LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - LIBERTAÇÃO

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 9:53 pm

LIBERTAÇÃO
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

DITADO PELO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ
(7)

ÍNDICE


Ante as portas livres

CAPÍTULO 1 = Ouvindo elucidações

CAPÍTULO 2 = A palestra do Instrutor

CAPÍTULO 3 = Entendimento

CAPÍTULO 4 = Numa cidade estranha

CAPÍTULO 5 = Operações selectivas

CAPÍTULO 6 = Observações e novidades

CAPÍTULO 7 = Quadro doloroso

CAPÍTULO 8 = Inesperada intercessão

CAPÍTULO 9 = Perseguidores invisíveis

CAPÍTULO 10 = Em aprendizado

CAPÍTULO 11 = Valiosa experiência

CAPÍTULO 12 = Missão de amor

CAPÍTULO 13 = Convocação familiar

CAPÍTULO 14 = Singular episódio

CAPÍTULO 15 = Finalmente, o socorro

CAPÍTULO 16 = Encantamento pernicioso

CAPÍTULO 17 = Assistência fraternal

CAPÍTULO 18 = Palavras de benfeitora

CAPÍTULO 19 = Precioso entendimento

CAPÍTULO 20 = Reencontro
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:03 pm

Ante as portas livres

Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhecimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos prazerosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.

No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.

Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.

Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refastelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias.

Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.

Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.

Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.

O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.

Não encontrando pouso no vastíssimo domicilio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.

Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.

Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.

A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, reflectiu consigo:
— “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?”

Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.

Pronunciando votos renovadores, avançou, optimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança...

Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.

Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, Instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.

Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.

Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.

Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.

De Inicio, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração;
impressionado com o espectáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:04 pm

Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando protecção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.

O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida.

Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas.
Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.

Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.

O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.

Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade?
Não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações? Não hesitou.

Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.

Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.

Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.

Estimulado pela proeza de amor que efectuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais.

Certo, a colectividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.

Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.

Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.

Ridiculizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.

O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim.

Aquele poço era uma Insignificância que podia desaparecer, de momento para outro.
Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência.

Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.

Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos.
Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar.

Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:04 pm

Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço.

Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.

Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a prelecção.

Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles únicamente.

O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas?

Grande tolo! Vai-te daqui!
Não nos perturbes o bem-estar...
Nosso lago é o centro do Universo...
Ninguém possui vida igual à nossa!..

Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.

Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nível.

E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...

O esforço de André Luís, buscando acender luz nas trevas, é semelhante à missão do peixinho vermelho.

Encantado com as descobertas do caminho infinito, realizadas depois de muitos conflitos no sofrimento, volve aos recôncavos da Crosta Terrestre, anunciando aos antigos companheiros que, além dos cubículos em que se movimentam, resplandece outra vida, mais intensa e mais bela, exigindo, porém, acurado aprimoramento individual para a travessia da estreita passagem de acesso às claridades da sublimação.

Fala, informa, prepara, esclarece...
Há, contudo, muitos peixes humanos que sorriem e passam, entre a mordacidade e a Indiferença, procurando locas passageiras ou pleiteando larvas temporárias.

Esperam um paraíso gratuito com milagrosos deslumbramentos depois da morte do corpo.

Mas, sem André Luiz e sem nós, humildes servidores de boa vontade, para todos os caminheiros da vida humana pronunciou o Pastor Divino as indeléveis palavras:
“A cada um será dado de acordo com as suas obras.”

EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1949.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:04 pm

1 - Ouvindo elucidações

No vasto salão do educandário que nos reunia, o Ministro Flácus, fixando em nós o olhar saturado de doce magnetismo, convidava-nos a preciosas meditações.

Congregamo-nos, ali, somente algumas dezenas de companheiros, de modo a registar-lhe as instruções edificantes.

E, sem dúvida, a prelecção revestia-se de profundo interesse.
Podíamos perguntar à vontade, dentro do assunto, e guardar todas as informações compatíveis com o novo trabalho que nos cumpria desempenhar.

Até então, ouvira comentários alusivos a colónias purgatoriais, perfeitamente organizadas para o trabalho expiatório a que se destinam, arrebanhando milhares de criaturas arraigadas no mal;
entretanto, agora, o Instrutor Gúbio, que se mantinha silencioso, em nossa companhia, concedera-nos permissão de acompanhá-lo a enorme centro dessa espécie.

Interessados na palavra fluente e primorosa do orador, seguíamos o curso das elucidações com justificável expectação de aluno que não deseja perder um til do ensinamento, observando que a serenidade e a atenção transpareciam no rosto de todos os aprendizes, considerando-se que todos, no recinto, éramos candidatos ao serviço de socorro aos irmãos ignorantes, atormentados nas sombras...
Senhoreando-nos o espírito, o Ministro prosseguia, satisfeito:

— Os superiores que se disponham a trabalhar em benefício dos inferiores, em acção persistente e substancial, não lhes podem utilizar as armas, sob pena de se precipitarem no baixo nível deles.

A severidade pertencerá ao que instrui, mas o amor é o companheiro daquele que serve.
Sabemos que a educação, na maioria das vezes, parte da periferia para o centro;
contudo, a renovação, traduzindo aperfeiçoamento real, movimenta-se em sentido inverso.

Ambos os impulsos, todavia, são alimentados e controlados pelos poderes quase desconhecidos da mente.

O espírito humano lida com a força mental, tanto quanto maneja a electricidade, com a diferença, porém, de que se já aprende a gastar a segunda, no transformismo incessante da Terra, mal conhece a existência da primeira, que nos preside a todos os actos da vida.

A rigor, portanto, não temos círculos infernais, de acordo com os figurinos da antiga teologia, onde se mostram indefinidamente génios satânicos de todas as épocas e, sim, esferas obscuras em que se agregam consciências embotadas na ignorância, cristalizadas no ócio reprovável ou confundidas no eclipse temporário da razão. Desesperadas e insubmissas, criam zonas de tormentos reparadores.

Semelhantes criaturas, no entanto, não se regeneram à força de palavras.
Necessitam de amparo eficiente que lhes modifique o tom vibratório, elevando-lhes o modo de sentir e pensar.

Eminentes pensadores do mundo traçam directrizes à salvação das almas;
mas somos de parecer que possuímos suficiente número de roteiros nesse sentido, em todos os sectores do conhecimento terrestre.

Reclamamos, na actualidade, quem ajude o pensamento do homem na direcção do Alto.

Empreender o tentame, incentivando-se tão-somente os valores culturais, seria consagrar a tecnocracia, que procura a simples mecanização da ida, destruindo-lhe as sementes gloriosas de improvisação, de infinito e de eternidade.

Grandes políticos e veneráveis condutores nunca se ausentaram do mundo.
Passam pela multidão, sacudindo-a ou arregimentando-a.

É forçoso reconhecer, porém, que a organização humana, por si só, não atende às exigências do ser imperecível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:05 pm

Péricles, o estadista que legou seu nome a um século, realiza edificante trabalho educativo, junto dos gregos;
entretanto, não lhes atenua a belicosidade e os pruridos de hegemonia, sucumbindo ao assédio de aflitivo desgosto.

Alexandre, o conquistador, organiza vastíssimo império, estabelecendo uma civilização respeitável;
no entanto, não impede que os seus generais prossigam em conflitos sanguinolentos, difundindo o saque e a morte.

Augusto, o Divino, unifica o Império Romano em sólidos alicerces, concretizando avançado programa político em benefício de todos os povos, mas não consegue banir de Roma o desvario pela dominação a qualquer preço.

Constantino, o Grande, advogado dos cristãos indefesos, oferece novo padrão de vida ao Planeta;
contudo, não modifica as disposições detestáveis de quantos guerreavam em nome de Deus.

Napoleão, o ditador, impõe novos métodos de progresso material, em toda a Terra;
mas não se furta, ele próprio, às garras da tirania, pela simples ganância da posse.

Pasteur, o cientista, defende a saúde do corpo humano, devotando-se, abnegado, ao combate silencioso contra a selva microbiana;
todavia, não pode evitar que seus contemporâneos se destruam reciprocamente em disputas incompreensíveis e cruéis.

Permanecemos diante de um mundo civilizado na superfície, que reclama não só a presença daqueles que ensinam o bem, mas principalmente daqueles que o praticam.

Sobre os mananciais da cultura, nos vales da Terra, é imprescindível que desçam as torrentes da compaixão do Céu, através dos montes do amor e da renúncia.

Cristo não brilha apenas pelo ensino sublimado.
Resplandece na demonstração.

Em companhia d’Ele, é indispensável mantenhamos a coragem de amparar e salvar, descendo aos recessos do abismo.

Não longe de nossa paz relativa, em círculos escuros de desencanto e desesperação, misturam-se milhões de seres, conclamando comiseração...

Porque não acender piedosa luz, dentro da noite em que se mergulham, desorientados?
Porque não semear esperança entre corações que abdicaram da fé em si mesmos?

A frente, pois, de imensas colectividades em dolorosa petição de reajustamento, faz-se inadiável o auxílio restaurador.

Somos entidades ainda infinitamente humildes e imperfeitas para nos candidatarmos, de pronto, à condição dos anjos.

