LUZ ESPÍRITA
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A Ciência confirma o Espiritismo?

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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 3 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 12, 2013 9:32 pm

A primeira é, naturalmente, a já mencionada frase da folha de rosto.
Vejamos algumas outras, restringindo-nos, por falta de espaço, ao Livro dos Espíritos (os itálicos do termo ‘filosofia’ são nossos).[2]

LE, Prolegómenos: “Este livro é o repositório de seus ensinos.
Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema.”

LE, Prefácio da 2ª edição (que não é mais reproduzido nas edições atuais):
“O ensino relativo às manifestações dos Espíritos, propriamente ditas, bem como aos médiuns, forma uma parte distinta da filosofia espírita, podendo constituir objecto de um estudo especial” [a ser desenvolvido no Livro dos Médiuns].

LE, Conclusão, item V:
“Três períodos distintos apresenta o desenvolvimento dessas ideias:
primeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenómenos produzidos desperta;
segundo, o do raciocínio e da filosofia;
terceiro, o da aplicação e das consequências.

O período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco.
Uma vez satisfeita, muda de objecto.
O mesmo não acontece com aquilo que se dirige à razão e evoca reflexões sérias.

Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente.”

LE, Conclusão, item VII:
“O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes:
o facto das manifestações, os princípios de filosofia e de moral que delas decorrem e a aplicação desses princípios.

Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: [...]” [3]

Na acepção restrita da expressão ‘filosofia espírita’, Kardec refere-se a tópicos clássicos tratados pelos filósofos, como a existência e atributos de Deus, a distinção alma-corpo, as ideias inatas, o livre-arbítrio, a objectividade dos critérios morais, etc.

Na maior parte das vezes em que ele usa o termo ‘filosofia’ nesse sentido mais específico, quer ressaltar um ponto de central importância: a capacidade que o Espiritismo tem de tratar com segurança, clareza e plausibilidade alguns dos mais espinhosos e desafiadores problemas filosóficos.

Em alguns casos o ponto é mencionado genericamente;
em outros ele considera explicitamente esses problemas.

Vejamos alguns exemplos, começando com alguns trechos do primeiro tipo (destacamos o termo ‘filosofia’).

LE, Conclusão, item 1:
“Pois bem! Sabei, vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa, que gira e vos faz sorrir desdenhosamente, saiu toda uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver.”

LE, Conclusão, item 6:
“Mesmo quem não testemunhou nenhum fenómeno material relativo às manifestações dos Espíritos diz para si próprio:
à parte esses fenómenos, há a filosofia, que me explica o que nenhuma outra havia explicado.

Nela encontro, por meio unicamente do raciocínio, uma solução racional para os problemas que no mais alto grau interessam ao meu futuro.

Ela me dá calma, segurança, confiança;
livra-me do tormento da incerteza.”

QE, Preâmbulo:
No terceiro capítulo, publicamos um resumo de O Livro dos Espíritos, com a solução, pela doutrina espírita, de certo número de problemas do mais alto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica, que diariamente são propostos, e aos quais nenhuma filosofia deu ainda resposta satisfatória. [...]
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 3 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 13, 2013 9:03 pm

Procurem resolvê-los por qualquer outra teoria, sem a chave que nos fornece o Espiritismo; comparem suas respostas com as dadas por este, e digam quais são as mais lógicas, quais as que melhor satisfazem à razão.”

Vejamos agora algumas passagens com referências a problemas filosóficos tradicionais, que têm solução adequada pelo Espiritismo.
Indicamos sumariamente entre colchetes o problema em questão.

LE, Introdução, item 17 [a continuidade evolutiva na criação]:
“A razão nos diz que entre o homem e Deus outros elos necessariamente haverá, como disse aos astrónomos que, entre os mundos conhecidos, outros haveria, desconhecidos.

Que filosofia já preencheu esta lacuna?
O Espiritismo no-la mostra preenchida pelos seres de todas as ordens do mundo invisível e estes seres não são mais do que os Espíritos dos homens, nos diferentes graus que levam à perfeição.

Tudo então se liga, tudo se encadeia, desde o alfa até o ómega.”

LE, item 222 [a desigualdade das aptidões face à justiça divina]:
“Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas?

É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais.
Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões?”

LM, par. 35, n. 2 [o futuro do homem]:
“O Livro dos Espíritos. Contém a doutrina completa, como a ditaram os próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas consequências morais.

É a revelação do destino do homem, a iniciação no conhecimento da natureza dos Espíritos e nos mistérios da vida de além-túmulo.”

ESE, cap. 5, item 6 [a dor face à justiça divina]:
“Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos?

Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes na Terra.”

CI, parte 1, cap. 1, item 13 [a questão do materialismo e do panteísmo]:
Apresente-se-lhe, porém, um futuro condicionalmente lógico, digno em tudo da grandeza, da justiça e da infinita bondade de Deus, e ele repudiará o materialismo e o panteísmo, cujo vácuo sente em seu foro intimo, e que aceitará à falta de melhor crença.

O Espiritismo dá coisa melhor;
eis por que é acolhido pressurosamente por todos os atormentados da dúvida, os que não encontram nem nas crenças nem nas filosofias vulgares o que procuram.

O Espiritismo tem por si a lógica do raciocínio e a sanção dos factos, e é por isso que inutilmente o têm combatido.”

G, cap. 4, item 11 [a origem das faculdades espirituais do homem]:
“Mas a história do homem, considerado como ser espiritual, se prende a uma ordem especial de ideias, que não são do domínio da Ciência propriamente dita e das quais, por este motivo, não tem ela feito objecto de suas investigações.

A Filosofia, a cujas atribuições pertence, de modo mais particular, esse género de estudos, apenas há formulado, sobre o ponto em questão, sistemas contraditórios, que vão desde a mais pura espiritualidade, até a negação do principio espiritual e mesmo de Deus, sem outras bases, afora as ideias pessoais de seus autores.

Tem, pois, deixado sem decisão o assunto, por falta de verificação suficiente.”

G, cap. 4, item 12 [origem e destino do homem]:
“Esta questão, no entanto, é a mais importante para o homem, por isso que envolve o problema do seu passado e do seu futuro.

A do mundo material apenas indirectamente o afecta.
O que lhe importa saber, antes de tudo, é donde ele veio e para onde vai, se já viveu e se ainda viverá, qual a sorte que lhe está reservada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 13, 2013 9:03 pm

Sobre todos esses pontos, a Ciência se conserva muda.
A Filosofia apenas emite opiniões que concluem em sentido diametralmente oposto, mas que, pelo menos, permitem se discuta, o que faz com que muitas pessoas se lhe coloquem do lado, de preferência a seguirem a religião, que não discute.

OP, pp. 86-7 [o problema mente-corpo]:
Onde acaba o poder da alma sobre os corpos?
Qual a parte dessa força inteligente nos fenómenos do Magnetismo?
Qual a do organismo?

Aí estão questões de muito interesse, questões graves para a Filosofia, como para a Medicina. [...]
Tínhamos, como se vê, grandes motivos para avançar que o estudo dos fenómenos magnéticos guarda fortes relações com a filosofia e a psicologia.

QE, pp. 169-70, 189 [a imortalidade da alma]
As manifestações não são, pois, destinadas a servir aos interesses materiais; sua utilidade está nas consequências morais que delas dimanam; não tivessem, elas, porém, como resultado senão fazer conhecer uma nova lei da Natureza, demonstrar materialmente a existência da alma e sua imortalidade, e já isso seria muito, porque era largo caminho novo aberto à Filosofia.

[...] Nas lições de filosofia clássica, os professores ensinam a existência da alma e seus atributos, segundo as diversas escolas, mas sem apresentar provas materiais. [...]

Quando um cientista emite uma hipótese, sobre um ponto de ciência, procura com empenho e colhe com alegria tudo o que possa demonstrar a veracidade dessa hipótese;
como, pois, um professor de filosofia, cujo dever é provar a seus discípulos que eles têm uma alma, despreza os meios de lhes fornecer uma patente demonstração?

Esses trechos ilustram bem a afirmação de Kardec em O que é o Espiritismo (diálogo com o céptico, p. 65) de que “O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia [...]”.

E note-se que tal afirmação é confirmada não só por passagens como as citadas, em que o termo ‘filosofia’ aparece explicitamente (e há ainda muitas outras em que isso ocorre), mas também pelos estudos efectivamente desenvolvidos por Kardec acerca de numerosos outros tópicos filosóficos.

4. O que é ciência? [4]
Como já ressaltamos, aquilo que hoje chamamos ciência derivou da filosofia, tal qual entendida nos primeiros tempos de nossa cultura ocidental.

É importante, pois, identificar os traços que servem para distinguir o conhecimento científico de outros tipos de conhecimento.
Essa é uma das questões de que se ocupa um dos ramos especiais da filosofia mencionados anteriormente, a filosofia da ciência.

Notadamente na segunda metade do século XX, progressos significativos foram realizados nessa área.
Reconhece-se hoje entre os especialistas que uma certa concepção de ciência cujas origens remontam à época do nascimento da ciência moderna, no século XVII, e que é comum até hoje entre o público leigo, padece de sérias inadequações.

Ela não resiste nem a variados argumentos filosóficos levantados mais recentemente, nem ao confronto com a descrição da génese, evolução e estrutura das disciplinas científicas maduras, ou seja, da física, da química e da biologia.

A versão mais bem articulada dessa concepção é a doutrina filosófica conhecida como positivismo lógico, que teve seu apogeu nas décadas de 1920 e 1930.

Grosso modo, essa visão comum de ciência pressupõe que uma ciência inicia seu desenvolvimento com um período longo de colecta de dados experimentais (dados empíricos, na linguagem filosófica); nessa etapa não compareceriam hipóteses teóricas de nenhuma espécie.

Uma vez de posse de um conjunto suficientemente grande e variado de dados, os cientistas aplicariam então certos métodos supostamente seguros e neutros para obter as teorias científicas, que seriam descrições objectivas da realidade investigada.

O exame cuidadoso da história da ciência e os argumentos filosóficos desenvolvidos pelos filósofos da ciência contemporâneos mostraram que essa caracterização da ciência não somente não corresponde ao que de facto ocorreu e continua ocorrendo com as ciências bem estabelecidas, como também pressupõe procedimentos impossíveis de serem levados a cabo.

Observação e teoria, experimento e hipótese nascem e se desenvolvem juntos, num complexo processo simbiótico de suporte recíproco.

A acumulação prévia de dados neutros, ainda que fosse possível, seria inútil.
Nenhum conjunto de dados leva de modo lógico a leis científicas;
a imaginação criadora do homem desempenha papel essencial na génese das teorias científicas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 13, 2013 9:03 pm

A imagem de ciência a que os filósofos da ciência chegaram a partir das pesquisas recentes indica que uma ciência autêntica consiste, de modo simplificado, de um núcleo teórico principal, formado por leis fundamentais, introduzidas a título de hipóteses.

Esse núcleo é circundado por hipóteses auxiliares, que o complementam e efectuam sua conexão com os dados empíricos.
Essa estrutura teórica mais ou menos hierarquizada faz-se acompanhar de determinadas regras, nem sempre explícitas, que norteiam o seu desenvolvimento.

