LUZ ESPÍRITA
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Série André Luiz - OS MENSAGEIROS

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:11 pm

Queriam notícias de cúmplices encarnados, de resultados comerciais, de soluções atinentes a ligações clandestinas.

Gritei, chorei, implorei, mas estava algemado a eles por sinistros elos mentais, em virtude da imprevidência na defesa do meu próprio património espiritual.
Durante onze anos consecutivos, expiei a falta, entre eles, entre o remorso e amargura.

Acelino calou-se, parecendo mais comovido, em vista das lágrimas abundantes.
Fundamente sensibilizado, Vicente considerou:
— Que é isso? Não se atormente assim.

Você não cometeu assassínios, nem alimentou a intenção deliberada de espalhar o mal.
A meu ver, você enganou-se também, como tantos de nós.

Acelino, porém, enxugou o pranto e respondeu:
— Não fui homicida nem ladrão vulgar, não mantive o propósito íntimo de ferir ninguém, nem desrespeitei alheio lares, mas, indo aos círculos carnais para servir às criaturas de Deus, nossos irmãos, auxiliando no crescimento espiritual com Jesus, apenas fiz viciados da crença religiosa e delinquentes ocultos, mutilados da fé e aleijados do pensamento.

Não tenho desculpas, porque estava esclarecido, não tenho perdão, porque não me faltou assistência divina.

E, depois de longa pausa, concluiu gravemente:
— Podem avaliar a extensão da minha culpa?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:11 pm

IX - Ouvindo impressões

Deixando Acelino em conversa mais íntima com Octávio, fui levado por Vicente a outro ângulo da sala.

Muitos grupos se mantinham em palestra interessante e educativa, observando eu que quase todos comentavam as derrotas sofridas na Terra.

— Fiz quanto pude — exclamava uma velhinha simpática para duas companheiras que a escutavam atentamente —; no entanto, os laços de família são muito fortes.

Algo se fazia ouvir sempre, com voz muito alta, em meu espírito, compelindo-me ao desempenho da tarefa; mas... e o marido?

Nunca se conformou.
Se os enfermos me procuravam no receituário comum, agravava-se-lhe a neurastenia; se os companheiros de doutrina me convidavam aos estudos evangélico, revoltava-se, ciumento.

Que pensam vocês? Chegava a mobilizar minhas filhas contra mim.
Como seria possível, em tais circunstâncias, atender a obrigações mediúnicas?

— Todavia — ponderou uma das senhoras que parecia mais segura de si — sempre temos recursos e pretextos para fugir as culpas.

Encaremos nossos problemas com realismo.
Há de convir que, com o socorro da boa vontade, sempre lhe ficariam alguns minutos na semana e algumas pequenas oportunidades para fazer o bem.

Talvez pudesse conquistar o entendimento do esposo e a colaboração afectuosa das filhas, se trabalhasse em silêncio, mostrando sincera disposição para o sacrifício.

Nossos actos, Mariana, são muito mais contagiosos que as nossas palavras.
— Sim — respondeu a interlocutora, emitindo voz diferente —, concordo com a observação. Em verdade, nunca pude sofrer a incompreensão dos meus, sem reclamar.

— Para trabalharmos com eficiência — tornou a companheira, sensata —, é preciso saber calar, antes de tudo.

Teríamos atendido perfeitamente aos nossos deveres, se tivéssemos usado todas as receitas de obediência e optimismo que fornecemos aos outros.

Aconselhar é sempre útil, mas aconselhar excessivamente pode traduzir esquecimentos de nossas obrigações.

Assim digo, porque meu caso, ao dizer, é muito semelhante ao seu.
Fomos ao círculo carnal para construir com Jesus, mas caímos na tolice de acreditar que andávamos pela Terra para discutir nossos caprichos.

Não executei minha tarefa mediúnica, em virtude da irritação que me dominou, dada a indiferença dos meus familiares pelos serviços espirituais.

Nossos instrutores, aqui, muito me recomendaram, antes, que para bem ensinar é necessário exemplificar melhor.
Entretanto, por minha desventura, tudo esqueci no trabalho temporário da Terra.

Se meu marido fazia ponderações, eu criava refutações.
Não suportava qualquer parecer contrário ao meu ponto de vista, em matéria de crença, incapaz de perceber a vaidade e a tolice dos meus gestos.

Das irreflexões nasceu minha perda última, na qual agravei, de muito, as responsabilidades.

Quase mensalmente, Joaquim e eu nos empenhávamos em discussões e então trocávamos apenas os insultos contundentes, mas também os fluidos venenosos, segregados por nossa mente rebelde e enfermiça.

Entre os conflitos e suas consequências, passei o tempo inutilizada para qualquer trabalho de elevação espiritual.
Nesse instante, chamou-me Vicente para apresentar um amigo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:11 pm

Ao nosso lado, outro grupo de senhoras conversava animadamente:
— Afinal, Ernestina — indagava uma delas mais jovem — qual foi a causa do seu desastre?

— Apenas o medo, minha amiga — explicou-se a interpelada —, tive medo de tudo e de todos. Foi o meu grande mal.
Mas, como tudo isto impressiona! Você foi muitíssimo preparada.
Recordo-me ainda das nossas lições em conjunto.

As instrutoras do Esclarecimento confiavam extraordinariamente no seu concurso.
Seu aproveitamento era um padrão para nós outras.
— Sim, minha querida Lesta, suas reminiscências fazem-me sentir, com mais clareza, a extensão da minha bancarrota pessoal.

Entretanto, não devo fugir à realidade. Fui a culpada de tudo.
Preparei-me o bastante para resgatar antigos débitos e efectuar edificações novas; contudo, não vigiei como se impunha.

O chamamento ao serviço ressoou no tempo próprio, orientando-me o raciocínio a melhores esclarecimentos; nossos instrutores me proporcionavam os mais santos incentivos, mas desconfiei dos homens, dos desencarnados e até de mim mesma.

Nos estudiosos do plano físico, enxergava pessoas de má fé;
nos irmãos invisíveis presumia encontrar apenas galhofeiros fantasiados de orientadores, e, em mim mesma, receava as tendências nocivas.

Muitos amigos tinham conta de virtuosa, pelo rigorismo das minhas exigências;
todavia, no fundo, eu não passava de enferma voluntária, carregada de aflições inúteis.

— Foi uma grande infantilidade da sua parte — retrucou a outra —, você olvidou que, na esfera carnal, o maior interesse da alma é a realização de algo útil para o bem de todos, com vistas ao Infinito e à Eternidade.

Nesse mister, é indispensável contar com o assédio de todos os elementos contrários.

Ironias da ignorância, ataques da insensatez, sugestões inferiores da nossa própria animalidade surgirão, com certeza, no caminho de todo trabalhador fiel.

São circunstâncias lógicas e fatais do serviço, porque não vamos ao mundo psíquico para descanso injustificável, mas para lutar pela nossa melhoria, a despeito de todo impedimento fortuito.

— Compreendo, agora — disse a outra —; todavia, o receio das mistificações prejudicou minha bela oportunidade.
— Minha amiga — tornou a interlocutora — é tarde para lamentar.
Tanto tememos as mistificações, que acabamos por mistificar os serviços do Cristo.

Eu ouvia a palestra, com interesse crescente, mas o companheiro levou-me adiante para novas apresentações.

Atendia a esses agradáveis deveres da sociedade de “Nosso Lar”, mas, para não perder ensejo de instruir-me, continuava atento às conversações em torno.

Alguns cavalheiros mantinham discreta permuta de pareceres.
— Reconheço que fali — dizia um deles em tom grave — e muito já expiei nas regiões inferiores, mas aguardo novos recursos da Providência.

— Faltou-lhe, porém, bastante orientação para o caminho? — perguntava um companheiro.
— Explico-me — esclareceu o primeiro —, faltou-me o amparo da esposa.

