LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - LIBERTAÇÃO

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Série André Luiz - LIBERTAÇÃO - Página 5 Empty Re: Série André Luiz - LIBERTAÇÃO

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 18, 2012 9:59 pm

15 - Finalmente, o socorro

Entusiasmado com a actuação do nosso Instrutor, Saldanha entregou-se a gestos de humildade quase ingénua, e tanto ele quanto Leôncio passaram a cooperar activamente connosco nos preparativos em benefício da solução que buscávamos.

Ambos solicitaram continuidade do mesmo quadro ambiente, para não acordarmos, contra nós, desavisadamente, a fúria das entidades ignorantes que se mantinham em posição contrária à nossa.

Poderiam organizar-se em legião ameaçadora e estragar-nos os melhores projectos.

Conheciam processos de auxilio, iguais àquele em que funcionávamos e permaneciam informados quanto ao potencial da zona inimiga, do centro da qual poderiam surgir, de imediato, centenas de adversários, em massa, contra aquela instituição doméstica menos preparada a resistir um cerco de semelhante jaez.

Ouvindo-lhes os pareceres, atentei para a situação de Gaspar, sem dissimular minha justificada estranheza.
O hipnotizador, de presença desagradabilíssima pelos fluidos menos simpáticos que emitia, continuava ausente de nossas conversações.

O próprio olhar, quase vítreo, incapaz de fixar-nos, dava ideia de paralisia da alma, de petrificação do pensamento.

Não podendo sofrear a curiosidade por mais tempo, indaguei de Gúbio quanto ao que lhe ocorria.
Que significava aquela máscara psicológica do magnetizador das sombras?
Jazia surdo, quase cego, plenamente insensível.

Respondia às mais longas e importantes perguntas, através de monossílabos, de modo vago, e demonstrava insistência irredutível, no sector de flagelação à vítima.

O orientador, agora liberto de cuidados, esclareceu, prestimoso:
— André, há obsessores marcadamente endurecidos de coração que se petrificam quando sob a influência de perseguidores ainda mais fortes e mais perversos que eles mesmos.

Inteligências temíveis das trevas absorvem certos centros perispiríticos de determinadas entidades que se revelam pervertidas e ingratas ao bem e utilizam-nas como instrumentalidade na extensão do mal que elegeram por sementeira na vida.

Gaspar encontra-se nessa situação.
Hipnotizado por senhores da desordem, anestesiado pelos raios entorpecentes, perdeu transitoriamente a capacidade de ver, ouvir e sentir com elevação.

Demora-se em aflitivo pesadelo, à maneira do homem comum, dentro do qual a dilaceração de Margarida se lhe torna a ideia fixa, obcecante.

— Mas não poderá reintegrar-se na posse dos sentidos naturais? — inquiri, sob forte impressão.
— Perfeitamente. O magnetismo é uma força universal que assume a direcção que lhe ditarmos.
Passes contrários à acção paralisante restitui-lo-ão à normalidade.

Tal operação, contudo, exige momento adequado.
Há necessidade, no feito, de recursos regeneradores intensivos, susceptíveis de serem encontrados junto a serviços de grupo, em que a colaboração de muitos se entrosa a favor de um só, quando necessário.

Nesse instante, Saldanha abeirou-se de nós e pediu instruções, sem rebuços.
— Meu benfeitor — disse a Gúbio, com reverência —, compreendo que demonstrar, de pronto, a nova situação seria atrair sobre nosso esforço terrível reacção de quantos passarão a vigiar-nos desapiedadamente.
Com franqueza, vejo-me num campo novo e desconheço o caminho por onde recomeçar.

O interpelado anuiu com bondade:
— Sim, Saldanha, permaneces bem inspirado
Estamos fracos para batalhar em conjunto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:05 pm

É indispensável que Margarida alcance melhoras positivas, antes de tudo. Aguardemos a noite.
Espero situar o caso em algum núcleo de amor fraternal.

Até lá, convém guardarmos o ambiente doméstico sem alterações, mesmo porque Gaspar é outro doente, exigindo especial atenção:
traz o veículo perispirítico enfermiço e viciado, reclamando caridoso concurso.

Mal não havia terminado a observação e Gabriel entrou no aposento e abeirou-se da esposa, desalentada e abatida.

Gúbio agora, senhor da situação, aproximou-se do rapaz, sem alarde, e colocou sobre a fronte dele a destra paternal, dominando-lhe, no cérebro, as zonas directas da inspiração, dando curso, naturalmente, a forças magnéticas susceptíveis de inclinar o problema de assistência a solução favorável.

Reparei que o esposo de Margarida, sob a influência renovadora, passou a contemplar a companheira, enternecidamente.
Tomou-lhe as mãos com sincera ternura e falou, espontâneo:
— Margarida, dói-me ver-te assim, sob desânimo tão profundo.

Pequena pausa pesou sobre ambos;
contudo, ao cabo de alguns momentos, tornou o marido de olhos iluminados por indefinível esperança:
— Ouve! Uma ideia súbita me brotou no pensamento.

Desde muitos dias estamos atropelados por remédios violentos e medidas drásticas que não te socorreram com a eficiência precisa.
Consentes em que eu peça, em nosso favor, o concurso de algum amigo interessado em Espiritismo Cristão?

Tocada por aquela onda de abençoado carinho que fluía imperceptivelmente de Gúbio, por intermédio de Gabriel, a doente abriu os olhos, cheios de interesse novo, como quem encontrara inesperada senda salvadora e concordou, feliz:
— Estou pronta.
Aceitarei qualquer recurso que consideres por tua vez justo e digno.

O esposo, num transporte de esperança, saiu precipitadamente, acompanhado de Gúbio, que nos recomendou a permanência ao lado de Saldanha, em preparativos de serviço para a noite próxima.

Na intimidade do ex-perseguidor, não perdi tempo.
Internara-me em actividade absolutamente nova para mim e desejava ampliar conhecimentos e recursos.

Considerei que um trabalhador incompleto, em minha posição, precisa estudar sempre, e, aproximando-me do verdugo transformado em amigo, interroguei:
— Saldanha, como explicar tamanho temor de nosso lado, perante os companheiros retardados?

Ele fixou em mim o olhar espantado e observou:
— Meu caro, conheço suficientemente este capítulo.

Se nos dispusermos a lutar abertamente, conservando connosco esta jovem senhora enferma, em padrão físico de menor resistência, o malogro em nossos objectivos de socorro a ela será questão de alguns minutos.

Nos círculos inferiores em que nos encontramos, a maldade é força dominante em quase toda parte, contando com intérpretes que nos vigiam através de todos os flancos e não nos é fácil escapar.

Para combater o mal e vencê-lo, urge possuir a prudência e a abnegação dos anjos.
De outro modo é perder o tempo e cair, sem defesa, em perigosas armadilhas das trevas.

O novo aliado relanceou o olhar pelo quarto, a fim de certificar-se de que não vínhamos sendo ouvidos por adversários comuns, e prosseguiu:
— Eu mesmo, logo depois de minha vinda, tudo fiz por fugir ao mal, mas em vão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:05 pm

Velhas orações por mim aprendidas nos recessos do lar, que o tempo não consumiu de todo em meu espírito, articuladas então por minha boca, mereceram sarcasmo cruel dos inimigos do bem.

Em verdade, pensamentos menos dignos me povoavam a cabeça, mas a vontade de melhorar-me era sincera em meu coração.

Esforcei-me de alguma sorte, reagi quanto pude;
todavia, meu impulso para o bem legítimo era, no fundo, um sopro frágil à frente de um tufão.

Ao contacto dessa gente desencarnada, infeliz e vingativa, perdi o resto da compostura moral que procurava debalde sustentar.

Se a alma, liberta do corpo de carne, não se encontra amparada em princípios robustos de virtude santificante, sentida e vivida, é quase impossível sair vitoriosa das ciladas escuras que nos armam.

— Entretanto — objectei —, não será essa atitude mero reflexo da ignorância insustentável?
— Admito que sim — elucidou o obsessor modificado, surpreendendo-me pela clareza de argumentação —;
todavia, não desconheces que a maior dificuldade não nasce da ignorância em si mesma, mas de nossa dureza contrária à capitulação indispensável.

A sabedoria golpeia a insciência, a bondade humilha a perversidade, o amor verdadeiro sitia o ódio num círculo de ferro;
no entanto, aqueles que são surpreendidos no campo da inferioridade manobram contra o bem, deliberadamente, mil armas de despeito, calúnia, inveja, ciúme, mentira e discórdia, provocando perturbação e desânimo.

Assinalando-lhe a palavra tão fortemente esclarecida, cuja desenvoltura e acerto me assombravam, ponderei:
— Teu próprio caso é um exemplo vivo.
Espanta-me o cabedal de teus comentários inteligentes.

De nenhum modo poderias ser um ignorante.
— Ah! sim! — replicou o ex-verdugo, sorrindo — inteligência não me falta. Leitura, idem.

Estou positivamente informado com relação aos deveres de ordem geral que me competem.
Faltava-me, contudo, a companhia de alguém que conseguisse mostrar-me á eficiência e a segurança do bem, no meio de tantos males.

Imagina um esfomeado a ouvir discursos.
Acreditas que as palavras lhe satisfaçam as exigências do estômago?
Isso foi precisamente o que me ocorreu.

Preocupado com a esposa e a nora, desencarnadas em terrível desequilíbrio, atormentado pelo filho louco e pela neta em perigo, não havia “espaço mental” em minha cabeça para simplesmente louvar teorias salvadoras.

O benfeitor Gúbio, no entanto, demonstrou-me que o bem é mais poderoso que o mal.
Isto para mim bastou, à saciedade.
Nas dúvidas, o esclarecimento benéfico traduz verdadeira caridade.

Reparou em redor, com extrema desconfiança no olhar, e acentuou:
— Sei, porém, de experiência própria, quem são os revoltados em cuja equipe trabalhei até ontem.