De um lado, há a regra “negativa”, que estipula que nesse desenvolvimento os princípios do núcleo teórico devem, o quanto possível, ser mantidos inalterados.
Eventuais discrepâncias entre as previsões da teoria e as observações experimentais devem ser resolvidas por ajustes nas partes menos centrais da malha teórica, constituídas pelas hipóteses auxiliares.

Regras “positivas” sugerem ao cientista como, quando e onde essas correcções e complementações devem ser efectuadas.
Essa é uma descrição sucinta e simplificada daquilo que o filósofo da ciência contemporâneo Imre Lakatos chamou de programa científico de pesquisa. [5]

A exigência fundamental de um programa científico de pesquisa é que a estrutura teórica como um todo forneça previsões empíricas corretas, ou seja dê conta dos factos.

Outras características importantes de qualquer boa teoria científica são: a consistência:
a teoria não pode envolver contradições; a coerência:
os princípios da teoria devem apoiar-se mutuamente; a abrangência: a teoria deve explicar, ao menos em linhas gerais, todos os principais fenómenos de seu domínio;
deve ainda exibir unidade e simplicidade, ou seja, a explicação que fornecem dos diversos fenómenos deve decorrer de maneira natural e simples de um corpo de leis teóricas integrado e tão reduzido quanto possível.

Há, por fim, o vínculo externo de não conflituar com as demais teorias científicas bem confirmadas que tratem de domínios de fenómenos complementares.

Tendo fornecido essa noção geral, bastante simplificada e incompleta, da concepção contemporânea de ciência, passemos à questão da ciência espírita.

5. A ciência espírita

A inspecção meticulosa e isenta das origens, estrutura e desenvolvimento do Espiritismo revela que ele possui todos requisitos de uma ciência genuína, segundo as caracterizações da filosofia da ciência contemporânea, como a esboçada na seção precedente.

Em artigo anterior, “A excelência metodológica do Espiritismo”, procuramos mostrar, além disso, que Allan Kardec antecipou-se às conquistas recentes da filosofia da ciência, e compreendeu muito bem a questão.

Sua visão de ciência, exposta explícita e implicitamente em seus escritos, corresponde efectivamente à visão que os filósofos da ciência têm hoje.
Isso teve a consequência feliz de que, ao travar contacto com uma nova ordem de fenómenos, Kardec empregou em sua investigação métodos e critérios correctos, o que lhe possibilitou a implantação de uma verdadeira ciência do espírito.

O corpo teórico fundamental do Espiritismo encontra-se delineado em O Livro dos Espíritos.
O exame dessa obra revela a adequação da teoria com os fatos, sua consistência e seu alto grau de coesão e simplicidade, bem como a amplitude de seu escopo.

Ademais, ali estão implicitamente presentes as directrizes que nortearam os desenvolvimentos ulteriores das investigações espíritas.
Muitos desses desenvolvimentos foram, como se sabe, implementados pelo próprio Kardec, e se acham expostos nas demais obras que escreveu.

Consoante com a natureza de uma verdadeira ciência, o progresso experimental e teórico do Espiritismo prossegue até hoje, pelos esforços de pesquisadores encarnados e desencarnados.

Em contraste com os fundamentos científicos sólidos lançados por Kardec no estudo do elemento espiritual do homem, as linhas de pesquisa que surgiram mais tarde, com a pretensão de competir com o Espiritismo nessa área, não alcançaram o mesmo sucesso.

Deve-se notar, a tal respeito, que elas tiveram início justamente na época em que o positivismo lógico fornecia os parâmetros segundo os quais uma actividade genuinamente científica se desenvolveria.

Ora, tais parâmetros sendo equivocados, como os filósofos perceberam depois, as linhas de pesquisa nascentes, que alimentavam a pretensão à cientificidade, acabaram por assimilar uma visão de ciência irreal.

Isso levou a que adoptassem métodos inadequados aos fins a que se propuseram, bloqueando-lhes as possibilidades de contribuir significativamente para o avanço de nosso conhecimento no domínio do espírito.

Lamentavelmente, a adopção de uma concepção falha de ciência levou os pesquisadores dessas linhas de investigação a não somente empenharem de modo infrutífero os seus esforços, como também a desprezarem, ou mesmo repelirem, as conquistas e métodos de uma legítima ciência do espírito, o Espiritismo.

Uma análise mais detalhada desse ponto pode ser encontrada na seção 4 de “A excelência metodológica do Espiritismo, e não será reproduzida aqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 14, 2013 10:27 pm

6. A ciência espírita e as ciências académicas

Contrariamente ao que alguns críticos mal informados acerca do Espiritismo e das teorias científicas contemporâneas alegam, o Espiritismo não conflitua com qualquer uma das teorias científicas maduras, quer da física, quer da química ou da biologia.

É de crucial importância notar que embora o Espiritismo seja uma ciência, ele não se confunde com tais ciências, do mesmo modo como elas não se confundem entre si.

Os domínios de fenómenos por elas tratados não coincidem, sendo antes complementares.

Kardec compreendeu perfeitamente bem essa distinção, e chamou a atenção para ela em diversos de seus textos, como por exemplo no item VII da Introdução do Livro dos Espíritos.

Ali argumentou com segurança que “o Espiritismo não é da alçada da ciência”, ou seja, das ciências académicas.
Por outro lado, no parágrafo 16 do primeiro capítulo de A Génese, enfatizou a referida complementaridade do Espiritismo e dessas ciências, afirmando que “o Espiritismo e a ciência completam-se reciprocamente”.[6]

A percepção desses pontos evita uma série de julgamentos e posturas equivocados, que têm ameaçado o movimento espírita actual.

Vêem-se, com efeito, pessoas que imaginam que a ciência espírita consiste justamente naquelas linhas de investigação iniciadas depois de Kardec, e cuja fragilidade científica é evidente, à luz de uma análise filosófica cuidadosa.

Outros pensam que a ciência espírita consiste de investigações do âmbito das ciências académicas, especialmente as que envolvam experimentos conduzidos com o auxílio de aparelhagens complexas, de uso nos laboratórios de física, e dentro de referenciais teórico-conceituais emprestados dessa ciência.

Assume-se que é o uso desses aparelhos e o emprego de terminologia técnica (aliás quase sempre não compreendida por quem a usa dentro de tais contextos) que confere cientificidade às investigações.

Dada a gravidade dos enganos envolvidos em semelhantes posições, vale a pena nos determos um pouco mais sobre elas.

Deve-se, além dos esclarecimentos gerais já indicados, notar que o estabelecimento dos princípios básicos do Espiritismo prescinde completamente do uso de qualquer aparelho e do recurso a qualquer teoria física.

O mais fundamental de tais princípios é o da existência do espírito, ou seja, da existência de algo no homem que é a sede do pensamento e dos sentimentos e sobrevive à morte corporal.

Como enfatizou Kardec, a comprovação cabal desse princípio se dá mediante os fenómenos a que denominou “de efeitos intelectuais”, quais sejam a tiptologia, a psicofonia e a psicografia.

Quem quer que reflicta com isenção sobre fenómenos dessa ordem não terá dificuldade em reconhecer que atestam a existência do espírito de modo inequívoco.

Nessa avaliação, é importante notar a diferença que existe entre esse princípio básico do Espiritismo e alguns dos princípios das teorias físicas e químicas contemporâneas, por exemplo.

Nestes últimos casos, o “grau teórico” (se assim nos podemos exprimir) é muito maior, ou, em outros termos, os princípios estão muito mais distantes do nível fenomenológico, ou seja, da observação empírica directa.

O caminho que vai da observação até o princípio teórico é bastante indirecto, passando por uma série de teorias auxiliares, necessárias, por exemplo, para tratar do funcionamento e interpretação dos dados dos aparelhos envolvidos.

Nessas circunstâncias, a segurança com que os princípios podem ser afirmados fica evidentemente limitada;
há em geral possibilidades plausíveis de explicações dos mesmo fenómenos através de princípios teóricos diferentes.

E, de facto, a história da física e da química tem ilustrado a instabilidade de suas teorias que avançam além do nível da percepção directa.

No caso do referido princípio espírita, bem como de vários outros dos princípios básicos do Espiritismo, a situação é bastante diversa.
Trata-se de princípios pertencentes à classe de princípios a que os filósofos denominam “fenomenológicos”, que estão na base do edifício do conhecimento, dado o seu alto grau de certeza.

Proposições dessa classe são, por exemplo, as de que o fogo queima e a cicuta envenena.

Notemos que a inferência espírita diante de um fenómeno de efeitos intelectuais – a saber, que são causados por uma inteligência humana desencarnada – não difere em nada das inferências que fazemos a partir dos fenómenos ordinários.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 14, 2013 10:27 pm

Quando, por exemplo, o carteiro traz à nossa casa um papel no qual lemos certas frases, não nos acudirá à cabeça a ideia de que elas não foram escritas por um determinado amigo, por exemplo, quando relatam fatos, contêm expressões e expressam pensamentos peculiares e íntimos, característicos daquele amigo.

Exactamente o mesmo se dá com numerosos e variados casos de psicografia ou outras manifestações inteligentes.
Não constitui exagero, pois, afirmar-se que a constatação cuidadosa de uns poucos casos dessa espécie é suficiente para eliminar qualquer dúvida acerca da sobrevivência do ser.

É importante observar, por fim, que além dos fenómenos especiais que formam a classe dos fenómenos espíritas, o Espiritismo apoia-se também em uma multidão de fenómenos ordinários, em virtude de oferecer uma base sólida para sua compreensão.

Referimo-nos, por exemplo, às nossas inclinações e sentimentos, às peculiaridades de nosso relacionamento com as pessoas que nos cercam, aos acontecimentos marcantes de nossas vidas, aos distúrbios da personalidade, aos efeitos psicossomáticos, aos sonhos, à evolução das espécies e das civilizações, etc.

Entendemos que a desconsideração desse vasto corpo de evidências indirectas a favor do Espiritismo constitui omissão séria da parte de seus críticos.

Com seu agudo senso científico, Kardec percebeu desde o início que o alcance do Espiritismo transcendia de muito os fenómenos mediúnicos e anímicos específicos que motivaram o seu surgimento.

“O estudo do Espiritismo é imenso”, disse Kardec em outra passagem;
“interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é todo um mundo que se abre diante de nós”.
(O Livro dos Espíritos, Introdução, item XIII).

7. O aspecto religioso do Espiritismo [7]

Do mesmo modo como tem havido falta de compreensão acerca do carácter científico do Espiritismo e de suas relações com as ciências, seu carácter religioso e suas relações com as religiões também têm constituído ponto de frequentes confusões.

Assim como se pode mostrar ser o Espiritismo científico, embora não se inclua entre as ciências ordinárias, por estudar um domínio diverso de fenómenos, pode-se, conforme o fez o próprio Kardec, mostrar que o Espiritismo é religioso, embora não se confunda com as religiões ordinárias.

Se no estabelecimento da primeira dessas teses é necessário identificar correctamente que características de uma teoria a tornam científica, temos, para justificar a segunda, que estabelecer critérios adequados para a classificação de uma doutrina no âmbito religioso.

A palavra religião evoca, por sua origem, à ideia da “religação” do homem ao Criador.
Como se sabe, ao longo da história inúmeras propostas se apresentaram de como essa “religação” deve ser entendida e efectuada, resultando daí as diversas “religiões”.