Enquanto a tive a meu lado, verificava-se profundo equilíbrio em minhas forças psíquicas.
A companhia dela, sem que eu pudesse explicar, compensava-me todo gasto de energia mediúnica.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:11 pm

Minha noção de balanço estava nas mãos de minha querida Adélia.
Esqueci-me, porém, de que o bom servo deve estar preparado para o serviço do Senhor, em qualquer circunstância.

Não aprendi a ciência da conformação e nem me resignei a percorrer sozinho as estradas humanas.

Quando me senti sem a dedicada companheira, arrebatada pela morte, amedrontei-me, por sentir-me em desequilíbrio e, erradamente, procurei substituí-la, e fui acidentado.

Extremamente ligada a entidades malfazejas, minha segunda mulher, com os seus desvarios, arrastou-me a perversões sexuais de que nunca me supusera capaz.

Voltei, insensível ao convívio de criaturas perversas e, tendo começado bem, acabei mal.
Meus desastres foram enormes; entretanto, embora reconheça minha deficiência, entendo, ainda hoje, que o triunfo, mesmo no futuro, ser-me-á muito difícil sem a companheira bem-amada.

Tornara-se a palestra sumamente interessante. Desejava acompanhar-lhe o curso, mas Vicente chamou-me a atenção para outro assunto e era necessário acompanhá-lo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:12 pm

X - A experiência de Joel

Afastando-nos para um canto do salão, acompanhei Vicente que se dirigiu a um velhote de fisionomia simpática.

— Então, meu caro Joel, como vai? — perguntou, atencioso.

O interpelado teve uma expressão melancólica e informou:
— Graças à Bondade Divina, sinto-me bastante melhorado.
Tenho ido diariamente as aplicações magnéticas dos Gabinetes de Socorro, no Auxílio, e estou mais forte.

— Cederam as vertigens? — indagou o companheiro, com interesse.
— Agora são mais espaçadas e, quando surgem, não me afligem o coração com tanta intensidade.

Nesse instante, Vicente descansou os olhos muito lúcidos nos meus, e disse, sorrindo:
— Joel também andou nos círculos carnais em tarefa mediúnica e pode contar experiência muito interessante.

O novo amigo, que me parecia um enfermo em princípios de convalescença, esboçou melancólico sorriso e falou:
— Fiz minha tentativa na Terra, mas fracassei.

A luta não era pequena e fui fraco demais.
— O que mais me impressionou no caso dele, porém — interpôs Vicente em tom fraterno — é a moléstia que o acompanha até aqui e persiste ainda agora.

Joel atravessou as regiões inferiores com dificuldades extremas, após demorar porém muito tempo, voltando ao Ministério do auxílio perseguido de alucinações estranhas, relativamente ao pretérito.

— Ao passado? — perguntei, surpreendido
— Sim — esclareceu humilde —, minha tarefa mediúnica exigia sensibilidade mais apurada e, quando me comprometi executar o serviço, fui ao Ministério do Esclarecimento onde me aplicaram tratamento especial que me aguçou as percepções.

Necessitava condições subtis para o desempenho dos futuros deveres.

Assistentes amigos desdobraram-se em obséquios, por me favorecerem e parti para a Terra com todos os requisitos indispensáveis ao êxito de minhas benevolências, porém...

— Mas por que — indaguei — perdeu as realizações?
Tão só em virtude da sensibilidade adquirida?

Joel sorriu e obtemperou:
— Não perdi pela sensibilidade, mas pelo seu mau uso.
— Que diz? — tornei, admirado.

— O meu amigo compreendeu sem dificuldades.
Imagine, com um cabedal dessa natureza, ao invés de auxiliar os outros, perdi-me a mim mesmo.

É que, segundo concluo agora, Deus concede a sensibilidade apurada como espécie de lente poderosa, que o proprietário deve usar para definir roteiros, fixar perigos e vantagens do caminho, localizar obstáculos comum ajudando ao próximo e a si mesmo.

Procedi, porém ao inverso.
Não utilizei a lente maravilhosa de um modo muito justo.
Deixei-me empolgar pela curiosidade doentia, apliquei-a tão-somente para dilatar minhas sensações.

No quadro dos meus trabalhos mediúnicos, estava a recordação de existências pregressas como expressão indispensável ao serviço de esclarecimento colectivo e benefício aos semelhantes, que me fora concedido realizar, mas existe uma ciência de recordar, que não respeitei como devia interrompendo um instante a narrativa, aguçava-me o desejo de conhecer-lhe a experiência pessoal até ao fim.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 26, 2011 11:12 pm

Em seguida, continuou no mesmo diapasão.
— Ao primeiro chamado da esfera superior, acorri, apressado.
Sentia, intuitivamente, a vívida lembrança de minhas promessas em “Nosso Lar”.

Tinha o coração repleto de propósitos sagrados.
Trabalharia muito longe a vibração das verdades eternas.

Contudo, aos primeiros contactos com o serviço, a excitação química fez rodar o mecanismo de minhas recordações adormecidas, como o disco sob a agulha da vitrola, e lembrei toda a minha penúltima existência, quando envergara a batina, sob o nome de Monsenhor Alexandre Pizarro, nos últimos períodos da Inquisição Espanhola.

Foi, então, que abusei da lente sagrada a que me referi.
A volúpia das grandes sensações, que pode ser tão prejudicial como o uso do álcool que embriaga os sentidos, fez-me olvidar os deveres mais santos.

Bafejaram-me claridades espirituais de elevada expressão.

Desenvolveu-se-me a clarividência, mas não estava satisfeito senão por rever meus companheiros visíveis e invisíveis, no sector das velhas lutas religiosas.

Impunha a mim mesmo a obrigação de cada um deles no tempo, fazendo questão de as fichas biográficas, sem cuidar do verdadeiro aproveitamento no campo do trabalho construtivo.

A audição psíquica tornou-se-me muito clara; entretanto, não queria ouvir os benfeitores espirituais sobre tarefas proveitosas e sim interpelá-los, ousadamente no capítulo da minha satisfação egoística.

Despendi um tempo enorme, dentro do qual fugia aos companheiros que me vinham pedir actividades a bem do próximo, engolfado em pesquisas referentes à Espanha do meu tempo.

Exigia notícias de bispos, de autoridades políticas da época, de padres amigos que haviam errado tanto quanto eu mesmo.

Não faltaram generosas advertências.
Frequentemente, os colegas do nosso grupo espiritista chamavam-me a atenção para os problemas sérios de nossa casa.

Eram sofredores que nos batiam à porta, situações que reclamavam testemunho cristão.
Tínhamos um abrigo de órfãos em projecto, um ambulatório que começava a nascer e, sobre tudo, serviços semanais de instrução evangélica, nas noites de terças e sextas-feiras.

Mas, qual! eu não queria saber senão das minhas descobertas pessoais.

Esqueci que o Senhor me permitia aquelas reminiscências, não por satisfazer-me a vaidade, mas para que entendesse a extensão dos meus débitos para com os necessitados do mundo e me entregasse a obra de esclarecimento e conforto aos feridos da sorte.

Contrariamente a expectativa dos abnegados amigos que me auxiliaram na obtenção da oportunidade sublime, não me movi no concurso fraterno e desinteressei-me da doutrina consoladora, que hoje revive o Evangelho de Jesus entre os homens.

Somente procurei, a rigor, os que se encontravam afins comigo, desde o pretérito.
Nesse propósito, descobri, com evidentes sinais de identidade, personalidades outrora eminentes, em relação comigo.

Reconheci o senhor Higino de Salcedo, grande proprietário de terras, que me havia sido magnânimo protector, perante as autoridades religiosas da Espanha, reencarnado como proletário inteligente e honesto, mas em grande experiência de sacrifício individual.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:21 pm

Revi o velho Gaspar de Lorenzo, figura solerte de inquisidor cruel, que me quisera muito bem, reencarnado como paralítico e cego de nascença.

E desse modo, meu amigo, passei a existência, de surpresa em surpresa, de sensação em sensação.