Francamente, ainda não sei com certeza que será de mim mesmo.
Perseguir-me-ão sem tréguas. Se puderem, conduzir-me-ão ao vale de miséria e penúria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:06 pm

Noto, contudo, que transformação salutar me possui agora o espírito.
Convenci-me de que o bem pode vencer o mal e espero que o nosso Instrutor não me abandone.

Ainda que eu sofra, a ele acompanharei.
Não pretendo regressar ao repugnante caminho percorrido.

Leôncio, que nos fitava atencioso, registando-nos a conversação, asseverou por sua vez:
— Eu também não mais posso servir nas fileiras da vingança. Estou farto...

Hipotequei aos dois nossa simpatia e prometi-lhes, em nome de nosso orientador, que lhes não faltaria acolhimento em plano superior.

Sorriam satisfeitos, quando Gúbio retomou ao compartimento da enferma, notificando que o problema fora resolvido.
Margarida e o esposo compareceriam na noite próxima a uma reunião familiar, importante sector de socorro mediúnico.

A doente encarnada e Gaspar, o hipnotizador traumatizado, receberiam recursos eficientes.

Com ansiedade, aguardamos o anoitecer.
De quando em quando, Gúbio colocava a destra sobre a fronte da enferma, como a acentuar-lhe a resistência geral.

Por volta de vinte horas, um automóvel recebia o casal, que se fez acompanhado por nós e pelo grande número de “ovóides”, ainda ligados à cabeça da enferma, sob processo de imantação.

Saldanha tivera o cuidado de despistar todos os companheiros perturbadores que intentavam seguir-nos.
Tranquilizou-os com palavras amigas, afirmando, aliás com muita razão, que o assunto vinha sendo bem tratado.

Alcançando confortadora vivenda, fomos admiravelmente recebidos.
O senhor Silva, dono da casa, acolheu Gabriel e a esposa com inequívocas demonstrações de carinho, e Sidónio, o director espiritual dos trabalhos que se realizariam, estendeu-nos braços fraternais.

Lá dentro, quatro cavalheiros e três senhoras, os componentes habituais do círculo doméstico, ao que fomos informados, passaram a trocar ideias com os visitantes, reanimando-os e instruindo-os, até que o relógio indicasse o momento exacto para os serviços da noite.

À indagação de Gúbio, Sidónio esclareceu, muito seguro:
— Nosso agrupamento produz satisfatoriamente;
entretanto, poderia levar a efeito mais ampla colheita de bênçãos se a confiança no bem e o ideal de servir fossem mais dilatados em nossos colaboradores no plano físico.

Sabemos que a instrumentalidade é essencial em qualquer serviço.
O braço é intérprete do pensamento, o operário é complemento do administrador, o aprendiz é veículo do mestre.

Sem companheiros encarnados que nos correspondam aos objectivos na acção santificante, como estabelecer a espiritualidade superior na Crosta da Terra?

Efectivamente, encontramos irmãos dispostos ao concurso fraternal, embora, forçoso é dizer, a maioria espere a mediunidade espectacular, a fim de cooperar connosco.

Não procuram saber que todos somos médiuns de alguma força boa ou má, em nossas faculdades receptivas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:06 pm

Não aceitam as necessidades do serviço que nos aconselham a buscar desenvolvimento substancial na auto-iluminação, através do serviço aos nossos semelhantes, e tocam a exigir dons medianímicos, quais se fossem dádivas milagrosas a serem transmitidas graciosamente àqueles que se lhes candidatam aos benefícios, por intermédio da antiga “varinha de condão”.

Esquecem-se de que a mediunidade é uma energia peculiar a todos, em maior ou menor grau de exteriorização, energia essa que se encontra subordinada aos princípios de direcção e à lei do uso, tanto quanto a enxada que pode ser mobilizada para servir ou ferir, conforme o impulso que a orienta, melhorando sempre, quando em serviço metódico, ou revestindo-se de ferrugem asfixiante e destrutiva, quando em constante repouso.

Nossos amigos não percebem o valor de uma atitude desassombrada e permanente de fé positiva, dentro do caminho louvável, haja o que houver, e, não obstante cuidarmos devotadamente da crença deles, com a mesma ternura consagrada pelo lavrador vigilante à plantinha tenra que encerra a esperança do porvir, basta que espíritos perturbadores ou maliciosos os visitem, subtis, à maneira de melros num arrozal, e lá se vão os germens superiores que lhes confiamos, incessantemente, ao solo do coração.

De um instante para outro, duvidam de nosso esforço, desconfiam de si mesmos, cerram os olhos ante a grandeza das leis que os cercam nos ângulos da natureza terrestre, e as energias mentais que deveriam centralizar em construção activa e santificante, com vistas ao aprimoramento próprio, são desbaratadas quase que diariamente pela argumentação mentirosa de espíritos ingratos e menos permeáveis ao bem.

Verificando-se espontânea parada, aventurei-me a considerar:
— A referência abrange um grupo assim tão harmoniosamente constituído quanto este?
Será crível que o conjunto organizado sobre propósitos tão sadios dê guarida fácil às forças deprimentes?

O director da casa sorriu bem-humorado e respondeu com franqueza:
— Sim, colectivamente considerando, reúnem-se agora, sob este teto amigo, e procuram-nos a companhia espiritualizante.

Isto, porém, acontece por seis horas, nas cento e sessenta e oito horas de cada semana.

Enquanto connosco, deixam-se envolver nas suaves irradiações da paz e da alegria, do bom ânimo e da esperança, registando-nos as vibrações edificantes das quais desejávamos fossem eles nossos portadores permanentes e seguros na esfera vulgar da luta humana.

Todavia, tão logo se encontram a pequena distância de nossas portas, aceitam ou provocam milhares de sugestões subtis, diferentes das nossas.

Choques de pensamentos adversos ao nosso programa, nascidos da mente de encarnados e desencarnados, vergastam-nos sem piedade.

Raros se capacitam de que a fé representa bênção susceptível de ser aumentada, indefinidamente, e fogem ao serviço que a conservação, a consolidação e o crescimento desse dom nos oferecem a todos.

Além disso, quando esse ou aquele irmão revela disposições mais avançadas para servir a bem de todos, em favor do império da luz, costuma ser imediatamente visitado, nas horas de sono físico, por entidades renitentes na prática do mal, interessadas na extensão do domínio das sombras, que lhe desintegram convicções e propósitos nascentes com insinuações menos dignas, quando o espírito do trabalhador não está convenientemente apoiado no desejo robusto de progredir, redimir-se e marchar para a frente.

A exposição era muito interessante e tudo faria a benefício de mais amplas elucidações ao assunto, mas o relógio marcava o momento de nossa cooperação activa e pusemo-nos em forma.

Para os trabalhos da reunião que congregava nove pessoas terrestres, vinte e um colaboradores espirituais se movimentaram em nosso círculo de acção.

Gúbio e Sidónio, em esforço conjugado, efectuaram operações magnéticas ao redor de Margarida, desligando finalmente os “corpos ovóides” que foram entregues a uma comissão de seis companheiros que os conduziram, cuidadosamente, a postos socorristas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:06 pm

Logo após, enquanto a prece e os estudos evangélicos se faziam ouvir, dentro das contribuições de nosso círculo, grande cópia de força neurótica, com a devida compensação em fluidos revigoradores de nossa esfera, foi extraída, através da boca, narinas e mãos dos assistentes encarnados, força essa que Gúbio e Sidónio aplicaram sobre Margarida e Gaspar, no evidente intuito de restaurar-lhes as energias perispiríticas.

A jovem senhora passou a demonstrar abençoados sinais de alívio e Gaspar, de impassível que se achava, pôs-se a gemer, qual se houvera acordado de intenso e longo pesadelo.

A essa altura, nosso orientador preparou Dona Isaura, senhora daquele santuário doméstico e médium do culto familiar, adestrando-lhe a faculdade de incorporação, por intermédio de passes magnéticos sobre a laringe e, em particular, sobre o sistema nervoso.

Quando a hora de amor cristão aos desencarnados começou a funcionar, os orientadores trouxeram Gaspar à organização medianímica, a fim de que pudesse ele recolher algum benefício, ao contacto dos companheiros materializados na experiência física, que lhe haviam fornecido energias vitalizantes, tal como acontece às flores que sustentam, sem perceber, o trabalho salutar das abelhas operosas.

Reparei que os sentidos do insensível perseguidor ganharam inesperada percepção.
Visão, audição, tato e olfacto foram nele subitamente acordados e intensificados.

Parecia um sonâmbulo, despertando.
À medida que se lhe casavam as forças às energias da médium, mais se acentuava o fenómeno de reavivamento sensorial.

Apossando-se provisoriamente dos recursos orgânicos de Dona Isaura, em visível processo de “enxertia psíquica”, o hipnotizador gritou e chorou lamentosamente.

Misturou blasfémias e lágrimas, palavras comovedoras e palavras menos dignas, entre a penitência e a rebeldia.

Escutando agora, com aguçada sensibilidade, conversou detidamente com o doutrinador.

O senhor Silva, marido da médium, fez-lhe sentir a necessidade de renovação espiritual em edificante lição que nos tocava as fibras mais Intimas, e, depois de sessenta minutos de exaustivo embate emocional, Gaspar foi conduzido por dois servidores de nossa equipe ao lugar que lhe correspondia, isto é, à posição de demente com retorno gradativo à razão.

Findos os serviços activos, a reunião foi encerrada, notando-se que imensa alegria transbordava de todos os corações.
Margarida estava, enfim, aliviada e, em pranto, pedia ao esposo agradecesse, de viva voz, as dádivas recebidas.

Gúbio, porém, vendo Saldanha espantadiço, obtemperou:
— O triunfo essencial ainda não veio. Margarida recebeu amparo imediato, mas precisamos agora socorrer-lhe a casa, até que ela mesma incorpore à própria individualidade, em carácter definitivo, os benefícios aqui recolhidos.

