LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - NO MUNDO MAIOR

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:13 pm

NO MUNDO MAIOR
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

DITADO PELO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ
(5)

ÍNDICE


Na jornada evolutiva

CAPÍTULO 1 = Entre dois planos
CAPÍTULO 2 = A prelecção de Eusébio

CAPÍTULO 3 = A Casa Mental
CAPÍTULO 4 = Estudando o cérebro

CAPÍTULO 5 = O poder do amor
CAPÍTULO 6 = Amparo fraternal

CAPÍTULO 7 = Processo redentor
CAPÍTULO 8 = No Santuário da Alma

CAPÍTULO 9 = Mediunidade
CAPÍTULO 10 = Dolorosa perda

CAPÍTULO 11 = Sexo
CAPÍTULO 12 = Estranha enfermidade

CAPÍTULO 13 = Psicose afectiva
CAPÍTULO 14 = Medida salvadora

CAPÍTULO 15 = Apelo cristão
CAPÍTULO 16 = Alienados mentais

CAPÍTULO 17 = No limiar das cavernas
CAPÍTULO 18 = Velha afeição

CAPÍTULO 19 = Reaproximação
CAPÍTULO 20 = No lar de Cipriana
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:15 pm

Na jornada evolutiva

Dos quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos milhares, demandando o país da Morte.

Vão-se de ilustres centros da cultura europeia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos, de ásperos climas africanos.

Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos ...

Raros viveram nos montes da sublimação, vinculados aos deveres nobilitantes.
A maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela outorga de títulos que lhes exaltem a personalidade.

Não chegaram a ser homens completos.
Atravessaram o “mare magnum” da humanidade em contínua experimentação.

Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando voluntariamente nos trilhos da insensatez.

Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a indébita condição de “eleitos da Providência”;
e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se com penetrarem das próprias faltas, esperando um paraíso de graças para si e um inferno de intermino tormento para os outros.

Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam, sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória;
e, se filiados a escolas religiosas, raros exceptuados, contavam, levianos e inconsequentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer.

Onde albergar a estranha e infinita caravana?
como designar a mesma estação de destino a viajantes de cultura, posição e bagagem tão diversas?

Perante a Suprema Justiça, o malgache e o inglês fruem dos mesmos direitos.

Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela conduta Individual, diante da Lei Divina, que distingue, invariavelmente, a virtude e o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a simulação, a boa vontade e a indiferença.

Da contínua peregrinação do sepulcro, participam, todavia, santos e malfeitores, homens diligentes e homens preguiçosos.

Como avaliar por bitola única recipientes heterogéneos?
Considerando, porém, nossa origem comum, não somos todos filhos do mesmo Pai?

E por que motivo fulminar com inapelável condenação os delinquentes, se o dicionário divino inscreve a letras de logo as palavras “regeneração”, “amor” e “misericórdia”?

Determinaria o Senhor o cultivo compulsório da esperança entre as criaturas, ao passo que Ele mesmo, de Sua parte, desesperaria?

Glorificaria a boa vontade, entre os homens, e conservar-se-ia no cárcere escuro da negação?

O selvagem que haja eliminado os semelhantes, a flechadas, teria recebido no mundo as mesmas oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que extermina o próximo à metralhadora?

Estariam ambos preparados ao ingresso definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão sómente pelo baptismo simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de morte?


A lógica e o bom-senso nem sempre se compadecem com argumentos teológicos imutáveis.
A vida nunca interrompe actividades naturais, por imposição de dogmas estatuídos de artifício.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:17 pm

E, se mera obra de arte humana, cujo termo é a bolorenta placidez dos museus, exige a paciência de anos para ser empreendida e realizada, que dizer da obra sublime do aperfeiçoamento da alma, destinada a glórias imarcescíveis?

Vários companheiros de ideal estranham a cooperação de André Luiz, que nos tece informações sobre alguns sectores das esferas mais próximas ao comum dos mortais.

Iludidos na teoria do menor esforço, inexistente nos círculos elevados, contavam com preeminência pessoal, sem nenhum testemunho de serviço e distantes do trabalho digno, em um céu de gozos contemplativos, exuberante de conforto melifico.

Prefeririam a despreocupação das galerias, em beatitude permanente, onde a grandeza divina se limitaria a prodigioso. espectáculos, cujos números mais surpreendentes estariam a cargo dos Espíritos Superiores, convertidos em jograis de vestidura brilhante.

A missão de André Luiz é, porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros felizes na Eternidade, riquezas imperecíveis;
em cuja posse jamais entraremos sem a Indispensável aquisição de Sabedoria e de Amor.

Para isto, não lidamos em milagrosos laboratórios de felicidade improvisada, onde se adquiram dotes de vil preço e ordinárias asas de cera.

Somos filhos de Deus, em crescimento.

Sela nos campos de forças condensadas, quais os da luta física, seja nas esferas de energias subtis, quais as do plano superior, os ascendentes que nos presidem os destinos são de ordem evolutiva, pura e simples, com indefectível justiça a seguirmos de perto, à claridade gloriosa e com passiva do Divino Amor.

A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste.
Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos.

Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.

Ninguém, depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque “o Reino do Senhor não vem com aparências externas”.

Os companheiros que compreendem, na experiência humana, a escada sublime, cujos degraus há que vencer a preço de suor, com o proveito das bênçãos celestiais, dentro da prática Incessante do bem, não se surpreenderão com as narrativas do mensageiro interessado no servir por amor.

Sabem eles que não teriam recebido o dom da vida para matar o tempo, nem a dádiva da’ fé para confundir os semelhantes, absorvidos, que se acham, na execução dos Divinos Desígnios.

Todavia, aos crentes do favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se apresentem com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do emissário fraternal provocarão descontentamento e perplexidade.

É natural, porém: cada lavrador respira o ar do campo que escolheu.

Para todos, contudo, exortamos a bênção do Eterno: tanto para eles, quanto para nós.

EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 25 de março de 1947.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:17 pm

1 - Entre dois planos

Resplendia o luar, revestindo os ângulos da paisagem de intensa luz.

Maravilhosos cúmulos a Oeste, espraiados no horizonte, semelhavam-se a castelos de espuma láctea, perdidos no imenso azul;
confinando com a amplidão, o quadro terrestre contrastava com o doce encantamento do alto, deixando entrever a vasta planície, recamada de arvoredo em pesado verde-escuro.

Ao Sul, caprichosos cirros reclinavam-se do Céu sobre a Terra, simbolizando adornos de gaze esvoaçante;
evoquei, nesse momento, a juventude da Humanidade encarnada, perguntando a mim mesmo se aquelas bandas alvas do firmamento não seriam faixas celestiais a protegerem o repouso do educandário terrestre.

A solidão imponente do plenilúnio infundia-me quase terror pela melancolia de sua majestosa e indizível beleza.

A ideia de Deus envolvia-me o pensamento, arrancando-me notas de respeito e gratidão, que eu, entretanto, não chegava a emitir.

Em plena casa da noite, rendia culto de amor ao Eterno, que lhe criara os fundamentos sublimes de silêncio e de paz, em refrigério das almas encarnadas na Crosta da Terra.

O luminoso disco lunar irradiava, destarte, maravilhosas sugestões.
Aos seus reflexos, iniciara-se a evolução terrena, e numerosas civilizações haviam modificado o curso das experiências humanas.

Aquela mesma lâmpada suspensa clareara o caminho dos seres primitivos, conduzira os passos dos conquistadores, norteara a jornada dos santos.

Testemunha impassível, observara a fundação de cidades sumptuosas, acompanhando-lhes a prosperidade e a decadência;
contemplara as incessantes renovações da geografia política do mundo;

brilhara sobre a testa coroada dos príncipes e sobre o cajado de misérrimos pastores;
presenciava, todos os dias, há longos milénios, o nascimento e a morte de milhões de seres.

Sua augusta serenidade reflectia a paz divina, cá em baixo, desencarnados e encarnados, possuidores de relativa inteligência, podíamos proceder a experimentos, reparar estradas, contrair compromissos ou edificar virtudes, entre a esperança e a inquietação, aprendendo e recapitulando sempre;
mas a Lua, solitária e alvinitente, trazia-nos a ideia da tranquilidade inexpugnável da Divina Lei.

— A região do encontro está próxima.
A palavra do Assistente Calderaro interrompeu-me a meditação.

O aviso fazia-me sentir o trabalho, a responsabilidade;
lembrava, sobretudo, que não me encontrava só.
Não viajávamos, ambos, sem objectivo.