Comparada à grandeza, inabordável para nós, de milhões de sóis que obedecem a leis soberanas e divinas, em pleno Universo, a nossa Terra, com todas as esferas de substância ultra física que a circundam, pode ser considerada qual laranja minúscula, perante o Himalaias, e nós outros, confrontados com a excelsitude dos Espíritos Superiores, que dominam na sabedoria e na santidade, não passamos, por enquanto, de bactérias, controladas pelo impulso da fome e pelo magnetismo do amor.

Entretanto, guindados a singelas culminâncias da inteligência, somos micróbios que sonham com o crescimento próprio para a eternidade.

Enquanto o homem, nosso irmão, desintegra assombrado as formações atómicas, nós outros, distanciados do corpo denso, estudamos essa mesma energia através de aspectos que a ciência terrestre, por agora, mal conseguiria imaginar.

Caminheiros, porém, que somos do progresso infinito, principiamos apenas, ele e nós, a sondar a força mental, que nos condiciona as manifestações nos mais variados planos da natureza.
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Encarcerados ainda na lei de retorno, temos efectuado multisseculares recapitulações, por milénios consecutivos.

Expressando-nos colectivamente, sabemos hoje que o espírito humano lida com a razão há, precisamente, quarenta mil anos...

Todavia, com o mesmo furioso ímpeto com que o homem de Neandertal aniquilava o companheiro, a golpes de sílex, o homem da actualidade, classificada de gloriosa era das grandes potências, extermina o próprio irmão a tiros de fuzil.

Os investigadores do raciocínio, ligeiramente tisnados de princípios religiosos, identificam tão somente, nessa anomalia sinistra, a renitência da imperfeição e da fragilidade da carne, como se a carne fosse permanente individuação diabólica, esquecidos de que a matéria mais densa não é senão o conjunto das vidas inferiores incontáveis, em processo de aprimoramento, crescimento e libertação.

Nos campos da Crosta Planetária, queda-se a inteligência, qual se fora anestesiada por perigosos narcóticos da ilusão;
no entanto, auxiliá-la-emos a sentir e reconhecer que o espírito permanece vibrando em todos os ângulos da existência.

Cada espécie de seres, do cristal até o homem, e do homem até o anjo, abrange inumeráveis famílias de criaturas, operando em determinada frequência do Universo. E o amor divino alcança-nos a todos, à maneira do Sol que abraça os sábios e os vermes.

Todavia, quem avança demora-se em ligação com quem se localiza na esfera próxima.
O domínio vegetal vale-se do império mineral para sustentar-se e evoluir.

Os animais aproveitam os vegetais na obra de aprimoramento.
Os homens se socorrem de uns e outros para crescerem mentalmente e prosseguir adiante...

Atritam os reinos da vida, conhecidos na Terra, entre si.

Torturam-se e entredevoram-se, através de rudes experiências, a fim de que os valores espirituais se desenvolvam e resplandeçam, reflectindo a divina luz...

Nesse ponto, o esclarecido Ministro fez longa pausa, fitou-nos, bondoso, e continuou:
— Mas... além do principado humano, para lá das fronteiras sensoriais que guardam ciosamente a alma encarnada, amparando-a com limitada visão e benéfico esquecimento, começa vasto império espiritual, vizinho dos homens.

Ai se agitam milhões de Espíritos imperfeitos que partilham, com as criaturas terrenas, as condições de habitabilidade da Crosta do Mundo.

Seres humanos, situados noutra faixa vibratória, apoiam-se na mente encarnada, através de falanges incontáveis, tão semiconscientes na responsabilidade e tão incompletas na virtude, quanto os próprios homens.

A matéria, congregando milhões de vidas embrionárias, é também a condensação da energia, atendendo aos imperativos do “eu” que lhe preside à destinação.

Do hidrogénio às mais complexas unidades atómicas, é o poder do espírito eterno a alavanca directora de protões, neutrões e electrões, na estrada infinita da vida.

Demora-se a inteligência corporificada no círculo humano em transitória região, adaptada às suas exigências de progresso e aperfeiçoamento, dentro da qual o protoplasma lhe faculta instrumentos de trabalho, crescimento e expansão.

Entretanto, nesse mesmo espaço, alonga-se a matéria noutros estados, e, nesses outros estados, a mente desencarnada, em viagem para o conhecimento e para a virtude, radica-se na esfera física, buscando dominá-la e absorvê-la, estabelecendo gigantesca luta de pensamento que ao homem comum não é dado calcular.

Frustrados em suas aspirações de vaidoso domínio no domicílio celestial, homens e mulheres de todos os climas e de todas as civilizações, depois da morte, esbarram nessa região em que se prolongam as actividades terrenas e elegem o instinto de soberania sobre a Terra por única felicidade digna do impulso de conquistar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:05 pm

Rebelados filhos da Providência, tentam desacreditar a grandeza divina, estimulando o poder autocrático da inteligência insubmissa e orgulhosa e buscam preservar os círculos terrestres para a dilatação indefinida do ódio e da revolta, da vaidade e da criminalidade, como se o Planeta, em sua expressão inferior, lhes fosse paraíso único, ainda não integralmente submetido a seus caprichos, em vista da permanente discórdia reinante entre eles mesmos.

É que, confinados ao berço escabroso da ignorância em que o medo e a maldade, com inquietudes e perseguições recíprocas, lhes consomem as forças e lhes inutilizam o tempo, não se apercebem da situação dolorosa em que se acham.

Fora do amor verdadeiro, toda união é temporária e a guerra será sempre o estado natural daqueles que perseveram na posição de indisciplina.

Um reino espiritual, dividido e atormentado, cerca a experiência humana, em todas as direcções, intentando dilatar o domínio permanente da tirania e da força.

Sabemos que o Sol opera por meio de radiações, nutrindo, maternalmente, a vida a milhões de quilómetros.

Sem nos referirmos às condições da matéria em que nos movimentamos, lembremo-nos de que, em nosso sistema, as existências mais rudimentares, desde os cumes iluminados aos recôncavos das trevas, estão sujeitas à sua influenciação.

Como acontece aos corpos gigantescos do Cosmos, também nós outros, espiritualmente, caminhamos para o zénite evolutivo, experimentando as radiações uns dos outros.

Nesse processo multiforme de intercâmbio, atracção, imantação e repulsão, aperfeiçoam-se mundos e almas, na comunidade universal.

Dentro de semelhante realidade, toda a nossa actividade terrestre se desdobra num campo de influências que nem mesmo nós, os aprendizes humanos em círculos mais altos, poderíamos, por enquanto, determinar.

Incapacitados de prosseguir além do túmulo, a caminho do Céu que não souberam conquistar, os filhos do desespero organizam-se em vastas colónias de ódio e miséria moral, disputando, entre si, a dominação da Terra.

Conservam, igualmente, quanto ocorre a nós mesmos, largos e valiosos patrimónios intelectuais e, anjos decaídos da Ciência, buscam, acima de tudo, a perversão dos processos divinos que orientam a evolução planetária.

Mentes cristalizadas na rebeldia, tentam solapar, em vão, a Sabedoria Eterna, criando quistos de vida inferior, na organização terrestre, entrincheiradas nas paixões escuras que lhes vergastam as consciências.

Conhecem inumeráveis recursos de perturbar e ferir, obscurecer e aniquilar.
Escravizam o serviço benéfico da reencarnação em grandes sectores expiatórios e dispõem de agentes da discórdia contra todas as manifestações dos sublimes propósitos que o Senhor nos traçou às acções.

Os homens terrenos que, semi-libertos do corpo, lhes conseguiram identificar, de algum modo, a existência, recuaram, tímidos e espavoridos, espalhando entre os contemporâneos as noções de um inferno punitivo e infindável, encravado em tenebrosas regiões além da morte.

A mente infantil da Terra, embalada pela ternura paternal da providência, através da teologia comum, nunca pôde apreender, mais intensivamente, a realidade espiritual que nos governa os destinos.

Raros compreendem na morte simples modificação de envoltório, e escasso número de pessoas, ainda mesmo em se tratando dos religiosos mais avançados, guardaram a prudência de viver, no vaso físico, de conformidade com os princípios superiores que esposaram.

Somos defrontados, agora, pela necessidade da proclamação de verdades velhas para os velhos ouvidos e novas para os ouvidos novos da inteligência juvenil situada no mundo.
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O homem, herdeiro presuntivo da Coroa Celeste, é o condutor do próprio homem, dentro de enormes extensões do caminho evolutivo.

Entre aquele que já se acerca do anjo e o selvagem que ainda se limita com o irracional, existem milhares de posições, ocupadas pelo raciocínio e pelo sentimento dos mais variados matizes.

E, se há uma corrente, brilhante e maravilhosa, de criaturas encarnadas e desencarnadas que se dirigem para o monte da sublimação, desferindo glorioso cântico de trabalho, imortalidade, beleza e esperança, exaltando a vida, outra corrente existe, escura e infeliz, nas mesmas condições, interessada em descer aos recôncavos das trevas, lançando perturbação, desânimo, desordem e sombra, consagrando a morte, Espíritos incompletos que somos ainda, aderimos aos movimentos que lhes dizem respeito e colhemos os benefícios da ascensão e da vitória ou os prejuízos da descida e da derrota, controlados pelas inteligências mais vigorosas que a nossa e que seguem connosco, lado a lado, na zona progressiva ou deprimente, em que nos colocamos.