Sorriu bondosamente e acrescentou:
— Para que uma planta seja efectivamente preciosa, não basta que esteja bela e perfumada na estufa protectora.

É necessário receber o auxílio externo, consolidando a resistência própria, de modo a produzir utilidades no bem comum.

E passando a entender-se com Sidónio, aceitou a colaboração, por dez dias sucessivos, de doze companheiros espirituais incorporados ao agrupamento destinado a reforçar as actividades defensivas na moradia de Gabriel, de vez que, segundo Saldanha e Leôncio, do dia seguinte em diante, teríamos guerra aberta com os assalariados de Gregório, que viriam naturalmente sobre nós, temíveis e insistentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:06 pm

16 - Encantamento pernicioso

Finda a reunião, reparei que a médium Dona Isaura Silva apresentava sensível transfiguração.

Enquanto perduravam os trabalhos, mostrava radiações brilhantes, em derredor do cérebro, oferecendo simpático ambiente pessoal;
entretanto, encerrada que foi a sessão, cercou-se de emissões de substância fluídica cinzento-escura, qual se houvesse repentinamente apagado, em torno dela, alguma lâmpada invisível.

Impressionado, dirigi-me a Sidónio, com natural indagação, ao que ele me respondeu, atencioso:
— A pobrezinha encontra-se debaixo de verdadeira tempestade de fluidos malignos que lhe vão sendo desfechados por entidades menos esclarecidas, com as quais se sintonizou, inadvertidamente, pelos fios negros do ciúme - Enquanto se acha sob nossa influência directa, mormente nos trabalhos espirituais de ordem colectiva, em que age como válvula captadora das forças gerais dos assistentes, desfruta bom ânimo e alegria, porque o médium é sempre uma fonte que dá e recebe, quando em função entre os dois planos;
terminada, contudo, a tarefa, Isaura volta às tristes condições a que se relegou.

— Não há, porém, algum recurso para socorrê-la? — indaguei, curioso.
— Sem dúvida — elucidou o orientador da pequena e simpática instituição —, e, porque não a abandonamos, ainda não sucumbiu.

É imprescindível, todavia, num processo de semelhante natureza, agir com cautela, sem humilhá-la e sem feri-la.

Quando defendemos um broto tenro, do qual é justo aguardar preciosa colheita no porvir, é necessário combater os vermes invasores, sem atingi-lo.

Crestar o grelo de hoje é perder a colheita de amanhã.

Nossa irmã é valorosa cooperadora, revela qualidades apreciáveis e dignas, porém, não perdeu ainda a noção de exclusivismo sobre a vida do companheiro e, através dessa brecha que a induz a violentas vibrações de cólera, perde excelentes oportunidades de servir e elevar-se.

Hoje, viveu um dos seus dias mais infelizes, entregando-se totalmente a esse género de flagelação interior.

Reclama-nos concurso activo, nesta noite, pois cada servo acordado para o bem, quando se projecta em determinada faixa de vibrações inferiores durante o dia, marca quase sempre uma entrevista pessoal, para a noite, com os seres e as forças que a povoam.

Estampou na fisionomia significativa expressão e acrescentou:
— Enquanto a criatura é vulgar e não se destaca por aspirações de ordem superior, as inteligências pervertidas não se preocupam com ela;
no entanto, logo que demonstre propósitos de sublimação, apura-se-lhe o tom vibratório, passa a ser notada pelos característicos de elevação e é naturalmente perseguida por quem se refugia na inveja ou na rebelião silenciosa, visto não conformar-se com o progresso alheio.

Convenci-me de que o caso assumiria grande importância para os meus estudos particulares e, compreendendo que Margarida já recebera grandes vantagens, pedi permissão ao nosso Instrutor, após o consentimento de Sidónio, para observar naquela noite o conflito inquietante entre a missionária e os que se lhe prendiam às teias escuras do sentimento.

Gúbio concordou, sorridente.

Aguardar-me-ia o regresso no dia seguinte.
Nosso grupo retirou-se conduzindo a doente e o esposo infinitamente satisfeitos e coloquei-me, ao lado de Sidónio, em interessante conversação.

— Por enquanto — explicou-me a certa altura da útil palestra —, este domicílio está sob a guarda dos nossos processos de vigilância.

Entidades perturbadoras ou criminosas não dispõem de acesso até aqui, mas nossa amiga, transtornada pelo ciúme, vai, ela mesma, ao encalço de maus conselheiros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:07 pm

Esperemos que abandone o veículo de carne, sob a acção do sono, e verás, de perto.
Decorridas apenas duas horas, vimos o senhor Silva que nos acenava de porta próxima, já desligado do corpo físico.

Sidónio levantou-se e, convocando um de seus auxiliares, recomendou-lhe acompanhasse o dono da casa em proveitosa excursão de estudos.

O irmão Silva, junto de nós, alegou, pesaroso:
— Tanto desejava que Isaura viesse, mas não me atendeu aos apelos!
— Deixa-a! — observou Sidónio, com inflexão de energia na voz — naturalmente ainda hoje não se acha preparada para atender às lições.

O interlocutor mostrou profunda tristeza no semblante calmo, porém não vacilou.
Seguiu, sem delongas, o cooperador que lhe era apresentado.

Mais alguns minutos e D. Isaura, fora do corpo de carne, surgiu-nos à vista, revelando o perispírito intensamente obscuro.

Passou rente a nós sem prestar-nos a mínima atenção, mostrando-se encarcerada em absorvente ideia fixa.

Sidónio endereçou-lhe algumas palavras amigas, que não foram absolutamente ouvidas.

Tentou o amigo tocá-la com a destra luminosa, mas a médium precipitou-se em desabalada carreira, deixando-nos perceber que a nossa aproximação lhe constituía, naqueles instantes, aflitiva tortura.

Encontrava-se incapaz de assinalar-nos a presença;
entretanto, percebia-nos, instintivamente, as vibrações mentais e demonstrava temer o contacto espiritual connosco.

O benfeitor explicou-me que poderia constrangê-la a ouvir-nos, obrigando-a a submeter-se, sem reservas, à nossa influência;
no entanto, semelhante atitude de nosso lado implicaria a supressão indébita das possibilidades educativas.

Isaura, no fundo, era senhora do próprio destino e, na experiência íntima, dispunha do direito de errar para melhor aprender — o mais acertado caminho de defesa da própria felicidade.

Ali estava, a fim de ajudá-la, quanto possível, na preservação das forças físicas, mas não para algemá-la a atitudes com que ainda não pudesse concordar espontaneamente, nem mesmo em nome do bem que não reclama escravos em sua acção e, sim, servidores livres, contentes e optimistas.

Com grande surpresa para mim, o prestimoso guardião continuou explicando que aquela senhora, efectivamente, detinha extensas possibilidades no serviço aos semelhantes.

Caso quisesse perdê-las temporáriamente, outro recurso não nos cabia senão o de entregá-la à corrente da própria vontade, até que um dia conseguisse ela própria despertar em plano de compreensão mais alta.

Sabia, à saciedade, que o marido não lhe era propriedade exclusiva, que o ciúme tresloucado só poderia conduzi-la a perigosa situação espiritual, não ignorava que a palavra do Mestre exortava os aprendizes ao perdão e ao amor para que os companheiros mais infelizes não se projectassem nos despenhadeiros fundos da estrada.

Entretanto, se os seus desígnios se demorassem na linha contrária ao roteiro que o plano superior lhe havia traçado, só nos restaria deixá-la circunscrita aos círculos da mente em desânimo ou em desespero, a fim de que o tempo lhe ensinasse o reajustamento próprio.

Depois de pacientes elucidações, Sidónio concluiu num sorriso melancólico:
— Educação não vem por imposição.
Cada Espírito deverá a si mesmo a ascensão sublime ou a queda deplorável.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:07 pm

A esse tempo, acompanhávamos a senhora Silva, fora do corpo de carne, a fugir de seu domicílio para a via pública.

Estugou o passo até encontrar velha casa desabitada, a cuja sombra se lhe depararam dois malfeitores desencarnados, inimigos sagazes do serviço de libertação espiritual de que se convertera em devotada servidora.

É evidente que a esperavam com o propósito deliberado de intoxicar-lhe o pensamento.
Abeiraram-se dela, amistosos e macios, sem se aperceberem da nossa presença.

— Com que então, Dona Isaura — disse um dos embusteiros, apresentando na voz mentiroso acento de compaixão —, a senhora tem sofrido bastante em seus respeitáveis sentimentos de mulher...

— Ah! meu amigo — clamou a interpelada visivelmente satisfeita por encontrar alguém que se lhe associasse às dores imaginárias e infantis —‘então, o senhor também sabe?

— Como não? — comentou o interlocutor, enfático — sou um dos Espíritos que a “protegem” e sei que seu esposo lhe tem sido desalmado verdugo.
A fim de “ajudá-la”, tenho seguido o infeliz, por toda parte, surpreendendo-lhe as traições aos compromissos domésticos.

D. Isaura, em lágrimas, confiou-se ao fingido amigo.
— Sim — gritou, molestada —, esta é que é a verdade!
Sofro infinitamente...
Não existe neste mundo criatura mais desventurada que eu...

— Reconheço — acentuou o loquaz perseguidor —, reconheço a extensão de seus padecimentos morais, vejo-lhe o esforço e o sacrifício e não ignoro que seu marido eleva a voz nas preces, através das sessões habituais, para simplesmente acobertar as próprias culpas.
Por vezes, em plena oração, entrega-se a pensamentos de lascívia, fixando senhoras que lhe frequentam o lar.

Envolvendo a médium imprevidente na melifluidade das frases, aduzia:
— É um absurdo!
Dói-me vê-la algemada a um patife mascarado de apóstolo.