Eu, que renascera para edificar alguma coisa de útil, transpor a lembrança em viciação da personalidade, perdi a oportunidade bendita de redenção, e o estado de alucinação em que vivo.

Com o meu erro, a mente desequilibrada e as perturbações psíquicas constituem doloroso martírio.
Estou sendo submetido a tratamento magnético de longo tempo.
Nesse momento, porém, o interlocutor empalideceu de súbito.

Os olhos, desmesuradamente abertos, vagavam como se fixassem quadros
impressionantes, muito longe da nossa perspectiva.

Depois cambaleou, mas Vicente o amparou de pronto, e, passando a destra na fronte, murmurava em voz firme:
— Joel! Joel! Não se entregue às impressões do passado!
Volte ao Presente de Deus!...

Profundamente admirado notei que o convalescente regressava a expressão normal, esfregando os olhos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:21 pm

XI – Belarmino, o Doutrinador

As lições eram eminentemente proveitosas.

Traziam-me novos conhecimentos e, sobretudo, com elas, admirava cada vez mais, a bondade de Deus, que nos permitia a todos a restauração do aprendizado para serviços do futuro.

Em muitos de nós havia zonas purgatórias de sombra e tormento íntimo.
Uns mais, outros menos.

Bastara, contudo, o reconhecimento de nossa pequenez, a compreensão do nosso imenso débito e ali estávamos, todo reunidos em “Nosso Lar”, reanimando energias desfalecidas e reconstituindo programas de trabalho.

Eu via em todos os companheiros presentes o reflorescimento da esperança.
Ninguém se sentia ao desamparo.

Observando que numerosos médiuns prosseguiam, em valiosa permuta de ideias, referentemente ao quadro de suas realizações, e ouvindo tantas observações sobre doutrinadores perguntei a Vicente, em tom discreto:
— Não seria possível, para minha edificação, consultar a experiência de algum doutrinador em trânsito por aqui?

Recolhendo notícias de tantos médiuns com enorme proveito, creio não deva perder esta oportunidade.

Vicente reflectiu um minuto e respondeu:
— Procuremos Belarmino Ferreira.
É meu amigo há alguns meses.
Segui o companheiro, através de grupos diversos.

Belarmino lá estava a um canto, em palestra com um amigo.
Fisionomia grave, gestos lentos, deixava transparecer grande tristeza no olhar humilde.
Vicente apresentou-me, afectuoso, dando início à conversação edificante.

Após a troca de alguns conceitos, Belarmino falou, comovido:
— Com que, então, meu amigo deseja conhecer as amarguras de um doutrinador falido?

— Não digo isso — obtemperei a sorrir —, desejaria conhecer sua experiência, ganhar também de sua palavra educativa.

Ferreira esboçou sorriso forçado, que expressava todo o absinto que ainda lhe requeimava a alma, e falou:
— A missão do doutrinador é muitíssimo grave para qualquer homem.

Não é sem razão que se atribui a Nosso Senhor Jesus o título de Mestre.
Somente aqui, vim ponderar bastante esta profunda verdade.

Meditei muitíssimo, reflecti intensamente e concluí que, para atingirmos uma ressurreição gloriosa, não há, por enquanto, outro caminho além daquele palmilhado pelo Doutrinador Divino.

É digna de menção a atitude dele, abstendo-se de qualquer escravização aos bens terrestres.

Não vemos passar o Senhor, em todo o Evangelho, se não fazendo o bem, ensinando o amor, acendendo a luz, disseminando a verdade.

Nunca pensou nisso?
Depois de longas meditações, cheguei ao conhecimento de que na vida humana, junto aos que administram e aos que obedecem, há os que ensinam.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:21 pm

Chego, pois, a pensar que nas esferas da Crosta há mordomos, cooperadores e servos.
Muito especialmente, os que ensinam devem ser dos últimos.
Entende o meu irmão?

Ah! sim, havia compreendido perfeitamente.
A conceituação de Belarmino era profunda, irrefutável.
Aliás, nunca ouvira tão belas apreciações, relativamente à missão educativa.

Após ligeiro intervalo, continuou sempre grave:
— Há de estranhar, certamente, tenha eu fracassado sabendo tanto.

Minha tragédia angustiosa, porém, é a de todos os que conhecem o bem, esquecendo-lhe a prática.

Calou-se de novo, pensou, pensou, e prosseguiu:
— Faz muitos anos, saí de “Nosso Lar” com tarefa de doutrinação no campo do Espiritismo evangélico.

Minhas promessas aqui, foram enormes.
Minha abnegada Elisa dispôs-se a acompanhar-me no serviço laborioso.
Ser-me-ia companheira desvelada, abençoada amiga de sempre.

Minha tarefa constaria de trabalho assíduo no Evangelho do Senhor, de modo a doutrinar primeiramente com o exemplo, e, em seguida com a palavra.

Duas colónias importantes que nos convizinham, enviaram muitos servos para a mediunidade e pediram ao nosso Governador cooperasse com a remessa de missionários competentes para o ensino e a orientação.

Não obstante meu passado culposo, candidatei-me ao serviço com endosso do Ministro Gedeão, que não vacilou em auxiliar-me.

Deveria desempenhar actividades concernentes meu resgate pessoal e atender à tarefa honrosa, veiculando luzes a irmãos nossos nos plano visível e invisível.

Impunha-se-me sobretudo, o dever de amparar as organizações mediúnicas, estimulando companheiros de luta, postos na Terra a serviço da ideia imortalista. Entretanto meu amigo, não consegui escapar à rede envolvente das tentações.

Desde criança, meus pais socorreram-me com a fé e noções consoladoras e edificantes do Espiritismo cristão.

Circunstâncias várias, que me pareceram casuais, situaram-me o esforço na presidência de um grande grupo espiritista.

Os serviços eram promissores, as actividades nobres e construtivas, mas enchi-me de exigências, levado pelo excessivo apego à posição de comando do barco doutrinário.

Oito médiuns, extremamente dedicados ao esforço evangélico, ofereciam-me colaboração activa; contudo, procurei colocar acima de tudo o preceito científico das provas insofismáveis.

Cerrei os olhos à lei do merecimento individual, olvidei os imperativos do esforço próprio e, envaidecido com os meus conhecimentos do assunto, comecei por atrair amigos de mentalidade inferior ao nosso círculo, tão somente em virtude da falsa posição que usufruíam na cultura filosófica e na pesquisa científica.

Insensivelmente, vicejaram-me na personalidade estranhos propósitos egoísticos.

Meus novos amigos queriam demonstrações de toda a sorte e, ansioso por colher colaboradores na esfera da autoridade científica, eu exigia dos pobres médiuns longas e porfiadas perquirições nos planos invisíveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:22 pm

O resultado era sempre negativo, porque cada homem receberá, agora e no futuro, de acordo com as próprias obras.

Isso me irritava.
Instalou-se a dúvida em meu coração, devagarzinho.
Perdi a serenidade doutro tempo.

Comecei a ver nos médiuns, que se retraíam aos meus caprichos, companheiros de má vontade e má fé.
Prosseguiam nossas reuniões, mas da dúvida passei à descrença destruidora.

Não estávamos num grupo de intercâmbio entre o visível e o invisível?
Não eram os médiuns simples aparelhos dos defuntos comunicantes?
Porque não viriam aqueles que pudessem atender aos nossos interesses materiais, imediatos?

Não seria melhor estabelecer um processo mecânico e rápido para as comunicações?
Porque a negação do invisível aos meus propósitos de demonstrar positivamente o valor da nova doutrina?

Debalde, Elisa me chamava para a esfera religiosa e edificante, onde poderia aliviar o espírito atormentado.

O Evangelho, todavia, é livro divino e, enquanto permanecemos na cegueira da vaidade e da ignorância, não nos expõe seus tesouros sagrados.