Afora divergências sobre a própria noção de Deus e da natureza do ser humano, as religiões se diferenciam quanto aos requisitos propostos para que a criatura se religue a Deus.

Quase sempre, eles incluem a adequação da conduta a certas regras morais.
Tipicamente, também incluem a satisfação de providências formais e externas de vária ordem: participação em cultos, rituais, cerimónias; realização de determinados gestos;
recitação de fórmulas e rezas; adoração de imagens e objectos diversos; promessas, penitências, jejuns, etc.

Ora, já se pode perceber aqui algumas distinções fundamentais entre o Espiritismo e as religiões ordinárias.
Como elas, o Espiritismo também se preocupa com o destino do homem, na Terra e no além-túmulo, procurando instruí-lo quanto ao que deve fazer para que alcance estados de felicidade cada vez maior.

No entanto, o Espiritismo propõe que esse objectivo pode ser alcançado exclusivamente pela adaptação da conduta a determinados preceitos morais.
Qualquer medida de ordem exterior é mostrada ser não somente ineficaz, mas também, em muitos casos, nociva, por desviar a atenção do ponto principal e induzir ao sectarismo.

Depois, uma diferença crucial surge no modo pelo qual as regras éticas são justificadas.
As religiões ordinárias procuram justificar as normas morais que propõem recorrendo à autoridade desse ou daquele indivíduo ou instituição.

Já o Espiritismo fundamenta o corpo de seus princípios éticos – sintetizados no preceito cristão do amor ao próximo – no conhecimento que cientificamente alcança das consequências das acções humanas ao longo da existência ilimitada dos seres, conjugado à cláusula teleológica de que todos almejam a felicidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 14, 2013 10:27 pm

Não há aqui lugar para dogmas e imposições, mas exclusivamente investigação livre e racional dos factos.
Aliás esse já era o modo pelo qual o Apóstolo Paulo entendia a moral, pois em sua primeira carta aos Coríntios (10:23) asseverou:
“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, porém nem todas edificam.”

Em diversas de suas obras, Kardec deu grande importância ao estabelecimento da moral espírita, abordando o assunto em profundidade.
Mostrou que, com o conhecimento científico espírita, a moral deixa de ser uma questão de especulações abstractas ou de opiniões, estando indissociavelmente ligada ao estudo dos efeitos naturais das acções humanas, em conexão com a busca da felicidade, objectivo comum de todos os seres humanos.

Ressaltou ainda que o corpo de princípios morais obtidos por essa via da razão e da experiência coincide com aquele proposto por Jesus.
Conforme registrou no parágrafo 56 do primeiro capítulo de A Génese, o Espiritismo “[dá] por sanção à doutrina cristã as próprias leis da Natureza”.

Ora, na medida em que fornece ao homem conhecimento seguro das regras de conduta capazes de harmonizá-lo consigo mesmo e com os demais seres – e portanto, efectivamente, com o plano divino –, o Espiritismo torna-se “o mais potente auxiliar da religião”, conforme nota Kardec nos lúcidos comentários adidos às questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos.

A religião aqui aludida não se confunde, evidentemente, com as doutrinas religiosas tradicionais, com suas hierarquias, dogmas inquestionáveis e práticas exteriores, sendo antes uma religião no sentido próprio do termo, explicado acima.

A velha questão de se o Espiritismo é ou não uma religião não admite, pois, resposta unívoca, dada a duplicidade semântica do termo ‘religião’.

Esse ponto foi estudado em profundidade no artigo de Kardec intitulado justamente “Le Spiritisme est-il une religion?”, que apareceu na Revue Spirite de 1868.[8]

Para encerrar, vejamos estes parágrafos do famoso texto:

[...] o Espiritismo é, assim, uma religião?
Sim, sem dúvida, senhores:
No sentido filosófico o Espiritismo é uma religião, e disso nos honramos, pois que é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos não em uma simples convenção, mas sobre a mais sólida das bases: as próprias leis da Natureza.

Por que então declaramos que o Espiritismo não era uma religião?
Pela razão de que há apenas uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, segundo a opinião geral, o termo religião é inseparável da noção de culto, evocando unicamente uma ideia de forma, com o que o Espiritismo não guarda qualquer relação.

Se se tivesse proclamado uma religião, o público nele não veria senão uma nova edição, ou uma variante, se quisermos, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, cerimónias e privilégios; não o distinguiria das ideias de misticismo e dos enganos contra os quais se está frequentemente bem instruído.

Não apresentando nenhuma das características de uma religião, na acepção usual da palavra, o Espiritismo não poderia nem deveria ornar-se de um título sobre cujo significado inevitavelmente haveria mal-entendidos.

Eis porque ele se diz simplesmente uma doutrina filosófica e moral.

8. Conclusões
Inegavelmente, o Espiritismo é um empreendimento intelectual de ampla envergadura.

Em diversas ocasiões Allan Kardec ressaltou o seu carácter abrangente, bem como a importância de considerá-lo em seu conjunto, quando se trata de avaliá-lo e de investigar suas implicações.

Como vimos, na primeira linha da segunda edição do Livro dos Espíritos Kardec caracterizou-o sucintamente como “filosofia espiritualista”.
Espiritualista, porque estando centrado na constatação de que o homem é essencialmente, enquanto ser pensante, espírito, insere-se no âmbito das doutrinas que se contrapõem ao materialismo.

Filosofia, porque investiga esse ser espiritual segundo uma abordagem racional, sistemática e abrangente, típica da tradição de pesquisa inaugurada pelos filósofos gregos, e que permeia toda a cultura ocidental até hoje.

Nesse sentido original, a filosofia abarcava todos os ramos do saber puro.
Mesmo aquilo que, a partir de uma certa época da história do pensamento, passou a ser chamado de ciência caía sob o escopo da filosofia.

Assim, a caracterização kardequiana em análise não deve ser tomada como excluindo a dimensão científica do Espiritismo, muito pelo contrário.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 3 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:48 pm

Conforme deixou claro no desdobramento de suas pesquisas, Kardec compreendeu que tal dimensão não somente existia, mas que constituía mesmo a base sobre a qual a filosofia espírita repousa.

Note-se, por exemplo, que no preâmbulo de O que é o Espiritismo Kardec o define como “uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”.

Quando bem compreendida, essa definição não conflitua com a que está na página de rosto do Livro dos Espíritos.
Apenas salienta que os fundamentos da filosofia espírita são científicos, e não puramente especulativos, ou derivados de alguma tradição mística, religiosa, ou qualquer outra.

Foi a análise científica de certos fenómenos que deu origem ao Espiritismo, e estabeleceu desde então o núcleo teórico sobre o seu objecto de estudo, ou seja, o espírito.

No entanto, como essa análise conduz, por sua própria natureza, a tópicos extremamente abrangentes e fundamentais, no que diz respeito ao conhecimento do espírito, ela avança por domínios tipicamente considerados filosóficos, mesmo segundo a concepção contemporânea, mais restrita, de filosofia.

O caso quiçá mais importante dessa extensão é o da moral (ou ética).
Kardec explorou com grande lucidez as implicações do conhecimento científico espírita para as questões-chave da moral, dentre as quais a da fundamentação das regras morais.

Fez notar que o conhecimento científico acerca do homem propiciado pelo Espiritismo permite o estabelecimento de um corpo de princípios morais objectivos, e que ele coincide com aqueles propostos pelo Cristo.

Salientou ainda que tais princípios sintetizam o que há de essencial na noção de religião.
Nesse sentido, e apenas nele, o Espiritismo pode ser dito uma religião, adverte Kardec no famoso artigo da Revue Spirite.

Dessa forma, os chamados “três aspectos” (ou “partes”) do Espiritismo encontram-se inextricavelmente ligados.
Talvez mesmo devêssemos evitar a utilização dessa expressão, porque pode induzir à ideia errónea de que se trata de três elementos separados ou separáveis, que agrupamos apenas por conveniência.

É significativo, a esse respeito, que o próprio Kardec tenha evitado caracterizar o Espiritismo em tais termos.
Quando tentou sintetizar a natureza do Espiritismo, recorreu ora à noção de filosofia, ora à de ciência, dependendo do contexto.

Mas em ambos os casos indicou que não se tratava de uma delimitação muito estreita da noção.

Se pensarmos no Espiritismo em termos de filosofia, será uma filosofia apoiada em bases científicas, e que tem como um dos objectivos centrais o estudo das questões morais.

Se pensarmos em termos de ciência, não será uma pesquisa seca, que simplesmente constate e sistematize factos, mas de uma investigação de longo alcance sobre um objecto de fundamental importância, o elemento espiritual.

Essa ciência complementa, pois, as ciências académicas, cujo objecto de estudo é o elemento material.
E, pela própria natureza de seu objecto de estudo, a ciência espírita necessariamente diz respeito a tópicos genuinamente filosóficos, dentre os quais ressalta, por sua importância prática, aqueles referentes à moral.

References

Chalmers, A. F. What is this Thing called Science? 2nd. ed., Buckingham, Open University Press, 1982.
Chibeni, S. S. Os fundamentos da ética espírita, Reformador, junho de 1985, pp. 166 9.
. “A excelência metodológica do Espiritismo, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.

. “Ciência espírita, Revista Internacional de Espiritismo, março 1991, pp. 45-52.
. “O paradigma espírita, Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.
. “As acepções da palavra Espiritismo e a preservação doutrinária. Reformador, julho de 1999, pp. 212-214. (Questões sobre a natureza do Espiritismo I.)

. “Revisão da terminologia espírita?. Reformador, agosto de 1999, pp. 250-252.
(Questões sobre a natureza do Espiritismo II.)
. “A religião espírita. Reformador, setembro de 1999, pp. 280-282. (Questões sobre a natureza do Espiritismo III.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:49 pm

. “A ciência oficial. Reformador, outubro de 1999, pp. 312-313. (Questões sobre a natureza do Espiritismo IV.)
. “As relações da ciência espírita com as ciências académicas. Reformador, novembro de 1999, pp. 344-346. (Questões sobre a natureza do Espiritismo V.)
. “Algumas abordagens recentes dos fenómenos espíritas. Reformador, dezembro de 1999, pp. 380-383. (Questões sobre a natureza do Espiritismo VI.)

. “A pesquisa científica espírita Reformador, janeiro de 2000, pp. 24-25. (Questões sobre a natureza do Espiritismo VII.)
Kardec, A. Le Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 1ª ed. francesa. 1ª ed, bilíngue, trad. e ed. Canuto Abreu. São Paulo, Companhia Editora Ismael, 1957.
. Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 2ª ed. francesa, com adendas do Autor. 1ª. ed., Rio, Federação Espírita Brasileira, 1998.

. O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
. Revue Spirite. Colecção da Federação Espírita do Paraná.
. Qu'est-ce que le Spiritisme. Paris, Dervy-Livres, 1975.
. O que é o Espiritismo. (s. trad.) 25ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

. Le Livre des Médiuns. Paris, Dervy-Livres, 1972.
. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro, 59ª ed., revista, Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
. Voyage Spirite en 1862. Paris, Vermet, 1988.

. L Évangile selon le Spiritisme. (Reprodução fotográfica da 3ª edição francesa.) 1ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1979.
. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 113ª ed., Rio, FEB.
. Le Ciel et l’Enfer. Farciennes, Editions de l’Union Spirite, 1951.