— É isto mesmo... — confirmava a pobre senhora, qual se fora andorinha delicada, portadora de importante mensagem, repentinamente presa num tabuleiro de mel —, estou rodeada de gente desonesta. Nunca sofri tanto!

Indicando o quadro triste, Sidónio informou-me:
— Antes de tudo, os agentes da desarmonia perturbam-lhe os sentimentos de mulher, para, em seguida, lhe aniquilarem as possibilidades de missionária.

O ciúme e o egoísmo constituem portas fáceis de acesso à obsessão arrasadora do bem.
Pelo exclusivismo afectivo, a médium, nesta conversação, já se ligou mentalmente aos ardilosos adversários de seus compromissos sublimes.

Deixando transparecer imensa tristeza, acrescentou:
— Repara.

O inteligente obsessor abraçou a senhora, parcialmente desligada do corpo físico, e prosseguiu:
— Dona Isaura, acredite que somos seus leais amigos.
E os protectores verdadeiros são aqueles que, como nós, lhe conhecem os padecimentos ocultos.

Não é justo que se submeta às arbitrariedades do marido infiel.
Abstenha-se de receber-lhe o séquito de companheiros hipócritas, interessados em orações colectivas, que mais se assemelham a palhaçadas inúteis.
É um perigo entregar-se a práticas mediúnicas, qual vem fazendo em companhia de gente dessa espécie... Tome cuidado!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:07 pm

A médium invigilante arregalou os olhos, Impressionada com a estranha inflexão impressa nas palavras ouvidas, e gritou:
— Aconselhe-me, Espírito generoso e amigo, que tão bem me conhece o martírio silencioso!

O interlocutor, na intenção de destruir a célula iluminativa que funcionava com imenso proveito no santuário doméstico da jovem senhora, assediada agora por seus argumentos adocicados e venenosos, observou com malícia:
— A senhora não nasceu com a vocação do picadeiro.

Não permita a transformação de sua casa em sala de espectáculo.
Seu marido e suas relações sociais exageram-lhe as faculdades.
Precisa ainda de longo tempo para desenvolver-se suficientemente.

E envolvendo-a nos pesados véus da dúvida que anulam tantos trabalhadores bem intencionados, aduziu:
— Já meditou bastante na mistificação inconsciente?
Está convencida de que não engana os outros?

É indispensável acautelar-se.

Se estudar a grave questão do Espiritismo, com inteligência e acerto, reconhecerá que as mensagens escritas por seu intermédio e as incorporações de entidades supostamente benfeitoras não passam de pálidas influências de Espíritos perturbados e de alta percentagem dos produtos de seu próprio cérebro e de sua sensibilidade agitada pelas exigências descabidas das pessoas que lhe frequentam a casa.

Não vê a plena consciência com que se entrega ao imaginado intercâmbio?
Não creia em possibilidades que não possui.

Trate de preservar a dignidade de sua casa, mesmo porque seu esposo não tem outro objectivo senão o de utilizar-lhe a credulidade excessiva, lançando-a a triste aventura do ridículo.

A pobre criatura, tão ingénua e prestimosa, registava com visível terror aquela conceituação do assunto.

Espantado com a passividade de Sidónio, ante aquele assalto, enderecei-lhe a palavra, respeitoso, porém menos tranquilo:
— Não será razoável defendê-la?

Ele sorriu compreensivamente e elucidou:
— Todavia, que fizemos, há poucas horas, no culto da prece e do socorro fraternal, senão prepará-la à própria defensiva?

Trabalhou mediunicamente connosco;
ouviu formosa e comovedora prelecção evangélica contra os perigos do egoísmo enfermiço;
colaborou, decidida, para que o bem se concretizasse e ela própria emprestou-nos os lábios a fim de ensinarmos princípios de salvação em nome do Cristo, a quem deveria confiar-se.

Entretanto, apenas porque o esposo se dispôs a justa gentileza com as damas que lhe buscaram a companhia esclarecedora e fraterna, obscureceu o pensamento no ciúme destruidor e perdeu o equilíbrio íntimo, entregando-se, inerme, a entidades que lhe exploram o sentimentalismo.

Fez significativo gesto, apontando os malfeitores desencarnados, e explicou:
— Estes companheiros retardados procedem com os médiuns à maneira de ladrões que, depois de saquearem uma casa, acordam o dono, hipnotizam-no e obrigam-no a tomar-lhes o lugar, compelindo-o a sentir-se na condição de mentiroso e mistificador.

Aproximam-se da mente invigilante, dilaceram-lhe a harmonia, furtam-lhe a tranquilidade e, depois, com sarcasmo imperceptível e subtil, obrigam-na a acreditar-se fantasiosa e desprezível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 19, 2012 10:07 pm

Muitos missionários se deixam atropelar pela falsa argumentação que acabamos de ouvir e menosprezam as sublimes oportunidades de estender o bem, através de preciosa sementeira que lhes enriqueça o futuro.

— Mas não há recurso — inquiri, sensibilizado — de afastar semelhantes malfeitores?
— Sem dúvida — elucidou Sidónio, bem-humorado —, em toda parte existe contenção e panaceia, remediando situações pela violência ou pelo engodo prejudiciais, mas, na intimidade de nossa tarefa, que será mais aconselhável?
Espantar moscas ou curar a ferida?

Sorriu, enigmático, e prosseguiu:
— Tais dificuldades são lições valiosas que o Espírito do medianeiro, entre encarnados e desencarnados, deve aproveitar em benditas experiências e não nos compete subtrair o ensinamento ao aprendiz.

Enquanto um trabalhador da mediunidade empresta ouvido a histórias que lhe lisonjeiem a esfera pessoal, disso fazendo condição para cooperar na obra do bem, quer dizer que ainda estima o personalismo inferior e o fenómeno, acima do serviço que lhe cabe no plano divino.

Nessa posição, demorar-se-á longo tempo entre desencarnados ociosos que disputam a mesma presa, anulando valiosa ocasião de elevar-se, porque, depois de certo tempo de auxílio desaproveitado, perde provisoriamente a companhia edificante de irmãos mais evolvidos que tudo fazem inútilmente pelo reerguer no caminho.

Então cai vexatóriamente no nível moral a que se ajusta, convive com as entidades cujo contacto prefere, e acorda, mais tarde, verificando as horas preciosas que desprezou.

A esse tempo, o obsidente de Dona Isaura afirmava-lhe, palrador.
— Estude a senhora o próprio caso.
Consulte cientistas competentes.
Leia as últimas novidades em psicanálise e não perca sua oportunidade de restauração, sob pena de enlouquecer.

E comentava, sacrílego:
— Falo-lhe em nome das Esferas Superiores na qualidade de amigo fiel.
— Sim... compreendo... — concordava a interlocutora, tímida e desapontada.

Nesse momento, Sidónio abeirou-se do grupo e fez-se visível para Dona Isaura, hipnotizada pelos perseguidores, e a médium registou-lhe a presença com alguma dificuldade, exclamando:
— Vejo Sidónio, nosso devotado amigo espiritual!

O verboso obsessor, que de maneira alguma percebia a nossa vizinhança, em virtude do baixo padrão emocional em que se mantinha, zombou, franco:
— Nada disso. A senhora nada vê.
É pura ilusão.
Abandone o vício mental para furtar-se a maiores desequilíbrios.

Sidónio voltou algo triste e informou sem rebuços:
— Desde o instante em que Isaura se projectou na zona sombria do ciúme, tem a matéria mental em posição difícil e não se acha em condições de compreender-me.

Mas, poderemos socorrê-la de outro modo.
Em volitação rápida, no que foi seguido por mim, encontrou o marido da medianeira numa reunião instrutiva, junto de vários amigos espirituais, e recomendou-lhe tomar o corpo físico sem perda de tempo, a fim de auxiliar a esposa em dificuldade.

O irmão Silva não hesitou.
Em breve, regressava à câmara conjugal, reapossando-se do veículo denso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:51 pm

O corpo da senhora, ao lado dele, arfava em reiteradas contorções, acorrentado a indizível pesadelo.
Dócil à influenciação de Sidónio, procurou despertá-la, sacudindo-lhe o busto, delicadamente.

Isaura, em copioso pranto, retornou ao campo carnal sem detença, abrindo os olhos assustadiços:
— Oh! como sou infeliz! — bradou, angustiada — estou sozinha!

Sidónio, quase incorporado ao marido complacente e bondoso, levava-o a falar, construtivamente:
— Lembra-te, querida, de nossa fé e de quanto temos recebido de nossos amados benfeitores espirituais!
— Nada disso! — retrucou, Irritada.

— Como assim? — tornou ele, paciente — não temos sido tão amparados, através de tua própria mediunidade?
— Nunca! nunca... — protestou a pobre senhora —, tudo é uma farsa.
As mensagens que recebo são pura actividade de minha imaginação.
Tudo é expressão de mim mesma.

— Mas ouve, Isaura! — aduziu o esposo, sorrindo — jamais foste mentirosa.
Já sei.
Caíste nas malhas dos nossos infelizes irmãos que te conduzem ao purgatório do ciúme terrível, mas Jesus nos auxiliará no oportuno reajustamento.

Nesse momento, Sidónio voltou-se para mim e lembrou:
— Penso, André, que já assististe à fase culminante da lição.
E esta conversa agora seguirá até muito longe.

Com o milagroso concurso das horas, pacificaremos a mente da servidora respeitável, mas exclusivista e invigilante.
Volta ao teu círculo de trabalho e guarda o ensinamento desta noite.

Profundamente tocado pelo que vira, agradeci e afastei-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:52 pm

17 - Assistência fraternal

No segundo dia de serviço espiritual definitivo, na tarefa de socorro a Margarida, nossa movimentação aureolava-se de sublime entusiasmo no santuário doméstico, que novamente se revestia das doces claridades da paz.