O inferno, por isto mesmo, é um problema de direcção espiritual.
Satã é a inteligência perversa - O mal é o desperdício do tempo ou o emprego da energia em sentido contrário aos propósitos do Senhor.

O sofrimento é reparação ou ensinamento renovador.
As almas decaídas, contudo, quaisquer que sejam, não constituem uma raça espiritual sentenciada irremediavelmente ao satanismo, integrando, tão-somente, a colectividade das criaturas humanas desencarnadas, em posição de absoluta insensatez.

Misturam-se à multidão terrestre, exercem actuação singular sobre inúmeros lares e administrações e o interesse fundamental das mais poderosas inteligências, dentre elas, é a conservação do mundo ofuscado e distraído, à força da ignorância defendida e do egoísmo recalcado, adiando-se o Reino de Deus, entre os homens, indefinidamente...

De milénios a milénios, a região em que respiram padece extremas alterações, qual acontece ao campo provisoriamente ocupado pelos povos conhecidos.

A matéria que lhes estrutura a residência sofre tremendas modificações e precioso trabalho selectivo se opera na transformação natural, dentro dos moldes do Infinito Bem.

Entretanto, embora de fileiras compactas incessantemente substituídas, persistem por séculos sucessivos, acompanhando o curso das civilizações e seguindo-lhes os esplendores e experiências, aflições e derrotas.

Fazendo-Se nova pausa do Ministro, que me pareceu oportuna e intencional, um companheiro interferiu, indagando:
— Grande benfeitor, reconhecemos a veracidade de vossas afirmativas;
todavia, porque não suprime o Senhor Compassivo e Sábio tão pavoroso quadro?

O esclarecido mentor fixou um gesto de condescendência e respondeu:
— Não será o mesmo que interrogar pela tardança de nossa própria adesão ao Reino Divino?
Sente-se o meu amigo suficientemente iluminado para negar o lado sombrio da própria individualidade?

Libertou-se de todas as tentações que fluem dos escaninhos misteriosos da luta interna?
Não admite que o orbe possua os seus círculos de luz e trevas, qual acontece a nós mesmos nos recessos do coração?

E assim como duelamos em formidáveis conflitos por dentro, a vida planetária é compelida igualmente a combater nos recônditos ângulos de si mesma.

Quanto à intervenção do Senhor, recordemo-nos de que os estudos desta hora não se prendem aos aspectos da compaixão e, sim, aos problemas da justiça.

Nós outros e a humanidade militante na carne não representamos senão diminuta parcela da família universal, confinados à faixa vibratória que nos é peculiar.

Somos simplesmente alguns bilhões de seres perante a Eternidade.
E estejamos convencidos de que se o diamante é lapidado pelo diamante, o mau só pode ser corrigido pelo mau.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:05 pm

Funciona a justiça, através da injustiça aparente, até que o amor nasça e redima os que se condenaram a longas e dolorosas sentenças diante da Boa Lei.

Homens perversos, calculistas, delituosos e inconsequentes são vigiados por génios da mesma natureza, que se afinam com as tendências de que são portadores.

Realmente, nunca faltou protecção do Céu contra os tormentos que as almas endurecidas e ingratas semearam na Terra e os numes guardiães não se despreocupam dos tutelados; no entanto, seria ilógico e absurdo designar um anjo para custodiar criminosos.

Os homens encarnados, de maneira geral, permanecem cercados pelas escuras e degradantes irradiações de entidades imperfeitas e indecisas, quanto eles próprios, criaturas que lhes são invisíveis ao olhar, mas que lhes partilham a residência.

Em razão disso, o Planeta, por enquanto, ainda não passa de vasto crivo de aprimoramento, ao qual somente os indivíduos excepcionalmente aperfeiçoados pelo próprio esforço conseguem escapar, na direcção das esferas sublimes.

Considerando semelhante situação, o Mestre Divino exclamou perante o juiz, em Jerusalém:
“Por agora, o meu Reino não é daqui” e, pela mesma razão, Paulo de Tarso, depois de lutas angustiosas, escreve aos Efésios que “não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas e contra as hostes espirituais da maldade, nas próprias regiões celestes.”

Além, pois, do reino humano, o império imenso das inteligências desencarnadas participa de contínuo no julgamento da Humanidade.

E entendendo a nossa condição de trabalhadores incompletos, detentores de velhas dificuldades e terríveis inibições, na ordem do aprimoramento iluminativo, cabe-nos preparar recursos de auxílio, reconhecendo que a obra redentora é trabalho educativo por excelência.

O sacrifício do Mestre representou o fermento divino, levedando toda a massa.
É por isto que Jesus, acima de tudo, é o Doador da Sublimação para a vida imperecível.

Absteve-se de manejar as paixões da turba, visto reconhecer que a verdadeira obra salvacionista permanece radicada ao coração, e distanciou-se dos decretos políticos, não obstante reverenciá-los com inequívoco respeito à autoridade constituída, por não ignorar que o serviço do Reino Celeste não depende de compromissos exteriores, mas do individualismo afeiçoado à boa vontade e ao espírito de renúncia em benefício dos semelhantes.

Sem nosso esforço pessoal no bem, a obra regenerativa será adiada indefinidamente, compreendendo-se por precioso e indispensável nosso concurso fraterno para que irmãos nossos, provisoriamente impermeáveis no mal, se convertam aos Desígnios Divinos, aprendendo a utilizar os poderes da luz potencial de que são detentores.

Somente o amor sentido, crido e vivido por nós provocará a eclosão dos raios de amor em nossos semelhantes.

Sem polarizar as energias da alma na direcção divina, ajustando-lhes o magnetismo ao Centro do Universo, todo programa de redenção é um conjunto de palavras, pecando pela improbabilidade flagrante.

O Ministro sorriu para nós, expressivamente, e concluiu:
— Terei sido bastante claro?

Transbordava de todos os rostos o desejo de ouvi-lo por mais tempo;
no entanto, Flácus, aureolado de luz, desceu da tribuna e pôs-se a conversar familiarmente connosco.

A prelecção fora encerrada.
As considerações ouvidas despertavam em mim o máximo interesse.

No entanto, era preciso aguardar nova oportunidade para mais amplos esclarecimentos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 09, 2012 10:06 pm

2 - A palestra do Instrutor

Ao nos retirarmos do educandário, o Instrutor Gúbio, pousando sobre Elói, o nosso companheiro, e sobre mim, os olhos lúcidos, acentuou:
— Para muitas criaturas, é difícil compreender a arregimentação inteligente dos espíritos perversos.

Entretanto, é lógica e natural.
Se ainda nos situamos distantes da santidade, não obstante os propósitos superiores que já nos orientam, que dizer dos irmãos infelizes que se deixaram prender, sem resistência, às teias da ignorância e da maldade?

Não conhecem região mais elevada que a esfera carnal, a que ainda se ajustam por laços vigorosos.

Enleados em forças de baixo padrão vibratório, não apreendem a beleza da vida superior e, enquanto mentalidades frágeis e enfermiças se dobram humilhadas, os génios da impiedade lhes traçam directrizes, enfileirando-as em comunidades extensas e dirigindo-as em bases escuras de ódio aviltante e desespero silencioso.

Organizam, assim, verdadeiras cidades, em que se refugiam falanges compactas de almas que fogem, envergonhadas de si mesmas, ante quaisquer manifestações da divina luz.

Filhos da revolta e da treva aí se aglomeram, buscando preservar-se e escorando-se, aos milhares, uns nos outros...

Auscultando-nos a surpresa manifesta, o Instrutor prosseguiu, respondendo-nos às arguições íntimas:
— Tais colónias perturbadoras devem ter começado com as primeiras inteligências terrestres entregues à insubmissão e à indisciplina, ante os ditames da Paternidade Celestial.

A alma caída em vibrações desarmónicas, pelo abuso da liberdade que lhe foi confiada, precisa tecer os fios do reajustamento próprio e milhões de irmãos nossos se recusam a semelhante esforço, ociosos e impenitentes, alongando o labirinto em que muitas vezes se perdem por séculos.

Inabilitados para a jornada imediata, rumo ao Céu, em virtude das paixões devastadoras que os magnetizam, arrebanham-se de conformidade com as tendências inferiores em que se afinam, ao redor da Crosta Terrestre, de cujas emanações e vidas inferiores ainda se nutrem, qual ocorre aos próprios homens encarnados.

O objectivo essencial de tais exércitos sombrios é a conservação do primitivismo mental da criatura humana, a fim de que o Planeta permaneça, tanto quanto possível, sob seu jugo tirânico.

As observações de Gúbio escaldavam-me o cérebro.

Eu também havia passado pelos baixos círculos da vida, depois do transe corporal;
entretanto, não identificara a existência dessas condensações organizadas de entidades malignas do campo espiritual, embora ouvisse, em muitas ocasiões, impressionantes comentários em torno delas.

Efectivamente, não conseguia, por ruim mesmo, exumar todas as recordações do angustiado período que a porta do túmulo me oferecera.
Vira-me perseguido, através de longos pântanos...