. O Céu e o Inferno. Trad. de Manuel Quintão. 28ª edição, Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
. La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme. Paris, La Diffusion Scientifique, s.d.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 15, 2013 9:49 pm

. A Génese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 23ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s. d.
. Oeuvres Posthumes. (Ed. André Dumas.) Paris, Dervy-Livres, 1978.

Também na edição original de Leymarie, em texto electrónico, Centre d'Études Spirites Léon Denis:
http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/

Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
Lakatos, I. Falsification and the methodology of scientific research programmes. In: Lakatos I, e Musgrave, A. (eds.) Criticism and the Growth of Knowledge. Cambridge, Cambridge University Press, 1970. Pp. 91-195.

[1] Texto apresentado no XII Congresso Estadual de Espiritismo (USE). Campinas, SP, 17 a 20/4/2003.

[2] Neste trabalho usaremos as seguintes abreviações: LE - O Livro dos Espíritos; QE O que é o Espiritismo; LM O Livro dos Médiuns; ESE O Evangelho Segundo o Espiritismo; CI O Céu e o Inferno; G A Génese; OP Obras Póstumas (as referências de páginas deste livro são feitas pela tradução da FEB); VE Viagem Espírita em 1862 (páginas pela edição francesa corrente).

[3] Outros exemplos importantes do uso da expressão filosofia espírita na acepção ampla estão em: LM, parágrafos 14 (n. 7) e 32, capítulo 31 (item 18); OP, pp. 221, 247 e 253; QE, Preâmbulo; VE, pp. 6, 8 e 20.

[4] Esta seção e a seguinte aproveitam partes de nossos artigos Espiritismo e ciência e A excelência metodológica do Espiritismo, que deverão ser consultados para um tratamento mais detalhado do assunto.
Ver também os artigos sobre ciência espírita na série Questões sobre a natureza do Espiritismo. As referências são dadas no final deste trabalho.


[5] Ver Lakatos 1970. Para uma exposição acessível dessa e de outras abordagens da questão da natureza da ciência, consulte-se Chalmers 1982.
Para uma análise da ciência espírita à luz de outra teoria filosófica contemporânea acerca da ciência, elaborada por Thomas Kuhn mais ou menos no mesmo período, ver nosso artigo “O paradigma espírita”.

[
b][6][/b] Note-se que nessas citações o termo ciência é usado numa acepção mais restrita do que a anteriormente elucidada.
Para um estudo mais completo da análise kardequiana das relações entre o Espiritismo e as ciência ordinárias, ver a seção 3 de A excelência metodológica do Espiritismo e as partes IV e V da série Questões sobre a natureza do Espiritismo”.


[7] Esta seção aproveita ideias e trechos de nossos artigos.
Os fundamentos da ética espírita.
A excelência metodológica do Espiritismo, seção 5, e A religião espírita (o terceiro artigo da série Questões acerca da natureza do Espiritismo), que deverão ser consultados para um maior desenvolvimento do assunto.


[8] Dezembro, pp. 353-62. Note-se que se trata de uma dos últimos números da Revue compostos por Kardec.
O texto expressa, pois, o seu pensamento mais reflectido sobre o assunto.


http://www.geocities.com

§.§.§- O-canto-da-ave
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 16, 2013 9:44 pm

.. Sílvio Seno Chibeni > A Excelência Metodológica do Espiritismo

Artigos

Sumário


1. Introdução
2. O Espiritismo é científico
3. "O Espiritismo não é da alçada da ciência"
4. As deficiências das chamadas "ciências psi"
5. O Espiritismo é religioso

1. Introdução

O Espiritismo não pode considerar crítico sério senão aquele que tudo tenha visto, estudado e aprofundado com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso;
que do assunto saiba tanto quanto o adepto mais esclarecido;
que haja, por conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances da ciência;
aquele a quem não se possa opor facto algum que lhe seja desconhecido, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação faça, não por mera negação, mas por meio de outros argumentos mais peremptórios;
aquele, finalmente, que possa indicar, para os factos averiguados, causa mais lógica do que a que lhe aponta o Espiritismo.

Tal crítico ainda está por aparecer.

Allan Kardec, Le Livre des Médiuns, § 14, n. 8. [nota 1]

Ao procurarmos aplicar esses critérios para a caracterização de um crítico legítimo do Espiritismo a cada um daquele que o têm pretendido ser durante os mais de cento e vinte anos que se passaram desde que Allan Kardec os enumerou, verificamos, facilmente e sem possibilidade de erro, que mesmo hoje tal crítico "ainda está para aparecer", em patente demonstração da excelência metodológica do Espiritismo, da solidez de seus fundamentos, de sua superioridade relativamente aos demais sistemas, doutrinas, teorias que com ele têm em comum o mesmo objecto de estudo, ou seja, a existência e a natureza do elemento espiritual.

Essa tese foi tão lucidamente defendida pelo próprio Kardec em várias de usas obras que acreditamos redundantes quaisquer argumentações posteriores.

Nosso propósito aqui será, portanto, tão unicamente o de relembrar alguns dos aspectos já considerados pelo Codificador da Doutrina Espírita, comentando-os dentro do contexto de certas dificuldades encontradas por alguns espíritas quando da análise comparativa do Espiritismo com "sistemas" alternativos.

Não é inexpressivo o número de indivíduos e instituições ditos espíritas empenhados na busca de "novidades" que possam, segundo pensam, "actualizar" a Doutrina, dar-lhe "fundamentação científica", "harmonizá-la às conquistas da Ciência".

Nesse sentido, procuram ressaltar e dar cobertura - inclusive através de periódicos espíritas, ciclos de palestras, etc. - a pesquisadores das chamadas "ciências psi", notadamente aqueles detentores de títulos académicos.

Tentaremos, dentro das limitações de espaço de um artigo, mostrar que tais atitudes decorrem de uma injustificável inversão de valores, prejudicial tanto ao Movimento Espírita como ao próprio desenvolvimento da Doutrina e do conhecimento humano em geral.

2. O Espiritismo é científico
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

Allan Kardec, Qu'est-ce que le Spiritisme, Preâmbulo.

Evidentemente, o estatuto científico de uma teoria não pode ser decidido através da mera deliberação de se definir como uma "ciência".
Esse atributo é inerente à natureza intrínseca da teoria, e não à denominação que se lhe dê.

A tarefa de determinar quais as características de uma teoria são necessárias e suficientes ao seu enquadramento na categoria de ciência cabe à subárea da Filosofia intitulada Filosofia da Ciência.

Essa disciplina, assim como outros ramos do saber, vem evoluindo constantemente.
Em seu caso específico, progressos essenciais ocorreram no século XX, e , mais acentuadamente, a partir da década de 60.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 16, 2013 9:44 pm

Os trabalhos de vários filósofos, entre os quais Karl Popper, Willard Quine, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, evidenciaram graves problemas na concepção de ciência que prevaleceu durante séculos, e ainda hoje é muito frequente encontrar-se entre os não são filósofos.

A compreensão dessa visão "antiga" de ciência, de suas várias dificuldades, dos argumentos avançados por esses filósofos e das novas concepções que propuseram requer estudos especializados de muitos anos, não podendo pois ser avançada dentro de um artigo, por maior que seja sua extensão.

Em trabalho anterior tivemos ocasião de tentar fornecer uma tosca ideia dessas questões.
Procuraremos aqui relembrar algo do que ali foi exposto, a fim de dar substância à nossa presente argumentação. [nota 2]

Muito simplificadamente, poderíamos dizer que pelo menos desde o surgimento da ciência moderna, por volta do século XVII, acreditava-se que a Ciência consistia na catalogação neutra de um grande número de "factos", dos quais então resultariam, de maneira "espontânea", certa e infalível, as leis gerais que o regem; a reunião de tais leis constituiria então uma teoria científica.

Conforme mencionamos, essa visão "clássica" de ciência mostrou-se insustentável.

Percebeu-se que a descrição, busca e classificação dos fatos necessariamente envolve pressuposições teóricas de um tipo ou de outro; que nenhuma lei teórica pode resultar lógica e infalivelmente de um conjunto de factos, qualquer que ele seja;
que uma teoria científica não é um simples amontoado de leis, sendo, antes, uma estrutura dinâmica complexa, na qual participam elementos de diversas naturezas, como resultados observacionais, hipóteses livremente concebidas, regras para o desenvolvimento futuro da teoria, decisões metodológicas, fragmentos de outras teorias etc.

Imre Lakatos sistematizou as novas ideias surgidas na Filosofia da Ciência, propondo que a actividade científica desenvolve-se em torno do que denominou "programa científico de pesquisa". [nota 3]

Um tal programa de pesquisa consiste, em termos simplificados, de um "núcleo rígido" de hipóteses teóricas básicas, suplementado por um "cinturão protector" de hipóteses auxiliares, que serve para ligar e ajustar o núcleo aos fenómenos de que a ciência trata.

A cada programa ainda estão associadas duas "heurísticas", uma "negativa", que é a decisão metodológica de se manter inalteradas as hipóteses do núcleo, e outra "positiva", que é um conjunto de sugestões ou ideias de como mudar ou desenvolver o cinturão protector de modo que o programa dê conta de novos fenómenos e explique os já conhecidos de maneira mais precisa.

Um programa de pesquisa é dito "progressivo" caso leve sistematicamente à descoberta de novos factos, que sejam por ele explicados; caso contrário, será dito "degenerante".

Tomando o exemplo de um dos mais bem sucedidos programas de pesquisa da Física, a Mecânica Newtoniana, vemos que possui um núcleo rígido formado pelas três leis newtonianas do movimento e pela lei da gravitação universal, que a heurística negativa do programa recomenda sejam mantidas inalteradas: eventuais discrepâncias com a experiência devem ser eliminadas através de ajustes nas hipóteses auxiliares do cinturão protector.

Esse processo ocorreu várias vezes durante o desenvolvimento do programa, como quando, no século XIX, se verificou que as previsões teóricas para a trajectória do planeta Úrano conflituavam com os dados da observação astronómica;
ao invés de imputar esse desvio a possível falsidade das leis do núcleo rígido, assumiu-se que deveria existir um corpo celeste desconhecido perturbando a trajectória do planeta;
mais tarde, foi, de facto, observada a existência desse corpo, o planeta Neptuno.

Assim como nesse episódio, a conjunção das heurísticas negativa e positiva do programa newtoniano levou a inúmeros desenvolvimentos: novas teorias ópticas, novos aparelhos e técnicas de observação, criação de novos ramos da Matemática etc.

A partir do início de nosso século, porém, o programa tornou-se degenerante, por motivos vários que não cabe expor aqui, vindo a ser substituído pelos programas das Teorias da Relatividade e da Mecânica Quântica.

Olhando agora para o Espiritismo, vemos que traz em si todas as características de um programa de pesquisa progressivo, sendo, portanto, genuinamente científico, segundo o critério lakatosiano.

Possui um núcleo rígido formado pelo princípio da existência de uma "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas", dotada da suprema justiça e bondade;
pela lei de causa e feito; pela imortalidade dos seres vivos; por sua evolução ilimitada;
pela existência do livre arbítrio, a partir de determinado estágio evolutivo.