A casa transformou-se.
Desde a véspera, Saldanha e Leôncio eram os primeiros a pedir instruções de trabalho.
Teimavam em dizer que os adversários do bem voltariam à carga.

Conheciam a crueldade dos ex-companheiros e, porque muitos apaniguados de Gregório viriam fiscalizar a normalidade do processo alienatório da esposa de Gabriel, Gúbio começou por traçar expressivas fronteiras, ao redor da casa, mantidas dali em diante sob a responsabilidade dos colaboradores que Sidónio nos cedera por gentileza.

Enquanto aprestávamos a defensiva, o jovem casal louvava a alegria que lhes retornara aos corações.
Margarida sentia-se leve, bem disposta, e rendia graças ao Eterno pelo “milagre” com que fora contemplada.

O esposo formulava mil promessas de trabalho espiritual, com o júbilo do neófito embriagado de sublime esperança.
De nosso lado, porém, as responsabilidades passaram a crescer.

Atendendo às determinações de Gúbio, Saldanha dirigiu-se ao interior da casa e trouxe, por influência indirecta, velha serva encarnada, que espanou móveis, bruniu adornos e abriu as janelas, dando passagem a vastas correntes de ar fresco.

O prédio como que se reconciliava com a harmonia.
As medidas referentes à limpeza prosseguiam adiantadas, quando vozes ásperas se fizeram ouvir, partidas da via pública.

Elementos da falange gregoriana gritavam por Saldanha, que compareceu, junto de nós, desapontado e algo aflito.

Nosso Instrutor paternalmente lhe recomendou:
— Vai, meu amigo, e mostra-lhes o novo rumo.
Tem coragem e resiste ao venenoso fluido da cólera.
Usa a serenidade e a delicadeza.

Saldanha estampou na fisionomia perceptível gesto de reconhecimento e avançou na direcção dos recém-chegados.

Uma das entidades de horrível semblante, de mãos à cintura, gritou-lhe, irreverente:
— Então? Que houve aqui? Traindo o comando?

O interpelado, que os últimos sucessos haviam alterado profundamente, respondeu humilde, mas firme:
— Meus compromissos foram assumidos com a própria consciência e acredito dispor do direito de escolher a minha rota.

— Ah! — disse o outro, sarcástico — tens agora o direito... Veremos...

E tentando insinuar-se de maneira directa, clamou:
— Deixa-me entrar!
— Não posso — esclareceu o ex-perseguidor —, a casa segue noutra direcção.

O interlocutor lançou-lhe um olhar ‘de revolta insofreável e indagou estentórico:
— Onde tens a cabeça?
— No lugar próprio.
— Não temes, porventura, as consequências do gesto impensado?
— Nada tenho de que penitenciar-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:52 pm

O visitante fez carantonha de irritação extrema e aduziu:
— Gregório saberá.

E retirou-se acompanhado pelos demais.
Transcorridos alguns instantes, outros elementos assomaram à entrada, assustadiços e insolentes, com a repetição dos mesmos quadros.

Em breve, cenas diversas passaram a desdobrar-se.

Gúbio colocou sinais luminosos nas janelas, indicando a nova posição daquele abrigo doméstico, opondo-se às manchas de sombra que provinham dali;
e, naturalmente atraídos por eles, Espíritos sofredores e perseguidos, mas bem intencionados, apareceram em grande número.

A primeira entidade a aproximar-se foi uma senhora que se ajoelhou, à entrada, suplicando:
— Benfeitores de Cima, que vos congregastes nesta casa, em serviço de luz, livrei-me da aflição!... Piedade! piedade!...

O nosso Instrutor atendeu-a, imediatamente, permitindo-lhe a passagem.

E, no pátio ao lado, contou em pranto que se mantinha, há muito tempo, num edifício próximo, segregada por verdugos impassíveis que lhe exploravam antigas disposições mórbidas para o vício.

Achava-se, porém, cansada do erro e suspirava por mudança benéfica.
Penitenciava-se. Pretendia outra vida, outro rumo.
Implorava asilo e socorro.

O orientador consolou-a, bondoso, e prometeu-lhe amparo.
Logo após, surgiram dois velhos, rogando pousada.
Ambos haviam desencarnado em extrema indigência num hospital.

Revelavam-se possuídos de imenso terror.
Não se conformavam com a morte.
Temiam o desconhecido e mendigavam elucidações.
Padeciam de verdadeira loucura.

Curiosa dama compareceu pedindo providências contra Espíritos pervertidos e perturbadores que, em grande bloco, lhe não permitiam aproximar-se do filho, instigando-o à embriaguez.

Outra veio solicitar recursos contra os maus pensamentos de um Espírito vingativo que lhe não dava ensejo à oração.

A corrente dos pedintes, contudo, não ficou aí.
Tive a ideia de que a missão de Gúbio se convertera, de repente, numa avançada instituição de pronto-socorro espiritual.

Dezenas de criaturas desencarnadas, sob regime de prisão aos círculos inferiores, alinhavam-se, agora, ao lado da residência de Gabriel, sob a determinação de Gúbio que dizia aguardar a noite para os serviços da prece em geral.

Antes, porém, que o dia expirasse, começaram a surgir vários elementos da falange de Gregório, afirmando-se dispostos à renovação de caminho.

Procediam da própria colónia que visitáramos, e um deles, com grande assombro para mim, foi claro na enunciação dos propósitos de que se achava inspirado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:52 pm

— Salvem-me dos juízes cruéis! — suplicou, emocionando-nos pela inflexão de voz — não posso mais!
Não suporto, por mais tempo, as atrocidades que sou constrangido a praticar.
Soube que o próprio Saldanha se transformou.

Eu não posso persistir no erro!
Temo a perseguição de Gregório, mas, se é necessário arrostar as maiores dores, enfrentá-las-ei de bom grado, preferindo-lhes o golpe fulminatório a regressar.

Ajudem-me! Aspiro à nova estrada, com o bem.

Apelos como este foram repetidos muitas vezes.

Enfileirando os sofredores de intenções nobres e rectas que nos alcançavam, no vasto recinto de que dispúnhamos, nosso Instrutor recomendou que eu e Elói nos colocássemos à disposição deles, ouvindo-os com paciência e prestando-lhes a assistência possível, a fim de se prepararem mentalmente para as orações da noite.

Confesso que me senti à vontade.
Dividimo-nos, então, em dois sectores distintos.

Organizei os irmãos que me cabia atender em assembleia fraternal;
contudo, em vista de os necessitados continuarem chegando, de espaço a espaço, era imperioso abrir novos lugares no extenso grupo dos ouvintes.

Muitas entidades em desequilíbrio, lá fora, reclamavam acesso, pronunciando rogativas comovedoras;
todavia, o nosso orientador aconselhara fosse a entrada privativa dos Espíritos que se mostrassem conscientes das próprias necessidades.

De há muito aprendera que uma dor maior sempre consola uma dor menor e limitava-me a pronunciar frases curtas, para que os infelizes, ali congregados, encontrassem reconforto, uns com os outros, sem necessidade de doutrinação de minha parte.

Conduzindo-me desse modo, pedi a uma das irmãs presentes, em deploráveis condições perispiríticas, expor-nos, por gentileza, a experiência de que fora objecto.

A infortunada concentrou a atenção de todos, em virtude das feridas extensas que mostrava no semblante agora erguido.

— Ai de mim! — começou, penosamente — ai de mim, a quem a paixão cegou e venceu, transportando-me ao suicídio!
Mãe de dois filhos, não suportei a solidão que o mundo me impusera com a morte de meu marido tuberculoso.

Cerrei os olhos ao campo de obrigações que me convidavam ao entendimento e sufoquei as reflexões ante o futuro que se avizinhava.

Olvidei o lar, os filhos, os compromissos assumidos e precipitei-me no vale fundo de sofrimentos inenarráveis.
Há quinze anos, precisamente, vagueio sem pouso, à feição da ave imprevidente que aniquilasse o ninho...

Leviana que fui!
Quando me vi só e aparentemente desamparada, entreguei meus pobres filhos a parentes caridosos e sorvi, louca, o veneno que me desintegraria o corpo menosprezado.

Supunha reencontrar o esposo querido ou chafurdar-me no abismo da inexistência;
todavia, nem uma realização nem outra me surpreenderam o coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:52 pm

Despertei sob denso nevoeiro de lama e cinza e debalde clamei socorro, à face dos padecimentos que me asfixiavam.
Coberta de chagas, qual se o tóxico letal me atingisse os mais finos tecidos da alma, gritei sem destino certo!

A essa altura, porque a emotividade lhe interceptasse a voz, interferi, perguntando, de modo a fixar o ensinamento:
— E não conseguiu retornar ao santuário doméstico?

— Ah! sim! fui até lá — informou a interpelada tentando dominar-se —, mas, para acentuar-me a angústia, o toque de meu carinho nos filhos amados, que confiara aos parentes próximos, provocava-lhes aflição e enfermidade.

As irradiações de minha dor lhes alcançavam os corpos tenros, envenenando-lhes a carne delicada, através da respiração.
Quando compreendi que a minha presença lhes inoculava pavoroso “vírus fluídico”, deles fugi aterrada.

É preferível suportar o castigo de minha própria consciência isolada e sem rumo que infligir-lhes sofrimento sem causa!

Experimentei medo e horror de mim mesma.
Desde então, perambulo sem consolo e sem norte.
É por isto que venho até aqui implorando alívio e segurança.
Estou cansada e vencida...

— Convença-se de que receberá os recursos que pleiteia, por intermédio da prece — esclareci, prometendo-lhe a colaboração eficiente de Gúbio.

A pobrezinha sentou-se, mais calma;
e reparando que um dos irmãos presentes buscava salientar-se, no intuito de relatar-nos a experiência de que era vítima, roguei atenção, em torno das palavras que pronunciaria.

