LUZ ESPÍRITA
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A Ciência confirma o Espiritismo?

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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 04, 2013 10:05 pm

Entendemos que a desconsideração desse vasto corpo de evidências indirectas a favor do Espiritismo constitui omissão séria da parte de seus críticos.

Com seu agudo senso científico, Kardec percebeu desde o início que o alcance do Espiritismo transcendia de muito os fenómenos mediúnicos e anímicos específicos que motivaram o seu surgimento.

Referindo-se às suas impressões diante das realidades novas que se lhe iam descortinando através de suas cuidadosas observações e raciocínios, Kardec assim se expressou:
"Logo compreendi a gravidade da exploração que ia empreender; entrevi naqueles fenómenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução do que eu havia procurado durante toda a minha vida;
era, numa palavra, toda uma revolução nas ideias e nas crenças (...)". [5]

"O estudo do Espiritismo é imenso", disse Kardec em outra passagem; "interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social;
é todo um mundo que se abre diante de nós." [6]

3. PSEUDOCIÊNCIAS DO ESPÍRITO

Na Seção precedente iniciamos a enumeração dos métodos e procedimentos anticientíficos que caracterizam as linhas de pesquisa alternativas do espírito, indicando que a natureza de seu objecto de estudo é tal que o recurso a aparelhos e a métodos quantitativos em geral é dispensável e mesmo arriscado, pelos enganos a que pode levar.

Isto vale pelo menos quanto ao estabelecimento dos princípios fundamentais da ciência do espírito, concebendo-se que em um futuro distante o detalhamento de alguns pontos mais técnicos, como por exemplo os relativos às leis dos fluidos, possa requerer uma integração mais estreita com a física e a química mais refinadas de então.

Prosseguiremos agora nossa enumeração, começando por um tópico ligado ao que expusemos no final da Seção precedente.

Referimo-nos à abrangência do Espiritismo.
O escopo dessa ciência é incomparavelmente mais amplo do que o de todas as teorias alternativas.
ma inspecção destas últimas mostra que consideram apenas uns poucos fenómenos isolados, sem levar em consideração uma multidão de outros, igualmente relevantes.

Esse desprezo de factos importantes resulta essencialmente de duas fontes:
1) preconceitos e interesses diversos;
e 2) falta de um corpo teórico que norteie a pesquisa experimental.

Quanto ao primeiro factor, não há o que comentar.
Quanto ao segundo, notemos que está intimamente ligado à falsa concepção de ciência adoptada, que imagina ser possível se fazer ciência sem teoria.

Outra deficiência séria que apresentam esses sistemas não-espíritas é que mesmo para os grupos reduzidos de fenómenos que levam em conta, as explicações oferecidas pecam pela falta de unidade e organicidade, recorrendo a leis e princípios desconectados.

Além disso, tais explicações em geral falham em satisfazer um outro requisito fundamental de uma genuína explicação científica: a simplicidade.
As explicações são em geral ainda mais inexplicáveis que os fatos que se propõem a explicar.

Encontramos ainda explicações puramente verbais, ou seja, que não apresentam qualquer conteúdo, limitando- se ao uso de termos técnicos, buscados nas diversas ciências ou criados a esmo, procurando-se com isso conferir ares científicos à suposta explicação.

Muitas pessoas não familiarizadas com a ciência deixam-se fascinar por tais artifícios, não percebendo que qualquer explicação satisfatória deve caracterizar-se pela clareza e inteligibilidade (como nos dá magnífico exemplo o Espiritismo) e que o recurso à linguagem técnica só é legítimo dentro do contexto teórico que lhe é próprio.

Outro tipo frequente de deficiência que notamos nos sistemas que pretendem competir com o Espiritismo refere-se ao recurso a conceitos e teorias científicas obsoletos, ou o uso não-profissional das teorias contemporâneas.

As ciências, principalmente a Física e a Química, passaram por transformações radicais em nosso século as teorias atuais envolvem conceitos extremamente abstractos, distantes da intuição do senso comum, além de técnicas matemáticas de grande complexidade.

Em seus aspectos essenciais, essas teorias não são acessíveis ao leigo, que, quando instruído, em geral ainda tem para si a imagem do mundo fornecida pelas teorias do século passado.

Os muitos livros de popularização da ciência via de regra não resolvem esse problema; mesmo quando são escritos por profissionais (o que é raro), inevitavelmente têm de recorrer a simplificações drásticas, que resultam em distorções sérias na imagem que oferecem das teorias expostas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 04, 2013 10:06 pm

Como resultado, a virtual totalidade das pessoas que têm se aventurado a estabelecer vínculos directos entre os fenómenos espíritas e as teorias da Física cai, ou no recurso a teorias superadas, ou em confusões que mostram-se ridículas aos olhos dos cientistas com formação profissional.

Essas pessoas acabam pois involuntariamente prestando um desserviço à causa da investigação científica do espírito.

Mais um factor importante que entrava as linhas de pesquisa não-espíritas é o sistemático desprezo pelas contribuições anteriormente efectuadas por outros pesquisadores.

Cada um quer começar tudo de novo, e criar seu próprio sistema.
Se a dúvida equilibrada representa prudência, quando se torna irrestrita e irreflectida, aliando-se à presunção e ao orgulho, inviabiliza o avanço do conhecimento.

Se nas ciências académicas se tivesse adoptado semelhante atitude, elas estariam ainda em seus primórdios.

Por fim, lembramos ainda que muitas das tentativas não-espíritas de estudo dos fenómenos espíritas fracassam por não reconhecer a influência de factores morais em sua produção, influência essa que em certos casos é determinante.

4. PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA ESPÍRITA

Como vimos na Secção 1, uma ciência autêntica deve envolver um programa de pesquisa, que auxilie o seu progresso.
Com a lucidez científica que lhe era peculiar, Allan Kardec apontou directrizes seguras para o desenvolvimento do Espiritismo.

De um lado, temos suas análises que advertem contra os métodos e procedimentos anticientíficos que poderiam embaraçar a marcha do Espiritismo.

Nas duas seções precedentes enumeramos alguns dos mais importantes deles;
Kardec percorreu-os todos, e ainda outros, oferecendo sólida fundamentação às suas críticas. [7]

De outro lado, Kardec legou-nos investigações paradigmáticas sobre os tópicos mais fundamentais da ciência espírita, que serviram de modelo pra os pesquisadores que vieram após ele, e que devem continuar desempenhando essa tarefa nas pesquisas futuras.

Simplificadamente, poderíamos classificar assim as áreas principais de investigação espírita:

1. ) Evolução do espírito:
o elemento espiritual dos seres dos reinos inferiores; origem dos espíritos humanos; encarnação e reencarnação pluralidade dos mundos habitados.

2. ) O mundo espiritual.
3. ) Interacção espírito-corpo:
perispírito, efeitos psicossomáticos, mediunidade.

4. ) Implicações morais (uma área científica e filosófica): livre-arbítrio, lei de causa e efeito.
Note-se que não incluímos o tópico "comprovação da existência do espírito".

A razão é evidente: trata-se de uma questão já resolvida, na qual não devem as investigações estacionar.
Foi uma etapa preliminar, e quem não a percorreu não pode, em boa lógica, pretender-se espírita, ou estar realizando pesquisas espíritas.

É de lamentar que tal fato nem sempre seja percebido ou compreendido por pessoas que militam dentro das próprias fileiras espíritas.

Os espíritas, para quem a existência do espírito é uma realidade insofismável, por a havermos constatado através de observações e argumentos racionais, devemos deixar àqueles que ainda não a reconheceram a tarefa de prová-la uma vez mais, pela maneira que bem entendam.

Mas não devemos empenhar nossos esforços em uma investigação redundante, e que deporia contra as nossas próprias convicções. [8]

Três outros aspectos importantes no desenvolvimento do Espiritismo foram enfatizados por Kardec.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 05, 2013 10:42 pm

No item VII da Introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec afirma que "o Espiritismo não é da alçada da ciência". Evidentemente, trata-se aqui das ciências académicas, ou seja, da Física, da Química e da Biologia.

O argumento para tal assertiva baseia-se nas peculiaridades do objecto de estudo e métodos do Espiritismo e das referidas ciências, assunto este tratado na Seção 2, acima.

Vale a pena reproduzir aqui, por sua propriedade, o arrazoado que, no texto, antecede a assertiva em questão:
As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente.

Os fenómenos espíritas repousam na acção de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos.

As observações não podem, portanto, ser feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida.
Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem.

A ciência propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso, e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.

As relações entre o Espiritismo e as ciências ordinárias são, antes, de complementaridade, como também notou Kardec.

No parágrafo 16 do Capítulo I de A Génese, lemos a seguinte frase, ao final de uma extensa argumentação:
"O Espiritismo e a ciência completam-se reciprocamente".

O segundo aspecto importante a ser notado liga-se parcialmente ao precedente:
Kardec observa que não apenas existe uma relativa autonomia entre o Espiritismo e as ciências ordinárias como também os cientistas das academias não estão, pelo simples facto de serem cientistas, mais capacitados do que as demais pessoas para se pronunciar nas questões relativas ao Espiritismo.

O assunto é abordado, entre outros lugares, em uma das respostas ao Céptico de O que é o Espiritismo (Cap. I, Segundo diálogo, seção "Oposição da ciência").

Vejamos estes trechos significativos:
Concordai, também, que ninguém pode ser bom juiz naquilo que está fora de sua competência.

Se quiserdes edificar uma casa, confiareis esse trabalho a um músico?
Se estiverdes enfermo, far-vos-eis tratar por um arquitecto?
Se estais a braços com um processo, ides consultar um dançarino?

Finalmente, quando se trata de uma questão de teologia, alguém irá pedir a solução a um químico ou a um astrónomo?
Não cada um em sua especialidade. (...)

A ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica; foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamente, como já o fez com tantos outros. (...)

As corporações científicas não devem, nem jamais deverão pronunciar-se nesta questão ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.

Kardec lembra aqui que cada um é competente em sua especialidade, que alguém que haja se especializado no estudo de determinada ordem de fenómenos materiais (um físico ou um biólogo, por exemplo), não adquire, por esse simples fato, competência para se pronunciar sobre uma ordem de fenómenos completamente diferentes, a menos, obviamente, que essa pessoa tenha se dedicado séria e longamente ao seu estudo.

Não devemos, pois, cair no erro frequente hoje em dia de atribuir aos cientistas das academias uma superioridade que eles de fato não possuem na avaliação das pesquisas espíritas.

Por fim, Kardec tomou um extremo cuidado em preservar, e recomendar a preservação, da coerência e integridade da ciência espírita, pela não-intromissão em sua estrutura teórico-conceitual de elementos heterogéneos, oriundos de outros programas de pesquisa.

Kardec dotou o Espiritismo de um arsenal conceitual-nomológico próprio, e qualquer desenvolvimento da teoria espírita deve fazer-se recorrendo-se aos seus elementos, ou, se algum acréscimo se fizer necessário, o elemento adicionado não pode conflituar com as leis básicas bem estabelecidas do Espiritismo.

Notemos que precauções semelhantes são tomadas na evolução das ciências ordinárias.
No caso do Espiritismo, é admirável que ao propor o referido corpo de conceitos e leis, Kardec teve a lucidez de não admitir elementos demasiadamente vulneráveis às transformações futuras das ciências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 05, 2013 10:43 pm

É assim que o Espiritismo é uma teoria fenomenológica, pelo menos em seus fundamentos.
Kardec não se aventurou, por exemplo, a formular modelos para o perispírito, ou explicações técnicas para os fenómenos mediúnicos em termos de conceitos e princípios vulneráveis das ciências de seu tempo.

Retrospectivamente, vemos agora que isso providencialmente preservou o Espiritismo das reviravoltas profundas ocorridas nas ciências, durante as primeiras décadas de nosso século.
Espelhando-nos na atitude prudente de Kardec, não devemos, por nossa vez, procurar fazer o que ele não fez, e prematuramente associar o Espiritismo às teorias científicas contemporâneas.