Em breves minutos, partilharíamos os trabalhos do Instrutor Eusébio, abnegado paladino do amor cristão, em serviço de auxílio a companheiros necessitados.

Eusébio dedicara-se, de há muito, ao ministério do socorro espiritual, com vastíssimos créditos em nosso plano.
Renunciara a posições de realce e adiara sublimes realizações, consagrando-se inteiramente aos famintos de luz.

Superintendia prestigiosa organização de assistência em zona intermediária, atendendo a estudantes relativamente espiritualizados, pois ainda jungidos ao círculo carnal, e a discípulos recém-libertos do campo físico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:18 pm

A enorme instituição, a que dedicava direcção fulgurante, regurgitava de almas situadas entre as esferas inferiores e as superiores, gente com imensidão de problemas e de indagações de toda a espécie, a requerer-lhe paciência e sabedoria;
entretanto, o indefesso missionário, mau grado ao constante acúmulo de serviços complexos, encontrava tempo para descer semanalmente à Crosta Planetária, satisfazendo interesses imediatos de aprendizes que se candidatavam ao discípulado, sem recursos de elevação para vir ao encontro de seu verbo iluminado, na sede superior.

Não o conhecia pessoalmente.
Calderaro, porém, recebia-lhe a orientação, de conformidade com o quadro hierárquico, e a ele se referira com o entusiasmo do subordinado que se liga ao chefe, guardando o amor acima da obediência.

O Assistente, a seu turno, prestava serviço activo na própria Crosta da Terra, a atender, de modo directo, aos irmãos encarnados.

Especializara-se na ciência do socorro espiritual, naquela que, entre os estudiosos do mundo, poderíamos chamar «psiquiatria iluminada», sector de realizações que há muito tempo me seduzia.

Dispondo de uma semana sem obrigações definidas, dentre os encargos que me diziam respeito, solicitei ingresso na turma de adestramento, da qual se fizera Calderaro eminente orientador, tendo-me ele aceito com a gentileza característica dos legítimos missionários do bem e propondo-se conduzir-me carinhosamente.

Encontrava-se em oportunidade favorável aos meus propósitos de aprender, pois a equipe de preparação, que lhe recebia ensinamentos, excursionava em outra região, a labutar em actividades edificantes;
à vista disso, poderia dispensar-me toda a atenção, auxiliando-me os desejos.

Os casos que lhe eram atinentes, explicou-me solícito, não apresentavam continuidade substancial:
desdobravam-se;
constituíam obra de improviso, obedeciam ao inopinado das ordens de serviço ou das situações.

Noutros campos de acção, fazia-se imprescindível o roteiro, previstas as condições e as circunstâncias.

No quadro de responsabilidades, porém, que lhe estavam afectas, diferiam as normas;
importava acompanhar os problemas, quais imprevistas manifestações da própria vida.

Em virtude de tais flutuações, não traçava, a rigor, programas quanto a particularidades.
Executava os deveres que lhe competiam, onde, como e quando determinassem os desígnios superiores.

O escopo fundamental da tarefa circunscrevia-se ao socorro imediato aos infelizes, evitando-se, quanto possível, a loucura, o suicídio e os extremos desastres morais.

Para isto, o missionário actuante era compelido a conhecer profundamente o jogo das forças psíquicas, com acendrado devotamento ao bem do próximo.

Calderaro, neste particular, não deixava perceber qualquer dúvida.
A bondade espontânea lhe era indício da virtude, e a inquebrantável serenidade revelava-lhe a sabedoria.

Não lhe gozava o convívio desde muitos dias.
Abraçara-o na véspera pela primeira vez;
bastou, no entanto, um minuto de sintonia, para que se estabelecesse entre nós sadia intimidade.

Embora lhe reconhecesse a sobriedade verbal, desde o momento do nosso encontro permutávamos impressões como velhos amigos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:18 pm

Seguindo-lhe, pois, os passos, afectuosamente, de alma edificada na fraternidade e na confiança, vi-me a reduzida distância de extenso parque, em plena natureza terrestre.

Em torno, árvores robustas, de copas farfalhantes, alinhavam-se, à maneira de sentinelas adrede postadas para velar-nos pelos serviços.

O vento passava cantando, em surdina;
no recinto iluminado de claridades inacessíveis à faculdade receptiva do olhar humano, aglomeravam-se algumas centenas de companheiros, temporáriamente afastados do corpo físico pela força liberativa do sono.

Amigos de nossa esfera atendiam-nos com desvelo, mostrando interesse afectivo, prazer de servir e santa paciência.

Reparei que muitos se mantinham de pé; outros, contudo, se acomodavam nas protuberâncias do solo alcatifado de relva macia, em palestra grave e respeitosa.

Ambientando-me para aquela hora de extrema beleza espiritual, Calderaro avisou-me:
— Na reunião de hoje o Instrutor Eusébio receberá estudantes do espiritualismo, em suas correntes diversas, que se candidatam aos serviços de vanguarda.

— Oh! — exclamei, curioso
Não se trata, pois, de assembleia, que agrupe indivíduos filiados indiscriminadamente às escolas da fé?

O Assistente esclareceu, de pronto:
— A medida não seria aconselhável no círculo de nossa especialidade.

O Instrutor afeiçoou-se ao apostolado de assistência a criaturas encarnadas e a recém-libertas da zona física, em particular, precisando aproveitar o tempo com as horas de prelecção, para o máximo de aproveitamento.

A heterogeneidade de princípios em centenas de indivíduos, cada qual com sua opinião, obrigaria a digressões difusas, acarretando condenáveis desperdícios de oportunidades.

Fixou a multidão demoradamente, e acrescentou:
— Temos aqui, em cálculo aproximado, mil e duzentas pessoas.

Deste número oitenta por cento se constituem de aprendizes dos templos espiritualistas, em seus ramos diversos, ainda inaptos aos grandes voos do conhecimento, conquanto nutram fervorosas aspirações de colaboração no Plano Divino.

São companheiros de elevado potencial de virtudes.

Exemplificam a boa vontade, exercitam-se na iluminação interior através de esforço louvável;
contudo, ainda não criaram o cerne da confiança para uso próprio.

Tremem ante as tempestades naturais do caminho e hesitam no círculo das provas necessárias ao enriquecimento da alma, exigindo de nós particular cuidado, pois que, pelos seus testemunhos de diligência na obra espiritualizante, são os futuros instrumentos para os serviços da frente.

Apesar da claridade que lhes assinala as directrizes, ainda padecem desarmonias e angústias, que lhes ameaçam o equilíbrio incipiente.

Não lhes falece, porém, a assistência precisa.
Instituições de restauração de forças abrem-lhes as portas acolhedoras em nossas esferas de acção.

A libertação pelo sono é o recurso imediato de nossas manifestações de amparo fraterno.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:18 pm

A princípio, recebem-nos a influência inconscientemente;
em seguida, porém, fortalecem a mente, devagarinho, gravando-nos o concurso na memória, apresentando ideias, alvitres, sugestões, pareceres e inspirações beneficentes e salvadoras, através de recordações imprecisas.

Fez breve pausa e concluiu:
— Os demais são colaboradores de nosso plano em tarefa de auxílio.

A organização dos trabalhos era digna de sincera admiração.
Estávamos num campo substancialmente terrestre.

A atmosfera, impregnada de aromas que o vento espargia em torno, recordava-me o lar na Terra, contornado de seu jardim, em noite cálida.

Que teria eu realizado no mundo físico se recebesse, em outro tempo, aquela bendita oportunidade de iluminação?

Aquele punhado de mortais, sob os raios da Lua, afigurou-se-me assembleia de privilegiados, favorecidos por celestes numnes.

Milhões de homens e mulheres a dormir em cidades Próximas, algemados aos interesses imediatos e ansiando a permuta das mais vis sensações, nem de longe suspeitariam a existência daquela original aglomeração de candidatos à luz intima, convocados à preparação intensiva para incursões mais longas e eficientes na espiritualidade superior.

Teriam a noção do sublime ensejo que lhes aprazia?
Aproveitariam a dádiva com suficiente compreensão dos valores eternos?
Marchariam desassombrados para a frente, OU estacionariam ao contacto dos primeiros óbices, no esforço iluminativo?

Calderaro percebeu-me as silenciosas requisições e acrescentou:
— Nossa comunidade de trabalho se dedica, essencialmente, à manifestação do equilíbrio.