Errara, aflitivamente, dias e noites que me pareceram sem fim, atormentado e desditoso;
todavia, custava-me crer que as actividades maléficas gozassem de organismo director.

Por isto mesmo, de mente agora centralizada nos propósitos do bem, aventurei uma indagação.

— Com que fim — perguntei — essas legiões retardadas se mancomunam, além da morte, se despidas da vestimenta grosseira de carne devem saber, mais que nunca, que se empenham em combates inúteis?
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:27 pm

Não se sentem, porventura, transportadas ao plano do esclarecimento puro, quanto à posição que lhes diz respeito?
Não se cercam presentemente de mais sublimes revelações da Natureza?
Não lhes quadrariam, mais justos, o trabalho edificante e o estudo nobre, na elevada aspiração de galgar a sabedoria santificante, estrada acima?

Porque motivo se aglomeram, assim, através de ajuntamentos desprezíveis e diabólicos?

Fácil de entender-se a jornada evolutiva do homem, depois do sepulcro, mas o estacionamento deliberado, na crueldade e no ódio, além da morte, dá para confundir a mente de qualquer...

O orientador sorriu, maneiroso, e considerou:
— Reportamo-nos a Espíritos perfeitamente humanos, não obstante desencarnados, e tais perguntas, André, poderiam ser formuladas, mesmo na Crosta da Terra.

Porque razão, nós mesmos, antes de acordar a consciência para a revelação divina, nos precipitávamos nas linhas inferiores, todos os dias, contrariando espectacularmente a Lei?

A frente dos olhos, contávamos com bendito dilúvio de claridade solar, jorrando incessante do Espaço Infinito... sabíamos que a existência do corpo correria rápida, que seríamos defrontados pela morte comum a todos, que regressaríamos do mundo carnal pela mesma porta misteriosa, através da qual penetráramos nele; no entanto, quantas vezes teremos menoscabado a Sabedoria Excelsa, com atitudes de criminosa indiferença?

Ante as sugestões do Plano Divino que te povoam, agora, o pensamento, lembras-te de algum tempo passado em que tivesses cogitado sinceramente da própria sublimação? Se desenterrarmos o pretérito, meu caro, encontraremos lamentáveis reminiscências...

Não nos compete parar ou desanimar - A maneira do tronco frágil, é imperioso crescer, subir, por alcançar o oxigénio de cima, e, apesar de algemados ao que fomos, à semelhança da árvore humilde presa aos resíduos do complicado envoltório que lhe encerrava a semente, reclamamos ascensão, ar puro e largueza de condições para produzirmos o bem que o Senhor espera de nós.

A argumentação de Gúbio era bela e sugestiva;
entretanto, eu sentia dificuldades para aceitar a ideia de purgatórios e infernos dirigidos.

— Concordo com as elucidações — exclamei reverente —, mas é quase incrível tanta ignorância, além do corpo que nos conserva em ilusão... a sepultura abre-nos a todos um caminho novo.

É razoável que a mente perturbada sofra amarguras de reajustamento até que se restaure;
todavia, apropriar-se um espírito desencarnado de certos sectores do caminho, como se fora deles senhor absoluto para perpetuar sua tirania, é observação que me escapava...

— Sim — tornou o orientador, convincente —, para quem reflectiu sobre o assunto, durante muito tempo, em sentido contrário à realidade, o apontamento surpreende bastante;
todavia, não vejo obstáculos à apreensão do ensinamento.

Reconheçamos, por exemplo, que o homem comum já atravessou, desde milénios, a estação evolutiva em que se demora o irracional e, em várias ocasiões, revela comportamento de nível inferior ao dele.

Imprimindo grave entono à voz agradável e fraternal, acrescentou:
— Notemos que nós mesmos, os desencarnados, nos movemos num campo de matéria que se caracteriza por densidade específica, embora rarefeita, quando confrontada com as antigas formas físicas, e nossa mente, em qualquer parte, na Crosta ou aqui onde nos achamos, é um centro psíquico de atracção e repulsão.

O espírito encarnado respira numa zona de vibrações mais lentas, enfaixado num veículo constituído de triliões de células que são outras tantas vidas microscópicas inferiores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:27 pm

Cada vida, porém, por mais insignificante, possui expressão magnética especial.

A vontade, não obstante condicionada por leis cósmicas e morais, inclinará a comunidade dos corpúsculos vivos que permanecem a seu serviço por tempo limitado, à maneira do electricista que liga as forças da usina para actividades num charco ou para serviços numa torre.

Sendo cada um de nós uma força inteligente, detendo faculdades criadoras e actuando no Universo, estaremos sempre engendrando agentes psicológicos, através da energia mental, exteriorizando o pensamento e com ele improvisando causas possíveis, cujos efeitos podem ser próximos ou remotos sobre o ponto de origem.

Abstendo-nos de mobilizar a vontade, seremos invariáveis joguetes das circunstâncias predominantes, no ambiente que nos rodeia;
contudo, tão logo deliberemos manobrá-la, é indispensável resolvamos o problema de direcção, porquanto nossos estados pessoais nos reflectirão a escolha íntima.

Existem princípios, forças e leis no universo minúsculo, tanto quanto no universo macro cósmico.

Dirija um homem a sua vontade para a ideia de doença e a moléstia lhe responderá ao apelo, com todas as características dos moldes estruturados pelo pensamento enfermiço, porque a sugestão mental positiva determina a sintonia e receptividade da região orgânica, em conexão com o impulso havido, e as entidades microbianas, que vivem e se reproduzem no campo mental das milhões de pessoas que as entretêm, acorrerão em massa, absorvidas pelas células que as atraem, em obediência às ordens interiores, reiteradamente recebidas, formando no corpo a enfermidade idealizada.

Claro que nesse capítulo temos a questão das provas necessárias, nos casos em que determinada personalidade renasce, atendendo a impositivos das lições expiatórias, mas, mesmo aí, o problema de ligação mental é infinitamente importante, porquanto o doente que se compras na aceitação e no elogio da própria decadência acaba na posição de excelente incubador de bactérias e sintomas mórbidos, enquanto que o espírito em reajustamento, quando reage, valoroso, contra o mal, ainda mesmo que benéfico e merecido, encontra imensos recursos de concentrar-se no bem, integrando-se na corrente de vida vitoriosa.

Registava as explicações, profundamente edificado, e, não obstante a longa pausa que se fez espontaneamente, não ousei interromper o curso da argumentação a fim de não quebrar a linha do pensamento.

Prestimoso e digno, Gúbio continuou:
— Nossa mente é uma entidade colocada entre forças inferiores e superiores, com objectivos de aperfeiçoamento.

Nosso organismo perispiritual, fruto sublime da evolução, quanto ocorre ao corpo físico na esfera da Crosta, pode ser comparado aos pólos de um aparelho magneto-eléctrico.

O espírito encarnado sofre a influenciação inferior, através das regiões em que se situam o sexo e o estômago, e recebe os estímulos superiores, ainda mesmo procedentes de almas não sublimadas, através do coração e do cérebro. Quando a criatura busca manejar a própria vontade, escolhe a companhia que prefere e lança-se ao caminho que deseja.

Se não escasseiam milhões de influxos primitivistas, constrangendo-nos, mesmo aquém das formas terrestres a entreter emoções e desejos, em baixos círculos, e armando-nos quedas momentâneas em abismos do sentimento destrutivo, pelos quais já peregrinamos há muitos séculos, não nos faltam milhões de apelos santificantes, convidando-nos à ascensão para a gloriosa imortalidade.

O Instrutor, fitando em nós o olhar percuciente e calmo, ponderou:
— Entenderam, agora, como é compreensível a opção de certos espíritos pela casa escura do crime, depois do túmulo, qual ocorre a milhões de entidades encarnadas que, em plena harmonia com a natureza terrestre, estimam viver no domicílio da enfermidade?

Atitudes mentais enraizadas não se modificam facilmente.

O rei que governa milhares, o condutor que se acostumou a traçar férreas directrizes, o homem que se habituou a dobrar caracteres alheios, quando não dispõem de princípios santificantes, no terreno idealístico, para se alimentarem intimamente na tarefa a que se consagram, não se transformam em servidores humildes de um momento para outro, só porque se desfizeram da carga de células materiais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:28 pm

Quando não se recomendam aos precipícios da loucura, no eclipse total da razão por tempo indeterminável, em vista dos desvarios na intelectualidade e no poder, são conservados e respeitados na obra evolutiva do mundo, pelas qualidades apreciáveis e dignas que já conquistaram, embora as paixões violentas que lhes assinalam a vida íntima, e são utilizados então por génios superiores, nos serviços de aprimoramento planetário, em que vigiam e reajustam os mais fracos, sendo vigiados e reajustados pelos mais fortes, convertendo-se, gradual e imperceptivelmente, ao Supremo Bem, aceitando o Plano Divino em cuja execução passam a colaborar com fidelidade e valor.

Em tal posição, auxiliam e são auxiliados, dão e recebem, impulsionam o progresso e progridem a seu turno...

Impôs ligeira pausa às elucidações e, em seguida, prosseguiu noutro rumo:
— Semelhante realidade obriga-nos a meditar na extensão do serviço espiritual em todos os ângulos evolutivos. Educação para a eternidade não se circunscreve à ilustração superficial de que um homem comum se reveste, sentando-se, por alguns anos, num banco de universidade — é obra de paciência nos séculos.