Desse núcleo pode-se, com o auxílio da lógica ("raciocínio") e de assunções auxiliares, deduzir ("explicar") a infinidade de fenómenos de que trata o Espiritismo:
os fenómenos mediúnicos e anímicos, a evolução dos seres, seus estados psicológicos, sua condição após a morte etc.

Todos esses fato, analisados extensiva e objectivamente pelo Espiritismo, embasam e sancionam o corpo de seus princípios teóricos;
este, a seu turno, concatena, torna inteligíveis, explica aqueles factos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 16, 2013 9:44 pm

Allan Kardec percebeu, em admirável antecipação às conquistas recentes da Filosofia da Ciência, a importância fundamental dessa "simbiose" entre fenómeno e teoria, e expendeu extensos comentários sobre ela em várias de suas obras.

Os três capítulos iniciais da primeira parte de O Livro dos Médiuns, por exemplo, são uma obra prima de argumentação filosófica que, embora visando à elucidação de uma questão ligeiramente diferente, contém valiosos elementos relevantes ao assunto que estamos analisando.

Comecemos por estas considerações do Parágrafo 19:
É crença geral que, para convencer, basta apresentar factos.
Esse, com efeito, parece o caminho mais lógico.

Entretanto, mostra a experiência que nem sempre é o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes factos absolutamente não convenceram.
A que se deve atribuir isso?
É o que vamos tentar demonstrar.

No Parágrafo 29 Kardec volta ao ponto:
Podemos dizer que, para a maioria dos que não se preparam pelo raciocínio, os fenómenos materiais quase nenhum peso têm.

Quanto mais extraordinários são esses fenómenos, quanto mais se afastam das leis conhecidas, maior oposição encontram e isto por uma razão muito simples:
é que todos somos naturalmente a duvidar de uma coisa que não tem sanção racional.

Cada um a considera de seu ponto de vista e a explica a seu modo [...].

Essa "sanção racional" é a que advém da explicação dos fatos através da teoria.
No Parágrafo 34, após ressaltar a importância dos fatos na fundamentação da teoria, Kardec considera, por outro lado, que de dez pessoas novatas que assistam a uma sessão de experimentação espírita "nove sairão sem estar convencidas e algumas mais incrédulas do que antes, por não terem as experiências correspondido ao que esperavam".

Prossegue então Kardec:
O inverso se dará com as que puderem compreender os factos, mediante antecipado conhecimento teórico.

Paras estas pessoas, a teoria constitui um meio de verificação, sem que coisa alguma as surpreenda, nem mesmo o insucesso, porque sabem em que condições os fenómenos se produzem e que não se lhes deve pedir o que não podem dar.

Assim, pois, a inteligência prévia dos factos não só as coloca em condições de se aperceberem de todas as anomalias, mas também de apreenderem um sem número de particularidades, de matizes, às vezes muito delicados, que escapam ao observador ignorante.

Considerações interessantes nesse mesmo sentido encontram-se também em O que é o Espiritismo.

No diálogo com o Crítico (Cap. I, Primeiro Diálogo) Kardec pondera, em resposta à solicitação que este lhe faz de permissão para assistir a algumas experiências:
E julgais que isto vos baste para poder, ex professo, falar de Espiritismo?

Como poderíeis compreender essas experiências e, ainda mais, julgá-las, quando não estudaste os princípios em que elas se baseiam?
Como apreciaríeis o resultado, satisfatório ou não, de ensaios metalúrgicos, por exemplo, não conhecendo a fundo a metalurgia?

Mais adiante, no diálogo com o Céptico (Cap. I, Segundo Diálogo, seção "Elementos de convicção") Kardec coloca a questão em termos explícitos:
Há duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica.

Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas que ainda nada viram e crêem tão firmemente como eu, pelo só estudo que fizeram da parte filosófica; para elas o fenómeno das manifestações é acessório;
o fundo é a doutrina, a ciência; eles a vêem tão grande, tão racional, que nela encontram tudo quanto possa satisfazer às suas aspirações interiores, à parte o facto das manifestações;
do que concluem que, supondo não existissem as manifestações, a doutrina não deixaria de ser sempre a que melhor resolve uma multidão de problemas reputados insolúveis.

Quantos me disseram que essas ideias estavam em germe no seu cérebro, conquanto em estado de confusão.

O Espiritismo veio coordená-las, dar-lhes corpo, e foi para eles como um raio de luz.
É o que explica o número de adeptos que a simples leitura de O Livro dos Espíritos produziu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 17, 2013 10:00 pm

Acreditais que esse número seria o que é hoje, se nunca tivéssemos passado das mesas girantes e falantes?

A primeira sentença que destacamos revela uma vez mais que Kardec localizava o carácter científico do Espiritismo na "doutrina", na sua "parte filosófica", que, no contexto de nossa análise, deve ser entendido como aquilo a que vimos denominando "teoria".
Os factos em si não constituem a ciência.

Nosso segundo destaque mostra que Kardec já entendia o papel da teoria como dando "corpo", ou seja, coesão, inteligibilidade, aos fenómenos, que é a tarefa que Lakatos atribui aos princípios teóricos do programa de pesquisa, notadamente os de seu núcleo rígido.

No decorrer das próximas seções a tese da cientificidade do Espiritismo pela qual vimos argumentando receberá indirectamente mais elementos de comprovação.

3. "O Espiritismo não é da alçada da Ciência"
A frase que serve de título a esta seção foi extraída do Item VII da magnífica peça "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", que Kardec fez figurar como introdução de O Livro dos Espíritos.

Esse item trata especificamente da relações entre a Doutrina Espírita e a Ciência, devendo esta ser entendida aqui como o conjunto das ciências ordinárias, "oficiais", das academias, tal como a Física, a Química e a Biologia. [nota 4]

Apesar da clareza e da robustez argumentativa com que Allan Kardec abordou esse assunto, não somente nessa seção de O Livro dos Espíritos, mas também em outras de suas obras, especialmente em O que é o Espiritismo, O Livro dos Médiuns e A Génese, Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, curiosamente observam-se ainda hoje muitos equívocos em sua apresentação, mesmo por parte de espíritas.

Destarte, mais uma vez repetimos que não acrescentando nada ao que já disse o preclaro Codificador, mas apenas relembrando seus argumentos. [nota 5]

Começaremos notando que a afirmação de Kardec em consideração vem, no texto, precedida pela palavra portanto, o que mostra que, seguindo a regra que invariavelmente adoptou, Kardec ofereceu um argumento à assertiva, que, dada a sua importância, não poderia ser postulada dogmaticamente.

Esse argumento encontra-se no próprio parágrafo que contém a assertiva em discussão:
As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente;
os fenómenos espíritas repousam na acção de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos.

As observações não podem, portanto, ser feitas de mesma forma;
requerem condições especiais e outro ponto de partida.

Querer submetê-la aos processos comuns de investigações é estabelecer analogias que não existem.

A Ciência, propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para pronunciar na questão do Espiritismo:
não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.

É admirável a simplicidade do argumento:
o Espiritismo e a Ciência tratam de domínios diferentes de fenómenos:
o primeiro dos relativos ao elemento espiritual, a segunda daqueles concernentes ao elemento material.

Têm, portanto, métodos específicos e objectivos distintos, não cabendo, pois, julgamentos recíprocos.

Notemos que não se pode confundir o facto de o Espiritismo ser uma ciência - o que procuramos mostrar na seção anterior - com a assunção falsa de que ele pertence ao domínio da Ciência (ou seja, da Física, da Química e da Biologia).

Um pouco adiante, Kardec enfatiza:
Repetimos mais uma vez que, se os fatos a que aludimos se houvessem reduzido ao movimento mecânico dos corpos, a indagação da causa física desse fenómeno caberia no domínio da Ciência; porém, desde que se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis de Humanidade, ela escapa à competência da ciência material, visto não poder exprimir-se nem por algarismos, nem pela força mecânica.

Estudando domínios diferentes e complementares, "O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente", conforme destacadamente exarou Kardec no Parágrafo 16 do Capítulo I de A Génese.

Antes de prosseguirmos, vejamos como Kardec reapresenta o argumento em estudo em O que é Espiritismo.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 3 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 17, 2013 10:00 pm

Ali, o assunto é tratado extensivamente.

Na décima quinta resposta ao Crítico (Cap. I, Primeiro Diálogo), Kardec lembra uma vez que:
os fenómenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exactas:
não se produzem à vontade; é preciso que os colhamos de passagem;
é observando muito e por muito tempo que se descobre uma porção de provas que escapam à primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido.

E, na resposta seguinte, enfatiza:
Não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um de Física ou de Química, visto que nunca se é senhor de produzir os fenómenos espíritas à vontade, e que as inteligências que lhe são o agente fazem, muitas vezes, frustrarem-se todas as nossas previsões.

No diálogo com o Céptico (Cap. I, Segundo Diálogo, seção "Oposição da Ciência") Kardec enfoca outro aspecto da questão, igualmente já tratado no referido Item VII da Introdução de O Livro dos Espíritos.

Estabelecida a independência da Ciência e do Espiritismo, resta ver se estariam os cientistas mais autorizados que as demais pessoas a se pronunciar sobre o Espiritismo.

Tal questão é ainda actual, já que vemos muitos espíritas na posição em que Kardec situa o Céptico do diálogo:
afligem-se por buscar o apoio dos cientistas.

"Admito perfeitamente", diz o Céptico, "que eles não são infalíveis;
mas não é menos verdade que, em virtude do seu saber, sua opinião vale alguma coisa, e que, se ela estivesse do vosso lado, daria grande peso ao vosso sistema".

A réplica de Kardec vem, como sempre, vazada no bom senso e na lógica:
Concordai, também, que ninguém pode ser bom juiz naquilo que está fora da sua competência.

Se quiserdes edificar uma casa, confiaríeis esse trabalho a um músico?
Se estiverdes enfermo, far-vos-ei tratar por um arquitecto?
Quando estais a braços com um processo, ides consultar um dançarino?
Finalmente, quando se trata de uma questão de teologia, alguém irá pedir solução a um químico ou a um astrónomo?

Não, cada um em sua especialidade.
As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que se pode, à vontade, manipular;
os fenómenos que ela produz têm por agentes forças materiais.

Os do Espiritismo têm, como agentes, inteligências que possuem independência, livre-arbítrio e não estão sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde então, ficam fora dos domínios da Ciência propriamente dita.

A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica;
foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe;
e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamente, como já fez com tantos outros [...].

As corporações científicas não devem, nem jamais deverão, pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.

Kardec mostrou que nem o estudo do Espiritismo cabe à Ciência, nem estão os cientistas em posição privilegiada para sobre ele opinar.
Foi mesmo além: dada a frequente distorção que o envolvimento com sua especialidade impões à sua maneira de apreciar as coisas, suas opiniões podem até mesmo estar mais sujeitas a equívocos.

No referido item de O Livro dos Espíritos Kardec considera:
Aquele que se fez especialista prende todas as suas ideias à especialidade que adoptou.

Tirai-o daí e o vereis sempre desarrazoar, por querer submeter tudo ao mesmo cadinho: consequência da fraqueza humana.