Não ignoras que a. codificação do plano mental das criaturas ninguém jamais a impõe:
é fruto de tempo, de esforço, de evolução;
e o edifício da sociedade humana, em o actual momento do mundo, vem sendo abalado nos próprios alicerces, compelindo imenso número de pessoas a imprevistas renovações.

Certo, não te surpreenderás se eu disser que, em face do surto da inteligência moderna, que embate na paralisia do sentimento, periclita a razão.

O progresso material atordoa a alma do homem desatento. Grandes massas, há séculos, permanecem distanciadas da luz espiritual.

A civilização puramente científica é um Saturno devorador, e a humanidade de agora se defronta com implacáveis exigências de acelerado crescer mental.

Daí o agravo de nossas obrigações no sector da assistência.
As necessidades de preparação do espírito intensificam-se em ritmo assustador.
Nesse instante, alcançamos a multidão pacífica.

Meu interlocutor sorriu, frisando:
— O acaso não opera prodígios.
Qualquer realização há que planear, atacar, pôr a termo.

Para que o homem físico se converta em homem espiritual, o milagre exige muita colaboração de nossa parte.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:18 pm

Lançou-me olhar significativo e concluiu:
— As asas sublimes da alma eterna não se expandem nos acanhados escaninhos de uma chocadeira.
Há que trabalhar, brunir, sofrer.

Nesse momento, aproximou-se alguém dirigindo-nos a palavra:
era um solícito companheiro, informando-nos que Eusébio penetrara o recinto.

Efectivamente, em saliência próxima, comparecia o missionário, ladeado por seis assessores, todos envoltos em halos de intensa luz.

O abnegado orientador não exibia os traços de venerável senectude com que em geral imaginamos os apóstolos das revelações divinas;
mostrava-se-nos com a figura dos homens robustos, em plena madureza espiritual;
os olhos escuros e tranquilos pareciam fontes de imenso poder magnético.

Contemplava-nos sorridente, qual simples colega.
A presença dele impusera, porém, respeitoso silencio.

Cessaram todas as conversações que aqui e ali se entretinham, e ante os fios de luz que os trabalhadores de nosso plano teciam em derredor, isolando-nos de qualquer assédio eventual das forças inferiores, apenas o vento calmo erguia a voz, sussurrando algo de belo e misterioso à folhagem.

Sentamo-nos todos, à escuta, enquanto o Instrutor se mantinha de pé;
observando-o, quase frente a frente, eu podia agora apreciar-lhe a figura majestosa, respirando segurança e beleza.

Do rosto imperturbável, a bondade e a compreensão, a tolerância e a doçura irradiavam simpatia inexcedível.

A túnica ampla, de tom verde-claro, emitia esmeraldinas cintilações.
Aquela vigorosa personalidade infundia veneração e carinho, confiança e paz.

Consolidada a quietude no ambiente, elevou a destra para o Alto e orou com inflexão comovedora:

Senhor da Vida,
Abençoa-nos o propósito
De penetrar o caminho da Luz!...


Somos Teus filhos,
Ainda escravos de círculos restritos,
Mas a sede do Infinito
Dilacera-nos os véus do ser.

Herdeiros da imortalidade,
Buscamos-Te as fontes eternas
Esperando, confiantes, em Tua misericórdia.

De nós mesmos, Senhor, nada podemos.
Sem Ti, somos frondes decepadas
Que o fogo da experiência
Tortura ou transforma...

Unidos, no entanto, ao Teu Amor,
Somos condicionadores gloriosos
De Tua Criação interminável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:19 pm

Somos alguns milhares
Neste campo terrestre;
E, antes de tudo,
Louvamos-Te a grandeza
Que não nos oprime a pequenez...

Dilata-nos a percepção diante da vida,
Abre-nos os olhos
Enevoados pelo sono da ilusão
Para que divisemos Tua glória sem fim!...

Desperta-nos docemente o ouvido,
A fim de percebermos o cântico
De tua sublime eternidade.

Abençoa as sementes de sabedoria
Que os teus mensageiros esparziram
No campo de nossas almas;
Fecunda-nos o solo interior,
Para que os divinos germens não pereçam.

Sabemos, Pai,
Que o suor do trabalho
E a lágrima da redenção
Constituem adubo generoso
A floração de nossas sementeiras;
Todavia,
Sem Tua bênção,
O suor elanguesce
E a lágrima desespera...

Sem Tua mão compassiva,
Os vermes das paixões
E as tempestades de nossos vícios
Podem arruinar-nos a lavoura incipiente.

Acorda-nos, Senhor da Vida,
Para a luz das oportunidades presentes;
Para que os atritos da luta não as inutilizem,
Guia-nos os pés para o supremo bem;
Reveste-nos o coração
Com a Tua serenidade paternal,
Robustecendo-nos a resistência!

Poderoso Senhor,
Ampara-nos a fragilidade,
Corrige-nos os erros,
Esclarece-nos a ignorância,
Acolhe-nos em Teu amoroso regaço.

Cumpram-se, Pai Amado,
Os Teus desígnios soberanos,
Agora e sempre.
Assim seja.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:19 pm

Finda a comovente rogativa, o orientador baixou os olhos enevoados de pranto, e então vi, dominado de júbilo, que da incognoscível altura uma claridade diferente caía sobre nós, em jorros cristalinos.

Partículas semelhantes a prata eterizada choviam no recinto, infiltrando-se nas raízes das árvores mais próximas, lá fora.

Ignoto encantamento fizera-se em minhalma.
Ao contacto dos eflúvios divinos, reparei que minhas forças gradualmente serenavam, em receptividade maravilhosa.

Em torno, pairavam as mesmas notas de alegria e de beleza, pois a calma e a ventura transpareciam de todos os rostos, voltados, extáticos, para o Instrutor, em redor do qual se mostravam mais intensas as ondas de luz celeste.

Sublime felicidade inundava-me todo o ser, mergulhara-me em indefinível banho de energias renovadoras.

Meus olhos foram impotentes para conter as lágrimas felizes que as formosas cintilações me destilavam das fontes ocultas do espírito.

E, antes que o nobre mentor retomasse a palavra, agradeci em silêncio a resposta do Céu, reconhecendo na prece, mais uma vez, não só a manifestação da reverência religiosa, senão também o recurso de acesso aos inesgotáveis mananciais do Divino Poder.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 18, 2012 10:19 pm

2 - A prelecção de Eusébio

Erecto, incendiado o tórax de suave luz, falou o Instrutor, comovedoramente:
— «Dirigimo-nos a vós, irmãos, que tendes, por enquanto, ensejo de aprender na bendita escola carnal.

«Tangidos pela necessidade, na sede de ciência ou na angústia do amor que transpõe abismos, vencestes pesadas fronteiras vibratórias, encontrando-vos na estaca zero do caminho diferente que se vos antolha.

Enquanto vossa organização fisiológica repousa a distância, exercitando-se para a morte, vossas almas quase libertas partilham connosco a fraternidade e a esperança, adestrando faculdades e sentimentos para a verdadeira vida.

«Naturalmente, não podereis guardar plena recordação desta hora, em retomando o envoltório carnal, em virtude da deficiência do cérebro, incapaz de suportar a carga de duas vidas simultâneas;
a lembrança de nosso entendimento persistirá, contudo, no fundo de vosso ser, orientando-vos as tendências superiores para o terreno da elevação e abrindo-vos a porta intuitiva para que vos assista nosso pensamento fraternal».

O orador fez breve pausa, fixando-nos o olhar calmo e lúcido, e, sob a leve e incessante chuva de raios argênteos, continuou:
— Enfastiados das repetidas sensações no plano grosseiro da existência, intentais pisar outros domínios.

Buscais a novidade, o conforto desconhecido, a solução de torturantes enigmas;
todavia, não olvideis que a chama do próprio coração, convertido em santuário de claridade divina, é a única lâmpada capaz de iluminar o mistério espiritual, em nossa marcha pela senda redentora e evolutiva.

Ao lado de cada homem e de cada mulher, no mundo, permanece viva a Vontade de Deus, relativamente aos deveres que lhes cumprem.

Cada qual tem à sua frente o serviço que lhe compete, como cada dia traz consigo possibilidades especiais de realização no bem.

O Universo enquadra-se na ordem absoluta.
Aves livres em limitados céus, interferimos no plano divino, criando para nós prisões e liames, libertação e enriquecimento.

Insta, pois, nos adaptemos ao equilíbrio divino, atendendo à função insulada que nos cabe, em plena colmeia da vida.