Se árvores existem assinaladas por centenas de anos, dentro das finalidades a que se destinam, que dizer dos milénios reclamados por uma individualidade, no capítulo da própria sublimação?

Não podemos olvidar, desse modo, o amor que - devemos aos ignorantes, aos fracos, aos infelizes.
Imprescindível se torna caminhar nos passos daqueles que igualmente, um dia, nos estenderam compassivas mãos.

O argumento era demasiado edificante para que interferíssemos com indagações novas.

O orientador percebeu a oportunidade do esclarecimento e continuou:
— Os átomos que integram a hóstia dum templo, são, no fundo, iguais àqueles que formam o pão pobre de uma penitenciária.

Assim, toda matéria em si mesma.
Passiva e plástica, é análoga nas mãos das entidades sábias ou ignorantes, amorosas ou brutalizadas, no estado de condensação conhecido na Crosta Planetária, e além dele.

Em razão disso, são compreensíveis as transitórias construções levantadas em nosso plano por criaturas desviadas do bem.
Para quem anestesiou as faculdades no prazer fugitivo, a separação da carne geralmente constitui acesso a doloroso estágio na incompreensão.

E considerando que a maioria das criaturas humanas persegue as sensações do corpo físico, qual se as atracções genésicas e o desvairado apego aos bens provisórios dos círculos mais baixos encerrassem toda a felicidade do mundo, a colheita de personalidades desequilibradas é sempre inquietante, conservando quase inalteradas as fileiras escuras dos insensatos cultivadores da satisfação egoística a qualquer preço.

Loucos perigosos, por voluntários, dirigidos por inteligências soberanas, especializadas em dominação, constituem hordas terríveis que, a bem dizer, vigiam as saídas das esferas inferiores em todas as direcções.

— E porque permite Deus semelhante irregularidade? — inquiriu Elói, sob visível consternação — não bastaria ligeira ordem do Eterno para sanar a desarmonia?

Gúbio, prestativo, não se fez esperado na resposta.
Sorrindo, franco, aduziu com interesse:
— Não será o mesmo que perguntar o motivo pelo qual o Senhor nos esperou até ontem? acreditaremos em paraísos miraculosos?
Não sabemos, porventura, que cada homem se sentará no trono que levantou ou se projectará ao fundo do abismo que preferiu?

Além disto, é necessário reconhecer que se o lapidário aprimora a pedra, usando lima resistente, o Senhor do Universo aperfeiçoa o carácter dos filhos transviados de Sua Casa, usando corações endurecidos, temporariamente afastados de Sua Obra.

Nem sempre o melhor juiz pode ser o homem mais doce.
Qualidades morais e virtudes excelsas não são meras fórmulas verbalistas. São forças vivas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:28 pm

Sem a posse delas, é impraticável a ascensão do espírito humano.
Personalidades vulgares apegam-se à salvaguarda de recursos exteriores e neles centralizam os sentimentos mais nobres, prendendo-se a fantasias inúteis...

Encarcera-se-lhes, então, a mente na insegurança, na fragilidade, no pavor.

O choque da morte imprime-lhes tremendos conflitos à organização perispirítica, veículo destinado às suas próprias manifestações no circulo novo de matéria diferente a que foram arrebatadas, e, após perderem abençoados anos no campo didáctico da esfera carnal, enredadas em conflitos deploráveis, erram aflitas, exânimes e revoltadas, ajustando-se ao primeiro grupo de entidades viciosas que lhes garantam continuidade de aventura em fictícios prazeres.

Formam associações enormes e compactas, com base nas emanações da Crosta do Mundo, onde milhões de homens e mulheres lhes sustentam as exigências mais baixas;
fazem vida colectiva provisória à força de sugarem as energias da residência dos irmãos encarnados, qual se fossem extensa colónia de criminosos, vivendo a expensas de generoso rebanho bovino.

Importa ponderar, contudo, que o homem explora a vaca, menos consciente e incapaz de ser julgada por delito de conivência, ao passo que, na esfera humana, o quadro apresenta outro aspecto.

A criatura racional não se eximirá à responsabilidade.

Se o perseguidor invisível aos olhos terrestres erige agrupamentos para culto sistemático à revolta e ao egoísmo, o homem encarnado, senhor de valiosos patrimónios de conhecimento santificante, garante-lhe a obra nefasta pela fuga constante às obrigações divinas de cooperador de Deus, no plano de serviço em que se localiza, alimentando ruinosa aliança.

Um e outro, por isto, partilhando os resultados da indiferença destrutiva ou da acção condenável, atritam e se vascolejam reciprocamente, tais quais feras que se entre devoram na floresta da vida.

Obsidiam-se, mutuamente, quando nos atilhos educativos da carne ou na ausência deles.

Atravessam séculos, assim, jungidos um ao outro, presos a lamentáveis ilusões e propósitos sinistros, com extremas perturbações para si mesmos, já que a herança celestial se faz naturalmente vedada a todos aqueles que menosprezam em si próprios as sementes divinas.

Há milhões de almas humanas que se não afastaram, ainda, da Crosta Terrestre, há mais de dez mil anos.
Morrem no corpo denso e renascem nele, qual acontece às árvores que brotam sempre, profundamente arraigadas no solo.

Recapitulam, individual e colectivamente, lições multimilenárias, sem atinarem com os dons celestiais de que são herdeiras, afastadas deliberadamente do santuário de si mesmas, no terreno movediço da egolatria inconsequente, agitando-se, de quando em quando, em guerras arrasadoras que atingem os dois planos, no impulso mal dirigido de libertação, através de crises inomináveis de fúria e sofrimento.

Destroem, então, o que construíram laboriosamente e modificam processos de vida exterior, transferindo-se de civilização.

O Instrutor, sentindo a profunda atenção com que lhe seguíamos a palavra, acentuou, depois de leve pausa:
— Todavia, no fluir e refluir das eras numerosas, os filhos do Planeta que se conservam atentos às determinações divinas, livres da antiga escravidão à miséria moral, tornam ao ambiente escuro do cativeiro que já abandonaram, a fim de ampararem os irmãos ignorantes e desvairados, em sublime trabalho de compaixão.

Formam as vanguardas do Cristo. nos mais diversos pontos do Globo, e, aos milhões, sob o patrocínio d’Ele, operam no amor e na renúncia, avançando, dificilmente embora, humanidade a dentro, enfrentando a ofensiva incendiária e exterminadora, com as bênçãos da Luz Celeste...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:28 pm

A exposição não podia ser mais clara.

Elói, contudo, observou, assombrado:
— Quem diria, na Terra, nosso velho domicilio, que a vida infinita se estenderia, assim, estranha e ameaçadora?

— Sim — concordou o orientador —, porém a ortodoxia no mundo costuma ser o cadáver da revelação.
Argumentos teológicos de milénios obstruem os canais da inteligência humana, quanto às realidades divinas.
Mas a criatura prosseguirá na tarefa de auto descobrimento.

A força mental, na luta comum, permanece restrita ao círculo acanhado da personalidade egoística, copiando o molusco algemado à concha, e sabemos que semelhante energia, património eterno com que nos sublimamos ou viciamos, emite raios criadores sobre a matéria passiva que nos cerca, dependendo de nós a direcção que venha a tomar.

Se milhões de raios luminosos formam um astro brilhante, é natural que milhões de pequeninos desesperos integrem um inferno perfeito.
Herdeiros do Poder Criador, geraremos forças afins connosco, onde estivermos.

Não será tudo isto perfeitamente inteligível?
É por esta razão que o Senhor mandou constar no Livro Divino o seu aviso celestial: — “eis que estou à porta e bato”.

Se alguém abre a porta viva da alma, haverá realmente o colóquio redentor, entre o Mestre e o Discípulo, O coração é tabernáculo e a sublimação das potências que o integram é a única via de acesso às esferas superiores.

O devotado orientador fixou o gesto de quem dava término oportuno às explicações, sorriu, benévolo, e interrogou:
— Qual de nós cometeria o absurdo de exigir voo ao balão cativo?
A mente humana, enraizada nos interesses mais fortes da Terra, não detém outro símbolo.

Calamo-nos, atendidos em nossa fome de elucidações.
Colhêramos ali, na conversação de alguns minutos, precioso material de observação para longo tempo.
Prosseguíamos, agora, em silêncio, extáticos ante a beleza imponente da noite, maravilhosamente constelada.

Vento brando sussurrava cânticos sem palavras na folhagem leve e grupos de amigos, que nos defrontavam de instante a instante, mostravam no olhar a mesma doce felicidade que transbordava do arvoredo florido.

E assim, banhados em comoções inesquecíveis, buscamos o santuário em que receberíamos instruções para serviço próximo, inundados de confiança e alegria, na posição de trabalhadores jubilosos que caminhassem contentes para a luta, como se avançassem, felizes, para uma festa de luz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:29 pm

3 - Entendimento

O zimbório estrelado, aos raios liriais da Lua, espalhava em torno vibrações de beleza inexprimível, semeando esperança, alegria e consolo.