Por isso mesmo, tachava-o de velharia.
E, de desastre a desastre, antes que me firmasse na tarefa de ensinar, os amigos brilhantes do campo de cogitações inferiores da Terra arrastavam-me ao negativismo completo.

Do nosso agrupamento então, onde poderia edificar construções eternas, transferi-me para o movimento, não da política que eleva, mas da politicalha inferior, que impede o progresso comum e estabelece a confusão nos encarnados.

Por isso estacionei muito tempo desviado dos meus objectivos fundamentais porque a escravidão ao dinheiro me transformou os sentimentos.

E assim foi, até que acabei meus dias com uma bela situação financeira no mundo e... um corpo crivado de enfermidades; um palácio confortável de pedra e um deserto no coração.

A revivescência da minha inferioridade antiga, religou-me a companheiros menos dignos no plano dos encarnados e desencarnados, e o resto o meu amigo poderá avaliar: tormentos, remorsos, expiações...

Concluindo, asseverou:
— Mas, como não ser assim? Como aprender sem a escola, sem retomar o bem e corrigir o mal?

— Sim, Belarmino — disse, abraçando-o —, você tem razão.
Tenho a certeza de que não vim tão só ao Centro de Mensageiros, mas também ao centro de grandes lições.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:22 pm

XII - A palavra de Monteiro

Os ensinamentos aqui são variados.
Foi o amigo de Belarmino quem tomara a palavra.

Mostrando agradável maneira de dizer, continuou:
— Há três anos sucessivos, venho diariamente ao Centro de Mensageiros e as lições são sempre novas.
Tenho a impressão de que as bênçãos do Espiritismo chegaram prematuramente ao caminho dos homens.
Se minha confiança no Pai fosse menos segura, admitiria essa conclusão.

Belarmino, que observava atento os gestos do amigo, interveio, explicando:
— O nosso Monteiro tem grande experiência do assunto.
— Sim — confirmou ele —, experiência não me falta.

Também andei às tontas nas semeaduras terrestres.
Como sabem, é muito difícil escapar à influência do meio, quando em luta na carne.

São tantas e tamanhas as exigências dos sentidos, em relação com o mundo externo, que não escapei, igualmente, a doloroso desastre.

— Mas, como? — indaguei interessado em consolidar conhecimentos.
— É que a multiplicidade de fenómenos e as singularidades mediúnicas reservam surpresas de vulto a qualquer doutrinador que possua mais raciocínio na cabeça que sentimentos no coração.

Em todos os tempos o vício intelectual pode desviar qualquer trabalhador mais entusiasmado que sincero, e foi o que me aconteceu.

Depois de ligeira pausa, prosseguiu.
— Não preciso esclarecer que também parti de “Nosso Lar”, noutro tempo, em missão de Entendimento Espiritual.

Não ia para estimular fenómenos, mas para colaborar na jornada de companheiros encarnados e desencarnados. O serviço era imenso.

Nosso amigo Ferreira pode dar testemunho, porquanto partimos quase juntos.
Recebi todo o auxílio para iniciar minha grande tarefa e intraduzível alegria me dominava o espírito no desdobramento dos primeiros serviços.

Minha mãe, que se convertera em minha devotada orientadora não cabia em si de contente.

Enorme entusiasmo instalara-me no espírito.

Sob meu controle directo, estavam alguns médiuns de efeitos físicos, além de outros à psicografia e à incorporação;
e tamanho era o fascínio que o comércio com o invisível exercia sobre mim, que me distraí completamente quanto à essência moral da doutrina.

Tínhamos quatro reuniões semanais, às quais comparecia com assiduidade absoluta.
Confesso que experimentava certa volúpia na assistência aos desencantados de condição inferior.

Para todos eles, tinha longas dissertações decoradas, na ponta da língua.
Aos sofredores, fazia ver que padeciam por culpa própria.
Aos embusteiros, recomendava enfaticamente, a extensão da mentira criminosa.

Os casos de obsessão mereciam ardor apaixonado.
Estimava enfrentar obsessores cruéis para reduzi-los a zero, no campo da argumentação pesada.

Outra característica que me assinalava a acção firme era a dominação que pretendia exercer sobre alguns pobres sacerdotes católicos desencarnados, em situação de ignorância das verdades divina.
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Série André Luiz - OS MENSAGEIROS - Página 2 Empty Re: Série André Luiz - OS MENSAGEIROS

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:22 pm

Chegava ao cúmulo de estudar, pacientemente, longos trechos das Escrituras, não para meditá-las com o entendimento, mas por mastigá-los a meu bel-prazer, bolçando-as depois aos Espíritos perturbados, em plena sessão, com a ideia criminosa de falsa superioridade espiritual.

O apego às manifestações exteriores desorientou-me por completo.
Acendia luzes para os outros, preferindo, porém, os caminhos escuros e esquecendo a mim mesmo.

Somente aqui, de volta, pude verificar a extensão da minha cegueira.

Por vezes, após longa doutrinação sobre a paciência, impondo pesadíssimas obrigações aos desencarnados, abria as janelas do grupo de nossas actividades doutrinárias, para descompor as crianças que brincavam inocentemente na rua.

Concitava os perturbados invisíveis a conservarem serenidade para, daí a instantes, repreender senhoras humildes, presentes à reunião, quando não podiam conter o pranto de algum pequenino enfermo.

Isso, quanto a coisas mínimas, porque, no meu estabelecimento comercial, minhas atitudes eram inflexíveis.

Raro o mês que não mandasse promissórias a protesto público.
Lembro-me de alguns varejistas menos felizes, que me rogavam prazo, desculpas, protecção.

Nada me demovia, porém.
Os advogados conheciam minhas deliberações implacáveis.

Passava os dias no escritório estudando a melhor maneira de perseguir os clientes em atraso, entre preocupações e observações nem sempre muito rectas e, à noite, ia ensinar o amor aos semelhantes, a paciência e a doçura, exaltando o sofrimento e a luta como estradas benditas de preparação para Deus.

Andava cego. Não conseguia perceber que a existência terrestre, por si só, é uma sessão permanente.
Talhava o Espiritismo a meu modo: toda a protecção e garantia para mim, e valiosos conselhos ao próximo.

Ao demais disso, não conseguia retirar a mente dos espectáculos exteriores.

Fora das sessões práticas, minha actividade doutrinária consistia em vastíssimos comentários dos fenómenos observados, duelos palavrosos, narrações de acontecimentos insólitos, crítica rigorosa dos médiuns.

Monteiro deteve-se um pouco, sorriu e continuou:
— De desvio em desvio, a angina encontrou-me absolutamente distraído da realidade essencial.

Passei para cá, qual demente necessitado de hospício.
Tarde reconhecia que abusara das sublimes faculdades do verbo.

Como ensinar sem exemplo, dirigir sem amor?
Entidades perigosas e revoltadas aguardaram-me à saída do plano físico.
Sentia, porém, comigo, singular fenómeno.

Meu raciocínio pedia socorro divino, mas meu sentimento agarrava-se a objectivos inferiores.
Minha cabeça dirigia-se ao Céu, em súplica, mas o coração colava-se a Terra.
Nesse estado triste, vi-me rodeado de seres malévolos que me repetiam longas frases de nossas sessões.

Com atitude irónica, recomendavam-me serenidade, paciência e perdão às alheias faltas;
perguntavam-me, igualmente, porque me não desgarrava do mundo, estando já desencarnado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:23 pm

Vociferei, roguei, gritei, mas tive de suportar esse tormento por muito tempo.
Quando os sentimentos de apego à esfera física se atenuaram, a consideração de alguns bons amigos me trouxe até aqui.

E imagine o irmão que meu Espírito infeliz ainda estava revoltado.
Sentia-me descontente.

Não havia comandado as sessões de intercâmbio entre os dois planos?
Não me consagrara ao esclarecimento dos desencarnados?
Percebendo-me a irritação ridícula, amigos generosos submeteram-me a tratamento.