A progressividade do Espiritismo, uma de suas características essenciais, dado que é uma ciência que se apoia em factos, não significa a absorção irrestrita de qualquer teoria que apareça.

Essa advertência foi claramente exposta no parágrafo 55 do Capítulo I de A Génese (grifamos):
Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, [o Espiritismo] assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que seja, desde que hajam atingido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que se suicidaria.

Não poderíamos encerrar estes apontamentos sem mencionar um ponto de crucial importância, sobre o qual Kardec não se cansava de insistir:
O objectivo essencial do Espiritismo é tornar melhor o homem, convencendo- o, através dos factos e da razão, de que somente o comportamento evangélico lhe assegurará um porvir feliz.

E é nessa tarefa de esclarecimento que a ciência espírita é chamada a desempenhar a sua mais importante tarefa, conforme lemos nos comentários que Kardec tece às questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos:
[...] A missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém pelos factos.

Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples suposição, de uma probabilidade sobre a qual cada um conjecture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas.

É a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se acham, relatar o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio a sorte inevitável que nos está reservada, de acordo como os nossos méritos e deméritos.

Haverá nisso alguma coisa de anti-religioso?
Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do fervor e da confiança.

O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião.
Se ele aí está, é porque Deus o permite, e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

REFERÊNCIAS

BORGES DE SOUZA, J. "Pesquisas e métodos", Reformador, abril de 1986, pp. 99-101.
CHAGAS, A. P. "O que é a ciência?", Reformador, março de 1984, pp. 80-83 e 93-95.
-----------. "As provas científicas", Reformador, agosto de 1987, pp. 232-233.

CHIBENI, S. S. "Espiritismo e ciência", Reformador, maio de 1984, pp. 144-147 e 157-159.
-----------. "Os fundamentos da ética espírita", Reformador, junho de 1985, pp. 166-169.
-----------. "A excelência metodológica do Espiritismo", Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. ----------. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
----------. Qu'est-ce que le Spiritisme. Paris, Dervy-Livres, 1975.
----------. O que é o Espiritismo. S. trad., 25ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

----------. La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme. Paris, La Diffusion Scientifique, s.d.
----------. A Génese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro, 23ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.

----------. Oeuvres Posthumes. Paris, Dervy-Livres, 1978.
----------. Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 05, 2013 10:43 pm

Notas de Rodapé

1
Em nosso artigo "Espiritismo e ciência" abordamos de modo mais extenso o aspecto científico do Espiritismo, à luz da moderna Filosofia da Ciência.
Retomamos o assunto no trabalho mais abrangente e menos técnico "A excelência metodológica do Espiritismo", que contém também uma análise do aspecto religioso do Espiritismo.

Em "Os fundamentos da ética espírita" examinamos com algum detalhe as implicações morais da ciência espírita.
Para o aspecto científico do Espiritismo, recomendamos ainda a leitura dos artigos "O que é a ciência" e "As provas científicas", de Aécio Pereira Chagas, e "Pesquisas e métodos", de Juvanir Borges de Souza.
As referências completas desses artigos, todos publicados em Reformador, encontram-se na lista bibliográfica, aposta no final deste artigo.


2Para um tratamento desse ponto, ver a Seção 3 de nosso "A excelência metodológica do Espiritismo".

3 Para um tratamento mais extenso desse tópico, ver nossos artigos já referidos.

4 Por exemplo, o ponto luminoso que vemos diariamente no céu poderia ser uma alucinação colectiva, ou a visita do parente pode não ter passado de um sonho, e a caixa de bombons pode coincidentemente ter sido trazida por um promotor de vendas ousado que por acaso tinha uma chave que serviu em nossa porta.

5 Oeuvres Posthumes, item "A minha iniciação no Espiritismo".
Nesta e nas demais citações de obras de Kardec, traduzimos directamente a partir das edições francesas indicadas na lista de referências bibliográficas, aproveitando, em grande parte, as traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira.


6 Le Livre des Esprits, Introdução, Seção XIII.

7 Esses estudos de Kardec são comentados em nosso artigo "A excelência metodológica do Espiritismo", especialmente em sua seção 4.

8 Para esse ponto, ver também o artigo "As provas científicas", de Aécio P. Chagas.

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, março 1991

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 06, 2013 10:16 pm

..Sílvio Seno Chibeni > O enobrecimento do Movimento Espírita

Artigos


O Espiritismo representa um património intelectual de alto valor.

Comprova, por meio de suas investigações científicas, a natureza espiritual e imortal do ser humano e as leis que regulam sua evolução.
Elaborado filosoficamente, esse conhecimento possibilita a fundamentação de um corpo de princípios morais capazes de colocar o homem no caminho seguro de sua felicidade.

Um exame do Movimento Espírita actual revela, no entanto, que ainda falta muito para que a actuação espírita reflicta, de forma mais fiel e completa, a nobreza do Espiritismo.
Os objectivos do Movimento – estudo, desenvolvimento, divulgação e vivência do Espiritismo – encontram-se parcialmente comprometidos por aberrações da prática espírita, propagação de teses incompatíveis com os fundamentos teóricos do Espiritismo, divulgação de material de má qualidade, assim como pelas polémicas irracionais, pelos ataques a pessoas e instituições, e, de um modo geral, por comportamentos anti fraternos entre os próprios espíritas.

Nós, espíritas, precisamos fazer uma reflexão isenta, madura e aprofundada sobre essa situação, contribuindo para que o Movimento se torne verdadeiramente digno do Espiritismo.

Apresentamos em seguida algumas sugestões preliminares para direccionar essa reflexão.

Aspectos Intelectuais:

1. Preservação do núcleo teórico espírita.
O Espiritismo, como toda disciplina científica, tem um núcleo de princípios teóricos básicos que fornece os elementos essenciais para a explicação dos fenómenos de que a teoria trata.

Esse núcleo foi estabelecido por Allan Kardec.
É em torno desse núcleo que o natural desenvolvimento da teoria deve realizar-se, por complementações e ajustes na parte menos central da malha teórica.
Estudar, divulgar e priorizar as obras básicas de Allan Kardec, eis nossa directriz metodológica central.

2. Tolerância intelectual.
Por definição, o espírita é alguém que, recorrendo à evidência racional e experimental fornecidas pelo Espiritismo, já se convenceu acerca da verdade dos aludidos princípios básicos.

No entanto, à semelhança do que ocorre com as disciplinas académicas, o Espiritismo tem áreas de fronteira, onde estão se dando os desenvolvimentos teóricos.
Nessas áreas há, naturalmente, questões ainda não resolvidas, que aguardam o concurso do tempo e dos esforços de pesquisa para o seu esclarecimento.

Faz parte essencial de toda actividade de pesquisa, tanto na ciência como na filosofia, a pluralidade de vistas acerca dessas questões em aberto.

Sem tolerância intelectual, a criatividade científica e filosófica ficaria impedida de contribuir para o avanço das disciplinas.
No meio espírita, há que se cultivar essa tolerância, aprendendo-se a conviver pacífica e construtivamente com opiniões divergentes acerca de problemas teóricos periféricos.
O direito ao livre exame deve ser respeitado sempre.

3. Prudência intelectual.
Por outro lado, as pesquisas nas áreas de fronteira devem ser conduzidas com grande prudência e equilíbrio, a exemplo do que fez Kardec, a fim de que o desenvolvimento teórico assente em bases seguras.

Muitas das questões debatidas no Movimento revelam-se, à luz de análises filosóficas rigorosas, serem questões mal formuladas, que não são, portanto, passíveis de solução.

Quanto às genuínas, seu esclarecimento é importante, porém não apressado.
Temos de ser pacientes intelectualmente, e não apenas em nossa vida comum.

O máximo cuidado deve ser exercido para se separar aquilo que já possui evidência cabal daquilo que constitui mera especulação ou opinião pessoal.
A exemplo dos fundadores de nossa tradição intelectual, os filósofos gregos da Antiguidade, devemos isentar nossas investigações de qualquer interesse pessoal; o único interesse legítimo deve ser a busca da verdade como um fim em si.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 06, 2013 10:16 pm

Aspectos Morais:

4. Fraternidade.
Nenhum espírita poderia, sob pena de agir de forma incompatível com seu conhecimento, resvalar para o campo da ironia, da indiferença, da discriminação, e muito menos da inveja, do ciúme, da rudeza e da calúnia contra quem quer que seja, e especialmente contra companheiros de ideal espírita.

A necessidade de uma elevação no padrão comportamental espírita é imperiosa e urgente, para que o valioso património intelectual de que somos guardiães não seja dilapidado.
Embora a correcção de nossos velhos hábitos não seja tarefa fácil, a abstenção de agir com animosidade e desamor relativamente aos espíritas que não pensam exactamente como nós está ao alcance de todos, com um pouco de reflexão e esforço.

Fraternidade já! Paz no Movimento Espírita!
Tratar todo e qualquer espírita como um irmão querido, independentemente de existir ou não divergências entre suas ideias e acções e as deles;
perdoar unilateralmente toda ofensa recebida; exercitar a indulgência.

Esses são nossos lemas morais de aplicação urgente.

5. Sinceridade.
A falta de sinceridade é um dos factores mais danosos ao relacionamento humano.
Especialmente aqueles que partilham um ideal superior, como nós os espíritas, temos de ser inteiramente transparentes relativamente às nossas preocupações, motivos e intenções.

Cada um poderá, assim, agir com maior segurança, e os projectos colectivos poderão ser desenvolvidos com racionalidade e previsibilidade.
Deve inspirar-nos aqui o exemplo de Paulo de Tarso, que adoptou para si essa regra de conduta e esforçou-se sempre para que vigorasse na comunidade cristã.

6. Humildade.
Complemento indispensável a essa regra de transparência é a humildade com que devemos receber toda apreciação de nossas ideias e actos partida de coidealistas que interagem connosco com espírito de sinceridade plena.

Partindo do facto inconteste de nossas imensas limitações intelectuais e morais, devemos receber as opiniões de nossos companheiros de doutrina com atenção e tranquilidade, aproveitando-as no que tiverem de bom para o aperfeiçoamento de nós próprios e de nossa obra colectiva.

Quanto ao que não houver consenso, confiemos no concurso do tempo e do desenvolvimento natural do conhecimento espírita para o devido esclarecimento.

Temos suficientes pontos em comum para nos unir. Melindre nunca!
Eis outro princípio fundamental para aplicação imediata.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Mar 06, 2013 10:16 pm

Sugestões de leitura:
Sobre os primeiros tempos do Movimento Espírita e a postura de Kardec diante de suas dificuldades:

Thiesen, F. e Wantuil. Z. Allan Kardec (3 vols.) 1ª ed., Rio, FEB, 1979/80.
Kardec, A. Obras Póstumas. Trad. L. O. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio, FEB, 1981.
Viagem Espírita em 1862. Trad. W. L. Rodrigues, 2ª ed., Matão, O Clarim, 1981.

Sobre o cuidado com as publicações espíritas:
• Kardec, A. “Deve-se publicar tudo o que dizem os Espíritos?” Revista Espírita, novembro 1859.
. “Exame das comunicações mediúnicas que nos são endereçadas” Revista Espírita, maio 1863.

Cintra, J. C. A. e Castilho, J. A. “Deve-se publicar tudo? E divulgar tudo o que se publica?” Reformador, abril de 1988, pp. 104-106.
Nazareth, J. Z. Critérios de selecção e divulgação do livro espírita Anuário Espírita 2002, pp. 17-21.
Sobre a ciência espírita, suas relações com as ciências académicas e suas implicações morais:

Chibeni, S. S. “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.
. “O paradigma espírita, Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.
. “O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso”, Reformador, agosto 2003, pp. 315-319, setembro 2003, pp. 356-359, outubro 2003, pp. 397-399.

Sobre a nossa condição de espírita:
Chibeni, S. S. Ser espírita, Mundo Espírita, julho 2003, caderno especial.