Informado quanto aos objectivos que nos conduziriam à Crosta, com escalas por uma colónia purgatorial de vasta expressão, vali-me da hora amena para aproveitar a convivência com o Instrutor, tentando arrancar-lhe observações que vinham sempre revestidas de preciosos ensinamentos.

— É admirável pensar — aventurei respeitosamente — que se formam verdadeiras expedições em nossa esfera para atender a simples caso de obsessão...

— Os homens encarnados — redarguiu o orientador com certa vacuidade no olhar, qual se trouxesse a alma presa a imagens fugidias do pretérito — não suspeitam a extensão dos cuidados que despertam em nossos círculos de acção.

Somos todos, eles e nós, corações imantados uns aos outros, na forja de benditas experiências.
No romance evolutivo e redentor da Humanidade, cada espírito possui capítulo especial.
Ternos e ríspidos laços de amor e ódio, simpatia e repulsão, acorrentam-nos reciprocamente.

As almas corporificadas na Crosta guardam-se em passageiro sono, com esquecimento temporário quanto às actividades pregressas.

Banham-se no Estige dos antigos, cujas águas lhes facultam, durante certo tempo, valiosa segurança para retorno a oportunidades de elevação.

Todavia, enquanto se mergulham em olvido benéfico, demoramo-nos por nossa vez, em abençoada vigília.
Os perigos que nos ameaçam os entes amados de agora ou de épocas que o tempo consumiu, desde muito, não nos deixam impassíveis.

Os homens não se acham sozinhos na estreita senda de provas salutares em que se confinam.
A responsabilidade pelo aperfeiçoamento do mundo compete-nos a todos.

— Esclarecido, com respeito à jovem senhora que nos cabia socorrer, aduzi, reverente:
— A enferma, a cuja assistência fomos admitidos, está por exemplo em vosso passado espiritual...

— Sim — confirmou Gúbio, humilde —, alias não fui designado para servir no caso de Margarida, a doente que nos compele à breve expedição do momento, apenas porque houvesse sido minha filha em eras recuadas.

Em cada problema de Socorro, é imprescindível Considerar as várias partes em jogo.
Em virtude do enigma de obsessão que nos propomos resolver, somos levados a buscar todas as personalidades que compõem o quadro de serviço.

Perseguidores e perseguidos entrelaçam-se, em cada processo de auxílio, em grande expressão numérica.

Cada espírito é um elo importante em extensa região da corrente humana.
Quanto mais crescemos em conhecimentos e aptidões, amor e autoridade, maior é o âmbito de nossas ligações na esfera geral.

Almas existem que se vêem sob o interesse de milhões de outras almas.

Enquanto os movimentos da vida se estendem, harmoniosos, sob os ascendentes do bem, as dificuldades não chegam a surgir;
contudo, quando a Perturbação se estabelece, não é fácil desfazer obstáculos porque, em tais circunstâncias é indispensável procedamos com absoluta imparcialidade dando a cada um quanto lhe caiba.

O homem terrestre, mormente nos dias tormentosos, costuma ver somente o “seu lado”, mas, acima da justiça comum, própriamente considerada, outros tribunais mais altos funcionam...

Em razão disso, todos os casos de desarmonia espiritual na Terra movem aqui extensa rede de servidores que passam a tratá-los, sem inclinações pessoais, em bases do amor que Jesus exemplificou e, nessas ocasiões, preparamo-nos a satisfazer todos os imperativos de trabalho salvacionista que a tarefa nos imponha ou proporcione, dentro das actividades que lhe são conexas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:29 pm

A essa altura da instrutiva conversação, chegamos a gracioso templo.
Nesse doce recanto consagrado à materialização de entidades sublimes, a luz suave da noite calma como que se fazia mais bela.

As vibrações constantes das preces, aí emitidas por vários séculos, tinham criado em torno da edificação prodigioso clima de encantamento.

Melodia celeste derramava-se à surdina e as flores delicadas do átrio pareciam corresponder aos sons cristalinos, variando no brilho e na cor, quase que imperceptivelmente.

Eu trazia o coração opresso, como se a felicidade das últimas horas, em que ouvira tão confortadoras e tão graves reflexões atinentes à extensão do mundo e da vida, me aproximasse a insignificância pessoal da grandeza divina, e lágrimas tranquilas inundaram-me o rosto.

O Instrutor tomou-nos a frente e, juntos, penetramos o jardim que circundava o aprazível santuário.

Alguns irmãos adiantaram-se, acolhedores.
Um deles, o Instrutor Gama, que se encarregava dos serviços da casa, abraçou-nos e disse com bondade:
— Chegam no momento preciso. Os doadores de fluidos sublimados encontram-se a postos e a outra comissão já veio.

Entramos sem detença.
Soube, de imediato, que outro grupo, constituído, aliás, por duas irmãs, ali se achava com o objectivo de receber instruções de serviço para esferas mais baixas.

Cariciosa claridade azul-brilhante banhava o largo recinto, adornado de flores níveas, semelhantes aos lírios que conhecemos na Terra.

Não houve tempo para conversações prévias.
Em seguida a saudações ligeiras e cordiais, foi composto o conjunto de oração.

Os doadores de energia radiante, médiuns de materialização em nosso plano, se alinhavam, não longe, em número de vinte.
Comovedora partitura soou, argentina e leve, em aposento próximo, predispondo-nos à meditação de ordem superior.

E logo após a prece, formosa e espontânea, pronunciada pelo responsável mais altamente categorizado na instituição, eis que a tribuna doméstica se ilumina.

Esbranquiçada nuvem de substância leitosa-brilhante adensa-se em derredor e, pouco a pouco, desse bloco de neve translúcida, emerge a figura viva e respeitável de veneranda mulher.

Indizível serenidade caracteriza-lhe o olhar simpático e o porte de madona antiga, repentinamente trazida à nossa frente.

Cumprimenta-nos com um gesto de bênção, como que nos endereçando, a todos, os raios da luz esmeraldina que em forma de auréola lhe exornam a cabeça.

As duas moças que formavam a comissão de serviços, estranha à nossa, avançaram com lágrimas discretas e rojaram-se, genuflexas.

— Mãe querida — clamou uma delas, com tal inflexão de voz que nos cortava as fibras mais íntimas —, ajuda-me a falar-te!
A saudade longamente reprimida é um fogo que consome o coração.
Auxilia-me! Não me deixes perder este doce e divino minuto!
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:29 pm

Apesar dos soluços de emoção que lhe vibravam no peito, continuou:
— Abençoa-nos para a grande jornada!...
Há muito tempo aguardamos esta hora breve de reencontro contigo...
Perdoa-nos, Mãezinha, se insistimos tanto na rogativa...

Contudo, sem tua protecção amorosa, como vencer nos turbilhões do abismo?

Desejando talvez justificar-se, ante os olhos maternos, acrescentava em pranto:
— De conformidade com as tuas amadas recomendações, além de nossas tarefas habituais na zona de serviço em que a tua bondade nos situou, temos velado pelo Paizinho, mergulhado nas sombras: todavia, há seis anos buscamo-lo embalde...

Escapa-nos à influência renovadora e se compraz na companhia de entidades que, por onde passam, vampirizam as criaturas.

Não nos recebe a actuação carinhosa, senão em forma de pensamentos vagos, de que se desenvencilha facilmente, e, se multiplicamos providências salvacionistas, procede como louco...

Gesticula a esmo, colérico e irritado, grita blasfémias e solicita o concurso de seres viciados, a cujas radiações escuras se entrelaça, impelindo-nos as sugestões e a presença...

Prefere o contacto de entidades ignorantes e infelizes, detestando-nos a ternura...
Nesse ponto, crise mais intensa de emotividade impediu-lhe continuar.

A nobre senhora que descera da tribuna, erguendo as filhas e acolhendo-as nos braços, exclamou com acento consolador na voz sem lágrimas, não obstante a visível melancolia:
— Filhas amadas, o Sol combate a treva todos os dias.
Batalhemos contra o mal, incessantemente, até à vitória.

Não se suponham sozinhas no conflito doloroso.
Desculpemos o Papai, infinitamente, e colaboremos por restitui-lo à terra firme da luz.

Se o Cristo trabalha por nós, desde o princípio dos séculos, sem que lhe possamos compreender a amplitude dos sacrifícios, que dizer das nossas obrigações de amparo e tolerância, uns para com os outros?

Cláudio se fez para sempre credor da nossa estima e gratidão, apesar do pavoroso crime Oculto que no-lo arrebatou às profundezas...

Envenenou um parente para Conseguir a riqueza material que nos ofereceu educação e conforto na esfera carnal.
Por extrema dedicação a nós três, não hesitou diante da tentação que o constrangeu a infernal compromisso.

Dono de afeição inquieta, não Soube esperar a bênção do tempo e lançou mão de inconfessável processo para localizar-nos em um oásis de Superioridade mentirosa...

Para que ele nos sentisse garantidos e felizes, viveu durante quarenta anos consecutivos entre o remorso e o sofrimento, psiquicamente sintonizado com espíritos maliciosos e vingativos das sombras, mas, na realidade, sobre as aflições dele nos foi possível atravessar abençoada existência de progresso e conforto, numa casa ditosa e farta, sem sabermos que em nossos alicerces espirituais vivia um ato escuro de assassínio e violência!