“Desde quando fazemos e desfazemos, terminamos e recomeçamos, empreendemos a viagem reparadora e regressamos, perplexos, para o reinício?

Somos, no palco da Crosta planetária, os mesmos atores do drama evolutivo.
Cada milénio é acto breve, cada século um cenário veloz.

Utilizando corpos sagrados, perdemos, entretanto, quais despreocupadas crianças, entretidas apenas em jogos infantis, o ensejo santificante da existência;
destarte, fazemo-nos réprobos das leis soberanas, que nos enredam aos escombros da morte, como náufragos piratas por muito tempo indignos do retorno às lides do mar.

Enquanto milhões de almas desfrutam bons ensejos de emenda e reajustamento, de novo entregues ao esforço regenerativo nas cidades terrestres, milhões de outras deploram a própria derrota, perdidas no atro recesso da desilusão e do padecimento.

(Não nos reportamos aqui aos missionários heróicos que suportam as sangrentas feridas dos testemunhos angustiosos, por espírito de renúncia e de amor, de solidariedade e de sacrifício;
são luzes provisoriamente apartadas da Luz Divina e que voltam ao domicílio celeste, como o trabalhador fiel regressa ao lar, finda a quotidiana tarefa.

«Referimo-nos às bastas multidões de almas indecisas, presas da ingratidão e da dúvida, da fraqueza e da dissipação, almas formadas à luz da razão, mas escravizadas à tirania do instinto».
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:16 pm

E num rasgo de humildade cristã, Eusébio continuou:
- «Falamos de todos nós, viajores que extravagamos no deserto da própria negação;
de nós, pássaros de asas partidas, que tentamos voar ao ninho da liberdade e da paz, e que, no entanto, ainda nos debatemos no chavascal dos prazeres de ínfima estofa.

Porque não represar o curso das paixões corrosivas que nos flagelam o espírito?
Porque não sofrear o ímpeto da animalidade, em que nos comprazemos, desde os primeiros laivos de raciocínio?

Sempre o terrível dualismo da luz e das trevas, da compaixão e da perversidade, da inteligência e do impulso bestial.

Estudamos a ciência da espiritualidade consoladora desde os primórdios da razão, e, todavia, desde as épocas mais remotas, consagramo-nos ao aviltamento e ao morticínio.

«Cantávamos hinos de louvor com Krishna, aprendendo o conceito da imortalidade da alma, à sombra das árvores augustas que aspiram aos cimos do Himalaia, e descíamos, logo depois, ao vale do Ganges, matando e destruindo para gozar e possuir.

Soletrávamos o amor universal com Sidarta Gautama, e perseguíamos os semelhantes, em aliança com os guerreiros cingaleses e hindus.

Fomos herdeiros da Sabedoria, nos tempos distantes da Esfinge, e, no entanto, da reverência aos mistérios da iniciação passávamos à hostilidade sanguinolenta, nas margens do Nilo.

Acompanhando a arca simbólica dos hebreus, reiteradas vezes líamos os mandamentos de Jeová, contidos nos rolos sagrados, e, desatentos, os esquecíamos, ao primeiro clangor de guerra aos filisteus.

Chorávamos de comoção religiosa em Atenas, e assassinávamos nossos irmãos em Esparta.
Admirávamos Pitágoras, o filósofo, e seguíamos Alexandre, o conquistador.

Em Roma, conduzíamos oferendas valiosas aos deuses, nos maravilhosos santuários, exaltando a virtude, para desembainhar as armas, minutos depois, no átrio dos templos, disseminando a morte e entronizando o crime;
escrevíamos formosas sentenças de respeito à vida, com Marco Aurélio, e ordenávamos a matança de pessoas limpas de culpa e úteis à sociedade.

Com Jesus, o Divino Crucificado, nossa atitude não tem sido diferente.
Sobre os despojos dos mártires, imolados nos circos, vertemos rios de sangue em vindita cruel, armando fogueiras do sectarismo religioso.

Suportamos administradores arbitrários e ignominiosos, de Nero a Diocleciano, porque tínhamos fome de poder, e quando Constantino nos abriu as portas da dominação política, convertemo-nos de servos aparentemente fiéis ao Evangelho em criminosos árbitros do mundo.

Pouco a pouco esquecemos os cegos de Jericó, os paralíticos de Jerusalém, as crianças do Tiberíades, os pescadores de cafarnaum, para afagar as testas coroadas dos triunfadores, embora soubéssemos que os vencedores da Terra não podem fugir à peregrinação ao sepulcro.

Tornou-se a ideia do Reino de Deus fantasia de ingénuos, pois não largávamos o lado direito dos príncipes, sequiosos de fastígio mundano.

Ainda hoje, decorridos quase vinte séculos sobre a cruz do Salvador, benzemos baionetas e canhões, metralhadoras e tanques de assalto, em nome do Pai Magnânimo, que faz refulgir o sol da misericórdia sobre os justos e sobre os injustos.

«É por esta razão que nossos celeiros de luz permanecem vazios.
O vendaval das paixões fulminantes de homens e de povos passa ululante, de um a outro pólo, a semear maus presságios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:16 pm

«Até quando seremos génios demolidores e perversos?

Ao invés de servos leais do Senhor da Vida, temos sido soldados dos exércitos da ilusão, deixando à retaguarda milhões de túmulos, abertos sob aluviões de cinza e fumo. Debalde exortou-nos o Cristo a buscar as manifestações do Pai em nosso próprio Intimo.

Cevamos e expandimos únicamente o egoísmo e a ambição, a vaidade e a fantasia na Crosta Planetária.

Contraímos pesados débitos e escravizamo-nos aos tristes resultados de nossas obras, deixando-nos ficar, indefinidamente, na messe dos espinhos.

«Foi assim que atingimos a época moderna, em que a loucura se generaliza e a harmonia mental do homem está a pique de soçobro.

De cérebro evolvido e coração imaturo, requintamo-nos, presentemente, na arte de esfacelar o progresso espiritual.»

O excelso orientador deu à oração mais longo intervalo, durante o qual observei companheiros em torno.

Homens e mulheres, segurando alguns fortemente as mãos uns dos outros, exibiam extrema palidez no semblante estarrecido.

Alguns deles, por certo, compareciam ali pela primeira vez, como eu, dado o extático assombro que se lhes estampava no rosto.

Fixando na assembleia o olhar percuciente, o Instrutor prosseguiu:
— Nos séculos pretéritos, as cidades florescentes do mundo desapareciam pelo massacre, ao gládio dos conquistadores sem entranhas, ou estacionavam sob a onda mortífera da peste desconhecida e não atacada.

Hoje, as colectividades humanas ainda sofrem o assédio da espada homicida, e chuvas de bombas arremetem contra populações indefesas;
no entanto, a febre-amarela, a cólera e a varíola foram dominadas;
a lepra, a tuberculose e o câncer experimentam combate sem tréguas.

Existe, porém, nova ameaça ao domicílio terrestre:
o profundo desequilíbrio, a desarmonia generalizada, as moléstias da alma que se ingerem, subtis, solapando-vos a estabilidade.

«Vossos caminhos não parecem percorridos por seres conscientes, mas semelham-se a estranhas veredas, ao longo das quais tripudiam duendes alucinados.

Como fruto de eras sombrias, caracterizadas pela opressão e maldade recíprocas, em que temos vivido, odiando-nos uns aos outros, vemos a Terra convertida em campo de quase intérminas hostilidades.

Homens e nações perseguem o mito do ouro fácil;
criaturas sensíveis abandonam-se aos distúrbios das paixões;
cérebros vigorosos perdem a visão interior, enceguecidos pelos enganos da personalidade e do autoritarismo.

Empenhados em disputas intermináveis, em duelos formidandos de opinião, conduzidos por desvairadas ambições inferiores, os filhos da Terra abeiram-se de novo abismo, que o olhar conturbado não lhes deixa perceber.

Esse hiante vórtice, meus irmãos, é o da alienação mental, que não nos desintegra só os patrimónios celulares da vida física, senão também nos atinge o tecido subtil da alma, invadindo-nos o cerne do corpo perispiritual.

Quase todos os quadros da civilização moderna se acham comprometidos na estrutura fundamental.

Precisamos, pois, mobilizar todas as forças ao nosso alcance, a serviço da causa humana, que é a nossa própria causa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:16 pm

«O trabalho salvacionista não é exclusividade da religião: constitui ministério comum a todos, porque dia virá em que o homem há de reconhecer a Divina Presença em toda a parte.