Sobre as personalidades e missões singulares de Francisco Cândido Xavier e Yvonne Pereira, bem como suas relações de estima e colaboração com instituições espíritas que desempenharam papel histórico importante na consolidação e preservação do Espiritismo:
Schubert, S. C. - Testemunhos de Chico Xavier. 1ª Ed., Rio, FEB, 1986.
Pereira, Y. A. - À Luz do Consolador. 1ª ed., Rio, FEB, 1997.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 07, 2013 9:20 pm

.. Sílvio Seno Chibeni > Entrevista

Artigos


Entrevista com Sílvio Seno Chibeni

Considerações preliminares (S. S. Chibeni):

Gostaria inicialmente de agradecer ao GEAE a oportunidade desta entrevista.
As questões propostas parecem-me bastante relevantes, dadas as dificuldades de compreensão do Espiritismo no Movimento Espírita actual.

No entanto, para que fossem adequadamente tratadas, seria preciso dispor de um espaço muitas vezes maior do que o que é razoável ocupar em uma entrevista deste tipo.

Ressalto, assim, a necessidade de os leitores complementarem seus estudos nas fontes pertinentes: os textos académicos de filosofia ou ciência e, no caso do Espiritismo, a vasta bibliografia de boa qualidade disponível, começando sempre pelas obras fundamentais de Allan Kardec.

Diversos tópicos desta entrevista foram analisados em artigos de minha autoria ou co-autoria, publicados na imprensa espírita.

Destacaria, em especial, os seguintes trabalhos:
* "Espiritismo e ciência", Reformador, maio de 1984, pp. 144-47 e 157-59.
* "A excelência metodológica do Espiritismo", Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.

* "Ciência espírita", Revista Internacional de Espiritismo, março 1991, pp. 45-52.
* "O paradigma espírita", Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.
* "Os fundamentos da ética espírita", Reformador, junho de 1985, pp. 166-9.

* "Por que Allan Kardec?" Reformador, abril de 1986, pp. 102-3.
* "Estudo sobre a mediunidade" (em co-autoria com Clarice Seno Chibeni), Reformador, agosto de 1997, pp. 240-43 e 253-55.

Outros artigos importantes sobre os temas desta entrevista e que nela serão eventualmente citados são:
* CHAGAS, A. P. "O que é a Ciência?", Reformador, março de 1984, pp. 80-83 e 93-95.
* ---. "As provas científicas", Reformador, agosto de 1987, pp. 232-33.
* ---. "O Espiritismo na Academia?", Revista Internacional de Espiritismo, fevereiro de 1994, pp. 20-22 e março de 1994, pp. 41-43 .

* ---. "A ciência confirma o Espiritismo?", Reformador, julho de 1995, pp. 208-11.
* ---. "Polissemias no Espiritismo", Revista Internacional de Espiritismo, setembro de 1996, pp. 247-49.
* XAVIER Jr., A. L. "Algumas considerações oportunas sobre a relação Espiritismo-Ciência", Reformador, agosto de 1995, pp. 244-46.

Alguns desses artigos encontram-se, ao lado de outros, disponíveis na Internet.

Consultem-se as páginas:
* Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp:
http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482

* Spiritism to the World:
http://www.ifi.unicamp.br/~xavier/spirit.html

* Federação Espírita Brasileira (Reformador):
http://www.febrasil.org.br

Nas transcrições de trechos das obras clássicas de Allan Kardec utilizei os originais franceses, aproveitando em grande parte as excelentes traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 07, 2013 9:21 pm

Para facilitar a exposição, as questões foram por mim reordenadas, numeradas e agrupadas, para constituir blocos temáticos: as duas primeiras versam sobre problemas semânticos, a terceira sobre a religião espírita e as restantes referem-se a vários aspectos das relações entre o Espiritismo e a ciência.

Questão 1:

a) Existe um problema de sentido de palavras que tem gerado polémicas no meio Espírita.
Trata-se da interpretação da própria palavra "Espiritismo".

Há os que interpretam a palavra em sentido mais amplo, como significando o estudo dos fenómenos mediúnicos e das comunicações com os Espíritos, neste sentido há razão em falar-se em "Espiritismo Kardecista" e "Espiritismo Cristão", pois o haveria também sem estar ligado à codificação elaborada por Kardec.

Outros são da opinião que compartilho, que a palavra "Espiritismo" se refere apenas à Doutrina Espírita, conforme a codificação de Kardec, empregando-se para os outros casos a designação de "Novo Espiritualismo", "Espiritualismo Moderno" e "Doutrina Espiritualista".

Neste caso, as designações "Espiritismo Kardecista" e "Espiritismo Cristão" seriam apenas um modo de dar ênfase a ideias embutidas na própria palavra, seriam redundâncias desnecessárias.

b) Um facto que dificulta a questão é o desenvolvimento histórico separado que seguiram os estudos das manifestações mediúnicas no mundo latino e no mundo anglo-saxão.

O mundo anglo-saxão tardou a aceitar a reencarnação e também se dividiu em uma infinidade de correntes de pensamento diferentes.
Parece-me que na época de Kardec esse fato ainda não estava muito claro e que na introdução do Livro dos Espíritos a definição da palavra "Espiritismo" tende ao sentido mais amplo.

c) Essa questão também se desdobra nas discussões em torno da Umbanda e do Candomblé, vertentes também baseadas em fenómenos mediúnicos, de surgimento posterior à codificação espírita e que, apesar de apresentarem características conflituantes com ela, são por alguns classificadas como Espiritismo.

Dentro dos estudos que o senhor tem feito a respeito das características da Doutrina Espírita, como vê essa questão?

Resposta à Questão 1:
A palavra 'Espiritismo' tem, de facto, sido utilizada com acepções bastante diversas.
Trata-se de um facto comum em toda linguagem natural; somente em linguagens artificiais, como por exemplo certas linguagens da lógica e da matemática, consegue-se evitar a polissemia.

As palavras, quer escritas, quer faladas, são símbolos com os quais representamos ideias ou conceitos.
Essa relação de representação é arbitrária, ou seja, associamos tal palavra a tal ideia de forma inteiramente livre e convencional.

A necessidade de comunicação, que constitui o principal objectivo da linguagem, recomenda-nos, no entanto, entrarmos em acordo com os outros integrantes de nossa comunidade linguística acerca dessas convenções, para se evitarem desentendimentos semânticos.

Nas linguagens ordinárias tal acordo estabelece-se de forma natural e muitas vezes inconsciente, possibilitando um razoável grau de comunicação, pelo menos quanto às noções do dia-a-dia.
Quando surgem noções novas ou complexas, porém, costuma ocorrer um período de indefinição ou confusão, que pode se prolongar muito, se não tomarmos as providências cabíveis, para que todos utilizem as mesmas palavras para designá-las.

Quando Allan Kardec deu início a uma nova abordagem dos fenómenos mediúnicos e anímicos - que sempre existiram, naturalmente -, preocupou-se com esse ponto, conhecedor que era da filosofia.
Dessa forma, percebendo que o desenvolvimento de uma nova teoria tipicamente envolve a criação de novos conceitos, cunhou diversos termos, nos casos em que se fazia absolutamente necessário, como 'Espiritismo', 'espírita', 'perispírito', 'mediunidade' e outros tantos, utilizados, por exemplo, para designar diversas noções da teoria dos processos mediúnicos.

Fez isso de forma deliberada e explícita, em diversas de suas obras.
Além desses neologismos, a teoria espírita exigiu a alteração dos significados de muitas palavras já em uso, como é o caso de 'Deus', 'anjo', 'demónio', 'céu', 'inferno', 'bem', 'mal', etc.

Nesses casos também Kardec indicou claramente as novas acepções dadas aos vocábulos.

Não obstante todas as precauções tomadas por Kardec, é inegável que muitas das palavras cuja acepção ele procurou fixar a bem da inteligibilidade vêm sofrendo desvios de significado por vezes bastante grandes, como se ressalta correctamente nos itens (a) e (c) da questão, em relação à própria palavra 'Espiritismo'.

Factos desse género ocorrem também nas diversas disciplinas académicas, porém em menor escala, dadas as peculiaridades das correspondentes comunidades linguísticas, formadas por indivíduos que passaram por longo e rigoroso (idealmente!) processo de formação.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Mar 07, 2013 9:21 pm

No caso do Espiritismo, porém, não há e nem deve haver uma formação oficial dos espíritas.

A preservação doutrinária e, por conseguinte, linguística, do Espiritismo fica, assim, na dependência do empenho de cada pessoa e de cada instituição (centro, federação, editora) em estudar profundamente os textos básicos, mantendo-os constantemente como referência ou paradigma, ainda que complementações e ajustes periféricos se façam eventualmente necessários (veja-se o artigo "O paradigma espírita", citado no início).

Ora, é isso o que pouco se vê no Movimento Espírita actualmente.

Somente alguns lêem; poucos estudam; raros compreendem.
Faltam reuniões de estudo de Espiritismo em muitos centros.

Editoras, revistas e jornais proliferam sem limites, e publicam sem critérios doutrinários rigorosos.

O resultado não poderia ser outro:
confusões, desorientações e disputas quase generalizadas.

O que fazer?

Um pouco de reflexão mostra que os problemas de linguagem do Movimento Espírita não podem ser resolvidos com determinações impositivas deste ou daquele teor, ou de apelo a dicionários.

Os filósofos contemporâneos têm ressaltado que o conteúdo semântico do vocabulário de uma disciplina pode ser delimitado por meio de definições explícitas, mas apenas parcial e preliminarmente.

O que confere significado completo e estável às palavras é sua utilização em corpos teóricos coerentes e com potencial elucidativo de uma determinada gama de fenómenos.

Considere-se, por comparação, as definições de 'massa', 'força impressa', 'inércia', etc.
que Newton fez figurar no início de sua monumental obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica.

É claro que elas servem para indicar algo, porém se forem isoladas da teoria mecânica desenvolvida no restante do livro perderão inteligibilidade e conteúdo cognitivo.

Ou, para tomar um exemplo negativo, analisem-se as propostas de investigação que surgiram com a pretensão de substituir o Espiritismo, como a metapsíquica e a parapsicologia.

À falta de teorias completas e coerentes - pois que não as têm - tais disciplinas viram-se e ainda vêem-se a braços com notória proliferação terminológica que, não obstante sua aparente sofisticação, pouco parece contribuir para a veiculação de conceitos inteligíveis, com conteúdo empírico e fertilidade heurística.

No caso do Espiritismo, Kardec e alguns dos seus continuadores mais lúcidos trataram de desenvolver o arcabouço linguístico simultaneamente com uma teoria dotada de todas as principais características de uma boa teoria científica, e na medida estrita da necessidade de expressão simbólica dos conceitos envolvidos.

Desse modo, para o estudioso atento e esclarecido do Espiritismo não há lugar para dúvidas e mal-entendidos acerca das noções e princípios fundamentais.

As confusões que se notam nos meios espíritas ou semi-espíritas não provêm de falhas estruturais ou conceituais no programa de pesquisa espírita iniciado por Kardec, mas da falta de preparo e de estudo sério, conforme já ressaltei.

O remédio é, pois, único e fácil de encontrar, mas de difícil aplicação.
Requer-se uma mudança de atitude intelectual e prática, que começa pelo reconhecimento do valor paradigmático das realizações de Kardec, passa pela disposição de colocar a doutrina acima de vaidosas concepções pessoais e falsas necessidades de modernização, e culmina com a instituição de uma política sistemática e pertinaz de valorização do estudo e do rigor doutrinários nos centros, federações e editoras.

É justo registar aqui que é ao longo dessas linhas que se vem pautando a actuação de diversos indivíduos e instituições respeitáveis no Movimento Espírita, do tempo de Kardec aos nossos dias, cabendo destacar, por seu vulto e ancianidade, as contribuições da Federação Espírita Brasileira.

Em torno desse núcleo é que devemos nos reunir, somando esforços na preservação do património inestimável que Kardec nos legou.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 08, 2013 10:38 pm

Para finalizar, retomo de forma mais tópica alguns dos pontos da questão formulada.
Acho sensata a opinião expressa no item (a) da pergunta, de que se deveria reservar a palavra 'Espiritismo' para designar aquilo para que foi cunhada, ou seja, a doutrina, teoria, paradigma, ou programa de pesquisa iniciado por Kardec.