A essa altura, a entidade materializada chorou, comovedoramente.

Abraçadas as três, num quadro emocionante e mudo, a Mãezinha encontrou recursos a fim de prosseguir:
— Tornaremos, contudo, ao campo de luta regenerador e benfazeja...
Que vale para nós a paisagem celestial sem a libertação daqueles que amamos?

O coração amoroso, atormentado abdicará do ingresso numa estrela para persistir ao lado de um ente querido, em duelo com as serpentes de um charco...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:29 pm

Poderíamos gozar, porventura, o espectáculo augusto das esferas resplandecentes, ouvindo-lhes a harmonia indefinível, numa situação de destaque adquirida à custa daqueles que gemem e desfalecem nas trevas?

Abandonar quem nos serviu de degrau em plena ascensão divina é das mais horrendas formas de ingratidão, O Senhor não pode abençoar uma ventura colhida ao preço de angústias para aqueles que no-las deram.

Estou Convencida de que há mais grandeza no anjo que desce ao inferno para salvar os filhos de Deus, transviados e sofredores, do que no mensageiro espiritual que se dá pressa em comparecer ante o Trono do Eterno para louvá-Lo, com esquecimento dos próprios benfeitores...

À venerável matrona enxugou o pranto copioso e prosseguiu:
— Olvidemos, pois, minhas filhas, o que hoje somos, para socorrer os que, com o propósito de nos servirem, resvalaram a despenhadeiro sinistro e tormentoso. Saldemos nossas dívidas secretas com abnegação e devotamento.

Mais tarde, receberei António, o sobrinho envenenado, em meus braços maternos, reaproximando-o de Cláudio, através da cordialidade e do respeito vividos em comum.

Ensinar-lhe-ei com alegre ternura a pronunciar o nome de Deus e a desfazer as pesadas nuvens de revolta que lhe empanam a vida íntima.

A fim de incliná-lo à compreensão e à piedade, com mais eficiência, comprometi-me a acolher também no tabernáculo materno as seis criaturas desviadas do bem, às quais se apegou, desvairado, nas regiões inferiores, em face da culpa de quem nos foi desvelado amigo.

Meu afecto reinará dificilmente num lar repleto de corações menos afins com o meu, onde Jesus me ensinará a soletrar, venturosa, a doce lição do sacrifício silencioso...

Muitas vezes, lidarei com a discórdia e a tentação;
todavia, não podemos acreditar em felicidades de improviso.

Conquistaremos em cooperação abençoada aquela paz que Cláudio sonhou para nós e que ele próprio não desfrutou...

Para que eu parta, porém, no rumo da reencarnação, é necessário que o Papai renasça primeiro.

Sem esse marco inicial, não posso atacar o nosso processo redentor em nova fase.
Ajudemo-nos, assim, reciprocamente.

Enquanto procuro transformar António, reajustando-lhe as fibras afectivas, inclinem ambas o espírito paterno à esperança e à meditação reconstrutivas...

As jovens derramavam pranto comovedor, em que se misturavam angústia e alegria, e a matrona iluminada, revelando-se em despedida, acrescentou:
— Não desanimem, O tempo é das mais preciosas dádivas do Senhor e o tempo nos auxiliará.

O porvir reunir-nos-á de novo, em abençoado refúgio terrestre.
Eu e Cláudio, então renovado, receberemos muitos filhinhos, e vocês duas estarão entre eles, reconfortando-nos os corações.

Terei sobre o peito algumas pedras preciosas por lapidar, no esforço de cada dia e, dentro d'alma, duas flores, em ambas, cujo perfume celeste me sustentará as energias necessárias à Perseverança até ao fim..

Compensar-me-ão vocês duas de todas as canseiras...

Juntas pelo amor imperecível trabalharemos sustentadas pela recordação, embora imprecisa, da gloriosa vida espiritual que, um dia, nos acolherá, felizes e triunfantes. Lembremo-nos de Jesus e avancemos...
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 10, 2012 10:30 pm

Silenciou a emissária, e as moças, provavelmente avisadas de que o tempo permanecia esgotado, abraçaram-na de encontro ao coração, sedentas de carinho.

A Mãezinha beijou-as, enternecida, e, após saudar-nos cordialmente, tornou à tribuna, em cujo topo desapareceu ao nosso olhar, numa onda de neblina evanescente.

Entreolhamo-nos em lágrimas, como quem tivera permissão de repousar a mente em branda melodia.

As irmãs retomaram o lugar que ocupavam e música balsâmica se fez ouvir, renovando-nos o ambiente, obedecendo certo, ao intuito de modificar-nos o campo vibracional.

Ponderando na incomensurável bondade do Pai, recordei os laços afectivos que me ligavam ao pretérito e observei, mais uma vez, que todas as medidas do bem são planeadas e pacientemente executadas pelos que se angelizam nas Virtudes do Céu, lastimando Intimamente, as oportunidades perdidas noutro tempo, quando o verdadeiro entendimento da vida me não felicitava o espírito.

Ainda não voltara a mim mesmo da salutar divagação, quando outro lençol de alva substância, coroada de tons dourados, se fez visível no alto.

Em breves instantes, revestida de luz, outra mensageira surgia na tribuna.
Dos olhos irradiava doce magnetismo santificante.

Trajava um peplo estruturado em fina gaze azul-radiosa e desceu, erecta e digna, fitando-nos suavemente, à procura de alguém, com interesse particular.

O Instrutor ergueu-se, reverente, e caminhou na direcção dela, qual discípulo submisso.

A recém-chegada pronunciou frases de paz, sem afectação, e endereçou-lhe a palavra, em tom de infinita ternura:
— Irmão Gúbio, agradeço-te o concurso dadivoso.

Creio haver chegado, efectivamente, o instante de aceitar-te a ajuda fraterna, em favor da libertação de meu infortunado Gregório.

Espero, há séculos, pela renovação e penitência dele.
Impressionado pelos imensos recursos do poder, no passado distante, cometeu hediondos crimes da inteligência.

Internado em perigosa organização de transviados morais, especializou-se, depois da morte, em oprimir ignorantes e infelizes.

Pelo endurecimento do coração, conquistou a confiança de génios cruéis, desempenhando presentemente a detestável função de grande sacerdote em mistérios escuros.

Chefia condenável falange de centenas de outros espíritos desditosos, cristalizados no mal, e que lhe obedecem com deplorável cegueira e quase absoluta fidelidade.

Agravou o passivo de suas dívidas clamorosas, trazidas da insânia terrestre, e vem sendo instrumento infeliz nas mãos de inimigos do bem, poderosos e ingratos...

Há cinquenta anos, porém, já consigo aproximar-me dele, mentalmente.
Recalcitrante e duro, a princípio, Gregório agora experimenta algum tédio, o que constitui uma bênção nos corações infiéis ao Senhor.

Já lhe surpreendo no espírito rudimentos de necessária transformação.
Ainda não chora sob o guante do arrependimento benéfico e parece-me longe do remorso salvador;
entretanto, já duvida da vitoria do mal e abriga interrogações na mente envilecida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 11, 2012 9:55 pm

Não é tão severo no comando dos espíritos desventurados que lhe seguem as determinações e o colapso de sua resistência não me parece remoto.

Nesse instante, notei que a venerável matrona derramava lágrimas discretas, que lhe deslizavam na face como sementes de luz.

Parou por alguns momentos, controlada pelas reminiscências dolorosas, e continuou:
— Irmão Gúbio, perdoa-me o pranto que não significa mágoa ou esmorecimento...
Na pauta do julgamento humano comum, meu filho espiritual será talvez um monstro...

Para mim, Contudo, é a jóia primorosa do coração ansioso e enternecido.

Penso nele qual se houvera perdido a pérola mais linda num mar de lama e tremo de alegria ao considerar que vou reencontrá-lo.

Não é paixão doentia que vibra em minhas palavras.
É o amor que o Senhor acendeu em nós, desde o princípio.

Estamos presos, diante de Deus, pelo magnetismo divino, tanto quanto as estrelas que se imanam umas às outras, no império universal.

Não encontrarei o Céu, sem que os sentimentos de Gregório se voltem igualmente para a Eterna Sabedoria.
Alimentamo-nos na Criação com os raios de vida imperecível que emitimos uns para com os Outros.

Como surpreender a perfeita ventura se recebo do filho amado tão-somente raios de forças em desvario?
O nosso orientador contemplou-a, de olhos húmidos, e rogou:
— Nobre Matilde! estamos prontos. Dita ordens!

Por mais que fizéssemos por tua alegria, nosso esforço seria pobre e pequenino, diante dos sacrifícios em que te empenhas por nós todos.

Num sorriso triste, prosseguiu a respeitável senhora:
— Descerei, dentro em breves anos, para o torvelinho de lutas carnais, a fim de esperar Gregório em existência de resgate difícil e doloroso.

Educá-lo-ei sob os princípios superiores que regem a vida.
Crescerá sob minha inspiração imediata e receberá a prova perigosa e aflitiva da riqueza material.

É de nosso plano que ele acolha, no curso do tempo, em labor gradativo, a extensa legião de servidores viciados que hoje o seguem e a ele obedecem, a fim de encaminhá-los, tanto os possivelmente encarnados quanto os desencarnados, através do carreiro de santificação pela disciplina benéfica em construtivo suor.