Não fiquei satisfeito.
Pedi a Ministra Veneranda uma audiência, visto ter sido ela a intercessora da minha oportunidade.

Queria explicações que pudessem atender ao meu capricho individual.
A Ministra é sempre muito ocupada, mas sempre atenciosa.

Não marcou a audiência, dada a insensatez da solicitação;
no entanto, por demasia de gentileza, visitou-me em ocasião que reservara a descanso.

Crivei-lhe os ouvidos de lamentações.
Chorei amargamente e, durante duas horas, ouviu-me a benfeitora por um prodígio de paciência evangélica.
Em silêncio expressivo, deixou que me cansasse na exposição longa e inútil.

Quando me calei, à espera de palavras que alimentassem o monstro da minha incompreensão Veneranda sorriu e respondeu:
“Monteiro meu amigo, a causa da sua derrota não é complicada nem difícil de explicar.

Entregou-se você, ao Espiritismo prático, junto dos homens nossos Irmãos mas nunca se interessou pela verdadeira prática do Espiritismo junto de Jesus, nosso Mestre.”

Nesse instante, Monteiro fez longa pausa, pensou uns momentos e falou, comovido.
— Desde então, minha atitude mudou muitíssimo, entendeu?

Aturdido com a lição profunda respondi mastigando palavras como quem pensa mais, para falar menos:
— Sim, sim estou procurando compreender.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:23 pm

XIII - Ponderações de Vicente

Não estava farto de lições, mas, para o momento, havia aprendido bastante.

Impressionado com o que me fora dado observar, não insisti com Vicente para prolongar nossa demora no Centro de Mensageiros.

Deixando grandes grupos em conversação activa, reconstituindo projectos e refazendo esperanças, segui o companheiro que me convidava a visitar os imensos jardins.

Roseirais enormes balsamizavam a atmosfera leve e límpida.
— Sinto-me fortemente impressionado - murmurei.
Quem diria pudesse caber tantas responsabilidades a essas criaturas?

Não conheci pessoalmente nenhum médium ou doutrinador do Espiritismo, justificando agora minha surpresa.
Vicente sorriu e ponderou:
— Você, meu caro, procede das Câmaras de Rectificação, onde os trabalhos são muito reservados e circunscritos.
Talvez sua impressão provenha dessa circunstância.

Verá, porém, com o tempo, que existem aqui locais de conversação dessa natureza, referentes a todas as oportunidades perdidas.

Já visitou alguma dependência Ministério do Esclarecimento?
— Não.
— Localizam-se, ali, os enormes pavilhões das escolas maternais.

São milhares de irmãs que comentam, por lá, as desventuras da maternidade fracassada, buscando reconstituir energias e caminhos.
Ainda ali, temos os Centros de Preparação à Paternidade.

Grandes massas de irmãos examinam o quadro de tarefas perdidas e recordam, com lágrimas, o passado de indiferença ao dever.
Nesse mesmo Ministério, temos a Especialização Médica.

Nobres profissionais da Medicina, que perderam santas oportunidades de elevação, lá discutem seus problemas.

Nesse instante o interrompi, observando:
— Entretanto, somos médicos e não nos achamos lá.
— Sim — explicou Vicente, bondoso — infelizmente para nós ambos, caímos em toda a linha.

Não só na qualidade de médicos, mas muito mais como homens, pois que, se disse a você o que sofri, ainda não contei o que fiz.

É verdade — concordei, desapontado, recordando minha condição de suicida inconsciente.

— Ainda no Esclarecimento — prosseguiu o companheiro —, temos o Instituto de Administradores, onde os Espíritos cultos procuram restaurar as forças próprias e corrigir os erros cometidos na mordomia terrestre.

Nos Campos de Trabalho, do Ministério da Regeneração, existem milhares de trabalhadores que se renovam para a recapitulação das grandes tarefas da obediência.

Somos numerosos — continuou, sorridente — os falidos nas missões terrestres e note-se que todos os que hajam chegado a zonas como “Nosso Lar” devem ser levados à conta dos extremamente felizes.

Temos aqui dois Ministérios Celestiais, como o da Elevação e o da União Divina, cuja influenciação santificante eleva o padrão dos nossos pensamentos sem que o percebamos de maneira directa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:24 pm

O estágio aqui, André, representa uma bênção do Senhor, e, por muito que trabalhássemos, nunca retribuiríamos a esta colónia na medida de nosso débito para com ela.

Nossa situação é a de abrigados em verdadeiro paraíso, pelo ensejo de serviço edificante que se nos oferece.
Quanto a outros companheiros nossos...

Fez longo hiato e continuou:
— Quanto a muitos, estão fazendo angustiosas estações de aprendizado nas regiões mais baixas.
São infelizes prisioneiros uns dos outros, pela cadeia de remorsos e malignas recordações.

No que concerne à Medicina, os colegas em bancarrota espiritual são inúmeros.
A saúde humana é património divino e o médico é sacerdote dela.

Os que recebem o título profissional, em nosso quadro de realizações sem dele se utilizarem a bem dos semelhantes, pagam caro a indiferença.

Os que dele abusam são, por sua vez, situados no campo do crime.
Jesus não foi somente o Mestre, foi Médico também.

Deixou no mundo o padrão da cura para o Reino de Deus.
E proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé às almas.

Nós, porém, meu caro André, em muitos casos terrestres, nem sempre aliviamos o corpo e quase sempre matamos a fé.
As palavras sensatas do amigo caíam-me na alma como raios de luz.

Tudo era a verdade, simples e bela.
Ainda não pensara, de facto, em toda a grandeza do serviço divino de Jesus Médico.

Ele expulsara febres malignas, curara leprosos e cegos de nascença, levantara paralíticos, mas nunca ficava apenas nisto.
Reanimava os doentes, dava-lhes esperanças novas, convidava-os à compreensão da Vida Eterna.

Engolfara-me em pensamentos grandiosos, quando o companheiro voltou a falar:
— Tenho um amigo, nosso colega de profissão, que se encontra nas zonas inferiores, há alguns anos, atormentado por dois inimigos cruéis.

Acontece que ele muito faliu como homem e médico.
Era cirurgião exímio, mas, tão logo alcançou renome e respeito geral, impressionou-se com as aquisições monetárias e caiu desastradamente.

Nos dias de grandes negócios financeiros, deslocava a mente das obrigações veneráveis, colocando-a distante, na esfera dos banqueiros comuns.

Não fosse a protecção espiritual, essa atitude teria comprometido oportunidades vitais de muita gente.

A colaboração do pobre amigo tornara-se quase nula, e alguns desencarnados nas intervenções cirúrgicas que ele praticava, notando-lhe a irresponsabilidade, atribuíram-lhe a causa da morte física, quando não a esperavam votando-lhe ódio terrível.

Amigos do operador prestaram esclarecimentos justos a muitos; entretanto, dois deles, mais ignorantes e maldosos, perseveraram na estranha atitude e o esperaram no limiar do Sepulcro.

Horrível — exclamei. Se ele, porém, não é culpado da desencarnação desses adversários gratuitos, como pode ser atormentado desse modo?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 27, 2011 11:24 pm

Explicou Vicente, em tom mais grave:
— Realmente, não tem a culpa da morte deles.
Nada fez para interromper-lhe a existência física.

Mas é responsável pela inimizade e incompreensão criadas na mente dessas pobres criaturas, porque, não estando seguro do seu dever, nem tranquilo com a consciência, o nosso amigo julga-se culpado, em razão das outras falhas a que se entregou imprevidentemente.

Todo erro traz fraqueza e, assim sendo, o nosso colega, por enquanto não adquiriu forças para se desenvencilhar dos algozes perante a Justiça Divina, portanto, ele não resgata crimes inexistentes, mas repara certas faltas graves e aprende a conhecer-se a si mesmo, a entender as obrigações nobres e praticá-las, compreendendo, por fim, a felicidade dos que sabem ser úteis com segurança de fé em Deus e em si mesmos.