A afirmação feita no item (b), de que "na introdução do Livro dos Espíritos a definição da palavra 'Espiritismo' tende ao sentido mais amplo" apontado não me parece inteiramente justa.

No item I dessa Introdução Kardec traça a distinção clara entre o espiritualismo e a doutrina que vai ser exposta no livro - e se encontra, aliás, resumida na própria Introdução, item VI - cunhando o termo 'Espiritismo' para designar esta última.

Lembremos ainda que a Introdução só veio à luz com a segunda edição do livro, em 1860, quando já vários anos haviam transcorrido desde a delimitação e consolidação do corpo doutrinário, mesmo antes da publicação da primeira edição, em 1857, e após ela com o lançamento de diversas outras obras, inclusive a Revue Spirite.

Não havia pois à época nenhuma indefinição no pensamento de Kardec quanto à natureza do Espiritismo e, por conseguinte, no emprego que fazia da palavra 'Espiritismo' (salvo talvez passagens isoladas em que o contexto permitia uma flexibilização do escopo do termo, sem que com isso se instaurassem confusões).

Retomando o curso principal da argumentação, se outras pessoas utilizam a palavra 'Espiritismo' com acepções diversas da original, para designar, por exemplo, o espiritualismo ou o "novo espiritualismo", ou seitas mediunistas afro-brasileiras, quase nada podemos fazer, dado o respeito que devemos ter pela liberdade de expressão.

A única medida eficaz que podemos tomar é a de insistir no seu uso original, em todas as ocasiões que se nos deparem, fazendo ver as diferenças doutrinárias existentes entre as abordagens.

Há, ou podem ser criadas, palavras em número suficiente para designar sem ambiguidade todas as teorias, doutrinas ou seitas.
Não creio que devamos apelar para artifícios aparentemente mais fáceis, como o de acrescentar adjectivos diversos ('kardecista', 'cristão', etc.) ao termo 'Espiritismo'.

Se descuidarmos da preservação doutrinária nas instituições e publicações, tais expressões sofrerão, a seu turno, desvios de significado, que terão de ser corrigidos novamente com mais acréscimos, num processo sem fim certo.

Questão 2:

Outra afirmativa que se ouve periodicamente é a necessidade de actualização dos termos técnicos utilizados no Espiritismo.

Para algumas pessoas o uso de termos como "fluidos", "mediunidade", etc. prejudica a posição científica do Espiritismo.

Há alguma fundamentação, dentro da filosofia da ciência, para essas críticas?
O Espiritismo, sendo uma ciência independente, dedicada ao estudo de fenómenos que escapam ao escopo das ciências clássicas, não teria a liberdade de definir seus próprios termos?

Historicamente o Espiritismo precede a Metapsíquica e a Parapsicologia, também é anterior às novas concepções de matéria e energia da Física Moderna, não lhe daria tal posição, de pioneiro no estudo e definição dos fenómenos, o direito de estabelecer sua própria nomenclatura?

Resposta:
As considerações sobre a natureza da linguagem apresentadas na resposta à Questão 1 já forneceram o essencial para esclarecer o presente problema.

Igualmente, as afirmações implícitas nas próprias interrogações do final da questão quase que me dispensam de respondê-la.
Todavia, gostaria de acrescentar algo em sentido explícito.

De facto, propostas de revisão do vocabulário técnico do Espiritismo são bastante comuns hoje, especialmente por parte de pessoas com alguma familiaridade com as disciplinas académicas.

Os termos mencionados como exemplo parecem, em particular, causar certo incómodo, sendo frequentemente substituídos por palavras como 'energia' e 'paranormalidade', 'sensibilidade', etc.

Imagina-se estar assim conferindo maior cientificidade ao Espiritismo, livrando-o de noções "ultrapassadas" do século XIX.

Ora, o mais elementar senso filosófico mostra que não é no vocabulário que assenta o carácter científico ou não de uma disciplina.
As palavras são, como já foi lembrado, meros símbolos para a expressão de conceitos; se estes não encontrarem respaldo em uma teoria científica coerente, abrangente e empiricamente adequada, de nada adiantará modificá-las.

Por outro lado, uma teoria científica não será substancialmente alterada pela modificação de seu vocabulário.
Logo, qualquer alegação de que o Espiritismo tem de passar por uma actualização não pode limitar-se à substituição de palavras, como ingenuamente se procura fazer.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 08, 2013 10:38 pm

Essa alegação só se poderia justificar a partir de uma análise profunda, exaustiva e meticulosa da teoria espírita e de todos os factos de que trata, que revelasse racionalmente que ela não lhes dá explicação adequada, ou contém falhas de consistência lógica, propondo-se concretamente uma outra teoria melhor que a possa substituir.

No parágrafo 14, n. 8, de O Livro dos Médiuns Kardec resume as condições para uma crítica sustentável do Espiritismo (e, aliás, de qualquer outra ciência) que, por sua lucidez e actualidade, merece ser aqui reproduzida:
O Espiritismo não pode considerar crítico sério senão aquele que tudo tenha visto, estudado e aprofundado com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que do assunto saiba tanto quanto o adepto mais esclarecido; que haja, por conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances da ciência;
aquele a quem não se possa opor facto algum que lhe seja desconhecido, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação faça, não por mera negação, mas por meio de outros argumentos mais peremptórios; aquele, finalmente, que possa indicar, para os factos averiguados, causa mais lógica do que a que lhe aponta o Espiritismo.

Tal crítico ainda está por aparecer.

Esse trecho serviu de mote para o meu artigo "A excelência metodológica do Espiritismo", citado no início da entrevista, no qual procuro mostrar, ainda que de forma breve e simplificada, que as condições para uma revisão do Espiritismo em nome da cientificidade até hoje não foram satisfeitas.

A teoria espírita kardequiana tem tudo o que é essencial para sua classificação como uma ciência genuína, à luz das concepções atuais da filosofia da ciência.

Não é naturalmente o caso de repetir aqui o que expus nesse trabalho e em outros sobre o mesmo tema.
No entanto, parece-me importante particularizar um pouco a análise com vistas aos exemplos dados na pergunta.

A palavra 'mediunidade' foi criada por Kardec para designar a faculdade que certos indivíduos possuem de servir, em maior ou menor grau e de modos diversos, de intermediários entre os Espíritos e os homens.

Essa noção recebeu precisão e conteúdo cognitivo por sua inserção em uma teoria completa dos fenómenos mediúnicos, exposta principalmente no Livro dos Médiuns (ver o artigo "Estudo sobre a mediunidade").

Embora ela se encontre, como qualquer teoria, em contacto periférico com teorias de áreas contíguas, de dentro e de fora do Espiritismo, possui bases de sustentação autónomas, não tendo que sofrer alterações substanciais ou terminológicas em virtude do que possa ocorrer nesses domínios conexos.

As modificações que se têm proposto para o Espiritismo geralmente limitam-se ao plano linguístico, como se se tivesse vergonha de escrever ou pronunciar as palavras 'médium' e 'mediunidade', preferindo-se antes adornar o discurso com termos rebuscados, provenientes de linhas de investigação incipientes ou pseudocientíficas, como a metapsíquica, a parapsicologia e diversas vertentes ligadas à psicologia ou mesmo a doutrinas orientalistas.

É evidente que isso só contribui para aumentar as dificuldades de compreensão e comunicação ou, o que é pior, para dispersar as pesquisas relativamente ao núcleo teórico paradigmático da ciência espírita, com graves repercussões para o seu desenvolvimento.

Constitui facto reconhecido entre os filósofos da ciência contemporâneos que as substituições de conceitos e teorias numa ciência somente se justificam pela degeneração global do programa de pesquisa no qual se inserem, juntamente com o fornecimento efectivo de um programa alternativo que o suplante em coerência, abrangência, precisão e fertilidade heurística. Ora, não padece dúvida para qualquer estudioso isento que nada disso sequer esboçou-se no caso do Espiritismo.

Considerações semelhantes aplicam-se à palavra 'fluido'.

É certo que ao cunhar a expressão 'fluidos espirituais' para denotar certos elementos materiais "subtis" que tomam parte em processos diversos examinados pelo Espiritismo, como a acção dos Espíritos sobre a matéria ordinária (mediunidade, curas, passes, etc.), ou a constituição dos corpos e da ambiência dos Espíritos (perispírito, objectos do mundo espiritual, etc.), Kardec procurou analogias, ainda que ténues, com certos elementos que, segundo as melhores teorias físicas da época, participariam dos fenómenos eléctricos, magnéticos ou térmicos, os chamados fluidos eléctrico e magnético, e o calórico, igualmente invisíveis, subtis, imponderáveis.

Ora, como não houve mais do que analogia e apropriação de um símbolo linguístico para construir uma expressão nova - 'fluidos espirituais', que em geral se simplificava para 'fluidos', dentro do contexto espírita - , não se segue que a teoria espírita tenha de ser modificada terminológica ou substancialmente na caracterização dos referidos processos porque as teorias físicas que sugeriram as analogias tenham sido alteradas ou substituídas no curso evolutivo da física.

Um historiador da ciência bem informado seguramente poderá encontrar diversas situações semelhantes no âmbito das ciências académicas.

Reportemo-nos de passagem ao que aconteceu na química quando as teorias físicas sobre a estrutura da matéria se alteraram na década de 1920, com o desenvolvimento e aceitação da mecânica quântica.

Embora os químicos tenham levado em conta a nova teoria física, dada a proximidade e as intersecções entre as áreas, tendo-se mesmo criado ramos e técnicas de cálculo novos na química, as concepções e métodos referentes às ligações químicas, estruturas moleculares, etc. continuaram mais ou menos como eram, em um amplo espectro de investigações teóricas e experimentais.

Voltando ao caso do Espiritismo, salienta-se bem na pergunta que "ele constitui uma ciência independente, dedicada ao estudo de fenómenos que escapam ao escopo das ciências clássicas", tendo "a liberdade de definir seus próprios termos"; e, poderia acrescentar, seus conceitos e teorias.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Mar 08, 2013 10:38 pm

Modificações nesses pontos só se legitimariam, repito, na medida em que análises rigorosas internas ao programa científico espírita indicassem sua necessidade.

Ainda com relação à noção de fluido, deve-se notar que ela não é abominada na física, como parecem sugerir os reformistas.
Em primeiro lugar, cumpre notar que todos os líquidos e gases são fluidos, e seu estudo é feito em diversas áreas da ciência, como a hidrodinâmica.

Depois, quanto à electricidade, magnetismo e termodinâmica, as teorias atuais prescindem dessa noção no nível operacional, tendo assumido feições preponderantemente matemáticas e preditivas.

Quando se desce à análise de fundamentos - e raros cientistas dedicam-se a isso actualmente - percebe-se que, à semelhança das demais teorias da física, estão envoltas em problemas conceituais graves.

Não é nada claro, por exemplo, o que seja um campo eléctrico ou magnético, não do ponto de vista de sua caracterização matemática, é claro, mas de sua representação intuitiva, de sua essência, do modo pelo qual surge, se propaga e causa certos fenómenos.

Lembremo-nos, incidentalmente, que os próprios pais da teoria electromagnética, como Faraday e Maxwell, jamais dispensaram o conceito de fluido quando se tratava de explicar - e não simplesmente calcular - os fenómenos.

Dir-se-á talvez que Einstein baniu esse conceito da ciência ao criar a teoria da relatividade restrita em 1905.
Embora essa afirmação se tenha tornado comum em certos círculos, entre os especialistas em fundamentos não há consenso algum sobre o ponto, não obstante seja claro que o chamado "éter electromagnético" regido por leis mecânicas não compareça na aludida teoria.
Mas essa não é a única teoria da ciência, nem tampouco está isenta de dificuldades conceituais e teóricas diversas.

Evidentemente, este não é o lugar para adentrar esse tópico complexo.
Fica, porém, uma advertência aos espíritas de boa vontade para que não se deixem influenciar facilmente por tais assertivas, antes que façam estudos profissionais, que levem em conta, por exemplo, a teoria da relatividade geral e todas as perplexidades que envolvem as teorias do espaço-tempo e da cosmologia contemporâneas.