Padecerá calúnias e vilipêndios.
Será muita vez humilhado à face dos homens.
Triunfará nos bens efémeros e nas honrarias mentirosas.

Receberá, no desdobramento da tarefa salvadora, tentações de toda espécie que lhe serão desfechadas pela colónia de ignorância, perversidade e delinquência a que actualmente se filia, e conhecerá, depois de experiências inquietantes, a deserção dos falsos amigos, o abandono, a miséria, a enfermidade, a velhice e a solidão.

Apegar-se-á profundamente ao meu carinho, na infância, na mocidade e na madureza;
entretanto, na colheita de provações mais duras, tê-lo-ei precedido na viagem do túmulo... nessa época, porém, que pressinto de tão longe, meu coração materno, embora na esfera espiritual, encoraja-lo-á, passo a passo, na direcção do esperado triunfo...

Nas amarguras e desilusões que o ajudarão a reestruturar e aperfeiçoar os poderes da mente, minha voz de amor eterno será por ele registada com mais precisão...
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 11, 2012 9:55 pm

Até lá, porém, Gúbio, compete-me trabalhar muito e sem desânimo, com incessante aproveitamento das horas.
Moverei as cordas da intercessão sublime, mobilizarei meus amigos, rogarei a Jesus fortaleza e serenidade.

Iniciaremos a liberação com o teu abnegado concurso na zona abismal.

A veneranda mensageira fez ligeiro intervalo e, concentrando o olhar sobre o nosso Instrutor, aduziu com nova inflexão de voz:
— Atenderás Margarida que te foi filha amantíssima e que a Gregório ainda se encontra imantada por teias escuras do passado e colaborarás com o meu devotamento materno para que na alma dele se converta a sublevação em humildade e a frieza, em calor.

Encontrando-o, veste a capa do servo prestimoso e fala-lhe em meu nome.
Sob o gelo que lhe cristaliza os sentimentos, descansa, inapagada, a chama do amor que nos une para sempre.

Disponho, agora, da permissão de fazer-me sentir e acredito que, à face de tua amorosa tarefa, mover-se-lhe-á o espírito endurecido.

Sei quanto te custa a incursão nos domínios da dor, porque só aquele que sabe amar e suportar consegue triunfo nas consciências que se degradaram no mal; entretanto, meu amigo, os dons divinos descem sobre nós, dentro de justas condicionais, O Senhor nos enriquece para que enriqueçamos a outrem, dá-nos alguma coisa para ensaiarmos a distribuição de benefícios que Lhe pertencem, ajuda-nos a fim de que auxiliemos, por nossa vez, os mais necessitados.

Mais recolhe quem mais semeia...

Diante daqueles olhos divinos, agora velados de lágrimas que não chegavam a cair, Gúbio valeu-se do intervalo e considerou, reverencioso:
— Abnegada Matilde, sou pequenino em excesso para merecer-te as palavras.
Onde existe a alegria, o sofrimento não se detém.

Socorreste-me com a tua intercessão, amparando-me o zelo afectivo, perante as necessidades de Margarida.
Um coração paternal é sempre venturoso, em se humilhando pelos filhos que ama.

Sou simplesmente teu devedor, e, se Gregório me flagelasse nos círculos em que domina, semelhante aflição se converteria igualmente em júbilo, dentro de mim.
De qualquer modo, ele me recordará tua bondade e teu devotamento apoiando-me os propósitos de descer para servir.

As dores que me acarretasse seriam abençoados espinhos nas rosas que me ofereceste.
Em teu nome, salvarei minha filha, cuja experiência actual no corpo denso nos é sumamente importante às reencarnações porvindouras...

Trabalharei reconhecido ao ensejo que me deste, lutarei, encorajado e feliz...

Mostrando intenso júbilo e grande esperança na expressão fisionómica, a senhora agradeceu com palavras generosas e concluiu:
— Ao terminares a fase essencial de tua missão, nos dias próximos, sobre o que serei notificada por nossos mensageiros, irei ao teu encontro nos “campos de saída” (1).

Então, quem sabe?
É provável se verifique o encontro pessoal que almejo há muito tempo, porquanto Gregório virá possivelmente em tua companhia, até a um ponto em que de alguma sorte a manifestação da luz será possibilitada ante as trevas.

A emissária acentuou a expressão brilhante do rosto, exteriorizando a doce expectativa que lhe povoava a alma, e considerou:
— A hora é chegada...
O Senhor estará connosco.
Há tempo de plantar e tempo de colher.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 11, 2012 9:55 pm

Gregório e eu semearemos de novo. Seremos mãe e filho, outra vez!
Detendo-se particularmente sobre nosso Instrutor, falou, extática:
— Possam minhas lágrimas de alegria orvalhar-te o espírito laborioso.

Seguir-te-ei a acção e aproximar-me-ei no instante oportuno.
Creio na vitória do amor, logo resplandeça o minuto do reencontro.

Nesse dia abençoado, Gregório e os companheiros que mais se afinarem com ele serão trazidos por nós a círculos regeneradores e, dessas esferas de reajustamento, conto reorganizar elementos ante o futuro promissor, sonhando em companhia dele as realizações que nos competem alcançar.

Gúbio pronunciou algumas frases de compromisso fraterno.
Trabalharíamos sem descanso.
Desvelar-nos-íamos pela execução das ordens afectuosas.

A singular entrevista terminou entre preces de gratidão ao Eterno Pai.
Findo aquele culto vivo de amor imortal, despedimo-nos da família cristã que ali se congregava.

Cá fora, a noite se fizera mais bela.
A Lua reinava num trono de azul macio, constelado de estrelas luzentes.

Flores inúmeras saudavam-nos com perfume inebriante.
Ergui para o Instrutor olhos repletos de indagações, mas Gúbio, afagando-me os ombros, delicadamente murmurou:
— Repousa a mente e não perguntes por agora.

Amanhã, seguiremos na direcção da tarefa nova, que nos exigirá muita prudência e compreensão fraternal, e convence-te de que o serviço nos esclarecerá com a sua linguagem viva.

(1) A expressão «campos de saída” define lugares-limites, entre as esferas inferiores e superiores. — Nota do autor espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 11, 2012 9:56 pm

4 - Numa cidade estranha

No dia imediato, pusemo-nos em marcha.
Respondendo-nos às arguições afectuosas, o Instrutor informou-nos de que teríamos apenas alguns dias de ausência.

Além dos serviços referentes ao encargo particular que nos mobilizava, entraríamos em algumas actividades secundárias de auxílio.

Técnico em missões dessa natureza, afirmou que nos admitira, num trabalho que ele poderia desenvolver sozinho, não só pela confiança que em nós depositava, mas também pela necessidade da formação de novos cooperadores, especializados no ministério de socorro às trevas.

Após a travessia de várias regiões, “em descida”, com escalas por diversos postos e instituições socorristas, penetramos vasto domínio de sombras.

A claridade solar jazia diferençada.
Fumo cinzento cobria o céu em toda a sua extensão.
A volitação fácil se fizera impossível.
A vegetação exibia aspecto sinistro e angustiado.

As árvores não se vestiam de folhagem farta e os galhos, quase secos, davam a ideia de braços erguidos em súplicas dolorosas.

Aves agoireiras, de grande tamanho, de uma espécie que poderá ser situada entre os corvídeos, crocitavam em surdina, semelhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas.

O que mais contristava, porém, não era o quadro desolador, mais ou menos semelhante a outros de meu conhecimento, e, sim, os apelos cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipicamente humanos eram pronunciados em todos os tons.

Acredito, teríamos examinado individualmente os sofredores que aí se localizavam, se nos entregássemos a detida apreciação;
todavia, Gúbio, à maneira de outros instrutores, não se detinha para atender a curiosidade improfícua.

Lembrando a “selva escura” a que Alighieri se reporta no imortal poema, eu trazia o coração premido de interrogativas inquietantes.

Aquelas árvores estranhas, de frondes ressecadas, mas vivas, seriam almas convertidas em silenciosas sentinelas de dor, qual a mulher de Lot, transformada simbolicamente em estátua de sal?

E aquelas grandes corujas diferentes, cujos olhos brilhavam desagradavelmente nas sombras, seriam homens desencarnados sob tremendo castigo da forma?
Quem chorava nos vales extensos de lama?

Criaturas que houvessem vivido na Terra que recordávamos, ou duendes desconhecidos para nós?

De quando em quando, grupos hostis de entidades espirituais em desequilíbrio nos defrontavam, seguindo adiante, indiferentes, incapazes de registar-nos a presença.

Falavam em alta voz, em português degradado, mas inteligível, evidenciando, pelas gargalhadas, deploráveis condições de ignorância.

Apresentavam-se em trajes bisonhos e conduziam apetrechos de lutar e ferir.
Avançamos mais profundamente, mas o ambiente passou a sufocar-nos.

Repousamos, de algum modo, vencidos de fadiga singular, e Gúbio, depois de alguns momentos, nos esclareceu:
— Nossas organizações perispiríticas, à maneira de escafandro estruturado em material absorvente, por ato deliberado de nossa vontade, não devem reagir contra as baixas vibrações deste plano.
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