Fitei-o, vigilante, e notei-lhe o singular brilho dos olhos.
Parecia alucinado, abatido.

Com a expressão típica da loucura cronicificada, falou, aflito:
— Permite-me indagar?
— Perfeitamente — respondi surpreso.
— Que é o pensamento?

Não aguardava a pergunta que me era desfechada, mas, centralizando minha capacidade receptiva, no propósito de responder com acerto, elucidei como pude:
— O pensamento é, sem dúvida, força criadora de nossa própria alma e, por isto mesmo, e a continuação de nós mesmos.
Através dele, actuamos no meio em que vivemos e agimos, estabelecendo o padrão de nossa influência, no bem ou no mal.

— Ah! — fez o estranho cavalheiro, um tanto atormentado — a explicação significa que as nossas ideias exteriorizadas criam imagens, tão vivas quanto desejamos?

— Indiscutivelmente.
— Que fazer, então, para destruir nossas próprias obras, quando interferimos, erroneamente, na vida mental dos outros?

— Auxilie-nos a apreciar seu caso, contando-nos alguma coisa de sua experiência — pedi com interesse fraternal.

O interlocutor, provavelmente tocado pelo tom de minha solicitação afectuosa, expôs a perturbação que lhe vagava no íntimo, com frases incisivas, quentes de sinceridade e dor:
— Fui homem de letras, mas nunca me interessei pelo lado sério da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:53 pm

Cultivava o chiste malicioso e com ele o gosto da volúpia, estendendo minhas criações à mocidade de meus dias.

Não consegui posição de evidência, nos galarins da fama;
entretanto, mais que eu poderia imaginar, impressionei, destrutivamente, muitas mentalidades juvenis, arrastando-as a perigosos pensamentos.

Depois do meu decesso, sou incessantemente procurado pelas vítimas de minhas insinuações subtis, que me não deixam em paz, e, enquanto isto ocorre, outras entidades me buscam, formulando ordens e propostas referentes a acções indignas que não posso aceitar.

Compreendi que me achava em ligação, desde a existência terrestre, com enorme quadrilha de Espíritos perversos e galhofeiros que me tomavam por aparelho invigilante de suas manifestações indesejáveis.

No fundo, eu mantinha por mim mesmo, no próprio espírito, suficiente material de leviandade e malícia, que eles exploraram largamente, adicionando aos meus erros os erros maiores que intentariam debalde praticar, sem meu concurso activo.

Acontece, porém, que abrindo meus olhos à verdade, na esfera em que hoje respiramos, em vão busco adaptar-me a processos mais nobres de vida.

Quando não sou atribulado por mulheres e homens que se afirmam prejudicados pelas ideias que lhes infundi, na romagem carnal, certas formas estranhas me apoquentam o mundo interior, como se vivessem incrustadas à minha própria imaginação.

Assemelham-se a personalidades autónomas, se bem que sejam visíveis tão-somente aos meus olhos.

Falam, gesticulam, acusam-me e riem-se de mim.
Reconheço-as sem dificuldade.

São imagens vivas de tudo o que meu pensamento e minha mão de escritor criaram para anestesiar a dignidade de meus semelhantes.

Investem contra mim, apupam-me e vergastam-me o brio, como se fossem filhos rebelados contra um pai criminoso.

Tenho vivido ao léu, qual alienado mental que ninguém compreende!
Como entender, porém, os pesadelos que me possuem?

Somos o domicílio vivo dos pensamentos que geramos ou as nossas ideias são pontos de apoio e manifestação dos Espíritos bons ou maus que sintonizam connosco?

Havia nos ouvintes significativa expectação, não obstante a calma reinante.
O infeliz deixou de falar, titubeante.
Demonstrava-se atormentado por energias estranhas ao próprio campo íntimo, apalermado e trémulo à nossa vista.

Fitou em mim os olhos esgazeados de esquisito terror e, correndo aos meus braços, bradou:
— Ei-lo! ei-lo que chega por dentro de mim...

É uma das minhas personagens na literatura fescenina!
Ai de mim! acusa-me!
Gargalha irónica e tem as mãos crispadas! Vai enforcar-me!...

Alçando a destra à garganta, denunciava, aflito:
— Serei assassinado! Socorro! socorro!...
Os demais companheiros perturbados e sofredores, ali presentes, alarmaram-se, desditosos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:53 pm

Houve quem tentasse fugir, mas, com uma frase apenas, sustei o tumulto que se iniciava.
O pobre beletrista desencarnado contorcia-se em meus braços, sem que eu pudesse socorrer-lhe a mente transviada e ferida.

Cautelosamente, enviei um emissário a Gúbio, que compareceu, em alguns segundos.
Examinou o caso e pediu a presença de Leôncio, o ex-hipnotizador de Margarida.

À frente do recém-chegado, indicou-lhe o doente em crise e falou peremptório, mas bondoso:
— Opera, aliviando.
— Eu? eu? — falou o convertido, semi-apalermado — merecerei a graça de transmitir alívio?.

Gúbio, no entanto, obtemperou, sem hesitar:
— Serviço construtivo e actividade destrutiva constituem problema de direcção.
A corrente líquida, devastadora, que derruba e mata, pode sustentar uma usina de força edificante.

Em verdade, meu amigo, todos somos devedores, enquanto nos situamos nas linhas do mal.
É imperioso reconhecer, contudo, que o bem é a nossa porta redentora.

O maior criminoso pode abreviar longos anos de pena, entregando-se ao resgate próprio, através do serviço benéfico aos semelhantes.

Dissipando-lhe as dúvidas, acentuou com inflexão de ternura:
— Começa hoje, aqui e agora, com o Cristo.
Em tua determinação de ajudar, esconde-se a solução do segredo da felicidade própria.

Leôncio não mais vacilou.
Magnetizou o enfermo dementado que, poucos minutos depois, silenciou, em profundo repouso.

Desde esse instante, o ex-perseguidor não mais me abandonou nas experiências do dia, desempenhando as funções de excelente companheiro.

A assembleia, porém, crescia de hora a hora.
Entidades de boa intenção buscavam-nos sequiosas de paz e esclarecimento, mas, francamente, doía-me observar tanta ignorância, além da morte do corpo.

Na maior parte dos presentes não surgia o mais leve traço de compreensão da espiritualidade.
Raciocínios e sentimentos jaziam presos ao chão terrestre, vinculados a interesses e paixões, angústias e desencantos.

E nosso orientador fora categórico, nas últimas informações que transmitira.

A noite próxima assinalar-nos-ia o término da permanência junto ao lar de Margarida, e cabia-nos preparar quantos nos buscavam, famintos de conhecimento santificante, para os serviços de oração que ele pretendia realizar.

Não convinha comparecessem desprevenidos de avisos salutares e oportunos, acerca das obrigações e esperanças que lhes competiam desenvolver.

Em razão disso, interferi nas conversações, disseminando os esclarecimentos de que podia dispor.
Ao entardecer, a conformação e o contentamento reinavam em todos os rostos.

Nosso Instrutor prometera conduzir os companheiros de boa vontade a esfera mais elevada, garantindo-lhes a passagem para a condição superior, e doce júbilo transparecia de todos os olhares.

Na exaltação da fé e confiança que nos dominavam, simpática senhora pediu-me permissão para cantar um hino evangélico, ao que anuí, prazeroso, e era de ver a beleza da melodia desferida em notas de maravilhoso encantamento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:53 pm

Alegre e reconfortado pela expressão do serviço que nos fora conferido, tinha meus olhos nublados de pranto, quando, aos últimos versos do cântico de esperança, jovem dama, de triste fisionomia, avançou para mim e disse, em voz súplice:
— Meu amigo, de hoje em diante adoptarei novo rumo.
Sinto, neste cenáculo de fraternidade, que o mal nos afundará invariávelmente nas trevas.

Fixou os olhos lacrimosos nos meus e rogou, depois de comovente intervalo:
— Promete-me, porém, a bênção do olvido na “esfera do recomeço”! (1)
Fui mãe de dois filhinhos, tão belos e tão puros como duas estrelas, mas a morte me arrebatou muito cedo do lar.

Mas não foi a morte o único algoz que me feriu, desapiedado...
Meu marido, em seis meses, esqueceu as promessas de muitos anos e entregou-me os dois anjos à madrasta sem entranhas, que cruelmente os amesquinha...

Há vinte meses luto contra ela, tomada de incoercível revolta;
todavia, estou entediada do ódio que me constringe o coração!
Preciso renovar-me para o bem, a fim de ser mais útil.

Entretanto, meu amigo, tenho sede de esquecimento.
Ajuda-me por piedade!
Prende-me em algum lugar, onde minhas recordações amargas possam tranquilamente morrer.

Não me deixes, por mais tempo, entregue aos caprichos que me arrastam.
Minha inclinação ao bem é insignificante réstia de luz, no seio da noite do mal que me envolve.
Compadece-te e ajuda-me!

Não sei amar, ainda, sem o ciúme violento e aviltante!
Entretanto, não ignoro que o Mestre Divino se entregou à cruz, em extrema renúncia!
não permitas que as minhas elevadas aspirações desta hora venham a perecer!

As rogativas e lágrimas daquela mulher acordaram-me a lembrança viva do próprio passado.
Eu também sofrera intensivamente para desenvencilhar-me dos laços inferiores da carne.

Sensibilizado, nela enxerguei uma irmã pelo coração e que me cumpria esclarecer e amparar.
Abracei-a, comovido, como se o fizesse a uma filha, chorando por minha vez.

E reflectindo nas dificuldades de quantos empreendem a reveladora viagem da morte, sem bases de verdadeiro amor e de legítimo entendimento nos corações que permanecem à retaguarda, exclamei:
— Sim, farei tudo quanto estiver em minhas forças para auxiliar-te.

Fixa-te em Jesus e doce esquecimento do perturbado campo terrestre te balsamizará o espírito, preparando-te para o voo às torres celestes.