Apenas para concluir, vale mencionar que virou moda nos meios espíritas e semiespíritas a substituição da palavra 'fluido' por 'energia', sempre no pressuposto de que é por aí que vai a ciência.

Ora, assim como as noções de espaço, tempo, força, massa, carga eléctrica, campo, etc., a noção de energia é objecto de inúmeras dificuldades conceituais, não se ganhando nada em clareza, precisão e cientificidade com a sua utilização, muito pelo contrário.

Ademais, esse uso apresenta o inconveniente de se dar numa área distante da área de sua criação original, a física, representando uma enxertia no programa científico espírita, fonte certa de confusões.

A respeito da utilização das noções das palavras 'fluido', 'energia' e 'magnetismo' no Espiritismo, recomendo a leitura do artigos do prof. Aécio P. Chagas, "Polissemias no Espiritismo" e "A ciência confirma o Espiritismo?", indicados no início.

Outra análise profissional do emprego impróprio de noções científicas, em particular da noção de energia, no Espiritismo é feita no artigo "Algumas considerações oportunas sobre a relação Espiritismo-Ciência", de Ademir L. Xavier Jr., que também consta da lista de referências especiais que dei no início.

Questão 3:

a) Dentro dos conceitos atuais da ciência e da filosofia, como poderíamos classificar o Espiritismo?
O que lhe parece a clássica apresentação do Espiritismo como uma doutrina de consequências científicas, filosóficas e religiosas?

b) Considerando esta forma de apresentar a doutrina, segundo seus aspectos básicos, qual seria a diferença entre dizer-se "consequências religiosas" e "consequências morais"?

c) No GEAE tem-se discutido muito a aplicação da designação de "Religião" para o Espiritismo, aparentemente não há divergências quanto à classificação de "Ciência" ou "Filosofia".
No seu ponto de vista, como professor dedicado ao estudo da Filosofia e da Ciência, o que caracteriza uma "Religião", ou seja, quais são os limites entre "Ciência", "Filosofia", "Moral" e "Religião" - onde uma termina e começa a outra?

O Espiritismo, dentro dessa classificação, é uma "Religião"?

Resposta:
A perspectiva para a compreensão do Espiritismo apontada no item (a) parece-me correta, desde que se mude um pouco a forma de expressão.

Dizer que ele é uma doutrina "de consequências" científicas, filosóficas e morais implica considerá-lo como uma quarta coisa, da qual decorreriam essas consequências.
Na verdade, poderíamos afirmar que ele constitui uma ciência associada a uma filosofia e a um sistema moral, ou, mudando a ênfase, uma filosofia com bases científicas e implicações morais.

Quanto aos itens (b) e (c), cumpre lembrar inicialmente que a moral (ou ética) é uma das áreas da filosofia, investigada com atenção por filósofos de todas as épocas, desde a Grécia Antiga até nossos dias.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 09, 2013 10:00 pm

De modo muito simplificado, poderíamos defini-la como o estudo do bem e do mal.
Seu problema fundamental é o estabelecimento de critérios pelos quais se possam distinguir as acções em boas e más, certas e erradas, ou, sob outro ângulo, avaliar criticamente os critérios propostos para tal fim pelas diferentes religiões, ideologias, sistemas políticos, etc.

Nunca houve uma sociedade humana civilizada totalmente destituída de códigos morais que estabeleçam limites para as acções dos indivíduos.

Nos primórdios da civilização tais códigos usualmente baseavam-se nas concepções religiosas vigentes, a seu turno amplamente dependentes do ensino de indivíduos considerados especiais, tais como profetas, pitonisas, gurus, etc.

Tais pessoas muitas vezes alegavam dispor de meios incomuns, sobrenaturais, de comunicação com a própria Divindade ou divindades; as suas doutrinas eram, pois, tidas como "revelações".

Especialmente a partir do Renascimento (séculos XV e XVI, digamos), a autoridade moral das religiões estabelecidas em tais bases começou a ser mais e mais questionada.

O movimento intelectual de valorização das faculdades cognitivas naturais - a razão e a observação - encontrou terreno preparado pelas fragilidades teóricas do revelacionismo religioso que, ademais, havia tantas vezes convivido, legitimado ou participado directamente de acções pessoais e institucionais em franco desacordo com um certo sentido ético natural do ser humano.

Sob a influência vigorosa de grandes filósofos do período moderno, entre os quais cumpre destacar o inglês John Locke (1632-1704), as legislações civis dos povos mais esclarecidos foram se dissociando dos sistemas religiosos, quaisquer que fossem.

Pontos altos desse processo foram, por exemplo, as revoluções inglesa (1688) e francesa (1789), e a assinatura da Constituição Americana (1789).
Em todos esses episódios, os códigos de direitos e deveres dos cidadãos resultaram de acordos sociais tácitos ou explícitos.

Os filósofos académicos modernos desenvolveram seus estudos éticos sob perspectivas diversas e nem sempre compatíveis umas com as outras, mas que em geral excluem consciente e explicitamente quaisquer fundamentos religiosos, teológicos ou místicos.

A moral sempre constituiu parte integrante das religiões.
No entanto, estas não se resumem à proposição e defesa de sistemas morais, incluindo, de modo típico, cultos, liturgias e rituais diversos, hierarquias de poder, princípios teológicos abstractos sem relação directa com a questão da conduta humana, etc.

Foi essa bagagem-extra, aliás, o que mais repulsa causou aos chamados "livres-pensadores", responsáveis pela renovação da filosofia e da ciência a partir do Renascimento, tendo conduzido, por um processo compreensível de exacerbação, ao ateísmo e ao materialismo, em graus sem precedentes na história da humanidade.

Perdidas as bases religiosas tradicionais, a ética teve dificuldades para estabelecer princípios de conduta objectivos.
Nasceu daí uma vertente bastante visível na sociedade hodierna, que é o chamado "relativismo ético", segundo o qual o que é certo ou errado, bom ou ruim, depende da pessoa, do grupo social, da época, etc.

De forma oportunista, intelectuais ou pseudo-intelectuais têm explorado esse canal para tentar legitimar os mais aberrantes comportamentos individuais ou grupais, contribuindo assim decisivamente para a degeneração das estruturas psicológicas e sociais.

No campo da filosofia académica, existem propostas éticas não-religiosas que procuram refutar o relativismo, dividindo-se em duas grandes classes: os sistemas éticos racionalistas ou aprioristas, como o de Immanuel Kant (1724-1804), e os sistemas utilitaristas, desenvolvidos mais amplamente por Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873).

Pode-se afirmar com razoável segurança que o efeito prático das abordagens éticas do primeiro tipo sobre as sociedades contemporâneas é virtualmente nulo, por razões que não vem ao caso examinar aqui.

Quanto à segunda proposta, embora a palavra 'utilitarismo' tenha impropriamente adquirido uma conotação negativa fora dos círculos filosóficos, é inegável que repercutiu de forma profunda no estabelecimento dos melhores sistemas sociais existentes, quer do ponto de vista material, quer dos direitos humanos e do fomento às artes, ciências e filosofia.

Mesmo nessas sociedades, porém, assiste-se hoje à crescente desvalorização das avaliações a longo prazo das acções humanas, com o esquecimento dos princípios filosóficos seguros que nortearam os seus fundadores, abrindo-se largos espaços para o referido relativismo moral.

Quando devidamente compreendido, o Espiritismo traz contribuições inestimáveis a todo esse panorama da ética, tão imperfeitamente esboçado aqui.
Refinando e estendendo o conhecimento acerca do ser humano, ele permite a elaboração de uma ética objectiva e clara, explorando, com adaptações, a vertente iniciada por Bentham e Mill.

Tratei desse assunto nos artigos "Os fundamentos da ética espírita" e "A excelência metodológica do Espiritismo" (seção 5), cujas referências foram dadas no início da entrevista, devendo ser consultados para o desenvolvimento e conclusão desta resposta.

Em diversas de suas obras, Kardec deu grande importância ao estabelecimento da moral espírita, abordando o assunto em profundidade.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 09, 2013 10:00 pm

Mostrou que com o conhecimento científico espírita a moral deixa de ser uma questão de especulações abstractas ou de opiniões, estando indissociavelmente ligada ao estudo das consequências das acções humanas em conexão com a busca da felicidade, objectivo comum de todos os seres humanos.

Ressaltou ainda que o corpo de princípios morais obtidos por essa via racional-experimental coincide com aquele proposto por Jesus.
Assim, conforme registrou no parágrafo 56 do primeiro capítulo de A Génese, o Espiritismo "[dá] por sanção à doutrina cristã as próprias leis da Natureza".

Ora, na medida em que fornece ao homem conhecimento seguro das regras de conduta capazes de harmonizá-lo consigo mesmo e com os demais seres, o Espiritismo torna-se "o mais potente auxiliar da religião", conforme nota Kardec nos lúcidos comentários adidos às questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos.

A religião aqui aludida não se confunde, evidentemente, com as doutrinas religiosas tradicionais, com todo o seu conjunto de dogmas e práticas exteriores, sendo antes a religião no sentido próprio do termo, a religação da criatura ao Criador.

A velha questão de se o Espiritismo é ou não uma religião não admite, pois, resposta unívoca, dada a duplicidade semântica do termo 'religião'.
Esse ponto foi magnificamente estudado e, para o bom entendedor, esgotado, no texto de Kardec intitulado "Le Spiritisme est-il une religion?", que apareceu na Revue Spirite de 1868.

(Esse artigo foi transcrito na colectânea L'Obsession, editada em Farciennes, Bélgica, pela Éditions de l'Union Spirite, 1950, pp. 279-92; uma tradução confiável para o vernáculo, de Ismael Gomes Braga, pode ser encontrada no Reformador de março de 1976.)

Para encerrar, vejamos estes parágrafos do famoso artigo:
[...] o Espiritismo é, assim, uma religião?

Sim, sem dúvida, senhores:
No sentido filosófico o Espiritismo é uma religião, e disso nos honramos, pois que é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos não em uma simples convenção, mas sobre a mais sólida das bases: as próprias leis da Natureza.

Por que então declaramos que o Espiritismo não era uma religião?
Pela razão de que há apenas uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, segundo a opinião geral, o termo religião é inseparável da noção de culto, evocando unicamente uma ideia de forma, com o que o Espiritismo não guarda nenhuma relação.

Se se tivesse proclamado uma religião, o público nele não veria senão uma nova edição, ou uma variante, se quisermos, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, cerimónias e privilégios; não o distinguiria das ideias de misticismo e dos enganos contra os quais se está frequentemente bem instruído.

Não apresentando nenhuma das características de uma religião, na acepção usual da palavra, o Espiritismo não poderia nem deveria ornar-se de um título sobre cujo significado inevitavelmente haveria mal-entendidos.

Eis porque ele se diz simplesmente uma doutrina filosófica e moral.

Considerações preliminares às respostas das Questões 4 a 7, sobre a ciência espírita e temas correlacionados (S. S. Chibeni):

Essas questões finais são relevantes, dada a autoridade de que a ciência desfruta hoje em dia.
É fácil constatar que esse fato é frequentemente explorado para induzir à aceitação de determinadas teses, processos, produtos, sistemas políticos, etc.

Há um efeito quase que intimidador associado à rotulação de algo como 'científico'.

Bens de consumo variados, desde cremes dentais até sofisticados aparelhos electrodomésticos são ditos terem sido elaborados por processos científicos, ou submetidos a testes científicos.

Geralmente despreparadas para avaliar por si próprias se, em cada caso, a qualificação é ou não pertinente, as pessoas tornam-se vítimas de manipulações diversas.

Mesmo no plano das ideias e teorias - e isso é o que mais de perto nos interessa aqui -, a demanda por cientificidade é notória.
Diversas disciplinas mais recentes na história do pensamento, ou menos seguras de seus fundamentos e métodos, procuram de alguma forma modelar-se pelas disciplinas mais estabelecidas e bem sucedidas, como a física, a química e a biologia, inquestionavelmente consideradas científicas.