Nada obsta, evidentemente, a que os cientistas se interessem, enquanto homens, pelo Espiritismo, e o estudem e avaliem nessa condição.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 3 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 17, 2013 10:00 pm

Um pouco abaixo do trecho que acabamos de transcrever, Kardec pronuncia-se nesse sentido:
O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os cientistas, como indivíduos, podem adquirir, abstracção feita de sua qualidade de cientistas [...].

Quando as crenças espíritas se houverem difundido, quando estiverem aceitas pelas massas humanas [...], com elas se dará com o que tem acontecido com todas as ideias novas que hão encontrado oposição:
os cientistas se renderão à evidência.

Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas.
Até então será intempestivo desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocupar de um assunto estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa.

Enquanto isso não se verifica, os que, sem assunto prévio e aprofundado da matéria, se pronunciam pela negativa e escarnecem de quem não lhes subscrevem o conceito, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes descobertas que fazem honra à Humanidade.

Ainda um último aspecto está envolvido nas relações entre o Espiritismo e a Ciência:
a necessidade que ele tem de não entrar em descompasso com o progresso científico.

O local clássico onde Kardec tratou desse ponto é o Parágrafo 55 do Capítulo I de A Génese.
Começa considerando que "apoiando-se em fatos [a revelação espírita] tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva".

Esse carácter essencial do Espiritismo resulta de sua natureza genuinamente científica:
embora o núcleo de seus princípios básicos permaneça inalterado, complementações e ajustes nas assunções auxiliares do cinturão protector o colocam sempre em concordância com as novas descobertas.

É isso que se tem verificado ao longo da história do Espiritismo.
O núcleo doutrinário fundamental contido em O Livro dos Espíritos foi, nas mãos equilibradas do próprio Kardec, desdobrado e ampliado nos estudos que resultaram nas demais obras da Codificação.

Hoje em dia, a vasta literatura mediúnica legitimamente espírita ampliou, por exemplo, os informes sobre o mundo espiritual.

E isso, repetimos, sem confronto com os princípios básicos.

No entanto, é preciso cautela no entendimento da progressividade do Espiritismo.

Primeiro, ela deve ocorrer de acordo com a heurística positiva do próprio programa espírita, sem recurso a elementos estranhos, venham de onde vierem, sob o risco de este perder sua consistência.

Depois, a harmonia com as conquistas da Ciência não deve ser buscada irrestritamente e a qualquer preço, visto estar ela, em suas proposições abstractas, constantemente sujeita a enganos e rectificações.

Kardec percebeu isso de maneira clara, mesmo tendo vivido antes das grandes revoluções científicas do início de nosso século.

No item de O Livro dos Espíritos de que estamos tratando encontramos este trecho:
Desde que a Ciência sai da observação material dos factos, para os apreciar e explicar, o campo está aberto às conjecturas [...].

Não vemos todos os dias as mais opostas opiniões serem alternadamente preconizadas e rejeitadas, ora repelidas como erros absurdos, para logo depois aparecerem proclamadas como verdades incontestáveis?

Aliás, é interessante notar que se Kardec não tivesse imprimido ao programa espírita a independência e autonomia que lhe imprimiu, ajustando-o, ao invés, de modo irrestrito agraves teorias científicas da época, ele teria, como consequência das aludidas revoluções, soçobrado irremediavelmente.

Aparentemente, os que em nossos dias advogam a tese do "ajuste à Ciência" ainda não se deram conta desse facto, nem perceberam que no referido parágrafo de A Génese Kardec deixou clara uma ressalva vital, ao falar desse ajuste:
Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá apoio das suas próprias descobertas, [o Espiritismo] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam atingido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele suicidaria.

Notemos que o "suicídio" do Espiritismo adviria, segundo Kardec, não só de sua estagnação (aspecto esse sempre lembrado), mas também de sua assimilação de doutrinas que não hajam atingido o estado de "verdades práticas"(o que em geral passa despercebido, por ter ficado implícito no texto).
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 18, 2013 9:15 pm

Agora é certo que não há nenhum princípio científico estável, nenhuma "verdade prática", que o Espiritismo não tenha ou assimilado, ou mesmo antecipado, sendo, portanto, improcedente os pruridos de reforma e actualização da Doutrina.

4. As deficiências das chamadas "ciências psi"

Todas as teorias que pretendem elucidar os fenómenos mediúnicos, alheias à Doutrina Espiritista, pecam pela sua insuficiência e falsidade.
Emmanuel

Essa assertiva de Emmanuel, que abre o Capítulo XIV do primeiro livro que nos legou por via mediúnica (Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.), há mais de cinquenta anos, pode, a alguns, parecer demasiadamente forte.

No entanto, assim como tudo o que nos tem dito o iluminado Espírito, decorre de uma análise isenta e racional dos factos.
As conquistas recentes da Filosofia da Ciência, ainda não alcançadas àquela época, evidenciam inequivocamente a correcção desse juízo.

É o que tentaremos resumidamente mostrar nesta secção.

A primeira linha de pesquisa não espírita dos fenómenos espíritas (anímicos e mediúnicos) que chegou a constituir uma "escola" foi a Metapsíquica, que se desenvolveu nas duas primeiras décadas desse século e culminou com a publicação em Paris em 1922 do clássico Traité de Métapsychique, de Charles Richet.

Logo após, essa escola foi cedendo lugar à Parapsicologia, cujo pioneiro foi o norte-americano J. B. Rhine, que em 1937 publicou seu New Frontiers of the Mind.
De lá para cá, sob a inspiração dessa disciplina, surgiram e continuam surgindo, em vertiginosa multiplicação, várias outras linhas de investigação dos chamados "fenómenos paranormais".

Talvez não seja exagero afirmar que elas são quase tão numerosas quanto os pesquisadores, cada um com seu "sistema" próprio.
Denominaremos aqui, por simplicidade, de ciências psi o conjunto de tais sistemas, muito embora, como veremos, não sejam ciências genuínas.

Entre os traços comuns dessas disciplinas, destacaríamos a pretensão à cientificidade, a suposição de que aderem ao "método científico", o emprego de métodos quantitativos e de aparelhos, uma certa aversão a "teorias" etc.

Ocorre que à época do nascimento da Parapsicologia, ou seja, nas décadas de 20 e 30, a Filosofia da Ciência vivia o apogeu do Positivismo Lógico.
Essa doutrina filosófica representou, por assim dizer, a tentativa suprema de articulação da visão clássica de ciência, que mencionamos anteriormente.

Em que pese o empenho dos maiores filósofos da época, porém, tal programa malogrou de forma espectacular e definitiva, diante dos argumentos contra ele levantados, principalmente pelos filósofos que citamos na seção 2.
(Reformador, novembro de 1988, págs. 328-331).

Apesar disso, tal foi a intensidade desse movimento filosófico, que exerceu uma influência sem precedentes sobre os cientistas, a qual sobreviveu ao seu fracasso, perdurando até nossos dias, com consequências funestas para a Ciência.

Inevitavelmente, a Parapsicologia, que nascia àquela época com pretensões à cientificidade, procurou seguir de forma estrita os cânones preconizados pelo Positivismo Lógico para a caracterização de uma ciência.

(Esse fenómeno ocorreu também com a Sociologia e com a Psicologia, que também andavam à procura de cientificidade.
A propósito, é significativo o facto de Rhine e outros pioneiros da Parapsicologia terem sido psicólogos.)

A consequência não poderia ser outra:
essa nova disciplina carregou consigo, desde a sua concepção, as deficiências graves da visão lógico-positivista de ciência, vindo a adoptar métodos incompatíveis com os fins a que se propõe, perseguindo um ideal de cientificidade completamente ilusório.

E atrás dela vieram as demais, a despeito da louvável boa intenção da maioria de seus profitentes.

Para ilustrar essa situação, consideremos agora alguns exemplos concretos dos equívocos em que incorrem essas pretensas ciências.

a) Seguindo a velha "receita", procuram acumular fatos sobre factos, sem o auxílio de um corpo teórico ordenador.
Vimos acima quão inócuo e anticientífico é esse procedimento, e quão bem Kardec compreendeu tal realidade.

b) [i]Quando explicações são dadas, são-no fragmentariamente, cada facto sendo "explicado" por uma hipótese isolada.[b]
Desse modo, mesmo se artificialmente agruparmos essas hipóteses, não formaremos senão um todo inconsistente, o que viola a própria Lógica.
A moderna Filosofia nem mesmo considera explicações genuínas "explicações" isoladas de factos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 18, 2013 9:16 pm

c) As explicações são, via de regra, ainda mais fantásticas do que os factos a que se propõem explicar.
Nas admiráveis refutações aos contraditores do Espiritismo contidas em várias de suas obras, notadamente em O que é o Espiritismo (Cap. I), O Livro dos Médiuns (Primeira Parte, Cap. IV), O Céu e o Inferno (Primeira Parte) e O Livro dos Espíritos (Introdução, Item XVI), Allan Kardec, com a agudeza de espírito que o caracterizava, já apontava esse tipo de problema.

Na seção "Falsas explicações dos fenómenos", do primeiro desses livros, Kardec pergunta:
Como podem pretender dar conta dos fenómenos espíritas [através da hipótese da alucinação] sem serem antes capazes de explicar sua explicação?

E mais adiante acrescenta:
É realmente curioso observar os contraditores empenharem-se na busca de causas cem vezes mais extraordinárias e difíceis de compreender do que aquelas que lhes apresenta o Espiritismo.

Outro tipo de pseudo-explicação comumente encontrada são as explicações puramente nominais: carecem de qualquer substância, consistindo unicamente do emprego de fraseologia excêntrica na descrição dos fenómenos.

Emmanuel profliga semelhante vício filosófico no parágrafo que segue imediatamente ao que abre esta seção:
Em vão, procura-se complicar a questão com termos rebuscados, apresentando-se as hipóteses mais descabidas e absurdas [...].

d) Quando "teorias" são fornecidas, não dão conta de todos os factos.
Aqui também Kardec já alertou (O Livro dos Médiuns, parágrafo 42):
O que caracteriza uma teoria verdadeira é poder dar razão de tudo.

Se, porém, um só facto que seja a contradiz, é que ela é falsa, incompleta, ou por demais absoluta.

e) Muitos factos relevantes simplesmente não são reconhecidos.

Isso pode resultar:
i - de ideias preconcebidas, como no caso daquelas que negam a priori a possibilidade de sobrevivência do ser, e portanto não investigam uma vasta quantidade de fenómenos relativos a ela.
(Esse problema atinge as raias do absurdo no horror que alguns investigadores têm pelos médiuns - exactamente o manancial mais abundante de fenómenos de que se dispõe!);

ou ii - da falta de uma teoria que guie na busca e análise dos factos.
Vimos acima com Kardec quão longe está o Espiritismo de incorrer em semelhantes enganos.

f) Emprego de técnicas de investigação inadequadas.
O caso típico e mais importante é o recurso ao "método quantitativo".

Como se sabe, tal método constitui uma das maiores bandeiras da Parapsicologia e demais "ciências psi", que julgam assim estar seguindo os afortunados caminhos da Física e da Química.
Ora, se indubitavelmente a análise das quantidades desempenha nessas ciências um papel importante (embora não exclusivo!), não se segue daí que deva ser igualmente frutífero no estudo de uma ordem de fenómenos completamente diferente.

