrimas abundantes.
Cecilia comovera-nos a sensibilidade, lembrando as harmonias terrenas e os afectos humanos.

Ismália, no entanto, arrebatava-nos o Espírito, elevando-nos ao Supremo Pai.
Nunca ouvira oração de louvor como aquela!
Além disso, a esposa de Alfredo glorificava o Senhor de maneira diferente, inexprimível na linguagem humana.

A prece tocara-me as recônditas fibras do coração e reconhecia que nunca meditara na grandeza divina, como naquele instante em que uma alma santificada falava de Deus, com a maravilha de suas riquezas espirituais.

E não era só eu a chorar como criança.
Aniceto enxugava os olhos, de maneira discreta, e algumas senhoras levavam o lenço ao rosto.

Compreendi que a oração terminara, porque a música mudou de expressão.
O carácter heróico cedeu lugar a lirismo encantador.

Experimentando a profunda serenidade ambiente, vi que luzes prodigiosas jorravam do Alto sobre a fronte de Ismália, envolvendo-a num arco irisado de efeito magnífico e, com admiração e enlevo, observei que belas flores azuis partiam do coração da musicista, espalhando-se sobre nós.

Desfaziam-se como se feitas de cariciosa bruma anilada, ao tocar-nos, de leve, enchendo-nos de profunda alegria.
A maior parte caía sobre Aniceto, fazendo-nos recordar as palavras amigas da dedicatória.

Impressionavam-me profundamente aquelas corolas fluídicas, de sublime azul-celeste, multiplicando-se, sem cessar, no ambiente, e penetrando-nos o coração como pétalas constituídas apenas de colorido perfume.

Sentia-me tão alegre, experimentava tamanho bom ânimo que não conseguiria traduzir as emoções do momento.
Mais alguns minutos e Ismália terminou a magistral melodia.
A esposa do administrador desceu até nós, coroada de intensa luz.

Alfredo avançou, beijando-a no rosto, ao mesmo tempo que Aniceto lhe estendia a destra, agradecido.
— Há muito tempo não ouvia músicas tão sublimes como as desta noite — exclamou nosso orientador, sorrindo.

Cecilia falou-nos do sublime amor terrestre, Ismália arrebatou-nos ao divino amor celestial.
Ideia feliz a de permanecermos no Posto!
Fomos igualmente socorridos pela luz da amizade, que nos revigorou o bom ânimo!

Aproximaram-se os Bacelar, eminentemente comovidos.
— Que maravilhosas flores nos deste, querida amiga! — disse a mãezinha de Cecilia, abraçando a esposa de Alfredo.

— Voltaremos ao trabalho, repletos de energia nova! — acrescentou o senhor Bacelar, sorridente.
A extensa sala estava cheia de notas de reconhecimento e júbilo sincero.

A melodia de Ismália constituíra singular presente do Céu.
A alegria e o bom ânimo transpiravam em todos os rostos.
Observando que Aniceto se retirava para um canto do salão, procurei-o, ansioso.

Desejava esclarecer o fenómeno da prece sem palavras, das harmonias, das luzes e das flores.

Antes, porém, das interpelações do aprendiz, o orientador amigo sorriu, amável, e explicou:
— Conheço a sua sede, André.
Não precisa perguntar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:41 pm

Impressionou-se você com a grandeza espiritual da nobre companheira do nosso amigo.
Não precisarei alinhar esclarecimentos.

Recorda-se de Ana, a infeliz criatura que dorme nos pavilhões, entre pesadelos cruéis?
Lembra-se de Paulo, o caluniador?
Não os viu carregando pesados fardos mentais?

Cada um de nós traz, nos caminhos da vida, os arquivos de si mesmo.
Enquanto os maus exibem o inferno que criaram para o íntimo, os bons revelam o paraíso que edificaram no próprio coração.

Ismália já amontoou muitos tesouros que as traças não roem.
Ela já pode dar da infinita harmonia a que se devotou pela bondade e pelo divino amor.

A luz que vimos é a mesma que jorra do plano superior, de maneira incessante, inundando os caminhos da vida, mas a melodia, a prece e as flores constituem sublime criação dessa alma santificada.

Ela repartiu connosco, neste momento, uma parte dos seus tesouros eternos!

Peçamos ao Senhor, meu amigo, que não tenhamos recebido em vão as sublimes dádivas!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Jan 03, 2012 10:42 pm

XXXIII - A caminho da Crosta

Após nos refazermos pela manhã, considerando a viagem ainda longa, despedimo-nos, comovidos.

Pelo menos, quanto a mim podia afirmar que me afastava com mágoa, tão belas as lições ali colhidas!

Alfredo e a esposa nos abraçaram, sensibilizados, desejando-nos jornada feliz e êxito no trabalho.

Vários amigos da véspera estavam presentes, saudando-nos jubilosos.
Tomamos o carro, agradavelmente surpreendidos.

Ser-me-ia muito difícil descrever a pequena máquina, que mais se assemelhava a pequeno automóvel de asas, a deslocar-se impulsionado por fluidos eléctricos acumulados.

Sempre atencioso, Aniceto explicou:
— Aceitei a cooperação do aparelho, não por que os deseja escravizados ao menor esforço, mas porque a permanência, embora ligeira, no Posto de Socorro, constituiu ensejo dos mais frutuosos à aquisição de conhecimentos necessários.

Receberam vocês lições intensivas, relativamente aos nossos irmãos perturbados e sofredores, bem como sobre os efeitos da prece.

Desse modo, temos nosso expediente bastante adiantado, considerando que se encontram ambos em tarefa de observação e aprendizado, acima de tudo.
Depois de ligeira pausa, continuou:
— Não creiam, todavia, que possamos aproveitar a máquina até a Crosta.

Calculo que só poderemos voar até ao meio-dia.
Em seguida, prosseguiremos a pé.

Aniceto calou-se por instantes, sorriu noutra expressão fisionómica, e acentuou:
— Isto, porém, acontecerá somente enquanto não hajam vocês criado asas espirituais, que possam vencer todas as resistências vibratórias.

Semelhante realização pode não estar distante.
Dependerá do esforço que desejarem despender no trabalho aquisitivo.

Todo aquele que opere, e coopere de espírito voltado para Deus, poderá aguardar sempre o melhor.

Não é promessa de amizade. É lei.
O pequeno aparelho nos conduziu por enormes distâncias, sempre no ar, mas conservando-se a reduzida altura do solo.

Quase precisamente ao meio-dia, estacionamos em humilde pouso, destinado a abastecimento e reparação de maquinaria de natureza daquela em que havíamos viajado.

Despediu-se de nós o condutor, que nos desejou boa viagem preparando-se para regressar.
A paisagem tornou-se, então, muito fria e diferente.

Não estávamos em caminho trevoso, mas muito escuro e nevoento.
Tomara-se densa a atmosfera, alterando-nos a respiração.

Aniceto contemplou, connosco, a vastidão caliginosa e falou em tom grave:
— Com quatro horas de locomoção, estaremos na Crosta.
Reparem as sombras que nos rodeiam, identifiquem a mudança geral.
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