Em nome desse processo de modelagem, porém, têm-se produzido verdadeiras aberrações científicas, que retardam o desenvolvimento das disciplinas nascentes ou em vias de consolidação.
Embora a proposta de aprender-se algo acerca da natureza da ciência, ou do chamado "método científico", pela inspecção das disciplinas paradigmaticamente científicas seja adequada e mesmo indispensável, a falta de preparo filosófico tem amiúde levado ao seu fracasso parcial ou total.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Mar 09, 2013 10:01 pm

Um elemento central na análise da ciência é a distinção entre teoria, método e objecto de estudo.
As diversas ciências distinguem-se, em primeira instância, por seus objectos de estudo, os conjuntos de fenómenos que investigam.

Fenómenos mecânicos, eléctricos, magnéticos e nucleares, por exemplo, são do escopo da física;
a formação e dissociação de moléculas constitui objecto de estudo da química;
a vida, em muitas de suas expressões, é examinada pela biologia.

Existem, naturalmente, pontos de contacto, intersecções e hibridações entre as ciências, mas isso não invalida a distinção fundamental apontada.

Ora, dada a diversidade de objectos de estudo, haverá diferenças expressivas nos métodos e características teóricas das várias ciências.
A identificação de elementos comuns entre elas é tarefa mais difícil do que à primeira vista parece, constituindo um tópico dos mais importantes da área da filosofia denominada filosofia da ciência.

Em alguns dos artigos mencionados no início da entrevista, procurei apresentar alguns traços gerais dessa disciplina, em conexão com o exame do aspecto científico do Espiritismo.

Uma tese central ali defendida é que o Espiritismo, tal como estruturado por Allan Kardec, exibe todas as características de uma genuína ciência, à luz da filosofia da ciência contemporânea.

A ciência espírita têm por objecto de estudo o elemento espiritual do ser humano, que se manifesta em múltiplos fenómenos psicológicos, sociológicos, anímicos e mediúnicos, sendo estes últimos os que desencadearam as pesquisas iniciais e permitiram o estabelecimento das leis fundamentais da teoria.

Naqueles trabalhos argumento, ademais, que o Espiritismo constitui a única abordagem científica disponível para essa gama de fenómenos.

As propostas alternativas surgidas após ele invariavelmente incorreram nas aludidas distorções de concepção, por falta, entre outras coisas importantes, de uma adequada percepção das diferenças de objectos de estudo relativamente às ciências exactas.

Possuindo conhecimentos sólidos das ciências e da filosofia, Kardec reconheceu-as prontamente, apontando-as em diversas de suas obras, como por exemplo no item 7 da Introdução de O Livro dos Espíritos e ao longo das primeiras partes de O que é o Espiritismo e O Livro dos Médiuns.

Estruturou então a teoria espírita em conformidade com as peculiaridades dos fenómenos de que trata, conferindo-lhe, ademais, consistência lógica, simplicidade, poder explicativo, abrangência, coerência e integração harmónica com ciências limítrofes, atributos igualmente necessários para qualquer disciplina que queira fazer jus ao título de 'científica'.

Feitas essas observações, posso adentrar agora mais directamente os tópicos específicos das perguntas formuladas.

Questão 4:

Costuma-se dizer que a "Ciência" aprova ou rejeita determinado ponto.

O que podemos entender por isso?
Existe realmente uma "posição oficial" da ciência?
Nesse caso quais seriam os órgãos ou pessoas que poderiam ter tal prerrogativa, de determinar a posição oficial da ciência?

Nos parece que pela época de Kardec essa frase normalmente se referia as grandes academias e aos órgãos oficiais dos estados europeus, há hoje algum equivalente?

Resposta:
Esses problemas já foram tratados de modo seguro e esclarecedor em dois artigos do Prof. Aécio P. Chagas, "O que é a Ciência?" e "A Ciência confirma o Espiritismo?", incluídos na lista de referências bibliográficas especiais do início da entrevista.

Não me cabe aqui reproduzi-los.
Relembrarei alguns dos tópicos principais de sua análise e estenderei um pouco a discussão para responder de forma explícita o que se pergunta aqui.

Uma distinção importante destacada nos referidos trabalhos é aquela entre "ciência conhecimento", "ciência-actividade" e "ciência-comunidade".

Quando se afirma que a ciência aprova isso ou aquilo, pode-se estar querendo dizer duas coisas:
Ou que a coisa faz parte, ou pode ser deduzida, do corpo teórico paradigmático de uma das ciências maduras (física, química e biologia);
ou, em sentido secundário, que a comunidade científica tem uma opinião mais ou menos geral a seu respeito, embora ela ainda não faça parte de nenhuma teoria bem estabelecida.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 10, 2013 9:37 pm

A ideia de uma "posição oficial" da ciência só é razoável se entendida com referência às teorias que, à época, integram os paradigmas das ciências maduras.

Felizmente, não existe na ciência um Conselho Supremo (como o de certas religiões, partidos ou governos) que decida qual é a ortodoxia.
Faz parte da própria natureza da ciência contemporânea a pulverização do poder de avaliação em um sem-número de instâncias, entre as quais encontram-se as academias, departamentos universitários e institutos de pesquisa, agências de fomento e, principalmente, os periódicos especializados.

Os profissionais académicos não ignoram que esses jornais e revistas canalizam hoje o grosso da produção científica, possuindo complexo sistema de filtragem que em inglês se chama de "double-blind refereeing":
os trabalhos submetidos para publicação são enviados anonimamente a vários membros conceituados da própria comunidade, científica que os examinam criticamente e anonimamente.

Teses discrepantes dos paradigmas que não sejam maciçamente apoiadas por evidências experimentais e argumentos racionais são barradas por esse sistema.

Se quisermos, podemos dizer que conflituam com a "posição oficial", mas apenas nesse sentido específico.
Não estou afirmando que o sistema seja infalível, mas ao lado de procedimentos semelhantes de rigor na preparação de profissionais, contratação, etc., asseguram o delineamento das teorias, técnicas e processos da ciência, possibilitando o seu progresso.

No tempo de Kardec as publicações periódicas eram em número bem menor e não haviam ainda assumido o papel central que desempenham hoje;
o conhecimento científico era veiculado principalmente em livros e memórias, publicados sob iniciativa individual ou das academias.

Estas últimas ocupavam, conforme se sugere na pergunta, um papel muito importante; as instâncias avaliatórias da ciência eram, pois, mais centralizadas.

Não raro isso deu margem a abusos e decisões erradas, como aliás observou Kardec várias vezes, ao discutir o carácter falível das corporações científicas.

Hoje abusos e erros também ocorrem, e em bom número, porém são geralmente detectados mais facilmente pela enorme e integrada malha da comunidade científica.

Questão 5:

Pela época do surgimento do Espiritismo, alguém que se dedicasse à pesquisa dos fenómenos mediúnicos, e não se inclinasse a considera-los como fantasias ou fraudes, se arriscava ao descrédito nos meios científicos e académicos.

Houve alguma mudança nessa postura?
Dentro dos conceitos atuais, ainda existe o antagonismo entre ciência e o espiritualismo, ela é necessariamente materialista?

Resposta:
Existe, como está implícito na resposta precedente, um certo grau de conservadorismo na "ciência-comunidade", e as análises filosóficas contemporâneas reconhecem aí um requisito importante de qualquer ciência madura.

A compreensão desse ponto paradoxal requer estudos especializados.
Em alguns de meus artigos sobre a ciência espírita procurei indicar o papel daquilo que Imre Lakatos chamou de "heurística negativa" de uma ciência.

Trata-se, de forma simplificada, da decisão metodológica explícita ou tácita dos membros de uma comunidade científica de preservar, tanto quanto possível, o núcleo de leis fundamentais de seu programa científico de pesquisa.

Esse filósofo da ciência argumentou convincentemente que sem essa política conservadora o desenvolvimento científico ficaria inviabilizado.
É somente quando condições excepcionais se reúnem, envolvendo o fracasso sistemático do programa de pesquisa em resolver problemas teóricos e de ajuste empírico, que o núcleo do programa é revisto ou rejeitado.

Na actividade normal da ciência os ajustes e desenvolvimentos teóricos se dão em partes menos centrais da malha teórica, o denominado "cinturão protector" de leis auxiliares.

Menciono isso para ressaltar que a relutância da comunidade científica em aceitar uma nova teoria sobre o ser humano, como é o caso do Espiritismo, é natural e esperada.
A isso cumpre acrescentar o fato de o Espiritismo tratar de uma ordem de coisas que escapam ao domínio das ciências ordinárias, cujo objecto de estudo são os fenómenos e leis pertinentes à matéria.

No referido parágrafo 7 da Introdução de O Livro dos Espíritos Kardec discorre lucidamente sobre o assunto, de uma perspectiva filosófica bem avançada em relação à sua época, concluindo seguramente que "o Espiritismo não é da alçada da ciência", isto é, das ciências académicas.

Retoma essa análise de forma mais extensa em O que é o Espiritismo, onde encontramos, por exemplo, este interessante raciocínio no capítulo I, segundo diálogo, seção "Oposição da ciência":
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 10, 2013 9:37 pm

As ciências vulgares repousam sobre as propriedades da matéria, que se pode, à vontade, manipular; os fenómenos que ela produz têm por agentes forças materiais.

Os do Espiritismo têm, como agentes inteligências que possuem independência, livre-arbítrio e não estão sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratório e aos nossos cálculos, e, desde então, ficam fora dos domínios da Ciência propriamente dita.

A Ciência enganou-se quando quis experimentar os Espíritos como o faz com uma pilha voltaica; foi mal sucedida, como devia ser, porque agiu pressupondo uma analogia que não existe;
e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negação, juízo temerário que o tempo se encarrega de ir emendando diariamente, como já fez com tantos outros [...].

As corporações científicas não devem, nem jamais deverão, pronunciar-se nesta questão; ela está tão fora dos limites do seu domínio como a de decretar se Deus existe ou não; é, pois, um erro tomá-las aqui por juiz.

No primeiro capítulo de A Génese, parágrafo 16, Kardec salienta, a esse propósito, que estudando domínios diferentes e complementares, o espírito e a matéria, "o Espiritismo e a ciência completam-se reciprocamente".

A autonomia do Espiritismo com relação às ciências ordinárias parece-me suficientemente demonstrada (não aqui, neste breve resumo, evidentemente, mas nos extensos estudos feitos por Kardec e outros pensadores espíritas).

Vejo com preocupação a incompleta percepção desse ponto por muitos espíritas em nossos dias, aqueles que pretendem, como dizem, "trazer a ciência para o Espiritismo".
Não se dão conta, ou se esquecem, de que o Espiritismo já constitui por si uma ciência independente e vigorosa, e que, ademais, a peculiaridade de seu objecto de estudo torna fora de propósito qualquer hibridação fundamental com as ciências da matéria.

Há, é claro, áreas periféricas de contacto, como por exemplo, o estudo das enfermidades psicossomáticas, onde pode e deve haver contribuições mútuas.

Não se deve confundir o que estou dizendo com as críticas justificadas, já avançadas por Kardec, a pessoas que, em nome da ciência ou não, julgam o Espiritismo sem haver examinado atentamente todos os factos de que trata, bem como sua estrutura teórica. Isso é inadmissível filosófica e cientificamente. Tal atitude infelizmente continua sendo comum, inclusive nos meios académicos.

A especialização que caracteriza a formação científica parece mesmo favorecê-la, com também notou Kardec no referido item de O Livro dos Espíritos:

Aquele que se fez especialista prende todas as suas ideias à especialidade que adoptou.

Tirai-o daí e o vereis sempre desarrazoar, por querer submeter tudo ao mesmo cadinho:
consequência da fraqueza humana.

Na pergunta formulada alude-se também à questão mais geral da posição da ciência acerca do espiritualismo.
Conforme em outras palavras ressaltou Aécio Chagas nos artigos mencionados, não faz muito sentido discutir se as ciências académicas, enquanto conhecimento, são materialistas ou não.