A noção do dever bem cumprido, André ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado travesseiro para a noite.

O nosso colega, tendo abusado da profissão entrou em dolorosa prova.
— Ah! sim — exclamei .—, agora compreendo. Onde exista uma falta, pode haver muitas perturbações.

Quando apagamos a luz, podemos cair em qualquer precipício.
— Justamente.
Calou-se o amigo, andando, muito tempo ao meu lado, como se estivesse surpreendido, como eu, defrontando as avenidas de rosas.

Depois de longas meditações, convidou-me fraternalmente:
— Regressemos ao nosso núcleo.

Creio devamos ouvir Aniceto, ainda hoje, referentemente ao serviço comum.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:28 pm

XIV - Preparativos

À noite, Aniceto veio ver-nos, começando por dizer:
— Amanhã deveremos partir os três, a serviço nas esferas da Crosta.

Telésforo recomendou-me certas actividades de importância, mas posso atendê-las em particular, proporcionando a ambos uma estação semanal de experiência e serviço.

Fiquei radiante. Muitas vezes regressara ao ninho doméstico, tornara à cidade em que desenvolvera a tarefa última e, todavia, não me detivera no exame das possibilidades extensas do concurso fraternal.

De quando em vez, era defrontado por situações difíceis, nas quais velhos conterrâneos encaravam problemas de vulto;
entretanto, sentia-me incapaz de auxiliá-los, eficientemente, na solução desejável.

Faltava-me técnica espiritual para fazê-lo.
Não tinha bastante confiança em mim mesmo.

Deixando perceber que ouvira meus pensamentos profundos, Aniceto dirigiu-me a palavra de maneira especial, asseverando:
— Você, André, ainda não pôde auxiliar os amigos encarnados porque ainda não adquiriu a devida capacidade para ver.

É razoável. Quando na carne, somos muitas vezes inclinados a verificar tão-somente os efeitos, sem ponderar as origens.

No mendigo, vemos apenas a miséria; no enfermo, somente a ruína física.
Faz-se indispensável identificar as causas.

Depois de meditar alguns momentos, prosseguiu:
— Procuraremos, contudo, remediar a situação.
Amanhã, pela madrugada, você e Vicente apareçam no Gabinete de Auxílio Magnético às Percepções, que fica junto ao Centro de Mensageiros.

Darei as providências para que vocês alcancem o necessário melhoramento da visão.
Peço-lhes, todavia, receberem semelhante auxílio em prece.
Roguem a Deus lhes permita a dilatação do poder visual.

Compenetrem-se da grandeza desse dom sublime.
E, sobretudo, enviem à Majestade Eterna um pensamento de consagração ao seu amor e aos seus serviços divinos.

Não desejo induzi-los a atitudes de fanatismo sem consciência.
Não podemos abusar da oração aqui, segundo antigas viciações do sentimento terrestre.

No círculo carnal, costumamos utilizá-la em obediência a delituosos caprichos, suplicando facilidades que surgiriam em detrimento de nossa própria iluminação.

Aqui, todavia, André, a oração é compromisso da criatura para com Deus, compromisso de testemunho, esforço e dedicação aos superiores desígnios.

Toda prece, entre nós, deve significar, acima de tudo, fidelidade do coração.
Quem ora, em nossa condição espiritual, sintoniza a mente com as esferas mais altas e novas luzes lhe abrilhantam os caminhos.

Deixou-nos o generoso instrutor com palavras carinhosas de amizade e incentivo.

Vicente e eu acalentávamos projectos magníficos.
Iríamos, pela primeira vez, cooperar a favor dos encarnados em geral.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:29 pm

Nosso repouso nocturno foi brevíssimo.
Aguardávamos, ansiosamente, a alvorada, afim de receber o auxílio magnético do Gabinete referido.

Poucas vezes orei com a emoção daquela hora.
Os esclarecidos técnicos da instituição colocaram-nos, primeiro em relação mental directa com eles e, em seguida, submeteram-nos a determinadas aplicações espirituais, que ainda não posso compreender em toda a extensão e transcendência.

Observei, contudo, que a colaboração magnética não nos retirava o sentido consciencial, e aproveitei a oportunidade para a oração sincera, que era mais um compromisso de trabalho que ato de súplica, propriamente considerado.

Decorrido certo tempo, fomos declarados em liberdade para sair, quando nos prouvesse.
A princípio, nada notei de extraordinário embora sentisse, dentro do coração, nova coragem e alegria diferente.

Experimentava bom ânimo, até então desconhecido.
Meus sentidos da visão e da audição pareciam mais límpidos.
Aniceto, que se mostrava muito satisfeito, esperava no Centro, marcando a partida para o meio-dia.

Ansioso, aguardei o instante aprazado.
Não nos ausentamos de “Nosso Lar”, como os viajores terrestres, geralmente carregados de matalotagens e volumes diversos.

— Aqui — disse Aniceto —, toda a nossa bagagem é a do coração.
Na Terra, malas, bolsas, embrulhos; mas, agora, devemos conduzir propósitos, energias, conhecimentos e, acima de tudo, disposição sincera de servir.

Alguns companheiros presentes riram-se com gosto.
Nesse instante, nosso orientador fez algumas recomendações.

Designou colegas para a chefia de turmas de aprendizado, estabeleceu programas de serviço e notificou que voltaria à colónia, diariamente, por algumas horas, deixando-nos Vicente e eu, nos serviços da Crosta, em trabalhos e observações que deveriam prolongar-se por toda a semana.

Despedimo-nos dos camaradas de luta, repletos de esperança.
Era a nossa primeira excursão de aprendizado e cooperação aos semelhantes.

Quando nos puséramos a caminho, nosso Instrutor observou:
— Creio que a viagem para vocês será diferente.

Certo, estão habituados à passagem livre, mantida por ordem superior para as actividades normais de nossos trabalhos e trânsito dos irmãos esclarecidos, em vésperas de reencarnação.

— Como assim? — perguntou Vicente, admirado.
— Pois não sabia?
As regiões inferiores, entre “Nosso Lar” e os círculos da carne, são tão grandes que exigem uma estrada ampla e bem cuidada, requer tanto esforço de conservação, como as importantes rotas terrestres.

Por lá, obstáculos físicos; por cá, obstáculos espirituais.
As vias de comunicação normais destinam-se a intercâmbio indispensável.

Os que se encontram nas tarefas da nossa rotina sagrada precisam livre-trânsito e os que se dirigem da esfera superior à reencarnação devem seguir com a harmonia possível, sem contacto directo com as expressões dos círculos mais baixos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:29 pm

A absorção de elementos inferiores determinaria sérios desequilíbrios no renascimento deles.
Há que evitar semelhantes distúrbios.
Nós, porém, seguimos numa expedição de aprendizado e experiência.

Não devemos, por isso, preferir os caminhos mais fáceis.
Identificando-nos a perplexidade, Aniceto concluiu:
— Imaginemos um rio de imensas proporções, separando duas regiões diferentes.
Existe o vau que oferece transporte rápido e há passagens diversas através de fundos precipícios.

Pela expressão do bondoso instrutor, concluí que ele poderia voltar à colónia quando quisesse, que não encontraria obstáculos de qualquer ordem, em parte alguma, em razão do poder espiritual de que se achava revestido, mas fazia-se peregrino, como nós, por devotamento à missão de ensinar.

Vicente e eu não dispúnhamos de expressão vibratória adequada aos grandes feitos.
Éramos vulgares, quanto o era a maioria dos habitantes da nossa cidade espiritual.

Possuía apenas alguns princípios de volitação, contudo, permanecíamos muito distantes do verdadeiro poder.

Nunca vira, pois, a energia e a humildade em tão belo consórcio.

Aniceto dirigia-nos, firmemente como orientador de pulso, vigoroso e sábio mas não vacilava por se fazer igual a nós, a fim de servir como devotado companheiro.