(De facto, são, neste caso, de todo dispensáveis (para dizermos pouco).
É até mesmo ridículo querer substituir a prova cabal fornecida por uma manifestação inteligente (como por exemplo uma carta que contém informações detalhadas de episódios e coisas desconhecidas) por medidas de desvios estatísticos em experimentos de identificação de cartas de baralho, ou similares.

Não que estas últimas sejam irrelevantes; mas a evidência que podem dar é imensamente mais fraca e duvidosa do que a que resulta das manifestações inteligentes, e mesmo de efeitos físicos extraordinários produzidos através de um médium possante.

(Parece estarmos aqui na situação de guerreiro que, dispondo de um moderno canhão, prefira servir-se de um tosco estilingue...)

Essa situação foi, como sempre, percebida e combatida por Allan Kardec, que não só enfatizou repetidamente a importância crucial e a superioridade dos fenómenos mediúnicos de efeitos inteligentes, como também explicitamente referiu-se à inadequação dos métodos quantitativos, conforme se observa nas citações que fizemos na seção 3, em especial neste trecho de O que é o Espiritismo (destacamos):

[Os fenómenos espíritas] têm, como agentes, inteligências que têm independência, livre-arbítrio e não estão sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos [...].

A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos, como o faz com uma pilha voltaica;
foi mal sucedida como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 18, 2013 9:16 pm

Também no Item de O Livro dos Espíritos que vimos analisando Kardec alerta (destacamos):
[As manifestações espíritas] escapam à competência da ciência material, visto não poder expressar-se por algarismos, nem pela força mecânica.

g) Recurso desnecessário e perigoso a aparelhos sofisticados.
Não obstante de inegável valor nas investigações da matéria, como mostram os notáveis avanços da Física e da Química, a prescindibilidade de aparelhos no estudo dos fenómenos espíritas ficou evidenciada pelas considerações expendidas no item anterior.

Além disso, há mesmo riscos em sua utilização.
Primeiro, tal utilização pode encobrir deficiências metodológicas profundas, produzindo uma ilusória impressão de rigor, de cientificidade.

Depois, e mais importante, do ponto de vista epistemológico (ou seja, da teoria do conhecimento), as observações por meio de aparelhos ocupam um nível bem mais baixo na escala da confiabilidade do que aquelas que podem ser alcançadas de modo imediato.
(Assim, uma das mais difundidas vertentes da Epistemologia chega mesmo a negar que entidades teóricas não directamente observáveis possuam "referentes", ou seja, contrapartes reais.)

A razão disso é simples:
quando se utiliza um aparelho para fazer certa observação, o resultado da mesma pressuporá a validade das teorias envolvidas na construção e no funcionamento do aparelho, introduzindo-se, desse modo, mais elementos de incerteza.

Essas considerações epistemológicas explicam, por sinal, a grande estabilidade do núcleo de princípios fundamentais do Espiritismo, quando comparado aos das teorias científicas, pois repousam em fenómenos extremamente básicos do ponto de vista epistémico, com o mesmo grau de certeza, quanto, por exemplo, as proposições de que temos agora uma folha de papel diante de nós, de que há nela algo escrito, de que nos achamos sentados etc.

Medeia vasta distância conceitual entre proposições desse tipo e, por exemplo, aquelas sobre a estrutura dos átomos, dos buracos negros, sobre o mecanismo das mutações genéticas etc.

h) Referência a conceitos e teorias científicas obsoletos.
A Física deste século introduziu, como já dissemos, alterações radicais em suas teorias, e conseguintemente em nossa visão do mundo.

Conceitos que faziam parte da Física Clássica, como os de espaço e tempo absolutos, partículas, campos etc., foram ou totalmente abandonados, ou revistos profundamente, por não mais servirem às novas teorias, não dando conta dos fenómenos observados.

Assim, é inacreditável que haja pesquisadores das "ciências psi" tentando elaborar "teorias" e "modelos" para o Espírito baseados em noções de partículas e campos, e ainda mais, com a pretensão de estarem seguindo a Ciência!

Vemos aqui uma vez mais a lucidez de Kardec e dos Espíritos que o auxiliavam, ao não vincularem os princípios centrais do Espiritismo a nenhuma dessas noções.

Assentaram-no, antes, em proposições básicas, "fenomenológicas", como dizem os filósofos, exactamente por serem estáveis.

i) Desprezo pelo passado:
cada pesquisador em geral reinicia as investigações a partir do "nada", como se outros já não tivessem efectuado constatações dignas de confiança.

Se a dúvida equilibrada representa prudência, quando se torna irrestrita e irreflectida, aliando-se à presunção e ao orgulho, inviabiliza o conhecimento.
Se na Ciência se tivesse adoptado semelhante atitude, não se teria saído de sua pré-história.

j) Ignorância da relevância dos factores "morais" na produção de certos fenómenos.
Kardec não tardou reconhecer, em seus estudos, a influências por vezes crucial de factores ligados à harmonia de pensamento dos médiuns, experimentadores e assistentes, aos objectivos a que se propõem, à sua condição moral etc.

O assunto é abordado, entre outros lugares, no Capítulo XXI de O Livro dos Médiuns, onde Kardec ressalta a "enorme influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes" (parágrafo 233).

Essa influência vem sendo também ilustrada e enfatizada na boa literatura mediúnica, que nos mostra em detalhe a complexidade do trabalho dos Espíritos na produção dos fenómenos.

Assim, apenas para tomar um dos inúmeros exemplos, lembremos a descrição que André Luiz dá em Missionários da Luz (Cap. X) da profunda perturbação causada nos trabalhos de materialização a que presenciava pelo simples ingresso no recinto de um homem interiormente desequilibrado, e, depois, pelos pensamentos descontrolados dos participantes da reunião.

Diante da surpresa, o Instrutor Alexandre elucida (destacamos):
Nestes fenómenos, André, os factores morais constituem elementos decisivo de organização.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 19, 2013 10:00 pm

Não estamos diante de mecanismos de menor esforço e, sim, ante manifestações sagradas da vida, em que não se pode prescindir dos elementos superiores e da sintonia vibratória.

Também Emmanuel expende considerações desse mesmo teor no Capítulo XIII de seu já citado livro Emmanuel (destacamos):
Não são poucos os estudiosos que procuram investigar os domínios da ciência psíquica, na sede de encontrar o lado verdadeiro da vida; porém, se muitas vezes acham apenas o malogro das suas expectativas , o soçobro dos seus ideais, é que se entregam a estudos arriscados sem preparação prévia para resolver tão altas questões, errando voluntariamente com espírito de criticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho do raciocínio acurado, profundo.

O êxito no estudo de problemas tão transcendentais demanda a utilização de factores morais, raramente encontrados; daí a improdutividade de entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e sinceros.

5. O Espiritismo é religioso
[...] o Espiritismo é, assim, uma religião?
Sim, sem dúvida, senhores:
No sentido filosófico o Espiritismo é uma religião, e disso nos honramos, pois que é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos não em uma simples convenção, mas sobre a mais sólida das bases: as próprias leis da Natureza.

Por que então declaramos que o Espiritismo não era uma religião?
Pela razão de que há apenas uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, segundo a opinião geral, o termo religião é inseparável da noção de culto, e evoca unicamente uma ideia de forma, com o que o Espiritismo não guarda qualquer relação.

Se se tivesse proclamado uma religião, o público nele não veria senão uma nova edição, ou uma variante, se quisermos, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, cerimónias e privilégios; não o distinguiria das ideias de misticismo e dos enganos contra os quais se está frequentemente bem instruído.

Não apresentando nenhuma das características de uma religião, na acepção usual da palavra, o Espiritismo não poderia nem deveria ornar-se de um título sobre cujo significado inevitavelmente haveria mal-entendidos.
Eis porque ele se diz simplesmente uma doutrina filosófica e moral.

Allan Kardec [nota 6]

Do mesmo modo como tem havido falta de compreensão acerca do carácter científico do Espiritismo e de suas relações com as ciências, seu carácter religioso e suas relações com as religiões também têm constituído ponto de frequentes confusões.

Assim como se pode mostrar ser o Espiritismo científico, embora não se inclua entre as ciências ordinárias, por estudar um domínio diverso de fenómenos, pode-se, conforme o fez o próprio Kardec, mostrar que o Espiritismo é religioso, embora não se confunda com as religiões ordinárias.

Se no estabelecimento da primeira dessas teses tivemos que identificar correctamente que características de uma teoria a tornam científica, temos, para justificar a segunda, que estabelecer critérios adequados para a classificação de uma doutrina no âmbito religioso.

Essa tarefa deve começar pela análise etimológica da palavra religião.
Ela vem do Latim religione, derivado de religare, que naturalmente significa "religar", estando, neste caso, subentendido que "religação" é da criatura ao Criador.

Surge aqui a primeira diferença entre o Espiritismo e as religiões ordinárias.

Estas usualmente entendem por Deus um ser supremo, criador de tudo o que existe, porém com características notoriamente antropomórficas.

Já o Espiritismo define-o como "a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas" (O Livro dos Espíritos, Questão nº 1.), dando-lhe por atributos exclusivamente a eternidade, a imutabilidade, a imaterialidade, a unicidade, a omnipotência e a soberana justiça e bondade (ibidem, Questão 13), o que evidentemente exclui qualquer carácter antropomórfico.

A segunda diferença fundamental está na maneira pela qual o Espiritismo entende que a religação entre a criatura e Deus pode e deve ser promovida.

Segundo as religiões ordinárias, ela se dá através do ajuste da criatura a certas regras morais (éticas) e/ou da satisfação de providências formais e externas de vária ordem, dependendo da religião: baptismo, crisma, comunhão, confissão;
participação em cultos, rituais, cerimónias;
realização de determinados gestos; recitação de fórmulas e rezas;
adoração de imagens e objectos diversos; promessas, penitências, jejuns; trazer em si as "marcas de Deus" etc.

Já o Espiritismo propõe que a religação da criatura ao Criador se faz exclusivamente pela adaptação de sua conduta a determinados preceitos morais, as medidas de ordem exterior sendo tidas não somente como supérfluas, como também de todo desaconselhadas e combatidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 19, 2013 10:01 pm

A terceira diferença reside em quais são as regras morais em questão.
O Espiritismo toma-as como unicamente aquelas propostas por Jesus, e que se resumem no preceito do amor ao próximo.

Já as religiões ordinárias podem, dependendo do caso, incluir ou não as normativas evangélicas, ou incluí-las parcialmente, ou acrescentar-lhes outras, ou alterar-lhes a interpretação original etc.

Por fim, crucial diferença surge no modo pelo qual essas regras éticas são justificadas.
As religiões ordinárias "justificam" as normas morais que propõem recorrendo à autoridade desse ou daquele indivíduo ou instituição;
são dogmas, portanto artigos de fé a serem aceitos sem exame.

Já o Espiritismo fundamenta o corpo de seus preceitos éticos no conhecimento que cientificamente alcança das consequências das acções humanas ao longo da existência ilimitada dos seres, conjugado à cláusula teleológica de que todos almejam a felicidade.

Não há aqui lugar para dogmas e imposições, mas exclusivamente investigação livre e racional dos factos.

Aliás esse já era o modo pelo qual o Apóstolo Paulo entendia a moral, pois em sua primeira carta aos Coríntios (10:23) asseverou:
"Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm;
todas são lícitas, porém nem todas edificam."