Foram concebidas expressamente para descrever e explicar exclusivamente os fenómenos materiais, não tendo nada a dizer sobre a disputa materialismo versus espiritualismo, que gira em torno da questão da existência de algo além da matéria.

Se se pergunta agora se a comunidade científica académica é materialista ou não, a questão faz sentido, mas só admite resposta estatística, visto que a convicção pessoal de cada um de seus integrantes acerca desse problema filosófico não constitui critério necessário ou suficiente para a sua admissão na profissão.

Parece certo, pelo menos, que uma parcela expressiva dos cientistas atuais é materialista, mas isso talvez apenas reflicta o padrão geral de crença das sociedades nas quais mais prosperam as ciências, como sugere o Prof. Chagas.

Seja como for, nós espíritas não devemos nos inquietar com isso, como advertiu Kardec ainda no mesmo parágrafo de O Livro dos Espíritos, de onde extrairei mais este trecho, para concluir:
O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os cientistas, como indivíduos, podem adquirir, abstracção feita de sua qualidade de cientistas [...].


Quando as crenças espíritas se houverem difundido, quando estiverem aceitas pelas massas humanas [...], com elas se dará com o que tem acontecido com todas as ideias novas que hão encontrado oposição: os cientistas se renderão à evidência.

Lá chegarão individualmente, pela força das coisas.
Até então será intempestivo desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocupar de um assunto estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa.

Enquanto isso não se verifica, os que, sem assunto prévio e aprofundado da matéria, se pronunciam pela negativa e escarnecem de quem não lhes subscrevem o conceito, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes descobertas que fazem honra à Humanidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Mar 10, 2013 9:38 pm

Questão 6:

A transcomunicação instrumental, o fenómeno de quase-morte e a terapia de vidas passadas, que surgiram recentemente como novos campos de estudos, são fenómenos que representam desafios para as concepções científicas vigentes e tem suscitado bastante interesse na Europa e nos Estados Unidos.

Dentro da filosofia da ciência, qual seria a abordagem adequada a ser seguida no seu estudo?
Os Espíritas tem individualmente participado do desenvolvimento dessas pesquisas, mas seria recomendável um engajamento maior das instituições espíritas?

Haveria justificativa para algo como um comité patrocinado por uma federação ou um conselho espírita?

Resposta:
A análise do estatuto científico das três áreas de investigação mencionadas exigiria uma atenção particularizada em cada caso, não cabendo no escopo desta entrevista.

De um modo geral, a abordagem científica de qualquer classe de fenómenos requer o cumprimento de uma série de condições.
Mais uma vez, não há espaço aqui para enumerá-las.

Poderia destacar, no entanto, que o desenvolvimento de uma disciplina científica pressupõe não apenas a observação rigorosa dos factos, mas principalmente a formulação de teorias logicamente consistentes, abrangentes, coerentes, simples e integradas às teorias estabelecidas de domínios conexos de fenómenos.

Insisto nesse ponto porque a falha metodológica mais comum nas linhas de investigação que têm pretendido, sem sucesso, suplantar o Espiritismo em nome da cientificidade é exactamente a desatenção ao aspecto teórico.

Aliás, como já indiquei em alguns dos artigos mencionados, isso parece ser uma herança indesejável das concepções antigas de ciência, de cunho positivista.

Muitas coisas que se têm visto com relação às aludidas abordagens parecem indicar que as falhas de concepção científica que caracterizaram a metapsíquica e a parapsicologia não foram definitivamente superadas.

Não quero, evidentemente, generalizar; mas que há um risco potencial aqui, há.
Seria sensato que os investigadores interessados nesses fatos, ou alegados factos, desenvolvessem seus estudos a partir do fértil e seguro programa científico de pesquisa espírita, pois que nunca se apontaram razões ponderáveis para a sua substituição.

Ao invés disso, avançam-se insinuações explícitas ou implícitas de que serão essas e outras linhas de pesquisa assemelhadas que finalmente colocarão o estudo do espírito na rota da ciência...

Quanto ao engajamento de instituições espíritas, com a constituição de comissões, não me parece recomendável, não apenas em vista das reservas expressas acima, mas também porque tal prática não mais condiz com a ciência, devendo ser deixada para partidos políticos, administradores e seitas hierarquizadas.

Na ciência, e portanto no Espiritismo, a regra do jogo é o livre-exame, o intercâmbio de ideias, a sujeição de todas as propostas à mais vigorosa crítica.

Que cada um, pois, investigue o que achar melhor, já que todo fato tem uma certa importância para o nosso conhecimento do mundo;
previna-se, no entanto, de assumir certas teses filosóficas sobre a cientificidade desse ou daquele método, dessa ou daquela disciplina, sem os necessários estudos profissionais.

Questão 7:

Alguns partidários do Espiritismo "não-religioso" ou "laico" argumentam que a ênfase religiosa tem prejudicado os aspectos científicos da doutrina.

Que a pesquisa espírita tem sido relegada a segundo plano e praticamente inexiste.
O que caracterizaria uma pesquisa científica espírita?

Seria um ramo separado da ciência ou uma postura diferenciada dentro dos ramos atuais?
O que poderia ser feito para incentivar o desenvolvimento dessa pesquisa?

Resposta:
Na perspectiva do Espiritismo, resumida na resposta à Questão 3, a genuína religião está na busca e cultivo de princípios morais capazes de nos colocar em harmonia com o plano da Criação, transformando-nos gradualmente em seres felizes que espalham felicidade ao seu redor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 11, 2013 10:18 pm

Assim entendida, a religião integra-se naturalmente à ciência espírita, pois que é esta que determina as consequências globais das acções humanas a curto e longo prazos, formando a base experimental sobre a qual a razão operará para identificar os preceitos de conduta que nos aproximem da felicidade.

Ver, portanto, antagonismos ou tensões quaisquer entre a religião e a ciência espíritas constitui evidência de pouco estudo e pouca reflexão sobre a verdadeira índole do Espiritismo.

Infelizmente, o despreparo e os atavismos de muitos indivíduos que colaboram de boa vontade nas fileiras espíritas fazem com que certas práticas pouco condizentes com a pureza doutrinária se implantem em diversas instituições, e acabem mesmo divulgadas em palestras, livros e periódicos ditos espíritas.

Quem compreende essa situação deve trabalhar para modificá-la.
Mas a via para isso é a do esclarecimento, do estudo, do convencimento pela razão e pelo amor, jamais os anátemas ou, o que é ainda pior, o repúdio daquilo que se supõe ser o "aspecto religioso do Espiritismo".

É provável, aliás, que essa "rejeição do bebé com a água do banho" tenha pesado muito no declínio e virtual extinção do movimento espírita em países europeus a partir, digamos, do início do século.

Não se pode mutilar um corpo doutrinário integrado, como o é o Espiritismo, sem arcar com efeitos drásticos, seja qual for a área em que o tenhamos atingido.

Assim, num sentido oposto ao considerado na pergunta, pode-se querer desprezar as bases científicas do Espiritismo, e as consequências não seriam melhores.

Quanto à pesquisa científica espírita, acredito que sua natureza já tenha sido salientada nas respostas precedentes.
No artigo "A ciência espírita" abordo explicitamente o tema, ainda que de forma breve, lembrando que constitui equívoco imaginar que essa pesquisa deva dar-se nas mesmas instituições e com os mesmos métodos e pressupostos teóricos que os das ciências da matéria.

O reconhecimento desse ponto seria de suma importância hoje em dia, quando se nota uma inclinação de muitos espíritas na direcção de linhas de pesquisa científica e filosoficamente primitivas relativamente à do genuíno Espiritismo.

A afirmação de que não se têm realizado pesquisas científicas espíritas parece resultar de uma compreensão deficiente do que sejam a ciência e o Espiritismo.

Após as fundamentais realizações de Allan Kardec, que instituíram o paradigma científico espírita, outros investigadores encarnados e desencarnados prosseguiram em sua extensão, não necessariamente em laboratórios académicos, porque não é aí que os fenómenos relativos ao espírito podem mais apropriadamente ser estudados, mas nos centros espíritas, no recesso dos lares, no mundo espiritual, e onde quer que se possa observar e reflectir sobre a face espiritual do ser humano.

Gosto de dar como exemplos de pesquisadores espíritas André Luiz, Philomeno de Miranda e Yvonne Pereira, dentre tantos outros, que, num trabalho silencioso e fecundo, enriqueceram o acervo de informações e reflexões sobre os fenómenos anímicos e mediúnicos, as condições da vida no plano espiritual, a lei de causa e efeito, etc.

Quem ler suas obras apenas superficialmente, ou com inadequado senso científico, tenderá a ver nelas apenas romances, historietas e narrações literárias, quando na realidade seu objectivo primordial é bem outro.

O incentivo e incremento das pesquisas científicas espíritas deve, pois, principiar com a identificação e o abandono de abordagens incipientes ou pseudocientíficas, prosseguir com a adesão às linhas de pesquisa paradigmáticas da doutrina, e concluir com o estudo filosófico das consequências da ciência espírita para a questão de nosso acerto com as normas morais evangélicas, sem o que essa ciência se tornará estéril.

Campinas, maio de 1998.

http://www.geae.inf.br/

§.§.§- O-canto-da-ave
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 11, 2013 10:18 pm

.. Sílvio Seno Chibeni > A Errata do Livro dos Espíritos

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Conforme regista a edição histórica de Le Livre des Esprits publicada pela FEB em 1998 (ver resenha em Mundo Espírita, fevereiro de 2002, p. 5), a 5ª edição francesa, de 1861, trazia uma errata, com extensão de uma página.

A errata apareceu somente nessa edição; na edição da FEB a errata foi reproduzida na posição original, no final da obra.

Por sua importância histórica, daremos em seguida sua tradução integral.
Os números de página referem-se à edição francesa (o exame comparado da errata com o texto da 2ª edição, reproduzido fotograficamente pela FEB, indica que a 5ª edição manteve a paginação da 2ª).

Para facilitar a localização em outras edições, damos, quando necessário, o item ou subitem, entre colchetes.
Teceremos depois alguns comentários sobre as alterações indicadas por Kardec.

ERRATA

Página 73, no final da nota [n° 165], acrescentar:
Na morte natural, a perturbação começa antes da cessação da vida orgânica, perdendo o Espírito toda consciência de si no momento da morte.

Segue-se daí que ele jamais testemunha o último suspiro.
As convulsões da agonia são efeitos nervosos que quase nunca o afectam.
Dizemos quase, porque em certos casos tais sofrimentos lhe podem ser impostos como expiação.

Página 109, n° 226, no final da nota, acrescentar:
Entre os Espíritos não encarnados, alguns há que têm missões a cumprir e ocupações activas, gozando de relativa felicidade, enquanto que outros vagueiam na incerteza.

São estes últimos os errantes, na verdadeira acepção do termo, constituindo, de facto, aquilo que se designa pela expressão almas a penar.
Os primeiros nem sempre se consideram errantes, pois fazem uma distinção entre a sua situação e a dos outros (1015).

Página 137, n° 285 [a], acrescentar:
Quando necessário, podem igualmente se reconhecerem pela aparência que tinham quando vivos.
Ao Espírito recém-chegado, e ainda pouco familiarizado com seu novo estado, os Espíritos que o vêm receber apresentam-se sob uma forma que lhe permite reconhecê-los.

Página 191, n° 437, acrescentar:
ver o n° 257, “Ensaio teórico da sensação nos Espíritos”.

Página 210, n° 479, acrescentar:
ver o Livro dos Médiuns, cap. “Da Obsessão”.

Página 252, linha 2 [n° 586, final da resposta], suprimir: e intuitiva.
Dessa errata, apenas o último item foi incorporado às edições posteriores, embora somente a partir da 10ª edição.

Apresenta-se aqui uma série de dúvidas de natureza histórica, cujo esclarecimento requer dados não disponíveis.
Mesmo assim é útil enumerá-las, analisando-as como pudermos, para que saibamos doravante o que fazer com a errata em nossos estudos espíritas.