Meditando sobre a lição sublime em pleno impulso volitante, contemplei as torres de “Nosso Lar”, que iam ficando a distância...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:29 pm

XV - A viagem

Depois de empregarmos o processo de condução rápida, atravessando imensas distâncias, surgiu uma região menos bela.

O firmamento cobrira-se de nuvens espessas e alguma coisa que eu não podia compreender impedia-nos a volitar com facilidade.

Creio que o mesmo não acontecia ao nosso instrutor,
mas Vicente e eu fazíamos enorme esforço para acompanhá-lo.

Aniceto percebeu, de pronto, nossos obstáculos e considerou:
— Será conveniente utilizarmos a locomoção.
A atmosfera começa a pesar muitíssimo e não devemos andar muito distante do Campo da Paz.

Não precisaremos ir até lá; todavia, descansaremos no Posto de Socorro.
Encontraremos, ali, os recursos indispensáveis.
— Mas, que é isto? — perguntei, admirado da profunda modificação ambiente.

— Estamos penetrando a esfera de vibrações mais fortes da mente humana.
Achamo-nos a grande distância da Crosta; entretanto, já podemos identificar, desde logo, a influenciação mental da Humanidade encarnada.

Grandes lutas desenrolam-se nestes planos e milhares de irmãos abnegados aqui se votam à missão de ensinar e consolar os que sofrem.

Em parte alguma escasseia o amparo divino.
Nesse instante, chegáramos ao cume de grande montanha envolvida em sombra fumarenta.
No solo, desenhavam-se trilhas diversas, à maneira de labirintos bem formados.

Observando-nos a estranheza, Aniceto falou com optimismo.
— Sigamos!
Nesse momento, ó Deus de Bondade, alguma coisa imprevista me felicitava o coração.

Contrastando as sombras, raios de luz desprendiam-se, intensamente, de nossos corpos.

Extraordinária comoção apossou-se-me d’alma. Vicente e eu ajoelhamo-nos a um só tempo, banhados em lágrimas enviando ao Eterno os nossos profundos agradecimentos, em votos de júbilo fervoroso.

Estávamos embriagados de ventura.
Era a primeira vez que me vestia de luz, luz que se irradiava de todas a células do meu corpo espiritual.
Aniceto que se mantinha de pé, a contemplar-nos com expressão de alegria, falou comovidamente.

— Muito bem, meus amigos.
Agradeçamos a Deus os dons de amor, sabedoria e misericórdia.
Saibamos manifestar ao Pai o nosso reconhecimento.

Quem não sabe agradecer, não sabe receber e, muito menos, pedir.
Durante muito tempo, Vicente e eu mantivemo-nos em prece repletos de alegrias e de lágrima.

Em seguida, retomamos a marcha como se estivéssemos vestidos em sublime luminosidade.
As surpresas no entanto, sucediam-se ininterruptamente.

Aquelas vias de comunicação eram muito diversas das que conhecia até ali.
Mergulhávamos num clima estranho onde predominavam o frio e a ausência de luz solar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:29 pm

A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos da cinematografia terrestre.

Picos altíssimos semelhavam vigorosas agulhas de treva, desafiando a vastidão.
Descíamos sempre, como viajores ladeando escuros precipícios, em país de exotismo ameaçador.

Esquisita vegetação subia do solo, de espaço a espaço, entre os grandes abismos.
Aves de horripilante aspecto surgiam, medrosas, de quando em quando, enchendo o silêncio de pios angustiados.

Rija ventania soprava em todas as direcções.
Fundamente assombrado, cobrei ânimo e perguntei ao nosso instrutor:
— Que dizeis de tudo isto?
Ignorava que houvesse tais regiões entre a Crosta e nossa cidade espiritual.

À nossa frente, sinto um mundo novo, que me é totalmente desconhecido...
Por quem sois, nobre Aniceto, nada vos pergunto por ociosidade, mas estas terras me surpreendem profundamente.

Aniceto, sempre generoso, sorriu docemente e respondeu:
— Todo este mundo que vemos é continuação de nossa Terra.

Os olhos humanos vêem apenas algumas expressões do vale em que se exercitam para a verdadeira visão espiritual, como nós outros que, observando agora alguma coisa, não estamos igualmente vendo tudo.

Este, André, é um domínio diferente.
A percepção humana não consegue apreender senão determinado número de vibrações.

Comparando as restritas possibilidades humanas com as grandezas do Universo Infinito, os sentidos físicos são muitíssimo limitados.

O homem recebe reduzido noticiário do mundo que lhe é moradia.
É verdade que tem devassado com a sua ciência problemas profundos.

A astronomia terrena conhece que o Sol, por medidas aproximadas, é 1.300.000 vezes maior que a Terra e que a estrela Capela é 5.800 vezes maior que o nosso Sol;
sabe que Arcturo equivale a milhares de sóis, iguais ao que nos ilumina; está informada de que Canopo corresponde a 8.760 sóis idênticos ao nosso, reunidos;
mediu as distâncias entre o nosso planeta e a Lua;

acompanha certos fenómenos em Marte, Saturno, Vénus e Júpiter;
sonda os milhões de sóis aglomerados na Via-Láctea;
conhece as estrelas variáveis, as nebulosas espirituais e difusas.


E não param as observações humanas na grandeza ilimitada do Macrocosmo.

A Ciência vai, igualmente aos círculos atómicos, analisa a materialização da energia, o movimento dos electrões, estuda o bombardeio de átomos e esquadrilha corpúsculos diversos.

Mas todo esse trabalho com a colaboração das lunetas de alta potência e dos geradores de milhões de voltagem, ainda é serviço que apenas identifica os aspectos exteriores da vida.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:30 pm

Há, porém, André, outros mundos subtis, dentro dos mundos grosseiros; maravilhosas esferas que se interpenetram o olho humano sofre várias limitações e todas as lentes físicas reunidas não conseguiriam surpreender o campo da alma, que exige o desenvolvimento das faculdades espirituais para tornar perceptível.

A electricidade e o magnetismo são duas correntes poderosas que começam a descortinar aos nossos irmãos encarnados alguma coisa dos infinitos potenciais do invisível, mas ainda é cedo para cogitarmos de êxito completo.

Somente ao homem de sentidos espirituais desenvolvidos é possível revelar alguns pormenores das paisagens sob nossos olhos.

A maioria das criaturas ligadas à Crosta não entende estas verdades, senão após perderem os laços físicos mais grosseiros.

É da lei, que não devemos ver senão o que possamos observar com proveito.
Nessa altura, Aniceto calou-se.
Comovido com as instruções, guardei religioso silêncio.

Agora, em meio das sombras, divisava alguns vultos negros, que pareciam fugir apressados confundindo-se na treva das furnas próximas.

Nosso orientador avisou, cauteloso:
Procuremos interromper os efeitos luminosos do nosso corpo espiritual.
Bastará que pensem com vigor na necessidade dessa providência.

Estamos atravessando extensa zona, a que se acolhem muitos desventurados, e não é justo humilhar os que sofrem com a exibição de nossos bens.

Obedecendo ao conselho, verifiquei o efeito imediato.
Os fios de luz que me irradiavam do corpo apagaram-se como por encanto.
A excursão tornou-se menos agradável.

Descíamos, milagrosamente, através dos despenhadeiros de longa extensão.
A sombra fizera-se mais densa, a ventania mais lamentosa e impressionante.

Após algum tempo de marcha em silêncio, divisamos ao longe um grande castelo iluminado.

Aniceto fez um gesto significativo com o indicador e aplicou:
— É um dos Postos de Socorro de Campo da Paz.
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Série André Luiz - OS MENSAGEIROS - Página 2 Empty Re: Série André Luiz - OS MENSAGEIROS

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:30 pm

XVI - No Posto de Socorro

Deslumbrava-me a visão do castelo soberbo! Incapaz de exprimir a admiração que me dominava, acompanhei Aniceto em silêncio.