A realização que nos compete não se filia ao particularismo:
é obra genérica para a colectividade, esforço do servidor honesto e sincero, interessado no bem de todos.

“Se visuais a nossa companhia buscando orientação para o trabalho sublime do espírito, não vos esqueça vossa luz própria.

Não conteis com archotes alheios para a jornada.

Em míseros planos de sofrimento regenerador, nas vizinhanças da carne, choram amargamente milhões de homens e de mulheres que abusaram do concurso dos bons, precipitando-se nas trevas ao perder no túmulo os olhos efémeros com que apreciavam a paisagem da vida à luz do Sol.

Displicentes e recalcitrantes, esquivaram-se a todas as oportunidades de acender a própria lâmpada.

Aborreciam os atritos da luta, elegeram o gozo corporal como objectivo supremo de seus propósitos na Terra;
e, quando a morte lhes cerrou as pálpebras saciadas, passaram a conhecer uma noite mais longa e mais densa, referia de angústias e de pavores.»

Nesse momento, Eusébio interrompeu-se por mais de um minuto, como a recordar cenas comovedoras que as imagens de seu verbo evocavam, demonstrando certa vaguidade no olhar.

Notei a ansiedade com que a assembleia aguardava o retorno de sua palavra.

Damas sensibilizadas, ressumbravam forte impressão nas fisionomias transfiguradas, e todos nós, ante a exposição leal e comovente, nos mantínhamos quedos e aturdidos.

Decorridos longos segundos, o orador prosseguiu com inflexão enérgica e patriarcal:
- «Procurais connosco a precisa orientação para os trabalhos que vos tangem presentemente na Crosta da Terra.

Seduzidos pela claridade da Esfera Superior, fascinados pelas primeiras noções do amor universal, desejais a graça da cooperação na sementeira do porvir.

Reclamais asas para os surtos sublimes, tendes em mira coadjuvar no esforço de elevação.

Indubitavelmente, a intenção não pode ser mais nobre;
é, entretanto, indispensável considereis a vossa necessidade de integração no dever de cada dia.

Impossível é progredir no século, sem atender às obrigações da hora.
Torna-se imprescindível, na actualidade, recompor as energias, reajustar as aspirações e santificar os desejos.

- Não basta crer na imortalidade da alma.
Inadiável é a iluminação de nós mesmos, a fim de que sejamos claridade sublime.

Não basta, para o arrojado cometimento da redenção, o simples reconhecimento da sobrevivência da alma e do intercâmbio entre os dois mundos.

Os levianos e os maus, os ignorantes e os estultos, podem corresponder-se igualmente a distância, de país a país.

Antes de mais nada importa elevar o coração, romper as muralhas que nos encerram na sombra, esquecer as ilusões da posse, dilacerar os véus espessos da vaidade, abster-se do letal licor do personalismo aviltante, para que os clarões do monte refuljam no fundo dos vales, a fim de que o sol eterno de Deus dissipe as transitórias trevas humanas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:16 pm

«Vanguardeiros da fé viva, que o desejais ser doravante no mundo, não obstante os percalços que se nos defrontam, exige-se de vós a cabal demonstração de estardes certos da espiritualidade divina.

«O Plano Superior não se interessa pela incorporação de devotos famintos de um paraíso beatífico.

Admitiríeis, porventura, vossa permanência na Crosta Planetária, sem finalidades específicas?
Se a erva tenra deve produzir consoante objectivos superiores, que dizer da magnífica inteligência do homem encarnado?

Que não há que esperar da razão iluminada pela fé!
Receberíamos tão sagrados depósitos de conhecimento edificante para um sacrifício por nada?

Teríamos o aljôfar de tais bênçãos para fortalecer o propósito egoístico de alcançar o céu sem escalas preparatórias, sem actividades purificadoras?

«Nossa meta, meus amigos, não se compadece com o exclusivismo ególatra.
A Porta Divina não se abre a espíritos que se não divinizaram pelo trabalho incessante de cooperação com o Pai Altíssimo.

E o solo do Planeta, a que vos prendeis provisóriamente, representa o abençoado círculo de colaboração que o Senhor vos confia.

Recolhei o orvalho celeste no escrínio do coração sedento de paz;
contemplai as estrelas que nos acenam de longe, como sublimes ápices da Divindade;
todavia, não olvideis o campo de lutas presentes.

«O espiritualismo, nos tempos modernos, não pode restringir Deus entre as paredes de um templo da Terra, porque a nossa missão essencial é a de converter toda a Terra no templo augusto de Deus.

«Para a nossa vanguarda de obreiros decididos e valorosos passou a face de experimentação fútil, de investigações desordenadas, de raciocínios periféricos.

Vivemos a estruturação de sentimentos novos, argamassando as colunas do mundo vindouro, com a luz acesa em nosso campo íntimo.

Natural é que os aprendizes recém-chegados experimentem, examinem, operem sondagens e evoquem teorias brilhantes, em que as hipóteses concorram ao lado da exibição personalista: compreensível e razoável.

Toda escola caracteriza-se pelos diversos cursos, que lhe formam os quadros e as disciplinas.

Não nos dirigimos aqui, porém, aos que ainda sonham na clausura do «eu», enredados nos mil obstáculos da fantasia que lhes cristaliza as impressões.

Falamos a vós outros, que sentis a sede de universalismo, anónimos companheiros da humanidade que se esforça por emergir das trevas para a luz.

Como aceitardes a estagnação como princípio e a felicidade exclusivista como fim?

«Alimentemos a esperança renovadora.
Não invoqueis Jesus para justificar anseios de repouso indébito.

Ele não atingiu as culminâncias da Ressurreição sem subir ao Calvário, e as suas lições referem-se à fé que transporta montanhas.

Não reclamemos, pois, ingresso em mundos felizes, antes de melhorar o nosso próprio mundo.
Esquecei o velho erro de que a morte do corpo constitui milagrosa imersão da alma no rio do encantamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:17 pm

Rendamos culto à vida permanente, à justiça perfeita, e adaptemo-nos à Lei que nos apreciará o mérito sempre de conformidade com as nossas próprias obras.

«Nosso ministério é de iluminação e de eternidade.
«O Governo Universal não nos circunscreveu as actividades à guarda de altares perecíveis.

Não fomos convocados a velar no círculo particular duma interpretação exclusivista, senão a cooperar na libertação do espírito encarnado, abrindo horizontes mais claros à razão humana, refazendo o edifício da fé redentora que as religiões literalistas esqueceram.

«Sopros imensos da onda evolucionista varrem os ambientes da Terra.
Todos os dias ruem princípios convencionais, mantidos a titulo de invioláveis durante séculos.

A mente humana, perplexa, é compelida a transições angustiosas.

A subversão de valores, a experiência social e o processo acelerado de selecção pelo sofrimento colectivo perturbam os tímidos e os invigilantes, que representam esmagadora maioria em toda parte...

Como atender a esses milhões de necessitados espirituais, se não receberdes a responsabilidade do socorro fraterno?

como sanar a loucura incipiente, se não vos transformardes em ímãs que mantenham o equilíbrio?

Sabemos que a harmonia interior não é artigo de oferta e procura nos mercados terrestres, mas aquisição espiritual só acessível no templo do Espírito.

«Faz-se, pois, mister acendamos o coração em amor fraternal, à frente do serviço. Não bastará, em nossas realizações, a crença que espera;
indispensável é o amor que confia e atende, transforma e eleva, como vaso legítimo da Sabedoria Divina.

«Sejamos instrumentos do bem, acima de expectantes da graça.
A tarefa demanda coragem e suprema devoção a Deus.

Sem que nos convertamos em luz, no círculo em que estivermos, em vão acometeremos a sombra, aos nossos próprios pés.

E, no prosseguimento da acção que nos compete, não nos esqueçamos de que a evangelização das relações entre as esferas visíveis e invisíveis é dever tão natural e tão inadiável da tarefa quanto a evangelização das pessoas.

Não busqueis o maravilhoso: a sede do milagre pode viciar-vos e perder-vos.

“Vinculai-vos, pela oração e pelo trabalho construtivo, aos planos superiores, e estes vos proporcionarão contacto com os Armazéns Divinos, que suprem a cada um de nós segundo a justa necessidade.

“As ordenações que vos ajoujam na paisagem terrena, por mais ásperas ou desagradáveis, representam a Vontade Suprema.

«Não galgueis os obstáculos, nem tenteis contorná-los pela fuga deliberada:
vencei-os, utilizando a vontade e a perseverança, ensejando crescimento aos vossos próprios valores.