Serei teu amigo e desvelado irmão.
Ela abraçou-me, confiante, como a criancinha quando se sente segura e feliz.

(1) Nos círculos mais próximos da experiência humana, “esfera do recomeço” significa reencarnação. — Nota do autor espiritual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:53 pm

18 - Palavras de benfeitora

A reunião nocturna guardava-nos surpreendente alegria.

Sob a doce claridade lunar, Gúbio assumiu a direcção dos trabalhos e congregou-nos em largo círculo.
Era, efectivamente, nos menores gestos, precioso guia a conduzir-nos aos montes de elevação mental.

Recomendou-nos o esquecimento dos velhos erros e aconselhou-nos atitude interior de sublimada esperança, emoldurada em optimismo renovador, a fim de que as nossas energias mais nobres fossem ali exteriorizadas.

Esclareceu que um caso de socorro, quando orientado nos princípios evangélicos, qual sucedia no problema de Margarida, é sempre susceptível de comunicar alívio e iluminação a muita gente, elucidando, ainda, que ali nos encontrávamos para receber a bênção do Plano Superior, mas, para isso, tornava-se imperioso guardar inequívoca posição de superioridade moral, porque o pensamento, em reunião qual aquela, punha em jogo forças individuais de suma importância no êxito ou no fracasso do tentame.

De todas as fisionomias transbordavam o contentamento e a confiança, quando o nosso orientador, erguendo a voz no cenáculo de fraternidade, rogou humilde e comovente:
— Senhor Jesus, digna-te abençoar-nos, discípulos teus, sequiosos das águas vivas do Reino Celeste!
Aqui nos congregamos, aprendizes de boa vontade, à espera de tuas santificadas determinações.

Sabemos que nunca nos impediste o acesso aos celeiros da graça divina e não ignoramos que a tua luz, quanto a do Sol, cai sobre santos e pecadores, justos e injustos...

Mas nós, Senhor, nos achamos atrofiados pela própria imprevidência.
Temos o peito ressacado pelo egoísmo e os pés congelados na indiferença, desconhecendo o próprio rumo.

Todavia, Mestre, mais que a surdez que nos toma os ouvidos e mais que a cegueira que nos absorve o olhar, padecemos, por desdita nossa, de extrema petrificação na vaidade e no orgulho que, através de muitos séculos, elegemos por nossos condutores nos despenhadeiros da sombra e da morte;
mas confiamos em Ti, cuja influência santificante regenera e salva sempre.

Poderoso Amigo, tu que abres o seio da Terra pela vontade do Supremo Pai, usando a lava comburente, liberta-nos o espírito dos velhos cárceres do «eu”, ainda que para isso sejamos compelidos a passar pelo vulcão do sofrimento!

Não nos relegues aos precipícios do passado.
Descerra-nos o futuro e inclina-nos a alma à atmosfera da bondade e da renúncia.

Dentro da extensa noite que improvisamos para nós mesmos, pelo abuso dos benefícios que nos emprestaste, possuímos tão-somente a lanterna bruxuleante da boa vontade, que a ventania das paixões pode apagar de um momento para outro.

Ó Senhor! livra-nos do mal que amontoamos no santuário de nossa própria alma!
Abre-nos, por piedade, o caminho salvador que nos laça dignos de tua com paixão divina.

Revela-nos tua vontade soberana e misericordiosa, a fim de que, executando-a, possamos alcançar, um dia, a glória da ressurreição verdadeira.

Distanciados, agora, do corpo de carne, não nos deixes cadaverizados no egoísmo e na discórdia.

Envia-nos, magnânimo, os mensageiros de tua bondade infinita, para que possamos abandonar o sepulcro de nossas antigas ilusões!


Nesse momento, as lágrimas serenas do orientador, em prece, receberam resposta celestial, porque verdadeira chuva de raios diamantinos começou a jorrar do Alto sobre ele, como se força misteriosa e invisível ali houvesse libertado divina torrente de claridade em nosso favor.

Calara-se-lhe a voz, mas o quadro sublime arrancava-nos pranto de emotividade indefinível.
Não havia um só dos circunstantes sem o toque visível, no rosto, daquele êxtase bendito que nos assomava, de assalto, ao coração.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 20, 2012 10:54 pm

O Instrutor parecia vacilante, embora o halo radioso que lhe cobria gloriosamente a cabeça veneranda.

Chamou-me num sopro e informou:
— André, dirige os trabalhos da reunião, enquanto devo fornecer recursos à materialização de nossa benfeitora Matilde.

Vejo-a ao nosso lado, esclarecendo haver chegado a noite longamente esperada por seu coração materno.

Antes do reencontro com Gregório, em companhia de bem-aventuradas entidades que a assistem, pretende ela visitar-nos, de maneira tangível, encorajando quantos aqui hoje se candidatam ao serviço preparatório de ingresso em círculos superiores.

Tremi, perante a ordem, mas não hesitei.
Tomei-lhe o lugar, sem detença, enquanto o sábio mentor se recolhia a dois passos de nós, em profunda meditação.

Reparamos, em silêncio, que luz brilhante e doce passou a se lhe irradiar do peito, do semblante e das mãos, em ondas sucessivas, semelhando-se a matéria estelar, tenuíssima, porque as irradiações pairavam em torno, como que formando singulares paradas nos movimentos que lhe eram característicos.

Em breves instantes, aquela massa suave e luminescente adquiria contornos definidos, dando-nos a ideia de que manipuladores invisíveis lhe infundiam plena vida humana.

Mais alguns instantes e Matilde surgiu diante de nós, venerável e bela.

O fenómeno da materialização de uma entidade sublimada ali se fizera prodigioso aos nossos olhos, em processo quase análogo ao que se verifica nos círculos carnais.

Ante a benfeitora, diversas mulheres presentes prosternaram-se, dominadas de incoercível emoção, atitude natural que não nos surpreendeu, porque, efectivamente, nos sentíamos em contacto directo com um anjo glorioso, em forma de mulher.

A abnegada protectora endereçou à assembleia um gesto de bênção e falou em voz pausada e emocionante, depois de ligeira saudação:
— Meus amigos, todos aguardais a hora feliz de abençoado retorno à “esfera do recomeço’;
entretanto, a dádiva do vaso de carne é inapreciável bênção divina.

Não busqueis a reencarnação tão-somente pela ânsia de olvido, nos sonhos do mundo que as tentações do campo inferior podem transformar em pesadelo.

A vida que conhecemos, até agora, é contínuo processo de aperfeiçoamento.
Não basta desejar.
É imprescindível orientar o desejo na direcção do Bem Infinito.

Fez ligeira pausa e, talvez respondendo à arguição mental de muitos, prosseguiu:
— Não julgueis seja eu excepcional emissária do reino da luz.
Sou humilde servidora, sem outro crédito perante o Eterno Doador que não seja o da boa vontade.

Meus pés jazem ainda marcados pelo pretérito obscuro e meu coração ainda guarda cicatrizes recentes e profundas de experiências amargosas, que os dias incessantes, até agora, não conseguiram apagar.

Não me confirais, portanto, nomes e títulos que não possuo.
Sou simplesmente vossa irmã de luta, interessada em acordar-vos para a sublimidade do futuro.
Nosso coração é um templo que o Senhor edificou, a fim de habitar connosco para sempre.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 21, 2012 10:29 pm

Gloriosas sementes de divindade esperam-nos a harmonia e o ajustamento interiores para desabrocharem, dentro de nós mesmos, arrebatando-nos às esferas resplandecentes.

A aquisição das virtudes iluminativas, no entanto, não constitui serviço instantâneo da alma, susceptível de efectuar-se de momento para outro.

Somos, cada qual de nós, um imã de elevada potência ou um centro de vida inteligente, atraindo forças que se harmonizam com as nossas e delas constituindo nosso domicílio espiritual.

A criatura, encarnada ou desencarnada, onde estiver, respira entre os raios de vida superior ou inferior que emite, ao redor dos próprios passos, tal qual a aranha que se confunde nos fios escuros que produz ou da andorinha que corta os altos céus com as próprias asas.

Todos nós exteriorizamos energias, com as quais nos revestimos, e que nos definem muito mais que as palavras.

De que vos valeria o retorno à oficina da carne, sem conhecimento das obrigações que nos competem, ante a Justiça Divina?

que nos adiantaria o temporário esquecimento do passado, sem nos integrarmos na responsabilidade, a maior força capaz de nos socorrer nos círculos de matéria densa e que se traduz em tendência nobre a persistir connosco?

A volta à vestimenta física é uma bênção que poderemos conseguir à custa de generosas intercessões, quando nos faleçam méritos para obtê-la, no instante oportuno, por nós mesmos, tanto quanto é possível conseguir trabalho digno na Esfera da Crosta, movimentando amigos que nos conduzam aos objectivos disputados;
no entanto, qual ocorre a muitos encarnados que se localizam em respeitáveis quadros de serviço, tão só para usarem direitos que nada fizeram pelos merecer, com flagrante abuso das leis que nos regem as acções, muitas almas procuram o santuário da carne, formulando precipitadas promessas, e nele penetram agravando os próprios débitos.

Tímidas, levianas ou inconsequentes, aproveitam o estágio bendito na Região da Neblina (1), para repetirem as mesmas faltas de outra época, com absoluta perda do tempo, que é património do Senhor.

Nesse momento, dentro de breve intervalo que imprimiu à alocução edificante e piedosa, Matilde estendeu-nos as mãos que despediam raios de intensa luz e exclamou, maternal:
— Rogais o regresso à sombra protectora da carne, no propósito de desfazer os sinais desagradáveis que vos marcam a veste espiritual.