Com grande surpresa, entretanto, verifiquei que a construção magnífica não se mantinha sem defesa.

Cercavam-na pesados muros numa extensão que meus olhos não conseguiam abranger.
Quem imaginasse uma tal instituição, localizada nas zonas invisíveis, dificilmente conceberia contrafortes daquela natureza.

A noção de céu e inferno, fundamente arraigada na mente popular, nos deixa perceber que os homens, de modo geral, não se modificam com a morte física, como a troca de residência não significa mudança de personalidade para a criatura comum.

Espantado, notei que o nosso orientador fazia mover quase imperceptível campainha, disfarçada na muralha.

Creio que, se Aniceto estivesse só, não precisaria desse expediente, dado o seu poder espiritual acima de todas as resistências grosseiras;
no entanto, estávamos em sua companhia e, mais uma vez, quis igualar-se a nós, por fidalguia de tratamento.

Ocultar a própria glória é do código do bom-tom nas sociedades espirituais nobres e santas.

Atendendo-nos, dois servidores abriram a porta extremamente pesada, que rodou nos gonzos, como se daria em qualquer edificação final antiga do plano terrestre.

— Salve! mensageiros do bem! — disseram ambos ao mesmo tempo, fixando Aniceto, em atitude reverente.
Aniceto levantou a mão, que se fez luminosa nesse instante, e balbuciou algumas palavras de amor, retribuindo a saudação respeitosa.

Entramos.
Fiquei admirado! Pomares e jardins maravilhosos perdiam-se de vista.
A sombra, aí, não era tão intensa.

Sentíamo-nos banhados em suavidade crepuscular, graças aos grandes focos de luz radiante.
O Interior apresentava aspectos inesperados.
Somente agora eu compreendia que a muralha ocultava a maioria das construções.

Pavilhões de vulto alinhavam-se como se estivéssemos diante de prodigioso educandário.
Turmas variadas de homens e mulheres dedicavam-se a serviços múltiplos.
Ninguém parecia dar conta de nossa presença, tal o interesse que o trabalho despertava em cada um.

Acompanhávamos Aniceto através de numerosas fileiras de árvores senhoris, que se assemelhavam a carvalhos antiquíssimos.

Observava, todavia, que nesse abençoado Posto de Socorro a Natureza se fizera maternal.

Havia, agora, mais luz no céu e o vento era mais fagueiro, sussurrando brandamente no arvoredo farto.

O bondoso instrutor, notando a nossa admiração, esclareceu:
— Esta paz reflecte o estado mental dos que vivem neste pouso de assistência fraterna.
Acabamos de atravessar uma zona de grandes conflitos espirituais, que vocês ainda não podem perceber.

A Natureza é mãe amorosa em toda a parte, mas, cada lugar mostra a influência dos filhos de Deus que o habitam.
A explicação não poderia ser mais clara.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:31 pm

Atingindo o edifício central, construído à maneira de formoso castelo europeu dos tempos feudais, fomos defrontados por um casal extremamente simpático.

— Meu caro Aniceto! — falou o cavalheiro, abraçando o nosso orientador.
— Meu caro Alfredo! nobre irmã Ismália! — respondeu Aniceto, sorridente.

Após as saudações afectuosas, apresentou-nos lisonjeiro.
O casal abraçou evidenciando cordialidade e atenção amiga.
— Nosso prezado Alfredo — continuou Aniceto, elucidando — é o dedicado administrador deste Posto de Socorro.

Há muito tempo consagrou-se a serviço de nossos irmãos ignorantes e desviados.
— Oh! Oh! não prossiga — revidou o apresentado, como a fugir as referências elogiosas — consagrei-me simplesmente ao dever.

E, como se quisesse modificar a conversação, prosseguiu, atencioso:
— Mas, que surpresa agradável!
Faz muitos dias não temos visitas de “Nosso Lar”!

Ainda bem que vieram hoje, quando Ismália veio igualmente ter comigo!...
Por quê? — considerei intimamente. Não seria aquela senhora, de lindo semblante, a esposa?
Não viveriam ali juntos, como na Terra?

Antes, porém, que pudesse chegar a qualquer conclusão, Alfredo conduzia ao interior doméstico.
As escadas de substância idêntica ao mármore, me impressionava pela transparente beleza.

De varanda extensa e nobre, onde as colunatas se enfeitavam de hera florida, muito diferente, porém, da que conhecemos na Terra, penetramos em vasto salão mobilado ao gosto mais antigo. Os móveis, de delicada escultura formavam conjunto encantador.

Admirado fixei as paredes, de onde pendiam quadros maravilhosos.
Um deles, contudo, impunha-me especial atenção.

Era uma tela enorme, representando o martírio de São Dinis, o Apóstolo das Gálias rudemente supliciado nos primeiros tempos do Cristianismo, segundo meus humildes conhecimentos de História.

Intrigado, recordei que vira, na Terra, um quadro absolutamente igual àquele.
Não se tratava de um famoso trabalho de Bonnat, célebre pintor francês dos últimos tempos?

A cópia do Posto de Socorro, todavia, era muito mais bela.

A lenda popular estava lindamente expressa nos mínimos detalhes, o glorioso Apóstolo, seminu, com a cabeça decepada, tronco aureolado de intensa luz, fazia um esforço supremo por levantar o próprio crânio que lhe rola aos pés, enquanto os assassinos o contemplavam, tomados de intenso horror;
do alto, via-se descer um emissário divino, trazendo ao Servo do Senhor a coroa e a palma da vitória.

Havia, porém, naquela cópia, profunda luminosidade, como se cada pincelada contivesse movimento e vida.

Observando-me a admiração, Alfredo falou, sorrindo:
Quantos nos visitam, pela primeira vez, estimam a contemplação desta cópia soberba.
— Ah! sim — retruquei —, o original, segundo estou informado, pode ser visto no Panteão de Paris.

— Engana-se — elucidou o meu gentil interlocutor —, nem todos os quadros, como nem todas as grandes composições artísticas, são originariamente da Terra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 28, 2011 10:31 pm

É certo que devemos muitas criações sublimes à celebração humana; mas, neste caso, o assunto é mais transcendente.

Temos aqui a história real dessa tela magnífica.
Foi idealizada e executada por nobre artista cristão, numa cidade espiritual muito ligada à França.

Em fins do século passado, embora estivesse retido no círculo carnal, o grande pintor de Bayonne visitou essa colónia em noite de excelsa inspiração, que ele, humanamente, poderia classificar de maravilhoso sonho.

Desde o minuto em que viu a tela, Florentino Bonnat não descansou enquanto não a reproduziu, palidamente, em desenho que ficou célebre no mundo inteiro.

As cópias terrestres, todavia, não têm essa pureza de linhas e luzes, e nem mesmo a reprodução, sob nossos olhos, tem a beleza imponente do original, que já tive a felicidade de contemplar de perto, quando organizávamos, aqui no Posto, homenagens singelas para a honrosa visita que nos fez o grande servo do Cristo.

Para movimentar as providências necessárias, visitei pessoalmente a cidade espiritual a que me referi.
Grande espanto apossara-se-me do coração.

Via, agora, explicada a tortura santa dos grandes artistas, divinamente inspirados na criação de obras imortais;
agora, reconhecia que toda arte elevada é sublime na Terra, porque traduz visões gloriosas do homem na luz dos planos superiores.

Parecendo interessado em completar meus pensamentos, Alfredo considerou:
— O génio construtivo expressa superioridade espiritual com livre-trânsito entre as fontes sublimes da vida.

Ninguém cria sem ver, ouvir ou sentir, e os artistas de superior mentalidade costumam ver, ouvir e sentir as realizações mais altas do caminho para Deus.

Mas, voltando-se, afável, para Aniceto, exclamou:
— No entanto, o momento não comporta divagações. Sentemo-nos.

Devem estar cansados da peregrinação difícil.
Necessitam refazer energias e repousar algum tanto.
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