«Cuidai em não transitar sem a devida prudência nos caminhos da carne, em que, muita vez, imitais a mariposa estouvada.

Atendei as exigências de cada dia, rejubilando-vos por satisfazer as tarefas mínimas.
«Não intenteis o voo sem haver aprendido a marcha.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:17 pm

Sobretudo, não indagueis de direitos prováveis que vos caberiam no banquete divino, antes de liquidar os compromissos humanos.

Impossível é o título de anjos, sem serdes, antes, criaturas ponderadas.

«Soberanas e indefectíveis leis nos presidem aos destinos.
Somos conhecidos e examinados em toda parte.

«As facilidades concedidas aos espíritos santificados, que admiramos, são prodigalizadas a nós, por Deus, em todos os lugares.
O aproveitamento, porém, é obra nossa.

As máquinas terrestres podem alçar-vos o corpo físico a consideráveis alturas, mas o voo espiritual, com que vos libertareis da animalidade, jamais o desferireis sem asas próprias.

A consolação e a amizade de benfeitores encarnados e desencarnados enriquecer-vos-ão de conforto, quais suaves e abençoadas flores da alma;
entretanto, fenecerão como as rosas de um dia, se não fertilizardes o coração com a fé e o entendimento, com a esperança inquebrantável e o amor imortal, sublimes adubos que lhes propiciem o desenvolvimento no terreno do vosso esforço sem tréguas.

“Não cobiceis o repouso das mãos e dos pés; antes de abrigar semelhante propósito, procurai a paz interior na suprema tranquilidade da consciência.

«Abandonai a ilusão, antes que a ilusão vos abandone.
«Empolgando a chefia da própria existência, deixai plantado o bem na esteira de vossos passos.

«Somente os servos que trabalham gravam no tempo os marcos da evolução;
só os que se banham no suor da responsabilidade conseguem cunhar novas formas de vida e de ideal renovador.

Os demais, chamem-se monarcas ou príncipes, ministros ou legisladores, sacerdotes ou generais, entregues à ociosidade, classificam-se na ordem dos sugadores da Terra;
não chegam a assinalar sua permanência provisória na Crosta do Planeta;
adejam como insectos multicores, tornando à poeira de que se alçaram por alguns minutos.

Regressando, pois, ao corpo de carne, valei-vos da luz para as edificações necessárias.
Participemos do glorioso Espírito do Cristo.

«Convertamo-nos em claridade redentora.
“O desequilíbrio generalizado e crescente invade os departamentos da mente humana.
Combatem-se, desesperadamente, as nações e as ideologias, os sistemas e os princípios.

Estabelecida a trégua nas lutas internacionais, surgem deploráveis guerras civis, armando irmãos contra irmãos.

A indisciplina fomenta greves, a ânsia de libertação perturba o domicílio dos povos.

Guerreiam-se as esferas de acção entre si;
encarnados e desencarnados de tendências inferiores colidem ferozmente, aos milhões.

Inúmeros lares transformam-se em ambientes de inconformação e desarmonia.
Duela o homem consigo mesmo no actual processo acelerado de transição.

«Equilibrai-vos, pois, na edificação necessária, convictos de que é impossível confundir a Lei ou trair-lhe os ditames universais!»
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:17 pm

Perorando, Eusébio proferiu bela e sentida prece, invocando as bênçãos divinas para a assembleia.

Sublimes manifestações de luz fizeram-se, então, sentir sobre nós.
Encerrados os trabalhos, os companheiros ainda presos ao círculo carnal começaram a retirar-se em respeitoso silêncio.

Calderaro conduziu-me à presença do Instrutor e apresentou-me.
O alto dirigente recebeu-me com afabilidade e doçura, cumulando-me de palavras de incentivo.

Precisávamos servir, explicou ele, encarecendo as necessidades de assistência espiritual amontoadas em toda a parte, reclamando cooperadores abnegados e fiéis.

Quando Calderaro se referiu aos meus projectos, mostrou-me Eusébio paternal sorriso e, expondo-nos providências diversas a tomar, recomendou nos puséssemos em contacto com o grupo socorrista a que o Assistente emprestava activa colaboração.

Logo após, ao retirar-se, ladeado pelos assessores que lhe compunham a comitiva, o nobre mentor confortou-me, bondoso:
— Sê feliz!

Dirigindo a Calderaro expressivo olhar, acrescentou:
— Dado ensejo, conduze-o ao serviço de assistência às cavernas.

Tomado de curiosidade, agradeci sensibilizado e dispus-me a esperar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:17 pm

3 - A Casa Mental

Retomando a companhia de Calderaro, na manhã luminosa, absorvia-me o propósito de enriquecer noções pertinentes às manifestações da vida próxima à esfera física.

Admitido à colónia espiritual, que me recebera com extremado carinho, conhecia de perto alguns instrutores e fiéis operários do bem.

Inquestionavelmente, vivíamos todos em intenso trabalho, com escassas horas reservadas a excursões de entretenimento; demais, fruíamos ambiente de felicidade e alegria a favorecer-nos a marcha evolutiva.

Nossos templos constituíam, por si sós, abençoados núcleos de conforto e de revigoramento.

Nas associações culturais e artísticas encontrávamos a continuidade da existência terrestre, enriquecida, porém, de múltiplos elementos educativos, O campo social regurgitava de oportunidades maravilhosas para a aquisição de inestimáveis afeições.

Os lares, em que situávamos o serviço diuturno, erguiam-se entre jardins encantadores, quais ninhos tépidos e venturosos em frondes perfumadas e tranquilas.

Não nos faltavam determinações e deveres, ordem e disciplina;
entretanto, a serenidade era nosso clima, e a paz, nossa dádiva de cada dia.

Arremessara-nos a morte a atmosfera estranha à luta física.
A primeira sensação fora o choque.
Empolgara-nos o imprevisto.

Continuávamos vivendo, apenas sem a máquina fisiológica, mas as novas condições de existência não significavam subtracção da oportunidade de evolver.

Os motivos de competição benéfica, as possibilidades de crescimento espiritual haviam lucrado infinitamente.

Podíamos recorrer aos poderes superiores, entreter relações edificantes, tecer esperanças e sonhos de amor, projectar experiências mais elevadas no sector reencarnacionista, aprimorando-nos no trabalho e no estudo e dilatando a capacidade de servir.

Em suma, a passagem pelo sepulcro conduzira-nos a uma vida melhor;
mas... e os milhões que transpunham o estreito limiar da morte, permanecendo apegados à Crosta da Terra.

Incalculáveis multidões desse género mantinham-se na fase rudimentar do conhecimento;
apenas possuíam algumas informações primárias da vida;

exoravam amparo dos Espíritos Superiores, como as tribos primitivas reclamam o concurso dos homens civilizados;
precisavam de desenvolver faculdades, como as crianças de crescer;

não permaneciam chumbadas à esfera carnal por maldade, senão que se demoravam, hesitantes, no chão terreno, como os pequeninos descendentes dos homens se aconchegam ao seio materno;

guardavam da existência apenas a lembrança do campo sensitivo, reclamando a reencarnação quase imediata quando lhes não era possível a matrícula em nossos educandários de serviço e aprendizado iniciais.

Por outro lado, verdadeiras falanges de criminosos e transviados agitavam-se, não longe de nós, depois de haverem transposto as fronteiras do túmulo;

consumiam, por vezes, inúmeros anos entre a revolta e a desesperação, personificando hórridos génios da sombra, como ocorre, nos círculos terrenos, com os delinquentes contumazes, segregados da sociedade sadia;

mas sempre terminavam a corrida louca nos desvios escuros do remorso e do sofrimento, penitenciando-se, por fim, de suas perversidades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:18 pm

O arrependimento é, porém, caminho para a regeneração e nunca passaporte directo para o céu, razão pela qual esses infelizes formavam quadros vivos de padecimento e de horror.

Em várias experiências, via-os conturbados e aflitos, assumindo formas desagradáveis ao olhar.

Nos casos de obsessão convertiam-se em recíprocos algozes, ou, então, em verdugos frios das vítimas encarnadas;
quando errantes ou circunscritos aos vales de punição, aterravam sempre pelos espectáculos de dor e de miséria sem limites.

No entanto, era forçoso convir, eles, os desventurados, e nós outros, que continuávamos trabalhando em ritmo normal, atravessáramos portas idênticas.

Talvez, em muitos casos, houvéssemos abandonado o invólucro material sob o assédio de doenças análogas.