Por que a errata apareceu somente na 5ª edição?
Por que, com a apontada excepção, não foi incorporada ao texto das edições subsequentes?
Pode ser que razões económicas tenham se anteposto a isso, pois com o sistema de impressão da época qualquer alteração que exigisse repaginação implicaria refazer todo o texto daquele ponto em diante.

Inspeccionando graficamente o original, no entanto, nota-se que isso ocorreria apenas com os itens 226 e 285, as demais alterações sendo incorporáveis sem repaginação.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Mar 11, 2013 10:19 pm

Se uma alteração foi incorporada, por que não as outras três?
Pode-se supor que aqui Kardec levou em conta a natureza das alterações: a do item 586 é imperiosa, pois configura um erro – certamente um lapso, e não alguma falha de observação ou raciocínio –, enquanto que as demais são em certa medida opcionais.

Essa suposição é bem plausível no caso dos itens 437 e 479, que são meras indicações de referências cruzadas.
Quanto à outra mudança que não requereria repaginação, a do item 165, trata-se de um esclarecimento bastante útil acerca do processo de desencarnação.

Teria Kardec julgado que ainda faltava apoio mais sólido ao que afirmou na errata?
De qualquer forma, à luz do que sabemos hoje não parece haver falhas nas afirmações feitas.

São igualmente interessantes as alterações referentes aos itens 226 e 285, cuja incorporação no texto apresentaria dificuldades gráficas.
A última complementa de forma muito relevante a resposta inicial, um tanto obscura, referente ao modo de reconhecimento dos Espíritos.

Essa complementação foi corroborada plenamente pelos estudos espíritas ulteriores, especialmente pelos relatos mediúnicos detalhados de que dispomos hoje, como os de André Luiz, Philomeno de Miranda, Yvonne Pereira, etc.

Finalmente, quanto ao item 226, nota-se que Kardec procurou, na errata, restabelecer o sentido próprio da expressão Espírito errante.
Ora, com o desaparecimento da errata e a não incorporação dessa correcção às edições subsequentes, esse objectivo acabou não sendo alcançado.

Cristalizou-se em toda a literatura espírita o significado que Kardec reconheceu como impróprio, segundo o qual Espírito errante é sinónimo de Espírito desencarnado, independentemente de sua condição.

Tentemos agora, para concluir, avaliar a errata de forma geral, para nortear nossos estudos daqui para diante, e sugerir directrizes aos editores da obra fundamental do Espiritismo.

É inegável que o único erro propriamente dito é o do item 586, que foi corrigido por Kardec, embora tardiamente.
Dele estão isentas as edições correntes em francês, português, inglês e esperanto a que tivemos acesso; devem, pois, ter se baseado em edições posteriores à 10ª.

As referências cruzadas, do penúltimo e antepenúltimo item da errata, são evidentemente úteis, devendo pois ser incorporadas às novas edições.
O mesmo vale, com mais forte razão, para os esclarecimentos sobre a perturbação espiritual consequente à desencarnação e sobre a aparência dos Espíritos desencarnados.

Quanto ao adjectivo errante, é claro que a reversão do uso corrente no meio espírita é difícil, quando não impossível, ao menos a curto prazo.
Isso não impede, porém, que a observação de Kardec seja inserida nas edições futuras.

Além disso, seria interessante que os escritores e expositores espíritas levassem em conta esse ponto, o que gradualmente induziria ao restabelecimento do sentido etimológico do termo.

Resta a questão editorial: as novas edições devem reproduzir a errata no final ou incorporar as alterações ao longo do próprio texto?

Não temos dúvida de que a segunda opção é preferível.
Primeiro, a errata está disponível para os pesquisadores em sua versão original, na edição histórica da FEB. Depois, e mais importante, o leitor espírita médio de hoje certamente terá mais facilidade para perceber as mudanças se elas estiverem no próprio texto.

É claro que neste caso deve haver notas de rodapé indicando precisamente cada alteração, com uma referência histórica geral à errata numa introdução ou apêndice do editor.

A descoberta e publicação da errata foi uma contribuição relevante para os estudos referentes ao Livro dos Espíritos, e portanto ao Espiritismo de um modo geral, não devendo, por isso, ficar confinada ao restrito círculo daqueles que puderam ler o importante volume editado pela FEB.

Texto publicado em Mundo Espírita, setembro/2002, p. 10.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 12, 2013 9:31 pm

..Sílvio Seno Chibeni > O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso

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Resumo:

Tornou-se comum no meio espírita afirmar-se que o Espiritismo é ciência, filosofia e religião, ou tem um “tríplice aspecto”, englobando as três áreas.

Essa caracterização não pode ser encontrada exactamente nesses termos na obra de Kardec.
É, porém, correta e, em sua essência, está presente no pensamento do criador do Espiritismo e de seus mais lúcidos continuadores.

No entanto, a questão tem dado lugar a mal-entendidos, por causa da compreensão incorrecta ou imprecisa dos conceitos de ciência, filosofia e religião, bem como da verdadeira natureza do Espiritismo.
Este trabalho procura contribuir para esclarecer o assunto, com o apoio da filosofia e dos próprios textos de Kardec.

1. Introdução

Ao refundir o material da primeira edição de O Livro dos Espíritos (1857), preparando a segunda edição (1860), Kardec achou por bem inserir, já na primeira linha da livro, na folha de rosto, a seguinte frase:
“Filosofia Espiritualista”. Kardec quis, com ela, fornecer ao leitor uma caracterização sucinta do carácter do Espiritismo, cujas bases a obra assentava.

Essa caracterização é depois detalhada de modo implícito ou explícito no resto do livro e no restante de sua produção espírita.
Uma das primeiras especializações do conceito expresso na frase é introduzida já na Introdução do mesmo livro, item I, no qual Kardec traça a distinção entre espiritualismo e Espiritismo.

A partir desse ponto, tratará sempre (salvo para efeito de comparação) do conceito mais específico de filosofia espírita.

O destaque dado por Kardec a esse conceito indica que é por ele que devemos começar a análise do chamado “tríplice aspecto” do Espiritismo.

Essa caracterização não pode ser encontrada exactamente nesses termos na obra de Kardec.
Não nos ocuparemos aqui da questão histórica da origem dessa maneira tão disseminada de compreender o Espiritismo.

Nosso objectivo neste artigo é estabelecer que ela é, em sua essência, correta, e que está presente no pensamento do criador do Espiritismo.

Além disso, pretendemos esclarecer alguns mal-entendidos a que a caracterização tem dado lugar, por causa da compreensão incorrecta, ou imprecisa dos conceitos de ciência, filosofia e religião, bem como da verdadeira natureza do Espiritismo.

2. O que é filosofia?

Antes de tentarmos entender o que Kardec entendia por ‘filosofia espírita’, e por que ele priorizou essa noção ao dar uma fórmula sucinta do Espiritismo, é importante compreendermos a noção geral de filosofia.

É claro que se trata de um assunto complexo, que requereria estudos especializados para ser abordado de forma satisfatória.
O que exporemos aqui é apenas um esboço, mas que, tanto quanto julgamos, é correto e útil para investigações ulteriores.

Como quase todas as palavras, filosofia possui diversos significados.

Popularmente, o termo tem hoje três acepções principais:
1) certos valores ou princípios de vida, muito gerais e variáveis segundo os indivíduos ou grupos sociais;
2) certos métodos, regras e propósitos de um empreendimento qualquer;
e 3) certas doutrinas esotéricas ou místicas.

Nenhum desses três significados corresponde à noção original, académica, de filosofia, e que foi usada por Kardec em quase todas as ocasiões em que falou no aspecto filosófico do Espiritismo.

Não obstante aparentemente simples, as questões do que é e para que serve a filosofia – no sentido académico do termo – estão entre as que mais dificuldades e divergências causam entre os próprios filósofos profissionais.
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A Ciência confirma o Espiritismo? - Página 2 Empty Re: A Ciência confirma o Espiritismo?

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Mar 12, 2013 9:32 pm

Esse mero facto, porém, já indica algo importante sobre a natureza da filosofia:
o questionamento sistemático, incessante e profundo de tudo o que se afirma.

As origens da filosofia remontam à Grécia Antiga.
Pela própria etimologia do termo, notamos que a filosofia era entendida como o amor do saber, ou a busca da verdade.

Naquela época e, em certa medida, por muitos séculos da era cristã, a filosofia englobava todos os ramos do conhecimento puro (em contraste com as artes e ofícios, o conhecimento “aplicado”).

Gradualmente, alguns desses ramos foram se tornando autónomos, como a matemática, a astronomia, a história, a biologia, a física.
Mais ou menos a partir do século XVII, alguns deles começam a ser agrupados sob outra denominação: a de ciência.

Hoje em dia costuma-se considerar pertencentes ao tronco principal da filosofia as disciplinas da estética, lógica, ética, epistemologia e metafísica.

De forma muito simplificada, pode-se dizer que a estética examina abstractamente a beleza e a feiura;
a lógica investiga o encadeamento formal das proposições;
a ética estuda questões relativas ao bem e ao mal, aos direitos e deveres;
a epistemologia ocupa-se do conhecimento, suas origens, fundamentos e limites, enquanto que a metafísica procura especular sobre a natureza última das coisas.

Fora esses ramos fundamentais, há ainda diversos outros que resultam de suas interconexões e especializações, como a teologia, a filosofia política, a filosofia da linguagem, a filosofia da ciência.

Uma das principais correntes filosóficas contemporâneas propõe que a filosofia não deve ser entendida como a formulação ou defesa de teses ou conjuntos de teses sobre o que quer que seja, mas simplesmente como o desenvolvimento de métodos de análise crítica e sistemática, a serem aplicados especialmente ao chamado conhecimento científico.

Nessa perspectiva, o filósofo seria alguém que tenta explicitar os conceitos, os pressupostos, a estrutura lógica e as implicações das teorias científicas, políticas, religiosas, etc.
Semelhante atitude crítica – que não se confunde com uma crítica leviana, estouvada ou interesseira – seria a essência da filosofia, o elemento comum que permearia a grande variedade de linhas filosóficas existentes.

Embora quando se olhe para as abstracções e subtilezas tipicamente discutidas pelos filósofos se possa concluir que a filosofia para nada serve, a referida proposta talvez permita encontrar, num plano afastado do das necessidades materiais cotidianas, uma finalidade útil para a filosofia:
a elucidação das bases, métodos e implicações das ciências e de outras disciplinas intelectuais, contribuindo assim para a identificação de fundamentos falsos ou inseguros, de falácias argumentativas, de dogmas encobertos.

Ensinando, ou pelo menos convidando, o homem a reflectir criticamente sobre tudo o que se afirma ou faz em todos os sectores, a filosofia de alguma forma auxilia o aprimoramento de seu intelecto e, talvez, de seus sentimentos, que o diferenciam de um mero ser que come, bebe, dorme e se reproduz.

3. A filosofia espírita

Passando agora à noção de filosofia espírita, uma observação preliminar importante é que no tempo de Kardec o sentido original, amplo, da palavra ‘filosofia’ ainda prevalecia, em boa medida.

Assim, ao dizer que o Espiritismo era uma filosofia, Kardec não estava excluindo seu carácter científico, muito pelo contrário.
Além disso, como a ética ou moral é uma das áreas da filosofia – e isso até hoje –, aquela designação também não excluía o aspecto moral do Espiritismo, que é a essência da chamada religião espírita.

Detalharemos esses pontos nas seções seguintes deste trabalho.

Há referências à filosofia, ou à filosofia espírita, em todas as obras de Kardec.
O significado preciso das expressões varia, é claro, segundo o contexto.

De um modo geral, podemos identificar duas acepções principais da expressão, uma ampla e outra restrita.

Na acepção ampla, Kardec entende pela expressão alguma teoria, conjunto de teses, ou actividade intelectual que se caracterizam pela racionalidade, e se inserem portanto na tradição da filosofia académica de cultivo do saber pelo saber.

Nesse sentido a filosofia engloba a própria ciência e a moral, como já apontamos.
Há dezenas de passagens nas obras de Kardec em que a expressão é usada nessa acepção.
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