Contudo, já armazenastes suficiente força para esquecer os males que vos foram causados na Crosta da Terra?
Reconheceis os vossos erros, a ponto de aceitar a necessária rectificação?
Fortalecestes o ânimo, a fim de examinar as necessidades que vos são peculiares, sem aflições alucinatórias?

aprendestes a servir com o Cordeiro Divino, até ao sacrifício pessoal na cruz da incompreensão humana, anulando na própria alma as zonas viciadas de sintonia com os poderes das trevas?

Já auxiliastes os companheiros de caminho evolutivo e salvador com a intensidade e a eficiência que vos justifiquem a rogativa de colaboração intercessora? Que boas obras já efectuastes a fim de rogardes novos recursos do Céu?

Com quem contais para vencer nas experiências porvindouras?
Acreditais, porventura, que o lavrador recolherá sem plantar?

Armazenastes bastante serenidade e entendimento no coração, de modo a não vos intoxicardes amanhã, no plano físico, sob o bombardeio subtil dos raios pardos da cólera, da inveja ou do ciúme nefasto?

Permaneceis convencidos de que ninguém se aquecerá ao Sol Divino, sem abrir o próprio coração às correntes da Luz Eterna?
Ignorais, acaso, que é preciso igualmente trabalhar para que se mereça a bênção de um templo carnal na Terra?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 21, 2012 10:30 pm

Que amigos beneficiastes para pedir-lhes a ternura e o sacrifício da paternidade e da maternidade no mundo, em vosso favor?
Não vos iludais.

Somente as criaturas primitivas, nos círculos selvagens da natureza, conhecem, por agora, a semi-inconsciência do viver, por se abeirarem ainda dos reinos inferiores.

Recebem a reencarnação quase ao jeito dos irracionais, que aperfeiçoam instintos para ingressarem, mais tarde, no santuário da razão.

Para nós, porém, senhores de vigorosa inteligência, que já respiramos em centenas de formas diversas e que já atravessamos vários climas evolutivos, ofendendo e sendo ofendidos, amando e odiando, acertando e errando, resgatando débitos e contraindo-os, a vida não pode resumir-se a mero sonho, como se a reencarnação constituísse simples processo de anestesia da alma.

É indispensável, pois, que nos refaçamos, aprimorando o tom vibratório de nossa consciência, alargando-a para o bem supremo e iluminando-a à claridade renovadora do Divino Mestre.

A mente humana, honrando os patrimónios celestiais que lhe foram conferidos, não poderá vegetar, à feição do arbusto enfezado que nada produz de útil na economia do orbe, nem deve imitar o irracional que se localiza na retaguarda da inteligência incompleta.

Uma existência entre os homens, por mais humilde, para nós outros é acontecimento importante demais para que o apreciemos sem maior consideração.

Todavia, sem abraçar a noção de responsabilidade individual, que nos deve marcar o esforço de santificação, qualquer empresa dessa ordem é arriscada, porque em nosso aprendizado intensivo, na recapitulação, cada Espírito segue sozinho no círculo dos próprios pensamentos, sem que os companheiros de jornada, com raríssimas excepções, lhe conheçam as esperanças mais nobres e lhe partilhem as aspirações dignificadoras.

Cada criatura encarnada permanece só, no reino de si mesma, e faz-se indispensável muita fé e suficiente coragem para marcharmos vitoriosamente, sob o invisível madeiro redentor que nos aperfeiçoa a vida, até ao Calvário da suprema ressurreição.

Nesse instante, Matilde fez mais longa pausa na alocução com que nos enriquecia aquela hora de sabedoria e luz e acercou-se de Gúbio, prostrado e palidíssimo.

Afagou-o, bondosa, com palavras de agradecimento e, em seguida, como se desejasse quebrar a feição de solenidade que a sua presença nos imprimira à reunião, dirigiu-se, com acento carinhoso, aos ouvintes, rogando-lhes que se pronunciassem acerca dos projectos acalentados para o futuro.

Vozes de gratidão elevaram-se, comovidas.
Um cavalheiro de olhos fulgurantes destacou-se e foi claro na consulta.
— Grande benfeitora — disse, gravemente —, fui duplamente homicida, na derradeira romagem terrestre.

Respirei muitos anos no corpo carnal, como se fora a pessoa mais tranquila do mundo, não obstante trazer a consciência tisnada de remorso e as mãos enodoadas de sangue humano.

Ludibriei quantos me cercavam, através da máscara da hipocrisia.
Atravessando os umbrais do túmulo, atormentado de acerbas reminiscências, supus que tremendas acusações me esperariam.

Semelhante expectativa aliviava-me, de algum modo, porque o criminoso, perseguido pelo remorso, encontra verdadeiro socorro nas humilhações que o espezinham.

Contudo, não encontrei senão o desprezo, com aviltamento de mim próprio.
Minhas vítimas distanciaram-se de mim, desculparam-me e esqueceram-me.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 21, 2012 10:30 pm

Vejo-me, todavia, acicatado por forças punitivas que nunca poderei descrever com as minúcias desejáveis.
Há um tribunal invisível em minha consciência e debalde procuro fugir aos sítios em que menoscabei as obrigações de respeito ao próximo.

Abafando os soluços, rematou, comovente:
— Como iniciar o esforço de minha restauração?

Tão imensa tristeza perpassava naquela voz humilde, que nos sentíamos todos tocados nas fibras mais íntimas.

Matilde, contudo, respondeu, sem titubear:
— Outros irmãos, não longe de nós, suportando a carga das mesmas culpas, peregrinam, desditosos, entre o pesadelo e a aflição inomináveis.

Abre teu coração para eles.
Começarás ajudando-os a enxergar a senda regenerativa, alimentando-os com esperanças e ideais novos e atraindo-os ao trabalho de sublimação, pelo esforço, na constante aplicação do bem.

Sofrer-lhes-ás as injúrias, os remoques, as incompreensões, mas descobrirás um meio de ampará-los com eficiência e brandura.

Depois de semelhante sementeira, principiarás a recolher as bênçãos de paz e de luz, porquanto, o Espírito que ensina com amor, embora delituoso e imperfeito, acaba aprendendo as mais difíceis lições da responsabilidade que adquire, transmitindo a outros revelações salvadoras que lhe não pertencem.

Realizado esse serviço nobilitante, retomarás, então, mais tarde, o corpo físico, recapitulando os ensinamentos que gravaste na mente interessada em renovar-se.

Reencontrarás, daí em diante, mil motivos para a cólera violenta;
e a tentação de eliminar adversários, prostrando-os a golpe mortal, visitar-te-á com frequência o coração.

Se souberes, porém, e, sobretudo, se quiseres vencer os próprios impulsos destrutivos, quando te encontrares em plena e abençoada luta na “esfera do recomeço”, plantando amor e paz, luz e aperfeiçoamento, ao redor dos teus pés, então terás demonstrado aproveitamento real e efectivo das dádivas recebidas e revelar-te-ás preparado para maior ascensão.

Antes que a emissária pudesse imprimir novo brilho ao ensinamento, chorosa mulher recorreu-lhe ao conselho, exclamando, humilhada:
— Grande mensageira do bem, confesso aqui minhas faltas diante de todos e peço-te roteiro salvador.
Enquanto encarnada, nunca fui punida pelos meus excessos no abuso dos sentidos.

Possuí um lar que não honrei, um esposo que depressa esqueci e filhos que afastei, deliberadamente, de meu convívio, para gozar, à saciedade, os prazeres que a mocidade me oferecia.

Meu transviamento moral não foi conhecido na comunidade em que vivi, mas a morte apodreceu a máscara que me ocultava aos alheios olhos e passei a experimentar horrível pavor de mim mesma.

Que farei por retornar à paz? como traduzir o arrependimento que me enche a alma de infinita amargura?

Matilde fitou-a, compungidamente, e observou:
— Milhares de seres, despojados da roupagem fisiológica, estertoram em zona próxima, sob o guante cruel das paixões a que se algemaram, invigilantes.

Poderás encetar o reajustamento de tuas energias, dedicando-te, nos círculos próximos, ao levantamento dos sofredores de boa vontade.
Com esquecimento de ti mesma, arrebatarás muitos Espíritos, cadaverizados no abuso, aos pântanos de dor em que se debatem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 21, 2012 10:31 pm

Plantarás na mente deles novos princípios e novas luzes, consolando-os e transformando-os, a caminho da harmonia divina, reconquistando, por tua vez, o direito de regresso ao campo bendito da carne.

Reconduzida, então, à abençoada escola terrestre, receberás, talvez, a prova terrível da beleza física, a fim de que o contacto com as tentações da própria natureza inferior te retempere o aço do carácter, se conseguires manter fidelidade suprema ao amor santificante.

Esta é a lei, minha filha!

Para que nos reergamos com segurança, depois da queda ao precipício, é imprescindível auxiliar quantos se projectaram nele, consolidando, ante as dores alheias, a noção da responsabilidade que nos deve presidir às acções porvindouras, de modo que a reencarnação não se converta em novo mergulho no egoísmo.

O único recurso de fugirmos definitivamente ao mal é o apoio constante no Bem Infinito.

A benfeitora imprimiu ligeira interrupção ao verbo generoso, espraiou o olhar na assembleia que a ouvia, expectante, e concluiu:
— E que nenhum de nós admita o acesso fácil aos tesouros eternos, tão só porque actualmente nos vejamos libertos das cadeias beneméritas do corpo de carne. O Senhor criou leis imperecíveis e perfeitas para que não alcancemos o Reino da Divina Luz, ao sabor do acaso, e Espírito algum trairá os imperativos sábios do esforço e do tempo!

Quem pretende a colheita de felicidade no século vindouro, comece desde agora a sementeira de amor e paz.

Nesse momento, entregou-se Matilde a maior parada e, enquanto parecia meditar, em prece, de seu tórax iluminado nasciam, espontâneas e brilhantes, ondas sucessivas de maravilhosa luz.

(1) “Região de Neblina” é também sinónimo de Esfera Carnal. — Nota do autor espiritual.
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