Isto considerando, e por desejar conhecer a Divina Lei, que não concede paraísos de favor, nem estabelece infernos eternais, confrangia-me o contemplar as imensas fileiras de infortunados.

Efectivamente, identificara numerosos deles em câmaras rectificadoras, através de múltiplas instituições de beneficência;
todavia, esses, situados na zona de amparo fraterno, apresentavam a seu favor sintomas de melhora quanto ao reconhecimento das próprias falhas ou aos créditos espirituais de que gozavam, mercê de certas forças intercessoras.

Os infelizes, a que aludimos, provinham, porém, de outras origens.

Eram os ignorantes, os revoltados, os perturbadores e os impenitentes, de alma impermeável às advertências edificantes, os enfatuados e os vaidosos dos mais vários matizes, perseverantes no mal, dissipadores da energia anímica, em atitudes perversas diante da vida.

Meu contacto com eles, em diversas ocasiões, fora simples encontro fortuito, sem maior significação para meu esclarecimento.

Por que motivo se demoravam tanto no hemisfério obscuro da incompreensão?
Adiavam, deliberadamente, a recepção da luz?

Não lhes doeria a condição de seres condenados, por si mesmos, a longas penas?
Não experimentariam vergonha pela perda voluntária de tempo?

Muita vez, surpreendia-me a contemplá-los...
Os traços fisionómicos de muitos desses desventurados pareciam monstruoso desenho, provocando ironia e piedade.

Que lei regeria a estereotiparão de suas formas?
Tê-los-ia olvidado a mãe-natureza, pródiga de bênçãos em todos os planos, ou recebiam eles esses traços de apresentação pessoal como castigo imposto por superiores desígnios?

Tais interrogações que me esfervilhavam no cérebro me punham aflito por viver a possibilidade que se me oferecia.

Aproximei-me de Calderaro, naquela manhã, sedento de saber.
Expus-lhe minhas indagações íntimas, relatei-lhe aos ouvidos tolerantes minha expectativa ansiosa, longamente sofreada;
pretendia conhecer os que se entretinham na maldade, no crime, na inconformação.

Meu amigo escutou calmo, sorriu benevolamente e começou por esclarecer:
— Antes de mais nada, André, modifiquemos o conceito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 19, 2012 10:18 pm

Para transformar-nos em legítimos elementos de auxílio aos Espíritos sofredores, Desencarnados ou não, é-nos imprescindível compreender a perversidade como loucura, a revolta como ignorância e o desespero como enfermidade.

Ante a minha perplexidade, acrescentou, fraternal:
- Entendeste? Estas definições, em verdade, não são minhas.

Aprendemo-las do Cristo, em seu trato divino com a nossa posição de inferioridade, na Crosta Terrestre.

Julguei que o Instrutor se estendesse em longa exposição verbalista, relativa ao assunto, trazendo referências preciosas e comentando experiências pessoais.

Nada disto; Calderaro informou-me simplesmente:
— A cegueira do espírito é fruto da espessa ignorância em manifestações primárias ou do obnubilamento da razão nos estados de aviltamento do ser.

Nosso interesse, no socorro à mente desequilibrada, é analisar este último aspecto da sombra que pesa sobre as almas;
assim sendo, faz-se mister saberes alguma coisa da loucura no âmbito da civilização.

Para isto, convém estudarmos, mais detidamente, o cérebro do homem encarnado e o do homem desencarnado em posição desarmónica, por situarmos aí o órgão de manifestação da actividade espiritual.

Desejaria continuar ouvindo-o nas explicações claras e convincentes, a lhe fluírem dos lábios, mas Calderaro silenciou para afirmar, passados alguns instantes:
— Não disponho de muito tempo para discretear de matéria estranha aos meus serviços;
todavia, lidaremos juntos, convictos de que, trabalhando nas boas obras, aprenderemos sempre a ciência da elevação.

Sorriu, fraternal, e rematou:
— O verbo gasto em serviços do bem é cimento divino para realizações imorredouras.
Conversaremos, pois, servindo aos nossos semelhantes de modo substancial, e nosso lucro será crescente.

Calei-me, edificado.
Daí a minutos, acompanhando-o, penetrei vasto hospital, detendo-nos diante do leito de certo enfermo, que o Assistente deveria socorrer.

Abatido e pálido, mantinha-se ele unido a deplorável entidade de nosso plano, em míseras condições de inferioridade e de sofrimento.

O doente, embora quase imóvel, acusava forte tensão de nervos, sem perceber, com os olhos físicos, a presença do companheiro de sinistro aspecto.

Pareciam visceralmente jungidos um ao outro, tal a abundância de fios tenuíssimos que mutuamente os entrelaçavam, desde o tórax à cabeça, pelo que se me afiguravam dois prisioneiros de uma rede fluídica.

Pensamentos de um deles com certeza viveriam no cérebro do outro.
Comoções e sentimentos seriam permutados entre ambos com matemática precisão.

Espiritualmente, estariam, de contínuo, perfeitamente identificados entre si.
Observava-lhes, admirado, o fluxo de comuns vibrações mentais.

Dispunha-me a comentar o fenómeno, quando Calderaro, percebendo-me a intenção, se adiantou, recomendando:
— Examina o cérebro de nosso irmão encarnado.

Concentrei-me na contemplação do delicado aparelho, centralizando toda a minha capacidade visual, de modo a analisá-lo interiormente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 20, 2012 9:29 pm

O envoltório craniano, ante meus poderes visuais intensificados, não apresentava resistência.

Como reparara de outras vezes, ali estava o complicado departamento da produção mental, semelhando-se a laboratório dos mais complexos e menos acessíveis.

As circunvoluções separadas entre si, reunidas em lobos, igualmente distanciados uns dos outros pelas cissuras, davam-me a ideia de um aparelho eléctrico, quase indevassado pelos homens.

Comparando os dois hemisférios, recordei as designações da terminologia clássica, e demorei-me longos minutos reparando as especiais disposições dos nervos e as características da substância cinzenta.

A voz do meu orientador quebrou o silêncio, exclamando inopinadamente:
— Observa a sinalização.

Assombrado, notei, pela primeira vez, que as irradiações emitidas pelo cérebro continham diferenças essenciais.

Cada centro motor assinalava-se com peculiaridades diversas, através das forças radiantes.
Descobri, surpreso, que toda a província cerebral, pelos sinais luminosos, se dividia em três regiões distintas.

Nos lobos frontais, as zonas de associação eram quase brilhantes.
Do córtex motor, até a extremidade da medula espinhal, a claridade diminuía, para tomar-se ainda mais fraca nos gânglios basais.

Já despendia alguns minutos na contemplação das células nervosas, quando o Assistente me aconselhou:
— Examinaste o cérebro do companheiro que ainda se prende ao veículo denso;
observa, agora, o mesmo órgão no amigo desencarnado que o influencia de modo directo.

A entidade, que não se dava conta de nossa presença, em virtude do círculo de vibrações grosseiras em que se mantinha, fixava toda a atenção no doente, lembrando a sagacidade de um felino vigiando a presa.

Observei-lhe estranha ferida na região torácica, e dispunha-me a investigar-lhe a causa, sondando os pulmões, quando Calderaro me corrigiu sem afectação:
— Trataremos da chaga no trabalho de Assistência.

Concentra as possibilidades da visão no cérebro.
Decorridos alguns momentos, concluí que, àparte a configuração das peças e o ritmo vibratório, tinha sob os olhos dois cérebros quase idênticos.

Diferia o campo mental do desencarnado, revelando alguma superioridade no terreno da substância, que, no corpo perispiritual, era mais leve e menos obscura.

Tive a impressão de que, se lavássemos, por dentro, o cérebro do amigo estirado no leito, escoimando-o de certos corpúsculos mais pesados, seria ele quase igual, em essência, ao da entidade que eu mantinha sob exame.

As divisões luminosas, porém, eram em tudo análogas.
Mais luz nos lobos frontais, menos luz no córtex motor e quase nenhuma na medula espinhal, onde as irradiações se faziam difusas e opacas.

Interrompi o estudo comparativo, depois de acurada perquirição, e fixei Calderaro em silenciosa interrogativa.

O prestimoso mentor argumentou, sorridente:
— Depois da morte física, o que há de mais surpreendente para nós é o reencontro da vida.

Aqui aprendemos que o organismo perispirítico que nos condiciona em matéria mais leve e mais plástica, após o sepulcro, é fruto igualmente do processo evolutivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 20, 2012 9:29 pm

Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão.
Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milénio a milénio.