Em artigo anterior ("Os fundamentos da ética espírita"; ver Referência Bibliográficas.) expusemos com certa extensão esse processo de fundamentação da moral espírita.

Dada a relevância do tema, recorreremos aqui a algumas citações de Kardec, a fim de ilustrar o ponto e deixar clara sua posição.

Nos comentários às Questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos, que tratam do materialismo, Kardec refere-se à hipótese da aniquilação do ser com a morte corporal:
Triste consequência, se fora real, porque então o bem e o mal não teriam objectivo, o homem estaria justificado em só pensar em si e em colocar acima de tudo a satisfação de seus prazeres materiais; os laços sociais se romperiam, e as mais santas afeições se quebrariam irremediavelmente.

Passemos agora à Questão 222 do mesmo livro, onde encontramos:
Ora, pois: se credes num futuro qualquer, certo não admitis que ele seja idêntico para todos, porquanto, de outro modo, qual a utilidade do bem?

Por que haveria o homem de constranger-se?
Por que deixaria de satisfazer a todas as suas paixões, a todos os seus desejos, ainda que à custa de outrem, uma vez que isso não lhe alteraria a condição futura?

No Item IV da Conclusão dessa obra Kardec é ainda mais explícito (destacamos):
O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade.

Tal lei se funda na certeza do futuro;
tirai-lhe essa certeza e lhe tirareis a pedra fundamental.
Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições da felicidade do homem.

No Item VIII Kardec reitera:
Razão, portanto, tivemos para dizer que o Espiritismo, com os factos, matou o materialismo.
Fosse este o único resultado por ele produzido e já muita gratidão lhe deveria a ordem social.

Ele, porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do mal e, conseguintemente, a necessidade do bem.

O Capítulo I de A Génese está repleto de considerações sobre essa fundamentação experimental-racional da ética espírita.
Recomendamos vivamente a leitura, pelo menos, dos Parágrafos 31, 32, 35, 37, 42, 56 e 62. Do Parágrafo 37 extraímos esta assertiva (destacamos):

Tirai ao homem o espírito livre e independente, sobrevivente à matéria, e fareis dele uma simples máquina organizada, sem finalidade, nem responsabilidade [...].
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 19, 2013 10:01 pm

No Parágrafo 42 encontramos:
Demais, se se considerar o poder moralizador do Espiritismo, pela finalidade que assina a todas as acções da vida, por tornar tangíveis as consequências do bem e do mal [...].

No Parágrafo 56 Kardec volta ao assunto, desta vez analisando as relações entre a moral evangélica e a espírita, que, conforme observamos, coincidem quanto às normas morais (destacamos):
O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os mortos e os vivos, princípios que completam as noções vagas que forneceu da alma, de seu passado e de seu futuro, e que dão por sanção à doutrina cristã as próprias leis da Natureza.

Com o auxílio das novas luzes que o Espiritismo e os Espíritos espargem, o homem compreende a solidariedade que une todos os seres;
a caridade e a fraternidade se tornam uma necessidade social;
ele faz por convicção o que fazia unicamente por dever, e o faz melhor.

Encerrando essas notáveis citações de Kardec, que aliás poderiam estender-se ainda muito, adentrando, por exemplo, O Céu e o Inferno, obra inteiramente dedicada ao estudo teórico e experimental das consequências das acções humanas, voltamos ao comentário às Questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos, que fecha com chave de ouro estas nossas reflexões:
[...] a missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém, pelos factos.

Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples suposição, de uma probabilidade sobre a qual cada um conjecture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas.

É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo com os nossos méritos e deméritos.

Haverá nisso alguma coisa de anti-religioso?
Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do fervor e da confiança.

O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião.
Se ele aí está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

Notas

1. Em nossas citações das obras de Allan Kardec utilizamos os originais franceses, aproveitando amplamente as traduções editadas pela Federação Espírita Brasileira; ver Referências Bibliográficas, no final deste artigo.

2. "Espiritismo e Ciência.
Esboço de uma análise do Espiritismo à luz da moderna Filosofia da Ciência"; ver Referências Bibliográficas.
O leitor interessado em filosofia da ciência poderá consultar o livro de Alan Chalmers What is this thing called science, que é razoavelmente acessível e contém abundantes referências às fontes primárias.


3. Ver, por exemplo, seu famoso artigo "Falsification and the methodology of scientific reserch programmes", citado nas Referências Bibliográficas.

4. A inclusão da Psicologia e da Sociologia é problemática, já que não parecem, em sua actual fase de desenvolvimento, cumprir os requisitos mínimos de uma verdadeira ciência.
Nós espíritas temos razões adicionais para essa dúvida, dado que tais disciplinas, pretendendo estudar o ser humano, ignoram precisamente o que lhe é mais essencial, ou seja, o Espírito.


5. Esse tema foi também lucidamente tratado em artigo recente de Juvanir Borges de Souza, "Pesquisas e Métodos", publicado no número de abril de 1986 de Reformador, cuja leitura recomendamos vivamente.

6. "Le Spiritisme est-il une religion ?", Revue Spirite, 1868, p. 357.
Transcrito em L'Obsession, pp. 279-92 (ver Referências Bibliográficas).

Uma tradução desse artigo, por Ismael Gomes Braga, apareceu em Reformador, de março de 1976.
Os destaques na citação acima são nossos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 19, 2013 10:01 pm

Referências Bibliográficas

ANDRÉ LUIZ. Missionários da Luz. (Psicografia de Francisco Cândido Xavier.) 6ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
BORGES DE SOUZA, J. "Pesquisas e Métodos", Reformador, abril de 1986, pp. 99 101. CHALMERS, A. F. What is this thing called science? St. Lucia, University of Queensland Press, 1976.

CHIBENI, S. S. "Espiritismo e Ciência". Esboço de uma análise do Espiritismo à luz da moderna Filosofia da Ciência". Reformador, maio de 1984, pp. 144-7 e 157-9.
-----. "Os fundamentos da ética espírita". Reformador, junho de 1985, pp. 166-9. EMMANUEL. Emmanuel. Dissertações mediúnicas sobre importantes questões que preocupam a Humanidade. (Psicografia de Francisco Cândido Xavier.) 5ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.)
-----. Qu'est-ce que le Spiritisme. Paris, Dervy-Livres, 1975. (O que é o Espiritismo. s. trad. 25ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.)

-----. Le Livre des Médiuns. Paris, Dervy-Livres, 1972. (O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro, 46ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.)
-----. La Genèse, les Miracle et les Prédictions selon le Spiritisme. Paris, La Diffusion Scientifique, s.d. (A Génese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 23ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s. d.)

-----. L'Obssession. Extraits textuels des Revues Spirites de 1858 a 1868. Farciennes, Bélgica, Éditions de l'Union Spirite, 1950.
LAKATOS, I. "Falsification and the methodology of scientific reserch programmes". In: LAKATOS, I. & Musgrave, A. eds. Criticism and the Growth of Knowledge.
Cambridge, Cambridge University Press, 1970. pp. 91-195.

Publicado em Reformador, novembro de 1988, pp. 328-33 e dezembro de 1988, pp. 373-78.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 20, 2013 10:48 pm

O Carma no Espiritismo

Este termo não deve ser utilizado dentro do Espiritismo, por não se encontrar em nenhuma das Obras de Allan Kardec.

A palavra carma foi “introduzida” recentemente no Espiritismo através das chamadas obras subsidiárias, ou seja, os livros psicografados “escritos por espíritos através de um médium”, mas não é utilizado em nenhum momento nas obras de Kardec.

A palavra carma (em sânscrito karma ou karman e em pali kamma) utilizada na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em primeira instância “acção”, “trabalho” ou “efeito”.
No sentido secundário, o efeito de uma acção, ou se preferirmos, a soma dos efeitos de acções (vidas) passadas se reflectindo no presente.

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos actos foram correctos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos actos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos.

Inclusive uma pessoa nascida numa casta impura (um varredor de ruas, um auxiliar de crematório, por exemplo) deve permanecer na profissão herdada.
Cumprindo o melhor possível e de maneira ordenada a sua função, tornar-se-á um perfeito e virtuoso membro da sociedade.

Por outro lado, ao interferir nas tarefas de outras pessoas, ele será culpado de perturbar a ordem sagrada.
(…) mesmo a prostituta, que dentro da hierarquia da sociedade está aquém da virtuosa dona de casa, pode participar – caso cumpra com perfeição o código de sua desprezível profissão – do supra-humano e transindividual Poder Sagrado que se manifesta no cosmo.
Ela pode até fazer milagres que desconsertam reis e santos.

Sabemos, por orientação dos Espíritos, que quando reencarnamos não escolhemos um destino e sim um género de prova que cabe a cada um enfrentar ou recuar.

Desta forma, não devemos usar a palavra Carma dentro do Espiritismo e sim Causa e Efeito, porque os detalhes dos acontecimentos da vida estão na dependência das circunstâncias que o homem provoca, com os seus actos.

Se encararmos o carma como um fim total e irredutível, teremos um problema sério quando falamos de existência e sofrimento.

O carma foi “inventado” pelos arianos, quando estes invadiram a Índia pelo rio Indo, trazendo consigo sua religiosidade e “criando” as castas para se diferenciarem dos párias e rebaixá-los a posições subalternas.

Se pensarmos no carma como um fim último estagnamos o homem, da mesma forma quando aprovamos ou aceitamos a salvação apenas pela justificação da fé ou através da predestinação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 20, 2013 10:48 pm

O carma na época surgiu para os indianos como uma possibilidade de explicar e entender o mundo, o homem e sua existência.

Se realmente existe os deuses ou um Deus bom, por que algumas pessoas nascem génios e outras idiotas?
Como os deuses julgarão em um suposto juízo final os homens que não tiveram oportunidade de conhecê-los?

Se Deus é omnisciente e omnipresente, então não possuímos livre-arbítrio, estamos encurralados em uma predestinação ou carma.

Se não utiliza sua omnisciência não pode ser Deus.
Estas são perguntas simples que qualquer senso laico já se fez, ou ainda faz, de sua existência.

Foram estas e muitas outras perguntas muito mais elaboradas que o sistema carma veio “resolver” ou tentar explicar.

Explicar o mal e encontrar o meio de fazer que os homens o aceitem, se não com alegria, pelo menos com paz de espírito, têm sido a tarefa da maior parte das religiões.

Para os ocidentais a palavra carma não deve ser levada ao pé da letra, mas de forma a entender que o indivíduo passa por situações difíceis e seu futuro é de sua responsabilidade.

No Brasil poucas correntes filosóficas ou religiosas utilizam a palavra carma como os indianos, ou seja, um fim em si mesmo.

Os esotéricos e os místicos, neste ponto, não se enquadram nos pensamentos esotéricos e místicos judeus, cristãos ou islâmicos, apesar de alguns filósofos destes pensamentos aceitarem ou discutirem a possibilidade da reencarnação.

Os pensamentos cármicos estão mais próximos dos ensinos esotéricos e místicos por seguirem e utilizarem boa parte dos ensinos e da filosofia indiana, como é o caso do Shankya, do Vedanta, do Yoga e alguns outros, ou similares como é o caso dos pensamentos de Blavatsky que possui grande influência no meio esotérico e teosófico.

HERCULANO PIRES

Fonte: O Verbo e a Carne

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