Não há favoritismo no Templo Universal do Eterno, e todas as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito.

A crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar na corrente do rio, aí se acha em processo liberatório;
as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos, a suportar os golpes do Inverno e acalentadas pelas carícias da Primavera, estão conquistando a memória;

a fêmea do tigre, lambendo os filhinhos recém-nados, aprende rudimentos do amor;
o símio, guinchando, organiza a faculdade da palavra.

Em verdade, Deus criou o mundo, mas nós nos conservamos ainda longe da obra completa.
Os seres que habitam o Universo ressumbrarão suor por muito tempo, a aprimorá-lo.

Assim também a individualidade. Somos criação do Autor Divino, e devemos aperfeiçoar-nos integralmente.

O Eterno Pai estabeleceu como lei universal que seja a perfeição obra de cooperativismo entre Ele e nós, os seus filhos.

O mentor silenciou por instantes, sem que me acudisse ânimo suficiente para trazer qualquer comentário aos seus elevados conceitos.

Logo após, indicou-me a medula espinhal e continuou:
— Creio ociosa qualquer alusão aos trabalhos primordiais do nosso longo drama de vida evolutiva.

Desde a ameba, na tépida água do mar, até o homem, vimos lutando, aprendendo e seleccionando invariávelmente.
Para adquirir movimento e músculos, faculdades e raciocínios, experimentamos a vida e por ela fomos experimentados, milhares de anos.

As páginas da sabedoria hinduísta são escritos de ontem, e a Boa-Nova de Jesus-Cristo é matéria de hoje, comparadas aos milénios vividos por nós, na jornada progressiva.

Depois de fazer com a destra significativo gesto, prosseguiu:
— No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos e sede das actividades subconscientes;
figuremo-lo como sendo o porão da individualidade, onde arquivamos todas as experiências e registarmos os menores factos da vida.

Na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente para as manifestações imprescindíveis no actual momento evolutivo do nosso modo de ser.

Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre de nosso organismo divino em evolução.

Os esclarecimentos singelos e admiráveis empolgavam-me.
Calderaro era educador da mais elevada estirpe.
Ensinava sem cansar, sabia conduzir o aprendiz a conhecimentos profundos sem nenhum sacrifício da parte do aluno.

Apreciava-lhe eu a nobreza, quando prosseguiu, findo breve intervalo:
— Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultâneamente.
Temos apenas um que, porém, se divide em três regiões distintas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 20, 2012 9:29 pm

Tomemo-lo como se fora um castelo de três andares:
no primeiro situamos a «residência de nossos impulsos automáticos», simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados;

no segundo localizamos o «domicílio das conquistas actuais», onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando;

no terceiro, temos a «casa das noções superiores», indicando as eminências que nos cumpre atingir.

Num deles moram o hábito e o automatismo;
no outro residem o esforço e a vontade;
e no último demoram o ideal e a meta superior a ser alcançada.

Distribuímos, deste modo, nos três andares, o subconsciente, o consciente e o super consciente.
Como vemos, possuímos, em nós mesmos, o passado, o presente e o futuro.

Verificando-se pausa mais longa, dei curso às ponderações íntimas, segundo antigo vezo de inquirir.
As preciosas explicações que ouvira não poderiam ser mais simples, nem mais lógicas.

Entretanto, perquiria a mim mesmo:
o cérebro de um desencarnado seria também susceptível de adoecer?

Sabia eu que a substância cinzenta, no mundo carnal, podia ser acometida pelos tumores, pelo amolecimento, pela hemorragia;
mas na esfera nova, a que a morte me conduzira, que fenómenos mórbidos assediariam a mente?

Calderaro registou-me as indagações e esclareceu:
- Não discutiremos aqui as moléstias físicas própriamente ditas.

Quem acompanha, como nós, desde muito tempo, o ministério dos psiquiatras verdadeiramente consagrados ao bem do próximo, conhece, à saciedade, que todos os títulos de gratidão humana permanecem inexpressivos ante o apostolado de um Paul Broca, que identificou a enfermidade do centro da palavra, ou de um Wagner Jauregg, que se dedicou à cura da paralisia, em perseguição ao espiroqueta da sífilis, até encontrá-lo no recesso da matéria cinzenta, perturbando as zonas motoras.

Diante de fenómenos como estes, é compreensível a quebra da harmonia cerebral em consequência de compulsoriamente se arredarem das aglutinações celulares do campo fisiológico os princípios do corpo perispiritual;
essas aglutinações ficam, então, desordenadas em sua estrutura e actividades normais, qual acontece ao violino incapacitado para a execução perfeita dum trecho melódico, por trazer uma ou duas cordas desafinadas.

Não devemos, nem podemos ignorar as leis que regem os domínios da forma...

Daí a impossibilidade de querermos «psicologia equilibrada» sem «fisiologia harmoniosa», na esfera da ciência humana:
isto é caso pacífico.

Referir-nos-emos tão só às manifestações espirituais em sua essência.
Indagas se a mente desencarnada pode adoecer...

Que pergunta! cuidas que a maldade deliberada não seja moléstia da alma?
Que o ódio não constitua morbo terrível?
Supões, porventura, não haja «vermes mentais» da tristeza e da inconformação?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 20, 2012 9:29 pm

Embora tenhamos a felicidade de agir num corpo mais subtil e mais leve, graças à natureza de nossos pensamentos e aspirações, já distantes das zonas grosseiras da vida que deixamos, não possuímos ainda o cérebro dos anjos.

Constitui-nos incessante trabalho a conservação de nossa forma actual, a caminho de conquistas mais alcandoradas;
não podemos descansar nos processos iluminativos;
cumpre-nos purificar sempre, seleccionar pendores e joeirar concepções, de molde a não interromper a marcha.

Milhões vivem aqui, na posição em que nos achamos, mas outros milhões permanecem na carne ou em nossas linhas mais baixas de evolução, sob o guante de atroz demência.

É para esses que devemos cogitar da patologia do espírito, socorrendo os mais infelizes e interferindo fraternal e indirectamente na solução de problemas escabrosos em cujos fios negros se enredam.

São duendes em desespero, vítimas de si mesmos, em terrível colheita de espinhos e desilusões.
O corpo perispiritual humano, vaso de nossas manifestações, é, por ora, a nossa mais alta conquista na Terra, no capítulo das formas.

Para as almas esclarecidas, já iluminadas de redentora luz, representa ele uma ponte para o campo superior da vida eterna, ainda não atingido por nós mesmos; para os espíritos vulgares, é a restrição indispensável e justa;

para as consciências culpadas, é cadeia intraduzível, pois, além do mais, regista os erros cometidos, guardando-os com todas as particularidades vivas dos negros momentos da queda.

O género de vida de cada um, no invólucro carnal, determina a densidade do organismo perispirítico após a perda do corpo denso.

Ora, o cérebro é o instrumento que traduz a mente, manancial de nossos pensamentos.
Através dele, pois, unimo-nos à luz ou à treva, ao bem ou ao mal.

Percebendo à atenção com que lhe seguia os preciosos esclarecimentos, Calderaro sorriu significativamente e perguntou:
— Compreendeste?

Indicando os dois sofredores, ao nosso lado, prosseguiu:
— Examinamos aqui dois enfermos:
um, na carne; outro, fora dela.

Ambos trazem o cérebro intoxicado, sintonizando-se absolutamente um com o outro.

Espiritualmente, rolaram do terceiro andar, onde situamos as concepções superiores, e, entregando-se ao relaxamento da vontade, deixaram de acolher-se no segundo andar, sede do esforço próprio, perdendo valiosa oportunidade de reerguer-se;
caíram, destarte, na esfera dos impulsos instintivos, onde se arquivam todas as experiências da animalidade anterior.

Ambos detestam a vida, odeiam-se reciprocamente, desesperam-se, asilam ideias de tormento, de aflição, de vingança.

Em suma, estão loucos, embora o mundo lhes não vislumbre o supremo desequilíbrio, que se verifica no íntimo da organização perispiritual.

Dispunha-me a desfiar longa lista de perguntas alusivas às duas personagens em foco, mas o interlocutor iniciou o serviço de assistência directa, e, impondo a destra no lobo frontal esquerdo do doente encarnado, falou-me, afável:
— Cala, meu amigo, tuas ansiosas indagações.

Acalma-te. No transcurso de nossos trabalhos explicar-te-ei quanto estiver ao alcance de meus conhecimentos.
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